terça-feira, 14 de novembro de 2023

Lubo – Hipótese-Cinema, História & Experimentação Reflexiva.

                               Não existe fim, não existe início, apenas a infinita paixão da vida”. Federico Fellini

           Federico Fellini, nascido em Rimini, em 20 de janeiro de 1920 e falecido em Roma, em 31 de outubro de 1993, foi um diretor e roteirista de cinema italiano. Reconhecido por seu estilo distinto, que mistura fantasia e imagens barrocas com terridez, é reconhecido como um dos maiores e mais influentes cineastas de todos os tempos. Seus filmes foram classificados, em pesquisas como Cahiers du Cinéma e Sight & Sound, como alguns dos melhores filmes de todos os tempos. Em uma carreira de quase cinquenta anos, Fellini ganhou a Palma de Ouro por La Dolce Vita, foi indicado a doze prêmios Óscar e ganhou quatro na categoria de melhor filme em língua estrangeira, o melhor para qualquer diretor da história da Academia. No Oscar 1993, em Los Angeles, ele recebeu um prêmio honorário. Além de La Dolce Vita e , seus outros filmes conhecidos incluem La Strada, Le notti di Cabiria, Julieta dos Espíritos, Satyricon, Amarcord e Il Casanova di Federico Fellini. Reconhecido pelo estilo peculiar que funde fantasia e imagens barrocas, ele é considerado uma das maiores influências e um dos mais admirados diretores do século XX. Em agosto de 1918, sua mãe, Ida Barbiani (1896-1984), se casa com um vendedor viajante chamado Urbano Fellini (1894-1956) em cerimônia civil e com a cerimônia religiosa no mês de janeiro seguinte. Federico Fellini era o mais velho de três filhos (depois vieram Riccardo e Maria Maddalena). Urbano Fellini era nativo de Gambettola, onde, por muito tempo, Federico costumou passar as férias na casa dos avós. Nascido e criado em Rimini, as experiências de sua infância vieram a ter uma parte vital em muitos de seus filmes, em particular em “Os Boas Vidas”, de 1953; “8½” (1963) e “Amarcord” (1973). Porém, é errado pensar que todos os seus filmes contêm autobiografias e fantasias implícitas. Amigos próximos, como os roteiristas de TV Tulio Pinelli e Bernardino Zapponi, o cineasta Giuseppe Rotunno e o designer de cenário Dante Ferretti, afirmam que Fellini convidava suas próprias memórias pelo simples prazer de poder narrá-las em seus filmes. 

Durante o regime fascista italiano, Fellini e seu irmão Riccardo fizeram parte de “um grupo fascista que era obrigatório” para todos os rapazes da Itália: o “Avanguardista”. Ao se mudar para Roma em 1939, ele conseguiu um trabalho bem remunerado escrevendo artigos num semanário satírico muito popular na época – o Marc’Aurelio. Foi nesse período em que entrevistou o renomado ator Aldo Fabrizi, dando início a uma amizade que se estendeu para a colaboração profissional e um trabalho em rádio. Em uma época de alistamento compulsório desde 1939, Fellini sem dúvida conseguiu evitar ser convocado usando de artifícios e truques de grande perspicácia imaginativa. O biógrafo Tullio Kezich (1928-2009) comenta que, apesar da época feliz do Marc ‘Aurélio, a felicidade “mascarava uma época imoral de apatia política”. Muitos que viveram os últimos anos sob o regime de ditadura fascista, vivenciaram entre uma esquizofrênica imposição à lealdade ao regime autoritário e uma liberdade pura no humor. O italiano foi também um cartunista talentoso. Produziu desenhos satíricos a lápis, aquarela, canetas hidrocor que percorreram a América do Norte e Europa, e são de grande valia a colecionadores, tendo em vista que muitos de seus rascunhos foram inspirados durante a produção dos filmes, estimulando ideias de decoração, vestimentas, projeto do set de filmagens, etc. Com a queda do fascismo em 25 de julho de 1943 e a libertação de Roma pelas tropas aliadas em 4 de junho de 1944, num verão eufórico, Fellini e seu amigo De Seta inauguraram o Shopping das Caretas, desenhando caricaturas dos soldados por dinheiro. Foi quando Roberto Rossellini tomou conhecimento do projeto intitulado “Roma, Cidade Aberta” (1945) de Fellini e foi ao seu encontro. 

Ele queria ser apresentado a Aldo Fabrizi e colaborar com o script juntamente com Suso Cecchi D`Amato, Piero Tellini e Alberto Lattuada. Fellini aceitou. Em 1948, Fellini atuou no filme de Roberto Rossellini “Il Miracolo”, com Anna Magnani. Para atuar no papel de um vigarista que é confundido com um santo. Fellini teve seu cabelo tingido de loiro. Federico Fellini também escreveu textos para shows de rádio e textos para filmes, mais notavelmente para Rossellini, Pietro Germi, Eduardo De Filippo e Mario Monicelli, mas também escreveu inúmeras anedotas muitas vezes sem crédito, para conhecidos comediantes como Aldo Fabrizi. Dois roteiros nunca filmados de Fellini se tornaram histórias em quadrinhos ilustradas por Milo Manara: Viaggio a Tulum e Il viaggio di G. Mastorna detto Fernet. Nos anos de 1991 e 1992 trabalhou junto com o diretor canadense Damian Pettigrew para ter o que ficou reconhecida como “a mais longa e detalhada conversa jamais vista sobre filmes”, que depois serviu de base para um documentário e um livro: “Fellini: Eu sou um grande Mentiroso”. Tullio Kezich, crítico de cinema e seu biógrafo descreveu esses trabalhos como sendo “O Testamento Espiritual do Maestro”. Em 1993, recebeu um Oscar Honorário em reconhecimento de suas obras que chocaram e divertiram mundo afora. Sua esposa, Giulietta, morreu seis meses depois de câncer de pulmão em 23 de março de 1994. Giulietta, Fellini e Pierfederico estão no mesmo túmulo esculpido por Arnaldo Pomodoro. Em formato de barco está localizado na entrada do cemitério de Rimini – sua cidade natal. O aeroporto da cidade de Rimini também recebeu seu nome. O escritor brasileiro Jorge Amado e o belga Georges Simenon eram seus amigos e admiradores.                                


