segunda-feira, 1 de maio de 2023

Amor & Outras Drogas – Parkinson, Reflexividade Humana.

                                              l`amore è come il fuoco, se soffi si riaccende”. Francesco Alberoni (2010)

           

        A Doença de Parkinson é neurológica e afeta os movimentos humanos. Causa tremores, lentidão, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. Ocorre por causa da degeneração das células situadas numa região do cérebro chamada “substância negra”. Essas células produzem a substância dopamina, que conduz as correntes nervosas ou neurotransmissores ao corpo. A falta ou diminuição da dopamina afeta os movimentos provocando os sintomas descritos. O diagnóstico da doença é feito com base na história clínica do paciente e no exame neurológico. Não há nenhum teste específico para o seu diagnóstico ou para a sua prevenção. A lentidão de movimentos é, talvez, o maior problema para o parkinsoniano, embora esse sintoma não seja notado por outras pessoas. Uma das primeiras coisas percebidas pelos familiares é que o doente demora mais tempo para fazer o que antes fazia com mais desenvoltura como, banhar-se, vestir-se, cozinhar, escrever, ocorrendo diminuição do tamanho da letra. Outros sintomas descritos clinicamente pela medicina podem estar associados ao início da doença: rigidez muscular; redução da quantidade de movimentos, distúrbios da fala, dificuldade para engolir, depressão, dores, tontura e distúrbios do sono, distúrbios respiratórios, urinários.  A história social de quem é acometido pela doença de Parkinson (cf. Montgomery, 2018) consiste num aumento gradual dos tremores nas mãos, maior lentidão de movimentos do corpo humano como caminhar tropegamente arrastando os pés, a postura inclinada para frente. 

O tremor afeta os dedos ou as mãos, mas pode também afetar o queixo, a cabeça ou os pés. Pode ocorrer num lado do corpo ou nos dois, e pode ser mais intenso num lado que no outro. O tremor ocorre quando nenhum movimento está sendo executado, e por isso é chamado de “tremor de repouso”. Por razões que ainda são desconhecidas, o tremor pode variar durante o dia. Torna-se mais intenso quando a pessoa fica nervosa, mas pode desaparecer quando está completamente descontraída. O tremor é mais notado quando a pessoa segura com as mãos um objeto leve como um jornal. Os tremores desaparecem durante o sono. A origem histórica e social das empresas multinacionais remonta ao processo de colonização e de expansão civilizatória dos países da Europa Ocidental, iniciado no começo do século XVI com a Inglaterra e Holanda. Durante este período, diversas empresas, como a famosa Companhia Holandesa das Índias Orientais, foram criadas para realizar a comercialização de bens oriundos do Extremo Oriente, da África e da América Central, América do Norte (EUA) e América do Sul. 

      A reestruturação das empresas transnacionais como reconhecemos no mundo contemporâneo surgiu apenas no século XIX, com o advento bem estruturado do capitalismo industrial e durante o desenvolvimento no sistema fabril, baseado na mecanização intensiva da produção, no desenvolvimento de melhores técnicas de estocagem e na criação de meios de transporte mais rápidos (cf. Heller, 1975; Kemp, 1976). Nas duas primeiras décadas após a 2ª guerra mundial (1939-1945), as empresas internacionais norte-americanas dominaram de fato o investimento estrangeiro, enquanto as corporações europeias e japonesas passaram a desempenhar um papel maior nesse cenário. Na década de 1950, os bancos norte-americanos, europeus e japoneses começaram a investir enormes somas de dinheiro na indústria pesada, encorajando fusões corporativas e promovendo a concentração do capital. Os grandes avanços comunicativos marítimo e aéreo, bem como a informatização e a facilitação dos meios de comunicação propiciaram que as empresas internacionais investissem em países e mercado de comércio internacional, resultando na rápida internacionalização do consumoEnquanto isso, os novos recursos publicitários ajudaram a garantir uma parcela maior do mercado consumidor às empresas internacionais, ultrapassando os limites territoriais de origem das empresas com a instalação de filiais em busca de mercado consumidor de energia, matéria-prima e mão de obra. 

Dentro do contexto da globalização, é muito comum que essas empresas produzam cada parte de um produto em países diferentes, com o objetivo de reduzir custos de produção. Portanto, essas empresas possuem influência que transcende a economia, pois elas interferem em governos e nas relações internacionais. Estima-se que existam em funcionamento cerca de 50 mil empresas transnacionais, muitas originadas de países industrializados, porém existem também no mercado corporações oriundas de países considerados emergentes, como ocorre com o caso do Brasil, Coréia do Sul, Índia e México. Estas tendências foram determinantes para a consolidação do sistema oligopolista das empresas transnacionais e na assunção do papel central destas empresas no comércio global, de uma forma nunca antes ocorrida. Nesse sentido, se em 1906, havia duas ou três empresas líderes, com ativos que giravam na cada dos 500 milhões de dólares estadunidenses, em 1971 havia 333 empresas deste tipo, sendo que um terço destas apresentava ativos na casa de pelo menos 1 bilhão de dólares estadunidenses. Aliás, neste período histórico e pontual, cerca de 70 a 80% do comércio mundial era controlado e realizado por empresas transnacionais. Durante o último quarto do século XX, evidenciamos uma maciça proliferação de transnacionais. Empresas globalistas que possuem matriz em seu país e noutros através da economia ideológica são chamadas empresas transnacionais.

