sábado, 16 de maio de 2020

Camelos - Penetrar Desertos, Correria & Transportar Homens.

                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga

     “A maioria dos homens vive uma existência de tranquilo desespero”. Henry Thoreau




            A domesticação dos Camelus é realizada  há milhares de anos, visando o leite, a carne, os pelos, a pele e a utilização de “animais de carga”. Os camelos constituem um gênero de ungulados artiodátilos com um par de dedos de apoio em cada pata que contém duas espécies: o dromedário, de uma corcova, e o camelo-bactriano, de duas corcovas. Ambos são nativos de áreas secas e desérticas da Ásia. São espécies domesticadas, fornecendo leite e carne para consumo humano, e são animais de tração, domesticado há milhares de anos. O nome camelo origina-se do grego e do hebraico ou fenício, possivelmente a partir de uma raiz etimológica que significa “suportar ou carregar”, relacionado com o árabe jamala. A expectativa média de vida de um camelo é de 40 a 50 anos. Adulto plenamente crescido alcança 1,85 m até o ombro e 2,15 m de comprimento. A sua corcova mede cerca de 75 cm. Camelos podem alcançar velocidade de até os 65 km/h. Servem como meio de comunicação, trabalho e travessia no deserto. Não necessitam beber água a todo instante e constituem um transporte mais rápido e seguro, pois são animais preparados para a vida no deserto. São herbívoros. O coletivo de camelos é cáfila. Quando se sentem ameaçados, fisicamente, por outros indivíduos, geralmente cospem no sujeito em questão, em situações extremas podem morder.    
            Etnograficamente em torno de 1200 a. C. foram inventadas as primeiras selas de camelo, que possibilitaram a montaria de camelos típicos bacterianos. As primeiras selas árabes eram usadas na parte traseira do camelo, sendo o controle do camelo bacteriano era realizado através de uma vara. Porém, somente por volta de 500-100 a. C. que os camelos bacterianos foram utilizados militarmente, com selas colocadas sobre as corcovas e construídas de maneira rígida e curvada, que distribuíam o peso igualmente entre as corcovas. No século VII a. C. surgiu a sela militar árabe, que melhorou o protejo das selas. No Império Romano os dromedários, compunham parte das tropas auxiliares romanas, recrutadas nas províncias desérticas da Arábia (Província Arábia), uma província fronteiriça do Império incorporada no início do século II. Correspondia ao território do antigo Reino Nabateu, o sul do Levante, a península do Sinai e o noroeste da península Arábica. Os camelos eram utilizados em combate pela capacidade de assustarem os cavalos, quando próximo, tinha uma qualidade utilizada pelos persas nas guerras do Império Aquemênida contra o Reino da Lídia, as modernas províncias da Turquia ocidental de Uşak, Manisa e a porção interior de İzmir.  



A cavalaria de camelos foi utilizada em guerras na África, Oriente Médio, sendo inclusive utilizadas atualmente pelas Forças de Segurança de fronteira da Índia (Border Security Force). Os exércitos também utilizaram camelos como animais de carga, em substituição a cavalos e mulas. Cavalaria é a arma das forças terrestres que, na Antiguidade se destinava ao combate de cavaleiros, em ações de choque ou de reconhecimento. Historicamente, a cavalaria é a arma potencialmente mais móvel dos exércitos e a segunda mais antiga a seguir à infantaria.  Normalmente, a designação “cavalaria” não se estendia às forças brutas que combatiam montadas em outros animais que não o cavalo, como ocorre com o camelo ou o elefante.   Desde os tempos mais remotos que a elevada mobilidade da cavalaria lhe deu uma vantagem como um instrumento multiplicador de forças. Mesmo considerada pequena força de cavalaria poderia manobrar de forma a flanquear, evitar, surpreender, retirar e escapar, de acordo com as necessidades do momento. Um homem combatendo montado num cavalo tinha também a vantagem de uma maior altura, velocidade e massa inercial sobre um oponente a pé. Outro elemento da guerra a cavalo era o impacto psicológico que um soldado montado poderia infligir sobre um oponente.
              O valor da mobilidade social e do choque da cavalaria foi muito apreciado e explorado pelos exércitos da Antiguidade e da Idade Média, muitos dos quais eram constituídos, praticamente, apenas por tropas a cavalo. Isso ocorria especialmente nas sociedades nómadas da Ásia que originaram os exércitos mongóis. Na Europa, a cavalaria transformou-se, essencialmente, numa cavalaria pesada constituída por cavaleiros de armadura. Durante o século XVII a cavalaria europeia perdeu a maior parte das suas armaduras e, no final do século só algumas unidades usavam armadura e esta, limitando-se à couraça do peito. A cavalaria tradicional sobreviveu até ao início da guerra de trincheiras na 1ª grande guerra. A maioria das unidades de cavalaria foram então desmontadas, literalmente, e empregues como infantaria na Frente Ocidental. No período entre guerras, muitas unidades de cavalaria, foram motorizadas ou mecanizadas. No entanto, algumas tropas a cavalo ainda combateram durante a 2ª guerra mundial, sobretudo na União Soviética, onde foram usadas tanto pelos Soviéticos como pelos Alemães e seus aliados. Contemporaneamente, a maioria das unidades militares a cavalo ainda existentes, é utilizada apenas para exercer funções cerimoniais. Existem, no entanto, algumas forças especiais de combate a cavalo que atuam como infantaria montada para operar em terrenos de acesso difícil, como florestas densas e montanhas.                  
            O Exército dos Estados Unidos da América criou o UNS. Camelo Corpos, baseado na Califórnia no século XIX. Durante a Guerra Civil Americana, o início do conflito ocorreu devido à questão da escravidão, que passou a ser discutida no âmbito político dentro do Congresso criando blocos claramente distintos entre escravistas e abolicionistas. Ipso facto camelos foram utilizados experimentalmente, mas sem muito sucesso, por causa da visível impopularidade entre as tropas. Alguns camelos escaparam para as planícies áridas americanas, criando bandos que existiram até o começo do século XX. A França criou um corpo de camelos marinhaste parte da Arme riqueza, no Saara, em 1902, substituindo unidades de sipahis e atiradores argelinos, utilizados antes para patrulhar as fronteiras. Estas unidades de camelo montadas permaneceram em serviço até meados de 1962, quando as tropas regionais foram dispensadas e os franceses transferidos para outras unidades. Na 1ª grande guerra, em 1916, os britânicos criaram o Corpo Imperial de Camelos, uma formação militar de tamanho similar a uma brigada, que lutou nas campanhas do Sinai e Palestina. Era composta de infantaria montada em camelos durante o cruzamento de desertos. Em maio de 1918 o Corpo foi reduzido ao tamanho de um batalhão e dispensado em maio de 1919. Também, durante a guerra, o Exército Britânico, criou o Corpo de Camelos de Transporte Egípcio, que suportou operações britânicas, transportando suprimentos. Outras tropas de camelos foram a Somali Camelo Corpus, utilizadas pelos britânicos do começo do século XX até a década de 1960, as Tropas Nómadas Espanholas utilizadas no Saara Espanhol. Existe uma substancial população geral de camelos dromedário estimados em até 1 milhão nas regiões centrais da Austrália, descendentes de indivíduos introduzidos como um meio de transporte no século XIX e início do século XX.


