Patty Hearst - Afeto, Política & Síndrome de Estocolmo.
Ubiracy de Souza Braga
“A festa acaba de começar!”. Jan-Erik
Olsson
A
cristianização do país tem início com a “chegada” de estranhos missionários alemães e
ingleses no século XI. Em 1397 os quatro países escandinavos foram reunidos
através de linhagens e casamentos na União de Kalmar, mas a disputa entre os
nobres de cada país pelo trono os separou no início do século XVI. O século
XVII viu a Suécia tornar-se uma das principais potências europeias, devido ao
sucesso da participação na Guerra dos 30 anos, iniciada pelo rei Gustavo Adolfo
II. Esta posição iria “desmoronar-se” no século XVIII, quando a Rússia
conquistou os reinos da Europa do norte na Grande Guerra do Norte e,
eventualmente, quando em 1809 se assistiu à separação da parte oriental da
Suécia, criando-se assim a Finlândia como um grã-ducado Russo. uma guerra
travada entre uma coligação composta pelo Czarado da Rússia, Reino da Dinamarca
e Noruega e Saxônia-Polônia e a partir de 1715 também Prússia e Hanôver contra
o Império Sueco, entre 1700 e 1721. Começou com um ataque coordenado pela
coligação em 1700 contra a Suécia, e terminou em 1721 com a conclusão do
Tratado de Nystad, e o Tratado de Estocolmo. Um dos resultados desta guerra foi
o fim do Império Sueco. O
Império colonial sueco durou pouco mais de dois séculos, desde 1638, com a
fundação da primeira colônia sob o domínio da rainha Cristina (1632-1654) até 1878, com a descolonização
da última colônia sob o rei Óscar II (1872-1907).
Entre
os principais combates deste longo conflito destacam-se as batalhas de Narva,
Lesnaia e Poltava. A história recente sueca tem sido pacífica. A última guerra
na qual participou foi a Campanha Contra a Noruega (1814), que
estabeleceu uma união dominada pela Suécia. Esta união dissolveu-se
pacificamente em 1905, apesar de alguma ameaça de guerra. A Suécia foi um país
neutro durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, com uma pequena excepção,
a Guerra do Inverno. Continuou a não se posicionar durante a Guerra Fria
e hoje não faz parte de nenhuma aliança militar embora tenha participado nos
treinos militares da Organização do Tratado Atlântico Norte. A primeira cerimônia
da entrega do Prêmio Nobel foi realizada na antiga Real Academia de Música
Sueca, em Estocolmo, em 1901. A partir de 1902 os prémios passaram a ser
entregues pelo Rei da Suécia. A economia predominantemente agrícola da Suécia
mudou de vilas para fazendas privadas durante a Revolução
Industrial.
A
industrialização ganhou novo incentivo com a produção de energia hidrelétrica.
Aumentou a produção de ferro, aço, papel, têxteis e produtos químicos ao mesmo
tempo em que o número de trabalhadores triplica. A participação do setor industrial
no produto interno bruto da Suécia foi de 13% em 1861-1865 a 28% em 1911-1915.
Contudo essas mudanças não conseguiram trazer melhorias económicas e sociais
proporcionais ao crescimento da população. Cerca de um milhão de suecos migrou
entre 1850 e 1890, principalmente para os Estados Unidos da América. O século
XIX foi marcado pelo surgimento da imprensa liberal de oposição, pelo fim dos
monopólios comerciais das guildas em trocas e manufaturas em favor da
livre empresa, a introdução de reformas fiscais e eleitorais, a instalação do
serviço militar nacional e pelo surgimento dos três partidos que dominariam a
vida política sueca na primeira metade do século XX: o Social Democrata, o
Liberal e o Conservador. Nos 24 anos que
se seguiram ao fim da segunda guerra instalando-se de 1945-1969,
um governo social-democrata (SSA) estável cria o estado-providência mais
avançado internacionalmente.
