“Nada é mais triste que um amor racional”. Michael Löwy
A
velha tradição anticapitalista da Igreja, lembra-nos Michael Löwy (2014), entra assim
em relação de afinidade eletiva com a análise marxista da exploração
capitalista e com a crítica dos marxistas latino-americanos, originária da Teoria
da Dependência, ao capitalismo dependente como fundamento estrutural do
“subdesenvolvimento”, da miséria e do autoritarismo militar. A solidariedade
com o pobre é o ponto de partida deste processo social de elaboração teológica.
A grande diferença, a novidade decisiva, o salto qualitativo em relação à
concepção católica tradicional do pobre, é que este já não é considerado como
“vítima passiva, objeto de caridade e assistência, mas sim como sujeito de sua
própria libertação”. Graças a esta ruptura - fruto da experiência prática dos
cristãos comprometidos no curso das conjunturas históricas dos anos 1960 e
1970, que tem como primícias a problemática de a interpelação da Teologia da
Libertação vai convergir com o princípio político fundamental do marxismo: a
emancipação dos trabalhadores será a obra dos próprios trabalhadores. Enfim, a
opção prioritária pelos pobres, aprovada pela Conferência dos Bispos
Latino-Americanos de Puebla (1979) é, na realidade, uma fórmula de
compromisso, interpretada num sentido tradicional e assistencialista pelas
correntes mais moderadas ou conservadoras da Igreja católica, e num sentido
radical pelos teólogos da libertação e as correntes mais avançadas do clero:
como um engajamento na organização e na luta dos pobres e despossuídos por sua
própria libertação. A luta de classes - não só como método de análise da
realidade, mas também como guia para a ação - se torna assim um elemento
central (implícito ou explícito) na nova teologia. Como escreveu Gustavo
Gutierrez Merino: “negar o fato da luta de classes é, na realidade, tomar
partido em favor dos setores dominantes. A neutralidade neste assunto é
impossível”. De qualquer forma, para o método marxista, o essencial é o que se
passa na realidade.
Enquanto
processo de convergência por afinidade eletiva, esta relação se refere
também a certos valores (comunitários), a certas opções ético-políticas (a
solidariedade com os pobres), a utopias do futuro (uma sociedade sem exploração
nem opressão). E na medida em que a teologia da libertação é a expressão de uma
práxis social, de um movimento social e de uma experiência ativa, seu encontro
com o marxismo se dá no terreno do compromisso prático com as lutas populares
de libertação. À medida que aumentava o afastamento de seus pares acadêmicos
norte-americanos, Mills buscava escrever mais e mais para o grande público.
Além de artigos em revistas como: New Leader, Politics, New
York Times Magazine e Dissent, inovou no âmbito da comunicação
literária quando escreveu “livros-panfletos” que lhe deram grande exposição
na mídia norte-americana - algo comparável apenas, talvez, à que teria a
antropóloga Margaret Mead (1901-1978). Em The Causes of World War Three
(1958), Mills tratou da corrida nuclear; em Listen, Yankee: The Revolution
in Cuba (1960), da fase inicial da revolução cubana, livro escrito em seis
semanas após uma visita que Mills fizera a Cuba em agosto de 1960, foi um
enorme sucesso de vendas e, ao mesmo tempo, colocou o FBI à sua espreita. O
livro baseou-se em extensas entrevistas gravadas com Fidel Castro, Che Guevara
e outros líderes da revolução social, além de jornalistas, militares e
intelectuais. Fidel Castro teria então contado a Mills que lera The Power
Elite durante a guerrilha. Mills
acreditara que os revolucionários cubanos pudessem seguir por uma via
socialista independentes. Durante sua
estada na Europa, completou boa parte de The Sociological Imagination,
apresentando em 1957 as versões do livro num Seminário em Copenhague.
A obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (2003) é considerada a grande obra de Max Weber e é seu texto mais reconhecido. A primeira parte desta obra foi publicada em 1904 e a segunda veio a público em 1905, depois da viagem do autor e da esposa Marianne Schnitger (1870-1954), destacada feminista e escritora aos Estados Unidos da América. Analisando o processo em seu conjunto, Weber verifica que dos dogmas e, especialmente, dos impulsos morais do protestantismo, derivados após a reforma de Lutero (1483-1546), surge uma forma de vida de caráter metódico, disciplinado e racional. Da base moral do protestantismo surge não só a valorização religiosa do trabalho e da riqueza, mas também uma forma de vida que submete toda a existência do indivíduo a uma lógica férrea e coerente: uma personalidade sistemática e ordenada. Sem estes impulsos morais não seria possível compreender a ideia de vocação profissional, concepção que subjaz as figuras modernas do operário e do empresário. A moral presente na vida social dos círculos protestantes possui uma relação sociológica de afinidade eletiva com o comportamento (espírito) que subjaz ao sistema econômico e, disciplinar, ainda que não derive deste fator unicausal, trata-se de um impulso vital para o entendimento do mundo social tanto moderno quanto contemporâneo.
No final da Ética Protestante, Max Weber destaca para o que nos interessa - objeto de nossa argumentação que, apesar de secularizada, ou seja, desprovida de fundamentos religiosos, a vida aquisitiva da economia moderna generalizou-se para todo conjunto da vida social: os puritanos queriam tornar-se monges, hoje todos têm que segui-los. Esta avaliação também ganha contornos críticos, pois Weber constata que a lógica da produção, do trabalho e da riqueza envolve o mundo moderno como uma jaula de ferro (Eisernen Käfig) e se pergunta qual o destino dos tempos modernos: o ressurgimento de velhas ideias ou profecias ou uma realidade petrificada, até que a última tonelada de carvão fóssil seja queimada? Em tons que lembram Friedrich Nietzsche, ele dirá ainda sobre os homens dos tempos atuais: “especialistas sem espírito, nulidades sem coração”. Esta visão crítica do capitalismo encorajou importantes pensadores marxistas como Georg Lukács (1885-1971), Karl Löwith (1897-1973), Michael Löwy a ressaltarem algumas afinidades do pensamento hic et nunc com a visão marxista, corrente que, sem menosprezar as sensíveis diferenças entre as duas formas de pensamento, denominada de webero-marxismo (cf. Löwy, 2014). No entanto, diferente da visão marxista, que privilegia os condicionamentos econômicos, Max Weber, coerente com uma visão multicausal dos níveis sociais, destaca seus fatores culturais e, mais tarde, concordando com Marx, enfatizará também os fatores materiais ou níveis de análise com domínio econômico no surgimento das instituições modernas.
Sobre
a questão específica a respeito das chamadas Afinidade eletivas, lembra
Michael Löwy que são raros os pesquisadores especializados em sociologia das
religiões que, ao comentar os diversos escritos de Weber sobre o tema hic et
nunc, em particular A Ética Protestante, não constataram a utilização
conceitual através do termo “afinidade eletiva”. Isto porque, estranhamente,
esse termo suscitou poucos estudos, discussões ou debates e menos ainda uma
análise mais sistemática de seu significado metodológico. Existe o ensaio de
Richard Howe (1978) que contém informações úteis sobre as origens do termo, mas
a definição que ele propõe considerando a “afinidade eletiva”, como uma ideia
no sentido de emprego kantiano não é muito pertinente. Além disso, na interpretação
Löwyniana, o referido autor não distingue a “afinidade interna” da conceitual
afinidade eletiva, o que elimina o papel decisivo da eleição. Enfim, ele parece
querer reduzir a Wahlverwandtschaft a uma “afinidade entre palavras”, em
função da “interseção de significados”, o que limita seu considerável alcance.
No ensaio de J. J. R. Thomas (1985) depois de uma discussão não sem interesse,
chega a uma conclusão decepcionante: - “Tentando evitar o conceito de
ideologia, considerado por ele grosseiramente materialista, Weber criou um
conceito [afinidade eletiva] que não leva a lugar algum”. A contribuição social
é a do escritor e ensaista espanhol José María González Garcia que dedicou às afinidades eletivas um
capítulo de seu livro entre Max Weber e Johann Wolfgang von Goethe (1992).