Uma educação consciente pode mudar a natureza física e moral do homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior. Mas o espírito conduz progressivamente à descoberta de si mesmo e cria, pelo conhecimento do mundo exterior e interior, formas melhores de existência humana. A natureza do homem, na sua dupla estrutura corpórea e espiritual, cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma peculiar e exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto dos quais damos o nome de educação. Nela, a educação, o homem com sua prática social, atua a mesma força vital, criadora e plástica, que espontaneamente impele todas as espécies vivas à conservação e propagação de seu tipo social. É nela, porém, que essa expressão social atinge o desenvolvimento no mais alto grau de intensidade, através do esforço consciente do conhecimento e da vontade, dirigida para a consecução de um fim. Em nenhuma parte, o influxo da comunidade nos seus membros tem maior força que no constante ato de educar, em conformidade com o próprio sentir, cada nova geração. A estrutura política assenta nas leis e normas escritas e não escritas que a unem e unem os seus membros. O conceito de sociedade está ligado aos fatores culturais, políticos e históricos que unem indivíduos, toda geração é assim o resultado da consciência viva, individual e coletivamente, de uma norma que rege uma comunidade humana, quer se trate da família, de uma classe ou de uma profissão, quer se trate de um agregado humano mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado.  

A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valões que regem a vida humana, a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valões válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e destruição das normas advém a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade absoluta de qualquer ação educativa. Acontece isto quando a tradição é violentamente destruída ou sofre decadência interna. Fora de dúvida, a estabilidade não é o indício seguro de saúde, porque reina também nos estados de rigidez senil, nos momentos históricos finais de uma cultura: assim sucede na China confucionista pré-revolucionária, nos últimos tempos históricos da Antiguidade, nos derradeiros dias dos Judaísmo, uma religião monoteísta com raízes antigas, centrada na crença em um único Deus e na observância de leis e tradições transmitidas através da Torá e os textos sagrados. É religião, filosofia e com uma rica história, práticas e costumes distintos, em certos períodos da história das Igrejas, da arte e das escolas científicas.

No filme Lubo (2023) a história social gira em torno do relacionamento instável e posterior reacendimento de relações sociais entre Giovanni e sua namorada Liliana, que permaneceu em Milão. Os dois vinham desfrutando de um relacionamento monótono e rotineiro na vida cotidiana há algum tempo, mas essa mudança repentina e aparentemente negativa reacende a chama. Tudo isso é narrado com sensibilidade e delicadeza por meio de imagens capazes de explorar os sentimentos, às vezes doces e às vezes dolorosos, que os dois protagonistas sentem devido à distância que os separa. O filme foi apresentado em competição no 16º Festival de Cinema de Cannes e tornou-se famoso no cinema mundial pela delicadeza, sensibilidade e graça excepcionais com que narra o terno amor entre os dois protagonistas, um raio de esperança em meio à degradação e à pobreza, tematizando a história de um operário lombardo que vai trabalhar para a Sicília, tendo, para isso, que se separar da sua noiva. Este filme, concorrente à Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1963, acaba por conferir ao seu realizador uma notoriedade assinalável. O roteiro foi escrito por Diritti e Fredo Valla, a partir de ideia de Giorgio Diritti, Fredo Valla e Tania Pedroni. É baseado no romance Il Seminatore de Mario Cavatore, de 2004. 

É uma coprodução italiana e suíça. O filme foi selecionado para concorrer ao Leão de Ouro no 80º Festival Internacional de Cinema de Veneza, onde estreou em 7 de setembro de 2023. Foi lançado na Itália em 9 de novembro de 2023. Em 1939, Lubo Moser, um “artista de rua” nômade de ascendência Yenish, é convocado para o serviço militar no exército suíço para proteger a fronteira. Ele descobre por meio de seu primo que a polícia levou seus filhos como parte do Kinder der Landstrasse (“Crianças da Estrada”), um programa nacional de reeducação influenciado pelos princípios da eugenia. Lubo busca seus filhos incansavelmente e decide se vingar à sua maneira. Alterando o seu percurso, Olmi adapta, em 1965, o livro Il Giornale dell`Anima escrito por Angelo Roncalli, que viria a ser o papa João XXIII, transpondo-o para o cinema com o nome: E Venne un Uomo, interpretado por Rod Steiger, Adolfo Celi e Pietro Germi. Seguidamente, regressa aos temas que lhe são caros, esteticamente, dirigindo uma série de películas cujas histórias se situam sempre num patamar entre a realidade e a ficção. Tendo sempre mais sucesso junto da crítica cinematográfica do que do público, Olmi assinou, entretanto, um conjunto de obras de grande interesse e notável beleza plástica, como L`albero degli Zoccoli (1978), Cammina, Cammina (1982), Lunga Vita alla Signora (1987), La Leggenda del Santo Bevitore (1988) e Il Segreto del Bosco Vecchio (1993).

Yeniches, ieniches ou “itinerantes alemães” são a terceira maior etnia nômade da Europa. Vivem, em sua maioria, na Bélgica, Alemanha, Áustria, Países Baixos, Suíça e partes da França. São um dos povos mais esparsamente distribuídos na Europa Ocidental, embora estejam vagamente concentrados na Renânia, e são caracterizadamente urbanos. Quase nada se sabe sobre as origens da etnia yeniche. Há uma teoria de que seriam herdeiros de pessoas que perderam as terras por consequência das leis da Liga Hanseática. Os yeniche afirmam ser descendentes dos celtas. Embora frequentemente rotulados como ciganos, os yeniches têm uma cultura claramente diferente da cultura romani, com seu próprio idioma e sistema de tabus (cf. Eco, 1964). Os yeniches falam seu próprio idioma, também chamado yeniche. É uma língua mista, com influência de romani, iídiche, rotwelsch e diversos dialetos de alemão. A palavra yeniche é usada principalmente na França e Bélgica, enquanto jeniche usualmente se refere às populações itinerantes alemãs que habitam a Alemanha, Áustria e Suíça. Como ocorreu com diversas etnias nômades da Europa, dos judeus e dos romanis, os yeniches sofreram perseguição, especialmente na Suíça. Até 1970, o governo suíço tinha uma política semioficial de sistematicamente declarar pais yeniches como deficientes mentais, de modo que estes perdiam a guarda seus filhos, que eram encaminhados à adoção por famílias suíças “normais”.

