“O signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto”. Lucia Santaella
Há
cerca de duzentos anos, sabemos a ideia de que a verdade “era produzida”, e não
descoberta começou a tomar conta do imaginário individual (o sonho) e coletivo
(os mitos, os ritos, os símbolos) no âmbito do processo civilizatório europeu. O precedente estabelecido
pelos românticos conferiu a seu pleito uma plausibilidade inicial. O papel
efetivo de romances, poemas, peças teatrais, quadros, estátuas e prédios no
movimento social dos últimos 150 anos deu-lhe uma plausibilidade ainda maior,
obtendo legitimidade, já que as ideias, orientadas pela razão, “adquirem força
na história”. Alguns filósofos inclinaram-se ao Iluminismo e continuaram a se
identificar com a ciência. Eles veem a antiga luta entre a ciência e a
religião, a razão e a irracionalidade, como um processo em andamento que
assumiu a forma de luta entre a razão e todas as mediações intraculturais que
pensam na verdade constituída e não encontrada. Esses filósofos consideram que
a ciência é a atividade paradigmática e insistem que a ciência natural descobre
a verdade, ao invés de cria-la. Encaram a expressão “criar a verdade” como
metafórica e totalmente enganosa. Pensam na política e na arte como esferas em
que a ideia de “verdade” fica deslocada.
Outros filósofos, percebendo que o mundo descrito pelas ciências físicas não ensina nenhuma lição moral e não oferece conforto espiritual, concluíram que a ciência não passa de uma “serva da tecnologia”. Esses filósofos alinham-se com o utopista político e com o artista inovador. Os primeiros contrastam a “realidade científica concreta” com o “subjetivo” ou o “metafórico”, os segundos veem a ciência como mais uma das atividades humanas, e não como o lugar em que os seres humanos deparam com uma realidade não humana “concreta”. De acordo com essa visão, os grandes cientistas inventam descrições do mundo que são úteis para o objetivo de prever e controlar o que acontece, assim como os poetas e os pensadores políticos inventam outras descrições do mundo para outros fins. Não há sentido algum, porém, em que qualquer dessas descrições seja uma representação exata de como é o mundo em si. Esses filósofos consideram inútil a própria ideia dessa representação, consignando uma verdade de categoria fenomênica, como uma descrição do espírito ainda não plenamente cônscio de sua natureza dialética e, elevar-se à ruptura no âmbitodo ser social e ao tipo ideal de verdade oferecida pelo poeta e pelo revolucionário político.
O idealismo alemão representou uma solução de compromisso pouco duradoura e insatisfatória. É que Kant e Hegel fizeram apenas concessões parciais em seu repúdio à ideia de que a verdade está “dada”. Dispusera-se a ver o mundo da ciência empírica como um mundo “fabricado” – a ver a matéria como algo construído pela mente, ou como feita de uma mente cônscia de seu próprio caráter mental -, mas persistiram em ver a mente, o espírito, as profundezas do eu como dotados de uma natureza intrínseca – uma natureza que se poderia conhecer por uma espécie de superciência não empírica, chamada de filosofia. Isso significava que apenas metade da verdade – a metade científica inferior – era produzida. A verdade superior, a verdade sobre a mente, seara da filosofia, ainda era uma questão de descoberta, não de criação. Richard Rorty precisa sua tese de distinção entre a afirmação de que o mundo está dado e a de que a verdade dada, equivale a dizer, com bom senso, que a maioria das coisas no espaço e no tempo, é efeito de causas que não incluem os estados mentais humanos. Dizer que a verdade não está dada é dizer que, onde não há frases, não há sinais da verdade. E que as frases são componentes das línguas humanas, e que as línguas humanas são criações humanas. Só descrições podem ser “verdadeiras” ou “falsas” - sem o auxílio das atividades descritivas dos seres humanos - não pode de forma alguma sê-lo. Em filosofia e, por assim dizer, em lógica, a contingência enquanto representação da realidade é o modo de ser daquilo que não é necessário nem impossível.
É bem verdade que a ideia de liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para lembrarmos de Friedrich Hegel (1770-1831), é ainda só primícias sobre o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. Com efeito, para ela a essência é só o pensar em geral, a forma coo tal, que afastando-se da independência das coisas retornou a si mesma. Mas porque a individualidade, como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como individualidade pensante, captar o mundo vivo como um “sistema de pensamento”; teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com isso não haveria, absolutamente nenhum outro ingrediente, naquilo que é utilidade de uso para a consciência, a não ser o conceito que é a essência. O conceito enquanto abstração, separando-se da multiplicidade variada das coisas, não tem conteúdo nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência, quando pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é “conceito determinado” e justamente essa determinidade é o alheio que o conceito possui nele.
Esta
unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução.
É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do
desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da
razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o
entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento que fica representado nas
diferenças, só pode compreender abstrações, isto é um nível de realidade, não o concreto, nem o conceito.
Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na
existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com
graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa
representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o
em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo
que resulta. O terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora
o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Hegel chama
“o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito
chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que ele produz, seu
objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. É um
desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo.
No
que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à disciplina,
não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio bel-prazer; ele
deve obedecer para aprender a mandar. A obediência é o começo de toda a
sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o verdadeiro, o
objetivo, e não faz deles o seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente
autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a
vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua
vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser
aniquilado esse gérmen. No começo, a passagem de sua vida ideal à
sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de
filisteu. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só
para si mesmo, o jovem que se torna homem deve, ao entrar na vida prática, ser
ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se
deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa conservadora
produção do mundo consiste no trabalho do homem. Podemos, pois, de um lado
dizer, fora de dúvida, que o homem só produz o que já existe. Por outro, é
necessário admitirmos a condição e possibilidade de que um progresso individual seja realmene efetuado. Mas o progredir no mundo
só ocorre nas massas, e só se faz notar em uma grande soma de coisas produzidas.