O
termo Wahlverwandtschaft tem uma longa história, muito anterior aos escritos
sobre religião de Max Weber. Foi na alquimia medieval que o termo “afinidade”
começou a ser usado para explicar a atração e fusão dos corpos. Segundo Alberto
Magno (1193/1206-1280), se o enxofre se une aos metais, é por causa da afinidade que ele tem com
esses corpos: “propter affinitarem naturae metalla adurit”. Encontramos essa
temática nos alquimistas dos séculos seguintes. Por exemplo, em seu livro
Elementa Chimiane (1724), Hermannus Boerhaave (1668-1738) explica que “particulae solventes
et solutae se affinitate suae naturae colligunt in corpora homogênea”. A
afinidade é uma força em virtude da qual duas substâncias “procuram-se, unem-se
e encontram-se” numa espécie de casamento, de bodas químicas, antes procedendo
do amor que do ódio, “magis ex amore quam ex dio”. O termo attractio electiva
aparece pela primeira vez nos escritos do químico sueco Torbern Olof Bergman.
Seu livro, De attractionjibus electivis (Upsalla, 1775), foi traduzido para o
francês com o título de Traité des affinités chimiques ou Attractions électives
(1788). Na tradução alemã (Frankfurt, Tabor, 1782-1790), o termo “atração
eletiva” foi exatamente traduzido por Wahlverwandtschaft, afinidade eletiva.
Foi dessa versão alemã do livro oitocentista de Bergman que Goethe tirou o título de seu
romance Wahlverwandtschaft (1809), no qual ele menciona um livro de química
estudado “há cerca de dez anos” por um de seus personagens. O termo se torna
uma extraordinária metáfora para designar o movimento passional pelo qual um
homem e uma mulher são atraídos um para o outro – correndo o risco de se
separarem de seus antigos companheiros – a partir da afinidade íntima entre
suas almas.
Essa transposição de Wolfgang Goethe faz do conceito químico para a o terreno social da espiritualidade e do amor foi facilitada pelo fato de que, em vários alquimistas, como a Síndrome de Boerhaave, por exemplo, o termo já era fortemente carregado de metáforas sentimentais e eróticas. Para Goethe, existe afinidade eletiva quando dois seres ou elementos “procuram-se um ao outro, atraem-se, apropriam-se um do outros e, em seguida ressurgem dessa união íntima numa forma renovada me imprevista”. A semelhança com a fórmula de Boerhaave – dois elementos “procuram-se, unem -se e encontram-se” – é impressionante, e não excluímos que Goethe conhecesse e tenha se inspirado na obra do alquimista holandês. Com o romance de Goethe, o termo ganhou direito de cidadania na cultura alemã como designação de um tipo de ligação particular entre duas almas. Foi na Alemanha que ele passou por sua terceira metamorfose: a transmutação, por obra desse grande alquimista da ciência social chamado Max Weber, em conceito de representação puramente de encarnação sociológico. Da acepção antiga, ele conserva as conotações de escolha recíproca, atração e combinação, mas a dimensão da novidade parece desaparecer. O conceito ocupa um lugar importante em A Ética Protestante, precisamente por levar a cabo a análise da relação complexa e sutil entre essas duas formas. Para a análise de Max Weber, trata-se de superar a abordagem tradicional em termos de causalidade e, assim, evitar o debate sobre a primazia do “material” ou do “espiritual”. São especificados ao mesmo tempo, na medida do possível, o modo e a direção geral segundo as quais, em consequência de tais afinidades eletivas, o movimento religioso agiu sobre o desenvolvimento da cultura material.
A
afinidade eletiva é talvez um meio para uma busca causal “num segundo momento”,
mas isso não significa que ela própria seja uma relação causal. As formulações
de Max Weber são suficientemente flexíveis para podemos admitir diferentes
leituras de interpretação. Neste ano, Mills mencionou, numa carta a um amigo,
que os manuscritos incluíam “uma [versão] completamente reescrita e, acredito
de primeira linha, de um ensaio inédito Sobre o Artesanato Intelectual”
(“On Intellectual Craftsmanship”). A primeira versão do texto foi escrita em
abril de 1952, segundo anotação de Mills no manuscrito, e distribuída para uso
em sala de aula em 1955. O texto completo foi publicado em Society,
vol.17, n° 2, janeiro 1980, pp.63-70. O texto acabou sendo publicado como
apêndice de The Sociological Imagination e tornou-se a parte mais
universalmente conhecida e elogiada do livro. Metodologicamente é em torno da
ideia de “artesanato intelectual” que a coletânea de textos de C. Wright Mills
foi organizada. Além do famoso Apêndice, foram reunidos quatro outros textos
curtos, representando um meio de
trabalho que nos ajudam a melhor a compreensão sociológica dessa ideia: um
trecho de White Collar que explica a utilidade de uso pragmaticamente do
tipo ideal weberiano do artesanato, algo que tornou-se um anacronismo na
experiência moderna do trabalho descrito no capítulo 2; uma palestra, inédita
em português, realizada por Mills numa convenção para designers, na qual
defende o teor abstrato do modelo artesanal como um valor central para seres
humanos não alienados, disposto no capítulo 3; a seção inicial de A Imaginação
Sociológica, na qual apresenta aquilo que ela pode nos oferecer, ao esclarecer
a inter-relação entre biografia e história no capítulo 4; e, per se um texto
sobre a posição do intelectual e de seu ofício diante das questões públicas no
capítulo 5.
