“O corpo das mulheres é a última fronteira do capitalismo”. Silvia Federici
Silvia Federici nascida na cidade de Parma, uma cidade universitária na região Emília-Romagna em 1942, é uma filósofa contemporânea, professora e feminista autonomista italiana radicada nos Estados Unidos da América. Em 1972, Federici participou na fundação do Coletivo Feminista Internacional (International Feminist Collective), organização que lançou a campanha internacional Wages For Housework (WFH) a favor do pagamento de salário para o trabalho doméstico. Com outros membros da organização, dentre eles, Mariarosa Dalla Costa, que fez parte do movimento Potere Operaio de Antonio Negri. Após deixar o grupo, em 1971, Mariarosa constituiu o Lotta Femminista, como forma de criticar as deficiências e limitações na militância do Potere Operaio. Em decorrência da repressão aos radicais de esquerda em fins dos anos 1970, na Itália, ela dedicou-se a lecionar teoria política na Universidade de Padova, com Selma James, cofundadora da International Wages for Housework Champaign e coordenadora da Global Women`s Ataque e com autoras feministas como Maria Mies e Vandana Shiva, Federici tem sido pragmática no desenvolvimento do conceito teórico da reprodução sexual como uma chave para estudar as relações de classe, de exploração e dominação em contextos locais e globais, bem como no centro das formas de autonomia e dos bens comuns. É autora de Calibã e a Bruxa: Mulheres, Corpo e Acumulação Primitiva (2004), O Ponto Zero da Revolução: Trabalho Doméstico, Reprodução e Lutas Feministas (2013), Mulheres e Caça às Bruxas: Da Idade Média aos Dias Atuais (2018) e O Patriarcado do Salário: Notas sobre Marx, Gênero e Feminismo (2020). É professora emérita da Universidade Hofstra, uma universidade particular em Hempstead, na cidade de Nova York.
Além da compreensão da extensão da historiografia,
permeando o conhecimento, a história pontual, a multireferencialidade, tem sido
uma tarefa ímpar no âmbito de todas as ciências sociais. A sociologia, a
economia política, a ciência política, a antropologia, a psicologia, trabalham
com questões políticas, econômicas, sociais, culturais, religiosas, militares,
demográficas e outras, que correspondem a ações, relações, processo e
estruturas tomados em algum nível da historicidade. Mesmo as correntes de
pensamento orientadas no sentido de formalizar as interpretações, em temos de
indução quantitativa ou construção de modelos, mesmo nesses casos onde a
pesquisa produz alguma explicação nova, reavalia ou reafirma explicações
vigentes, sobre os modos e os tempos de devir da história. Também há aqueles
que formalizam e, por assim dizer, fetichizam as categorias dialéticas de
pensamento, perdendo de vista o fluxo real das ações, relações, processos e
estruturas que expressam movimentos e as modificações das gentes, grupos,
classes e nações. Uns e outros constroem mitos. Em todos os casos, no entanto,
a história social aparece de alguma forma, como história real ou invenção,
drama ou epopeia, elegia ou profecia. A multiplicidade de ciências na
modernidade e as teorias relativas ao nível social, tem dado origem a distintas
interpretações como se escreve ou produz a história real ou ficcional nas sociedades. E heterogêneas a histórias do capitalismo que podem ser compreendidas nas análises
de David Ricardo, Karl Marx, Alexis de Tocqueville, Émile Durkheim, Max Weber, John Maynard Keynes, Talcott Parsons e Eric Hobsbawm, para ficarmos nestes exemplos.
Não só na sociologia, mas no conjunto das ciências socais, encontram-se as mais diversas explicações sobre como e por que se dá a mudança, a evolução, o progresso, o desenvolvimento, a modernização, a crise, a recessão, o golpe de classe, a reforma, a revolução. Para explicar as transformações sociais, em sentido amplo, o sociólogo, antropólogo, economista, politólogo, psicólogo, historiador e outros têm buscado causas, condições, tendências, fatores, indicadores, variáveis, e assim por diante. Ao analisar as condições de formação, funcionamento, reprodução, generalização, mudança e crise do capitalismo globalizado, os cientistas sociais têm proposto explicações que nem sempre se excluem. Em certos casos, umas implicam outras, ou as englobam. Em primeiro lugar, uma interpretação que se generalizou bastante, desde os arquétipos comparados da Revolução Industrial, estabelece que o progresso econômico é o resultado da “criatividade empresarial”. Isto é, toda mudança, inovação ou modernização econômica substantiva tende a consumar a capacidade de criação e liderança de empresários imaginosos, inventivos ou mesmo lúdicos, capazes de articular e dinamizar os fatores da produção preexistentes e novos. Essa interpretação sustentada em níveis econômicos tem os seus principais enunciados nos escritos de economistas clássicos, seus discípulos no século XIX e XX relacionados aos self-made man ao tycoon, ao capitão de indústria, ao pioneiro, à identidade entre propriedade, livre empresa e sociedade aberta, ligam-se à tese de que a criatividade é a base do progresso social.