Maria Lucia Santaella Braga nascida em Catanduva, em 13 de agosto de 1944 é pesquisadora da semiótica e do pensamento de Charles Peirce (1839-1914) no Brasil, contando com a autoria de mais de quarenta livros publicados. Professora Titular da PUC-SP com doutoramento em Teoria Literária (1973) e Livre-docência em Ciências da Comunicação na Escola de Comunicação e Artes da Universidasde de São Paulo (1993). É professora do Programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital PUC-SP. Catanduva é um município do estado de São Paulo. É referente à vegetação com árvores de troncos e galhos retorcidos recobertos “por casca grossa e resistente ao fogo”. Este nome designava a fisionomia mais característica do cerrado brasileiro. Fundada em 14 de abril de 1918, localiza-se a uma latitude 21°8`16” Sul e a uma longitude 48°58`22” Oeste, a 385 km da capital estadual. A latitude é a distância em graus medida entre qualquer ponto na superfície terrestre e a linha do equador, que corresponde ao paralelo de 0°. As latitudes variam de 0 a 90° ao Norte e de 0 a -90° ao Sul. O sinal de negativo é apenas uma forma de indicar o hemisfério ao qual a medida faz referência. Longitude é a distância em graus medida entre qualquer ponto da superfície terrestre e o Meridiano de Greenwich, estabelecido como o meridiano de 0º, por Sir George Biddell Airy em 1851. As longitudes variam até 180º, tanto em direção Leste quanto a Oeste, adquirindo sinal negativo para indicar o hemisfério ocidental. Catanduva tem altitude média de 503 metros. Sua população de Censo de 2022, era de 114 953 habitantes, sendo o 72° município do estado de São Paulo e o 263° do Brasil. Sua economia é baseada no comércio, prestação de serviços, indústrias e agricultura.
Equador é a linha imaginária
ao redor do meio de um planeta ou corpo celeste. Está a meio caminho entre o Polo
Norte e o Polo Sul, a 0 graus de latitude. O nome é derivado da palavra latina
medieval aequator, na frase: circulus aequator diei et noctis,
que significa “círculo que equaliza dia e noite”, da palavra latina aequare
que significa igual. Um equador divide o planeta Terra em hemisfério Norte e
hemisfério Sul. A Terra geograficamente é mais larga no seu equador, com
circunferência de 40 075 km. Seu diâmetro equatorial, de cerca de 12 756 km,
também é mais largo, criando a chamada “protuberância equatorial”, isto é, uma
diferença entre os diâmetros equatorial e polar de um planeta, devido à força
centrífuga exercida pela rotação em torno do eixo do corpo. Um corpo em rotação
tende a formar um esferoide oblato em vez de uma esfera. Esta protuberância
existe por causa de uma força criada pela rotação da Terra. Como resultado, uma
pessoa no equador está a mais de 20 km do centro da Terra do que uma pessoa no
Polo Norte. Essa diferença é mais do que o dobro da distância entre o nível do
mar e o topo do Monte Everest, mas em escala planetária é virtualmente
imperceptível. Boyd Edwards, físico da Universidade Estadual de Utah (Logan), vem afirmando que, neste caso, é aproximadamente equivalente a uma única camada de fita adesiva ao
redor de uma bola de vôlei esférica.
O
conceito descrito sociologicamente, com sabedoria, por Benedict Anderson,
“Imagined Communities”, inicialmente publicado em 1983, e reeditado em 1991,
com diversas correções e adição de capítulos, embora tenha sido cunhado
especifico para tratar do âmbito conceitual do nacionalismo, ele passou
a ser generalizado, no nível de análise teórica quase como um sinônimo político
de “comunidade de interesse”. Ele pode ser utilizado, por exemplo, para se
referir a uma comunidade baseada em orientação sexual, ou consciência de
fatores de risco global. Mas metodologicamente, uma “comunidade imaginada”
difere de uma comunidade real, pois não se baseia em interação social de
seus membros, e por razões práticas não pode fazê-lo: Anderson chega a
mencionar que nada maior que um vilarejo pode ser uma “comunidade real”, já que
é “impossível que todos seus membros se conheçam”. Nação é um exemplo de
comunidade socialmente construída, imaginada por pessoas que percebem a si
próprias como parte de um grupo. Como Anderson afirma, essa comunidade tem como
representação a ideia de que é “imaginada”, pois os membros de uma nação, mesmo
da menor delas, nunca conhecerão a maioria de seus conterrâneos, nunca os
encontrarão ou, até ouvirão a seu respeito. Eles terão em
suas mentes a imagem de sua “comunhão”.
Membros de uma comunidade, criam, apesar do potencial, impossibilidade de interação real uns com os outros, não deixam de compartilhar interesses ou aspectos identitários comuns. A mídia, por exemplo, cria e mantém “comunidades imaginadas”, embora geralmente o faça voltando à sua interação através dos meios que proporcionam a imaginação, como se estivesse referindo à totalidade de cidadãos de um país. A origem significativa do conceito de nação para Anderson e historiadores opostos como Eric Hobsbawm (1925-2012) e Ernest Gellner, ambos analisados em “Imagined Communities”, é uma representação da Modernidade. De acordo com Anderson, para que a concepção de nação e nacionalismo surgisse, foram necessárias três mudanças históricas centrais. O primeiro deles decorreu da ideia de que uma particular linguagem de escrita oferecia acesso privilegiado à verdade “ontologicamente situada”, precisamente por que tal linguagem era uma parcela inseparável desta verdade. O segundo desses conceitos decorreu da crença que a sociedade seria “naturalmente organizada” ao redor e sob potestades, isto é, sob monarcas que eram pessoas à parte de outros seres humanos e que governavam por alguma forma de deliberação cosmológica (divina). O terceiro decorreu de uma concepção de temporalidade em que a cosmologia e a história eram indistinguíveis, e a origem tanto do mundo quanto dos homens era essencialmente idêntica. Combinadas, essas ideias enraizaram as vidas dos homens na natureza das coisas, dando significado social e sentido para as fatalidades cotidianas da existência, sobretudo, a morte, a perda e a servidão, oferecendo de diversas formas redenção delas.