Em
1950 Gustavo VI torna-se rei, em 1953 a Suécia torna-se membra do Conselho
Nórdico. Sete anos depois entra para a EFTA. Em 1969 Olof Palme forma governo
até 1974, voltando a tê-lo em 1982. Em 1973 Carlos XVI sobe ao trono. Em 1975
há uma reforma constitucional, o Riksdag passa a possuir apenas uma câmara com
mandato de três anos. A monarquia passa a ter apenas um papel cerimonial. Em
1986 Palme é assassinado e o seu adjunto Ingvar Carlsson sucede-lhe. Nunca foi
encontrado o assassino. Em 1991 o SSA continua a ser o maior partido durante as
eleições gerais, mas não consegue formar governo. Carlsson demite-se e Carl
Bildt, líder do partido moderado MS forma de coligação de partidos
não-socialistas em tempos de recessão.
No
ano seguinte medidas de austeridade conseguem acabar com a inflação, mas o SSA
recusa-se a suportar mais custos. Em 1994 novas eleições trazem o poder
completo ao SSA. Em 1995 juntam a União Europeia. No ano seguinte Carlsson
volta-se a demitir e é substituído por Göran Persson (até 2006). Em 1999 o
Governo sueco torna-se o primeiro do mundo com mulheres em maioria e nesse
mesmo ano a ministra dos negócios estrangeiros, Anna Lindh morre apunhalada. Em
referendo realizado em 2003, a maioria da população votou “Não” quanto à
adopção do euro como moeda oficial do país. O partido moderado com dirigido por
Fredrik Reinfeldt volta ao poder em 2006. A Suécia sofreu particularmente os
efeitos da crise económica internacional na sua fase inicial, tendo em 2008
decrescido 0,61% e em 2009, uns preocupantíssimos 5,03%. Em 2010 fez uma enorme
recuperação até crescer 6,15%, o máximo crescimento econômico desde 1964, em
cresceu 6,82%. Em 2011 continuou a sua recuperação económica com 3,92% de
crescimento.
Estocolmo representa o maior e mais
importante centro urbano, cultural, político, financeiro, comercial e
administrativo da Suécia desde o século XIII. Sua localização estratégica sobre
14 ilhas no centro-sul da costa leste da Suécia, ao longo do Lago Malar, tem
sido historicamente importante. Uma vez que a capital sueca está situada sobre
ilhas reconhecidas por sua beleza, a cidade é destino de turistas de todo o
mundo, tendo sido apelidada nos últimos anos de “Veneza do Norte”. Estocolmo é
conhecida pelos seus edifícios e monumentos extremamente bem preservados, por
seus arborizados parques, por sua riquíssima vida cultural e gastronômica, e
pela gigantesca qualidade de vida que oferece a seus moradores. Há décadas,
Estocolmo figura como uma das cidades mais visitadas dos países nórdicos, com
mais de um (01) milhão de turistas anualmente. Tem
sido citada entre as cidades mais habitáveis do mundo, sendo uma das mais
limpas, organizadas e seguras do mundo.
A síndrome de Estocolmo foi identificada a partir de uma “situação
criminosa” real, em 23 de agosto de
1973 quando houve um assalto bancário em Estocolmo na Suécia, e houve
resistência por parte dos reféns em meio às estratégias
de resgate da polícia local. Em 1974, Patrícia Hearst, neta de um magnata
americano, foi sequestrada e tornou-se talvez o caso mais famoso de pessoa com
Síndrome de Estocolmo. Ela assaltou um banco com o grupo que a sequestrou, o
autodenominado Symbionese Liberation Army,
uma organização revolucionária de orientação marxista dos Estados Unidos da
América (EUA), responsável por assassinatos, assaltos a bancos e outros atos de
violência política. Sua ação internacionalmente reconhecida concorreu com o
sequestro e posterior conversão da herdeira milionária Patty Hearst. As origens
do Exército Simbionês de Libertação encontram-se no trabalho desenvolvido pela Black Cultural Association, um grupo de
apoio a presidiários negros ativo na prisão de Vacaville em finais da década de
1960 e inícios de 1970. Este grupo de responsabilidade de um
professor de Universidade da Califórnia em Berkeley e era integrado por
estudantes brancos da classe média partidários de ideais de esquerda, que davam
apoio e formação político-ideológica aos presidiários negros. No contexto etnográfico das
suas visitas estes jovens no processo de socialização vão propagar entre os presidiários o legado revolucionário de Marx.
