segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Miriam Leitão – Interpretação Política & Jornalismo de Estilo Crítico.

 

Bolsonaro tem a violência como projeto político e as mulheres e a imprensa são alvos”. Miriam Leitão

        Os historiadores, como os filósofos e os historiadores da literatura, estavam habituados a uma história das sumidades. Mas hoje, diferentemente dos outros, aceitam mais facilmente trabalhar sobre um material “não nobre”. A emergência deste material plebeu na história já data bem de uns cinquenta anos. Temos assim menos dificuldade de lidar com os historiadores. Você não ouvirá jamais um historiador dizer o que alguém, cujo nome não importa, disse em uma revista incrível, Raison Présente, a propósito de Buffon e de Ricardo: Foucault se ocupa apenas dos medíocres. Atualmente, lembra o filósofo da analítica do poder, retoma-se muito a monografia, mas a monografia tomada menos como o estudo de um objeto particular do que como uma tentativa de fazer vir novamente à tona os pontos em que se produziu e se formou. O que seria então um estudo sobre uma prisão ou sobre um hospital psiquiátrico? Fizeram centenas deles no século XIX, sobretudo acerca dos hospitais, estudando a história das instituições, a cronologia dos diretores etc. Fazer a história monográfica de um hospital consistiria em fazer emergir o arquivo do hospital no movimento mesmo de sua formação, como um discurso se constituindo e se confundindo com o movimento do hospital, com as instituições, alterando-as, reformando-as. Tentar-se-ia reconstituir o limiar do discurso, no decorrer e no âmbito da história. Lembra a fase arqueológica foucaultiana que é situada além do estruturalismo e da hermenêutica, para não falarmos do que Jean-Pierre Faye (1994) fez com o discurso totalitário.

           A constituição de um corpus coloca, segundo Foucault, um problema para minhas pesquisas, mas um problema sem dúvida bem diferente da pesquisa linguística, por exemplo. Quando queremos fazer um estudo linguístico, ou um estudo do mito, vemo-nos obrigados a escolher um determinado corpus, a defini-lo e a estabelecer seus critérios de constituição. No domínio muito mais vago que estudo, o corpus é num certo sentido indefinido; não se chegará jamais a constituir o conjunto de discursos formulados sobre a loucura, mesmo limitando-nos a uma época e a um país determinados. No caso da prisão, não haveria sentido em limitarmo-nos aos discursos formulados sobre a prisão. Há igualmente aqueles que se originam da prisão: as decisões, os regulamentos que são elementos constituintes da prisão, o funcionamento mesmo da prisão, que possui suas estratégias, seus discursos não formulados, suas astúcias que finalmente não são de ninguém, mas que são, no entanto, vividas, assegurando o funcionamento e a permanência da instituição. É tudo isso metodologicamente que é preciso ao mesmo tempo recolher e fazer aparecer. E o trabalho, que para Foucault, consiste antes em fazer aparecer esses discursos em suas conexões estratégicas do que constituí-los excluindo outros discursos.

            O momento em que se percebeu ser, segundo a economia do poder, mais eficaz e mais rentável vigiar que punir. Esse momento corresponde à formação, ao mesmo tempo rápida e lenta, no século XVIII e no início do século XIX, de um tipo de exercício do poder. Todos conhecem as grandes transformações, os reajustes institucionais que implicaram a mudança de regime político, a maneira pela qual as delegações de poder no ápice do sistema estatal foram modificadas. O século XVIII encontrou um regime por assim dizer sináptico de poder, de seu exercício no corpo social, e não sobre o corpo social. A mudança de poder oficial esteve ligada a esse processo, mas por meio de decalagens. Trata-se de uma mudança de estrutura fundamental que permitiu a realização, com uma certa coerência, da modificação dos pequenos exercícios de poder. Também é verdade que foi a constituição deste novo poder microscópico, capilar, que levou o corpo social a expulsar elementos como a corte e o personagem do rei. A mitologia do soberano não era mais possível a partir do momento em que certa forma de poder se exercia no corpo social. O soberano tornava-se um personagem fantástico, ao mesmo tempo monstruoso e arcaico.  Não se pode dizer que a mudança, no nível do poder capilar, esteja absoluta e ligada às mudanças institucionais no nível das formas centralizadas do Estado.

           O que há de novo na interpretação foucaultiana (2016; 2021) é que a sua hipótese de trabalho reitera o fato social que a prisão esteve, desde sua origem, ligada a um projeto de transformação dos indivíduos. Habitualmente se acredita que a prisão era uma espécie de depósito de criminosos, de tal forma que se teria dito ser necessário reformar as prisões, fazer delas um instrumento de transformação social dos indivíduos. Isso não é verdade: os textos, os programas, as declarações de intenção estão aí para demonstrar. Desde o começo, a prisão devia ser um instrumento tão aperfeiçoado quanto a escola, a caserna ou o hospital, e agir com precisão sobre os indivíduos. O fracasso foi imediato e registrado quase ao mesmo tempo que o próprio projeto. Desde 1820 se constata que a prisão, longe transformar os criminosos em “gente honesta”, na verdade serve para “fabricar novos criminosos” ou para afundá-los ainda mais na criminalidade. Foi então que houve, como sempre nos mecanismos de poder, uma utilização estratégica daquilo que era inconveniente. A prisão fabrica delinquentes, mas os delinquentes são úteis tanto no domínio econômico como no político. Os delinquentes servem para alguma coisa. No proveito que se pode tirar da exploração do prazer sexual: a instauração, no século XIX, do grande edifício da prostituição só foi possível graças aos delinquentes que permitiram a articulação entre o prazer sexual quotidiano e a capitalização. E basta ver o medo e o ódio que os operários do século XIX sentiam em relação aos delinquentes, para compreender que estes eram utilizados contra aqueles nas lutas políticas e sociais, em missões de vigilância, infiltração, para impedir ou furar as greves etc.  


Anos depois de ser vítima de tortura pelo regime autoritário militar, a jornalista Miriam Azevedo de Almeida Leitão veio a público revelar, com detalhes, o sofrimento vivido nas dependências do quartel do Exército em Vila Velha durante a ditadura militar (1964-1984). Grávida, a jornalista foi agredida, assediada moral e sexualmente, e até colocada nua dentro de uma sala escura com uma jiboia, onde foi mantida por horas. O episódio voltou a ser comentado depois que, na tarde de domingo do dia 3 de abril de 2022), deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou redes sociais para debochar da tortura vivida por Miriam Leitão. - “Ainda com pena da cobra”, escreveu. O ataque foi motivado por um artigo publicado por Miriam no jornal O Globo na qual ela critica o posicionamento de integrantes da chamada “terceira via” de comparar e tentar igualar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o inexperiente presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), chamado por ela de “inimigo declarado da democracia”. Em agosto de 2014, a jornalista quebrou o silêncio que perdurou 42 anos e deu seu relato etnográfico ao jornalista Luiz Cláudio Cunha, após o repórter tentar diversas vezes ao longo de um mês. O depoimento foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa e reproduzido, na ocasião, pelo Congresso em Foco. Um dos jornalistas mais premiados do país, Luiz Cláudio Cunha é autor de Operação Condor: O Sequestro dos Uruguaios (2008). O Congresso em Foco volta a publicar o artigo, devido à crueldade imposta à Miriam Leitão na década de 1970 por militares associados à tortura. É um site independente e apartidário com notícias relacionadas ao Congresso Nacional no Brasil.

          O site foi lançado em 2004. É financiado por uma empresa privada criada pelo jornalista Sylvio Costa, que é o fundador e principal sócio. Tem como principais fontes de receita a publicidade que é exibida no site e na revista Congresso em Foco, disponível para venda e assinatura, além de eventos e parcerias com outros veículos de comunicação. Em 2010, iniciou uma parceria com o Universo Online (UOL), uma empresa brasileira de conteúdo, produtos e serviços de Internet do Grupo UOL PagSeguro, uma empresa brasileira que atua como meio de pagamento eletrônico e instituição bancária (PagBank) sendo uma das responsáveis pela captura, transmissão e liquidação financeira de transações com cartões de crédito e débito, tanto no meio físico (com suas máquinas sem aluguel), quanto no meio eletrônico (com suas soluções de pagamento on-line), sendo o braço mais rentável do grupo Universo Online (UOL). Em 1º de janeiro de 2006 foi lançada no mercado a BRPay fundada pelos sócios Sergio Costa, Armando Hilel e Leonardo Pascoal, a primeira plataforma de pagamentos online do Brasil. No mês de janeiro de 2007 o UOL realizou a compra da BRPay. Em 15 de julho de 2007 o UOL mudou o nome de BRPay para PagSeguro com uma campanha “BRPay agora é PagSeguro” se tornando a plataforma oficial de serviços financeiros da empresa. Em 2010, o PagSeguro contava com mais de 12 milhões de usuários cadastrados. Dois anos depois, em 2012, fez parceria com a Horus, empresa de prevenção a fraudes em meios eletrônicos de pagamentos para garantir a segurança de suas transações bancárias.  

Também em 2012, fez parceria com a Nokia para processar pagamento via Near Field Communication (NFC), tecnologia que permite a transmissão dos dados de forma segura através da aproximação de dois celulares. O PagSeguro foi a primeira empresa a implantar a tecnologia NFC no Brasil. Em 2013, o PagSeguro lançou o leitor de cartão de crédito e débito para recebimento de pagamentos através de aplicativos móveis. No mesmo ano, fez parcerias com o Cartão Mais! e com o iPAGARE Magento. Os lojistas que possuem uma loja Magento com a tecnologia do iPAGARE podem utilizar o PagSeguro no checkout. No mesmo ano, 2013, recebeu a certificação PCI-DSS (Padrão de Segurança de Dados para a Indústria de Cartões de Pagamento) e também lançou o Envio Fácil, um serviço de frete com descontos para os lojistas no envio de encomendas, sem limite de peso para todo o país. O Envio Fácil faz o rastreio das entregas através do site do PagSeguro. Em 2014, o PagSeguro lançou o aplicativo Carteira PagSeguro, o aplicativo armazena os dados disponíveis do cartão de crédito e permite a facilidade de realizar o pagamento direto em estabelecimentos através do telefone celular.   

No ano seguinte, 2015, foi destaque no XVI Prêmio Consumidor Moderno (2016) como a melhor empresa na categoria Serviços Financeiros e de Excelência em Serviços ao Cliente e foi eleita a melhor empresa na Categoria Pagamentos online, de acordo com Prêmio Época ReclameAQUI 2015. Em dezembro de 2017, o PagSeguro anuncia a compra de 50,5% do controle da startup de empréstimos Biva, centrada em micro e pequenos empresários, tendo a maior parte de suas operações voltada para a antecipação de recebíveis. Em janeiro de 2018, o PagSeguro anuncia a abertura de seu capital através de uma oferta pública de ações (IPO) na New York Stock Exchange. A operação resultou na arrecadação de cerca de US$ 2,7 bilhões, e até aquela data, considerado o maior IPO brasileiro. Em janeiro de 2019, adquiriu do Grupo Rendimento o controle do BBN - Banco Brasileiro de Negócios, depois de uma tentativa falha de adquirir o Agibank, com o intuito de acelerar sua entrada no sistema financeiro. Em maio do mesmo ano, o PagSeguro lançou o PagBank, uma conta digital oferecida gratuitamente, que permite ao cliente fazer transferências, pagamentos e recarga de celular, além de dar direito a um cartão de crédito internacional. A adesão social foi bastante significativa e, em quatro meses, o PagBank já tinha incorporado em torno de 1,4 milhões de clientes ativos.

No dia 4 de julho de 2019, anunciou um novo cartão gratuito com bandeira Visa para sua conta digital, a PagBank. O novo serviço possibilita a movimentação de contas internacionais para pagamento em lojas físicas e virtuais. Além disso, funções como, pagamento de contas, recarga de celulares, solicitação de empréstimos, portabilidade de salários e fazer e receber TED para qualquer banco serão possíveis.  Em 21 de agosto de 2020, compra a operação brasileira (MOIP) da alemã Wirecard em operação sem divulgação dos valores envolvidos. A empresa de pagamentos Wirecard surpreendeu o  “mundo financeiro” com seu sucesso vertiginoso, até uma equipe de jornalistas determinados expor a grande fraude. A incorporação adiciona R$ 120 milhões em receitas, carteira com 200 mil clientes e R$ 5 bilhões em volume total de pagamentos segundo informações publicadas pelo Valor Econômico. Ainda em agosto, o PagBank atingiu a marca de 6 milhões de clientes ativos. No mesmo ano, foi eleito pela renomada revista Forbes como um dos 4 melhores bancos do Brasil. O segundo semestre de 2020, finalizou a aquisição a Wirecard Brazil, subsidiária Wirecard, por valor não divulgado.