Três das principais línguas da Europa são oficiais na Suíça. A cultura suíça é caracterizada pela diversidade cultural, que se reflete em uma ampla gama de costumes tradicionais. Uma região pode, de certa forma, estar fortemente ligada culturalmente ao país vizinho que compartilha sua língua, estando o próprio país enraizado na cultura da Europa Ocidental. A cultura romanche isolada linguisticamente em Graubünden, no leste da Suíça, constitui uma exceção, sobrevive apenas nos vales superiores do Reno e na Pousada e se esforça para manter sua rara tradição linguística. A língua romanche, também chamada de grisão, é uma das quatro línguas nacionais da Suíça, juntamente com a língua alemã, a língua italiana e a língua francesa. Pertence ao ramo reto-românico das línguas romanas, juntamente com o ladino-dolomita, falado na região de Trentino-Alto Ádige, e o friulano, falado no Friul-Veneza Júlia, norte da Itália. O romanche é utilizado por cerca de 60.000 pessoas, o que representa menos de 1% dos 8,9 milhões de habitantes da Suíça, por isso é “considerada uma língua ameaçada de extinção”. É a língua oficial menos falada do país, sendo o seu uso, inclusive, superado por outras línguas não oficiais, como o servo-croata e o português, usadas por imigrantes. A língua surgiu da mistura entre o “latim vulgar”, falado pelos soldados romanos que no ano de 15 a.C. conquistaram parte da região dos Grisões, e a “língua récia”, falada pelos nativos da região dominada.        

O primeiro registro escrito da língua romanche data de 1552, na forma de uma lição de catecismo chamada Christiauna fuorma, registrada por Jacob Bifrun no dialeto Engadino. Uma tradução em romanche do Novo Testamento foi publicada em 1560. Até 1938, quando teve o seu status reconhecido, o romanche não era uma língua oficial da Suíça. O cantão dos Grisões, maior reduto do romanche, é o único considerado trilíngue da Suíça, pois lá são falados também o alemão e o italiano. Como exemplos de cidades onde a língua romanche é dominante, podem-se citar, entre outras: Disentis/Mustér (75% da população), Zernez (61%) e Müstair (73%). Por ser uma língua minoritária, os falantes de romanche são obrigados a aprender o alemão, tanto oficial (Hochdeutsch) como o dialeto suíço local (Schwizerdütsch), para ter acesso aos melhores empregos e à maioria das instituições federais no país. O romanche não se trata de uma Língua única, mas de um conjunto de seis dialetos naturais sendo eles Sursilvan, Sutsilvan, Vallader, Putèr, Surmiran e Jauer e um artificialmente criado em 1982, denominado Rumantsch Grischun, cujo objetivo era padronizar a comunicação entre os grupos de falantes. A ortografia do romanche foi unificada pelo linguista Heinrich Schmid, em 1982. Essa tentativa visava facilitar a comunicação social entre os falantes do Baixo Engadino (Vallader), Alto Engadino (Puter), Sobremirano (Surmiran), Subselvano (Sutsilvan) e Sobresselvano (Sursilvan), pois cada grupo linguístico tinha sua própria norma ortográfica. Essa nova escrita, chamada Rumantsch Grischun (em romanche), inicialmente não foi muito bem aceita pelos falantes do idioma, mas cada vez mais é difundida pela região. Alguns dialetos possuem diferenças tão marcantes que dois falantes de grupos distintos do romanche podem preferir o alemão para se comunicar.

Esse programa, cujo propósito era eliminar a cultura yeniche, era chamado “Kinder der Landstrasse” (“Crianças das estradas”). Cerca de quinhentas e noventa crianças foram retiradas de seus pais e internadas em orfanatos, manicômios e até mesmo prisões. Atualmente, vivem na Suíça cerca de trinta e cinco mil yeniches, especialmente concentrados na região de Graubünden. Apenas cinco mil deles ainda mantêm seu estilo de vida nômade tradicional. Durante os longos anos de trabalho cênico, Diritti dirigiu documentários, curtas-metragens e programas de televisão. Seu filme de estreia, The Wind Blows Round (2005), participou de mais de 60 festivais de cinema nacionais e internacionais, ganhando mais de 36 prêmios e se tornou um caso nacional, permanecendo em programação no Cinema México em Milão por mais de um ano e meio. Seu segundo filme, The Man Who Will Come, foi apresentado na seleção oficial do Festival de Cinema de Roma de 2009, onde ganhou o Prêmio Marc`Aurélio de Prata - Grande Prêmio do Júri. Em 2013, seu filme There Will Come a Day estreou no Festival de Cinema de Sundance. Em 2020, Diritti dirigiu Hidden Away, que narra a vida do pintor Antonio Ligabue. O filme foi apresentado no Festival de Cinema de Berlim de 2020, onde Elio Germano ganhou o Urso de Prata de Melhor Ator por seu papel. O filme posteriormente ganhou seis prêmios David di Donatello, às vezes chamado simplesmente de Prêmio David, é o mais importante prêmio cinematográfico da Itália, concedido pela Academia do Cinema Italiano. O prêmio, atribuído desde 1956, leva o nome da escultura homônima realizada por Donatello, em 1440, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.      