A segunda interpretação, reconhecida como “teoria das elites”, está relacionada com a anterior. Recebeu contribuições de Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca. E tem sido retomada, em diferentes linguagens, por outros cientistas sociais e escritores, como James Burnham, Samuel P. Huntington, Clark Keer, David E. Apter, John Kenneth Galbraith e outros. É uma corrente de pensamento que propõe o funcionamento da sociedade e a mudança social em termos de elites empresariais, gerenciais, militares, intelectuais e outras. Desde o término da 2ª guerra mundial, essa teoria tem sido a base de programas organizados pelo imperialismo norte-americano, no treinamento de quadros de intelectuais, tecnocratas, militares, gerenciais, empresariais e outros, para soluções golpistas ou não em países dependentes e coloniais. Em terceiro lugar, há a intepretação que atribui importância especial à divisão social do trabalho. Toma-se o meio de trabalho como o processo social, de âmbito estrutural, que comanda o funcionamento, as combinações e as transformações das elações sociais e instituições, em níveis econômico, político e outros. Adam Smith e Émile Durkheim são autores importantes nessa corrente de pensamento. Boa parte do pensamento liberal apoia-se nessa ideia. A divisão internacional do trabalho foi apresentada durante o século XIX e até a década de 1930, como a base da prosperidade econômica e social das pessoas, de grupos sociais e das nações. As teorias sobre a democracia liberal, o pluralismo democrático e a cidadania apoiam-se implicitamente na ideia de que a divisão social do trabalho, em sentido amplo, é o processo estrutural que fundamenta e dinamiza a melhor expressão e articulação de pessoas e grupos, atividades e instituições sociais e políticas, setores produtivos e a internacionalização do trabalho em países e nações continentes.
A quarta intepretação considera que o
fundamento último da mudança, progresso ou desenvolvimento econômico e social é
a “tecnologia”. O progresso técnico comandaria as possibilidades de articulação
e dinamização dos fatores produtivos principalmente capital e força de
trabalho. As possibilidades de poupança e investimento, bem como
desenvolvimento e diferenciação dos sistemas econômico e social estriam na
dependência das inovações e aplicações da tecnologia, inovações essas
originadas das ciências da natureza e da sociedade. Essa interpretação tem
várias formulações. Todas, no entanto, apoiam-se na ideia de que ciência,
tecnologia e desenvolvimento, ou pesquisa e desenvolvimento em geral
relacionam-se positivamente nas sociedades globalizadas. A quinta interpretação
confere papel especial ao Estado. Depois da crise da concepção liberal do poder
político-econômico e da história, generalizou-se cada vez mais a intepretação
que vê na ação estatal a base da organização e mudanças de relações e organizações
econômicas e sociais. É claro que esta ideia já está presente, implícita ou
explícita, no pensamento científico e filosófico dos séculos XVIII e XIX. Ela
aparece em escritos de Hegel, Marx, Engels e Lenin, além de Keynes, Myrdal,
Baran e ouros. Depois da criação do regime socialista em vários países, por um
lado, e da crise econômica mundial iniciada em outubro de 1929, por outro, os
governos capitalistas, dominantes e dependentes, passaram a intervir de forma
cada vez mais ampla e profunda na economia.
