“O normal e os estigmatizados não são pessoas, mas perspectivas”. Erving Goffman
A
confissão permanece ainda hoje, a matriz geral que rege a produção do discurso
verdadeiro sobre o sexo. Entretanto, ela se transformou consideravelmente.
Durante muito tempo permaneceu solidamente engastada na prática da penitência.
Mas, pouco a pouco, a partir do protestantismo, da Contra-Reforma, da pedagogia
do século XVIII e da medicina do século XIX, perdeu sua situação ritual e exclusiva:
difundiu-se, foi utilizada em toda uma série de relações sociais: crianças e
pais, alunos e pedagogos, doentes e psiquiatras, delinquentes e peritos. As
motivações sociais e os efeitos dela esperados se diversificaram, assim como as
formas que toma: interrogatórios, consultas, narrativas autobiográficas ou
cartas, que são consignados, transcritos, reunidos em fichários, publicados e
comentados. Mas a confissão se abre, senão a outros domínios, pelo menos a
novas maneiras de percorrer tais domínios. Não se trata somente de dizer o que
foi feito – o ato sexual – e como; mas de reconstituir nele e a seu redor, os
pensamentos e as obsessões que o acompanham, as imagens, os desejos, mas
modulações e a qualidade do prazer que o contém. Pela primeira vez, segundo Foucault
(1984: 62-67), uma sociedade se inclinou a solicitar e ouvir a confidência dos
prazeres individuais. Disseminação, dos procedimentos de confissão, localização
múltipla de sua coerção, extensão de seu domínio: constituiu-se,
progressivamente, um grande arquivo dos prazeres do sexo.
Durante muito tempo, à medida que se constituía, tal arquivo apagou-se. Passou sem vestígios, pois assim o desejava a confissão cristã, até que a medicina, a psiquiatria, e também a pedagogia, começaram a solidificá-lo: Campe, Sazmann, depois Kaan, Kraft-Ebing, Tardieu, Mole e Havelock Ellis reuniram com cuidado toda esta pobre lírica do despropósito sexual. Ellis desenvolveu outros conceitos psicológicos importantes, tais como autoerotismo e narcisismo, os quais foram posteriormente aprofundados pelas pesquisas realizadas por Sigmund Freud. Assim as sociedades ocidentais começaram a manter o registro infinito de seus prazeres. Estabeleceram o herbário, instauraram a classificação desses prazeres; descreveram tanto as deficiências cotidianas quanto as estranhezas ou as exasperações. Momento importante: é fácil rir dos psiquiatras do século XIX, que se desculpavam, com ênfase, dos horrores a que tinham, que dar a palavra, evocando os “atentados aos costumes” ou as “aberrações dos sentidos genésicos”. A “ciência do sexo” no século XIX se organizaria tendo como representação a fisiologia da reprodução e como medicina da sexualidade. Nesse momento os prazeres mais singulares eram solicitados a sustentar um discurso de verdade sobre si, discurso que deveria articular-se não mais aquele que fala do pecado e da salvação, da morte e da eternidade – mas ao que fala do corpo e da vida – o discurso da proeminência da ciência nas sociedades.
Bastava
para tornar trêmulas as palavras; constituía-se, então, essa coisa improvável:
uma ciência-confissão, ciência que se apoiava nos rituais da confissão e
em seus conteúdos, ciência que supunha essa extorsão múltipla e insistente e assumia
como objeto o inconfessável-confesso. Escândalo, e, em todo caso,
repulsão do discurso científico, institucionalizado no século XIX, quando assumiu
todo esse discurso inferior. Paradoxo e metodológico também: as longas
discussões sobre a possibilidade de constituir uma ciência do sujeito, a
validade da introspecção, a evidência da experiência, ou a presença para si
da consciência respondia em dúvida, a esse problema que era inerente ao
funcionamento dos discursos de verdade, em nossa sociedade: poder-se-ia
articular a produção da verdade, segundo o velho modelo jurídico-religioso da
confissão e a extorsão da confidência segundo a regra do discurso
científico? Deixemos falar aqueles que
acreditam que a verdade do sexo foi elidida mais rigorosamente do que nunca, no
século XIX, por um temível mecanismo de barragem e por um déficit central do discurso.
Déficit não, mas digamos, sobrecarga, reduplicação de discursos, mais exagerada
do que insuficiente; em todo caso, interferência entre duas modalidades de
produção da verdade: os procedimentos da confissão e a discursividade científica.
