segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Natalie Portman - Análise Teórica in De Amor & Trevas.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga*
  Eu não amo estudar, eu odeio estudar. Eu gosto de aprender, a aprendizagem é bonita”. Natalie Portman   
  
                         
            A criação do Estado de Israel ocorreu em 1948, mas o processo político de formação das comunidades judaicas na região da Palestina remonta às últimas décadas do século XIX, quando foi criado o movimento sionista por intelectuais judeus no início da década de 1890 e tinha por objetivo principal o combate ao antissemitismo, que subsistia na Europa desde a Idade Média e que havia se intensificado no século XIX. O Estado de Israel é um dos mais poderosos emblemas sociais, econômico e militarmente do mundo ocidental. É também um Estado que possui uma das mais eficientes e pragmáticas polícias secretas de todo o globo terrestre desde o fim da 2ª guerra mundial (1941-45): a poderosa Mossad. A despeito de sua curta existência enquanto Estado - Israel só foi oficializado e reconhecido como país em 1948 -, foi protagonista de intensos episódios conflituosos ocorridos na região do Oriente Médio na segunda metade do século XX, sobretudo em virtude do paradoxo em torno da geopolítica etnohistórica com os países muçulmanos que circundam seu território.
            Um fato político que contribuiu para estimular a ideia da formação de um Estado judaico na Palestina foi o chamado Caso Dreyfus, uma conspiração de oficiais do exército francês contra Alfred Dreyfus, que também era oficial dessa mesma instituição. Dreyfus foi injustamente acusado por colegas de fornecer informações privilegiadas da inteligência francesa para autoridades do exército alemão, arquirrival da França. Theodor Herzl, que era jornalista, com o escritor Émile Zola, incorreu na defesa pública de Dreyfus nas páginas dos jornais daquele período, denunciando as fraudes das acusações e tornando explícito o antissemitismo que se alastrava na Europa. O estímulo à causa sionista, dado pelo Caso Dreyfus, incitou as várias comunidades de judeus que estavam espalhadas mundo ocidental “a se reunirem em torno de um fundo financeiro para custear a compra de terras na região de Palestina”, então pertencente ao Império Otomano. Aos poucos, na virada do século XIX para o século XX, os terrenos situados entre as Colinas de Golã, a Península do Sinai e o Rio Jordão foram sendo arrendados pelos judeus, que começaram também a migrar para a região nesse espaço/tempo.

                  
A atriz israelense Natalie Portman em seu primeiro longa-metragem passa em revista a história da formação de sua pátria natal como diretora do filme: A Tale of Love and Darkness (“De Amor e Trevas”). O curta de NY, “I Love You” já tratava do tema. E agora ela vai além, explorando um período importante na história e tratando inclusive de temas como a ligação do judeu com as palavras. Centrado em experiências pessoais do autor, este drama recria a Guerra de Jerusalém e seus efeitos sociais e psicológicos sobre a vida de um jovem que cresce em um kibutz, onde tiveram função essencial na criação do Estado judeu. Combinando o socialismo e o sionismo no sionismo trabalhista, os kibutzim são uma experiência única israelita e parte de um dos maiores movimentos comunais seculares na história. Em 2010, estrelou o filme: “Black Swan” pelo qual foi internacionalmente aclamada pela boa crítica. Em Cannes o filme fez sua estreia, fora de competição, em 2015, quando o projeto foi definido como “o inventario de cicatrizes sobre a formação de um Estado”, revelando, a partir de uma “exumação moral”, toda a inquietação estética de uma grande artista.           
Desnecessário dizer que a biografia é um gênero literário em que o autor narra a “história da vida” de uma pessoa ou de várias pessoas. Em certos casos a biografia inclui aspectos da obra dos biografados, como por exemplo, Plutarco, em suas “Bíoi parálleloi” (“Vidas paralelas”), numa abordagem bisada de um ponto de vista crítico e não historiográfico. Em francês, o termo “biographie” é documentado em 1721; a palavra “biography” foi documentada em 1791 e na forma “biografia” já em 1683; em espanhol, “biografia”, em português, aparece somente na segunda metade do século XIX. É comum se solicitar a “biodata” de pessoas que produzem trabalhos artísticos, científicos etc. Este termo remete à vida e às experiências fabulosas de trabalho, bem como a itens que revelem suas opiniões, valores, crenças e atitudes. Os dados transcritos nesta categoria contêm, por vezes, um tipo da informação que é um abstract de trabalho acadêmico, podendo também incluir a descrição dos atributos físicos e imagens.
Optando por filmar em Jerusalém, foi usado o setor ultra-ortodoxo do bairro de Nachlaot, com suas ruas estreitas e casas antigas que, em pleno 2016 de Israel como “start-up nation”, enganam tranquilamente como 1948, época da cidade sitiada e dos racionamentos. Mas com exceção à icônica descrição da votação do Plano de Partilha da Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas, o filme abre mão de grande parte do papel de documento histórico narrado em primeira pessoa que o livro possui.  O escopo na relação entre o jovem Amos e seu pai Arieh, que permeia todo o livro, é alterado para a relação do garoto com a mãe Fania, interpretada pela própria Natalie Portman. Por ser um personagem não menos interessante e complexo - esta escolha acaba por revelar no filme um pouco da força que o livro possui enquanto análise da sociedade judaica ashkenazita de Jerusalém em sua historicidade, em especial de seus círculos no processo de formação de intelectuais.