C. Wright Mills faz, em “Sobre o artesanato intelectual”, um relato pessoal, dirigido aos que se iniciam ou dissociam nas Ciências Sociais, de como procede em seu ofício. A imagem de um “ofício” e a associação com as ideias de “artesanato” e “oficina” se contrapõe à divisão do trabalho do cientista social como alguém que testa hipóteses construídas a partir de leis gerais e aplicadas através de métodos controláveis. No trabalho do cientista social não haveria fórmulas, leis, receitas, e sim méthodos, no sentido originalmente grego da palavra: via, caminho, rota para se chegar a um fim. O “artesão intelectual” de que trata Mills deve ser visto como um “tipo ideal”, no sentido weberiano do termo – algo que não é encontrado em forma “pura” na realidade social, mas que, construído pelo pesquisador a partir do exagero de algumas propriedades de determinado fenômeno, nos ajuda a compreendê-lo. Nesse sentido, ver o trabalho de pesquisa como um ofício ressalta a importância da dimensão existencial na formação do pesquisador. Isso não quer dizer que se devam explicar os resultados do trabalho a partir da biografia, como ocorre em tolas reuniões científicas; não estamos falando de fenômenos psicanalíticos ou coisas do gênero. Como Mills tende a enfatizar a indissociabilidade, para o “artesão intelectual”, entre sua vida e seu trabalho - ideia próxima à que um autor brilhante como Georg Simmel chamaria de “autocultivo” através da prática de seu ofício.
Enquanto
um bricoleur, o artesão intelectual está atento para combinações
não-previstas de elementos, evitando normas de procedimento rígidas que levem a
um “fetichismo do método e da técnica”: - Estimule a reabilitação do artesão
intelectual despretensioso, e tente se tornar você mesmo tal artesão. Deixe que
cada homem seja seu próprio metodologista; deixe que cada homem seja seu
próprio teorizador; deixe que teoria e método se tornem parte da prática de um
ofício. A manutenção de um arquivo como o proposto por Mills - tarefa que ele
realizava com lápis e papel, mas que hoje pode igualmente ser realizada com um
computador – gera o hábito da autorreflexão sistemática, através da qual o
cientista social aprende como manter seu mundo interior desperto, relacionando
aquilo que está fazendo intelectualmente e o que está experimentando como
pessoa. Como disse Gláucio Soares (1991), “arquivos deste tipo são, essencialmente,
uma conversa íntima e solitária”. Wright Mills procura seguir sua própria
exortação de que a apresentação do trabalho do sociólogo deve ser realizada em
linguagem a mais clara e simples possível, evitando ao máximo o jargão e o
hermetismo – “para superar a prosa acadêmica, temos de superar primeiro a pose
acadêmica”. No Apêndice: Sobre o Artesanato Intelectual, dá exemplos
concretos a seus leitores do que defende, a partir de sua prática teórica, em
particular com a pesquisa que levou à redação de uma importante pesquisa trocando em miúdos as razões d`A Elite do Poder.
