“Os homens ofendem mais aos que amam do que aos que temem”. Nicolau Maquiavel
As mulheres representam algo mais do
que uma categoria existente socialmente e compreendem pessoas do sexo feminino
de diferentes idades, diferentes condições etárias familiares pertencentes a
diferentes estratos, comunidades e classes sociais, nações e nacionalidades. Homens
e mulheres envelhecem de formas diferentes, o que interfere nas respectivas
configurações familiares. Suas vidas são ordenadas por diferentes regras
sociais e costumes, em um meio de trabalho e sociabilidade no qual se
configuram crenças e opiniões distintas decorrentes de estruturas de dominação
secularizadas. Um aspecto da história social das mulheres que a distingue
particularmente das outras diz respeito ao fato de ter sido uma história
vinculada a um movimento social dentro e fora do trabalho. Por um longo período
ela tem sido escrita a partir de convicções feministas, embora o conceito e o
movimento decorram de meados do século XX. Certamente toda história social é herdeira
de um contexto político, mas relativamente poucas histórias têm uma ligação tão
forte com um programa de transformação e de ação como a história das mulheres.
Quer as historiadoras tenham sido membros de organizações feministas ou de
grupos de conscientização, quer elas se definissem como ativistas feministas,
ou decerto fora deste movimento social urbano, seus trabalhos não foram menos marcadamente
pelo movimento pragmático feminista hic et nunc europeu das décadas de 1970 e
1980.
Nicole-Barbe Ponsardin, nascida em 16 de dezembro de 1777, ou Barbe-Nicole Clicquot-Ponsardin nascida em Reims, em 16 de dezembro de 1777 e falecida em França, em 29 de julho de 1866, casou-se com François Clicquot, filho de Philippe Clicquot-Muiron, em 10 de junho de 1798, também reconhecida como “a Grande Dama de Champagne” ou mais comummente Viúva Clicquot, foi uma empresária francesa do ramo de bebidas. Mas seu marido morreu em 23 de outubro de 1805, deixando-a viúva e no controle industrialmente da Companhia. Até aquele momento, a companhia dividia suas atividades merceológicas entre a produção de champanhe, serviços financeiros bancários e comercialização de lã. Sob comando de Madame Clicquot, a companhia concentrou seu objetivo inteiramente na produção de champanhe. Durante as Guerras Napoleônicas, que aconteceram entre 1799 e 1815, foi bem sucedida exportando champanhe ao Império Russo em 1814, e estabelecendo-a como produtora nas cortes reais, e no caso português, com remessas de champanhe enviadas por encomenda ao neocolonizador Pedro II. O processo de trabalho e método de industrialização da produção de champanhe é creditado a Madame Clicquot no início do século XIX. Com a ajuda de seu mestre de adega, Antoine de Müller (1788-1859), Clicquot inventou o “riddling rack” (inclinação gradual das garrafas até a vertical), que permitia o dégorgement (degolação, eliminação) de restos de levedura e sedimentos do vinho num processo tecnológico de purificação da bebida.
Um dos domínios sociais, mas particularmente, simbólicos mais intrigantes na circunscrição das relações de gênero diz respeito às conexões entre corpo, de marca nome e renome. De acordo com a literatura antropológica disponível sobre o assunto, o processo de renomeação, quase sempre associado a situações rituais (cf. Gennep, 1978), é um dos marcadores sociais por excelência da aquisição de prestígio e de status nas sociedades não ocidentais. Essa conexão entre corpo, gênero e marca tem suscitado interpretações distintas a respeito dos significados envolvidos nos rituais que a enfeixam: ritos de passagem, na acepção de Van Gennep (1873-1957), ou de instituição, para Pierre Bourdieu (1930-2002), interpelados pela exclusão e violência simbólica, eles visam a separar aqueles que já passaram por eles, daqueles que ainda não o fizeram e, assim, instituir uma diferença duradoura entre os que foram e os que ainda não foram afetados. No extraordinário ritual cabila de circuncisão, pore exemplo, ele separa o rapaz das mulheres e do mundo feminino, ao mesmo tempo em que converte o mais efeminado dos homens num homem na plena acepção da condição de homem, separado por uma diferença de natureza, de essência, mesmo da mais masculina, da maior e da mais forte das mulheres. Os estudos etnográficos produzidos no âmbito da história socialmente das artes e da presente sociologia da cultura, ou sociologia das emoções, têm trazido contribuições socioculturais fundamentais para repensarmos a equação parental historica entre nome, status e posição de prestígio estamental a partir de sua articulação com o problema da autoria e da autoridade na sociedade contemporânea.