E em vez de contar os erros e as ingenuidades dos moralistas que, no século
XIX, povoaram os discursos de verdade sobre o sexo, seria melhor delimitar os
procedimentos pelos quais essa vontade de saber relativa ao sexo, que
caracteriza o Ocidente moderno, fez funcionar os rituais da confissão nos
esquemas da regularidade científica; de que maneira se chegou a constituir essa
imensa e tradicional extorsão de confissão sexual em formas científicas?
1. Através de uma codificação clínica do “fazer falar”; combinar a confissão com o exame, a narração de si mesmo com o desenrolar de um conjunto de sinais e de sintomas decifráveis; o interrogatório cerado, a hipnose com a evocação das lembranças, as associações livres: eis alguns meios para reinscrever o procedimento da confissão num campo de observações cientificamente aceitáveis. 2. Através do postulado de uma causalidade geral e difusa: o dever de dizer tudo e o poder de interrogar sobre tudo encontrarão sua justificação no princípio de que o sexo é dotado de um poder causal inesgotável e polimorfo. O acontecimento mais discreto na conduta sexual – acidente ou desvio, déficit ou excesso – é, supostamente, capaz de provocar as consequências mais variadas ao longo de toda a existência; não há doença ou distúrbio para os quais o século XIX não tenha imaginado pelo menos uma parte da etiologia sexual. O princípio do sexo “causa de tudo e de nada” é o inverso teórico de uma exigência técnica: fazer funcionar numa prática de tipo científica os procedimentos de uma confissão que, ao mesmo tempo, deveria ser total, meticulosa e constante. Os perigos ilimitados que o sexo traz consigo justificam o caráter exaustivo da inquisição a que é submetido. 3. Através de um princípio de latência intrínseca à sexualidade: se é preciso arrancar a verdade do sexo por meio da técnica da confissão, não é, simplesmente, porque ela seja difícil de dizer, ou porque esteja submetida às interdições da decência. O funcionamento do sexo é obscuro; porque escapar faz parte de sua natureza e sua energia, assim como seus mecanismos esquivam; porque seu poder causal é, em parte, clandestino.
O
século XIX desloca a confissão ao integrá-la a um projeto de discurso
científico; ela não tende mais a tratar somente daquilo que o sujeito gostaria
de esconder, porém, daquilo que se esconde ao próprio sujeito, e que só se pode
revelar progressivamente e através de uma confissão da qual participam o
interrogador e o interrogado, cada um por seu lado. O princípio de uma latência
essencial à sexualidade permite articular a coerção de uma confissão a uma
prática científica. É bem preciso arrancá-la, e à força, já que ela se esconde.
4. Através do método da interpretação: não é somente porque aquele que ouve tem
o poder de perdoar, de consolar e de dirigir que é necessário confessar. É que
o trabalho da verdade a ser produzida, caso se queira validá-lo cientificamente,
deve passar por essa relação. A verdade não está unicamente no sujeito, que a
revelaria pronta e acabada ao confessá-la. Ela se constitui em dupla tarefa:
presente, porém incompleta e cega em relação a si própria, naquela que fala, só
podendo completar-se naquele que a recolhe. A este incumbe a tarefa de dizer a
verdade dessa obscura verdade: é preciso duplicar a revelação da confissão pela
decifração daquilo que ela diz. Aquele que escuta não será simplesmente o dono
do perdão, o juiz que condena ou isenta: será o dono da verdade. Sua função é
hermenêutica. Seu poder em relação à confissão não consiste somente em
exigi-la, antes dela ser feita, ou em decidir após ter sido proferida, porém em
constituir, através dela e de sua decifração, um discurso de verdade. O século
XIX tornou possível fazer funcionar os procedimentos de confissão na formação
regular de um discurso científico, fazendo dela não mais uma prova, mas um
sinal e, da sexualidade, algo a ser interpretado. 5. Através da medicalização dos
efeitos da confissão: a obtenção da confissão e seus efeitos são recodificados
na forma de operações terapêuticas.
