quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Ammonite – Fósseis, Paixão Realizada & Homoerotismo Feminino.

                           Acho que Saoirse e eu nos sentimos realmente seguras”.  Kate Winslet

Há mais duzentos anos, a ideia in statu nascendi de que a verdade era produzida, e não  descoberta, começou a tomar conta do imaginário individual (o sonho) e coletivo (os   mitos, os ritos, os símbolos) europeu. O precedente estabelecido pelos românticos conferiu a seu pleito uma plausibilidade inicial. O papel efetivo de romances, poemas, peças teatrais, quadros, estátuas e prédios no movimento social dos últimos 150 anos deu-lhe uma plausibilidade ainda maior, obtendo legitimidade, já que sabemos que “as ideias adquirem força na história”. Alguns filósofos inclinaram-se ao iluminismo e continuaram a se identificar com a ciência. Eles veem a antiga luta entre a ciência e a religião, a razão e a irracionalidade, como um processo em andamento que assumiu a forma de luta entre a razão e todas as mediações intraculturais que pensam na verdade constituída e não encontrada. Esses filósofos consideram que a ciência é a atividade paradigmática e insistem que a ciência natural descobre a verdade, ao invés de cria-la.  Grégory Lioubov (Jean Dujardin) é um agente secreto que trabalha para o governo russo. Ele é enviado a Mônaco para investigar as ações presumivelmente sigilosas de um poderoso empresário na cena pública. Alice (Cécile de France), uma especialista das finanças, é contratada para integrar a equipe e se infiltrar no lugar praticado, mas Grégory começa a suspeitar que ela está trabalhando inversamente para o inimigo.

Ele precisa se aproximar dela e conhecê-la melhor. Os dois acabam se envolvendo em uma paixão perigosa, capaz de destruir a carreira de ambos. Encaram a expressão “criar a verdade” como meramente metafórica e totalmente enganosa. Pensam na política e na arte como esferas em que a ideia de “verdade” fica deslocada. Outros filósofos, percebendo que o mundo descrito pelas ciências físicas não ensina nenhuma lição moral e não oferece conforto espiritual, concluíram que a ciência não passa de uma serva da tecnologia. Esses filósofos alinham-se com o utopista político e com o artista inovador. Os primeiros contrastam a “realidade científica concreta” com o “subjetivo” ou o “metafórico”, os segundos veem a ciência como mais uma das atividades humanas, e não como o lugar em que os seres humanos deparam com uma realidade não humana “concreta”. De acordo com essa visão, os grandes cientistas inventam descrições do mundo que são úteis para o objetivo de prever e controlar o que acontece, assim como os poetas e os pensadores políticos inventam outras descrições do mundo para outros fins. Não há sentido algum, em que qualquer dessas descrições seja uma representação exata de como é o mundo em si. Esses filósofos consideram inútil a própria ideia dessa representação, consignando uma verdade de categoria fenomênica, como uma descrição do espírito ainda não plenamente cônscio de sua natureza espiritual (dialética) e, elevar ao tipo de verdade oferecida pelo poeta e por que não pelo revolucionário?                      

O idealismo alemão, porém, representou uma solução de compromisso pouco duradoura e insatisfatória. É que Immanuel Kant e Georg Hegel fizeram apenas concessões parciais em seu repúdio à ideia de que a verdade está “dada”. Dispusera-se a ver o mundo da ciência empírica como um mundo “fabricado” – a ver a matéria como algo construído pela mente, ou como feita de uma mente insuficientemente cônscia de seu próprio caráter mental -, mas persistiram em ver a mente, o espírito, as profundezas do eu como dotados de uma natureza intrínseca – uma natureza que se poderia conhecer por uma espécie de superciência não empírica, chamada de filosofia. Isso significava que apenas metade da verdade – a metade científica inferior – era produzida. A verdade superior, a verdade sobre a mente, seara da filosofia, ainda era uma questão de descoberta, não de criação. Richard Rorty precisa sua tese de distinção entre a afirmação de que o mundo está dado e a de que a verdade dada, equivale a dizer, com bom senso, que a maioria das coisas no espaço e no tempo, é efeito de causas que não incluem os estados mentais humanos. Dizer que a verdade não está dada é dizer que, onde não há frases, não há verdade. E que as frases são componentes das línguas humanas, e que as línguas humanas são criações humanas. Só as descrições podem ser “verdadeiras” ou “falsas” - sem o auxílio das atividades descritivas dos seres humanos - não pode sê-lo.

                        

Em Filosofia e Lógica, a contingência enquanto representação da realidade é o modo de ser daquilo que não é necessário nem impossível.  É bem verdade que a liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para lembrarmos de Hegel, é ainda só o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. Com efeito, para ela a essência é só o pensar em geral, a forma coo tal, que afastando-se da independência das coisas retornou a si mesma. Mas porque a individualidade, como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como individualidade pensante, captar o mundo vivo como um “sistema de pensamento”; teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com isso não haveria, nenhum outro ingrediente, naquilo que é para a consciência, a não ser o conceito que é a essência. O conceito abstrato, separando-se da multiplicidade das coisas, não tem conteúdo nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência, quando pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é conceito determinado, hegelianamente falando, e justamente essa determinidade é o alheio que o conceito possui nele.

Esta unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução. É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito. Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Hegel chama “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, seu objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. É um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo. No que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio bel-prazer; ele deve obedecer para aprender a mandar. 

A obediência é o começo de toda a sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o verdadeiro, o objetivo, e não faz deles o seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal à sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de filisteu. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só para si mesmo, o jovem que se torna homem deve, ao entrar na vida prática, ser ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa produção do mundo consiste no trabalho do homem. Podemos, pois, fora de dúvida, de um lado dizer que o homem só produz o que já existe. Por outro, é necessário que um progresso individual seja efetuado. Mas o progredir no mundo só ocorrer nas massas, e só se faz notar em uma grande soma de coisas produzidas. Os fósseis tem como representação social restos de seres vivos ou de evidências de suas atividades biológicas preservados em diversos materiais. Essa preservação ocorre principalmente em rochas, mas ocorre também em materiais como sedimento, gelo, piche, resina, solo e caverna, e os exemplos mais citados são ossos e caules fossilizados, conchas, ovos e pegadas. 

A Paleontologia é a principal disciplina científica que utiliza fósseis como objeto de estudo, instaurada com a aceitação dos trabalhos de Georges Cuvier. Nessa área do conhecimento, os fósseis fornecem dados importantes quanto à evolução biológica, datação e reconstituição da história geológica da Terra. A totalidade dos fósseis e sua colocação nas formações rochosas e camadas sedimentares é conhecido como registro fóssil, o qual contém inúmeros restos e vestígios fossilizados dos mais variados seres do passado geológico da Terra. Porém, apenas uma porcentagem ínfima das espécies que já habitaram a Terra preservou-se na forma de fósseis, já que a fossilização é um fenômeno excepcionalmente, por contrapor-se aos processos naturais através de decomposição e intemperismo. Logo, as partes esqueléticas denominadas biomineralizadas, mais duras e resistentes à decomposição e à erosão, tais como dentes, conchas, carapaças e ossos, são bem mais frequentes e, a maioria do registro fóssil é constituída por fósseis destes tipos sociais especificamente identificados na pesquisa comprovados como sendo de restos biológicos. Restos orgânicos mais delicados e perecíveis podem se fossilizar. A preservação de matéria orgânica e de restos esqueléticos delicados, uma vez que estes se decompõem e são destruídos rapidamente, requerem condições de fossilização fora do comum e, por serem especiais, ocorrem na natureza mais raramente. Isso implica na menor ocorrência naturalmene desses fósseis de restos provavelemente coletados. 

