quinta-feira, 18 de julho de 2024

Noite de Lobos – Cinema, Possessividade Versus Docilidade do Corpo.

                                                               Todo homem é uno quanto ao corpo, mas não quanto à alma”. Hermann Hesse

          O Alasca é o Estado mais setentrional e ocidental dos Estados Unidos da América. É também considerado por alguns como o estado mais oriental do país, uma vez que duas das ilhas do Arquipélago dos Aleutas estão localizadas no Hemisfério Oriental. A maior parte da população do estado vive na região Sul e Sudeste do Estado, sendo que muito do Alasca é escassamente povoado. Por causa disso, o seu cognome oficial é The Last Frontier (“A Última Fronteira”). O Alasca é, em sua maior parte, uma península e faz fronteira exclusivamente com o Canadá, através do território de Yukon e da província de Colúmbia Britânica. É um dos dois estados norte-americanos que não fazem parte da área contínua dos Estados Unidos, os 48 estados contíguos localizados entre o Canadá e o México. O segundo estado é o Havaí. O nome Alasca provém da palavra Alakshak, que significa “grande terra” ou “grande península” em aleúte, um idioma esquimo-aleutiano falado em partes do seu território; essa palavra foi depois traduzida em russo Аляска para acabar na língua inglesa. O Alasca foi comprado do Império Russo em 1867, graças à insistência do Secretário de Estado dos Estados Unidos, William Henry Seward de 1861 a 1869. Anteriormente foi governador de Nova Iorque entre 1839 e 1842 e senador pelo mesmo estado de 1849 a 1861, por 7,2 milhões de dólares. À época, Seward foi criticado por políticos e ridicularizado pela população norte-americana pela sua decisão, uma vez que boa parte dos indivíduos acreditava então que o Alasca não passava de uma região “coberta de gelo imprestável e que só servia para morada de ursos”. Porém, descobertas de grandes reservas de recursos naturais, inclusive o chamado Ouro Negro, desde então atraíram milhares de pessoas à região. Em 3 de Janeiro de 1959, o território foi elevado à categoria de Estado, tornando-se o 49º estado norte-americano. 

         Dois grupos distintos de nativos americanos viviam na região milhares de anos anteriormente à chegada invasora dos primeiros europeus. Os Athabaskan, os Haida, os Tingit e os Tsimshian, que viviam ao longo do Leste e do Sul do atualmente Alasca, enquanto diversas tribos Inuit viviam no Norte e no Oeste do Alasca e tribos aleútes viviam nas ilhas Aleutas. Os Inuites e os Aleutas são popularmente reconhecidos como esquimós. Em 1728, o dinamarquês Vitus Bering, comandando uma expedição russa, navegou no estreito que atualmente possui seu nome. Por causa de névoa pesada, Bering e sua tripulação foram incapazes de ver o Alasca. Porém, em 1741, Bering em outra expedição russa avistou e desembarcou em algumas das ilhas do arquipélago dos Aleutas. O primeiro assentamento europeu no Alasca foi fundado em 1784, pelo russo Grigory Shelekov, na ilha de Kodiak. Nas décadas seguintes, consolidou-se o controle russo sobre a região. A guerra da Crimeia, que ocorrera entre 1853 e 1856, debilitou muito a economia da Rússia. O então secretário de Estado estadunidense, William H. Seward, propôs a compra do Alasca. Muitos estadunidenses, entre eles vários políticos, eram contra esta compra, por acharem que esta região era imprestável. Tais críticos apelidaram o Alasca de “disparate de Seward”. O Congresso dos Estados Unidos acabou por aprovar a sua primeira compra territoral em 1867. Em 30 de março do mesmo ano, os Estados Unidos compraram o Alasca por 7 200 000 de dólares, ou cinco centavos por hectare. Em 18 de outubro, a bandeira norte-americana foi içada pela primeira vez no Alasca, que se tornou um território nacional dos Estados Unidos da América.

       Numa primeira aproximação abstrata, da leitura, inferimos a questão clássica, sua pretensa inesgotabilidade hic et nunc da utilidade de uso da  palavra Leviatã no Velho Testamento da Bíblia, no Livro de Jó, para descrever uma criatura mitológica que se assemelharia a um grande polvo ou uma grande baleia, e que na obra O Leviatã, de Thomas Hobbes, é utilizado para simbolizar o poder do Estado (autoridade), que segundo o filósofo seria a única maneira de superar o “estado da natureza” do homem, governado pelo egoísmo e pela insatisfação humana. Daí a sentença: “Homo homini lúpus”, criada por Plauto (254-184) em sua obra: Asinaria. No texto se diz exatamente: “Lupus est homo homini non homo”, popularizada por Hobbes no século XVII, na qual ele retrata a natureza competitiva do ser humano (cf. Macpherson, 1979). O desejo que torna o homem corruptível é imutável, e aparece quando o homem se sente livre do Leviatã. A prudência é uma presunção do futuro baseada numa experiência do passado. Existe presunção de que as coisas do passado derivem de outras coisas, mas passadas também. O “bellum omnium contra omnes” representa, a disputa pelo poder no mundo, em que a análise de Hobbes (cf. Ribeiro, 2003) sobre esse “estado-natural animalesco”, poderia ser resolvido dentro das fronteiras de um governo soberano. O dilema na modernidade contemporaneamente é que, com o distanciamento histórico da concepção de teoria não previa a luta supranacional, quer dizer, ultrapassando os limites imaginários individuais e coletivos e inclusive físicamente do corpo humano.