                                               

Se na década de 1970, havia cerca de 7 000 empresas transnacionais com controle acionário, esse número amplificou para 38 000, sendo que 90% delas possuem sede nos países ricos e industrializados e controlam mais de 207 mil filiais estrangeiras. Desde o início da década de 1990, as vendas globais destas filiais têm superando as exportações comerciais como principal veículo de fornecimento de bens e serviços aos mercados estrangeiros. A aparente prosperidade das empresas transnacionais é impressionante, pois a maior parcela dentre as 100 maiores empresas do mundo é composta exatamente por estas empresas. Em 1992, as 100 maiores companhias detinham ativos que giravam por volta dos 3,4 trilhões de dólares estadunidenses, dos quais cerca de 1,3 trilhões eram mantidos fora dos seus países de origem. Além disso, as 100 maiores empresas transnacionais representam cerca de um terço do investimento estrangeiro direto (IED) de seus países de origem. Desde meados da década de 1980, tem havido um grande aumento no investimento direto estrangeiro das empresas transnacionais. Ademais, entre 1988 e 1993, o estoque de IED – que é uma medida da capacidade produtiva das empresas transnacionais fora dos seus países de origem - cresceu de 1,1 para 2,1 trilhões de dólares estadunidenses em valor estimado. Em relação aos países pouco industrializados, um aumento acentuado no investimento estrangeiro realizado pelas empresas transnacionais, desde meados da década de 1980. Tal investimento, em conjunto com empréstimos bancários privados, cresceu de forma muito mais acentuada do que comparativamente ações estatais para o desenvolvimento nacional, ou do que os empréstimos bancários multilaterais – aqueles realizados por instituições internacionais: o famigerado Fundo Monetário, o Banco Mundial ou a proliferação dos chamados bancos de desenvolvimento regionais.

Sociologicamente Fundo Monetário Internacional (FMI) representa uma organização internacional criada em 1944 na Conferência de Bretton Woods, formalmente criada em 27 de dezembro de 1945 por 29 países-membros e homologado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em abril de 1966 com o objetivo, inicial, pretensamente de ajudar na reconstrução do sistema monetário internacional no período pós-Segunda Guerra Mundial. Os países contribuem com dinheiro para o fundo através de um sistema de quotas a partir das quais os membros com desequilíbrios de pagamento podem pedir fundos emprestados temporariamente. Através desta e outras atividades, tais como a vigilância das economias dos seus membros e a demanda por políticas de autocorreção, o FMI trabalha para melhorar as economias dos países. É uma organização politicamente constituída de 188 países, “trabalhando para promover a cooperação monetária global, a estabilidade financeira segura, facilitar o comércio internacional, promover elevados níveis de emprego e crescimento econômico sustentável e reduzir a pobreza do mundo”. Os objetivos declarados da organização globalizada, social, econômica e politicamente são o de promover a cooperação econômica internacional, o comércio internacional, o emprego e a estabilidade cambial, inclusive mediante a disponibilização de recursos financeiros para os países membros para ajudar no equilíbrio de suas balanças de pagamentos. Sua sede fica em Washington, D.C., nos Estados Unidos da América.

Os governos dos países em desenvolvimento, sobrecarregados pelas dívidas, pela baixa no preço das comodities, pelo ajustamento estrutural e pelo desemprego, têm visto as empresas transnacionais, nas palavras da revista britânica The Economist, como personificação da modernidade e de riqueza, cheias de tecnologia, ricas em capitais e postos de trabalho qualificados. Como resultado, observa-se, a tendência dos governos dos países em desenvolvimento de capitalizar cada vez mais o investimento econômico das empresas transnacionais inicialmente por meio da liberação das restrições ao investimento e pela privatização das empresas estatais. Em compensação, as empresas transnacionais veem os países menos industrializados não apenas sob o aspecto de potencial aumento de seu mercado consumidor, mas também como alternativa produtiva em razão dos custos operacionais mais baixos, menores salários e menor regulação ambiental e de saúde que estes países apresentam. Na segunda metade do século XX, ficou clara a relação conflituosa entre empresas multinacionais e o Estado. Do ponto de vista merceológico, existe interesse claramente estatal de crescimento econômico, trazer investimento internacional, avanços tecnológicos, empregos e benefícios da atuação geral no âmbito de empresas de grande porte mundiais. Por outro lado, existe a questão da exploração de recursos naturais nacionais, da remessa de lucros para a matriz e de determinar o desenvolvimento de empresas nacionais em termos de figuração comercial. Por serem mundiais, essas empresas conseguem comparar as características de cada país e analisar a relação técnica de custo-benefício de cada localidade, podendo até barganhar com os governos a instalação de unidades, obtendo condições para atuação.

Em 1996, Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é um sedutor incorrigível de tipologia ideal típica que perde a “conta do número de mulheres com quem já namorou”. Após ser demitido do cargo de vendedor em uma loja de eletrodomésticos, por ter seduzido uma das funcionárias, ele passa a trabalhar num grande laboratório da indústria farmacêutica (cf. Gomes; Reis, 2006). Como representante comercial, sua função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da empresa para os pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de Mal de Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela, mas aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo, mas não quer levar adiante por causa de sua doença. Love and Other Drugs é um filme de comédia dramática lançado em 2010, dirigido por Edward Zwick, baseado no livro de não-ficção Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman, de Jamie Reidy, e estrelado por Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway  e ponto de partida, uma vez que nele não existe situação de interesse amoroso. Um de seus principais temas diz respeito ao relacionamento afetivo entre os dois personagens centrais representado por Jamie e Maggie.