Em qualquer das circunstâncias, para que os restos de um qualquer ser vivo se fossilizem, é fundamental que esses sejam rapidamente cobertos por material que os preserve, geralmente sedimento. O que determina o fóssil é a ocorrência conjunta de um resto identificável com a origem biológica num contexto geológico, independentemente do seu tipo e da sua idade. Muitos autores consideram que um fóssil é todo e qualquer resto ou vestígio de seres vivos do passado, preservado em contexto geológico, qualquer que seja a sua idade. De acordo com esses paleontólogos, fixar uma data qualquer para considerar se algo é ou não um fóssil, é arbitrário. Dessa forma, sendo o Holocênico (menos de 11 700 anos) parte do registro geológico, os restos orgânicos contidos em materiais holocênicos deverão ser considerados fósseis. Há algumas fontes, entretanto, que consideram somente os restos ou vestígios de seres com mais de 11 700 anos como fósseis. Essa idade, calculada pela última glaciação, é a duração estimada para a época geológica do Holoceno ou recente e, quando os vestígios possuíssem menos de 11 700 anos, estes autores podem denominá-los de subfósseis, termo que também pode ser visto para designar os restos biológicos que não sofreram alterações. Historicamente a luta pelo voto feminino - mutatis mutandis - foi o primeiro passo a ser alcançado no horizonte das feministas da chamada pós-Revolução Industrial. As “suffragettes”, primeiras ativistas do feminismo no século XIX, eram assim conhecidas justamente por terem iniciado um movimento no Reino Unido a favor da concessão, às mulheres, do direito ao voto. Formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, é uma nação insular situada no Noroeste da Europa. 

A Inglaterra, local de nascimento de William Shakespeare e dos The Beatles, abriga a capital, Londres, um centro financeiro e cultural globalmente influente. Também na Inglaterra, ficam o neolítico Stonehenge, as termas romanas de Bath e as centenárias universidades de Oxford e Cambridge. O seu início deu-se em 1897, com a fundação da União Nacional pelo Sufrágio Feminino por Millicent Fawcett (1847-1929), uma educadora britânica. O movimento das sufragistas, que inicialmente era pacífico, questionava o fato de as mulheres do final daquele século serem consideradas incapazes de assumir postos de comando na sociedade inglesa através da direção das escolas e o trabalho de educadoras em geral, mas serem vistas com desconfiança como possíveis eleitoras. As leis do Reino Unido eram aplicáveis às mulheres, mas elas não participavam politicamente de sua elaboração. O historiador marxista inglês Eric Hobsbawm (1917-2012) considera que a revolução social “explodiu” na Grã-Bretanha na década de 1780 e não foi totalmente percebida até a década de 1830/1840, enquanto T. S. Ashton (1889-1968) considera que ela ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1830. Alguns historiadores do século XX, como John Clapham (1873-1946) e Nicholas Crafts (1949-2023), têm argumentado que o processo de mudança econômica e socialmente ocorreu de forma gradual e o termo “revolução” é no mínimo equivocado.

Este ainda é um assunto que está em debate entre os historiadores. A revolução impulsionou uma era de forte crescimento econômico nas economias capitalistas e existe um consenso entre historiadores econômicos de que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na história da humanidade desde a domesticação de animais e a agricultura. A chamada 1ª revolução industrial evoluiu para a 2ª revolução industrial, nos anos de transição periodizados entre 1840 e 1870, quando o progresso tecnológico ganhou força na história social com a adoção de barcos a vapor, navios, ferrovias, em larga escala de máquinas e o aumento do uso de fábricas que utilizavam a energia a vapor. A partir da gênese da revolução industrial, o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanalmente e passou a ser maquinofaturada; as populações humanas passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua capacidade ou força de trabalho em troca de um salário mínimo. Outra das consequências da Revolução Industrial foi o rápido crescimento econômico. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento, tendo em vista que levavam séculos para que a renda per capita aumentasse sensivelmente, e após, a renda per capita e a população começaram a crescer de forma acelerada nunca antes vista na história. Entre 1500 e 1780 a população da Inglaterra aumentou de 3,5 milhões para 8,5 milhões, peridicamente entre 1780 e 1880 ela saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da mortalidade infantil. 

Edward Palmer Thompson (1924-1993) foi provavelmente o historiador marxista de maior repercussão nas lutas operárias ocorridas no continente europeu no século XX. Seu livro: A Formação da Classe Operária Inglesa é reconhecido como clássico da historiografia marxista. Como humanista foi dedicado ativista da paz, tendo atuado no British Peace Committee e lutado contra as guerras da Coréia, Quênia, Malásia, Chipre e Argélia. Ingressou no Partido Comunista durante a 2ª guerra mundial (1939-1945). Após a revolta na Hungria deixou o Partido e fundou a revista socialista humanista New Reasoner que após fundir-se com outra publicação deu origem ao New Left Review. Em sua démarche para pôr fim a chamada Guerra Fria, Thompson passou uma década como “um embaixador itinerante no circuito internacional da paz”. Thompson nasceu na cidade de Oxford, na Inglaterra, em uma família de missionários metodistas, o que lhe possibilitou o contato social com a religião, a diversidade cultural e a “marginalidade de massa”, as quais podem ter influenciado as suas convicções. Seus anos de formação prática e teórica foram realizados no colégio Corpus Christi, em Cambridge, estabelecido em 1352 pela Guild of Corpus Christi e pela Guild of the Blessed Virgin Mary o que significa que é o sexto College mais antigo em Cambridge, época em que, aos 17 anos de idade se tornou militante, entendido como aquele membro que está em exercício ativo, desempenhando uma atividade dentro do Communist Party of Great Britain (CPGB). O partido comunista foi criado em 1920 após a fundação da Terceira Internacional (1919), como fruto das tentativas maiores de estabelecer Partidos Comunistas pelo mundo globalizado. O CPGB foi formado pela união de vários partidos marxistas: o Partido Socialista Britânico, o Grupo de Unidade Comunista do Partido Trabalhista Britânico e a Sociedade Socialista Sul-Galesa. Sendo eleito Arthur McManus (1889-1927) como primeiro presidente do partido. Após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas no ano 1991, a última presidente do partido comunista, Nina Claire Temple. Nasceu em Westminster, Londres, filha de Barbara J. (Rainnie) e Landon Roy Temple. Nascida comunista, seu pai dirigia a Progressive Tours e era membro do Partido Comunista da Grã-Bretanha, se juntou à Young Communist League quando tinha 13 anos, mais tarde protestando em Londres contra a Guerra do Vietnã.  

