segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Beijo de Amor - Consagração & Normalização do Afeto.


                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga

                    Um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido”. Jean Rostand


            O beijo na boca é o maior gesto de consagração de carinho, amor e paixão entre um casal, desde o simples tocar de lábios até o beijo mais intenso e apaixonado. O dia 13 de Abril é o Dia do Beijo, uma data instituída para celebrar o amor através do beijo. Estudos e pesquisas comprovaram que o ato de beijar na boca estimula o cérebro a liberar endorfina, substância responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Quanto mais prolongado e apaixonado, ocorrem maiores os benefícios. Mantém o rosto mais jovem porque o trabalho muscular dá firmeza à pele. O livro de recordes do Guinness (1955), é uma edição publicada anualmente, que contém uma coleção da representação de recordes e superlativos reconhecidos internacionalmente, tanto em termos de performances humanas como de extremos da natureza. Em 2003, o livro alcançou o binômio produção-consumo em torno de 100 milhões de cópias vendidas, desde a sua primeira edição em 1955, e lá existem vários temas de espaço e lugar relacionando aos beijos. Entre eles está o beijo “mais caro de sempre”. Em 2003, Joni Rimm pagou 50.000 dólares num leilão de beneficência para poder beijar a atriz Sharon Stone que leiloou o beijo para ajudar uma instituição de caridade. Um beijo tem como representação social “o toque dos lábios em outra pessoa” ou objeto. Na cultura ocidental é um poderoso “gesto de afeição”. 
              O beijo “mais longo gravado em vídeo” foi registrado durante um episódio do The Bachelor programa norte-americano da American Broadcasting Company (ABC). Nesse episódio Sean Lowe e Lesley M. se beijaram durante cerca de 3 minutos e 17 segundos, quebrando assim o anterior recorde de 3 minutos e 15 segundos. Uma das regras da competição “era que se os lábios se separassem durante qualquer altura, eles seriam desclassificados”. Mas o beijo mais longo de sempre aconteceu durante um concurso na Tailândia, onde um casal se beijou durante 50 horas, 25 minutos e 1 segundo. Ekkachai Tiranarat, 44 anos, e a sua mulher Laksana, de 33 anos, permaneceram de “lábios agarrados”, como descreve a organização do evento, durante 58 horas, 35 minutos e 58 segundos, ultrapassando o anterior recorde em mais de oito horas. Ao longo da maratona para conquistar o título de “beijo mais prolongado”, tecnicamente o casal não podia interromper o beijo, nem mesmo para irem à casa de banho, terminando a prova muito cansada por passaram o tempo acordados em pé. Como recompensa pelo ato genuíno da competição, o casal levou para casa um cheque de 100.000 bath, equivalentes a 2.500 euros, e dois anéis com diamantes como prêmio.
                Os gregos, é sabido, “adoravam beijar”. Mas foram os romanos que difundiram a prática e permitiram que os nobres mais influentes beijassem seus lábios. Os menos importantes às mãos. Os súditos podiam beijar os pés. O “basium”, entre reconhecidos; o “osculum”, entre amigos; e o “suavium”, o fabuloso beijo dos amantes. Na Escócia, era costume o padre beijar os lábios da noiva ao final da cerimônia. Acreditava-se que a felicidade conjugal dependia dessa benção. Já na festa, a noiva “deveria beijar todos os homens na boca, em troca de dinheiro”. Na Rússia, uma das mais altas formas de “reconhecimento oficial era o beijo do czar”. No século XV, os nobres franceses “podiam beijar qualquer mulher”. Na Itália, entretanto, se um homem beijasse uma donzela em público, “era obrigado a casar imediatamente”. No latim, beijo significa toque dos lábios. Na cultura ocidental, ele é considerado gesto de afeição. Entre amigos é realizado como forma de cumprimento, ou despedida; entre amantes e apaixonados, como prova da paixão. Mas é também um sinal de reverência, ao se beijar, por exemplo, o anel do Papa ou dentre membros da alta hierarquia da Igreja. Beijar os lábios de outra pessoa tornou-se uma expressão comum de afeto em muitas culturas ao redor do mundo. No entanto, em certas sociedades, o beijo só foi introduzido através dos meios de violência simbólica através da colonização europeia, sendo que antes não era uma ocorrência prazerosa rotineira.