Ao
tentar reconstruir a passagem pelo Brasil de Dina Lévi-Strauss - que em 1938
chegou a São Paulo, junto com o jovem e quase desconhecido marido, o
antropólogo Claude Lévi-Strauss-Mariza Corrêa (1995) defrontou-se com uma
situação socialmente inquietante. Durante quatro anos procurou por Dina, “que,
se não era uma celebridade na história da antropologia, também não era uma
desconhecida”. Decepcionada com o resultado dessa busca, em que Dina ora
aparecia como uma referência secundária, ora desaparecia sob a rubrica “casal
Lévi-Strauss”, ora, ainda, tornava-se apenas a “mulher de Lévi-Strauss”, a
antropóloga enveredou pela questão da “notoriedade retrospectiva”, isto é, pelo
modo “como o renome adquirido a partir de certo momento pode iluminar a vida
inteira de um personagem” e ofuscar a de outro. Refletindo sobre a “notoriedade
retrospectiva” de Lévi-Strauss (1908-2009) e o “esquecimento” de Dina, a autora
se perguntava o que teria sido feito das pesquisadoras estrangeiras naquele
momento de implantação da antropologia no país. Elas adotaram o nome do marido
a ponto de ser difícil redescobri-las com seus nomes, mesmo quando descasadas
no caso de Dina.
Um
admirável estudo de Nancy Cott (2006) recoloca o feminismo em um contexto
histórico e demonstra que, no seu sentido atual, esta palavra só começou a ser
utilizada na América no primeiro decênio deste século. A “definição
operacional” que ela propõe é funcional e seus três componentes são:
1. A defesa da igualdade dos sexos ou oposição à hierarquia dos sexos; 2. O
reconhecimento de que a “condição das mulheres é construída socialmente, (...)
historicamente determinada pelos usos sociais”; 3. A identificação com as
mulheres enquanto grupo e o apoio a elas. Enquanto ideologia, o
feminismo é acessível tanto aos homens quanto às mulheres, ainda que nem todas
elas (ou eles, no caso) o aceitem. A maior parte da história universitária das
mulheres se apoia sobre essas convicções do feminismo contemporâneo. No âmbito
do artigo, adverte Louise Tilly, a exemplo de Ellen Dubois e colegas,
“consideraremos toda história das mulheres como feminista e vinculada ao
movimento feminista, pelo menos quanto às suas raízes. Com efeito, é difícil
estabelecer critérios apropriados e impossíveis, intelectual e politicamente,
determinar quem é ou não é feminista”. Parece um entrave à
legitimação das mulheres como campo da história, mas o que
se segue sugere que isto não impediu, nem sua institucionalização, nem seu
reconhecimento.
Essa transição industrializada incluiu a passagem de métodos de produção manualmente para a produção mecanizada, novos processos de fabricação de produtos químicos e metalúrgicos, utilidade de energia a vapor e hidráulica, o desenvolvimento de máquinas-ferramentas e a ascensão do sistema fabril mecanizado. Além do aumento da produção, houve também houve crescimento populacional sem precedentes. A indústria têxtil foi dominante da Revolução Industrial, em termos de geração de emprego, valor da produção e volume de capital, além de também ter sido a primeira a usar os novos métodos e técnicas. A Revolução Industrial começou praticamente na Grã-Bretanha, onde foram introduzidas as mais significativas inovações tecnológicas e arquitetônicas. Em meados do século XVIII, o Reino Unido, oficialmente Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, é um país insular localizado em frente à costa Noroeste do continente europeu. Tornara-se a principal nação comercial do mundo, controlando um império comercial global com colônias na América do Norte e no Caribe, além de ter hegemonia no subcontinente indiano; particularmente com o proto-industrializado Mughal Bengal, através das atividades da Companhia das Índias Orientais, uma empresa comercial britânica que operou entre 1600 e 1874. É uma união política de quatro países constituintes: Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. É regido por um sistema parlamentar, localizado em Londres e por uma monarquia constitucional que tem o rei Carlos III como chefe de Estado.
Manuais de retórica, assim como obras de fisiognomonia, livros de civilidade e artes de conversação lembram incansavelmente do século XVI ao XVIII que o rosto está no centro das percepções de si, da sensibilidade ao outro, dos rituais de sociabilidade da sociedade civil, das formas do político. Trata-se de um privilégio antigo que reveste, porém, uma nova tonalidade a partir do início daquele século. Todos esses textos dizem e repetem que o rosto fala. Ou, mais precisamente, que pelo rosto é o indivíduo que se exprime. Um laço se esboça historicamente e depois é traçado, segundo Courtine & Haroche (2016: 10-11) mais nitidamente entre sujeito, linguagem e rosto, um laço crucialmente para a elucidação moderna. As percepções sociais do rosto são lentamente deslocadas, as sensibilidades à expressão se desenvolvem progressivamente. É um dos traços físicos essencialmente do avanço do individualismo nas mentalidades. Um “individualismo de costumes” que Philippe Ariès atribui a um processo social geral de privatização que vai transformar profundamente a identidade individual entre estes últimos séculos e reconfigurar de maneira paradoxal as relações entre comportamentos públicos e privados: o que vai, por um lado, afirmar a proeminência do indivíduo e incitar a expressão pessoal. O indivíduo é, em diante, indissociavelmente da expressão singular de seu rosto, com uma tradução corporal de seu eu como foro íntimo. Mas, por outro lado, esse mesmo movimento histórico e sexualmente que o incita a se exprimir leva-o ao mesmo tempo a se apagar, a mascarar o seu rosto, a encobrir sua expressão.
O
desenvolvimento do comércio e a ascensão dos negócios estavam entre as
principais causas da Revolução Industrial, que marcou uma grande virada na
história. Comparável apenas à adoção da agricultura pela humanidade no que diz
respeito ao avanço material, a Revolução Industrial influenciou de alguma forma
quase todos os aspectos da vida cotidiana. Em particular, a renda média e a
população começaram a apresentar um crescimento sustentado sem precedentes.