A tópica da descritibilidade pode ser vista no filme dirigido por Kore-Eda Hirokazu, “Nossa Irmã Mais Nova” (2015), de título original: “Umimachi Diary”, em que Sachi (Haruka Ayase), Yoshino (Masami Nagasawa) e Chika (Kaho) são irmãs e vivem juntas em uma casa que pertence à família há tempos. Apesar de não verem o pai há 15 anos, elas resolvem ir “ao rito de passagem de seu enterro” (cf. Koury, 2009; 2012). Lá, elas conhecem a adolescente Suzu Asano (Suzu Hirose), a meia irmã mais nova que aos poucos entende como é a vida. Mesmo tão nova, possui vasta experiência em superar dificuldades. É ótima jogadora de futebol, comunicativa e sincera. Logo as três irmãs convidam Suzu para que more com elas. O convite é aceito e, a partir de então, elas passam a conviver juntas e aprendem os pontos sensíveis numa “comunidade imaginada” relacionada à memória ao pai em comum. Hirokazu Kore-Eda analisa a valorização da vida como uma experiência baseada na relação dialética entre alegria e sofrimento, representados por momentos de felicidade e dor não só inevitáveis como parte fundamental de nossa existência sobre o “cotidiano” (cf. Heller, 1975), na medida em que o dia-a-dia desconstrua o estereótipo, retratando-o com uma visão poética, plena da beleza dos detalhes, como o flanelódromo surge diante de nós e que marca o nascimento das irmãs e vinda da “irmã mais nova”, pois é sutil, fascinante e melancólico, mas por vezes turbulento e trágico no sentido nietzschiano.
Em “Nossa Irmã Mais Nova” (2015), nos deparamos com as experiências e dilemas existenciais. A delicadeza com a qual o cineasta Kore-Eda constrói seu universo, com simplicidade nos emociona no “quadro de pensamento” das quatro jovens irmãs que as irmãs protagonizam o filme. Personagens que individualizam as referências, e ipso facto geram uma compaixão a ponto de sentirmos suas alegrias e suas tristezas como extraordinariamente faz o diretor com elegância, prudência e maestria. Uma das grandes marcas de Hirokazu Kore-Eda, o drama familiar, volta à cena. Atrelado à família, estão laços pessoais que são quase impossíveis ignorá-los. A perda e o vazio, outro fator crucial para a filmografia de Kore-Eda retorna também em seus adoráveis personagens imperfeitos. Em “Nossa Irmã Mais Nova”, é a partir desses elementos que de fato os personagens são equilibrados na antítese dialética referida sobre a alegria e sofrimento, a qual a vida prevalentemente se baseia, o que é capaz de levar o espectador a refletir sobre o quão poderoso é compreender o sentido da vida, e assim poder experimentar a lacuna deixada por um ente querido, como no caso familiar das irmãs, seus pais não correspondem ao afeto desejado por elas. Vale lembrar que Zusu, a irmã mais nova, vivia com o pai até que este morre, e então parte da pequena cidade em que viviam para morar na agradável companhia com suas outras três irmãs mais velhas.
Heráclito responde a estas questões através da dialética. Para o filósofo de Éfeso, “o combate é de todas as coisas pai, de todas rei”. As coisas mudam porque existe uma tensão de forças contrárias dentro delas, como o mel que é, a um só tempo, doce e amargo. É a tensão dos contrários no interior da coisa que põe tudo em movimento. Admirável é que a tensão entre os contrários não produz destruição das forças em conflito, mas harmonia: “o contrário é convergente e dos convergentes nasce a mais bela harmonia, e tudo segundo a discórdia”. A forma como ela fica desconfortada ao demonstrar o que sente e o fato social de imaginar seu deslocamento daquele contexto é expresso com tamanha inocência que chega a ser inevitável não sentir a perda. Essa inocência é repetida em quase todos os conflitos sociais vividos pelas protagonistas, que durante o filme irão buscar a harmonia entre seguidos descontentamentos e prazeres.
Neste
sentido difere de “consubstancialidade” que é o correspondente ao termo grego ὁμοούσιος
(“homoousios”), termo original que designa essa realidade. Este termo provém da
junção de ὁμός (“homos”), significando “o mesmo”, e ούσιος
(“ousios”), proveniente de οὐσία (“ousía”), substância ou essência.
Assim, o termo tem o sentido de “da mesma substância, com a mesma essência”. O
correspondente em latim é “consubstantialis”, do qual deriva na língua
portuguesa, “consubstancial”. No entanto, podemos entender que tal tradução não
exprime perfeitamente o sentido e o significado do termo grego. O vocábulo
latino é composto por “cum” e “substantia”, o que quer dizer que favorece
“cum”, ou seja, com o sentido de “com”, simultaneidade, que não exprime
rigorosamente o mesmo sentido de “homos”. Do mesmo modo, “substantia” pode não
corresponder perfeitamente a “ousía”, na medida em que cada um dos termos
pressupõe um sistema ontológico, que varia conforme a cultura a qual se insere.
