sábado, 27 de julho de 2024

Arnaldo Jabor – Cinema, Classe Média & “Psicanálise Filmada”.

                                                      Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível”. Arnaldo Jabor

         Filho de Salomão Jabor Sobrinho, um oficial da Aeronáutica, e Diva Hess, uma dona de casa, Arnaldo Jabor (1940-2022) nasceu numa família de classe média. Seu pai descendia por linha paterna de libaneses, mas sua ascendência era de origem bastante diversa, com ancestrais portugueses e alemães. Era ligado por parentesco de afinidade eletiva ao crítico literário Agrippino Grieco (1888-1973), cujo filho primogênito Donatello era casado com sua tia paterna Diva Jabor.  Formado no ambiente do Cinema Novo, participou da segunda fase do movimento, que buscava analisarmos a realidade nacional, inspirando-se no neorrealismo italiano e na nouvelle vague francesa. Seu primeiro longa-metragem foi o inovador documentário Opinião Pública (1967), uma espécie de mosaico sobre como o brasileiro olha sua própria realidade. No início dos anos 1970, com o recrudescimento da repressão política e da censura, os antigos autores cinemanovistas procuram caminhos metafóricos, alegóricos, para driblar a ação do governo e poder expor suas propostas. Jabor faz o mesmo com Pindorama (1970). Mas aqui o excesso de barroquismo e de radicalismo contra o cinema clássico comprometem a qualidade da obra, como o próprio Jabor admitiria mais tarde. Seu próximo filme o redime e se converte num dos grandes sucessos de bilheteria do cinema: Toda Nudez Será Castigada (1973), adaptado da peça homônima de Nelson Rodrigues (1912-1980), possui um escopo mais humano, mas ainda assim não poupa implacáveis críticas à hipocrisia da moral e de seus costumes, na história social do envolvimento da prostituta Geni, com Darlene Glória, Musa de Arnado Jabor, no papel que lhe valeu o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim, com o viúvo Herculano (Paulo Porto).

           Darlene Glória começou sua carreira como cantora em uma rádio de Cachoeiro do Itapemirim (ES) no final da década de 1950. Em 1958 foi Miss Cachoeiro do Itapemirim e tempos depois veio para o Rio de Janeiro tentar a carreira artística. Começou a se apresentar em programas de calouros, se tornou radioatriz e foi vedete do teatro de revista até estrear no cinema em 1964 em Um Ramo Para Luíza. A consagração veio em 1973, no filme Toda Nudez Será Castigada, em que viveu a prostituta Geni, ao lado de Paulo Porto. O filme ganhou dois Kikitos no Festival de Gramado (RS), inclusive o de melhor atriz. Ela também conquistou o Coruja de Ouro por esse mesmo papel. Na televisão ela estreou em 1969 em Véu de Noiva, novela de Janete Clair para a TV Globo. Fez depois O Bofe na mesma emissora. No final dos anos 1970 a atriz passou por um período de depressão e tentou o suicídio. Abandonou a carreira artística, tornou-se evangélica e assumiu o nome de pastora Helena Brandão. Neste período, se apresentava em teatros juntamente com a banda de rock Rebanhão e com o duo Edson e Tita. Nesta fase artística, também foi homenageada com a música “Helena (Todo Pecado será Perdoado)”, do cantor Janires, lançada no álbum Janires e Amigos em1985. Voltou à carreira em 1987 na novela Carmem, da TV Manchete, e depois se mudou para Nova York, onde passou a produzir filmes e vídeos evangélicos. De volta ao Brasil, fez pequenas aparições na TV em programas como Você Decide e A Diarista. Em 2006 retornou ao cinema com a personagem Vera do filme Anjos do Sol, de Rudi Lagemann. E em 2008 esteve no filme de estreia de Selton Mello como diretor, Feliz Natal.

         Arnaldo Jabor nasceu no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1940, vindo a falecer em São Paulo, em 15 de fevereiro de 2022, foi, no plano das ideias pragmáticas, um extraordinário cineasta, roteirista, diretor de cinema e TV, produtor cinematográfico, dramaturgo, crítico, jornalista e ensaísta brasileiro. O pragmatismo que em diferentes variantes apresenta-se como uma forma de filosofia capaz de enfrentar os desafios próprios de nosso tempo, certamente, pode ser compreendido do ponto de vista de suas raízes, como sendo devedor, de um lado, ao pragmatismo clássico dos pensadores norte-americanos Charles S. Peirce, John Dewey, William James e o poeta e historiador alemão Friedrich Schiller (1759-1805), por outro lado, às filosofias que emergiram da reviravolta pragmática do Ludwig Wittgenstein (1889-1951) do extraordinário ensaio: Investigações Filosóficas. O pragmatismo norte-americano, que segundo Jean-Pierre Cometti (1944-2016), “é a filosofia mais solidamente enraizada na cultura americana”, desenvolveu-se em torno de uma filosofia do conhecimento, desde o princípio, se afastou de concepções que tendem a privilegiar a busca de um fundamento no absoluto ou a de um modelo da razão, que determina a priori as possibilidades de busca e de descoberta. Pode-se dizer que o pensamento central da metafísica, é que o conhecimento humano não se limita ao conhecimento da experiência, mas que é possível chegar à objetividade do mundo através dos conceitos. Fundamento da verdade não é, neste sentido, o mundo “material empírico”, mas inversamente, o “mundo do pensamento”, que apreende a estrutura inteligível do real enquanto método de análise. 

                                                             

O espírito humano é compreendido como coextensivo ao mundo em que as leis da lógica exprimem as leis que estruturam a realidade. Richard Rorty (cf. Carvalho Filho, 2006) interpreta esta postura como sendo a pretensão de captar, pela mediação do conceito, a forma e o movimento da natureza e da história o que, em última instância, desembocou na ideia de que o ser humano é capaz de descobrir como reparar as injustiças da história. A teoria neopragmática rortyniana representa um termo filosófico recente, existente da década de 1960, sendo utilizado para denominar a filosofia que reintroduziu muitos dos conceitos do pragmatismo, sobre a verdade como objetivo de desvencilhar-se das influências dos dualismos metafísicos típicos; as distinções entre essência e acidente, aparência e realidade, sendo tal posição denominada de antiessencialista. Grande parte do que Rorty descreve em seus textos sobre a verdade desenvolve-se através de um diálogo com Donald Davidson (1917-2003) e sua teoria semântica da verdade. Ambos estão de acordo que a noção sociológica de verdade não pode ser tida como uma correspondência, como uma representação, mas discordam em alguns pontos quanto à solução que procuram encaminhar para essa questão. Enquanto que para Davidson, nossos conceitos podem ser verdadeiros e utilmente descrever uma realidade objetivamente, que para o pragmático não deve ser um objetivo da reflexão filosófica, pois seu objetivo é procurar evidências substantivas para nossas crenças ocidentais, e que não há nada mais que possamos fazer para firmar nossas convicções.   

           A classe média brasileira per se criada pela expansão do emprego público e pela criação de empregos privados em geral, tem sido representada pelos trabalhadores que prestam serviços diretamente aos grupos empresariais e por extensão das elites econômicas e elites políticas, como os profissionais com ensino superior empregado em funções medianas em empresas. Os profissionais com ensino superior, funcionários públicos em empregos bem situados, composto por médicos do sistema público, advogados e profissionais liberais concursados. Os funcionários de escritório mais requalificados, de empresas privadas ou estatais, composto por diretores e supervisores de colégios privados e escolas públicas, bancários de postos intermediários, delegados de polícia em início de carreira, enfermeiras experientes, etc. Enfim, inclusive pelos trabalhadores manuais de maior requalificação, os operários especializados e semiespecializados de indústrias públicas e privadas, composto por mecânicos, eletricistas, encanadores, metalúrgicos, fresadores, instrumentistas, inspetores de qualidade, torneiros mecânicos e de cargos recém-criados de inovação. Na esfera da vida social a luta política é uma das questões que sempre marcaram a dialeticamente a relação entre capital versus trabalho. A nivel social onde a ideologia manifesta mais claro seu poder de enviesamento é, com certeza, o campo da atividade intelectualmente normativa na esfera do trabalho. O sujeito da ação política quer conhecer o quadro em que age; quer poder avaliar o que pode e o que não pode fazer. É sujeito que depende de motivações sociais particulares, sua e dos outros para agir comunicativamente.

A política é levada, assim, a lidar com duas referências contrapostas, legitimando-se através da universalidade dos princípios e viabilizando-se por meio das motivações particulares. Mas vale lembrar que os caminhos trilhados na política ou na universidade evitam a opção por uma dessas linhas extremadas: o doutrinarismo, o oportunismo crasso, o cinismo ostensivo ou a completa e absurda indiferença. São frequentes as combinações de elementos de tais direções, porém combinados em graus e dimensões diversas. E é nessa combinação hábil que se enraíza a ideologia política. Sua atividade interpretativa também pode ser criativa, de modo que ao interpretar um caso, determinado ator social aplicaria e criaria um direito novo, praticamente legislando.  As três dimensões da atividade acadêmica, ensino, pesquisa e extensão, vêm se tornando dependentes de um processo burocrático incontrolável, submetido a normas e dependências que conduz a distorções com a plena identidade da atividade de pesquisa de Tese de Titular em Sociologia que se desenvolve por ação complementar dos docentes, em ambientes de ensino e de caracterização muito individualizada. Os ambientes de pesquisa que identificam um nível elevado e próprio dessa atividade acadêmica são raros. O departamento institucionalizado em ógãos públicos é, insofismável e claramente, um órgão estanque, burocrático & corporativo por excelência, mas que age politicamente organizando-se em núcleos ou laboratórios por meio de projetos específicos, diretamente, com as agências de financiamento públicas. Nos órgãos públicos o padrão de funcionalidade burocrática tem identidade própria.

O sujeito da ação funcional, individual ou coletivamente, é um agente do poder público, tanto na atividade meio como na atividade fim. O poder público é uma instituição em nome da qual exerce uma administração regida por leis, normas, regulamentos e códigos de conduta que em tese devem ser cumpridos, mas na realidade social em que vivemos, a prática, na teoria é outra. Não raras vezes, no âmbito comportamental, a noção de poder público assume uma indefinição conceitual, carregada de subjetividades culturais à medida de atribuições e responsabilidades. A forma de comportamento na dinâmica burocrática, administrativa e acadêmica, das universidades se reporta em grande parte, às competências distribuídas e amparadas no sistema normativo instituído. Os conflitos ditos de competência e desempenho resultam do confronto da autoridade com uma forma de comportamento não desejada, porém amparada em normas, regras e leis. Uma das consequências é que a responsabilidade pelos resultados de cada um é sempre neutralizada ou desculpada a partir do contexto em que cada um de nós atuou. Muito pouca responsabilidade individual é atribuída a cada um de nós, do ponto de vista institucional no caso das universidades. A sociedade brasileira rejeita a avaliação e a universidade padece com ela, negativamente, como representação simbólica de uma ruptura de um universo aparentemente amigável, homogêneo e saudável, no qual a competição, vista como um mecanismo social profundamente negativo não se encontra ausente. Na universidade não há “premiação” para o professor em nenhum aspecto, mas aqueles que fazem pesquisa e orientam alunos, fazem “porque querem fazer, porque podem fazê-lo, não porque a universidade lhes gratifica”.  

Historicamene há cerca de duzentos anos, a ideia de que a verdade era produzida, e não descoberta começou a tomar conta do imaginário individual (o sonho) e o imaginário coletivo (os símbolos) europeu. A teoria formal do significado de Davidson é complementada por uma teoria da interpretação. Ao interpretar a linguagem de um falante nativo, pressupomos ideais de racionalidade e adotamos um princípio de caridade ao tentar compreender suas elocuções. Estes princípios normativos de racionalidade não podem ser assimilados a um discurso puramente científico. No entanto, são cruciais para o que é ser um ser humano e, efetivamente, ter estados mentais. Atribuir significados a elocuções, intenções a ações, e estados mentais como crenças e desejos a agentes, estamos sujeitos a uma explicação holística que pressupõe que os seres humanos são em geral racionais e são coerentes no que pensam, dizem e fazem. Davidson também usa este argumento como base para a rejeição do ceticismo extremo, a posição de que todas as crenças acerca do mundo podem ser falsas. Sua obra exerceu considerável influência em diversas áreas da filosofia a partir dos anos de 1960, e em especial nas áreas de conhecimento de filosofia da mente, filosofia da linguagem, e teoria da ação. Embora costumasse publicar ensaios, os quais não guardavam relação explicitamente com uma concepção de teoria geral, sua obra se destaca por um caráter fortemente unificado.         

O esclarecimento exprime o movimento real da sociedade burguesa como um todo sob o aspecto da encarnação de sua Ideia em pessoas e instituições, assim também a verdade não significa meramente a consciência relacional, mas, do mesmo modo, a figura que esta assume na realidade efetiva. O medo que o bom filho da civilização moderna tem de afastar-se dos fatos – fatos esses que, no entanto, já estão pré-moldados como clichês na própria percepção pelas usanças dominantes na ciência, nos negócios e na política – é exatamente o mesmo medo do desvio social. Essas usanças também definem o conceito de clareza na linguagem e no pensamento a que a arte, a literatura e a filosofia devem se conformar. Ao tachar de compilação obscura e, de preferência, de alienígena o pensamento que se aplica negativamente aos fatos, bem como às formas de pensar dominantes, e ao colocar assim um tabu sobre ele, esse conceito mantém o espírito sob o domínio da cegueira. É característico da situação sem saída que até mesmo o mais polêmico dos reformadores, ao usar uma linguagem desgastada para recomendar a inovação, adota também o aparelho categorial inculcado e a má filosofia que se esconde, e assim reforça o poder da ordem existente que ele gostaria de romper.