O escândalo da Wirecard foi uma série de práticas comerciais corruptas e relatórios financeiros fraudulentos que levaram à insolvência da Wirecard, uma processadora de pagamentos e provedora de serviços financeiros, com sede em Munique, Alemanha. A empresa fazia parte do índice Deutscher Aktienindex (DAX). Eles ofereciam aos clientes transações eletrônicas de pagamento e serviços de gerenciamento de risco, bem como a emissão e processamento de cartões físicos. A subsidiária, Wirecard Bank AG, detinha uma licença bancária comercial e tinha contratos com várias empresas internacionais de serviços financeiros. Alegações de más práticas contábeis acompanham a empresa desde os primeiros dias de sua constituição, atingindo um pico em 2019, depois que o jornal Financial Times publicou uma série de investigações junto com denúncias de denunciantes e documentos internos. Em 25 de junho de 2020, a Wirecard entrou com pedido de insolvência após revelações de que € 1,9 bilhão estava “desaparecido”, e a rescisão e prisão de seu Chief Executive Officer (CEO) Markus Braun.  Foram levantadas questões legítimas sobre algumas falhas regulatórias por parte da Autoridade Federal de Supervisão Financeira (BaFin), o principal órgão de fiscalização financeira da Alemanha, e possível negligência do auditor de longa data da Wirecard, Ernst & Young.

A empresa foi fundada em 1999. Depois que Markus Braun ingressou como CEO em 2002, a empresa se concentrou em serviços de pagamento online, começando com sites de pornografia e jogos de azar como clientes. Ao assumir a listagem da InfoGenie AG, um grupo de call center extinto, a Wirecard entrou no segmento de mercado de ações da Neuer Markt, uma ação que foi criticada por evitar o escrutínio adequado durante uma oferta pública inicial. Isso foi alcançado através de uma decisão em uma assembleia geral da InfoGenie de transferir a Wirecard não listada para a InfoGenie AG por meio de um aumento de capital contra investimento em espécie, tornando a Wirecard uma sociedade por ações listada no Prime Standard, segmento de mercado de ações por meio de IPO reverso. Uma auditoria limpa da EY em 2007 acalmou as preocupações dos investidores. A Wirecard foi incluída no TecDAX desde 2006 e no DAX desde 2018. Neste ano, as ações da Wirecard atingiram um pico, avaliando a empresa em € 24 bilhões. A Wirecard atribuiu seu rápido crescimento à rápida expansão internacional alcançada por meio da aquisição de empresas locais, resultando no crescimento de sua receita muitas vezes superando as tendências gerais do setor. Em março de 2017, a Wirecard adquiriu a Citi Prepaid Card Services e criou a Wirecard North America, entrando no mercado norte-americano. Em 2007, a Wirecard expandiu-se ao adquirir o XCOM Bank AG, permitindo-lhe emitir cartões de crédito e débito através de Acordos de Licenciamento com Visa e Mastercard. Em novembro de 2019, a Wirecard entrou no mercado chinês ao adquirir a AllScore Payment Services, com sede em Pequim.

Suspeita-se que a Wirecard tenha se envolvido em uma série de atividades contábeis fraudulentas para inflar seu lucro. Apesar das alegações, a BaFin acabou tomando poucas medidas contra a empresa antes de seu eventual colapso, optando por apresentar queixas contra os críticos da empresa e vendedores a descoberto das ações da empresa. As operações bancárias combinadas da Wirecard, por meio de sua subsidiária Wirecard Bank e aquelas não bancárias, principalmente processamento de pagamentos, dificultam a comparação de seus resultados financeiros com os de seus pares, de modo que os investidores tiveram que confiar em versões ajustadas das demonstrações financeiras da empresa. As contas “ajustadas”, ao contrário dos Relatórios que seguem as Normas Internacionais de Relato Financeiro, resultaram em lucros inflacionados e valores de fluxo de caixa. Alertas vermelhos foram levantados já em 2008, quando o chefe de uma associação de acionistas alemã atacou as irregularidades do balanço patrimonial da Wirecard. Após a realização de uma Auditoria Especial em resposta às críticas, a Ernst & Young (EY) assumiu o cargo de auditor principal da Wirecard e permaneceria pelo resto da história da empresa. Como resposta, as autoridades alemãs processaram duas pessoas devido à divulgação precária da posse de ações da Wirecard.

Apesar das denúncias bem concretas, a Wirecard negou e tentou passar um pano na história. O caso só estourou mesmo quando a empresa, após adiar quatro vezes a divulgação de seu balanço, admitiu que 1,9 bilhão de euros (US$ 2,1 bilhões) haviam desaparecido de seu resultado. Isso levou o então CEO Markus Braun a pedir demissão, para ser preso por suspeita de falsificação de contas logo em seguida. Ele foi solto em seguida após pagar fiança de cinco milhões de euros. O caso levou as ações da Wirecard, até então negociadas em torno de 104 euros, a caírem 98%, batendo uma mínima de 1,28 euro. A queda da companhia colocou a “governança corporativa” e a regulamentação do setor na Alemanha em xeque-mate. Em 2020, a empresa entrou com pedido insolvência com dívidas de cerca de 3,5 bilhões de euros (em torno de R$ 18 bilhões). Sobre o documentário O Escândalo da Wirecard, por sua vez, há muito o que comentar. O filme é um mosaico benjaminiano (enquanto entrecruzamento de teorias filosóficas) mobilizado em torno de entrevistas com os jornalistas que participaram da investigação e pelo fato de como se decorreu o caso. Entretanto, a montagem bem-feita e ágil traz o espectador consigo, tornando um assunto que já era interessante em algo ainda muito mais atrativo. Quem gosta do gênero, certamente vai adorar O Escândalo da Wirecard. Para os jornalistas e para quem critica a mídia, é uma aula de como a imprensa é historicamente importante para assuntos tão relevantes.

Em 2015, o Financial Times relatou o que viu como uma lacuna significativa entre os ativos e passivos de curto prazo no negócio de pagamentos da Wirecard. Isso foi resultado do fato de a Wirecard receber apenas uma pequena comissão de seu volume de processamento de pagamentos, e o fluxo transitório de pagamentos através das contas da Wirecard foi ajustado para refletir o pequeno corte da Wirecard. Em resposta, a Wirecard contratou os serviços da Schillings, um escritório de advocacia do Reino Unido, e da agência de relações públicas da FTI Consulting em Londres. Mais tarde, em 2015, a J Capital Research publicou um Relatório que recomendava a venda a descoberto das ações da Wirecard, pois considerava as operações asiáticas da empresa muito menores do que o alegado. Em 2016, um relatório publicado por uma entidade desconhecida chamada Zatarra Research levou a quedas nos preços das ações, levando a BaFin a iniciar uma investigação sobre uma possível manipulação de mercado. Em julho de 2021, a Wirecard contratou a empresa de investigações corporativas Alix Partners para realizar uma investigação forense das práticas contábeis que levaram à sua insolvência.

Em abril de 2021, anunciou o lançamento do PagPhone, primeiro equipamento do mundo, baseado em Android, a oferecer de forma unificada as funções de telefonia inteligente com o ecossistema financeiro completo da companhia. Em outubro de 2021, “o empresário Fábio Souza Lima acusa a PagSeguro de racismo e conspiração após a venda de sua startup Tilix, que consequentemente levou a sua prisão”. De acordo com o Comscore, a empresa ocupa a 3ª posição entre aquelas que operam propriedades multiplataforma na Internet do Brasil, atrás do Google (Google Brasil, Google dos Estados Unidos da América e YouTube) e da Meta (Facebook e Instagram), e ficando à frente do Grupo Globo (Globo.com), da Microsoft (MSN), do Grupo Record (R7), do MercadoLivre, da Telefônica (Terra), dos sítios eletrônicos operados pelo Governo Federal do Brasil, onde o mais acessado é o da Caixa Econômica Federal: “vem pra caixa você também”, da B2W Digital (Americanas.com, Shoptime e Submarino), da Shopee, da Byte Dance (Tik Tok), da Netflix, do Samsung Group e da Magazine Luiza.

Ainda de acordo com o Comscore, o Universo Online (UOL) é o maior portal do Brasil com mais de 108 milhões de visitantes únicos por mês e 7,4 bilhões de páginas visitadas mensalmente. O UOL foi fundado por Luiz Frias em abril de 1996, sendo o primeiro portal de conteúdo midiático do país. Sete meses após sua fundação, o UOL uniu-se ao portal Brasil Online (BOL) da Editora Abril, é uma editora brasileira, sediada na cidade de São Paulo, parte integrante do Grupo Abril. A empresa atualmente publica 18 títulos, com circulação de 188,5 milhões de exemplares, em um universo de quase 28 milhões de leitores e 4,1 milhões de assinaturas, “sendo a maior do segmento na América Latina”. embora a editora não possua mais participação no grupo. O Grupo UOL PagSeguro é controlado pela OFL S.A. uma holding controlada por Luiz Frias empresário e banqueiro com participação minoritária e em ações preferenciais da Empresa Folha da Manhã S. A. e tem também outros acionistas minoritários. Historicamente desde 1996, o Universo Online ganhou mais de 120 prêmios como “um dos maiores portais comerciais do Brasil”. Em 28 de abril de 1996, o UOL entrou comercialmente no mercado. Três meses depois, em julho, o UOL colocou em operação uma conexão de 2 megabits por segundo com a rede mundial Internet e, no mês seguinte, lançou o provedor de acesso à Internet em São Paulo e no Rio de Janeiro com conta de e-mail e instalação do Netscape 2.2. Foi no ano de sua fundação que surgiu um dos produtos mais icônicos da Internet no Brasil: o Bate-Papo Universo Online.

Em 1997, o UOL criou fóruns com grupos de discussões e enquetes, estreou a versão Web da “Nova Enciclopédia Ilustrada Folha”, lançou a TV UOL (1997), a primeira emissora de televisão da rede de computadores brasileira com a programação transmitida exclusivamente pela Internet, em 2019 é substituída pelo selo MOV, com programação de clipes, entrevistas e trailers e apresentou a operação AcessoNet, empresa de rede que ampliou o acesso à Internet nas principais cidades do Brasil. O UOL também expandiu a capacidade de conexão para 20 megabits e recebeu o prêmio de melhor provedor e site preferido dos internautas da revista Informática Exame em 1997. O UOL absorveu os assinantes da provedora Compuserve no Brasil, aumentou sua capacidade de conexão para 74 megabits e através do UOL Discador, acabou com a linha ocupada no acesso à rede mundial de computadores - Internet em 1998. No ano seguinte, o UOL alcançou mais de 350 mil assinantes, lançou o UOL Educação, canal de notícias do setor educacional, e estreou o Placar UOL Esporte, site que mostra em tempo real o placar multinacional de jogos de futebol no país e no mundo ocidental. Nesse período iniciou o sistema de acesso ilimitado à Internet, criou a versão online da Bíblia, passou a oferecer e-mail gratuito, através do Brasil Online (BOL), nova empresa do grupo, e expandiu as operações internacionais com portais na Argentina, México, Venezuela, Chile e Estados Unidos da América (EUA).

          Rosângela Lula da Silva, reconhecida pelo apelido Janja, nascida em União da Vitória, no Paraná, em 27 de agosto de 1966, é uma socióloga brasileira filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT). É a terceira e atual esposa do 35º presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 1983, quando tinha apenas 17 anos. Em 1990, ingressou no curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e se especializou em História na mesma instituição de ensino superior. Além disso, Rosângela possui Master of Business Administration (MBA) em Gestão Social e Sustentabilidade Social. Entre 1995 e 1996, Rosângela Lula da Silva participou como docente colaboradora do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Em 1º de janeiro de 2005, aos trinta e oito anos, Rosângela ingressou na Itaipu Binacional. Na época, não havia concurso público para o preenchimento do cargo administrativo, de maneira que ela foi selecionada por meio de análise de currículo vitae e entrevista presencial.