          Outro fator que demonstra a grande resistência e eficácia desses animais está relacionado à capacidade de suportarem temperaturas extremas e a de andarem cerca de 50 km ao dia carregando pesos que extrapolam os 450 quilos. Os Camelus, ainda, possuem patas de base larga, pestanas longas e pelagem esparsa, adaptadas ao ambiente desértico. Esta última pode apresentar coloração racial que varia entre o creme e castanho-escuro. Esta população estatisticamente está crescendo em cerca de 8% ao ano. Na Austrália, em 2020, mais de 10.000 camelos selvagens serão mortos por atiradores profissionais porque bebe muita água, um bem necessário conquanto o país venha devastado por incêndios, em parte porque os camelos usam muito dos limitados recursos necessários para os criadores de ovinos. Os camelos não são mais criados para obter leite e carne, como costumava ser. Em vez disso, tornaram-se uma forma de ficar milionário. Um criador que trabalha na indústria de telecomunicações e narra que se dedica a criar camelos com a ajuda da família porque “isso absorve a energia negativa acumulada durante a semana”. Ele explica que a nutrição que camelos compõem uma dieta completa, com mel, leite fresco, ovos, tâmaras e vitaminas. Não é caro dar mel para os camelos. – “Gastamos mil libras por mês (cerca de R$ 5,5 mil) para preparar o camelo para a corrida”. O criador também diz que esses animais começam a disputar provas com idades que variam de dois a sete anos - é o treinador quem decide “quando o camelo está pronto para correr”.
A autoridade do governo local de Anangu Pitjantjatjara Yankunytjatjara (APY), do estado Austrália Meridional anunciou em comunicado, um abate coletivo a milhares de animais selvagens. Definindo os camelos como alvo principal, mas não excluindo a possibilidade de incluir o abate de cavalos, as autoridades definem a “segurança pública e recursos ambientais” como motivações desta operação. – “Dadas às condições de seca contínuas e as grandes congregações de camelos que ameaçam todas as principais comunidades e infraestrutura do APY, é necessário controle imediato dos camelos”, escreve Richard King, diretor geral da APY (2020), em comunicado à imprensa.  O abate iniciado terá a duração prevista de cinco dias, e será realizado através de disparos dados de dentro de helicópteros. Os atiradores fazem parte do Departamento de Água e Meio Ambiente da Austrália Meridional. Um porta-voz desse departamento disse que o número crescente de camelos causou vários problemas na região. – “Isso resultou em danos significativos às infraestruturas, perigo para famílias e comunidades, aumento da pressão de pastagem nas terras do APY e problemas críticos de bem-estar dos animais, já que alguns camelos morrem de sede ou se atropelam para chegar a água”. Em abril de 2019 a Cable News Network (CNN) um canal de notícias de televisão por assinatura norte-americano, fundada em 1980, pelo proprietário de mídia Ted Turner como um canal de notícias 24 horas, noticiou que a Austrália elegeu o gato selvagem como o seu “novo inimigo público”. O governo australiano anunciou naquela conjuntura, que até 2020 pretendia matar cerca de dois milhões de gatos selvagens, sendo que se estima que a população de gatos selvagens deva ter entre dois a seis milhões de animais.
Vinte cientistas sauditas da cidade Rei Abdulaziz que era dominada pela família Al Rashid, foi tomada em 1902. Após a 1ª grande guerra, os ingleses reconheceram-no como emir de Hasa e do Négede. Entre 1913 e 1926, Ibn Saud tomou Al-Hasa, o resto do Négede e do Hijaz, a cidade de Ciência e Tecnologia e chineses do BGI de Shenzen - Instituto Genômico de Pequim - levaram mais de um ano para decodificar o código genético inteiro de um dromedário ou camelo árabe (Camelus dromedarius), que tem uma única corcova, espécie nativa onipresente na península arábica. O sequenciamento e a análise do genoma completo do camelo, que tem “similaridades consideráveis” com o gado, poderiam levar à melhor compreensão da habilidade do camelo em sobreviver no hostil ambiente do deserto. Revelar a genética que sustenta o sistema imunológico do camelo pode levar a descobertas médicas, e os dados do genoma também podem ajudar os cientistas a compreenderem melhor como este mamífero produz seu leite altamente nutritivo, valorizado pela medicina. – “O sequenciamento do genoma do camelo, desenvolvido por King Abdulaziz City for Science and Technology (KACST) e BGI,  contribuirá enormemente para a pesquisa genômica e pós-genômica mundial”, afirmou o presidente Jian Wang, um geneticista e empresário chinês presidente e cofundador do grupo. - Pretendemos expandir nosso conhecimento sobre as características fisiológicas e bioquímicas do camelo e levá-las à aplicação para o benefício da humanidade.
É considerado o esporte dos sheiks enquanto uma atividade 100% tradicional em Dubai. As corridas de camelo são um espetáculo para a vista porque estes animais são capazes de atingir 65 km por hora na parte final do trajeto, fazendo um grande barulho ao cavalgar sobre a pista. Não são montados por nenhum cavaleiro. Ou, melhor dizendo, por nenhum cavaleiro humano. São “robôs de alumínio” que controlam os passos dos animais, chegando mesmo a atiçá-los com um chicote se não estiverem no ritmo que deveriam. Estes aparelhos técnicos são constituídos por uma cabeça e um tórax com dois pequenos braços e um carrega o chicote e, o outro, as rédeas e também possuem um Global Positioning System (GPS) que transmite a velocidade do trajeto. Estas máquinas estão totalmente preparadas para resistir aos movimentos bruscos dos camelos. No exterior das pistas de corrida, estão os veículos que controlam estes robôs, posicionados de forma estratégica nos corredores para observar todas as suas manobras e reações. Quem controla as ações dos robôs são precisamente os donos dos camelos, geralmente sheiks e outras pessoas ricas que acompanham as competições e também gritam palavras de encorajamento para motivar os animais na sua árdua competição.
Camelos sendo elevados por trator:  
maus-tratos no mercado de Camelos
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            Cangurus e coalas são as primeiras imagens que vêm à mente quando se pensa na Austrália, Neoeuropas, ou seja, Nova Zelândia e América, mas o país também abriga mais de um milhão de camelos. Mas enquanto os australianos correm para salvar a vida selvagem nativa do país em face de enormes incêndios florestais e secas esmagadoras, os camelos não nativos enfrentam um destino diferente. As autoridades planejam matar 10 mil camelos nos próximos cinco dias. Líderes aborígines nos territórios de Anangu Pitjantjatjara Yankunytjatjara, no sul da Austrália, “sancionaram o abate dos animais”. Os bichos usam recursos hídricos que estão cada vez menores proporções e são igualmente necessários às comunidades que enfrentam uma seca severa. Em busca de água, os camelos estão destruindo cercas e invadindo quintais, de acordo com uma matéria da empresa News.com. au, um site de notícias e entretenimento australiano de propriedade da News Corp Austrália. Ele tem 9,6 milhões de leitores únicos em abril de 2019. São especializados em notícias nacionais e internacionais de entretenimento, de esporte, estilos de vida, viagens, tecnologia e finanças. Os animais competem por esses recursos naturais de sobrevivência e muitas vezes acabam morrendo em combates pisoteados, e suas carcaças podem acabar contaminando as fontes naturais de água.
Os 14 milhões de dromedário vivos representam animais domesticados, a maioria vivendo em regiões do Chifre da África, também reconhecido como Sudeste Africano e algumas vezes como Península Somali, no Sahel, uma faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5 400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, Maghreb, região noroeste da África, do Oriente Médio e Sul da Ásia. Nesta região encontram-se a maior concentração de camelos no plano mundial, onde os dromedários constituem uma parte extremamente importante da vida adenoma local, sendo benigno, resultante da proliferação dos elementos próprios de uma glândula. Os camelos bacterianos são menos, cerca de 1,4 milhões deles, principalmente domésticos. Pensa-se que existem cerca de 1.000 camelos selvagens bacterianos no Deserto de Gobi, um extenso deserto situado na região norte da República Popular da China e região sul  da Mongólia. Além de sua distribuição nativa original, houve diversas tentativas de implantação de colônias de camelos em outros locais, assim como sua importação para usos comerciais ou de exploração turísticos. Essa prática social de exploração animal é  reconhecida desde o Império Romano, com resquícios etnográficos comparados de camelos, tanto dromedário, como bacterianos, sendo encontrados desde o século I até o século V em regiões do Reino Unido, Bélgica, Suíça, Hungria, França e Alemanha.
          Uma corrida de camelos com jóqueis-robôs ocorreu recentemente nos Emirados  Árabes Unidos, marcando o início de um curioso evento esportivo do Oriente Médio. Dez robôs corredores tomaram parte na corrida inaugural. Eles foram guiados pela pista de Al Wathba, em Abu Dubai, por operadores humanos, seguindo em um comboio de automóveis, por meio de controles remotos via rádio. Os robôs foram desenvolvidos depois que a Associação de Corridas de Camelos dos Emirados Árabes Unidos baniu o uso de jóqueis com idades abaixo de 16 anos a partir de Março de 2004. Em Julho de 2005 essa idade foi elevada para 18 anos. A corrida de robôs foi acompanhada pelo Ministro de Assuntos Presidenciais daquele país, Xeique Mansour bin Zayed Al Nahyan, que a descreveu como um “tremendo sucesso, uma nova fase que irá testemunhar um novo desenvolvimento nesse esporte indispensável nos Emirados Árabes Unidos”. Uma empresa suíça recebeu US$1,3 milhão para desenvolver os jóqueis robóticos, que estão sendo individualmente vendidos por US$5.500,00. Os corredores, controlados remotamente, têm pernas mecânicas e se equilibram ou inclinam, e braços para puxar as rédeas dos camelos. Corridas nos desertos representam uma  tradição entre os beduínos árabes e um esporte popular e lucrativo.
          As corridas de camelos mais importantes costumam acontecer em abril porque, neste mês, os animais que tiveram os melhores resultados durante toda a temporada, de outubro a abril, participam das corridas finais. É difícil imaginar que estes animais, geralmente associados a caminhadas tranquilas pelo deserto, ou em diversos filmes hollywoodianos famosos de aventuras, atinjam estas velocidades durante uma competição. Por essa razão, o melhor mesmo é ver para crer. Além das corridas de camelos, as corridas de cavalos também têm grande popularidade em Dubai. O Sheik Mohammed bin Rashid Al Maktoum, honorificamente chamado de xeque Mohammed, é o atual primeiro-ministro e vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos, uma confederação de monarquias árabes, cada uma detendo sua soberania, chamadas emirados - equivalentes a principados - estão situados no sudeste da península Arábica e fazem fronteira com Omã e com a Arábia Saudita. Os sete emirados são Abu Dhabi, Dubai, Xarja, Ajmã, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fujeira. A capital e a segunda maior cidade dos Emirados Árabes Unidos são Abu Dhabi. A cidade também é o centro financeiro e de atividades políticas, industriais e culturais. Desde 2006, além de ser Emir de Dubai, também é dono de 99,67% das ações da Dubai Holding, considerado a pessoa mais influente das corridas de cavalos, procura garantir que Dubai tenha os melhores exemplares mundiais desses animais. A Dubai World Cup, uma corrida de turfe, em galope plano, do Grupo I, nos Emirados Árabes, uma das maiores premiações do mundo em 2010, ofertam 12 milhões de dólares.
 Disputada anualmente desde 1996 é realizada no luxuoso hipódromo Meydan. Abriu suas portas em 27 de março de 2010 para substituir o hipódromo de Nad Al  Sheba que anteriormente ocupava o mesmo local. É uma antiga instalação de corridas de cavalos em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, inaugurada em 1986.  Possui 2.200 metros de pista e espaço para gramado que se estende pela mesma distância.  O evento ocorre de novembro a março, em conjunto com o Carnaval Internacional da Corrida de Dubai e a Copa do Mundo Noturna de Dubai.  O Clube de Golfe Nad Al Sheba interrompeu as operações em 31 de maio de 2007, devido à reconstrução do complexo de corridas sob um nome e estrutura diferentes. É capaz de acomodar mais de 60.000 espectadores em uma arquibancada de uma milha. Quando não é usado para corridas, serve como um centro abrangente de negócios e conferências. Um museu e galeria de corridas de cavalos também estão planejados. O projeto também inclui um campo de golfe de 9 buracos. O Hipódromo de 7,5 milhões de m² inclui a Marina Meydan - o primeiro hotel de corrida de 5 estrelas do mundo, com acomodação de 285 quartos, 2 pistas e um Tribune, incluindo um hotel, restaurantes, um museu de corridas e 72 suítes corporativas para entretenimento com funcionamento durante o ano todo.
Esta é a corrida de cavalos que divide o maior prêmio monetário do planeta: dez milhões de dólares. Acontece em março e reúne os melhores competidores da modalidade, tanto cavaleiros como cavalos puros-sangues. A distância da corrida varia entre 4 e 10 km, e até 70 camelos podem competir ao mesmo tempo. Para assistir a este espetáculo, é aconselhável usar binóculo, tendo em vista que a velocidade de um camelo em plena forma pode chegar a 65 km/h. Assim, o espectador não perderá nenhum detalhe que acontece na pista. A entrada é franca e o traje admitido informalmente, mas as câmeras fotográficas e apostas são totalmente proibidas nestes locais de exibição e competição. Os animais participantes são submetidos a rigorosos e completos exames médicos antes do início da competição. Há um Comitê Técnico que libera os que podem, de fato, participar das competições. Apesar de ser um evento recente, a Dubai World Cup tornou-se um dos mais importantes fatos sociais do hipismo internacional. A Fédération Équestre Internationale fundada em 1921, tem sua sede localizada na cidade de Lausanne. É uma cidade na Suíça romana, a parte francófona da Suíça, e é a capital do cantão de Vaud. Sede do distrito de Lausana, a cidade está situada às margens do Lago Léman (em francês: Lac Léman). Limitada pela cidade francesa de Évian-les-Bains ao sul do lago, com as montanhas Jura a noroeste. Lausana está localizada 62 km a nordeste de Genebra. Ingmar De Vos, da Bélgica, é a presidente da instituição desde 2014. Os governantes dos Estados do Golfo geralmente determinam os preços dos animais.
O Conselho de Cooperação do Golfo representa a organização de integração económica que reúne seis estados do Golfo Pérsico: Omã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Kuwait. Cabe destacar que nem todos os países que rodeiam o Golfo Pérsico são membros do conselho, especificamente Irã e Iraque. A Carta do Conselho declara que os objetivos básicos são os de efetuar a coordenação, a integração e a interconexão entre os Estados membros em todos os campos, reforçando laços entre os seus povos, formulando regulações similares em vários campos como a economia, finanças, o comércio, a alfândega, o turismo, a legislação, a administração, bem como o progresso técnico na indústria, a mineração, a agricultura, recursos d'água e de pecuária, centros de pesquisa científica e a cooperação do setor privado. O Conselho de Cooperação dos Estados Árabes,  antes Conselho de Cooperação do Golfo é uma organização de seis países do Oriente Médio, que têm objetivos sociais e econômicos comuns. Criado a 25 de maio de 1981, está formado por árabes de Bahrein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
          O legislativo é exercido pelo parlamento, um órgão de consulta formado por 20 membros eleitos pelo povo e outros 20 indicados pelos emires, ambos para mandatos de 4 anos. Além disso, a constituição requisita que alguns emirados tenham mais parlamentares do que outros. Esse é o caso de Dubai e Abu Dhabi, que elegem 8 parlamentares cada. As eleições por lá são baseadas em candidatos avulsos e não em partidos políticos, já que os mesmos são proibidos. O executivo federal é formado, em primeiro lugar, pelo presidente representado pelo chefe de Estado, o primeiro-ministro (chefe de governo) e os ministros de Estado. O primeiro-ministro e os ministros de Estado são indicados pelo presidente, que por sua vez é indicado pela Suprema Câmara Federal, um órgão formado pelos sete emires que se reúnem 4 vezes ao ano. Os emires de Abu Dhabi e Dubai são os mais importantes: possuem poder de veto em discussões da Suprema Câmara Federal, como a própria eleição presidencial. Quando os sete emires se reúnem na Suprema Câmara Federal, escolhem um deles para ser presidente por 5 anos, sem limite de mandatos. Embora o cargo de emir seja hereditário, os de presidente e primeiro-ministro em tese não são assim, são escolhidos.
          Apesar disso, os emires de Dubai e Abu Dhabi sempre ocuparam esses dois cargos – respectivamente, primeiro-ministro e presidente -, mantendo a linha sucessória da família monárquica. O Poder Judiciário tem tribunais estruturados em dois níveis – o federal e o local dos emirados – e em três tipos: de julgamento, de recursos e de cassação. Os tribunais de recursos são onde as partes podem recorrer da sentença dada no tribunal de julgamentos. Em Dubai, por exemplo, os casos envolvem questões de comércio, trabalho, imóveis, direito civil, direito penal e direito religioso. Os tribunais de cassação são destinados à fiscalização dos tribunais menores, analisando se os mesmos comparativamente estão cumprindo e interpretando corretamente a lei. Essas três instâncias existem tanto no nível local quanto no federal, porém o tribunal federal de cassação é chamado de Suprema Corte, que possui 20 membros nomeados pelo presidente sob aprovação da Câmara Suprema Federal. No geral, os tribunais federais lidam com situações em torno da moeda nacional, do território e dos órgãos políticos, como os emirados e o governo federal. Enquanto isso, os tribunais locais lidam com situações mais cotidianas, que envolvem pessoas físicas e jurídicas, crimes de assassinato e roubo, por exemplo. O judiciário também está dividido em dois sistemas legais, o civil, o mesmo adotado no Brasil e pelo qual os julgamentos são feitos com base nas leis, no texto, e o religioso, com base na religião islâmica e que não é aplicado aos não-muçulmanos.
        Nele, são julgadas situações como divórcio e apostasia na religião, sendo que os crimes e as respectivas punições são definidas com base no livro sagrado islâmico, o Alcorão. A apostasia do Islã, é considerado crime e seu praticante condenado à morte ou prisão. – “Eles compram os camelos e os criam, mas nunca os vendem”, diz Faisal. – “Os governantes participam em pé de igualdade com seus cidadãos nas competições”. Mas quanto custa um camelo? Faisal diz que os preços começam em US$ 55 mil (R$ 193 mil), mas puros-sangues podem sair bem mais caros. Em 2010, um fã de corridas dos Emirados Árabes gastou US$ 9,45 milhões (R$ 33,7 milhões) com três animais. Os preços de campeões chegam ainda mais altos, podendo atingir US$ 30 milhões (R$ 105 milhões). Faisal parecia indiferente ao mencionar esses valores, enquanto eu tentava não aparentar surpresa. Mas chegar a esse nível não é fácil. Camelos precisam passar por etapas preliminares em países do Golfo, com os vencedores sendo premiados com o direito de participar das corridas mais importantes, mais se entende como os países do Golfo representam um grande mercado - os animais são vendidos para reprodução ou para as corridas. Feiras semanais e corridas locais são organizadas com o objetivo de escolher os melhores para participarem das principais competições, como ocorre com a Gulf Racing Cup, o Camel Racing Festival, realizado anualmente em Dubai, e a Shahannya Camel Races, no Catar. A extensão das pistas de corrida varia entre 1,5 km e 8 km, de acordo com a idade dos animais. Há provas para camelos de dois, quatro, seis e oito anos. Ao ganhador da prova final é dada uma espada como reconhecimento simbólico e o valor de US$ 3 milhões, como em Wembley, diz Faisal, fazendo referência a um dos principais estádios londrinos, palco de decisões esportivas. 
Bibliografia geral consultada.