É “monstruosa” a impressão gerada pela fixidez quase intemporal da história do antigo Egito, através de milênios; mas também entre os Romanos e a estabilidade comunal das relações sociais foi considerada como o valor mais alto e apenas se concedeu justificação limitada aos anseios e ideais inovadores. O Helenismo ocupa uma posição singular na história. Foi por essa razão ou racionalização que a esse grupo de povos Werner Jaeger designou de helenocêntrico. É este o motivo porque, no decurso de nossa história, voltamos constantemente à Grécia. Este retorno nesta espontânea renovação de sua influência não significa que lhe tenhamos conferido, pela sua grandeza espiritual, uma autoridade imutável, fixa e independente do nosso destino. O fundamento de nosso regresso reside nas próprias necessidades vitais, por mais variadas que elas sejam através da História. É claro que, para nós e para cada um dos povos deste círculo, a Grécia e Roma aparecem como algo de radicalmente estranho. Esta separação analítica funda-se em parte no sangue e no sentimento, em parte na estrutura do espírito e das instituições, e ainda na diferença da respectiva situação histórica; mas entre esta separação e a que sentimos ante os povos orientais, distintos pela sua raça e pelo espírito, a diferença é gigantesca. Não se trata inclusive de um sentimento apenas de parentesco racial. É preciso distinguir a história nesse sentido quase antropológico da historicidade que se fundamenta na união espiritual viva e ativa e na comunidade de um destino, para lembrarmos de Max Weber, quer seja o do próprio povo, quer o de um grupo de povos estreitamente unidos. Só nesta particularidade histórica se tem uma íntima compreensão e contato criador entre uns e outros. Só nela existe uma comunidade de ideais e de formas sociais e espirituais que se desenvolvem e crescem independentes das múltiplas interrupções e mudanças sociais e politicamente através das quais varia, mas também se cruza, choca, desaparece, quando se renova uma família de diversos outros povoamentos no âmbito na genealogia. A comunidade existe na totalidade dos povos ocidentais e entre estes e a historicidade da Antiguidade clássica.

Se considerarmos a história social nesse sentido profundo, no sentido de uma comunidade radical, não poderemos supor-lhe como cenário o planeta inteiro e, por mais que alarguemos os nossos horizontes geográficos, as fronteiras dessa história jamais poderão ultrapassar a antiguidade daqueles que há vários milênios traçaram seu destino. Não é possível dizer até quando a Humanidade continuará a crescer na unidade de sentido que tal destino lhe assinala, pois o objetivo teórico e histórico de Jaeger é apresentar a formação do homem grego, a Paidéia, no seu caráter particular e no seu desenvolvimento histórico. Não se trata de um conjunto de ideias abstratas em sua generalidade, mas da própria história da Grécia na realidade concreta do seu destino vital. Contudo, essa história vivida já teria desaparecido há longo tempo se o homem grego não a tivesse criado na sua forma perene. A ideia de educação representava para ele o sentido de todo o esforço humano. Era a justificação última da comunidade e individualidade humana. Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica são perfeitamente inteligíveis a esta luz, pois foram criados no mesmo espírito que os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora em relação aos outros povos da Antiguidade de que foram herdeiros. Augusto concebeu a missão do Império Romano em função da ideia da cultura grega.

Sem a concepção grega da cultura não teria existido a Antiguidade como unidade histórica e mundo ocidental. É indiscutível que foi o momento em que os gregos situaram o problema da individualidade no cimo de seu desenvolvimento filosófico que principiou a história da personalidade europeia. Roma e o Cristianismo agiram sobre ela. E da inserção desses fatores brotou o fenômeno do Eu individualizado. Mas não podemos entender de modo radical e preciso a posição do espírito grego na história da formação dos homens, se tomarmos um ponto de vista moderno. Vale mais partir, segundo Jaeger, da constituição rácica do espírito grego. A vivacidade espontânea, a sutil mobilidade, a íntima liberdade que, embora tenham parecido condições do rápido desabrochar daquele povo na inesgotável riqueza de formas que nos surpreende e espanta ao contato com os escritores gregos de todos os tempos, dos mais primitivos aos mais modernos, não tem as suas raízes no cultivo da subjetividade, como atualmente acontece; pertencem à sua natureza. Os gregos tiveram o sendo inato do que significa natureza. Sendo o conceito elaborado por eles em primeira mão, tem indubitável origem na sua constituição espiritual. Muito antes de o espírito grego ter delineado essa ideia, eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma delas lhes aparecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo ordenado em conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Esta concepção é orgânica, porque nela todas as partes são consideradas membros de um todo. Sua tendência é clara de apreensão das leis do real. O estilo e a visão artística entre eles surgem, em primeiro lugar, pelo descobrimento como talento estético. Assentam num instinto e na interpretação através de ato de visão, não na deliberada transferência de uma ideia para o reino da criação artística.

Giorgio Diritti formou-se trabalhando ao lado de diversos autores, como Giuseppe Avati, mais conhecido como Pupi Avati, nascido em 3 de novembro de 1938, é um diretor, produtor e roteirista de cinema italiano. Ele é reconhecido pelos fãs de filmes de terror por seus dois filmes Giallo, A Casa das Janelas que riem (1976) e Zeder (1983). É um subgênero italiano de suspense e terror, nascido nos anos 1960, reconhecido por sua estética comunicativa marcante, assassinatos estilizados, mistérios com reviravoltas, e frequentemente protagonistas outsiders (cf. Elias; Scotson, 2000) que investigam crimes violentos, caracterizados por assassinos com “luvas de couro e facas”, e um alvo em beleza gráfica e suspense psicológico. A estigmatização, como um aspecto essencial da relação geracional entre “estabelecidos” e “outsiders”, associa-se, de modo geral muitas vezes, a um tipo específico de fantasia coletiva criada pelo grupo estabelecido, e ao mesmo tempo, justifica a aversão social. Pupi Avati, e realizou vários castings para filmes na Emília-Romagna, incluindo A Voz da Lua (1990), de Federico Fellini. É uma região situada no Norte da Itália com quatro milhões de habitantes e 22 124 km², cuja capital é Bolonha. Limita-se ao Norte com Vêneto e Lombardia, a Oeste com o Piemonte e Ligúria, ao Sul com Toscana e a República de São Marinho. Esta região é composta da união de duas regiões: a Emilia, nas províncias de Placência, Parma, Régio da Emília, Módena, Ferrara e parte da província de Bolonha, com a capital, e a Romanha, de forma extraordinária com as restantes províncias de Ravena, Rimini, Forlì-Cesena e a parte oriental da província de Bolonha. A Romanha histórica compreende também territórios das Marcas, da Toscana e da República de San Marino.