No final dos anos 1970, ela foi secretária geral da Liga dos Jovens Comunistas e se tornou um membro proeminente do agrupamento eurocomunista dentro do partido. Ela se tornou membro do Executivo do CPGB em 1979, e depois membro do Comitê Político em janeiro de 1982. Foi assessora de imprensa e publicidade de janeiro de 1983 a 1989; se tornou a última secretária geral do partido em janeiro de 1990, aos 33 anos. Ela prometeu torná-lo “feminista e verde, bem como democraticamente socialista”. Nina Temple tornou-se um dos proponentes da dissolução do PCGB em novembro de 1991 e da fundação de seu sucessor legal, o Democrata. Esquerda. Edward Palmer Thompson formou-se em história na Universidade de Cambridge, em 1946. No interior da universidade, constituiu um núcleo de pensamento social e estudos em torno dos Marxistas Humanistas, integrado por historiadores notáveis como Christopher Hill, Raymond Willians, Raphael Samuel, John Saville, Eric Hobsbawm, Dorothy Thompson, entre outros. A convivência com esse grupo magnífico de intelectuais despertou nele o interesse social e o desejo real de se tornar um historiador profissional da classe operária. Edward Thompson não fez carreira acadêmica tradicionalmente, mas lecionou como professor convidado em diversas universidades. Aos 24 anos, foi admitido na Universidade de Leeds, onde atuou como docente em cursos “não acadêmicos”, mas que historicamente e de certa forma estes cursos passaram a ser chamados erroneamente “cursos de extensão”, cujas aulas eram frequentadas por homens e mulheres comuns, trabalhadores de diversos ofícios profissionais quando ele teve na educação de trabalhadores adultos a sua forma privilegiada de inserção propriamente educacional. Ele conquistou espaço e lugar para poder lecionar por considerável tempo e espaço singular em diversas Universidades. Mas sua experiência acadêmica mais gratificante ocorreu na Universidade de Leeds, quando se dedicou à elaboração de cursos noturnos especificamente para a formação da classe trabalhadora. A história da Universidade está ligada ao desenvolvimento de Leeds como um centro  de indústria têxtil na chamnada Era Vitoriana. Suas raízes remontam ao século XIX, e antes na educação superior, somente quatro universidades: Oxford, Cambridge, London e Durham na Inglaterra. 

A universidade tem origem em 1824 quando o Instituto de Mecânica de Leeds foi fundado. O instituto mais tarde passou a se chamar Instituto de Ciência, Arte e Literatura de Leeds e em 1927 mudou de nome para Colégio de Tecnologia de Leeds. Em 1970, o colégio se uniu com o Colégio de Comércio de Leeds, fundado em 1845, parte do Colégio de Arte de Leeds, fundado em 1846 e o Colégio de Educação e Economia Doméstica de Yorkshire, fundado em 1874, formando a extraordinária Politécnica de Leeds. Em 1976, o Colégio de James Graham e o Colégio de Educação da Cidade de Leeds, fundado em 1907 como parte do Colégio de Treinamento da Cidade de Leeds, se uniram a Politécnica de Leeds. Em 1987, a Politécnica de Leeds se tornou um dos membros fundadores do Northern Consortium. Após o Further and Higher Education Act passar a valer institucionalmente em 1992, a Politécnica de Leeds se tornou Universidade Metropolitana de Leeds, com o direito de conceder graus acadêmicos. Em 1998, a universidade se reuniu ao Colégio de Harrogate, estabelecendo realmente a área do campus de Harrogate até 2008, quando o colégio se uniu ao Colégio de Hull. Em 2008, a universidade criou uma petição para mudar socialmente para Universidade de Leeds Carnegie; eventualmente desistiram da mudança regimental. Em 2009, uma parceria institucionalmente com a Universidade da Flórida do Norte, nos Estados Unidos da América, foi criado um programa beneficente de intercâmbio de estudantes. A universidade também tem um Acordo com o Colégio de Bradford para validar graus acadêmicos para o colégio. O nome é recente e adotado em setembro de 2014.

Desta experiência, ao lado de Raymond Williams e Richard Hoggart (cf. Cunha, 2014), nasceram as raízes teóricas dos “estudos culturais” quando faz profunda imersão sobre a natureza da pedagogia, pretendendo, com estas “mediações complexas” sobre a educação, possibilitar a transcendência dos padrões culturais representados pela elite social e política. A transição de uma escola pública frequentada por filhos do operariado para uma grammar school era um sinal de mudança, porque significaria, desde logo, que Hoggart iria frequentar, um dia, uma universidade. O futuro financiamento através de uma bolsa da LEA permitiria que Hoggart viesse a integrar o Departamento de Inglês na Universidade de Leeds, tornando-se aluno de Bonamy Dobrée, amigo pessoal do poeta inglês Thomas S. Eliot. Depois de servir na II Guerra Mundial, no Norte de África e em Itália, onde ensinou os soldados que aguardavam pela desmobilização, Hoggart juntou-se ao Departamento de Extramural Studies da Universidade de Hull, onde permaneceu até 1959, como “tutor de educação para adultos”. O declínio cultural na classe trabalhadora do pós-guerra diagnosticado e criticado na sua obra coloca-o no quadro de pensamento teórico da tradição em torno do tema “Cultura e Sociedade”, cartografada por Raymond Williams que desta parceria multidisciplinar elaborou o mapa dessa tradição, de 1780 a 1950, de Edmund Burke a George Orwell, com base no princípio que a ideia moderna de cultura surgiu no pensamento inglês com a Revolução Industrial, e sendo classe, cultura, indústria, democracia e arte coordenadas que são inseparáveis.

Segundo Patrick Brantlinger, Hoggart encontra-se, no quadro da tradição “cultura & sociedade”, na temporalidade empirista britânica etnográfica, onde se incluem Henry Mayhew, Charles Dickens, Benjamin Disraeli, Elizabeth Gaskell e Friedrich Engels. Edward Thompson desejava estabelecer uma rede de interação social profissional entre aprendizes e mestres, e sua subversione contra a ordem social, transformando as metodologias desenvolvidas nas escolas de tradição como o principal meio de aprendizado. Assim, ele destacava o talento individualmente (teoria) e a vivência da pessoa (prática) como um como um dos elementos essenciais na elaboração de uma didática disciplinar para a formação da consciência. O historiador mantém seu ponto de vista teórico centrado na formação da classe trabalhadora, argumentando que a démarche coletiva desta fração da classe trabalhadora não é empreendida apenas no sentido econômico, mas principalmente na edificação de suas vivências históricas. Thompson lecionou na Universidade de Warwich, de 1965 a 1971. Mas durante a década de 1970 também ministrou aulas e conferências temáticas para as Universidades norte-americanas de Pittsburg, Rutgers, Brown, e Dartmoth College. Na década de 1980 ele se engajou no movimento pacifista antinuclear. Em 1988 retomou a carreira acadêmica, assumindo o magistério no Queen`s University de Kingston, no Canadá.

Para E. P. Thompson (1987), o incremento da população nesse período se sustentou principalmente por uma longa série de boas colheitas e numa melhora do padrão de vida desenvolvido nos primeiros momentos da Revolução Industrial; com o avanço da industrialização na primeira metade do século, a saúde da população urbana começou a deteriorar, devido à imensa concentração populacional nas cidades que sofreria com as epidemias, péssimas condições de habitação, deformações e estafa causadas pelo trabalho e a alimentação insuficiente e inadequada. A medicina parece ter sido ineficaz no combate a esses problemas. Insere-se assim o Movimento Ludista que teve o seu momento culminante no assalto noturno à manufatura de William Cartwright, no condado de York, em abril de 1812. No ano seguinte, na mesma cidade, teve lugar o maior processo contra os ludistas: dos 64 acusados de terem atentado contra a manufatura de Cartwright, 13 foram condenados à morte e dois à deportação para as colônias. Apesar da dureza das penas, o certo é que o movimento ludista não amainou, dado que os operários viviam em péssimas condições. O Ludismo enquanto prática política de destruição de máquinas passou a ser cada vez mais hostilizado pelo patronato conservador que recorreram aos parlamentos, visando a criação de leis mais severas para punir os envolvidos em revoltas no âmbito do incipiente trabalho industrial. O Reino Unido que já possuía uma lei de 1721 que definia o exílio com imputação da pena máxima para a destruição de máquinas, em 1812 como resultado da oposição contínua a mecanização adotou o “Frame-Breaking Act” (“Destruição dos Quadros de Estoque”) definindo a pena de morte para casos realmente de destruição de máquinas.

