“O homem não é nada mais do que aquilo que faz a si próprio”. Jean-Paul Sartre
Clinical é um suspense norte-americano de 2017, dirigido por Alistair Legrand e escrito por Luke Harvis, Alistair Legrand. A Dra. Jane Mathis representa uma psiquiatra especializada em “terapia de confronto”. A utilização de estratégias de confronto no aconselhamento individual, grupal e familiar no tratamento específico do abuso de substâncias surgiu através de uma confluência de fatores culturais na história dos Estados Unidos da América, originado do desenvolvimento técnico de métodos para avaliar com confiabilidade os efeitos no tratamento. Originalmente praticado dentro de comunidades terapêuticas, as referidas abordagens de confrontação se estenderam a relacionamentos individuais baseados em autoridade, onde o potencial de abuso e dano aumentava demasiadamente. Dois anos antes dos acontecimentos narrados ela teve uma paciente que sofria de grave transtorno pós-traumático, Nora Green, que, “um determinado dia, devido a uma forte crise, a atacou com um caco de vidro e logo em seguida tentou o suicídio, cortando sua garganta”. Devido a este evento letal, a terapeuta Jane Mathis desenvolveu um “transtorno de estresse pós-traumático” que a obrigou a parar de acompanhar pacientes problemáticos e a confiar nas sessões do Dr. Terry, seu estimado colega. Ela também começou a namorar Miles, um policial.
A terapia de ataque representou um dos vários métodos pseudo-terapêuticos descritos no livro Crazy Therapies (1996) da psicóloga Margaret Singer e da socióloga Janja Lalich. Envolve interação social conflituosa entre o paciente e um terapeuta, ou entre o paciente e outros pacientes durante a terapia de grupo, na qual “o paciente pode ser abusado verbalmente, denunciado ou humilhado pelo terapeuta ou outros membros do grupo”. O método tem sido usado por grupos como Synanon, que representa uma organização social fundada nos Estados Unidos da América criada em 1958 por Charles E. Chuck Dederich (1913-1977) em Santa Monica, Califórnia, Estados Unidos da América. Atualmente está ativo na Alemanha. Originalmente estabelecido como um programa de reabilitação de drogas, no início dos anos 1960, o Synanon tornou-se uma comunidade alternativa centrada em sessões de grupo para contar a verdade que ficaram conhecidas como o “Jogo Synanon”, uma forma de terapia de ataque. O grupo acabou se tornando um culto chamado Igreja de Synanon na década de 1970. Synanon se desfez em 1991, devido a membros serem condenados por atividades criminosas incluindo tentativa de homicídio e perda retroativa de seu status de isenção de impostos com o Internal Revenue Service devido a crimes financeiros, destruição de evidências e terrorismo. Foi chamado de um dos “cultos mais perigosos e violentos que a América já viu”.
Odyssey House Texas é uma das muitas
Comunidades Terapêuticas Odyssey House em todo o mundo. A primeira Odyssey
House, no East Harlem, foi fundada pela Dra. Judianne Densen-Gerber, uma
psiquiatra residente que trabalhava no Metropolitan Hospital na cidade de Nova
York que, insatisfeita com a prática de usar medicamentos substitutos de drogas,
como a metadona, como intervenção terapêutica primária, iniciou um programa “livre
de drogas” em 1966. A Comunidade começou graças à Spindletop Charities, Inc.
uma corporação sem fins lucrativos apoiada pela indústria de gás e petróleo com
a missão de ajudar jovens necessitados, que por acaso recebeu uma propriedade
de doação na década de 1980. Após pesquisas do presidente Orville Gaither (1927-2017)
e a esposa Margaret Gaither, as duas organizações sociais se uniram e, em 1988,
a propriedade foi transferida para a Odyssey House. As portas foram abertas aos
residentes em 1989. Spindletop continua a fazer contribuições para a Odyssey
House. Em julho de 2010, a Cenikor Foundation formou uma parceria estratégica
com a Odyssey House Texas. Sob o novo acordo comercial, cada organização
continuará a atender exclusivamente essas mesmas populações, enquanto a Cenikor
cuidará de todos os serviços administrativos e fornecerá suporte financeiro
para a Odyssey House. As comunidades terapêuticas da Odyssey House são
encontradas nos Estados Unidos, bem como na Austrália (NSW-1977, Victoria-1979)
e na Nova Zelândia (Auckland-1980, Christchurch-1985). Embora tenham o nome de Odyssey House, os
centros de tratamento operam como entidades independentes desde a
década de 1980.
Em 1976, Mel Sembler, Betty Sembler e Joseph Zappala estabeleceram a fundação como Straight, Inc. em St. Petersburg, Flórida, com James E. Hartz, um psicólogo clínico, como seu primeiro diretor. Os organizadores esperavam substituir o The Seed, um grupo formado por professores e alunos do Departamento de Medicina de Reabilitação da Universidade de Washington (EUA), um controverso programa de reabilitação de drogas para adolescentes na Flórida, que havia fechado no ano anterior, mas disseram que as duas organizações não eram afiliadas. O programa de Straight mantinha seus clientes adolescentes, de 13 a 20 anos, incomunicáveis em armazéns. O programa funcionou em 43 centros nos Estados Unidos, com locais na Califórnia, Connecticut, Delaware, Flórida, Geórgia, Kentucky, Massachusetts, Maryland, Michigan, New Hampshire, Nova York, Ohio, Pensilvânia, Rhode Island, Carolina do Sul, Texas, Virgínia e Washington. Aproximadamente 10.000 crianças “se formaram na organização” em 1989, e mais de 50.000 o fizeram em 1992. Ao anunciar sua criação, os organizadores disseram que inscreveriam jovens de 10 a 18 anos com histórico de abuso ou delitos de drogas, desde jovens cujos pais haviam notado “pequenos problemas com drogas” até aqueles encaminhados pelos tribunais, mas não tratariam “viciados ou pessoas com dependência física de narcóticos”. No entanto, a prática de Straight era matricular crianças habitualmente sem histórico de uso de drogas ou álcool, além de criminosos condenados, usuários de drogas e viciados que precisavam de intervenção médica. O programa de reabilitação de Straight funcionou até 1993.
