sábado, 25 de novembro de 2023

Camisa de Força – Cinema, Psiquiatria & Restrição de Movimentos.

                         “Quando um louco parece lúcido é o momento de colocar-lhe a camisa de força”. Edgar Allan Poe

         O corpo percorre a história da ciência e da filosofia. De Platão a Bergson, passando por Descartes, Espinosa, Merleau-Ponty, Freud, Marx, Nietzsche, Weber e principalmente Michel Foucault, quando a definição de corpo demonstra um puzzle. Quase todos reconhecem a profusão da visão dualista de Descartes, que define o corpo como uma substância extensa em oposição à substância pensante. Podemos perceber que seguindo este modo científico de compreensão, sobretudo com o advento da modernidade, o corpo foi facilmente associado a uma máquina. O corpo foi pensado como um mecanismo elaborado por determinados princípios que alimentam as engrenagens desta máquina promovendo o seu bom funcionamento. Isto quer dizer que através dos exercícios de abstinência e domínio que constituem a ascese necessária, o lugar atribuído ao conhecimento de si torna-se mais importante: a tarefa de se pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa série de exercícios bem definidos, coloca a questão da verdade – do que se é, do que se faz e do que é capaz de fazer – no cerne da constituição do sujeito moral. E, finalmente, o ponto de chegada dessa elaboração é ainda e sempre definido pela soberania do indivíduo sobre si mesmo. Neste aspecto Michel Foucault (2014) nos adverte sobre a questão abstrata da analítica do poder que se constitui o marco histórico e pontual de “docilidade dos corpos”. Para ele o soldado é alguém que se reconhece de longe; que leva os sinais naturais de seu vigor e coragem, as marcas de seu orgulho: seu corpo é o brasão de sua força e de sua valentia: e se é verdade que deve aprender aos poucos o ofício das armas, lutando, as manobras como a marcha, as atitudes como o porte da cabeça se originam, em boa parte, de uma retórica corporal com significado e sentido de honra.

Eis como ainda no início do século XVIII se descrevia a figura ideal do soldado. Mas na segunda metade deste século, o soldado se tornou algo que se fabrica; de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a máquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos as posturas: lentamente uma coação calculada percorrer cada parte do corpo, assenhoreia-se dele, dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se prolonga, em silêncio, no automatismo dos hábitos; em resumo, foi “expulso o camponês” e lhe foi dada a “fisionomia de soldado”. Ipso facto, houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Encontraríamos facilmente sinais dessa grande atenção dedicada então ao corpo que se manipula, modela-se, treina-se, que obedece, responde, torna-se hábil ou cujas forças multiplicam o “homem-máquina”. O grande livro do homem-máquina foi descrito simultaneamente em dois registros: no anátomo-metafísico, cujas primeiras páginas haviam sido escritas por Descartes e que os médicos, os filósofos continuaram; o outro, técnico-político, constituído por um conjunto de regulamentos militares, escolares, hospitalares e por processo empíricos e refletidos para controlar ou corrigir as operações do corpo. Dois registros bem distintos, pois se tratava ora de submissão e utilização, ora de funcionamento e de explicação: corpo útil, corpo inteligível. E, entretanto, de um ao outro, pontos de cruzamento. “O homem-máquina” de La Metrie (1709-1751) é ao mesmo tempo uma redução materialista da alma e teoria geral do adestramento, no centro dos quais reina a noção de “docilidade” que une ao corpo analisável o corpo manipulável.

Em sua significação específica é dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado. Contudo, os famosos autômatos, por seu lado, não eram apenas uma maneira de ilustrar o organismo; eram também bonecos políticos, modelos reduzidos de poder: obsessão de Frederico II (1712-1786), rei minucioso das pequenas máquinas, dos regimentos bem treinados e dos longos exercícios. Para a investigação social da analítica do poder de Foucault metodologicamente a questão a responder é a seguinte: Nesses esquemas de docilidade, em que o século XVIII teve tanto interesse, o que há de tão novo? Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de investimentos tão imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes mito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Muitas coisas, entretanto, são novas nessas técnicas. A escala, em primeiro lugar, do controle; não se trata de cuidar do corpo, massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalha-lo detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao mesmo nível prático da mecânica – movimentos, gestos, atitudes, rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo. O objeto, em seguida, do controle: não, ou mais, os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização interna; a coação se faz mais sobre as forças que sobre os sinais; a única cerimônia que importa realmente é a do exercício. 