Na hidrelétrica, atuou como Assistente do diretor-geral e coordenadora de programas voltados ao desenvolvimento sustentável. Entre 2012 e 2016, ela atuou como assessora de comunicação e relações institucionais da Eletrobrás, no Rio de Janeiro. Em 2016, voltou à Itaipu. Em 1º de janeiro de 2020, deixou oficialmente a hidrelétrica, onde tinha um salário de 20 mil reais como servidora. Janja e seu marido Luiz Inácio Lula da Silva, conheceram-se há décadas, mas começaram o relacionamento em abril de 2018, quando o ex-presidente já era viúvo de Marisa Letícia Lula da Silva, sua segunda esposa, falecida em fevereiro de 2017. Após a prisão arbitrária de Lula, ela o visitava com frequência à sede da Polícia Federal em Curitiba, tendo a primeira visita ocorrido no Dia dos Namorados de 2018. Em uma ocasião, Janja visitou Lula durante seu horário de expediente na empresa estatal. No dia 17 de maio de 2022, foi anunciado que Lula e Janja iriam se casar no dia seguinte. O casamento ocorreu em 18 de maio de 2022, em uma casa de festas de São Paulo. O casal estabeleceu residência em um sobrado de 700m² alugado no bairro Alto de Pinheiros, na capital paulista. Em 2 de julho de 2022, aos gritos por pedidos de beijos durante comício em Porto Alegre, Lula comparou-o  com Janja ao dos personagens Juma e Joventino, na interpretação da novela Pantanal.

Pantanal é uma representação dramática da telenovela brasileira produzida pela TV Globo e exibida de 28 de março a 7 de outubro de 2022, em 167 capítulos. Substituiu Um Lugar ao Sol que por sua vez foi substituída por Travessia, sendo a 19ª novela das 21 horas da emissora. É um remake da telenovela de mesmo nome criada e escrita por Benedito Ruy Barbosa e exibida na Rede Manchete em 1990. Adaptada por Bruno Luperi, tem direção de Davi Lacerda, Noa Bressane, Roberta Richard, Walter Carvalho e Cristiano Marques. A direção artística é de Rogério Gomes e Gustavo Fernandez. Conta com as atuações de Marcos Palmeira, Dira Paes, Jesuíta Barbosa, Alanis Guillen, Irandhir Santos, Camila Morgado, José Loreto e Guito nos papéis principais. Joventino, maior peão do Pantanal, desaparece sem deixar rastros, deixando o filho José Leôncio. Dois anos depois, em uma viagem ao Rio de Janeiro, ele se casa com Madeleine, que vai com ele para o Pantanal, onde nasce seu filho, Jove, batizado com o nome do avô paterno. Benedito Ruy Barbosa é escritor, dramaturgo, jornalista e publicitário brasileiro. Chegou à dramaturgia com a peça Fogo Frio, encenada pelo Teatro de Arena de São Paulo. 

A estreia como autor de telenovelas se deu como Somos Todos Irmãos (1966), na TV Tupi, uma livre adaptação de A Vingança do Judeu, romance mediúnico da russa Vera Krijanóvscaia (1861-1924) atribuído ao espírito de John Wilmot, Segundo Conde de Rochester (1647-1680). Em seguida foi ao vivo outra novela de sua autoria, O Anjo e o Vagabundo, representando um grande sucesso de audiência. O tema mais constante nas novelas é a abordagem da vida rural e interiorana e cultura dos caboclos, bem como a imigração portuguesa no Brasil e a imigração italiana no Brasil, abordada em Os Imigrantes (1981), Vida Nova (1988), Terra Nostra (1999) e Esperança (2002), onde foi substituído por Walcyr Carrasco por problemas de saúde. Outro grande sucesso foi exibido em 1990 na Rede Manchete, como vemos é a novela Pantanal, cuja sinopse foi recusada pela TV Globo, feito este que ocorreu também com Os Imigrantes, que acabou produzida ao vivo na Rede Bandeirantes. Até então, Benedito Ruy Barbosa só havia escrito novelas para o horário das 18 horas na emissora, à qual retornou três anos depois para escrever outro grande sucesso: Renascer (1993), que marcava a estreia do autor no Horário Nobre, abordando a crendice popular, feita também em Paraíso (1982), e a saga da história de uma família nos dias antigos e atuais, com O Rei do Gado (1996).

Com saudade da vida urbana e não se acomodando a ser esposa de peão, sempre em comitivas, Madeleine convive com Filó, funcionária de sua casa. Ela era mulher de corrutela, por onde passavam comitivas de peões, e se relacionou amorosamente com José Leôncio em uma de suas viagens. Madeleine foge do Pantanal levando Jove, ainda bebê, de volta para a mansão de sua família. O menino cresce longe do pai, que, após se ver incapaz de brigar pela guarda do filho, passou a enviar fielmente uma quantia de pensão mensal, mas Jove cresce acreditando que seu pai havia morrido. Após a partida de Madeleine, Filó diz que seu filho Tadeu também é de José Leôncio. A informação é mantida em segredo, de forma que, da porta para fora, Tadeu segue como afilhado do patrão. Duas décadas depois, Jove descobre que seu pai está vivo e vai à sua procura, em um reencontro marcado por uma grande festança. Embora felizes com o momento, José Leôncio e Jove são confrontados por um abismo de diferenças comportamentais e culturais. Em meio aos ocorridos, Jove conhece Juma Marruá e eles se apaixonam. Filha de Maria e Gil, a jovem aprendeu com a mãe a se defender do “bicho homem”, que matou toda a família devido a conflitos de terras, tornando-se uma mulher selvagem e arredia. Logo depois, José Lucas de Nada, filho desconhecido de José Leôncio, chega à fazenda por obra do destino e descobre ali os laços genéticos familiares que nunca teve.

O Congresso em Focomutatis mutandis - também edita o Painel do Poder. Em abril de 2009, ao lado de outros veículos de comunicação, denunciou gastos irregulares na Câmara dos Deputados do Brasil, no que ficou reconhecido como Escândalo das Passagens Aéreas é nome popular usado para designar uma crise política do Brasil sobre o uso irregular da cota de passagens aéreas a que todo parlamentar tem direito no Congresso Nacional. As cotas que os deputados tem direito são bancadas pelo erário público, e em vez de serem usadas pelos deputados para retornar as suas bases eleitorais, por muitas vezes patrocinaram viagens ao exterior, ou viagens de amigos e parentes dos deputados. No dia 4 de abril de 2009, o jornal O Estado de S. Paulo, revelou que ao menos quatro senadores teriam usado o dinheiro destinado à compra de bilhetes aéreos para fretar aviões particulares, com agravante de ter sido feito com o aval da mesa diretora do senado. Segundo a publicação, o Ato da Comissão Diretora do Senado, datado de 15 de dezembro de 1988, que extingue à ajuda de custo para transporte aéreo, não prevê, que os bilhetes possam ser transformados em dinheiro para fretar jatinhos. Apesar de tudo, quatro senadores - Tasso Jereissati (PSDB-CE), Mário Couto (PSDB-PA), Jefferson Praia (PDT-AM), Heráclito Fortes (DEM-PI) - segundo o próprio senador Jereissati “ele teria gasto cerca de R$ 358 mil reais nessa modalidade”, mas teria sido autorizado pela mesa diretora do Senado, através do seu primeiro-secretário o senador Efraim Morais (DEM-PB).

No dia 14 de abril de 2009, o site Congresso em Foco, denuncia que o deputado Fábio Faria (PMN-RN), teria usado sua cota de passagens aéreas para pagar viagens de atores da TV Globo - Kayky Brito, Sthefany Brito e Samara Felippo - para o Carnatal, “carnaval fora de época da cidade de Natal”, também para pagar sete viagens da sua ex-namorada Adriane Galisteu, e de sua mãe Emma Galisteu, entre outras pessoas, entre os anos de 2007 e 2008. No dia 15 de abril do mesmo ano, o Congresso em Foco, revela que deputados que se tornaram ministros continuaram usufruindo da cota de passagens aéreas a qual tem eles tinham direito como deputados, mas o Ato 42 da Mesa da Casa, de 2000, afirma que os deputados não podem utilizar a cota enquanto seus suplentes estiverem em exercício. O ministro José Mucio (PTB-PE), após assumir o cargo no Palácio do Planalto utilizou o expediente 54 vezes, o ministro Reinhold Stephanes fez uso do mesmo 15 vezes, o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) usou 4 vezes. Das 54 viagens feitas através da cota de José Mucio apenas 4 o tiveram como passageiro. De acordo com o Congresso em Foco, os voos contratados pelo ministro saíam de Brasília-Rio, Recife, São Paulo-Porto Alegre. E ainda existem sete viagens realizadas por parentes do ministro.

No dia 16 de abril, é revelado que cinco dos onze integrantes da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, usaram a sua cota de passagens aéreas para viajar ao exterior, ou bancar viagens de amigos e parentes. O deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) na época segundo-secretário da Câmara usou sua cota para patrocinar viagens internacionais de sua mulher, uma neta e suas três filhas. - “Sua mulher Ana Elisa e sua a filha Shely viajaram para Frankfurt, Milão e Nova York através das cotas”. Outras duas filhas “receberam passagens para Frankfurt e Nova York, e a neta Amanda recebeu passagem para Miami”. O terceiro-secretário, Odair Cunha (PT-MG), o quarto-secretário, Nelson Marquezelli (PTB-SP), o terceiro suplente, Leandro Sampaio (PPS-RJ), e o quarto suplente, Manoel Junior (PSB-PB) também usaram suas cotas para viagens ao exterior. O deputado Leandro Sampaio usou a cota para emitir onze bilhetes para Alemanha, Chile e Argentina para ele, seus amigos e sua família. Em resposta disse que estava participando de encontros antiaborto. Nelson Marquezelli viajou a Nova York e Buenos Aires com a mulher, Maria Alice, em resposta disse que Maria Alice comprou seus próprios bilhetes e usou milhagens para os seus bilhetes. E disse desconhecer três pessoas da mesma família - Luana, Luma e Robert Leroy - que viajaram para Paris com cotas de seu gabinete.

O deputado Odair Cunha teve sua cota usada para emitir um bilhete para Geraldo Silva viajar de Buenos Aires para o Rio, em maio de 2008, o deputado explicou que cedeu milhagem para um padre conhecido. “O uso da cota foi para pagar a taxa de embarque, de R$ 92, mas mandei devolver”. Manoel Junior, o quarto suplente da Mesa, teve passagem de Buenos Aires para São Paulo emitida em sua cota. A assessoria do deputado em resposta disse que ele não lembra o motivo da viagem. No dia 17 de abril, é revelado que passagens da cota da deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS) foram emitidas em nome do Protógenes Queiroz quando este viajou para Porto Alegre para participar de uma palestra na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e de um ato contra a corrupção. No dia 20 de abril, o presidente da Câmara Michel Temer (PMDB-SP) que ele destinou “parte da cota de passagens aéreas a familiares e terceiros não envolvidos diretamente com a atividade do parlamento”, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) também admite que usou sua cota de passagens aéreas para levar sua filha ao exterior.

Segundo um estudo do Ponto de Inflexão, publicado pela Sembra Media em parceria com a empresa filantrópica Omidyar Network, o Congresso em Foco foi alvo de 50 processos judiciais até 2017, após “denunciar salários de políticos que estavam acima da média”. Em 2019, lançou a primeira campanha de crowdfunding para apoiar o site, no Catarse. Crowdfunding, ou melhor, em bom português, financiamento coletivo, é a prática ordinária que promove o fato econômico de arrecadar dinheiro de vários indivíduos ou fontes para financiar um novo projeto. Frequentemente, os benditos empreendedores recorrem às redes sociais para compartilhar sua plataforma ou ideia visando inspirar outras pessoas a contribuir para uma campanha de crowdfunding. Em vez de esperar uma ideia de produto para uma equipe de investidores, os empreendedores podem levar suas ofertas diretamente ao público para buscar apoio financeiro de pessoas, empresas e organizações interessadas. Em outras palavras, o tempo de espera entre uma ideia e recursos para torná-la realidade pode ser muito reduzido.