O
que significa, inicialmente, que o domínio do sexo não será mais colocado,
exclusivamente, sob o registro da culpa e do pecado, do excesso ou da
transgressão e sim no regime que, aliás, nada mais é do que sua transposição do
normal e do patológico; define-se pela primeira vez, uma morbidez própria do
sexual; o sexo aparece como um campo de alta fragilidade patológica:
superfície de repercussão para outras doenças, mas também centro de uma
nosografia própria, a do instinto, das tendências, das imagens, do prazer e da
conduta. O que quer dizer, também, que a confissão ganhará sentido e se tornará
necessária entre as intervenções médicas: exigida pelo médico, indispensável ao
diagnóstico e eficaz, por si mesma na cura. A verdade cura quando dita a tempo,
quando dita a quem é devido e por quem é, ao mesmo tempo, seu detentor e
responsável. Enfim, consideremos os
grandes marcos históricos: em ruptura com as tradições da ars erotica,
nossa sociedade constituiu uma scientia sexualis. Mais precisamente
atribuiu-se a tarefa de produzir discursos verdadeiros sobre o sexo, e isto
tentando ajustar, não se dificuldade, o antigo procedimento da confissão às
regras do discurso científico. A scientia sexualis, desenvolvida a
partir do século XIX, paradoxalmente, guarda como núcleo o singular rito da
confissão obrigatória e exaustiva, que constituiu, no Ocidente cristão, a
primeira técnica para produzir a verdade do sexo. Desde o século XVI este rito fora
desvinculado do sacramento da penitência e, por intermédio da condução das
almas e da direção espiritual – ars artium – emigrou para a pedagogia,
para as relações entre adultos e crianças, para as relações familiares, a medicina
e a psiquiatria. Nas relações de poder, a sexualidade não é o elemento mais rígido, mas um dos dotados da maior instrumentalidade: utilizável no maior número de manobras, e podendo servir de apoio, de articulação às mais variadas estratégias.
Em todo caso, há quase cento e cinquenta anos, um complexo dispositivo foi instaurado para produzir discursos verdadeiros sobre o sexo: um dispositivo que abarca amplamente a história, pois vincula a velha injunção da confissão aos métodos da escuta clínica. E, através desse dispositivo, pode aparecer algo como a “sexualidade” enquanto verdade do sexo e de seus prazeres. A “sexualidade” é o correlato dessa prática discursiva desenvolvida lentamente, que é a scientia sexualis. As características fundamentais dessa sexualidade não traduzem uma representação mais ou menos confundida pela ideologia, ou um desconhecimento induzido pelas interdições; correspondem às exigências funcionais do discurso que deve produzir sua verdade. No ponto de interseção entre uma técnica de confissão e uma discursividade científica, lá onde foi preciso encontrar entre elas alguns grandes mecanismos de ajustamento (técnica de escuta, postulado de causalidade, princípio de latência, regra da interpretação, imperativo de medicalização), a sexualidade foi definida como sendo, “por natureza”, um domínio penetrável por processos patológicos, solicitando, portanto, intervenções terapêuticas ou de normalização; um campo de significações a decifrar; um lugar de processos ocultos por mecanismos específicos; um foco de relações causais infinitas, uma palavra obscura que é preciso, em tempo, desencavar e escutar. A história da sexualidade – que funcionou no século XIX como domínio de verdade específica – deve ser feita do ponto de vista de uma história dos discursos. O filme My Name is Sara, também reconhecido como The Occupation, é um drama biográfico norte-americano de 2019, dirigido por Steven Oritt, estrelado por Zuzanna Surowy, Eryk Lubos e Michalina Olszańska.
É baseado na vida da sobrevivente do Holocausto, Sara Góralnik, a menina polonesa e judia que, aos 13 anos de idade, perde a família, vítima dos nazistas, e vai para a Ucrânia com a identidade de outra pessoa. Lá, ela é acolhida por fazendeiros, mas descobre segredos sombrios de seus novos amigos. Os partisans judeus participaram do movimento de resistência judaica contra a Alemanha nazista e seus colaboradores durante a devastadora 2ª guerra mundial (1939-1945). Eles lutaram militarmente constituindo-se com a formação de grupos nas florestas. Partisan é um membro de uma tropa irregular formada para se opor à ocupação e ao controle estrangeiro de uma determinada região. Os partisans operavam atrás das linhas de frente inimigas. Tinham por objetivo atrapalhar a comunicação política, roubar cargas e executar tarefas de sabotagem durante a guerra imperialista. O termo é reconhecido durante a guerra global para se referir a determinados movimentos de resistência à dominação alemã, principalmente no Leste Europeu. Na Iugoslávia, o movimento partisan, liderado pelo guerrilheiro comunista Josip Broz Tito (1892-1980), foi responsável por quase toda a resistência contra o Eixo e ainda teve de lutar contra os croatas fascistas da Ustaše, aliados dos nazistas. Tito tornar-se-ia o presidente do país unificado. Ele nasceu com filiação de pai croata e mãe eslovena na aldeia de Kumrovec, historicamente no âmbito da formação da Áustria-Hungria, atualmente Croácia.