                                                  

        Hermann Karl Hesse nasceu em Calw, Alemanha, no dia 2 de julho de 1877. Descendente de uma família de missionários pietistas (cf. Weber, O Pietismo, 2003: 70-75), lembrando que “historicamente, a doutrina da predestinação é também o ponto de aprtida do movimento ascético conhecido como pietismo”, desde cedo foi preparado para seguir o caminho da liturgia. Em 1881, quando ele estava com quatro anos a família mudou-se para a Basileia, na Suíça, onde permaneceu por seis anos. De volta a Calw frequentou a Escola em Göppingen. Em 1891 entrou para o Seminário Teológico da Abadia de Maulbronn. Durante sua permanência no Seminário escreveu algumas peças de teatro em Latim, que apresentava junto com alguns colegas. As cartas (cf. Hesse,1982) que enviava aos pais eram em forma de rimas e muitas em Latim. Redigiu ensaios e traduziu poesia grega clássica para o alemão. Desconfiando da formação na religião, as dúvidas, anseios e aflições, demonstrava-se um jovem rebelde. Depois de sete meses fugiu do Seminário, sendo encontrado depois de alguns dias perambulando pelo campo, confuso e transtornado. Começou uma jornada através de Instituições e Escolas. Atravessou intensos conflitos familiares com os pais. Após o tratamento, em 1893 concluiu sua escolaridade. Aspirava ser poeta, mas começou um aprendizado em uma fábrica de relógios em Calw. Em 1895 começou aprendizado em uma livraria em Tübingen. Em 1899, publicou seus primeiros trabalhos: Romantische Lieder e Eine Stunde Hinter Mitternacht. Em seguida publicou Poemas (1902) e Peter Camenzind (1904), em que narra a vida de um jovem que se rebela contra o sistema educacional na aldeia natal. Do êxito de Peter Camenzind, casa-se com a fotógrafa Maria Bernoulli, compra propriedade em Gaienhofen, às margens do Lago de Constanza, entre a Alemanha e Suíça, e passa a se dedicar à literatura.

Em 1906 publicou Debaixo das Rodas, onde critica severamente a educação que se concentra apenas no desempenho acadêmico dos alunos. Na obra literária há também elementos autobiográficos. Em Gertrudes (1910), uma novela escrita na primeira pessoa, narra os infortúnios de uma dolorosa experiência de amor.  Entre 1905-1911 nasceram seus três filhos. Em 1911, pretendendo se aprofundar no estudo de religiões orientais, viaja para a Índia mantendo contato com a espiritualidade e a cultura dos antigos hindus, temas que exerceram grande influência em suas obras. A viagem se estende até a Indonésia e a China. Nesse período, Maria Bernoulli é internada em um hospital psiquiátrico e os três filhos são entregues à tutela de parentes e amigos. Em 1912, Hesse deixa sua propriedade e muda-se para Berna, na Suíça. Em 1913 publicou Rosshalde, romance no qual fala do fracasso do casamento de um casal de artistas. A obra traz marcantes traços biográficos. Com o violento início da 1ª guerra mundial (1914-18) escreveu denúncias contra o militarismo e nacionalismo, engajando-se em projetos e serviços humanitários. Um de seus trabalhos foi a criação de um grupo que se ocupava com a remessa de livros para presos em campo de concentração. Em 1919 publicou O Regresso de Zaratustra dirigido aos jovens em formação. Muda-se para Montagnola, no Tessino. Publica Demian, escrita em meio a profunda depressão e influenciada por JB Lang, discípulo de Carl Jung, onde descreve a busca do indivíduo pela realização interior e autoconhecimento. Faz amizade com a cantora Ruth Wenger (1897-1994), com quem se casa em 1924, mas o casamento durou 3 anos. 

Hermann Karl Hesse foi um laureado escritor alemão. Em 1923 se naturalizou suíço. Em 1946, recebeu o Prêmio Goethe. Logo depois o Prêmio Nobel de Literatura “por seus escritos inspirados que, enquanto crescem em audácia e penetração, exemplificam os ideais humanitários clássicos e as altas qualidades de estilo”. Nascido em uma família religiosa, filho de pais missionários protestantes pietistas, como é típico da Suábia, uma região cultural, histórica e linguística do sudoeste da Alemanha. Seu nome deriva do Ducado da Suábia (915–1313), um dos ducados raiz que configuravam o território da Alemannia, cujos habitantes eram indiscriminadamente chamados alemanni ou suebi. E o dialeto para eles é língua padrão. O dialeto falado em partes de Baden-Württemberg e da Baviera é usado por ampla parte da população e tem variantes regionais. Comparativamente as diferenças entre o suábio e o alemão padrão são enormes. O dialeto tem não apenas centenas de palavras próprias, como também gramática e melodia peculiares. Metafonias como Ö e Ä praticamente não existem: König (rei) vira Keenich, schön (bonito) vira scheen. Ou seja, em vez de Ö se pronuncia E; e em vez de Ü se articula I: “ein Stück Fleisch é ein Stick Fleisch” (“um pedaço de carne”). De forma geral, a língua soa mais ampla e clara. Isso se deve aos vários ditongos gerados na fala dialetal: die Mutter ist müde (“a mãe está cansada”) é die muader isch miad. Além disso, muitas vogais são nasalizadas, o que é explicado para os linguistas como algo raro no alemão. Hermann estudou no Seminário de Maulbron em 1891, mas “não seguiu a carreira de pastor, como era a vontade de seus pais”. Embora fosse um estudante modelo, ele foi incapaz de se adaptar ao regime e saiu menos de um ano depois. Como ele explicaria mais tarde: - Eu era um bom aprendiz, bom em latim, apesar de justo em grego, mas não era um rapaz muito administrável e foi assim com dificuldade que me enquadrei na educação pietista que visava subjugar e quebrar a personalidade individual. Tendo recusado a religião cristã adolescente, rompeu com a família indo para a Suíça, em 1912, trabalhando “como livreiro e operário. Acumula sólida cultura autodidata e resolve dedicar-se à literatura”.