A relação sexual converte-se então no desejo de estar no corpo do outro, um viver e um ser vivido por ele numa fusão de corpos que se prolonga como ternura por suas fraquezas, suas ingenuidades, seus defeitos e imperfeições. Não importa mesmo quem seja essa pessoa, pois na paixão nasce uma força terrível que nos leva à fusão e nos torna insubstituíveis, únicos um para o outro. O ente amado se converte naquele que não pode ser senão ele - o absolutamente especial. E isso acontece mesmo contra a nossa vontade, e apesar de acreditarmos por algum tempo que podemos viver sem ele, e que podemos encontrar essa mesma felicidade em outra pessoa qualquer. Mas não ocorre bem assim. Basta uma breve separação para termos a certeza de que este amado é portador de algo inconfundível, algo que sempre nos faltou, que se revelou através dele e que sem ele não podemos encontrar de novo, enfim, que represente simbolicamente a diversidade e a unicidade de quem amamos. Os fatos sociais por si mesmos, só aparentemente nos demonstram que nossa sexualidade de manifesta de maneira comum, quotidiana e de maneira extraordinariamente, afetiva, descontínua. A sexualidade se transforma no meio que a vida explora suas fronteiras, os horizontes do imaginário individual e coletivo e,  evidentemente através da natureza, mas o que é revelador, acidental ou não, é que estamos diante de um estado nascente.

Essa sexualidade, segundo Alberoni (2010) está vinculada à inteligência e à fantasia, ao ardor, à paixão propriamente dita; enfim, está em estado de fusão com tudo isso que está ao nosso redor. Mas a sua natureza é de subverter, transformar, romper os laços exteriores. E Eros é uma força revolucionária, ainda restrita a duas pessoas. Por isso mesmo, não se pode direcionar a sexualidade extraordinária de acordo com o nosso desejo, visto que ela determina nossos ciclos vitais ou tentativas de mudança, e por essa razão é perigosa. Apesar de a sexualidade ser para nós uma aspiração permanente e uma fonte constante de nostalgia, temo medo dela. Para nos defendermos do medo de amar, usamos a mesma palavra para indicar o Eros e a sexualidade quotidiana, ou seja, o comer e o beber do sexo sobre o qual fazemos pesquisas demoscópicas para descobrirmos em geral quase as mesmas coisas que já sabemos, mas que nos tranquilizamos porque nos revelam que também os outros vivem os mesmos sofrimentos humanos diante de nosso quotidiano. No enamoramento, a pessoa mais simples e limitada vê-se obrigada, para se exprimir, a usar a linguagem da poesia, da sacralidade e do mito em torno do acontecer humano. É assim, porque na sacralidade do mito também nasceram da experiência extraordinária que é o fato social normalizado de diversos movimentos. O enamoramento desafia as instituições historicamente de seus fundamentos de valor. Sua natureza reside em não ser um simples desejo, ou capricho pessoal, mas um portador de projetos e criador de instituições sociais.

        Metodologicamente determinar o sexo seria, segundo Foucault (1984), a partir desse momento, mais difícil e também mais custoso. Como se, para dominá-lo no plano real, tivesse sido necessário, primeiro, reduzi-lo ao nível da linguagem, controlar sua livre circulação no discurso, bani-lo das coisas ditas e extinguir as palavras que o tornam presente de maneira demasiado sensível. Dir-se-ia mesmo que essas interdições temiam chama-lo pelo nome. Sem mesmo ter que dizê-lo, o pudor moderno obteria que não se falasse dele, exclusivamente por intermédio de proibições que se completam mutuamente: mutismos que, de tanto calar-se, impõe o silêncio. Censura. Novas regras de decência, sem dúvida alguma, filtraram as palavras: polícia dos enunciados. Controle também das enunciações: definiu-se de maneira muito mais estrita onde e quando era possível falar dele; em que situações, entre quais locutores, e em que relações sociais; estabeleceram-se, assim, regiões, senão de silêncio absoluto, pelo menos de tato e discrição: entre pais e filhos, ou educadores e alunos, patrões e serviçais. É quase certo ter havido uma economia restritiva que se integra nessa política da língua e da palavra – por assim dizer, numa dialética espontânea por um lado e deliberada por outro – que acompanhou as redistribuições da época clássica.  Em compensação, no nível dos discursos e seus domínios, o fenômeno é quase inverso. Sobre o sexo, os discursos – discursos específicos, diferentes tanto pela forma como pelo objeto – não cessaram de proliferar: uma fermentação discursiva que se acelerou a partir do século XVIII.  