Alguns economistas disseram que o efeito mais importante da Revolução
Industrial foi que o padrão de vida da população em geral no mundo ocidental
começou a aumentar consistentemente pela primeira vez na história, embora
outros autores tenham dito que não começou a melhorar significativamente até
finais dos séculos XIX e XX. O Produto Interno Bruto per capita era
amplamente estável antes da do surgimento da economia capitalista moderna,
sendo que a Revolução Industrial iniciou um processo macrossociológico de
desenvolvimento, chamado uma “Era de crescimento econômico per capita
nas economias capitalistas” (cf. Hobsbawm, 1978). Os historiadores concordam
que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na história social
desde a domesticação de animais e plantas.
Para nós, política tem como representação regulação da existência coletiva, poder decisório, luta entre interesses contraditórios, disputa por posições de mundo, confrontos mil entre forças sociais, violência em última análise. Só que a produção política, os processos políticos, se diferenciam radicalmente da produção econômica porque usa eventualmente suportes materiais, tais como armas, livros, processos, papéis onde se inscrevem as ordens, os atos de gestão, as sentenças ou as leis, mas não é uma produção material. Porque consiste em decisões imperativas. Assim, é também diferente da produção simbólica porque exercita-se sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre o seu próprio corpo; corresponde a atos de vontade que regulam atividades coletivas; disciplina práticas sociais. O suplício repousa na arte quantitativa do sofrimento. O suplício faz correlacionar o tipo político de ferimento físico, a qualidade, a intensidade, o tempo social de suas vítimas. Além disso, o suplício faz parte de um ritual. É um elemento da liturgia punitiva, e que obedece a duas exigências. Em relação à vítima, ele deve ser marcante: destina-se, ou pela cicatriz que deixa no corpo, ou pela ostentação de que se acompanha, a tornar infame aquele que é sua vítima; o suplício, mesmo se tem como função “purgar” o crime, não reconcilia; traça em torno, ou melhor, sobre o próprio corpo do condenado sinais que não devem se apagar; a memória dos homens, em todo caso, guardará a lembrança da exposição, da roda, da tortura ou do sofrimento devidamente contatados. E pelo lado da justiça o suplício deve ser ostentoso, deve ser constatado por todos, processado como sendo seu triunfo.
Não produz mensagens, discursos; produz obediências, obrigações, submissões, direitos, deveres, controles. Poder é uma relação social: de mando e obediência. As decisões tomadas politicamente se impõem a todos num dado território ou numa dada unidade social. Convertem-se em atividades coercitivas (esfera da segurança), administrativas (esfera da administração), jurídico-judiciárias (esfera da justiça) e legislativas (esfera da deliberação). O processo político diz respeito a pergunta: “Quem pode o quê sobre quem?”. Eis a grande questão do processo político, do confronto entre forças sociais, da sujeição de vontades a outras vontades. Fora da ideia de nacionalismo, a partir da competição entre nações, foi o filósofo Simmel quem chamou atenção para o fato de que, “a luta contra uma potência estrangeira dá ao grupo um vivo sentimento de sua unidade”, e além disso, é “'um fato que se verifica quase sem exceção. Não há, por assim dizer, grupo doméstico, religioso, econômico ou político que possa passar sem esse cimento'”. Essa atividade intelectual, porque psíquica e de preparação psicológica, quase exclusivamente entre homens, pode representar com o homem diante da guerra um crime contra a humanidade, individual ou coletivamente com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo tipicamente nacional, étnico, racial, militar, religioso.
A invenção de Clicquot compunha-se tecnicamente de uma mesa de madeira com buracos circulares nela perfurados, que permitia à garrafa de vinho ser presa (“sur point”), de ponta-cabeça após centrifugação manual. Todo dia um ajudante de mestre de adega cuidadosamente sacudia e girava (remuage) a garrafa para conduzir os restos de levedura e sedimentos acumulados no gargalo. Uma vez acumulados, a tampa era congelada. Após a retirada da rolha, os sedimentos eram expulsos naturalmente pela expansão dos gases. O vinho, purificado, era novamente lacrado com rolha. A champanhe Veuve Clicquot tem o selo de autorização real, dada por Elizabeth II para comercialização no Reino Unido. Madame Clicquot morreu em 29 de julho de 1866, deixando uma bem estabelecida marca de champanhe. Veuve Clicquot Ponsardin é uma casa de champanhe de Reims, França, e uma marca de champanhe, facilmente reconhecida pelo distinto rótulo laranja em sua garrafa. Fundada em 1772 por Philippe Clicquot-Muiron, Veuve Clicquot desempenhou um importante papel socialmente no estabelecimento do champanhe como bebida escolhida pela nobreza e pela rica burguesia europeia. Situada em Reims, do ponto de vista merceológico Veuve Clicquot faz parte do grupo Louis Vuitton Moët Hennessy de artigos de luxo desde 1987. Neste aspecto lembramos de Morin (2003) quando afirma: - Antropologia que exclui a vida de nossa vida privada é uma Antropologia privada de vida. A vida é um fungo que se formou nas águas e na superfície da Terra. Nosso planeta gerou a vida que se desenvolveu de forma líquida no mundo vegetal e animal; nós somos uma ramificação da ramificação dessa evolução dos vertebrados, dos mamíferos, dos primatas, portadores em nós das herdeiras, filhas, irmãs das primeiras células vivas. Pelo nascimento, participamos da aventura biológica; pela morte, participamos da tragédia cósmica. O ser mais corriqueiro, o destino mais banal participa dessa tragédia e dessa aventura. Michel Cassé, em um banquete no Castelo de Beychevelle, quando um enólogo lhe perguntou o que um astrônomo via em seu copo de vinho bordeaux, respondeu assim: “Vejo o nascimento do Universo, pois vejo as partículas que se formaram nele nos primeiros segundos. Vejo um Sol anterior ao nosso, pois nossos átomos de carbono foram gerados no seio desse grande astro que explodiu. Depois, esse carbono ligou-se a outros átomos nessa espécie de lixeira cósmica em que os detritos, ao se agregarem, vão formar a Terra. Vejo a composição das macromoléculas que se uniram para dar nascimento à vida.