A sexta e última interpretação busca as razões dos movimentos e transformações sociais, político-econômicas e culturais nas relações e contradições de classes. De acordo com essa intepretação, as forças produtivas, a atuação estatal e outros aspectos político-econômicos, sociais e culturais são articulados e desarticulados em conformidade com os movimento e desenvolvimentos das relações e contradições das classes sociais: burguesia, classe média, campesinato, proletariado e suas subdivisões estruturais e de ocasião. Dentre os autores que se situam nessa orientação, ou contribuíram para o seu desenvolvimento, destacam-se Marx, Engels, Lenin, Bukharin, Trotski, Lukács, Gramsci e Mao-Tsé-tung, além de José Carlos Mariátegui, Maurice Dobb, Paul A. Baran, Paul M. Sweezy, Frantz Fannon e alguns outros. Essa interpretação se funda na análise do processo de trabalho produtivo, processo esse que produz a mercadoria, a mais-valia de que o burguês se apropria e a alienação econômica e política do trabalhador. O principal conteúdo e resultado desse processo, ou dessas relações de produção, tem como representação histórica e social o antagonismo entre o operário e o burguês. Nesse sentido, o golpe de Estado analisado por Marx, a greve e a revolução produzem-se neste contexto. Numa formulação breve, essa interpretação engloba relações, processos e estruturas básicos e intermediários da sociedade.
Quer dizer que, em cada uma dessas interpretações implica uma forma peculiar de compreender as relações entre biografia e história, conjuntura e estrutura, sincronia e diacronia, ou entre as ações, as relações, os processos e estruturas sociais, em seus perfis e movimentos. Outras, situam-se neste contexto global problemático, paradoxal. São interpretações sobre as condições e possibilidades de produção da história, em forma cômica ou trágica, dramática ou épica. A chamada Guerra Fria representa a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, compreendendo o período entre o final da 2ª guerra Mundial (1940-1945) e a dissolução da União Soviética em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº 142-Н do Soviete Supremo da União Soviética. A declaração reconheceu a Independência das Repúblicas soviéticas e criou a Comunidade de Estados Independentes. A conjuntura anterior representou um conflito extraordinário de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações, no plano das relações políticas e econômicas internacionais e suas zonas conflitantes de influência político-militar.
Quer
dizer, é chamada guerra “fria” porque não houve guerra direta entre as duas
superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. A
corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares
foi o objetivo central durante a primeira metade da chamada “Guerra Fria”,
estabilizando-se na década de 1960-1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o
projeto do presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Ronald Reagan
chamado de “Guerra nas Estrelas”. A corrida espacial foi um dos episódios que
marcaram a segunda metade do século XX e foi resultado direto da Guerra Fria.
Ocorrida entre os anos de 1957 e 1975, a corrida espacial ficou caracterizada
pela intensa exploração no espaço realizada por americanos e soviéticos. Um dos
episódios geopolíticos de maior relevância da corrida espacial foi a estratégia
global ocorrida à chegada do homem à Lua. É neste âmbito de transformações
globais polarizadas que Socialisme ou Barbarie representou um
grupo socialista libertário radical francês do período pós-guerra. Seu nome vem
de uma frase de Rosa Luxemburgo usada em The Junius Pamphlet um libelo,
ou ensaio político de 1916.
O grupo existiu durante os anos
1948 até 1965. A personalidade que o animava era Castoriadis, também
reconhecido como Pierre Chaulieu ou Paul Cardan. O grupo se originou na
trotskista Quarta Internacional, onde Castoriadis e Claude Lefort constituíram
a chamada “Tendência Chaulieu-Montal” no Partido Comunista Internacionalista
francês, em 1946. Em 1948, eles experimentaram o seu “desencanto final com o
trotskismo”, levando-os a romperem com os trotskistas para formar o Socialisme
ou Barbarie, cujo jornal começou a aparecer em março de 1949. Castoriadis mais
tarde disse a respeito desse período que sua principal audiência e do jornal
era formada pela esquerda radical: bordigistas, comunistas de conselho, alguns
anarquistas e órfãos da esquerda alemã dos anos 1920. Eles foram vinculados à
tendência Johnson-Forest, que desenvolveu um corpo de ideias dentro das
organizações trotskistas norte-americanas. Uma facção desse grupo formou mais
tarde o grupo Facing Reality. Os primeiros tempos também trouxeram
debates com Anton Pannekoek e um influxo de ex-bordigistas para o grupo. Era
composto tanto de intelectuais quanto de trabalhadores e concordavam com a
ideia de que os principais inimigos da sociedade eram as burocracias que
governavam o capitalismo moderno. eles documentaram e analisaram a luta contra
a burocracia no jornal do grupo.