Em todos os estados em que Straight tinha uma instalação, os investigadores estaduais documentaram o abuso ou os pacientes alegaram abuso em processos civis. Os ex-clientes ganharam vários processos e fizeram mais acordos fora do tribunal por práticas abusivas, isolamento, fome, imposição intencional de sofrimento emocional, cárcere privado e outras privações e métodos torturantes. Em 1981, Virgil Miller Newton, pai de um ex-paciente do Straight, tornou-se o diretor das instalações do Straight em St. Petersberg. Os clientes o conheciam como Dr. Newton, pois acabara de se doutorar em Administração Pública e Antropologia Urbana. Naquele ano, Robert DuPont, o diretor fundador do National Institute on Drug Abusevisitou Straight para encorajar a organização a se expandir criando novas instalações em todo o país e treinando crianças “conselheiros de pares” na metodologia de Straight. No entanto, nenhum dos filhos teve formação profissional e poucos tiveram muito mais do que o ensino fundamental ou médio. Em 1982, Mel Sembler nomeou Newton como diretor clínico nacional de Straight. A primeira-dama Nancy Reagan visitou uma instalação do Straight na Flórida em 1982. Antes da visita, ela disse que não endossava especificamente o programa, mas um assessor disse à mídia que Reagan ficou impressionado com o Straight porque era um dos poucos programas de drogas que matriculavam adolescentes, não recebia financiamento do governo, apesar de evidências posteriores de fraude de seguros e subsídios do governo, e era “livre de drogas”. Em 1985, Reagan e a princesa Diana visitaram as instalações de Straight em Springfield, Virgínia. As duas mulheres participaram de uma “sessão de rap” em grupo, onde clientes heterossexuais descreviam a utilidade de uso de drogas e suas consequências às vezes violentas. George Herbert Walker Bush (1924-2018), um político, diplomata e empresário norte-americano que serviu como presidente dos Estados Unidos de 1989 a 1993, também elogiou o programa.
A
John Dewey Academy é um internato terapêutico preparatório para a faculdade
privada e misto em Great Barrington, Massachusetts, anteriormente instalado em
Searles Castle. Foi fundada em 1985 pelo Dr. Thomas E. Bratter, falecido em
2012. Em maio de 2020, a escola foi comprada por seu atual diretor, David Baum.
Em julho de 2022, a escola estava em um hiato para uma “reinicialização
completa” em um novo local. É misto e matricula cerca de 25 alunos do ensino
médio, com idades entre 15 e 21 anos, geralmente da 10ª série à pós-graduação.
A proporção aluno-professor é de 3:1 e as turmas normalmente têm em média seis
alunos. Em seu site, a academia afirma que todos os graduados frequentam a
faculdade. A John Dewey foi citada a utilisar a Caring Confrontation
Psychotherapy (CCP) como sua principal forma de tratamento, uma forma de
terapia criada por Tom Bratter. Os críticos do PCC referem-se a ele como “terapia
de ataque” e apontam para seu uso consistente em instituições que foram
fechadas por abuso, como Synanon, CEDU e Elan School. Uma postagem de blog
de 2011 da John Dewey Academy abordou e criticou o fechamento da Elan School,
atribuindo suas alegações e subsequente fechamento à “influência corrosiva do
boato, bem como equívocos sobre programas fomentados por fofocas e informações
falsas” antes de promover o a própria academia como uma opção para quem buscava
frequentar uma escola como a Elan.
Não
está claro se a John Dewey Academy segue esse padrão abusivo, pois não houve
estudos formais da John Dewey Academy além daqueles feitos por seu fundador,
Tom Bratter. Esses estudos consistem principalmente em Bratter fornecendo
evidências predominantemente anedóticas dos sucessos da academia e afirmando
que “os resultados do tratamento da John Dewey Academy são os melhores de
qualquer programa residencial que forneça terapia intensiva e educação para
adolescentes alienados que requerem colocação residencial”. A escola foi
listada no estudo Spotlight do Boston Globe sobre abuso em escolas
particulares, que identificou especificamente processos contra o fundador
Thomas Bratter e a professora Gwendolyn Hampton. Em março de 2021, o Berkshire
Eagle divulgou uma denúncia sobre o abuso na John Dewey Academy intitulada: “Ex-alunos
da escola preparatória de Great Barrington a descrevem como ´câmara de tortura`”.
Em resposta, a escola fechou em 2022, com david Baum afirmando “reiniciar,
revisar, redefinir a equipe - tudo está na mesa”.
A Élan School representou um programa de modificação de comportamento residencial privado, misto e abusivo e um internato terapêutico na Polônia, Androscoggin County, Maine. Foi um membro pleno da Associação Nacional de Escolas e Programas Terapêuticos (NATSAP), juntamente com a “indústria adolescente problemática”. A instalação foi fechada em 1º de abril de 2011, devido a relatos de abuso, muitos de ex-alunos, desde sua inauguração em 1970. Élan estava localizado em um campus de 33 acres (13 ha) que anteriormente era um pavilhão de caça. Havia também outros campi, como o da 424 Maplecrest Road em Parsonsfield, Maine, que antes era um hotel e hospital antes de ser comprado por Élan em 1975. Este campus era conhecido por ter alguns dos piores abusos em a história da escola, e foi dito ter sido colocado fora de uso em algum momento na década de 1980. A escola ganhou notoriedade durante a década de 1990 e início dos anos 2000, quando ex-colegas de classe de Michael Skakel, que frequentou Élan na década de 1970, testemunharam contra ele em seu julgamento por um assassinato cerca de dois anos antes de ele se matricular na Élan. A escola também foi objeto de persistentes alegações de abuso em seu programa de modificação comportamental, mas métodos similares têm sido empregados no Treinamento de Conscientização de Grandes Grupos. Um Relatório de 1990 do Instituto de Medicina sobre métodos para tratar problemas relacionados ao álcool sugeria que a autoimagem dos indivíduos deveria ser avaliada antes de serem encaminhados para a terapia de ataque; havia evidências de que pessoas com uma autoimagem positiva podem lucrar com a terapia, enquanto pessoas com uma autoimagem negativa não lucram, ou podem de fato ser prejudicadas.