              
Sociologicamente o indivíduo, ator, identidade, grupo social, classe social, etnia, minoria, movimento social, partido político, corrente de opinião pública, poder estatal, todas estas “manifestações de vida” no sentido simmeliano, não mais se esgotam no âmbito da sociedade nacional, o que nos faz admitir que a diferenciação em comunidades locais, tribos, clãs, grupos étnicos, nações e mesmo Estados, perderam ao menos algo do seu significado anterior. No contexto da guerra árabe-israelense de 1948 um garoto cresce em uma casa que irradia erudição. O pai escritor, as estantes repleta de livros, música clássica e a mãe que narra para ele aventuras para explicar o mundo e lidar com aquela dura realidade. No começo há um convite: “vamos criar uma história”. Baseado em obra de Amós Oz, escritor e defensor de uma solução para o conflito Israel-Palestina, descreve a história da família durante a guerra da Independência de Israel. Criado em uma família que preza o talento intelectual, o garoto consegue se comunicar em vários idiomas, tem conhecimento de literatura e política muito salutar para a idade. Os indivíduos cuja vida interior se enriquece em diálogo constante com os outros, não se resignam a ser apenas aquilo que já se tornaram, há uma crítica à resignação e querem ser mais do que estão sendo. Cultivam um lado que os impele na direção de uma busca no âmbito de universalização.
            Amós Oz publicou De Amor e Trevas (“Sipur al ahava vechoshech”) em 2002. Trata-se de uma autobiografia, talvez parcial, cobrindo sua infância, adolescência e juventude. O livro rapidamente alcançou sucesso internacional e foi traduzido para cerca de 30 idiomas, incluindo versões não-oficiais em árabe e curdo. O livro é escrito no envolvente estilo de Amós Oz, um dos mais renomados autores israelenses de todos os tempos, e um dos mais reconhecidos internacionalmente na atualidade. É contada com riqueza de detalhes a história da vida do autor, ainda morando com seus pais em um pequeno apartamento na Jerusalém dos últimos anos do Mandato Britânico e nos primeiros anos do Estado de Israel, inclusive durante a Guerra de Independência. Neste ínterim, ainda  garoto começa a jornada como o frágil Amos Klausner, filho de imigrantes intelectuais sionistas-revisionistas da Europa Oriental, e a termina como Amos Oz, membro do Kibutz Hulda, no centro de Israel. Localizado em Shephelah, perto da Floresta Hulda e da Estrada da Birmânia, está sob a jurisdição do Conselho Regional de Gezer. Em 2018, tinha uma população de 1.096 habitantes, após hebraizar seu nome para afirmar-se como pioneiro sionista. Através destas transformações, transparece a própria história do sionismo realizador clássico, e seu objetivo de criar um novo judeu, em oposição aos estereótipos da comunicação do judeu da diáspora.      
            Amós Oz nasceu em Jerusalém, em 4 de maio de 1939, é escritor israelense e cofundador do movimento pacifista Paz Agora (“Shalom Akhshav”),  também referido pela imprensa, em inglês, como Peace Now é uma organização não governamental de esquerda sediada em Israel, cujo propósito declarado é alcançar a paz interna e externa para Israel. Para alcançar essa finalidade, a organização procura influenciar e convencer a opinião pública e o governo israelense sobre a necessidade da paz como requisito para a própria existência do Estado de Israel, e sobre a possibilidade de uma paz justa e de uma conciliação histórica com o povo palestino e com os países árabes vizinhos, com base na fórmula “terra por paz”,  e na criação de um Estado Palestino. O movimento denuncia assentamentos judeus no territórios palestinos ocupados por Israel e a expropriação de terras dos árabes israelenses.                
             Os seus pais fugiram em 1917 de Odessa, na Ucrânia para Vilnius, na Lituânia e daí para o Mandato Britânico da Palestina em 1933. Em 1954 Oz entrou para o Kibbutz Hulda e tomou então o seu nome atual. Durante o seu estudo de Literatura e Filosofia na Universidade Hebraica de Jerusalém entre 1960 e 1963 publicou seus primeiros contos curtos. Oz participou na Guerra dos Seis Dias e na Guerra do Yom-Kippur e fundou na década de 1970, juntamente com outros, o movimento pacifista israelense Schalom Achschaw (“Peace Now”). Fundador e principal representante do movimento social israelense “Paz Agora”, é o escritor mais influente de seu país. Poucos autores escrevem com tanta compaixão e clareza sobre as agruras do sujeito presentes e passadas de Israel. Em romances como Conhecer uma mulher (1992), o mais importante escritor israelense contemporâneo, lança um olhar atento e sensível sobre os mistérios que, escondidos em cada um de nós, unem e separam as pessoas.
             Depois de trabalhar para o serviço de informações por 23 anos, o agente secreto Yoel Ravid passa em revista sua vida profissional e familiar. Diante da trágica morte da esposa, procura compreender a mulher que apesar de amar, ele nunca conheceu completamente, mas com ela travou durante anos uma batalha subterrânea cujos motivos também lhe escapam; Pantera no porão (1999),  começa  com uma constatação frequente em sociedades polarizadas por embates políticos: - Muitas vezes na vida já fui chamado de traidor. Uma acusação grave  contra ele justamente em 1947, embora o processo de paz tenha diminuído o ímpeto dos inquisidores. Se nas últimas décadas o rótulo de traidor marcou sua vida,  devido à posição favorável ao diálogo israelense-palestino, a acusação apareceu, no romance, por outro motivo, no verão de 1947, numa pichação na parede de sua casa em Jerusalém. O suposto crime: uma amizade com Stephen Dunlop, das forças britânicas que controlavam a Palestina; Meu Michel (2002), em que explora a difícil persistência do amor durante a guerra. Em 2005 publicou suas memórias: De amor e trevas, com a sua interpretação pessoal da criação de Israel.
Em 1991 foi eleito membro da Academia de Letras Hebraicas; em 1992, recebeu o Prêmio de Frankfurt pela Paz, e ganhou o Prêmio Israel, o mais prestigioso do país. A “Primeira Intifada” na Faixa de Gaza e na Cisjordânia começou em 1987 quando palestinos montaram um protesto em larga escala contra a presença militar israelita nos dois territórios, que os palestinos reclamam como seus. A Intifada depressa se tornou violenta quando o exército de Israel e os militantes da Palestina lutaram pelo controle dos territórios seculares em disputa. A Primeira Intifada continuaria até terem início às negociações de paz entre a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) e o Estado de Israel, em 1993. Em 1998, durante o 50º ano da Independência de Israel, recebeu o Prêmio Femina em França e foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura em 2002. Em 2004 recebeu o Prêmio Internacional Catalunya, com o pacifista palestino Sari Nusseibeh, e o Prêmio de Literatura alemão: Die Welt, por “Uma História de Amor e Escuridão”. Publicou cerca de duas dezenas de livros em hebraico, e mais de 450 artigos e ensaios em revistas e jornais de Israel e internacionais, sendo muitos dos quais para o jornal do Partido Trabalhista “Davar” e, desde o encerramento deste na década de 1990, para o “Yediot Achronot”. Têm livros e artigos  traduzidos no Ocidente e quase toda a sua obra se encontra traduzida em português. Em 2005 recebeu o prêmio Goethe como escritor. Em 2007, o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras.

                     

No filme o pai é escritor e rememora com Amos a etimologia das palavras. A mãe narra aventuras repletas de ensinamentos. Quando mãe e o menino se relacionam é a melhor representação do filme. A fala dela sobre a hora certa de mentir é um exemplo. A violência da guerra é consentida de forma macrossociológica: temos a votação da independência de Israel, em uma cena muito bonita e os dilemas vividos pela família ou então o bullying sofrido por Amos na escola estão bem presentes. Há outra cena onde mulheres falam das desventuras de se ter um filho e logo em seguida a uma explicação  quase poética, sobre o quão é vazio não tê-los. Além desses momentos da vida cotidiana temos a oposição entre a brutalidade e a leveza, a inocência e a sabedoria, a velhice e a juventude, a firmeza e a fraqueza e o claro e o escuro. A fotografia revela alguns tons azulados na hora de dormir daquela família e amarelados nas narrativas etnográficas de Fania (a mãe) e na cena descrita de Amos com a menina. Há uma explicação muito coerente sobre o que está por trás das relações sociais e afetivas entre árabes e judeus comparando-os como irmãos com uma relação com um pai e como eles passam a enxergar no outro o limite da relação de paternidade.
De Amor e Trevas não é um daqueles raros casos de obra que já nasce com status de clássico, e suas múltiplas versões internacionais lhe garantiram lugar cativo em muitas estantes pelo mundo. Nada mais natural que apenas alguém que gozasse de certo prestígio tanto entre a intelligentsia esquerdista israelense a qual Amos Oz faz parte, quanto entre os managements da indústria cinematográfica de Hollywood, conseguisse obter os direitos para produzir sua adaptação cinematográfica. Foi aí que se engajou Natalie Portman. A atriz nascida em Jerusalém é declaradamente sionista e orgulhosa de sua identidade judaica e israelense, além de usar o prestígio de ser um dos principais nomes da década em Hollywood para defender todo tipo de causas que os norte-americanos chamam de “liberais”, inclusive a solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina. É sabido que Natalie Portman adquiriu os direitos cinematográficos sobre a obra em uma conversa com Amós Oz e sua mulher, na casa da família. Em seguida, partiu em uma jornada de oito anos para financiar o trabalho de pesquisa e descrever com muita argúcia e simplicidade De Amor e Trevas em sua estreia na produção cinematográfica pari passu como roteirista e diretora.
    Natalie Portman nasceu em Jerusalém, de pai israelense e mãe norte-americana, e mudou-se com a família para os Estados Unidos da América aos três anos. Não se trata só da sensação de pertencer a dois mundos em oposição assimétrica: há uma ligação bem mais específica no fato de um desses mundos ser um ideal que prossegue sempre, mas sem nunca se realizar como no plano imaginado, e que exige muito mais envolvimento afetivo, reflexão e tomada de posição do que é habitual na vida dos cidadãos. E é também um filme muito sólido na maneira como tece seu emaranhado, fundindo o que de há mais íntimo na vida de um menino, o refúgio que ele e a mãe constituem um para o outro, com o destino que essa mãe sem saber está traçando para o filho, e com o destino do próprio país que ela quis ajudar a fundar. Como atriz Natalie é mestre na melancolia, e a Fania do livro e do filme comparativamente é toda ela um estudo pródigo da melancolia: atriz e personagem são soberbamente talhadas para dar forma a essa ideia tão persistente não só na cultura judaica, de que a história social e a memória são a única pátria verdadeiramente indevassável.
Bibliografia geral consultada.

