“Édipo não se
cegou por culpa, mas por excesso de informação”. Michel Foucault
Charles
Edmund Cullen nasceu em West Orange, New Jersey, e representava o caçula de
oito filhos. Seu pai, um motorista de ônibus, tinha 58 anos de idade na época
do seu nascimento e morreu quando Cullen tinha sete meses de idade. Cullen
descreveu sua infância como infeliz. Ele primeiro tentou suicídio aos 9 anos
por produtos químicos que ingeriu em uma loja de produtos químicos. Esta seria
a primeira de muitas tentativas de suicídio no decorrer de sua vida. Mais
tarde, trabalhando como enfermeiro, Cullen afirmou ter fantasiado roubar drogas
do hospital onde trabalhava e usá-las para acabar com sua vida. Em 6 de
dezembro de 1977, sua mãe morreu em um acidente de automóvel em um carro que
sua irmã estava dirigindo. Em abril de 1978, devastado pela morte da mãe
abandonou a escola e se alistou na Marinha, sendo designado para o serviço num
submarino USS Woodrow Wilson (SSBN-624). Os suboficiais dividem-se em duas
subcategorias: suboficiais superiores e suboficiais subalternos. A categoria de
suboficial abrange os vários postos de sargento, furriel e subsargento. Cullen
subiu para o posto de suboficial de terceira classe, como parte da equipe que
operou o navio mísseis Poseidon. Neste posto começou a demonstrar sinais de
doença mental, tendo sido transferido para o navio de abastecimento USS
Canopus. Matou pacientes invadindo o protocolo de drogas dos hospitais. Lá
encontrou e manipulou suas “armas do crime” da Pyxis MedStation, um
sistema automatizado de distribuição de medicamentos que é usado para rastrear
e distribuir drogas. Cullen tentou acabar com sua vida sete vezes ao longo dos
anos seguintes e recebeu alta médica da Marinha em 30 março de 1984.
Naquele mesmo mês, Cullen se matriculou no Mountainside Hospital School of Nursing em Montclair, New Jersey, onde ele “era o único estudante do sexo masculino. Cullen foi mais tarde eleito presidente da sua turma de enfermagem”. Ele se formou em 1987 e começou a trabalhar na unidade de St. Barnabas Medical Center em Livingston, Nova Jersey. Fez sua primeira vítima enquanto trabalhava no St. Barnabas Medical Center. Em 11 de junho de 1988 ele administrou uma overdose letal de medicação intravenosa no juiz John W. Yengo, que tinha sido internado no hospital sofrendo de uma reação fotoalérgica a um medicamento para melhorar a circulação sanguínea. Cullen admitiu ter matado vários outros pacientes no St. Barnabas, incluindo um paciente de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) que morreu após uma dose excessiva de insulina. Charles Cullen deixou o St. Barnabas em janeiro de 1992, quando autoridades do hospital começaram a investigar quem havia contaminado bolsas de soro. Uma investigação determinou que Cullen era provavelmente responsável pela contaminação, resultando em dezenas de mortes de pacientes no hospital. Um mês depois de deixar o St. Barnabas Medical Center, conseguiu um emprego no Warren Hospital em Phillipsburg, New Jersey. Ele assassinou três mulheres idosas nesse hospital, dando-lhes overdoses da digoxina, um medicamento para o coração. Sua última vítima disse que um “enfermeiro sorrateiro” tinha injetado a droga enquanto ela dormia, mas seus familiares e os profissionais de saúde do hospital consideraram seus comentários infundados.