             O ato de beijar pode se dar de várias formas, em diferentes lugares e com diferentes propósitos, dependendo do país e de sua cultura, da situação, das partes interessadas e de outros aspectos sociais. Entre amigos, é utilizado “como cumprimento ou despedida”. Nos lábios de outra pessoa é um símbolo de afeição romântica ou de desejo sexual, sendo que o beijo pode ocorrer também noutras partes do corpo. Ainda há o “beijo de língua”, em que as pessoas que se beijam mantêm a boca aberta, enquanto trocam carícias em formas prazerosas das línguas. Os mais antigos relatos  remontam aos templos de Khajuraho, na Índia. As mais antigas referências vieram do Oriente, precisamente dos hindus. Há um registro de1200 a. C., no livro Satapatha, textos sagrados em que se baseia o bramanismo, abundante de sensualidade: - “Amo beber o vapor de seus lábios”. Os Vedas formam a base do extenso sistema milenar de escrituras sagradas do hinduísmo, que tout court representam a mais antiga literatura de qualquer língua indo-europeia. Mais explícito e malicioso, o Mahabarata, originou-se como um poema épico em sua extensão com mais de 200 mil versos, compilados em torno do ano 1000 a. C., descrito da seguinte forma: - “Pôs a sua boca em minha boca, fez um barulho e isso produziu em mim um prazer”.  
              A consagrada tela de Klimt é enorme e respeita a forma de um quadrado perfeito - o quadro tem exatamente 180 centímetros por 180 centímetros. O Beijo, é considerada a mais famosa pintura austríaca e faz parte da coleção permanente do Belvedere Palace Museum, situado em Viena. O quadro foi exibido pela primeira vez numa exposição em 1908 na Austrian Gallery, já nessa ocasião ele foi adquirido pelo Belvedere Palace Museum, de onde não saiu mais. Para se ter noção da reputação do pintor austríaco: O Beijo foi vendido (e exposto) antes mesmo de ser terminado. O quadro foi comprado pelo valor de 25 mil coroas, e analisado como um recorde de mercado da arte para a sociedade austríaca de seu tempo. A tela foi pintada provavelmente entre 1907 e 1908, é considerada uma das maiores criações da pintura Ocidental e pertence à chamada interpretação técnica da “fase dourada”, pois do ponto de vista técnico-metodológico o período ganhou esse nome porque nos trabalhos foram utilizadas folhas de ouro. São finas folhas do referente metal, tradicionalmente empregues na decoração de objetos de diversos tipos de arte, como são exemplo retábulos, esculturas, ourivesarias, mobiliário, entre outras. Para além das folhas de ouro, existem também folhas de prata, cobre, alumínio ou paládio que são utilizados conforme o acabamento final pretendido. Um dos métodos de douramento consiste em bater folhas de ouro sobre o suporte que posteriormente são polidos, obtendo assim o brilho desejado. Este procedimento de batimento permanece essencialmente o mesmo desde a Antiguidade.
          
Imagem relacionada 
Imagem: Photographie de Rue, de Robert Doisneau. 

             
             Existem diferentes tipos de beijos comumente reconhecidos. O beijo carinhoso, aquele amistoso que é dado na bochecha ou na testa. O beijo na boca, que se da nos lábios de uma pessoa, muitas vezes pode ser visto como um sinal de afeto entre um casal. O selinho, que não é um beijo dado na boca com muito pouco contato envolvidos. O beijo francês (ou de língua), no qual uma ou ambas as pessoas envolvidas introduzem a língua na boca da pessoa que beijam. O Beijo de esquimó, não é tecnicamente um beijo já que acontece quando duas pessoas esfregam seus narizes juntos. O beijo é uma prática social muito comum e está associado a valores românticos e amorosos e ao mesmo tempo, tem sido objeto de inspiração de diversas obras de arte através da história. Entre estas podemos incluir a famosa pintura O Beijo, de Gustav Klimt. Outro exemplo é a escultura de Auguste Rodin, Le Baiser. Uma famosa fotografia de um beijo foi tirada por Alfred Eisenstaedt, fotógrafo e fotojornalista norte-americano que em 14 de agosto de 1945, portanto, com o fim do conflito bélico, demonstra “um marinheiro beijando uma enfermeira no meio da celebração pelo fim da 2ª guerra mundial”.
