“Não nos vemos se não saímos de nós”. José Saramago
A
história social registra em seu domínio que as motivações tanto
sociológicas como psicológicas, propostas para fazer compreender na prática as
estruturas e gênese do simbolismo erram muitas vezes por uma secreta e
estreita metafísica: umas porque querem reduzir o processo motivador a um
sistema de elementos exteriores à consciência e exclusiva das pulsões, as
outras porque se atêm exclusivamente a pulsões, ou, o que é pior, ao mecanismo
redutor da censura e ao seu produto, o recalcamento. O que quer dizer que
implicitamente se volta a um esquema explicativo e linear no qual se descreve,
se conta a epopeia dos indo-europeus ou as metamorfoses da libido, voltando a
cair nesse vício fundamental que é acreditar que a
explicação dá inteiramente conta de um fenômeno que por natureza escapa às
normas da semiologia teórica. Para
Durand (1997), que estuda in concreto o simbolismo imaginário precisa
enveredar pela via da antropologia, dando a esta palavra o seu sentido atual: o
conjunto das ciências que estudam a espécie homo sapiens, sem se por limitações a priori e sem optar por uma ontologia que assim não
passa de um “espiritualismo camuflado”, ou “ontologia culturalista” que,
geralmente, não é mais que uma “máscara da atitude sociologista”, ou dentre
atitudes resolvendo-se em última análise num “intelectualismo semiológico”.
Esse trajeto é reversível; porque o meio elementar é revelador da atitude adotada diante da dureza, da fluidez da queimadura. Qualquer gesto chama a sua matéria e procura o seu utensílio, e que toda matéria excluída, abstraída do cósmico, e utensílio ou instrumento é vestígio de um gesto passado. O trajeto antropológico (cf. Durand, 1997) pode indistintamente partir da cultura ou do natural psicológico, uma vez que o essencial da representação está contido entre dois marcos reversíveis. Uma tal posição antropológica, que não quer ignorar nada das motivações relacionais contidas nas tramas sociópetas ou sociófogas do simbolismo, leva em conta as instituições rituais, a tensão do simbolismo religioso, a poesia, a mitologia, a iconografia ou psicologia implicando uma metodologia essencial para delimitar os conteúdos de sentido desses trajetos que os símbolos constituem. É no ambiente tecnológico humano que vamos encontrar um acordo entre os impactos sociais dominantes, o investimento humano na vida e prolongamento ou confirmação cultural. Em termos pavlovianos, poder-se-ia dizer que ambiente humano é o primeiro condicionamento das dominantes sensório-motoras, de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade, um campo de investigação que denominou epistemologia genética é o lugar da projeção dos esquemas de imitação.
O
filme Em Uma Ilha Bem Distante (Faraway, 2023) chegou ao catálogo
da Netflix ocupando uma extraordinária posição no ranking Top 10 de
longas-metragens mais assistidos. Logo no início do filme, somos convidados a
ver Zeynap Altin, vivida brilhantemente pela atriz Naomi Krauss. Apagada pela
dor e sofrimento, ela é uma mulher melancólica que precisa ajeitar as coisas
para o velório de sua mãe. Somado a isso, ela ainda tem que dar conta das
tarefas domésticas e cuidar do pai rabugento, do marido desatento e da filha
adolescente rebelde. Com roteiro realizado por Jane Ainscough e direção de
Vanessa Jopp, a comédia romântica alemã é estrelada por Naomi Krauss e Goran
Bogdan. A trama narra a história social da mulher de meia-idade, rumo a uma
jornada de autodescoberta em uma ilha “remota e paradisíaca no Leste Europeu”.
Ela herda o espólio (do latim hærentia) que é o patrimônio de bens,
direitos e obrigações de uma pessoa que faleceu, deixada a seus sucessores
legais. É a parcela do patrimônio de alguém, transferida a certas pessoas
elencadas na lei como titulares desse direito - os sucessores herdeiros e legatários.
É o registro desta transmissão e a petição é a ação que compete ao herdeiro
para reconhecimento de seu direito sucessório, ou, contra a quem esteja
pretendendo ter o direito de deter tudo ou parte da herança, ter o
reconhecimento na qualidade de herdeiro e restituição dos bens que estavam de
posse de terceiros.