No
ano seguinte, Cullen se mudou para um apartamento na Shaffer Avenue, em
Phillipsburg, na sequência de um divórcio litigioso de sua esposa, ficando
acertado que ele dividiria a custódia das filhas. Ele viria a afirmar que
queria deixar a enfermagem em 1993, mas os pagamentos de pensão às crianças
ordenado pelo tribunal obrigou-o a continuar a trabalhar. Em março de 1993, Charles
Cullen invadiu a casa de uma colega de trabalho, enquanto ela e seu filho
dormiam, mas deixou o local sem acordá-los. Em seguida, começou a perseguir a
mulher, que entrou registrou um boletim de ocorrência na polícia. Cullen,
posteriormente, declarou-se culpado de invasão e recebeu a pena de liberdade
condicional de um ano. Dias depois, Cullen tentou suicídio novamente. Ele ficou
dois meses fora do trabalho devido à depressão, que tratou em duas instituições
psiquiátricas. Depois tentou suicídio outras duas vezes no final de 1993, período
em que deixou seu emprego no Warren Hospital. Ipso facto, começou um
período de três anos na unidade de terapia intensiva de pacientes em tratamento
cardíaco no Hunterdon Medical Center de Flemington. Ele alegou que não atacou ninguém durante os dois primeiros anos. Os registros
hospitalares haviam sido destruídos em 2003, quando ele foi preso. Ele
admitiu ter assassinado cinco pacientes entre janeiro e setembro
de 1996, novamente aplicando uma overdose de digoxina.
Em
seguida encontrou condições de trabalho no Morristown Memorial Hospital, em
Morristown, New Jersey, mas tendo sido “logo demitido por mau desempenho”. Ficou
desempregado por seis meses no final de 1997 e parou de fazer o pagamento da
pensão e mais uma vez procurou tratamento para depressão na sala de emergência
do Hospital Warren. Ele foi internado em uma clínica psiquiátrica, mas saiu
pouco tempo depois. Em fevereiro de 1998 foi contratado pela Liberty Nursing
e Rehabilitation Center, em Allentown, Pensilvânia, onde foi colocado em
uma ala de pacientes dependentes de respiradores. Neste centro, Charles Cullen “foi
acusado de drogar pacientes e acabou por ser demitido depois que foi visto
entrando no quarto de um paciente com seringas na mão”. O paciente acabou com
um braço quebrado, mas aparentemente não recebeu as injeções. Charles Cullen
causou a morte de um paciente no Liberty, óbito que foi atribuído a
outra enfermeira. Depois de deixar o Liberty Center, foi contratado pelo
Hospital Easton, em Easton, Pennsylvania, onde trabalhou de novembro de 1998 a
março de 1999. Em 30 de dezembro de 1998 ele assassinou ainda um outro paciente
com digoxina. Um exame de sangue do legista mostrou quantidades letais de
digoxina no sangue da vítima, mas um inquérito interno do hospital foi
inconclusivo e nada apontou, definitivamente, Cullen como o responsável pela
morte. Depois trabalho no Somerset Medical Center em Somerville, onde em 13
meses matou 13 pessoas sendo demitido após investigações. Foi a enfermeira Ann
Ridgway, ex-colega que “o convenceu a confessar os crimes”.
Édipo nasceu príncipe da cidade de Tebas, filho do rei Laio e da rainha Jocasta. Ao nascer, foi levado ao oráculo de Delfos onde foi profetizado que Édipo se tornaria um herói, após matar o pai e desposar a mãe, desencadeando uma cadeia de desgraças, que causariam a ruína da Casa Real. Segundo as versões de Ésquilo e Eurípedes, no entanto, o oráculo antecedeu a concepção, para impedir que Laio tivesse um filho; Laio desconsiderou o aviso, e Édipo nasceu. Aterrorizados e querendo frustrar a profecia, Laio e Jocasta resolveram encarregar um servo de deixar o filho na encosta da montanha de Cinterão, com os pés amarrados e trespassados por uma correia na altura dos tornozelos, para ser devorado pelos lobos. O servo, no entanto, apiedou-se do bebê e o entregou a um pastor que levou a criança para a cidade de Corinto. Ao chegar, Édipo foi adotado pelo rei Pólibo, pois a rainha Mérope havia gerado um filho natimorto. Édipo cresce como príncipe em Corinto, acreditando ser filho legítimo.
Anos
mais tarde, já adulto, Édipo procurou o oráculo de Delfos para saber mais a
respeito do seu parentesco. O oráculo repetiu a profecia, de que viria a matar
seu pai e casar-se com sua mãe. Sem conhecer sua verdadeira filiação, Édipo
acreditou que estava destinado a assassinar Pólibo e se casar com Mérope. Procurando
evitar seu destino, Édipo deixou Corinto e partiu em direção a Tebas. Num
trecho estreito da estrada, encontrou o rei Laio, que estava indo a Delfos
consultar novamente o oráculo, pois havia sentido presságios de que seu filho
estava retornando para matá-lo. Os lacaios de Laio ordenaram que Édipo abrisse
passagem à carruagem do rei. Como Édipo se recusou, Laio bateu-lhe com seu chicote.