 

A região também é famosa por abrigar alguns dos mais famosos produtores de carros e motocicletas de Itália entre os quais, Ferrari, Lamborghini, Pagani, Maserati e Ducati possuem fábricas nesta região, sendo que Pupi Avati nasceu em Bolonha em 1938. Depois de frequentar a escola no Ensino Médio e estudar Ciências Políticas na Università degli Studi di Firenze, uma instituição pública de ensino superior situada em Florença, na região central da Itália. Uma das universidades mais antigas do país, consiste de doze faculdades e tinha, em 2006, 59.627 estudantes registrados. A Universidade de Florença evoluiu a partir do Studium Generale, fundado pela República Florentina em 1321. O Studium foi reconhecido pelo papa Clemente VI (1291-1352) em 1349, e autorizado a conceder diplomas regularmente, ocasião em que o papa também decretou que a primeira faculdade italiana de Teologia seria criada em Florença. O Studium se tornou uma universidade imperial em 1364, porém foi transferido para Pisa em 1473 quando Lourenço, o Magnífico assumiu o controle de Florença. Carlos VIII o trouxe de volta para Florença entre 1497 e 1515, porém foi transferido novamente para a cidade Pisa exatamente quando a família Médici retornou ao poder. Em 1859 tornou-se o Istituto di Studi Pratici e di Perfezionamento, e um ano mais tarde foi reconhecida legitimamente como universidade pelo governo na Itália unificada. Em 1923 o Istituto passou a ser denominado oficialmente uma Universidade pelo parlamento italiano.

Giorgio Diritti começou a trabalhar numa empresa de alimentos congelados. Ao mesmo tempo, desenvolveu uma paixão pelo jazz, tornando-se um clarinetista proficiente. Na segunda metade da década de 1950, formou e tocou na Doctor Dixie Jazz Band, da qual Lucio Dalla também era membro. Embora inicialmente pretendesse ser um músico profissional, Avati sentiu que lhe faltava o talento necessário. Em meados da década de 1960, decidiu dedicar-se ao cinema depois de ver 8½ de Federico Fellini e o seu retrato do papel de um realizador. A paixão de Avati pela música, bem como o seu amor pela sua cidade natal, que serviu de cenário para muitos dos seus filmes, tornaram-se temas recorrentes nas suas produções.  Seus primeiros filmes foram Balsamus. L`uomo di Satana (1968) e Thomas e gli Indemoniati (1969). Sua filmografia como diretor inclui quase quarenta filmes e trabalhos para televisão. Como roteirista, Avati escreveu ou co-escreveu a maioria de seus filmes, bem como roteiros para outros diretores. Ele colaborou no roteiro de Salò o le 120 Giornate di Sodoma (1976), dirigido por Píer Paolo Pasolini, embora não seja creditado por isso. Ele também produziu vários filmes para outros diretores e de sua própria autoria. Muitos de seus filmes também são produzidos por Antonio Avati seu irmão. Avati começou sua carreira dirigindo filmes de terror e é considerado um dos diretores italianos mais notáveis deste gênero, com títulos incluindo La Casa dalle Finestre che Ridono (1976) e Zeder (1983), que são considerados suas obras-primas. Segundo Avati, a série televisiva Jazz Band (1978), escrita sobre a história da Doctor Dixie Jazz Band, marcou um ponto de transformação na sua obra.        

O tema dos seus filmes passou a vir da sua própria experiência, e o seu cinema tornou-se mais nostálgico, introspectivo e autobiográfico. Além disso, a série foi um sucesso e trouxe Avati à atenção de um público mais vasto em comparação com os seus filmes anteriores. Ao longo de sua carreira, Avati dirigiu e produziu com sucesso diversos gêneros cinematográficos, incluindo filmes de terror, produções medievais, dramas, comédias de jazz, comédias de amigos, cinebiografias e outros, provando ser um diretor versátil. Durante sua carreira como diretor, roteirista e produtor, Avati foi indicado à Palma de Ouro, ao Prêmio Fita de Prata, ao Prêmio David di Donatello e a muitos outros. Ele ganhou dois Prêmios David di Donatello e cinco Prêmios Fita de Prata. Avati foi nomeado Comendador Ordine al Merito della Repubblica Italiana em 2 de junho de 1995. Ele presidiu a Fundação Federico Fellini, criada em 1995 em memória do grande diretor nascido em Rimini. Em 2008, Avati publicou sua autobiografia, Sotto le Stelle di un Film. Inspirado na autobiografia do diretor, em 2010, Claudio Costa realizou um documentário de entrevistas e animações, denominado Pupi Avati, Ieri Oggi Domani. É também autor dos romances Il Ragazzo in Soffitta (2015), Il Signor Diavolo (2018), dos quais realizou um filme homônimo no ano seguinte, e L`archivio del Diavolo (2020).  

Isso tudo traz consigo socialmente um choque de hábitos diferentes, perspectivas variáveis e traumas emocionais, proporcional, tanto grandes quanto pequenos. Esses fatores sociais inicialmente fazem com que o protagonista se sinta alienado, como pode ser visto em diversas cenas, nas quais Giovanni observa “a paisagem árida e lenta da zona rural da Sicília, em contraste com o ritmo urbano e acelerado de sua cidade natal, Milão”. Mas estamos interessados muito mais do que simples influências intelectuais. O conceito de alienação pertence a uma vasta e complexa problemática humanista, com uma longa história propriamente dita. As preocupações com essa problemática – em formas que vão da Bíblia a trabalhos literários, bem como a tratados sobre direito, economia e filosofia – refletem tendências objetivas de desenvolvimento europeu desde o longo período de escravidão e servidão até a passagem da sociedade capitalista para o socialismo. As influências intelectuais, revelando continuidades importantes que perpassam as transformações das estruturas sociais, só adquirem sua significação real se consideradas nesse quadro de pensamento objetivo de desenvolvimento social e político. Se avaliadas dessa forma, sua importância histórica, teórica e ideológica, longe de esgotar-se na mera curiosidade histórica, dificilmente poderá ser de forma exagerada, isto é, condicionadas precisamente porque elas indicam a profundidade do abismo e das raízes de certas problemáticas, bem como da autonomia relativa das formas as quais elas refletem.  