HOURANI, Albert, Uma História dos Povos Árabes. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1995; MULS, Leonardo Marco, “Desenvolvimento Local, Espaço e Território: O Conceito de Capital Social e a Importância da Formação de Redes entre Organizações e Instituições Locais”. In: Revista Economia. Brasília, vol. 9, n°1, pp. 1-21, jan./abr. 2008; Artigo: “Cientistas decodificam o código genético do dromedário”. In: http://g1.globo.com/2010/06/09; MATOS, Lucas de Mello Cabral e, Oásis no Deserto na Referencialidade: Arnaldo Antunes e Vilem Flusser. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2010; MORAIS, Thaís de Godoy, O Livro das Mil e uma Noites em Jorge Luís Borges. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura Árabe. Departamento de Letras orientais. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013; LEAL, Luciano da Rosa, Estrutura Populacional e Diversidade Genética da Raça Árabe no Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. Uruguaiana: Universidade Federal do Pampa, 2015; MEDEIROS, Eduardo Vicentini de, Thoreau: Moralidade em Pessoa. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015; KRACHA, Bassima, “O Mercado Milionário das Corridas de Camelos”. In: https://www.bbc.com/portuguese//2016/05/07; CRUZ, Patrícia Mariz da, O Luto Amoroso: Uma Leitura de Paisagem com Dromedário, de Carola Saavedra. Dissertação de Mestrado. Guarulhos: Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade Federal de São Paulo, 2016; Artigo: “Por que a Austrália vai abater milhares de Camelos – com atiradores a bordo de helicópteros”. In:  https://epoca.globo.com/mundo/10/01/2020; FURTADO, Manuela Rodrigues, A Viagem na Literatura de Carola Saavedra – Flores Azuis e Paisagem de Dromedário. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária. Escola de Humanidades. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2020; TRAMONTIM, Beatriz Kestering, Autorreflexividade, Autorrretrato e Mosaico em As Praias de Agnês. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Ciências da Linguagem. Palhoça: Universidade de Santa Catarina, 2020; entre outros.

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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Teoria Marxista & Método de Aplicação do Palito de Fósforo.

Ubiracy de Souza Braga

                                      A manufatura de palitos de fósforos data de 1833”. Karl Marx

            

Etnograficamente o palito de fósforo fabricado é um artigo de consumo, curto, fino, feito de madeira, papelão, ou barbante encerado. Os palitos de fósforos feitos em papelão apareceram anos mais tarde e o responsável por esta invenção foi Joshua Pusey, um reconhecido advogado da Pensilvânia que fumava charutos. No processo de trabalho, estudado na teoria dialética do trabalho por Marx, desde sua fabricação apresentam oxidantes, enxofre e cola em uma das extremidades quando entra em atrito com a lixa. Na parte externa da caixa onde são guardados os palitos, nas laterais fabricadas com dextrina, fósforo e trissulfeto de antimônio II, ao riscar a lixa, no ato de fricção, se decompõe, arde nas baixas temperaturas e incendeia os demais produtos produzindo fogo. O elemento básico para fabricar palitos de fósforos foi descoberto acidentalmente pela experimentação em 1669 pelo alquimista alemão Henning Brand. Em uma de suas tentativas de transformar metais em ouro Brand descobriu o elemento fósforo significa em grego “o que traz luz”. Em 1680 o cientista britânico Robert Boyle, (1627-1691) foi um físico e químico irlandês, considerado um dos fundadores da Química, celebrizou-se como autor da Lei de Boyle, fórmula matemática que exprime como os gases se comportam sob condições normais de temperatura e pressão. De modo relativamente independente, dois cientistas europeus, o físico e naturalista inglês Robert Boyle e o físico francês Edme Mariotte (1620-1684) realizaram experimentos de variação da pressão e do volume dos gases comparativamente com a temperatura constante. Esse tipo de transformação é denominado isotérmica, pois, do grego, iso significa “igual” e thermo significa “calor”, ou seja, “calor igual”. Eles observaram uma relação técnica e social concreta entre pressão e volume que foi quantificada e notaram que essa relação se repetia desta forma para todos os gases. 

Por isso, criou-se a Lei de Boyle, também conhecida como Lei de Boyle-Mariotte que diz o seguinte: - “Em um sistema fechado em que a temperatura é mantida constante, verifica-se que determinada massa de gás ocupa um volume inversamente proporcional a sua pressão”. Ipso facto, representa na história técnica da ciência um dos fundadores da química moderna, percebeu que uma chama era formada quando o fósforo era esfregado no enxofre. Robert Boyle acreditava tecnologicamente que a chama não era causada pela fricção, mas sim por algo inerente ao fósforo e ao enxofre. Ele tinha razão. Encontrara o princípio que conduziria a invenção do fósforo. Coube ao farmacêutico inglês John Walker produzir, em 1827, palitos de fósforo que podem ser considerados, apesar de seu tamanho, o precursor de nossos fósforos. Palitos menores foram comercializados na Alemanha em 1832, mas ainda eram perigosos: costumavam incendiar sozinhos dentro da própria embalagem. Foi nos Estados Unidos da América que Alonzo D. Phillips de Springfield obteve, em 1836, uma patente para “fabricar fósforos de fricção” e os chamou “locofocos”, uma facção do Partido Democrata dos Estados Unidos da América que existia de 1835 até meados da década de 1840. Mas o perigo só foi constatado empiricamente e resolvido após a descoberta do fósforo vermelho, em 1845. Contudo, foi o sueco Carl Lundström que introduziu em 1855 fósforos seguros, chamados fósforos de segurança. Carl Ulf Sture Lundström é um empresário sueco. Carl Lundström é filho de Ulf Lundström e neto de Karl Edvard Lundström, fundador do maior produtor mundial de pão torrado, Wasabröd. Quando seu pai Ulf Lundström morreu em 1973, Carl Lundström era um dos cinco herdeiros de Wasabröd. Além do fósforo vermelho, seus ingredientes inflamáveis foram colocados em dois locais distintos: na cabeça do palito e do lado de fora da caixa, junto com o material abrasivo.    