Tomado pela fúria, Édipo matou Laio e todos os seus homens, exceto um,
acreditando serem um bando de malfeitores. Ao chegar a Tebas, Édipo soube que o
rei da cidade havia sido morto e que a cidade estava à mercê da
Esfinge, um monstro que devorava os que não resolvessem seu enigma.
Quando
a desgraça recai sobre Tebas, cabe a Édipo que já a tinha libertado das ameaças
da Divina Cantora e que por isso agindo, tornou-se seu tirano para novamente
restabelecer a ordem. O primeiro passo para o restabelecimento da ordem e, por
conseguinte, da salvação de Tebas contra a peste, é a consulta ao oráculo de
Delfos, que responde em tom profético/divino, que a fonte de todo o mal é o
assassinato do rei Laio. É mister, portanto, para a salvação de Tebas, que se
descubra o assassino, o autor de ignóbil crime, e que se faça a justiça; e
novamente o oráculo responde: Édipo é o assassino. Toda a verdade já está dita
aí no discurso prescritivo e profético do oráculo. Como tal enunciação
profética da verdade não basta, far-se-á necessário que se descubra a verdade
por outros meios; por isso, se impõe um mecanismo de obtenção e constituição da
verdade que Foucault nomeou de “jogo das metades” que metodologicamente
consiste basicamente na reconstituição da verdade, isto é, da reconstituição
discursiva do fato causador dos males de Tebas, a partir da coleta e de um
intricado jogo de discursos obtidos ou por profecia, ou por inquérito e
testemunho no caso dos escravos e reis.
O
ajustamento de parte dos discursos obtidos (daí a ideia de metades) é feito
pelo rei-juiz (Édipo) mediante a consulta ao oráculo e à rainha (Jocasta) este
obtido espontaneamente e de modo casual, isto é, não previsto no jogo de
metades bem como pelo inquérito aos escravos sob ameaça de tortura. Nas falas,
isto é, nos discursos dos escravos, um confirma a versão do outro encaixando-se
perfeitamente, a confirmação se obtém não pelo julgamento recíproco do discurso
de um escravo sobre o do outro, mas porque a versão de um encaixa como a metade
perfeita da versão do outro, sem que, necessariamente, um saiba da versão do
outro, a não ser o próprio rei-juiz. Édipo respondeu corretamente às duas
questões propostas pela Esfinge e assim a derrotou. Por esse feito, conquistou
o trono do rei morto, fazendo jus a casar-se com sua viúva. Anos depois, para
acabar com uma praga em Tebas, Édipo procurou investigar quem havia matado Laio
e acabou descobrindo, por intermédio do adivinho Tirésias, que era o
responsável. Jocasta, ao perceber que havia se casado com o próprio filho, se
enforcou.
Em desespero, Édipo retirou dois alfinetes de vestido da mãe e com eles perfurou os próprios olhos, afirmando ter sido cego “por não reconhecer o verdadeiro presságio anunciado pelo oráculo”. Esta passagem marcante do mito é o mais reconhecido, mas a vida de Édipo segue em frente, com ele tornando-se um mendigo e esmolando por Tebas, guiado por sua filha Antígona. Mais tarde o cego assiste os filhos Etéocles e Polinices brigarem pelo trono das duas cidades, Tebas e Corinto. A história de Tebas começa ao mesmo tempo que tem lugar, na Antiguidade, o despovoamento das aldeias e das zonas rurais. Deste modo, vão-se consolidando núcleos urbanos de população denominados “polis”. Terão as suas próprias e exclusivas leis, ditadas pelo seu legendário deus mítico e pelo seu herói local, o qual redundará em benefício da comunidade grega dado que cada “polis” procurará, não só o incremento da sua plena determinação até chegar à total independência política efetiva como cidade, mas também pretenderá ultrapassar, social e comercialmente, o restante no processo formativo das cidades-Estado.