Em 1556, a República de Veneza publicou pela primeira vez o mensal Notizie scritte (“Avisos escritos”) que custava uma gazeta, uma moeda veneziana da época, cujo nome acabou por significar “jornal”. Esses “avvisi” eram boletins escritos à mão e usados ​​para transmitir notícias políticas, militares e econômicas de forma rápida e eficiente em toda a Europa, mais especificamente na Itália, durante o início da Era moderna (1500-1800), compartilhando algumas características dos jornais, embora geralmente não sejam considerados verdadeiros jornais. No entanto, nenhuma dessas publicações atendeu plenamente aos critérios modernos para jornais adequados, pois normalmente não se destinavam ao público em geral e se restringiam a uma determinada gama de tópicos. As primeiras publicações contribuíram para o desenvolvimento do que hoje seria reconhecido como o jornal, que surgiu por volta de 1601. Em tono dos séculos XV e XVI, na Inglaterra, na França e na Espanha, foram publicados longos relatos de notícias chamados “relações”. As publicações de notícias de eventos únicos eram impressas no formato de folha ampla, que era frequentemente postada. Essas publicações também apareceram como panfletos e pequenos livretos, para narrativas mais longas, muitas vezes escritas em formato de carta, muitas vezes contendo ilustrações em xilogravura.

As taxas de alfabetização eram baixas em comparação com os dias de hoje, e essas publicações eram frequentemente lidas em voz alta para alfabetização e cultura oral estavam, de certa forma, coexistindo nesse cenário. Por volta de 1400, empresários em cidades italianas e alemãs compilavam crônicas manuscritas de importantes eventos noticiosos e as distribuíam para seus contatos comerciais. A ideia de usar uma prensa para este material apareceu pela primeira vez na Alemanha por volta de 1600. Os primeiros precursores foram os chamados Messrelationen (“Relatórios de feiras”) que eram compilações de notícias semestrais para as grandes feiras de livros em Frankfurt e Leipzig, começando na década de 1580. O primeiro jornal de fato foi o semanário “Coleção de todas as notícias ilustres e memoráveis”, iniciado em Estrasburgo em 1605. O Avisa Relation oder Zeitung foi publicado em Wolfenbüttel a partir de 1609, e logo foram estabelecidas gazetas em Frankfurt (1615), Berlim (1617) e Hamburgo (1618). Em 1650, trinta cidades alemãs tinham diários ativos.  As notícias circulavam entre boletins por meio de canais bem estabelecidos na Europa do século XVII. Antuérpia era o centro de duas redes, uma ligando França, Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda; o outro ligando Itália, Espanha e Portugal. Os tópicos favoritos incluíam guerras, assuntos militares, diplomacia e negócios judiciais e fofocas. Depois de 1600, os governos nacionais da França e da Inglaterra começaram a imprimir boletins oficiais. Em 1622, a primeira revista semanal em língua inglesa, “A current of General News”, foi publicada e distribuída na Inglaterra em formato de quarto de 8 a 24 páginas.

Com a amplificação de diferentes ideologias políticas nos meios sociais de comunicação, os jornais adquiriram importância estratégica tornando-se importantes instrumentos de difusão da propaganda política. Dentre as ideologias do início do século XX está o jornalismo do qual Antonio Gramsci (1891-1937), intelectual italiano, foi importante expoente. Não fugiu de controvérsias partidárias e teóricas, defendendo pressupostos éticos-políticos e propôs estratégias, alianças e táticas de ação para a luta de classes. Não temeu a imersão no que antevia ser um difícil, acidentado, mas possível percurso de construção da sociedade socialista. E fez do jornalismo o principal veículo para o exercício da crítica, associada por ele, em artigo publicado no “Il Grido del Popolo” em 1916. Entendendo a importância que um veículo de comunicação poderia ter para a difusão das ideias do partido, em 12 de setembro de 1923, Gramsci escreveu uma carta dirigida ao Comitê executivo do Partido Comunista Italiano e propôs a fundação do periódico do Partido, o Jornal L`Unità. – “O jornal não deverá ter alguma indicação de partido, deverá ser um jornal de esquerda. Eu proponho como título L`unità (“A unidade”) puro e simples que terá um significado para os operários e terá um significado mais geral”.

A primeira edição do jornal foi publicada no dia 12 de fevereiro do ano seguinte em Milão com tiragem de, aproximadamente, 20 mil cópias, chegando a 34 mil quando da morte do político de esquerda Giacomo Matteotti. L’Unità é um jornal italiano, consorciado ao partido “Democratas de Esquerda” (“Democratici di Sinistra”) referente ao período 1924-2014. Representou um partido político italiano de ideologia socialdemocrata. Fundado em 1998, após a fusão do Partido Democrata de Esquerda com pequenos partidos socialdemocratas, trabalhistas, socialistas e eurocomunistas. Governou Itália desde o ano da sua fundação até 2001 e, de novo, em 2006 até 2007, altura em que se fundiu com “A Margarida-Democracia é Liberdade” para dar origem ao Partido Democrático. Foi fundado por Antonio Gramsci em 12 de fevereiro de 1924, com o subtítulo “Diário dos Operários e Camponeses”, como órgão oficial do Partido Comunista Italiano (PCI). Impresso em Milão, chegando a uma circulação em torno de 20 a 30 mil exemplares. Em 8 de novembro de 1925 o jornal foi vetado pela censura do regime de terror (cf. Fernandez, 1960) e definitivamente fechado depois do atentado frustrado contra Benito Mussolini em 31 de outubro de 1926. 

Uma edição clandestina ainda assim, publicada no dia 1° de janeiro de 1927, com circulação restrita a Milão, Turim, Roma e França.  A publicação do diário foi oficialmente retomada depois da libertação de Roma, em 6 de junho de 1944.  Depois da libertação da Itália, em 1945, foram retomadas as edições locais de L’Unità em Milão, Gênova e Turim, a última editada pelo filósofo Ludovico Geymonat (1908-1991). Na imagem Francesco Saverio Nitti (a sinistra) con il re Vittorio Emanuele III (2º a sinistra) al Cinquantenario dell`Unità d`Italia. Torino, 1911. Colaboradores habituais do jornal eram: David Layolo, Ada Gobetti, Cessar Pavese, Italo Calvino, Elio Vittorini, Aldo Tortorella ou Paolo Spriano. No mesmo 1945 foi lançada a “Festa de L’Unità” por parte do PCI. Em 1957, as edições genovesa, milanesa e turinesa foram unificadas em uma edição única para todo o norte da Itália. Em 1974 a circulação de L’Unità chegava a 239.000 cópias diárias, mas seu número começou a decrescer para os anos 1980, junto à crise do PCI: as 100 milhões de cópias vendidas em 1981 desceram a mal 60 milhões em 1982. Massimo d’Alema, futuro premiê da Itália, foi diretor desde 1983 até julho de 1990. Entre 1989 e 1990 publicou-se junto ao diário uma revista satírica semanal, “Cuore”. Em 1991 o subtítulo mudou de “Diário do Partido Comunista Italiano” a “Diário fundado por Antonio Gramsci”, com uma circulação de cerca de 156.000 edições. Depois da dissolução do PCI nesse mesmo ano o jornal passou a mãos majoritárias, o Partido Democrático da Esquerda. Entre 1992 e 1996, Walter Veltroni, dirigente do PDS, exerceu como diretor. Entre 2000 e 2001 o diário deixou de publicar-se, devido aos problemas financeiros que padecia. Desde então publicado por uma empresa privada, não unida “oficialmente” aos “Democratas de Esquerda”, sua ideologia editorial mantinha-se firmemente ao Partido. A circulação diária do jornal encontrava-se, em fevereiro de 2005, em 62.000 cópias.