           
Fósforo branco leva esse nome por ser branco. Possui fórmula molecular P 4, pois é constituído de pequenas moléculas com 4 átomos. É instável - em contato com o oxigênio do ar entra em combustão, sendo por isso conservado dentro de recipientes com água. Por conta dessa propriedade, é usado em bombas incendiárias e granado luminoso. Tem cheiro de alho, é fosforescente e altamente tóxico. Se for aquecido, pode se transformar na sua variedade alotrópica: o fósforo vermelho. Fósforo branco é extremamente venenoso. Uma dose de 50 mg pode ser fatal e muito inflamável. Em contato com a pele provoca queimaduras, como ocorreu com uma bomba de fumaça lançada em navio norte-americano durante a 1ª grande guerra, ou bombas de fósforo lançadas por Israel na faixa de gaza. O fósforo vermelho é mais estável, menos reativo. Não possui estrutura definida, porém cada grão de pó vermelho é formado por milhões de moléculas unidas, originando uma molécula de cadeia longa. É encontrado na superfície de atrito nas laterais das caixas de fósforo. Não se encontra nos palitos por segurança em atritar com outro na caixa e todos pegariam fogo. Caso estivesse no bolso, por exemplo, poderia causar uma fatalidade. Existem palitos que um simples atritar faz com que eles acendam, pois, o fósforo que está na cabeça do palito na forma de P.
Um dos primeiros atos dos portugueses no Brasil em 1500 foi abater uma árvore para montar a cruz da primeira missa. Nesse gesto premonitório fez-se a primeira vítima da ocupação européia da Mata Atlântica, que cobria boa parte do território brasileiro. Nos cinco séculos que se seguiram, cada novo ciclo econômico que envolve com uma alternância de períodos de crescimento relativamente rápido do produto, com períodos de relativa estagnação ou declínio de desenvolvimento do país, significou mais um passo na destruição de uma floresta de um milhão de quilômetros quadrados, hoje reduzida a vestígios. A manufatura de palitos de fósforo data de 1833, quando se inventou o método de aplicação do fósforo ao palito. Desde 1845, essa manufatura desenvolveu-se rapidamente na Inglaterra e, depois de se espalhar pelas partes densamente povoadas de Londres, expandiu-se principalmente para Manchester, Birmingham, Liverpol, Bristol, Norwich, Newcastle e Glasgow, levando consigo o tétano, que, já em 1845, um médico de Viena detectara como doença peculiar aos fosforeiros. A metade dos trabalhadores são crianças menores de 13 anos. Em virtude de sua insalubridade e repugnância, a manufatura é tão mal-afamada que apenas a parte mais miserável da classe trabalhadora, como viúvas semifamélicas, etc., entrega seus filhos a essas fábricas: “crianças esfarrapadas, semifamélicas, totalmente desamparadas e sem instrução”. As formas de trabalho de indivíduos operam de modo planejado, ao lado dos outros e em conjunto, no mesmo processo global de produção ou em processos de produção diferentes, porém conexos, que segundo Marx, chama-se sociologicamente cooperação.

Assim como o poder ofensivo de um esquadrão de cavalaria ou o poder defensivo de um regimento de infantaria são essencialmente diferentes dos poderes ofensivos e defensivos de cada um dos cavaleiros ou soldados da infantaria tomados individualmente, também a soma total das forças mecânicas exercidas por trabalhadores isolados difere da força social gerada quando muitas mãos atuam simultaneamente na mesma operação indivisa, por exemplo, quando se trata de erguer um fardo pesado, girar uma manivela, ou remover um obstáculo. A tecnicidade, o pensamento, a locomoção e a mão aparecem interligadas num movimento ao qual o homem dá seu significado histórico, mas ao qual nenhum membro do mundo animal é completamente estranho. Sem libertação da mão não há gesto técnico (instrumento) prolongamento da mão - nem instrumento - órgão da máquina - nem objeto fabricado. Nesses casos o efeito social do trabalho combinado, ou não poderia em absoluto ser produzido pelo trabalho isolado, ou o poderia apenas em um período de tempo muito mais longo, ou em escala muito reduzida. Não se trata do aumento da capacidade de desempenho da força produtiva realizada por meio da técnica adquirida na cooperação, mas da criação da força produtiva que tem de ser por si mesma, uma força de massas.  
Os palitos de fósforos feitos em papelão apareceram anos mais tarde e o responsável por esta invenção foi Joshua Pusey, um conhecido advogado americano da Pensilvânia que amava fumar charutos. Um dia, Joshua foi convidado para jantar pelo prefeito da Filadélfia e ao se vestir, reparou que a caixa de fósforos que levava no bolso de seu colete era grande demais. Joshua Pusey levou adiante uma idéia e em 1889 patenteou fósforos de papelão, mas oito anos se passaram antes que alguém mostrasse interesse por seu invento. Fato que ocorreu em 1897, quando a Companhia de Ópera Mendelsohn o procurou. Eles queriam algo de diferente para divulgar a abertura da estação nova-iorquina. Pusey então utilizou fósforos de papel com o nome da companhia impresso. Os fósforos de papelão começaram a vender com incrível rapidez. Anos mais tarde, Joshua Pusey vendeu sua patente para a Diamond Match Company. Ipso facto, a Diamond Match Company tem suas raízes em várias empresas do século XIX. No início da década de 1850, Edward Tatnall, de Wilmington, Delaware, recebeu uma receita em inglês para fazer jogos por um conhecido de negócios, William R. Smith.
O simples contato social provoca, na maior parte dos trabalhos produtivos, emulação e excitação particular dos espíritos vitais que elevam o rendimento dos trabalhadores individuais, fazendo com que uma dúzia de indivíduos forneça, numa  jornada de trabalho simultânea de 144 horas, um produto total muito maior do que doze trabalhadores isolados, ou cada um deles trabalhando 12 horas. Embora muitos indivíduos possam executar simultânea e conjuntamente a mesma tarefa, ou o mesmo tipo de trabalho de cada um, como parte do trabalho total, podem representar diferentes fases do próprio processo de trabalho, fases que o objeto de trabalho percorre com maior rapidez graças à cooperação. O objeto de trabalho percorre o mesmo espaço em menos tempo. Por um lado, a cooperação possibilita estender o lugar praticado no âmbito espacial do trabalho, razão pela qual é exigida em certos processos devido á própria configuração espacial do objeto de trabalho, como na drenagem da terra, no represamento, na irrigação, na construção de canais, estradas, ferrovias etc.
A circulação de mercadorias é o ponto de partida do capital. De meados de junho a meados de setembro é verão na Europa, sendo julho e agosto mais movimentados porque é exatamente quando quase todo mundo está de férias. O comércio que nada mais é do que a representação da produção de mercadorias e circulação desenvolvida de mercadorias formam os pressupostos históricos e metodológicos a partir dos quais o capital emerge. O comércio e o mercado mundiais inauguram, no século XVI, a história social moderna do capital. Se abstrairmos a categoria social do comércio material da circulação de mercadorias, isto é, da troca dos diversos valores de uso, e considerarmos apenas as formas econômicas que esse processo engendra, encontraremos, como seu produto final, dinheiro. Ao deixar a esfera da circulação interna, o dinheiro se despe de suas formas locais de padrão de medida dos preços, de moeda, de moeda simbólica e de símbolo de valor, e retorna à sua forma original de barra de metal precioso. No comércio mundial, as mercadorias desdobram seu valor. O produto da circulação das mercadorias é a forma de manifestação do capital.
          Mal iniciava o século XVI e os espanhóis já exploravam a costa nordeste da América do Sul. Os franceses também não tardaram, contestando a divisão luso-espanhola do globo terráqueo e enviando navios para o Atlântico Sul. Não era então muito claro que a decorrência óbvia da viagem de Cabral fosse o direito português sobre a “nova terra”. Talvez não seja exagerado dizer terem sido os franceses que decidiram a sorte das terras invadidas por Cabral. Não fosse sua presença constante no litoral durante todo o primeiro quartel do século, e não fosse muito depois, em 1555, o seu empenho em fundar uma colônia na baía de Guanabara e talvez o interesse português pelo Atlântico Sul ficasse adormecido por mais tempo. Desde 1504, quando da viagem da nau L`Espoir de Honfleur, os franceses estiveram na costa da nova terra, carregando com pau-brasil, os navios de armadores normandos e bretões. Após 1521, quando morreu D. Manuel, a indecisão de seu sucessor, D. João III, em se alinhar com Carlos V contra Francisco I acabou beneficiando as investidas francesas no Atlântico Sul. A cobiça pelo pau foi tamanha que os portugueses esgotaram estoques em menos de um século, e trocar a cultura para saciar o voraz mercado europeu.
Por outro lado, ela torna possível, em proporção á escala da produção, o estreitamento espacial da área de produção. Essa limitação do âmbito espacial do trabalho e a simultânea ampliação de sua esfera produtiva de atuação, que poupa uma grande quantidade de “custos mortos”, do ponto de vista econômico: faux frais, é resultado da conglomeração dos trabalhadores, da reunião de diversos processos de trabalho e da concentração dos meios de produção. Comparada com uma quantidade igual de jornadas de trabalho isoladas e individuais, a jornada de trabalho combinada produz uma massa maior de valor de uso, reduzindo, assim, o tempo de trabalho necessário para a produção de determinado efeito útil. Se a jornada de trabalho combinada obtém essa força produtiva mais elevada por meio da intensificação da potência mecânica do trabalho, ou pela extensão de sua escala espacial de emprego, ou pelo estreitamento da área de produção em relação à escala da produção, ou porque, no momento crítico, ela mobiliza muito trabalho em pouco tempo, ou desperta a concorrência entre os indivíduos e excita seus espíritos vitais, ou imprime às operações semelhantes de muitos indivíduos a marca da continuidade e da multiplicidade.
A concepção materialista da história sugere a caracterização inequívoca do capitalismo constituído precisamente pelo trabalho. Fundamentalmente difere daquelas relações que caracterizam as sociedades não capitalistas. Embora sua análise crítica do capitalismo inclua a crítica à exploração, à desigualdade social e à dominação de classe, pretende elucidar a própria dimensão das relações sociais na sociedade moderna, e a forma abstrata de dominação econômica que lhes é intrínseca, através de uma teoria que fundamenta sua constituição em determinadas formas estruturais de práticas. Marx desloca o foco central de sua crítica analítica, distanciando-se das considerações sobre a propriedade e o mercado, ao sustentar que tais dimensões, em vez de tecnicamente, são ideologicamente constituídas. A contradição entre o trabalho a propriedade privada e o mercado é concebida entre o modo de produzir saberes e o modo de distribuir práticas. Os valores capitalistas tendem a se articular e fundir no conjunto da sociedade os processos sociais e se traduzem, notadamente, por uma nova forma de utilizar o tempo e o espaço, a qual põe em cheque a distinção entre tempo de trabalho e tempo de consumo. O tempo social humano se torna totalmente econômico, atenuando a fronteira entre produção social e produção econômica.
Na análise comparada Marx percebe o tratamento do impulso de prolongamento da jornada de trabalho, da voracidade do lobisomem por mais-trabalho, limitou-se a uma área em que abusos desmedidos – que, no dizer de um economista burguês da Inglaterra, não ficam aquém das crueldades dos espanhóis contra os peles-vermelhas da América – fizeram com que o capital fosse submetido aos grilhões da regulação legal. Ao longo dos últimos 22 anos no século XIX, as olarias de Staffordshire foram objeto de três inquéritos parlamentares. Os resultados foram apresentados nos relatórios do sr. Scriven aos Shildren`s Employment Commissioners (1841), no relatório do dr. Greenhow, publicado em 1860 por ordem do departamento medico do Privy Council e por fim, no relatório do sr. Longe, publicado como First Report of the Children`s Employment Comission, em 13 de junho de 1863. A partir da situação das crianças, podemos ter uma ideia do que se passa com os adultos, principalmente com as moças e mulheres no ramo da indústria que faz atividades como a fiação do algodão e outras semelhantes parecerem negócios muito agradáveis e saudáveis. Na fábrica de papéis de parede, os tipos mais grosseiros são impressos com máquinas, e os mais finos manualmente (block printing). O período de trabalho intenso é entre o começo de outubro e o fim de abril, quando esse trabalho fabril é realizado quase sem interrupção das 6 horas da manhã às 10 horas da noite ou ainda mais tarde.
  Assim a produção social através da cooperação de indivíduos no mesmo processo de trabalho cooperativo, executa diversas operações simultaneamente, ou economiza os meios de produção por meio de seu uso coletivo, ou confere a passagem do processo de trabalho individual ao leitmotiv, o caráter de trabalho social médio, quando a força produtiva específica da jornada de trabalho combinada é força produtiva social do trabalho ou, com a divisão sociológica do trabalho, a composição técnica enquanto força produtiva do trabalho social. Ipso facto, ela deriva da própria cooperação. Ao cooperar com outros modos de planejamento, o trabalhador supera suas limitações individuais e desenvolve sua capacidade genérica. Se os trabalhadores não podem cooperar diretamente uns com os outros sem estar juntos, de modo que sua aglomeração num determinado local é condição de sua cooperação, os trabalhadores assalariados não podem cooperar sem que o mesmo capital, o mesmo capitalista os empregue simultaneamente, comprando ao mesmo tempo, portanto, suas forças de trabalho. O valor total dessa combinação, ou a soma dos salários dos trabalhadores por um dia, uma semana, e assim por diante, tem de estar reunido no bolso do capitalista antes da própriasforça de trabalho ser reunida no processo de produção. 
Um interessante artigo do Los Angeles Times aborda o problema da produção dos palitinhos de madeira descartáveis na China. Calcula-se que eles consumam cerca de 45 bilhões de pares de palitos por ano, e cálculos do Greenpeace indicam que sua produção exige 40 hectares de árvores por dia. As exportações agregam outros 18 bilhões de pares anualmente. A perda das florestas é um dos principais problemas ambientais da China: provoca a erosão do solo, inundações, emissões de carbono e desertificação, além de afetar o habitat de espécies nativas e, portanto, provocar reduções nas populações e, sobretudo sua extinção. Este cenário político torna-se ainda mais complexo porque as tentativas de reduzir o uso dos palitos malograram apesar da China tentar diminuir seu consumo há mais de dez anos. Um dos entraves é a proteção dos empregos de mais de 100 mil pessoas que trabalham nas 300 fábricas dedicadas à produção dos palitos na China. Outro são os restaurantes, que precisam arcar com um custo adicional para esterilizar palitos reutilizáveis. O Ministério do Comércio e outros cinco ministérios da China divulgaram um comunicado, informando que haverá um maior controle sobre a produção, mas sem anunciar medidas de contenção específicas nem penalidades. Mais uma vez, o poder está com os consumidores, seja levando seus próprios pauzinhos ou pagando pela esterilização. O problema dos palitos descartáveis demonstra como a produção de objetos cotidianos está ligada a complexos modelos econômicos, além de confirmar o absurdo da chamada “cultura do descartável” e a necessidade de examinar tudo o que consumimos, evitando ao máximo o desperdício.
Bibliografia geral consultada.