                O Beijo é uma escultura em mármore do artista realista Auguste Rodin que está atualmente no Museu Rodin, em Paris. Na obra do escultor francês, o artista inspirou-se nos delírios amorosos vividos com Camille Claudel, sua assistente. Como muitos dos mais reconhecidos trabalhos de Rodin, incluindo O Pensador. o casal que se abraça retratado na escultura apareceu originalmente como parte de um grupo no trabalho de Rodin os “Os Portões do Inferno”, encomendado por um planeado museu de arte em Paris. O casal foi posteriormente removido e substituído por outro casal de namorados localizado na coluna direita dos Portões. “O Beijo” originalmente tinha o nome “Francesca da Rimini”, pois descreve a nobre do século XIII italiano imortalizado no Inferno de Dante que se apaixona por Paolo, irmão mais novo do seu marido Giovanni Malatesta. Tendo-se apaixonado ao ler a história de Lancelot e Guinevere, o casal é descoberto e morto pelo marido. Na escultura, o livro pode ser visto nas mãos de Paolo. Os lábios dos amantes não se tocam realmente na escultura, sugerindo-se que eles foram interrompidos quando de sua morte, sem seus lábios nunca terem se tocado.
             Quando os críticos de arte viram pela primeira vez a escultura, em 1887, sugeriram um titulo menos específico: Le Baiser. Rodin indicou que a sua abordagem às mulheres na escultura foi uma homenagem a elas e aos seus corpos, não apenas para submetê-las aos homens, mas como parceiros num ato de pleno ardor. O erotismo consequente na escultura tornou-a controversa. Uma versão de bronze da escultura (74 cm de altura) foi enviada para uma exposição em 1893 na cidade de Chicago. No entanto, a escultura foi considerada inadequada para a exibição em geral e relegada para uma câmara interna. O método de trabalho de Rodin para grandes esculturas, ocorreu empregando escultores assistentes para copiar um modelo menor, de um material que se tornava mais fácil de trabalhar do que o emprego da técnica no mármore. Quando eles tinham acabado, Rodin ia dar os últimos retoques na versão maior. Antes de criar a versão em mármore de “O Beijo”, Rodin reproduziu várias esculturas menores em barro, gesso e bronze.                          
             Uma história social do rosto será, com efeito, uma história da emergência da expressão, dessa sensibilidade crescente, dessa atenção mais exigente que se dá a partir do século 16 a expressão do rosto como signo da identidade individual. A individualidade expressiva, segundo Courtine e Haroche (2016), será captada então nas formas de observação do homem natural, no deslocamento da relação entre o homem exterior e o homem interior, o homem físico e o homem psicológico. É a razão pela qual dá grande destaque à tradição fisiognomônica, apelando ainda aos escritos médicos e anatômicos, mas também aos textos usados pelos pintores, a certos escritos estéticos. Tal abordagem não se inscreve, entretanto, nas tradições estéticas ou antropológicas de uma história da mímica, da caricatura, da máscara, ainda que tais objetos possam aí figurar. Ela também não se confunde com esse modo essencial de representação do rosto: o retrato. Embora o retrato seja um indicador maior das novas estruturas mentais e sociais, da expressividade individual, os rostos de uma época não se esgotam no reflexo, quando um objeto bem iluminado é colocado na frente da câmara invertida de que falavam, no caso da ideologia, os extrtaordinários Marx & Engels, ou da cultura Freud, que deles dá o retrato. 
         Uma história do rosto é, com efeito, ao mesmo tempo, a história do controle da expressão, das exigências religiosas, das normas sociais, políticas e éticas que contribuem historicamente desde o Renascimento para o aparecimento de um tipo de comportamento social, emocional, sentimental, psicológico fundado no afastamento dos excessos, no silenciar do corpo. Elas deram nascimento a um homem sem paixões de comportamento moderado, medido, reservado, prudente, circunspecto, calculado - com frequência reticente, silencioso por vezes. P homem razoável das elites e, depois, das classes médias. O homem das paixões, o homem espontâneo e impulsivo progressivamente  apagou-se por trás do home sem paixão. Mas no fundo desse homem sem paixão se abriga o homem sensível e expressivo. Enfim, vale lembrar que refazer uma história individual e social dos rostos em que o político se une ao psicológico na questão da expressividade é, portanto, querer traçar a história dessa paradoxal injunção à autenticidade e à conformidade, á expressão e ao apagamento, á espontaneidade das emoções e ao silêncio das figuras. É buscar a gênese do indivíduo moderno numa antropologia histórica buscando compreender o homem em sociedade de modo inteiro, ela estenderia sua atenção do escrito ao oral e ao gesto, integrando assim uma história do corpo dos homens em sociedade. Ipso facto, temos a emergência de um saber, uma ética, uma estética da linguagem e corpo que ligam assim peremptoriamente a civilidade ao processo social de conversação.