           Hold the Dark (Noite de Lobos) é um filme norte-americano de 2018, dirigido por Jeremy Saulnier. Nascido em 10 de junho de 1976 é um diretor de cinema, diretor de fotografia e roteirista norte-americano. Escrito por Macon Blair, nascido em 1974 é também diretor de cinema, produtor, roteirista, escritor de histórias em quadrinhos e ator norte-americano reconhecido por seus papéis nos filmes Blue Ruin (2013) e Green Room (2015), bem como sua estreia na direção: I Don`t Feel at Home in This World Anymore (2017). O último filme de Saulnier é uma adaptação do romance de suspense de William Giraldi de 2014, Hold the Dark, para a Netflix, a partir de um roteiro de Macon Blair. A película baseia-se no livro de mesmo nome escrito por William Giraldi, escritor, crítico e jornalista americano. Em 2021, foi premiado com bolsa Guggenheim na Universidade de Boston, Estados Unidos da América, onde é professor com Mestrado obtido Arts & Sciences Writing Program e editor da revista AGNI. Uma revista literária nomeada em homenagem ao deus-fogo védico. Giraldi é editor colaborador do The New Republic. O thriller que é estrelado por Jeffrey Wright, Alexander Skarsgård, Riley Keough, James Badge Dale, Tantoo Cardinal e Julian Black Antelope, narra a história social de um escritor especializado em lobos que é chamado à uma pequena vila no Alaska por uma mulher que teve seu filho aparentemente levado por lobos. Lobo é um animal carnívoro da família dos canídeos e que pertence ao gênero Canis. O filme foi exibido em 12 de setembro de 2018 no Festival Internacional de Cinema de Toronto e teve sua estreia mundialmente na plataforma de streaming Netflix em 2018.

Quando limitou a convivência em uma fronteira, não pode conceber a ideia de que governos de outros países que tentassem controlar outrem, só causariam o que nós podermos perceber: o caos e banhos de sangue moderno e contemporâneo. Idealizou uma criatura mística chamada Leviatã, em sua ilustração como um monstro composto por vários homens dispostos como escamas. Quer dizer que o soberano que controla a sociedade civil é formado pelo conjunto de indivíduos, demonstrando também que o ser humano deu ao Estado o direito de controlá-lo como se deseja. Assim, todos os seres humanos buscam o sucesso contínuo na obtenção dos objetos de desejo, isto é, procuram a felicidade. Entretanto, é justamente essa busca que conduz os homens à guerra no estado de natureza e é, em última instância, o medo da morte que os leva a criarem o estado civil. Isto porque sem o medo da morte a procura pela felicidade conduz a uma “guerra de todos contra todos”, já que os homens, para terem certeza de que alcançariam a felicidade, teriam que se tornarem poderosos na busca por um poder. Mas esta busca motivada por um desejo contínuo de poder e mais poder salvaguardaria a felicidade, que outra coisa não é senão uma satisfação dos desejos. Os homens ao se valerem dos meios necessários para serem felizes inevitavelmente entrariam em guerra uns contra os outros.

Quem já observou os procedimentos e os graus que levam um Estado florescente à guerra civil e, em seguida, à ruína, ao ver qualquer outro Estado em ruínas deduzirá que foi uma consequência das mesmas guerras e dos mesmos acontecimentos. Porém, essa conjectura tem o mesmo grau de incerteza da conjectura do futuro. Ambas estão baseadas apenas na experiência. Os seres humanos desejam aquilo que amam, e odeiam coisas pelas quais têm aversão. Com o desejo significamos a ausência do objeto; com amor, sua presença. Com aversão a ausência e, com ódio, a presença do objeto. Primeiro filósofo moderno a articular uma teoria detalhada do contrato social, com sua obra Leviatã, escrita em 1651, Thomas Hobbes foi um filósofo inglês do século XVII, reconhecido como um dos fundadores da filosofia política e ciência política moderna. Desde Hobbes o poder de um homem, universalmente considerado, consiste nos meios de trabalho de que dispõe para alcançar, algum bem evidente tanto original (natural) como instrumental (político). Os poderes humanos são integrados e unidos com o consentimento consagrado através de uma pessoa natural ou civil: é o poder do Estado ou aquele representativo de um número de pessoas, cujas ações estão sujeitas à vontade de determinadas pessoas em particular, como é o poder de uma facção ou de facções coligadas no mundo contemporâneo estruturadas sob a forma de um partido político. Ter servos é poder, como também ter amigos, pois isso significa união de forças. Igualmente, a riqueza, unida à liberalidade, é poder, congrega, une amigos & servos.

Mas, sem a liberalidade, a riqueza não é protetora; pelo contrário, expõe o homem à inveja e à rapina. Reputação de poder é representação de poder (cf. Crignon, 2007), porque, por meio delas, obtemos a adesão e conquistamos o afeto político dos homens que precisam ser protegidos. Êxito, analogamente também é poder, pois a reputação da sabedoria ou da “boa fortuna” faz com que os outros homens temam, idolatrem ou confiem. O valor ou conceito de um homem é, como para todas as outras mercadorias, seu preço; isto é, depende de quanto seria dado pelo uso de seu poder. Assim, não é absoluto, mas apenas uma consequência da necessidade e do julgamento alheio, através do macróbio senhor dos códigos, escritor, filósofo e filólogo romano, autor das Saturnais e do Comentário ao Sonho de Cipião. Segundo uma das versões, nasceu por volta de 370 na Numídia, na África. Exerceu grande influência na Idade Média pela transmissão e elaboração de uma parte da tradição filosófica grega pagã no período pré-nissênico da escola neoplatônica do Ocidente latino. A estima pública de um homem, que é o valor que lhe é conferido pelo Estado, é o que denominamos ordinariamente dignidade. Essa valorização pelo Estado é expressa pelo cargo público para o qual é designado, tanto na magistratura como em funções públicas, ou quando esse valor é expresso por títulos e honrarias que lhe são concedidos. A fonte da honra é o Estado, e depende da vontade do soberano. A honra não sofre alterações se uma ação é justa ou injusta. A honra consiste unicamente na opinião de poder. O medo é a única paixão que impede o homem de violar leis. O medo pode levar a cometer um crime expressando o que C. B. Macpherson (1911-1987) denominou de especificamente de “individualismo possessivo” demonstra inevitavelmente que há fundamentada uma tradição política na qual a propriedade é amarrada e constitutiva da individualidade, da liberdade e da igualdade. 