Sociologicamente
todo estado forte da consciência é uma fonte de vida, é um fator essencial de
nossa vitalidade geral. Por conseguinte, tudo o que tende a enfraquece-lo nos
diminui e nos deprime; resulta daí, seguindo os passos de Émile Durkheim, uma
impressão de confusão e de mal-estar análoga a que sentimos quando uma função
importante é suspensa ou retardada. É inevitável, pois, que reajamos
energicamente contra a causa que nos ameaça com tal diminuição, que nos
esforcemos por afastá-la, a fim de mantermos a integridade de nossa
consciência. No primeiro plano das causas que produzem esse resultado, devemos
colocar a representação de um estado contrário. Uma representação não é, com
efeito, uma simples imagem da realidade, uma sombra inerte projetada em nós
pelas coisas, mas uma força que ergue a seu redor um turbilhão de fenômenos
orgânicos e psíquicos. Não somente a corrente nervosa que acompanha a ideação
se irradia nos centros corticais do ponto em que se originou e passa de um
plexo a outro, mas ressoa nos centros motores, onde determina movimentos, nos
centros sensoriais, onde desperta imagens, excita por vezes começos de ilusões
e pode afetar as funções vegetativas; esse ressoar é mais considerável quanto
mais intensa for a representação, quanto mais desenvolvido for esse elemento
emocional.
Pelo princípio, penetramos na vida. Por que um governo não é uma forma pura. É uma forma de existência concreta de uma sociedade de homens. Para que os homens submetidos a um tipo particular de governo lhe sejam justa e duravelmente submetidos, não basta a simples imposição de uma forma política, é preciso ainda uma disposição dos homens para essa forma específica. É preciso, diz Montesquieu, ter uma paixão específica. Por necessidade, cada forma de governo implica a sua paixão própria. A república quer a virtude, a monarquia, a honra, o despotismo, o temor. Se o princípio do governo é a sua mola, o que o leva a agir, significa que ele é, enquanto vida do governo, a sua condição de existência. A república não pode, perdoe-nos o leitor a expressão, andar só a virtude. Mas sem virtude a república cai, como a monarquia cai sem honra e o despotismo sem temor. A virtude do cidadão é a totalidade de sua vida submetida ao bem público: esta paixão, dominante no Estado, equivale, num homem, ao domínio das as suas paixões. Pelo princípio é a vida concreta, pública e privada que entra no governo. O princípio está no encontro da natureza do governo e a natureza da vida real dos homens.
O
princípio é o concreto abstrato que é a natureza. Só a unidade, a totalidade de
ambos é real. A totalidade, que era uma ideia, torna-se uma hipótese científica
destinada a analisar e a interpretar os fatos sociais. Torna-se a categoria
fundamental que permite pensar não a irrealidade de um Estado ideal, mas a
diversidade concreta possibilitada pela constituição pragmática da história
humana. A história deixa de ser espaço infinito onde são atiradas as inúmeras
obras da fantasia e acaso, de lugar praticado que faz esmorecer a vontade de
conhecimento. O tema filosófico do “cativeiro da razão”, expresso
através da alegoria da caverna é tão antigo quando a formação do pensamento. Ele surgiu quando os filósofos se deram conta das ilusões
provocadas pelas interferências constituída pelo afeto, e das ilusões
provocadas pelos sentidos, sempre falíveis, ou pela razão, sempre as sofísticas intencionais ou involuntárias.
O que é novo e pode ser datado do período moderno, é a tentativa de situar no
mundo social, mediado pelas relações entre pessoas, a fonte das ilusões da consciência. Essa
tentativa nasceu em circunstâncias paradoxais. Tema conspícuo em torno da falsa
consciência, de incapacidade “cognitiva condicionada”, é
constituído no século XIX, por um pensamento que o desloca (ilusão), no mesmo
instante em que o condensa (alusão).
É um objeto cuja inteligibilidade própria da ciência e da filosofia está alhures, lugar vazio cujo verdadeiro lugar “está em outro lugar”. A falsa consciência é o produto exclusivo das relações sociais. E qualquer tentativa de buscar nela própria as leis do seu funcionamento, abstraindo dessas relações, já é em si uma falsa consciência da filosofia de Hegel, que a define ainda-não-consciência do Espírito, dos jovens hegelianos que combatem no pensamento os grilhões imaginários, deixando intactos os grilhões reais. Fato da consciência, ela não pode ser tratada no plano da consciência: tendo em vista que é um objeto ausente, espaço em branco que só pode ser preenchido por algo que não está nele. O espaço pleno é o das estruturas sociais: espaço extraterritorial, externo à problemática da consciência, mas ao qual se atribui o privilégio de revelar a verdade do que está situado fora dos seus limites. Pode-se perguntar se uma estratégia de libertação que consiste em ignorar a existência do objeto a ser libertado é das mais lúcidas. Falsa consciência como epifenômeno da base material, falsa consciência como forma de percepção própria a cada suporte (Träger) do processo social global, falsa consciência como o produto de uma “pedagogia” exercida pelos efeitos dos Aparelhos de Estado – em todos os casos, a análise se concentra num “mais além da consciência”, a história, a economia, as relações de produção, a instância ideológica. Em todos os casos, o nível de investigação são fatores objetivos, palpavelmente, solo tranquilizador em que é fácil proteger-se das mistificações idealistas.
Nesse campo, tudo pode ser investigado, e tudo foi investigado – exceto a falsa consciência – a consciência em que se refratam esses fatores. Ela foi tabuizada, pela razão que leva o primitivo a traçar um “círculo no chão”, e a proibir-se de atravessa-lo, neste caso representa o medo animista dos demônios. Esse medo não era totalmente infundado. Era de fato importante precaver-se contra a tese de que “a consciência determina a existência”, defendendo a tese oposta de que a existência determina a consciência. Mas ao proclamar o primado da consciência, a ideologia produziu um efeito social inesperado, que foi a ocultação da problemática da consciência. Ocultação sui generis, cuja técnica é expor à luz do dia a realidade que se pretende dissimular, estimulando a questão tópica da “razão cativa” que irá exemplificar no conto de Allan Poe, The Purloined Letter (1884), o que a polícia parisiense procura em vão na casa do personagem influente: uma carta politicamente comprometedora, que teria sido roubada pelo próprio dono da residência. A polícia procura o documento roubado, e obviamente nada encontra. Em desespero de causa, o chefe de Polícia pede o auxílio de C. Auguste Dupin, precursor de todos os detetives da literatura policial, que encontra a carta. E explica ao chefe de polícia que ela não estava em nenhum esconderijo, mas à vista. E nisto consiste, justamente, a astúcia. A carta era totalmente visível, e seu ocultamento consistia em sua visibilidade.