            Luiz Cláudio Cunha é jornalista brasileiro e trabalhou para diferentes órgãos de imprensa como os jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Correio Braziliense, Zero Hora, Diário da Indústria e Comércio, e as revistas Veja, IstoÉ e Afinal. Comandou a redação da Veja em Porto Alegre (1973-1980) e em Brasília (1981-1983). Também em Brasília, chefiou a redação de IstoÉ (1984) e, Afinal (1985-1986), e de O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, Zero Hora e Diário da Indústria e Comércio. Sua carreira jornalística está marcada pela reportagem investigativa e pelo jornalismo político. Ganhador de vários prêmios jornalísticos, cobriu episódios políticos marcantes da história recente do Brasil e escreveu sobre crimes contra os direitos humanos realizados pelas ditaduras militares do Cone Sul. Dentre seus trabalhos mais importantes, destaca-se a série de reportagens realizadas entre 1978 e 1980, sobre o episódio reconhecido como “Sequestro dos Uruguaios”, uma tentativa ilegal de militares brasileiros e uruguaios para a prisão de ativistas uruguaios, no âmbito da clandestina Operação Condor. O trabalho, realizado em conjunto com o fotógrafo J.B. Scalco, rendeu-lhe o prêmio principal do Esso de Jornalismo de 1979. Em 2008, o livro Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios - uma reportagem dos tempos da ditadura, recebe da Câmara Brasileira do Livro Prêmio Jabuti, e menção honrosa do Prêmio Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ambos na categoria de Livro-Reportagem. É detentor do Título de Notório Saber em Jornalismo pela Universidade de Brasília.

            Em novembro de 1978, alertado por um telefonema anônimo, Luiz Cláudio Cunha testemunhou com o fotógrafo da Revista Placar J. B. Scalco uma ação em Porto Alegre da Operação Condor, um grande aparato de terrorismo de Estado conjunto entre diversos países do Cone Sul. Era o sequestro dos ativistas políticos uruguaios Universindo Díaz e Lilian Celiberti e seus dois filhos, Camilo e Francesca. Os uruguaios são hoje os únicos sobreviventes uruguaios da Operação Condor, graças ao testemunho de Cunha e Scalco e à investigação jornalística empreendida por sua equipe da Revista Veja. Pela série de reportagens sobre o Sequestro dos Uruguaios publicadas em Veja durante 86 semanas, 630 dias, quase vinte meses, cerca de dois anos, Cunha recebeu, junto com o fotógrafo João Batista Scalco, o Prêmio Esso de Jornalismo de 1979, na categoria principal. O júri foi presidido pelo repórter Joel Silveira e composto por Paulo Henrique Amorim, Carmo Chagas, Luiz Carlos Lisboa e Mário Moraes. O trabalho de Cunha conquistou ainda premiação principal do Prêmio Nacional TELESP; o I Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, e ainda o Prêmio Hors Concours da Editora Abril. O trabalho de Luiz Cláudio Cunha recebeu voto de louvor encaminhado pelo jurista Jean-Louis Weil em nome do Secretariat International des Juristes pour l’Amnistie en Uruguay, durante o Colóquio sobre la Política de Institucionalizacion del Estado de Exception y su Rechazo por el Pueblo Uruguayo, realizado em Genebra, Suíça, em 27-28 de fevereiro de 1981.

         Em dezembro de 2010, o Grupo UOL, por meio de suas subsidiárias UOL Host Data e DHC Outsourcing, comprou a Diveo Broadband Networks, empresa americana de outsourcing de tecnologia, o que deu origem ao UOL Diveo, empresa que oferece soluções em TI, desde serviços básicos de infraestrutura até tecnologias estado-da-arte dentro dos pilares de Big Data, IoT, Inteligência Artificial e Transformação digital. No ano seguinte, lançou aplicativos de notícias para iPhone e iPad, o GigaMail e o UOL Cursos Online, portal que oferece cursos livres de idiomas, técnicos, graduação, extensão e pós-graduação. Em 2012, o UOL ampliou sua parceria com o Discovery Kids, lançou o curso de inglês online, anunciou o novo portal UOL Mulher, que mais tarde se tornaria o Universa, criou um aplicativo sobre a Formula 1 e lançou o UOL Viagens, portal com dicas, roteiros e notícias de viagens. Foi nesse ano também que nasceu o UOL EdTech, plataforma que oferece soluções de aprendizagem online para atender aos desafios e necessidades de todas as fases da vida das pessoas. O UOL renovou o layout do seu portal e passou a hospedar o Portal da Turma da Mônica em 2013. No ano seguinte, em 2014, lançou um aplicativo móvel para o bate-papo e foi eleito pela pesquisa do Ibope Conecta o site que mais auxilia na busca de informações para os internautas paulistanos.

No mesmo ano, fez parcerias com a RedeTV! que passou a ser hospedada em seu portal e com o Clarín, um dos maiores jornais da Argentina, para disponibilizar o conteúdo do UOL em seu portal em português. Foi também em 2014 o lançamento do UOL TAB, o novo projeto de conteúdo multimídia do UOL com reportagens especiais em formatos que promovem a interação com o usuário. Em 6 de janeiro de 2017, o portal sofreu um ataque de crackers, que redirecionaram para sites pornográficos os sites do UOL e de seus parceiros, como os da Folha de S. Paulo, ESPN Brasil e RedeTV! além de serviços de e-mail. Como o ataque redirecionava sites, é provável que tenha se tratado a um ataque aos servidores de DNS do portal. O ataque ocorreu às 2h50 da madrugada e foi corrigido por volta das 4 horas.  No final de 2017, o UOL aderiu, em fase de testes, ao modelo  paywall, já adotado por veículos tradicionais da mídia brasileira, restringindo o acesso de usuários não-assinantes aos conteúdos do portal. Em novembro de 2017, o lançamento de UOL Viva Bem, a plataforma do UOL voltada à saúde e bem-estar que no dia 8 de março de 2018, aproveitando o Dia Internacional da Mulher, o UOL lançou a plataforma Universa, com pautas desde saúde e beleza a política e carreira feminina.

Em 8 de agosto de 2014, uma matéria do portal de O Globo afirmou que um dispositivo conectado à internet através da “rede sem fio” do Palácio do Planalto alterou, em maio de 2013, informações das páginas de Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na Wikipédia, com o objetivo de difamá-los. As informações inseridas no artigo de Miriam qualificavam suas análises e previsões econômicas como “desastrosas”, além de acusá-la de ter defendido “apaixonadamente” o banqueiro Daniel Dantas quando este foi preso pela Polícia Federal. Esta última acusação ocorreu em razão de comentário de Miriam Leitão na Rádio CBN onde ela defendia a inocência de Dantas. A CBN é uma rede de rádio brasileira, pertencente ao Sistema Globo de Rádio. Foi criada em 1.º de outubro de 1991 pelo jornalista Roberto Marinho, como projeto de rádio All News, com programação jornalística 24 horas por dia, além de se dedicar às transmissões de futebol. O Palácio do Planalto, em nota, explicou que não possui maneiras de identificar o autor das críticas, uma vez que o IP usado na alteração era tanto pela sua rede interna quanto pela rede sem fio do Palácio e possibilitaria a qualquer visitante do Planalto realizar tal alteração. As Organizações Globo foram criticadas por divulgar alterações das biografias de seus contratados na Wikipédia, com utilidade de uso, de caráter colaborativo e aberta à edição de todos e que, segundo seu próprio criador, Jimmy Wales, lembrando que as informações veiculadas não devem ser usadas como fonte primária de informação.

Jimmy Donal Wales, nascido em Huntsville, a cidade mais populosa do estado norte-americano do Alabama e sede do condado de Madison, em 7 de agosto de 1966 é um empresário norte-americano da rede mundial de computadores, reconhecido pelo público pelo fato de ter sido um dos fundadores da Wikipédia, em 2001. Atualmente, ele é membro do conselho de administradores da Fundação Wikimedia e é um dos fundadores da Wikia, uma propriedade privada de serviço livre de hospedagem de sites criado em 2004. Com Larry Sanger, ajudou a popularizar a tendência do desenvolvimento comercial da web que visa facilitar a criatividade, a educação e o conhecimento humano de acesso livre, por meio da colaboração compartilhada entre usuários. Jimmy criou a Wikipédia inspirado pela Teoria da Ordem Espontânea, do economista e filósofo Friedrich Hayek (1899-1992), diz respeito ao surgimento espontâneo de ordem no caos aparente; o surgimento de vários tipos de ordem sociais a partir de uma combinação de indivíduos autointeressado que não estão intencionalmente tentando criar ordem, pois segundo Hayek, o conhecimento se encontra disperso pela sociedade. Com o produto de seu trabalho com a Wikipédia, que se tornou a maior Enciclopédia do mundo, a revista Time listou Jimmy Wales como uma das pessoas mais influentes do mundo em 2009. Neste mesmo ano, recebeu uma premiação da Fundação Nokia por suas contribuições para a evolução da World Wide Web (WWW) como plataforma participativa e verdadeiramente democrática. A Fundação Matias Machline, ou Fundação Nokia, é uma instituição localizada na região Norte, na Zona Franca de Manaus, Amazonas, Brasil.

Era mantida pela empresa Nokia e posteriormente pela Microsoft. A entidade conta com mais de 800 alunos e é considerada a melhor escola técnica das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A instituição possui laboratórios, biblioteca com mais de 14 mil títulos e equipamentos interativos e oferece vagas para ensino médio, ensino médio integrado ao técnico, cursos técnicos, cursos profissionalizantes e cursos online. A Fundação Nokia é uma das melhores em desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) da Região Norte e vitórias em diversas olimpíadas do conhecimento e feiras científicas. A 9 de maio de 2010, no decurso da polêmica gerada pela sua intervenção no projeto Commons sobre remoção de imagens de caráter pornográfico, Jimmy Wales removeu os privilégios executivos do estatuto de fundador da Wikipédia, conservando os relativos à visualização de edições, de modo a que a discussão sobre o seu estatuto não interferisse no debate em curso sobre o conteúdo editorial. Em 2 de fevereiro de 2016 recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Université Catholique de Louvain. Também foram criticadas por só terem noticiado as alterações em plena campanha eleitoral de 2014 quando concorriam os três principais candidatos à Presidência da República: a presidente Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos. No dia seguinte ao da reportagem d`O Globo, o jornalista Miguel do Rosário divulgou um usuário que navegava na rede da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo, ligado ao governo do estado e ocupado pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), um partido político de centro, centro-direita.

Fundado em 1988 e registrado definitivamente em 1989, surgiu a partir de uma cisão do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) que mesclava pari passu o ideário da social-democracia, da democracia cristã e o fundamentalmente o liberalismo econômico e social e que faz oposição ao Partido dos Trabalhadores (PT) inseriu uma calúnia na biografia do músico Raul Seixas (1945-1989) e apontou que a rede Globo não deu a mesma atenção ao caso. Ele também relatou que já visitou o Palácio do Planalto e que teve acesso à senha da rede sem fio do gabinete presidencial e que qualquer visitante poderia ter efetuado a edição. Em 11 de setembro de 2014, uma Comissão de Sindicância Investigativa identificou um servidor público como autor das alterações dos verbetes da Wikipédia sobre Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg. Em audiência realizada no Juizado Especial Criminal de Brasília, em 20 de agosto de 2015, o servidor público aceitou a proposta de transação penal. A comprovação da obrigação, com vista à extinção do processo por calúnia, difamação e injúria, é feita mediante Relatório e Folha de Frequência no cartório do Juizado Especial Criminal.