           Os lobos geralmente ostentam um porte maior em comparação às demais espécies de canídeos, além de possuírem ampla distribuição geográfica. Sociologicamente os lobos são invariavelmente espécies que ostentam certas habilidades sociais, tendo um espécime/casal de espécimes reprodutor(es) como líder(es), são geralmente predadores de alto nível trófico, com apenas o lobo-dourado ocupando invariavelmente a posição de mesopredador. As espécies variam em porte, sendo a menor dentre elas o lobo-dourado, vivente no continente africano, e a maior o lobo-cinzento, vivendo maiormente no Hemisfério Norte que é também o maior canino selvagem da atualidade. Uma listagem mais concreta é apresentada a seguir, da maior para a menor espécie. São quatro espécies que recebem tal designação: o lobo-cinzento (Canis lupus), lobo-vermelho (Canis rufus), lobo-etíope (Canis simensis), lobo-dourado (Canis anthus ou Canis lupaster). O lobo-oriental tem classificação discutível se espécie em si (Canis lycaon), isto é, é um grupo de indivíduos férteis entre si, mas isolados reprodutivamente de outros grupos semelhantes, comparativamente, isto é, por suas propriedades fisiológicas, produzindo qualquer incompatibilidade de pais, ou esterilidade dos híbridos, ou ambos, ou ainda representando uma subespécie do lobo-cinzento, ou um híbrido do lobo e coiote.

       Esta é a razão pela qual queremos entender e explicar: por que devemos estar atentos e conscientes de que se tentarmos ler um mito da mesma maneira que lemos uma novela ou um artigo de jornal, ou seja linha por linha, da esquerda para a direita, não poderemos chegar a entender o mito? Isto porque, metodologicamente, seguindo a trilha aberta por Lévi-Strauss (1964; 1989) temos de apreendê-lo como uma totalidade e descobrir que o significado básico do mito não está ligado necessariamente à sequência em que ocorrem os acontecimentos. Mas antes, se assim se pode dizer, referencialmente a grupos de acontecimentos, ainda que tais acontecimentos ocorram em momentos distintos na história. Portanto, temos de ler, e, portanto, interpretar socialmente o mito, as mitologias e per se, a própria questão mitopoética, mais ou menos como leríamos uma “partitura musical, pondo de parte as frases musicais e tentando entender a página inteira”. Melhor dizendo, não só temos de apreendê-la em termos de conteúdo de sentido, da esquerda para a direita, mas simultaneamente, na vertical, de cima para baixo. Temos de perceber cada página como uma totalidade. E só considerando o mito como se fosse uma partitura orquestral. Escrita frase por frase, é o que descrevemos como “homme de letres” para compreender uma totalidade e extrair o seu significado. 

        O objetivo científico de Claude Lévi-Strauss (1908-2009) foi permanentemente o da consolidação de uma ciência social com um grau de objetividade e rigor presente nas ciências em geral. Para isso, seu programa estruturalista se fundamentava sob uma concepção metodológica interdisciplinar, sendo que a linguística se transformou em uma das principais disciplinas que inspiraram o estruturalismo lévi-straussiano. Sob a influência do linguista Roman Jakobson (1896-1982), de quem se torna colega nos Estados Unidos da América (EUA) nos anos 1940, e da obra de Ferdinand de Saussure (1857-1913), Lévi-Strauss concebe a ideia de que tanto na etnologia quanto na ordem da linguística, não é a análise comparativa que fundamenta a generalização, mas sim o contrário, uma vez que a atividade inconsciente do espírito é a representação de impor formas a um conteúdo, formas estas através de dimensões iguais para todos os espíritos. Por isso, seu objetivo principal através de um meticuloso exercício interpretativo é o de atingir a estrutura inconsciente, através de um encontro entre o método etnológico e o método linguístico. Não por acaso, para o autor a linguística é, dentre as ciências sociais, a que alcançou maiores progressos socialmente, isto é, porque esta dimensão ou domínio da ciência se preocupa em atingir a estrutura inconsciente (a da linguagem) e, toma como base da análise a relação entre os termos, além de introduzir a noção de sistema e de buscar descobrir leis gerais através de um processo cognitivo de indução.

           Autores notaram a extrema confusão que reina na demasiado rica terminologia do imaginário social: signos, imagens, símbolos, alegorias, emblemas, arquétipos, esquemas (schémas), esquemas (schèmes), ilustrações, representações, diagramas e sinepsias são termos empregados pelos analistas do imaginário social. O esquema é uma generalização dinâmica e afetiva da imagem, constitui a factividade e a não-substantividade geral do parcours imaginário. O esquema aparenta-se ao que Jean Piaget (1896-1980), na esteira de Herbert Silberer (1882-1923), chama “símbolo funcional” e ao que Gaston Bachelard (1884-1962) chama de “símbolo motor”. Faz a junção entre dos gestos inconscientes da sensório-motricidade, entre as dominantes reflexas e as representações. São esses esquemas que na antropologia do imaginário formam o “esqueleto dinâmico”, o esboço funcional da imaginação. A diferença entre os gestos reflexológicos que Gilbert Durand (1921-2012) descreve analogamente e os esquemas últimos já não são apenas abstratos engramas teóricos, mas trajetos encarnados em representações concretas mais precisas. Os gestos diferenciados em esquemas vão determinar, em contato com o ambiente natural e social, os arquétipos que Jung os definiu. Os arquétipos constituem as substantificações dos esquemas. Carl Jung (1875-1961) vai buscar esta noção em Jakob Burckhardt (1818-1897) e faz dela sinônimo de origem primordial, de enagrama, de margem original, de protótipo social.