A modalidade implica uma coerção ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o espaço, os movimentos.  Esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar disciplinas. Muitos processos disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de dominação. Diferentes da escravidão, pois não se fundamentam numa relação de apropriação dos corpos; é até a elegância da disciplina dispensar essa relação custosa e violenta obtendo efeitos de utilidade pelo menos igualmente grandes. Mas também ocorre que são diferentes também da domesticidade, que é uma relação social de dominação constante, global, maciça, não analítica, ilimitada e estabelecida sob a forma de vontade de poder singular do patrão, sendo quase seu “capricho”. Diferentes da vassalidade que é uma relação de submissão codificada, mas longínqua e que se realiza menos sobre as operações do corpo que os produtos do trabalho e as marcas rituais de obediência.

Diferentes do ascetismo e das “disciplinas” de tipo monástico, que têm por função realizar renúncias mais do que aumentos de utilidade e obediência, têm como fim um aumento do domínio de cada um sobre seu próprio corpo. O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter o domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas ara que operem como se quer, com as técnicas segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis.  A disciplina enquanto processo aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela associa o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar, e faz dela uma relação de sujeição estrita.

The Jacket é um filme teuto-britano-estadunidense de 2005, dos gêneros suspense, drama e ficção científica, dirigido por John Maybury, Tom Bleecker e Marc Rocco. Jack Starks representa um veterano da Guerra do Golfo, ocorrida entre 2 de agosto de 1990 até 28 de fevereiro de 1991, entre o Iraque e forças da chamada Coalizão internacional, liderada pelos Estados Unidos da América e patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU), com a aprovação de seu Conselho de Segurança, através da Resolução 678, autorizando o uso da força militar para alcançar a libertação do Kuwait, ocupado e anexado pelas forças armadas iraquianas sob as ordens de Saddam Hussein  que retorna à sua cidade natal após se recuperar de um tiro na cabeça. Ele passa a sofrer de amnésia e, após ser acusado de ter assassinado um policial, é recolhido a um hospital psiquiátrico. O Dr. Thomas Becker faz com que Jack tenha drogas experimentais injetadas em seu corpo, como parte de testes deste tipo de tratamento. Imobilizado em uma camisa de força, Jack constantemente é “trancado por um longo tempo em uma gaveta de cadáveres, no necrotério da clínica em que está”. Completamente drogado, a mente de Jack consegue se projetar para o futuro, no qual conhece Jackie Price e descobre que ele próprio irá morrer dali a quatro dias.

Para entender as origens do conflito bélico, é preciso voltar historicamente à interpretação da década de 1980. Entre 1980 e 1988, os vizinhos Irã e Iraque disputaram uma guerra que deixou cerca de 2 milhões de mortos. Na Guerra Irã-Iraque, o governo iraquiano, comandado pelo presidente Saddam Hussein Abd al-Majid al-Tikriti (1937-2006), recebeu o apoio de potências ocidentais, interessadas em enfraquecer o regime iraniano. O motivo: em 1979, a revolução que derrubou o xá Mohammad Reza Pahlevi (1919-1980), do Irã, levou à implantação de uma república islâmica xiita no país. No mesmo ano, Saddam Hussein assumiu a Presidência do Iraque - função que exerceria por mais de duas décadas como um ditador, usando uma repressão violenta para suprimir qualquer tipo de dissidência interna. Ao invadir o território do vizinho e iniciar o conflito, Saddam representou os interesses tanto do Ocidente como dos regimes árabes sunitas, que temiam o fortalecimento do xiita Irã após sua revolução. Terminada a guerra, que não teve vencedor, o presidente do Iraque desentendeu-se com outras lideranças árabes devido ao alto preço que o conflito tinha custado ao seu país - tanto em vidas humanas como na economia. Isso gerou disputas, envolvendo o preço do petróleo, que levaram Saddam Hussein a invadir o pequeno, mas poderoso Kuwait, em 1990.  

Com a invasão do Kuwait, Saddam Hussein, que anos antes recebera apoio do Ocidente, tornou-se inimigo tanto de seus vizinhos árabes como da comunidade internacional. Em 1991, na Guerra do Golfo, as forças de Saddam foram expulsas do Kuwait por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos da América, governado na época pelo republicano George Herbert Walker Bush. O líder do Iraque, porém, continuou no poder em Bagdá. Como Saddam Hussein havia desenvolvido armas químicas no passado e usado os gases sarin e mostarda contra cidadãos iraquianos xiitas e curdos, durante a década de 1990 a comunidade internacional pressionou o regime iraquiano para que permitisse a verificação de seu arsenal, sem nada comprovar. Após anos de pressão política via resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), sanções econômicas e até mesmo um violento bombardeio norte-americano em 1998, ficou a dúvida se seu regime ainda tinha ou não armas de destruição em massa. Muitos acreditavam que sim e temiam que Saddam pudesse utilizá-las. Outros argumentavam que suas armas químicas haviam sido destruídas ou simplesmente envelhecido. Seu poderio militar, segundo essas avaliações, tinha se enfraquecido enormemente após anos de sanções que empobreceram o país.