Como um mestre-artesão que procura passar aos aprendizes de seu ofício aquilo que aprendeu ao longo de seu caminho. O conhecimento é uma escolha tanto de um modo de vida quanto de uma carreira; quer o saiba ou não, o trabalhador intelectual, não sendo um idiota burocrata, forma-se a si próprio à medida que trabalha para o aperfeiçoamento do ofício artesanal; para realizar suas próprias potencialidades, e quaisquer oportunidades que surjam em seu caminho ele constrói um caráter que tem como núcleo as qualidades do bom trabalhador. Isto significa que deve aprender a usar sua experiência de vida pari passu em seu trabalho intelectual: examiná-la e interpretá-la continuamente. Neste sentido, o artesanato é o centro de você mesmo, e você está pessoalmente envolvido em cada produto intelectual em que possa trabalhar. Dizer que você pode “ter experiência” significa que seu passado influencia e afeta seu presente, e que ele define sua capacidade de experiência futura. Como sociólogo, é preciso controlar a ação orientada, recíproca e complexa, apreender o que pratica e classificá-lo. Somente dessa maneira pode esperar usá-lo para guiar e testar sua reflexão e xriar condições e possibilidades de moldar a si mesmo como um artesão intelectual. Mas como fazê-lo? Deve organizar um arquivo temático, o que é subentendido na maneira do sociólogo dizer: mantenha um diário. Muitos escritores notáveis e evidentemente criativos mantêm seus diários. É um processo disciplinar, indicando as condições teóricas e práticas, além das possibilidades formadas pela necessidade de autorreflexão crítica, sistematicamente e, mesmo global em que o sociólogo vive seu próprio drama socialmente.
Luiz Maurício Pragana dos Santos, mais reconhecido como Lulu Santos nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 4 de maio de 1953. É um cantor, compositor, produtor musical e guitarrista brasileiro. Antes de se tornar músico, trabalhou como colunista em revistas como a Som Três, escrevendo comentários sobre os álbuns musicais. Em 1981, assinou com a gravadora WEA e assumiu o nome de Lulu Santos, gravando “Tesouros da Juventude” em parceria com o jornalista e produtor Nelson Motta. Seguiram-se outras canções de sucesso “Tempos Modernos” (1982), “O Ritmo do Momento” (1983), “O Último Romântico” (1984), cujo arranjo musical fora claramente influenciado pela canção “Greece”, de George Harrison, do álbum Gone Troppo (1982), “Tudo Azul” (1984), “Normal” (1985), “Lulu” (1986) e “Toda Forma de Amor” (1988). Em 1985, participou do Rock in Rio e, dois anos depois, foi premiado com o disco de platina. O cantor, entretanto, recusou o prêmio concedido na cerimônia de entrega pelo talento e índice de mercado, por não ter atingido o limite mínimo de vendas de 250 mil cópias. Começou sua carreira musicalmente na banda Vímana, e no começo da década de 1980 se tornou um dos músicos mais bem-sucedidos cantores da música brasileira. Começou a tocar violão aos doze anos, muito precoce, formando uma banda inspirada nos Beatles chamada de Cave Man. Contrariando o desejo de seu pai, de que também se tornasse militar, “fugiu de casa antes de completar o colegial, percorrendo o Brasil com hippies”.
O movimento hippie representou
um comportamento coletivo de contracultura dos anos 1960.O movimento, em sua
essência, propõe uma crítica ao tradicionalismo e assim desenvolve um novo
estilo de vida que repensa a relação hegeliana das pessoas entre si e com o
mundo. Embora tendo uma relativa queda de popularidade nos anos 1970 nos
Estados Unidos da América, a célebre máxima “Peace and Love”, que precedeu a
expressão “Ban the Bomb”, a qual criticava a condição e possibilidade do uso de
armas nucleares. As questões ambientais, a prática de nudismo e a emancipação
sexual eram ideias respeitadas recorrentemente por estas comunidades. Optaram
por um modus vivendi, tendendo originalmente a uma espécie de Nova
Esquerda, a um estilo de vida nômade e à vida em comunhão com a natureza.
Negavam o nacionalismo e a Guerra do Vietnã (1955-1975), ou a maioria das
guerras. Abraçavam aspectos de religiões orientais, analisadas pelo sociólogo
Max Weber, como comparativamente com o legado espiritual do budismo e o
hinduísmo e do Xamanismo indígena norte-americano. Mas estavam sobre em desacordo
com valores tradicionais da classe média americana, analisada de forma
inovadora pela imaginação sociológica de Charles Wright Mills (1916-1962) e das
economias capitalistas. Enxergavam per se as relações de entendimento sociológico sobre o patriarcalismo, o
militarismo, o poder governamental, as corporações industriais, a massificação,
o capitalismo, o autoritarismo e os valores sociais tradicionais como parte de
uma instituição única sem legitimidade.