Mas o essencial é a multiplicação dos discursos sobre o sexo no próprio campo abstrato do exercício de poder: incitação institucional a falar do sexo e a falar dele cada vez mais; obstinação das instâncias do poder a ouvir falar dele e a fazê-lo falar ele próprio sob a forma da articulação explícita em torno de sua evolução da pastoral católica e do sacramento da confissão, depois do Concílio de Trento (1545-1563) e do debate acumulado. Cobre-se, progressivamente, a nudez real das questões que os manuais de confissão da Idade Média formulavam e grande número daquelas quer eram correntes no século XVII. Evita-se entrar nessa enumeração que, durante muito tempo, alguns, como Sanchez ou Tamburini, autores de manuais do confessor, acreditavam ser indispensável para que a confissão fosse completa: posição respectiva dos parceiros, atitudes tomadas, gestos, toques, momento exato em sua própria execução. A discrição é recomendada cada vez com mais insistência. Quanto aos pecados contra a pureza é necessária a maior reserva. O sexo, a nova pastoral, não deve ser mencionado sem prudência; mas seus aspectos, suas correlações, seus efeitos ser seguidos até às mais finas ramificações: uma sobra num devaneio, uma imagem expulsa com demasiada lentidão, uma cumplicidade mal afastada entre a mecânica do corpo e a complacência do espírito: tudo deve ser dito. Uma dupla evolução tende a fazer, da carne, a origem de todos os pecados e a deslocar o momento mais importante do ato em si para a inquietação do desejo, tão difícil de perceber e formular; pois que é um mal que atinge todo o homem e sob as mais secretas formas. Um discurso obediente e atento deve, portanto, seguir, seguindo todos os seus desvios, a linha de junção do corpo e da alma: ele revela, sob a superfície dos pecados, a nervura ininterrupta da carne. Sob a capa de uma linguagem que se tem o cuidado de si de depurar de modo a não o mencionar diretamente, o sexo é açambarcado e como que encurralado para um discurso que pretende não lhe permitir obscuridade nem sossego.          

         De acordo com Foucault, é aí que ocorre, e pela primeira vez se impõe, sob a forma de uma constrição geral, essa injunção tão peculiar ao Ocidente moderno. Mas não se trata de confessar as infrações às leis do sexo, como exigia a penitência tradicional; porém de tarefa, quase infinita, de dizer, de se dizer a si mesmo e de dizer a outrem, o mais frequentemente possível, tudo o que possa se relacionar com o jogo dos prazeres, sensações e pensamentos inumeráveis que, através da alma e do corpo tenham alguma afinidade com o sexo. Este projeto de uma “colocação do sexo em discurso” formara-se há muito tempo, numa tradição ascética e monástica. O século XVIII fez dele uma regra para todos. Dir-se-á que, de fato, só poderia se aplicar a uma elite mínima; a massa dos fiéis que só frequentavam a confissão raras vezes por ano escapava a prescrições tão complexas. Sem dúvida, o importante é que esta obrigação era fixada, pelo menos como ponto ideal para todo bom cristão. Coloca-se um imperativo: não somente confessar os atos contrários à lei, mas procurar fazer der seu desejo, um discurso. Se for possível, nada deve escapar a tal formulação, mesmo que as palavras empregadas devam se cuidadosamente neutralizadas. A pastoral cristã inscreveu, como dever fundamental, a tarefa de fazer passar tudo o que se relaciona com o sexo pelo crivo interminável da palavra. A interdição de certas palavras, a decência das expressões, todas as censuras do vocabulário poderiam muito bem ser apenas dispositivos secundários com relação a essa grande questão sobre a qual reside a sujeição: melhor dizendo, as maneiras de torná-la moralmente aceitável e tecnicamente útil. 

            No final das contas, per se também a pastoral cristã procurava produzir efeitos específicos sobre o desejo, pelo simples fato de colocá-lo integral e aplicadamente me discurso: efeitos de domínio e de desinteresse sem dúvida, mas também, efeito de reconversão espiritual, de retorno a Deus, efeito físico de dores bem-aventuradas por sentir no seu corpo as ferroadas da tentação e o amor que lhe resiste. O essencial é bem isso: que o homem ocidental há três séculos tenha permanecido atado a essa tarefa que consiste em dizer tudo sobre seu sexo; que, a partir da época clássica, tenha havido majoração constante e uma valorização cada vez maior do discurso sobre o sexo; e que se tenha esperado desse discurso, cuidadosamente analítico, efeitos múltiplos de deslocamento, de intensificação, de reorientação, de modificação sobre o próprio desejo. Não somente foi ampliado o domínio do que se podia dizer sobre o sexo e foram obrigados os homens a estendê-lo cada vez mais; mas, sobretudo, focalizou-se o discurso no sexo, através de um dispositivo completo e de feitos variados que não se pode esgotar na simples relação com uma lei de interdição. Censura sobre o sexo? Pelo contrário, constituiu-se uma aparelhagem para produzir discursos sobre o sexo, cada vez mais discursos, susceptíveis de funcionar e de serem efeito de sua própria economia. 

         Essa técnica talvez tivesse ficado ligada ao destino da espiritualidade cristã ou à economia dos prazeres individuais, senão tivesse sido apoiada e relançada por outros mecanismos. Essencialmente, por um “interesse público”. Não uma curiosidade ou sensibilidade coletiva; não uma nova mentalidade. Mas por mecanismos de poder e funcionamento o discurso sobre o sexo – por razões às quais será preciso retornar – passou a ser essencial. Deve-se falar de sexo, e falar publicamente, de uma maneira que não seja ordenada em função de uma demarcação entre o lícito e o ilícito, mesmo se o locutor preservar para si a distinção é para mostrá-lo que servem essas declarações solenes e liminares; cumpre falar do sexo como de uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar, mas gerir, inserir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar segundo um padrão ótimo. O sexo não se julga apenas, administra-se. Sobreleva-se ao poder público; exige procedimentos de gestão; deve ser assumido por discursos analíticos. Mas no sentido pleno e forte que se atribuía então a essa palavra – não como repressão da desordem e sim como majoração ordenada das forças coletivas e individuais:  - “Fortalecer e aumentar, pela sabedoria dos seus regulamentos, a potência interior do Estado e, como essa potência consiste não somente na República, e em cada um dos membros que a compõem, mas ainda nas faculdades e talentos de todos aqueles que lhe pertencem, segue-se que a polícia deve ocupar-se inteiramente desses meios e fazê-los servir à felicidade pública. Ela só pode atingir esse objetivo através do conhecimento que possui dessas diferentes vantagens. Polícia do sexo: isto é, necessidade de regular o sexo por meio de discursos úteis e não pelo rigor da proibição.