A camisa de força é descrita no livro de David Macbride (1772), mas outros autores afirmam que ela foi inventada por Guilleret (1790), estofador do hospital de Bicêtre (França) e nomeada de camisole de force. Apesar da sua “paternidade” não estar clara, o início do uso da camisa de forças fica associada ao psiquiatra francês Philippe Pinel (1745-1826), um dos fundadores da psiquiatria contemporânea, na sequência da tentativa de estabelecer um tratamento aparentemente “mais humano” para pacientes com transtornos mentais, comparativamente em detrimento dos “tratamentos” cruéis adotados em França no século XIX. É através da mudança social de atitude na abordagem destas pessoas com transtornos, ajudado por Jean Baptiste Pussin (1746-1811) percursor da enfermagem psiquiátrica, que Pinel terá introduzido a utilidade de uso da camisa de força. Entretanto, na época vitoriana foi utilizada como instrumento de tortura, pois é uma espécie de camisa feita de tecido do tipo “lona”, resistente, com mangas muito compridas e fechadas, que ultrapassam as pontas dos dedos do paciente. Estas permitiam que os braços se cruzassem contra o peito e as extremidades das mangas fossem apertadas atrás das costas, com a extremidade da firmeza, com o objetivo de o maniatar, restringindo todos os seus próprios movimentos físicos.

Por vezes tinha uma argola à qual se ligava uma corda, ou cadeado, para ser amarrada nas costas. Estes dispositivos eram usados isoladamente ou em simultâneo com outro tipo de estratégias de imobilização como a “cadeira forte”, “peias”, correntes, algemas e celas solitárias, sendo considerada uma forma de contenção física mais transitória, menos dolorosa e menos excludente que outros dispositivos usados à época. A camisa de forças é parte inegável da história da Psiquiatria, que abrangia um conjunto de medidas de repressão, impregnadas nas práticas consagradas dos “asilos”, institucionalmente “hospícios”, “hospitais de alienados” e, dos “hospitais psiquiátricos”, denominações dadas a instituições que albergavam pessoas com doenças mentais. A implementação deste tipo de medidas era amplamente aceite, com o objetivo de conter os pacientes em estado de excitação ou furor, agitação psicomotora, agressividade, que agrediam os outros ou se autoagrediam e quando existia a necessidade de estabelecer limites. Os doentes ficavam apenas com os braços amarrados, mas conseguiam andar. Esse tipo de contenção não evitava que a pessoa agredisse os outros, pois os membros inferiores ficavam livres, poderiam ser utilizados. No entanto, constituía grande risco individual de queda e ferimentos, especialmente no rosto, uma vez que prejudicava o equilíbrio e diminuía a possibilidade de o paciente ao cair se proteger com os braços. 

Depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, o governo norte-americano passou a argumentar que as possíveis armas iraquianas poderiam não apenas ser usadas pelo Iraque, mas também cair nas mãos de grupos armados internacionais, como a Al-Qaeda. Saddam Hussein negava ainda manter armas químicas ou mesmo um programa nuclear - como foi argumentado por alguns na época -, e analistas apontavam para o fato de que o regime secular iraquiano era inimigo de militantes islamistas como Osama bin Laden. Isso não impediu que grande parte da população norte-americana acreditasse em alguma ligação entre o líder iraquiano e o 11 de Setembro. Segundo pesquisa do Instituto Gallup, de agosto de 2002, 53% dos norte-americanos acreditavam que Saddam estava “pessoalmente envolvido” nos ataques ocorridos nos estados de Nova York, Washington e Pensilvânia. Os que não acreditavam nessa tese geopolítica era de 34%. Outra pesquisa realizada pelo The Washington Post em setembro de 2003, indicava estatisticamente que 69% dos norte-americanos consideravam ser “pelo menos provável” a possibilidade de Saddam Hussein ter desempenhado “algum papel” nos atentados de 2001.

No caso de queda do indivíduo, por vezes, era necessário suturar as lesões. A camisa de força e a reclusão, não podiam ser empregues sem autorização de um clínico, e regra geral, a sua adoção era delimitada no tempo não podendo exceder dois dias por cada aplicação. A camisa de força é uma peça de roupa em forma de jaqueta que imobiliza os braços de uma pessoa. O desenho consiste em uma camisa de mangas compridas de tecido firme que passa pela ponta dos dedos do usuário, com mangas fechadas nas pontas e amarradas nas costas. É comum seu uso para imobilizar ou manter sob controle criminosos, violentos ou loucos. Juntamente com as algemas, é um dos mecanismos mais conhecidos de controle físico das pessoas. Embora camisa de força seja o termo mais frequente, existe o neologismo francês “camisa de força”, usado no Norte da Catalunha. Seu uso mais comum é para restringir pessoas que “possam causar danos a si mesmas ou a outras pessoas”. O usuário desliza os braços nas mangas, o atendente cruza as mangas contra o peito e amarra as pontas das mangas na parte de trás da jaqueta, garantindo que os braços fiquem próximos ao peito com o mínimo de espaço e de movimento possível.