Assim, a representação de um sentimento contrário ao nosso age em nós no mesmo sentido e das mesma maneira que o sentimento que ela substitui; é como se ele mesmo tivesse entrado em nossa consciência. Ela tem, de fato, as mesmas afinidades, embora menos vivas; ela tende a despertar as mesmas ideias, os mesmos movimentos, das mesmas emoções. Ela opõe, pois, uma resistência ao jogo de nosso sentimento pessoal e, por conseguinte, o debilita, atraindo numa mesma direção contrária toda uma parte de nossa energia. É como se uma força estranha se houvesse introduzido em nós, de modo a desconcertar o livre funcionamento de nossa vida psíquica. Eis porque uma convicção oposta à nossa não pode se manifestar em nossa presença sem nos perturbar: é que, ao mesmo tempo, ela penetra em nós e, encontrando-se em antagonismo com tudo o que em nós encontra, determina verdadeiras desordens. Sem dúvida, enquanto o conflito só se manifesta entre ideias abstratas, nada há de muito doloroso, pois nada há de mito profundo. A região dessas ideias é, ao mesmo tempo, a mais elevada e a mais superficial da consciência, e as mudanças que nela sobrevêm, não tendo repercussões extensas, afetam-nos apenas debilmente. No entanto, quando se tata de uma crença que nos é cara, não permitimos e não podemos permitir que seja impunemente ofendida.
Toda ofensa dirigida contra ela suscita uma reação emocional, mais ou menos violenta, que se volta contra o ofensor. Nós nos arrebatamos, nos indignamos contra ele, ficamos com raiva e os sentimentos assim provocados não podem deixar de ser traduzidos por atos; fugimos dele, mantemo-lo à distância, banimo-lo de nossa companhia etc. Sem dúvida, não pretendemos que toda nossa convicção forte seja necessariamente intolerante; a observação corrente basta para demonstrar o contrário. Mas isso porque as causas externas neutralizam, então, aquelas cujos efeitos acabamos de analisar. Por exemplo, pode haver entre os adversários uma simpatia geral que contenha seu antagonismo e o atenue. Mas é preciso que essa simpatia seja mais forte do que esse antagonismo, de outro modo não sobrevive a ele. Ou, então, as duas partes em presença renunciam à luta, quando fica claro que esta é incapaz de levar ao que quer que seja, e se contentam com manter suas respectivas situações, toleram-se mutuamente, não podendo autodestruir-se. A tolerância recíproca que por vezes encerra guerras religiosas costuma ser dessa natureza. Nesse casos, se o conflito dos sentimentos não engendra consequências naturais, não é porque não as contenha, é porque é impedido de produzi-las. Essas emoções violentas constituem uma convocação de forças suplementares que vêm restituir ao sentimento atacado a energia que a contradição lhe retira.
William Atherton Knight, nascido em 30 de julho de 1947 é um ator norte-americano, reconhecido por interpretar Richard Thornburg em Die Hard (1988) e sua sequência e Walter Peck em Ghostbusters (1984). Estudou atuação na Escola de Teatro da Carnegie Tech e se formou na Carnegie Mellon University em 1969. Os Estados Unidos possuem as melhores escolas de drama do mundo. Atherton teve sucesso nos palcos de Nova York imediatamente após se formar e trabalhou com os principais dramaturgos do país, incluindo David Rabe, John Guare e Arthur Miller, ganhando vários prêmios por seu trabalho da Broadway. Ele apareceu na comédia Ghostbusters (1984) como o oficioso condescendente da EPA, agente Walter Peck. K. Thor Jensen escreveu: “Atherton, que interpreta o covarde advogado da EPA Walter Peck, é o verdadeiro vilão do filme (sua libertação dos fantasmas da unidade de contenção aumentou o caos em Nova York), [ele] foi tão odiado que depois saiu o filme ele foi assediado na rua e desafiado para brigas em bares”. Suas aparições em 2007 incluíram o filme The Girl Next Door, uma adaptação do romance best-seller de Jack Ketchum de mesmo nome. Ele também reprisou seu papel como Walter Peck em Ghostbusters: The Video Game, lançado em 16 de junho de 2009. Atherton foi escolhido para a última temporada de Lost, composta por dezoito episódios, foi ao ar pela ABC nos Estados Unidos da América, e pela CTV no Canadá, em 2 de fevereiro de 2010, com término previsto no dia 23 de maio de 2010. Ele apareceu no musical Gigi para o Reprise Theatre em Los Angeles como “Honoré Lachailles” em 2011. Após seu trabalho no musical, ele assumiu um papel cômico em Billion Dollar Movie de Tim e Eric (2012), produzido por Will Ferrell`s Funny or Die, Gary Sanchez Productions e Abso Lutely Productions. No verão de 2014, Atherton foi escolhido como vice-rei Mercado na segunda temporada da série Defiance do Syfy. Atherton co-estrelou o thriller da Netflix de 2017, Clinical, e aparece em vários documentários sobre seus filmes mais icônicos.
Tendo como escopo de análise o suspense Clinical, histeria representa um tipo de neurose que se caracteriza predominantemente, pela transformação da ansiedade subjacente para um estado físico. A palavra vem do termo grego “hystéra”, que significa útero. A histeria, do francês hystérie e este, do grego ὑστέρα, útero, faz referência a uma hipotética condição neurótica e psicopatológica, predominante essencialmente nas mulheres. O termo per se tem origem no termo médico grego hysterikos, que se referia a uma suposta condição médica peculiar a mulheres, causada por perturbações no útero, hystera em grego. O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um movimento irregular de sangue do útero para o cérebro. Para especialistas é uma neurose complexa caracterizada pela instabilidade emocional. Os conflitos interiores manifestam-se em sintomas físicos, como por exemplo, paralisia, cegueira, surdez, comportamentos disfuncionais, desordens convulsivas “funcionais”, doenças psicossomáticas, melhor dizendo, transtornos de personalidade. Pessoas histéricas frequentemente perdem o autocontrole devido ao sintoma de “pânico extremo”. Foi intensamente estudada no final do século XIX, Jean-Martin Charcot (1825-1893) e Sigmund Freud (1856-1939) eminente neurologista que empregava a hipnose para estudar a histeria, demonstrou que ideias mórbidas podiam produzir manifestações físicas. Seu aluno, o psicólogo francês Pierre Janet (1859-1947), considerou como prioritárias, para o desencadeamento do quadro histérico, muito mais as causas psicológicas do que comparativamente as causas físicas. Freud em colaboração com Josef Breuer (1842-1925), começou a pesquisar os mecanismos psíquicos ocorridos em torno da histeria, e postulou em sua teoria, que essa neurose era causada por lembranças reprimidas, de grande intensidade emocional.