O Exército Simbionês de Libertação inspirava-se no marxismo, incluindo
entre os seus objetivos de luta acabar com o racismo, a monogamia e o sistema
penitenciário. A organização advogava igualmente a formação no interior do território
dos Estados Unidos de lares para as
minorias étnicas. Para alcançar os seus objetivos o grupo adotou a tática de “propaganda
urbana” do jornalista francês Régis Debray, que consistia em praticar uma série
de ações selecionadas, como assaltos e homicídios, cujo resultado seria um grande
impacto na mídia; estas ações proporcionariam publicidade e em última instância
provocariam a revolta popular e a adesão às propostas da organização. As origens
libertárias encontram-se no trabalho desenvolvido pela Black Cultural Association, um grupo de apoio a presidiários negros
ativo na prisão de Vacaville em finais da década de sessenta e inícios da
década de setenta. Este grupo era da responsabilidade de um professor de
Universidade da Califórnia em Berkeley e era integrado por estudantes brancos
da classe média partidários de ideais de esquerda, que davam apoio e formação
aos presidiários negros. No contexto das suas visitas estes jovens vão propagar
entre os presidiários ideais do marxismo enquanto ideologia quando interpela os indivíduos en suas práticas constituindo-os em sujeitos históricos.
Entre
os jovens estudantes que participavam neste projeto político encontravam-se
futuros membros do Exército Simbionês de Libertação, como William Wolfe, Russel
Little, Joe Remiro e Nancy Ling Perry. Para alguns dos estudantes, os
presidiários eram vítimas de um sistema racista enraizado na sociedade norte-americana.
Em março de 1973 Donald DeFreeze, condenado por assalto e detido primeiro em
Vacaville e depois transferido para a prisão de Soledad consegue escapar. DeFreeze tinha sido dinamizador na cadeia
de um grupo chamado “Unsight”, no qual William Wolfe e Russell Little
participaram de forma engajada. Ajudado por estes membros fixa residência em
Berkeley, junto com as ativistas Nancy Ling Perry e Patricia Soltysik, tornando-se
namorado da última. Poucos meses antes tinham chegado a Berkeley, vindos do Indiana,
Bill Harris, veterano da guerra do Vietnam e pacifista e a sua esposa, Emily
Harris. O casal foi acompanhado por dois amigos, Gary e Angela Atwood. Estes
jovens juntam-se a grupos radicais e conhecem DeFreeze e os seus companheiros.
No final do Verão de 1973 estas pessoas decidem fundar o Exército de Libertação Simbionês, uma organização revolucionária de orientação marxista dos Estados Unidos.
A
4 de fevereiro de 1974 três membros do Exército
Simbionês de Libertação raptaram Patrícia Campbell Hearst, herdeira da
família Hearst e estudante de História da Arte na Universidade de Berkeley,
quando esta se encontrava no seu apartamento com o seu noivo, Steven Weed. Dois
dias depois a organização fez chegar um comunicado à estação de rádio KPFA de
Berkeley, na qual afirmava que Patrícia Hearst “era uma prisioneira de guerra”.
No dia 12 de Fevereiro a mesma emissora de rádio difundiu uma gravação de
Hearst na qual está afirmava estar bem e onde pedia que a sua família
procedesse à distribuição de comida entre os pobres em troca da sua libertação.
Dez dias depois a família de Hearst fundou um programa de nome “People in Need”
que distribui comida por entre 30 mil pessoas, tendo gasto 2 milhões de dólares
na ação social. De acordo com Hearst,
ela teria os seus primeiros dois meses de cativeiro encerrada num armário, onde
foi violada por DeFreeze e sujeita a doutrinação dos ideais do Exército
Simbionês. No dia 3 de abril de 1974 a rádio KSAN emitiu uma nova gravação na
qual Patty denunciava o programa “People in Need” e rejeitava a sua família.
Patty Hearst anunciou também que tinha se juntado ao Exército Simbionês de
Libertação, tendo adotado o nome de guerra de guerrilha “Tania”, em honra à
companheira de Che Guevara. A fita é acompanhada por “uma fotografia que se
tornou famosa, na qual Patty surgia com uma arma em frente do símbolo da
organização, a cobra de sete cabeças”.