O efeito da camisa de força como “medida de segurança” torna-a de particular interesse para o escapismo. A camisa de força também é um elemento básico na magia do palco. A camisa de força vem da era georgiana da medicina. A contenção física era usada tanto como tratamento para doenças mentais quanto para pacificar pacientes em manicômios. Pela sua resistência, o cânhamo e a lona são os materiais mais comuns para camisas de força institucionais. O famoso ilusionista Harry Houdini utilizou-o para realizar um de seus mais famosos atos de fuga, no qual conseguiu se livrar de uma camisa de força pendurada de cabeça para baixo no topo de um edifício convencionalmente chamado arranha-céu. Com o desenvolvimento positivista da psiquiatria, o aparecimento dos psicofármacos, o desenvolvimento da psicoterapia e o emergir de diferentes tipos de abordagens terapêuticas, em países nomeadamente em Portugal, a adoção das medidas descritas tornou-se, cada vez mais, de carácter excepcional, e algumas acabaram mesmo por se extinguir, como é o caso do uso da camisa de força. Contudo, não se pode deixar de referir que em alguns países, algumas destas abordagens ainda são utilizadas.

O sociólogo Norbert Elias distingue os seres humanos como indivíduos e como sociedade, entendendo com isso, que quando uma pessoa diz “sociedade” e a outra escuta, elas se entendem sem dificuldade. Mas será que realmente nos entendemos? A sociedade, como sabemos, somos todos nós; é um grande número de pessoas reunidas. Mas um bom número de pessoas reunidas na Índia e na China forma um tipo de sociedade diferente da encontrada na América ou na Grã-Bretanha; a sociedade composta por muitos indivíduos na Europa do século XII era diferente da encontrada nos séculos XVI ou XX. E, embora todas essas sociedades certamente tenham consistido e consistam em nada além de mitos indivíduos, é claro que a mudança de uma forma de convívio para outra não foi planejada por nenhum deles. Pelo menos, é impossível constatar que qualquer pessoa dos séculos XII ou mesmo XVI tenha trabalhado deliberadamente pelas sociedades de nossos dias, que assumem a forma de Estados nacionais altamente industrializados. Que tipo de formação é esse, que só existe diante de um grande número de pessoas, só continua a funcionar quando pessoas, tomadas isoladamente, querem e fazem certas coisas, mas cuja estrutura e transformações históricas independem das intenções de qualquer pessoa em particular? Quando alguém examina as respostas dadas a essas e outras questões sociológicas similares, vê-se confrontado, em termos gerais, com dois amplos campos opostos de indagação. Melhor dizendo, parte das pessoas aborda as formações sócio-históricas como se estas tivessem sido concebidas, planejadas e criadas, tal como agora se apresentam ao observador retrospectivo, por diversos indivíduos ou organismos governamentais.

Embora com frequência alguns indivíduos dentro desse campo geral possam ter algum nível de consciência de que seu tipo de explicação não é realmente satisfatório, por mais que distorçam suas ideias de modo a fazê-las corresponderem aos fatos, o modelo conceitual a que estão presos continua a ser o da criação racional e deliberada de uma obra – como um prédio ou uma máquina – por pessoas individuais. Quando têm diante de si instituições sociais específicas, como os parlamentos, a polícia, os bancos, os impostos, os livros etc., eles procuram para explicá-las, as pessoas que originalmente tiveram a ideia dessas instituições ou que primeiro a puseram em prática. Quer dizer, ao lidarem com um gênero literário, buscam o escritor que serviu de modelo para os outros. Ao depararem com formações em que esse tipo de explicação é difícil, como a linguagem ou o Estado, por exemplo, ao menos procedem como se essas formações sociais pudessem ser explicadas da mesma forma que as outras, as que seriam deliberadamente produzidas por pessoas isoladas para fins específicos. Podem, por exemplo, acreditar que a existência da linguagem é suficientemente explicada ao se assinalar sua função coletivamente de meio de comunicação entre as pessoas, ou que a dos Estados se explica ao se argumentar que a finalidade do Estado tenha como representação a manutenção da ordem, como se, no curso da história da humanidade, a linguagem ou a organização das pessoas sob a forma de Estados tivesse sido criada para essa finalidade específica, em algum momento, por indivíduos isolados, como resultado do pensamento racional. E, com frequência, ao serem confrontados com fenômenos sociais que obviamente não podem ser explicados por esse modelo, e caso da evolução dos estilos artísticos ou do processo civilizador, seu pensamento estanca, sem fazer perguntas. Opostamente é amiúde tratada com desdém.  