SIMMEL, Georg, On Individuality and Social Forms. Chicago: University of Chicago Press, 1971; Idem, La Tragédie de la Culture. Paris: Petite Bibliothèque Rivages, 1988; Idem, Philosophie de l`amour. Paris: Petite Bibliothéque Rivages, 1988; HELLER, Agnes, Sociologia della vita quotidiana. Roma: Editore Riuniti, 1975; BOUDON, Raymond, Effets Pervers et Ordre Social. Paris: Presses Universitaires de France, 1977; DURAND, Gilbert, Science de l’ Homme et Tradition. Paris: Berg International Editor, 1979; Idem, As Estruturas Antropológicas do Imaginário: Introdução à arquetipologia geral. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997; GINZBURG, Carlo, Occhiacci di legno - Nove riflessioni sulla distanza. Milano: Giangiacomo Feltrinelli Editore, 1998; SONDHAUS, Lawrence, World War One: The Global Revolution. Cambridge: Cambridge University Press, 2011; SCHLESINGER, Juliana Portenoy, Conflitos Identitários do Árabe Israelense: Aravim Rokdim de Sayed Kashua. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas e Língua, Literatura e Cultura Árabe. Departamento de Letras Orientais. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011; CESAR, Daniel Clós, Ensino de História das Religiões: Cristianismo, Islã e Judaísmo nas Histórias em Quadrinhos. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em História. Universidade de Caxias do Sul, 2015; SILVA, Raquel do Monte, Devir-mundo: A Errância no Cinema Contemporâneo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2015;  BOSCOV, Isabela, “De Amor e Trevas”. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/06/06/2016 ; AMBRA, Pedro Eduardo Silva, Das Fórmulas ao Nome: Bases para uma Teoria da Sexuação em Lacan. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Sexual. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; entre outros.  

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

As Sufragistas - Solidariedade & Trabalho nas Sociedades Ocidentais.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

         “A guerra é a única língua que os homens entendem”. As Sufragistas (2015) 
                             
        

              A luta pelo voto feminino foi o primeiro passo a ser alcançado no horizonte das feministas da chamada pós-Revolução Industrial. As “suffragettes”, primeiras ativistas do feminismo no século XIX, eram assim conhecidas justamente por terem iniciado um movimento no Reino Unido a favor da concessão, às mulheres, do direito ao voto. Formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, é uma nação insular situada no noroeste da Europa. A Inglaterra, local de nascimento de Shakespeare e dos Beatles, abriga a capital, Londres, um centro financeiro e cultural globalmente influente. Também na Inglaterra, ficam o neolítico Stonehenge, as termas romanas de Bath e as centenárias universidades de Oxford e Cambridge. O seu início deu-se em 1897, com a fundação da União Nacional pelo Sufrágio Feminino por Millicent Fawcett (1847-1929), uma educadora britânica. O movimento das sufragistas, que inicialmente era pacífico, questionava o fato de as mulheres do final daquele século serem consideradas incapazes de assumir postos de comando na sociedade inglesa através da direção das escolas e o trabalho de educadoras em geral, mas serem vistas com desconfiança como possíveis eleitoras. As leis do Reino Unido eram aplicáveis às mulheres, mas elas não participavam politicamente de sua elaboração.
         Historicamente o início e a duração da Revolução Industrial variam de acordo com diferentes historiadores. Eric Hobsbawm considera que a revolução “explodiu” na Grã-Bretanha na década de 1780 e não foi totalmente percebida até a década de 1830 ou de 1840, enquanto T. S. Ashton considera que ela ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1830. Alguns historiadores do século XX, como John Clapham e Nicholas Crafts, têm argumentado que o processo de mudança econômica e social ocorreu de forma gradual e que o termo “revolução” é no mínimo equivocado. Este ainda é um assunto que está em debate entre os historiadores. A revolução impulsionou uma era de forte crescimento econômico nas economias capitalistas e existe um consenso entre historiadores econômicos de que o início da Revolução Industrial é o evento mais importante na história da humanidade desde a domesticação de animais e a agricultura. A chamada 1ª revolução industrial evoluiu para a 2ª revolução industrial, nos anos de transição periodizados entre 1840 e 1870, quando o progresso tecnológico ganhou força com a adoção de barcos a vapor, navios, ferrovias, em larga escala de máquinas e o aumento do uso de fábricas que utilizavam a energia a vapor.