Vejo as primeiras células vivas, o desenvolvimento do mundo vegetal, a domesticação da vinha nos países mediterrâneos. Vejo as bacanais e os festins. Vejo a seleção das castas, um cuidado milenar em torno dos vinhedos. Vejo, enfim, o desenvolvimento da técnica moderna que hoje permite controlar eletronicamente a temperatura de fermentação nas tinas. Vejo toda a história cósmica e humana nesse copo de vinho, e também, é claro, toda a história específica do bordelês”. Trazemos, dentro de nós, o mundo físico, o mundo químico, o mundo vivo, e, ao mesmo tempo, deles estamos separados por nosso pensamento, nossa consciência, nossa cultura. Assim, Cosmologia, ciências da Terra, Biologia, Ecologia permitem situar a dupla condição humana: natural e metanatural. Conhecer o humano não é separá-lo do Universo, mas situá-lo nele. Como vimos no capítulo anterior, todo conhecimento, para ser pertinente, deve contextualizar seu objeto. “Quem somos nós?” é inseparável de “Onde estamos, de onde viemos, para onde vamos?”. Pascal já nos havia situado, corretamente, entre dois infinitos, o que foi amplamente confirmado no século XX pela dupla evolução da Microfísica e da Astrofísica. Conhecemos hoje nosso duplo enraizamento: no cosmo físico e na esfera viva. Claro, novas descobertas ainda vão modificar nosso conhecimento, mas, pela primeira vez na história, o ser humano pode reconhecer a condição humana de seu enraizamento e de seu desenraizamento.
As
convicções políticas parecem seguir o mesmo caminho. Alguém seria socialista
por que foi socialista, sem ir às manifestações, sem reunião, sem palavra e sem
contribuição financeira, em suma, sem nada pagar. Mas reverencial que
identificatória, a pertença só se marcaria por aquilo que se chama uma voz.
Este resto de palavra, como o voto encanzinado de quatro em quatro anos. Uma
técnica bastante simples manteria o teatro de operações desse crédito. Basta
que as sondagens abordem outro ponto que não aquilo que liga diretamente os
adeptos ao partido, mas aquilo que não os engaja alhures, não a energia das
convicções, mas a sua inércia. Os resultados da operação contam então com
restos da adesão. Fazem cálculos até mesmo com o desgaste de toda convicção.
Pois esses restos, esses cacos, como insinua Leonardo Boff, indicam ao mesmo
tempo o refluxo daquilo em que os interrogados creram na ausência de uma
credibilidade mais forte que os leva para outro lugar. A capacidade de crer
parece estar em recessão em todo o campo político. A tática é a arte do fraco.
O poder se acha amarrado à sua visibilidade. Mas a vontade de “fazer crer”, de
que vive a instituição, fornecia nos dois casos um fiador a uma busca de amor
e/ou de identidade. Importa interrogar-se sobre os avatares do crer em nossas
sociedades e as práticas originadas a partir desses deslocamentos. Durante
séculos, supunha-se que fossem indefinidas as reservas de crença. Aos poucos a
crença se poluiu, como o ar e a água. Percebe-se ao mesmo tempo a condição e
possibilidade da perda sensibilidade de não se saber o que ela é. Tantas
polêmicas e reflexões sobre os conteúdos ideológicos em torno do voto e os
enquadramentos institucionais para lhe fornecer não foram acompanhadas de uma
elucidação acerca da natureza do ato de crer. Os poderes antigos geriam
habilmente a nossa autoridade. No mundo contemporâneo, fora de dúvida, nossos sistemas administrativos, sem
autoridade, dispõem de mais força e menos autoridade legislativa.