A Guerra do Golfo Pérsico foi uma das maiores campanhas militares da história moderna, com uma enorme mobilização de recursos humanos e materiais em um curto espaço de tempo, introduzindo no campo de batalha diversos novos meios bélicos e tecnologias sofisticadas de ponta, para a época. Novos vocábulos foram adicionados ao léxico global, como aviões Stealth e bombas inteligentes. Este conflito também foi um dos primeiros a ser demonstrado ao vivo das linhas de frente, com transmissão via satélite, catapultando à notoriedade a rede de televisão CNN e o formato de “jornalismo 24 horas”. É uma guerra de cinco semanas de intenso bombardeio aéreo por parte da Coalizão de 17 de janeiro até 24 de fevereiro, seguido por menos de 100 horas de campanha terrestre que resultou na rápida expulsão das forças iraquianas do Kuwait. No final das contas, os aliados da Coalizão conseguiram uma avassaladora vitória, libertando o Kuwait, enquanto infligiam pesadas baixas nos iraquianos, embora suas próprias perdas tenham sido mínimas. Em 28 de fevereiro, a Coalizão internacional declarou que seus objetivos foram completados com a libertação do território kuwaitiano e a retirada das tropas de Saddam, firmando um cessar-fogo e encerrando as hostilidades. No decorrer da guerra, os combates se restringiram a apenas o Iraque, Kuwait e a regiões de fronteira saudita.

A Cable News Network foi inaugurada às 5:00 da tarde Hora do Leste em 1° de junho de 1980. Após uma introdução de Ted Turner, a equipe de marido e mulher de David Walker e Lois Hart ancorou o primeiro noticiário do canal. Burt Reinhardt, vice-presidente executivo da CNN em seu lançamento, contratou a maioria dos 200 primeiros funcionários do canal, incluindo o primeiro âncora da rede, Bernard Shaw. Desde o seu lançamento, a CNN expandiu seu alcance para vários fornecedores de televisão a cabo e por satélite, vários sites e canais especializados de circuito fechado como o CNN Airport. A empresa possui 42 agências sendo 11 nacionais, 31 internacionais, mais de 900 estações locais afiliadas que também recebem conteúdo de notícias e recursos por meio do serviço de notícias em vídeo CNN Newsource, e várias redes regionais e de idiomas estrangeiros em todo o mundo. O sucesso do canal transformou o fundador Ted Turner em um legítimo magnata, e preparou o terreno para a eventual aquisição pelo conglomerado Time Warner do Turner Broadcasting System em 1996. A primeira Guerra do Golfo Pérsico em 1991 foi um divisor de águas para a CNN que catapultou o canal pelas três grandes redes norte-americanas pela primeira vez em sua história social e de tecnologia, em grande parte devido a uma informação histórica e sem precedentes: a CNN era a única fonte de notícias com a capacidade de se comunicar de dentro do Iraque durante as primeiras horas da campanha de bombardeio da Coalizão, com reportagens ao vivo do hotel al-Rashid em Bagdá pelos repórteres Bernard Shaw, John Holliman e Peter Arnett. O momento em que o bombardeio começou foi anunciado na CNN, a segunda rede de televisão a noticiar o caso atrás, por segundos, da rede TV Globo, por Shaw em 16 de janeiro de 1991, como segue: - Este é Bernie Shaw. Algo está acontecendo lá fora. Peter Arnett, junte-se a mim aqui. Vamos descrever aos nossos espectadores o que estamos vendo. Os céus de Bagdá foram extraordinariamente iluminados. Estamos vendo flashes brilhantes disparando por todo infinito firmamento. 

Incapaz de transmitir cenas ao vivo de Bagdá, a cobertura das horas iniciais da Guerra do Golfo da CNN tinha a sensação dramática de uma transmissão de rádio - e foi comparada aos lendários e emocionantes relatos de Edward R. Murrow, âncora da CBS, em rádio ao vivo do bombardeio nazista de Londres durante a 2ª guerra mundial. Apesar da falta de imagens ao vivo, a cobertura da CNN foi transmitida por estações de televisão e redes em todo o mundo, resultando na CNN sendo assistida por mais de um bilhão de telespectadores em todo o mundo. A experiência da Guerra do Golfo trouxe à CNN certa legitimidade e transformou nomes familiares de repórteres anteriormente obscuros. Shaw, conhecido por sua reportagem ao vivo de Bagdá durante a Guerra do Golfo, tornou-se o principal âncora da CNN até sua aposentadoria em 2001. A cobertura inicialmenet da Primeira Guerra do Golfo e de outras crises do início dos anos 1990, particularmente a infame Batalha de Mogadíscio levou as autoridades do Pentágono a cunhar ideologicamente o termo “efeito CNN” para descrever o impacto social e político percebido da cobertura de notícias em tempo real nos processos de tomada de decisão do governo estadunidense. A CNN foi o primeiro canal de notícias a cabo a divulgar os ataques de 11 de setembro de 2001.