A história segue Zeynep Altin, uma mulher de meia-idade sobrecarregada com trabalho e menosprezada pela família que está perto de seu limite. Quando a funerária faz uma confusão e veste sua amada e falecida mãe com um terno em vez do seu vestido favorito, ela surta de vez. Então, decidida a buscar um pouco de paz em sua vida, a protagonista abandona Munique e parte rumo à uma ilha remota na Croácia, para um chalé antigo de sua mãe. No entanto, as coisas saem do que havia planejado quando Zeynep descobre que Josip, o antigo proprietário do local, ainda está vivendo por ali. Além de ser estrelado por Naomi Krauss no papel da protagonista Zeynep, o elenco do ainda é contemplado com nomes como Goran Bogdan (Sonja e o Touro, 2012), Adnan Maral (Turco para Iniciantes, 2012), Artjom Gilz (Milk & Honey, 1988), Davor Tomić (97 Minutes, 2022) e os novatos Vedat Erincin e Bahar Balci. Em reviews de veículos de comunicação internacionais, como o Decider, por exemplo, o jornalista Jogn Serba desenvolve críticas analíticas mistas sobre a produção, afirmando que ela “cumprirá sua agenda superficial. Mas isso não quer dizer que seja uma experiência desagradável”. Ele completa enaltecendo a atriz, dizendo que, “mesmo quando a escrita é fraca, Krauss mantém o suficiente de sua presença carismática para dar liga ao filme”. Por fim, M.N. Miller, do Ready Steady Cut, elogia a narrativa e escolha de protagonista do projeto, que se trata de “uma divertida e doce comédia romântica sobre pessoas de uma certa idade”.
Em
verdade o sentido do termo fantástico nasce na
acepção literária por ocasião da tradução francesa das Phantasiestücke in
Callot`s Manier de Ernest Hoffmann (1813). A palavra alemã Phantastich evocava
inicialmente as formas breves da fantasia e, na época romântica, trazia à
lembrança tudo o que se referia ao domínio do imaginário, mas com a tradução da
obra de Hoffmann, o adjetivo evolui em direção ao substantivo e passa a
designar uma nova modalidade literária. Pierre- George Castex em seu livro Le
Conte Fantastique en France de Nodier à Maupassant (1951), pretende
responder às questões de Sainte-Beuve, a fecundidade e a transformação da
literatura fantástica no decorrer do século XIX, explicar sua história e o
êxito quase constante que ela experimentou e o sucesso ilustrado, de Nodier a
Maupassant, “por uma série de obras patéticas ou perturbadoras”. Em sua Introdução, segundo Camarini (2014),
depois de creditar aos jornalistas do Globe, Jean-Jacques Ampère e Duvergier de
Hauranne, a clarividência de notar a originalidade da obra de Hoffmann que
apresenta um sobrenatural essencialmente interior e psicológico, definindo-o
assim: “O fantástico, na verdade, não deve ser confundido com a fabricação
convencional de contos mitológicos ou contos de fada, o que implica uma mudança
de mentalidade. Pelo contrário, é caracterizada por uma intrusão brutal de
mistério no contexto da vida real”.
Do ponto de vista histórico e técnico-metodológico com quase duas horas de duração, as gravações externas do filme: Em Uma Ilha Bem Distante (2023) ocorreram em Munique, na Alemanha, e também numa ilha na Croácia, um país europeu situado nos Balcãs que se limita ao Norte com a Eslovénia e Hungria, a Nordeste com a Sérvia, a Leste com a Bósnia e Herzegovina e ao Sul com Montenegro. É banhado a Oeste pelo mar Adriático e possui uma fronteira marítima com a Itália, no golfo de Trieste. Após a invasão do Eixo na Iugoslávia, em abril de 1941, a maior parte do território croata foi incorporado a um “estado-cliente”. Em resposta, um movimento social e político de resistência se desenvolveu. Isso levou à criação legalista nacional do Estado Federal da Croácia, que após a “guerra de posição” se tornou membro fundador e constituinte da República Socialista Federativa da Iugoslávia. Em 25 de junho de 1991 declarou a própria independência, que entrou em vigor integral em 8 de outubro. A Guerra da Independência Croata foi travada com sucesso por quatro anos após a declaração.