A tática é a arte do fraco. Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz, militar do Reino da Prússia que ocupou o posto de general é considerado um grande estrategista militar e teórico da guerra por sua obra “Da Guerra” (“Vom Kriege”). Foi diretor da Escola Militar de Berlim nos últimos 13 anos de sua vida, período em que escreveu a obra “Vom Kriege”, publicada postumamente. Nela ficou reconhecida a tese materialista em que ele define a associação entre guerra e política: - “A guerra é a continuação da política por outros meios”. Especificamente, Clausewitz considerava
fundamental que a guerra estivesse sempre submetida à política. Isso porque
nenhuma guerra pode ser vencida sem a compreensão precisa dos objetivos e da
disponibilidade de meios de trabalho¸ em primeiro lugar, ou sem o cálculo racional das capacidades e das oportunidades, assim como o
estabelecimento dos limites éticos ao uso da força - sempre submetida aos
objetivos políticos estabelecidos. Suas lições de tática e estratégia vão, além dos exercícios militares propriamente ditos, para se constituírem,
inclusive, numa profunda reflexão teórica sobre a filosofia propedêutica da guerra e da paz. O modo pelo qual a tática, verdadeira prestidigitação, se introduz por
surpresa numa ordem representa o senso de ocasião. Mediante
procedimentos que psicanaliticamente Freud precisa a respeito do chiste,
combina elementos audaciosamente reunidos para insinuar o “insight” de uma
coisa na linguagem de um lugar para atingir o destinatário. Contudo, sem lugar
próprio, sem visão globalizante, cega e perspicaz, como se fica no corpo a
corpo sem distância, comandada pelos acasos do tempo, a tática é determinada
pela ausência de poder, assim como a estratégia
é organizada pelo postulado de um poder. A
sua dialética poderá ser iluminada pela antiga arte da sofística, de fortificar
ao máximo a posição do mais fraco. Mas destaca a relação de forças que está no
princípio de uma criatividade intelectual tão tenaz como sutil, incansável, mobilizada
à espera da ocasião. As estratégias são,
portanto, ações sociais que, graças ao postulado de um lugar de poder, que produz efeitos de poder políticos elaboram lugares
teóricos enquanto sistemas e discursos totalizantes, capazes de articular um conjunto
de lugares praticados onde as forças sociais se distribuem. Elas combinam três tipos ideal de lugar praticado e visam dominá-los uns pelos outros. Privilegiam, portanto, as
relações espaciais. Ao menos procuram elas reduzir a esse tipo as relações
temporais pela atribuição analítica de um lugar próprio a cada elemento
particular e pela organização combinatória dos movimentos específicos a
unidades ou a conjuntos de unidades. O modelo para isso foi antes o militar que
o científico. As táticas são procedimentos que valem pela pertinência que dão
ao tempo – às circunstâncias que o instante preciso de uma intervenção
transforma em situação favorável, à rapidez de movimentos que mudam a
organização do espaço, ás relações entre momentos sucessivos de um golpe, como
na política, aos cruzamentos possíveis de durações e ritmos heterogêneos.
A síndrome de Estocolmo recebeu esse
nome devido a um sequestro acontecido em Estocolmo, em 23 de agosto de 1973.
Dois assaltantes sequestraram quatro funcionários do banco por vários dias.
Quando a polícia conseguiu libertar os reféns, eles demostraram simpatia em
relação aos sequestradores. As vítimas iam à prisão visitar seus captores e se recusaram testemunhar
contra eles durante o julgamento. A síndrome de Estocolmo foi, então, teorizada
pelo psiquiatra norte-americano Frank Ochberg. Frank é psiquiatra, um pioneiro
na ciência do trauma, um educador e editor do primeiro texto sobre o tratamento
do “transtorno de estresse pós-traumático” (TEPT).Ele é um dos fundadores da psicotraumatologia
moderna e serviu no comitê que definiu o TEPT. Recentemente, dedicou parte de
seu tempo à educação de jornalistas sobre traumas e, em reconhecimento, a Bolsa
de Ochberg do Dart Center recebeu esse nome. As estratégias apontam para a
resistência que o estabelecimento de um lugar oferece ao gasto do tempo; as
táticas apontam para uma hábil utilização do tempo, das ocasiões de um poder.
Os métodos praticados pela arte da guerra cotidiana jamais se apresentam sob
uma forma nítida, nem por isso – last but not least – menos certo que apostas
feitas no lugar ou no tempo distinguem as maneiras estruturantes de sentir,
pensar e agir.
A
síndrome de Estocolmo é uma relação psíquica desenvolvida por uma vítima de sequestro em relação a seus captores.