            Ned Ludd é a pessoa cujo nome foi utilizado pelo movimento ludista, constituído na Inglaterra da década de 1810. Os ludistas assim se denominavam e assinavam seus manifestos tendo como representação com o nome de “Ned Ludd” ou ainda “Capitão Ludd”, “Rei Ludd” ou “General Ludd”. Entre outras versões biográficas, afirma-se que Ned Ludd foi originalmente um aprendiz em Anstey, Leicestershire, Inglaterra. Avesso ao regime de trabalho nas máquinas de tecelagem, foi “condenado a chicotadas sob alegação de não demonstrar empenho”. Em resposta, Ned Ludd destruiu com um martelo a máquina em que trabalhava. Nos fins do século XVIII, corria o boato de que um enfurecido operário britânico chamado Ned Ludd certa vez havia quebrado as máquinas de seu patrão. Mesmo não tendo comprovação, a história serviu de inspiração para vários operários que viam nas máquinas a razão de sua condição de miséria. Nascia assim, na Inglaterra, o Ludismo ou Movimento Ludita. Os luditas agiam secretamente, endereçando cartas anônimas aos seus patrões exigindo o fim do uso das máquinas que restringiam a oferta de emprego. Muitas vezes, organizavam grupos que invadiam fábricas e depredavam as máquinas presentes. Enquanto a destruição acontecia, uma massa de operários e desempregados aprovava a ação com gritos e calorosas palmas.

A reação das autoridades inglesas contra esses levantes foi marcada por vários conflitos entre os policiais e os trabalhadores. Finalmente, no ano de 1812, o Parlamento Britânico aprovou a Frame Braking Act, “lei que punia a quebra de máquinas com a pena de morte”. Dessa forma, observamos que a rebelião ludita causou impacto significativo e determinou uma experiência de oposição entre o homem e a tecnologia. A perseguição aos ludistas tornou-se implacável, com centenas de pessoas sendo presas e torturadas, dezenas de executados, industrial e a criação das primeiras trade Unions (sindicatos) tornaram-se outros limitantes para o alcance e as possibilidades das revoltas ludistas, fazendo com que o ludismo entrasse em declínio em meados do século XIX. O ludismo não foi um fenômeno exclusivo inglês, tendo-se registrado movimentos semelhantes na Bélgica, na Renânia, na Suíça e na Silésia. Para esses trabalhadores, as máquinas se transformaram na principal responsável pela situação de exploração e de desemprego em que se encontravam. Os trabalhadores quebradores de máquinas ficaram reconhecidos como ludistas, nome que deriva de Ned Ludd, uma personagem, tida por muitos como lendária, que teria quebrado a máquina em que operava a golpes de martelo, mostrando assim sua insatisfação. Rapidamente, o ludismo do ponto de vista político-ideológico se espalhou da Inglaterra para outros países capitalistas europeus.

O ludismo se constituiu como o movimento social operário de reivindicação de melhorias nas relações sociais e condições de trabalho. O movimento feminino ganhou as ruas e suas ativistas passaram então a ser conhecidas pela sociedade em geral pelo epíteto de “sufragistas”, sobretudo aquelas vinculadas à Women`s Social and Political Union (WSPU) movimento social de mulheres organizadas que pretendeu revelar o “sexismo institucional” na sociedade britânica, fundado por Emmeline Pankhurst (1858-1928). Após ser detida repetidas vezes com base na lei “Cat and Mouse”, por infrações triviais, inspirou membros do grupo a fazer greves de fome. Ao serem alimentadas à força e ficarem doentes, chamaram a atenção da opinião pública pela brutalidade do sistema legal e também divulgaram a sua causa. Ela foi uma militante que imprimiu um estilo político mais enérgico ao movimento, o qual culminou com situações de confronto nas ruas entre sufragistas e policiais e, com a morte de uma manifestante, Emily Wilding Davison (1872-1913), uma militante do movimento pelo voto feminino na Grã-Bretanha que, em 4 de junho de 1913, após uma série de ações que foram tanto destrutivas quanto violentas, se jogou em frente ao cavalo do rei Jorge V, no Derby Epson Downs, resultando ferimentos que causaram a morte cerebral, formalmente declarada quatro dias depois do incidente, mediante insistência da família para um veredito de acidente, tornando-se a primeira mártir do movimento social de mulheres sufragistas.         

Na Inglaterra de 1840, a paleontóloga Mary Anning e uma jovem enviada pelo seu marido para convalescer à beira-mar desenvolvem uma relação intensa. Apesar do abismo aparentemente entre esferas sociais e personalidades, Mary e Charlotte descobrem que cada uma pode oferecer o que a outra tem procurado: a compreensão de que não estão sozinhas no mundo. É o início de um caso de amor apaixonado e intenso que desafiará todos os limites sociais e alterará irrevogavelmente o curso de ambas as vidas. Ammonite é um filme biográfico de drama romântico de 2020 escrito e dirigido por Francis Lee. O filme é inspirado nitidamente na vida da paleontóloga britânica Mary Anning, interpretada por Kate Winslet. O filme gira em torno da relação romântica entre Anning e Charlotte Murchison, interpretada por Saoirse Ronan. Também participam da cinematografia os atores Gemma Jones, James McArdle, Alec Secăreanu e Fiona Shaw também estrelam. A colecionadora de fósseis e paleontóloga Mary Anning vive com sua mãe doente, Molly, que ajuda Mary a administrar uma loja em Lyme Regis, uma cidade no Oeste de Dorset, Inglaterra, 40 Km a Oeste de Dorchester e a Leste de Exeter. É a “Pérola de Dorset” localizada nas proximidades do Canal da Mancha no front Dorset-Devon. Observaram-se a caracterização de fósseis em falésias e praias da Costa Jurássica, enquanto Patrimônio Mundial e costa patrimonial.

            Isto é importante na medida que, comparativamente, os paleontólogos estavam interessados em interpretar as formas dos ossos. Mas ele deu um passo à frente, tentou deduzir etnograficamente a dinâmica havia por trás da fisiologia e o comportamento biológico propriamente dito dos dinossauros que ele estava estudando. Ele foi o primeiro “a sugerir que estes arcossauros cuidavam de suas crias e exibiam comportamento social complexo”. Outra dimensão das teorias que estava à frente de seu tempo foi a de que as aves evoluíram de dinossauros terrestres que desenvolveram penas para correr mais rápido. Esta teoria encontrou apoio na década de 1960 e depois ganhou ampla aceitação, embora depois achados fósseis de dinossauros emplumados arborícolas sugerissem que o desenvolvimento do voo talvez fosse mais complexo do que previra. Sua conclusão de que répteis do Mesozoico classificados “eram de sangue quente” tem sido compartilhada pela comunidade científica, pois sua característica exige consagração integral e de suas energias, não só estudo próprio, que poderia ser feito em seu gabinete, mas à educação e ensino de seus discípulos o que poderá ser realizado em seu front laboratorial.