Numa época em que, nos Estados Unidos das América, ser dona de casa e mãe era a principal ocupação social aprovada para as mulheres, Ariel Durant demostrou uma maneira de romper essa tradicional e conservadora relação social. Envolvida em um relacionamento de amor e trabalho ao longo da vida com o apaixonado marido, Will Durant, e com a filha, Ethel, Ariel Durant primeiro tornou-se assistente de pesquisa e, em seguida, uma coautora séria e disciplinada com seu prolífico marido, filósofo e escritor. Intelectual ativa e consciente dos direitos da mulher, Ariel Durant foi capaz de compartilhar da fama e das realizações pessoais do esposo. Mas com sua personalidade e ambição autoral, ela provavelmente teria preferido um reconhecimento independente para seu talento e engajamento como mulher. Ariel Durant nasceu com o nome Chaya Kaufmann, sendo seu nome Ida Kaufmann, em Proskurov, Rússia, atual Khmelnytskyi, Ucrânia, em 10 de maio de 1898. Era filha dos judeus Ethel Appel Kaufmann e Joseph Kaufmann, que emigrou para a América do Norte, trazendo sua família, em 1901. O início da vida de Chaya/Ida foi muito agitado, pois os pais eram pobres, vendedores de jornais, e sua mãe acabou afastando-se da atenção à família para ser “militante anarquista que tem sua origem em um contexto particularmente favorável da segunda metade do século XIX”. Em sua autobiografia, Ariel se identifica com a “personalidade completa e intensa” da mãe, e descreve os sofrimentos da Sra. Kaufmann com pungência simpática. Quando tinha 14 anos, Chaya foi transferida das escolas públicas de Nova York, que tinha frequentado, para a Modern School, de inspiração anarquista.
Um de seus notáveis professores era o historiador Will Durant. Chaya seria apelidada de “Puck”, o personagem travesso da novela “Sonho de Uma Noite de Verão”, de William Shakespeare. Mais tarde seu apelido foi mudado para Ariel, o duende de “A Tempestade”, porque ela era “forte e valente como um menino, e rápida e travessa como um elfo”. Marido e mulher tinham personalidades opostas. Ele era tímido e reservado, e ela era extrovertida, alegre e sociavelmente. Ele ofereceu-lhe os meios de satisfazer sua curiosidade intelectual e ela o apresentou ao mundo dos artistas, poetas, filósofos e artistas com quem conviveram em Nova York e Los Angeles. Durante sua vida, eles conheceram figuras notáveis da ciência, da arte e da política, como Albert Einstein, Franklin D. Roosevelt, Chaplin e outros. Ariel desenvolveu uma conversação brilhante e debatedora afiada, sob a aparente tutela do homem que ela chamava de “professor, amante, mentor e amigo”. Will apreciava especialmente o entusiasmo de Ariel em falar de suas ideias, sua divertida e apaixonada valorização da vida, e sua defesa dos direitos das mulheres. Em torno de 1912, Will Durant imaginou escrever uma História da Civilização em cinco partes, descrevendo a narrativa através das histórias de pessoas famosas de cada época. Esta abordagem diferente da pesquisa histórica era feita em seu tempo. Fez uma História legível para o público em geral, e os volumes foram bem recebidos por uma nação beligerante que se recuperava da guerra mundial, embora alguns acadêmicos rigorosos tenham sido críticos severos de A História da Civilização.
De
qualquer forma, tornou-se uma obra de 11 volumes, publicados entre 1935 e 1975.
Ariel começou a ajudar Will com este grande projeto, metodologicamente ao
classificar e organizar suas anotações. Como sua assistente literária, ela
trabalhou ao seu lado em relativo anonimato por muitos anos. Ariel começou a
ajudar Will com este grandioso projeto ao classificar e organizar suas
anotações. Como sua assistente literária, ela trabalhou ao seu lado em relativo
anonimato por muitos anos. Mais tarde, ela começou a completar e complementar a
pesquisa de Will, e logo se tornou uma crítica e uma colaboradora. Ariel
realizou grande parte da própria pesquisa para o volume 4, quando Will já
estava em seus setenta anos de idade. Em 1961, quanto o sétimo volume foi publicado,
Ariel Durant recebeu o crédito como coautora para este e os quatro volumes
restantes. Seu interesse nas mulheres, na França e na Inglaterra teve um
impacto social e político, nas questões de gênero, sobre o conteúdo da série. As
lições de vida e de amor de Will & Ariel Durant integram-se historicamente
na lenda medieval do Bravo Tristão, um dos Cavaleiros da Távola Redonda
que cai de amores pela princesa irlandesa Isolda, esposa prometida para eu tio,
o Rei Marcos da Cornualha. A lenda tornou-se a célebre ópera de Richard Wagner.
O mais famoso casal da América Latina, María Eva Duarte e Juan Perón
inscreveram a mulher na história da América, famosa na política, mas também
pela sua elegância e carisma. Provavelmente a história de amor mais famosa de
todos os tempos, a tragédia escrita por William Shakespeare, Romeu &
Julieta, não cessa de inspirar versões e releituras para o teatro, cinema e
televisão. A história de amor de Victor Hugo e Juliette Drouet é digna de um de
seus romances. Eles se conheceram em Paris, quando Juliette ainda era uma
atriz. Apaixonaram-se e ele pede que ela deixe sua vida artística para
acompanhá-lo e ser sua musa inspiradora durante quase meio século incluindo seu
exílio em Guernsey. Na modernidade, o indivíduo, ator, identidade, grupo
social, classe social, etnia, minoria, movimento social, partido político,
corrente de opinião pública, poder estatal, segundo Georg Simmel, todas estas
“manifestações de vida”, não mais se esgotam no âmbito da sociedade nacional, o
que nos faz admitir que a diferenciação comparativamente em comunidades locais,
tribos, clãs, grupos étnicos, nações e Estados, perderam seu significado
anterior em seu interior.