Aldeia de Kumrovec pertence ao condado de Zagorje-Krapina. Ele está localizado
no Noroeste da Croácia, na fronteira com a Eslovénia. A aldeia tem menos de 300
habitantes, enquanto o município de Kumrovec tem cerca de 1500. Esta aldeia
está escondida no verde das colinas croatas de Zagorje, perto do rio Sutla. A
apenas uma hora de carro de Zagreb fica Kumrovec, que podemos chamar de museu
rural. Sendo o berço do lendário Josip Broz Tito, e escondendo vistas
interessantes como um monumento ao hino nacional croata, não admira que
Kumrovec seja famosa entre turistas locais e internacionais. Kumrovec possui
uma riqueza de coleções e exposições históricas. A aldeia étnica Staro Selo
parece exatamente como a era que representa - o final do século XIX e o início
do século XX. O museu “ao ar livre” apresenta-lhe a vida e os costumes
tradicionais do povo de Zagorje. O Memorial de Jasenovać, atualmente dirigido
por Slavko Goldstein, possui uma lista de 59 188 nomes de vítimas desse local;
essa lista foi compilada por assessores do governo comunista iugoslavo. Como
esse processo foi algo impreciso, estima-se que a lista mencione entre 60 e 75%
do total de vítimas, elevando o número de mortos nesse complexo à faixa entre
oitenta e cem mil. O antigo administrador do Memorial, Simo Brdar, é um diretor,
historiador e poeta de Kozarska Dubica e sua esposa Karina, famosa professora e
atriz lituana, organizaram programas que afirmam a cultura
lituana, russa e sérvia no Ginásio Aleksandar Pushkin, em Kaunas, quando estimou em torno de 365 mil mortos em Jasenovac.
As análises dos estatísticos Vladimir Žerjavić e Bogoljub Kočović são similares às do memorial. Em toda a Iugoslávia, o número estimado de mortes de sérvios chega a 487 mil, de acordo com Kočović, e 530 mil segundo Žerjavić, de um total de 1 014 000 ou 1 027 000 mortos, respectivamente. Žerjavić declarou que 197 mil civis sérvios foram assassinados no NDH, sigla em croata para o Estado Independente da Croácia, sendo 78 mil como prisioneiros em Jasenovac, bem como 125 mil combatentes dessa etnia. No entanto, esses dados foram acusados como sendo artificialmente inflados devido ao crescimento do nacionalismo sérvio. Žerjavić e Kočović estimaram a taxa de crescimento populacional dos sérvios na Bósnia, dentro do Estado Independente da Croácia, como 1,1%, a mesma taxa média de crescimento da Iugoslávia como um todo. Na verdade, a taxa de crescimento era de 2,4% entre 1921 e 1931, passando para 3,5% entre 1949 e 1953; acredita-se que eles tenham subestimado a taxa de crescimento populacional sérvia para diminuir a contagem de mortos dessa etnia. O Museu do Holocausto de Belgrado compilou uma lista de mais de 77 mil nomes de vítimas de Jasenovac. O museu era dirigido por Milan Bulajić – que apoiava uma estimativa de setecentas mil vítimas ao todo. Atualmente, o museu defende que o número de mortos está na casa dos oitenta mil. Os primeiros campos de concentração Ustaše foram formados em 1941 e dissolvidos em outubro de 1942. O complexo de Jasenovac foi construído entre agosto de 1941 e fevereiro de 1942. Os campos de concentração anteriores, Krapje e Bročica, foram fechados em novembro de 1941. Outros três campos (Ciglana, ou Jasenovac III), Kozara (Jasenovac IV) e Stara Gradiška (Jasenovac V) funcionaram até o final da ocupação, em 1944. O número de prisioneiros segundo estimativas varia de oitenta a 100 mil, trezentos a 350 mil até 700 mil em contextos de interação social e política e de reestruturação de tempo-espaço.
A palavra estatística deriva do Neolatim Statisticum Collegium: Conselho de Estado, do Italiano “statista” compreendido na literatura como “estadista” ou “político”. O alemão Statistik, introduzido por Gottfried Achenwall em 1749, designava “a análise de dados sobre o Estado”, significando a “ciência do Estado” então chamada “Aritmética Política” (“political arithmetic”). Gottfried Achenwall (1719-1772), historiador e jurista alemão, é considerado um intelectual que mais significativamente contribuiu para o desenvolvimento da Statistik - uma ciência que guarda muito poucas relações com a atual estatística, pois concernia à descrição abrangente das características sócio-político-econômicas dos diferentes Estados. Achenwall estudou nas universidades de Jena, Halle e Leipzig, sendo nomeado em 1748, docente junto à Universidade de Göttingen. Por mérito em 1761, obteria nesta mesma universidade o cargo de professor de Direito Natural e Política. A sua obra mais relevante sobre a relação entre estatística e Estado é o “Abriß der neuen Staatswissenschaft der vornehmen Europäischen Reiche und Republiken” (1749), título que seria alterado posteriormente para “Staatsverfassung der Europäischen Reiche im Grundrisse”.
