quinta-feira, 5 de julho de 2018

Fake News & Significado - O Social no Contexto da Verdade


                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

                                    Cada ideologia tem a inquisição que merece”. Millôr Fernandes

    

Millôr Fernandes (1923-2012), nome artístico de Milton Viola Fernandes, foi um desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Conquistou notoriedade por suas colunas de humor gráfico em publicações como Veja, O Pasquim e Jornal do Brasil. Começou a trabalhar ainda jovem na redação da revista O Cruzeiro, iniciando precocemente uma trajetória pela imprensa brasileira que deixaria sua marca nos principais veículos de comunicação do país. Em seus mais de 70 anos de carreira produziu de forma prolífica e diversificada, ganhando fama por suas colunas de humor gráfico em publicações como Veja, O Pasquim e Jornal do Brasil, entre várias outras. Em seus trabalhos costumava valer-se de expedientes como a ironia e a sátira para criticar o poder e as forças sociais dominantes e hegemônicas, sendo em consequência confrontado constantemente pela censura. Dono de um estilo considerado singular, era visto como figura desbravadora no panorama cultural brasileiro, como no teatro, onde destacou-se tanto pela autoria quanto pela tradução de um grande número de peças.

Filho do imigrante espanhol Francisco Fernandes e da brasileira Maria Viola Fernandes, Millôr nasceu em 16 de agosto de 1923 no subúrbio carioca do Méier. Por descuido dos pais só acabou registrado quase um ano depois, tendo como nome de batismo Milton Viola Fernandes e data de nascimento oficial o dia 27 de maio de 1924. No ano seguinte, Francisco, então com 36 anos, morre subitamente, ficando Maria com a tarefa de criar sozinha os filhos Milton, Hélio, Judith e Ruth. Apesar de praticamente um bebê à época da morte do pai, Millôr gravou a lembrança de um homem bonito, bem vestido, que vivia se fotografando”, tendo em vista que era dono de uma casa de fotografia na Rua Larga e que acordava a família patriarcalmente todas as noites para saborearmos salames e queijos”. O impacto financeiro da morte é significativo para a família de classe média; sua mãe, então com 27 anos, é obrigada a alugar uma parte do casarão no Méier, e passa a trabalhar como costureira. Não obstante, começam a enfrentar sérias dificuldades.

A classe média brasileira, criada pela expansão do emprego público e pela criação de empregos privados em geral, tem sido representada pelos trabalhadores que prestam serviços diretamente aos grupos empresariais e por extensão das elites econômicas e elites   políticas, como os profissionais com ensino superior empregado em funções medianas em empresas. Os profissionais com ensino superior, funcionários públicos em empregos bem situados, composto por médicos do sistema público, advogados e profissionais liberais concursados. Os funcionários de escritório mais requalificados, de empresas privadas ou estatais, composto por diretores e supervisores de colégios privados e escolas públicas, bancários de postos intermediários, delegados de polícia em início de carreira, enfermeiras experientes, etc. Inclusive pelos trabalhadores manuais de maior requalificação, os operários especializados e semiespecializados de indústrias públicas e privadas, composto por mecânicos, eletricistas, encanadores, metalúrgicos, fresadores, instrumentistas, inspetores de qualidade, torneiros mecânicos e de cargos recém-criados.

 Na esfera da vida social a luta política é uma das questões que sempre marcaram a dialética entre capital e trabalho. Mas a esfera social onde a ideologia manifesta mais explicitamente seu poder de enviesamento é, com certeza, o campo da atividade intelectual. O sujeito da ação política é alguém que quer conhecer o quadro em que age; que quer poder avaliar o que pode e o que não pode fazer. Mas, ao mesmo tempo, é um sujeito que depende, em altíssimo grau, de motivações particulares, sua e dos outros para agir. A política é levada, assim, a lidar com duas referências contrapostas, legitimando-se através da universalidade dos princípios e viabilizando-se por meio das motivações particulares. Mas vale lembrar que os caminhos trilhados na política (ou na universidade) evitam a opção por uma dessas linhas extremadas: o doutrinarismo, o oportunismo crasso, o cinismo ostensivo ou a completa e absurda indiferença social e política.