Em
primeiro lugar o enfermeiro é um profissional preparado para atuar em todas as
áreas dinâmicas da saúde: assistencial, administrativa e gerencial. Na área
assistencial esses profissionais estão habilitados a diversos tipos de
intervenções técnicas de média e alta complexidade, situações que exigem
conhecimento científico e capacidade de tomar decisões imediatas. Lideram e
gerenciam unidades hospitalares e colaboradores, assim como prescrevem a
assistência de enfermagem para que colaboradores executem as ações pertinentes.
Particularmente a enfermagem norte-americana é dividida em três categorias: Registered
Nurse (RN): Eles têm bacharelado em
Enfermagem e precisam passar por vários exames antes de obterem as
certificações necessárias para exercer a profissão. Estes profissionais estão
habilitados a diversos tipos de intervenções de média e alta complexidade,
realizam diagnóstico, prescrevem medicamentos e solicitam exames. Também
trabalham na área gerencial e administrativa. Licensed Practice Nurse
(LPN). São os profissionais que estudam mais que os CNAs e podem ser mais
independentes na execução de tarefas. Executam outros tipos de tarefas, como
primeiros socorros, aplicação de soro e remédios, realização de análises
básicas de laboratório, supervisão e organização dos serviços do CNA. Estes
trabalhadores de Certified Nurse Assistant, executam tarefas básicas,
como limpar e desinfetar ferramentas, ajudar pacientes a subir e descer de
camas, vesti-los e, se necessário, ajudá-los com higiene pessoal e alimentação.
Em
segundo lugar Charles Cullen é um reconhecido
assassino nascido em Nova Jersey, que teve uma infância conturbada. Quando era
bebê, perdeu o pai por causa de infarto. Aos nove, tentou-se matar ingerindo
produtos de um “kit de química para crianças”. Aos 17, sua mãe e sua irmã
morreram num acidente de carro. Depois de tudo isso, ele abandonou a escola,
com a cabeça inquieta e os pés na rua. Em 1978, Cullen se alistou na Marinha
para operar mísseis balísticos de submarinos. Nas Forças Armadas, começou a
apresentar sinais de instabilidade emocional e mental. Após algumas crises e
tentativas de suicídio, foi internado num hospital psiquiátrico até 1984. No
mesmo ano, ele passou a cursar enfermagem. Queria reaver a vida. Era um
excelente aluno, conseguindo uma disputada vaga de emprego por suas notas. Em
1987, se casou. Mas começou a furtar
medicamentos para se drogar e tentar se suicidar. Também foi nesse hospital que
começou a sua carreira de crimes. De 1988 a 1992, ele realizou eutanásia
e causou overdoses de insulina em dezenas de pacientes. Ao mesmo tempo,
contaminava sacos intravenosos e soros, causando mais óbitos. Uma investigação
inicial foi realizada.
Ele era o caçula de uma família católica profundamente religiosa. Seu pai era motorista de ônibus e sua mãe ficava em casa para criar seus filhos. O seu pai morreu quando ainda era criança. Em vida, Meme Cullen estuprou o filho. Charles tentou o suicídio pela primeira vez aos nove anos de idade, bebendo produtos químicos. Esta seria a primeira de 20 tentativas de suicídio ao longo de sua vida. A sua mãe morreu quando ele tinha 17 anos. Isso o fez desistir do ensino médio e se alistar na Marinha dos Estados Unidos da América, em 1978, até ser dispensado em 1984. Depois de deixar a Marinha, ele fez um curso de enfermaria e conseguiu um emprego no hospital St. Barnabas Medical Center em Livingston, Nova Jersey. Historicamente Charles Cullen “cometeu seu primeiro assassinato em 11 de junho de 1988”. O juiz John W. Yengo (1916-1988) havia sido internado no St. Barnabas por conta de uma reação alérgica a uma droga para afinar o sangue. Cullen administrou uma overdose letal de medicação por via intravenosa. Ele admitiu ter matado 11 pacientes em St. Barnabas, incluindo um paciente de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) é causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, que foi reconhecido em meados de 1981, e que morreu após receber uma overdose de insulina. O vírus pode ser transmitido pelo contato com sangue, sêmen ou fluidos vaginais infectados.