Na
pesquisa a palavra adquiriu o significado usual de coleta e classificação de
dados em geral através de Sir John Sinclair (1754-1835). O propósito original da
“statistik” que era fornecer os dados a serem usados pelo governo e
organizações sociais se restringe na modernidade à coleta de dados sobre
Estados nacionais e regiões, em grande parte através de órgãos estatísticos
nacionais e internacionais, em particular, os censos demográficos obtidos de instituições privadas
que fornecem dados regulares sobre as populações, Adolphe Quételet (1796-1874), em suas
obras: “Recherches sur la population, les naissances, les décès, les prisons,
les` dépôts de mendicité, etc., dans le royaume des Pays-Bas` (1827), “Sur
l`homme et le developpement de ses facultés, essai d`une physique sociale”
(1835), “Sur la statistique morale et les principes qui doivent en former la
base” (1848), “Anthropométrie, ou Mesure des différentes facultés de l`homme”
(1870) contribuíram notadamente para os estudos criminológicos. Os jornais
contemporâneos coletam dados de ocorrências desse tipo de crime desde que a
contagem estatística começou a ser disponibilizada na forma de “Crimes
Violentos Letais Intencionais” (CVLIs).
O
pensamento queteletiano está fundado na ideia de que a ciência moderna é a via
mais elevada para o acesso ao conhecimento das leis divinas que regem o mundo
tanto natural como social, bem como o único conhecimento que possibilita a
intervenção do ser humano no mundo, o que torna a ciência um conhecimento
necessário para o governo dos homens. Em seu primeiro livro, publicado em 1835,
considerou o homem enquanto parte de uma espécie e, assim, formulou o conceito
de homem médio: “a medida de todos os homens”. Para tanto, considerou não
apenas a média aritmética de medida e peso dos homens, mas, principalmente,
suas dispersões e concluiu que a “curva normal” poderia ser acomodada às médias
aritméticas. Assim, desenvolveu o conceito da estatística, analisando
pormenorizadamente a teoria da probabilidade, abordando o problema da carência
de organização na coleta de dados que pudessem satisfatoriamente demonstrar as
características sociais de um povo ou uma nação. Em 1846, propôs a organização
de censos. Exemplificou seu estudo estatístico do chamado “homem médio” com a
criminalidade social, que apresentaria resultados habituais em relação a
diferentes países e classes sociais, estudo esse que seria a “Pesquisa sobre a Propensão de Cometer Crimes em Diferentes Idades”.
A palavra ustaše é plural de ustaša, e descreve uma pessoa que participa de um ustanak, levante, em croata. Os ustaše tinham como objetivo estabelecer uma Croácia pura do ponto de vista racista – assim sendo, pessoas de origem sérvia e bósnia eram seu principal alvo. Sobre essa forma de genocídio, os ministros Mile Budak, Mirko Puk e Milovan Žanić declararam, em maio de 1941, que as três principais metas Ustaše eram: converter um terço dos sérvios ao catolicismo; exterminar um terço dos sérvios residentes na Croácia; expulsar/deportar o terço restante. Uma contradição da ideologia nazifascista seguida pelos Ustaše era o fato etno-histórico de que os croatas são de etnia eslava e, portanto, considerados racialmente inferiores aos olhos dos mentores nazistas. Assim, os ideólogos Ustaše elaboraram uma teoria sobre a suposta origem “gótica” dos croatas, visando melhorar seu status aos olhos dos alemães. Para os ustaše, os bósnios eram considerados croatas islâmicos. Estes não eram formalmente perseguidos pelos ustaše; inclusive, alguns alistaram-se em divisões das Waffen-SS nazistas, como a divisão Handschar, comandada por Amin al-Husayni, e a Kama, chefiada por Edmund Glaise von Horstenau, então adido militar do Terceiro Reich na Croácia e pelo coronel Viktor Pavicic. Os princípios básicos do movimento ustaše foram enunciados por Ante Pavelić (1889-1959) em seu manifesto Princípios do Movimento Ustaše, em 1929.
