quarta-feira, 25 de julho de 2018

Tragédia de Santa Maria & Negligência da 4ª Região (TRF-4)

                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga
 
Face à realidade, o que julgamos saber claramente ofusca o que deveríamos saber”.  Gaston Bachelard    

                                                                                              
 

Santa Maria também é denominado o município “Coração do Rio Grande” devido a sua localização geográfica. O centro geográfico do Rio Grande do Sul fica na Unidade Residencial Arenal, no bairro Passo do Verde, a 18,62 km em linha reta do marco zero da cidade, no bairro Centro. No dia 27 de janeiro de 2013, uma grande tragédia abalou a cidade de Santa Maria. Um incêndio na boate Kiss matou mais de 230 pessoas e deixou mais de 130 feridos. Na boate acontecia uma festa de universitários e “o incêndio começou devido a um show pirotécnico. Faíscas teriam atingido o teto da boate, que possuía material de isolamento acústico, que é altamente combustível. As maiorias das vítimas morreram por asfixia ou pisoteamento, devido ao grande número de pessoas dentro da boate na hora da tragédia”. Testemunhas dizem “que alguns seguranças da boate haviam impedido a saída de pessoas por não terem pagado a comanda”. Essa tragédia está sendo considerada a segunda maior tragédia do Brasil. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) decidiu que os ex-sócios da Boate Kiss, o ex-chefe de segurança e a empresa Santo Entretenimento terão que ressarcir o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dos valores gastos com auxílio-doença e pensão por mortes de funcionários que trabalhavam na casa noturna em Santa Maria no estado do Rio Grande do Sul.

                         
 
         A tragédia ocorrida na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul já repercute em todo o mundo e enquanto a TV e os principais sites do Brasil mostram o resgate dos corpos, a redação do Portal Mix buscou no Facebook e no “site oficial da boate imagens que mostram como era a boate antes do incêndio e qual festa acontecia na noite deste sábado”. A boate realizava uma festa que tinha como vendedores de ingressos alunos de várias turmas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), já Santa Maria é uma cidade universitária quando “a boate realizava várias festas para arrecadação de recursos para formatura de turmas”. O ambiente era muito fechado, pelas fotos percebe-se a quantidade de subambientes, “algo normal em boates do sul do país e a presença de muitos equipamentos eletroeletrônicos”. A escuridão também é uma característica do local que tem um teto preto, “provavelmente de espuma ou isopor acústico, paredes com acabamento de madeira e várias TVs lcs, e material de iluminação pendurados no teto, que podem ter caído em cima das pessoas com o fogo”. Dilma Rousseff que participava no Chile da reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) com a União Europeia (UE) cancelou a participação  em três reuniões bilaterais com autoridades da Argentina, Letônia e Bolívia por causa da tragédia.
A terceirização afeta os trabalhadores que em geral trabalham em condições vezes a própria empresa tomadora, que além de lidar com o embate histórico entre capital & trabalho, vê-se a braços com uma contradição inédita entre trabalho & trabalho. Ela causa aumento da rotatividade de mão de obra e os níveis de desemprego. Poder causar fraude das garantias dos trabalhadores, dificultando a criação de normas protetivas e facilitando a edição de normas que objetivam a pulverização e precarização do trabalho. Terceirização é uma forma ideológica e política de organização estrutural que permite a uma empresa, privada ou governamental, transferir às outras as suas atividades-meio razão pela qual constituem o objetivo para o qual a empresa foi criada. Com a terceirização, a empresa concentra-se no seu produto estratégico, naquilo que é capaz de fazer melhor, com competitividade e maior produtividade. As tarefas secundárias e auxiliares são realizadas por empresas que se especializaram de maneira mais racional e com menor custo. Há três propósitos básicos na mente de quem decide terceirizar: a diluição dos custos diretos e indiretos; a elevação do nível de eficiência dessa atividade, pela sua execução terceirizada; e a manutenção de um nível mínimo aceitável de lealdade à empresa, por parte dos novos executores das atividades terceirizadas. A terceirização do ponto de vista das relações de poder no trabalho ganha importância em um momento em que as empresas precisam racionalizar recursos, redefinir suas operações, funcionar com estruturas mais enxutas e flexíveis. 
O incêndio que matou pelo menos 242 pessoas na casa noturna Kiss de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, é o “terceiro mais fatal do tipo no mundo, segundo uma lista de dez incidentes semelhantes”, em locais de agremiação de público, compilada pela Associação Nacional de Proteção Contra Incêndios dos Estados Unidos (NFPA). O jornal espanhol El País deu destaque para a notícia na home-page de seu portal durante boa parte da manhã. O texto escrito pelo correspondente no Rio de Janeiro, Francho Barón, afirma que “a boate foi totalmente destruída e alerta para o risco de desabamento do local”. O incidente também está na capa do portal do jornal Le Monde, da França, e em sites de países como Reino Unido, Itália e Suíça. De acordo com a lista, a mais fatal delas ocorreu nos EUA e completou 70 anos há pouco tempo: o local foi a boate Coconut Grove, em Boston, e a data, 20 de novembro de 1942. O saldo foi de 492 mortos e mais de 600 feridos. A boite excedia a capacidade de lotação. As autoridades estimaram que o fogo tardasse apenas cinco minutos, desde o seu início, para percorrer o trajeto entre a sala onde se iniciou o Melody Lounge, e a entrada, passando pelo salão de jantar. A lista segue com o incidente ocorrido em uma boate de Luoyang, China, na noite de Natal do ano 2000, que deixou 309 mortos - o segundo acidente mais fatal da história. A contagem se baseia nos registros da própria Associação Nacional de Proteção Contra Incêndios dos Estados Unidos e, portanto, é mais útil para contextualizar, comparativamente, a escala da tragédia em Santa Maria com os impactos sociais incidentes semelhantes no resto do mundo globalizado, objeto de nossa reflexão.