           O surgimento da noção de civilidade, e portanto, vir a ser o que é, no sentido hegeliano, dá a noção de civilidade, sua estreita associação com uma educação da linguagem, no sentido amplo da linguagem do corpo, do gesto e do rosto como verbo, de um domínio de si mesmo que são assim, testemunho de uma profunda transformação dos laços sociais. Conquanto aos poucos se irá desfazendo a ordem baseada no berço e na hierarquia de sangue, construindo práticas de espaços e lugares em que a linguagem e as relações entre os homens vão encontrar uma expressão, mais profunda, sem dúvida mais complexa. O renascer da era da eloquência, se já não é um truísmo, mais do que uma simples arte de convencer, marca um deslocamento de práticas, em que a dissolução das sociedades política e civil medievais abre um tempo e um espaço em que se vai fundar gradativamente uma legitimidade nova fundada no uso controlado do corpo e da linguagem. A Arte de conhecer os homens opera, enquanto antropologia física, um divisão social dos rostos. A observação do rosto é um instrumento para governar os outros. Esse reconhecimento da identidade individual e coletiva afirma antes de mais anda que a linguagem é a natureza mesma do homem.  
             A primeira telenovela brasileira, mutatis mutandis, foi exibida historicamente na TV Tupi de São Paulo, intitulada: Sua Vida Me Pertence, escrita e dirigida por Walter Forster, e estreou em 21 de dezembro de 1951. E na primeira rede de televisão brasileira, a Rede Tupi inaugurada em 18 de setembro de 1950. O primeiro beijo da televisão brasileira ocorreu nesta telenovela entre os protagonistas, interpretados por Walter Forster e Vida Alves. A produção de uma telenovela para o mercado de consumo baseia-se em sua audiência. Trata-se de uma produção em série em que quanto maior a audiência, maior a duração da novela, “pois nem sempre, grandes audiências representam grandes telenovelas”. É uma técnica que se inicia com quatro meses de antecedência. O autor pode ter uma ideia concebida só por ele, ou nos casos de dois ou três autores trabalhando no mesmo tema da novela. Também pode ocorrer os casos de utilização de palavras e expressões, com  terminologias distintas com usos diferentes. Esses são os termos usados em telenovelas.
               Walter Gerhard Forster foi ator de rádio, cinema, teatro e pioneiro da televisão brasileira. Seu pai, Jacob Forster, era filho de alemães de origem irlandesa, e sua mãe, Ida Forster, era suíça de um dos cantões alemães. Em 1937, mudou-se para a cidade de São Paulo, onde foi contratado pelas Rádios Bandeirantes, como locutor e depois como redator. Depois se mudou para a Rádio Difusora, e com o mesmo contrato, em 1947, pela Rádio Tupi. Como era diretor artístico do elenco de radionovelas, ajudou a formar o elenco para a telenovela da TV Tupi-PRF3. Também trabalhou nas rádios Excelsior, que atende hoje por CBN, e Nacional, como diretor de rádio-teatro (1952-1968). Na inauguração da TV Tupi, em 1950, atuou em todas as discussões e decisões de elenco para a nova emissora. Já estava casado e com dois filhos. Da telenovela Sua Vida Me Pertence, em 1951, foi autor, diretor e ator. Contracenou com Vida Alves que na trama amava o galã (que era ele), e ainda Lima Duarte, Lia de Aguiar, José Parisi e Dionísio Azevedo. Tinha 25 capítulos, mas enfrentou vários problemas com esse meio novo de comunicação: os atores falavam muito alto no estúdio, esqueciam os microfones, não sabiam se posicionar frente às câmeras, o que deixava desesperados os cameramen.