A “falsa clareza”, quer dizer, a ilusão em relação à realidade em si é apenas uma outra expressão do mito. Este na história da humanidade sempre foi obscuro e iluminante ao mesmo tempo. Suas credenciais tem sido desde sempre a familiaridade e o fato de dispensar o trabalho característico do conceito. A aporia com que defrontamos em nosso trabalho cotidiano revela-se assim como o primeiro objeto a investigar: a autodestruição do esclarecimento. Não alimentamos dúvida nenhuma, afirmavam Adorno e Horkheimer (1985), e nisso reside nossa petitio principi, de que a liberdade na sociedade é inseparável do pensamento esclarecido. Se o esclarecimento não acolhe dentro de si a reflexão sobre esse elemento regressivo, ele está selando seu próprio destino. Abandonado a seus inimigos e reflexão sobre o elemento destrutivo do progresso, o pensamento cegamente pragmatizado perde seu caráter superador e, por isso, também a sua relação social com a verdade. A disposição enigmática das massas tecnologicamente a deixar dominar-se pelo fascínio de um despotismo, sua afinidade autodestrutiva com a paranoia racista, todo esse absurdo incompreendido manifesta fraqueza e a dúvida sobre o poder de compreensão do pensamento abstrato. A causa da recaída do esclarecimento não deve ser buscada tanto nas mitologias nacionalistas, pagãs e em outras mitologias modernas especificamente idealizadas em vista dessa recaída, comparativamente, mas, no próprio esclarecimento paralisado pelo temor da verdade. A naturalização dos homens não é dissociável do progresso social. 

O aumento da produtividade econômica, que por um lado produz as condições para um mundo mais justo, confere por outro lado ao aparelho técnico e aos grupos sociais que o controlam uma superioridade imensa sobre o resto da população. O indivíduo se vê completamente anulado em face dos poderes econômicos. Ao mesmo tempo, estes elevam o poder a sociedade sobre a natureza a um nível jamais imaginado. Desaparecendo diante do aparelho a que serve, o indivíduo se vê, ao mesmo tempo, melhor do que nunca provido por ele. Numa situação injusta, a impotência e a dirigibilidade da massa aumentam com a quantidade de bens a ela per se destinados. A elevação do padrão de vida das classes subalternas, materialmente considerável e socialmente lastimável, reflete-se da difusão hipócrita do espírito. Sua verdadeira aspiração é a negação da reificação. Mas ele necessariamente se esvai quando se vê concretizando em um bem cultural e distribuído paras fins de consumo. A enxurrada de informações precisas e diversões assépticas desperta e idiotiza as pessoas ao mesmo tempo. O que está em questão não é a cultura como valor. A questão é que o esclarecimento deve tomar consciência de si mesmo, se os homens não forem traídos. Não se trata da conservação/superação hegeliana do passado, mas de vir-a-ser resgate-esperança. O passado se prolonga como sua própria destruição.

No trajeto social para a concepção de ciência moderna, os homens renunciaram ao sentido e substituíram o conceito pela fórmula, a causa pela regra e pela probabilidade. A causa representou apenas o último conceito filosófico que serviu de padrão para a crítica científica, porque ela era, por assim dizer, dentre todas as ideias antigas, o único conceito que a ela ainda se apresentava, derradeira secularização do princípio criador. Com as Ideias de Platão, finalmente, também os deuses patriarcais do Olimpo foram capturados pelo logos filosófico. O esclarecimento, porém, reconheceu as antigas potências no legado platônico e aristotélico da metafísica e instaurou um processo contra a pretensão de verdade dos universais, acusando-a de superstição. Na autoridade dos conceitos universais ele crê enxergar ainda o medo pelos demônios, cujas imagens eram o meio, de que serviam os homens, no ritual mágico, para tentar influenciar a natureza. Doravante, a matéria era dominada sem o recurso ilusório a forças soberanas ou imanentes, sem a ilusão de qualidades ocultas. O que não submete ao critério da calculabilidade e da utilidade de uso torna-se suspeito para o esclarecimento. Mas cada resistência cultural que ele encontra serve apenas para aumentar a sua força social. Isso se deve ao fato de que o esclarecimento ainda se reconhece a si mesmo nos próprios mitos.

Quaisquer que sejam os mitos de que possam se valer a resistência, o simples fato social de que eles se tornam argumentos por uma tal oposição significa que eles adotam o princípio da racionalidade decerto corrosiva da qual acusam o esclarecimento. O esclarecimento como fato é totalitário. Para ele, o elemento social e humano básico do mito foi sempre o antropomorfismo, a projeção do subjetivo na natureza. A cultura respeitável constituiu até o século dezenove um privilégio, cujo preço era o aumento do sofrimento dos incultos, no século vinte o espaço higiênico da fábrica teve por preço a fusão de todos os elementos da cultura num cadinho gigantesco. Talvez não fosse um preço tão alto, como acreditam alguns defensores da cultura, se a venda em liquidação da cultura não contribuísse para a conversão das conquistas econômicas em seu contrário. Nas condições atuais, os próprios bens da fortuna convertem-se em elementos de infortúnio. Enquanto no período passado a massa desse bens, na falta de um sujeito social, resultava na chamada superprodução, em meio às crises da economia interna, ela produz com a entronização dos grupos sociais e econômicos que  detém o poder no lugar desse sujeito social, quer dizer, em cena a teatralidade da ameaça internacional do monopólio ligado aos grupos econômicos, com a entronização do grupos que detêm o poder no lugar praticado desse sujeito social que procura tornar inteligível o entrelaçamento da racionalidade, como sujeito a verdade e da realidade, bem como o entrelaçamento, inseparável do primeiro, da natureza e da dominação da natureza.

No centro estão os conceitos de sacrifício e renúncia, nos quais revelam tanto a diferença quanto a unidade da natureza mítica e do domínio esclarecido da natureza. Ele mostra como a submissão de tudo aquilo que é natural ao sujeito autocrático culmina exato no domínio de uma natureza e uma objetividade cegas. Essa tendência, segundo Adorno e Horkheimer, aplaina as antinomias do pensamento liberal, em especial a do rigor moral e absoluta amoralidade. No sentido do progresso do pensamento, o conceito de esclarecimento tem perseguido o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento representava o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. A credulidade, a aversão à dúvida, a temeridade no responder, o vangloriar-se com o saber, a timidez no contradizer, o agir por interesse, a preguiça nas investigações pessoais, o fetichismo verbal, o deter-se em conhecimentos parciais: isto e coisas semelhantes impediram um casamento feliz do entendimento humano com a natureza das coisas e o acasalaram, em vez disso, a conceitos vãos e experimentos erráticos: o fruto da prosperidade de tão gloriosa união pode-se facilmente imaginar.

A imprensa não passou de uma inovação grosseira; a bússola já era, até certo ponto reconhecida. Mas que mudanças essas três invenções produziram – uma na ciência, a outra na guerra, a terceira nas finanças, no comércio e na navegação. Apenas presumimos dominar a natureza, estamos submetidos à sua necessidade; se nos deixássemos guiar por ela na invenção, nós a comandaríamos na prática. Desencantar o mundo é destruir o animismo. O sobrenatural, o espírito e os demônios seriam as imagens especulares dos homens que se deixam amedrontar pelo natural. Todas as figuras míticas podem se reduzir, segundo o esclarecimento, ao mesmo denominador, a saber, ao sujeito. A resposta de Édipo ao enigma da esfinge: - “É o homem!” é a informação estereotipada invariavelmente repetida pelo esclarecimento, não importa se este se confronta com uma parte de um sentido objetivo, o esboço de uma ordem, o medo de potências maléficas ou a esperança da redenção. E antemão, o esclarecimento só reconhece como ser e acontecer o que se deixa captar pela unidade.  Sei ideal é o sistema do qual se pode deduzir toda e cada coisa. Não é nisso que sua versão racionalista se distingue da versão empirista. Embora as diferentes escolas interpretassem de maneira diferente os axiomas, a estrutura da ciência unitária era sempre a mesma. O postulado baconiano de “una scientia universalis” é, apesar de todo o pluralismo das áreas de pesquisa, tão hostil ao que não pode ser vinculado, quanto ao mathesis universalis de Leibniz à descontinuidade. A multiplicidade das figuras se reduz à posição e à ordem, a história ao fato, as coisas à matéria. Com Bacon, entre os primeiros princípios e os enunciados observacionais deve subsistir uma ligação lógica unívoca, medida por graus de universalidade. De Maistre zomba de Bacon por cultivar “une idole d`échelle”.  A lógica formal era a grande escola da unificação. Ela oferecia aos esclarecedores o esquema da calculabilidade do mundo.

O aumento da produtividade econômica, que por um lado produz as condições para um mundo mais justo, confere por outro lado ao aparelho técnico e aos grupos sociais que o controlam uma superioridade imensa sobre o resto da população. O indivíduo se vê completamente anulado em face dos poderes econômicos. Ao mesmo tempo, estes elevam o poder a sociedade sobre a natureza a um nível jamais imaginado. Desaparecendo diante do aparelho a que serve, o indivíduo se vê, ao mesmo tempo, melhor do que nunca provido por ele. Numa situação injusta, a impotência e a dirigibilidade da massa aumentam com a quantidade de bens a ela per se destinados. A elevação do padrão de vida das classes subalternas, materialmente considerável e socialmente lastimável, reflete-se da difusão hipócrita do espírito. Sua verdadeira aspiração é a negação da reificação. Mas ele necessariamente se esvai quando se vê concretizando em um bem cultural e distribuído paras fins de consumo. A enxurrada de informações precisas e diversões assépticas desperta e idiotiza as pessoas ao mesmo tempo. O que está em questão não é a cultura como valor. A questão é que o esclarecimento deve tomar consciência de si mesmo, se os homens não forem traídos. Não se trata da conservação/superação hegeliana do passado, mas de vir-a-ser resgate-esperança. O passado se prolonga como sua própria destruição.

No trajeto social para a concepção de ciência moderna, os homens renunciaram ao sentido e substituíram o conceito pela fórmula, a causa pela regra e pela probabilidade. A causa representou apenas o último conceito filosófico que serviu de padrão para a crítica científica, porque ela era, por assim dizer, dentre todas as ideias antigas, o único conceito que a ela ainda se apresentava, derradeira secularização do princípio criador. Com as Ideias de Platão, finalmente, também os deuses patriarcais do Olimpo foram capturados pelo logos filosófico. O esclarecimento, porém, reconheceu as antigas potências no legado platônico e aristotélico da metafísica e instaurou um processo contra a pretensão de verdade dos universais, acusando-a de superstição. Na autoridade dos conceitos universais ele crê enxergar ainda o medo pelos demônios, cujas imagens eram o meio, de que serviam os homens, no ritual mágico, para tentar influenciar a natureza. Doravante, a matéria era dominada sem o recurso ilusório a forças soberanas ou imanentes, sem a ilusão de qualidades ocultas. O que não submete ao critério da calculabilidade e da utilidade de uso torna-se suspeito para o esclarecimento. Mas cada resistência cultural que ele encontra serve apenas para aumentar a sua força social. Isso se deve ao fato socialmente de que o esclarecimento ainda se reconhece a si mesmo nos próprios mitos. Quaisquer que sejam os mitos de que possam se valer a resistência, como é fácil admitir, o simples fato social de que eles se tornam argumentos por uma tal oposição significa que eles adotam contraditoriamente o princípio da racionalidade decerto corrosiva da qual acusam o esclarecimento.

O Esclarecimento como fato é totalitário. Para ele, o elemento social e humano básico do mito foi sempre o antropomorfismo, a projeção do subjetivo na natureza. A cultura respeitável constituiu até o século dezenove um privilégio, cujo preço era o aumento do sofrimento dos incultos, no século vinte o espaço higiênico da fábrica teve por preço a fusão de todos os elementos da cultura num cadinho gigantesco. Talvez não fosse um preço tão alto, como acreditam alguns defensores da cultura, se a venda em liquidação da cultura não contribuísse para a conversão das conquistas econômicas em seu contrário. Nas condições atuais, os próprios bens da fortuna convertem-se em elementos de infortúnio. Enquanto no período passado a massa desse bens, na falta de um sujeito social, resultava na chamada superprodução, em meio às crises da economia interna, ela produz com a entronização dos grupos que  detém o poder no lugar desse sujeito social, a ameaça internacional do monopólio ligado aos grupos econômicos, com a entronização do grupos que detêm o poder no lugar praticado desse sujeito social que procura tornar inteligível o entrelaçamento da racionalidade, como sujeito a verdade e da realidade social, bem como o entrelaçamento, inseparávelmene do primeiro, da natureza e da dominação da natureza. No centro estão os conceitos de sacrifício e renúncia, nos quais revelam tanto a diferença quanto a unidade e do domínio esclarecido da natureza. 

Ele mostra como a submissão de tudo aquilo que é natural ao sujeito autocrático culmina exato no domínio de uma natureza e, portanto, de uma objetividade cegas. Essa tendência, segundo Theodor Adorno e Max Horkheimer, aplaina as antinomias do pensamento liberal, em especial a do rigor moral e absoluta amoralidade. No sentido do progresso do pensamento, o conceito abstrato de esclarecimento tem perseguido o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los pragmaticamente na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento representava o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. A credulidade, a aversão à dúvida, a temeridade no responder, o vangloriar-se com o saber, a timidez no contradizer, o agir por interesse, a preguiça nas investigações pessoais, o fetichismo verbal, o deter-se em conhecimentos parciais: isto e coisas semelhantes impediram um casamento feliz do entendimento humano com a natureza das coisas e o acasalaram, em vez disso, a conceitos contemporaneamente vãos e experimentos erráticos, isto é, o fruto da prosperidade de tão gloriosa união pode-se facilmente imaginar.