           
      A partir da gênese da revolução industrial, o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua força de trabalho em troca de um salário. Outra das consequências da Revolução Industrial foi o rápido crescimento econômico. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento (levavam séculos para que a renda per capita aumentasse sensivelmente), e após, a renda per capita e a população começaram a crescer de forma acelerada nunca antes vista na história. Por exemplo, entre 1500 e 1780 a população da Inglaterra aumentou de 3,5 milhões para 8,5, já entre 1780 e 1880 ela saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da mortalidade infantil. Para E. P.Thompson (1987; 1991), o incremento da população nesse período se sustentou principalmente por uma longa série de boas colheitas e numa melhora do padrão de vida desenvolvido nos primeiros momentos da Revolução Industrial; com o avanço da industrialização na primeira metade do século, a saúde da população urbana começou a deteriorar, devido à imensa concentração populacional nas cidades que sofreria com as epidemias, péssimas condições de habitação, deformações e estafa causadas pelo trabalho e a alimentação insuficiente e inadequada. A medicina parece ter sido ineficaz no combate a esses problemas.          
        Insere-se assim o Movimento Ludista que teve o seu momento culminante no assalto noturno à manufatura de William Cartwright, no condado de York, em Abril de 1812. No ano seguinte, na mesma cidade, teve lugar o maior processo contra os ludistas: dos 64 acusados de terem atentado contra a manufatura de Cartwright, 13 foram condenados à morte e dois à deportação para as colônias. Apesar da dureza das penas, o certo é que o movimento ludista não amainou, dado que os operários viviam em péssimas condições. O Ludismo enquanto prática de destruição de máquinas passou a ser cada vez mais hostilizado pelo patronato que recorreram aos parlamentos, visando a criação de leis mais severas para punir os envolvidos em revoltas. O Reino Unido que já possuía uma lei de 1721 que definia o exílio como pena máxima para a destruição de máquinas, em 1812 como resultado da oposição contínua a mecanização adotou o “Frame-Breaking Act” (“Destruição dos Quadros de Estoque”) definindo a pena de morte para casos de destruição de máquinas.
            Nos fins do século XVIII, corria o boato de que um enfurecido operário britânico chamado Ned Ludd certa vez havia quebrado as máquinas de seu patrão. Mesmo não tendo comprovação, a história serviu de inspiração para vários operários que viam nas máquinas a razão de sua condição de miséria. Nascia assim, na Inglaterra, o Ludismo ou Movimento Ludita. Os luditas geralmente agiam secretamente, endereçando cartas anônimas aos seus patrões exigindo o fim do uso das máquinas que restringiam a oferta de emprego. Muitas vezes, organizavam grupos que invadiam fábricas e depredavam todas as máquinas presentes. Enquanto a destruição acontecia, uma massa de operários e desempregados aprovava a ação com gritos de apoio e calorosas palmas. A reação das autoridades inglesas contra esses levantes foi marcada por vários conflitos entre os policiais e os trabalhadores. Finalmente, no ano de 1812, o Parlamento Britânico aprovou a Frame Braking Act, “lei que punia a quebra de máquinas com a pena de morte”. Dessa forma, observamos que a rebelião ludita causou impacto significativo e determinou uma experiência de oposição entre o homem e a tecnologia.
A perseguição aos ludistas tornou-se implacável, com centenas de pessoas sendo presas e torturadas, dezenas de executados, industrial e a criação das primeiras trade unions (sindicatos) tornaram-se outros limitantes para o alcance e as possibilidades das revoltas ludistas, fazendo com que o ludismo entrasse em declínio em meados do século XIX. O ludismo não foi um fenômeno exclusivamente inglês, tendo-se registrado movimentos semelhantes na Bélgica, na Renânia, na Suíça e na Silésia. Para esses trabalhadores, as máquinas se transformaram na principal responsável pela situação de exploração e de desemprego em que se encontravam. Os trabalhadores quebradores de máquinas ficaram conhecidos como ludistas, nome que deriva de Ned Ludd, uma personagem, tida por muitos como lendária, que teria quebrado a máquina em que operava a golpes de martelo, mostrando assim sua insatisfação. Rapidamente, o ludismo do ponto de vista político-ideológico se espalhou da Inglaterra para outros países capitalistas europeus. O ludismo se constituiu como o movimento operário de reivindicação de melhorias nas relações sociais e condições de trabalho. 
O movimento feminino ganhou as ruas e suas ativistas passaram então a ser conhecidas pela sociedade em geral pelo epíteto de “sufragistas”, sobretudo aquelas vinculadas à Women's Social and Political Union (WSPU) movimento que pretendeu revelar o “sexismo institucional” na sociedade britânica, fundado por Emmeline Pankhurst (1858-1928). Após ser detida repetidas vezes com base na lei “Cat and Mouse”, por infrações triviais, inspirou membros do grupo a fazer greves de fome. Ao serem alimentadas à força e ficarem doentes, chamaram a atenção da opinião pública pela brutalidade do sistema legal e também divulgaram a sua causa. Ela foi uma militante que imprimiu um estilo político mais enérgico ao movimento, o qual culminou com situações de confronto nas ruas entre sufragistas e policiais e, finalmente, com a morte de uma manifestante, Emily Wilding Davison (1872-1913), uma militante do movimento pelo voto feminino na Grã-Bretanha que, em 4 de junho de 1913, após uma série de ações que foram tanto destrutivas quanto violentas, se jogou em frente ao cavalo do rei Jorge V, no Derby Epson Downs, resultando ferimentos que causaram a morte cerebral, formalmente declarada quatro dias depois do incidente, mediante insistência da família para um veredito de acidente, tornando-se a primeira mártir do movimento de mulheres sufragistas.            
            Mesmo que tenha causado grande comoção o movimento pelo voto feminino na Inglaterra da década de 1910, as ações de protesto empreendidas pelas sufragistas, contudo, apenas vieram a obter um parcial sucesso com a aprovação do “Representation of the People Act”, de 1918, o qual estabeleceu o voto feminino no Reino Unido - em grande parte, dizem alguns historiadores, motivado pela atuação do movimento das sufragistas na 1ª grande guerra, já que as sufragistas deixaram as ruas e assumiram importante papel nos esforços de guerra. A lei britânica de 1918 deu forças a mulheres de diversos outros países para que buscassem seus direitos ao voto. Além disso, que as primeiras feministas consideravam de importância maior que outras questões referentes à situação feminina justamente por acreditarem que, pelo voto, as mulheres seriam capazes de solucionar problemas causados por leis injustas que lhes vetavam o acesso ao trabalho e à posse da propriedade, por exemplo. Habilitando-se ao sufrágio, as mulheres passariam a ser também elegíveis e assim, politicamente, poderiam concorrer de igual para igual com os homens por cargos eletivos.
Suffragette é um filme de drama britânico realizado por Sarah Gavron e escrito por Abi Morgan. Foi protagonizado por Carey Mulligan, Helena Bonham Carter, Meryl Streep, Ben Whishaw, Brendan Gleeson e Anne-Marie Duff. O filme foi lançado em cadeia nacional no Reino Unido em de 30 de outubro de 2015.  As Sufragistas adotam um ponto de partida expressivo e inovador ao escolher como protagonista Maud Watts (Carey Mulligan), uma mulher sem formação política sindical. Esta lavadeira, acostumada à opressão masculina, nunca questionou o sistema, mas aos poucos descobre pela via da consciência seus direitos como trabalhadora. É mais fácil ao público médio, a quem o filme se dirige, identificar-se com esta personagem comum do que torcer por uma militante radical. O filme se passa na Inglaterra fabril no início do século XX. Começa mostrando mulheres trabalhando em fábricas, diante discurso parlamentarista sobre a falta de equilíbrio mental feminina que impossibilitava as mulheres de fazer julgamentos políticos. O roteiro revela o despertar político de Maud rumo à libertação das regras sociais do início do século XX.