A edição de número 13 ocorrida em janeiro-março de 1954, por exemplo, era dedicada à Revolta de 1953 na Alemanha Oriental e às greves que pipocaram em vários setores de trabalhadores franceses naquele verão. Seguindo a crença de que o que a luta diária que a classe trabalhadora encarava era o conteúdo real do socialismo, os intelectuais encorajavam os trabalhadores no grupo a relatarem cada aspecto de suas vidas no trabalho. O caráter-gueto de Socialismo ou Barbárie não deriva apenas da guerra fria Leste-Oeste. Ao chegar a Paris, a bordo do navio Mataroa, Cornelius Castoriadis, assim como outros intelectuais - qual Kostas Axelos, por exemplo -, vem fugido da perseguição movida contra a esquerda grega. Não somente, porém, da repressão desencadeada pela “aliança atlantista”, como igualmente dos próprios comunistas, conforme relata, em tons quase dramáticos, Morin: - “Raríssimos foram os intelectuais europeus que, sob a ocupação nazista, se tornaram militantes da heresia trotskista. Os comunistas trotskistas, presos pela Gestapo, sofriam a mesma sorte dos comunistas stalinistas e, no interior das prisões e campos nazistas, os stalinistas, no melhor dos casos, punham os trotskistas em quarentena e, na pior, liquidavam os hitlero-trotskistas. Na Grécia da Liberação, o Partido Comunista decidiu, em tomada de posição do Comitê Central, pelo extermínio dos trotskistas. Condenado à morte pelos comunistas e prevendo ser abatido pelos anticomunistas, Castoriadis emigrou para a França”.
Assim
sendo, o possível círculo de acolhida ao fugitivo em Paris está nos setores
igualmente minoritários da IV Internacional. Mas Castoriadis bem cedo
diagnostica um tronco leninista-burocrático comum a stalinismo e trotskismo. O
grupo Socialismo ou Barbárie fará ruptura com a IV Internacional Comunista
- ruptura marcada por uma dupla originalidade. De modo diferente das
inumeráveis cisões anteriores do movimento trotskista, ela não se dá, assim
referida “à moda de uma pequena capela que muda de chefe sem transformar em
nada a doutrina”. Ao contrário de outras dissensões que igualmente rejeitam a
organização de tipo leninista, ela “não joga fora o bebê” (Marx) “junto com a
água do banho” (Lênin-centralismo-stalinismo). Ao romper com os heterodoxos
ortodoxos - IV Internacional e dissidências da IV Internacional - em nome do
marxismo, Socialismo ou Barbárie emerge como a “heresia de uma heresia” (cf.
Morin, 1989). O Socialisme ou Barbarie era crítico do leninismo,
rejeitando a ideia de um partido revolucionário e colocando ênfase nos
conselhos de trabalhadores. Enquanto alguns membros partiram para formarem
outros grupos, aqueles que permaneceram se tornaram mais e mais críticos do
marxismo ao longo do tempo. Jean Laplanche, um dos membros-fundadores do grupo,
recorda os primeiros dias da organização.
O
grupo era tanto de intelectuais quanto de trabalhadores e concordavam com a
ideia de que os principais inimigos da sociedade eram as burocracias que
governavam o capitalismo. Eles documentaram e analisaram a luta contra a
burocracia no jornal do grupo. A edição de número 13 referente a janeiro-março
de 1954, por exemplo, era dedicada à interpretação da Revolta de 1953 na
Alemanha do Leste e às greves em vários setores de trabalhadores franceses
naquele verão. Seguindo a ideologia de que o que a luta diária que a classe
trabalhadora encarava era o conteúdo real do socialismo, os intelectuais
encorajavam os trabalhadores no grupo a relatarem cada aspecto social da vida
cotidiana no trabalho. A Hungria começou
o período pós-guerra como uma livre democracia pluripartidária, e as eleições
em 1945 produziram um governo de coalizão sob a batuta do primeiro-ministro
Zoltán Tildy. Entretanto, o Partido Comunista, apoiado pela União Soviética,
que tinha recebido somente 17% dos votos, constantemente obtinha pequenas
concessões em um processo nomeado “tática do salame”, que fatiava a influência
do governo eleito. Depois das eleições de 1945, os poderes do Ministro do
Interior - que supervisionava a Autoridade de Proteção de Estado foram
transferidos do “Partido dos Pequenos Proprietários Independentes” para gente
de confiança do Partido Comunista. Empregava métodos de intimidação, falsas
acusações, prisões e tortura para suprimir a esfera política. A democracia
pluripartidária acabou quando o Partido Comunista se fundiu com o Partido
Socialdemocrata para se tornar o “Partido Popular dos Trabalhadores Húngaro”,
cuja lista de candidatos foi a votos sem oposição em 1949.