            Miriam Azevedo de Almeida Leitão nasceu em Caratinga em 7 de abril de 1953. É um município no interior do estado de Minas Gerais, região Sudeste do país. Localiza-se no Vale do Rio Doce e pertence ao colar metropolitano do Vale do Aço, estando situado a cerca de 310 km a leste da capital do estado. Miriam Leitão é jornalista e apresentadora de televisão brasileira. Formada na Universidade de Brasília, exerce a profissão há 40 anos. Iniciou sua carreira em Vitória, estado do Espírito Santo, tendo atuado em diversos meios de trabalho e de comunicação, seja em jornal, rádio e televisão, tais como Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, Veja, O Estado de S. Paulo, O Globo, Rádio CBN, Globo News e Rede Globo. Foi repórter de assuntos diplomáticos da Gazeta Mercantil e editora de economia do Jornal do Brasil. Em 1972, quando estava grávida, foi presa e torturada física e psicologicamente pelos próceres da ditadura militar brasileira por ser militante do Partido Comunista do Brasil. O nome Partido Comunista do Brasil havia sido usado primeiramente pelo PCB, fundado em 25 de março de 1922. Dos nove membros que fundaram o PCB só o barbeiro Abílio de Nequette (1888-1960) e Manoel Cendón são socialistas, enquanto outros vinculam-se aquele movimento. Uma leitura atenta da obra de Otávio Brandão, escrita em 1924 sob pseudônimo de Fritz Mayer, Agrarismo e Industrialismo, as revoluções pequeno-burguesas de 1922 e 1924, cometeram erros graves, anterior à sua adesão afetiva ao PCB em 15 de outubro de 1922, verifica as influências anarquista e mística nos ensaios e livros, que traduzem o predomínio do questionamento, esquemático e acentuadamente ideológico, resistindo traços políticos da doutrina anarquista mesmo considerado na análise comparativa em algumas das posições políticas partidárias pós-adesão ao ideário emergente comunista.

Não poderíamos repetir o mesmo com Astrojildo Pereira, homem de leitura mais vasta, bom conhecedor da literatura socialista europeia em geral, e em particular a teoria da história e o método de análise materialista e dialético de Marx e Engels. Em 1929, publicou em A Classe Operária o artigo “Sociologia ou apologética?”, estudo crítico da obra de Oliveira Vianna, Populações Meridionais do Brasil, em que eram contestadas as opiniões do autor, que negava a existência de luta de classes na história do Brasil. O trabalho foi depois incluído nos livros Interpretações (1944) e Ensaios históricos e políticos (1979). Lembra Vanilda Paiva no artigo: Oliveira Vianna: Nacionalismo ou Racismo?  (1978), que a presença de Oliveira Vianna na vida intelectual brasileira é frequentemente subestimada, especialmente entre os que passaram a viver os problemas políticos e culturais de forma plenamente consciente a partir dos anos 1960. Sobre ele são amplamente reconhecidos o ensaio de Nelson Werneck Sodré, Oliveira Vianna – o racismo colonialista (1961) e o estudo de Astrojildo Pereira intitulado: Sociologia ou Apologética? (1929) e reunido com Interpretações (1944). Ambos os autores se concentraram com justiça sobre o caráter racista e de apologia das classes dominantes que permeia a obra Populações Meridionais do Brasil que levou o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (1978) a caracterizá-lo como “autoritarismo instrumental”.

O colunista é um profissional do jornalismo que trabalha escrevendo regularmente para empresas de comunicação social, produzindo textos não necessariamente noticiosos denominados colunas. Ipso facto nos periódicos do século XIX, tudo que não era notícia era diagramado numa única coluna vertical. Era literal de alto a baixo da página, à parte do resto do conteúdo, exceto pelos folhetins, publicados na parte inferior da primeira página, ocupando a maioria das colunas da esquerda à direita. O colunista não precisa ser jornalista, o que significa, no caso brasileiro, não precisar ser bacharel em Jornalismo. Alguns dos colunistas brasileiros reconhecidos, como Luís Fernando Veríssimo e Arnaldo Jabor, não são jornalistas. A Coluna surgiu em virtude da diagramação dos textos não-noticiosos publicados em espaço predeterminado no jornal. Com o passar do tempo, os textos de colunas deixaram de ser limitados a uma coluna de diagramação. Quando passaram mudaram o formato, mantiveram o caráter de colunas curtas, em notas, ou observações do cotidiano, em linguagem de crônica.

Até a década de 1990, era mais comum que cada coluna jornalística tivesse um tema específico, a despeito dos autores que assinassem os textos. Assim, o mesmo espaço era preenchido por diversos profissionais, versando sobre os mesmos assuntos, por exemplo, a coluna social de Carlos Swann, publicada no jornal O Globo, assinada por mais de um autor. Na verdade, o nome que imprimia a assinatura era fictício, homenagem ao protagonista Charles Swann de “Em busca do tempo perdido”, a obra-prima de Marcel Proust, a partir da ideia de Álvaro Americano, o primeiro titular do lugar praticado, que foi publicado de 20 de maio de 1963 a 8 de maio de 1989. Desde 1991 Miriam Leitão é funcionária do Grupo Globo, quando na época ela ganhou uma coluna no Jornal O Globo. Em 1996, ela passou a ser comentarista de economia do Jornal Hoje (JH) ao lado de Fátima Bernardes. Após a saída do JH, Miriam Leitão optou pela análise econômica e se tornou colunista do Bom Dia Brasil, assumindo função que era de Ana Paula de Vasconcelos Padrão, jornalista, repórter, editora e empresária brasileira. Foi jornalista de TV por 27 anos, com passagens pela Manchete, Globo, SBT e Record. Em 2003 Miriam Leitão assumiu o Espaço Aberto Economia, substituindo Joelmir José Beting, um jornalista e sociólogo, profissionalmente de grande contribuição para o jornalismo bem como para a economia e a comunicação social, tendo em vista que Joelmir foi um pioneiro na tradução dos difíceis termos técnicos econômicos para a vida cotidiana, mas que subaproveitado pela emissora “havia sido demitido por participar de comercial”.

            Não por acaso atualmente colunistas têm recebido mais destaque do que as colunas. O que lhes permite escrever sobre praticamente qualquer tema, auspicioso, desde que o leitor identifique neles um estilo próprio do autor. Este fenômeno tem aproximado os textos de coluna do chamado jornalismo literário. Um tema auspício na antiga Roma era um sinal dos deuses que os áugures tiravam do céu. Era necessário, sobretudo ao cruzar certos limites, para conhecer a vontade dos deuses. Não o fazer seria uma afronta para eles e, segundo a mentalidade dos romanos, teria causado terríveis desastres. Um áugure oficiava a cerimônia, reconhecida como na interpretação para “tomar os auspícios” e lia as pautas das aves no céu. Dependendo do pássaro, os auspícios dos deuses podiam ser favoráveis ou desfavoráveis. Por vezes, subornados, ou por motivos políticos, os áugures fabricariam auspícios desfavoráveis para retardar certas funções estatais como no âmbito das eleições. Um dos mais famosos auspícios é o que se relaciona com a fundação de Roma. Quando os fundadores, Rômulo e Remo, chegaram ao Palatino, discutiram sobre onde queriam exatamente alçar a cidade no estratégico e facilmente fortificável Aventino. Os dois concordaram decidir a discussão pelo desejo dos deuses, provando as suas habilidades como áugures. Cada um sentou-se no chão, separados entre si e, segundo Plutarco, Remo viu seis abutres, enquanto Rômulo viu doze.  

Segundo Juan Bautista Carrasco (cf. Gomes, 2018), os adivinhos cingiam a sua cabeça com coroas de louro, porque esta árvore estava consagrada a Apolo, e ademais levavam um ramo do mesmo na mão, às vezes mastigavam as suas folhas, o seu alimento ordinário eram as partes principais dos animais proféticos; as cabeças dos corvos, abutres. Era a sede dos prítanes, ou seja, dos membros do governo das cidades-Estado da Grécia Antiga. No Pritaneu de Atenas os adivinhos eram pagos pelo tesouro público.  Rômulo tinha ditado uma lei que proibia expressamente aos funcionários públicos que admitissem qualquer cargo ou emprego público, até mesmo a mesma dignidade real, sem ter antes obtido os auspícios favoráveis; a sua prática foi observada com a maior escrupulosidade no tempo de Tarquínio Prisco, por causa do engano atribuído ao célebre Ácio Návio, de ter partido uma pedra com uma navalha, de modo que para a criação dos magistrados, declarar e empreender a guerra ou a celebração das eleições, era indispensável que os precedessem os auspícios. Esta lei de Rômulo, permitindo-lhe se erigir em arbitro para declarar bons ou maus os presságios, foi observada estritamente no tempo da República Romana, até que os tribunos conseguiram participar dos cargos e dignidades que serviam os patrícios, privando a estes dos vários meios empregues para saciar a sua ambição pelos cargos e os simulacros em termos de biopoder. Os auspícios, sempre necessários para todos os negócios públicos e privados, até mesmo para a celebração do matrimônio, como diz Cícero, sofreram modificações segundo os objetos e maneiras em que se praticavam.

            Miriam Leitão é reconhecida por ser uma “comentarista econômica” e pela “fama de brigona”, o choro da jornalista ao falar sobre a morte de Zilda Arns (1934-2010), médica, pediatra e sanitarista brasileira, contrapõe, segundo Alberto Dines, “o mito da objetividade” e “torna a profissão do jornalista menos burocrática, menos fleumática”. Para o comentarista econômico Carlos Alberto Sardenberg, ela “nunca se contentou com as explicações oficiais. No jornal O Globo onde é colunista e em seu blog, Mirian Leitão publicou uma matéria denominada “Miséria do Debate” onde acusava a algumas pessoas de distorcer certas realidades. Declarou que os jornalistas Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino são pessoas que pertencem a “direita hidrófoba” pelas denúncias que faziam sobre o governo petista. Ela citou a declaração da Suzana Singer, ombudsman do jornal Folha de S. Paulo, que denominou Reinaldo Azevedo de “rottweiler”, pois este fora contratado por aquele jornal para publicar uma coluna semanal. Escreveu de forma considerada forte como a frase: - Os epítetos petralhas e privataria se igualam na estupidez reducionista. Termos este utilizados por ambos jornalistas em suas matérias.

            Durante a crise financeira internacional, em 29 de junho de 2009, Miriam Leitão escreveu o seguinte sobre a previsão de crescimento do Ministro Guido Mantega de 4,5% do PIB de 2010: - “Ele fez uma afirmação de que em 2010 o Brasil está preparado para crescer 4,5%. É temerário dizer isso”. De fato, o alto crescimento de 7,5% daquele ano foi acima do potencial do Produto Interno Bruto e fez a inflação se distanciar do centro da meta durante todo o mandato da presidente Dilma Rousseff. Em abril de 2007, Dilma já era apontada como possível candidata à presidência da República na eleição de 2010. Naquele mesmo ano, o presidente Lula passou a dar destaque a então ministra com o objetivo de testar seu potencial como candidata. Em abril de 2009, Lula afirmou: “Todo mundo sabe que tenho intenção de fazer com que Dilma seja candidata do PT e dos partidos, mas se ela vai ganhar vai depender de cada brasileiro”. Para cumprir com a lei eleitoral de desincompatibilização, Dilma deixou o Ministério da Casa-Civil em 31 de março de 2010, sendo sucedida por Erenice Guerra. A Convenção Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizada em Brasília dia 13 de junho de 2010, oficializou Dilma Rousseff a candidata à presidência, bem como oficializou o então presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, como seu candidato a vice-presidente.

 A coligação de Dilma e Temer recebeu o nome “Para o Brasil Seguir Mudando” e foi composta por dez partidos. Em seu discurso de aceitação como candidata, declarou: “Não é por acaso que depois desse grande homem o Brasil possa ser governado por uma mulher, uma mulher que vai continuar o Brasil de Lula, mas que fará o Brasil de Lula com alma e coração de mulher”. Ainda em 2009, Míriam Leitão alertava que os fortes empréstimos dados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao grupo de Eike Batista não eram saudáveis à economia e expunham o banco a riscos de poucos grandes grupos. Em 2013, várias empresas do grupo entraram em concordata. Em decorrência da morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner no dia 27 de outubro de 2010, Miriam postou em seu blog que com a morte do ex-presidente “acaba o Kirchnerismo”, no sentido de que o estilo de governar do presidente argentino estaria chegando ao fim. No dia 23 de outubro de 2011, Cristina Elisabet Fernández de Kirchner foi reeleita presidente da Argentina no primeiro turno das eleições presidenciais, mas a grave crise econômica que atingiu o país nos anos seguintes fez sua popularidade política cair drasticamente. Pesquisa de 2014 já apontava que 67,5% dos argentinos desaprovavam o seu governo. O país entrou em nova moratória e o que agravou sua crise cambial. Após deixar a presidência da República, Cristina Kirchner fundou um think tank, o Instituto Pátria, e foi novamente eleita senadora pela província de Buenos Aires em 2017. Em 2019, surpreendeu ao anunciar que seria candidata à vice-presidência na eleição em vez de presidente, alegando que a decisão se deu pela necessidade de formar ampla aliança governamental peronista. Com Alberto Fernández como cabeça da chapa, Cristina se elege como vice-presidente da Argentina, a terceira mulher a ocupar o cargo. 