FAULKNER, Harold Underwood, História Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires: Editorial Nova, 1956; NAPOLEONI, Claudio, Smith, Ricardo, Marx. Considerazioni sulla Storia del Pensiero Econômico. Torino: Boringhieri Editore, 1970; TOPALOV, Christian, Naissance du Chômeur, 1880-1910. Paris: Editeur Albin-Michel, 1994; DEAN, Warren, A Ferro e Fogo. A História e a Devastação da Mata Atlântica Brasileira. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1996; MELLO E SOUZA, Laura de, “O Nome do Brasil”. In: Revista de História. Departamento de História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, n° 145, 2001, pp.61-86; LORENZI, Harri, Árvores Brasileiras. 4ª edição. Nova Odessa (SP): Editor Instituto Plantarum, 2002; GARCÍA ESTEBAN, Luís, et al, Madera y su Anatomia. Madrid: A. Vicente Ediciones, 2003; MURALT, Malou von, A árvore que se tornou pais. São Paulo: Revista da Universidade de São Paulo, n° 71, pp. 171-198, set.-nov., 2006; BERTELLI, Giordano Barbin, República Pau-Brasil: Política e Literatura no Modernismo de Oswald de Andrade. Dissertação de Mestrado em Ciências Humanas. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2009; SILVA, Marineide Maria, O Mosaico do Desemprego. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2009; MARX, Karl, O Capital: Crítica da Economia Política. Livro I. O processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013; ZANI, Liliane Baldan, Caracterização da Ontogenia do Pau-Brasil (Caesalpinia echinata Lam). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal. Centro de Ciências Humanas e Naturais. Vitória: Universidade Federal do Espirito Santo, 2014; ABDALA, Ernesto, Esbozo de la Dinâmica Histórica y Algunos Aspectos de los Sistemas Nacionales de Formación Profesional en América Latina. Santiago de Chile: Organização das Nações Unidas; Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, 2014; MIRANDA, Carlos Alberto Cunha, A Arte de Curar nos Tempos da Colônia: Limites e Espaços da Cura. 3ª edição. Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco, 2017; entre outros.

terça-feira, 12 de maio de 2020

A Tirania dos (Quase) Sempre-Iguais na História Globalizada.

Ubiracy de Souza Braga

                                 A unidade do efeito revela a unidade da causa”. Émile Durkheim
                            

Segundo Aristóteles e Platão, a marca da tirania é a ilegalidade. A violação das leis e regras pré-estipuladas pela quebra da legitimidade do poder por si já determina o que é tirania.  O sentido negativo, no seu uso público, mesmo que em democracia eleita, será sempre atribuído quando começar a haver restrições à liberdade de expressão e de pensamento, ameaças em confronto aos opositores e outros meios políticos de abuso de autoridade na tentativa de manter o poder. É caracterizada pelas sanções às liberdades individuais e coletivas. A tirania é representada por ações que não tendo mais o poder de matar ou mesmo prender o opositor, preferem usar métodos ilícitos substituindo processos judiciais por calúnia e difamação, influência na organização da imprensa e órgãos de informação. No mundo contemporâneo nas democracias ocidentais, o termo tirania tem conotação sempre negativa. Algumas raízes históricas rememoram o fato dos filhos do tirano grego Pisistrato da antiga Atenas quando era o principal centro urbano da importante pólis (cidade-Estado) de mesmo nome,- que era adorado pelo povo, pois fez a reforma agrária e dava subsídio - terem usufruído do espaço público como se fosse privado, sendo assim, banidos e mortos.
Pisistrato conquistou a fama por ter tomado um porto controlado por Mégara, polis com a qual Atenas travara uma guerra. Politicamente, Atenas encontrava-se nesta época dividida em duas facções, da Planície, de tendência conservadora, constituída pelos eupátridas latifundiários e liderada por Licurgo, e da Costa, composta por mercadores e chefiada por Megacles. Mas Pisistrato criou uma terceira facção, a dos Montanheses, onde se incluíam elementos aristocráticos, embora inclusiva à população desfavorecida do meio urbano e camponês. Segundo Heródoto, Pisistrato simulou um ataque, entrando na ágora de Atenas representando feridas que fez em si próprio, mas que ele afirmou ter sido feitas pelos seus inimigos, que o teriam tentado matar. Graças a esta encenação, Pisistrato conseguiu convencer os Atenienses a conceder-lhe uma guarda pessoal, algo que em seu tempo não era permitido, “dado que o seu detentor poderia apoderar-se da cidade”. De acordo com Heródoto, Sólon, estadista, legislador e poeta grego, já então de idade extremamente avançada, teria aconselhado os Atenienses a não lhe concederem a guarda.


           
Não se nasce uma universidade, torna-se. Quando? O Ministério da Educação representa uma instituição de Noventa anos em desconstrução. Mas em sua história social e política assumiu diversas formas e títulos. Em 1930, com Getúlio Vargas no poder a educação ganhou status de ministério. O ministério fundado por Vargas se chamava Ministério da Educação e Saúde Pública. A criação desse ministério representou um momento de valorização social da educação, mas a Constituição de 1934, não era reconhecida como um direito de todos. Nasce o Ministério da Educação e Cultura, um órgão do governo federal fundado pelo decreto nº 19.402, em 14 de novembro de 1930, com o nome de Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, era encarregado do estudo dos assuntos relativos ao ensino, saúde pública e assistência hospitalar que servem de campo para a prática de atividades de ensino na área da saúde. Próximo dos 100 anos o Ministério da Educação e Cultura (MEC), um poder sem saber, classifica as instituições de ensino em três tipos de institutos acadêmicos: Faculdades, Centros Universitários e Universidades.
            Esta relação não é meramente técnica, mas social. A divisão do trabalho no interior de uma nação representa a divisão do trabalho industrial e comercial do trabalho agrícola e com isso à divisão entre cidade e campo e à oposição entre o interesse de ambos, na formação do trabalho intelectual e manual. Seu desenvolvimento posterior leva à divisão entre trabalho comercial e industrial. Ao mesmo tempo se desenvolvem sempre, através da divisão de trabalho no interior desses diferentes setores, diferentes seções entre os indivíduos atuando em conjunto em um determinado trabalho. A posição dessas seções individuais umas contras as outras é condicionada pelo modo de operação do trabalho agrícola (patriarcal), industrial (classe) e burocrático (estamento). As mesmas condições sociais demonstram-se, em caso de intercâmbio desenvolvido, nas relações de diferentes regiões, estados, nações implicando domínios de uns e outros. Os diferentes estágios de desenvolvimento da divisão são, da mesma maneira, diferentes formas da propriedade, onde cada uma das fases determina as relações dos indivíduos uns com os outros, com seus instrumentos e produto do trabalho.   
            São notáveis os hábitos disciplinares de trabalho - mutatis mutandis - em que se dispunha Honoré de Balzac, embora não conseguisse trabalhar rapidamente, esforçava-se com dedicação e escopo incríveis. Seu método alimentar e de trabalho preferido era comer uma rápida refeição as cinco ou seis horas da tarde e então dormir até meia-noite. Depois do descanso, levantava-se na madrugada e escrevia por muito tempo, às vezes interruptamente, com pausas apenas para tomar algumas xícaras de café preto, pois, conforme escreveu, “o café é a bebida que desliza para o estômago e põe tudo em movimento”. Costumava trabalhar em um único trecho por cerca de quinze horas ou mais; chegou a declarar que certa vez trabalhou interruptamente por 48 horas com apenas três horas de descanso. Realizava revisões obsessivamente, cobrindo provas de impressão com mudanças e adições repostas. Por vezes repetia o processo comunicativo durante a publicação de um livro e, simultaneamente, como resultado criava despesas significativas cumulativas para si próprias e seu Editor. Não raro o produto final era representado de forma muito diferente da ideia concebida anteriormente e do livro original. 
            O uso excessivo que Balzac faz dos detalhes, especialmente os detalhes de objetos, para ilustrar a vida de suas personagens, fez com que ele fosse um dos pioneiros do realismo literário. Embora admirasse e fosse inspirado pelo estilo romântico de autores como o escocês Walter Scott (1771-1832), procurou em sua obra retratar a existência humana através do uso de particularidades. Um exemplo notável são as descrições da Pension Vauquer em Le Père Goriot (1835), em que o papel de parede da pensão reflete a identidade interior dos seus moradores, inspirado num amigo do autor, Hyacinthe de Latouche (1785-1851), que tinha conhecimento sobre suspensão de papéis de parede. Os manuscritos de Balzac são um notável exemplo do naturalismo, uma forma mais pessimista e analítica do realismo que explica o comportamento como intrinsecamente relacionado ao meio. Émile Zola (1840-1902) declarou que Balzac “era o pai da novela naturalista”. Ou ainda, enquanto os românticos viam o mundo através de lentes coloridas, o naturalista vê o mundo através de um vidro transparente, o tipo de efeito que Balzac se esforçava para alcançar em suas obras. Antes de tentar compreender o porquê de o vidro ser um material transparente, precisamos entender do que ele é feito. Tudo começa na crosta terrestre, onde podemos encontrar a existência de dois de seus elementos mais comuns: o silício e o oxigênio. Quando eles se unem, eles formam a cadeia de dióxido de silício que, por sua vez, forma os cristais de quartzo, normalmente encontrado na areia.