Historicamente o vocábulo foi
introduzido na confissão da fé católica pelo Primeiro Concílio de Niceia, em
325. A sua adoção está diretamente ligada à heresia dos arianos. Este grupo de
hereges, cujo precursor foi Ario, presbítero de Alexandria, negava a divindade
de Jesus Cristo. O Verbo de Deus, para ele, merecia esse nome apenas
segundo a nossa “forma de imaginação”, pois era uma criatura, talvez como nós,
mas criada antes de tudo como nós. Por ser uma criatura perfeita, Deus
colocou-o acima de todos, pois sabia que ele jamais pecaria. Assim, a filiação
de Jesus Cristo era apenas adotiva, do que resultava que o Pai o era apenas em
sentido figurado. A isto, a Igreja respondeu reafirmando a divindade do Filho e
o carácter próprio da paternidade de Deus Pai. Portanto, serviu-se de várias
expressões, mas todas elas foram contestadas pelos arianos, que as
interpretavam sempre como uma ofensa ao monoteísmo. Mas que para
exprimir o conceito que descrevia a natureza da divindade de Jesus e a sua
relação com a divindade do Pai, o Concílio de Niceia aplicou o termo
“homoousios”.
O diretor japonês Hirokazu Kore-Eda
tem uma predileção especial por questões familiares, como demonstra sua
filmografia. É ele o responsável por “Ninguém Pode Saber” (“Dare mo sihranai”,
Japão, 2004) em que apresenta seu argumento articulado por meio da linguagem,
constituída pela luz, esverdeada às vezes, neutra a maior parte do tempo, pelo
enquadramento de partes dos corpos (das mãos principalmente) e da disposição
dos corpos em espaços (internos e externos), pela escolha dos olhares como principal
matéria-prima expressiva e pelo tempo cultivado em cada cena para muito além do
caráter descritivo da ação, que a veracidade será construída. E em “Pais &
Filhos” (2013), onde demonstra como um casal lida com uma descoberta inusitada
e cruel: seu filho de 6 anos, foi trocado na maternidade. Entretanto, por ser
um problema recorrente da modernidade, se propõe a discutir os dilemas práticos
e morais de desfazer ou não o erro da maternidade, e neste caso e arcar com as
consequências dessa escolha, acrescentando o valor genético e emocional nessa
complexa equação da vida real.
Ambos
são premiados no Festival de Cannes, cujas histórias trazem conflitos
que envolvem pais ausentes e filhos que precisam lidar com adversidades
repentinas, mas com uma novidade: Kore-Eda busca desde o início a comunhão dos
personagens. O cineasta usa do tom bucólico e ameno para acompanhar o cotidiano
de suas personagens principais, com leves alterações decorrentes de novos e
velhos amores, perda de amigos e ressurgimento de parentes. Queremos dizer com
isto que “Ousía”, no sentido de essência, tanto pode designar a essência
individual como a essência do gênero. Além disso, não se aplica a Deus do mesmo
modo que se pode aplicar aos entes corpóreos. O conceito de “homoousios” foi
também aplicado ao Espírito Santo, para exprimir a sua relação com o Pai e o
Filho: a mesma essência divina, sem divisão. No entanto, enquanto que o Filho é
gerado, o Espírito Santo existe por processão. O vocábulo não existe na Bíblia,
mas foi tomado de empréstimo na história social representada pela filosofia
grega com o início de uma linguagem teológica própria e oficial da Igreja.
A
Terra está tão perto de ser esférica que os físicos às vezes a tratam como tal
em seus modelos. Mas esta simplificação pode causar erros significativos ao
calcular o movimento em sua superfície. Em um artigo publicado no American
Journal of Physics, Edwards e seu irmão John Edwards, um cientista da
computação que também está no estado de Utah, demonstram como a forma
esferoidal da Terra afeta o movimento ao imaginar uma Terra plenamente de forma
lisa e coberta por gelo sem fricção, perguntando o que aconteceria se você
atirasse um disco de hóquei em sua superfície? O empuxo gravitacional da Terra
é ligeiramente mais fraco no equador devido a sua protuberância equatorial. Por
sua atração gravitacional ser “levemente mais fraca”, o equador é ideal para
lançamentos de naves, pois consomem “menos energia ao serem lançados em baixa
gravidade”. Duas vezes ao ano, nos equinócios da primavera e do outono, o Sol
passa diretamente sobre o equador. Mesmo no restante do ano, as regiões
equatoriais geralmente experimentam um clima quente e úmido com pouca variação
sazonal. A estação úmida ou chuvosa dura a maior parte do ano. A
longa e quente estação chuvosa cria nossas florestas tropicais. Seu clima úmido
faz com que as regiões equatoriais não sejam as mais quentes do mundo, e há algumas regiões, como o monte Quilimanjaro (Tanzânia) e os Andes na
América, que não são per se quentes e úmidas.
A experiência imediata e vivida na qualidade de “realidade unitária” (Erlebnis) seria o meio a permitir a apreensão da realidade histórica e humana sob suas formas concreta e viva. O contato conceitual de Wilhelm Dilthey com a hermenêutica está relacionado à sua preparação teológica. Sua reflexão para estabelecer as relações entre significados e sistemas está presente nos seus longos escritos principalmente àqueles relacionados sobre as “ciências do espírito”, com oscilações que ensejam a leitura da sua obra tanto no âmbito psicológico quanto de uma perspectiva mais propriamente sociológica. Sem dúvida ele recusou algum caráter de ciência à sociologia, referindo-se às suas variantes positivistas, mas em sintonia com uma preocupação com os fenômenos históricos em grande escala, nos quais as dimensões decisivas dizem respeito às formas de organização social da vida coletiva. Foi o primeiro pensador com uma formulação teórica original, preocupado em aproximar a hermenêutica do terreno das incertezas da história social europeia. A inovação causada por sua concepção categórica da teoria foi única e, por isso, ele está na base de muitas correntes de pensamento que articulam a relação história e hermenêutica. A hermenêutica tradicional se refere ao estudo da interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de literatura, religião e direito.