            É verdade que já há muito tempo se afirmava que um país devia ser povoado se quisesse ser rico e poderoso. Mas é a primeira vez em que, pelo menos de maneira constante, uma sociedade afirma que seu futuro e sua fortuna estão ligados não somente ao número e à virtude dos cidadãos, não apenas às regras de casamentos e à organização familiar, mas à maneira como cada qual usa seu sexo. Passa-se das lamentações rituais sobre a libertinagem estéril dos ricos, dos celibatários e dos libertinos, para um discurso onde a conduta sexual da população é tomada, ao mesmo tempo, como objeto de análise e alvo de intervenção; passa-se das teses maciçamente populacionistas da época mercantilista, às tentativas de regulação mais finas e bem calculadas, que oscilarão, segundo os objetivos e as urgências, me direção natalista ou antinatalista. Através da economia política da população forma-se toda uma teia de observações sobre o sexo. Surge a análise das condutas sexuais, de suas determinações e efeitos, nos limites entre o biológico e o econômico. Aparecem também as campanhas sistemáticas que, à margem dos meios tradicionais – exortações morais e religiosas, medidas fiscais – tentam fazer do comportamento sexual dos casais uma conduta econômica e política deliberada. Os racismos dos séculos XIX e XX encontrarão nelas alguns de seus pontos de fixação. Que o Estado saiba o que se passa com o sexo dos cidadãos e o uso que dele fazem e, também, que cada um seja capaz de controlar sua prática. Entre o Estado e o indivíduo o sexo tornou-se objeto de disputa, e de disputa pública; toda uma teia de discursos, de saberes, de análise e de injuções o investiram. Ipso facto, ocorre com a representação social historicamente condicionada com a mediação da sexualidade das crianças.   

          A nossa sexualidade urbana, cristã, pequeno-burguesa é composta de sentimentos e emoções. Através da linguagem corporal se comunicam socialmente sentimentos de afeto, carinho e ternura. O contato corporal não só ajuda a preparar o organismo para a relação coital, mas tem sentido em si mesmo, enquanto expressa cuidado, atenção e desejo de agradar a outra pessoa amada. Esses momentos de comunicação íntima precisam ser preparados na vida cotidiana através de relações sociais em que predominam a atenção, a disponibilidade, a compreensão e o serviço. Daí em diante muito acontecimentos envolvem o casal e as pessoas do entorno vão nos conquistando cada vez mais. É bem verdade que podemos pensar nas diversas coisas que o protagonista poderia fazer com tais poderes. Mas não é a consciência do próprio sujeito que neste sentido passa a atribuir significado ao espaço/tempo no qual está inserido. A vida ganha uma dimensão de responsabilidade para com a condução do destino da espécie humana, bem como com relação ao domínio da natureza em suas várias formas de manifestação.  O tempo que as separa equivale a várias gerações e ultrapassa a capacidade da memória individual (o sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos). As unidades de geração desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo determinado problema. O nascimento em um contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações de percepção dos sujeitos.  

A oposição entre sujeição e liberdade, cosmos e microcosmos ou existência e vigília. As superstições não mais como objetos, e sim como na representação de símbolos, como expressão de um temperamento ou índole interna de uma alma. A doença de Parkinson é degenerativa crônica do sistema nervoso central que afeta principalmente a coordenação motora. Os sintomas vão-se manifestando de forma lenta e gradual ao longo do tempo. Na fase inicial da doença, os sintomas mais óbvios são tremores, rigidez, lentidão de movimentos e dificuldade em caminhar. Podem também ocorrer problemas de raciocínio e comportamentais. Nos estádios avançados da doença é comum a presença de demência. Estatisticamente cerca de 30% das pessoas manifestam depressão e ansiedade. Entre outros possíveis sintomas estão problemas sensoriais, emocionais e de perturbações do sono. O conjunto dos principais sintomas ideológicos a nível motor denominam-se “Parkinsonismo”, ou “síndrome de Parkinson”. Embora se desconheça a causa exata da doença, acredita-se que envolva tanto fatores genéticos como fatores ambientais. As pessoas com antecedentes familiares da doença apresentam um risco superior de vir a desenvolver Parkinson. Existe também um risco superior em pessoas expostas a determinados pesticidas e entre pessoas com antecedentes de lesões na cabeça. O risco é menor entre fumadores e consumidores de café e chá. Não existe cura para a doença. O tratamento destina-se a melhorar os sintomas. O tratamento inicial consiste geralmente na administração do medicamento antiparkinsônico levodopa, podendo ser usados agonistas da dopamina assim que a levodopa se torna menos eficaz.