Apesar
de médicos terem apontado Charles Cullen como responsável pelos homicídios, “não
foi possível reunir provas o suficiente para uma sentença”. Ele, então, foi
demitido. Pouco tempo depois, entrou em outro centro médico, onde matou três
idosas por overdose de um medicamento cardiovascular. Uma das senhoras
até denunciou Cullen, mas a família achou que tinha sido um delírio da
hospitalizada. Em 1993, se divorciou e perdeu a guarda das filhas, o que
desencadeou um surto no rapaz, que invadiu a casa de uma colega e tentou
molestar mãe e filho. Após o ocorrido, ele foi internado compulsoriamente pela
Justiça, para que tratasse sua depressão. Após receber alta, ele voltou a
trabalhar em hospitais pelo noroeste dos Estados Unidos da América (EUA) que, por
falta de profissionais, não buscavam os históricos dos médicos. Porém, em 2002,
Cullen foi flagrado ao consumir medicamentos do estoque, o que gerou um
inquérito e a sua demissão. Na sequência, ex-colegas alertaram “a polícia sobre
suspeitas de que Cullen aplicava drogas para matar pacientes, o que nunca foi
provado. Cullen admitiu seus crimes e foi preso em 2003, e desde então cumpre
prisão perpétua por 40 homicídios”. No entanto, análises precisas estimam que o
enfermeiro matou ao menos 400 pacientes.
Falar
em objeções e respostas, em contraposição de argumentos numa questão como essa,
é o mesmo que confessar que a razão humana é um simples jogo de palavras, ou
que a pessoa que assim se exprime não está à altura desses assuntos. Há
demonstrações difíceis de compreender socialmente, por causa do caráter abstrato
de seu tema; nenhuma demonstração, porém, uma vez compreendida, pode conter
dificuldades que enfraqueçam sua autoridade. É uma máxima estabelecida da
metafísica que tudo que a mente concebe claramente inclui a ideia da existência
possível, ou, em outras palavras, que nada que imaginamos é absolutamente
impossível. Não poderia haver descoberta mais feliz para a solução de todas as
controvérsias em torno das ideias, que compreendemos, as impressões
sempre precedem as ideias, e que toda ideia contida na imaginação apareceu
primeiro em uma impressão correspondente. As percepções deste último tipo são
todas tão claras e evidentes que não admitem discussão, ao passo que muitas de
nossas ideias são tão obscuras que é quase impossível, mesmo para a mente
humana que as forma, dizer qual é exatamente sua natureza e composição. Façamos
uma aplicação desse princípio, a fim de descobrir algo mais sobre a natureza de
nossas ideias de espaço e tempo.
Melhor
dizendo, que as ideias da memória são mais vivas e fortes que as da imaginação,
e que a primeira faculdade pinta seus objetos em cores mais distintas que as
que possam ser usadas pela última. Ao nos lembrarmos de um acontecimento
passado, sua ideia invade nossa mente com força, ao passo que, na imaginação, a
percepção é fraca e lânguida, e apenas com muita dificuldade pode ser
conservada firme e uniforme pela mente durante todo o período considerável de
tempo. Temos aqui uma diferença sensível entre as duas espécies de ideias. Mas
há uma outra diferença, não menos evidente, entre esses dois tipos de ideias.
Embora nem as ideias da memória nem as da imaginação, nem as ideias vívidas nem
as fracas possam surgir na mente antes que impressões correspondentes tenham
vindo abrir-lhes o caminho, a imaginação não se restringe à ordem das
impressões originais, ao passo que a memória está amarrada a esse aspecto, sem
nenhum poder de variação. É evidente que a memória preserva a forma original
sob a qual seus objetos se apresentaram. A principal função da memória não é
preservar as ideias simples, mas sua ordem e posição. Esse princípio se apoia
em aspectos comuns e vulgares do dia a dia que podemos nos poupar o trabalho de
continuar insistindo nele.
Como a imaginação pode separar todas as ideias simples, e uni-las novamente da forma que bem lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa faculdade, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e vivência e lugares praticados. Fossem as ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria; e seria impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em ideias complexas se não houvesse algum laço de união entre elas, alguma qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra. Esse princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre outras coisas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às outras: pois a natureza aponta a cada um de nós as ideias simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades não dão origem a tal associação, e que levam a mente, dessa maneira, de uma ideia a outra, são três, a saber: semelhança, contiguidade no tempo e no espaço, e causa e efeito. Dois objetos podem ser considerados como estando inseridos nessa relação, seja quando um deles é a causa de qualquer ação ou movimento do outro, seja quando o primeiro é a causa da existência do segundo.