Quanto maior o tempo do sequestro, maior o risco da síndrome. É uma relação
social estabelecida quando a intimidade é criada em um lugar por um longo
período. Essa intimidade pode ser estabelecida em ambas as direções, ou seja, a
vítima e o sequestrador podem desenvolver a simpatia um pelo outro. A vítima,
que está chocada e traumatizada no momento do sequestro, às vezes decide
agradar seu agressor para salvar sua vida. Essa aproximação afetiva dará à
vítima a impressão de se afastar do perigo. Um verdadeiro mecanismo
inconsciente de autodefesa e de sobrevivência é colocado em ação. A síndrome de
Estocolmo é mais facilmente estabelecida se os sequestradores justificam suas
ações com discursos políticos ou ideológicos e não demonstrar sinais de ódio em
relação a seus reféns. Na abordagem psicanalítica fundada e descrita por
Sigmund Freud, o indivíduo se constitui como um ente à parte do social e que
compõe o nível de análise social psicológico.
Freud
refere-se aos aspectos que compõem um estado instintivo humano e que acaba por se tornar inibido em prol da
convivência em comunidade. A inibição destes aspectos, que são instintivos,
consiste numa privação de características que são inatas aos homens, e, esta
própria comunicação da privação, acaba por consistir em determinados aspectos
de descontentamentos. Neste sentido, os homens em civilização ou civilizados
demonstram-se descontentes na busca de sua felicidade, pois seus instintos não
são prontamente atendidos em determinada sociedade. No seu ensaio: “O Mal-estar
da Civilização”, Freud elabora uma discussão filosófico-social a partir de sua
teoria psicanalítica. O autor desenvolve a ideia pragmática segundo a qual, em
sociedade, “não há avanço sem perdas”. A ideia central que desenvolve neste
ensaio é a de que a civilização é inimiga da satisfação dos instintos humanos.
A sociedade modifica a natureza individual, constitui o homem membro da comunidade, adaptando-o no
processo vital que torna o indivíduo um ente social.
Em
1923, no livro “O Ego e o Id”, Freud expôs uma divisão da mente humana em três
partes: 1) o ego que se identifica à nossa consciência; 2) o superego, que
seria a nossa consciência moral, os princípios sociais e as proibições que nos
são inculcadas nos primeiros anos de vida e que nos acompanham de forma
inconsciente a vida inteira; 3) o id, isto é, os impulsos múltiplos da libido,
dirigidos sempre para o prazer. A influência que Freud exerceu em várias
correntes da ciência, da arte, da sociologia e da filosofia foi enorme. Mas não
se deve deixar de dizer que muitos filósofos, psicólogos e psiquiatras fazem
sérias objeções ao modo como o pai da psicanálise e seus discípulos apresentam
seus conceitos: como “realidades absolutas” e não como suportes ou
“instrumentos” de explicação que podem ser ultrapassados pela dinâmica
científica e, em alguns casos, foram mesmo. Em uma de suas últimas obras “O
Mal-Estar na Civilização”, publicado em 1930, Freud descreve a história da
humanidade como a “luta entre os instintos de vida” (Eros) e “os da morte” (Tanatos),
teoria cujo pioneirismo deu ao fator sexual que era - até Freud - uma área de
quase absoluta ignorância para a ciência em geral e a filosofia. A psicanálise
é o que se faz através da conversação.
Em
suas teorias, Freud afirma que os pensamentos são desenvolvidos por processos
diferenciados, relacionando tal ideia à de que o nosso cérebro trabalha
essencialmente no campo da semântica. A mente desenvolve os pensamentos num
sistema intrincado de linguagem baseada em imagens, as quais são meras
representações de significados latentes. Em diversas obras Freud não só
desenvolve sua teoria sobre o inconsciente da mente humana, como articula o
conteúdo do inconsciente ao ato da fala, especialmente aos atos falhos. Para
Freud, a consciência humana subdivide-se em três níveis: consciente,
pré-consciente e inconsciente. O primeiro nível de análise contém o material
perceptível; o segundo nível, o material latente, mas passível de emergir à
consciência com certa facilidade; e o terceiro nível contém o material de
difícil acesso, isto é, o conteúdo mais profundo da mente, que está ligado aos
instintos primitivos do homem. Os níveis de consciência estão distribuídos
entre as três entidades que formam a estrutura psíquica em torno da mente humana,
ou seja, o Id, o Ego e Superego. Semelhante à análise dos sonhos, a análise da fala representaria um caminho
psicanalítico para investigar os desejos ocultos do homem e as causas das
psicopatologias. – “É na palavra e pela palavra que o inconsciente encontra sua
articulação essencial”. Deste modo, Freud cria uma inter-relação entre os
campos da linguística e da psicanálise, que será retomada por estudiosos
posteriores, como ocorre precisamente nos Séminaire
de seu maior intérprete: Jacques-Marie Émile Lacan.