Charles Wright Mills foi um sociólogo norte-americano obtendo o mestrado em Arte, Filosofia e Sociologia pela Universidade do Texas, e Doutorado em Sociologia e Antropologia pela Universidade de Wisconsin. Foi professor de Sociologia das Universidades de Maryland e Columbia. Tornou-se reconhecido principalmente por seu livro: A Imaginação Sociológica, publicado originalmente nos Estados Unidos da América em 1959. Nele o autor faz um apelo para que sociólogos não deixem a imaginação e a criatividade de lado, ao exercerem sua profissão, em favor de uma pretensa objetividade e neutralidade do trabalho científico. As grandes obras e os intelectuais na história social em geral não abriram mão de sua reflexividade e criatividade, além de uma postura crítica diante da realidade e da teoria a respeito do individualismo partindo da premissa do utilitarismo em contraposição ao egoísmo utilitário de Herbert Spencer e dos economistas. Uma das críticas comum à sociologia era ser mais acessível à compreensão do grande público no âmbito de massificação da sociedade de classes. Depois de formado, Wright Mills foi nomeado professor de Sociologia na Universidade de Maryland. Quatro anos depois trabalhou como professor pesquisador na Columbia University`s Bureau of Appled Social Research.
Outras
publicações importantes do bravo pensador são: A Elite do Poder (1956),
a profecia, As Causas da Terceira Guerra Mundial (1958), A Revolução
em Cuba (1960) e Os Marxistas (1962). Mills foi leitor atento da
obra de Max Weber, tendo editado nos EUA uma compilação de textos deste último,
juntamente com Hans H. Gerth, obra que ficou intitulada, From Max Weber: Essay
in Sociology, traduzida para o português como Ensaios de Sociologia,
em 1974, pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Wright Mills e Hans Gerth (1908-1978) apresentam uma importante reflexão sobre a obra de Max Weber articulada a um
escorço biográfico deste autor e metodologicamente um autêntico Apêndice: Do
Artesanato Intelectual, onde apresenta uma etnologia propriamente dita da
pesquisa científica. Para Mills, a racionalidade do mundo ocidental não
produziu a indispensável libertação do ser humano, já que as principais
ideologias desenvolvidas - capitalismo e socialismo - não se mostraram aptas a
prever e controlar intensos processos de mudanças sociais. Esta crítica faz
parte da tese de que o intelectual deveria manter postura crítica e reflexiva
na realidade, e tomar parte nos debates públicos de seu tempo.
Apesar
do seu desaparecimento precoce Wright Mills (1916-1962) teve tempo para
desafiar ideias e preconceitos sociais, e para se afirmar como uma figura
inovadora e inevitável da sociologia. Abalou grandes nomes das ciências sociais
com críticas analíticas severas a tradições teóricas importantes. Num dos seus
livros de maior destaque, A Imaginação Sociológica (1959), criticou a
tendência para manipular a evidência histórica e assim produzir um “colete de
forças trans-histórico”, onde identificou outro entrave ao progresso das
ciências humanas naquilo a que chamou “grã teoria”, ou seja, obcecado na crença
de que o objetivo das ciências sociais é o de construir “uma teoria sistemática
da natureza do homem e da sociedade”. A “grã-teoria” está tão preocupada em
fazer revelações abstratas da sociedade que evita lidar com os grandes
problemas sociais. O termo
foi usado com uma conotação ironicamente para referir-se a várias teorias sobre
as quais residem formas generalizadas da sociedade.
A
sua postura crítica e independente dos grandes centros de poder ficou estabelecida
claramente também noutra das suas mais importantes obras, A Elite do Poder
(1956), onde desenvolve uma explicação da estruturante das relações de poder da
sociedade norte-americana do pós-guerra e ipso facto afirmando que as
três esferas de análises institucionais mais importantes nesta sociedade são as
esferas política, industrial e militar, cada vez mais interdependentes. Conclui
Mills que os Estados Unidos da América são dominados por uma única elite
poderosa composta pelos dirigentes destas três esferas de dimensionamento institucionais.
Wright Mills é um dos mais importantes teóricos da escola conflitual e um
grande crítico tanto do ponto de vista consensual como do ponto de vista
funcionalista, ambos dominantes na sociedade norte-americana do seu tempo.
Compreende abstratamente na obra habilitando as relações de poder que as
decisões políticas determinam as atividades econômicas e os programas
militares. Tem-se uma economia política articulada de diversas maneiras às
instituições e decisões militares. Os líderes desses domínios formam a
elite do poder da América. Mills acrescenta que essa estrutura social
sofreu, historicamente, pequenas alterações na preponderância dos setores-chave e discrimina essa dinâmica em cinco fases.