        O filme se passa na segunda metade da década de 1990, período em que os remédios começaram a ser anunciados e vendidos diretamente para o público consumidor nos Estados Unidos da América. É o 2º filme em que Anne Hathaway e Jake Gyllenhaal trabalham juntos. O anterior foi O Segredo de Brokeback Mountain, um longa-metragem norte-americano de 2005, dirigido pelo taiwanês Ang Lee. Estrelado pelo saudoso Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway e Michelle Williams, o drama narra o complexo envolvimento romântico e sexual de dois caubóis do Oeste dos Estados Unidos, entre os anos de 1963 e 1981. O roteiro foi escrito por Diana Ossana e Larry McMurtry no final da década de 1990, adaptado do conto homônimo de Annie Proulx. Para definir como seriam as cenas dramáticas de Love and Other Drugs, o cineasta Edward Zwick sugeriu que o elenco principal assistisse desde comédias românticas a filmes, com cenas mais desejantes, como ocorre com Nove Canções (2004) e o polêmico Último Tango em Paris (1972). Eles depois se reuniram e conversaram como as cenas deveriam ser feitas. Os contratos de Anne Hathaway e de Jake Gyllenhaal não possuíam cláusulas prevendo “o quanto e até onde as cenas de nudez poderiam exibir”. Amor e Outras Drogas foi rodado em Pittsburgh, estado da Pennsylvania centro da indústria médica norte-americana com inúmeras empresas fortes em termos de pesquisa & desenvolvimento. Seu orçamento gerou US$ 30 milhões.

        Conceptualmente a questão da droga representa “toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo modifica suas funções”. As drogas naturais são obtidas e extraídas tecnicamente através de determinadas plantas, de animais e de alguns minerais. Temos como exemplo: a cafeína do café, a nicotina presente no tabaco, o ópio presente na papoula e o Tetrahidrocanabiol (THC) da cannabis, representa a principal substância psicoativa encontrada nas plantas do gênero Cannabis. Pode ser obtida por extração a partir dessa planta ou por síntese em laboratório. As drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso técnicas especiais. Foi isolado na forma pura pela primeira vez em 1964 por Raphael Mechoulam, Yechiel Gaoni e Habib Edery no Instituto Weizmann em Rehovot, Israel, através da extração a partir do haxixe com éter de petróleo, seguido de repetidas cromatografias. Instituto Weizmann da Ciência é um instituto de ensino superior e de pesquisa científica. Fundado em 1934, é um dos mais respeitados centros internacionais de pesquisas multidisciplinares. Com 2,5 mil pesquisadores, pós-doutores e estudantes, difere das demais universidades israelenses por oferecer cursos de graduação e de pós-graduação em ciências. Em contraste com outras Universidades Israelitas não oferece cursos de bacharelado, mas em contrapartida oferece cursos de pós-graduação: mestrado e doutoramento na área das ciências naturais.

É discutido até que ponto este composto é responsável pelos efeitos inequívocos verificados com o “consumo da planta”. Um estudo não encontrou diferenças nos efeitos subjetivos entre a maconha e o THC puro, mas críticas laboratoriais desenvolvidas ao estudo apontam para que tenha sido usada maconha de fraca qualidade e parcialmente deteriorada, que não mantinha os componentes normais de terpenoides e flavonoides como canabinol (CBN) e canabidiol (CBD), defendendo que os efeitos do consumo da planta não se devem só ao THC. O termo “droga” presta-se a várias interpretações sociais e conteúdos de sentido distintos. Para o senso comum controlado pela espetacularização da notícia, é uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções, as sensações, o humor e o comportamento. As drogas estão classificadas em três formas de categorias sociais: a) as estimulantes, b) os depressores e, c) os chamados “perturbadores das atividades mentais”. O termo droga per se envolve os analgésicos, estimulantes, alucinógenos, tranquilizantes e barbitúricos, além do álcool e substâncias voláteis. As psicotrópicas são as drogas que tem tropismo e afetam o sistema nervoso central, modificando as atividades psíquicas e o comportamento. Essas drogas podem ser absorvidas ou consumidas através de várias formas no corpo: por injeção, por inalação, via oral, injeção intravenosa ou aplicada via retal (supositório). O crack é uma droga, geralmente fumada, “feita a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio”. É a forma “impura de cocaína” e não um subproduto como alguns admitem. O nome deriva do verbo “to crack”, que tem como significado “quebrar”, devido a profusão dos pequenos estalos produzidos nos cristais (“as pedras”) ao serem queimados, como “se quebrassem”.

            É neste sentido que procede nas comunidades humanas, uma força-tarefa do Órgão para o Controle/Combate das Drogas (DEA) está se aproximando das entregas do cartel para Chicago. As tensões dentro do cartel surgem quando um tenente sedento de poder assassina o chefe e, subsequentemente, exige que Earl seja mantido sob maior controle. No meio de um grande processo de carregamento de cocaína, Earl descobre que Mary está gravemente doente. Depois que Ginny tem uma conversa séria com ele, ele adia a entrega da droga para fazer as pazes com Mary antes de sua morte, o que provoca a ira do cartel de drogas. Ele retoma a entrega quando o DEA e o cartel se aproximam dele. Earl é espancado e ameaçado pelos executores do cartel, mas eles cedem depois de saber da morte de sua ex-mulher. Enquanto ele se dirige em direção ao ponto de entrega, ele é preso pelos agentes de Controle ou Combate das Drogas. Quando Earl se declara culpado de todas as acusações e é mandado para a prisão, sua família lhe demonstra seu apoio. Na prisão, ele retorna a sua horticultura. Leo Sharp ficou desanimado com os problemas financeiros com seu negócio de flores e posteriormente foi abordado por trabalhadores mexicanos em sua fazenda em Michigan (EUA), que o solicitaram para transportar narcóticos para o Cartel de Drogas de Sinaloa, no México. O sucesso de Sharp para dribrar policiais, por mais de dez anos enquanto transportava milhares de libras de cocaína, o catapultou para a lenda urbana entre os traficantes que sabiam das façanhas. Sharp usou uma picape Lincoln Mark LT para transportar de 100 a 300 kg de cocaína do Sul dos Estados Unidos até Detroit, Michigan.