O
termo “hipnótico” aparece no Dicionário da Academia Francesa em 1814 e
os termos “hipnotismo”, “hipnose” etc., são propostos por Étienne Félix d`Henin
de Cuvillers com base no prefixo “hipn” desde 1820. O Dicionário Etimológico
de Palavras em Francês do Grego, por M. Morin; segunda edição de M. Guinon,
2 vol in-8 °, Paris, 1809, e o Dicionário Universal de Boiste, admitem as
expressões “hipnobata”, “hipnologia”, “hipnológico”, “hipnótico”. Mas
geralmente acredita-se que foi mais tarde, na década de 1840, que o médico
escocês James Braid fez a transição do magnetismo animal para a hipnose. Em
1841, Braid assiste a uma demonstração do magnetista público Charles Lafontaine
e em 1843 publica Neurhypnologie, Traite du Sleep Nervuse ou Hypnotisme.
As teorias de Braid retomam essencialmente a doutrina de “magnetizadores
imaginativos” franceses. Braid, porém, censura Bertrand por explicar os
fenômenos magnéticos por uma causa mental, os “poderes da imaginação”, ao passo
que os explica por uma causa fisiológica, “o cansaço dos centros nervosos
ligado à paralisia do aparelho ocular”. Sua contribuição consiste em propor um
novo método de fascinação baseado na concentração do olhar sobre um
objeto brilhante, um método que se supõe produzir efeitos mais constantes e
rápidos do que os antigos métodos de magnetizadores, e uma teoria baseada na
noção de mental, fadiga. Para ele, a hipnose representa um estado de
concentração mental durante o qual as faculdades da mente do paciente são tão
capturadas por uma única ideia que se tornam indiferentes a qualquer outra
consideração ou influência. Braid usa seu método em particular para obter
anestesia durante cirurgias. O éter não era usado em anestesiologia.
Descoberto em 1818 por Michael Faraday, o éter não foi usado até 1846, mas pelo
dentista William Morton (1819-1868), responsável pela primeira demonstração
pública com sucesso, de uma droga anestésica por inalação.
Historicamente Galeno é um precursor da prática da vivissecção e experimentação com animais. Andreas Vesalius por vezes referido na literatura portuguesa como André Vesálio (1514-1564), foi um médico belga, considerado o “pai da anatomia moderna”. Foi o autor da publicação De Humani Corporis Fabrica, um atlas de anatomia publicado em 1543. Muito pouco havia sido descoberto sobre anatomia e fisiologia desde a Antiguidade, cujas descobertas foram baseadas na dissecação de animais. A falta de aulas práticas de anatomia na Universidade de Paris acabou levando Vesalius, assim como Michelangelo, a frequentar cemitérios em busca de ossadas de criminosos executados e vítimas de praga. Casou-se em 1544 com Anne van Hamme e teve uma filha com o mesmo nome. Graduou-se doutor em Medicina pela Universidade de Pádua, e em 1538 publicou seu primeiro trabalho, as Tabulae Sex, um conjunto de seis desenhos de anatomia feitos por ele próprio. Em 1546 foi nomeado médico da corte do sacro imperador romano Carlos V e ficou a serviço do Império até a abdicação de Carlos em 1556, tendo passado depois disso a servir a Filipe II, rei da Espanha. Através de sua obra De Humani Corporis Fabrica Libri Septem, Vesalius conseguiu refutar diversas teorias abstratas sobre o corpo humano, anteriormente propostas por Galeno, o que foi de extrema importância para o avanço de estudos relacionados à anatomia, provando até mesmo o contrário acerca da crença comum de que “os homens possuíam uma costela a menos que as mulheres”.
Vesalius
produziu, em sua obra, ilustrações que retratavam o sistema muscular e as
respectivas atuações de cada musculo, possibilitando um maior entendimento
sobre a mecânica do corpo humano. Além disso, Vesalius ia em contraste com as
ideias de que o coração era o centro das emoções e da mente, sendo definidas
estas ao cérebro, isto pelo fato de os nervos serem originários ao mesmo, e não
ao coração. Suas descobertas não pararam por aí: como exemplo, afirmou que os
rins não filtravam a urina, e sim o sangue, sendo a urina as excretas retiradas
deste. Também é creditado como o responsável por fazer a primeira descrição do
conceito de ventilação mecânica, um feito de destaque no campo da Anestesia. –
“uma abertura deve ser tentada no corpo da traqueia, na qual um tubo de junco ou
caniço deve ser inserido; você então deve soprar nesse tubo, de modo que o
pulmão possa aumentar de novo e o coração se torne forte”. Fora de dúvida, o
trabalho científico ministrado por Vesalius se tornou, neste sentido
revolucionário, pois ia contra a tradição que remontava aos antigos,
contribuindo assim para o avanço da ciência, mesmo que talvez suas descobertas
não fossem totalmente aceitas, em um período de revelações, mudando
completamente a forma de se chegar ao conhecimento, que se ilustrava em fontes
antigas, baseando-se agora na experimentação e prática.
Vesalius
viria a morrer em 1564 em um naufrágio durante uma tempestade. O cenário da
Idade Média europeia caracterizava-se pela predominância de florestas, umas
poucas cidades e alguns domínios onde servos trabalhavam, monges rezavam,
cavaleiros lutavam e nobres governavam. Mundo de refúgio, a floresta possuía
seus atrativos. Para os camponeses e os pequenos trabalhadores, era uma fonte
de ganho. Lá iam pastar os rebanhos, lá se encontra a madeira, indispensável
numa economia por muito tempo pobre em pedra, ferro e carvão mineral. A
floresta estava repleta de ameaças, de perigos reais ou imaginários. Era o
horizonte inquietante do mundo medieval, cercando-o, isolando-o. Situava-se
entre senhorios, mas também entre países. De sua opacidade temível, surgiam os
lobos famintos, os malfeitores, os cavaleiros saqueadores. A Cristandade
pareceu querer ultrapassar suas fronteiras, substituir a ideia de missão pela
de Cruzada, abrir-se para o mundo. Entretanto, ela mantinha-se fechada, uma
sociedade que excluía o outro. Pertencer ao Cristianismo era o critério de
valor e comportamento no Ocidente. A guerra, considerada um mal aparentemente
entre cristãos, era vista como um dever contra não-cristãos. A usura, proibida
entre cristãos, era permitida aos infiéis, isto é, aos Judeus.