A âncora Carol Lin estava no ar para entregar o primeiro relato público do evento. Ela entrou no meio de um comercial às 8:49 da manhã, horário da costa leste, e disse: - Acabou de acontecer. Você está vendo obviamente uma cena ao vivo muito perturbadora. Esse é o World Trade Center e temos relatos não confirmados nesta manhã de que um avião colidiu com uma das torres do World Trade Center. O CNN Center agora está apenas começando a trabalhar nesta história, obviamente chamando nossas fontes e tentando descobrir exatamente o que aconteceu, mas claramente algo relativamente devastador está acontecendo nesta manhã no extremo sul da ilha de Manhattan. Mais uma vez, uma cena de uma das torres do World Trade Center. Sean Murtagh, vice-presidente de finanças e administração da CNN, foi o primeiro funcionário da “rede no ar”. Ele ligou para o CNN Center de seu escritório no escritório da CNN em Nova York e informou que um jato comercial atingiu o Trade Center. Daryn Kagan e Leon Harris estavam no ar pouco depois das 9:00, quando o segundo avião atingiu a Torre Norte do World Trade Center e, por meio de uma entrevista com o correspondente da CNN, David Ensor, informou a notícia de que autoridades estadunidenses determinaram “que este é um ato terrorista”.

Mais tarde, Aaron Brown e Judy Woodruff “ancoraram” dia e noite enquanto os ataques se desenrolavam, ganhando o prêmio Edward R. Murrow pela rede. Antes da eleição presidencial de 2008 nos Estados Unidos da América, a CNN dedicou grande parte de sua cobertura à política, incluindo a realização de debates de candidatos durante as temporadas primárias democrata e republicana. Em 3 e 5 de junho de 2007, a CNN se uniu ao Saint Anselm College para patrocinar os debates republicanos e democratas de New Hampshire. Mais tarde durante aquele ano, o canal sediou os primeiros debates presidenciais da CNN no YouTube, um formato “não tradicional em que os espectadores eram convidados a enviar previamente perguntas”. Em 2008, a CNN fez uma parceria com o Los Angeles Times para sediar dois debates políticos principais que antecederam a cobertura da chamada Super Terça-Feira. O debate da CNN e a cobertura da noite das eleições levaram às suas audiências mais altas do ano, com uma média 1,1 milhão de espectadores consumidores em janeiro de 2008, um aumento de 41% em relação ao ano anterior. O início do ataque, que incluiu um intenso bombardeio de alvos em Bagdá, forças norte-americanas rapidamente entraram no Sul do Iraque, cruzando a fronteira com o Kuwait, e seguiram em direção à capital. Os britânicos usaram a mesma rota de entrada, mas permaneceram no Sul do país, onde assumiriam o controle da cidade portuária de Basra, mais importante do Iraque. Sem a participação de uma coalizão ampla, a invasão contou também com pequenos contingentes da Austrália e da Polônia.

 Outros países que apoiaram a guerra, como Espanha, Itália e Ucrânia, enviariam tropas ao país depois de iniciada a ocupação. Menos de um mês depois do início da guerra, os americanos tomaram Bagdá, declarando ter controle da capital em 14 de abril. Outras cidades importantes, como Tikrit, Falluja e Ramadi, na região central, e Kirkut, no Curdistão (Norte), foram tomadas pelas forças de ocupação. Saddam Hussein, no entanto, não foi encontrado. Em 1º de maio de 2003, a bordo do porta-aviões USS Abraham Lincoln, o presidente George W. Bush fez um discurso em que declarou que, “na batalha do Iraque, os Estados Unidos e nossos aliados prevaleceram”. Atrás dele, uma faixa dizia “Missão Cumprida”. Até então, a guerra já impusera um enorme custo humano ao Iraque. Levantamento do instituto americano Project on Defence Alternatives, divulgado em outubro de 2003, estimou que entre 10.800 e 15.100 iraquianos foram mortos nas semanas da invasão. Destes, entre 3.200 e 4.300 eram civis. Com a queda do regime, começou a ocupação. Em 12 de maio, aterrissava em Bagdá o novo “administrador do Iraque”, o norte-americano Paul Bremer. No dia da chegada ao país, a BBC News noticiou: - Vários bairros de Bagdá ainda estão sem eletricidade e água corrente, lixo se acumula nas ruas, e muitos comerciantes têm medo de reabrir seus negócios por causa de saqueadores”. A administração do país era conduzida a partir de uma área, no centro da capital, protegida e isolada do resto da cidade. Era reconhecida como Zona Verde.