O pensador evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve que a imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições inferiores da vida do espírito e da dinâmica da vida em geral. Bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e epistemológico dado. Neste sentido, o mito representa um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema tende a compor uma narrativa. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos imantados em ideias culturais. O mito explicita as condições e possibilidades de interpretação social de um esquema ou um grupo de esquemas. Do modo que o arquétipo promovia a ideia, o símbolo o nome, concordamos com Gilbert Durand que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem anteviu Émile Bréhier (1876-1952), a “narrativa histórica e lendária”.  Foi este princípio, que Carl Jung sentiu abrangido por seus conceitos de “Arquétipo” e “Inconsciente coletivo”, justamente o que uniu o médico psiquiatra Carl Jung ao físico Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares em física e psicologia. A sincronicidade, vale lembrar, se manifesta vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente.   

Trata-se de um projeto ousado e inovador pelo menos do ponto de vista da narrativa e comunicação social que inverte o que historicamente havia sido utilizado pela indústria cinematográfica norte-americana. Entregue a um astro consagrado que teria que superar sua condição e passar, num processo de conversão de ator e tornar-se também diretor. da natureza, relacionando-se dentro de sua tribo, estranhando o visitante proveniente de outra cultura. Aceitando o estranho, mas também cobrando a adaptação do mesmo a seu modo de vida, que nos aparece de forma espontânea, mas que, nos faz pensar se ele poderia viver naquela comunidade se não se submetesse a tal mudança. Todavia, lutando como sobrevivência em sua comunidade, em sua cultura, em sua mãe natureza. A invenção do conceito de comunidade atribui-se ao sociólogo Ferdinand Tönnies, que estabelece pela primeira vez a distinção a grande definição entre uma comunidade (“Gemeinshaft”) e uma sociedade (“Gesellschaft”), sendo uma definida em contraponto da outra. A comunidade - assente ora no território comum: região, nação, ora na partilha da mesma língua, crença, etnia, corporação eclesiástica ou profissional - representa uma entidade social de identidade e interconhecimento, onde os atores sociais são vistos no seu todo. Onde se fundem as vontades e se entrelaçam as relações sociais primárias face a face, relações estas perpassadas de laços personalizados de intimidade e emoção, bem como de regras adstritas de coerção e as formas dinâmicas de controle. 

A uma visão evolucionista e otimista opôs-se, já no século XIX, por um lado, o conservadorismo nostálgico e, por outro, o socialismo nas suas diversas versões. Assim, autores conservadores como Edmund Burke (1729-1797) e Louis de Bonald (1754-1840), perante a previsivelmente  ordem e o progresso caótico proposto pelos positivistas e modernistas, reagiam negativamente e apelavam à restauração da comunidade corporativa e tradicionalmente articulada em torno da família, Igreja, guildas, considerada primordial em relação comparada quer ao individualismo liberal despersonalizado, quer ao centralismo estatal abafador, que só pelo expressivo filósofo inovador Friedrich Hegel era idealisticamente assumido como a comunidade por excelência enquanto “communitas communitatum”. Em regra, porém, os teóricos idealizadores da comunidade tradicional passam de lado as relações hierocráticas e paternalistas, autoritárias e autocráticas ou até despóticas, amiúde presentes nas comunidades tradicionais. Numa perspectiva diferente, são ainda de referir os socialistas utópicos que propunham levar à prática o socialismo através da construção de comunidades de partilha de bens até aos defensores do “socialismo científico”, que, embora reconhecendo o carácter revolucionário da fase classista burguesa face ao feudalismo, proclamava a necessidade da superação do capitalismo através da implantação duma nova ordem socialista, o que implicava a abolição da propriedade privada. As reflexões e trabalhos empíricos em torno do conceito de comunidade e diferenciadas estratégias dos grupos sociais têm sido levadas a cabo por vários autores, que se destacam em termos contrastantes, diversos e contraditórios.

Na narrativa cinematográfica em dezembro de 2004, o especialista em lobos Russell Core (Jeffrey Wright), um   naturalista aposentado, é chamado à pequena vila de Keelut no Alasca “a fim de caçar lobos que são acusados do desaparecimento e possível morte de três crianças locais”. Keelut é a cidade fictícia do filme da Netflix Hold the Dark. Na verdade, é filmado em Alberta. Keelut se assemelha a alguns lugares possíveis no Alasca. - Nós o colocamos perto de Nabesna porque tem uma quantidade razoável de árvores perenes. Também poderia ser colocado perto de Paxson, mas vendo como é tão remoto com montanhas tão dramáticas, poderia acontecer ao redor de Anaktuvuk Pass também. Medora Slone (Riley Keough), cujo filho de seis anos, Bailey, foi a terceira criança a desaparecer, quer, portanto, a morte dos lobos supostamente responsáveis pelo desaparecimento do garoto. Enquanto isso, seu marido, Vernon (Alexander Skarsgård) está servindo ao exército no Iraque. Quando Russell chega ao Alaska, ele reconhece Medora que lhe mostra onde as crianças sumiram. Apesar de mencionar que o pai da segunda criança a sumir, Cheon, é um amigo de seu marido, ela diz que eles não falarão com ele. Ela se comporta estranhamente e na primeira noite anda pela casa nua, usando apenas uma máscara e tenta seduzir Russell. No dia seguinte, Russell rastreia e encontra um grupo de lobos que matou e está se alimentando de um dos filhotes da alcateia.