A
sintomatologia, que ao mesmo tempo tanto frustrou e estimulou os médicos do
século XIX, quanto representou o grande “continente” a ser revelado para Freud, que, a partir desse quadro
ainda misterioso, desenvolveu técnicas específicas para conduzir o tratamento
de suas pacientes: nascia a Psicanálise, como resposta a esse puzzle. Empiricamente
foi-se observando que a histeria não era um distúrbio que acometia
exclusivamente as mulheres, mas nelas predominava. Teorizou-se, então, outra
segmentação da estrutura neurótica: encontrava-se diante dos obsessivos
que, com sintomas diferentes, também apresentavam grande sofrimento psíquico.
Esta sintomatologia, embora predominantemente masculina, não pode ser tratada
como exclusiva dos homens. Nas palavras de Freud: - “O nome histeria tem origem
nos primórdios da medicina e resulta do preconceito, superado somente nos dias
atuais, que vincula as neuroses às doenças do aparelho sexual feminino”. As neuroses desempenharam um papel significativo na história da
civilização; surgiam sob a forma de epidemias, em consequência de contágio
psíquico, e estavam na origem do que era factual na história da possessão e da
feitiçaria, posteriormente estudado pela antropologia. Alguns documentos comprovam que sua sintomatologia não sofreu modificação.
Uma abordagem adequada e uma melhor compreensão da doença tiveram início apenas
com os trabalhos de Charcot e da École de la Salpêtrière (cf. Schmidt, 2017), também
chamada de École de Paris, que é, junto com a École de Nancy, uma das duas
grandes École que participaram da “idade de ouro” da hipnose na França de 1882
a 1892. A histeria tinha sido a bête noire da medicina.
O líder dessa escola, o neurologista Jean Martin Charcot, contribui para reabilitar a hipnose como objeto de estudo científico ao apresentá-la como um fato somático específico da histeria. Charcot também usa a hipnose como método de investigação, pensando em colocar seus pacientes histéricos em um “estado experimental”, permitindo que seus sintomas sejam reproduzidos e interpretados. Isto é importante e decisivo. A obra de La Salpêtrière também introduz uma nova visão dos fenômenos histéricos. Charcot não considera mais os pacientes histéricos como pretendentes e descobre, para surpresa de todos, que a histeria não é privilégio das mulheres. Por fim, Charcot relaciona a histeria aos fenômenos da paralisia pós-traumática, estabelecendo as bases de uma teoria do trauma psíquico. Há evidências que a primeira paciente estudada por Freud, mas diagnosticada, tratada e relatada por Breuer, e que supostamente sofria de histeria, Bertha Pappenheim (1859-1936), reconhecida como Anna O., não foi completamente curada. Além disso, revisando-se cuidadosamente seu diagnóstico chega-se à conclusão que Anna O. provavelmente sofria de epilepsia do lobo temporal e não de histeria. A psiquiatria, em sua mais recente classificação das doenças mentais (CID - 10), dividiu a histeria em vários diagnósticos, acabando assim com a validade do termo. As divisões principais são: 1. Transtorno de personalidade histriônica 2. Transtorno dissociativo ou conversivo. A divisão do trabalho não é específica do nível de análise econômico (cf. Durkheim, 2010): podemos observar sua influência crescente nas regiões distintas da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais, como ocorre com as funções artísticas e científicas nas universidades.
As especulações filosóficas da biologia nos demonstraram, na divisão do trabalho, um fato social de uma tal generalidade que os economistas, que foram os primeiros a mencioná-lo, não haviam podido suspeitar. Não é mais uma instituição social que tem sua fonte na inteligência e na vontade dos homens. Mas um fenômeno de biologia geral, cujas condições, ao que parece, precisam ser buscadas nas propriedades essenciais da disciplina organizada. A divisão do trabalho social passa a aparecer apenas como uma forma particular desse processo geral, e as sociedades, conformando-se a essa lei, parecem ceder a uma corrente de pensamento que nasceu bem antes delas e que arrasta no mesmo sentido todo o mundo vivo. Semelhante fato não pode, evidentemente, produzir-se sem afetar profundamente nossa constituição moral, pois o desenvolvimento do homem se fará em dois sentidos de todo diferentes. Descessário demonstrar a gravidade desse problema; qualquer que seja o juízo sobre a divisão do trabalho, sabe-se que ela é e se torna cada vez mais uma das bases da ordem social tanto quanto política.
Bertha Pappenheim era uma mulher de origem judia e alemã, de personalidade extremamente forte, guerreira e visionária. Foi líder de diversos movimentos sociais pela defesa e garantia dos Direitos Humanos, civis e políticos das mulheres; em plena ascensão do Nazismo na Alemanha. Por volta dos vinte anos, ela sofreu muito com a longa doença terminal do pai que, juntamente com as tensões da infância, foram as responsáveis pelo desencadear de um quadro chamado na época de histeria, e marcado por sintomas como depressão, nervosismo, tendência ao suicídio, paralisia, perturbações visuais, contraturas musculares e outros, e que a deixavam praticamente inválida. Foi, então, levada ao médico Josef Breuer, pertencente à elite de cientistas vienenses da época, e ele a tratou de 1880 a 1882, documentando o seu caso. Inicialmente, Bertha foi submetida a sessões de hipnose pelo método criado por Jean-Martin Charcot, conhecido como sugestão hipnótica. O médico hipnotizava a paciente e emitia uma ordem para que o sintoma remitisse. Mas, no decorrer do tratamento de Bertha a sugestão hipnótica parecia ser ineficaz e, num certo momento, o Dr. Josef Breur descobriu que ao invés de emitir uma ordem ele deveria pedir para que ela recordasse, sob hipnose, o momento traumático que leva ao surgimento do sintoma, lembrança essa oridinária que ela não tinha acesso consciente, ou seja, sem estar hipnotizada.