O Iraque tentou atrair Israel para a guerra ao lançar mísseis Scud contra o seu território, tendo como objetivo tentar causar uma cisão entre as potências ocidentais e seus aliados árabes.  A decisão de Saddam Hussein de invadir o Kuwait foi essencialmente uma tentativa de lidar com a contínua vulnerabilidade da sua economia e o seu consequente impacto nas finanças públicas. Ao fim da Guerra Irã-Iraque, em agosto de 1988, a economia iraquiana estava de fato à beira do colapso e também internamente havia tensões sectárias pelo país. Os maiores credores da dívida da nação eram a Arábia Saudita e o Kuwait. O governo do Iraque tentou fazer com que estes países perdoassem parte do débito, mas eles se recusaram. Além da questão econômica, o conflito entre o Iraque e Kuwait também acontecia por disputas territoriais. O Kuwait era parte da província de Baçorá na época da dominação do Império Otomano, que passou a ser reivindicado como território iraquiano. A família real kuwaitiana havia concluído um acordo de protetorado com o Reino Unido em 1899, deixando assim a responsabilidade aos britânicos de cuidar da política externa do país. A fronteira entre as duas nações foi desenhada então pelos ingleses em 1922. Do ponto de vista geopolítico a criação de um Kuwait independente tirou a única saída para o mar que o Iraque detinha. Os kuwaitianos rejeitaram tentativas dos iraquianos de tentar manter provisões no país.

O governo de Saddam, logo após o conflito com o Irã, começou a acusar o Kuwait de extrapolar as cotas de controle de mercado da OPEP de exportação de petróleo. O cartel na época queria manter o preço da commodity a US$ 18 dólares por barril e disciplina era necessária. Os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait estavam produzindo acima do esperado. O resultado do excesso de produção foi uma redução no preço do barril para apenas US$ 10, o que representava uma perda de US$ 7 bilhões anuais ao Iraque, que era quase o exato valor do pagamento para balancear o déficit em 1989. Os gastos públicos e os planos para reconstruir a infraestrutura interna do país acabaram se saindo debilitados, o que fez com que a economia iraquiana entrasse em forte recessão. A Jordânia e o Iraque tentavam manter a disciplina nos preços, mas com pouco sucesso merceológico. O governo iraquiano acusou os kuwaitianos de fazer “guerra econômica”. O Kuwait também foi acusado de fazer perfurações subterrâneas próximas a fronteira com o Iraque, em amplos territórios sob disputa.

A guerra do Iraque também teve grande impacto político no Reino Unido. Parceiro de George W. Bush na invasão e ocupação do Iraque, o premiê Tony Blair foi acusado por muitos de ter mentido sobre as verdadeiras razões para a guerra. Em julho de 2003, uma polêmica reportagem de rádio da BBC sugeria que um relatório de inteligência sobre as supostas armas de destruição em massa iraquianas havia sido produzido sob influência política do governo, que negava a acusação. Após ser exposto pela imprensa como a fonte da reportagem, o cientista David Kelly, especialista em guerra biológica a serviço do ministério de Defesa britânico, se suicidou. Apesar da queda de popularidade que o episódio e a guerra lhe causaram, em maio de 2005 Tony Blair foi reeleito para um terceiro mandato como primeiro-ministro. A Guerra do Iraque, entretanto, continuaria a assombrar os britânicos. Em julho de 2005, quatro britânicos muçulmanos provocaram quatro explosões suicidas na capital, Londres - três delas em trens do metrô e uma em um ônibus. Além dos quatro suicidas, 52 pessoas foram mortas, e cerca de 800 ficaram feridas.

Duas semanas depois, houve uma tentativa frustrada de novos ataques, em que bombas colocadas no metrô não explodiram. Com o país em estado de alerta máximo, o brasileiro Jean Charles de Menezes foi confundido com um suspeito pela polícia londrina e morto a tiros por policiais dentro de um vagão do metrô. A rede Al-Qaeda indicou ter ligação com os ataques, e um dos suicidas gravara um vídeo dizendo que eles eram vingança contra bombardeios de países muçulmanos. Mas o premiê Tony Blair negava que a invasão do Iraque tivesse levado aos atentados. Em junho de 2007, após dez anos como primeiro-ministro, Blair renunciou ao cargo, entregue a seu colega de partido e ministro da Economia, Gordon Brown. Na avaliação, se não fosse pela perda de popularidade causada pela Guerra do Iraque, Blair poderia ter ficado ainda mais tempo no poder. Saddam Hussein foi detido pelas forças de ocupação em dezembro de 2003, num esconderijo subterrâneo próximo a Tikrit, sua região natal. Ele foi entregue às autoridades locais para ser julgado por inúmeros crimes que cometeu contra a população iraquiana enquanto estava no poder, processo iniciado no segundo semestre de 2004.