Historicamente o início e a duração da Revolução Industrial variam de acordo com diferentes historiadores. Eric Hobsbawm considera que a revolução “explodiu” na Grã-Bretanha na década de 1780 e não foi totalmente percebida até a década de 1830 ou de 1840, enquanto T. S. Ashton considera que ela ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1830. Alguns historiadores do século XX, como John Clapham e Nicholas Crafts, têm argumentado que o processo de mudança econômica e social ocorreu de forma gradual e que o termo “revolução” é no mínimo equivocado. Este ainda é um assunto que está em debate entre os historiadores. A revolução impulsionou uma era de forte crescimento econômico nas economias capitalistas e existe um consenso entre historiadores econômicos de que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na história da humanidade desde a domesticação de animais e a agricultura. A chamada 1ª revolução industrial evoluiu para a 2ª revolução industrial, nos anos de transição periodizados entre 1840 e 1870, quando o progresso tecnológico ganhou “força econômica” com a adoção de barcos a vapor, navios, ferrovias, em larga escala de máquinas e o aumento da utilidade das fábricas que utilizavam a energia a vapor. A partir da gênese da revolução industrialmente, o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações passaram a ter acessibilidade a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de consagração pela via do trabalho.
O
primeiro uso registrado do termo “Revolução Industrial” parece ter sido em uma
carta datada de 6 de julho de 1799 escrita pelo enviado francês Louis-Guillaume
Otto (1754-1817), anunciando que a França havia entrado na corrida para
industrializar. Em seu livro Keywords: A Vocabulary of Culture and Society,
de 1976, Raymond Williams afirma na entrada para indústria: “A ideia de uma
nova ordem social baseada em grandes mudanças industriais era clara em Southey
e Owen, entre 1811 e 1818, e estava implícita já em Blake no início da década
de 1790 e Wordsworth na virada do século XIX”. O termo Revolução Industrial
aplicado à mudança tecnológica estava se tornando mais comum no final da década
de 1830, como na descrição de Jérôme-Adolphe Blanqui em 1837 de “la révolution
industrielle”. Friedrich Engels em sua obra A Situação da Classe
Trabalhadora na Inglaterra, de 1844 falou de “uma revolução industrial, uma
revolução que ao mesmo tempo mudou toda a sociedade civil”. No entanto, embora
F. ngels tenha escrito seu livro na década de 1840, ele não foi traduzido para o
inglês até o final de 1800, e sua expressão não entrou na linguagem cotidiana
até então. O crédito por popularizar o termo pode ser dado ao historiador Arnold J. Toynbee (1899-1975),
cujas palestras de 1881 deram um relato etnográfico do termo.
Historiadores
econômicos e autores específicos, como Mendels e Kenneth Pomeranz, argumentam
que a protoindustrialização em partes da Europa, mundo islâmico, Império
Mogol e China criou as condições sociais e econômicas que levaram à Revolução
Industrial, causando assim a Grande Divergência. Alguns historiadores,
como John Clapham e Nicholas Crafts, argumentaram que as mudanças econômicas e
sociais ocorreram gradualmente e que o termo revolução é um equívoco. Este
ainda é um assunto de debate entre alguns historiadores. As causas da Revolução
Industrial foram continuam a ser um tema de debate. No entanto, seis fatores
facilitaram a industrialização: altos níveis de produtividade agrícola para
fornecer excesso de mão de obra e alimentos; um conjunto de habilidades gerenciais
e empreendedoras; portos, rios, canais e estradas disponíveis para transportar
matérias-primas e produtos a baixo custo; recursos naturais como carvão, ferro
e cachoeiras; estabilidade política e um sistema legal que apoiasse os
negócios; e capital financeiro disponível para investir. Uma vez iniciada a
industrialização na Grã-Bretanha, novos fatores podem ser adicionados, como a
ânsia dos empresários britânicos em exportar conhecimento industrial e a
vontade de importar o processo.
A
Grã-Bretanha atendeu aos critérios e se industrializou a partir do século XVIII
e depois exportou o processo para a Europa Ocidental, especialmente Bélgica,
França e Estados alemães no início do século XIX. Os Estados Unidos copiaram o
modelo britânico no início do século XIX e o Japão copiou os modelos da Europa
Ocidental no final do século XIX. Outros acreditam que a Revolução Industrial
foi uma consequência das mudanças sociais e institucionais trazidas pelo fim do
feudalismo na Grã-Bretanha após a Guerra Civil Inglesa no século XVII, embora o
feudalismo tenha começado a desmoronar após a Peste Negra de meados do século
XIV, seguido por outras epidemias, até que a população atingiu um nível baixo
no século XIV. Isso criou escassez de mão de obra e levou à queda dos preços
dos alimentos e a um pico nos salários reais por volta de 1500, após o que o
crescimento da população começou a reduzir os salários. A inflação causada pela
degradação da moeda após 1540, seguida pelo aumento da oferta de metais preciosos
nas Américas, fez com que os aluguéis de terras (geralmente arrendamentos de
longo prazo que eram transferidos para os herdeiros por morte) caíssem em
termos reais.