A hermenêutica moderna e contemporânea engloba não somente textos escritos, mas também “tudo que há vívido no processo interpretativo”. Isso inclui formas sociais verbais e não verbais de comunicação, assim como aspectos que afetam a comunicação, como proposições, pressupostos, o significado e a filosofia da linguagem e a semiótica. Não tem a pretensão de eternizar o homem, mas possibilitar ao homem se aproximar da vida, por meio de conexões que integram, aproxima e relaciona os homens. A teoria compreensiva tem uma importância ética ímpar para o mundo contemporâneo. A base para esse nexo é a relação da vivência e a categoria do significado. Mas uma estrutura que aparece como unidade de conjunto onde age o pensamento, os sentimentos e a vontade. Considerando que há um balanço parte e todo no nexo da vivência, o que garante o equilíbrio para esse balanço é a categoria do significado que para Dilthey, nada mais é do que a integração num todo que nós encontramos juntos e nos remete ao significado contido na relação totalizante “parte-todo que encontra na vivência e é seu fundamento”. É neste sentido que Dilthey considera que vida e a mudança como padrão histórico dos seus principais momentos estruturais fazem que a concepção do mundo sempre e em toda a parte se expresse em oposições, embora sobremaneira de um fundo comum. Portanto, é na arte, na religião e no pensamento que encarnam os ideais que vangloriam a existência de um povo. Por conseguinte, toda a mundividência é produto da história. A historicidade revela-se como uma propriedade fundamental da consciência humana.
Os
sistemas filosóficos e sociológicos não constituem uma exceção. Como as
religiões e as obras de arte, contêm uma visão da vida e do mundo, inserida na
vitalidade das pessoas que os produziram e em consonância com as épocas em que
vieram à luz do dia; traduzem uma determinada atitude afetiva, caracterizam-se
pela imprescindível energia lógica, porque o filósofo e frequentemente o
sociólogo procuram trazer a imagem do mundo à clara consciência e ao mais
estrito urdimento cognitivo. Um esforço de reflexão e dos conceitos, que gera
uma circunspecção potencial reside o valor prático da atitude filosófica. Como
o centro da compreensão está na vida como um todo estruturado, mas sempre
resultando da relação entre individualidades, é possível perceber a conexão
entre a ética e a teoria compreensiva. Em verdade uma concepção da teoria, ao
longo de quase meio século, permeada lado a lado por um motivo básico: uma
unidade cuja garantia de existência é a presença do sentido. Há uma démarche
que atravessa o homem, e nesta noção de sentido está a marca de uma concessão
fatal a uma metafísica. Ele desejava
evitar tanto quanto o empirismo dos positivistas, desde que fique clara a
dimensão de ser criador de significados, que não é simplesmente a noção ampla
de vida, mas sua unidade constitutiva, a vivência, representada em toda
experiência humana. A história é suscetível de conhecimento porque
é obra humana; nela o sujeito e objeto formam uma unidade.
Nessa direção chega-se à formulação da concepção de Dilthey. Seus
elementos são: vivência, expressão e compreensão.
A vivência surge nesse ponto, como algo especificamente social – pela sua dimensão intersubjetiva, e cultural – pela sua dimensão significativa -, para além do seu nível psicológico ou mesmo biológico porque guarda na memória. Trata-se de um ato de consciência, que propõe e persegue fins num contexto intersubjetivo. As interações humanas ganham corpo nas diversas formas de “manifestação de vida” através da arte, filosofia, religião, ciência, como expressão desse caráter objetivo que a experiência, intersubjetivamente constituída assume. Sua concepção metodológica articula-se, portanto, em torno do movimento de ir e vir que ocorre entre a vida, como conjunto de vivências e as formas objetivas que seus resultados assumem na sua expressão. A referência às “vivências”, segundo Gabriel Cohn, visa a preservar esse caráter imediato, no qual só é possível compreender aquilo de que assimila o próprio intérprete, pois é evidentemente de interpretação que se trata, e não de “mera observação especulativa”, é também o produtor; os propósitos, os fins e os valores, ainda que ao intérprete caiba mais propriamente reproduzi-los, na sua tarefa de reconstituir o processo da sua produção primeira. A diferenciação das ciências particulares não se realizou por um artifício da “inteligência teórica”, em resolver o problema posto pela existência do mundo mediante a análise metódica do objeto de investigação: a própria vida a realizou.
Por fim, fica evidente que, na segunda metade do século XIX, todas as metafísicas não podem ser classificadas como ciências, mesmo os grandes novos sistemas do idealismo alemão. Por esta razão, Dilthey as declara “visões de mundo” que não são comprováveis, mas também não são refutáveis e, por esta razão, permanecem em eterno conflito entre si. Os três tipos de metafísica discernidos por Dilthey – naturalismo, idealismo subjetivo e idealismo objetivo – têm a mesma posição perante as ciências das três religiões monoteístas em Lessing: elas têm uma verdade existencial, mas não uma verdade científica. A verdade é que há que uma diferença crucial no despontar do pensamento e a assunção de uma via histórica representada por influência de Wilhelm Dilthey e Heinrich Rickert. Com Dilthey, e tantos outros pensadores de seu tempo histórico perceberam que não se devem tratar as questões filosóficas de maneira a-histórica, mas sim as enraizando no seu contexto histórico particular, onde qualquer experiência embora seja singular, a mesma só pode ser apreendida quando fazem parte de uma “comunidade de sentido”. Mais uma vez compreendermos algo da ordem “singular-universal”. Essa vivência singular encerra em si uma ligação com o todo de um determinado tempo histórico, o que o próprio Dilthey irá chamar de “visão de mundo”.