Ainda sob hipnose, a paciente conseguia relatar essas lembranças intoleráveis que haviam sido recalcadas e assim, através da fala, o sintoma desaparecia. A própria Bertha chamou o tratamento de “cura pela fala”. Freud considera esse o primeiro caso de tratamento pela psicanálise pois envolve a possibilidade de tratar sintomas físicos pela fala. Desse caso deriva uma das primeiras teorias de funcionamento psíquico da psicanálise, a teoria da defesa, apresentada no importante livro Estudos sobre a Histeria, escrito por Josef Breuer e Sigmund Freud conjuntamente. Muitas pessoas acreditam que Breuer posteriormente a encaminhou para Freud, o que não é verdade. Segundo Freud, em sua autobiografia, o caso termina sem Bertha estar plenamente curada. Ela desenvolve uma “gravidez psicológica” dizendo ser o filho do Dr. Breuer o que leva ele à abandonar o caso, diferentemente do que o Dr. relata em Estudos sobre a Histeria. Posteriormente, esse tipo de situação, comum nos casos clínicos, será conceituado por Freud como fenômeno transferencial onde o inconsciente é atualizado na sessão clínica.
Dessa
forma, Bertha Pappenheim teve um papel social muito importante no
desenvolvimento do método que Breuer denominou catarse, e que viria ser o
fundamento da futura Psicanálise. Após várias internações, e do agravamento dos
sintomas da doença em razão da dependência em morfina, começou a dedicar-se ao
trabalho social em prol da dignidade da mulher judia. Em 1902, Bertha fundou e
dirigiu por 29 anos a Weibliche Fürsorge (Assistência da Mulher), uma
instituição destinada a colocar órfãs em lares adotivos, a educar mães sobre o
cuidado com seus bebês, e a dar orientação vocacional e oportunidades de
emprego para moças. Foi o primeiro abrigo e lar coletivo para mães solteiras e
seus filhos, para crianças e meninas retiradas da prostituição. Fundou
a Liga das Mulheres Judias (1904), a primeira organização a lutar
pelos direitos civis e religiosos da mulher judia, e da qual foi a presidente
por vinte anos.
Sociologicamente
todo estado forte da consciência é uma fonte de vida, é um fato essencial de nossa
vitalidade geral. Por conseguinte, tudo o que tende a enfraquece-lo nos diminui
e nos deprime; resulta daí, seguindo os passos de Émile Durkheim, uma impressão
de confusão e de mal-estar análoga a que sentimos quando uma função importante
é suspensa ou retardada. É inevitável, pois, que reajamos energicamente contra
a causa que nos ameaça com tal diminuição, que nos esforcemos por afastá-la, a
fim de mantermos a integridade de nossa consciência. No primeiro plano das
causas que produzem esse resultado, devemos colocar a representação de um
estado contrário. Uma representação não é, com efeito, uma simples imagem da
realidade, uma sombra inerte projetada em nós pelas coisas, mas uma força que
ergue a seu redor um turbilhão de fenômenos orgânicos e psíquicos. Não somente
a corrente nervosa que acompanha a ideação se irradia nos centros corticais do
ponto em que se originou e passa de um plexo a outro, mas ressoa nos centros
motores, onde determina movimentos, nos centros sensoriais, onde desperta
imagens, excita por vezes começos de ilusões e pode afetar as funções
vegetativas; esse ressoar é mais considerável comparativamente quanto mais
intensa for a representação, quanto mais desenvolvido for esse elemento
emocional.
Assim, a representação de um sentimento contrário ao nosso age em nós no mesmo sentido e das mesma maneira que o sentimento que ela substitui; é como se ele mesmo tivesse entrado em nossa consciência. Ela tem, de fato, as mesmas afinidades, embora menos vivas; ela tende a despertar as mesmas ideias, os mesmos movimentos, das mesmas emoções. Ela opõe, pois, uma resistência ao jogo de nosso sentimento pessoal e, por conseguinte, o debilita, atraindo numa mesma direção contrária toda uma parte de nossa energia. É como se uma força estranha se houvesse introduzido em nós, de modo a desconcertar o livre funcionamento de nossa vida psíquica. Eis porque uma convicção oposta à nossa não pode se manifestar em nossa presença sem nos perturbar: é que, ao mesmo tempo, ela penetra em nós e, encontrando-se em antagonismo com tudo o que em nós encontra, determina verdadeiras desordens. Sem dúvida, enquanto o conflito só se manifesta entre ideias abstratas, nada há de muito doloroso, pois nada há de mito profundo. A região dessas ideias é, ao mesmo tempo, a mais elevada e a mais superficial da consciência, e as mudanças que nela sobrevêm, não tendo repercussões extensas, afetam-nos apenas debilmente. No entanto, quando se tata de uma crença que nos é cara, não permitimos e não podemos permitir que seja impunemente ofendida.
Devido à sua má experiência técnico-metodológica com Nora, a Dra. Jane Mathis relutou em prescrever medicamentos para seus pacientes, pois os culpava, provavelmente em grande parte, pelo que aconteceu. Um dia ela é contatada por um homem chamado Alex que pede sua ajuda terapêutica para superar uma forte experiência traumática e embora ela inicialmente esteja bem intencionada em encaminhá-lo aos cuidados de um colega seu, a insistência dele a faz desistir de sua intenção, não cuidar dele. No primeiro encontro, ele descobre que o rosto de Alex foi desfigurado em terrível acidente de carro e que ele tem enorme dificuldade em falar sobre o evento sem desmaiar. Falando nisso, Jane Mathis ensina a ele uma técnica de respiração para se acalmar durante os ataques de pânico. Com a representação de cenas de flashbacks, ou seja, memórias repentinas, involuntárias e vívidas de experiências pessoais passadas. Em muitos casos, essas memórias poderosas estão intimamente ligadas a eventos traumáticos. Flashbacks são fenômenos psicológicos durante os quais uma pessoa revive um evento passado ou fragmentos de uma experiência passada, quando por exemplo, é revelado que Nora começou a sair com Jane “devido aos múltiplos abusos sexuais de seu próprio pai”.