Na tentativa de observar – mutatis mutandis - o que se dá na relação vivida, segundo Mariano (2020) em uma entrevista jornalística, quais são seus motivos, seus riscos e suas virtudes, a autora percorre o conteúdo das interações e o quão “verídico” ele pode ser, dialogando com conceitos dos estudos sobre a questão da memória: a) as diferentes manifestações da memória; b) a indissociabilidade entre memória e identidade; e, c) as ideias de memória coletiva, memórias abertas e fechadas, esquecimentos e silenciamentos. Ao longo deste texto nos reportaremos a uma entrevista veiculada em 2018, durante a campanha eleitoral à Presidência do Brasil, com o então candidato à Vice-Presidência, Antônio Hamilton Mourão. Longe de ser uma escolha aleatória, acreditamos que o trecho sintetiza aspectos importantes para compreender uma vigorosa disputa de memórias que se acentua no Brasil contemporâneo e que tem repercutido nos veículos de comunicação e redes sociais, já anunciando ambições de influenciar políticas públicas.

Durante a campanha eleitoral à Presidência de 2018, os candidatos à Presidência e à Vice-Presidência foram entrevistados em diversos veículos de comunicação social. Na verdade, um trecho, muito expressivo, de diálogo entre a jornalista Miriam Leitão e o candidato Antonio Hamilton Mourão (AHM). A sequência de perguntas e respostas durou 1 minuto e 37 segundos e ocorreu no programa Sabatina Globo News, exibido pela TV a cabo Globo News em 7 de setembro de 2018, com duração aproximada de 1 hora (cf. Globonews, 2018). O então candidato Mourão estava sendo entrevistado por 7 jornalistas quando, após 27 minutos de entrevista, ocorreu o  diálogo exclusivo com Miriam Leitão: Antônio Hamilton Mourão (AHM) – Tivemos o governo Geisel, extremamente estatizante, mas também tivemos o Castelo Branco, que tinha Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões, que foi o passo inicial, né? Miriam Leitão – Foi um período muito curto de pensamento mais liberal. AHM – Foi pouco, é…Miriam Leitão – O senhor acha que eles erraram? AHM – Acho que Geisel errou. Acho. Acho. É minha visão. Miriam Leitão – Só Geisel? Médici não? Ninguém? AHM – Médici foi diferente, foi um governo diferente. Agora, o Geisel foi o homem que realmente…Miriam Leitão – O senhor acha que foi melhor? Médici foi um melhor governo do que Geisel? AHM – Foi. Na minha visão, sim. ML – Mas não foi o período mais duro da ditadura, da repressão? AHM – É… Miriam, essa questão da ditadura, né? Isso é história, né? Eu sei que você teve a sua passagem difícil aí nesse período, não é? Mas isso é história. Miriam Leitão – Não falo por mim, falo pela história.

AHM – A história terá que ser bem contada a esse respeito. Nós tivemos grupos organizados que tentavam implantar um outro tipo de ditadura, vamos colocar assim. Atacaram o Estado. O Estado se defendeu. E quando ocorre guerra, a primeira coisa que é vítima é a razão. ML – O senhor tem dito, e também o candidato Bolsonaro, que o coronel Carlos Brilhante Ustra é um herói. [Mourão sacode a perna, começa a balançar os dedos da mão direita, desvia o olhar, balança a cabeça em sinal de concordância].  No período em que ele ficou no DOI-CODI, 47 pessoas morreram. [Órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão do governo brasileiro durante a ditadura que se seguiu ao golpe militar de 1964]. Elas estavam sob a custódia do Estado. O senhor acha isso normal, que um herói deve fazer isso? Comandar um instamento militar, um local do Estado em que 47 pessoas morrem sob a custódia do Estado? [Ao final da pergunta, Mourão já voltou a olhar para a jornalista e diminuiu a agitação nas mãos]. AHM – Olha, os meus heróis não morreram de overdose, Miriam. [Sorri com ironia] Carlos Alberto Brilhante Ustra foi meu comandante quando eu era tenente em São Leopoldo. Um homem de coragem, um homem de determinação, que me ensinou muita coisa. ML – E os mortos?

AHM – Tem gente que gosta de Carlos Marighella, assassino, terrorista, autor do manual que é explorado…Miriam Leitão – Eu pergunto pelo Estado, o papel do Estado brasileiro naquele momento. AHM – Houve uma guerra, Miriam. Houve uma guerra. Excessos foram cometidos? Excessos foram cometidos. [O trecho a seguir está encoberto pela interrupção da jornalista]. Houve tortura? Houve tortura. ML – Então o seu herói matou pessoas. AHM – Heróis matam. [Desvia o olhar; silêncio de 5 segundos].  ML – Eu queria também perguntar uma coisa para o senhor sobre Reforma da Previdência… Algumas das afirmações de Mourão sobre o que teria ocorrido no Brasil durante os governos militares – “excessos”, “um homem de coragem” – e as motivações – “tentavam implantar um outro tipo de ditadura”, “o Estado se defendeu”, “tem gente que gosta de Carlos Marighella, assassino”, “heróis matam” – são distintas das versões frequentemente citadas na mídia, nos livros de história, nas produções artísticas e, especialmente, nas universidades. Ainda assim, traduzem a perspectiva de muitos brasileiros, que não só elegeram Jair Messias Bolsonaro e Antônio Hamilton Mourão como têm deixado comentários e depoimentos de plena concordância com essas e outras declarações e versões sobre o passado. Nas várias postagens dessa entrevista no YouTube, por exemplo, predominam comentários elogiosos ao general e depreciativos em relação aos jornalistas. Em tom irônico, deputado Eduardo Bolsonaro (PL) disse ter “pena” da cobra utilizada para amedrontar a jornalista quando ela tinha 19 anos, quando foi presa por militares.

Bibliografia geral consultada.

FAYE, Jean-Pierre, Le Piège: La Philosophie Heideggerienne et le Nazisme. Paris: Éditions Balland, 1994; SILVA, Edna Melo, “Vertentes do Jornalismo Econômico no Telejornalismo Brasileiro: As Colunas de Míriam Leitão e Joelmir Beting”. In: Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. São Luís, 2010; SANTOS, Angelo de Assis Fernandes dos, O Blog de Míriam Leitão e a Linguagem do Jornalismo Econômico. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. Bauru: Universidade Estadual Paulista, 2011; MARI, Hugo; SANTANA, Eliara, “Discurso e Mídia: Totalitarismo e Linguagem Totalitária”. In: Scripta, 22(45), 205-218; 2018; VECHI, Fernando, Política, Judiciário e Mídia: A Divulgação das Inteceptações  Telefônicas entre Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2018; SCHETTINI, Andrea Bandeira de Mello, Comissão de Verdade e o Processo de “Acerto de Contas” com o Passado Violento: Um Olhar Genealógico, Jurídico-Institucional e Crítico. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2019; ROCHA, Luís Gustavo Souza, Formação Cultural e Mídia: Uma Reflexão sobre o Processo Formativo do Indivíduo/Leitor a Partir das Colunas de Míriam Leitão. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019; FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir. Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; Idem, Isto não é um cachimbo. 7ª edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2016; ALVIM, Mariana, “Míriam Leitão e Eliane Brum são consideradas as jornalistas mais premiadas da história do Brasil. In: https://oglobo.globo.com/16/01/2017VENTURINI, Lilian, “O Assassinato de Marielle Franco num Rio sob Intervenção em 4 Pontos Centrais”. In: Nexo Jornal, 15 de março de 2018; VASCONCELOS, Fabíola Mendonça de, Mídia e Conservadorismo: O Globo, a Folha de S. Paulo e a Ascensão Política de Bolsonaro e do Bolsonarismo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2021; Artigo: “Miriam Leitão recebe apoio de Lula contra ofensas de Eduardo Bolsonaro”. Disponível em: https://vermelho.org.br/2022/04/04/; Artigo: “Tese de Doutorado que detalha ajuda do Globo e Folha para a eleição de Bolsonaro é censaurada. Disponível em: https://www.brasil247.com/20/08/2022; AQUINO, Marla Mendes, História Genética e Assinaturas Adaptativas de Nativos da América do Sul. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Genética. Instituto de Ciências Biológicas. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2022; entre outros.

sábado, 29 de outubro de 2022

Charles Cullen – Medicina, Cinema & Instabilidade Emocional.

 

Édipo não se cegou por culpa, mas por excesso de informação”. Michel Foucault

Charles Edmund Cullen nasceu em West Orange, New Jersey, e representava o caçula de oito filhos. Seu pai, um motorista de ônibus, tinha 58 anos de idade na época do seu nascimento e morreu quando Cullen tinha sete meses de idade. Cullen descreveu sua infância como infeliz. Ele primeiro tentou suicídio aos 9 anos por produtos químicos que ingeriu em uma loja de produtos químicos. Esta seria a primeira de muitas tentativas de suicídio no decorrer de sua vida. Mais tarde, trabalhando como enfermeiro, Cullen afirmou ter fantasiado roubar drogas do hospital onde trabalhava e usá-las para acabar com sua vida. Em 6 de dezembro de 1977, sua mãe morreu em um acidente de automóvel em um carro que sua irmã estava dirigindo. Em abril de 1978, devastado pela morte da mãe abandonou a escola e se alistou na Marinha, sendo designado para o serviço num submarino USS Woodrow Wilson (SSBN-624). Os suboficiais dividem-se em duas subcategorias: suboficiais superiores e suboficiais subalternos. A categoria de suboficial abrange os vários postos de sargento, furriel e subsargento. Cullen subiu para o posto de suboficial de terceira classe, como parte da equipe que operou o navio mísseis Poseidon. Neste posto começou a demonstrar sinais de doença mental, tendo sido transferido para o navio de abastecimento USS Canopus. Matou pacientes invadindo o protocolo de drogas dos hospitais. Lá encontrou e manipulou suas “armas do crime” da Pyxis MedStation, um sistema automatizado de distribuição de medicamentos que é usado para rastrear e distribuir drogas. Cullen tentou acabar com sua vida sete vezes ao longo dos anos seguintes e recebeu alta médica da Marinha em 30 março de 1984.

Naquele mesmo mês, Cullen se matriculou no Mountainside Hospital School of Nursing em Montclair, New Jersey, onde ele “era o único estudante do sexo masculino. Cullen foi mais tarde eleito presidente da sua turma de enfermagem”. Ele se formou em 1987 e começou a trabalhar na unidade de St. Barnabas Medical Center em Livingston, Nova Jersey. Fez sua primeira vítima enquanto trabalhava no St. Barnabas Medical Center. Em 11 de junho de 1988 ele administrou uma overdose letal de medicação intravenosa no juiz John W. Yengo, que tinha sido internado no hospital sofrendo de uma reação fotoalérgica a um medicamento para melhorar a circulação sanguínea. Cullen admitiu ter matado vários outros pacientes no St. Barnabas, incluindo um paciente de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) que morreu após uma dose excessiva de insulina. Charles Cullen deixou o St. Barnabas em janeiro de 1992, quando autoridades do hospital começaram a investigar quem havia contaminado bolsas de soro. Uma investigação determinou que Cullen era provavelmente responsável pela contaminação, resultando em dezenas de mortes de pacientes no hospital. Um mês depois de deixar o St. Barnabas Medical Center, conseguiu um emprego no Warren Hospital em Phillipsburg, New Jersey. Ele assassinou três mulheres idosas nesse hospital, dando-lhes overdoses da digoxina, um medicamento para o coração. Sua última vítima disse que um “enfermeiro sorrateiro” tinha injetado a droga enquanto ela dormia, mas seus familiares e os profissionais de saúde do hospital consideraram seus comentários infundados.