            A vida na Terra surgiu há aproximadamente cerca de 3,8 bilhões de anos e, desde então, restos de animais e vegetais ou indícios das suas atividades ficaram preservados nas rochas. Estes restos e indícios são denominados fósseis e constituem o objeto de estudo da Paleontologia. A paleontologia desempenha um papel importante nos dias de hoje pois, ao estudar o registro fóssil, é possível inferir a respeito do surgimento e evolução da vida na Terra. O objeto imediato de estudo da Paleontologia são os fósseis, pois são eles que, na atualidade, encerram a informação sobre o passado geológico do planeta. Contudo, esta é uma definição redutora, que limita o alcance da Paleontologia, pois os seus objetivos fundamentais não se restringem ao estudo dos restos fossilizados dos organismos do passado. A Paleontologia não procura apenas estudar os fósseis, procura também, com base neles, entre outros aspectos, reconhecer a vida do passado geológico da Terra. Os fósseis são objetos geológicos com origem em organismos do passado, a paleontologia é a disciplina científica que estabelece a ligação entre as ciências geológicas e as ciências biológicas. A vida do passado geológico está nos fósseis e na relação com as rochas e os contextos geológicos em que ocorrem. O mundo biológico que reconhecemos é o resultado de milhares de milhões de anos de evolução.

Assim, só estudando paleontologicamente o registo fóssil - o registo da vida na Terra - é possível entender e explicar a diversidade, a afinidade e a distribuição geográfica dos grupos biológicos atuais. Este tipo de estudo tornou-se viável através dos trabalhos de Georges Cuvier (1769-1832), que, mediante a aplicação das suas leis da anatomia comparada, comprovou o fenômeno da extinção e da sucessão biótica. Estas leis permitiram as reconstruções paleontológicas dos organismos que frequentemente eram encontrados no registo fossilífero somente de forma fragmentada, ou mesmo, apenas algumas partes fossilizadas. Os resultados do trabalho de Cuvier possibilitaram, posteriormente, a elaboração de sequências evolutivas, que foram fundamentais para a defesa do evolucionismo. Com base no princípio de que “o presente é a chave do passado”, enunciado por Charles Lyell (1797-1875), advogado e geólogo britânico, considerado comunicativamente como o grande popularizador do uniformitarianismo, partindo do conhecimento dos seres vivos e ainda do ponto de vista de seu estudo biológico, é possível extrapolar-se informações historicamente sobre os organismos do passado, como o modo de vida, tipo trófico, de locomoção e de reprodução, entre outros, fundamental para o estudo e a compreensão dos fósseis. A partir do reconhecimento científico dos fósseis, uma vez que são vestígios de organismos de grupos biológicos do passado, que surgiram e se extinguiram em épocas definidas da história da Terra, pode fazer-se a datação relativamente das rochas e estabelecermos correlações: comparações cronológicas, temporais entre rochas de locais/regiões distantes que apresentem o mesmo conteúdo fossilífero. O estudo dos fósseis e a utilização socialmente e técnico-metodológica como indicadores de idade das rochas são imprescindíveis, para a prospecção e exploração de recursos geológicos importantes como o carvão e o petróleo.

O Museu Peabody de História Natural da Universidade de Yale está entre os museus de história natural mais antigos, maiores e mais prolíficos do mundo ocidental. Foi fundada pelo filantropo George Peabody em 1866, a pedido de seu sobrinho Othoniel Charles Marsh (1831-1899), o primeiro paleontólogo e pioneiro da aplicação da teoria da evolução à interpretação de espécies fósseis. Reconhecido do público por seu Grande Salão dos Dinossauros, que inclui um Brontossauro juvenil montado e o mural de 34 metros de comprimento A Idade dos Répteis, também possui exposições permanentes dedicadas ao processo de evolução humana e de mamíferos; dioramas da vida selvagem; artefatos egípcios; e pássaros, minerais e nativos norte-americanos de Connecticut. O primeiro exemplar do gênero Brontossauros foi nomeado em 1879 pelo paleontólogo Othoniel Charles Marsh (1831-1899) e esse espécime ainda está em exibição permanentemente no Museu Peabody da Yale University, em New Haven, estado de Connecticut, nos Estados Unidos da América. Em 1903 Elmer Riggs (1869-1963), paleontólogo, julgou que o brontossauro aparentemente era do mesmo gênero que o Apatosaurus, que Charles Marsh havia descrito etnograficamente em 1877.   

Não há evidências quanto à sexualidade de Anning na vida real, e a precisão histórica do filme, em se tratando de arte cinematográfica não deveria ser questionada. Dois parentes distantes de Anning foram relatados como tendo pontos de vista diferentes sobre a decisão de retratá-la como lésbica, com Lorraine Anning apoiando o filme, mas Barbara Anning criticando a escolha. O cineasta Lee defendeu sua decisão, dizendo em uma série de tweets: - “Depois de ver a história queer ser rotineiramente endireitada em toda a cultura, e dada uma figura histórica onde não há nenhuma evidência de um relacionamento heterossexual, não é permitido ver essa pessoa dentro de outro contexto? Será que esses redatores de jornais diários teriam sentido a necessidade de fazer citações desinformadas de especialistas autoproclamados se a sexualidade do personagem fosse considerada heterossexual?”. Alguns comentários também criticaram a escolha. Um artigo no The Guardian dizia: - “Ninguém sabe se Mary Anning teve amantes. Mas o que um novo filme acerta é o papel vital que as mulheres desempenharam em sua vida”.

Ao que parece o ator social, queira ou não, está orientado de acordo com um conjunto de restrições culturais. Podemos citar também um processo social identificado pelo sociólogo norte-americano Erving Goffman (1975), ou Howard Becker (1971) de institucionalização das máscaras que seriam “expectativas abstratas e estereotipadas” sobre um papel específico. A máscara se converteria então, em uma “representação coletiva” uma vez que estas são construídas em performances individuais que não são mais do que a forma ou expressão dessas representações coletivas individualizadas e personalizadas com as características de cada indivíduo. Quando, por exemplo, um ator social adentra um grupo social específico, encontra correspondente a ele, a fixação de uma máscara particular da cultura. Erving Goffman chega a sugerir o caráter abstrato e geral das máscaras sociais e as converte em veículos ideais no processo de socialização, pois o que as representações coletivas traduzem é o modo como o grupo se pensa em suas relações com os objetos que o afetam. Através das máscaras sociais a atuação é modelada e adaptada à compreensão e as expectativas da sociedade na qual se apresenta.

O símbolo antropologicamente não sendo imediato de natureza linguística deixa de se desenvolver numa só dimensão. As motivações que ordenam os símbolos não apenas já não formam longas cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear do tipo de dedução lógica ou narrativa introspectiva já não basta para o estudo das motivações simbólicas. A classificação dos grandes símbolos da imaginação antropológica em categorias motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da não linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades. Metodologicamente, para quem tem como ponto de partida da análise os objetos definidos pelos quadros da lógica dos utensílios, como faziam as clássicas chaves dos sonhos, segundo as estruturas do imaginário individual (sonho) e coletivo (mito, rito, símbolo), cai-se rapidamente, pela massificação artificial das motivações, numa inextricável confusão. Parecem-nos mais sérias as tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse com representação de um pensamento, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de pretextos imaginários para os devaneios imaginários. Tais são as classificações mais profundas de analistas das motivações do simbolismo religioso ou da imaginação do sistema prisional.