         No começo também se fala um pouco sobre as tentativas pacíficas e fracassadas do movimento sufragista nos últimos cinquenta anos e consequentemente sua a entrada em uma numa campanha de desobediência civil. A protagonista do filme, Maud Watts (Carey Mulligan), aparece logo depois como representante de classe das mulheres trabalhadoras: mãe, esposa e trabalhadora incessante numa fábrica, revivendo o martírio de sua mãe e de sua avó. Determinado dia durante o expediente, ela é enviada para fazer uma entrega. É nesse momento que ela tem seu primeiro contato com o movimento sufragista. Ela vê mulheres atirando pedras em vitrines clamando por direito de voto. Uma delas que estão fazendo parte da manifestação é Violet Miller (Anne-Marie Duff), que trabalha com Maud. Esse contato a deixa num estado reflexivo. Maud começa a tomar consciência cada vez mais do estado de exploração do processo de trabalho fabril no qual ela e outras mulheres viviam. Ganhavam menos nas fábricas, eram exploradas no trabalho, eram assediadas e, sobretudo estupradas pelos patrões dentro do espaço fabril. Morriam cedo porque a insalubridade do trabalho das mulheres nas fábricas prejudicava a sua saúde. Partem do movimento global em busca do direito social das mulheres votarem e serem votadas, o chamado sufragista.
            Das personagens principais, apenas duas não são fictícias: Emmeline e Emily. Emmeline Pankhurst ajudou a fundar a União Social e Política das Mulheres, embrião da revolução sufragista. E Emily Wilding Davison, interpretada por Natalie Press, que teve um papel trágico, mas fundamental na luta política das sufragistas. Já Edith Wilding Davison, personagem em parte fictícia que representa uma farmacêutica apoiada na causa sufragista pelo marido, foi criação inspirada em duas mulheres: Edith New e Edith Margaret. No caso de Edith New companheira influente de Emmeline na Women`s Social and Political Union, e Margaret fora reconhecida por sua habilidade no Jiu-Jitsu e se uniu às sufragistas como guarda-costas e depois tomou lugar na militância. Edith Garrud tinha um metro e meio de altura. Aparentemente, não era páreo para os oficiais da Polícia Metropolitana de Londres. No entanto, ela tinha uma arma secreta: era formada na arte marcial japonesa jiu-jitsu. Nos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, ela se tornou instrutora de jiu-jitsu da União Social e Política das Mulheres (WSPU sigla em inglês). O grupo, que acabou conhecido como as suffragettes, protagonizou um movimento cada vez mais agressivo pelo direito ao voto feminino. Frustradas pelos resultados em sua campanha, recorreram à desobediência civil, a passeatas e atividades, incluindo agressões físicas e incêndios de propriedades.              
        A questão histórica encontra-se no uso da restrição ao voto como símbolo de opressão. Ao invés de se prender ao direito de votar em si, a prática eleitoral é utilizada como metáfora da “desigualdade entre os sexos” (cf. Riot-Sarcey, 1994; 2010; 2016). O verdadeiro tema do filme é a luta pela igualdade, pela defesa das minorias e pela eliminação dos dogmas machistas idealizados pelo cristianismo. Fala-se pouco sobre o voto em si, tendo em vista que o verdadeiro escopo político do roteiro é colocar em evidência questões morais que existem até hoje. Sarah Gavron tem um desempenho brilhante na direção fílmica. Ela retoma questões básicas do cinema dramático e histórico para demonstrar a ambientação nas ruas, quando as personagens falam, permitindo que o enquadramento se feche muito perto dos rostos. Tratando-se da luta entre atores sociais, a câmera treme freneticamente, quase perdendo as personagens de vista. As escolhas estéticas não são clichês, mas representam a vida política no trabalho como um ponto de vista manipulador e redutor da produção social. Os enquadramentos te dizem exatamente o que olhar. A trilha sonora amarga te diz quando pode chorar. As elipses te dizem com quais fatos sociais e políticos se preocuparem. A fotografia demonstra onde as personagens femininas estão seguras: entre amigas, à luz em locais escuros quando correm perigo revelando a violência em casa ou no trabalho.  
            Não queremos perder de vista que Elisabeth Souza-Lobo inovou, desde o início dos anos 1980, as pesquisas sobre gênero e trabalho particularmente no Brasil, dedicando-se ao ensino e à pesquisa nessa área sobre processo de trabalho a partir de 1982, no corpo docente do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). Ela conceptualizou, a partir das práticas operárias da região do ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul), a divisão do trabalho entre homens e mulheres e teve intenso intercâmbio intelectual com pesquisadoras da Europa, Estados Unidos da América e do Canadá. Sua morte prematura em março de 1991, aos 47 anos, impediu a realização de novas interpretações, pesquisas e intercâmbios. A disseminação de suas ideias se deu por colegas pesquisadoras, como também pelas sindicalistas e militantes políticas com quem conviveu afetivamente e trabalhou no dia a dia. Entre as especialistas da questão do gênero e trabalho no Brasil, foi uma das principais representantes em seu pioneirismo em analisar o difícil acesso das mulheres aos postos de comando no trabalho, sobretudo no campo político e sindical.
O filme procura expressar a quem amar e a quem detestar. Enquanto uma “filosofia à marteladas” o que é certo e o que é errado seguindo a cartilha da opressão entre trabalho e capital, não permitindo ambiguidades, reveladas através do olhar. O maior exemplo deste maniqueísmo duro no trabalho encontra-se na imagem dos homens que são, em quase todos os casos, apáticos e coniventes, e no limite dos casos, violentos e estupradores em série demonstrando a violência do processo fabril. As mulheres no elenco se saem muito bem. Carey Mulligan passa da fragilidade à força de modo comovente, Brendan Gleeson consegue trazer nuances importantes ao papel de vilão e Anne-Marie Duff possui uma energia impressionante em cena. Meryl Streep é apenas uma coadjuvante ilustrada, aparecendo durante menos de cinco minutos, e Helena Bonham Carter demonstra mais uma vez seu talento natural na relação dialógica. “As Sufragistas” se destacam pela coragem, pela representatividade temática na esfera sindical e política e na antropologia pela equipe inteiramente feminina, ipso facto deixando um gosto amargo, crítico ao fim da sessão.
Bibliografia geral consultada.
TRONTI, Mario, Stato e Rivoluzione in Inghilterra. Milão: Il Saggiatore, 1977; HIRSCHMAN, Albert, As Paixões e os Interesses - Argumentos Políticos a Favor do Capitalismo Antes de seu Triunfo. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1979;  SATRIANI, Luigi Maria Lombardi, Apropriación y Destrucción de la Cultura de las Clases Subalternas. México: Editorial Nueva Imagem, 1978; HOBSBAWM, Eric, The Age of Revolution: Europe 1789–1848. Londres: Weidenfeld & Nicolson Editors, 1978; THOMPSON, Edward Palmer, A Formação da Classe Operária Inglesa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1987; SOUZA-LOBO, Elisabeth, A Classe Operária Tem Dois Sexos. Trabalho, Dominação e Resistência. Tese de Doutorado. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991; WRIGHT, Erik Olin, Class, Crisis, and the State. London: New Left Books, 1978; Idem, Approaches to Class Analysis. Cambridge, UK New York: Cambridge University Press, 2005; CANÊDO, Letícia Bicalho, Ao Sufrágio Universal e a Invenção Democrática. São Paulo: Estação Liberdade, 2005; KARAWEJCZYK, Mônica, As Filhas de Eva querem Votar: Dos Primórdios da Questão à Conquista do Sufrágio Feminino no Brasil (c. 1850–1932). Tese de Doutorado.  Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2013; RIOT-SARCEY, Michèle, La Démocratie à l`épreuve des femmes, trois figures critiques du pouvoir (1830-1848). Paris: Editeur Albin Michel, 1994; Idem, De la différence des sexes. Le genre en histoire. Paris: Éditions Larousse, 2010; Idem, Le Genre en Questions: Pouvoir, Politique, Écriture de l’Histoire: Recueil de Textes 1993-2010. Paris: Éditions Créaphis, 2016; SILVA, Paulo Roberto Pinheiro da, O Paradoxo do Conhecimento Imediato ou o Desespero da Consciência Natural. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; DOMINGUES, Claudia Maria de Barros Fernandes, Mulheres em Movimento: Histórias Contadas e Vividas sobre Sororidade, Lutas e Afetos. Tese de Doutorado. Faculade de Comunicação Social. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2019; CARVALHO, Aline Machado, Ecos do Movimento Sufragista Britânico na Imprensa Portuguesa (1903-1918). Dissertação de Mestrado em Línguas, Literaturas e Culturas. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2019; entre outros.   