A ação ou movimento não é senão o próprio objeto, considerado sob um
certo ângulo, e como o objeto continua o mesmo em todas as suas diferentes
situações, é fácil imaginar de que forma tal influência dos objetos uns sobre
os outros pode conectá-los na imaginação. Podemos prosseguir com esse
raciocínio, observando que dois objetos estão conectados pela relação causa e
efeito não apenas quando produz um movimento ou uma ação qualquer no outro, no
outro, mas também quando tem o poder de os produzir. Essa é a fonte das
relações de interesse e dever através dos quais os homens se influenciam
mutuamente na sociedade que se ligam pelos laços de governo e subordinação. Um
senhor é aquele que, por sua situação, decorrente da força ou acordo, tem o
poder de dirigir, sob alguns aspectos particulares, as ações de outro homem. Um
juiz de direito é aquele que, em todos os casos litigiosos entre a figuração
dentre os membros que formam os grupos da sociedade, é capaz de decidir, com
sua opinião a quem cabe à posse ou a propriedade de determinado objeto. Quando
uma pessoa possui certo poder, nada mais é necessário para convertê-lo em ação social
que o exercício da vontade; e isso, em todos os casos, é considerável possível,
e em muitos, provável – especialmente no caso da autoridade, em que a
obediência do súdito é um prazer e uma vantagem para seu superior.
Está claro que, no curso de nosso pensamento social e na constante circulação de nossas ideias, a imaginação passa facilmente de uma ideia a qualquer outra que seja semelhante a ela. Assim como existe o nascimento de uma semiologia e sociologia da celebridade, uma economia da celebridade e tal qualidade, por si só, constitui um vínculo afetivo e uma associação suficiente para a fantasia. É também evidente que, com os sentidos, ao passarem de um objeto a outro, precisam fazê-lo de modo regular, tomando-os sua contiguidade uns em relação aos outros, a imaginação adquire, por um longo costume, o mesmo método de pensamento, e percorre as partes do espaço e do tempo ao conceber seus objetos. Quanto à conexão realizada pela relação de causa e efeito, basta observar que nenhuma relação produz uma conexão mais forte na fantasia e faz com que uma ideia evoque mais prontamente outra ideia que a relação de causa e efeito entre seus objetos. Para compreender toda a extensão dessas relações sociais, devemos considerar que dois objetos estão conectados na imaginação. Não somente quando um deles é semelhante ou contíguo ao outro, ou quando é a representação da causa. Mas quando entre eles encontra-se inserido um terceiro objeto, que mantém com ambos alguma dessas notáveis relações. Dentre relações mencionadas, a de causalidade é a de maior extensão.
O ciclo de 16 anos impune começou a
ser quebrado quando um médico legista examinou o caso de Ottomar Schramm (1920-1998), um
homem de 78 anos que morreu de uma overdose de dioxina, uma droga que ele não
precisava, em dezembro de 1998 no Easton Hospital. O legista afirmou que havia
um “anjo da morte” no hospital e colegas de trabalho testemunharam sobre um
enfermeiro entrando sorrateiramente nos quartos de pacientes que mais tarde
morreram. Em 2002, uma enfermeira do Hospital St. Luke encontrou embalagens
descartadas de medicamentos em uma quantidade anormal. A suspeita estava
plantada. Uma investigação mais cuidadosa levou outras enfermeiras a observar
Cullen e detectar um comportamento estranho, onde ele entrava com seringas nos
quartos dos pacientes sem que fosse requisitado. Elas informaram a polícia,
alegando junto que encontraram pacotes abertos do medicamento que matou Diane
Mackrell (1956-2017) e Esther Stoneback, em cujos quartos haviam visto Charles. A polícia
enfim começou a investigar Cullen. Os crimes acabaram apenas em dezembro de
2003, quando as autoridades conseguiram reunir provas suficientes contra ele e
prendê-lo pelo assassinato do Reverendo Florian J. Gall (1934-2003) e também pela tentativa de
assassinato de Tin Kyushu Han, ambos pacientes do Hospital Somerset. Cullen
admitiu seus crimes e foi preso em 2003. Nos anos seguintes, seja por suas
próprias confissões ou por investigação policial, 40 vítimas foram encontradas
nos hospitais que trabalhou. Mas estimativas de especialistas e investigadores
no caso colocam o número total de assassinatos em mais de 400.