Se, como pretende o antropólogo Lévi-Strauss, o que é da ordem da natureza e tem por critérios a universalidade e a espontaneidade está separado do que pertence à cultura, domínio da particularidade, da relatividade e do constrangimento, não deixa de ser necessário que um acordo se realize entre a natureza e a cultura, sob pena de ver o conteúdo cultural nunca ser vivido. Autores notaram a extrema confusão que reina na demasiado rica terminologia do imaginário: signos, imagens, símbolos, alegorias, emblemas, arquétipos, esquemas (schémas), esquemas (schèmes), ilustrações, assim como representações, diagramas e sinepsias são termos empregados pelos analistas de estudos do imaginário. O esquema é uma generalização dinâmica e afetiva da imagem, constitui a factividade e a não-substantividade geral do parcours imaginário. O esquema aparenta-se ao que Piaget, na esteira de Herbert Silberer, chama “símbolo funcional” e ao que Bachelard na filosofia chama de “símbolo motor”. Faz a junção ente dos gestos inconscientes da sensório-motricidade, entre as dominantes reflexas suas representações. São esses esquemas que na antropologia do imaginário formam o “esqueleto dinâmico”, o esboço funcional da imaginação. A diferença entre os gestos reflexológicos que Gilbert Durand descreve e os esquemas é que estes últimos já não são apenas engramas teóricos, mas trajetos antropológicos encarnados em representações concretas mais precisas.
Os
gestos diferenciados em esquemas vão determinar, em contato com o ambiente
natural e social, os grandes arquétipos que Jung os definiu. Os arquétipos
constituem as substantificações dos esquemas. Carl Jung vai buscar esta noção
em Jakob Burckhardt e faz dela sinônimo de “origem primordial”, de “enagrama”,
de “margem original”, de “protótipo”. Portanto, evidencia claramente o caráter social
de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve que a imagem primordial
deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da
natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é
igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições
inferiores da vida do espírito e da dinâmica da vida em geral. Quer dizer, bem
longe de ter a primazia de domínio sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o
comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e
epistemológico. O mito representa um sistema dinâmico de
símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um
esquema tende a compor uma narrativa. O mito e sua representação no símbolo é já um esboço de racionalização,
dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras
e os arquétipos em ideias culturais.
O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do modo que o arquétipo promovia a ideia e que o símbolo engendrava o nome, concordamos com Durand que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem viu Émile Bréhier (1876-1952), a narrativa histórica e lendária. Foi este princípio, que Jung sentiu abrangido por seus conceitos de “Arquétipo” e “Inconsciente coletivo”, justamente o que uniu o médico psiquiatra Jung ao físico austríaco Wolfgang Ernest Pauli (1900-1958), posteriormente suíço e norte-americano, reconhecido por seu trabalho na teoria do spin do elétron, todavia, dando início às pesquisas interdisciplinares em física e psicologia. Ocorre que a sincronicidade se manifesta às vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos comparativos casos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente. As leis naturais são verdades estatísticas, absolutamente válidas ante magnitudes macrofísicas, mas não microfísicas. Isto implica um princípio de explicação diferente do causal. Cabe a indagação, por extensão, se em termos muito gerais existem não somente uma possibilidade, senão uma realidade de acontecimentos acausais. Entetanto, a acausalidade é esperável quando parece de forma impensável a causalidade. Ante a casualidade só resulta viável a avaliação numérica ou o método estatístico.