A
qualidade de vida é um tema que merece destaque pelo fato de se tratar de
questões sociais, conjunturais e políticas relacionadas diretamente com a
maneira com que os indivíduos conduzem sua forma de vida. A qualidade de vida
no trabalho pode ser definida como o conjunto das ações dentro da empresa que
envolve a implantação e manutenção de melhorias e inovações gerenciais,
tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho. Representa, portanto, como
a gestão e a educação para o bem-estar no trabalho, com decisões e escolhas
baseadas na cultura organizacional e no estilo de vida dos diferentes segmentos
ocupacionais. Apesar de ser uma linha de estudo recente e necessitar de
detalhamento de situações concretas para melhor compreensão do tema, a
qualidade de vida no ambiente de trabalho tem sido com diversas concepções e
teorias, que trouxeram à tona fatores preponderantes e pioneiros para o
desenvolvimento da atividade administrativa em função das condições adequadas
de trabalho, incentivos e recompensas salariais oportunas, cuidados com a saúde
do trabalhador etc. Isto porque o capital representa uma relação social entre
pessoas, relação que se estabelece por intermédio de coisas. Resulta que tais
relações se convertem em mercadorias porque são os produtos dos trabalhos
privados executados com independência uns dos outros.
Para
os trabalhadores as relações de seus trabalhos privados parecem o que são, isto
é, relações sociais imediatas das pessoas em seus trabalhos, senão relações
sociais entre coisas. Só em seu intercâmbio os produtos do trabalho adquirem
como valores, uma existência social idêntica e uniforme, distinta do material e
uniforme que têm como objetos de utilidade. Esta divisão do produto do trabalho
em objeto útil e objeto de valor se ampliam na prática quando o intercâmbio
adquire bastante extensão e importância, de modo que os objetos úteis se
produzam com vistas ao intercâmbio e seu caráter de valor tenha-se já em conta
em sua mesma produção. O futebol, em sua dimensão globalizada, mediatizada às
relações políticas competitivas globalizadas entre nações e nacionalidades
demonstra cabalmente como se dão tais relações sociais e de produção no
imaginário individual (os sonhos) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos),
distribuídas através das redes de sociabilidade. A cidadania pode ser
classificada como um status concedido pelo Estado que equiparam aos direitos
civis os membros de uma sociedade, concedendo-se ao cidadão um conjunto de
direitos e obrigações de ordem civil, política e social. Na crítica aoque se chamam de “cidadãos incompletos” aqueles que possuem dos três
direitos compreendidos pela cidadania, em oposição àqueles que não se
beneficiam de nenhum dos direitos, mas se o assédio moral se referir à
categoria sexual masculina é melhor que a questão da representação da situação social
seja velada.
A questão da demarcação acrescenta outra dimensão ao problema, uma vez que nem todas as ações sociais discursivas relativas envolvidas no reconhecimento e no reconhecimento equivocado são explícitas. O ato de delimitação opera de acordo com uma forma performativa de poder que estabelece um problema fundamental da democracia interna/externa em determinado grupo de trabalho coletivo de professores/as ao mesmo tempo em que fornece o seu termo chave: estamos diante da blindagem acadêmica. Esta tese implica na seguinte questão: se a performatividade é com frequência associada ao desempenho individual, pode se provar, segundo Butler (2018), passa a ser importante reconsiderar essas formas de performatividade que operam apenas por meio das formas de ação coordenada, cujas condições e cujo objetivo são a reconstituição de formas plurais de atuação e de práticas sociais de resistência. Esse movimento ou inércia, esse estacionamento do meu corpo no meio da ação do outro, não é um ato meu ou de outros, mas algumas coisas que acontece em virtude da relação entre nós, surgindo dessa relação, usando frases equívocas entre o eu e o nós - ele está gritando - buscando preservar e disseminar o valor desse equívoco, uma relação ativa e deliberadamente sustentada, uma colaboração distinta da fusão ou confusão alucinatória.
A palavra comuna, na Idade Média, representa a designação para “a cidade que se tornava emancipada pela obtenção de carta de autonomia fornecida pelo rei”. Atualmente, na França, o termo se refere à menor subdivisão administrativa do território. Em Portugal o termo remete às “comunas universitárias”, residências que formam habitação e clube de estudantes universitários, ou à administração de conselho. É desconhecida da Idade Média em Portugal: os termos que indicam comunidade urbana com personalidade jurídica são ou eram chamados de urbes, burgos, conselhos ou municípios. Berck é uma comuna francesa na região administrativa de Nord-Pas-de-Calais, no departamento de Pas-de-Calais. A comuna francesa representa a unidade básica de organização territorial da França, que perfaz um número considerável em comparação com outros países europeus: 36 681, contra aproximadamente 13 000 na Alemanha, 8 000 na Espanha e na Itália e 4 500 em Portugal. As outras subdivisões territoriais, condicionando o espaço, um lugar praticado são: o cantão, o arrondissement, o departamento e a região. As raízes do movimento comunal encontram-se nas aspirações dos burgueses das cidades que queriam liberdade, segurança, isenção de impostos feudais e justiça própria; estas exigências resultavam do desenvolvimento comercial, que era afetado pela rigidez das estruturas feudais. Embora apresentem características semelhantes aos municípios portugueses, nem as cartas comunais francesas são comparáveis a forais, que na maioria dos casos não passam de listas de encargos a satisfazer à coroa pelos conselhos.