Testemunhar a morte de sua mãe impotente, sem ter nenhum controle para salvá-la, deve tê-lo afetado severamente. A vida de Cullen após a morte de Florence foi miserável. Ele se juntou à Marinha, apenas para ser intimidado, o que também o levou a tentar se matar, conforme “60 Minutes”. O trauma de tal desamparo pode ter se repetido quando a então esposa de Cullen, Adrienne Taub, se separou dele com suas duas filhas. Como o filme demonstra, Charles Cullen e sua ex-esposa tiveram batalhas pela custódia de seus filhos, mas o serial killer não conseguiu vencê-las, deixando-o sem controle sobre a vida de suas filhas como pai. Cullen pode ter tentado ganhar tal senso de controle reescrevendo o destino dos outros. De acordo com Charles Graeber, o autor do texto fonte do filme, ganhar controle e poder foram motivos fundamentais de Cullen. - “Se o resto de sua vida estivesse saindo de seu controle, se ele estivesse perdendo a custódia, se estivesse se sentindo deprimido, se sua vida amorosa estivesse no banheiro, ele poderia envenenar pacientes, ele poderia salvar pacientes, ele poderia tomar decisões, ele tinha uma arena na qual importava e onde suas ações tinham consequências definitivas”, disse o autor a Steve Kroft por “60 Minutes”. Em última análise, Graeber, que entrevistou o serial killer várias vezes para seu livro, acredita que Cullen matou porque podia. - “Nunca foi sobre ninguém além de Charlie Cullen. Ele fez o que fez por causa de suas próprias necessidades, suas próprias compulsões”, disse Graeber na mesma entrevista concedida ao “60 Minutes”. - “Ele se vê como uma vítima. E como vítima, ele tem o direito de atacar da maneira que quiser para consertar as coisas, se isso significa matar vítimas. É apenas – qualquer coisa sua vitimização”, acrescentou. As vítimas de Cullen não eram apenas pacientes terminais, mas também pacientes cujas vidas não estavam ameaçadas ou por um fio.
Várias de suas vítimas estavam
recuperando pacientes que teriam deixado o hospital em breve sem complicações.
De acordo com The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness, and Murder, de Charles Graeber, o texto fonte do filme, Cullen afirmou que queria que os
pacientes não fossem “codificados” e morressem. Ele também aparentemente queria
evitar que o pessoal do hospital “desumanizasse” os pacientes. A explicação não
explica por que ele teve que matar Eleanor Stoecker, que estava se recuperando
e sem dor, ou Michael Strenko, que sofria de uma doença autoimune e estava se
recuperando de uma cirurgia de remoção de baço de rotina. Quando Kroft
perguntou a Cullen por que ele matou pacientes que não esperavam a morte,
Cullen não teve nenhuma resposta satisfatória. - “Você sabe, de novo, você sabe,
quero dizer, meu objetivo aqui não é justificar. Você sabe o que eu fiz, não há
justificativa. Hum, eu só acho que a única coisa que posso dizer é que me senti
sobrecarregado na época”, disse Cullen a Kroft. - “Foi mais ou menos, sabe,
senti que precisava fazer alguma coisa e fiz. Isso não é uma resposta para
nada,”. Os então detetives do condado de Somerset, Tim Braun
e Daniel Baldwin, que capturaram Cullen, acreditam que ele matou por uma
sensação de controle. “Ele poderia salvar uma vida ou tirar uma vida. E em
muitos casos, ele escolheu tirar uma vida”, disse Braun ao
“60 Minutes”. Olhando para seu passado, Cullen teve que passar por várias
experiências em que aparentemente não tinha nenhum tipo de controle sobre sua
vida. Quando sua mãe Florence Cullen morreu quando ele tinha 17 anos, de acordo
com “60 Minutes”, Cullen tentou se matar.
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uma Escola que Forma para o Trabalho não Significa ser a Empresa que os Jovens
Trabalham. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Políticas
Públicas e Formação Humana. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, 2022; entre outros.
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