O maior e mais famoso deles foi o de Jasenovać, comandado por Dinko Sakić que fugirá para a Argentina ao final da guerra, sendo descoberto e levado a julgamento em solo croata em 1998, condenado a vinte anos de prisão. Não se sabe ao certo o número exato das vítimas dos ustaše, e as estimativas existentes confirmam que dezenas ou até mesmo centenas de milhares de inocentes foram mortos com a disseminação desses campos de concentração, ou mesmo fora deles. Mas o número de judeus mortos é bastante confiável: 32 mil pereceram em território croata durante a 2ª guerra mundial. Mais de 40 mil ciganos iugoslavos também vieram a ser assassinados; com relação ao número de sérvios vitimados pelos Ustaše, as estimativas estão aproximadas entre 172 mil a 197 mil. As atrocidades cometidas pelos ustaše eram tão grotescas que horrorizaram até mesmo os nazistas, que tiveram que intervir para frear o terrorismo ustaše. Livros didáticos de História editados durante o regime comunista na Iugoslávia afirmam que o número de vítimas dos ustaše chega a 700 mil pessoas somente em Jasenovać. Este número foi citado com base em um cálculo de perdas demográficas de população, a diferença entre a população atual e a de formação do período bélico pré-guerra, somando-se aí um eventual crescimento populacional impedido pelo conflito.
Era Poglavnik, o equivalente de Führer ou Duce em servo-croata. Após a invasão pela Alemanha nazista em 6 de abril de 1941, a Jugoslávia foi desmembrada e Ante Pavelić tornou-se o líder do Estado Independente da Croácia. Pavelić tratou então de dar forma ao plano Ustaše para a “purificação” do seu novo país, segundo a célebre fórmula do deputado Mile Budak: “matar um terço, exilar um terço e converter o outro terço” da população sérvia ao Catolicismo. Campos de concentração tais como o de Jasenovac foram estabelecidos e a Legião Negra Ustaše varria as vilas da Sérvia a “pente fino”, prendendo os judeus e ciganos que encontravam. Ante Pavelić logo estabeleceu uma “nova ordem”, baseado no culto da nação, do Estado e sua figura. Pavelić promoveu o culto da personalidade, aparecendo como o “reviver da Croácia” e dando a impressão político-ideológica de que “a Independência era unicamente devido a seu trabalho duro e sacrifício”. Estabeleceu um novo juramento de fidelidade ao novo estado, obrigatório para todos os funcionários do país, Pavelić incluído como representante da soberania nacional. A ditadura perseguiu caracteristicamente judeus, sérvios, ciganos, homossexuais e da oposição croata especialmente comunistas. Clara Stauffer não aparece como uma mentira. Com dinheiro, com energia, com contatos, com ideologia, com duplicidades como espanhola e alemã, nazista e falangista, esportista de competição e propagandista da opressão da Seção Feminina - braço do partido fascista Falange Espanhola -, generosa com os seus e implacável com o restante da humanidade, “ela comandou de seu apartamento madrilenho uma rede clandestina que ajudou 800 criminosos de guerra a burlar a Justiça internacional a partir de 1945” (cf. Constela, 2017).
O fervor por justiça, que foi diminuindo à medida que esquentava a chamada Guerra Fria (1947-1991) e “esfriava” a 2ª guerra mundial (1939-1945), chegou a “salpicar” a própria Clara, também reconhecida como Clarita. Ela foi a única mulher que figurou na lista de 104 pessoas que o Conselho de Controle Aliado pediu em 1947 ao ministro espanhol dos Assuntos Exteriores, Alberto Martín-Artajo (1905-1979), que fossem entregues para julgamento. Nem Clara, filha do diretor da cervejaria Mahou e íntima amiga e correligionária da dirigente falangista Pilar Primo de Rivera, ou outra da lista foram entregues pelo regime de Franco, que protegeu alguns dos mais seletos membros da indústria de extermínio do Terceiro Reich, do croata Ante Pavelic ao belga Léon Degrelle. Depois de passar leis antissemitas, abriu campos de concentração e extermínio como o campo de concentração de Jasenovac, onde foram mortas cerca de 60 mil pessoas. Ao fim da guerra, com a derrota das forças fascistas, Pavelić fugiu para a Áustria e depois para a Itália, chegou a Roma em 1946, disfarçado de monge e usando passaporte espanhol. Durante esse ano e no próximo, ele residiu no Pontificio Collegio Croato Di San Girolamo a Roma. Chegou à Espanha, sob a ditadura de Franco e que abrigou exilados fascistas e nazistas de países. Morreu em hospital alemão em Madri, em 28 de dezembro de 1959, e foi enterrado nesta cidade, no Cemitério de San Isidro.