           No ano 1861, quando se tornou a capital da Itália, Turim tinha 173 mil habitantes. Após uma crise, devida à mudança da capital para Florença, Turim desenvolveu uma economia industrial, tornando-se a segunda cidade industrial, atrás apenas de Milão. A cidade continuou crescendo, mesmo durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), até ultrapassar o milhão de moradores durante os anos 1960. A partir do final dos anos 1970 houve uma diminuição demográfica da população, devida à baixa taxa de natalidade comparativamente e ao crescimento das cidades na região metropolitana. Cerca de 16,4% da população possui menos de 14 anos de idade, enquanto aqueles em idade de aposentadoria são 18,8%. A cidade viu um crescimento no número de imigrantes, incluindo as áreas suburbanas. A população continua na maioria italiana (96,1%), mas há grupos significantes de romenos (2,3%), marroquinos (1,5%), peruanos (0,5%), albanianos (0,4%) e outros. Hoje em dia a cidade é uma grande área industrial, conhecida particularmente como a sede da montadora de automóveis FIAT.  A cidade é sede do edifício Lingotto, que já foi a maior fábrica de carros do mundo e que agora é centro de convenções, local para concertos, galeria de arte, centro de compras e hotéis. Outras companhias fundadas em Turim incluem a Invicta (1821), Lavazza, Martini, Kappa e a fábrica de chocolate Caffarel. Também é um centro da indústria aeroespacial, com a Alenia. 

Alguns elementos principais da Estação Espacial Internacional foram produzidos na cidade. Futuros projetos europeus como Ariane 5 serão gerenciados de Turim pela nova companhia NGL, subsidiária da EADS (70%) e Finmeccanica (30%). Em Turim também surgiram grandes companhias italianas, como a Telecom Italia do ramo das telecomunicações e a rede Radiotelevisione Italiana (RAI). A maioria das indústrias de cinema moveram-se para outras partes da Itália, mas Turim continua sendo sede do Museu Nacional de Cinema. A cidade é conhecida por ser sede dos famosos times de futebol Juventus Football Club e de seu rival, Torino Football Club no qual disputam o clássico Juve vs. Toro. Turim é famosa por ter participação em eventos como a Copa do Mundo em 1934 e 1990 e os Jogos Olímpicos de Inverno de 2006. FIAT é um acrônimo de Fabbrica Italiana Automobili Torino, mas também pode significar “faça-se” em Latim. A empresa foi fundada por Giovanni Agnelli, em 11 de julho de 1899. Após a primeira guerra mundial (1914-1918), a empresa com apoio do governo começou a investir em diversas áreas, como o mercado de jato, tratores, trens e construção. Gianni Agnelli, neto de Giovanni Agnelli, chefiou a FIAT de 1966 até sua morte em janeiro de 2003, quando foi sucedido por seu irmão Umberto Agnelli. Depois da morte de Umberto, em 2004, Luca Cordero di Montezemolo foi nomeado presidente da empresa, porém o herdeiro de Agnelli, John Elkann, tornou-se vice-presidente, com 28 anos. Outros membros da família Agnelli continuam na direção. As atividades do grupo eram inicialmente centralizadas na fabricação de automóveis e de veículos industriais e agrícolas. Na primeira década do século XX já fabricava também locomotivas e, com o início da Primeira Guerra Mundial, passou a fabricar ambulâncias, metralhadoras e até motores para submarinos. Ao longo do tempo, diversificou suas atividades, e hoje o grupo atua em vários setores industriais e financeiros. O centro de suas atividades industriais está na Itália, porém atua através de subsidiárias em 61 países, com 1 063 unidades que empregam 223 000 pessoas, 111 mil fora da Itália.

Lubo tem como representação social um filme dramático de 2023 dirigido por Giorgio Diritti, nascido em 21 de dezembro de 1959 é um extraordinário diretor e roteirista italiano. Giorgio Diritti participou das atividades do Ipotesi Cinema, tendo como escopo no cinema como ferramenta de experimentação e reflexão, e não apenas como “entretenimento”, com obras que vão de documentários a filmes de ficção importantes no cinema italiano contemporâneo, como Maternity Blues (2011), Greenery Will Bloom Again (2014, último de Olmi) e Il Grande Passo (2019). Ipotesi Cinema é um instituto de formação para jovens autores, fundado e dirigido por Ermanno Olmi (1931-2018), um cineasta italiano, reconhecido pelo seu filme L`albero degli Zoccoli, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1978 e do César de Melhor Filme Estrangeiro no ano seguinte. A Hipótese-Cinema (L`hypothèse-cinéma, no original em francês) é um conceito e um livro do teórico de cinema francês Alain Bergala, e não uma obra de Píer Paolo Pasolini, embora Bergala dialogue com as ideias de Pasolini e outros teóricos. O livro discute, principalmente, a transmissão do cinema dentro e fora da escola, e como a experiência com o cinema permite “ser o outro” e viver em diferentes espaços e tempos. Começou a sua carreira na primeira metade da década de 1950 como realizador de documentários, tendo filmado cerca de quatro dezenas deles. Em 1961 dirige a sua primeira obra de ficção, Il Posto, que narra a odisseia de dois jovens milaneses à procura de um emprego no mundo da indústria na época do Risorgimento “econômico” italiano.  Seguindo esse rastro, Olmi realiza, dois anos mais tarde, I Fidanzati, um filme dramático de 1963 escrito e dirigido por Ermanno Olmi. Giovanni, um operário milanês culto com um emprego muito humilde, é enviado pela empresa para trabalhar na Sicília.