Enquanto
isso, Jane parece ver Nora ocasionalmente pairando ao seu redor, o que ela
associa ao seu remorso pelo que aconteceu dois anos antes, e por isso ela
decide visitar a instituição psiquiátrica onde Nora estava internada, na qual
ela afirma que ela não está mais lá, tendo em vista que ela recebeu alta recentemente
da instituição por falta de dinheiro para cobrir os custos da hospitalização
após a morte de seu pai. Jane vê as filmagens das sessões de Nora no instituto,
que revelam a raiva violenta de Nora em relação ao pai. Jane, após as aparições
de Nora que parecem se tornar cada vez mais concretas com o tempo, espaço e
lugar praticado, instala câmeras de segurança dentro e fora em sua casa e
revela a Alex, durante uma de suas sessões, seu fracasso com Nora em fazê-lo
parar de depender demais das drogas. Alex, graças a isso, relembra mais de seu
acidente; depois de ajudar a salvar algumas pessoas de um carro colidido, ele
percebeu que sua filha estava vagando pela estrada e na tentativa de salvá-la,
os dois foram atropelados por um caminhão que causou sua desfiguração facial
e a morte dela.
Coisas
estranhas continuam acontecendo na casa de Jane; ruídos estranhos, pegadas
sujas e fotografias sangrentas. Miles percebe que alguém mexeu no sistema de
segurança, pois faltam horas de filmagens. Jane, embora muito abalada, se
recusa a prestar queixa contra Nora por medo de que, se o fizesse, acabaria
trancada em uma instituição psiquiátrica, recheada de drogas e sem saída.
Durante uma de suas sessões com o Dr. Terry, ela rouba seu bloco de receitas
porque seus remédios acabaram. De volta para casa, Jane conhece Alex, que a
espera na varanda de sua casa, embora ela já tenha cancelado todas as visitas
de seus pacientes por causa dos estranhos acontecimentos com Nora. Embora Alex
pareça ter ternura por ela, Jane insiste que deve haver limites claros entre
médico e paciente, o que é aceito por Alex. Durante aquela noite, Jane revive o
horror do ataque que sofreu de Nora. Assim que ela acorda já se encontra
desorientada, mas vê Nora perto dela que está pronta para machucá-la. Depois de
fugir e ter falhado em uma tentativa rudimentar de se barricar na cozinha,
acerta Nora, que já a havia dominado fisicamente, em legítima defesa, na cabeça
com um saca-rolhas, matando-a instantaneamente. No fim do século XVIII e começo
do século XIX, a despeito de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de
punição via-se extinguindo. Nessa transformação, segundo Foucault em Vigiar
e Punir (2014: 13 e ss.), misturaram-se dois
processos.
Não
tiveram nem a mesma cronologia nem as mesmas razões de ser. De um lado, a
supressão do espetáculo punitivo. O cerimonial da pena vai sendo obliterado e
passa a ser apenas um novo ato de procedimento ou de administração. A confissão
pública dos crimes tinha sido abolida na França pela primeira vez em 1791,
depois novamente em 1830 após ter sido restabelecida por breve tempo; o
pelourinho foi supresso em 1789; a Inglaterra o aboliu em 1837. As obras
públicas que a Áustria, a suíça e algumas províncias americanas como a
Pensilvânia obrigavam a fazer em plena rua ou nas estradas – condenados com
coleiras de ferro, em vestes multicores, grilhetas nos pés, trocando com o povo
desafios, injúrias, zombarias, pancadas, sinais de rancor ou de cumplicidade –
são eliminados mais ou menos em toda a parte no fim do século XVIII, ou na
primeira metade do século XIX. O suplício de exposição do condenado foi mantido
na França até 1831, apesar das críticas violentas – “cena repugnante”; ela é
abolida em abril de 1848. Quanto às cadeias que arrastavam os condenados a
serviços forçados através de toda a França, até Brest e Toulon, foram
substituídas em 1837 por decentes carruagens celulares, pintadas de preto. A
punição pouco a pouco deixou de ser uma cena. E tudo o que pudesse implicar de
espetáculo desde terá um cunho negativo; e como as funções da cerimônia penal
deixavam pouco a pouco de ser compreendidas, ficou a suspeita de que tal rito
que dava um “fecho” ao crime mantinha com ele afinidades espúrias: igualando-o,
ou mesmo ultrapassando-o em selvageria, acostumando os espectadores a uma
ferocidade de que todos queriam vê-los afastados, mostrando-lhes a frequência
dos crimes, fazendo o carrasco se parecer com criminosos, os juízes aos
assassinos, invertendo no último momento os papéis, fazendo do supliciado um objeto
de piedade e de administração.
Desde
então, o escândalo e a luz serão partilhados de outra forma; é a própria
condenação que marcará o delinquente com sinal negativo e unívoco: publicidade,
portanto, dos debates e da sentença; quanto à execução, ela é como uma vergonha
suplementar que a justiça tem vergonha de impor ao condenado; ela guarda
distância, tendendo sempre a confiá-la a outros e sob a marca do sigilo. É
indecoroso ser passível de punição, mas pouco glorioso punir. Daí esse duplo
sistema de proteção que a justiça estabeleceu entre ela e o castigo que ela
impõe. A execução da pena vai-se tornando um setor autônomo, em que um
mecanismo administrativo desonera a justiça, que se livra desse secreto
mal-estar por um enterramento burocrático da pena. É um caso típico na França que
a administração das prisões por muito tempo ficou sob a dependência do
Ministério do Interior, e a dos trabalhos forçados sob o controle da Marinha e
das Colônias. E acima dessa distribuição dos papéis se realiza a negação
teórica: o essencial da pena que nós, juízes, infligimos, não creiais que
consista em punir; o essencial é procurar corrigir, reeducar, “curar”; uma
técnica de aperfeiçoamento recalca, na pena, a estrita expiação do mal, e
liberta os magistrados do vil ofício de castigadores. Enfim, existe na justiça
moderna e entre aqueles que a distribuem uma “vergonha de punir”, que nem
sempre exclui o zelo; ela aumenta constantemente: sobre esta chaga pululam os
psicólogos e o pequeno funcionário que Michel Foucault chama da “ortopedia
moral”. O desaparecimento dos suplícios é, pois o espetáculo que se elimina; mas é também o domínio sobre o corpo que se extingue. Enfim, o castigo passou historicamente de uma arte das sensações insuportáveis, melhor dizendo: a tortura, ou morte, à economia dos direitos suspensos.
Bibliografia
geral consultada.
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