Os ustaše tentaram exterminar sérvios, judeus, ciganos ou quaisquer outros que a eles se opusessem ou não professassem a fé católica, incluindo-se aí alguns comunistas croatas. Aliando-se às tropas nazistas, em 1941, os ustaše criaram campos de concentração para isolar com base numa política de terror as suas vítimas. O maior e mais famoso deles foi o de Jasenovać, comandado por Dinko Sakić que fugirá para a Argentina ao final da guerra, sendo descoberto e levado a julgamento em solo croata em 1998, condenado a vinte anos de prisão. Não se sabe ao certo o número exato das vítimas dos ustaše, e as estimativas existentes confirmam que dezenas ou até mesmo centenas de milhares de inocentes foram mortos com a disseminação desses campos de concentração, ou mesmo fora deles. Mas o número de judeus mortos é bastante confiável: 32 mil pereceram em território croata durante a 2ª guerra mundial. Mais de 40 mil ciganos iugoslavos também vieram a ser assassinados; com relação ao número de sérvios vitimados pelos Ustaše, as estimativas estão aproximadas entre 172 mil a 197 mil. As atrocidades cometidas pelos ustaše eram tão grotescas que horrorizaram até mesmo os nazistas, que tiveram que intervir para frear o terrorismo ustaše. Livros didáticos de História editados durante o regime comunista na Iugoslávia afirmam que o número de vítimas dos ustaše chega a 700 mil pessoas em Jasenovać. Este número foi citado com base em um cálculo de perdas demográficas, i. e., a diferença respectiva entre a população atual e a de formação do período bélico pré-guerra, somando-se aí um eventual crescimento populacional impedido pelo conflito geracional da guerra.
Convocado, destacou-se tornando-se sargento-mor mais jovem do
Exército Austro-Húngaro. Depois de ser gravemente ferido e capturado pelos
russos da 1ª grande guerra (1914-1918), foi enviado para um campo de
trabalho nos Montes Urais. Ele participou de alguns eventos da Revolução Russa
em 1917 e da subsequente Guerra Civil. Após seu retorno aos Bálcãs em 1918,
ingressou no recém-criado Reino da Iugoslávia, onde filiou-se ao Partido
Comunista da Iugoslávia (KPJ). Tendo assumido o controle de fato do partido em
1937, foi formalmente eleito secretário-geral em 1939, e posteriormente
presidente, cargo que ocupou até sua morte. Durante a 2ª guerra mundial, após a
invasão nazista na região beligerante, liderou o movimento guerrilheiro
iugoslavo, os Partisans (1941–1945). Movimento de resistência representa
o conjunto de iniciativas levado a cabo por um grupo de pessoas que defendem
uma causa normalmente política, na luta contra um invasor num país ocupado. O
termo pode também se referir a qualquer esforço organizado por defensores de um
ideal comum contra uma autoridade constituída. Assim, movimentos sociais de
resistência podem incluir qualquer milícia, ou guerrilha de guerrilha armada
que luta contra uma autoridade, governo ou administração imposta e
estabelecida. No final da guerra, os guerrilheiros com o apoio dos Aliados,
desde meados de 1943, assumiram o poder sobre a Iugoslávia.
A reorganização política da Alemanha após a 1ª grande guerra (1914-18) ficou reconhecida como a República de Weimar, cidade onde foi elaborada a Constituição que deu as novas diretrizes políticas e administrativas ao país. O nazismo articulou-se dentro da República de Weimar com vários partidos políticos e facções paramilitares que fizeram pressão contra o novo poder instituído. Entre essas outras facções, havia o movimento Espartaquista comunista influenciada pela Revolução Russa, de 1917 e liderada por Rosa Luxemburgo. Em 1923, os nazistas articularam um golpe no Estado da Baviera e acabaram sendo presos e condenados. Em 1933, após o parlamento alemão ter sido incendiado e o crime ter sido reportado aos militantes comunistas, os nazistas passaram a pressionar o presidente Paul von Hindenburg (1847-1934) a lhe dar maiores poderes. foi um militar alemão que comandou o Exército Imperial Alemão durante a 1ª grande guerra e posteriormente serviu como Presidente da República de Weimar de 1925 até sua morte. Hindenburg é geralmente lembrado como o homem que, como Presidente alemão, nomeou o líder nazista Adolf Hitler como Chanceler da Alemanha. Ele e Hindenburg se detestavam, mas ele se referia a Hitler como um “cabo boêmio”.