No dia 23 de agosto de 1973, as
atenções do mundo globalizado se
voltaram à Suécia, acompanhando os desdobramentos de um aparente assalto a um
banco em Estocolmo. O incidente ocorrido na Praça Norrmalmstorg, é uma praça
central da cidade de Estocolmo, na Suécia. Está situada entre as ruas Hamngatan
e Smålandsgatan, no bairro de Norrmalm. É uma área de intensa atividade comercial
e de eventos de rua.O acesso a
Norrmalmstorg é feito pela estação de metro de Östermalmstorg e pela paragem de autocarro de Norrmalmstorg zona
nobre da cidade, entrou para a história social e política em virtude dos laços afetivos
que se formaram entre reféns e seus raptores. Esse tipo de fenômeno psicológico
e de um realismo sociológico extraordinário é reconhecido na literatura clínica
como Síndrome de Estocolmo. – “Confio
plenamente nele, viajaria por todo o mundo com ele”, disse Kristin Enmark em
referência ao homem que manteve ela e três colegas reféns durante 6 dias.
Naquela
manhã de agosto, as portas do Sveriges Kreditbanken, no centro da capital
sueca, Estocolmo, quando tinham acabado de ser abertas e surpreendentemente um homem entrou com uma maleta, sacou uma
metralhadora e disparou para o teto. – “Fiquei com medo, claro”, diz Kristin Enmark
em entrevista à BBC. - “Me joguei no chão. O ladrão veio em minha direção e fez
sinais para que eu e uns colegas nos levantássemos. Acho que meu cérebro deixou
de funcionar. Era um terror sem nome. Nem em meus piores pesadelos eu imaginara
que algo assim poderia acontecer comigo”. O Assalto de Norrmalmstorg, um novo
fato de ordem política e social ocorreu próximo à Praça Norrmalmstorg,
localizada no centro da famosa área comercial de Estocolmo, capital da Suécia.
Em 23 de agosto de 1973, três mulheres e um homem foram feitos reféns aparentemente
em um assalto a um banco de Estocolmo, que durou 6 dias. Para a surpresa de
todos, os reféns desenvolveram uma relação especial com os raptores, que depois
é reconhecida como Síndrome de Estocolmo. Apesar do que se acredita a história
de que duas delas acabaram se casando com eles não é verdadeira.
A sucursal do Le Crédit Lyonnais um dos maiores bancos da Europa. Engloba a rede
de varejo na França que foi cindida do Crédit Lyonnais quando o Crédit Agricole
o adquiriu em 2003. A marca LCL substituiu Crédit Lyonnais em 2005 LCL perto na
Avenida da Ópera de Paris foi assaltada na noite de sábado para domingo. Os
ladrões roubaram o conteúdo de quase 200 cofres privados, cujo valor ainda não
é conhecido. Segundo um porta-voz do LCL, “o banco não tinha conhecimento dos
montantes depositados pelos seus clientes”, porque o aluguel dos cofres é feito
sob o princípio de confidencialidade. A investigação em curso pretende avaliar
os prejuízos do assalto, que se supõe serem muito elevados. Christian Julien,
um cliente bem conhecido que tinha usado um dos cofres que estavam dentro do
banco, disse ao canal televisivo francês BFM, sigla da representação comercial Business
FM, original da BFM Business com bens avaliados em torno de 15 mil euros. –
“Não tinha muito dinheiro, mas sim joias de qualidade, que pertenciam à minha
mulher, que as trouxe de África há muito tempo. Tinham um valor sentimental
para nós”. Método semelhante ao “roubo do século”.
Para
entrar na sala dos cofres, os especialistas em roubo furaram uma parede com 80
cm de espessura, deixando uma largura suficiente para deixar passar uma pessoa.