A República Popular Húngara foi declarada. Depois da 2ª guerra mundial, a Hungria sucumbiu na esfera político-ideológica de influência soviética e foi ocupada militarmente pela guerra de movimento do Exército Vermelho. Em 1949, os soviéticos tinham concluído um tratado de assistência mútua com a Hungria que garantia direitos políticos à União Soviética para uma contínua presença militar, assegurando o último controle político. Dentre 1950-52, a Polícia de Segurança forçadamente realocou milhares de pessoas para obter propriedades e moradias para os membros do Partido Popular dos Trabalhadores, e remover a ameaça da classe intelectual e burguesa. Milhares foram presos, torturados, julgados e aprisionados em campos, deportados para o leste, ou eram executados, incluindo o fundador da ÁVH László Rajk. Em um único ano, mais de 26.000 pessoas foram forçadamente realocadas de Budapeste. Como uma consequência, empregos e moradias eram muito difíceis. Os deportados geralmente experimentavam parcas condições de habitação e eram recrutados para trabalho escravo em fazendas coletivas. Muitos morreram como resultado das pobres condições de vida e desnutrição. O estudo do idioma russo e instrução política comunista foram tornados parte do currículo escolar e universitário pelo país. László Rajk nasceu em Székelyudvarhely, sendo o nono filho de uma família de saxões da Transilvânia, seus laços afetivos com o comunismo começaram como membro do Partido Comunista da Hungria (KMP). Posteriormente, foi expulso da universidade por suas ideias políticas e se tornaria operário da construção civil, até 1936, quando ingressou na Frente Popular na Guerra Civil Espanhola.
Ele se tornou comissário do Batalhão Rakosi da XIII Brigada Internacional. Após o colapso da Espanha republicana, ele ficou internado na França até 1941, quando finalmente pôde retornar à Hungria, onde se tornou secretário do Comitê Central do Partido Comunista, um movimento comunista clandestino. Em dezembro de 1944, ele foi preso por um destacamento do Partido Arrow Cross. Ele seria executado e transportado para a prisão de Sopronkőhida, depois para a Alemanha; mas a intercessão de seu irmão mais velho, Endre, um subsecretário fascista, salvou sua vida. László Rajk foi lançado em 13 de maio de 1945. Ele voltou para a Hungria e participou da política partidária tornando-se um membro de todas as corporações líderes do partido (MKP) e do Parlamento Extemporal. Rajk foi membro do Alto Conselho Nacional de 7 de dezembro de 1945 a 2 de fevereiro de 1946. Em 20 de março de 1946, foi nomeado ministro do Interior. Neste posto ele organizou exército privado do Partido Comunista Húngaro e da polícia secreta, um análogo organização para a KGB, Securitate, Stasi e depois, o ÁVH (originalmente AVO), tornando-se diretamente responsável por isso. Sob a estratégia de “luta contra o fascismo e a reação” e “defesa do poder do proletariado”, ele proibiu e liquidou vários estabelecimentos e grupos religiosos, nacionalistas e rebeldes em torno de 1.500. Ele foi transferido do Ministério do Interior para o Ministério das Relações Exteriores de 5 de agosto de 1948 a 30 de maio de 1949. Rákosi, que via Rajk como uma ameaça ao seu poder, decidiu acusá-lo de falsas acusações e mandou prendê-lo em 30 de maio 1949 sob acusações forjadas. Rajk, que era popular entre os comunistas antes, logo se tornou o “cachorro acorrentado” de Tito, Horthy e “o imperialista”.