São frequentes as combinações de elementos de tais direções, porém combinados em graus e dimensões diversas. E é nessa combinação hábil que se enraíza a ideologia política. Sua atividade interpretativa também pode ser criativa, de modo que ao interpretar um caso, determinado ator social aplicaria e criaria um direito novo, praticamente legislando. A mobilidade é mais frequentemente medida de forma quantitativa em termos de mudança de mobilidade econômica, tais como mudanças na renda ou riqueza. A ocupação é outra medida utilizada na pesquisa de mobilidade, o que geralmente envolve tanto a análise quantitativa quanto qualitativa dos dados. No entanto, outros estudos podem concentrar-se na classe social. A mobilidade pode ser intrageracional, dentro da mesma geração ou entre gerações, entre uma ou mais gerações. Vale lembrar que a classe média brasileira está plenamente integrada nos modernos padrões de consumo de massas.

Todavia, estatisticamente a distribuição das classes sociais no Brasil é distorcida pela desigualdade social e econômica, na medida em que os 10 % mais ricos da população nacional, quase toda parcela da classe alta chegava, em 1980, a controlar 50,9% de toda a renda disponível no país. Se somarmos a esse contingente a parte mais rica da classe média brasileira, ou seja, outros 10 % da população nacional, notaremos que essa parcela de apenas 20% controlaria quase 67% de toda a renda nacional. A mobilidade social é dependente da estrutura de status sociais e ocupações em uma dada sociedade. A extensão de diferentes posições sociais e a maneira pela qual elas são interdependentes e se relacionam fornecem a estrutura social global de tais posições sociais no mercado. Estas dimensões diferentes de mobilidade social podem ser classificadas em termos de tipos de “capital” que contribuem para mudanças na mobilidade diferentes. Adicionando-se a isso as diferentes dimensões da estrutura econômica, as formas de prestígio e poder temos o potencial de complexidade de determinado sistema de estratificação social.

Além disso, em que sociedade pode ser vista como variáveis independentes que podem explicar diferenças na mobilidade social, em diferentes tempos sociais e lugares, em diferentes sistemas de trabalho, de estratificação e comunicação. A tese central do nacionalismo desenvolvimentista tem como representação social o desenvolvimento econômico e a consolidação da nacionalidade constituindo dois aspectos do mesmo processo emancipatório. O desenvolvimento social no contexto urbano de empregabilidade dependeria, de uma consciência nacional mobilizada em torno de uma vontade no plano global de desenvolvimento. Na esfera cultural, a retórica do início dos anos 1960, tanto de direita como de esquerda, para lembrarmo-nos da ciosa interpretação de Bobbio, foi demarcada pelo uso corrente das categorias sociais “povo” e “nação”, ou nacional- popular. Os movimentos sociais no caso emblemático do Centro Popular de Cultura, além do discurso formal anti-imperialista adotaram uma postura vanguardista, a autêntica cultura popular é aquela produzida por artistas e intelectuais que optaram por ser povo - enquanto a cultura do povo era considerada arcaica e atrasada.

Entre 1931 e 1935, Millôr cursa o ensino básico na Escola Enes de Sousa, no Méier. Da professora Isabel Mendes guardou, como costumava dizer, a lição definitiva: o prazer de aprender. Mais tarde a escola pública seria renomeada em homenagem à educadora, mas para Millôr aquela seria para sempre a “Universidade do Meyer”. A mãe morre de câncer em 1934 e a perda causa um impacto profundo no garoto de 11 anos: - “Sozinho no mundo tive a sensação da injustiça da vida e concluí que Deus em absoluto não existia”. Os irmãos se separam, e Millôr vai morar com a avó num quarto no fundo do quintal da casa do tio materno Francisco, na longínqua Estrada Nova da Pavuna. Passa por um período definido por ele mesmo metaforicamente no sentido dickensiano, “vendo o bife ser posto no prato dos primos, sem que o órfão tivesse direito”.