O movimento de “cercamentos” (enclosure) e a Revolução Agrícola Britânica tornaram a produção de alimentos mais eficiente e menos intensiva em mão-de-obra, forçando os agricultores que não podiam mais ser autossuficientes na agricultura para a indústria caseira, por exemplo, tecelagem e, a longo prazo, para as cidades e fábricas recém-desenvolvidas. A expansão colonial do século XVII com o desenvolvimento concomitante do comércio internacional, a criação de mercados financeiros e a acumulação de capital também são citados como fatores sociais e políticos, assim como a Revolução Científica do século XVII. Uma mudança nos padrões de casamentos, que aconteciam cada vez mais tarde, tornou as pessoas capazes de acumular mais capital humano durante a juventude, incentivando assim o desenvolvimento econômico. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua força de trabalho através de um salário. Outra das consequências da Revolução Industrial foi o rápido crescimento econômico. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento, pois levavam séculos para que a renda per capita aumentasse sensivelmente, e após, a renda per capita e a população começaram a crescer de forma acelerada nunca antes vista na história. Por exemplo, entre 1500 e 1780 a população da Inglaterra aumentou de 3,5 milhões para 8,5, já entre 1780 e 1880 ela saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da mortalidade infantil. Para E. P. Thompson (1987), o incremento da população humana nesse período se sustentou principalmente por uma longa série de boas colheitas e numa melhora do padrão de vida desenvolvido nos primeiros momentos da Revolução Industrial; com o avanço da industrialização na primeira metade do século.
A renda per capita ou rendimento per capita é um indicador que ajuda a medir o grau de desenvolvimento econômico de um país ou região. A renda per capita é obtida mediante a divisão da renda nacional, isto é, Produto Nacional Bruto (PIB) menos os gastos de depreciação do capital e os impostos diretos pelo número de habitantes do país. Renda per capita, sociologicamente, tem o mesmo significado unitário de renda pessoal, que, em macroeconomia, corresponde à renda total de todos os indivíduos na forma de salários, transferências, a saber: subsídios, aposentadorias, pensões e outros benefícios previdenciários, honorários, alugueis, juros ou lucros, antes do pagamento do imposto de renda e demais tributos pessoais. A renda pessoal equivale à renda nacional menos as contribuições para a previdência social, os impostos sobre os lucros das empresas, tais como o Imposto de Renda, os lucros retidos pelas empresas mais as transferências do governo ou do setor privado. Renda mundial disponível é o que sobra para os indivíduos, depois do pagamento dos impostos. A renda per capita é uma expressão latina que significa “por cabeça” ou “por pessoa”, demonstra a renda média da população humana.
Normalmente,
os países desenvolvidos têm PIB e renda per capita maiores que os dos países
subdesenvolvidos. As exceções são países com pequena população, mas que possuem
alguns bilionários deixando um enorme desvio-padrão de renda e aparentando
possuir elevada renda média como é o caso dos Emirados Árabes Unidos com um PIB
per capita de US$ 55 028, em 2009, o 14° maior do mundo e outros pequenos
países árabes. Os Estados Unidos possuem uma economia gigantesca, a maior do
mundo, com um PIB superior a 14 trilhões de dólares, ao passo que alguns países
economicamente considerados pobres, como a República Democrática do Congo, têm
um PIB de apenas 8,5 bilhões de dólares. Entretanto, nem sempre na esfera
política um grande PIB corresponde a uma elevada renda per capita, pois
ela não depende apenas das riquezas produzidas, mas também do tamanho da
população humana do país. A China, por exemplo, tem um PIB PPC de mais de onze
trilhões de dólares - segundo maior do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional, em 2011. Porém,
devido à sua imensa população em torno de1,3 bilhões de humanos, a divisão dessa riqueza pelo
número de habitantes resulta numa renda per capita relativamente
modesta, isto é, nove mil dólares. A Noruega e a Suíça, embora possuam PIB`s pequenos,
têm as mais elevadas rendas per capita do mundo, em virtude de suas pequenas
populações.
Evidentemente a saúde urbana começou drasticamente a se deteriorar, devido à imensa concentração populacional nas cidades que sofreria danos com as epidemias, péssimas condições de habitação, deformações e estafa causadas pela intensificação do trabalho e a alimentação insuficiente e inadequada. A medicina parece ineficaz no combate a esses problemas. Insere-se assim o Movimento Ludista que teve o seu momento culminante no assalto noturno à manufatura de William Cartwright, no condado de York, em abril de 1812. A luta pelo voto feminino foi o primeiro passo a ser alcançado no horizonte das feministas da chamada pós-Revolução Industrial. As “suffragettes”, primeiras ativistas per se do feminismo no século XIX, eram assim conhecidas justamente por terem iniciado um movimento no Reino Unido a favor da concessão, às mulheres, do direito ao voto. Formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, é uma nação insular situada no noroeste da Europa. A Inglaterra, local de nascimento de William Shakespeare e dos trabalhadores urbanos de Liverpol que formaram a banda Beatles, abriga a capital, Londres, um centro financeiro e cultural globalmente influente. Também na Inglaterra, ficam o neolítico Stonehenge, as termas romanas de Bath e as centenárias universidades de Oxford e Cambridge.