No ano seguinte, Cullen se mudou para um apartamento na Shaffer Avenue, em Phillipsburg, na sequência de um divórcio litigioso de sua esposa, ficando acertado que ele dividiria a custódia das filhas. Ele viria a afirmar que queria deixar a enfermagem em 1993, mas os pagamentos de pensão às crianças ordenado pelo tribunal obrigou-o a continuar a trabalhar. Em março de 1993, Charles Cullen invadiu a casa de uma colega de trabalho, enquanto ela e seu filho dormiam, mas deixou o local sem acordá-los. Em seguida, começou a perseguir a mulher, que entrou registrou um boletim de ocorrência na polícia. Cullen, posteriormente, declarou-se culpado de invasão e recebeu a pena de liberdade condicional de um ano. Dias depois, Cullen tentou suicídio novamente. Ele ficou dois meses fora do trabalho devido à depressão, que tratou em duas instituições psiquiátricas. Depois tentou suicídio outras duas vezes no final de 1993, período em que deixou seu emprego no Warren Hospital. Ipso facto, começou um período de três anos na unidade de terapia intensiva de pacientes em tratamento cardíaco no Hunterdon Medical Center de Flemington. Ele alegou que não atacou ninguém durante os dois primeiros anos. Os registros hospitalares haviam sido destruídos em 2003, quando ele foi preso. Ele admitiu ter assassinado cinco pacientes entre janeiro e setembro de 1996, novamente aplicando uma overdose de digoxina.


Em seguida encontrou condições de trabalho no Morristown Memorial Hospital, em Morristown, New Jersey, mas tendo sido “logo demitido por mau desempenho”. Ficou desempregado por seis meses no final de 1997 e parou de fazer o pagamento da pensão e mais uma vez procurou tratamento para depressão na sala de emergência do Hospital Warren. Ele foi internado em uma clínica psiquiátrica, mas saiu pouco tempo depois. Em fevereiro de 1998 foi contratado pela Liberty Nursing e Rehabilitation Center, em Allentown, Pensilvânia, onde foi colocado em uma ala de pacientes dependentes de respiradores. Neste centro, Charles Cullen “foi acusado de drogar pacientes e acabou por ser demitido depois que foi visto entrando no quarto de um paciente com seringas na mão”. O paciente acabou com um braço quebrado, mas aparentemente não recebeu as injeções. Charles Cullen causou a morte de um paciente no Liberty, óbito que foi atribuído a outra enfermeira. Depois de deixar o Liberty Center, foi contratado pelo Hospital Easton, em Easton, Pennsylvania, onde trabalhou de novembro de 1998 a março de 1999. Em 30 de dezembro de 1998 ele assassinou ainda um outro paciente com digoxina. Um exame de sangue do legista mostrou quantidades letais de digoxina no sangue da vítima, mas um inquérito interno do hospital foi inconclusivo e nada apontou, definitivamente, Cullen como o responsável pela morte. Depois trabalho no Somerset Medical Center em Somerville, onde em 13 meses matou 13 pessoas sendo demitido após investigações. Foi a enfermeira Ann Ridgway, ex-colega que “o convenceu a confessar os crimes”.

Édipo nasceu príncipe da cidade de Tebas, filho do rei Laio e da rainha Jocasta. Ao nascer, foi levado ao oráculo de Delfos onde foi profetizado que Édipo se tornaria um herói, após matar o pai e desposar a mãe, desencadeando uma cadeia de desgraças, que causariam a ruína da Casa Real. Segundo as versões de Ésquilo e Eurípedes, no entanto, o oráculo antecedeu a concepção, para impedir que Laio tivesse um filho; Laio desconsiderou o aviso, e Édipo nasceu. Aterrorizados e querendo frustrar a profecia, Laio e Jocasta resolveram encarregar um servo de deixar o filho na encosta da montanha de Cinterão, com os pés amarrados e trespassados por uma correia na altura dos tornozelos, para ser devorado pelos lobos. O servo, no entanto, apiedou-se do bebê e o entregou a um pastor que levou a criança para a cidade de Corinto. Ao chegar, Édipo foi adotado pelo rei Pólibo, pois a rainha Mérope havia gerado um filho natimorto. Édipo cresce como príncipe em Corinto, acreditando ser filho legítimo.

Anos mais tarde, já adulto, Édipo procurou o oráculo de Delfos para saber mais a respeito do seu parentesco. O oráculo repetiu a profecia, de que viria a matar seu pai e casar-se com sua mãe. Sem conhecer sua verdadeira filiação, Édipo acreditou que estava destinado a assassinar Pólibo e se casar com Mérope. Procurando evitar seu destino, Édipo deixou Corinto e partiu em direção a Tebas. Num trecho estreito da estrada, encontrou o rei Laio, que estava indo a Delfos consultar novamente o oráculo, pois havia sentido presságios de que seu filho estava retornando para matá-lo. Os lacaios de Laio ordenaram que Édipo abrisse passagem à carruagem do rei. Como Édipo se recusou, Laio bateu-lhe com seu chicote. Tomado pela fúria, Édipo matou Laio e todos os seus homens, exceto um, acreditando serem um bando de malfeitores. Ao chegar a Tebas, Édipo soube que o rei da cidade havia sido morto e que a cidade estava à mercê da Esfinge, um monstro que devorava os que não resolvessem seu enigma.

Quando a desgraça recai sobre Tebas, cabe a Édipo que já a tinha libertado das ameaças da Divina Cantora e que por isso agindo, tornou-se seu tirano para novamente restabelecer a ordem. O primeiro passo para o restabelecimento da ordem e, por conseguinte, da salvação de Tebas contra a peste, é a consulta ao oráculo de Delfos, que responde em tom profético/divino, que a fonte de todo o mal é o assassinato do rei Laio. É mister, portanto, para a salvação de Tebas, que se descubra o assassino, o autor de ignóbil crime, e que se faça a justiça; e novamente o oráculo responde: Édipo é o assassino. Toda a verdade já está dita aí no discurso prescritivo e profético do oráculo. Como tal enunciação profética da verdade não basta, far-se-á necessário que se descubra a verdade por outros meios; por isso, se impõe um mecanismo de obtenção e constituição da verdade que Foucault nomeou de “jogo das metades” que metodologicamente consiste basicamente na reconstituição da verdade, isto é, da reconstituição discursiva do fato causador dos males de Tebas, a partir da coleta e de um intricado jogo de discursos obtidos ou por profecia, ou por inquérito e testemunho no caso dos escravos e reis.

O ajustamento de parte dos discursos obtidos (daí a ideia de metades) é feito pelo rei-juiz (Édipo) mediante a consulta ao oráculo e à rainha (Jocasta) este obtido espontaneamente e de modo casual, isto é, não previsto no jogo de metades bem como pelo inquérito aos escravos sob ameaça de tortura. Nas falas, isto é, nos discursos dos escravos, um confirma a versão do outro encaixando-se perfeitamente, a confirmação se obtém não pelo julgamento recíproco do discurso de um escravo sobre o do outro, mas porque a versão de um encaixa como a metade perfeita da versão do outro, sem que, necessariamente, um saiba da versão do outro, a não ser o próprio rei-juiz. Édipo respondeu corretamente às duas questões propostas pela Esfinge e assim a derrotou. Por esse feito, conquistou o trono do rei morto, fazendo jus a casar-se com sua viúva. Anos depois, para acabar com uma praga em Tebas, Édipo procurou investigar quem havia matado Laio e acabou descobrindo, por intermédio do adivinho Tirésias, que era o responsável. Jocasta, ao perceber que havia se casado com o próprio filho, se enforcou.

Em desespero, Édipo retirou dois alfinetes de vestido da mãe e com eles perfurou os próprios olhos, afirmando ter sido cego “por não reconhecer o verdadeiro presságio anunciado pelo oráculo”. Esta passagem marcante do mito é o mais reconhecido, mas a vida de Édipo segue em frente, com ele tornando-se um mendigo e esmolando por Tebas, guiado por sua filha Antígona. Mais tarde o cego assiste os filhos Etéocles e Polinices brigarem pelo trono das duas cidades, Tebas e Corinto. A história de Tebas começa ao mesmo tempo que tem lugar, na Antiguidade, o despovoamento das aldeias e das zonas rurais. Deste modo, vão-se consolidando núcleos urbanos de população denominados “polis”. Terão as suas próprias e exclusivas leis, ditadas pelo seu legendário deus mítico e pelo seu herói local, o qual redundará em benefício da comunidade grega dado que cada “polis” procurará, não só o incremento da sua plena determinação até chegar à total independência política efetiva como cidade, mas também pretenderá ultrapassar, social e comercialmente, o restante no processo formativo das cidades-Estado.

Em primeiro lugar o enfermeiro é um profissional preparado para atuar em todas as áreas dinâmicas da saúde: assistencial, administrativa e gerencial. Na área assistencial esses profissionais estão habilitados a diversos tipos de intervenções técnicas de média e alta complexidade, situações que exigem conhecimento científico e capacidade de tomar decisões imediatas. Lideram e gerenciam unidades hospitalares e colaboradores, assim como prescrevem a assistência de enfermagem para que colaboradores executem as ações pertinentes. Particularmente a enfermagem norte-americana é dividida em três categorias: Registered Nurse (RN):  Eles têm bacharelado em Enfermagem e precisam passar por vários exames antes de obterem as certificações necessárias para exercer a profissão. Estes profissionais estão habilitados a diversos tipos de intervenções de média e alta complexidade, realizam diagnóstico, prescrevem medicamentos e solicitam exames. Também trabalham na área gerencial e administrativa. Licensed Practice Nurse (LPN). São os profissionais que estudam mais que os CNAs e podem ser mais independentes na execução de tarefas. Executam outros tipos de tarefas, como primeiros socorros, aplicação de soro e remédios, realização de análises básicas de laboratório, supervisão e organização dos serviços do CNA. Estes trabalhadores de Certified Nurse Assistant, executam tarefas básicas, como limpar e desinfetar ferramentas, ajudar pacientes a subir e descer de camas, vesti-los e, se necessário, ajudá-los com higiene pessoal e alimentação.

Em segundo lugar Charles Cullen é um reconhecido assassino nascido em Nova Jersey, que teve uma infância conturbada. Quando era bebê, perdeu o pai por causa de infarto. Aos nove, tentou-se matar ingerindo produtos de um “kit de química para crianças”. Aos 17, sua mãe e sua irmã morreram num acidente de carro. Depois de tudo isso, ele abandonou a escola, com a cabeça inquieta e os pés na rua. Em 1978, Cullen se alistou na Marinha para operar mísseis balísticos de submarinos. Nas Forças Armadas, começou a apresentar sinais de instabilidade emocional e mental. Após algumas crises e tentativas de suicídio, foi internado num hospital psiquiátrico até 1984. No mesmo ano, ele passou a cursar enfermagem. Queria reaver a vida. Era um excelente aluno, conseguindo uma disputada vaga de emprego por suas notas. Em 1987, se casou.  Mas começou a furtar medicamentos para se drogar e tentar se suicidar. Também foi nesse hospital que começou a sua carreira de crimes. De 1988 a 1992, ele realizou eutanásia e causou overdoses de insulina em dezenas de pacientes. Ao mesmo tempo, contaminava sacos intravenosos e soros, causando mais óbitos. Uma investigação inicial foi realizada.

Ele era o caçula de uma família católica profundamente religiosa. Seu pai era motorista de ônibus e sua mãe ficava em casa para criar seus filhos. O seu pai morreu quando ainda era criança. Em vida, Meme Cullen estuprou o filho. Charles tentou o suicídio pela primeira vez aos nove anos de idade, bebendo produtos químicos. Esta seria a primeira de 20 tentativas de suicídio ao longo de sua vida. A sua mãe morreu quando ele tinha 17 anos. Isso o fez desistir do ensino médio e se alistar na Marinha dos Estados Unidos da América, em 1978, até ser dispensado em 1984. Depois de deixar a Marinha, ele fez um curso de enfermaria e conseguiu um emprego no hospital St. Barnabas Medical Center em Livingston, Nova Jersey. Historicamente Charles Cullen “cometeu seu primeiro assassinato em 11 de junho de 1988”. O juiz John W. Yengo (1916-1988) havia sido internado no St. Barnabas por conta de uma reação alérgica a uma droga para afinar o sangue. Cullen administrou uma overdose letal de medicação por via intravenosa. Ele admitiu ter matado 11 pacientes em St. Barnabas, incluindo um paciente de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) é causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, que foi reconhecido em meados de 1981, e que morreu após receber uma overdose de insulina. O vírus pode ser transmitido pelo contato com sangue, sêmen ou fluidos vaginais infectados.