A imprensa não passou de uma inovação grosseira; a bússola já era, até certo ponto reconhecida. Mas que mudanças essas três invenções produziram – uma na ciência, a outra na guerra, a terceira nas finanças, no comércio e na navegação. Apenas presumimos dominar a natureza, estamos submetidos à sua necessidade; se nos deixássemos guiar por ela na invenção, nós a comandaríamos na prática. Desencantar o mundo é destruir o animismo. O sobrenatural, o espírito e os demônios seriam as imagens especulares dos homens que se deixam amedrontar pelo natural. Todas as figuras míticas podem se reduzir, segundo o esclarecimento, ao mesmo denominador, a saber, ao sujeito. A resposta de Édipo ao enigma da esfinge: - “É o homem!” é a informação estereotipada invariavelmente repetida pelo esclarecimento, não importa se este se confronta com uma parte de um sentido objetivo, o esboço de uma ordem, o medo de potências maléficas ou a esperança da redenção. E antemão, o esclarecimento só reconhece como ser e acontecer o que se deixa captar pela unidade.  Sei ideal é o sistema do qual se pode deduzir toda e cada coisa. Não é nisso que sua versão racionalista se distingue da versão empirista. Embora as diferentes escolas interpretassem de maneira diferente os axiomas, a estrutura da ciência unitária era sempre a mesma. O postulado baconiano de “una scientia universalis” é, apesar de todo o pluralismo das áreas de pesquisa, tão hostil ao que não pode ser vinculado, quanto ao mathesis universalis de Leibniz à descontinuidade. A multiplicidade das figuras se reduz à posição e à ordem, a história ao fato, as coisas à matéria. Com Bacon, entre os primeiros princípios e os enunciados observacionais deve subsistir uma ligação lógica unívoca, medida por graus de universalidade. De Maistre zomba de Francis Bacon por cultivar “une idole d`échelle”.  A lógica formalmente era a grande escola da unificação. Ela oferecia aos esclarecedores o esquema da calculabilidade do mundo social.

Metodologicamente o drama de uma vida humana individual, ou da história social e política da humanidade como um todo, não é um drama estaiado em que uma meta preexistente seja triunfalmente atingida ou tragicamente não alcançada. Nem uma realidade externa constante nem tampouco uma infalível fonte interna de inspiração compõe o background desses dramas. Ao contrário, ver a própria vida ou a vida da comunidade como uma narrativa dramática é vê-la com um processo de auto-superação nietzschiana. O paradigma dessa narrativa é a vida do gênio capaz de dizer “eu quis assim”. Sobre a parte relevante do passado, por ter encontrado um modo de descrever esse passado. E que o próprio passado jamais reconheceu e, ter descoberto um eu, de maneira afirmativa, para compreender que seus precursores nunca souberam ser possível. Nessa cosmovisão nietzschiana, o impulso de pensar, indagar e tecer outra vez a si mesmo, de maneira cada vez mais minuciosa, não é simplesmente o assombro, mas o pavor. David Hume sustenta que nossas ideias são imagens de nossas impressões, pois assim podemos formar ideias secundárias, que são imagens das primárias. Não se trata de mais uma exceção à regra, mas de uma explicação. Agatha Christie, tinha uma relação muito próxima com o editor Billy Collins, responsável pelas publicações da escritora na empresa Harper Collins. Em correspondências descobertas recentemente, não só a relação amistosa dos dois, mas também as desavenças, ficam evidentes em alguns momentos.

O precedente estabelecido socialmente pelos românticos conferiu a seu pleito uma plausibilidade inicial. O papel efetivo de romances, poemas, peças teatrais, quadros, estátuas e prédios no movimento social dos últimos 150 anos deu-lhe uma plausibilidade ainda maior, obtendo legitimidade, já que as ideias adquirem força na história. Alguns filósofos inclinaram-se ao iluminismo e continuaram a se identificar com a ciência. Eles veem a antiga luta entre a ciência e a religião, a razão e a irracionalidade, como um processo ainda em andamento que assumiu a forma de uma luta entre a razão e todas as mediações intraculturais que pensam na verdade como algo constituído e não encontrado. Esses filósofos consideram que a ciência é a atividade paradigmática e insistem que a ciência natural descobre a verdade, ao invés de cria-la. Encaram a expressão “criar a verdade” como metafórica e totalmente enganosa. Pensam na política e na arte como esferas em que a ideia de “verdade” fica deslocada. Outros filósofos, analogamente, percebendo que o mundo descrito pelas ciências físicas não ensina nenhuma lição moral e não oferece conforto espiritual, concluíram que a ciência não passa de uma serva da tecnologia. Esses filósofos alinham-se com o utopista político e com o artista inovador.

Os primeiros contrastam a “realidade científica concreta” com o “subjetivo” ou o “metafórico”, os segundos veem a ciência como mais uma das atividades humanas, e não como o lugar em que os seres humanos deparam com uma realidade não humana “concreta”. De acordo com essa visão, os grandes cientistas inventam descrições do mundo que são úteis para o objetivo de prever e controlar o que acontece, assim como os poetas e os pensadores políticos inventam outras descrições do mundo para outros fins. Não há sentido algum, porém, em que qualquer dessas descrições seja uma representação exata de como é o mundo em si. Esses filósofos consideram inútil a própria ideia dessa representação, seja consignando uma verdade de segunda categoria (fenomênica), seja como descrição do espírito da natureza espiritual (dialética) e elevar ao mais alto status o tipo de verdade oferecida pelo poeta e pelo revolucionário político. O idealismo alemão, porém, representou uma solução de compromisso pouco duradoura e insatisfatória.

É que Immanuel Kant e Georg Friedrich Hegel fizeram apenas concessões parciais em seu repúdio à ideia de que a verdade está “dada”. Dispusera-se a ver o mundo da ciência empírica como um mundo “fabricado” – a ver a matéria como algo construído pela mente, ou como feita de uma mente insuficientemente cônscia de seu próprio caráter mental -, mas persistiram em ver a mente, o espírito, as profundezas do eu como dotados de uma natureza intrínseca – uma natureza que se poderia conhecer por uma espécie de superciência não empírica, chamada de filosofia. Isso significava que apenas metade da verdade – a metade científica inferior – era produzida. A verdade superior, a verdade sobre a mente, seara da filosofia, ainda era uma questão de descoberta, não de criação. Richard Rorty precisa sua tese de distinção entre a afirmação de que o mundo está dado e a de que a verdade dada, equivale a dizer, com bom senso, que a maioria das coisas no espaço e no tempo, é efeito de causas que não incluem os estados mentais humanos. Dizer que a verdade não está dada é dizer que, onde não há frases, não há verdade e inversamente. E que frases são componentes das línguas humanas, de todas as sociedades e os tempos as línguas humanas são criações humanas. Só as descrições podem ser verdadeiras, ou falsas, sem o auxílio das atividades descritivas como atividade social ou política dos seres humanos não pode sê-lo.  

Eu Sei que Vou Te Amar é um filme brasileiro de 1986, do gênero drama, dirigido e escrito por Arnaldo Jabor. Narra a história social de um casal que decide fazer um jogo da verdade sobre a história oral da vida deles, isto é, de um para o outro, em uma espécie de representação de psicanálise filmada. É protagonizado por Fernanda Torres e Thales Pan Chacon. Um jovem casal que se uniu quando ainda eram jovens tem um filho e se separam em dois anos. Após a separação por três meses, eles marcam de se reencontrar e decidem, durante duas horas, realizar uma espécie de jogo da verdade sobre tudo o que já lhes aconteceu ao longo da própria vida, numa espécie de psicanálise filmada. Trata-se de uma filmagem do que seria um filme sobre o amor. O filme participou do tradicional Festival de Cannes, onde foi selecionado para a mostra principal, concorrendo à Palma de Ouro de Melhor Filme. Fernanda Torres recebeu o prêmio de melhor interpretação feminina, tornando-se a primeira atriz brasileira a vencer um dos mais prestigiados prêmios de cinema do mundo. Foi selecionado para a Mostra principal do Festival de Cannes, sendo exibido em 9 de maio de 1986. Foi exibido no Canadá durante o Toronto International Film Festival, em setembro, e em Portugal, durante o Tróia - II Festival Internacional de Cinema, e também teve seu lançamento nos cinemas da União Soviética.

Como a imaginação pode separar todas as ideias simples, e uni-las novamente da forma que bem lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa faculdade, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e lugares. Fossem as ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria; e seria impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em ideias complexas se não houvesse algum laço de união entre elas, alguma qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra. Esse princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre outras coisas diversas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às outras: pois a natureza de alguma forma aponta a cada um de nós as ideias simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades não dão origem a tal associação, e que levam a mente, dessa maneira promissora, de uma ideia a outra, são três, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e a relação causa e efeito.

Melhor dizendo, que as ideias da memória são muito mais vivas e fortes que as da imaginação, simplesmente, e que a primeira faculdade pinta seus objetos em cores mais distintas que todas as formas que possam ser usadas pela última. Ao nos lembrarmos de um acontecimento passado, sua ideia invade nossa mente com força, ao passo que, na imaginação, a percepção é fraca e lânguida, e apenas com muita dificuldade pode ser conservada firme e uniforme pela mente durante todo o período considerável de tempo. Temos aqui uma diferença sensível entre as duas espécies de ideias. Mas há uma outra diferença, não menos evidente, entre esses dois tipos de ideias. Embora nem as ideias da memória nem as da imaginação, nem as ideias vívidas nem as fracas possam surgir na mente antes que impressões correspondentes tenham vindo abrir-lhes o caminho à subjetividade, a imaginação não se restringe à mesma ordem na forma das impressões originais, ao passo que a memória está de certa maneira amarrada quanto a esse aspecto, sem nenhum poder de variação. É evidente que a memória preserva a forma original sob a qual seus objetos se apresentaram. A principal função da memória não é preservar as ideias simples, mas sua ordem e posição. Esse princípio se apoia em aspectos comuns e vulgares do dia a dia que podemos nos poupar o trabalho de continuar insistindo ideologicamente nele. Isto exige de nós que abandonemos, como é comum no discurso acadêmico sobre nossa preocupação essencialmente com a pretensão de objetividade do conhecimento e tornemo-nos satisfeitos com a intersubjetividade.

São enormes as consequências no que diz respeito à problemática da verdade: por não ser rortyniana o conhecimento um “espelho da natureza”, mas algo que está fundamentalmente imbricado com a práxis dialogal e o contexto social, então a crítica das diferentes formas de práxis social é destituída de qualquer sentido, já que estamos presos pelos contextos simbólicos e qualquer tentativa de transcendência a eles significa um retorno à postura fundamentalista. Estabelecido que é impossível ir além do horizonte linguístico de opiniões justificadas, como se combina esta tese fundamental da reviravolta pragmática com a intuição de que sentenças verdadeiras levantam a pretensão de dar conta dos fatos do mundo. O desafio central do contextualismo está aqui: relacionar verdade e justificação. A reviravolta pragmaticamente feliz traz um modelo de conhecimento contraposto ao tradicional da representação, que é um modelo estático. Nossos conhecimentos constituem, na dimensão espacial, o resultado de trabalho sobre as decepções em nossa convivência inteligente com um mundo repleto de riscos, na dimensão social, a partir da legitimação de soluções de problemas frente às objeções de outros participantes da prática na dimensão argumentativa e, na família, no Estado, na educação, na realidade de dimensão histórica e temporal, a partir de processos comunicação e de aprendizagem alimentam a revisão dos próprios erros.

Do ponto de vista de Georg Simmel, ele é em si, um ato psíquico impossível de fragmentar dessa maneira, ou de explicar pela cooperação de elementos. É a diversidade de inúmeras manifestações que a língua batiza com esse nome não depõe contra sua unidade fundamental, mas prova ao contrário a existência desta. Pois seria de todo inverossímil que uma realidade per se que para aparecer necessita simplesmente que um elemento espere a chegada de outro possa constituir o núcleo imutável de uma profusão tão infinita de acontecimentos sempre em evolução. Amor a Deus e amor à pátria, amor cristão ao próximo e amor entre homem e mulher, amor por um amigo ou amor prático-racional ao ideal humanitário, eis já uma boa diversidade; mas, além disso, tem-se razão em falar de amor para com os objetos inanimados, não só por ideais ou estilos de vida, mas também por passagens, objetos de uso corrente, obras de arte. Se “amo” a paisagem de Florença, isso ainda não significa que eu gostaria de fato de viver lá em permanência, nem tampouco que a admire de um ponto de vista estético. Talvez as duas coisas sejam verdadeiras. Mas nem o desfrute subjetivo, por assim dizer dessa paisagem, nem o juízo de valor objetivo sobre dela podem, separada ou conjuntamente, entrar em jogo nessa atitude íntima bem especial que designamos sob o termo de amor por ela. Inclusive aqui, parece, está o segredo do erotismo sexual, de também amamos o corpo do outro nesse sentido, de não nos contentarmos com “deseja-lo” e contemplá-lo de um ponto de vista estético. Um desejo e uma avaliação podem juntar-se a isso; no entanto, comparado ao comportamento erótico em relação ao objeto, não só o desejo, examinado com atenção.

O primeiro visa o exercício de um poder; a segunda, a sentença de um poder, duas atitudes bastante distanciadas do amor. Justamente, o amor por um objeto inanimado pode permitir que se esclareça a um grau particular de pureza essa relação do sujeito como um objeto, que não pode ser comparar a nada mais, nem portanto se compor de nada mais, e que chamamos de amor.  Vemos esse amor ascender de profundezas totalmente irracionais da vida, sem que vise necessariamente qualquer melhoria ou deterioração dessa vida. Vemo-lo como um puro estado ou perturbação do sujeito, categoria em que, no entanto, se insere o teor do objeto: em virtude de sua incomparabilidade transcendental, o objeto amado se encontra, no plano formal, no mesmo nível do objeto do conhecimento, do objeto da fé, ou do objeto de um juízo. Amando-o, damos uma forma acabada à relação fundamental entre a alma e o mundo: a alma permanece decerto fixada a seu centro – aquilo no qual ela possui seus limites e sua grandeza -, mas essa imanência é a forma em que ela se torna transcendente, capaz de apreender os conteúdos do mundo e integrá-los a si. Se ela não fosse, primeiramente, em si, não poderia sair de si mesma; mas essa formulação, inevitavelmente cronológica, não designa uma sucessão que separa, mas a determinação da vida, fundamentalmente unitária. É a partir do conceito sujeito-objeto que o amor revela o mais forte da imanência moral da apreensão do mundo. No ato de conhecimento, como no ato em si de estimação, sentimos como injunção em torno de nós, algo que designamos imperfeita e pejorativamente como norma, medida ou validade, e que está simplesmente situado além da relação intrínseca psicologicamente entre o sujeito e o objeto de desejo. 