As agrupações ou séries de casualidades hão de ser consideradas casuais enquanto não se ultrapasse os limites de “observação da probabilidade”. A probabilidade é sempre um número decimal entre 0 e 1, ou uma porcentagem entre 0% e 100%. Se ultrapassado, implica-se um princípio acausal ou “conexão transversal de sentido” na compreensão do evento. Os países continentais em área de terra espaçosa têm uma área de água na fronteira ao mar largo e fronteiras terrestres com inúmeros países. O país arquipélago tem inúmeras ilhas, águas territoriais mais amplas, e muitas vezes sem fronteiras terrestres com países vizinhos. Uma identidade compartilhada se desenvolveu definida por uma cultura nacional, diversidade étnica, pluralismo religioso dentro de uma população de maioria muçulmana, e uma história de colonialismo, rebelião e golpes de Estado. O conceito que os geógrafos usam para definir massa continental pode variar segundo os critérios que adotam, podendo ser físicos, culturais, políticos ou histórico-sociais. A definição física de maior disseminação considera a divisão abstrata em sete continentes: África, América do Norte, América do Sul, Antártida, Ásia, Europa e Oceania. Esse modelo é cultural como padrão em países como China, Índia, Paquistão e em boa parte dos países de língua inglesa com larga população, o que o faz ser reconhecido o padrão utilizado por mais de 45% da população mundial. Ou seja, menos da metade (45,7%) da população mundial agora vive em algum tipo de democracia, um declínio significativo em relação a 2020, quando o número era de 49,4%. Ainda menos (6,4%) residem em uma “democracia plena” – categoria social que inclui apenas 21 dentre 167 países e territórios que foram analisados, depois que Chile e Espanha foram rebaixados para as chamadas “democracias imperfeitas”.
Mas, entendemos que seguindo-se critérios tanto culturais como sociais e políticos, costumam-se considerar como continentes a Europa, a Ásia, a África, a América, a Antártida e a Oceania. O chamado Velho Mundo é constituído pelos mesmos três continentes que constituem a Eufrásia, isto é, a Europa, Ásia e África. Essa classificação técnico-metodológica é baseada numa afirmação concreta de especialistas renomados de que as três massas terrestres se unem histórica e geograficamente: Ásia e Europa (Eurásia), cujos acidentes geográficos que ligam os continentes são respectivamente o Cáucaso, o mar Cáspio e a cordilheira dos Urais, no momento em que a África e a Ásia são comunicadas per se pelo istmo do Suez que separa o mar Mediterrâneo do mar Vermelho, ligando os continentes africano e Asiático, no qual foi construído o canal do Suez. Uma via navegável artificial a nível do mar no Egito, entre o mar Mediterrâneo e o mar Vermelho (golfo de Suez). Inaugurado em 17 de novembro de 1869, após 10 anos de construção, permite que navios viajem entre o velho continente, a Europa e a Ásia Meridional, sem navegar em torno de África, como na chamada Era dos Descobrimentos entre os anos 1497-1500, reduzindo a distância da viagem marítima entre o continente europeu e a Índia em cerca de 7 mil km.
A
cultura que caracteriza as sociedades humanas é organizada e/ou organizadora
via o veículo cognitivo da linguagem, a partir do “capital cognitivo coletivo”
dos conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências
vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. E,
dispondo de seu capital cognitivo, a cultura institui as regras/normas que
organizam a sociedade e governam os comportamentos individuais. Estas regras in
statu nascendi geram processos sociais que regeneram a complexidade social
adquirida por essa mesma cultura. Assim, a cultura não deve ser compreendida
pelas metáforas estruturais, que são termos impróprios em uma organização
recursiva onde o que é produzido e gerado torna-se produtor e gerador daquilo que
o produz ou gera. Entendemos que cultura & sociedade estão em relação
geradora mútua; nessa relação, não podemos esquecer as interações entre
indivíduos, eles próprios portadores ou transmissores de cultura, que regeneram
a sociedade, a qual regenera a cultura. Daí a tese sociológica segundo a qual,
é possível explicar que “se a cultura contém um saber coletivo acumulado em uma
memória social, se é portadora de princípios, modelos, esquemas de
conhecimento, se gera uma visão de mundo, se a linguagem e o mito são partes
constitutivas da cultura, então a cultura não comporta somente uma dimensão
cognitiva: é uma máquina cognitiva cuja práxis é cognitiva”.