       
Historicamente no Brasil, do ponto de vista da cultura e sociedade a metade do século XIX revelou-se um período de grande efervescência político-social, causado pelos movimentos sociais republicanos e abolicionistas, onde ocorreu, para o que nos interessa a fundação da Sociedade Pártenon Literário na cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul. Tal sociedade reuniu uma intelligentsia rio-grandense que exploraram os mais variados gêneros literários ao escreverem sobre a cultura e a história de seu Estado, sempre mesclando o discurso literário com o político, como de resto na América Latina. A partir da década de 1870, expressando “cada vez mais seu descontentamento com as políticas da Corte Imperial e seu comprometimento com o separatismo”. O Pártenon Literário cessou suas atividades literárias por volta de 1885. Autores do romance de 30 gaúchos foram Érico Veríssimo (1905-1975), Dyonélio Machado (1895-1985) e Cyro Martins (1908-1995). A obra mais importante deste período é, sem dúvida, a trilogia: O Tempo e o Vento, uma série literária do escritor  Érico Veríssimo. Dividido em “O Continente” (1949), “O Retrato” (1951) e “O Arquipélago” (1961), o romance narra uma parte da história do Brasil vista a partir do Sul - da ocupação do “Continente de São Pedro” (1745) até 1945 com o fim da ditadura do Estado Novo, através da saga das famílias Terra e Cambará. É considerada a obra definitiva do Rio Grande do Sul e uma das mais importantes do Brasil.
 Na poesia, destaca-se Carlos Nejar (1939-), um dos “imortais” da Academia Brasileira de Letras, Armindo Trevisan (nascido em 933) e Lara de Lemos (1925-2010). Quanto aos ficcionistas gaúchos, podemos citar diversos autores: Josué Guimarães (1921-1986), Luís Fernando Veríssimo (1936-), Moacyr Scliar (1937-2011), Lya Luft (1938-), José Clemente Pozenato (1938-), Tabajara Ruas (1942-), Luiz Antônio de Assis Brasil (1945-), João Gilberto Noll (1946-), Caio Fernando Abreu (1948-1996), Charles Kiefer (1958-). Lembra-nos ainda A Casa das Sete Mulheres, minissérie brasileira produzida pela Rede Globo de Televisão e exibida entre 7 de janeiro e 8 de abril de 2003. Foi escrita por Maria Adelaide Amaral e Walter Negrão, com colaboração de Lúcio Manfredi e Vincent Villari, baseada na leitura e interpretação do romance homônimo da escritora gaúcha Letícia Wierzchowski, e dirigida por Teresa Lampreia, com direção geral de Jayme Monjardim e Marcos Schechtmann, e direção de núcleo de Jayme Monjardim. A minissérie apresentou Eliane Giardini, Camila Morgado, Samara Felippo, Mariana Ximenes, Daniela Escobar, Nívea Maria e Bete Mendes como as Sete Mulheres, e ainda Thiago Lacerda, Giovanna Antonelli e Werner Schünemann: “os grandes heróis da Revolução Farroupilha, vivendo personagens históricos célebres no Brasil e no exterior”.