O amor é uma das grandes categorias sociais que dá forma ao existente, mas isso é dissimulado tanto por certas realidades psíquicas como in fieri por certos modos de representações teóricas. Não há dúvida que o efeito amoroso desloca e falsifica inúmeras vezes a imagem objetivamente reconhecível de seu objeto e, nessa medida, é decerto geralmente reconhecido, segundo Simmel, como “formativo”, mas de uma maneira que não pode visivelmente parecer coordenada com as outras forças espirituais que dão forma. Trata-se, portanto, aqui, de uma imagem já existente que se encontra modificada em sua determinação qualitativa, sem que se tenha abandonado seu nível de existência teórica, nem criado um produto de uma nova categoria. Essas modificações que o amor já presente traz à exatidão objetiva da representação nada têm a ver com a criação inicial que produz o ser amado como tal. Na verdade, todas essas categorias são coordenadas, por sua significação, quaisquer que sejam o momento ou as circunstâncias em que elas atuam na relação de sociabilidade com outras pessoas. E o amor é uma delas, na medida em que cria seu objeto como produto total original. Conforme a ordem cronológica, é preciso, antes de mais nada, que o ser humano exista e seja reconhecido, antes de ser amado. Mas, então, esse algo que acontece não tem lugar nenhum com esse ser existente que permaneceria não modificado, por que não ocorrera nenhum significado, mas que foi, ao contrário, no sujeito que uma nova categoria fundamental se tornou criadora.

Do mesmo modo que Eu, enquanto amante, sou diferente do quer era antes – pois não é determinado “aspecto” meu, determinada energia que ama em mim, mas meu ser inteiro, o que não precisa significar uma transformação visível de todas as minhas outras manifestações -, também o amado enquanto tal, é um outro, nascendo de outro a priori que não o ser conhecido ou temido, indiferente ou venerado. Por que o amor está, antes de mais anda, absolutamente intricado em seu objeto, e não simplesmente associado a ele: o objeto do amor em toda a sua significação categorial não existe antes do amor, mas apenas por intermédio dele. O que faz aparecer de maneira bem clara que o amor – e, no sentido lato, todo o comportamento do amante enquanto tal – é algo absolutamente unitário, que não pode se compor a partir de elementos preexistentes. Totalmente inúteis parecem, pois, as tentativas de considerar o amor como um produto secundário, no sentido de que seria motivado como resultante de outros fatores psíquicos primários. No entanto, ele pertence a um estágio demasiado extenuante, que pode se dar de forma muito elevado de sentimento da natureza humana para que possamos situá-lo no mesmo plano cronológico e genético da respiração ou alimentação, ou o ser do instinto sexual.

Tampouco podemos safar-nos do embaraço por esta escapatória fácil: em virtude de seu sentido metafísico, de seu significado atemporal, o amor permanece sem dúvida à primeira – ou última - ordem dos valores e das ideias, mas sua realização humana ou psicológica colocá-lo-ia num estágio ulterior de uma série longa e complexa na evolução contínua da vida. Não podemos nos satisfazer com essa estranheza recíproca de seus significados ou de suas areações. De fato, o problema de seu dualismo certamente é aí, reconhecido e nitidamente expresso, mas não resolvido; determo-nos nessa conclusão seria duvidar de sua solubilidade. O amor é sempre uma dinâmica que se gera, Para Simmel (1993) por assim dizer, a partir de uma autossuficiência interna, sem dúvida trazida, por seu objeto exterior, do estado latente ao estado atual, mas que não pode ser, propriamente falando, provocada por ele; a alma o possui enquanto realidade última, ou não o possui, e nós não podemos remontar, para além dele, a um dos movens exterior ou interior que, de certa forma, seria mais que sua causa ocasional. É esta a razão mais profunda que torna o procedimento de exigi-lo, a qualquer título legítimo que seja totalmente desprovido de sentido. Sequer sua atualização dependa sempre de um objeto, e se aquilo que chamamos de desejo ou necessidade de amor – esse impulso surdo e sem objeto, em particular na juventude, em direção a qualquer coisa a ser amada – já não é amor, que por enquanto só se move em si mesmo, digamos “um amor em roda livre”.

 Seguramente, a pulsão em direção a um comportamento poderá ser considerada como o aspecto afetivo do próprio comportamento, ele próprio já iniciado; o fato de nos sentirmos “levados” a uma ação significa que a ação já começou anteriormente e que seu acabamento não é outra coisa que o desenvolvimento ulterior dessas primeiras inervações. Onde, apesar do impulso sentido, não passamos à ação, isso se dá seja porque a energia não basta, de pronto, para ir além desses primeiros elos da ação, seja porque ela é contrariada por forças opostas, antes mesmo que esses primeiros elos já anunciados à consciência tenham podido se prolongar num ato visível. Do mesmo modo, a possibilidade real, a ocasião apriorística desse modo de comportamento que chamamos amor, fará surgir, se for o caso, e levará à consciência, como um sentimento obscuro e geral, um estágio inicial de sua própria realidade, antes mesmo que a ele se some a incitação por um objeto determinado para levá-lo a seu efeito acabado. A existência desse impulso sem objeto, por assim dizer incessantemente fechado em si, acento premonitório do amor, puro produto do interior e, no entanto, já acento de amor, é a prova mais decisiva em favor da essência central puramente interior do fenômeno amor, que ocorre muitas vezes dissimulado sob um modo de representação, sendo impávido ou mesmo pouco claro, segundo o qual o amor seria uma espécie de surpresa ou de violência vindas do exterior, tendo seu símbolo mais no “filtro do amor”, em vez de uma maneira de ser, de uma modalidade e orientação que a vida como tal toma por si mesma – como se o amor viesse de seu objeto, quando, na realidade, vai em direção a ele.

De fato, o amor é o sentimento que, fora dos sentimentos religiosos, se liga mais estreita e mais incondicionalmente a seu objeto. À acuidade com a qual ele brota do sujeito corresponde a acuidade igual com que ele se dirige para o objeto. O que é decisivo aqui é que nenhuma instância de caráter geral vem se interpor. Se venero alguém. É pela mediação da qualidade de certo modo geral de venerabilidade que, em sua realidade particular, permanece ligada à imagem desse por tanto tempo quanto eu o venerar. Do mesmo modo, no homem que temo, o caráter terrível e o motivo que o provocou estão intimamente ligados; mesmo o homem que odeio não é, na maioria dos casos separado em minha representação da causa desse ódio – é esta uma das diferenças entre amor e ódio que desmente a assimilação que comumente se faz deles. Mas o específico do amor é excluir do amor existente a qualidade mediadora de seu objeto, sempre relativamente geral, que provocou o amor por ele. Ele permanece como intenção direta e centralmente dirigida para esse objeto, e revela a sua natureza verdadeira e incomparável nos casos em que sobrevive ao desaparecimento indubitável do que foi sua razão de nascer. Essa constelação, que engloba inúmeros graus, desde a frivolidade até a mais alta intensidade, é vivida segundo o mesmo modelo, comparativamente, quanto seja em relação a uma mulher ou a um objeto, a uma ideia ou a um amigo, à pátria ou a uma divindade. Isso deve ser solidamente estabelecido em primeiro lugar, se quisermos elucidar seu significado mais restrito, o que se eleva no terreno da sexualidade. A rapidez alia instinto sexual a amor lançando talvez uma das pontes mais enganadoras na paisagem psicológica exageradamente rica em construções desse gênero. 

         Quando, ademais, ela penetra no domínio da psicologia que se dá por científica, temos com demasiada frequência a impressão de que esta última caiu nas mãos de açougueiros. Por outro lado, o que é óbvio, não podemos afastar pura e simplesmente essa relação. Nossa emoção sexual, afirma Simmel, desenrola-se em dois níveis de significação. Por trás do arrebatamento e do desejo, da realização e do prazer sentidos, diretamente subjetivos, delineia-se, consequência disso tudo, a reprodução da espécie. Pela propagação contínua do plasma germinal, a vida corre infinita, atravessando todos estágios ou levada por eles de ponta a ponta. Por mais insuficiente, por mais preso a um estreito simbolismo humano que esteja o conceito de objetivo e de meios em presença da misteriosa realização da vida, devemos qualificar essa emoção sexual de meio de que a vida se serve para a manutenção da espécie, confiando aqui a consecução desse objetivo não mais a um mecanismo, no sentido lato do termo, mas a mediações psíquicas. Enfim, a pulsão, dirigida a princípio, tanto no sentido genérico quanto no sentido hedonista, ao outro sexo enquanto tal, parece ter diferenciado cada vez mais seu objeto, à medida que seus suportes se diferenciavam, até singularizá-lo. Claro, a pulsão não se torna amor pelo simples fato de sua individualização; esta última pode ser refinadamente hedonista, ou instinto vital-teleológico para o parceiro apto a procriar os melhores filhos.  Mas, indubitavelmente, ela cria uma disposição formativa e, por assim dizer, um marco para essa exclusividade que constitui a essência do amor, mesmo quando seu sujeito se volta para uma pluralidade de objetos. Não duvidamos em absolutamente que no seio do que se chama “atração dos sexos” constitui-se o primeiro factum, ou, se quiserem, a prefiguração do amor. A vida se metamorfoseia também nessa produção, traz sua corrente à altura dessa onda, cuja crista, porém, sobressai livremente acima dela. Se considerarmos o processo da vida absolutamente como um dispositivo de meios a serviço desse objetivo - a vida – e se levarmos em conta o significado simplesmente efetivo do amor para a propagação da espécie, o crescei-vos e multiplicai-vos, então este também é um dos meios que a vida espiritualmente se dá para si e a partir de si mesmo os quais se realizam em comunhão.

Bibliografia Geral Consultada.

BONELLI, Maria da Gloria, A Classe Média do Milagre a Recessão: Mobilidade Social, Expectativas e Identidade Coletiva. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1997; CARVALHO FILHO, Aldir Araújo, Individualismo Solidário: Uma Redescrição da Filosofia Política de Richard Rorty. Tese de Doutorado em Filosofia. Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006; JABOR, Arnaldo, Pornopolítica: Paixões e Taras na Vida Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2006; MENDES, Liliam de Oliveira, A Leitura de Metáforas como Evento Social: A Construção de Sentidos em Crônica de Arnaldo Jabor. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007; SOUZA, Amaury; LAMOUNIER, Bolívar, A Classe Média Brasileira: Ambições, Valores e Projetos de Sociedade. Rio de Janeiro: Editor Elsevie; Distrito Federal: Confederação Nacional da Indústria, 2010; NERI, Marcelo, A Nova Classe Média: O Lado Brilhante dos Pobres. Centro de Políticas Sociais. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 2010; JURACH, Jussara Maria Costa, Intertextualidade e Estilo nas Crônicas de Arnaldo Jabor. Dissertação de Mestrado em Linguística. Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2011; FARIAS, Francisco Rafael Lima, Nelson Rodrigues e Arnaldo Jabor se Encontram no Cinema: As Representações da Família Brasileira na Década de 1970. Dissertação de Mestrado em História. Teresina: Universidade Federal do Piauí, 2014; GREVE, Sabrina Tozatti, O Ator do Teatro ao Cinema: Um Estudo sobre Apropriação. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; PARIS, Clarinice Aparecida, A Função Ética da Psicanálise diante do Sofrimento Psíquico Engendrado pelo Neoliberalismo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2023; FERNANDES, Gabriel Marques, Classe Média Brasileira: Afetos do Conservadorismo - Um Estudo a partir de “Tudo Bem” (Arnaldo Jabor, 1978). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em História. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2022; Idem, “Toda Nudez Será Castigada (Arnaldo Jabor, 1972) Para Além de Nelson Rodrigues um Encontro com O Último Tango em Paris (Bernardo Bertolucci, 1972)”. Disponível  em: https://rebeca.socine.org.br/2024; entre outros.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

O Abismo – Cinema & Falha Geológica da Maior Mina do Mundo.

                                                              Você devia se orgulhar de ter uma filha que luta por algo”. Richard Holm (2020)

            Em sua versão mais simples, uma falha geológica tem como representação social uma fratura nos materiais rochosos que constituem uma determinada estrutura geológica, dando origem a uma superfície, em geral designada por plano de falha, através da qual é produzido o deslocamento relativo dos blocos situados em lados opostos do plano de fratura (cf. Brito, 2008). O deslocamento de um dos blocos, ou de ambos, é conditio sine qua non para a existência de uma falha, já que as fraturas ou fendas sem deslocamento relativo não são denominadas falhas, mas sim diaclases (torção) ou juntas. A formação de uma falha depende, em última instância, da natureza das rochas, concretamente do seu limite de plasticidade, e das forças geradoras dos esforços presentes, com maior frequência esforços de distensão crustal, embora as falhas também possam ser produzidas por compressão ou por deslizamento lateral. Quando o esforço não é muito intenso, ou quando o limite de plasticidade das rochas é elevado, ou seja, sendo nesse caso a rocha considerada dúctil, será mais provavelmente originar a produção de uma dobra em vez de uma falha. Contrariamente, quando os esforços são muito intensos, ou mesmo se suas rochas apresentarem baixa plasticidade, sendo nesse caso a rocha considerada, rúptil ou frágil, é ainda assim formada uma falha.