O
levante húngaro começou em 23 de outubro de 1956, com uma manifestação pacífica
de estudantes em Budapeste. Exigiam o fim da ocupação soviética e a implantação
do “socialismo verdadeiro”. Quando os estudantes tentaram resgatar alguns
colegas que haviam sido presos pela polícia política, esta abriu fogo contra a
multidão. No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas
ruas da capital. A estátua de Josef Stálin foi derrubada por manifestantes que
entoavam, “russos, voltem para casa”, “abaixo Gerő” e “viva Nagy”. Em resposta,
o comitê central do Partido Comunista Húngaro recomendou o nome de Imre Nagy
para a chefia de governo. Em 25 de outubro, tanques soviéticos dispararam
contra manifestantes na Praça do Parlamento. Chocado com tais acontecimentos, o
comitê central do partido forçou a renúncia de Gerő e substituiu-o por Imre
Nagy. Prontamente foi à Rádio Kossuth e anunciou a futura instalação das
liberdades, como seja o multipartidarismo, a extinção da polícia política, a
melhoria radical das condições de vida do trabalhador e a busca do socialismo
condizente com as características nacionais da Hungria. Em 28 de outubro, o
primeiro-ministro Nagy vê as suas opções serem aceites por todos os órgãos do
Partido Comunista. Os populares desarmam a polícia política. Em 30 de outubro,
Nagy comunicou a libertação do cardeal Mindszenty e de outros prisioneiros
políticos.
Reconstituíram-se os Partidos dos Pequenos Proprietários, Socialdemocrata e Camponês Petőfi. O Politburo Soviético decide, numa primeira fase (30 de outubro) mandar as tropas sair de Budapeste, e mesmo da Hungria se viesse essa a ser a vontade do novo governo. Mas no dia seguinte volta atrás e decide-se pela intervenção militar e instauração de um novo governo. A 1° de novembro, o governo húngaro, ao tomar conhecimento das movimentações militares em direção a Budapeste, comunica a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e pede a proteção das Nações Unidas. A 3 de novembro, Budapeste está cercada por mais de (01) mil tanques. Em 4 de novembro, o Exército Vermelho invade Budapeste, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia a Hungria, derrotando rapidamente as forças húngaras. Calcula-se que 20 000 pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e executado) sendo substituído no poder pelo simpatizante soviético János Kádár. Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, extraordinariamente resultando em 350 enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e próximo de 13 mil foram presos. As tropas soviéticas saíram da Hungria em 1991.
Escolas religiosas foram nacionalizadas e líderes de igrejas foram substituídos. Em 1949 o líder da Igreja Católica Húngara, cardeal József Mindszenty, foi preso e condenado à prisão perpétua por traição. Sob Rákosi, o governo húngaro era dos mais repressores na Europa. A Revolução Húngara de 1956 e outros eventos da década de 1950 levaram à afluência de mais membros ao grupo. Nesse período conturbado do Leste europeu, eles propunham o ponto fundamental como a necessidade do capitalismo, por um lado, reduzir os trabalhadores a simples executores de tarefas e, por outro, a impossibilidade de continuar funcionando se for bem sucedido nesse ínterim. O capitalismo precisa atingir objetivos mutuamente incompatíveis: a participação social e a exclusão do trabalhador na produção - como todos os cidadãos em relação à política. Isso ficou caracterizado como a distinção entre o dirigeant (“dirigente”) e o exécutant (“executor”). Essa perspectiva permitiu o grupo expandir-se no que se refere às novas formas de luta e de conflito social que emergiam fora da esfera da produção.
Vale
lembrar neste aspecto quando voltou a seu país natal para fazer este filme, o
cineasta húngaro István Szabó já havia adquirido fama e respeito internacionais
com o filme Mephisto, de 1981, Coronel Redl, de 1985, e Encontro
com Vênus, de 1991, realizando-se grandes coproduções internacionais,
lançadas no mercado cinematográfico internacional. Este aqui é em tudo
diferente desses três anteriores, comparativamente, que garantiram a Szabó a
admiração geral; não é um afresco, um painel; é um pequeno retrato; não é um
espetáculo para dezenas de atores, é todo em tom menor, centrado na amizade
natural de duas mulheres que vivem no seu dia-a-dia a passagem de um mundo para
outro. Ao contrário do que seria de se esperar, não se comemora com fanfarras o
fim do regime autoritário, o fim dos grilhões, a volta à liberdade plena (cf.
Gati, 2006). Demonstra a perplexidade das pessoas diante da mudança radical que
ocorre de tudo à sua volta – e tem mesmo um tom melancólico com a perda do
valor da solidariedade entre as pessoas, o sonho que não se conseguiu realizar.
Um belíssimo diálogo resume a weltanschauung de Szabó sobre aquele
momento radical. Uma das amigas, a querida Böbe do título original do filme,
pergunta à outra, a doce Emma; o que ela quer da vida, e ela diz: - “Uma
sociedade fraterna; que apreciem o que eu faço”. E Böbe responde, ao contrário:
- “Isso não vale mais nada. O que vale agora é o dinheiro e as coisas materiais
que você possui”.