Quem frequenta os espaços e lugares midiáticos digitais já se deparou com as expressões fake news e “pós-verdade”, relação social que penetra o meio de comunicação especialmente as mídias sociais e atinge as formas contemporâneas de jornalismo. Estas expressões são, contudo, termos técnicos para definir uma prática muita bem difundida pelo ser humano: a mentira. Dos tantos textos da Bíblia cristã que desaprovam quem propaga falsidades e trazem dura condenação ao pecado da mentira, devemos rememorar uma singela passagem dos Provérbios, que afirma o seguinte: -  “Seis coisas aborrecem Deus, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos” (Provérbios 6. 16-19). É sobre este último aspecto, a saber, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contenda entre irmãos que temos a origem e o significado de expressões fake News e “pós-verdades” na história.
O poder reivindica o sentido para aquele que o detém. Ele só distingue aqueles que participam do poder, por delegação de autoridade ou simples obediência, daqueles que forjam alijados na direção de um não sentido e utilizados como seres não sociais. Não há nenhuma sociedade sem o poder, ainda que existam sistemas políticos sem o Estado. Os antropólogos sabem disso, melhor, talvez que em sociologia. Toda sociedade se desconstrói, para reconstruir a realidade. Faz um corte nas relações sociais, desfigura o outro e o dessocializa através do preconceito individual ou coletivo, da hostilidade, da repressão ou da exploração. Assim, o poder se reveste de positividade, seja a do Estado no caso das instituições, ou da ideologia, no caso das universidades públicas. O que nos traz de volta ao ponto de partida, pois o sociólogo encontra o poder ou a ideologia. A classificação tradicional dos sociólogos e do nascimento da sociologia como ciência, impele-os à sua relação profissional pelo tipo de sistema social que condiciona seu trabalho e seu objeto - as relações sociais – em uma tipologia social determinada a que são mais sensíveis: as organizações, as instituições políticas ou da historicidade e das classes sociais, e na modernidade, o ideólogo cínico engajado nas universidades.


A condição de existência é a mesma que a da liberdade. Pois não há Sociologia possível em uma sociedade sem liberdade. E a liberdade não é um conjunto de medidas protetoras ou um tipo de instituições políticas. Ela é o que vincula uma à outra a reivindicação popular que pode tornar-se ditadura ou terror e a crítica do poder que pode tornar-se defesa de privilégios. Se o sociólogo duvida da importância de sua obra, que ele afirme pelo menos que a sua existência é um sinal de liberdade e que ele deve lutar por ela mesmo que não esteja seguro de merecê-la, pois este é o paradoxo de consequências não intencionais da sociologia. Pois ela se desenvolve nas sociedades liberais e mais vagarosamente onde haja certa defasagem entre o poder econômico, a hegemonia política e o controle cultural. Se esses três domínios do poder que se recobrem. A análise da sociedade passa a depender da boa vontade de um rei filósofo, ela perde quase suas condições e possibilidades de existir criticamente.
Quanto mais o sociólogo critica o poder, suas regras e suas asserções, menos considera a sociedade como uma máquina que funciona “à força de senhas” e mais ainda, por esse movimento, ele aprende a reconhecer o que é próprio da vida social, a natureza de um sistema político e ideológico que reproduz o seu sentido assumindo em relação a si mesmo um distanciamento que é ao mesmo tempo o da reflexão e o do investimento. Uma sociedade não pode viver senão da tensão social, política e ideológica entre o distanciamento que ela assume em relação a si mesma e o domínio que ela exerce sobre a sua prática - lugar de origem do poder. Fluxo da inovação, da luta de classes e de relações sociais com a comunidade. Refluxo para a integração social, a comunidade, o poder e a conquista. E como ele deixaria de ser atraído frequentemente pelo que lhe é proibido (a ideologia), mas que se vincula a uma parte de si mesmo, seja o poder e a conquista para uns, seja o companheirismo e a disciplina para outros? 
Essa situação impõe apenas um raciocínio teórico constante de distanciamento do sociólogo em relação ao lugar de onde ele fala. Duvidamos que alguém se possa tornar sociólogo ou antropólogo, como Darcy ou Florestan, sem ter adquirido uma experiência direta de sociedades e de meios sociais distantes daqueles em que vive habitualmente. Além da formação pessoal também é preciso que a situação profissional do sociólogo lhe permita resistir às pressões culturais e sociais que sobre ele se exercem de cima e para baixo. O conhecimento sociológico só pode desenvolver-se em um meio que não reproduza as desigualdades sociais, mas que procurem reduzi-las. Nossas universidades, competitivas, reproduzem a desigualdade internamente. Mas o que ocorre é que os sociólogos estão encerrados em guetos cujo aparente isolamento seria cômodo demais para a ordem social dominante: o pensamento crítico estaria sendo enclausurado como se enclausuram os loucos e os delinquentes e pelas mesmas razões de ordem, para analisar as categorias sociais, normas e discursos em torno da prática. Contudo, o objeto da sociologia não pode ser definido sem a bidimensionalidade dos meios. Esse duplo procedimento deveria levara a definir o método sociológico. É inútil discutir a pertinência relativa da análise qualitativa ou quantitativa. A sociologia não pretende dominar a resposta a essa questão.