As falhas geológicas apresentam tamanhos que variam de centímetros a centenas de quilômetros, ou mesmo milhares de quilômetros nas falhas que correspondem aos limites de placas tectônicas e aos rifts ou no caso das grandes falhas transformantes associadas às dorsais oceânicas. O estudo das falhas constitui um dos objetos relevantes da geologia, da geomorfologia e da mecânica das rochas, o que levou ao desenvolvimento de um importante corpo científico (cf. Ferrera, 2014), com milhares de estudos sobre os processos que originam as falhas, não por acaso, vezes referidos geologicamente como o “mecanismo de falhamento”, da sua gênese e desenvolvimento e as suas características morfológicas e evolutivas. Associado a este campo, ou nível de análise, surgiu um vocabulário específico, descrevendo os processos e a morfologia, bem como um vasto conjunto de conceitos. Sendo as massas rochosas estruturas rúpteis, a geração de falhas e o seu movimento súbito é um dos objetos da sismologia (cf. Hazbún; Laszano, 1993; Ferreira, 2014). Os geólogos reconhecem falhas no campo de diversas maneiras, tanto por evidências diretas como indiretas. As evidências diretas são observadas em afloramentos ou na superfície do terreno e envolvem o deslocamento de um nível estratigráfico ou a presença de indicadores na superfície da falha que refletem o atrito ocorrido pelo deslocamento dos blocos, compreendidos como rochas de falha.  

Evidências de falhas são também indiretamente por meio de métodos geofísicos, critérios geomorfológicos com presença de escarpa de falha, vales característicos, etc., fotografias aéreas, imagens tiradas de satélite, mapas geológicos e topográficos. Se o movimento relativamente for grande, as formações rochosas, agora em contato umas com as outras na linha de falha, vão, provavelmente, diferir em litologia e idade. Para estabelecer a idade do falhamento, os geólogos usam uma ideia simples: falha deve ser mais nova que a mais nova dentre as rochas que corta, pois, as rochas deveriam estar lá antes de que pudessem ser falhadas, e mais antiga que a mais antiga das camadas que a recobrem e que não foram por ela deslocadas. Qualquer plano de falha pode ser completamente descrito com duas medidas: sua direção e seu mergulho. O plano de falha tem uma atitude, definida pela direção e mergulho atuais, que não são necessariamente os mesmos da época do falhamento, pois, o conjunto pode ser basculado e deformado após a falha ter se formado. O acúmulo de energia e a liberação desta em zonas de falhas é um dos fatores responsáveis pela ocorrência dos terremotos. Surge em função da pressão aplicada por uma força, geralmente as placas tectônicas, em que a pressão exercida excede a capacidade de resistência e plasticidade das camadas rochosas, provocando cisão ou ruptura, podendo gerar pequenas fraturas em seu entorno.

Entre o liberalismo de David Hume (2009) e dos Fisiocratas, encontra-se a distância que separa a invenção da conformidade. Hume de um lado, os Fisiocratas de outro. Fisiocratas que viam a produção de bens e serviços como consumo do excedente agrícola, uma vez que a principal fonte de energia era o músculo humano ou animal e toda a energia era derivada a partir do excedente de produção agrícola. A unidade própria do nascente liberalismo econômico se tornaria problemática. Apesar da relativa uniformidade das reivindicações, parece que o fosso se escava entre, de um lado, uma metafísica da ordem que impõe respeito a uma norma natural, limitadora por essência e instruída pela providência regida, em última instância, pela cumplicidade secreta entre finalismo e mecanicismo, e, de outro, a marcha hesitante da espontaneidade cega em seu princípio, e anônima em seus efeitos sociais, que exige que a norma, em sua variedade e contingência, seja construída, inventada, em função das circunstâncias. Assim comparativamente a política econômica nacional é constituída sobre o modelo da gestão privada, sendo que a representação da economia do universo é, do mesmo modo, construída a partir do modelo tecnológico da ação sobre a apropriação da natureza.    

O arquiteto divino aparece também como uma derivação conceitual do artesão. Em todo lugar em que surge uma vontade capaz de dar forma ao projeto que ela mesma concebeu, o arranjo mecânico dos elementos, sustentado pelo decreto inicial, compõe uma totalidade externa cuja finalidade escapa por natureza aos componentes para se transportar inteira para a mente do organizador. O lucro do negociante sugere o lucro da nação. A balança é sua imagem obrigatória. O produto artesanal sugere o produto divino: o relógio, divisor do tempo, a máquina se torna sua representação privilegiada. Equilíbrio, ajuste e adaptação dos meios aos fins se unem no trabalho de montagem que supõe ao mesmo tempo um projeto humano, um plano, um construtor, condicionando uma escolha entre as diferentes séries de objetos manufaturados. Sem dúvida, é por ter apreendido nessas falências a lógica da argumentação, que Hume sugere nos Diálogos, a “fábula de uma repartição de tarefas”. Seus personagens debatem uma série de ideias e argumentos contemporâneos cujos proponentes acreditam que através do qual poderemos vir a conhecer a natureza de Deus. Os artesãos divinos contra os que persistem em considerar a questão da divisão do trabalho como conveniência comandada pela providência, mais do que a solução do problema vital colocado como sobrevivência para a espécie.

Reconhecido pelo padrão de que não há ideias inatas na vida e que todo o conhecimento vem da experiência rigorosamente ao nexo de causalidade e necessidade, David Hume em vez de tomar a noção de causalidade, como concedido, desafia-nos a considerar o que a experiência nos permite saber sobre a relação estabelecida entre causa e efeito, pois nada é mais usual e natural, para aqueles que pretendem oferecer ao mundo novas descobertas filosóficas e científicas que insinuar elogios ao seu próprio sistema. O homem de discernimento e de saber percebe facilmente a fragilidade do fundamento, até mesmo daqueles sistemas bem aceitos e com maiores pretensões de conter raciocínios precisos e profundos. Isto é, alguns princípios acolhidos da confiança; consequências deles deduzidas de maneira defeituosa; falta de coerência entre as partes, e de evidência no todo – tudo isso se pode encontrar nos sistemas dos mais eminentes filósofos, e parece cobrir de opróbrio a própria extensão da filosofia, pois mesmo “a plebe lá fora é capaz de julgar, pelo barulho e vozerio que ouve, que nem tudo vai bem aqui dentro”.  

Neste âmbito tampouco é necessário um conhecimento muito profundo para se descobrir a distância e imperfeição e que de fato, não há nada que não seja objeto de discussão e sobre o qual os estudiosos não manifestam opiniões contrárias. Se por um lado multiplicam-se as disputas, como se tudo fora incerto; e essas disputas são conduzidas da maneira mais acalorada, como se tudo fora certo. É daí que surge na opinião de Hume, o preconceito comum contra todo tipo de raciocínio metafísico. Mesmo por parte daqueles que são doutos e que costumam avaliar de maneira justa todos os outros gêneros da literatura. E realmente nada, a não ser o mais determinado e puro ceticismo, juntamente como um elevado grau de indolência, pode justificar tal aversão à metafísica. Pois se a verdade está ao alcance da capacidade humana, é certo que ela deva esconder em algum lugar muito profundo, e portanto, abstruso. Não por acaso, devemos reunir nossos experimentos mediante a observação cuidadosa da vida em que estamos inseridos. Tomando-os tais aspectos socialmente como aparecem no curso habitual do mundo, no comportamento em suas ocupações e prazeres. E criteriosamente reunidos e comparados, podemos estabelecer, com base neles, uma ciência, que não será inferior em certeza, mas superior em utilidade, a qualquer outra que esteja ao alcance da compreensão humana.

Assim Hume sustenta que nossas ideias são imagens de nossas impressões, assim também podemos formar ideias secundárias, que são imagens das primárias. Não se trata de uma exceção à regra, mas de uma explicação. As ideias produzem as imagens de si mesmas em novas ideias; mas como supomos que as primeiras são derivadas de impressões, continua sendo verdade que todas as nossas ideias simples procedem, mediata ou imediatamente, de suas impressões correspondentes. Esse é o primeiro princípio que Hume estabelece na ciência da natureza humana. Pois cabe notar que a presente questão, a respeito da anterioridade de nossas impressões ou ideias, é a mesma que produziu tanto barulho sob outra formulação, quando se discutiu se haveria ideias inatas, ou se todas as ideias derivam da sensação e da reflexão. A fim de provar que as ideias de extensão e de cor não são inatas, os filósofos nada mais fazem que mostrar que elas são transmitidas por nossos sentidos. Para provar que as ideias de paixão e desejo são inatas, eles observam que experimentamos previamente em nós mesmos essas emoções. A faculdade pela qual repetimos nossas impressões da primeira maneira se chama memória, e a outra, imaginação. Mas se examinarmos cuidadosamente esses argumentos, veremos que eles nada provam, senão que as ideias são precedidas por percepções mais vívidas, das quais derivam e as quais elas representam em sociedade.

Melhor dizendo, que as ideias da memória são muito mais vivas e fortes que as da imaginação, e que a primeira faculdade pinta seus objetos em cores mais distintas que todas as que possam ser usadas pela última. Ao nos lembrarmos de um acontecimento passado, sua ideia invade nossa mente com força, ao passo que, na imaginação, a percepção é fraca e lânguida, e apenas com muita dificuldade pode ser conservada firme e uniforme pela mente durante todo o período considerável de tempo. Temos aqui uma diferença sensível entre as duas espécies de ideias. Mas há uma outra diferença, não menos evidente, entre esses dois tipos de ideias. Embora nem as ideias da memória nem as da imaginação, nem as ideias vívidas nem as fracas possam surgir na mente antes que impressões correspondentes tenham vindo abrir-lhes o caminho, a imaginação não se restringe à mesma ordem na forma das impressões originais, ao passo que a memória está de certa maneira amarrada quanto a esse aspecto, sem nenhum poder de variação. É evidente que a memória preserva a forma originalmente sob a qual seus objetos da imaginação se apresentaram. A principal função da memória não é preservar as ideias simples, mas sua ordem e posição. Esse princípio se apoia em aspectos comuns e vulgares do dia a dia que podemos nos poupar o trabalho de continuar insistindo nele. 

Como a imaginação pode separar todas as ideias simples, e uni-las novamente da forma que bem lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa faculdade, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e lugares. Fossem as ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria; e seria impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em ideias complexas se não houvesse algum laço de união entre elas, alguma qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra. Esse princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre outras coisas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às outras: pois a natureza de alguma forma aponta a cada um de nós as ideias simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades não dão origem a tal associação, e que levam a mente, dessa maneira, de uma ideia a outra relacionalmente, são três, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e causa e efeito. Dois objetos podem ser considerados estando inseridos nessa relação, quando um deles é a causa de qualquer ação ou movimento do outro, seja quando o primeiro é a causa da existência do segundo.

Pois como essa ação ou movimento não é senão o próprio objeto, considerado sob um certo ângulo, e como o objeto continua o mesmo em todas as suas diferentes situações, é fácil imaginar de que forma tal influência dos objetos uns sobre os outros pode conectá-los na imaginação. Podemos prosseguir com esse raciocínio, observando que dois objetos estão conectados pela relação causa e efeito não apenas quando produz um movimento ou uma ação qualquer no outro, no outro, mas também quando tem o poder de os produzir. Notemos que essa é a fonte de todas as relações de interesse e dever através dos quais os homens se influenciam mutuamente na sociedade que se ligam pelos laços de governo e subordinação. Um senhor é aquele que, por sua situação, decorrente quer da força quer de um acordo, tem o poder de dirigir, sob alguns aspectos particulares, as ações de outro homem. Um juiz é aquele que, em todos os casos litigiosos entre membros da sociedade, é capaz de decidir, com sua opinião especializada a quem cabe à posse ou a propriedade de determinado objeto. Quando uma pessoa possui certo poder, nada mais é necessário para convertê-lo em ação que o exercício da vontade; e em todos os casos, é considerável possível, em muitos, provável – no caso da autoridade, em que a obediência do súdito é prazer e uma vantagem para seu superior.

Está claro que, no curso de nosso pensamento social e na constante circulação de nossas ideias, a imaginação passa facilmente de uma ideia a qualquer outra que seja semelhante a ela. Assim como existe o nascimento de uma semiologia e sociologia da celebridade e até mesmo mais recentemente, uma economia da celebridade e tal qualidade, por si só, constitui um vínculo afetivo e uma associação suficiente para a fantasia. É também evidente que, com os sentidos, ao passarem de um objeto a outro, precisam fazê-lo de modo regular, tomando-os sua contiguidade uns em relação aos outros, a imaginação adquire, por um longo costume, o mesmo método de pensamento, e percorre as partes do espaço e do tempo ao conceber seus objetos. Quanto à conexão realizada pela relação de causa e efeito, basta observar que nenhuma relação produz uma conexão mais forte na fantasia e faz com que uma ideia evoque mais prontamente outra ideia que a relação de causa e efeito entre seus objetos. Para compreender toda a extensão dessas relações sociais, devemos considerar que dois objetos estão conectados na imaginação. Não somente quando um deles é imediatamente semelhante ou contíguo ao outro, ou quando é a representação da causa. Mas quando entre eles encontra-se inserido um terceiro objeto, que mantém com ambos notáveis relações. Dentre as três relações mencionadas, a de causalidade comumente é a de maior extensão.

Richard Holm, é um popular diretor, escritor e ator sueco. Os diretores de cinema criam uma visão geralmente de qual filme é realizado. Dar vida a essa visão inclui supervisionar os elementos artísticos e técnicos da produção cinematográfica, bem como dirigir o cronograma de filmagem e cumprir prazos ou datas de entrega. Isso envolve organizar a equipe de filmagem de tal forma que você alcance a visão do filme. São necessárias habilidades de liderança de grupo, bem como a capacidade de manter um nível de escopo singular, no ambiente programático e acelerado de um set de filmagem. É necessário um olhar artístico e esteticamente para enquadramento das tomadas e dar instruções precisas ao elenco e à equipe técnica, portanto, são necessárias excelentes habilidades de comunicação social. Dado que o cineasta depende da cooperação contínua de muitos indivíduos criativos com ideias sociais diferentes e visões multidisciplinares artísticas potencialmente contraditórias, ele também necessita de competências de resolução de conflitos para mediar o necessário. O diretor garante que todos os envolvidos na produção do filme trabalhem para conseguir uma visão idêntica do filme finalizado. O conjunto de diferentes desafios que ele teve que enfrentar foi descrito como “um quebra-cabeça multidimensional com diferentes egos para completar”.  Há uma pressão crescente de que o sucesso de um filme pode influenciar quando e como ele funcionará novamente.