Na adaptação do romance de Letícia Wierzchowski para a televisão, os autores e a emissora tomaram algumas liberdades que, no entender de estudiosos da cultura gaúcha, foram excessivas, tais como: no romance, enfatiza-se o caráter conservador na educação das filhas dos estancieiros gaúchos no século XIX, assim como a pobreza e rotina de seu cotidiano, especialmente na situação de confinamento em que se encontravam. Relacionamentos amorosos eram tratados com recato. Na minissérie, o comportamento das personagens femininas pouco se diferencia do comportamento das mulheres nas novelas ambientadas no Rio de Janeiro do século XXI, e para sermos breves, o isolamento das sete mulheres é enfatizado no romance e é essencial para o desenvolvimento dramático e psicológico das respectivas personagens. Visitas eram esporádicas; os acontecimentos externos permaneciam distantes; só ficavam conhecidos evidentemente pelo meio de comunicação social por meio de cartas e mensageiros. Na minissérie, de interesse do público na vida privada, a casa é palco de encontros e festas, e as personagens se envolvem diretamente em episódios da revolução Farroupilha.
No panorama filosófico do século XX, a obra de Gaston Bachelard é uma reflexão referencial sobre a ciência e os saberes objetivos em que se revela outra direção fundamental do seu pensamento – a poética. A psicanálise vem em auxílio de uma ideia implícita na obra de Bachelard: o homem é um ser que se percebe na sua relação de habitação e familiaridade inquietante com as coisas do mundo. Essa é a condição do ser que vive num mundo constituído por saberes e verdades que ele próprio inventa. A poesia e a ciência é uma forma de compreender a relação do homem com o seu saber. O nascimento de tal categoria decorre do desdobramento de questões relativas ao tempo incluídas em obras anteriores como: “L´intuition de l`instant” (1932), e “La dialéctique de la durée”, (1936), nas quais Bachelard desenvolve as teses da instantaneidade e da descontinuidade temporais. Neste sentido da durée bergsoniana, Bachelard contrapõe a noção de descontinuidade temporal. O tempo e a instantaneidade correspondem, para ele a problemática presente no livro: “L´intuition de l`instant”, a saber, que o tempo é uma realidade fechada sobre o instante e interrompida entre dois nadas. O tempo poderá renascer, mas é necessário primeiramente que ele morra. Ele não poderá transportar do ângulo das relações sociais de comunicação o seu ser de um instante para outro instante para daí fazer uma duração dialética.   
Do ponto de vista filosófico ao propor uma Psicanálise do Fogo, Gaston Bachelard procura empreender o desvendamento das aparências do saber. Nasceu em 27 de junho de 1884, em Bar-sur-Aube, França e faleceu a 16 de outubro de 1962, em Paris, França. Foi um filósofo e poeta francês que estudou sucessivamente as ciências e a filosofia. Seu pensamento está focado principalmente em questões referentes à filosofia da ciência. Romper com o objeto imediato, a primeira observação. Como num processo de recusa sistemática, propõe-nos a tudo criticar: a sensação, o senso comum, a prática constante e a etimologia, até porque, lembra o verbo raramente coincide com o pensamento. Para tal caminho, longe do “maravilhamento”, aponta o lugar da ironia. Apondo ciência e poesia, a trilha sugerida é da complementaridade, num desempenho de união equilibrada. Para refletir sobre tais dilemas, o filósofo social articula a narrativa situando-a no âmbito do problema psicológico condicionado sobre as convicções do fogo. A filosofia é anti-tradicionalista por natureza.