           Nas comunidades de plantas de organização simples, os comensais são iguais; nas comunidades de plantas de organização complexa, os comensais são desiguais e concorrem, com suas necessidades diferentes, para uma utilização mais complexa de possibilidades do habitat comum. Do ponto de vista dinâmico, a sociabilidade das plantas é um produto direto da competição, que regula a distribuição dos indivíduos no espeço e o padrão daí resultante da relação deles entre si. No entanto, as variações no grau de sociabilidade podem afetar as condições gerais de interação das plantas. O aumento da sociabilidade, por exemplo, é útil às plantas em competição com outras espécies. A função social do meio não chega a sofrer uma diferenciação nítida; aparece como uma condição, às vezes mal perceptível, da interação dos organismos através da utilização dos recursos do habitat.  É útil ter-se em mente que o sistema de notações dos botânicos não coincide com os dos sociólogos, pois as aglomerações vegetais não possuem, do ponto de vista sociológico, as propriedades específicas da associação propriamente dita. A polêmica, neste plano terreno e abstrato, relaciona-se com os modos de interpretação que correspondam a esses atributos sociais. Alguns biólogos, psicólogos e sociólogos pensam, que as propriedades sociais das comunidades de animais, independentemente do grau técnico em que constituam produtos de mecanismos e de processos extra-sociais, possuem bastante objetividade de sentido para serem considerados isoladamente.

            O homem precisou criar, para sobreviver e tornar-se uma espécie dominante, um mundo especial para si mesmo, o qual não é mera extensão e prolongamento de seu organismo. Esse mundo, é em parte, psicossocial, dizendo respeito à capacidade do homem de substituir condições naturais de existência por outras condições mais vantajosas ou desejáveis, reguláveis artificialmente, através de técnicas culturais. Por isso, muitos autores não têm dúvidas em afirmar que mecanismos superorgânicos, resultante da combinação da herança psicológica e da herança social, no caso ideal-típico da sociologia, com a herança cultural, substituem no homem em extensão e por assim dizer, profundidade, os mecanismos predominantemente orgânicos, que regulam o comportamento social dos animais. O homem não é, apenas, um animal social, mas um ser capaz de criar e de alterar o próprio mundo social. A comunidade humana representa, desse ângulo, a revolução mais profunda porque já passaram os quadros da natureza. Ela trouxe consigo um tipo de organização da vida que, se não é autossuficiente em sentido literal, pelo menos elevou ao máximo a capacidade dos seres vivos de desenvolverem, deliberadamente, adaptações e controles ativos sobre os diferentes elementos do meio. Com isso, a porção social do meio estendeu-se em quase todas as direções abrangidas pelas atividades humanas: nela se incluem o ambiente físico, com seus recursos e possibilidades adaptativas, o próprio organismo do homem, os demais seres vivos e os agrupamentos constituídos por eles ou pelos humanos em sua reprodução social.  

            A própria evolução da palavra “confissão” e da função jurídica que designou já é característica: da “confissão”, garantia de status, de identidade e de valor atribuído a alguém por outrem, passou-se à “confissão” como reconhecimento, por alguém, de suas próprias ações ou pensamentos. O indivíduo, durante muito tempo, foi autenticado pela referência dos outros e pela manifestação de seu vínculo com outrem (família, lealdade, proteção); posteriormente passou a ser autenticado pelo discurso da verdade que era capaz de (ou obrigado a) ter sobre si mesmo. A confissão da verdade se inscreveu no cerne dos procedimentos de individualização pelo poder. Em todo caso, Foucault lembra-nos a seguinte tópica da questão: Em todo caso, além dos rituais probatórios, das cauções dadas pela autoridade da tradição, além dos testemunhos, e também dos procedimentos científicos de observação e de demonstração, a confissão passou a ser, no Ocidente, uma das técnicas mais altamente valorizada para produzir a verdade. A confissão difundiu amplamente seus efeitos: na justiça, na medicina, na pedagogia, nas relações familiares, nas relações amorosas, na esfera mais cotidiana e nos ritos mais solenes; confessam-se os crimes, os pecados, os pensamentos e os desejos, confessam-se passado e sonhos, confessa-se a infância; confessam-se as próprias doenças e misérias; emprega-se a maior exatidão para dizer o mais difícil de ser dito; confessa-se em público, em particular, aos pais, aos educadores, ao médico, àqueles a quem se ama; fazem-se a si próprios, no prazer e na dor, confissões impossíveis a outrem, com o que se produzem livros.  

Confessa-se ou se é forçado a confessar. Quando a confissão não é espontânea ou imposta por algum imperativo interior, é extorquida; desencavam-na na alma ou arrancam-na ao corpo. A partir da Idade Média, a tortura a acompanha como uma sombra, e a sustenta quando ela se esquiva: gêmeos sinistros. Tanto a ternura mais desarmada quanto os mais sangrentos poderes têm necessidade de confissões. O homem, no Ocidente, tornou-se um animal confidente. Desde a penitência cristã até os nossos dias o sexo tem sido a matéria privilegiada da confissão. É o que é escondido, dizem. E se o sexo fosse, em nossa sociedade, e numa escala que já se conta em séculos, aquilo que é submetido ao regime sem falhas da confissão? A colocação do sexo em discurso, a disseminação e o reforço do despropósito sexual são, talvez, duas peças de um mesmo dispositivo; articulam-se nele graças ao elemento central de uma confissão que obriga à enunciação verídica da singularidade sexual – por mais extrema que seja. Na Grécia a verdade e o sexo se ligavam, na forma da pedagogia, pela transmissão corpo-a-corpo de um saber precioso; o sexo servia como suporte às iniciações do conhecimento. Para nós, é na confissão que se ligam a verdade e o sexo, expressão obrigatória e exaustiva de um segredo individual. Aqui a verdade que serve de suporte ao sexo e às suas manifestações.