No primeiro estudo desse tipo, os pesquisadores analisaram diversos genomas completos dessas criaturas, revelando algumas surpresas. Em vez de compartilhar laços genéticos próximos com o lobo-cinzento (Canis lupus), como era de se esperar dada a semelhança das espécies, os lobos pré-históricos eram primos evolutivamente distantes dos lobos-cinzentos, isolados nas Américas por muito tempo. - “Lobos pré-históricos e lobos-cinzentos parecem muito semelhantes morfologicamente, mas a genética mostra que eles não estão relacionados geneticamente em nenhum nível”, explica Angela Perri, arqueóloga da Universidade de Durham e coautora de uma pesquisa sobre genética de lobos pré-históricos, publicada na revista científica Nature. As novas descobertas esclarecem as relações entre os canídeos, posicionando lobos pré-históricos (Canis dirus) em uma linhagem do Novo Mundo que se separou dos ancestrais do lobo-cinzento há cerca de 5,5 milhões de anos, ao passo que aprofunda ainda mais o mistério sobre a evolução do lobo pré-histórico e sua eventual extinção. - “A questão agora é: a extinção do lobo pré-histórico está relacionada a mudanças climáticas e ambientais, ou humanos e potencialmente outros lobos e cães e [doenças] foram fatores que contribuíram para o desaparecimento desses animais?”. O lobo pré-histórico classificado no gênero Aenocyon, que significa “terrível”, é um carnívoro muito mitificado, reconhecido por seu tamanho imponente, dentes posteriores projetados para quebrar ossos e propensão de ataque a grandes herbívoros. Ele foi apenas um dos animais imponentes que vagaram pelas Américas imensos, ursos-de-cara-achatada-gigantes, preguiças-gigantes e camelos: um zoológico perdido de criaturas que não conseguiram se adaptar ao mundo em mudança com o fim do período Pleistoceno.

            Na verdade, o lobo pré-histórico icônico ganhou a imaginação de Perri muito antes do início do estudo atual. “Uma das minhas dúvidas sempre foi se lobos pré-históricos ainda existiam quando os humanos chegaram às Américas” e se havia alguma interação entre as duas raças, explica Perri, que também estuda as interações entre humanos e animais. Quando ela e seus colegas começaram o estudo do lobo pré-histórico há muitos anos, sabiam que havia um lugar onde não faltariam fósseis do lobo pré-histórico: o Poço de Piche de La Brea, uma “armadilha para predadores” notável, onde hoje fica a cidade de Los Angeles. Mas os esforços anteriores para extrair sequências substanciais de DNA (ácido desoxirribonucleico) de lobos pré-históricos, felinos dente-de-sabre e outros animais em La Brea não foram bem-sucedidos — o ambiente quente e hostil do local aquece e fragmenta o material genético. As tentativas atuais da equipe não foram muito melhores. - “O poço de piche é quente e borbulhante, condições não favoráveis à preservação de DNA”, explica o coautor Greger Larson, diretor da rede de pesquisa paleogenômica e de bioarqueologia da Universidade de Oxford. Mas uma amostra coletada em La Brea rendeu algo novo: uma sequência de proteína de colágeno que permitiu aos pesquisadores compararem lobos pré-históricos a cães domésticos, lobos-cinzentos, coiotes e lobos-africanos. A conclusão dos pesquisadores? Que o lobo pré-histórico era, portanto, completamente diferente do que se imaginava anteriormente. Ainda assim a equipe precisava de amostras, pois a sequência de uma única proteína não traz tantas informações ao tentar definir relações complexas entre canídeos, diz Laurent Frantz, pesquisador da Universidade Queen Mary de Londres e da Universidade de Oxford, e coautor do estudo. Em 2016, Perri começou sua viagem pelos Estados Unidos de ônibus, carro alugado e avião, em uma excursão para examinar e coletar pedaços de ossos de lobo pré-histórico em museus e coleções de universidades, em uma tentativa de obter DNA suficiente para análise genética.

 Ele mira, mas não consegue atirar nos animais. Após retornar para a casa dos Slone, ele percebe que Medora sumiu. Ele percebe que a porta do porão está destrancada e ao investigar, ele descobre o corpo congelado (que Medora estrangulou e deixou para que ele descobrisse) de Bailey no local. Enquanto isso, Vernon esfaqueia e deixa para morrer um soldado americano que ele pegou estuprando uma mulher iraquiana. Vernon é atingido por um tiro no pescoço, mas sobrevive e é mandado para casa. Os moradores da vila acreditam que Medora está possuída por um espírito de lobo chamado, Tournaq. Vernon, agora já recuperado volta para casa. Após reconhecer o corpo do filho no necrotério, ele e Cheon matam dois oficiais de polícia que prometeram achar Medora. Eles também matam o médico legista e roubam o corpo de Bailey. Vernon e Cheon enterram o corpo do garoto em um caixão de madeira, marcando-o com uma cruz com seu próprio sangue. Vernon lê e depois queima todos os documentos policiais sobre o caso, e sai determinado a achar Medora por ele mesmo. Ele visita e mata uma “bruxa” local, Illanaq, que anteriormente havia a avisado Russell para ficar longe daquele local.

Não queremos perder de vista que o termo bruxa é geralmente representado no imaginário individual e coletivo popularmente, com o arquétipo da mulher antiquada, com nariz grande e encarquilhada, exímia e contumaz manipuladora de Magia Negra e dotada de uma gargalhada terrível. Na época da Inquisição católica, estrangeiros fora da Itália ao ouvirem gritar brucia associaram a palavra com a ré. É inegável a conexão entre esta visão instrumental e a visão da Hag ou Crone dos anglófonos. É também muito popularizada a imagem da bruxa, comicamente como a de “uma mulher sentada sobre uma vassoura voadora, ou com a mesma passada por entre as pernas, andando aos saltitos”. Alguns autores utilizam o termo, contudo, para designar as mulheres sábias detentoras de conhecimentos sobre a natureza e, possivelmente, magia. Entretanto, algumas bruxas que antes adquiriram alguma notoriedade, como é o caso das chamadas Bruxas de Salém, a Bruxa de Evóra e Dame Alice Kytler (“bruxa inglesa”). São também bastante populares na literatura de ficção, como nos livros da popular série Harry Potter, nos livros de Marion Zimmer Bradley, autora de As Brumas de Avalon, que versam sobre uma vasta comunidade de bruxos e bruxas cuja maioria prefere evitar a magia negra, ou a trilogia sobre as bruxas Mayfair, de Anne Rice. Frequentemente as bruxas são associadas a gatos pretos, que dentre as Bruxas que hoje nós acreditamos são os chamados Puckerel, muitas vezes tidos como espíritos guardiões da Arte das Bruxas, que habitam o corpo de um animal. Estes costumam ser designados na literatura especializada como Familiares.