Os limites de dois lançamentos de filmes também estão presentes. Além disso, o diretor pode ter que garantir através da irradiação da troca simbólica com a sociedade que o filme receba uma determinada classificação etária. Teoricamente, o único superior de um diretor é o estúdio que financia o filme. No entanto, uma relação profissional ruim entre um diretor de cinema e um ator pode resultar na substituição do ator pelo diretor ou pela atriz por um ator. estrela de cinema. Da mesma forma, não há dúvida de que o diretor está dedicando mais tempo a um projeto, visto que é um dos dois cargos que exigem participação íntima em cada etapa da produção cinematográfica. Portanto, o cargo de diretor de cinema é amplamente considerado muito estressante e exigente. Foi dito que “dias de trabalho de 20 horas não são incomuns”. De acordo com a legislação da União Europeia, o diretor do filme é considerado o autor ou os dois autores de um filme, em grande parte como resultado da influência de teoria do autor.  A teoria do autor é um conceito de crítica cinematográfica, porque sustenta que o filme de um diretor de cinema reflete a visão criativamente do diretor, como o fosse ou autor principal. Apesar da produção do filme fazer parte de um processo crescentemente de inovação industrial, e às vezes por causa dele, a voz criativa do (s) autor (s) é clara ou suficientemente para brilhar através da interferência do estudo e do processo coletivo amplificado da criação.

  Monte Kiruna (em sueco Kirunavaara), representa uma montanha da província de Lapônia, no extremo Norte da Suécia. É uma região no Norte da Escandinávia, que abrange território de quatro países, a saber: Noruega, Suécia, Finlândia e Federação Russa (península de Kola) e que corresponde à região onde habitam os sámi, tradicionalmente reconhecidos como lapões. Cerca de 80 mil a 100 mil lapões (sámi) vivem numa área de 390 mil km², com suecos, noruegueses, finlandeses e russos. A província mais setentrional da Finlândia é a Lapônia finlandesa. De modo similar, a província sueca mais setentrional é a Lapônia sueca. Antropologicamente é uma das regiões mais procuradas do mundo hodierno no Natal por tradicionalmente ser reconhecida como “a casa do Pai Natal”. O clima é subártico e a vegetação é esparsa no extremo Norte, enquanto no Sul aparece a floresta boreal. A costa Oeste (na Noruega) é montanhosa, mas tem invernos suaves e mais precipitação do que as planícies centrais e orientais. As temperaturas variam entre os 15 °C positivos no verão e os -50 ºC no inverno. É rica em depósitos minerais de valor econômico, particularmente minério de ferro na zona sueca, cobre na norueguesa, e níquel e apatite na zona da Rússia. Renas, lobos, ursos e aves marítimas e terrestres representam a fauna mais comum. A pesca é abundante, tanto fluvial como marítima.

         Descobertas arqueológicas comprovam que a área compreendida como Suécia era povoada durante a chamada Idade da Pedra, quando o gelo resultante da última glaciação recuou. Aparentemente, os primeiros habitantes eram povos caçadores e coletores que viviam da pesca no mar Báltico. Evidências apontam que o Sul da Suécia era densamente povoado durante a Idade do Bronze, pois foram encontradas ruínas de grandes comunidades comerciais. Durante os séculos IX e XI, a chamada Era Viking marcou a à Suécia, com a expansão do comércio local e internacional, a consolidação do poder local e regional, a cristianização e a europeização do país. O núcleo do futuro reino da Suécia, estava na Uppland, onde surgiram as primeiras cidades em Uppsala, Birka e Sigtuna. A expansão comercial e guerreira dos Vikings desse núcleo inicial dirigiu-se em primeiro lugar para o Oriente, na direção dos países bálticos, Rússia e do mar Negro. Em 1389, os três estados escandinavos a Noruega, a Suécia e a Dinamarca estavam unidos sob um único monarca. A União de Kalmar começou como uma união pessoal, não política e quando, no século XV, se tentou centralizar o poder no rei dinamarquês, a Suécia resistiu chegando mesmo a uma rebelião armada. A Suécia separou-se em 1523, quando Gustavo Eriksson, reconhecido mais tarde por Gustavo Vasa (1496-1560), liderou a rebelião contra a União de Kalmar e restabeleceu a Independência da Coroa Sueca.   

No século XVII viu-se a Suécia tornar-se uma das principais potências europeias, devido ao sucesso da participação na Guerra dos 30 anos, iniciada pelo rei Gustavo Adolfo II. Esta posição iria desmoronar-se no século XVIII, quando a Rússia conquistou os reinos da Europa do Norte na Grande Guerra do Norte e, finalmente, quando em 1809 houve a separação da parte oriental da Suécia, criando-se assim a Finlândia, como um grão-ducado russo. Em 1814, a Suécia esteve envolvida na sua última guerra, quando desencadeou a Campanha Contra a Noruega, pela qual estabeleceu uma união pessoal dos reinos separados da Suécia e Noruega, com a designação de Reinos Unidos da Suécia e Noruega. Em 1818, o antigo marechal francês Jean Baptiste Bernadotte foi proclamado rei da Suécia com o nome Karl Johan, iniciando assim a dinastia atual que ainda rege a Suécia. A união Suécia-Noruega acabou por ser dissolvida pacificamente em 1905, e desde então a Suécia tem vivido sem envolvimento em conflitos armados. O país manteve a neutralidade durante a 1ª e a 2ª Guerra Mundial, entre 1914 e 1945, com pequena exceção da Guerra de Inverno na Finlândia. Durante a Guerra Fria e a dissolução da União Soviética, continuou a não se posicionar, só abandonando a neutralidade axiológica após conversão em 2024 no 32º membro da OTAN na sequência da invasão russa da Ucrânia em 2022. A Suécia começou a construir uma democracia liberal moderna. O parlamento foi democratizado em 1866. O voto universal foi concedido aos homens em 1909 e, posteriormente, às mulheres em 1921. A partir dos anos 1940, a economia entrou em poderoso ciclo de desenvolvimentismo. Na década de 1990 uma crise econômica atingiu o país, seguida de um período de recuperação nos começos do século XXI.

Friedrich Hegel que parte da análise da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma dúvida universal que só é própria da reflexão filosófica. Por isso mesmo ele segue o caminho aberto pela consciência e a história detalhada de sua formação. Ou seja, a Fenomenologia (1807) vem a ser de fato uma história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas em definir os sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos diferentes filósofos. Na determinação do sistema, o que o preocupa é a categoria fundamental que determina o todo complexo do sistema, e o assinalamento das diferentes etapas, bem como as vinculasses destas etapas que conduzem à síntese do espírito absoluto. Para compreender o sistema é necessário começar pela representação, que ainda não sendo totalmente exata permite, no entender de sua obra fenomenologicamente a seleção de afirmações e preenchimento do sistema abstrato de interpretação do método dialético, para poder alcançar a transformação da representação socialmente, isto é, no mundo em que vivemos, numa noção clara e exata.

Assim, temos a passagem da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do acúmulo de determinações. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno. Mas a Ideia Absoluta seria uma existência abstrata se a noção de que procede não fosse mais que uma unidade abstrata, e não o que é em realidade, isto é, a noção que, por um giro negativo sobre si mesma, revestiu-se novamente de forma subjetiva. Metodologicamente a determinação mais simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, a faculdade de poder abstrair todas as coisas, até sua própria vida. Chama-se idealidade precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito não se detém apenas per se na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as coisas, enquanto pensamento filosófico, como princípio universalmente, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. Quer dizer, o espírito finito se encontra inicialmente numa união imediata com a natureza, a seguir em oposição com esta e em identidade com esta, porque suprimiu a oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito é a ideia, mas que girou sobre si mesma e que existe por si em sua própria realidade dinâmica.

A Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza, produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois, ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim à Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças, sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto e a realização do espírito consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas de Hegel ocorrem precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à existência na consciência, no espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também isto: trazer à existência, isto é, à consciência. Como consciência em geral tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Enquanto o Eu é o objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: produzir-se, sair fora de si, saber o que ele é. Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é essencialmente razão. O homem, a criança, o culto e o inculto, é razão. A possibilidade existe em cada um, é dada a cada um.

A razão não ajuda em nada a criança, o inculto. É somente uma possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O que o ser em si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade verdadeiramente humana, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que é em si, no interior, podendo manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se. Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo.

Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem: a liberdade. O europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz), quer dizer, a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação, concretamente, é que o que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto quer dizer precisamente evolução. O em si que já não fosse em si seria outra coisa. Por conseguinte, haveria ali uma variação, mudança. Na mudança existe algo que chega a ser outra coisa. Na evolução, em essência, podemos também sem dúvida falar da mudança, mas esta deve ser tal que o outro, o que resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si não seja negado.

Para Friedrich Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no em si, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser por si. O espírito abstrato assim adquire o poder concreto da realização. O concreto é em si diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto (ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência. Porém do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta. É algo concreto, algo distinto. Entretanto contido na unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda. Se o gérmen fosse mudado desgastado, triturado, não poderia evoluir. Na alma, enquanto determinada como indivíduo, as diferenças estão enquanto mudanças que se dão no indivíduo, que é o sujeito uno que nelas persiste enquanto momentos do seu desenvolvimento.

O ponto alto da montanha de Kiruna (Kirunavaara) está a 234 metros acima do vizinho lago de Luossajärvi e a 736 metros acima do nível do mar. No seu interior está um dos maiores jazigos de ferro do Mundo, explorado através da mina de Kiruna pela empresa sueca Luossavaara-Kiirunavaara Aktiebolag (LKAB) uma empresa estatal sueca de extração e processamento de minério de ferro, com instalações em Kiruna, Malmberget e Svappavaara, e com sede em Luleå. Foi fundada em 1890 e tornada estatal em 1976 é a maior empresa da Suécia, sendo responsável por 85% da extração de minério de ferro na União Europeia, e uma das líderes mundiais na produção de minério de ferro. Explora as minas de Kiruna, Malmberget e Svappavaara, assim como fabrica pelotas e finos, dois granulados distintos de ferro concentrado. Todos os portos no mar da Noruega e os do Barents a Nordeste de Murmansk estão livres de gelo no Inverno. O golfo de Bótnia congela habitualmente na estação mais fria. Com uma densidade populacional de 3 a 4 habitantes por km², a Lapônia é escassamente povoada. O povo indígena, os lapões (sami), são de pequena estatura, braquicéfalos e falam um idioma fino-úgrico reconhecido como língua lapã. Na Lapônia os lapões são uma minoria, totalizando, de acordo com o Parlamento Lapônio da Suécia, 70 mil pessoas, algumas das quais ainda nômades.

Antropologicamente a humanidade sempre atravessa estágios em que: a) opressão da individualidade é o ponto de passagem obrigatório de seu livre desabrochar superior, em que a pura exterioridade das condições de vida se torna a escola da interioridade, b) em que a violência simbolicamente da modelagem produz uma acumulação de energia, destinada, em seguida, a gerar toda a especificidade pessoal. Do alto desse ideal abstrato é que, c) a individualidade plenamente desenvolvida, tais períodos parecerão, é claro, grosseiros e indignos. Mas, para dizer a verdade, além de semear os germes positivos do progresso humano vindouro, já é em si uma manifestação do espírito exercendo uma dominação organizadora sobre a matéria-prima das impressões flutuantes, uma aplicação das personalidades especificamente humanas, procurando-as fixar suas normas de vida - do modo mais brutal, exterior ou, mesmo, estúpido que seja -, em vez de recebê-las das simples forças da natureza físicamente externa ao homem. A horda, uma estrutura socialmente e militarmente histórica encontrada na estepe eurasiática “não protege mais a moça e rompe suas relações com ela, porque nenhuma contrapartida foi obtida por sua pessoa”. 

As montanhas arqueologicamente sempre fizeram parte da história humana por se tratarem de obstáculos a serem transpostos em viagens, explorações ou migrações. Até à Idade Média, os homens evitavam os cumes aos quais levantavam rumores e lendas, e em 1387 os magistrados de Lucerna fecharam o monge Niklaus Bruder (1417-1487) e cinco outros religiosos que haviam tentado subir o Monte Pilatus da região. Em 1492, Antoine de Ville escalou o Monte Aiguille, na França, apesar das inúmeras superstições existentes a respeito de seu cume. Em 1744 ocorre a chegada ao cume, chamada pelos montanhistas de “conquista”, do Monte Titlis, nos Alpes berneses; em 1770, a do Monte Buet, no Maciço do Giffre, Alpes Ocidentais, e em 1779 o Monte Vélan, nos Alpes Peninos, é conquistado. O alpinismo moderno, porém, nasceu em 8 de agosto de 1786, quando dois franceses, o médico Michel Paccard e o cristaleiro Jacques Balmat, motivados por um prêmio oferecido por Horace-Bénédict de Saussure (1740-1799), “o fundador do alpinismo”, venceram os 4 810 metros do Monte Branco, na fronteira entre França e Itália. As cotações são notas que definem o grau de dificuldade de cada desafio. Os maiores para alpinismo são as escaladas das montanhas com mais de 8 000 metros de altitude, todas no Himalaia, e das montanhas mais altas dos Alpes, Pirenéus, Andes e Montanhas Rochosas, e as extensas “paredes verticais”, como Torres Trango e Eiger. Há outros desafios importantes, por exemplo, as três grandes vertentes Norte dos Alpes.