A porta-voz do gabinete do procurador de Paris, Isabelle Montagne, considera
esta “uma forma algo estranha de operar”. Antes de deixarem o edifício, os
assaltantes – o guarda diz ter visto três homens, mas outras testemunhas dizem
ter visto quatro ou cinco pessoas entrar numa carrinha junto ao banco –
incendiou a cave, o que fez disparar os alarmes de incêndio. O sistema
anti-incêndio inundou depois a sala dos cofres, tornando mais difícil encontrar
vestígios. A polícia pericial só começou os trabalhos de investigação na
segunda-feira. Quando sentiu o cheiro a fumo, o guarda já não ouvia os
assaltantes. Conseguiu então libertar-se e chamou os bombeiros. Está bem e a
receber apoio psicológico. A agência France Presse compara o “modus operandi”
deste assalto ao “roubo do século” em França – o célebre assalto de Julho de
1976 feito também num fim-de-semana pelo antigo militar e fotógrafo Albert
Spaggiari a uma agência do banco Société Générale, em Nice, na Côte d`Azur. O
assalto de Spaggiari rendeu-lhe milhões de francos e uma aura de mito. Segundo
o obituário escrito sobre si no New York
Times, Spaggiari e os seus homens chegaram a tomar refeições dentro do
cofre do Société Générale e
escreveram, numa das paredes: - “Sem Armas, Sem Violência, Sem Ódio”. Albert
Spaggiari foi denunciado, segundo relatos hic
et nunc provavelmente por um comparsa do grupo e condenado “à revelia a
prisão perpétua”. Contudo, acabou fugindo quando saltou da janela do gabinete
de um juiz. A polícia perseguiu-o durante 12 anos, até à sua morte por cancro,
aos 57 anos, em 1989.
Do
ponto de vista etnográfico, naquela conjuntura Enmark tinha 23 anos. Foi
escolhida como refém por um dos assaltantes. O nome dele era Jan Olsson. Estava
fortemente armado e já havia ferido dois policiais que tinham respondido ao alarme.
Olsson amarrou os reféns e começou a fazer exigências. Pediu uma grande quantia
em dinheiro, um carro e que lhe trouxessem Clarck Olofsson, criminoso que
cumpria pena em uma prisão na Suécia. Como estratégia para diminuir a tensão, a
polícia tirou Olofsson da cadeia e permitiu que entrasse no banco. |Primeiro,
mandou Olsson desamarrar as três mulheres. Logo depois, encontrou um jovem
escondido e o levou para junto dos reféns. Em questão de horas, o status de Olofsson como líder foi
confirmado pela polícia. O primeiro criminoso, Olsson, aterrorizava Enmark. Mas
gradualmente, ela começou a ver no outro, Olofsson, um amigo. – Ele me acolheu
sob seu mento protetor e me disse: - “Nada vai acontecer com você”. – “Em todo
caso, foi bom, porque se Olofsson fosse fazer mal a alguém, não seria a mim. Não
me sinto mal por isso, fiz o que pude fazer para sobreviver”. Quando indagada
sobre a possibilidade de que Clarck Olofsson estivesse atraído sexualmente por
ela, Enmark respondeu que ele nunca demonstrou nada dessa natureza. – “Nunca me
tocou em lugares impróprios”.
Para
ela, “tratava-se apenas de duas pessoas se tranquilizando mutuamente. No
segundo dia do assalto, a refém sentia tanto respeito por Olofsson que, quando
ele deu a ela o telefone do então primeiro-ministro ministro da Suécia, Olof
Palme, ela não hesitou em pedir ao premiê que deixasse os criminosos em
liberdade. Os reféns ficaram presos durante seis dias no cofre do banco. A
polícia fornecia comida e cerveja. Finalmente, no sexto dia, a polícia decidiu
furar o teto do cofre e desarmar os sequestradores com gás lacrimogênio – apesar
de Olsson ter ameaçado matar os reféns caso os policiais fizessem isso. No final,
os criminosos se entregaram e ninguém ficou ferido. O primeiro ladrão, Jan-Erik
Olsson, foi condenado a dez anos de prisão e Clarck Olofsson, seu cúmplice a
seis anos. Em entrevistas subsequentes, Olsson disse que não conseguiu matar os
reféns porque ficou muito próximo deles. Passados 40 anos, Kristin Enmark se refere a Clarck Oloffson como seu amigo e os
dois sempre se correspondem.