Na primeira, explica que coincidiam a vida social, as instituições econômicas, a organização militar e a ordem política formando uma “elite multifacetada”, sem nenhuma polarização entre os meios de poder. A segunda, durante o século XIX, caracteriza como de ascendência social da ordem econômica, a qual na terceira fase consolida a sua supremacia tendo como dependentes as ordens militar e política, com a subordinação do Estado aos grandes interesses monetários. O quarto período se dá no contexto social da chamada Grande Depressão de 1929, onde o estabelecimento do Estado do bem-estar social propiciou o fortalecimento do poder político num cenário economicamente em crise. A quinta e atual fase é caracterizada como de ascensão militar, em função das questões relacionadas à defesa e às relações de âmbito internacionais. Apesar dessas proposições, é salientada a ideia da inter-relação entre os poderes e, por fim, a crítica à visão marxista hegemônica de classe dominante, pois, segundo Mills, esse termo carrega apenas o significado econômico (classe) e político (esfera dominante), esvaziando o terceiro e muito importante vértice do triângulo referido da elite: o poder militar.
Aos dezenove anos Lulu Santos tocava no grupo Veludo Elétrico, com Fernando Gama e Paul de Castro. O som do grupo nessa época era basicamente calcado no hard-rock, talvez com toques de Deep Purple, uma banda britânica de rock formada em Hertford, em 1968. Juntamente com as bandas Black Sabbath e Led Zeppelin, o Deep Purple é considerado um dos pioneiros do heavy metal e do hard rock moderno, embora alguns de seus integrantes tenham tentado não se categorizar como apenas um destes gêneros e muito improvisado. Um ano depois, Lulu, Ritchie e Lobão formam a banda Vímana, brasileira de rock progressivo da década de 1970 que passou por quatro fases distintas. Contou com Ritchie (vocal e flauta), Lulu Santos (vocal e guitarra), Luiz Paulo Simas (teclados), Lobão (bateria) e Fernando Gama (baixo). No final dos anos 1970, o Vímana chegou a ensaiar com o tecladista suíço Patrick Moraz (ex-Yes). A expulsão de Lulu Santos da banda por Moraz acabou por desfazer o grupo. O nome do grupo foi ideia de Lulu Santos e significa “Carruagem dos Deuses” em sânscrito. Uma apresentação sua com a banda no Hollywood Rock no verão de 1975, no Rio de Janeiro, pode ser vista no documentário Ritmo Alucinante. O Hollywood Rock foi um festival musical idealizado pela empresa de tabacos Souza Cruz. Foram oito edições entre 1975 e 1996. Entre 1988 e 1992 foi a cada dois anos e a partir de 1992 foi anual até o fim do evento em 1996.
Ritmo Alucinante é um documentário musical de 1975, dirigido por Marcelo França. É um registro cinematográfico do Hollywood Rock, festival de rock realizado em janeiro de 1975 no Estádio General Severiano, no Rio de Janeiro, no qual teriam comparecido 40 mil pessoas. Intercalando as apresentações de cantores e grupos do chamado “rock brasileiro”, flashes do público e uma rápida entrevista da jornalista Scarlet Moon com Erasmo Carlos e Cely Campello. Na parte final, um irreverente e explosivo show de Raul Seixas (1945-1989), que encerra a apresentação lendo o manifesto da diversidade “Sociedade Alternativa”, projeto que lhe trouxera problemas com perseguições do regime militar que autogovernava o país, os quais também alcançaram o parceiro Paulo Coelho. O nome do festival deriva da marca de cigarros Hollywood, da empresa patrocinadora Souza Cruz, o que levou Raul Seixas a comentar que “estava nas bocas”. Foi o primeiro Hollywood Rock, apesar de não oficialmente, pois outros eventos com esse nome só voltariam a ser realizados no país vários anos depois. Após trabalhar como músico freelancer, Lulu Santos seguiu carreira solo com sucesso, tendo sido incluído em duas listas da fabulosa revista Rolling Stone Brasil, entre os 100 maiores artistas em 2009, e dentre os 30 maiores ícones especificamente no manejo da guitarra e do violão que desde 2012 vem mantendo disciplinarmente a propriedade da vez.
Bibliografia
Geral Consultada.
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