O
filme Meu Nome é Sara (2019), realizado pelo cineasta norte-americano
Steven Oritt apresenta a dramatização de um relato etnográfico, protagonizado
pela personagem judia Sara Guralnick (Zuzanna Surowy). Após se separar do irmão
em uma fuga pelas florestas da Ucrânia, em 1942, Sara assumindo a identidade de
uma amiga, Mania Romanchuck, é acolhida pelo casal Nadya (Michalina Olszanska)
e Pavlo (Eryk Lubos), que lhe oferece comida e abrigo em troca de trabalho duro
nas atividades agrícolas de sua fazenda e nos cuidados com seus dois filhos
pequenos. A partir daí inicia-se a dupla ornada, marcada por inúmeras
adversidades, pela manutenção de seu segredo, e por consequência de sua própria
vida, ao mesmo tempo em que adentra a intimidade de seus “empregadores”, que
também escondem seus próprios segredos. A jornada de Sara é resumida a um
acúmulo de provações embebidas no processo inevitável de rotinização política,
per se baseado na história religiosa, com direito a interpretação de imagens da
verdadeira Sara e formas de encerramento sobre os anos seguintes de sua vida.
Não que sua história social e política não deva ser respeitada, ignorada, ou ainda que não mereça um retrato à própria altura. Contudo, este oferecido por Oritt raramente consegue romper a
particularidade de sua interpretação.
Embora com 84 anos e a saúde precária, Hindenburg foi convencido a candidatar-se a Presidente para as eleições de 1932, pois era considerado o único candidato que podia derrotar o nazista Adolf Hitler. Hindenburg foi reeleito na segunda volta. Embora se opusesse a Hitler, a deterioração da estabilidade política da República de Weimar permitiu-lhe ter um papel importante na ascensão ao poder do Partido Nazi. Hindenburg dissolveu o parlamento, por duas vezes, em 1932, e acabou por nomear Hitler como Chanceler da Alemanha em janeiro de 1933. Em fevereiro, emitiu o chamado Decreto de Fogo do Reichstag que suspendia várias liberdades civis e, em março, assinou a Lei de Concessão de Plenos Poderes de 1933 na qual o parlamento dava à administração de Hitler poderes legislativos. Hindenburg morreu no ano seguinte, após o qual Hitler declarou que o lugar de Presidente ficava vazio e, como “Führer und Reichskanzler”, ele próprio era o Chefe de Estado. Com a morte de Hindenburg, em 1934, o líder nazista agregou à sua tirania pessoal os títulos de chanceler, presidente e Führer dos alemães.
O
regime adota um caráter político absolutamente totalitário. As características
principais do nazismo, enquanto ideologia instituída no poder, derivaram-se das
ideias neste período após o golpe de Estado. O controle da população por meio
da propaganda política era uma de suas principais motivações. O uso do rádio e
do cinema foi decisivo para que as ideias nazistas fossem propagadas. O
antissemitismo era uma dessas ideias fundamentais. O ódio aos judeus, a quem o
líder nazista atribuía a culpa por problemas que a Alemanha enfrentava,
sobretudo problemas de ordem econômica, intensificou-se no período de
propaganda nazista. Esse fato culminou no Holocausto com a morte de mais de 6
milhões em campos de concentração. Associado ao antissemitismo,
estava a noção racista e eugenistas da “superioridade do homem branco germânico”,
ou da “raça ariana”, e a construção de um “espaço vital” para que essa raça
construísse seu império mundial. Esse espaço vital compreendia vastas regiões
do continente europeu, que segundo os planos de mentores nazistas deveriam ser
invadidas e conquistadas pelos povos germânicos, já que a raça estava
incumbida, por sua pretensa “superioridade”, de se tornar “senhora”
sobre os outros povos.
Dos
9 milhões de judeus que residiam na Europa antes do Shoah, cerca de dois terços
foram mortos; estatisticamente mais de 1 milhão de crianças, 2 milhões de
mulheres e 3 milhões de homens judeus morreram durante este período. A força
policial foi reforçada através da incorporação de membros de organizações
paramilitares nazistas como policiais auxiliares. O genocídio nazista contra os
judeus representou parte de um conjunto mais amplo de atos de repressão e de
assassinatos em massa agregados, e também cometidos pelos nazistas contra
vários grupamentos étnicos e políticos entreguerras na Europa, e particularmente
alemã. Entre as principais vítimas não judias encontram-se, outrossim, grupos
estritos de ciganos, poloneses, comunistas, homossexuais, prisioneiros de
guerra soviéticos, Testemunhas de Jeová e portadores de deficiência física.
Segundo estimativas recentes, baseadas em números obtidos desde a queda da
União Soviética, ou União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS)
uma nação comunista entre 1922 e 1991, morreram em torno de 12 milhões de
civis. Eslavos e prisioneiros de guerra foram mortos quando, após
haverem silenciado-os, expandiram o terror a outros marginalizados.
Bibliografia
geral consultada.
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