 
Do ponto de vista psicanalítico no ensaio Sobre a conquista do fogo, de 1932, Freud trabalhou o mito de Prometeu. Analiticamente Freud procura interpretar no sentido do mito em lugar de criá-lo. Os mitos, diz ele, “descrevem a renovação dos apetites libidinosos depois que se extinguiram por estarem satisfeitos, ou seja, seu caráter indestrutível; e essa insistência é bem pertinente como consolo se o núcleo histórico do mito trata de uma derrota da vida pulsional, de uma renúncia do pulsional que se fez necessária”. Sem sombra de dúvida, a conquista do fogo pelo homem representa um marco para a cultura. Pois, a partir dessa aquisição, o homem não come mais o alimento cru, só cozido. Isto é, a natureza sofre um processo de negativização. É a pulsão, que domada pela cultura, retoma uma e outra vez através do mito. O debate entre crescer ou permanecer é o que levou o homem a forjar sua mitologia, assim como a criança comparativamente teorizava sobre a sexualidade movida pela pulsão de saber de que lugar vinha.
Pois que a pergunta se revela: Was ist Feuer? O fogo, essencialmente duplo, realiza, pois a síntese da conexão objetivo/subjetivo e em contrapartida comporta a marca do falso peso dos valores não discutidos. Como, pois ir de encontro à barreira da intuição primeira? O zombar de si mesmo? O fogo e o calor respeitam inicialmente às essencialidades. O bem e o mal aí se localizam. Contraditório, facilmente se presta a princípios de explicação universal. Aqui se insere o mito de Prometeu. Assim, Prometeu é outro Édipo. O complexo de Prometeu é o da vida intelectual. Do ter que escolher entre saber e fabricar (κατασκευή) sem ser necessário correlacionar tais aspectos com a “vontade de poder” (Nietzsche). No entanto, pouco se percebe ser o fogo muito mais um ser social (Marx) do que natural (Darwin). Desta forma, ensina o mito (Freud), as interdições sociais são primeiras à própria experiência natural. Em Prometeu, sabemos, estamos diante da questão da “desobediência engenhosa”. Afinal é preciso dominar o fogo, mesmo com o risco da queimadura, como os deuses, como o pai, como o patrão, ou o simulacro (cf. Baudrillard, 1981), que apresentam algumas casas para diversão.
Em “A Intuição do Instante” o autor desenvolve e amplia a ideia do historiador francês Gaston Roupnel em um de seus mais importantes estudos – chamado Siloë – que propõe o olhar sobre a história numa perspectiva de tempo descontinuada, em instantes. Em Siloë, só o amor faz com que a duração progrida à medida que nos direcionamos à fonte única e misteriosa de seu leito. A partir da demonstração de alguns dos principais conceitos da filosofia bergsoniana – duração, criação, impulso vital – ele desenvolve e alonga a tese de Roupnel refutando que “a duração não passa de um número cuja unidade é o instante”. Segue afirmando que a duração não tem força direta – já que não é em si representativa de um ato – e que o tempo real só existe verdadeiramente pelo instante isolado, esse sim, acontecendo inteiramente no presente, no ato. O autor propõe uma aproximação conceitual – comparativamente na mesma constelação de Roupnel – que os hábitos e o progresso não se dissipam na descontinuidade do tempo; eles ganham força e uma nova dimensão social.
Enfim, após ter lido os “Cantos de Maldoror” de Lautréamont, sua principal obra, escrita originalmente em francês, o filósofo Gaston Bachelard será um dos primeiros a escrever um livro acerca deste literato em 1939, cuja atualidade da abordagem pode trazer perplexidade para muitos historiadores. Primitividade poética é, para Bachelard, a agressividade do movimento criativo das imagens poéticas, que está em descompasso com as referências intelectuais, com os valores aprendidos pela tradição, em contradição com as interpretações já consolidadas. É no instante da criação poética que é possível apreender-lhe sua primitividade, alheia aos esquemas interpretativos que a tradição intelectualista lhe impõe. É, portanto, a partir de uma filosofia do ato poético – e não da ação poética – que está a riqueza da análise bachelardiana da obra de Lautréamont. Quando põe em contraposição os pensamentos de Henri Bergson e de Gaston Roupnel acerca da natureza do tempo, faz uma constatação: enquanto Bergson admite ser a duração contínua seu princípio, Roupnel afirma ser o instante sua realidade. Bachelard aprofunda esta antinomia, comparando ato e ação citando o livro “Siloë” (1927), de Roupnel, para responder esta questão.
Acredita-se que o pseudônimo Lautréamont tenha sido inspirado no nome de um romance de Eugène Sue, “Latréaumont”. Note-se que há uma leve diferença na grafia da palavra. A atribuição do título de Conde poderá ser uma referência ao Marquês de Sade ou uma forma de destacar-se da burguesia, ainda que não existam quaisquer provas destas duas teses. Mais robustas são as hipóteses apresentadas pelo romancista, dramaturgo e poeta pernambucano Ruy Câmara, no seu belíssimo livro: “Cantos de Outono - O Romance da vida de Lautréamont”. Segundo Ruy Câmara, o codinome sugere a junção de duas palavras de grande relevância na vida de Isidore Ducasse. A primeira palavra seria “lauréat”, que significa laureado ou premiado em concurso acadêmico, deslocando-se o “t” final para o meio teremos “lautréa”, que acrescida de “mont”, raiz da palavra “Montevidéu”, cidade natal do poeta, tem como resultado “Lautréamont”, denotando “o laureado de Montevidéu”. A terceira possibilidade, mais rigorosa que as duas anteriores, trabalha com a associação da palavra “l'autre”, “o outro”, mais a preposição “a” que indica lugar, mais a raiz “mont”, de Montevidéu, dando literalmente Lautréamont, cujo sentido único, exato e incontestável na semiologia representa “o outro de Montevidéu”, já que o primeiro é ele próprio.     