                 
Embora alguns de seus livros nunca tenham chegado a um estado final, como Les Employés (1841), eles não deixam de ser notados pelos críticos. Apesar de Balzac ter sido um “eremita e vagabundo”, conseguiu manter-se conectado, e principalmente retratar como ninguém, o mundo social que alimentava a sua escrita. Era amigo de Théophile Gautier (1811-1872) e Pierre-Marie-Charles de Bernard du Graal de la Villette (1804-1850), e conhecia Victor Hugo, a quem admirava e escrevia cartas. Não gastava seu tempo em saloons, tampouco em clubes, como faziam muitos de seus personagens principais. Como dizem biógrafos e críticos do talentoso Balzac não se sentia confortável nesses lugares, pois “pressentia que seu negócio não era frequentar a sociedade, mas criá-la”. Isto não o impediu de frequentar o Château de Saché, próxima de sua cidade natal, Tours, e que era a casa de seu amigo Jean de Margonne, amante de sua mãe e pai de seu irmão mais novo. Muitos de seus personagens foram concebidos enquanto lugar praticado no quarto do 2° andar, analisado noutro lugar (2017), hoje um belo museu dedicado ao autor.   
Toda essa compreensão da história econômica e social parece se opor ao fato das conquistas. A violência, a guerra, o saque, o assassinato seguido de roubo e assim por diante foram transformados em força motriz da história. Com o desenvolvimento da propriedade voltam a ocorrer ali, por primeiro e sempre de novo, as mesmas relações que voltaremos a encontrar na propriedade privada moderna, mas aqui em escala expandida. O fato é o seguinte: determinados indivíduos, que são ativos na produção de determinada maneira, contraem entre si essas determinadas relações sociais e políticas. A observação empírica tem de, necessariamente, provar empiricamente e sem nenhum tipo de mistificação ou especulação moral ou social, em cada caso concreto, a relação existente entre a estrutura social e política e a produção. A estrutura social e o Estado brotam constantemente do processo de vida de determinados indivíduos; mas esses indivíduos tomados não conforme possam se apresentar ante a imaginação, própria ou alheia, mas tal como realmente são. Isto quer dizer, como atuam e como produzem materialmente a sua existência, e, portanto, tal como desenvolvem suas atividades e determinados limites, premissas e condições materiais, independentes de seu arbítrio.
            A maior divisão do trabalho físico e intelectual é a separação entre cidade e campo. Com a cidade, aparece a necessidade de administração, da polícia, dos impostos e assim por diante, em suma, da organização política em comunidade, portanto e da política em geral. A cidade já é obra da concentração da população, dos instrumentos de produção, do capital, do desfrute e das necessidades, ao passo que o campo representa o expoente cabal ao fato contrário, quer dizer ao isolamento social e à solidão. O antagonismo entre a cidade e o campo apenas pode se dar dentro da propriedade privada. Ela é a expressão mais crassa a submissão do indivíduo à divisão do trabalho, a uma determinada atividade que lhe é imposta, submissão que transforma alguns em limitados animais urbanos e outros em limitados animais rústicos, reproduzindo diariamente, segundo Marx, esta oposição de interesses. A suprassunção da antítese entre cidade e campo é uma das primeiras condições para a comunidade, condição que depende, por sua vez, de uma massa de premissas materiais que não pode ser alcançada por obra da simples vontade, como qualquer um é capaz de perceber á primeira vista.
Sabemos desde Marx (2013: 309) que o capital não inventou o mais trabalho. Onde quer que uma parte da sociedade detenha o monopólio dos meios de produção, o trabalhador, livre ou não, tem de adicionar ao tempo de trabalho necessário a sua autoconservação um tempo de trabalho excedente a fim de produzir os meios de subsistência para o possuidor dos meios de produção, seja esse proprietário ateniense, o teocrata etrusco, os civis romanus, o barão Normando, o escravocrata norte-americano, o boiardo valáquio, o landlord moderno ou capitalista. No entanto, é evidente que em toda formação econômica da sociedade onde predomina não o valor de troca, mas o valor de uso do produto, o mais trabalho é limitado por um círculo mais amplo ou mais estreito de necessidades, mas nenhum carecimento descomedido de mais trabalho surge do próprio caráter da produção. Razão pela qual, na Antiguidade, o sobretrabalho só é repudiado quando seu objetivo primordial é obter através da exploração do trabalho o valor de troca em sua figura autônoma de dinheiro, na produção de ouro e prata. O trabalho forçado até a morte e, até aqui, a forma oficial de sobretrabalho.  Assim que os povos, cuja produção ainda se move nas formas inferiores do trabalho escravo, da corveia etc., são arrastados pela produção capitalista e pelo mercado mundial, que faz da venda de seus produtos no exterior seu principal interesse, os horrores bárbaros da escravidão, da servidão etc. são coroados com o horror civilizado do sobretrabalho.
Isso explica por que o trabalho dos negros nos estados sulistas da União Americana conservou certo caráter patriarcal, enquanto a produção ainda se voltava, sobretudo, às necessidades locais imediatas. O objetivo não era extrair deles certa quantidade de produtos úteis. O que importava, agora, era a produção do próprio mais-valor. Algo semelhante ocorreu com a corveia, por exemplo, nos Principados do Danúbio. A corveia estava vinculada a rendas naturais e a outras formas acessórias de servidão, porém constituía o tributo mais importante pago á classe dominante. Onde esse é o caso, a corveia raramente teve origem na servidão; ao contrário, foi a servidão que, na maior parte das vezes, teve origem na corveia. Foi o que ocorreu nas províncias romenas. O trabalho dos camponeses livres na sua terra comunal se converteu na corveia para os ladrões da terra comunal. Com isso, desenvolveram-se, ao mesmo tempo, relações de servidão, ainda que apenas de fato, não de direito, até que a Rússia, a libertadora do mundo, legalizou essas relações sob o pretexto de abolir a servidão. O código da corveia, proclamado em 1831 pelo general russo Kisselev, foi, naturalmente, ditado pelos próprios boiardos. A Rússia conquistou, com um só golpe, os magnatas dos Principados do Danúbio e o aplauso dos liberais cretinos de toda a Europa. 
            Uma vez que o Estado é a forma sob a qual os indivíduos da classe dominante fazem valer seus interesses comuns, e na qual se resume toda a sociedade civil de uma época, deduz-se daí que todas as instituições comuns se objetivam através do Estado e adquirem a forma política através dele. Daí, também, a ilusão de que a lei se fundamenta na vontade e, ademais, na vontade desgarrada de sua base real, na vontade livre. E, do mesmo modo, o direito é reduzido à lei. Isto porque o direito privado se desenvolve conjuntamente com a propriedade privada a partir da desintegração da essência comunitária natural-primitiva. No direito privado as relações de propriedade vigentes são declaradas resultado da vontade geral. Quando se julga o liberalismo e o Estado, até mesmo quando situado no interior das impressões locais alemães, ou mesmo se limita à crítica das ilusões burguesas acerca do liberalismo, é natural que se chegue aos resultados mais insípidos do mundo. Os burgueses pagam bem seu Estado e fazem com que a nação pague pelo fato de eles poderem pagar mal sem perigo. Eles garantem, com bom pagamento, uma força de proteção do Estado, uma polícia; pagam-lhes impostos de bom grado e deixam a nação estabelecer altos impostos a fim de poder jogar ás costas dos trabalhadores sem perigo, na condição de impostos os que gastaram. O artifício de provar aos “que se sacrificam”, que eles são os egoístas, é um velho truque, explorado á exaustão já em Claude-Adrien Helvetius e Jeremy Bentham. 
            O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir os seus próprios interesses, mesmo sendo à custa de outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações sociais, ou tipos de atos como certos ou errada independentemente das consequências que eles possam ter.  O utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma má motivação no indivíduo. O próprio Bentham disse ter descoberto o “princípio de utilidade” nos manuscritos de vários pensadores do século XVIII como Joseph Priestley, um clérigo dissidente famoso por ter descoberto o oxigénio, e Claude-Adrien Helvétius, autor de uma filosofia de “meras sensações”, de Cesare Beccaria, jurista italiano, e de David Hume. Helvétius foi posterior a Hume e deve ter reconhecido o seu pensamento, e Beccária, proporcionalmente, o de Helvétius. Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governo de seus atos iria sempre procurar maximizar o seu próprio prazer e minimizar o seu sofrimento, colocou no prazer e na dor a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da ação. À arte de alguém governar as suas próprias ações, Bentham chamou “ética particular”, a felicidade do agente é o fator determinante, pois, a felicidade dos outros governa somente até ao ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência, ou interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros. Na universidade pública, gratuita e aparentemente democrática, os professores conquistaram sem emprego por mérito, não existe vontade e cooperação social na relação entre professores.