Diziam que as bruxas voavam em vassouras à noite e principalmente em noites de lua cheia, que faziam feitiços e transformavam as pessoas em animais e que eram más. Hoje em dia, felizmente, essas antigas superstições como a da “bruxa velha da vassoura na lua cheia” já foram suavizadas, onde aparentemente ocorre, devido à maior tolerância entre religiões, sincretismo religioso e divulgação do paganismo. Gerald Gardner tem destaque nesse cenário como o pai da Religião Wicca, a religião da moderna bruxaria pagã, formada por pessoas que são bruxos/as, mas que utilizam a “Arte dos Sábios” ou a “Antiga Religião” mescladamente a práticas e reconhecimentos de outras tradições. Ainda bem que a retórica de classificação de magia como “magia negra” e “magia branca” não existe para os bruxos, pois se fundamentam nos conceitos de bem e mal, que não fazem parte de suas crenças, por isso, como costumam dizer, “toda magia é cinza”. De outra parte, “A Arte das Bruxas”, como era praticada historicamente, é chamada essencialmente de “bruxaria tradicional”, remanescendo até os dias atualmente em grupos seletos, geralmente ocultos. Quer dizer, também pode-se encontrar uma vasta quantidade de livros e sites que explicam a “Antiga Religião”, mas geralmente se trata de Wicca, pois os membros de grupos de bruxaria tradicional costumam preferir o ostracismo, revelando-se publicamente apenas em ocasiões especiais ou para que novos candidatos os localizem.

Os termos bruxaria ou feitiçaria ou ainda, menos comumente, embruxação, bruxação, embruxamento, bruxamento, bruxedo, feiticeiro etc., têm sido de uso corrente da língua portuguesa, designando o uso de poderes de cunho sobrenatural, sendo também utilizada como sinônimo de magia, feitiçaria, sortilégio ou encantação. Conforme proposto pelo historiador norte-americano Jeffrey B. Russell, existem três pontos de vista principais sobre o que é bruxaria: o primeiro ponto de vista é o antropológico e demonstra que bruxaria é sinônimo de magia, curandeirismo, xamanismo; o segundo é o histórico, que através de documentos escritos analisa os julgamentos de bruxaria durante a inquisição; o terceiro é o da bruxaria moderna ou hodierna, que defende a bruxaria como uma forma de religião pagã (ou neopagã), esse último sendo especificamente um ponto de vista normalmente defendido por wiccanos. A etimologia da palavra é incerta, mas acredita-se venha do italiano brucia (queima), que vem do verbo bruciare (“queimar”) ou de brixtia, que vem do nome da deusa gaulesa Bricta. Outros indícios indicam que a palavra bruxa nasce na Era Antiga na Península Ibéria, que sua origem seria anterior a invasão romana e por consequência anterior ao próprio latim, portanto. O mesmo processo ocorreu com as palavras bezerro, cama, morro e sarna conforme o professor doutor em Letras Claudio Moreno da Universidade Federal do Rio Grande do Sul explica em seu livro Morfologia Nominal do Português. Esta hipótese abstrata, no entanto, é reforçada pelo fato social de só aparecer nas línguas ibéricas como o português bruxa, espanhol bruja, catalão bruixa); se viesse do latim, deveria também estar presente no francês que usa sorcière e no italiano que usa strega, que também pertencem à família das línguas românicas.

Entretanto, feitiço, deriva do latim facticius, um “fictício, artificial, não-natural”, é um vocábulo antigo que na língua portuguesa, sendo registrado já no século XV. Inicialmente significava “postiço, artificial”: chave feitiça era uma chave falsa, e briga feitiça era apenas de faz-de-conta. Logo, no entanto, assumiu o seu significado atual de encantamento. Com o avanço português pela costa da África, os nativos adotaram o termo, modificando-lhe a pronúncia para “fe.ti.xu”; os franceses, que então reconheceram o vocábulo, importaram-no com a forma de fetiche, que foi reimportada por nós no século XIX, com o sentido de “objeto ao qual se atribui um valor sobrenatural” ou “objeto ou parte do corpo em que certos indivíduos vão buscar excitação erótica”, ou Marx com a noção de fetiche da mercadoria globalizada. Originalmente do inglês Witchcraft ou Witchery suponha-se que ela está “relacionada com as palavras inglesas “wit”, “wise”, “wisdom” etc. ou, então, por assim dizer, sobre “ofício dos sábios”. Outra é do wiccecræft do inglês, um composto de “wicce” (“bruxa”) e “cræft” (“artesanato/ofício”).

Na terminologia antropológica, as bruxas diferem dos feiticeiros porque não usam ferramentas físicas ou ações para amaldiçoar; seu malefício é percebido como algo que se estende de alguma qualidade interna intangível, e um pode não ter consciência de ser uma bruxa, ou pode ter sido convencido de sua natureza pela sugestão de outros. Esta definição foi pioneira em um estudo das crenças mágicas da África Central por E. E. Evans-Pritchard (1902-1973), que alertou que pode não corresponder ao uso normal do inglês. A confusão entre bruxaria e magia levou muitos praticantes e leigos a criarem equivocadamente a dicotomia “bruxos brancos” e “bruxos negros”, supondo que os que praticassem apenas o bem seriam bruxos brancos, e os que praticassem apenas o “mal” seriam bruxos negros. Praticantes de bruxaria, em seu sentido mais lato, não se pautam pelos conceitos vulgares de bem e mal, considerando toda e qualquer magia como cinzenta, um misto da dualidade expressa metaforicamente de várias formas, exempli gratia luz e escuridão, positivo e negativo, “bem” e “mal”. A grande divisão que se pode fazer atual entre grandes grupos na bruxaria é entre a tradicional e a moderna.