A confissão é um ritual de discurso onde o sujeito que fala coincide com o sujeito do enunciado; é, também, um ritual que se desenrola numa relação de poder, pois não se confessa sem a presença ao menos virtual de um parceiro, que não é simplesmente o interlocutor, mas a instância que requer a confissão, impõe-na, avalia-a e intervém para julgar, punir, perdoar, consolar, reconciliar; um ritual onde a verdade é autenticada pelos obstáculos e as resistências que teve de suprimir para poder manifestar-se; enfim, um ritual onde a enunciação em si, independentemente de suas consequências externas, produz em quem a articula, modificações intrínsecas: inocenta-o, resgata-o, purifica-o, livra-o de suas faltas, libera-o, promete-lhe a salvação. Durante séculos a verdade do sexo foi encerrada, pelo menos quanto ao essencial, nessa forma discursiva. E na do ensino (a educação sexual se limitou aos princípios gerais e às regras de prudência); não na da iniciação (que permaneceu, quanto ao essencial, uma prática muda que o ato de tirar a inocência ou deflorar só torna risível ou violenta). Vê-se, assim, que é uma forma que não poderia estar mais longe daquela que rege a “arte erótica”. Pela estrutura de poder que lhe é imanente, o discurso da confissão não poderia vir do alto na ars erotica, nem pela vontade, mas de baixo, como uma palavra requisitada, obrigada, rompendo, através de alguma pressão imperiosa, os lacres da reminiscência ou do esquecimento.

O que ela supõe como segredo não está ligado ao alto preço do que tem a dizer, nem ao pequeno número do que nele merecem beneficiar-se, mas à sua obscura familiaridade e à sua abjeção geral. Sua verdade não é garantida pela autoridade altiva do magistério, nem pela tradição por ele transmitida, mas pelo vínculo, pela mútua implicação, essencial ao discurso, entre aquele que fala e aquilo de que fala. Em compensação, a instância de dominação não se encontra do lado do que fala (pois é ele o pressionado) mas do lado de quem escuta e cala; não do lado do que sabe e responde, mas do que interroga e supostamente ignora. E, finalmente, esse discurso de verdade adquire efeito, não em quem o recebe, mas sim naquele de quem é extorquido. Com essas verdades confessadas estamos muito longe das sábias iniciações ao prazer, com sua técnica e sua mística. Pertencemos, em compensação, a uma sociedade que articula o difícil saber do sexo, não na transmissão do segredo, mas em torno da lenta ascensão da confidência.  A confissão foi, e permanece sendo ainda atualmente, a matriz geral que rege a produção abstrata da ciência e do discurso verdadeiro sobre o sexo.

Bibliografia geral consultada.

HELLER, Agnes, Sociologia della Vita Quotidiana. Roma: Editore Riuniti, 1975; KEMP, Tom, La Revolución Industrial en la Europa del Siglo XIX. Barcelona: Libros de Confrontacion, 1976; GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991; LEWONTIN, Richard, The Doctrine of DNA: Biology as Ideology. London: Penguin Books, 1993; RICOEUR, Paul, La Mémoire, l`Histoire, l`Oubli. Paris: Éditions Du Seuil, 2000; GOMES, Maria José Vasconcelos de Magalhães; REIS, Adriano Max Moreira, Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar. São Paulo: Editora Atheneu, 2006; ALBERONI, Francesco, Lições de Amor: Duzentas Respostas sobre Amor, Sexo e Paixão. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010; BENEVIDES, Pablo Severiano, O Dispositivo da Verdade: Uma Análise a partir do Pensamento de Michel Foucault. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2013; FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; FERREIRA, Adelino Alcides Abrunhosa, Cuidado de Si e Metanoia em Michel Foucault. Tese de Doutorado em Filosofia Moral e Política. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2015; MOURA BERGAMO, Thelma Maria de, Michel Foucault e os Mestres do Dizer Verdadeiro. Tese Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2015; DEJOURS, Christophe, Le Choix - Souffrir au Travail n`est pas une Fatalité. Paris: Bayard Éditions, 2015; SAMPAIO, Clarissa Magalhães Rodrigues, Identidade na Vida Adulta: A Singularidade da Experiência. Tese de Doutorado em Psicologia. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia: Psicologia Clínica. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016; MONTGOMERY, Richard Murdoch, Fragilidade e Doença de Parkinson. Tese de Doutorado. Programa de Psiquiatria. Faculdade de Medicina. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018; Artigo: “A Ciência para o Bem: em Oxford, brasileira estuda Tratamento Inédito para Mal de Parkinson”. In: https://www.vaticannews.va/pt/2022/11/21; LUIZ, Luiza Maire David, Metodologia para a Avaliação Objetiva da Bradicinesia na Doença de Parkinson. Tese de Doutorado em Ciências. Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2022; entre outros. 

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