O montanhismo não deve ser assim confundido com o alpinismo que exige boa condição física, um equipamento de montanha apropriado, uma técnica de progressão que lhe é própria, e necessita a presença de um guia para escolher o trajeto e assegurar a cordada. O alpinismo toma uma dimensão importante socialmente com os grandes nomes do alpinismo inglês como Edward Whymper (1840-1911), Albert Frederick Mummery (1855-1895), Frederick Gardiner (1850-1919), naquilo que ficou reconhecido como a “idade de ouro do alpinismo”, na passagem do século XIX para XX quando se verifica uma corrida à conquista de montanhas inexploradas. As mais altas perspectivas deveriam abrir-se ao alpinismo depois da conquista do Monte Branco pelo naturalista Horace Bénédict de Saussure (1740-1789) e os seus companheiros em 1786-1787. Assim, em 1868, os ingleses conquistaram os principais picos do Cáucaso. Na cordilheira dos Andes, o Chimborazo (6267 metros) foi vencido em 1880, e o Aconcágua (6959 metros) em 1897. Em 1889 foi conquistado o Kilimanjaro (5895 metros), na África, e o Monte McKinley (6194 metros), no Alasca, em 1913. O Monte Everest, ponto culminante do planeta, com 8848 metros de altitude, foi finalmente conquistado pelo neozelandês Edmund Hillary (1919-2018) e pelo xerpa, Sardar Tenzing Norgay (1914-1986), em 1953, representado pelo que habita a região montanhosa do Himalaia, especialmente a região no Nepal, pelas suas qualidades nativas e o trabalho de guias e carregadores de montanha.

A partir de 1900, o alpinismo começa a desenvolver-se como técnica de desporto de competição, tendo começado como a escalada chamada ainda de artificial. Wilhelm Welzenbach (1899-1934) é o primeiro a atacar-se às cascatas de gelo usando crampons especiais, uma peça formada por um conjunto de picos (pontas) destinados a serem presos à sola da bota do alpinista ou do escalador para permitir a sua progressão, é que ele estabelece uma escala de dificuldades no plano abstrato das vias de ascensão artificiais. Em 1925, escalada a face Norte do Dent d`Hérens, seguido pelo Fiescherhorn e o Weisshorn entre 1930 e 1933. A ascensão da face Norte do Cervin em 1931 inaugura a série dos últimos grandes desafios. Em 1938 Anderl Heckmair e Ludwig Vörg conquistam com Fritz Kasparek (1910-1954) e Heinrich Harrer (1912-2006) a face Norte do Eiger. Em 1978, a União Internacional das Associações de Alpinismo junta cinco graus na escala das dificuldades, a “cotação de montanha”, criadas por Wilhelm Welzenbach em 1947. Entre 1950 e 1964, “os 8000” do Himalaia foram todos conquistados devido a verdadeiras expedições. A que foi conduzida pelo suíço Albert Eggler foi a segunda a atingir o cume do monte Everest, logo depois da expedição de Edmund Hillary (1919-2008) e Tenzing Norgay a 29 de maio de 1953, e a primeira ascensão do Lhotse em 1956. É a quarta montanha mais alta, possuindo interessante ligação com o monte Everest pela coluna Sul. Dada a proximidade com o Everest, tem um baixo valor de proeminência topográfica (610 metros) e de isolamento (2, 42 km).

Até outubro de 2003 haviam subido ao topo do Lhotse, a quarta montanha mais alta do mundo, 243 alpinistas, sendo que 11 de forma letalmente. Em 1960, os alpinistas realizaram sob direção de Max Eiselin a primeira expedição do Dhaulagiri. Depois do tirolês Reinhold Messner e o polaco Jerzy Kukuczka (1948-1989), o suíço Erhard Loretan (1959-2011) conquista por sua vez os 14 cumes com mais de 8000 metros de altitude. O flanco ocidental do Lhotse é conhecido como a face de Lhotse. Todos os alpinistas que vão pela coluna Sul do Everest devem escalar esta parede de 1125 metros constituída de gelo glacial. Esta face levanta-se em declives de 40 e 50 graus com protuberâncias ocasionais de 80 graus. Os primeiros alpinistas a atingirem o seu cume foram os suíços chefiados por Albert Eggler em 18 de maio de 1956. O primeiro português a atingir o seu cume foi João Garcia, em 21 de maio de 2005, sem recurso a oxigénio artificial. A sua equipa também integrava o alpinista português Hélder Santos, que devido a intoxicação alimentar foi forçado a descer previamente. Em 1978, a União Internacional das Associações de Alpinismo juntou cinco graus na escala normalizada das dificuldades técnicas criadas por Wilhelm Welzenbach em 1947, e que historicamente na origem de escala numérica só contava seis. A temporada de escalada ao monte Everest já registrou ao menos onze mortes em 2019. A elevada letalidade verificada nesta temporada não está relacionada apenas às condições extremas, típicas para uma montanha com mais de 8 mil metros. A combinação do excesso de alpinistas com o despreparo, de boa parte deles, pode dar pistas para tamanha catástrofe de ordem humana sobre desastres naturais. 

Os indivíduos vivem em relações sociais de cooperação, mas também de oposição, portanto, os conflitos são parte mesma da constituição da sociedade. É neste sentido que formam momentos de crise, um intervalo entre dois momentos de harmonia, vistos numa função positiva de superação das divergências. Fundamenta uma episteme em torno da ideia de movimento, da relação, da pluralidade, da inexorabilidade do conhecimento, de seu caráter construtivista, cuja dimensão social central realça o fugidio, o fragmento e o imprevisto. Por isso, seu panteísmo estético, ancorado sob inúmeras formas paradoxais de interpretação real, como episteme, no qual se entende que cada ponto, cada fragmento superficial e, portanto, fugaz é passível de significado estético absoluto, de compreender o sentido totalmente, e ipso facto, os traços significativos, do fragmento à totalidade. O significado sociológico do “conflito” social, em princípio, nunca foi contestado. Conflito é admitido por causar ou modificar grupos de interesse, unificações, organizações. Os fatores de sociais de dissociação entre pessoas e grupos, relativamente como o ódio, a inveja, a necessidade, o desejo, são as causas tanto sociais quanto psíquicas da condenação, que irrompe em função deles. Conflito é destinado a resolver dualismos divergentes, a maneira de obter um tipo de unidade social, que seja através da aniquilação de uma das partes em litígio.

A Suécia é uma monarquia constitucional parlamentarista, em que o chefe de Estado é um monarca, com poderes e funções meramente oficiais e cerimoniais. O atual rei é Carlos XVI Gustav da Suécia desde 1973. Foi o único filho homem do príncipe Gustavo Adolfo, Duque da Bótnia Ocidental, e sua esposa, a princesa Sibila de Saxe-Coburgo-Gota. Seu pai morreu quando ele tinha menos de um ano de idade, fazendo de Carlos Gustavo o herdeiro e depois sucessor de seu avô, o rei Gustavo VI Adolfo. Sua herdeira aparente é a princesa Vitória, Princesa Herdeira da Suécia, a sua primeira filha com a sua esposa, a rainha consorte Sílvia Sommerlath. Vitória ascendeu a princesa herdeira, passando à frente de seu irmão Carlos Filipe, Duque da Varmlândia, em 1º de janeiro de 1980, depois de aprovada uma nova lei estabelecendo a primogenitura absoluta. A herdeira sueca atual é a princesa Vitória, Princesa Herdeira da Suécia, a primogênita do rei, é a primeira na linha de sucessão ao trono sueco. A governação do país é efetuada pelo governo, liderado pelo primeiro-ministro, e respondendo politicamente perante o parlamento. O atual primeiro-ministro é Kjell Stefan Löfven do Partido Social-Democrata, desde 3 de outubro de 2014. O Governo Löfven é uma coligação do Partido Social-Democrata com o Partido Verde. Entre o começo de 2012 e o fim de 2014, ele foi o representante político líder da oposição e líder do seu partido. Após as eleições gerais de 2014, ele foi nomeado primeiro-ministro, extraordinariamente liderando um governo de coalizão minoritária com o Partido Verde.

Foi confirmado para um segundo mandato em 18 de janeiro de 2019 após longas negociações depois da inconclusiva eleição de 2018, com o impasse resultante resolvido devido à abstenção dos membros do Partido do Centro, do Partido de Esquerda e dos Liberais. Stefan Löfven nasceu em Estocolmo, mas foi adotado por uma família de trabalhadores humildes em Sollefteå. Aos 13 anos, funda a associação local da Juventude Social-Democrata Sueca (SSU). Depois de ter feito um curso de dois anos do Ensino Médio, Löfven estudou Serviço Social na Universidade de Umeå, tendo abandonado os estudos depois de um ano e meio. Em seguida fez um curso prático de soldadura de 48 semanas em Kramfors. Depois de ter trabalhado nos correios e numa serração, Löfven esteve empregado como soldador numa empresa de fabrico de material de guerra em Örnsköldsvik entre 1979 e 1995. Foi ativo no poderoso Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (IF Metall), um dos maiores sindicatos do país, e importante organização do movimento operário social-democrata na Suécia, tendo sido presidente no período 2006-2012, eleito líder dos Social-Democratas, numa conferência interna da direção do partido. Em outubro de 2014, tomou posse como Primeiro-Ministro do Governo Löfven.

Os Sociais-Democratas, saíram vitoriosos nas eleições gerais de 2014 na Suécia, conquistando 31% dos votos. Löfven anunciou que pretendia formar uma coligação governamental com o Partido Verde, e ter uma colaboração pontual com outros partidos, tendo indicado à esquerda o Partido da Esquerda, e à direita o Partido do Centro e o Partido Liberal. Igualmente, tencionava manter alguns amplos acordos parlamentares, incluindo os conservadores Partido Moderado e Partido Democrata-Cristão. Apesar de o Governo Löfven ter sido aprovado pelo Parlamento, a proposta de Orçamento do Estado foi vencida pela proposta da oposição pela aliança política de centro-direita e viabilizada pelo Partido dos Democratas Suecos de extrema-direita, tendo Stefan Löfven convocado novas eleições para março do ano seguinte. O país tem pouco mais de 10 milhões de habitantes. Trata-se de uma história baseada em fatos reais, apresentando um ótimo enredo. A trama gira em torno do caos que uma catástrofe pode causar numa cidade e em seus habitantes. O drama familiar faz parte, mas, o background é o desastre. O filme cumpre o objetivo e retrata bem o que pode acontecer numa situação análoga e realmente. A Mina de Kiruna (em Kirunagruvan) é uma mina de ferro, localizada na proximidade da cidade de Kiruna, na província da Lapônia, no Norte da Suécia.

É a maior mina subterrânea de minério de ferro do Mundo, situada a 145 km ao Norte do Círculo Polar Ártico, na montanha de Kiirunavaara, imediatamente a Sudoeste da cidade de Kiruna. O filão de minério tem 4 km de comprimento e 85 metros de largura, e está colocado numa posição íngreme, até pelo menos 2000 metros de profundidade. Tem um teor muito rico em ferro – magnetita e hematita – assim como em algum fósforo. O Círculo Polar Ártico passa através do Oceano Ártico, a península escandinava, Norte da Ásia, América do Norte e da Groenlândia. As terras sobre o Círculo Polar Ártico estão divididas entre os oito países: Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia, Estados Unidos da América, Canadá, Dinamarca (Groenlândia) e Islândia. Astronomicamente denominam-se com base em pesquisas, círculos polares as linhas definidas pelos pontos de interseção entre a superfície da esfera planetária (em questão a terrestre) e uma reta imaginária que passe pelo centro do planeta de forma a posicionar-se sempre perpendicular ao plano eclíptico, provida no mínimo uma rotação completa do planeta ou um dia sideral. Por simetria justapõem-se a dois dos paralelos geográficos do planeta. Ao paralelo selecionado no hemisfério Norte dá-se o nome de Círculo Polar Ártico, e ao paralelo no hemisfério Sul dá-se o nome de Círculo Polar Antártico.  

Nas regiões entre os dois círculos polares verifica-se sempre um nascer e um ocaso da estrela central (o Sol no caso da Terra) a cada dia. Sobre cada um dos círculos polares, em uma data do ano não se verifica o nascer, e em outra não se verifica o poente da estrela, havendo, pois, um dia sem iluminação e outro sem umbra ao longo do ano. Para regiões entre cada um dos círculos polares e seu respectivo polo, quanto mais junta ao polo, maior o número de dias consecutivos sob iluminação contínua (sem ocaso) e maior o número de dias sob umbra contínua (sem o amanhecer), verificando-se o extremo para tais períodos justamente nos polos. O Círculo Polar Ártico terrestre corresponde ao paralelo da latitude 66º 33’ 44” (ou 66,5622°) Norte. Define uma linha imaginária no planeta, mas dialeticamente ao Norte da qual há pelo menos um dia de noite absoluta (24 horas de escuridão) no inverno e pelo menos um dia de luz absoluta (24 horas de Sol) no verão boreal (Sol da meia-noite) por ano. Aí há um dia por ano no qual o Sol não aparece, ficando, porém, na fímbria do horizonte. Daí para o Norte, ocorrem gradativamente mais dias sem que o sol apareça, até que no Polo Norte, durante seis meses, o Sol não aparece.

As áreas localizadas na proximidade deste paralelo e a Sul da latitude 70° N são de clima subártico ou subártico oceânico, passando praticamente o quase ano todo com temperaturas abaixo do ponto de congelamento. Nestas latitudes, a amplitude térmica anual é geralmente superior aos 30 °C, variando de vários graus abaixo de zero durante o inverno boreal, a até poucos graus acima de zero no verão boreal. Tanto que durante o inverno o Mar Glacial Ártico costuma congelar, formando “uma calota de gelo durante a longa noite fria, que na latitude 90º N pode durar até seis meses”. As principais áreas pelas quais passa o Círculo Polar Ártico são o estado norte-americano do Alasca, o Norte do Canadá, o Sul da Groenlândia, o extremo Norte da Islândia (ilha de Grímsey), o Norte da Escandinávia e o Norte da Rússia. Os Círculos Polares movem-se, estimando-se em cerca de 15 metros no decorrer do ano no sentido da redução. A área a Norte do Círculo Polar Ártico é escassamente habitada. As maiores cidades são Murmansk (Rússia, população de 325 100), Norilsk (Rússia, população de 135 000), Tromsø (Noruega, população de 62 000) e Rovaniemi (Finlândia, população de 59 000).