       Ao contrário, suas ações originam-se de um movimento celular de interesses, combinado fortuitamente entre amigos. – “O neofascismo europeu que surge atualmente é, por antonomásia, supremacista, individual e coletivamente. É o projeto de uma sociedade hierárquica de senhores e servos, weltanschauung que aceita a necessidade imperiosa de submissão a um líder, sua servidão voluntária. Essa submissão fica escondida atrás do sentimento de força e de vingança em relação às elites, que a mobilização coletiva confere ao neofascismo militante. E isso funciona porque essa ideologia, sem prejuízo de suas particularidades em cada país, gera, na identidade de seus seguidores, uma poderosa liberação de instintos agressivos e explode os tabus que limitam as expressões primitivas, violentas, nas relações sociais” (Cf. Naïr, 2018). As consequências de uma ação são a única base permanente para julgar a moralidade desta própria ação. O utilitarismo não se interessa desta forma pelos agentes morais, mas pelas ações demarcadas e efetivas – as qualidades morais do agente não interferem no cálculo da moralidade de uma ação, sendo então indiferente se o agente é generoso, interessado ou sádico, pois são as consequências do ato que são morais. Há uma dissociação entre a causa (o agente) e as consequências iniludíveis do ato. Assim, para o utilitarismo, dentro de circunstâncias diferentes um mesmo ato pode ser moral ou imoral, dependendo se suas consequências são de fato boas ou más. A ausência de um decano em uma instituição pública, como a universidade, é decisiva para um conjunto de práticas e saberes sociais que vão desde a ilegalidade de suas ações enquanto membros associados, à corrupção propriamente com o emprego de estratégias da malandragem para benefício e usufruto do próprio cargo (cf. Candido, 1970).
Exceto quando há a distinção colegiada de um decanato. Apesar do modelo de organização variar de instituição para instituição, quase todas as universidades dispõem de alguns órgãos centrais comuns e decanos das várias unidades orgânicas. O provimento destes órgãos varia conforme o estatuto da instituição, indo desde a nomeação por uma autoridade à eleição pelos próprios membros da universidade.  Decano é um termo latino que se originou no exército romano e passou a ser usado posteriormente para os funcionários subalternos no Império Bizantino, bem como para diversos cargos na Igreja, de onde deriva o título deão, decano. É, por definição, um dignitário capitular que preside ao cabido, em razão da sua precedência por idade. Costumamos chamar Deão ou Decano ao cônego mais idoso da Diocese. Além de ser um posto acadêmico e uma posição canonical, o deão é um dos cônegos escolhido pelo seu bispo, a quem é confiada “uma autoridade determinada e especial nas atividades pastorais específicas da sua Diocese”. Os Cânones estabelecem que o deão deve desempenhar o papel de auxiliar e conselheiro do clero da zona da sua Diocese, no desempenho da sagrada Liturgia e assistir-lhes espiritualmente nas suas doenças.
O que é levado em conta no cálculo é o saldo líquido de bem-estar, numa ocorrência envolvida numa assembleia de todos os indivíduos afetada pela ação, ou mesmo efetivada na prática pela concordância, independentemente da distribuição deste saldo. O que conta é a quantidade global de bem-estar produzida, qualquer que seja a repartição desta quantidade. Assim, é considerado válido “sacrificar uma minoria”, cujo bem-estar será diminuído, a fim de aumentar o bem-estar geral. Esta possibilidade de sacrifício se baseia na ideia de compensação: a desgraça de uns é compensada pelo bem-estar dos outros. Se o saldo que resta de compensação for positivo, a ação é julgada moralmente boa. O aspecto dito sacrificial é um dos mais criticados pelos adversários do utilitarismo, ipso facto, em seu princípio de optimização real exige a maximização do bem-estar geral, que não se apresenta como algo facultativo, mas sim como um dever de submissão ao processo coletivo. O aspecto universalista consiste numa atribuição abstrata de valores do bem-estar que é independente das culturas ou das particularidades regionais. Segundo Judith Butler, o utilitarismo criou uma “razão instrumental” que nega a vida social daqueles que se interpõem nas necessidades desta filosofia.
            Para uma instituição universitária de médio porte, regionalista, mas gananciosa, no caso da Universidade Estadual do Ceará, na cidade de Fortaleza, salta aos olhos os lugares praticados que chamamos da tirania do sempre-igual (cf. Nasser, 2013). A novidade criada pela gestão atual, é que mesmo que tenhamos aceite de supervisão para pesquisa de pós-doutoramento em outra IES, o docente deve apresentar “Comprovante de Participação em Programa de Pós-Graduação da UECE, ou, Declaração do Coordenador demonstrando interesse para integrar o Programa após o retorno. É mais uma forma de corromper o pesquisador com o “jeitinho brasileiro, de acordo com Roberto DaMatta e obriga-lo a sobretrabalho na própria instituição. Produzido em 1965, no contexto das guerras de libertação na África, a temática da insurgência urbana e a violência perpetrada pelos insurgentes e torturadores é abordada de tal forma que a interpretação do filme seja sempre atual, pois poderíamos ainda utilizá-lo para compreender a presente intervenção francesa no Mali, as revoltas árabes e os conflitos na Palestina, no Afeganistão, no Sudão e outros tantos do mesmo tipo. Filmado em preto-e-branco, com atores argelinos e franceses desconhecidos, recriando cenas e figuras históricas em locais de batalhas reais com técnica utilizada pelos cineastas neorrealistas, o diretor italiano Gillo Pontecorvo nos induz a pensar que se trata de um documentário. La Battaglia Di Algeri (Argélia/Itália, 1965), descreve os conflitos em Argel (1954-1957) entre a Frente de Libertação Nacional (FLN) e o exército francês. A primeira parte do filme demonstra a campanha de terror desencadeada pela FLN contra o domínio colonial francês em torno do personagem Ali La Pointe, sua gradual conversão à guerrilha urbana. A segunda parte destaca a reação do exército francês, que consiste em uma campanha de tortura e assassinatos comandados pelo coronel Mathieu.
As ações terroristas vão se intensificando e ampliando seus alvos à medida que a repressão se torna mais eficientes, passando dos assassinatos de policiais às bombas em restaurantes, bares e clubes frequentados por jovens franceses. Mas igualmente ilustrativas são as imagens da repressão colonial, do racismo francês e do desprezo pelos árabes isolados na Casbah, bairro popular da capital argelina. O filme não idealiza terroristas, não demoniza os franceses, nem exalta a violência em nome de algum tipo de revolução ou justificativa de qualquer ordem; em vez disso, o diretor examina a fundo os motivos, justificativas e contradições de todos os beligerantes. Os combatentes não escolhem seus alvos, ambos os lados se atacam indiscriminadamente e fornecem argumentos racionais para provar que estão no lado justo. Não há heróis nem vítimas inocentes. As crianças são cúmplices dos atentados, as mulheres plantam bombas em bares, os franceses atiram nas multidões, soldados brutalizam seus prisioneiros e o exército arrasa edifícios, matando civis inocentes. Por trás do que se convencionou chamar “guerra de baixa intensidade”, esconde-se uma enorme frustração: a dificuldade frustrante de encontrar e deter um inimigo que pode ser qualquer um e em qualquer lugar, além da tentação de se recorrer à tortura para extrair informações detalhadas de prisioneiros ou suspeitos que precisam ser inutilizados eficientemente.
Em primeiro lugar, existe uma solidariedade social proveniente da divisão do trabalho. Mas é preciso determinar, sobretudo, em que medida a solidariedade que ela produz contribui para a integração da sociedade, pois somente então saberemos até que ponto essa solidariedade é necessária, se é um fator essencial da coesão, ou, ao contrário, se nada mais é do que uma condição acessória e secundária. Para responder a essa questão é preciso comparar esse vínculo social aos outros, a fim de medir a parte que lhe cabe no efeito total, sendo para isso indispensável classificar suas diferentes espécies de solidariedade. Mas é necessário substituir o fator interno que nos escapa, pela forma astuciosa da concepção, por um fato externo que simbolize o primeiro através do segundo. Esse símbolo visível é o direito. Onde existe a solidariedade social, apesar de seu caráter imaterial, ela não permanece no estado de pura potencialidade, mas manifesta sua presença através de feitos sensíveis. Onde é forte, inclina uns homens para os outros, colocando-os em contato social, onde o número dessas relações é proporcional ao das relações jurídicas que determinam de maneira duradoura.
Gillo Pontecorvo Pisa ricorda un Maestro di Cinema (2019).
            A vida geral da sociedade não pode se estender num ponto sem que a vida jurídica nele se estenda ao mesmo tempo e na mesma proporção. Portanto, podemos estar certos de encontrar refletidas no direito, como espelho, todas as variedades sociais e oportunas da solidariedade social. Se for verdade que as relações sociais podem fixar-se sem adquirir, com isso, uma forma jurídica, há relações cuja regulamentação não chega a esse grau de consolidação e de precisão. Mas nem por isso elas permanecem indeterminadas, pois, em vez de serem reguladas pelo direito, só o são pelos costumes. Este é o caso da universidade pública estadual e seus próceres do Ceará. O direito ilustra, dá polimento apenas em uma parte da vida social e, por conseguinte, só nos proporciona dados incompletos para resolver o problema. E, no caso particular da universidade nordestina, acontece com frequência que os costumes não estão de acordo com o que é factual no direito. Essa oposição só se produz em circunstâncias não raro excepcionais. Para isso é preciso que o direito não corresponda mais ao presente estado da sociedade e que, não obstante, ele se mantenha, sem razão de ser, pela força do hábito. Por que a solidariedade social tornar-se-ia uma exceção? Porque, enquanto permanece no estado de simples predisposição de nossa natureza biopsíquica, a solidariedade é algo demasiado indefinido para que possa alcança-la facilmente.
            A unidade do efeito revela a unidade da causa. Qualquer acadêmico sabe, sem ser necessariamente sociólogo, que a regulamentação do rito, da etiqueta, do cerimonial, das práticas religiosas exige uma ética de responsabilidade em igual proporção aos atos criminosos que parecem prejudiciais à sociedade que os reprime. No fim das contas, essa pretensa solução do problema se reduz a um verdadeiro truísmo, porquanto, se as sociedades obrigam assim cada indivíduo a obedecer a regras morais é, evidentemente, por estimarem, com ou sem alguma razão, que essa obediência regular e pontual lhes é indispensável, é por fazerem energicamente questão dela. O que precisaríamos dizer é por que as julgam assim. Se esse sentimento tivesse sua causa na necessidade objetiva das prescrições penais ou, pelo menos, em sua utilidade, seria uma explicação. Mas ela é contradita pelos fatos sociais. A questão manifesta nas relações permanece intacta. Provisoriamente é possível para driblarmos a tirania do sempre igual.  Kurt Cobain oferece-nos a reflexão: - “Estupro é um dos crimes mais terríveis da Terra. O problema dos grupos que lidam com o estupro é que eles tentam ensinar às mulheres como se defender. Enquanto que o que precisa ser feito é ensinar aos homens a não estuprar”. 
            Não basta que os sentimentos sejam fortes, é necessário que sejam precisos. De fato, cada um deles é relativo a uma prática bem definida. Essa prática pode ser simples (um boato) ou complexa (uma rasura, um parecer técnico mentiroso), positiva ou negativa, isto é, consistir numa ação ou numa abstenção, mas é sempre determinada. Podemos dizer, decerto, de maneira bastante geral, que se deve trabalhar, deve-se ter piedade de outrem, etc., mas não podemos determinar de que maneira nem em que medida. Por conseguinte, há espaço aqui para variações e nuances. Ao contrário, por serem determinados, os sentimentos que encarnam as regras penais têm uma uniformidade muito maior; como não podem ser entendidos de maneiras diferentes, são os mesmo em toda parte. Entendemos com isso, que representa o conjunto das crenças e dos costumes comuns à média dos membros de uma sociedade forma um sistema determinado que tenha vida própria, no realismo durkheimiano, pode-se chamá-lo de consciência coletiva ou comum. Ela é o estado psíquico em suas propriedades, condições de existência e desenvolvimento que os tipos individuais, embora de outra maneira. O jornalismo crítico e independente de Claudio Medeiros e Victor Galdino, no artigo: A Quarentena, a Ilusão do Normal e a Fenda (2020) ilustra como chegou a grande epidemia na barca  Navarre que aporta à Capital do Império no dia 3 de dezembro de 1849.     