                     
Portanto, está se tornado comum o uso do termo fake news para um tipo não menos ideológico de imprensa que distribui de forma deliberada “desinformação” ou “boatos”, pela via impressa, televisiva, radiofônica ou ainda online, como ocorre nas mídias sociais. As chamadas “notícias falsas”, como na esfera da política (boato) são  publicadas com a intenção de iludir/aludir ganhos financeiros ou políticos, por vezes de forma sensacionalista, exagerada ou evidentemente falsa através de meios de comunicação. O conteúdo intencional é enganoso, mas nem sempre falso é diferente da sátira ou paródia. Estas notícias empregam manchetes “atraentes” ou “fabricadas” para ganhar eleitores, compartilhamento e taxas de clique nas chamadas redes sociais. Neste caso é semelhante às manchetes “clickbait”, e se baseiam em “receitas” de publicidades geradas a partir desta atividade, independente da veracidade das informações publicadas e ipso facto contém uma orientação e pode mudar de sentido comunicacional e tornar mais difícil para os jornalistas difundir notícias democráticas significativas. 
A propaganda possui várias técnicas metodológicas em conjunto com a publicidade, podendo ser usada tanto para promover um produto comercial quanto para divulgar crenças e ideias religiosas, políticas, ideológicas  ou científicas. Exemplos são panfletos e programas falados ou escritos, preparados para a audiência do inimigo durante as guerras convencionais e a maior parte das publicidades nos partidos e campanhas políticas. A propaganda é também um dos métodos usados primordialmente na guerra psicológica antes pela França e depois pelos Estados Unidos da América. Neste sentido estrito e mais comum do termo, a propaganda usada na guerra psicológica ou guerra de guerrilha se refere à informação deliberadamente falsa ou incompleta, que apoia uma causa política ou os interesses meramente econômicos e midiáticos daqueles que visam a propaganda comercial ou dos que querem apropriar de práticas de poder. O publicitário procura mudar a forma como as pessoas entendem uma situação ou problema, com o objetivo de mudar suas ações e expectativas para a direção que interessa ao publicitário. Nesse sentido, a propaganda serve como corolário à censura, na qual o mesmo objetivo é obtido, não por colocar falsas informações nas mentes das pessoas, mas fazendo com que estas não se interessem pela informação dita verdadeira.
A visão aparentemente simplista dos aparelhos ideológicos de Estado (educação) como meros agentes para garantir o desempenho através dos aparelhos de Estado e da ideologia atraiu para a filosofia de Louis Althusser as frequentes críticas de funcionalismo de Robert Merton à Niklas Luhmann. Isto se deve ao fato social de que ele não inclui nas suas preocupações, questionamentos sobre o surgimento desses aparelhos ideológicos e sobre sua lógica historicista. Tanto os Estados Unidos como a União Soviética, utilizaram amplamente a propaganda durante a chamada Guerra Fria. Os dois lados usaram filmes, programas de televisão e de rádio para influenciar seus próprios cidadãos, o outro e as nações do chamado “Terceiro Mundo”. A agência de informação norte-americana operava a Voz da América como uma estação oficial do governo. A Rádio Free Europe e a Rádio Liberty, em parte apoiadas pela Central Intelligence Agency (CIA), emitiam propaganda cinza na reprodução das notícias e nos programas de entretenimento na Europa Ocidental e União Soviética respectivamente.