Desnecessário dizer que o filósofo frances Michel Foucault deixou inscrita uma das mais belas profecias sobre o “cuidado de si”. Uma ética política sobre a história da sexualidade, incluída a morte. Este aspecto, não por acaso, passa a ser um elemento novo decorrente da analítica do poder proposta através da análise discursiva. A problemática da governamentalidade fora retomada no “resumo dos cursos do College de France” (1970-1984): “gostaria de me insinuar sub-repticiamente no discurso que devo pronunciar hoje, e nos que deverei pronunciar aqui, talvez durante dez anos”. Veio a falecer em 25 de junho de 1984, “quando seu estado de saúde não mais lhe permitia prepará-los”. Salvo engano, nenhum sistema de pensamento obteve repercussão tão ampla e evidente, do ponto de vista da mudança de simbólica, a partir de temas como: a crítica da razão governamental, a analítica do poder, sobre as relações “espaço-tempo” e “poder-saber”, “estética da existência” e “experimento moral”, e mesmo entre o “império do olhar” e a “arte de ver”. É impossível esquecer a tese foucaultiana segundo a qual “a visibilidade é uma armadilha” que “canceriza” a vista através do poder disciplinar.  O estudo dedicado ao “cuidado de si” teve como referência Alcibíades, retratado pelo pintor Pedro Américo em 1865. As questões respeitam per se  “cuidado de si” com a política, com a pedagogia e com o conhecimento de si. Sócrates recomendava a Alcibíades que aproveitasse a sua juventude para ocupar-se de si mesmo, “com 50 anos, seria tarde demais”.

Mas isso, numa relação que diz respeito talvez ao enamoramento, na acepção de Francesco Alberoni e que não pode “ocupar-se de si” sem a ajuda do outro. O exercício da morte, como evocado na Antiguidade por Sêneca, consiste em viver a duração da vida como se fosse tão curta quanto um dia e viver cada dia como se a vida inteira coubesse nele; todas as manhãs, deve-se estar na infância da vida, mas deve-se viver toda a duração do dia como se a noite fosse o momento da morte. Na hora de dormir, afirma na Carta 12, com um sorriso: “eu vivi”. Mas há uma advertência, importantíssima na existência humana: “é preciso tempo para isso”. E é um dos grandes problemas dessa cultura de si, fixar, no decorrer do dia ou da vida, a parte que convém consagrar-lhe. Recorre-se a muitas fórmulas diversas. Podem-se reservar, à noite ou de manhã, alguns momentos de recolhimento para o exame daquilo que se fez para a memorização de certos princípios úteis, para o exame do dia transcorrido; o exame matinal e vesperal dos pitagóricos se encontra, sem dúvida com conteúdos diferentes, nos estoicos; Sêneca, Epiteto, Marco Aurélio, fazem referência a esses momentos revigorados na plenitude da vida que se deve consagrar a voltar-se para si mesmo.  Pode-se também interromper de tempos em tempos as próprias atividades ordinárias e fazer um desses retiros que Musonius, dentre outros, recomendava vivamente: eles permitem ficar consigo mesmo, recolher o próprio passado, colocar diante de si o conjunto da vida transcorrida, familiarizar-se, através da leitura, os preceitos e os exemplos se inspirar e encontrar, graças a uma vida examinada, os princípios essenciais de uma conduta racional.

É possível ainda, no meio ou no fim da própria carreira, livrar-se de suas diversas atividades e, aproveitando esse declínio da idade onde os desejos ficam aparentemente apaziguados, consagrar-se inteiramente, como Sêneca, no trabalho filosófico ou, como Spurrima, na calma de uma existência agradável, “à posse de si próprio” no espaço e tempo sociais habituais. Esse tempo não é vazio: ele é povoado por exercícios, por tarefas práticas, atividades diversas que são ocupadas pelas reflexões de nosso dia a dia. Ocupar-se de si não é uma sinecura. Existem os cuidados com o corpo, os regimes de saúde, os exercícios físicos sem excesso, a satisfação, tão medida quanto possível, as necessidades. Existem as meditações, as leituras, as anotações que se toma sobre livros ou conversações ouvidas, e que mais tarde serão relidas, a rememoração das verdades que já se sabe, mas de que convém apropriar-se ainda melhor. Marco Aurélio fornece, assim, um exemplo de “anacorese em si próprio”: trata-se de um longo trabalho de reativação dos princípios gerais e de argumentos racionais que persuadem a não se deixar irritar com os outros nem com os acidentes, nem tampouco com as coisas. Tem-se aí um dos pontos mais importantes dessa atividade consagrada a si mesmo. Ela não constitui um mero exercício da solidão; mas sim uma verdadeira prática sociológica.

E isso, em vários e amplos sentidos. Essa aplicação a si não possuía como único suporte social a existência das escolas, do ensino e dos profissionais da direção da alma; ela encontrava, facilmente, seu apoio em todo feixe de relações habituais de parentesco, de amizade ou de obrigação. Quando, no exercício do cuidado de si, faz-se apelo a outro, o qual se advinha que possui aptidão para dirigir e para aconselhar, faz-se uso de um direito; e é um dever que se realiza quando se proporciona ajuda a outro ou quando se recebe com gratidão as lições que ele pode dar na duração da vida. Acontece também do jogo entre os cuidados de si e a ajuda do outro inserir-se em relações sociais preexistentes às quais ele dá uma nova coloração e um sentido de calor expresso em intensidade maior. O cuidado de si – ou os cuidados que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos – aparece então como uma intensificação mais do que necessária das relações sociais. É sobretudo neste sentido que Sêneca dedica um consolo à sua mãe. Justamente no momento em que ele próprio está no exílio, para ajudá-la a suportar essa infelicidade atual e, talvez, mais tarde, infortúnios maiores sobre a solidão. O “cuidado de si” aparece, pois, intrinsecamente ligado a uma espécie de “serviço da alma” que comporta a possibilidade de um jogo de trocas com o outro e de um sistema de obrigações recíprocas. Neste aspecto Michel Foucault abriu caminho para o eterno.

Portanto é a partir dela que, se tomarmos como analogia a reflexão realizada por Michel Foucault para identificar as condições e possibilidades nas “formações discursivas” entre arqueologia e história das ideias, pode-se agora inverter o procedimento. Pode-se descer no sentido da corrente e, uma vez percorrido o domínio das formações discursivas e dos enunciados, uma vez esboçada sua teoria geral, correr para os domínios possíveis de sua aplicação. Recorrer sobre a utilidade de uso dessa análise que ele batizou de “arqueologia” recoloca o problema da escansão do discurso segundo grandes unidades que não eram as das obras, dos autores, dos livros ou dos temas. Sua singularidade refere-se ao fato social de que em sua épistème “já existem muitos métodos capazes de descrever e analisar a linguagem, para que não seja presunção querer acrescentar-lhes outro”. Ele já havia mantido “sob suspeita”, expressão que Michel Foucault utiliza repetidas vezes hic et nunc, unidades de discurso como no que se refere ao livro ou obra porque desconfiava que não fosse tão imediata e evidente quanto pareciam ser no âmbito da pesquisa hermenêutica e propriamente filosófica.

Portanto, será razoável opor-lhes unidades estabelecidas à custa de tal esforço, depois de tantas hesitações e segundo princípios tão obscuros que foram necessárias centenas de páginas para elucidá-los? E o que todos esses instrumentos acabam por delimitar, esses famosos “discursos” cuja identidade eles demarcam, coincide com as figuras chamadas “psiquiatria” ou “economia política” ou “história natural” de que ele tinha empiricamente partido, e que serviu de pretexto para remanejar esse estranho arsenal. Forçosamente, ele precisa agora medir a eficácia descritiva das noções que tentou definir. Precisa saber se a máquina funciona e o que ela pode produzir. O que pode, então, oferecer essa “arqueologia”, que outras descrições não seriam capazes de dar? Qual é a recompensa de tão árdua empresa, indagava o bravo filósofo. Hoje, em vista dos acontecimentos inusitados a di-visão entre ironia e absurdismo. Poder-se-á dizer em sua complementariedade que a originalidade da filosofia de Foucault reside justamente na forma como desfaz a oposição entre história e analítica, entre argumentação descritiva e argumentação propositiva, porque justamente o seu desígnio é fazer uma genealogia. Ou seja, um estudo da proveniência que identifica o lugar em que se deu um conflito e uma ruptura que ainda exerce efeitos sociais específicos presente.