O conceito partiu de uma sugestão técnica do diretor artístico da TV Tupi São Paulo, Cassiano Gabus Mendes, um radialista e pioneiro da televisão no Brasil. Filho do radialista Otávio Gabus Mendes e pai dos atores Cássio e Tato Gabus Mendes. Escreveu novelas de grande sucesso como Anjo Mau, Locomotivas, Que Rei Sou Eu?, Ti Ti Ti, Brega e Chique, Elas por Elas, que sugeriu uma produção que se assemelhasse ao cinema. Forster foi o primeiro a falar em “telenovela”, comparativamente, como versão para televisão da radionovela, que já era sucesso de mercado. O produto começou  apresentado ainda “ao vivo” duas vezes por semana. A princípio uma produção menor,  com a representação de sua técnica erótica e a reprodução das imagens, se tornou o produto televisivo de maior importância merceológicas nacional. O galã Walter Forster encostou os lábios nos da atriz Vida Alves, enquanto acariciava o braço da amada, causando frisson durante a transmissão da TV Tupi. A cena ocorreu no último capítulo. Não há registros etnográficos, ela fora realizada no teatro e ainda não havia videotape, várias histórias foram narradas ao longo do tempo sobre o beijo.
Do ponto de vista técnico-metodológico do processo de comunicação social a novela não era exibida diariamente. Mas duas vezes por semana, estrategicamente nas bordas da semana, de preparação do telespectador, entre as terças e quintas-feiras. Cada capítulo tinha 20 minutos e, eram apresentadas na televisão ao vivo em preto e branco. Tinham dois cenários: o principal temático, reproduzindo um quarto e o outro, externo, representando um belo jardim da praça. Nessa produção também ocorreu o primeiro beijo da televisão brasileira. Não era um beijo como estamos acostumados a depreender nas paixões, pois não passou de um leve encontro dos lábios entre os protagonistas Walter Forster, o brutal Alfredo, indomável que desdenha de seus sentimentos e Vida Alves, por ela ser jovem e romântica, tem como representação novelesca uma moça ingênua e apaixonada. Ela teve toda a expectativa típica de uma primeira vez: em plano fechado, com os rostos colados, os atores murmuravam suas falas um para o outro. E, muito embora não fosse possível escutar o que diziam, a ação atraía a atenção para seus lábios. Daí, “o homem ajeitava seu vistoso bigode e encostava a boca na da mulher”.
Filmado por Thomas Edison, curiosamente o inventor da lâmpada, The Kiss demonstrava a cena final do musical The Widow Jones, encenada pelos mesmos atores da Broadway. May Irwin foi atriz e também cantora canadense. Apareceu em 1896 no primeiro beijo filmado com John C. Rice e fora filmada por uma máquina de Thomas Edison no filme The Kiss, dirigido por William Heise para o Edson`s Black Maria Studios em West Orange, New Jersey de propriedade do inventor norte-americano. O filme possui 47 minutos de duração com a reencenação do beijo entre May Irwin e John Rice, inspirado na cena final da peça musical The Widow Jones. O fonógrafo foi uma de suas principais invenções. O cinematógrafo, mais do que isso, pois representa a primeira câmera cinematográfica bem-sucedida, com o equipamento disponível para demonstrar os filmes que fazia. O famoso Edison também aperfeiçoou o telefone, inventado por Antonio Meucci, em um aparelho que funcionava melhor. Fez de forma idêntica com a máquina de escrever. Trabalhou em projetos variados, como alimentos empacotados a vácuo, um aparelho de raios X e um sistema de construções feitas de concreto. Entre as suas contribuições mais universais para o desenvolvimento encontra-se a relevante lâmpada elétrica incandescente, o fonógrafo, o cinescópio, o ditafone e o microfone de grânulos de carvão para o telefone.
A desigualdade social reproduzida através da classe social está relacionada ao poder aquisitivo, ao acesso à renda, à posição social, ao nível de escolaridade e ao padrão de vida existente entre as frações da classe dominante que controlam direta ou indiretamente o Estado, através de efeitos de poder político, na educação e trabalho, reproduzindo inexoravelmente uma estrutura social implantada e difundida pelos métodos de trabalho e de produção no âmbito das esferas sociais e de poder dominante. A divisão da sociedade em classes é consequência dos diferentes papéis que os grupos sociais têm no processo de produção, ocupado por cada classe que depende o nível de fortuna e de rendimento, o gênero de vida e numerosas características culturais das diferentes classes. Classe social define-se como conjunto de agentes sociais nas mesmas condições no processo de produção e que têm afinidades eletivas políticas e ideológicas.
E esse problema não estava relacionado exclusivamente ao trabalho manual e às classes trabalhadoras. Basta pensarmos na referência ao capitão Hawdon, ou Nemo, de “A Casa Abandonada”, de Charles Dickens. O personagem era um ex-oficial do Exército que vivia fazendo trabalho temporário como jurista. Mas no caso de Marx, lembra Jones (2017: 357), não se tratava de pobreza no sentido comum da palavra. Em 1862, a bem intencionada sugestão de Lassale de que uma das filhas de Marx trabalhasse para ganhar dinheiro com a condessa Von Hatzfeldt, sua companheira, foi recebida como um indizível desrespeito ao status social deles e provocou um dos mais repulsivos insultos de Marx. – “Imagine só! Esse sujeito, sabendo do caso americano etc. [a perda dos rendimentos do Tribune], e, portanto, da situação de crise em que me encontro, teve a insolência de perguntar se eu cederia uma das minhas filhas à la Hatzfeldt como “dama de companhia”. Uma das justificativas para o comportamento  deles era de que isso seria determinado para garantir o “futuro das filhas”. Em julho de 1865, admitiu Marx: - “É verdade que minha casa está acima de meus meios, e que temos, além disso, vivido melhor este ano do que foi o caso antes. Mas “é o único jeito de as meninas se estabelecerem socialmente, com vistas a assegurar o seu futuro”.
O beijo romântico em culturas ocidentais representa um desenvolvimento relativamente recente e raramente é mencionado, até mesmo na literatura grega antiga. Durante a Idade Média, tornou-se um gesto “social” e era considerado um sinal de refinamento das castas dominantes. Outras culturas têm diferentes definições e usos do ato de beijar. Na China, por exemplo, uma expressão similar de afeto consiste em “esfregar o nariz contra o rosto de outra pessoa”. Em outras culturas orientais beijar é incomum. Nos países do Sudeste Asiático o beijo “entre narizes” é a forma mais comum de afeto e o costume ocidental de beijar na boca é frequentemente reservado para às preliminares sexuais.  Um beijo também pode ser usado para expressar sentimentos, sem um elemento erótico. O beijo de respeito também representa uma marca de lealdade, humildade e reverência. O primeiro filme vencedor do Oscar de melhor filme, Wings (“Asas”), também foi o primeiro filme em demonstrar dois homens beijando-se na face, entre os personagens Jack Powell e David Armstrong, no momento em que estava à morte, ferido em batalha. O beijo foi representado de forma fraternal, não sexual e não erótica.
O filme Casablanca emocionou com a cena do beijo de despedida que o personagem de Rick (Humphrey Bogart) dá em Ilsa (Ingrid Bergman).  O filme A Um Passo da Eternidade apresentou uma das cenas mais reconhecidas de beijo da história do cinema entre as personagens de Burt Lancaster e Deborah Kerr  deitados na areia da praia.No filme de animação da Disney: Lady and the Tramp, enquanto os personagens comem um espaguete, simultaneamente, de lados opostos, seus lábios se encontram no meio. O filme: Guess Who's Coming to Dinner causou furor por demonstrar o relacionamento de um médico afro-americano (Sidney Poitier) e uma garota branca da classe média alta (Katharine Houghton). Giuseppe Tornatore, com Cinema Paradiso, presta uma homenagem ao beijo no cinema. O projetista Alfredo (Philippe Noiret) deixa de herança para seu amigo e auxiliar Salvatore (Jacques Perrin) um rolo de filme onde estão montadas as cenas de beijo (e algumas de nus) que haviam sido cortadas pelo padre de localidade, pois pertenciam, em sua maioria, à Igreja. O filme: Brokeback Mountain causa furor nos lugares do mundo em que foi lançado. A representação da cena que Ennis (Heath Ledger) reencontra Jack (Jake Gyllenhaal), pela primeira vez passados anos, e se beijam é uma das mais lembradas. Acabou por levar um MTV Movie Award de “melhor sequência de beijo”.