É neste sentido próprio de saber cognitivo que uma cultura abre e fecha as potencialidades bioantropológicas do conhecimento. Ela as abre e atualiza fornecendo aos indivíduos o seu saber acumulado, a sua linguagem, os seus paradigmas, a sua lógica, os seus esquemas, os seus métodos de aprendizagem, métodos de investigação, de verificação, etc., mas, ao mesmo tempo, ela as fecha e inibe com as suas normas, regras, proibições, os seus tabus, seu etnocentrismo, a sua autossacralização, a sua “ignorância de ignorância”. Ainda aqui, o que abre o conhecimento é o que fecha o conhecimento. Desde o seu nascimento, o ser humano conhece não só por si, para si, em função de si, mas, também pela sua família, pela sua tribo, pela sua cultura, pela sua sociedade, para elas, em função delas. O conhecimento de um indivíduo alimenta-se de memória biológica e de memória cultural, associadas na própria memória, que obedece a várias entidades de referência, diversamente presentes nela. Tudo o que é linguagem, lógica, consciência, tudo o que é espírito e pensamento, constitui-se na encruzilhada dialógica entre dois princípios de tradução, um contínuo, o outro descontínuo (binário).
As
aptidões individuais organizadoras do nosso cérebro humano necessitam de
condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões
do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está
nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, vivem na cultura.
Meu espírito conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito
conhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura
conhece através do meu espírito. Assim, portanto, as instâncias produtoras do
conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa
estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo/espaço
em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma
contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo “o todo enquanto todo”. Quer dizer é falar em relação social de interação
simultaneamente, concorrente, antagônica, recursiva e
hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas
não é apenas essa complexidade relacional sob condições determinada que permitem
compreender a possível autonomia relativa do espírito – as faculdades
intelectuais - e no sentido técnico do cérebro individual.
É assim que o espírito individual pode autonomizar-se em relação
à determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos
socioculturais. Em relação à determinação cultural utilizando a aptidão bioantropológicas para organizar o conhecimento. O espírito individual
pode alcançar a sua autonomia jogando com a dupla dependência que, ao mesmo
tempo, o constrange, limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre
hiatos, aberturas, defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o
ser individual e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito
individual está inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de
seu conhecimento cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou
científico. A cultura fornece ao pensamento as suas condições sociais e
materiais de formação, de concepção, de conceptualização. Portanto, ela
impregna, modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais. A
cultura e, somente pela via da cultura, a sociedade está no interior do
conhecimento. O conhecimento está na cultura e a cultura está na
representação do conhecimento. Um ato cognitivo per se é um elemento do
complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato cognitivo individual. As
nossas percepções sociológicas do real ou mesmo concepções estão sob
um determinado controle, não apenas de constantes fisiológicas e psicológicas, mas níveis de compreensão de variáveis culturais e históricas.
Na área croata do mar Adriático há 698 ilhas, 389 ilhéus e 78 recifes, o que torna o arquipélago croata no maior do mar Adriático e no segundo maior do Mediterrâneo, após o arquipélago grego. Destas ilhas, apenas 47 estão habitadas no sentido demográfico de que existe pelo menos um residente permanente. Não obstante, algumas fontes assinalam que a Croácia conta com 66 ilhas com presença humana histórica, das quais 19 perderam todos os seus habitantes como consequência do declínio populacional, que ocorre devido à insuficiente atividade econômica. As ilhas da Croácia têm sido habitadas desde os tempos da antiga Grécia; por exemplo, Hvar já era habitada entre 3500 e 2500 a.C., e Dionísio I de Siracusa fundou uma colônia em Hvar e Vis no século IV a.C. A população das ilhas teve o seu valor mais alto em 1921 com 173 503 habitantes e entrou em declínio constante nas décadas seguintes, caindo para níveis anteriores a 1850 em 1981. No censo de 2001 foram registados 121 606 habitantes, face aos 110 953 de 1991. As principais atividades nas ilhas são a viticultura e cultivo de oliveiras, a pesca e o turismo. A economia local está relativamente pouco desenvolvida, enquanto que o custo de vida é de 10 a 30% mais alto que no continente, e por isso o governo da Croácia oferece diversos tipos sociais de apoio e proteção através da sua Lei das ilhas (Zakon o otocima) para estimular a economia, incluindo não cobrar portagem nas pontes e proporcionar passagens de ferry com valores pecuniários de fato bem mais baratas ou gratuitas para os habitantes originários destas ilhas.