Nos
próprios burgos onde a burguesia mercantil predominava como o Porto, e o
grau de sujeição ao rei diminuía dificilmente se poderá falar de “autonomia
política” no sentido comunal. As comunas eram grandes unidades de produção
rural, abrangendo a agricultura e pequenas indústrias. Cada comuna
estruturava-se de forma coletiva e centralizada. Os lotes agrícolas familiares,
distribuídos na reforma agrária de 1950, foram eliminados. A terra, colocada
sob o controle social das comunas. As comunas organizavam a vida social e a educação
das crianças. A implantação desse sistema teve impacto sobre a vida familiar,
diminuindo a força tradicional da autoridade paterna. Inspirado na vida da mãe
de seu diretor e roteirista, Jean-Jacques Zilbermann, “Um Brinde à Vida” (2016)
é uma saudação, com uma extraordinária sensação de revelar as complexidades e
minudências da vida. - Jean-Jacques Zilbermann s`est inspiré de l`histoire de
sa mère, Irène, qui rejoignait ses amies de déportation à la mer, enfin “à Auschwitz-les-Bains”.
O longa-metragem parte da experiência concreta dela e outras duas amigas
sobreviventes do “campo de concentração Auschwitz” e acompanham seu reencontro
mais de uma década depois da terrível experiência full-time no campo de
concentração. Em 1960, três mulheres deportadas de Auschwitz, que não se viam
desde o pós-guerra, se reencontram numa praia do norte da França. Durante esses
poucos dias, tudo ocorre como uma primeira vez para Helen, Rose e Lili: as
primeiras refeições de verdade juntas, o saborear do sorvete, o primeiro
mergulho no mar, uma traição. Uma semana de risos, canções, mas também de
conflitos e histórias de amor e amizade.
Do ponto de vista topológico em meio às sequências que nos ajudam a entender melhor essa personagem alçada ao protagonismo, sobretudo suas dificuldades oriundas das cicatrizes de guerra, o diretor Jean-Jacques Zilbermann prepara o terreno para a reunião das mulheres, ponto de virada que traz consigo uma mudança no compasso do longa-metragem. O reencontro de Hèlene, Lily (Johanna ter Steege) e Rose (Suzanne Clément), mediado pela quase onipresença do sol, não mais da sombra claustrofóbica dos campos de concentração, acontece numa cidade do litoral francês que contrasta evidentemente com os cenários lúgubres do cárcere. No que tange ao comportamento das amigas, há uma estratégia bem definida de acordo com a personalidade delas. Hèlene é tímida, sente-se impelida a cuidar dos que igualmente sofreram. Lilly lida de forma vaga com o passado, ora falando, ora calando. Rose, por sua vez, ostenta a fina camada de felicidade que esconde uma tristeza profunda. Contudo, Hèlene precisa falar de Auschwitz, recordar as circunstâncias que Rose quer deixar completamente para trás, se possível trancadas a sete chaves no recôndito da memória. Lily prefere questionar os preceitos do judaísmo, fazendo às vezes de mediadora, quando não de figura materna.
As
primeiras cenas do filme: Um Brinde à Vida ocorrem em Auschwitz,
naqueles dias “em que os alemães esvaziam o famigerado campo de concentração”.
Entre execuções e o terrorismo das experiências que ainda ditavam as regras no
ocaso do lugar de ódio e crueldade, duas amigas tentam fazer com que uma
terceira se junte a elas na chamada “Marcha da Morte”, episódio histórico que
marcou a transferência dos judeus para outros campos nazistas, onde
aparentemente tinham chances de sobreviver. Esse prólogo marcado pela opressão
totalitária e por uma imagem cuja concepção revela a atrocidade revivida pela
memória não é exatamente um filme marcadamente sisudo. Mas é no âmbito da
memória fustigada que acompanhar a démarche de Hèlene (Julie Depardieu), que
tenta a todo custo retomar contato com as amizades construídas durante a
barbárie nos faz entender o processo e as mazelas de reconstituição da memória.
Ela se casa com um homem marcado pela violência física da intolerância dos
partidários de Hitler e anuncia recorrentemente num jornal a busca por suas
companheiras de degredo.
Metodologicamente
a memória representa o armazenamento de informações e fatos obtidos através de
experiências ouvidas ou vividas. A memória focaliza coisas específicas, requer
grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a passagem do tempo. É um
processo que conecta pedaços de memória e reconhecimentos a fim de gerar novas
ideias, ajudando através dos detalhes a tomar decisões diárias. A corrupção da
consciência, fenomenologicamente falando, no sentido que emprega Merleau-Ponty
funciona como a “essência da consciência para o mal”, ou, “essência da
percepção para o mal”, posto que: a consciência só começa a ser determinando um
objeto, e mesmo os fantasmas de uma “experiência interna” só é possível por
empréstimo à experiência externa. Memória, segundo diversos estudiosos, desde
Hegel e Marx à maturação da hermenêutica filosófica, desde à compreensão da
sociologia e à aproximação com a psicanálise freudiana é factualmente a base do
conhecimento humano. E como tal, deve ser trabalhada e estimulada. É através
dela que damos significado ao cotidiano da vida privada e acumulamos nossas
experiências para utilizarmos com eficácia durante a vida.