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

À Beira Mar - Solidão & Enamoramento como Produto de Saber.

                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

A felicidade em pessoas inteligentes, é das coisas mais raras que conheço”. Ernest Hemingway

     
           À Beira Mar narra a história social de um casal que se hospeda em uma região pouco frequentada no litoral francês. Juntos há 14 anos, os dois naturalmente vivem uma rotina separada um do outro. Ela passa o dia no quarto do hotel, enquanto que ele  fica no bar conversando com moradores na expectativa de ter uma ideia para seu próximo livro. O dia a dia da dupla muda com a chegada ao hotel de um casal de recém-casados. Além de Angelina Jolie e Brad Pitt, o longa-metragem também traz Niels Arestrup como o dono do restaurante e Mélanie Laurent e Melvil Poupaud como os recém-casados que ocupam o quarto vizinho aos protagonistas: um casal jovem, feliz, amigável e “incansável na cama”, que traz à tona todas as feridas do casal veterano. Juntos em cena desde a “guerra de egos” no filme: “Mr. & Mrs. Smith” (2005), ambos são os principais destaques, ambos se complementam na vida real integrando uma assinatura, ambos são senhores de seus próprios destinos. Angelina Jolie dirige, assina e protagoniza o drama ao lado de Brad Pitt. Ela parece representar o limite da razão, prestes ao fim do princípio do prazer e da loucura possessiva nietzschiana. Ao mesmo tempo, encarna a “soberania do eu” em contraste ao abandono social marcante. Ele aparentemente mais contido, oferece momentos de imperturbável desespero humano.
            Coincide com a dinâmica da história oral a ser utilizada nos anos 1950, após a invenção do gravador, nos Estados Unidos da América, na Europa e no México, e desde então se difundiu bastante. Ganhou também cada vez mais adeptos, ampliando-se o intercâmbio entre pesquisadores sociais que em seu ersatz a praticam: historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos e teóricos da literatura, psicólogos etc. No mundo ocidental é intensa a publicação de livros, revistas especializadas e artigos sobre história oral. Há inúmeros programas e pesquisas que utilizam os relatos pessoais sobre o passado para o estudo dos mais variados temas. Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de consumado o fato empírico que  investiga. Fazem parte, portanto, de um conjunto de fontes documentais de tipo biográfico, ao lado de memórias e autobiografias, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em geral. O que  torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a apreensão do passado pelas gerações presentes e a compreensão das experiências vividas pelos atores sociais.


            Vale lembrar que o “princípio de individualização” descreve a maneira segundo qual uma coisa é identificada como distinta de outros objetos e coisas. O conceito aparece em numerosos campos e é encontrado em obras de pensadores diversos desde Carl Jung à Friedrich Nietzsche, passando por Arthur Schopenhauer, David Bohm, Henri Bergson, Gilles Deleuze e Manuel De Landa. É expressa na ideia geral do “objeto de pensamento” poder ser referenciado sendo identificado como algo individual, logo “não sendo outra coisa”. Isso inclui como uma pessoa una é realizada para ser diferente dos outros elementos da vida social e como ela se distingue de outras pessoas. Através desse processo, há identificação menos com as condutas morais e valores encorajados pelo meio no qual se encontra e mais com as orientações emanadas do “Si-mesmo”, representando assim a totalidade referida analiticamente como o conjunto das instâncias psíquicas em torno da “persona”, “self”, etc. constitutivo da personalidade individual.
            Remete-nos ainda a refletir sobre a “contracultura” enquanto movimento social periodizado na década de 1960 quando teve lugar e espaço um estilo de mobilização e contestação social  utilizando novos meios de comunicação em massa. Jovens inovando estilos, voltando-se mais para o antissocial aos olhos das famílias mais conservadoras. Com um espírito mais libertário, resumido como uma cultura underground, de forma alternativa ou chamada “cultura marginal”, tendo como escopo principalmente nas transformações da consciência, dos valores sociais e dos comportamentos, na busca de outros espaços sociais e políticos, além de novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano. Embora o movimento hippie, almejasse a “tout court” a transformação da sociedade, através da tomada de consciência, da mudança de atitude e conhecimento do protesto político, seguramente não esteve só nestes aspectos sociais.
            Portanto, o que funciona positivamente para a compreensão do filme é o seu ritmo, que é sensivelmente “amarrado ao ideário romântico na relação entre o ser humano e o mar” (cf. Hemingway, 2005). Para quem não está acostumado com as cenas carregadas pelo silêncio da cotidianidade com poucos diálogos, procure o stress das cidades. Daí a contradição “não-antagônica” quando chegamos ao terceiro ato aflitos porque tudo parece bom, não acontece algo ruim e o fino drama no entorpece, sem sabermos como diante da paixão, aonde estamos indo. Após alguns minutos as coisas fazem mais sentido e cada cena parece sinalizar para a consciência. Temos que ter a “paciência do conceito”, filosoficamente falando, e para tanto a sabedoria para se envolver nos diálogos, nas cenas para não enaltecer o amor diante da solidão. O personagem de Brad Pitt também não recebe muita atenção sobre o passado e como acabamos construindo com ele uma relação positiva entre amargura e desejo.