            Nada constando no risco oferecido pelos miasmas que transpiram nas madeiras podres do calabouço dos navios, teve a embarcação livre trânsito no porto do Rio de Janeiro. Assim que o consignatário da barca viu a enfermidade que castigava a bordo, tratou de vendê-la e a tripulação dispersou-se. Alguns marinheiros passaram para navios vizinhos, alguns correram para uma public house mantida por um francês de nome Frank, na Rua da Misericórdia. Os que moravam próximo às praias vizinhas dos ancoradouros, assim como aqueles que residiam nas ruas da Misericórdia, S. José, Direita e becos localizados em ruas adjacentes, foram vítimas prediletas da peste. O Hotel de Neptuno, na Rua da Misericórdia, a tal public house de Frank, defronte a de Neptuno (Valência), o Hotel da Califórnia, na Rua Fresca e a casa de New York no Beco do Cotovelo eram desses estabelecimentos, junto à orla, que careciam da boa fama à autoridade policial.  
A clientela de marinheiros de navios de guerra e mercantes, cada qual a se servir de idioma próprio, consumia em semelhantes casas o duplo serviço de “inferninho e pernoite”. O presidente da Junta de Higiene Pública solicitaria auxílio policial contra a existência de certas casas de hospedaria, por causa de hóspedes que, “entregando-se a repetidas orgias, saem dali afetados da febre amarela, e uma grande parte deles é vítimas de tais excessos e do mal que em semelhantes casas parece estar localizado”.1 A mando do Imperador, o Visconde de Mont`Alegre remete à Câmara providências para evitar a permanência da peste. Assim se institucionalizaria com pioneirismo o sequestro dos afetados – o regime de quarentena. A quarentena, enquanto tecnologia não profilática seria a própria materialização jurídica do tratamento dado à doença na época. O que fazia o higienista senão assistir policialescamente ao paciente pedindo-lhe uma contribuição para o tratamento através de sua adesão a uma dieta de reclusão? A dura alternativa de deixar perecer ao desamparo os míseros marinheiros doentes, ou de relaxar a quarentena, permitindo a ida de médicos a bordo, ou de suspendê-la, não era signo de ausência do poder político. Ipso facto, lembram os jornalistas - A decisão de reunir num mesmo local as pessoas afetadas, e em local separado aquelas que com elas tiveram algum tipo de contato não era tomada sem ponderação.
A quarentena era uma prática positiva de transferência do ofício da cura para o processo natural de adaptação do indivíduo a um clima que não lhe é habitual, adaptação da economia humana estrangeira ao clima tropical. Era normal que um regime de quarentena quisesse dizer que tanto poderiam ser 40 dias como 40 semanas – ou mesmo 40 meses. O imperativo era que não saíssem de lá senão quando aclimatados, ou seja, curados. Ou mortos. Na universidade o que torna sensível esse aumento de generalidade é o declínio ininterrupto do formalismo. Nas sociedades periféricas, na falta de melhor expressão, a própria forma externa de conduta é predeterminada inclusive em seus detalhes. A maneira como o homem deve alimentar-se, vestir-se em cada circunstância, os gestos que deve fazer, as fórmulas que deve pronunciar são estabelecidas com precisão. Ao contrário, quanto mais distante do ponto de partida, mais as prescrições morais e jurídicas perdem sua nitidez e sua precisão. Elas passam a regulamentar as formas mais gerais de conduta, e fazem-no de uma maneira bastante geral, dizendo ou descrevendo para a coletividade o que deve ser feito, não como deve sê-lo. Tudo o que é definido exprime-se sob uma forma definida. Exceto um idiota, no trabalho ou na cena pública, quem não sabe disso? Lembra a assertiva gostosamente feliz de Edgar Allan Poe segundo a qual: - “Não é na ciência que está a felicidade, mas na aquisição da ciência”. Observou-se com frequência que a civilização ocidental tendia a se tornar racional, mais lógica, mas o que confunde, para alguns o entendimento, é o particular e o concreto. Só pensamos direito, talvez o geral.  
Por conseguinte, quanto mais a consciência comum durkheimiana está próxima das coisas particulares, mais ela traz exatamente a sua marca, mais também é ininteligível. Isto é importante na medida em que temos clareza da divisão de trabalho social. A noção de homem, diz ele, por exemplo, substitui, no direito, na moral, na religião, a do romano, que, mais concreta, é mais refratária à ciência. E o aumento do volume das sociedades e seu maior adensamento que explicam essa grande transformação. De fixo, só há regras abstratas. Por se tornar mais racional, a consciência coletiva se torna, pois, menos imperativa e, também por essa razão, ela incomoda menos o livre desenvolvimento das variedades individuais. A consciência comum só se constitui muito lentamente e se modifica disciplinarmente no mesmo preguiçoso ritmo. A autoridade da consciência coletiva é constituída em grande parte da autoridade da tradição adquirida. A ausência de liberdade de comunicação é prova dessa oclusão. Por contragolpe, as causas que mantêm o homem em seu meio natal fixam-no doméstico, de início na origem, indivisas, fechadas em si mesmas, exceto para Kant.
A tomada de consciência da individualidade decorre do próprio desenvolvimento histórico e, portanto, social. A oposição destas duas formas essenciais de solidariedade se combina com a oposição entre sociedades segmentárias e aquelas em que aparece a moderna divisão do trabalho. A divisão do trabalho que Durkheim procura apreender e definir não se confunde com a análise comparada que os economistas imaginam, pois a diferenciação das profissões e a multiplicação das atividades industriais exprimem a diferenciação social que Durkheim considera de modo prioritário. Tal como é definida em De la Division du Travail Social (2015) a consciência coletiva é “o conjunto das crenças e sentimentos comuns à média dos membros da sociedade. Para ele este conjunto “forma um sistema determinado, que tem vida própria”. A consciência coletiva só existe em função dos sentimentos e crenças presentes nas consciências individuais, mas se distingue, pelo menos analiticamente, destas duas, pois evolui segundo suas próprias leis e não é apenas a expressão ou efeito das consciências individuais. Nas sociedades onde aparece a diferenciação dos indivíduos, cada um tem, em muitas circunstâncias, a liberdade de crer, de querer agir conforme suas preferências. Na política contemporânea o que faz andar são relíquias de sentido e às vezes seus detritos, os restos invertidos de grandes ambições. Nome que no sentido preciso da memória deixaram de ser próprios. Nesses núcleos simbolizadores se esboçam e se fundem três funcionamentos distintos e conjugados das relações políticas entre práticas espaciais e significantes: o crível, o memorável e o primitivo.

 Nas sociedades de solidariedade mecânica, ao contrário, a maior parte da existência é orientada pelos imperativos e proibições sociais. O adjetivo social significa, neste momento do pensamento de Durkheim, apenas que tais imperativos e proibições se impõem à média, á maioria dos membros do grupo; que eles tem por origem o grupo; e não o indivíduo, denotando o fato social de que este se submete a esses imperativos e proibições como a um poder superior. Os detalhes relativos ao que é preciso fazer, e ao que é preciso crer, são impostos pela consciência coletiva. Dessa análise, totalizante deduz uma ideia que manteve por toda a sua vida, e que ocupa o centro de toda a sua sociologia: a que pretende que o indivíduo nasce da sociedade, e não que a sociedade nasce dos indivíduos. Enunciada assim, a fórmula parece paradoxal, mas o próprio Durkheim a exprime muitas vezes nesses termos. Procurando reconstituir seu pensamento, com base na divisão do trabalho,o primado do social sobre o indivíduo tem dois sentidos mas que nada tem de paradoxal.                       
Existem, na realidade, tantos ramos da sociologia quantas ciências sociais particulares, quantos diferentes tipos de fatos sociais. Na universidade, ainda se fala, por ignorância simbólica de que estuda, pensa e faz, em áreas (de conhecimento), me faz lembrar-se de minha infância no Rio de Janeiro no meio de um campo de futebol, onde via claramente uma área virgem, verde e nós correndo atrás da bola, a nega de couro esturricada, etc. À fisiologia social é por si mesma complexa e compreende uma pluralidade de ciências particulares; pois que os fenômenos sociais, de ordem fisiológica, são em muito variados. Existem as crenças, as práticas e as instituições religiosas. A religião é uma coisa social, pois sempre foi coisa de um grupo, de uma igreja e na grande generalidade dos casos Igreja e sociedade política, se confundem, pois as pessoas, desde a conceituação hobbesiana, eram fieis a tais divindades simplesmente porque eram cidadãos de tal Estado. Em todo caso, os dogmas e os mitos consistiram sempre em sistemas de crenças comuns a toda uma coletividade e eram obrigatórios para todos os membros dessa coletividade. O mesmo ocorre com os ritos e o estudo da religião. O caráter social das instituições jurídicas não precisa ser demonstrado. Elas são estudadas pela sociologia, aliás, em estreita relação com a sociologia moral, pois as ideias morais são a alma do direito. O que garante a autoridade de um código é o ideal moral que ele encarna e traduz em fórmulas definidas.
A linguagem é também um dos elementos característicos das sociedades, e não é sem razão que o parentesco de línguas é muitas vezes empregado como meio de estabelecer o parentesco entre os povos. O sistema de sinais de que nos servimos para exprimir pensamentos, o sistema de moeda que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito nas relações comerciais, as práticas surgidas na profissão, etc., funcionam independentemente do uso que delas faço. Tais afirmações, segundo Durkheim, podem ser estendidas a cada um dos membros de que é composta uma sociedade, tomados uns após outros.  Estamos diante de maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante de existir fora das consciências individuais. Esses tipos de conduta não são apenas exteriores ao indivíduo, são também dotados de um poder imperativo e coercitivo, em virtude do qual se lhe impõem, que queira, quer não. Não há dúvida de que esta coerção não se faz sentir, ou é muito pouco sentida quando com ela me confronto de bom grado, pois então se torna inútil. Mas não se deixa de constituir caráter intrínseco de tais fatos, e a prova é que se afirma desde que tento resistir. Se experimento violar as lei do direito, estas reagem contra mim de maneira a impedir meu ato se ainda é tempo; com o fim de anulá-lo e restabelecê-lo em sua forma normal se já realiza ou e é reparável ou então não possibilidade de reparação.
Bibliografia geral consultada.
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