O isolamento de seus territórios asiáticos foi o motivo pelo qual São Petersburgo (então sede do governo) se assustou quando, no verão de 1890, soube dos planos da China de construir uma ferrovia rumo à periferia do Extremo Oriente russo. A China, com a ajuda de engenheiros ingleses, começou a criar a estrutura de sua ferrovia de Pequim ao Norte, à Manchúria e à cidade de Hunchun, localizada na junção de três países: China, Rússia e Coreia, a apenas 100 km de Vladivostok. Na época, a China tinha uma população estimada em 400 milhões de habitantes, e as regiões russas que fazem fronteira com o país contavam com uma população de menos de dois milhões. Foi então que, em agosto de 1890, o ministro do Exterior do Império Russo, Nikolai Girs, declarou que a construção da Ferrovia Transiberiana era “de suma importância”. Ele foi um dos arquitetos da Aliança Franco-Russa, que mais tarde foi transformada na Triple Entente. Ele promoveu uma imagem da Rússia como um parceiro pacífico para lidar com situações diplomáticas complexas e perigosas, mas a maior parte do crédito público foi para o czar. Alexander. O cenário geopolítico acabou se sobrepondo aos receios financeiros, e Aleksandr III (1845-1894) instruiu o príncipe herdeiro, Nikolai, a supervisionar a construção em Vladivostok e do “Grande Caminho Siberiano”, como a Ferrovia Transiberiana, era então chamada, começou em 31 de maio de 1891.

Até 1890, a porção europeia da Rússia dispunha de uma rede ferroviária que se estendia quase 30.000 km, fruto de uma parceria público-privada. Enquanto isso, a leste dos montes Urais, que separam a Europa da Ásia, não havia um quilômetro sequer de vias férreas, embora o tzar Aleksandr III houvesse dado aval para sua construção. Em 1886, o imperador lamentou que o governo ainda não tivesse feito nada praticamente “para atender às necessidades dessa região rica, porém fronteiriça”. A ideia de um projeto ferroviário de Moscou até o Oceano Pacífico parecia utópica. Se a construção de 650 quilômetros da ferrovia São Petersburgo-Moscou (aberta em 1851) tinha custado 67 milhões de rublos – quando o governo tinha um orçamento anual de 200 milhões de rublos –, para ligar Moscou a Vladivostok custaria, pelo menos, cinco vezes mais: 330 milhões de rublos. Além disso, sabemos que a Guerra da Crimeia (1853-1856) havia drenado muitos recursos econômicos, e os cofres públicos estavam quase vazios. Outro fator que assustava o governo era o fato de que a Transiberiana deveria ser construída através de regiões quase despovoada da Sibéria, atravessando centenas de rios, tanto pequena como grandes. Os burocratas responderam a Aleksandr 3º que as obras eram inviáveis. Ninguém imaginava que dentro de poucos anos chegaria uma notícia para compensar o medo dos custos econômicos exorbitantes: em julho de 1890, soube-se que a poderosa política da China havia iniciado a construção de uma ferrovia à periferia do Extremo Oriente russo.

A ferrovia Transiberiana é uma das mais antigas estradas de ferro do mundo. O principal trecho da ferrovia com extensão de 7500 km, que vai da cidade de Tcheliábinsk a Vladivostok, foi construído entre 1891 e 1916. O transporte direto de passageiros entre Moscou e Vladivostok só teve início após a conclusão da construção da ponte sobre o rio Amur, junto à cidade de Khabárovsk, no ano de 1916. Antes disso, para percorrer o mesmo trajeto, eram utilizados trechos da estrada de ferro Chinesa-Oriental e a viagem em um único sentido prolongava-se por 16 dias. A construção de uma ferrovia de tais dimensões foi realmente um evento importantíssimo para o Império Russo. Prova disso é o fato de que o príncipe Nikolái Aleksándrovitch, por incumbência do tzar Aleksandr III, esteve presente na missa celebrada para o lançamento das bases da ferrovia. A ideia de uma ferrovia na região foi concebida no século XIX, como alternativa para desbravar e desenvolver economicamente as longas distâncias daquele território de dimensões continentais com mais de 17 milhões de km², considerado o maior país do mundo. Para se ter uma ideia de planejamento econômico que o governo russo tinha para ver aquelas linhas férreas em funcionamento, a cada ano eram acrescentados mil km de trilhos, cujo auge das obras otimizadas no período de 1895 a 1896 contou com a capacidade da força de trabalho em torno de 84 mil trabalhadores (cf. Marks, 1991; Chapman, 2001).

Outros lapões vivem permanentemente em aldeias dispersas pela costa e fiordes, vales ou lagos onde a pesca é possível. A maior parte dos lapões vive a maior parte do ano na Noruega (40 000). Segundo a cultura originária do Norte da Europa, a Lapônia é a terra onde habita Joulupukki (Papai Noel) e todo o séquito de duendes. Segundo a mesma cultura, o Pai Natal sai da Lapónia na noite de 24 de dezembro, véspera de Natal, com o seu trenó puxado por renas com presentes que os distribui a todas as crianças do mundo que se comportaram bem durante o ano. O solo da Lapônia, com cerca de 2,5 mil milhões de anos, era constituído basicamente por granito. Foi coberta com inúmeras camadas de gelo durante a última era glacial. O período mais gelado foi há cerca de 20 mil anos e o gelo começou a derreter há 10 mil anos. Cerca de mil anos mais tarde a Lapónia passou a ter neve apenas durante os meses de Inverno. Os primeiros a habitarem a Lapónia fizeram-no há oito mil anos. Os “lapões” chegaram há quatro mil anos e com uma economia baseada na caça. Assim continuaram até ao século XVI quando se iniciou o pastoreio de renas. Época que o Cristianismo chegou à Lapônia. A agricultura teve o início no século XIX, e até ao início do século XX não havia estradas nela. O transporte era feito por renas no inverno e por barcos ou a cavalo no verão.

A Lapônia é reconhecida turisticamente pelo Sol da meia noite no Verão e pela Aurora boreal no Inverno, pela tradição de aí residir o Papai Noel e as suas renas, pelos fiordes na costa ocidental, pela pesca do bacalhau e do salmão, e pelas montanhas e florestas a perder de vista. A vegetação é basicamente formada por coníferas na Zona Sul. A fauna principal compreende alces, renas, águias, falcões, ursos, lobos, peixes diversos. A Aurora Boreal é o fenômeno naturalmente mais magnífico da Lapônia. São partículas oriundas do Sol, que geram o chamado “vento solar”, que ao carregarem os elétrons dos átomos de oxigênio e azoto da atmosfera geram efeitos coloridos. Para uma melhor observação, o céu deve estar limpo, sem nuvens, e será mais visível em noites de Lua Nova, a meio do inverno. Outro fenômeno natural é o Sol da Meia Noite. Devido à inclinação do eixo da Terra em relação ao eixo do Sol, a Lapônia, a norte do Círculo Polar Ártico passa até três meses no Inverno sem que haja claridade e até três meses durante o Verão sem que haja noite. As cores no céu transformam-se rapidamente. É de uma beleza fascinante e encantadora. Existe uma tradição popular que acredita que o norte da Finlândia, em Rovaniemi, é o abrigo oficial do Papai Noel por estar inserido exatamente no Círculo Polar Ártico, o que faz a região ser uma das maiores atrações turísticas do mundo na época das festas natalinas. A coloração das folhas das árvores no outono da Lapônia varia entre o vermelho, o amarelo, o laranja e o violeta. Esta coloração tem início no fim de agosto e até meados de setembro, quando então algumas árvores chegam a ter folhas em tons de marrom (castanho). É em função extraordinária do tamanho da noite e não pela temperatura do final do Verão que as cores se definem.

Os quatro grandes mamíferos predadores da Lapônia são o urso, o lobo, o lince e  o glutão. As lebres são muito comuns e podem ser vistas nas proximidades das casas. Martas e lontras são encontradas próximas às margens dos rios e com uma população estável, enquanto a dos esquilos varia de acordo com o número de sementes das coníferas, e as raposas vermelhas multiplicaram-se muito rapidamente e tornaram-se uma grande preocupação para as suas presas, enquanto comparativamente as raposas do Ártico estão ameaçadas de extinção. Outros grandes mamíferos são as renas e alces, habitualmente encontrados próximos dos rios. Existem castores, veados, ratos-almiscarados e as martas, fugitivas das fazendas de criação. Há uma grande quantidade de lemingues, pequenos roedores da família dos Murídeos que se abrigam sob a neve durante o inverno. Entre os mamíferos marinhos, as focas e as baleias são as mais facilmente encontradas. Nesta região são característicos o salmão, o bacalhau e a truta, mas muitos outros são os peixes encontrados. Mais de cinco espécies de pescada, lúcio, perca e outros. No rio Tana, na Finlândia, são pescados anualmente de 100 a 150 toneladas de salmão, com os maiores exemplares chegando a pesar 30 kg quando atingem os cinco ou seis anos de idade. O fiorde Porsanger transforma-se, na Primavera, num “santuário”, na falta de melhor expressão, com 350 mil unidades de aves migratórias, sendo que algumas estão de passagem, para se alimentarem e descansar, para depois seguir em direção ao Ártico, outras para a Groenlândia, outras ficam por ali nidificando, é um espetáculo diário a observação dos pássaros, neste fiorde localizado no extremo norte da Noruega. No Verão, entre junho e agosto, a temperatura é corre agradavelmente e os dias são lindos.

O solo da Lapônia, com cerca de 2,5 mil milhões de anos, era constituído basicamente por granito. Foi coberta com inúmeras camadas de gelo durante a última Era glacial. O período mais gelado foi há cerca de 20 mil anos e o gelo começou a derreter há 10 mil anos. Cerca de mil anos mais tarde a Lapónia passou a ter neve apenas durante os meses de Inverno. Os primeiros a habitarem a Lapônia fizeram-no há oito mil anos. Os “lapões” chegaram há quatro mil anos e com uma economia baseada na caça. Assim continuaram até ao século XVI quando se iniciou o pastoreio de renas. Foi nesta época que o Cristianismo chegou à Lapônia. A agricultura teve o seu início apenas no século XIX, e até ao início do século XX não havia estradas nesta região. O transporte era feito por renas no inverno e por barcos ou a cavalo no verão. O solo da Lapônia, com cerca de 2,5 mil milhões de anos de idade, e constituído basicamente de granito, foi coberto com inúmeras camadas de gelo durante a última Era glacial. O período mais gelado há cerca de 20 mil anos e o gelo começou a derreter há 10 mil anos. Cerca de mil anos mais tarde a Lapônia passou a ter neve apenas durante os meses de inverno. Os primeiros a habitarem a Lapônia fizeram-no há oito mil anos. Os lapões chegaram há quatro mil anos e com uma economia baseada na caça. Assim continuaram até ao século XVI quando se iniciou o pastoreio de renas. Foi nesta época que o Cristianismo chegou à Lapônia. A agricultura teve o seu início apenas no século XIX, e até ao início do século XX não havia estradas nesta região. O transporte era feito por renas no inverno e por barcos ou a cavalo no verão.

Bibliografia Geral Consultada.

DELBEÈ, Anne, Une Femme. Paris: Presses de la Renaissance,1982; BERGSON, Henri, O Pensamento e o Movente. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Editor Abril Cultural, 1984; MARKS, Steven Gary, Road to Power: The Trans-Siberian Railroad and the Colonization of Asian Russia, 1850–1917. Londres: IB Tauris Editora, 1991; HAZBÚN, Rosa Urrutia de; LAZCANO, Carlos Lanza, Catástrofes en Chile 1541-1992. Santiago: Editorial La Noria, 1993; RAFFESTIN, Claude, Por Uma Geografia do Poder. São Paulo: Editora Ática, 1993; TAYLOR, Charles, As Fontes do Self: A Construção da Identidade Contemporânea. São Paulo: Edições Loyola, 1997; DURAND, Gilbert, As Estruturas Antropológicas do Imaginário. Introdução à Arquetipologia Geral. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997; CHAPMAN, Tim, Imperial Rússia: 1801-1905. London: Routledge Editor, 2001; MELO, Rogério Silva, Os Jogos das Paixões Ordinárias nas Emoções Ascensionais – O Imaginário Social dos Escaladores. Tese de Doutorado em Educação Física. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 2006; PEREIRA, Dimitri Wuo, Escalada. 1ª edição. São Paulo: Odysseas Editora, 2007; BRITO, Altair Gomes, As Montanhas e suas Representações Através dos Tempos: Buscando Significados. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Setor de Ciências da Terra. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2008; DESROSIERS, Sophie, “André Leroi-Gourhan et les Textiles”. In: Cahier des Thèmes Transversaux ArScAn, 2009, IX, pp.31-35; HUME, David, Tratado da Natureza Humana. Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais. 2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 2009; FERREIRA, Jorge, Da Sismicidade à Ciência dos Sismos: Para a História da Sismologia em Portugal. Tese de Doutorado em História e Filosofia da Ciência. Évora: Universidade de Évora, 2014; TEIXEIRA, Antônio Alder, Estratégias Narrativas na Filmografia de Ingmar Bergman: O Diálogo entre o Clássico e o Moderno. Tese de Doutorado. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2014; STEIN, Murray, Jung e o Caminho da Individuação - Uma Introdução. São Paulo: Editora Cultrix, 2020; MONTEBELLO, Pierre, Nietzsche - O Mundo da Terra. São Paulo: Editora Unesp, 2021; SILVA, Yolanda Maria da, Imaginário na Trilogia Fronteiras do Universo de Philip Pullman. Tese de Doutorado em Literatura e Interculturalidade. Centro de Educação. Departamento de Letras e Artes. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba, 2023; entre outros.