           
            Essa assinatura pode ser rememorada psicanaliticamente na démarche de Angelina Jolie, já no filme “Garota Interrompida” (2000) tem como representação o ano de 1967. Mas trata-se de garotas marcadas pela sociedade, excluídas, consideradas insanas, doentes e descartadas logo no início da vida adulta. Polly, Georgina, Daisy e Lisa. Estão todas ali. O longa-metragem relata a história de uma jovem com “Transtorno de Personalidade Borderline”, que na década de 1960 havia tentado suicídio por estar deprimida. Por este motivo, sua família procura a ajuda de um psicanalista amigo da família e ambos decidem pela sua internação em hospital psiquiátrico. O padrão sociológico está presente no início da idade adulta e ocorre em uma variedade de situações e contextos sociais. Devido ao fato de um transtorno de personalidade ser um padrão mal adaptativo de experiências pessoais disseminado, contínuo, inflexível e com comportamentos patológicos, há uma relutância em diagnosticá-los antes da adolescência ou início da vida adulta. Entretanto, alguns enfatizam que, sem tratamento, os sintomas podem piorar. Outros sintomas incluem um intenso medo de abandono, crises de raiva e irritabilidade em contraste à razão.
            Mas também quando nos coloca analiticamente diante do processo de separação de Angelina Jolie e Brad Pitt que irá levar à venda um dos símbolos do casamento de casal: o Château Miraval, castelo ao sul da França, onde eles se casaram a pouco em 2014. Angelina Jolie e Brad Pitt se pronunciaram em conjunto pela primeira vez desde a separação. Na nota enviada à imprensa o casal que não se encontra desde o divórcio, confirmado pelo sigilo e desligamento indicado pela imprensa massificada há algumas semanas. – “Ambas as partes e seus advogados assinaram um acordo que prioriza preservar a privacidade das crianças e da família, mantendo todos os documentos confidenciais e determinando que um juiz privado seja o responsável por qualquer decisão legal para facilitar todas as decisões que precisem ser tomadas. Os pais estão comprometidos em trabalhar de forma conjunta em prol da recuperação e reunião da família”, diz o comunicado dos dois atores, separados desde agosto do ano passado.
Mas também nos aproxima do ponto de vista da “comunicação visual” do  expressionismo contido no filme norte-americano: “Summer of '42”, de 1971, do gênero drama, dirigido por Robert Mulligan e estrelado por Jennifer O`Neill, tendo sua história baseado nas memórias do roteirista Herman Raucher quando adolescente, que passara as férias de verão na ilha de Nantucket e vivera uma paixão platônica por uma jovem cujo marido estava fora, lutando na 2ª guerra mundial. A história descreve o afã de jovens garotos em “perder a virgindade”, ocasião em que apresenta aspectos morais de comédia. Ainda em 1971, com o sucesso do filme, Herman Raucher lançou um livro homônimo. A reedição mais recente do romance é de 2015. O filme teve uma sequência com os mesmos personagens, escrito por Raucher, intitulado: “Class of '44”, de 1973.
Filosoficamente a finitude é uma característica dos entes que se modificam ou têm limites. Cada atributo vale lembrar é infinito no seu gênero. Não é limitado pela Substância nem por outros atributos, pois não tem nada em comum com os mesmos. Cada atributo tem infinitos modos. Os modos são finitos ou limitados, pois estão em comunidade com outras coisas do mesmo gênero que eles mesmos. A limitação dos modos é carência de infinitude, ou simplesmente finitude, uma característica das coisas singulares que pertencem a certo atributo da Substância. E finitude significa ser limitado por outras coisas singulares do mesmo atributo. Todos os seres vivos são seres finitos isto quer dizer que todos morremos porque temos um final. A filosofia de Spinoza tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos estoicos na medida em que rejeitou fortemente a afirmação de que a razão pode dominar a emoção. Pelo contrário, analiticamente defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial deriva, entre as emoções ativas e passivas, sendo as primeiras àquelas que são compreendidas racionalmente e as outras: as que não o são.
“À Beira-Mar”, seguindo nesta direção, revela e descreve um casal norte-americano em crise emocional e artística em um resort litorâneo francês. Angelina Jolie é Vanessa, uma mulher que resolveu assumir sua relação exageradamente indisposta após ter abandonado a dança por causa da idade. O marido, Brad Pitt, é um escritor imerso na atividade intelectual em crise criativa profunda. A múltipla influência do plano profissional no âmbito pessoal, a fissura na relação de Roland e Vanessa é muito mais aparente do que profunda. Eles se distanciaram mais do que a intimidade e o respeito um pelo outro, durante os 14 anos de vida amorosa. Num certo momento, o marido descreve os dois como o casal perfeito de Nova York: - “eu era um escritor e ela, tinha um corpo incrível”. A depreciação de Vanessa não é puramente acidental e ajuda a compor o puzzle no âmbito do contexto social e psicológico da personagem, necessário para compreender o conteúdo de sentido de suas reações orgástico-libidinais. Estes episódios revividos na década de 1970 e distanciados paradoxalmente da contracultura assumem uma ideia conservadora de corte religioso cristã, pois cresceu acreditando no casamento como um dos objetivos finais na vida gozosa de uma mulher.
Por isso, quando questionada sobre sua profissão, define-se como “esposa” e resigna-se no sentido de Max Weber, de crítica e resignação, a passar dias inteiros ociosos dentro das quatro paredes do quarto do hotel. A viagem para o resort francês tem como prisma reaproximar afetivamente o casal. Enquanto Roland tenta rememorar com a esposa a felicidade perdida, Vanessa tenta de todas as maneiras “sabotar as investidas do marido”. Contudo, a chegada de um casal em “lua de mel” vai perturbar ainda mais as percepções de Roland e Vanessa de sua própria relação. O olhar para a cumplicidade e desejo do casal, vivido por Mélanie Laurent e Melvil Poupaud, parece contraditoriamente desestruturar ainda mais a ilusão solitária de Vanessa. Particularmente Roland vê no inesperado exercício de voyeurismo, uma oportunidade de restabelecer a aparente intimidade anteriormente conquistada com a esposa.
Etnograficamente a primeira referência a uma prática de “lua de mel” está descrita no Deuteronômio 24:5: - “Se um homem tiver se casado recentemente, não será enviado à guerra, nem assumirá nenhum compromisso público. Durante um ano, estará livre para ficar em casa e fazer feliz à mulher com quem casou”. Originalmente “lua de mel” simplesmente descreveu o período logo após o casamento quando o enamoramento está na sua fase mais encantadora. Presume-se que ela dure em torno de um mês. O primeiro prazo para isto em inglês foi “honeymoon”, que foi registrado já em 1546. Na cultura ocidental, o costume de recém-casados saírem de férias juntos originou-se no início do século XIX na Grã-Bretanha, um conceito emprestado da elite indiana. Casais endinheirados teriam um “tour de noiva”, por vezes acompanhados por amigos ou familiares, para visitarem parentes que não puderam comparecer ao casamento. A prática se espalhou ao continente europeu e passou a ser conhecido como “voyage à la façon anglaise”, difundido na França a partir do início da década de 1820.



Analogamente no filme eles passam a observar pacientemente toda a intimidade do casal francês, tornando erótica inclusive suas relações sexuais, com a percepção de um buraco na parede do quarto do hotel em que estão hospedados. A atividade produz efeitos conflitantes no casal, mas serve para tirar Vanessa da letargia em que ela se encontrava. Há um percentual nada desprezível de coragem por parte da direção cinematográfica de Angelina Jolie de caracterizar Vanessa e Roland como figuras inseridas no livre arbítrio de contexto artístico. Isto porque é razoável supor que comparações eróticas entre casais sejam no plano da ficção erótica, como no plano amoroso do casal história da vida real lubrifiquem e estimulem a imaginação angustiada pelo consumo efetivo do desejo. Estreitar os vínculos psíquico-afetivos entre eles é digno de “observação participante” neste sentido antropológico. Há outras possíveis referências que podem ser objeto de interação social, ipso facto de caráter permanente para aqueles homens e mulheres que também se reconhecerem enquanto voyeurs. Analiticamente o voyeurismo tem como representação do olhar uma prática que consiste num indivíduo conseguir “obter prazer sexual” através da observação de pessoas.
Assim, cada um regula tudo de acordo com o seu próprio afeto e, além disso, aqueles que são afligidos por afetos opostos não sabem o que querem, enquanto aqueles que não têm nenhum afeto são, pelo menor impulso, arrastados de um lado para outro. Sem dúvida, tudo isso demonstra claramente que tanto a decisão da mente, quanto o apetite e a determinação do corpo são, por natureza, coisas simultâneas, ou melhor, são uma só e mesma coisa, que chamamos decisão quando considerada sob o atributo do pensamento. Existe uma distinção sociológica entre a emoção e os resultados da emoção, principalmente os comportamentos gerados e as expressões emocionais. Mas a emoção não representa apenas uma experiência subjetiva, associada ao sexo e ao temperamento, personalidade e motivação. As emoções sempre se constituem sob as condições culturais ou associações combinadas com as emoções básicas, como a raiva e desgosto e podem ser combinados conjunturalmente em um sentido mais amplo em termos de desprezo, na vida social e política, o que leva à banalização da punição.  

Bibliografia geral consultada:

DELEUZE, Gilles, Spinoza et le problème de l’expression. Paris: Éditions Minuit, 1968; ALBERONI, Francesco, Innamoramento e amore. 1ª edizione. Milano: Editor Garzanti, 1979, pp.148 e ss.; XENAKIS, Françoise, Zut! on a encore oublie madame Freud. Paris: Éditions Hachette, 1984; ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon, Metáforas da Desordem. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1985; COSTA, Jurandir Freire, A face e o verso. São Paulo: Editora Escrita, 1995; Idem, “A Intencionalidade da Dor”. In: Folha de S. Paulo, 09/11/1997; Idem, “O mito psicanalítico do desamparo”. In: Revista Agora. Rio de Janeiro, v. 3, n°1, pp. 25-47, 2000; Idem, O vestígio e a aura - corpo e consumismo na moral do espetáculo. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2004; CAWTHORNE, Nigel, A vida sexual dos ídolos de Hollywood. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004; HEMINGWAY, Ernest, O velho e o mar. 50ª edição. Rio de Janeiro: Editor Bertand-Brasil, 2005; GAY, Peter, Modernismo: Fascínio da Heresia - De Baudelaire a Beckett e mais um pouco. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2009; entre outros.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A Íntima Decoração do Palácio Alvorada no Distrito Federal (BR).