No julgamento político, cujas sessões eram transmitidas ao vivo pela televisão à população, o ex-ditador do país questionou o processo. Ao lado de outros integrantes do regime, disse que seu julgamento era ilegítimo e que os juízes iraquianos estavam sendo manipulados pelas forças de ocupação. Após ser declarado culpado, ele foi condenado à morte. Em 30 de dezembro de 2006, Saddam foi executado por enforcamento, numa cena gravada em vídeo e exibida no mundo todo. Sua morte, no entanto, assim como sua captura três anos antes, não resultou em avanços na situação de segurança. No início de 2007, o conflito sectário no Iraque vivia seus piores momentos, com uma série de atentados a bomba - muitos suicidas, vários usando carros-bomba -, geralmente matando dezenas de civis, especialmente em Bagdá. Mercados da comunidade xiita foram alvos de ataques, organizados pelo grupo Al-Qaeda no Iraque. Milícias xiitas, por sua vez, realizavam sequestros e assassinatos de membros da população sunita. Em Washington, Robert Gates assumiu o lugar de Rumsfeld como secretário de Defesa. O resultado das eleições de novembro de 2006 significava que os norte-americanos pediam o fim da guerra, mas o governo concluiu que precisava, primeiro, reduzir os níveis de violência. Como?

O caminho escolhido pelo governo Bush foi o envio de 30 mil soldados adicionais, a maioria para Bagdá e região, o que ganhou o nome de “surge”, mas em português, “escalada”. Com o reforço, o tamanho do efetivo norte-americano voltou aos níveis da invasão de 2003, cerca de 150 mil soldados - e 2007 foi “um dos mais sangrentos períodos da guerra”. Segundo o Brookings Institute, foi o ano com o maior número de soldados americanos mortos durante a ocupação: 904. O de britânicos mortos atingiu 47, próximo dos 53 de 2003. O número de civis iraquianos que perderam a vida, 26.112, só ficou abaixo dos 29.526 de 2006. Até o número de jornalistas mortos no Iraque foi o mais alto em 2007, um total de 32 vítimas, igualando o recorde do ano anterior. Em 2008 a violência começou a diminuir significativamente, com menos da metade de soldados americanos e civis iraquianos mortos. Também em 2008, nos Estados Unidos da América, os eleitores foram às urnas, dessa vez para escolher o sucessor de George W. Bush. Desgastado pelos anos de guerra no Iraque, o Partido Republicano foi tirado do poder. O senador Barack Obama, oportunista, tornou-se o primeiro negro a ocupar a Casa Branca. Aparentemente crítico da Guerra prometera que colocaria fim no conflito. A primeira medida foi a manutenção de Robert Gates no cargo.

Com a continuidade da mesma equipe no Departamento de Defesa, os Estados Unidos, juntamente com o governo iraquiano, conseguiram deixar o país menos instável. As mortes, tanto de civis como de combatentes, caíram significativamente, especialmente a partir de 2009. Em abril daquele ano, os últimos soldados britânicos saíram do Iraque. Em 2010, os Estados Unidos encerraram sua participação em operações de combate, deixando apenas cerca de 50 mil soldados no país. No dia 18 de dezembro de 2011, veio o esperado momento. Quase nove anos depois da invasão liderada pelos Estados Unidos da América, a agência Reuters noticiava: - “Últimas tropas dos EUA deixam o Iraque, terminando a guerra”. Apenas cerca de 150 soldados americanos ficaram no país, em funções de treinamento das forças locais. Com um saldo de 120 mil civis iraquianos, 4.431 americanos, 179 britânicos mortos e um país parcialmente destruído, chegava ao fim o conflito cujo maior motivo não existia - e que a Reuters chamou de “a guerra mais impopular desde o Vietnã”. O total de vidas perdidas foi estimado em pelo menos 200 mil, e o custo para os cofres americanos em pelo menos US$ 800 bilhões. Para o Iraque, porém, o processo de pacificação - tanto de suas cidades como da política - seria lento e de resultado incerto. As lideranças xiitas haviam consolidado seu poder, mas parte dessa autoridade precisava ser compartilhada com curdos e sunitas, segundo a Constituição - convivência raramente tranquila. Militantes sunitas islamistas continuavam em operação e, voltariam a ameaçar o país sob a bandeira do Estado Islâmico. A Guerra do Iraque havia acabado, mas o Iraque culturalmente continuaria em guerra.

Bibliografia Geral Consultada.

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