                  
A disputa ideológica e de fronteira entre a União Soviética e a República Popular da China resultou em inúmeras operações pós-fronteira. Uma técnica de propaganda efetivamente desenvolvida durante esse período era a transmissão “ao contrário”, na qual o programa de rádio era gravado e transmitido “de trás para frente”. Há várias técnicas de propagandas que são utilizadas para criar mensagens que sejam persuasivas, sejam verdadeiras ou falsas. Muitas dessas técnicas podem ser baseadas em falácias ou fake news já que usam argumentos que embora sejam convincentes, na prática não são necessariamente válidos. Entende-se por “propaganda enganosa” aquela que induz o consumidor a um erro, ao demonstrar características e vantagens que um determinado produto não tem. É importante distinguir a propaganda enganosa abusiva. 
Embora usados como sinônimos no mercado de consumo os termos publicidade e propaganda, para alguns pesquisadores, não significam rigorosamente a mesma coisa, embora sejam semelhantes na sua essência. Para alguns analistas sociais, publicidade significa o ato de vulgarizar, de tornar público uma mensagem, enquanto a palavra propaganda, mais abrangente que publicidade, estaria relacionada à mensagem política e religiosa e compreende a ideia de implantar, de incluir uma mensagem individual e coletiva, no campo e na cidade no processo social de modernização. Propaganda é definida como propagação de princípios e teorias. Deriva do latim “propagare”, por sua vez, deriva de “pangere”, que quer dizer “enterrar, mergulhar, plantar”. A expressão foi traduzida pelo papa Clemente VII, em 1597, quando fundou a “Congregação da Propaganda”, com o fim de propagar a fé católica pelo mundo. No Brasil, as palavras publicidade e propaganda são usadas indistintamente, e para diferenciar os diversos tipos de publicidade, são usadas adjetivações, tais como “publicidade comercial”, “publicidade editorial”, “propaganda política”, “propaganda de utilidade pública” etc. 
Foi somente após a conversão de Constantino, no ano 312, e a consequente transformação do cristianismo numa religião lícita, que começaram a surgir as monumentais e luxuosas basílicas, exatamente sob o patrocínio do imperador e sua mãe Helena Augusta. Esse abandono do modelo das igrejas-do-lar, que predominara por quase trezentos anos, foi também marcado por uma radical aproximação entre a igreja e o império, e a consequente adoção por parte daquela do modelo hierárquico imperial. Sob Constantino, a igreja passou a ser vista como um reino, praticamente nos mesmos moldes dos reinos terrestres, transformando Cristo, como o Rei, cujo representante direto, o “vicário de Cristo”, não era outro senão o próprio Constantino, e os bispos, como oficiais de governo, com as insígnias e os privilégios dos mais elevados oficiais governamentais. A irradiação do verbo teve um profundo efeito político sobre a liturgia da igreja, que acabou tornando o modelo cúltico do antigo templo de Israel.
Tem-se deste modo um processo de trabalho e comunicação em que a forma espacial da igreja se tornou templo e a materialização deste processo como meio de comunicação de massa é representado pelo bispo, sacerdote, o púlpito, altar, e o culto, sacrifício, o sacrifício da missa. A Igreja e os santos ensinaram que as coisas ocorridas no Antigo Testamento são prefigurações daquelas que aconteceriam no Novo Testamento. Isso quer dizer que Deus, para poupar a fraqueza do homem e para ensinar-lhe as verdades da revelação de modo gradativo e adequado à inteligência, quis ou permitiu que ocorressem os fatos do Antigo Testamento para que estes servissem como exemplo em relação aos fatos que se realizariam no Novo Testamento. Além de utilizar os fatos ocorridos no Antigo Testamento com a finalidade de preparar os homens para o que seria revelado no Novo Testamento, Deus se utilizou também das profecias.