Apesar de médicos terem apontado Charles Cullen como responsável pelos homicídios, “não foi possível reunir provas o suficiente para uma sentença”. Ele, então, foi demitido. Pouco tempo depois, entrou em outro centro médico, onde matou três idosas por overdose de um medicamento cardiovascular. Uma das senhoras até denunciou Cullen, mas a família achou que tinha sido um delírio da hospitalizada. Em 1993, se divorciou e perdeu a guarda das filhas, o que desencadeou um surto no rapaz, que invadiu a casa de uma colega e tentou molestar mãe e filho. Após o ocorrido, ele foi internado compulsoriamente pela Justiça, para que tratasse sua depressão. Após receber alta, ele voltou a trabalhar em hospitais pelo noroeste dos Estados Unidos da América (EUA) que, por falta de profissionais, não buscavam os históricos dos médicos. Porém, em 2002, Cullen foi flagrado ao consumir medicamentos do estoque, o que gerou um inquérito e a sua demissão. Na sequência, ex-colegas alertaram “a polícia sobre suspeitas de que Cullen aplicava drogas para matar pacientes, o que nunca foi provado. Cullen admitiu seus crimes e foi preso em 2003, e desde então cumpre prisão perpétua por 40 homicídios”. No entanto, análises precisas estimam que o enfermeiro matou ao menos 400 pacientes.

Falar em objeções e respostas, em contraposição de argumentos numa questão como essa, é o mesmo que confessar que a razão humana é um simples jogo de palavras, ou que a pessoa que assim se exprime não está à altura desses assuntos. Há demonstrações difíceis de compreender socialmente, por causa do caráter abstrato de seu tema; nenhuma demonstração, porém, uma vez compreendida, pode conter dificuldades que enfraqueçam sua autoridade. É uma máxima estabelecida da metafísica que tudo que a mente concebe claramente inclui a ideia da existência possível, ou, em outras palavras, que nada que imaginamos é absolutamente impossível. Não poderia haver descoberta mais feliz para a solução de todas as controvérsias em torno das ideias, que compreendemos, as impressões sempre precedem as ideias, e que toda ideia contida na imaginação apareceu primeiro em uma impressão correspondente. As percepções deste último tipo são todas tão claras e evidentes que não admitem discussão, ao passo que muitas de nossas ideias são tão obscuras que é quase impossível, mesmo para a mente humana que as forma, dizer qual é exatamente sua natureza e composição. Façamos uma aplicação desse princípio, a fim de descobrir algo mais sobre a natureza de nossas ideias de espaço e tempo.   

Melhor dizendo, que as ideias da memória são mais vivas e fortes que as da imaginação, e que a primeira faculdade pinta seus objetos em cores mais distintas que as que possam ser usadas pela última. Ao nos lembrarmos de um acontecimento passado, sua ideia invade nossa mente com força, ao passo que, na imaginação, a percepção é fraca e lânguida, e apenas com muita dificuldade pode ser conservada firme e uniforme pela mente durante todo o período considerável de tempo. Temos aqui uma diferença sensível entre as duas espécies de ideias. Mas há uma outra diferença, não menos evidente, entre esses dois tipos de ideias. Embora nem as ideias da memória nem as da imaginação, nem as ideias vívidas nem as fracas possam surgir na mente antes que impressões correspondentes tenham vindo abrir-lhes o caminho, a imaginação não se restringe à ordem das impressões originais, ao passo que a memória está amarrada a esse aspecto, sem nenhum poder de variação. É evidente que a memória preserva a forma original sob a qual seus objetos se apresentaram. A principal função da memória não é preservar as ideias simples, mas sua ordem e posição. Esse princípio se apoia em aspectos comuns e vulgares do dia a dia que podemos nos poupar o trabalho de continuar insistindo nele. 

Como a imaginação pode separar todas as ideias simples, e uni-las novamente da forma que bem lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa faculdade, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e vivência e lugares praticados. Fossem as ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria; e seria impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em ideias complexas se não houvesse algum laço de união entre elas, alguma qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra. Esse princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre outras coisas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às outras: pois a natureza aponta a cada um de nós as ideias simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades não dão origem a tal associação, e que levam a mente, dessa maneira, de uma ideia a outra, são três, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e causa e efeito. Dois objetos podem ser considerados como estando inseridos nessa relação, seja quando um deles é a causa de qualquer ação ou movimento do outro, seja quando o primeiro é a causa da existência do segundo.

A ação ou movimento não é senão o próprio objeto, considerado sob um certo ângulo, e como o objeto continua o mesmo em todas as suas diferentes situações, é fácil imaginar de que forma tal influência dos objetos uns sobre os outros pode conectá-los na imaginação. Podemos prosseguir com esse raciocínio, observando que dois objetos estão conectados pela relação causa e efeito não apenas quando produz um movimento ou uma ação qualquer no outro, no outro, mas também quando tem o poder de os produzir. Essa é a fonte das relações de interesse e dever através dos quais os homens se influenciam mutuamente na sociedade que se ligam pelos laços de governo e subordinação. Um senhor é aquele que, por sua situação, decorrente da força ou acordo, tem o poder de dirigir, sob alguns aspectos particulares, as ações de outro homem. Um juiz de direito é aquele que, em todos os casos litigiosos entre a figuração dentre os membros que formam os grupos da sociedade, é capaz de decidir, com sua opinião a quem cabe à posse ou a propriedade de determinado objeto. Quando uma pessoa possui certo poder, nada mais é necessário para convertê-lo em ação social que o exercício da vontade; e isso, em todos os casos, é considerável possível, e em muitos, provável – especialmente no caso da autoridade, em que a obediência do súdito é um prazer e uma vantagem para seu superior.

Está claro que, no curso de nosso pensamento social e na constante circulação de nossas ideias, a imaginação passa facilmente de uma ideia a qualquer outra que seja semelhante a ela. Assim como existe o nascimento de uma semiologia e sociologia da celebridade, uma economia da celebridade e tal qualidade, por si só, constitui um vínculo afetivo e uma associação suficiente para a fantasia. É também evidente que, com os sentidos, ao passarem de um objeto a outro, precisam fazê-lo de modo regular, tomando-os sua contiguidade uns em relação aos outros, a imaginação adquire, por um longo costume, o mesmo método de pensamento, e percorre as partes do espaço e do tempo ao conceber seus objetos. Quanto à conexão realizada pela relação de causa e efeito, basta observar que nenhuma relação produz uma conexão mais forte na fantasia e faz com que uma ideia evoque mais prontamente outra ideia que a relação de causa e efeito entre seus objetos. Para compreender toda a extensão dessas relações sociais, devemos considerar que dois objetos estão conectados na imaginação. Não somente quando um deles é semelhante ou contíguo ao outro, ou quando é a representação da causa. Mas quando entre eles encontra-se inserido um terceiro objeto, que mantém com ambos alguma dessas notáveis relações. Dentre relações mencionadas, a de causalidade é a de maior extensão.

          O ciclo de 16 anos impune começou a ser quebrado quando um médico legista examinou o caso de Ottomar Schramm (1920-1998), um homem de 78 anos que morreu de uma overdose de dioxina, uma droga que ele não precisava, em dezembro de 1998 no Easton Hospital. O legista afirmou que havia um “anjo da morte” no hospital e colegas de trabalho testemunharam sobre um enfermeiro entrando sorrateiramente nos quartos de pacientes que mais tarde morreram. Em 2002, uma enfermeira do Hospital St. Luke encontrou embalagens descartadas de medicamentos em uma quantidade anormal. A suspeita estava plantada. Uma investigação mais cuidadosa levou outras enfermeiras a observar Cullen e detectar um comportamento estranho, onde ele entrava com seringas nos quartos dos pacientes sem que fosse requisitado. Elas informaram a polícia, alegando junto que encontraram pacotes abertos do medicamento que matou Diane Mackrell (1956-2017) e Esther Stoneback, em cujos quartos haviam visto Charles. A polícia enfim começou a investigar Cullen. Os crimes acabaram apenas em dezembro de 2003, quando as autoridades conseguiram reunir provas suficientes contra ele e prendê-lo pelo assassinato do Reverendo Florian J. Gall (1934-2003) e também pela tentativa de assassinato de Tin Kyushu Han, ambos pacientes do Hospital Somerset. Cullen admitiu seus crimes e foi preso em 2003. Nos anos seguintes, seja por suas próprias confissões ou por investigação policial, 40 vítimas foram encontradas nos hospitais que trabalhou. Mas estimativas de especialistas e investigadores no caso colocam o número total de assassinatos em mais de 400.  

Testemunhar a morte de sua mãe impotente, sem ter nenhum controle para salvá-la, deve tê-lo afetado severamente. A vida de Cullen após a morte de Florence foi miserável. Ele se juntou à Marinha, apenas para ser intimidado, o que também o levou a tentar se matar, conforme “60 Minutes”. O trauma de tal desamparo pode ter se repetido quando a então esposa de Cullen, Adrienne Taub, se separou dele com suas duas filhas. Como o filme demonstra, Charles Cullen e sua ex-esposa tiveram batalhas pela custódia de seus filhos, mas o serial killer não conseguiu vencê-las, deixando-o sem controle sobre a vida de suas filhas como pai. Cullen pode ter tentado ganhar tal senso de controle reescrevendo o destino dos outros. De acordo com Charles Graeber, o autor do texto fonte do filme, ganhar controle e poder foram motivos fundamentais de Cullen. - “Se o resto de sua vida estivesse saindo de seu controle, se ele estivesse perdendo a custódia, se estivesse se sentindo deprimido, se sua vida amorosa estivesse no banheiro, ele poderia envenenar pacientes, ele poderia salvar pacientes, ele poderia tomar decisões, ele tinha uma arena na qual importava e onde suas ações tinham consequências definitivas”, disse o autor a Steve Kroft por “60 Minutes”. Em última análise, Graeber, que entrevistou o serial killer várias vezes para seu livro, acredita que Cullen matou porque podia. - “Nunca foi sobre ninguém além de Charlie Cullen. Ele fez o que fez por causa de suas próprias necessidades, suas próprias compulsões”, disse Graeber na mesma entrevista concedida ao “60 Minutes”. - “Ele se vê como uma vítima. E como vítima, ele tem o direito de atacar da maneira que quiser para consertar as coisas, se isso significa matar vítimas. É apenas – qualquer coisa sua vitimização”, acrescentou. As vítimas de Cullen não eram apenas pacientes terminais, mas também pacientes cujas vidas não estavam ameaçadas ou por um fio. 

Várias de suas vítimas estavam recuperando pacientes que teriam deixado o hospital em breve sem complicações. De acordo com The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder, de Charles Graeber, o texto fonte do filme, Cullen afirmou que queria que os pacientes não fossem “codificados” e morressem. Ele também aparentemente queria evitar que o pessoal do hospital “desumanizasse” os pacientes. A explicação não explica por que ele teve que matar Eleanor Stoecker, que estava se recuperando e sem dor, ou Michael Strenko, que sofria de uma doença autoimune e estava se recuperando de uma cirurgia de remoção de baço de rotina. Quando Kroft perguntou a Cullen por que ele matou pacientes que não esperavam a morte, Cullen não teve nenhuma resposta satisfatória. - “Você sabe, de novo, você sabe, quero dizer, meu objetivo aqui não é justificar. Você sabe o que eu fiz, não há justificativa. Hum, eu só acho que a única coisa que posso dizer é que me senti sobrecarregado na época”, disse Cullen a Kroft. - “Foi mais ou menos, sabe, senti que precisava fazer alguma coisa e fiz. Isso não é uma resposta para nada,”. Os então detetives do condado de Somerset, Tim Braun e Daniel Baldwin, que capturaram Cullen, acreditam que ele matou por uma sensação de controle. “Ele poderia salvar uma vida ou tirar uma vida. E em muitos casos, ele escolheu tirar uma vida”, disse Braun ao “60 Minutes”. Olhando para seu passado, Cullen teve que passar por várias experiências em que aparentemente não tinha nenhum tipo de controle sobre sua vida. Quando sua mãe Florence Cullen morreu quando ele tinha 17 anos, de acordo com “60 Minutes”, Cullen tentou se matar.

Bibliografia geral consultada.

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