  Tanto escolhem como norma geral classificatória uma ordem de motivação cosmológica e astral, na qual são as grandes sequências das estações, dos meteoros e dos astros que servem de indutores à fabulação, tanto são os elementos de uma física primitiva e sumária que, pelas suas qualidades sensoriais, polarizam os campos de força no continuum homogêneo do imaginário social; tanto, enfim, se suspeita que são os dados sociológicos do microgrupo ou de grupos coletivamente que se estendem aos confins do grupo linguístico que fornecem quadros primordiais para os símbolos. Quer a imaginação etnográfica estreitamente motivada seja pela originalidade da língua, seja pelas funções sociais, para que se modele sobre essas matrizes tanto sociológicas e antropológicas, quer pelos seus genes raciais no sentido materialista, no sentido que Friedrich Engels emprega,  intervenham bastante misteriosamente para estruturar os conjuntos simbólicos, distribuindo sejam as mentalidades imaginárias, sejam os rituais de sacrifício, querem ainda, com uma matriz evolucionista, se tente estabelecer uma hierarquia das grandes formas simbólicas e restaurar a unidade no dualismo de Henri Bergson das Deux Sources, da moral e da religião, quer atravessando a importantíssima técnica da psicanálise, se tente encontrar, através do meio de trabalho, uma síntese entre as pulsões da libido em evolução e as pressões de recalque do microgrupo familiar. São diferentes classificações socialmente que precisamos criticar antes de estabelecer um método de análise pretensamente firme na ordem das motivações de grupo.

E através deste ajustamento que não é constituído da mesma maneira que o indivíduo e as coisas que o afetam são de outra natureza. No cinema os protagonistas não podem apreciar a beleza da estrutura que habitam ou dar conta da coincidência que seu número coincide com o número de faces da forma que os contem. Não pode ter janelas ou qualquer outro elemento que permita a passagem de luz e som do exterior. Todas as suas ligações com o exterior devem ser feitas de forma a preservar seu interior de qualquer ruído e de luz, da mesma forma que deve preservar os demais ambientes em seu entorno do som dos filmes ali exibidos. Dada a grande diversidade de línguas existentes, é pela dublagem (dobragem) ou pelas legendas, que traduzem o diálogo noutras línguas, que os filmes se tornaram mundialmente populares. A experiência sonora diferenciada e a qualidade das imagens, estão entre as maiores razões e advertências que fazem os espectadores deixarem suas casas para compartilhar publicamente a experiência mais ampla e real/imaginária do filme em uma sala de cinema. Uma sala de cinema ou o ambiente de cinema é qualquer “lugar praticado”, para lembrarmos de Michel de Certeau, onde ocorrem projeções de cinema. Mas especialmente uma sala de caráter comercial construída e equipada para esta finalidade. Nas salas comerciais, cada espectador compra um bilhete para acesso ao filme que irá assistir segundo a rotina. Cinema representa a técnica de fixar e reproduzir imagens que suscitam a interpretação de tempo e movimento, com a “indústria cultural” que reproduz e vende estas imagens.

As obras cinematográficas produzidas como filmes são imagens através da gravação de imagens do mundo social com câmeras adequadas. Ou na modernidade intrínseca ao cinema pela sua criação utilizando técnicas de animação ou efeitos visuais (cf. Canevacci, 2001). Os filmes, no cinema, são projetados em uma grande tela que fica diante do auditório, através de um projetor. Os filmes são assim constituídos por uma série ininterrupta de imagens impressas em determinado suporte técnico, alinhadas em sequência, chamadas fotogramas. Quando essas imagens são projetadas de forma rápida e sucessiva, o espectador tem a ilusão de observar movimento reais. A cintilação entre os fotogramas não é percebida visualmente devido a um efeito conhecido como “persistência da visão”. O olho humano retém uma imagem durante uma fração de segundo após a sua fonte ter saído do campo da visão. O espectador tem a ilusão de movimento, devido a um efeito psicológico chamado movimento beta. O cinema é um artefato cultural criado por determinadas culturas contemporâneas que nele se complexificam e que, por sua vez, as afetam mutuamente. É uma arte poderosa, que movimenta riqueza e poder, mas fonte de entretenimento e, em certo sentido de “culto popular”, destinando-se a educar ou doutrinar. Pode tornar-se um método eficaz de persuasão e influenciar os cidadãos.

É a imagem animada que confere aos filmes a eficácia simbólica de comunicação universal. A realidade significa o ajuste que fazemos entre a imagem e a ideia da coisa, entre verdade e verossimilhança. O problema da realidade é matéria presente em todas as ciências e, com particular importância, nas ciências sociais que têm como objeto de pensamento o próprio homem: a antropologia e disciplinas que nela estão implicadas: a filosofia, a psicologia, a semiologia, a sociologia, além das técnicas e das artes visuais. Na interpretação ou representação do real, enquanto verdade subjetiva ou crença, a realidade está sujeita ao campo das escolhas, isto é, determinado, por ser um fato social construído mentalmente, ato ou uma possibilidade, algo adquirido a partir dos sentidos e da verdade materialmente estabelecida do conhecimento adquirido. Dessa forma, a constituição das coisas e as nossas relações dependem de um intrincado contexto de efeitos, que ao longo da existência cria a lente entre a aprendizagem e o desejo sem pai: o que vamos aceitar como real na vida social? A realidade é construída pelo sujeito consciente; ela não é dada pronta para ser descoberta. A visão já não é então o fato social de uma pessoa individual, dotada da faculdade de “ver” a qual é exercida quer da atenção, quer da distração; a vista é o fato de suas condições estruturais, a vista é a relação de reflexão imanente do campo da problemática sobre seus objetos e seus problemas. A visão perde então seus privilégios religiosos escondidos na redoma da “leitura sagrada”: ela nada mais é que a reflexão da necessidade imanente que liga o objeto abstrato ou o problema do pensamento humano às suas condições concretamente sociais de sua existência, que têm a ver com as condições reais de sua produção. 

A rigor, não é mais o olho do espírito que vê o que existe no campo definido por uma problemática teórica: é esse próprio campo que se vê nos objetos ou nos problemas que ele define, sendo a visão apenas a reflexão necessária. Historicamente o muro do porto, no caso de Ammonite (2020) reconhecido como The Cobb, aparece no romance Persuasion da escritora Jane Austen, no romance de John Fowles, The French Lieutenant`s Woman e no filme de 1981 com esse nome, parcialmente rodado na cidade. Um ex-prefeito e deputado foi o almirante Sir George Somers, que fundou o assentamento colonial inglês de Somers Isles. Saxões, os abades da Abadia de Sherborne tinham direitos de fervura do sal em terras adjacentes ao rio Lym, e a abadia já possuía parte da cidade. Lyme é mencionada no Domesday Book de 1086. No século XIII, desenvolveu-se como um dos principais portos britânicos. Uma carta real foi concedida pelo rei Eduardo I em 1284, quando “Regis” foi adicionado ao nome da cidade. A carta foi confirmada pela Rainha Elizabeth I em 1591. John Leland visitou Lyme no século 16 e descreveu etnograficamente Lyme como “uma cidade mercantil praty situada nas raízes de uma colina alta e rochosa até a costa dura. grandes pedras através de uma ponte de pedra no fundo”. Em 1644, durante a Guerra Civil Inglesa, os parlamentares resistiram a um cerco de oito semanas à cidade pelas forças realistas comandadas pelo príncipe Maurício de Orange-Nassau, destacado na guerra dos 80 anos. Era filho de Guilherme, o Taciturno. Tornou-se príncipe de Orange em 1618, sucedendo seu irmão Felipe Guilherme em 1618.