Pelo que sabemos Kristin
Enmark nunca criticou seus atos. Os reféns foram examinados por um grupo de psiquiatras e a resposta emocional que
tiveram, em termos afetivos e clínicos de identificação com seus captores,
passou a ser chamada conforme especialistas de “Síndrome de Estocolmo”. O termo
foi cunhado originalmente pelo criminologista e psiquiatra Nils Bejerot.
Kristin Enmark, por sua vez, escreveu um livro biográfico tendo como escopo a sua experiência. Nele,
ela curiosamente argumenta que a síndrome de Estocolmo não existe! Enfim, a síndrome também
reconhecida como “Vinculação Afetiva ao Terror ou Traumática”, não é,
entretanto, reconhecida pelos dois manuais reconhecidos da psiquiatria – o Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders (DSM) e o International
Classification of Deseases (ICD). Nunca é demais repetir, para lembramos de Marx, que na
relação entre teoria e ação, que tais pensadores esquecem
que as circunstâncias em que nos inserimos são transformadas precisamente pelos
seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser reeducado.
O
que aconteceria em seguida fez com que o mundo globalizado em rede tomasse
conhecimento de uma nova síndrome, naquela conjuntura política desconhecida,
revelada em meio a relatos insanos. A história agora é relembrada na série “Clark”,
lançada pela plataforma de streaming Netflix. Com direção de Jonas Åkerlund, o
criminoso é interpretado pelo talentoso Bill Skarsgård. Após entrar no banco,
Olsson fez três pessoas reféns e pediu à polícia três milhões de coroas suecas,
um carro e possibilidade de sair do país. Além disso, exigiu que Clark
Olofsson, um dos mais famosos criminosos da Suécia, que havia conhecido
enquanto estava na prisão, fosse levado para o banco. A polícia concordou em
levá-lo ao local e cumprindo assim o fez. Após a chegada de Olofsson, uma
quarta pessoa que trabalhava no estabelecimento foi descoberta e feito refém.
Os funcionários permaneceram no local por seis dias. Um verdadeiro horror.
No
entanto, o que mais chamou a atenção de todos que souberam do crime após o
ocorrido foi que, bandidos e reféns estabeleceram laços afetivos e passaram os
dias jogando baralho. Isso mesmo. Kristin Enmark, que tinha 23 anos na época,
era a porta-voz dos reféns e conversava com o primeiro-ministro Olof Palme por
telefone. No entanto, Enmark defendia “Janne”, chegando até mesmo a afirmar que
confiava plenamente nele a ponto de viajar ao redor do mundo com os criminosos.
Entretanto, a situação ficaria ainda mais insólita. No terceiro dia do
sequestro, os policiais conseguiram fazer um buraco no andar de cima do banco,
de modo que os criminosos ameaçaram amarrar os reféns. Mais um ponto negativo
para as autoridades. Durante a operação, um policial foi baleado na mão e no
rosto. Um fracasso. - “Nunca achei que Janne fosse atirar. Mas claro que tinha
medo de morrer. Não sabíamos o que a polícia pensava em fazer”, disse Birgitta
Lundblad em documentário produzido por uma rede de TV pública do país.
No
sexto e último dia de sequestro, os policiais lançaram gás lacrimogêneo no
local, de modo que os assaltantes se renderam. Os reféns, no entanto,
inacreditavelmente se recusaram a deixar o local antes de Olsson e Olofsson. Na
época, explicaram que tinham medo de que eles fossem punidos. Contudo, não foi
a parte mais bizarra de todo o episódio. Os reféns se despediram de seus
sequestradores com calorosos abraços. Assim, o caso foi considerado um
transtorno psicológico que se desenvolve quando a vítima tenta conquistar a
simpatia do sequestrador ou se identificar com ele. Esse transtorno ficou
conhecido como “Síndrome de Estocolmo”, nome dado pelo criminologista Nils
Berejot, o qual colaborou com a polícia durante o sequestro. Olsson foi
condenado a 10 anos de prisão. Porém, por ter alegado ter sido mais um refém,
foi absolvido em segunda instância. Dois dos reféns continuaram a trabalhar no
banco, enquanto outro estudou psicoterapia e a quarta vítima nunca mais foi
vista publicamente.
Bibliografia geral consultada.
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Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História Comparada. Rio
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