A
realização de Jean-Jacques Zilbermann consegue aproveitar plenamente o
potencial da temática, principalmente nessa interessante proposta de apresentar
faces distintas de um mesmo anseio, o de mitigar as dores da guerra, ora
através da religião e seus símbolos, ora através da transgressão sexual,
como ocorre nas cenas de sexo dentro do banheiro químico na comuna francesa de
Nord-Pas-de-Calais. Freud tinha uma concepção psicológica do ser humano. Sua
teoria é de grande influência na psicologia atual e, além do contínuo debate
sobre sua aplicação no tratamento médico, também é, frequentemente, discutida e
analisada como obra de literatura e cultura geral. Depois que o pai de Freud
falece, em 1896, segundo as cartas recebidas por Fliess, Freud, dedica-se a
analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à sua infância e, assim,
determinando as raízes de suas próprias neuroses. Reconhecido profissionalmente
como Sigmund Freud, foi um médico neurologista criador da psicanálise. Freud,
como se tornara reconhecido, nasceu em uma família judaica, em Freiberg in
Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco, atualmente, a localidade é
denominada Příbor, e pertence à República Tcheca. Freud iniciou seus estudos
pela utilização da técnica da hipnose no tratamento de pacientes com histeria,
como forma de acesso aos seus conteúdos mentais.
Ao
observar a melhoria dos pacientes tratados pelo médico francês Charcot,
elaborou a hipótese clínica de que a causa da histeria era psicológica, e não
orgânica, distanciando-se das correntes positivistas que associavam a
determinação biológica da espécie. Essa hipótese serviu de base para outros
conceitos desenvolvidos posteriormente por Freud, como o do inconsciente. Fatos
como a descrição de pacientes curados através do diálogo por Josef Breuer e a
morte do colega Ernst von Fleischl-Marxow por dose excessiva do antidepressivo
da época, a cocaína, levaram-no ao abandono das técnicas de hipnose e de drogas
para criar um novo método: a cura pela fala, ou seja, a psicanálise, que
utilizava a interpretação de sonhos e a livre associação como acesso ao
inconsciente. Suas teorias sociais e seus tratamentos terapêuticos foram
controversos na aparentemente conservadora Viena do fim do século XIX, e
continuam a ser debatidos presentemente. Sua concepção teórico-metodológica de teoria e de inerpretação da realidade é de grande
influência na psicologia e, além do contínuo debate atualmente sobre sua aplicação
terapêutica no tratamento médico, também é, frequentemente, discutida e
analisada como obra de literatura culta nas humanidades.
A
psicossociologia tem como representação abstrata do indivíduo o estudo de
problemas comuns à psicologia e à sociologia, particularmente a maneira como o
comportamento individual é influenciado pelos grupos aos quais a pessoa
pertence. Por exemplo, no estudo dos criminosos a psicologia estuda a
personalidade latente do criminoso moldada pela educação do criminoso. A
sociologia estuda o comportamento teórico e prático do próprio grupo num
processo de interação em geral: os métodos que o grupo criminoso usa para
recrutar membros e a maneira como o grupo muda ao longo do tempo.
Psicossociologia estuda o comportamento do criminoso, que é criado pelo grupo
ao qual pertence, como os jovens que moram no mesmo quarteirão do bairro. Existem
muitos fatores sociais que podem afetar a psicologia dos outros. Um exemplo
disso são as chamadas panelinhas sociais. Se alguém é aceito em seu grupo
desejado ou não, isso muda a maneira como eles pensam sobre si mesmos e as
pessoas ao seu redor. Amizades em idades jovens enquanto crescem também têm
muito a ver não apenas com o desenvolvimento psicológico, mas também com
habilidades sociais e comportamento social. O mesmo vale para as leis comuns na
sociedade. Se o grupo de um indivíduo decide obedecer por eles ou não, isso
afeta a visão desse indivíduo sobre a lei e seu grupo como um todo. A maneira
como as pessoas podem agir ou falar dita a maneira como os outros as veem em
uma sociedade. Os indivíduos podem ver a autoridade de muitas maneiras, dependendo de suas experiências e do que os outros lhes disseram.
Por
isso, com base no conhecimento social de autoridade das pessoas, suas opiniões
e ideias são muito diferentes. Cada indivíduo tem seu próprio processo de
pensamento psicológico único e pessoal no qual eles usam para analisar o mundo
ao seu redor. As pessoas internalizam e processam fatores sociológicos de
maneira relativa ao seu processo de pensamento psicológico. Essa relação é
recíproca, pois a sociedade pode alterar e transformar as maneiras que as
pessoas pensam e, ao mesmo tempo, a sociedade pode ser influenciada pelo
pensamento psicológico exteriorizado dos indivíduos dentro da própria
sociedade. Devido a isso, pode-se ver como a psicologia é fundamental para
ajudar o sociólogo a interpretar os efeitos dos fatos sociais no comportamento
de um indivíduo numa sociedade determinada. Tais anotações tornam-se a fonte
etnográfica para a obra “A Interpretação dos Sonhos”. Durante o curso desta
autoanálise, Freud chega à conclusão de que seus próprios problemas eram
devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade em relação a seu pai. É o
que constitui o famoso “complexo de Édipo”: o “coração”, por assim
dizer, da teoria de Freud sobre a origem da neurose em todos os seus pacientes
investigados. Nos primeiros anos do século XX, são publicadas suas obras em que
contém suas teses principais no ensaio: “A Interpretação dos Sonhos” e “A Psicopatologia da Vida Cotidiana”. Freud criou o termo “psicanálise” para
designar um método, uma teoria e uma técnica para investigar
cientificamente os processos inconscientes e de outro modo inacessíveis do
psiquismo.
Bibliografia
Geral Consultada.
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