O Duque de Monmouth desembarcou em Lyme Regis no início da Rebelião de Monmouth. É também reconhecida como a Rebelião Pitchfork, a Revolta do Oeste ou a Rebelião de West Country, representou uma tentativa de derrubar Jaime II. Ele se tornou rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda após a morte de seu irmão mais velho, Carlos II da Inglaterra, em 6 de fevereiro de 1685. Antes da guerra civil, o parlamento ainda não representava um órgão permanente da política inglesa, mas uma assembleia temporária e aconselhadora. O monarca inglês podia ordenar a sua dissolução. O parlamento era composto por representantes da pequena nobreza e tinha o cargo de recolher os impostos e taxas do rei. O rei recebia os avisos do parlamento por intermédio dos chamados Bill of Rights (Declaração de Direitos), todavia o rei não tinha obrigação de segui-los. Pouco depois de subir ao trono em 1625, Carlos I casou-se com a princesa francesa e católica Henrietta Maria, ato que contrariou a poderosa minoria puritana que representava um terço do Parlamento. A participação nas guerras do século XVII agravou as divergências entre o rei e os parlamentares. Como cruzadas católicas, Carlos I da Inglaterra mandou como comandante um dos seus membros favoritos, George Villiers, primeiro duque de Buckingham. Desde o reinado de Jaime, o Parlamento desconfiava de Buckingham e pediu se ele não alcançasse seus objetivos, fosse-lhe retirado o comando das forças.

Depois da desastrosa derrota na França, o demitiu Buckingham do seu cargo em 1626. Carlos I, furioso, considerando esta decisão como a representação de “um insulto pessoal”, dissolveu o Parlamento o qual julgou incompetente. Lyme cresceu em tamanho e desenvolvimento social como “resultado do turismo à beira-mar no século 18, adquirido por novos supostos benefícios para a saúde da brisa do mar/tomada das águas, e pelo estabelecimento do sistema rodoviário com pedágios”. A cidade beneficiou então às custas dos destinos continentais durante as guerras napoleônicas, quando os turistas ricos não puderam viajar para o estrangeiro. Isso levou pessoas notáveis, incluindo a escritora Jane Austen, a visitá-la, que ambientou parte de seu último romance, Persuasão, na cidade. Entre 1811 e sua morte ocorrida em 1847, Mary Anning, “uma pioneira geológica, encontrou e identificou fósseis de répteis marinhos do período Jurássico em penhascos a Leste de Lyme Regis”. Mary passa as primeiras manhãs atravessando a praia na maré baixa em busca de fósseis para ampliar material de pesquisa em sua loja, com pequenas amonóides sendo seu achado mais comum. Quando retorna, ela ajuda a mãe a lavar e polir uma coleção de oito estatuetas de animais.

Um dia, o geólogo Roderick Murchison visita a loja de Mary acompanhado de sua esposa, Charlotte. Ele expressa sua admiração pelo trabalho de Mary e se oferece para pagá-la por uma viagem guiada à costa, onde pode aprender com Mary sobre a coleta de fósseis. Embora inicialmente apreensiva, Mary aceita sua oferta. Naquela noite, após o jantar no Three Cups, no tarô, faz parte dos Arcanos Menores. Em alguns baralhos, por exemplo, o naipe é chamado de cálices ou taças. Esta carta é usada em jogos e também em truques de adivinhação. Nesta ocasião, Roderick trata Charlotte com frieza, afirmando que “não é hora de ter outro filho”. Roderick retorna de sua viagem matinal com Mary à costa e encontra Charlotte confinada em sua cama em um estado de depressão. Ele retorna à loja comercialmente de Mary e revela que Charlotte foi enviada em convalescença para Lyme Regis e a confia aos cuidados de Mary, já que ele partirá para a Europa para uma expedição de seis semanas. Mary concorda com relutância, não querendo deixar passar o dinheiro. Charlotte começa a sair com Mary em suas viagens matinais à praia. Depois de se banhar no oceano atlântico, o segundo maior oceano em extensão, com uma área de aproximadamente 106 400 000 km², cerca de um quinto da superfície da Terra, como parte de sua reabilitação, Charlotte adoece com febre alta. 

Seu médico, o Dr. Lieberson, prescreveu “repouso na cama e designou Mary para ser enfermeira de cabeceira”. Mary visita sua amiga Elizabeth Philpot, de quem ela compra um frasco de pomada para ajudar na recuperação de Charlotte. Mary ignora a oferta de Isabel de passar algum tempo, sozinhas, entretanto juntas. Uma Charlotte recuperada acompanha Mary em mais passeios e tenta ajudar nas tarefas domésticas. Junto com Mary, ela consegue construir uma moldura de espelho feita de búzios. Entristecida por suas próprias tentativas fracassadas de dar à luz uma criança, Charlotte descobre que as estatuetas que Molly limpa todos os dias representam seus oito filhos falecidos. Dr. Lieberson visita a loja e convida Mary para um recital noturno. Mary aceita, mas insiste em trazer Charlotte, que ela acredita ter se recuperado totalmente. Naquela noite, Charlotte conhece e se mistura com os habitantes da cidade enquanto uma Mary oprimida e ciumenta fuma do lado de fora. Elas assistem a um show de lanternas mágicas definido para violoncelo antes de Mary partir e voltar para casa durante uma tempestade. Charlotte chega logo depois e encontra Mary escrevendo um poema em seu diário de arte.

Usando as pranchas de um barco encalhado, Mary e Charlotte transferem uma grande pedra para a loja. Dentro, elas encontram o fóssil de um ictiossauro semelhante a um que Mary encontrou aos 11 anos e enviou ao Museu Britânico. Enquanto limpam as ferramentas de Mary para se preparar para dormir, Charlotte “beija Mary e elas fazem sexo oral”. O relacionamento delas floresce enquanto elas nadam alegremente no oceano e compartilham suas refeições juntas. Logo chega uma carta de Roderick, instruindo Charlotte a voltar para casa em Londres. Atormentadas, Charlotte e Mary fazem “sexo apaixonado na noite anterior à partida de Charlotte”. Algum tempo depois, Molly sofre uma queda em sua casa e morre logo em seguida. Elizabeth visita à agora deprimida Mary e expressa suas condolências. Ela encoraja Mary a não abandonar seu relacionamento com Charlotte, como Mary fez com seu próprio relacionamento romântico após a perda do pai de Mary. Mary recebe uma carta de Charlotte pedindo-lhe para fazer uma viagem para Londres. Ao chegar à casa de Murchison, Mary vê um de seus grandes fósseis de amonóides exposto em um gabinete de vidro. Charlotte leva Mary para cima, onde ela demonstra a Mary um quarto totalmente mobiliado para Mary se mudar para junto de sua companhia. Perturbada, Mary exige saber por que isso não foi mencionado na carta de Charlotte. Ela sai após acusar Charlotte de “não respeitar sua vida, afirmando que ela não se tornará um ornamento para Charlotte exibir em uma gaiola dourada”. No museu, Mary percorre os corredores enredados com exemplares nas paredes de pinturas e esculturas. Ela encontra a caixa de exposição contendo a extraordinária peça do seu ictiossauro originalmente, mas não faz nenhuma menção a ela. Charlotte chega e as duas mulheres olham entre si, uma para a outra através do vidro, enquanto os outros convidados do museu veem as exposições ao seu redor deles.

Bibliografia Geral Consultada.

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