Bruxaria moderna é considerada pela maioria das tradições de feitiçarias como um sinônimo para as surgidas embasadas ou a partir da fundada por Gerald B. Gardner (1884-1964), por vezes considerada sinônimo de Wicca, muito embora Raven Grimassi (1951-2019), referência mais reconhecida da stregheria (“bruxaria italiana”), considere Charles Godfrey Leland (1824-1903) o pai da bruxaria moderna. É importante ressaltar que determinadas ramificações modernas (como a Wicca) não reconhecem o diabo ou outros elementos judaico-cristãos em suas práticas. Segundo a leitura do fundador da Wicca (uma vertente da bruxaria moderna), Gerald Gardner, em consonância com fontes de outras vertentes, ramificações hodiernas da bruxaria praticam o culto à Deusa e/ou ao Deus em sistemas que variam de uma deidade única hermafrodita ou feminina à pluralidade de panteões antigos, mais notadamente nos panteões celta, egípcio, assírio, greco-romano e normando (viquingue). Grande parte dos grupos de praticantes hodiernos considera diversas deusas antigas são diferentes faces de uma única Deusa.

A reintegração do ser humano à natureza é parte fundamental das crenças vinculadas à Wicca, o que se evidencia na celebração do fluir das estações do ano em até oito festividades chamadas sabás, sendo dois nos equinócios, dois nos solstícios e quatro em datas fixas. O fluxo de um curso completo de tais eventos chama-se comumente de Roda do Ano. Paralelamente aos sabás, muitas vertentes modernas contam com os esbás, que celebram as lunações. Aqui, todavia, há grandes diferenças entre vertentes, com alguns grupos comemorando todas as quatro fases, outros comemorando apenas o plenilúnio. Ainda que supostamente iniciado por bruxas tradicionais, Gardner juntou aos conhecimentos que elas o teriam passado, simbólicas e práticas ritualísticas de Alta Magia, bem como o princípio ético formulado pelo controverso ocultista Aleister Crowley essencialmente com as teses: “faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei”, ligeiramente modificado com a segunda tese especificamente “se a ninguém prejudicares, faze o que desejares”, firmando assim as bases de uma nova crença. O inglês Aleister Crowley (1875-1947) foi considerado um dos maiores magos do século XX, uma das figuras mais polêmicas, controversas e influentes de seu tempo historicamente deteminado. Era um ocultista de profunda visão teórica e possuía vasta experiência prática, por assim dizer, tanto em ocultismo como em magia.

No filme Russell tenta avisar a polícia sobre Illanaq, mas sem conseguir falar por telefone, se dirige até Keelut onde descobre “o corpo morto da velha senhora”. A polícia chega à cidade para interrogar Cheon, mas ele é hostil e deixará claro que nunca se entregará. Antes que eles possam notar, Cheon atira no esquadrão de polícia matando e ferindo muitos deles. Quando empregada como uma metralhadora, possui um tripé com mecanismo de direção e elevação e um cano suplementar. O chefe de polícia Donald Marium (James Badge Dale) finalmente consegue entrar na casa de Cheon e matá-lo. Vernon pergunta sobre Medora em um hotel. A dona do local permite que Vernon tenha acesso ao quarto onde Medora havia se hospedado. Russell janta na casa de Donald Marium e conhece sua esposa que está grávida de seis meses. Russell conta a eles sobre sua filha que mora em Anchorage e com quem ele não tem muito contato. Próximo ao hotel, Vernon encontra um velho caçador que fabrica e vende produtos derivados de lobos. O velho lembra que Vernon ainda criança e seu pai o haviam visitado há muitos anos, na ocasião seu pai queria comprar óleo de lobo para curar o jovem Vernon que estava agindo de forma “não naturalmente”. Vernon coloca uma das máscaras que estão no local e mata o velho caçador. Enquanto está deixando o local, ele é atingido por um tiro certeiro no ombro disparado pela dona do hotel. Vernon, visita um velho amigo, Shan, que informa a ele que Cheon está morto e retira com cirurgia a bala de seu ombro.

Russell se lembra sobre Medora falando sobre algumas fontes termais localizadas próximas a Keelut. Acreditando que a mulher possa estar lá, ele e Marium decidem ir até ao local para tentar encontrá-la antes de Vernon. Enquanto isso, Vernon acorda apenas para ouvir Shan chamando a polícia a fim de que Vernon seja capturado. Vernon, já mascarado, esfaqueia Shan na cabeça numa cena inusitada verticalmente. Marium e Russell encontram alguns rastros de lobo na neve, mas antes que possam perceber, Vernon atinge Marium com um flechada no pescoço. Russell deixando o corpo de Marium para trás se dirige às fontes termais, ele encontra Medora e tentar alertá-la a fugir, mas é atingido por uma flecha no peito disparado por Vernon. Mas tenta estrangular Medora, mas ela com força, rapidez e habilidade retira a máscara de seu rosto, reconhecendo-o e os dois se abraçam. Russell desmaia. Quando Russell acorda, Vernon lhe oferece um cigarro e logo depois ele remove a flecha de seu peito e vai embora junto com Medora. Russell consegue se arrastar para fora da caverna, mas é cercado por um bando de lobos. Ele é salvo por um pai e seu filho de carro, e é levado para a casa para receber cuidados médicos. Vernon e Medora são vistos desenterrando e carregando a caixão contendo o corpo de Bailey pela neve. Russell acorda no hospital com sua filha ao lado de sua cama.

Bibliografia Geral Consultada.

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