As vestimentas do sacerdote que vai celebrar a Santa Missa são o amito, a alva, o cíngulo, o manípulo, a estola e a casula. O amito é um véu branco que o sacerdote passa sobre a cabeça e com que cobre os ombros. Remete a coroa de espinhos com a qual Nosso Senhor Jesus Cristo foi coroado. A alva é uma túnica branca, larga e que desce até os pés do sacerdote. Remete à túnica branca com a qual Herodes mandou vestir a Cristo, para dizer que era louco. O fato da alva descer até os pés significa que devemos perseverar nas boas obras. E o símbolo da pureza que o padre deve ter ao rezar a Santa Missa e que os fiéis dever também ter ao assisti-la. O cíngulo é uma corda com a qual o sacerdote aperta a alva na altura da cintura. Remete-nos aos açoites da flagelação de Nosso Senhor, bem como a corda com a qual amarraram Nosso Senhor para puxá-lo. Lembra-nos as virtudes da fortaleza e da castidade. A estola é um ornato que o sacerdote traz em torno do pescoço e que cruza sobre o peito. Remete-nos à Cruz que Nosso Senhor carregou. Ela é o símbolo da dignidade e do poder do sacerdote. O fato da estola ser cruzada no peito do sacerdote significa também a troca que os judeus e gentios fizeram na crucificação de Jesus Cristo, passando os judeus da mão direita para a esquerda e os gentios da mão esquerda para a direita de Deus. Tais mudanças, de graves implicações teológicas, acabaram corrompendo algumas das verdades mais fundamentais da fé cristã, como a salvação por Cristo apenas, Sua intercessão no santuário celestial e o livre acesso do crente a Deus. A massificação, associada à institucionalização e à obliteração da obra de Cristo, trouxe apostasia e estagnação. A religião cristã não seria a mesma porque eivada da ideologia em massa.
Enquanto procedimento técnico o “clickbait” é reconhecido pelas empresas como “isca de cliques”, é um termo ideológico comum que faz referência a um conteúdo disponível online que tem como objetivo, normalmente, gerar receita de publicidade neste nível imaginário individual e coletivo. Apesar de ser uma técnica útil, algumas vezes o “clickbait” leva uma imagem insegura, por não levar a um conteúdo confiável, como na religião, uma vez que o objetivo principal desta ferramenta é justamente permitir que muitos cliques sejam dados em um determinado link. Alguns sem ter qualquer compromisso com a verdade ou precisão de informações. Geralmente, os “clickbaits” são gerados por meio de manchetes sensacionalistas, informações pouco precisas, imagens chamativas que incentivem o usuário a reprodução da imaginação  compartilhada em redes sociais. “Clickbaits” são curtos e deixam, com frequência, o leitor curioso para clicar no link especificado e descobrir do que o mesmo se trata.
Comparativamente o “linkbait” é o nome que se dá ao conteúdo criado para se conquistar diversos links espalhados na rede. Por exemplo, um determinado blog publica um artigo que chama atenção de diversos leitores, seja pela qualidade ou não, e acaba “viralizando” na rede, ganhando vários links de forma natural. O artigo é criado justamente com este objetivo, de despertar alguma emoção no leitor que tem sua própria publicação (influenciador), que o faça compartilhar ou linkar conteúdo, gerando cada vez mais links para o blog. O foco desta técnica é em conquistar menções de pessoas já influentes na rede. Os conteúdos para “linkbait” podem se destacar devido à sua qualidade à informação que ele contém, por tratar de um assunto controverso. Textos polêmicos, com uma opinião forte e polarizada sobre um determinado assunto, fazem parte da sociologia crítica desde o jornalismo representado por Marx em seu tempo. São muitos os motivos que podem fazer de uma página simples um autêntico “linkbait”. Se utilizado com criatividade e base analítica, a técnica pode ser bastante útil para empresas ou pessoas físicas que buscam resultados em políticos em publicidade.
Notícias falsas não são uma exclusividade do século XXI. Através da narrativa da história há vários episódios em que rumores ou boatos que foram espalhados tendo grandes consequências. O político e general romano Marco Antônio cometeu suicídio motivado por notícias falsas. Poucos anos antes da Revolução Francesa, vários panfletos eram espalhados em Paris com notícias, muitas vezes contraditórias entre si, sobre o estado de falência do governo. Eventualmente, com vazamento de informações do governo, informações reais sobre o estado financeiro do país foram a público. Benjamin Franklin escreveu notícias falsas sobre índios assassinos que supostamente trabalhavam para o Rei George III, com o intuito de influenciar a opinião pública a favor da Revolução Americana. Em 1835 o jornal The New York Sun publicou notícias falsas usando o nome de um astrônomo real e um colega inventado sobre a descoberta de vida na lua. O propósito das notícias tinha um objetivo para aumentar as vendas do jornal. No mês seguinte o jornal admitiu que os artigos representem apenas boatos.  