             O fogo representa a rápida oxidação de um material combustível liberando calor, luz e produtos de reação, tais como o dióxido de carbono e a água. O fogo é uma mistura de gases a altas temperaturas, formada em reação exotérmica de oxidação, que emite radiação eletromagnética nas faixas do infravermelho e visível. Desse modo, o fogo pode ser entendido como uma entidade gasosa emissora de radiação e decorrente da combustão. Se bastante quente, os gases podem se tornar ionizados para produzir plasma. Dependendo das substâncias presentes e de quaisquer impurezas, a cor da chama e a intensidade do fogo podem variar. O fogo em sua forma mais comum pode resultar em incêndio, como ocorreu com a tragédia da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que tem o potencial de causar dano físico através da queima. O fogo foi a maior conquista do ser humano na pré-história. Mas, historicamente, a partir desta conquista o homem aprendeu a utilizar a força do fogo em seu proveito, extraindo a energia dos materiais da natureza ou moldando a natureza em seu benefício. O fogo serviu como proteção aos hominídeos, afastando os predadores existentes.
Depois, o fogo começou a ser empregado na caça, usando tochas rudimentares para assustar a presa, encurralando-a. Foram inventados vários tipos de tochas, utilizando diversas madeiras e vários óleos vegetais e animais. No inverno e em épocas gélidas, o fogo protegeu o ser humano do frio mortal. O ser humano pré-histórico também aprendeu a cozinhar os alimentos em fogueiras, tornando-os mais saborosos e saudáveis, pois o calor matava muitas bactérias existentes na carne. O fogo também foi o maior responsável pela sobrevivência do ser humano e pelo grau de desenvolvimento da humanidade, apesar de que, contraditoriamente durante muitos períodos cíclicos da história, o fogo foi usado no desenvolvimento e criação de armas e como força destrutiva. Na antiguidade o fogo era visto como uma das partes fundamentais que formariam a matéria. Na Idade Média, os alquimistas acreditavam que o fogo tinha propriedades de transformação alterando as propriedades químicas das substâncias, como a transformação de minério sem valor em ouro.        
A capacidade de controle de fogo foi uma mudança dramática nos hábitos e personalidade dos primeiros seres humanos. Fazer fogo para gerar calor e luz tornou possível às pessoas cozinhar alimentos, aumentando a variedade e disponibilidade de nutrientes. O calor produzido também ajudou as pessoas a manterem-se aquecidas no frio, permitindo-lhes viver em climas mais frios. O fogo também manteve predadores noturnos afastados. Evidências de comida cozida são encontradas a partir de 1,9 milhões de anos atrás, embora o fogo provavelmente não fosse utilizado de forma controlada até há um milhão de anos. As evidências tornam-se generalizadas cerca de 50 a 100 mil anos atrás, sugerindo o uso regular a partir deste momento. Curiosamente, a resistência à poluição atmosférica começou a evoluir nas populações humanas na mesma época. O uso do fogo tornou-se progressivamente mais sofisticado, com a sua utilização para produzir carvão e controlar a vida selvagem desde dezenas de milhares de anos atrás. Politicamente o fogo também foi utilizado por séculos como um método de tortura e execução, como evidenciado pela morte na fogueira, pela Inquisição, bem como instrumentos de tortura, como a bota malaia, que poderia ser preenchida com água, óleo, ou mesmo chumbo e, aquecida em fogo aberto para agonia do que a calçava.
A maior parte das vítimas teria morrido asfixiada. Pelo menos 2 mil pessoas estavam no local no momento da tragédia. A falta de estrutura da casa para evacuar os clientes foi apontada como um dos principais motivos da catástrofe. Os jovens que estavam na boate teriam tido dificuldade em deixar o local, segundo depoimentos de amigos e familiares das vítimas, ouvidos pela RFI. Uma delas, que está em repouso depois do trauma, e preferiu não se identificar, contou que só conseguiu escapar a tempo porque conhecia a saída de emergência. Nas redes sociais, os internautas também se mobilizaram, publicando fotos, depoimentos e comentários. No Twitter, a tragédia virou destaque no Trending Topics, que reúne os assuntos mais comentados na rede. A falta de espaço no Instituto Médico Legal da cidade obrigou a prefeitura a levar os corpos para o Centro Municipal de Desportos. A presidente Dilma Rousseff, que participava da CEPAL, Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenho neste fim de semana, cancelou todos os seus compromissos e voltou ao Brasil, em Santa Maria. Antes, a presidente se emocionou ao falar da tragédia. Os corpos foram encaminhados ao Centro Desportivo Municipal da cidade. A tragédia no sul foi assunto nos principais jornais no mundo todo. O jornal El Pais deu a notícia na capa, e o Le Monde também colocou o assunto na homepage de seu site, com o título: “Brasil: Incêndio Mortal em Casa Noturna”. Jornais britânicos como Daily Mirror também abriram a edição de domingo (27/01/2013) com o assunto. 

 
Santa Maria é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul. Com 262.368 habitantes, segundo o censo IBGE (2011), é considerada uma cidade média e de grande influência na região central do estado. É a 5ª cidade mais populosa do Rio Grande do Sul e, isoladamente, a maior de sua região que possui quase 1 milhão de habitantes. Santa Maria é considerada cidade universitária, graças a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), criada por José Mariano da Rocha Filho. A cidade foi criada a partir de acampamentos de uma comissão demarcadora de limites entre terras de domínio espanhol e português que passavam pela região, e montaram acampamento onde atualmente está situada a Praça Saldanha Marinho, em 1797. Durante a Revolução Farroupilha chegaram os primeiros imigrantes alemães, provenientes de São Leopoldo, buscando se afastar dos combates. Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha são os nomes pelos quais ficou reconhecida a revolução separatista ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense que estendeu-se autonomamente de 20 de setembro de 1835 a 1° de março de 1845.
A cidade conserva prédios históricos de valor como a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, o Theatro Treze de Maio, a Catedral do Mediador da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, o Clube Caixeiral de Santa Maria, o Banco Nacional do Commercio, a Sociedade União dos Caixeiros Viajantes e a Vila Belga. Santa Maria sedia uma das maiores universidades públicas do Brasil, a Universidade Federal de Santa Maria. A UFSM conta atualmente com quase 27 mil alunos em seus cursos de graduação e pós-graduação. Por abrigar uma grande quantidade de instituições de ensino a cidade é conhecida como Cidade Cultura. Santa Maria é um município dividido em 10 distritos que, com exceção do 1º Distrito (Sede) - dividido em 41 bairros -, não têm subdivisões, ou seja, possui um único bairro, homônimo ao distrito a que pertence. Para fins administrativos o distrito da Sede é distribuído em Regiões Administrativas, um conjunto de bairros unidos de acordo com localização e características, e, os demais distritos, cada um, possui uma subprefeitura. Dessa forma, Santa Maria possui 50 bairros oficiais, que por sua vez contêm Unidades Residenciais - a menor unidade urbana, ou rural, de relação e convivência -, que ligam unidades habitacionais dentro de um sistema viário, identificadas por loteamento, condomínio e parque residencial, jardim residencial, vila, localidade, quilombo e cohab, etc., distribuídas dentro da unidade de vizinhança (bairro).
No sistema urbano do Rio Grande do Sul (dados do IBGE), Santa Maria é a 5ª maior cidade do estado em população, depois de Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas e Canoas. O município possui grande poder de atração populacional, que o transformou em importante centro regional e forte centro de polarização. A maior parte da população santa-mariense é pertencente à Igreja Católica Romana. Celebra-se na cidade a tradicional Romaria de Nossa Senhora Medianeira. A importância da Diocese de Santa Maria foi reconhecida pela Santa Sé, sendo esta elevada à condição de arquidiocese, em 2011. No entanto, nos últimos anos houve um considerável crescimento do número de protestantes no município, tanto do ramo tradicional, tendo destaque para a comunidade luterana, metodista e anglicana, sede da Diocese Anglicana Sul-Ocidental e do ramo pentecostal, destacando-se a Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Assembleia de Deus, Igreja Batista, Igreja Deus é Amor, Igreja Internacional da Graça de Deus. Há representação de mórmons, adventistas, Testemunhas de Jeová e da Ciência Cristã. A doutrina espírita é difundida pelos centros ligados à Federação Espírita do Rio Grande do Sul e pela Aliança Espírita Santa-Mariense. Encontra-se a Sinagoga Yitzhak Rabin e numerosos muçulmanos descendentes de imigrantes palestinos. Nas religiões orientais destaca-se o budismo tibetano. 
Bibliografia geral consultada. 

ZILBERMAN, Regina, “O Tempo e o Vento: História, Mito, Literatura”. In: Letras de Hoje. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1986; BACHELARD, Gaston, La Poetique de L`Espace. Paris: Presses Universitaires de France, 1957; Idem, A chama de uma vela. Rio de Janeiro: Editor Bertrand Brasil, 1989; Idem, Fragmentos de uma poética do fogo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990; VERÍSSIMO, Érico, O Tempo e o Vento - O Continente. Tomo I-II. São Paulo: Editor Globo, 1995; FLORES, Hilda Agnes Huber, Alemães na Guerra dos Farrapos. Porto Alegre: Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1999; SILVA, Keyla Freires da, A Escrita Órfã de Luís Fernando Verissimo em Borges e os Orangotangos Eternos.  Dissertação de Mestrado.  Programa de Pós-graduação em Letras. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2012; Artigo: “La Repubblica publicou: Brasil, incêndio em discoteca: pelo menos 230 mortos. O fogo começou com fogos de artifício”. In: http://www.repubblica.it/esteri/2013/01/27; FILGUEIRAS, Vitor, “Trabalho Análogo ao Escravo e o Limite da Relação de Emprego: Natureza e Disputa na Regulação do Estado”. In: Brasiliana - Journal for Brazilian Studies. Volume 2, n° 2, outubro de 2013; PEIXE, José Carlos Mendonça Didier Silva, Terceirização no Brasil: Tendências, Dilemas e Interesses em Disputa. Dissertação de Mestrado. Departamento de Serviço Social. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2013; FAGIANI, Cílson César, Educação e Trabalho: A Formação do Jovem Trabalhador no Brasil e em Portugal a Partir da Década de 1990. Tese de Doutorado em Ciências Humanas. Programa de Pós-graduação em Educação. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2016; ROSSATTO, Adalberto Dutra, Educação e Barbárie: Formação de Professores na Prevenção de Catástrofes. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2018; PASSOS, Rachel Gouveia; NOGUEIRA, Cláudia Mazzei, “O Fenômeno da Terceirização e a Divisão Sociossexual e Racial do Trabalho”. In: R. Katál. Florianópolis, volume 21, n° 3, pp. 484-503, set./dez. 2018; MARCOLINO, Adriana, Balanço da Produção Acadêmica Brasileira sobre Condições e Relações de Trabalho dos Terceirizados. Dissertação de Mestrado. Departamento de Sociologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2019; entre outros.        

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Talvez a resposta encontre-se no sistema de segurança de uma sala de cinema. O cinema serve para que se vivencie a experiência proposta pelo realizador da obra cinematográfica exibida. A sala de cinema é analogamente como um cubo fechado. Em uma sala de cinema, o espectador será conduzido a alterar completamente a concepção presente de tempo e espaço. Irá esquecer temporariamente seus problemas, preocupações, projetos, desejos e transporá sua alma para o universo mágico da “experiência cinema”, independente de qual seja a proposta estética e a estrutura narrativa do filme exibido, mesmo que seja um filme documentário. Todo filme é realizado com o propósito de absorver a atenção do espectador durante seu tempo de exibição.

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