            O Risorgimento tem como representação na esfera política o movimento social na história italiana que buscou unificar o país entre 1815 e 1870, que era uma coleção de pequenos Estados submetidos a potências estrangeiras. Na luta sobre a futura estrutura da Itália, a monarquia constitucional, encabeçada na pessoa do rei Vítor Emanuel II do Reino da Sardenha, apoiado pelos conservadores liberais, teve sucesso quando em 1859–1861 se formou a Estado-nação, sobrepondo-se aos partidários da extrema-esquerda, maçons carbonários, jacobinos, republicanos e democráticos, que militavam sob Giuseppe Mazzini (1805-1872) e Giuseppe Garibaldi (1807-1882). A desejada unificação da Itália se deu assim sob a Casa de Saboia, com a anexação ao Reino da Sardenha, da Lombardia, do Vêneto, do Reino das Duas Sicílias, do Ducado de Módena e Reggio, do Grão-Ducado da Toscana, do Ducado de Parma e Placência e dos Estados Pontifícios. Na primeira fase do Risorgimento (1848–1849), desenvolveram-se vários movimentos revolucionários e uma guerra nacionalista contra o Império Austríaco, mas concluiu-se sem modificação do status quo. A segunda fase, em 1859-1860, prosseguiu no processo de unificação e concluiu com a declaração da existência de um Reino de Itália. Completou-se com a anexação de Roma, antes a capital dos Estados Pontifícios, em 20 de setembro de 1870. Historicamente Napoleão Bonaparte criou diversos estados na península Itálica: Reino da Etrúria, Reino de Itália (1805-1814) e entregou o governo do Reino de Nápoles ao seu irmão José. Durante esse período, esses territórios passaram por reformas liberais e pela extinção dos privilégios feudais e eclesiásticos. Após o Congresso de Viena, com a conferência de paz que se seguiu à derrota de Napoleão, e a liquidação do sistema, a península Itálica ficou dividida e subjugada. 

        A Áustria dominava a Lombardia, Vêneto (Venécia) e Ístria; os ducados de Parma, Módena e Toscana eram regidos pelos arquiduques austríacos; o Piemonte, que integrava o Reino de Sardenha junto com o Ducado de Saboia e Gênova, era governado pela casa de Saboia; o Papa governava os Estados Pontifícios, estendendo sua autoridade às províncias do Adriático, e os Bourbons voltavam ao Reino das Duas Sicílias. Em todas essas regiões, foi estabelecido o absolutismo ou a monarquia tradicional, esta última baseada nas decisões das cortes. O único Estado que permaneceu mais ou menos liberal foi o Reino da Sardenha, na ocasião composto das atuais regiões de Piemonte e da Sardenha. Os governantes do antigo regime, impostos pelo Congresso de Viena, sem apoio popular, governavam com auxílio das forças austríacas. Entretanto, as ideias revolucionárias e nacionalistas continuavam propagando-se, incentivadas pelo progresso econômico e o amadurecimento das instituições. O incremento da produção têxtil do Reino da Sardenha exigia um vasto mercado global que somente poderia ser a Itália unificada. As ferrovias favoreceram as comunicações e, com elas, a unidade dos diversos Estados. Outro elemento aglutinador era a língua italiana. Os italianos podiam estar separados pelas fronteiras, com monarcas estrangeiros impostos pela Santa Aliança, mas ninguém podia despojá-los do idioma de Dante, Petrarca e Boccaccio. Por outro lado, o romantismo, que se identificou na Itália com o Risorgimento Letterario, adquiriu um claro poder político. Assuntos aparentemente literários ou históricos encontravam-se cheios de alusões à escravidão e a tirania. Onde não se tolerava a crítica, empregava-se a sátira. O filme foi rodado em nove semanas no Piemonte, Tirol do Sul, Província Autônoma de Trento e Suíça.

Bibliografia Geral Consultada.

FABRIS, Mariarosaria, O Neorrealismo Cinematográfico Italiano. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996; COUTINHO, Carlos Nelson, “Volontà Generale e Democrazia in Rousseau, Hegel e Gramsci”. In: Giuseppe Vacca. (Org.), Gramsci e il Novecento. 1ª Edizionne. Roma: Carocci, 1999, vol. 2, pp. 291-312; ELIAS, Norbert; SCOTSON, John, Os Estabelecidos e os Outsiders. Sociologia das Relações de Poder a partir de uma Pequena Comunidade. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2000; JANNUZZI, Giovanni, Breve História de Italia. 11ª ed. Buenos Aires: Letemendía Casa Editora, 2005; STICH, Dominique, Parlons Romanche. Paris: Editions L'Harmattan, 2007; ROGERS, Perry, Aspects of Western Civilization: Problems and Sources in History. Vol. II. New Jersey: Sixth Editor, 2008; FERRARI, Florencia, O Mundo Passa. Uma Etnografia dos Calon e suas Relações com os Brasileiros. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Antropologia Social. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; SIBAR, Lina Maria Lorezan, Identidade, Alteridade e Resistência dos Ciganos. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia e Ciências. Marília: Universidade Estadual Paulista, 2012; SOUZA, Mirian Alves de, Cigano, Roma e Gypsies: Projeto Identitário e Codificação Política no Brasil e Canadá. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Departamento de Antropologia. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2013; ALMEIDA, Sancha Julieta Figueiredo Dias, A Vida Para Além das Feiras: A Importância das Medidas de Formação Profissional na Trajetória Profissional do Povo Cigano. Dissertação de Mestrado. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2017; MISKA, Brad, “Il Signor Diavolo, de Papi Avati, Uma Homenagem aos Clássicos do Terror dos Anos 70 e 80!”. In: Bloody Disgusting! 20 de maio de 2019; MENDES, Maria Manuela, “O Continuum Difícil Acesso de Pessoas e Famílias Ciganas/Roma à Habitação Adequada em Portugal”. In: Cidades, 47, 2023; CRUZ, Anselmo Parreira, A Memória Coletiva e a Participação Cívica dos Portugueses Ciganos. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2023; entre outros.

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