        
A maior contribuição de Marx ao jornalismo foi sua inabalável profissão de fé na liberdade de imprensa, mais de uma vez registrado nas páginas do New York Tribune. Nos tempos de Marx, ainda não havia grandes monopólios de “mídias”, enquanto comunicação massiva, sendo o jornal impresso uma das poucas fontes de informação e difusão de um conjunto de práticas e de saber social. A variedade de  publicações, nas mais diversas correntes ideológicas era tão grande, que em seu tempo Marx habilmente pode utilizar o jornalismo, porque existiam outras vozes para lhes fazer contrapontos. O próprio New York Tribune visceralmente abolicionista e vagamente socialista utópico, do qual Marx era colaborador assíduo, enviando àquele jornal, entre 1851 e 1862, mais de 500 artigos, pôs a nu as mais diversas mazelas vitorianas, com destaque para as exorbitâncias do colonialismo britânico na Índia e na China. O culto da indiferença de classe representa o hábito de estupidez de uma sociedade que perdeu o sentido de comunidade, dentro e fora da ciência e universidade.  
O consumo é o leitmotiv do progresso que faz da cidade um lugar passageiro. Onde tudo pode ser destruído e reconstruído a qualquer momento, onde as histórias são substituídas por outras sem perspectiva de futuro. A forma do urbano, sua razão suprema, a saber, a simultaneidade e o encontro aparente não podem desaparecer. A cidade é fora de dúvida a maior vitrine, onde os episódios cotidianos da existência material são vividos e observados na indiferença da reprodução do capital. A ocupação divertida do urbano, por uma população sonhadora movida pelo acaso de viver o imprevisível, é descartada pela cidade contemporânea. A cidade é o palco da reprodução do “capital cultural” dominante, onde há um duplo que se redescobre ou se reinventa, e se apaga na mesma velocidade. Tudo é vivido na condição aparente de espetáculo como se a vida urbana fosse um conjunto de cenas de teatro. Na sociedade globalizada a supressão de palavras e conteúdos tem o significado de suprimir, e a supressão de modo geral está relacionada com algum tipo de censura que suscita elementos morais ou políticos supressores. A favela, simbolizada como cultura é a inversão da observação de que o operário existe na construção civil como ator social.
Bibliografia geral consultada.
ROSEMBERG, Nathan, “Marx y la Tecnología”. In: Monthly Review. Seleciones en Castellano, volume 28, n° 3, julio-ago., 1976; TOURAINE, Alain, La Voix et le Regard. Paris: Éditions du Seuil, 1978; CASTELLS, Manuel, City, Class and Power. London; New York: MacMillan; St. Martin’s Press, 1978; RIVIÈRE, Claude, Os Ritos Profanos. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1997; DUPUY, Jean, El Pánico. 1ª edicíon. Barcelona: Ediciones Gedisa, 1999; BOBBIO, Norberto, Ni con Marx ni contra Marx. 1ª edição. Espanha: Fondo de Cultura, 1999; MÉSZÁROS, István, O Poder da Ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004; MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, Libertá di Stampa e Censura. Bologna: Guaraldi Editore, 1970; Idem, La Condizione Postcoloniale: storia e politica nel presente globale. Verona: Ombre Corte Edizioni, 2008; GUIMARÃES, Carlos Nunes, Maquiavel: Realismo Político e Ética Republicana. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Doutorado Integrado. João Pessoa:  UFPB; Recife: UFPE; Natal: UFRN, 2013;  LÖWY, Michael, A Jaula de Aço: Max Weber e o Marxismo Weberiano. 1ª edição. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014; DEJOURS, Christophe, Le Choix - Souffrir au travail nest pas une fatalité. Paris: Bayard Éditions, 2015; JUBÉ, Andrea, “Brasil é 1º Caso de Fake News Maciça para Influenciar Votos, diz OEA”. In: https://www.valor.com.br/25/10/2018; TEIXEIRA, Adriana, Fake News Contra a Vida: Desinformação e Ameaça Vacinação de Combate à Febre Amarela. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em comunicação e Semiótica. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2018; entre outros.

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