O seu início deu-se em 1897, com a fundação da União Nacional pelo Sufrágio Feminino por Millicent Fawcett (1847-1929), uma educadora britânica. O movimento das sufragistas, que inicialmente era pacífico, questionava o fato social de as mulheres do final daquele século serem consideradas incapazes de assumir postos de comando na sociedade inglesa, através da direção das escolas urbanas e o trabalho de educadoras em geral, mas “serem vistas com desconfiança como possíveis eleitoras”. As leis do Reino Unido eram aplicáveis às mulheres, mas elas não participavam politicamente de sua elaboração. A luta pelo voto feminino foi o primeiro passo a ser alcançado no horizonte das feministas da chamada pós-Revolução Industrial. As chamadas “suffragettes”, foram as primeiras ativistas do feminismo no século XIX, eram assim reconhecidas na esfera política da cidadania, justamente por terem iniciado um movimento no Reino Unido a favor da concessão, às mulheres, do direito ao voto. Formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, é uma nação insular situada no noroeste da Europa.
A
Inglaterra, local de nascimento de William Shakespeare e dos revolucionários Beatles,
abriga a capital, um centro financeiro e cultural globalmente influente. Também
na Inglaterra, ficam o neolítico Stonehenge, as termas romanas de Bath e as
centenárias universidades de Oxford e Cambridge. O seu início deu-se em 1897,
com a fundação da União Nacional pelo Sufrágio Feminino por Millicent
Fawcett (1847-1929), uma educadora britânica. O movimento das sufragistas, que
inicialmente era pacífico, questionava o fato de as mulheres do final daquele
século serem consideradas incapazes de assumir postos de comando na sociedade
inglesa através da direção das escolas e o trabalho de educadoras em geral, mas
serem vistas com desconfiança como possíveis eleitoras. As leis do Reino Unido
eram aplicáveis às mulheres, mas não participavam na política de sua
elaboração. No ano seguinte, na mesma cidade, teve lugar o maior processo
contra os ludistas: dos 64 acusados de terem atentado contra a
manufatura de William Cartwright, 13 foram condenados à morte e dois à
deportação para as colônias.
Apesar
da dureza das penas, o certo é que o movimento ludista não amainou, dado
que os operários viviam em péssimas condições. O Ludismo enquanto prática de lugar ou lugar praticado de
destruição de máquinas passou a ser cada vez mais hostilizado pelo patronato
que recorreram aos parlamentos, visando a criação de leis mais severas para
punir os envolvidos em revoltas. O Reino Unido que já possuía uma lei de 1721
que definia o exílio como pena máxima para a destruição de máquinas, em 1812
como resultado da oposição contínua a mecanização adotou o “Frame-Breaking Act”
definindo a pena de morte para casos de revoltas com destruição de máquinas. Nos
fins do século XVIII, corria o boato de que um enfurecido operário britânico
chamado Ned Ludd certa vez havia quebrado as máquinas de seu patrão. Mesmo não
tendo comprovação, a história política serviu de inspiração para vários
operários que viam “nas máquinas a razão de sua condição de miséria”. Nascia
assim, na Inglaterra, o Ludismo ou Movimento Ludita. Os luditas agiam secretamente, endereçando, como práticas estratégicas, cartas
anônimas endereçadas aos seus patrões exigindo o fim da utilidade de uso das máquinas que
restringiam economicamente a oferta de emprego. Muitas vezes, organizavam grupos que invadiam
fábricas e depredavam todas as máquinas possíveis e presentes. A destruição
acontecia, ipso facto operários e desempregados aprovavam a ação com gritos e calorosas palmas.
A
reação das autoridades inglesas contra esses levantes foi marcada por vários
conflitos entre os policiais e os trabalhadores. O Parlamento aprovou
a Frame Braking Act (1812), representando uma “lei que punia a quebra de
máquinas com a pena de morte”. A rebelião ludita causou impacto significativo e
determinou uma experiência de oposição entre o homem e a tecnologia. A
perseguição aos ludistas tornou-se implacável, com centenas de pessoas sendo
presas e torturadas, dezenas de executados, industrial e a criação das
primeiras Trade Unions tornaram-se outros limitantes para o alcance e as
possibilidades das revoltas ludistas, fazendo com que o ludismo entrasse em
declínio em meados do século XIX. O ludismo não foi um fenômeno exclusivamente
inglês, tendo-se registrado movimentos semelhantes na Bélgica, na Renânia, na
Suíça e na Silésia. Para esses trabalhadores, as máquinas se transformaram na
principal responsável pela situação de exploração e de desemprego em que se
encontravam. Os trabalhadores quebradores de máquinas ficaram conhecidos como
ludistas, nome que deriva de Ned Ludd, uma personagem, tida por muitos como
lendária, que teria quebrado a máquina em que operava a golpes de martelo, demonstrando assim sua insatisfação. Rapidamente, o ludismo do ponto de vista
político-ideológico se espalhou da Inglaterra para outros países europeus enredados no processo civilizatório. O ludismo se constituiu como o
movimento operário de reivindicação panfletária de melhorias nas relações sociais e
condições de trabalho humano.
Bibliografia
Geral Consultada.
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