Em
1958 desentendimentos quanto ao papel político do grupo levou à saída de
membros importantes. Claude Lefort e Henri Simon deixaram o grupo para formar
“Informations et Liaison Ouvrières”. Em 1960, o grupo tinha crescido para ao
redor de 100 membros e tinha desenvolvido novas ligações internacionais,
primariamente na emergência de uma organização irmã na Grã-Bretanha chamada
“Solidarity”. Disputas dentro do grupo sobre a crescente rejeição do marxismo
por Castoriadis levou à saída do grupo ao redor do jornal Pouvoir Ouvrier.
O principal jornal Socialisme ou Barbarie continuou a ser
publicado até a edição de 1965, depois da qual o grupo permaneceu dormente e
foi dissolvido. Uma tentativa de Castoriadis para reviver o grupo durante os
nichos através da ressonância dos eventos de Maio de 1968 fracassou. A
Internacional Situacionista foi associada ao grupo e influenciada através da
interpretação de Guy Debord (1966), que era membro de ambos. O movimento social
italiano Autonomia também acabou influenciado, embora de forma menos influente
diretamente. A busca de uma argumentação que vise à universalidade (a própria
filosofia) não se originaria na racionalidade humana, mas na imaginação
intelectual criadora e/ou “imaginária radical”.
O
homem é criação propiciada por uma formação exagerada da faculdade da
imaginação que faz a essência do homem, precisamente criadora. Para que a
espécie humana pudesse sobreviver, a psique precisou ser socializada e dar
sentido a um mundo aparentemente sem-sentido natural-biológico. Ao criar as
significações, institui-se a sociedade que é a origem de si mesma. Não se
poderia pensar a humanidade fora do mundo de significações, ou a subjetividade,
a partir do termo “para si”, das representações das instituições sociais. O
“para si” é inferido a partir das instancias, interdependentes, em que todas
existem, mas nenhuma se mantém sem a outra, numa completa relação de atividade
e reciprocidade representando a totalidade do sujeito. Enfim, Castoriadis
admite que é impossível fazer filosofia sem uma ontologia, isto é, sem uma
interrogação sobre o ser, mas, ao contrário do que possa pensar aquele para
quem ontologia soa como “palavra proibida”, sua reflexão é inteiramente
articulada à questão política. Não sendo, pois, uma idealização, mas um
pensamento radical sobre a possibilidade de uma sociedade na qual os homens
tenham consciência de seu poder. Por sua vez, o imaginário radical enquanto
imaginário social aparece como corrente do coletivo anônimo, traduzindo-se na
sociedade e no que para o social-histórico é posição, criação e fazer ser. Duas
dimensões não incomunicáveis nem estáticas, obviamente, embora a dimensão de
análise psíquica, a todo tempo, tenha a sua participação oculta na formação do
que é próprio na criação.
As
ideias movem-se, mudam de lugar, ganham força na história, apesar das
formidáveis determinações internas e externas globais. O conhecimento
transforma-se, progride, regride. Crenças e teorias renascem; outras, antigas,
morrem. A primeira condição de uma dialógica cultural é a pluralidade e
diversidade de pontos de vista. Essa diversidade cultural é potencial e está em
toda parte. Toda sociedade comporta indivíduos genética, intelectual,
psicológica e afetivamente muito diverso, apto, portanto, a outros pontos de
vista cognitivamente muito variados. São, justamente, essas diversidades de
pontos de vista culturais e políticos que inibem e a normalização reprime. Do
mesmo modo, as condições sociais ou acontecimentos aptos a enfraquecerem o imprinting,
segundo Morin (2008), e a normalização na medida em que avança permitirão às
diferenças individuais exprimirem-se no domínio da práxis cognitiva. Essas
condições aparecem nas sociedades que permitem o encontro, a comunicação e o
debate de ideias. A dialógica cultural supõe o comércio, constituído de trocas
múltiplas de informações, ideias, opiniões, teorias; o comércio das ideias é
tanto mais estimulado quanto mais se realizar com ideias de outras culturas do
passado. O intercâmbio das ideias produz o enfraquecimento dos dogmatismos e
intolerâncias sociais e religiosas, o que resulta no próprio crescimento.
Comporta a competição, a concorrência, o antagonismo, o conflito social, moral
e político, entre ideias, concepções e visões de mundo.
Bibliografia
Geral Consultada.
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