Desde a adoção da Constituição de
1990, a Croácia é uma República democrática. Em 2000, abandonou o sistema político
de governo semipresidencialista em favor do parlamentarismo. A Croácia é membro
das Nações Unidas, do Conselho da Europa, da OSCE, da “Parceria para a Paz” e
outras organizações sociais. O presidente da República (Predsjednik) representa
o chefe de Estado e é eleito para mandatos de cinco anos. Além de ser o
comandante-em-chefe das forças armadas, o presidente tem o dever de nomear o
primeiro-ministro com consentimento do parlamento, e alguma influência na
política externa. O atual presidente da Croácia é Zoran Milanović, que assumiu
o cargo em 18 de fevereiro de 2020. O parlamento da Croácia (Sabor) é um
corpo legislativo unicameral com até 160 deputados, eleitos por voto popular
para mandatos de quatro anos. As sessões plenárias têm lugar de 15 de janeiro a
15 de julho e de 15 de setembro a 15 de dezembro. O governo da Croácia (Vlada),
chefiado pelo presidente, é integrado pelo primeiro-ministro, dois
vice-primeiros-ministros e 14 ministros de setores particulares de atividade. O
ramo executivo é responsável por propor legislação e um orçamento, por executar
as leis, e por determinar as relações políticas públicas externa e interna da República.
A Croácia tem como representação um sistema judicial de três níveis, que
consiste em um Supremo Tribunal, coordenador dos tribunais de condado e
tribunais municipais. O Tribunal Constitucional decide in limine sobre
matérias relacionadas com a Constituição.
Bibliografia
geral consultada.
KRISTEVA, Julia, Estrangeiros
para nós mesmos. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1994; SEMPRUN, Jorge, La
Escritura o La Vida. Barcelona: Tusquets Editores, 1995; DURAND, Gilbert, As
Estruturas Antropológicas do Imaginário. Introdução à Arquetipologia Geral.
São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997; GUIBERNAU, Montserrat, Nacionalismos
- O Estado Nacional e o Nacionalismo no Século XX. Rio de Janeiro: Editora
Zahar, 1997; CANEVACCI, Massimo, Antropologia della Comunicazione Visuale.
Roma: Edizionne Meltemi, 2001; SOLER, Jordi, Los Rojos de Ultramar. Madrid:
Ediciones Alfaguara, 2004; HALL, Stuart, A Identidade Cultural na Pós-modernidade.
11ª edição. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006; COSTA, Denise Magalhães da,
O Si - Mesmo e a Singularidade da Presença. Dissertação de Mestrado em
Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Salvador: Universidade
Federal da Bahia, 2007; WANZELER, Murilo Cunha, O Cuidado de Si em Michel
Foucault. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia.
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. João Pessoa: Universidade Federal
da Paraíba, 2011; ASSMANN, Aleida, Espaços de Recordação: Formas e
Transformações da Memória Cultural. Campinas: Editora Unicamp, 2011; GOMES,
Marcel Maia de Oliveira, O Cuidado de Si na Redução de Danos: Uma Análise
Histórica, Política e Ética, a Partir de Michel Foucault. Dissertação de Mestrado.
Núcleo de Pós-Graduação em Psicologia Social. Centro de Educação e Ciências
Humanas. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2013; CARRIÈRE,
Jean-Claude, A Linguagem Secreta do Cinema. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 2015; FREUD, Sigmund, A Interpretação dos Sonhos. Porto
Alegre: L&PM Editores, 2017; BARROZO, Naiara Martins, José Saramago
Leitor de Montaigne: A Presença dos Ensaios nos Cadernos de Lanzarote. Tese
de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Instituto de Letras. Rio de Janeiro:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2021; AGOSTINHO, Maria Eugênia Morasco, Memória
e Identidade em los Rojos de Ultramar, de Jordi Soler. Dissertação de
Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura. São Carlos:
Universidade Federal de São Carlos, 2023; entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário