terça-feira, 30 de abril de 2019

Chico Mendes - Instituto, Ecologia & Memória Fustigada.

                                                                                                  Ubiracy de Souza Braga

“Que diferença faz quem é o Chico Mendes?”. Ricardo de Aquino Salles

                         
Ricardo de Aquino Salles nascido em São Paulo, em 8 de junho de 1975, é advogado, administrador e político brasileiro. Foi ministro do Meio Ambiente do Brasil de 2019 a 2021, no governo de Jair Messias Bolsonaro. Foi secretário particular do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de 2013 a 2014, e Secretário do Meio Ambiente de São Paulo de 2016 a 2017, nomeado por Alckmin. Fundou, em 2006, o Movimento Endireita Brasil (MEB), organização alinhada à chamada “nova direita” e parceira do Instituto Millenium. Em 9 de dezembro de 2018 foi anunciado como ministro do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro, alegando ter como prioridades a agenda ambiental urbana, o combate ao lixo do mar e agilidade de processos de licenciamentos. Em sua gestão ministerial deste importante setor mundial, foram tomadas medidas apontadas por ambientalistas “como prejudiciais à proteção ambiental no território nacional, tais como a revogação de Resoluções que protegiam restingas e manguezais, suspensão de multas ambientais e interferências em órgãos de fiscalização ambiental”. Foi exonerado do cargo público, a pedido de parlamentares, em 23 de junho de 2021, após acusações de suposto envolvimento em esquema de exportação ilegal de madeira do Brasil para o exterior. Foi candidato a deputado federal por São Paulo em 2006 pelo Partido da Frente Liberal (PFL), em sua estreia na vida pública. 

Obteve 9 466 votos, não conseguindo se eleger. Em 2010, foi candidato a deputado pelo Democratas (DEM), obtendo 26 552 votos, não conseguindo se eleger. Entre 2012 e 2016, participou de campanhas eleitorais como apoiador de diversas candidaturas. Em 2018, tentou novamente uma vaga como deputado federal por São Paulo pelo Partido Novo. Obteve 36 603 votos, não tendo sido eleito. Em 9 de dezembro de 2018, Ricardo Salles é indicado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, ao cargo de Ministro do Meio Ambiente, a partir de 2019. Naquele ano, o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentou acabar com duas Resoluções governamentais que protegiam manguezais e restingas. Após análise, o supremo Tribunal Federal declarou a medida inconstitucional e restabeleceu as normas até então em vigor.  Em maio de 2020 foi expulso do Partido Novo após decisão da comissão partidária. Chico Mendes (1944-1988) foi um seringueiro, sindicalista, ativista político e ambientalista brasileiro. Lutou a favor dos seringueiros da Bacia Amazônica, cuja subsistência depende absolutamente da preservação da floresta e das seringueiras nativas. Seu ativismo lhe trouxe reconhecimento internacional, ao mesmo tempo em que provocou a ira dos latifundiários que o assassinaram. Aprendeu a ler aos 19 anos, já que na maioria dos seringais não havia escolas, e tampouco os proprietários de terras tinham intenção de implantá-las em suas propriedades. Segundo Chico Mendes foi o militante comunista Euclides Távora, que participara no levante comunista de 1935, em Fortaleza, e na Revolução de 1952 na Bolívia, que o ensinou a ler. Após retornar ao Brasil, Euclides Távora fixou residência em Xapuri, onde se tornou o alfabetizador de Chico Mendes. 

        Xapuri representa município brasileiro localizado no interior do estado do Acre. Situa-se na microrregião de Brasileia, mesorregião do Vale do Acre. Cidade Histórica, Xapuri é considerada o berço da Revolução Acreana e o símbolo do Movimento Ambientalista Mundial. Ipso facto é reconhecida também por seu filho mais ilustre, o seringueiro e líder sindical Chico Mendes, que viveu toda a sua vida e luta ambientalista no campo. Há controvérsias quanto à data da fundação do município. Alguns historiadores citam o dia 22 de agosto de 1904, outros 23 de abril de 1903, 23 de outubro de 1904 e 22 de março de 1904. O governo do Acre e a prefeitura local utilizam o dia 22 de março de 1904 como o ano de fundação para as atividades festivas da cidade. Os primeiros habitantes da região foram os índios das tribos dos xapurys; mais numerosa e que originou o nome da cidade, catianas e moneteris. A excursão de Manuel Urbano da Encarnação à foz do rio Xapuri, em 1861, é compreendido como o início da colonização da região. As terras, onde atualmente se localiza a cidade, eram de propriedade do cearense Manuel Raimundo, seringalista que chegou à região durante o Ciclo da Borracha. Os seringais da região do atual município de Xapuri eram os mais produtivos do planeta, segundo dados estatísticos, fazendo com que a região se tornasse a principal referência em termos sociais, culturais e econômicos do Acre e, comparativamente em outras regiões do país e também do mundo ocidental globalizado. No sistema presidencialista brasileiro, o político não governa com o próprio partido. Afinal, uma única legenda não costuma obter a maioria das cadeiras no Congresso. Isso se dá pela grande quantidade de partidos inúteis existentes. 



                       
       O que leva ao fisiologismo, relação social e de poder político em que ações e decisões são tomadas com base em troca de favores, favorecimentos e outros benefícios a interesses privados, em detrimento do bem comum. Está estreitamente associado à corrupção política, uma vez que os candidatos de partidos fisiologistas apoiam qualquer forma de governo, para obter concessões e benefícios individuais ou de grupos econômicos em negociações. São relações construídas por meio de alianças com os parceiros que um candidato traz da campanha e também com os novos apoiadores. Em troca desse apoio, o presidente eleito oferece espaço para que os parceiros passem a governar junto a ele. Essa lógica, em que vários partidos compõem o governo, com múltiplas alianças, é o que caracteriza singularmente o chamado “presidencialismo de coalizão”, expressão cunhada pelo cientista político Sérgio Abranches no âmbito dos debates constituintes em 1988, para denominar um regime presidencialista, como o implantado no Brasil, que reune em um mesmo modelo o regime proporcional de lista aberta para ocupar os cargos do legislativo, o multipartidarismo e a escolha dos mandatários do poder (cf. Abranches, 1988: 5-34).  
           Depois de desestruturar o Fórum Nacional de Educação e as conferências, limitar o acesso ao FIES, entregando aos bancos o futuro de um enorme contingente de estudantes que mais precisam do Estado, e de aprovar a Emenda Constitucional nº 95, impondo severa restrição de investimentos em educação, o governo de Michel Temer agora castiga e precariza as Universidades públicas e seu papel fundamental social e no desenvolvimento do país. A lista de maldades de Temer contra a educação é muito mais ampla e a última iniciativa foi o veto à prioridade das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) na LDO para o ano de 2018: não há restrição para que Temer use os recursos públicos para se manter no governo, como o enorme rombo gerado no orçamento comprova. Por outro lado, o governo deixa claro que não irá trabalhar para o cumprimento das metas do PNE, que foi aprovado pela Câmara após intenso debate ao longo de quatro anos, em decorrência de qualificadas discussões em uma Conferência Nacional de Educação. A démarche política do governo ilegítimo de Michel Temer (PSDB) na área de educação decorreu em acelerado nível de cortes e vetos governamentais. Sob o pretexto de busca do equilíbrio fiscal, promove um amplo e profundo ataque aos direitos civis, privatiza a educação básica e superior e restringe o direito à educação pública de qualidade. Ambientalistas temem extinção do Instituto Chico Mendes e criticam medidas.

            A verdade é que fora de dúvida nunca antes as instituições de defesa do Estado foram tão estruturadas e fortalecias e, sobretudo, puderam atuar livremente sem o Executivo romper os limites éticos e constitucionais da autonomia relativa entre os poderes como ocorreu durante os governos de Lula e Dilma (PT). Não por acaso o Portal da Transparência, outra ação do governo Lula, recebeu diversos prêmios internacionais e foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das cinco melhores práticas de prevenção à corrupção no mundo. Também não foi sem razão que o Brasil foi o primeiro país a ser convidado pelo ex-presidente Barack Obama, em 2010, para liderar, junto aos Estados Unidos da América (EUA), a iniciativa Open Government Partnership que atualmente conta com mais de 60 países. A retomada desses esforços é fundamental para evitar ainda mais retrocessos. A luta contra a corrupção deve continuar avançar em tempo contínuo. É a grande força motriz da defesa do patrimônio nacional e fortalecimento do Estado, com objetivo final de reduzir as desigualdades sociais e promover o pleno bem-estar social no Brasil.           
Após mais de uma década de expansão, interiorização e democratização das oportunidades à educação superior, sob os governos democráticos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT) com a ampliação das matrículas e o reforço às atividades de ensino, pesquisa e extensão, com clara expansão de iniciativas de fomento e oferta de bolsas, o que se observa agora é retrocesso e desmonte, cortes e mais cortes. Em relação às instituições federais, a situação é comprometedora, de abandono quase que absoluto. Estão sem condições de honrar compromissos básicos como água e luz, e manter contratos com trabalhadores, que passam a ser demitidos em massa. A medida rompeu com o espírito republicano e democrático impresso pelos governos Lula e Dilma em seus governos de nomear sempre os escolhidos pela categoria no intuito de conferir maior autonomia ao Ministério Público em suas atribuições de investigar o poder público, inclusive no caso de integrantes do próprio governo. O governo tampão de Michel Temer promoveu verdadeiro ataque às instituições de fomento à pesquisa, como as líderes Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), fundação vinculada ao Ministério da Educação (MEC), que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu em todos os estados brasileiros, minando os recursos para Bolsas de Estudos de poucos milhares de pesquisadores e, severamente, ainda outras atividades acadêmicas em funcionamento.
A chamada Operação Lava Jato (cf. Souza, 2017), deflagrada em março de 2014, vai culminar na grande “jogada política” já realizada no Brasil, envolvendo empresas privadas, estatais e políticos. Essa operação contou com o apoio do governo Dilma Rousseff para seu esclarecimento. Como o tempo longo de julgamento a operação “Lava-Jato” terá seus métodos questionados, principalmente pela parcialidade e o antilulisno do juiz Sergio Moro (PSDB). Apesar de a operação atingir parlamentares de mais de uma (01) dezena de partidos: Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Partido dos Trabalhadores (PT), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Solidariedade (SD), Democratas (DEM), Partido Republicano (PR), Partido Popular Socialista (PPS), Partido Social Democrático (PSD), Partido Trabalhista Cristã (PTC) e Partido Comunista do Brasil (PcdoB)), o alvo de suas investigações irá se concentrar, não por acaso, no Partido dos Trabalhadores (PT). Por quê? O ativismo político de Sergio Moro, dos procuradores e juízes vai influenciar no rumo da política nacional. Ela vai acirrar o antipetismo iniciado em 2006, de parte da mídia, de parte do sistema judiciário e de partidos políticos de direita. Conjuntamente, essas forças sociais e políticas se organizaram para confiscar a democracia em nome da luta contra a corrupção. As operações foram realizadas de olho “no impacto das pesquisas de opinião, onde o ódio coletivo era destilado em uma caçada implacável ao Lula e ao Partido dos Trabalhadores” (cf. Foucher, 2018).
A casa onde residiu Chico Mendes.
Não surpreende - mutatis mutandis - a decisão de levar adiante a proposta de fundir o Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura. Com ela, o governo eleito do militar fascista Jair Bolsonaro (PSL) antecipa o início do desmonte da governança ambiental. Submete o órgão regulador ao setor regulado. Ignora que o patrimônio ambiental único ao Brasil é um ativo, e não um passivo, que também demanda uma estrutura única de regulação. Também deixa claro que pretende cumprir cada uma das ameaças que fez durante a campanha ao meio ambiente e aos direitos civis. Enfraquecer o IBAMA e o Instituto Chico Mendes. Não demarcar mais 1 cm sequer de terras indígenas. Acabar com os ativismos e facilitar o acesso a armas de fogo para o fortalecimento das milícias em torno de seu governo e por proprietários rurais. O movimento fascista integra uma agenda maior de aliados de Jair Bolsonaro, expressa também com endosso pela pauta prioritária da bancada ruralista. Em caráter de urgência, pretendem aprovar o enfraquecimento do licenciamento ambiental e o fim das demarcações de terras indígenas. No Senado, ocorreu a mobilização do projeto de lei relatado pelo senador bolsonarista Magno Malta que “amplia as definições da lei de terrorismo para enquadrar organizações e movimentos da sociedade civil”.
O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal foi criado pelo decreto lei nº 289, de 28 de fevereiro de 1967. Era uma autarquia federal do governo brasileiro vinculada ao Ministério da Agricultura encarregado dos assuntos pertinentes e relativos a florestas e afins. Foi extinto por meio da Lei nº 7.732, de 14 de fevereiro de 1989 e transferiram-se seu patrimônio, os recursos orçamentários, extra orçamentários e financeiros, a competência, as atribuições, o pessoal, inclusive inativos e pensionistas, os cargos, funções e empregos para a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, criada em 1973 e extinta em 1989 e, posteriormente, para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), de acordo com a Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). É o órgão executivo responsável pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), instituída pela lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, e desenvolve diversas atividades para a preservação e conservação do patrimônio natural, exercendo o controle e a fiscalização sobre o uso dos recursos naturais (água, flora, fauna, solo, etc.). Concede licenças ambientais para empreendimentos de sua competência.
Foi formado pela fusão de quatro entidades brasileiras que atuavam na área ambiental: Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Superintendência da Borracha (SUDHEVEA), Superintendência da Pesca (SUDEPE) e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Em 1990, foi criada a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República – SEMAM, ligada à Presidência da República, que tinha no IBAMA seu órgão gerenciador da questão ambiental. Entre 3 e 14 de junho de 1992, realizou-se na cidade do Rio de Janeiro a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, reconhecida como Rio-92, da qual participaram 170 países. A questão ambiental no Brasil tornou-se mais discutida, envolvendo a sociedade brasileira, que já vinha se organizando nas últimas décadas, no sentido de pressionar as autoridades brasileiras pela proteção ao meio ambiente de forma mais concisa. Desta forma foi reformulada a sua estrutura burocrática e em 16 de outubro de 1992, foi criado o MMA (Ministério do Meio Ambiente), com o objetivo de estruturar a política do meio ambiente no Brasil, ao qual o IBAMA agora está vinculado; não há subordinação entre o MMA - órgão da Administração Direta - e o IBAMA, autarquia federal que compõe a Administração Indireta. Em 2007, foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia responsável pela gestão das unidades de conservação nacionais, retirando do IBAMA esta competência legal.
bolsonarismo” enquanto ideologia política representa um regime político de truculência e terrorismo ideológico. De saque aos recursos dos meios ambientais, de apoio às forças agrarista/escravistas do setor produtivo e ativo para impulsionar a competitividade do agronegócio brasileiro.  Não se trata de estruturar uma governança ambiental forte, mas de tornar o Brasil um pária no cenário internacional, principalmente sob o jugo do imperialismo norte-americano ao qual o prócer alimenta uma profunda cordialidade. De acordo com Foucher (2018), a direita e a extrema direita no Brasil, uma das mais corrompidas do mundo contemporâneo, tornaram-se aparentemente porta-vozes da ética, sem nunca terem praticado um gesto em favor dela na política brasileira. Parte destes setores ultraconservadores, representados pelas classes médias urbanas, sempre abusaram dos poderes públicos e aparelharam a esfera pública. Quase sempre acostumados a sonegar o pagamento de impostos públicos e de renda, com falsificações de notas fiscais, realizaram investimentos especulativos, depositando seus ganhos nos chamados “paraísos fiscais”.
Estas práticas claras de corrupção estão presentes em momentos conjunturais de crise política nas altas cúpulas do poder. Outros protagonistas da falsa moralidade pública são os ricos e milionários pastores evangélicos.  Tentam provar que os bispos da Igreja Universal do Reino de Deus e igrejas pentecostais semelhantes, Assembleia de Deus entre outras, realizam “lavagem de dinheiro” e “lavagem cerebral” de seus adeptos. Eles usam as doações de fiéis para financiar, de modo fraudulento, a compra de empresas e agigantar um conglomerado de comunicação social que tem como principal finalidade ampliar a influência religiosa e política desse ramo evangélico no Brasil. Ressalte-se que parte do judiciário, muitas vezes se omitiu ou abafou escândalos de corrupção oriundos da “elite do atraso” detentora do poder econômico, e bem representada no parlamento brasileiro. 
          Alvo de críticas do presidente fascista Jair Bolsonaro (PSL), o ICMBio -  Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade está enfrentando ataques, ameaça de mortes e invasões em Rondônia e no sul do Amazonas. Em incidente programado, uma equipe formada por sete servidores do ICMBio, quatro PMs e dois policiais civis teve o caminho bloqueado após uma ponte de 20 metros ter sido destruída dentro da Floresta Nacional (Flona) do Jacundá, perto de Candeias do Jamari (RO). O caminho também ficou bloqueado por meio da destruição de pontes menores e de árvores derrubadas. A equipe, que fiscalizava roubo de madeira, precisou usar um caminho alternativo, atrasando o retorno em pouco mais de um dia. Para sair, contou com a proteção de uma escolta da Polícia Militar. A Flona Jacundá, de 220 mil hectares, tem um contrato florestal sustentável sob o regime de concessão com a empresa Madeflona, que sofreu prejuízos por causa da destruição de parte de sua infraestrutura.
         Quando o governo populista autoritário de Jair Bolsonaro (PSL) completou 100 dias já coleciona um vasto número de trapalhadas e erros graves que estão causando prejuízos econômicos e políticos para o país. O líder do Partido dos Trabalhadores  no Senado, Humberto Costa (PE), define que “nem os mais pessimistas poderiam imaginar que o Brasil estaria vivendo um momento como este”. Sem projeto social, econômico e político para o país, o governo apoia-se “em um viés fortemente autoritário, investe contra a soberania e constrange o Brasil”, analisa as políticas públicas o senador. - “É um governo que vai se inviabilizando na prática”. Como exemplos, destacam-se a proposta de reforma da Previdência Social; desmonte do programa social “Mais Médicos”; aumento do  desemprego que atingiu 13 milhões de brasileiros; extinção do Ministério do Trabalho; caos na Educação; liberação indiscriminada de agrotóxicos; graves prejuízos ao agronegócio decorrentes dos delírios na política externa e entrega da Base de Alcântara. Um terreno do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) concedido ao ICMBio foi invadido e loteado em Humaitá (AM), geograficamente ligada nas proximidades de Rondônia a 205 km da capital Porto Velho, que possui via estrada asfaltada.
        Em outubro de 2018 os escritórios do IBAMA e do ICMBio na cidade foram incendiadas por garimpeiros ilegais em retaliação a operação de fiscalização. Passados um ano, as unidades não foram reinstaladas. A floresta nacional do Bom Futuro é uma unidade de conservação de uso sustentável brasileira, situada nos municípios de Ariquemes e Porto Velho, no estado de Rondônia. Foi criada pelo Decreto 96.188, de 21 de junho de 1988, com o intuito de promover o manejo dos estoques de madeira da região. É administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em outro “front”, o ICMbio enfrenta uma invasão de 250 pessoas na Flona do Bom Futuro, no município de Porto Velho. Eles entraram na unidade por volta do dia 19 de outubro, a poucos dias da realização do 2° turno das eleições presidenciais de 2018. Segundo servidores do ICMBio, os invasores admitem que serão regularizados pelo governo recém eleito de Jair Bolsonaro. Em 2020, veio do próprio Governo Federal a maior ameaça dos últimos anos sobre a preservação dos mangues. Naquele ano, o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentou acabar com duas Resoluções governamentais que protegiam manguezais e restingas. Após análise, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a medida inconstitucional e restabeleceu as normas até então em vigor. Em maio de 2020 Ricardo Salles foi expulso do Partido Novo após decisão da comissão partidária.

            O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo. São 55 mil espécies de plantas, o que corresponde a aproximadamente 22% das 250 mil existentes no planeta. Embora possua vegetação espalhada por diversos habitats, a maior parte da flora se encontra na Mata Atlântica e hic et nunc na Floresta Amazônica. A diversidade é tão radiante que em apenas um hectare se encontram mais espécies que em todo o continente europeu. Sua diversidade ecológica está nas espécies nativas, mas também recebeu vegetação de outras regiões tropicais, trazidas historicamente pelos portugueses no período colonialista. Várias dessas espécies se restringem às áreas agrícolas, como o arroz, cana-de-açúcar, banana e frutas cítricas. A flora é amplamente utilizada pela população como fonte medicinal, embora pouco ainda se reconheça cientificamente sobre os seus resultados. Por falta de pesquisa, é provável que muitas espécies de plantas brasileiras tenham uso terapêutico ainda desconhecido. Na fauna, tem a maior diversidade do mundo na classificação de mamíferos, com 524 espécies reconhecidas, bem como de peixes de água doce, com mais de três mil espécies. Possui também mais de 1.600 espécies de aves e cerca de 15 milhões de espécies de insetos.
            O Ministro do Meio Ambiente dá mais um passo atrás no desmonte da gestão ambiental ao anunciar 5 oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo para a presidência e todas as diretorias do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. A missão institucional do ICMBio é “proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental” em todo o território nacional, no país que detém a maior diversidade biológica e cultural do planeta. A atuação do ICMBio é transdisciplinar e contempla ações de promoção do ecoturismo e concessão de serviços de apoio a visitação, uso sustentável dos recursos naturais, manejo de espécies, pesquisa e monitoramento da biodiversidade, garantia dos meios de vidas das populações e comunidades tradicionais, educação ambiental, dentre outras atividades especializadas. Claro está fica que o trabalho do Instituto não se restringe apenas as ações de fiscalização ambiental, para as quais as polícias militares estaduais têm prestado apoio ao longo desses anos. Para que a ações sociais do ICMBio sejam cumpridas, é necessário que seus dirigentes tenham formação teórica, capacidade técnica e experiência profissional na diversidade temática ambiental e regionais que permeiam suas atribuições.
          Enfim, em formato de conversa entre o engenheiro florestal Tasso Azevedo, do “Observatório do Clima”, e a atriz Camila Pitanga, o filme: “Fatos Florestais” resulta de uma parceria entre o OC, a Produtora Imaginária e o cineasta Fernando Meirelles, da O2 Filmes. Em 13 minutos, ele expõe dados estatísticos sobre uso da terra e conservação no Brasil a partir do cruzamento de duas grandes bases públicas de informações: o projeto MapBiomas, que mapeou todas as alterações da cobertura vegetal no Brasil nos últimos 35 anos, e o Atlas da Agropecuária Brasileira, criado pela Esalq-USP e pelo Imaflora, que mapeou a situação fundiária do país inteiro. Além disso, recorre aos dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), da Embrapa e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O espectador compreenderá que o Brasil está longe de ser o país do mundo com maior área de florestas - esse título é da Rússia, com maior proporção de seu território com áreas florestais ou com maior proporção de áreas protegidas ambientalmente.

Em verdade o país está na média mundial e tem menos área protegida que a Alemanha e vários países sul-americanos. Além disso, quando se exclui, em tese, a Amazônia que abriga apenas 10% da produção agrícola do país, a fração do território nacional protegida não alcança 5%. Outro mito desfeito é o de que falta terra para produzir no Brasil. O país tem a terceira maior área de produção do mundo, 245 milhões de hectares, perdendo apenas para China e Estados Unidos da América (EUA), e estatisticamente mais área agrícola comparada por habitante que ambos. A afirmação de que o agricultor brasileiro é um grande conservador de florestas tampouco se sustenta: os dados demonstram que o desmatamento em áreas agrícolas nos últimos 35 anos foi de 20%, contra 0,5% em áreas protegidas. - “Em tempos difíceis de distorções de dados sobre a questão agrária, sentimos urgência em reagir e contribuir com dados científicos. É preciso preservar e utilizar com inteligência os imensos potenciais do Brasil”, disse Gisela Moreau, diretora do filme, “Fatos Florestais”, da Produtora Imaginária.
           De acordo com Foucher (2018), a direita e a extrema direita no Brasil, uma das mais corrompidas do mundo, tornaram-se porta-vozes da ética, sem nunca terem praticado um gesto em favor dela na política brasileira. Os representantes dos setores conservadores, as classes médias tradicionalistas, sempre abusaram dos poderes públicos e aparelharam a burocracia pública. Sempre acostumados a sonegar impostos, a fazer maracutaias com falsificações de documentos fiscais, realizaram investimentos especulativos, depositando seus ganhos em paraísos fiscais. Essas práticas de corrupção sempre estiveram presentes nas altas cúpulas das esferas do poder. Outros protagonistas da falsa moralidade são os pastores evangélicos.  Tentam provar que os bispos da Igreja Universal do Reino de Deus e igrejas pentecostais semelhantes, Assembleia de Deus entre outras, realizam “lavagem de dinheiro” de seus adeptos. Eles usam as doações de fiéis para financiar, de modo fraudulento, a compra de empresas e agigantar um conglomerado de comunicação social que tem como principal finalidade ampliar a influência religiosa e política desse ramo evangélico no Brasil. Ressalte-se que grande parte do judiciário, por vezes se omitiu ou abafou escândalos de corrupção oriundos da elite detentora do poder econômico, e bem representada no Congresso nacional.   
Bibliografia geral consultada.

ALLEGRETTI, Mary Helena, A Construção Social de Políticas Ambientais: Chico Mendes e o Movimento dos Seringueiros. Tese de Doutorado. Centro de Desenvolvimento Sustentável. Brasília: Universidade de Brasília, 2002; MENEZES, Daniel Santos, Ambientalismo, Conhecimento Tradicional e Reservas Extrativistas na Amazônia Legal: A Visão dos Técnicos do Instituto Chico Mendes. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Administração. Núcleo de Ciências Sociais. Porto Velho: Fundação Universidade Federal de Rondônia, 2008; YADO, Thais Harumi Manfré, O Discurso Hipermidiático sobre/de Chico Mendes: Voz da Floresta e Cicatriz da Terra. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, 2012; OLIVEIRA, Kamilla Andrade de, Dinâmica das Mudanças na Paisagem na Reserva Extrativista Chico Mendes no Estado do Acre, entre 1989 a 2010. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais. Brasília: Universidade de Brasília, 2013; GRENZER, Matthias, Chico Mendes como Vereador Xapuriense (1977-1982). Dissertação de Mestrado em História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013; CASTRO, Stélia Braga, Casa de Chico Mendes e o Entorno: Formas de Consagração e Preservação do Patrimônio Cultural. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 2014; PEREIRA, Elenita Malta, A Ética do Convívio Ecossustentável: Uma Biografia de José Lutzenberger. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre:  Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016; PEREZ, Pietra Cepero Rua, A Produção da Floresta Em Pé: Resex Chico Mendes (AC), do Projeto à Realização. Dissertação de Mestrado. Departamento de Geografia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2018; Artigo: “Ministério Público (MP) Investiga Ministro do Meio Ambiente por Enriquecimento Ilícito”.  In: https://www.gazetadopovo.com.br/17/08/2019; PANTOJA, Aila Rodrigues, A Amazônia de Chico Mendes – Análise Comparativa da Trilogia Narrativa: O Embate contra Chico Mendes (ensaio), Amazônia em Chamas (filme) e Amazônia, de Galvez a Chico Mendes (minissérie). Programa de Pós-Graduação em Letras. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Letras. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2019; entre outros.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Últimos Anos - Comunicação, Política & Islamismo de Bin Laden.


                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga

Se a libertação da minha terra é chamada terrorismo, então isso é uma grande honra para mim”. Bin Laden


         A família Bin Laden é abastada e intimamente ligada com os círculos mais internos da família real saudita. A família foi posta sob os holofotes da mídia em decorrência das atividades terroristas do mais reconhecido de seus membros, Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, o grupo terrorista responsável pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra edifícios comerciais e do governo dos Estados Unidos. Os interesses financeiros da família Bin Laden são representados pela Saudi Binladin Group, um conglomerado global de petróleo e gestão de patrimônio arrecadando US $ 2 bilhões por ano, sendo a maior empresa de construção civil do mundo, com escritórios em Londres, Dubai e Genebra. A família tem suas origens em um pobre e ignorante hadramita (cf. Knysh, 1999: 215-222) chamado bin Laden, membro de uma tribo Kendah, com cerca de 100 mil membros da aldeia de Al Rubat em Wadi Doan no Vale de Tarim, província de Hadramaut,  falecido em 1919. A tribo se originara no Najad do reino, que migrara para o Hadramaut, no Iêmen (árabes), mas há reduzida minoria persa no litoral Norte.
Seu filho foi o xeque Muhammed bin Awad bin Laden, falecido em 1967. Muhammed bin Laden era um Shafi'i (sunita) nativo da costa sul do Iêmen, e emigrou para a Arábia Saudita antes da Primeira Guerra Mundial. Ele montou uma empresa de construção civil e chamou a atenção do Rei Abdul Aziz ibn Saud, através de projetos de construção, fazendo posteriormente contratos relativos a grandes obras de reforma em Meca, onde ele fez sua fortuna inicialmente através de direitos exclusivos sob a construção e reforma de todas as mesquitas e outros edifícios religiosos, não só na Arábia Saudita, mas até onde alcançava a influência de Ibn Saud. Até sua morte, Mohammed bin Awad bin Laden tinha controle exclusivo sobre as restaurações na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. Logo a rede dos Bin Laden se estendeu para muito além das empresas locais de construção. A intimidade que Muhammed Awad bin Laden tinha com a monarquia foi herdada pela geração mais jovem dos bin Laden.



Na tradição muçulmana, Maomé (c 570 - 8 de junho de 632) é visto como o último de uma série de profetas principais. Durante os últimos 22 anos de sua vida, começando aos 40 anos, em 610, de acordo para as primeiras biografias restantes, Maomé narrou revelações que ele acreditava serem de Deus, transmitidas a ele através do Arcanjo Gabriel (Jibril). O conteúdo dessas revelações, reconhecido como o Alcorão, foi memorizado e gravado por seus companheiros. Durante esta época, Maomé pregava ao povo na cidade de Meca, implorando-os a abandonar o politeísmo e adorar um Deus.  Embora alguns tenham se convertido ao Islão, Maomé e seus seguidores foram perseguidos pelas autoridades de Meca. Isso resultou na migração para a Abissínia de alguns muçulmanos ao Império Axumita. Muitos dos primeiros convertidos ao Islã eram pobres ex-escravos como Bilāl ibn Rabāḥ, (580-640 d.C.) um dos Sahabah mais confiáveis e leais do profeta islâmico. A elite religiosa de Meca acreditava que Maomé iria desestabilizar a ordem através da pregação de uma religião monoteísta, da igualdade racial e do processo de dar ideias aos pobres e seus escravos. Depois de 12 anos de perseguição de muçulmanos pelos habitantes de Meca, Maomé, sua família e os muçulmanos realizaram a Hégira (“emigração”) para a cidade de Medina, anteriormente reconhecida como Iatrebe em 622. Com os convertidos de Medina (Ansar) e os migrantes de Meca (muhajirun), Maomé estabeleceu sua autoridade política e religiosa. Um Estado foi estabelecido em conformidade com a jurisprudência econômica islâmica.

Os filhos de Muhammed foram estudar no Victoria College de Alexandria, no Egito. Seus colegas incluíram o rei Hussein da Jordânia, Zaid Al Rifai, os irmãos Kashoggi (cujo pai era um dos médicos do rei), Kamal Adham (que dirigia a Direção-Geral de Inteligência sob o Rei Faisal), os atuais empreiteiros Mohammed Al Attas, Fahd Shobokshi e Ghassan Sakr e o ator Omar Sharif. Quando Muhammed bin Laden morreu em 1967, seu filho Salem bin Laden assumiu aos empreendimentos familiares, até sua própria morte acidental em 1988. Salem foi um dos 54 filhos que Muhamed teve com várias esposas. O milionário saudita Osama Bin Laden, que nasceu em 30 de junho de 1957 em Riad, oriundo de uma rica e influente família saudita, que enriquecera por meio da atividade da construção civil. Na faculdade de Economia da Universidade de Jedá, Universidade Rei Abdulaziz, Bin Laden (1957-2011) iniciou seus contatos disciplinares com as ideias islâmicas, onde frequentou  estudos islâmicos lecionados por Muhammad Qutb (1919-2014), estudioso e professor islamista e irmão mais novo do pensador islamista egípcio Sayyid Qutb (1906-1966), irmão de Muhammad Qutb, e por Abdullah Azzam (1941-1989), tendo exercido sobre ele grande influência política.  
No início dos anos 1980 Bin Laden parte para o Paquistão, a fim de participar do processo de gerenciamento da luta afegã. Juntamente com o seu ex-professor Azzam, Bin Laden funda em 1984 o “Maktab al Kidmay lil Mujahidin al-Arab” (MAK), que tinha como objetivo recrutar, doutrinar e treinar milhares de jovens árabes e muçulmanos de toda parte do mundo, que se voluntariavam para tomar parte ideológica no conflito afegão. No MAK, Azzam desenvolveu suas ideias de jihad e de movimento vanguardista do Islamismo, que posteriormente serviriam de base para o Al-Qaeda. Na obra “Join the Caravan”, Azzam apresenta conceitos que futuramente guiarão o pensamento de Bin Laden e da Al-Qaeda, como o da obrigatoriedade do jihad e da necessidade de obediência ao líder. O surgimento da rede Al-Qaeda está intimamente articulado a duas questões primordiais. A primeira refere-se à influência da doutrina islâmica radical sob o pensamento daqueles que são considerados os fundadores da organização: o palestino Abdullah Azzam e o saudita Osama bin Laden.                
A segunda diz respeito aos principais acontecimentos geopolíticos do Oriente Médio e do Afeganistão, que ocorreram entre o final da década de 1970 e o início da década de 1990, sobretudo a invasão soviética ao Afeganistão (1979-1989) e a Guerra do Iraque (1991). Os líderes da Al-Qaeda se mudaram para o Irã após a queda do regime Talibã no Afeganistão. Havia indícios de que eles viviam em Chalus, no norte do Irá, no Mar Cáspio. Em 2002, uma invasão Seal a Chalus foi planejada e ensaiada nas proximidades da Costa do Golfo dos Estados Unidos da América para a pesquisa. A Joint Special Operations Command (JSOC), é uma unidade militar estadunidense de comando pertencente ao United States Special Operations Command, e é encarregada de estudar requerimentos e técnicas de operações especiais para assegurar a interoperabilidade e a padronização de equipamento, planejamento e conduta em operações especiais. A unidade foi criada em 1980 seguindo uma recomendação do coronel Charles Alvin Beckwith, logo após a constatação empírica sobre a falha da chamada “Operação Eagle Claw” durante a Crise do Irã, coordenada pelo presidente Jimmy Carter com o objetivo de tentar pôr fim à crise de reféns no Irã pelo resgate de 52 norte-americanos mantidos em cativeiro na embaixada dos Estados Unidos em Teerã, em 24 de abril de 1980. O seu fracasso, e a humilhação pública que se seguiu, danificou o prestígio americano em todo o mundo e é considerado por muitos, incluindo o próprio Carter, como um dos motivos de sua derrota na eleição presidencial de 1980.

Os crimes de guerra dos Estados Unidos são violações de leis da guerra que desrespeitam princípios básicos da proteção aos direitos humanos previstos no direito internacional. O termo engloba crimes perpetrados pelas Forças Armadas, pela Guarda Nacional ou por outras forças de segurança e serviços de inteligência dos Estados Unidos contra sua própria população ou contra cidadãos de países signatários das Convenções de Haia de 1899 e 1907, bem como as violações análogas à definição de crime de guerra acordada durante as Convenções de Genebra. Tipificam-se como crimes de guerra, entre outros, o genocídio, as execuções sumárias de combatentes inimigos capturados, maus-tratos de prisioneiros durante interrogatórios, estupros, tortura e uso de violência contra populações civis e não-combatentes. Consideram-se crimes de guerra de responsabilidade dos Estados Unidos aqueles ocorridos após a independência do país em 1776. Os primeiros registros historiográficos de violações análogas a crimes de guerra cometidos por militares norte-americanos remontam ao século XVIII.

Ao longo do século XIX, vários crimes foram perpetrados contra combatentes, civis e nativo-americanos no contexto da Guerra de Secessão, da Marcha para o Oeste e da Doutrina do destino manifesto. A partir do século XX, com a consolidação de uma política intervencionista, recrudescimento do belicismo e o desenvolvimento do complexo militar-industrial, os Estados Unidos tornam-se protagonistas de uma série de conflitos internacionais marcados pela ocorrência de atrocidades e violações das leis da guerra. É nesse contexto que surgem as acusações sobre o genocídio filipino, durante a Guerra Filipino-Americana e sobre crimes de guerra ocorridos na Segunda Guerra Mundial, incluindo-se o debate sobre os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki com armas nucleares, na Guerra Fria,  abusos ocorridos durante as operações de mudança de regime na América Latina e massacres de civis na Guerra do Vietnã (1955-1975) e na Guerra da Coreia (1950-1953), e nas intervenções norte-americanas no Oriente Médio: vide as alegações de estupro e execuções extrajudiciais na Guerra do Golfo e na Guerra do Iraque, entre outros. 

A JSOC foi creditada pela morte de Osama bin Laden em 1 de maio de 2011, numa operação autorizada pelo então presidente dos Estados Unidos da América, o negro Barack Obama com apoio da CIA. Três anos mais tarde a CIA e JSOC rastreavam o terceiro na linha de comando da Al-Qaeda, Abu Faraj al-Libi, que rodava pelas regiões tribais do Paquistão numa motocicleta vermelha peculiar. Pistas indicavam que Libi estaria num pequeno complexo em uma área tribal ao norte, próxima à fronteira com o Afeganistão, possivelmente reunido com Ayman al-Zawahiri. Um plano foi elaborado para levar trinta Seals até o complexo e efetuar o ataque. McChrystal e o diretor da CIA Porter Goss apoiaram o plano, mas o Pentágono preocupou-se com a extração dos Seals, e queriam obter mais poder e incluir 150 Army Rangers. O exame da operação parecia cada vez mais com uma invasão do Paquistão, o que seria danoso politicamente para o general Pervez Musharraf, o presidente paquistanês.
            Os homens sob o comando de McChrystal estavam cada vez mais frustrados com os impedimentos políticos que os impediam de cruzar a fronteira do Paquistão onde os líderes da Al-Qaeda estavam escondidos. Em 2006, Frances Townsend, o principal consultor de antiterrorismo de Bush, aceitou o convite de McChrystal para se reunir com seus oficiais e principais operativos de campo em Ft. Bragg. Eles se sentaram ao redor de uma mesa em “U” Townsend disse ao grupo: - “Vocês não vão me melindrar. Eu sou de Nova York, eu sou durão. Portanto, essa viagem só vai valer a pena se vocês me disserem o que os incomoda”. As frustrações foram despejadas. A impossibilidade de cruzar a fronteira, a falta de boa inteligência em nível tático sobre os líderes da Al-Qaeda e, mais fundamentalmente, a grande questão: - “Quem é que está no comando da caça de Bin Laden?”. Townsend disse a eles que fora do tetro da guerra, era a CIA, mas na zona de guerra, o JSOC teria necessariamente que assumir o controle.
            Em 11 de agosto de 2006, os comandantes do Talibã e da Al-Qaeda se reuniram para discutir o aumento no ritmo das operações no leste do Afeganistão, em particular as missões conjuntas no ano seguinte, na província de Nangarhar. Em julho de 2007, o JSOC recebeu inteligência de que o próprio Bin Laden poderia cruzar a fronteira do Paquistão para o Afeganistão, para comparecer a uma reunião d cúpula de militantes em Nangarhar, no velho reconhecido território de Tora Bora. A CIA detectou um acúmulo significativo de forças da Al-Qaeda e do Talibã ali. O Pentágono planejou um ataque envolvendo bombardeiros de longo alcance, mas quando os bombardeiros invisíveis B-2 estavam em pleno voo, os comandantes ordenaram seu retorno, em vista de dúvidas sobre a precisão das informações sobre Bin Laden e as possíveis baixas civis num bombardeio em grande escala. Em substituição, o JSOC organizou uma operação menor que durante três ou quatro dias matou dezenas de militantes da Tora Bora. Exatamente como no inverno de 2001, Bin Laden parecia ter desparecido do mapa do Afeganistão.
            Em dezembro de 2010, o diretor da CIA, Leon Panetta, voltou a informar o presidente Barack Obama sobre o esforço de pesquisa em Abbottabad, apresentando vídeos do complexo e os relatos etnográficos de quem já vivia no lugar. Embora ainda houvesse dúvidas sobre quem estaria morando no complexo – em certo momento, Obama chegou a dizer: - ”Até onde sabemos, talvez seja só um xeque tentando se esconder de uma de suas esposas” -, o interesse do presidente pelo caso havia chegado ao ápice. Obama disse: - “Quero novas informações assim que eu voltar de viagem, diretor Panetta. Vamos resolver isso o mais rápido possível. Caso ele esteja lá, temos pouco tempo para agir”. Obama se recorda de ter pedido uma análise ainda mais precisa sobre o que acontecia e quem morava no complexo em Abbottabad: - “Se fôssemos preparar qualquer tipo de ataque a esse complexo... precisávamos ter certeza absoluta do que estávamos fazendo”. No final, Bin Laden conseguiu a carnificina que esperava desencadear. Quase três mil norte-americanos morreram no “11 de setembro”.  
Desde então, 6.022 militares foram mortos no Iraque e no Afeganistão, e mais de 42 mil feridos. Mais de três mil soldados aliados morreram, além de 1.200 empreiteiros, trabalhadores assistenciais e jornalistas. A maioria das mortes não ocorreu em batalhas - foi na métrica suja de homens-bomba, esquadrões da morte, assassinatos em pontos de inspeção, câmaras de tortura e dispositivos explosivos improvisados. Civis a caminho do trabalho ou soldados dirigindo em círculos, procurando um inimigo que raramente conseguiam encontrar. Talvez nunca saibamos quantos civis inocentes foram mortos no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão, mas estimativas sugerem que 160 mil morreram até agora. Al-Qaeda, por sua vez, perdeu poucos operativos na conflagração mundial - talvez apenas pontos, como disse o ex-presidente Barack Obama. Na verdade, a Al-Qaeda nunca teve muitos membros. No final de 2011, oficiais da CIA ficaram surpresos ao descobrir que um militante indonésio chamado Umar Patek, um dos conspiradores do atentado a bomba de 2002, em Bali, havia visitado recentemente Abbottabad, onde foi preso por agentes do serviço de segurança política paquistanês.
            O analista da CIA que dizia já há algum tempo ter certeza quase absoluta de que Bin Laden estava no complexo, concluiu que os serviços de inteligência já haviam feito todo o possível para confirmar a suspeita. Ele procurou Panetta e disse: - “Temos que agir agora. Abu Ahmedal-Kuwaiti pode não estar mais lá no mês que vem. Não vamos conseguir informações melhores do que as que já temos”. Panetta, por sua vez, procurou o presidente e repassou a ele o que ouviu de um dos seus principais agentes responsáveis pela “caça” a Bin Laden: - “Ou entramos em ação agora, ou o que sabemos poderá se perder”. Obama respondeu: - “Quero ter opções para atacar esse complexo”. Em seguida, a Agência Nacional de Informações Geoespaciais usou seus detalhados dados telemáticos de reconhecimento do complexo para reproduzir e interpretar um desenho assistido por computador (“computer aided design”). Com base nesses dados uma maquete de 1, 20 x 1, 25 m do complexo onde Bin Laden estaria foi construída com toda a precisão, detalhe por detalhe. O modelo incluía até dois carrinhos de brinquedo para representar o jipe branco com um pneu reserva e o furgão vermelho que o Kuaitiano e seu irmão usavam. Essa maquete se tornou uma peça chave para as discussões da CIA e, mais tarde, para debater o planejamento de várias opções militares.
       Obama pediu à CIA para planejar algumas opções conceituais para abordar o complexo em Abbottabad. Agora, segundo Peter Bergen (2012), com a possibilidade de uma ação militar na mesa. Panetta e o veterano oficial do Pentágono Michael Vickers decidiram envolver outra pessoa na operação secreta. No fim de janeiro, Vickers entrou em contato com o vice-almirante William McRaven, no Afeganistãso, que durante os três anos anteriores vinham comandando o JSOC. Vickers e McRaven já se conheciam há três décadas e vinham trabalhando intensamente em conjunto nos últimos quatro anos, já que Vickers atuava como supervisor civil do JSOC. No Iraque, McRaven havia capitaneado a obscura Força-Tarefa 121, que encontrou Saddam Hussein em dezembro de 2003. Muito do crédito público pela captura da imagem-totem de Saddam Hussein (cf. Rosa, 2012) acabou indo para as unidades militares convencionais, mas, na verdade, forma as Força de Operações Especiais, sob o comando de William MacRaven, as maiores responsáveis pelo esforço paramilitar para encontrar o que a mídia global disseminava como ex-ditador iraquiano.  William Harry McRaven é um almirante quatro estrelas aposentado da Marinha dos Estados Unidos que serviu pela última vez como o nono comandante do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos de 8 de agosto de 2011 a 28 de agosto de 2014. De 2015 a 2018, ele foi o chanceler da Universidade do Texas.
            Durante o comando de McRaven no JSOC, a taxa de sucesso disparou de 35% para mais de 80%. A proporção do impacto causado pelo JSOC ao Talibã pode ser dimensionada pelo fato de a medida de idade entre os comandantes talibãs no Afeganistão terem caído de 35 para 25 anos durante esse período. McRaven é um texano robusto, de cabelos escuros e olhos azuis. Em pessoa, enquanto toma um “Rip It”, uma bebida altamente cafeinada popular entre os soldados norte-americanos no Afeganistão, ele costuma falar de forma muito ponderada, maviosa, mas também salpica seus discursos com um ou outro “maldito seja”, além de alguns impropérios mais fortes. Um colega veterano chegou a fazer análise comparada que sua figura lembrava a do super-herói dos quadrinhos norte-americanos Capitão América, enquanto outro disse que ele “é conhecido como o Seal mais inteligente da história. Ele é fisicamente forte, bondoso, mas capaz de enfiar uma faca entre as suas costelas em um nanossegundo”. Mesmo sendo um almirante de três estrelas, McRaven costumava sair com suas equipes em campo para missões de busca mais ou menos uma vez por mês no Afeganistão.
No século XXI, a Marinha dos Estados Unidos mantém uma presença global considerável, com operações navais em áreas como a Ásia Oriental, Mediterrâneo e Oriente Médio. É uma marinha de águas azuis, com a capacidade de projetar poder sobre as regiões litorâneas do mundo, engajar-se em áreas remotas em tempo de paz, e responder rapidamente a crises regionais e globais, tornando-se um jogador ativo na política externa e de defesa norte-americana. Historicamente a Marinha dos Estados Unidos continua a ser um importante suporte aos interesses dos EUA no século XXI. Desde o fim da Guerra Fria, ela mudou seu escopo de preparativos para guerra em larga escala com a União Soviética para operações especiais e missões de ataque em conflitos regionais. A Marinha participou da “Operação Liberdade Duradoura”, a “Operação Liberdade do Iraque”, e é um participante importante na guerra em curso contra o terror. O desenvolvimento continua em novos navios e sistemas de armas, incluindo os porta-aviões Classe Gerald R. Ford e os navios de combate litorâneos (LCS). Devido ao seu tamanho, armas, tecnologia e capacidade de projetar força além da costa norte-americana, a Marinha continua a ser um trunfo poderoso para o norte-americano. O complexo militar opera com 430 navios, 3.700 aeronaves, 50.000 veículos, possuindo  75.200 edifícios militares em 3.300.000 acres com aproximadamente 13. 400 km².
            McRaven sugeriu alguns nomes para capitanear a operação em terra. Sobre um comandante Seal do qual gostava em especial afirmou: - “Ele é um operador experiente. Chegando ao complexo, algo pode dar errado, e eles precisam saber como improvisar, mudar de estratégia, partir para um plano B, ou escapar de uma situação complicada”. O planejamento ficou por conta da CIA, organizada com uma cadeia hierárquica que partia do presidente, passava por Panetta e então por McRaven, em vez de uma operação militar de estrutura mais convencional. Os oficiais da CIA passavam a usar o codinome “Atlantic City” para se referir ao CAI, em uma alusão ao fato de que toda a operação seria uma grande aposta. Enquanto McRevan formulava o ataque ao complexo de Abbottabad, seu planejamento foi profundamente influenciado pelos princípios fundamentais detalhados em Spec Ops, um jogo eletrônico de tiro na terceira pessoa produzido pela Yager Development. É o nono capítulo da longa série “Spec Ops” e foi lançado em junho de 2012. Tratava-se de um plano operacional muito simples, mas disciplinarmente mantido secretamente, em “alto sigilo”, ipso facto ensaiado repetidas vezes e que deveria ser executado sempre de surpresas, com rapidez e propósito.           
A operação poderia contar com algum tipo de envolvimento paquistanês? Já no final de fevereiro, enquanto todas essas opções eram discutidas, Vickers decidiu que havia chegado a hora de envolver a maior estrategista política do Pentágono, Michèle Flournoy, pois cada opção militar trazia consigo uma série de implicações políticas, muitas delas invariavelmente complicadas. Como subsecretária de Políticas de Defesa, Flournoy era então a mulher de mais alta patente em serviço na história do Pentágono, e era vista por muitos analistas como uma possível candidata a primeira mulher a chegarão cargo de secretária de Defesa Nacional. Mãe de três filhos, formada em relações internacionais pela Balliol College, de Oxford, e detentora de um extenso histórico de trabalho em questões de segurança nacional de máxima relevância, como o Relatório Quadrienal de Defesa do Pentágono, Flournoy é uma mulher imponente, sempre com seus colares de pérolas e terninhos sob sua medida. Ela costuma se expressar com firmeza, sem traço de soberba, e sempre evitando qualquer drama, “como o tipo clássico de oficial que Barack Obama adorava ter ao seu lado”. Michèle Angelique Flournoy foi subsecretária de Defesa para Política, sétimo funcionário do Departamento de Defesa dos EUA, e atuou como principal conselheiro dos Secretários de Defesa, Robert Gates e Leon Panetta, de fevereiro de 2009 a fevereiro de 2012.
O jornalista Seymour Hersh, que recebeu o Prêmio Pulitzer em 1970, afirmou que os Estados Unidos mentiram sobre a operação que matou Osama Bin Laden em Abbottabad, no Paquistão, em 2011. Citando uma fonte anônima – “um aposentado oficial da inteligência” –, Hersh afirmou na revista “London Review of Books” que, ao contrário do divulgado politicamente pelo presidente Barack Obama, Osama Bin Laden já era um prisioneiro “inválido” das forças paquistanesas desde 2006, tendo sido mantido refém para forçar a interrupção das atividades políticas dos extremistas no Paquistão e no Afeganistão. Os agentes teriam contado para os norte-americanos sobre o paradeiro de Bin Laden em troca de parte da premiação de US$ 25 milhões pela captura do líder da Al-Qaeda e fecharam um acordo para que encobrir a história. Segundo o jornalista, os oficiais paquistaneses também receberam a garantia de que manteriam “boas relações” com os Estados Unidos. Hersh alega que os paquistaneses ainda colaboraram com a missão norte-americana ao cortar a energia do local. De acordo com a versão oficial da Casa Branca, Bin Laden foi descoberto pela intelligentsia e morreu em missão secreta. Não era de conhecimento dos paquistaneses. Escola inaugura biblioteca em homenagem a Osama Bin Laden.

Enquanto as informações sobre o complexo em Abbottabad se consolidavam, o problemático histórico entre Estados Unidos e Paquistão sofreu pioras significativas quando Raymond Davis, um cidadão norte-americano, matou dois paquistaneses na agitada cidade de Lahore, em 25 de janeiro de 2011. O caso parecia confirmar todas as teorias conspiratórias paquistanesas de que o país estava infestado de espiões da Central Intelligence Agency (CIA), e muitos paquistaneses, incluindo alguns políticos, clamaram pela execução de Davis. Após o incidente, a grande tensão entre os dois países reduziu as chances já diminutas de o governo dos Estados Unidos vir a informar qualquer elemento do governo ou do exército paquistanês sobre as recentes descobertas do possível paradeiro do líder da Al-Qaeda. Outro fator a ser levado em conta era que o esforço de guerra norte-americano no Afeganistão, um país sem saídas para o mar, era altamente dependente de suprimentos que chegavam através do Paquistão; no início de 2011, por volta de três quartos de todos os suprimentos da OTAN e da América do Norte, incluindo alimentos, combustível e equipamentos, tiveram que passar por revistas necessariamente pelas fronteiras paquistanesas. O Paquistão permitia igualmente que seu espaço aéreo fosse utilizado proporcionalmente de 300 a 400 vezes dia para que aviões americanos chegassem ao Afeganistão para suprir 100 mil soldados em campo no país.  
Em 14 de março de 2011, o conselho de guerra de Obama se reuniu na Casa Branca para uma reunião com o presidente. As linhas de ação apresentadas a Obama oralmente e também em memorandos e gráficos incluíam um bombardeio com um avião B-2, um ataque com uma aeronave não tripulada, a incursão de agentes especiais e algum tipo de operação bilateral com os paquistaneses. No entanto, essa opção também tinha seus problemas. Para destruir o complexo, com seu quase meio hectare, seria necessário um imenso carregamento de bombas. O general Cartwright explicou que o bombardeio causaria um impacto similar ao de um terremoto na área. O uso de tamanha força certamente causaria baixas civis, e não apenas entre as mulheres e crianças que eles sabiam habitar o complexo, mas também de moradores das casas vizinhas. E é claro, não restaria qualquer prova da morte de Bin Laden, já que qualquer possível amostra de DNA seria vaporizada pelo ataque, levando consigo qualquer evidência empírica de que ele de fato estava morando naquele local. A opção de usar um bombardeio B-2 provocou um amplo debate. Segundo Tony Blinken, “algumas pessoas disseram que as provas de DNA não eram o mais importante”. Se Bin Laden estava lá, e nós sabíamos disso,  podíamos fazer alguma coisa, retirá-lo de cena de uma vez por todas era o que realmente contava. – “No entanto, outros acreditavam que mais da metade do sucesso da operação estaria ligada ao fato de o mundo inteiro ficar sabendo que Bin Laden havia sido morto, e nós precisaríamos comprovar isso, ou pelo menos ter provas suficientes para dispensar qualquer dúvida ou teoria de conspiração”. 
Além disso, como a CIA não tinha como vistoriar o complexo, existia também a  chance de que Bin Laden pudesse se abrigar em algum bunker escondido no interior do prédio, ou mesmo escapar por algum túnel. Usando imagens termográficas, a Agência Nacional de Informações Geoespaciais concluiu que os lençóis freáticos em volta do complexo em Abbottabad eram pouco profundos. Dado o nível dos lençóis freáticos, os analistas descartaram a ideia de que Bin Laden pudesse escapar por algum túnel, mas ainda restava a chance de haver algum tipo de cofre ou sala blindada em sua casa. Os defensores da incursão por terra, qua incluíam Panetta, argumentaram que embora fosse arriscado usar os Seals, caso eles invadissem o complexo e Bin Laden não fosse encontrado, ainda havia uma chance razoável de que eles pudessem ir embora sem que ninguém jamais soubesse da operação. Um ataque aéreo usando um helicóptero de Operações Especiais que não capturasse Bin Laden não violaria o domínio paquistanês porque jamais viria à tona, enquanto um bombardeio resultaria em um espetáculo público, eliminando qualquer chance de negar a operação posteriormente.
Outra opção seria usar uma aeronave não tripulada Predator ou Reaper para sobrevoar a suposta residência de Bin Laden e lançar um míssil ou uma pequena bomba contra o complexo. Cartwright, o general favorito de Obama, defendeu essa abordagem. A ideia seria usar um projétil bem pequeno para acertar o “conta-passos” que os satélites americanos vinham registrando durante seus passeios diários. Um ataque como esse exigiria um altíssimo grau de precisão, e existiria o risco de que o avião simplesmente errasse o alvo, como já havia acontecido em outras missões contra alvos de alto valor desse tipo. No entanto, o risco de baixas civis seria muito menor, e a reação paquistanesa provavelmente seria mais amena do que a esperada contra um ataque aéreo convencional. Comprovar a morte de Bin Laden seria um desafio, mas haveria rumores em relação ao martírio de Bin Laden entre os líderes da Al-Qaeda após o ataque, que poderiam ser detectados pelos satélites americanos. Al-Qaeda quase sempre acaba confirmando a morte de seus líderes políticos em comunicados, pois se orgulha de anunciar a morte de seus mártires. 
Vale lembrar que Michèle Flournoy defendeu a incursão: - a certa altura, as provas circunstâncias se tornaram tão abundantes que ficaria difícil explicar a existência do complexo e a presença de certos indivíduos ali sem que Bin Laden estivesse no local. Simplesmente não fazia nenhum sentido. Em segundo lugar, do ponto de vista tanto simbólico quanto estratégico, capturar ou abater Osama bin Laden causaria um impacto muito forte na Al-Qaeda, além de todas as perdas que eles já haviam sofrido. Em terceiro, ajudaria a entender melhor essa rede de terrorista e a criar novas oportunidades para agir contra os principais líderes do grupo caso invadissem o complexo. Na reunião de 14 de março, o almirante McRaven detalhou como seria a incursão, dizendo diretamente a Obama: - “Senhor presidente, nós ainda não testamos todas as possibilidades a fundo e não sabemos se essa opção seria possível, m as assim que terminarmos os estudos, comprometo-me a avisa-lo imediatamente”. O que ainda restava era a ideia de um ataque cirúrgico com uma arma de enfrentamento, uma aeronave não tripulada; a opção de um ataque com helicópteros e a estratégia do “esperar para ver”, que se resumia a tentar reunir informações mais conclusivas.
Naquele momento, passadas mais de três décadas, outro presidente democrata norte-americano estava considerando por sua presidência em jogo com um ataque de helicóptero no outro lado do planeta, como ocorrera no fracasso da guerra contra o Vietnã, chamada no Vietnã de “Guerra de Resistência contra a América”, em mais um país que muitos na Casa Branca viam, na melhor das hipóteses, como um aliado ambíguo. Segundo Flournoy, conforme a ideia de uma equipe Seal lançada por helicópteros parecia cada vez mais plausível, a hipótese de alertar os paquistaneses sobr a operação foi se tornando cada vez mais remota: - “Embora os dois planos tivessem muitos interesses na captura de Bin Laden, nosso receio – afirma – era que a ideia de ver soldados americanos cruzando as fronteiras paquistanesas para uma incursão como aquela poderia causar ambivalência demais e impedir que nós tivéssemos o apoio desejado. No final das contas nós concluímos que nosso objetivo era tão crucial e havia tantos interesses vitais em jogo que o risco de os paquistaneses vazarem nossas informações ou decidirem se opor por questões de soberania era alta demais”. Foi decidido que iriam realizar a operação unilateral, mas avisá-los assim que fosse possível.
       Para o caso dos agentes serem cercados no complexo em Abbottabad por tropas hostis, a equipe de segurança nacional de Obama discutiu que seria a melhor pessoa para entrar em contato explicando a situação ao homem mais poderoso do Paquistão, o chefe do exército, general Ashfaq Parvez Kayani. Obama não entrou em detalhes táticos, como deveriam estar os helicópteros Chinook com tropas de apoio, nem quantos Seals a mais seriam necessários para completar a equipe de ataque; ele apenas disse a McRaven que o grupo precisaria ser capaz de lutar para escapar. Portanto, refez seus planos e voltou com uma série de saídas para proteger a equipe de ataque, em especial uma opção que contaria com uma força de reação rápida a postos já em solo paquistanês, em vez de depender de helicópteros na fronteira afegã-paquistanesa, como no pano anterior. – “Foi Obama quem sugeriu usar os Chinook-47. Foi ele quem insistiu na necessidade de mais reforços”. A incursão usaria os helicópteros “invisíveis” sugeridos por Cartwright, o que os ajudaria a evitar os radares.  
Ao longo da década seguinte aos atentados consagrados de 11 de Setembro às torres gêmeas, os agentes Seal realizaram centenas de invasões a prédios em ambientes hostis e encontraram praticamente todos os tipos de surpresa possíveis: mulheres armadas, pessoas com coletes-bomba sob seus pijamas, insurgentes escondidos em “tocas de aranha” e até prédios inteiros armados com explosivos. Os agentes precisavam estar preparados para encontrar qualquer uma dessas ameaças no complexo em Abbottabad. As equipes Seal ainda ensaiaram por mais uma semana no meio de abril no deserto de Nevada. A intenção era replicar as prováveis condições climáticas e de altitude de Abbottabad, situada a mais de 1. 200 metros acima do nível do mar. Mais uma vez, Olson, McRaven, Vickers e Bash observaram o ensaio, desta vez ao lado do almirante Mullen. As equipes Seal saíram então para um voo de cerca de uma hoira em seus helicópteros. Durante esse novo ensaio, as condições do vento forçaram os helicópteros a se aproximarem de seu alvo por uma direção não planejada. Enfim, após assistir os ensaios, McRaven foi à Casa Branca para dar a Obama e a seus principais conselheiros de segurança sua opinião sobre a viabilidade da operação letal.
Conforme o planejamento da incursão se consolidava, os oficiais da Casa Branca precisaram pensar no que aconteceria caso Bin Laden fosse pego. Como Bin Laden já havia dito várias vezes que preferia morrer como um mártir sendo capturado pelos Estados Unidos, as chances de prendê-lo foram descartadas como muito pouco prováveis. Vale lembrar que em 2004, Abu Jandal, um ex-guarda-costas de Bin Laden, disse ao jornal Al-Quds Al-Arabi: - “O xeque Osama me deu uma pistola... e ela só tinha duas balas, para que eu pudesse mata-lo caso fossemos cercados ou ele estivesse prestes a cair nas mãos do inimigo, evitando que ele fosse capturado vivo... Ele preferia se tornar um mártir a ser preso, e seu sangue se tornaria uma bandeira para conclamar o zelo e a determinação de todos os seus seguidores”. Para tal cenário dramático, foi preparada uma equipe de interrogatório para detentos de alto valor, composta por advogados, intérpretes e interrogadores experientes, todos a postos na Base Aérea de Bagram, no Afeganistão. Junto com Bin Laden, essa equipe seria levada ao porta-aviões USS Carl Vinson, que estaria deixando o litoral paquistanês pelo mar da Arábia, onde provavelmente o líder da Al-Qaeda seria capturado e interrogado por um tempo indeterminado. Em 11 de setembro de 2001, Ben Rhodes, trabalhava no Brooklin e pode ver perfeitamente as torres do World Trade Center desabando.

Ele se recorda do momento em que Brennan o informou sobre o caso Bin Laden: - “Eu senti o imenso peso da informação que estava recebendo. No meu trabalho, é comum estar por dentro de muitos segredos, mas aquilo foi diferente. Afinal, era Osama bin Laden, e é claro que você fica ansioso, empolgado e nervoso. Nosso primeiro impulso é querer falar com todo mundo, mas é preciso cuidado para proteger essas informações”. Brennan, Rasmussen, do Conselho de Segurança Nacional, e McDonough, vice-assessor de segurança nacional de Obama, desenvolveram um manual para diversos cenários de guerra que poderiam acontecer durante e após a missão. Eles começaram a preparar o texto semanas antes de o presidente tomar sua decisão final sobre o que fazer em Abbottabad, porque durante o tempo todo, ele lhes disse: - “Continuem se preparando. Ainda não me decidi, mas continuem trabalhando em todas as opções. E quero tudo planejado até os últimos detalhes”. Eles pediram a Rhodes para ajuda-los a formular as diversas mensagens jornalísticas que seriam divulgadas em cada desfecho. George Little foi o único outro a ser informado sobre a missão, para preparar uma versão pública (ideológica) do caso Bin Laden que pudesse ser oferecida à imprensa e ao público, caso a operação em Abbottabad fosse exposta. PhD em relações internacionais preparou um documento de 66 páginas com diagramas do complexo.
A Operação Lança de Netuno estava prestes a acontecer. O nome representava uma alusão ao tridente empunhado por Netuno, o deus mitológico dos mares que aparece no distintivo dado a todos aqueles que entram para os Seals. O sigilo em torno da missão Bin Laden foi tão rigoroso que, de todos os 150 mil soldados dos Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão, o único que sabia da operação era seu comandante geral, o general David Petraeus, que havia sido informado três dias antes. Como era comum no Afeganistão, dezenas de operações das Forças Especiais seriam realizadas naquela mesma noite do ataque para capturar ou matar líderes militantes. A incursão Bin Laden era diferente não apenas pelo seu alvo, mas também por acontecer em um país supostamente aliado dos Estados Unidos da América, por mais que suas autoridades não tivessem sido notificadas da operação. Caso fosse necessário, Petraeus estava pronto para despachar aeronaves ao Afeganistão contra jatos paquistaneses que tentassem interceptar ou mesmo atacar os helicópteros que agora entravam em seu espaço aéreo.
Embora não tenham sido formalmente fundados até 1962, os modernos SEALs da Marinha dos EUA têm suas raízes na 2ª guerra mundial. As Forças Armadas dos Estados Unidos da América perceberam a necessidade do reconhecimento secreto das praias de desembarque e das defesas costeiras. Como resultado, a Amphibious Scout and Raider School, do Corpo de Fuzileiros Navais e da Marinha foi fundada em 1942 em Fort Pierce, Flórida. Os Scouts and Raiders foram formados em setembro daquele ano, apenas nove meses após o ataque a Pearl Harbor, pelo Observer Group, uma unidade conjunta do Exército, Corpo de Fuzileiros Navais e a Marinha dos Estados Unidos. Um seleto grupo de pessoal do Exército e da Marinha reuniu-se na Base de Treinamento Anfíbio Little Creek, Virgínia, em 15 de agosto de 1942, para iniciar o treinamento de Amphibious Scouts and Raiders. Sua missão era identificar e reconhecer a praia objetivo, manter uma posição na praia designada antes do desembarque e guiar as ondas de assalto até a praia de desembarque. A unidade foi liderada pelo 1º Tenente do Exército Lloyd Peddicord como oficial comandante e pelo Alferes da Marinha John Bell como oficial executivo.
Os suboficiais e marinheiros da Marinha vieram do grupo de barcos da Base de Treinamento Anfíbio Naval dos EUA situada em Solomons, Maryland, e o pessoal do Army Raider veio da 3ª e 9ª Divisões de Infantaria. Eles treinaram em Little Creek até embarcarem para a campanha do Norte da África em novembro seguinte. A Operação Tocha foi lançada em novembro de 1942 na costa atlântica do Marrocos francês, no Norte da África. O primeiro grupo incluía Phil H. Bucklew, o “pai da guerra especial naval”, que dá nome ao edifício do Centro de Guerra Especial Naval. Comissionado em outubro de 1942, este grupo entrou em combate em novembro de 1942 durante a Operação Tocha na Costa Norte da África. Scouts and Raiders também apoiaram desembarques na Sicília, Salerno, Anzio, Normandia e Sul da França. O segundo grupo de Scouts and Raiders, codinome Special Service Unit No. 1, foi estabelecido em 7 de julho de 1943, como uma força de operações conjuntas e combinadas. A primeira missão, em setembro de 1943, foi em Finschhafen, na Papua-Nova Guiné. As operações posteriores ocorreram em Gasmata, Arawe, Cabo Gloucester e nas costas Leste e Sul da Nova Grã-Bretanha, todas sem qualquer perda de pessoal. Surgiram conflitos sobre questões operacionais e todo o pessoal não pertencente à Marinha foi realocado.
A unidade, renomeada como 7º Amphibious Scouts, recebeu uma nova missão: desembarcar com os barcos de assalto, criar canais de boia, erguer marcadores para as embarcações que chegam, lidar com vítimas, fazer sondagens offshore, limpar obstáculos na praia e manter comunicações de voz ligando as tropas em terra, barcos que chegam e navios próximos. Os 7º Amphibious Scouts conduziram operações no Pacífico durante o conflito, participando de mais de 40 desembarques. A terceira e última organização de Scouts and Raiders operou na China. Eles foram destacados para lutar com a Sino-American Cooperative Organization. Para ajudar a reforçar o trabalho, o almirante Ernest King ordenou que 120 oficiais e 900 homens fossem treinados para Amphibious Raider na escola Scout and Raider em Fort Pierce, Flórida. Eles formaram o núcleo de intelligentsia do que foi concebido como uma etapa da “organização guerrilheira anfíbia de americanos e chineses operando em águas costeiras, lagos e rios, empregando pequenos barcos a vapor e sampanas”. Embora a maioria das forças dos invasores anfíbios permanecessem em Camp Knox, em Calcutá, Índia, três dos grupos militares prestaram serviço ativo. Eles realizaram um levantamento de parte do rio Yangtzé em 1945 e, disfarçados de Coolies, conduziram um levantamento detalhado de três meses da costa chinesa, de Xangai a Kitchioh Wan, perto de Hong Kong.
É notoriamente difícil se tornar um Seal. Em primeiro, você precisa sobreviver ao que é considerado “o mais árduo treinamento do mundo”. Semana do Inferno é o adequado apelido pelo qual é conhecido o clímax do brutal processo de seleção, que envolve correr, fazer flexões, mover troncos maciços em equipes, nadar distâncias consideráveis no mar gelado e dormir apenas algumas horas durante a semana toda. Outros testes incluem nadar submersos por 45 metros com as mãos amarradas atrás do corpo e os pés atados. O índice de desistência do programa é de 90%. Durante esta prova, os que passam precisam permanecer calmos e descobrir como restabelecer o suprimento reserva de oxigênio enquanto os corpos estão desesperados por ar.  Se já é bastante desafiador se tornar um Seal, um desafio ainda maior é ser selecionado para a força principal de antiterrorismo dos Seals que recebeu o nome de “Grupo para o Desenvolvimento de Operações Especiais da Marinha”, baseado em Dam Neck, Virgínia, próximo ao movimentado balneário de Virgínia Beach. É reconhecido no métier militar como DevGru - popularmente, Equipe dos Seis Seals -, e é considerado a tropa de elite dos Seals. Seus homens giram em torno de 250 membros, são endurecidos ideologicamente por batalhas e têm geralmente a idade média de 30 anos.
É dividido em esquadrões nomeados por cores. Vermelho, Azul e Preto é a equipe de atiradores especiais. Estes esquadrões vasculham outras equipes de Seals, que possuem ao todo  dois mil homens, em busca dos que tenham habilidades específicas de que precisam. Sua base física em Dam Neck não chamava atenção. Por trás da alta cerca de arame que separa os Seals do resto mundo árabe fica um grande canil, onde vivem os cães altamente treinados que acompanham os homens em suas missões. Há um muro gigante para aperfeiçoar as habilidades técnicas de escalada; um hangar tomado de barcos excepcionalmente rápidos; outros hangares que abrigam buggies experimentais adequados para dirigir nos desertos e montanhas do Afeganistão, e depósitos de armamento lotados de armas de fogo letais que tornavam exóticos o cenário natural. Os principais líderes do grupo terrorista estavam baseados ou no Paquistão, um aliado volúvel, ou no Irã, um inimigo mortal, e as consequências políticas de colocar norte-americanos no território de qualquer um desses dois países eram imensas.
Enfim, em seu quarto no último andar, Bin Laden havia se tornado vítima de suas próprias medidas de segurança. As poucas janelas garantiam sua privacidade, mas agora, segundo Peter Bergen (2012), também impossibilitavam que ele visse o que estava acontecendo do lado de fora do pequeno quarto que ele dividia com sua esposa mais jovem Amal al-Sadah, quinta esposa de Osama bin Laden, que garantiu que nunca tivera ligações com a al-Qaeda. Amal al-Sadah, que foi ferida na perna durante a invasão da fortaleza por tropas americanas, no Paquistão, casou-se com Bin Laden em 2000, aos 18 anos de idade. Osama tinha 43. Ahmed diz que acompanhou o crescimento da menina, definida por ele como uma “adolescente, calma, educada, tranquila e confiante”. O casamento foi, aparentemente, uma aliança política para fortalecer o apoio de Bin Laden na terra de seus antepassados. Segundo Ahmed, parente da jovem viúva, eles descendem de uma família tradicional de Ibb, no Iêmen, e não tinham contato com a organização antes do casamento arranjado. – “Foi-me dito depois que eles se casaram porque Osama não queria cortar os laços com sua antiga casa, o Iêmen” - disse Ahmed.
Vestido com seus mantos shalwar kameez, o líder da Al-Qaeda esperou em silêncio alguns minutos, em aparente concentração e expectativa, enquanto os Seals invadiam seu último refúgio nacional. Com a eletricidade desligada, deve ter aumentado ainda mais a confusão no interior do quarto. Ele tinha várias centenas de euros e dois números de telefone, um para um celular do Paquistão e o outro de uma central de chamadas nas regiões tribais paquistanesas. O plano de fuga de Bin Laden para escapar se resumia a nada que pudesse ajudá-lo do fim da supremacia e de manutenção da “soberania do eu” naquele momento histórico. Três Seals deixaram a casa do Kuaitiano por um portão de metal em uma parede de dentro do complexo e chegaram a um pátio gramado em frente à casa principal de Bin Laden. Enquanto subiam até o segundo andar, os Seals encontraram Khalid, o filho de 23 anos de Bin Laden, e o mataram na escada. Ele parecia estar desarmado. Várias crianças estavam começando a se amontoar nas escadas e entre os andares. Em uma prateleira e seu quarto, estavam a AK-47 e uma pistola Makarov, duas constantes companheiras de Bin Laden, mas ele não as usara.
Em vez disso, ele abriu um portão de metal que bloqueava todo o acesso ao seu quarto e só podia ser aberto por dentro e pôs a cabeça para fora para ver que barulho era aquele. Osama Bin Laden foi atingido por uma bala na cabeça quando olhou pela porta de seu quarto para o corredor. O líder da Al Qaeda não portava nenhuma arma quando as tropas norte-americanas entraram no cômodo. Ao ouvir homens estranhos invadindo seu quarto, Amal gritou algumas palavras em árabe e se jogou na frente do marido. Os Seals pegaram o corpo de Bin Laden e o arrastaram escada abaixo para fora de sua casa, deixando um rastro de sangue pelo chão. Tudo sob o olhar atento de Sáfia, sua filha de 12 anos. Os corpos de três outros homens mortos, o mensageiro, seu irmão e Khalid bin Laden, ficaram espalhados pelo complexo com sangue escorrendo na carnificina. Bushra, a cunhada do mensageiro, estava ao lado de seu marido, que também havia sido morto. Era uma vingança dissimulada contra todo povo árabe. Ironicamente realizada sob custódia de um presidente negro de origem africana.   
Bibliografia geral consultada.

ATWAN, Abdel Bari, A História Secreta da Al-qaeda. São Paulo: Editora Larousse, 2008; MOREIRA, Deodoro José, Islã e Terror: Estratégias de Construção na Mídia Impressa. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009; JORGE, Bernardo Wahl Gonçalves de Araújo, As Forças de Operações Especiais dos Estados Unidos e a Intervenção no Afeganistão: Um Novo Modo de Guerra Americano? Dissertação de Mestrado. São Paulo: Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Unesp, Unicamp e PUC-SP, 2009; SOUZA, Bruno Mendelski de, “A Morte de Osama Bin Laden e suas Implicações para o Futuro da Al-Qaeda”. In: Univ. Rel. Int. Brasília, Volume 9, n° 2, pp. 139-160, jul./dez. 2011; ROSA, Ana Paula da, Imagens-Totens: A Fixação de Símbolos nos Processos de Midiatização. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos sinos, 2012; BERGEN, Peter, Procurado: Do 11 de Setembro ao Ataque a Abbottab. Os Dez Anos de Caça a Osama Bin Laden. Tradução de Annal Lim, Lana Lim e Otávio Albuquerque. Barueri (SP): Editora Amarilus, 2012; ALARCON, Danillo, Os Meandros da Política Externa dos Estados Unidos para o Afeganistão: O 11 de Setembro e a Operação Liberdade Duradoura. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais. Brasília: Universidade de Brasília, 2012; REGIO, Marília Schramm, Imagens e Memórias: A Representação do 11 de Setembro no Cinema Norte-Americano. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social FAMECOS. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2017; MORELLA JUNIOR, Jorge Hector, A Guerra do Terror Proposta após os Atentados Terroristas Transnacionais de 11 de Setembro de 2001 Coloca o Mundo (In) segurança Global. Programa de Pós-Graduação em Ciência Jurídica. Tese de Doutorado. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2018; BEGERES BISNETO, Victor, Fronts Islamitas no Brasil: Prenúncios de uma Radicalização Incompleta Face ao Fundamentalismo Existencial. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de História. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2019; entre outros.