            Na televisão, em 1968, no papel da Tenente Uhura, Nichelle Nichols participou do primeiro beijo inter-racial da televisão norte-americana, no seriado Star Trek com o ator canadense William Shatner. Um episódio do aclamado seriado dramático norte-americano L. A. Law (1991) uma série de televisão norte-americana, um drama de tribunal exibido por oito temporadas pela National Broadcasting Company (NBC) de 15 de setembro de 1986 a 19 de maio de 1994causou enorme controvérsia ao demonstrar um beijo entre as personagens femininas Abby (Michele Greene) e C.J. (Amanda Donohoe). Tal cena foi reconhecida como “o primeiro beijo gay”, de mulher prá mulher, dos seriados norte-americanos, e foi responsável por quebrar um enorme tabu não só televisivo. No episódio Acting Out (2000) da fabulosa série cômica norte-americana intitulada: Will & Grace, os personagens Will (Eric McCormack) e Jack (Sean Hayes) se beijam ao protestarem por causa de uma cena de beijo de um seriado fictício da NBC que não foi reproduzido na mídia, semelhante ao “beijo de América”. O último episódio da telenovela brasileira América (2005) causou muito furor quando um espetacularizado beijo homossexual masculino - que seria o primeiro em telenovela brasileira - dos personagens Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) não ocorreu.
A cena foi escrita pela autora e gravada, mas a Rede Globo de televisão optou por não exibi-la, frustrando seus milhões de telespectadores. A propaganda de trinta segundos da linha de relógios Time (2007) da companhia italiana Dolce & Gabbana “demonstra dois rapazes se beijando e causa furor no mundo inteiro”. Felizmente, os antropólogos não chegaram a uma conclusão sobre se o beijo é aprendido ou se é comportamento do instinto. Mas acertam quando afirmam que o ato de beijar em humanos é postulado como um processo de evolução que surgiu a partir da regurgitação direta boca-a-boca de alimentos dos pais para seus filhos (beijo de alimentação) ou entre machos e fêmeas e tem sido observado empiricamente em vários tipos de mamíferos. As semelhanças entre os métodos usados no “beijo de alimentação” e nos “beijos de língua” humanos são bastante acentuadas. Isto quer dizer que, no primeiro caso, a língua é usada para empurrar o alimento da boca da mãe para a da criança, que recebe os alimentos da mãe através dos movimentos de sucção da língua. E o último é basicamente o mesmo movimento de repetição, mas sem a presença de comida pré-mastigada, através de observações empíricas comparativas de várias espécies e culturas. Pode ser confirmado que, instintivamente beijo e pré-mastigação, evoluíram de comportamentos afetivos semelhantes  com base na divisão sexual parental dentre as relações de subalternidade entre os sexos.    
Bibliografia geral consultada.
HAMBURGER, Esther, O Brasil Antenado: A Sociedade da Novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005; CAMÊLO, Polyana, O Beijo Invisível do Onírico: Na Linguagem Imaginária de Andara. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de Arte e Comunicação. Departamento de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2010; GOFFMAN, Erving, Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. 4ª edição. Rio de Janeiro: Livro Técnico e Científico, 2013; DEMARCHI, Guilherme, Da Paixão à Ressurreição: Uma Análise Semiótica. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Semiótica. Departamento de Linguística. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2015; COURTINE, Jean-Jacques; HAROCHE, Claudine, História do Rosto. Exprimir e Calar as Emoções: (do século 16 ao começo do século 19). Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2016; ABREU, Relines Rufino de, Mulher de Papel, Mulher de Talento: A Representação da Escritora da Ficção em Reparação, de Ian McEwan, e em Um Beijo de Colombina, de Andrade Lisboa. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Faculdade de Letras. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016; ALMEIDA, Thiago de, O Conceito de Amor: Um Estudo Exploratório com uma Amostra Brasileira. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; COSTA, Jéssica Fraga de, Os Labirintos da Ficção: Os Mosaicos Textuais de um Beijo de Colombina, de Adriana Lisboa. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Instituto de Letras. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande dos Sul, 2017; LUCENA, Cibele Toledo, Beijo de Línguas: Quando o Poeta Surdo e o Poeta Ouvinte se Encontram. Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017; MILLÁS, Cláudia  Regina Garcia, Corpo-em-Fluxo. Dança e Escalada como Práticas de Emancipação para o Artista em Cena. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas. Centro de Artes e Letras. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019; ABREU, Rachel Luiza Pulcino de, É Algo Socialmente Construído: Gênero e Sexualidade na Escola entre Percepções de Docentes e Estudantes. Tese de Doutorado.; Programa de Pós-Graduação em Educação. Rio de Janeiro: pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2019; entre outros.

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