                                                                                     Ubiracy de Souza Braga* 

O papel de Primeira-Dama do golpe: desfigurar a decoração interna do Palácio Alvorada”. Fernando Brito


          Em entrevista ao site “Poder 360”, dirigido por Fernando Rodrigues, editado por Teles Faria, o ex-secretário executivo da comissão de curadoria do palácio do Planalto e Palácio da Alvorada, Claudio Rocha, afirmou que o político Michel Temer (PMDB) e Marcela Temer estão mudando “todo o palácio”, com a exceção da biblioteca e do salão de banquete. – “Tapetúltimo presidente da República a assumir o cargo no Palácio do Catete. Foi empossado em 31 de janeiro de 1956, e governou por cinco anos, até 31 de janeiro de 1961. Seu vice-presidente, eleito em 3 de outubro de 1955, foi João Goulart, reconhecido popularmente como Jango (1919-1976), foi um advogado e político brasileiro, 24° presidente do Brasil, no período de 1961 a 1964. Não havia reeleição naquela conjuntura política pós-desenvolvimentista. Foi o primeiro presidente civil desde Artur Bernardes a cumprir integralmente seu mandato.ram substituídos, por uma questão de gosto pessoal, porque não gostam de tapete vermelho, os sofás têm sido substituídos, porque não gostam de sofá preto, ou porque não gostam do sofá cor de telha, apesar de essas cores terem sido escolhidas pela própria Anna Maria Niemeyer e Oscar Niemeyer na década de 1960”.
         Segundo Rocha, os carpetes vermelhos da rampa de acesso ao Planalto, das escadarias e do elevador foram trocados, sempre a pedido de Marcela Temer. As mudanças são comandadas pela chefia de gabinete dela. – “O problema é que o palácio é um espaço público, é um prédio tombado e não faz nenhum sentido esse tipo de interferência” (cf. Souza, 2015). A partir desse ano, a sede do poder executivo foi transferida para a recém-inaugurada cidade de Brasília. O edifício está localizado na Praça dos Três Poderes em Brasília, tendo sido projetado por Oscar Niemeyer. A construção começou em 10 de julho de 1958, obedecendo ao projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer e ao cálculo estrutural de Joaquim Cardoso. Fausto Amadeu Francisco Favale, designado por Juscelino Kubitschek, último presidente da República a assumir o cargo no Palácio do Catete. Foi empossado em 31 de janeiro de 1956, e governou por cinco anos, até 31 de janeiro de 1961. Seu vice-presidente, eleito também em 3 de outubro de 1955, foi João Goulart. Não havia reeleição. Foi o presidente civil desde Artur Bernardes a cumprir integralmente. 
       Seu mandato presidencial concretizou as ideias do arquiteto de “curvas e convicções” a respeito das colunas curvas da fachada, entre o projeto social arquitetônico e o cálculo estrutural, como a simbologia do vermelho: cor dos proletários revolucionários em todo o mundo que teve início com a revolução russa de 1917, o primeiro país socialista do mundo até 1991. Além disso, uma primeira-dama carismática pode ajudar a transmitir uma imagem positiva de seus maridos à população. O gabinete da Presidência da República é o principal local de trabalho do presidente do Brasil desde a inauguração de Brasília em 1960. O gabinete localiza-se no 3º andar do Palácio do Planalto. Antes da construção do Palácio do Planalto e do Palácio da Alvorada, o Palácio do Catete foi erguido no século XIX, no então chamado Caminho do Catete, atual bairro do Catete, região que surgiu com o aterramento de uma área coberta por mangues. A edificação foi erguida como residência da família de Antônio Clemente Pinto, Barão de Nova Friburgo, na capital do Reinado. Era denominado Palacete do Largo do Valdetaro, bem como Palácio de Nova Friburgo. Com projeto do arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt (1830-1873), datado de 1858, os trabalhos tiveram início com a demolição da casa de número 151 da Rua do Catete. A construção terminou em 1867, porém as obras prosseguiram ainda por mais de uma década.


                            
                    
A obra foi concluída a tempo de tornar o Palácio o centro das festividades da inauguração de Brasília, ocorrida em 21 de abril de 1960, data em que historicamente Joaquim José da Silva Xavier, o revolucionário Tiradentes, não se conformava com a exploração e colonização do Brasil. Ele queria que a pátria amada se tornasse livre, unindo-se aos revolucionários que tinham os mesmos objetivos, entre eles, advogados, poetas e padres, que tentavam libertar o Brasil do jugo português. Sua boa oratória e  espírito de liderança, o fez escolhido para comandar o movimento reconhecido Inconfidência Mineira, ocorrido em 1789. A decoração histórica e maravilhosa do Palácio da Alvorada, elaborada por Oscar e Anna Maria Niemeyer, assim como a fachada do prédio, residência oficial da Presidência da República, está sendo alterada para receber o inoportuno vice-presidente da República que não foi eleito Michel Temer e a esposa, Marcela Temer. Os dois ainda moram no Palácio do Jaburu, residência da vice-presidência, mas devem se mudar em breve para o Palácio da Alvorada.  O prédio foi projetado, junto com o restante da cidade de Brasília, por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1977.   
Historicamente após o falecimento do barão e da baronesa, o filho destes, Antônio Clemente Pinto Filho, o Conde de São Clemente, vendeu o imóvel em 1889, pouco antes da Proclamação da República, em que o povo assitiu bestializado, segundo a expressão popular, para um grupo de investidores, que fundou a Companhia Grande Hotel Internacional. No entanto, devido à crise econômica da virada do século XIX para o XX, conhecida por encilhamento, o empreendimento faliu e seus títulos foram adquiridos pelo conselheiro Francisco de Paula Mayrink, que, cinco anos mais tarde, quitou as dívidas junto ao então denominado Banco da República do Brasil. A sede do Poder Executivo do Brasil era o Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro. Em 1897, o presidente Prudente de Morais adoeceu e, entrementes, assumiu o governo o vice-presidente, Manuel Vitorino, o qual fez adquirir o palácio e ali fez instalar a sede do governo. O palácio foi sede do Governo Federal de 24 de fevereiro de 1897 até 21 de abril de 1960 quando a capital e o Distrito Federal foram transferidos para Brasília.         
Desde a Antiguidade já era dado ao vermelho atributo de poder, tanto na religião quanto na guerra. O deus Marte, os centuriões romanos e mesmo certos sacerdotes se vestiam nesta cor. Obviamente desde cedo se relacionava o vermelho com o sangue e com o fogo. Desde os princípios do cristianismo, o fogo vermelho era símbolo de vida, e um dos exemplos mais conhecidos dessa simbologia são as línguas de fogo que descem sobre as cabeças dos apóstolos no dia de Pentecostes. O sangue vermelho de Cristo é símbolo de salvação. Mas o vermelho contrariamente também tem outro sentido simbólico: é também a morte, o inferno, as chamas de Satã, a carne impura, os crimes, o pecado e todas as impurezas. Na Roma antiga, também se produzia um tipo de vermelho a partir de uma concha encontrada no Mar Mediterrâneo, a “murex”. Como era uma concha rara, obviamente só eram tingidas com esse pigmento as roupas do imperador e dos chefes de guerra. Mas na Idade Média já não era mais possível encontrar essa concha e os tintureiros descobriram  outra fonte para fabricar um belo pigmento vermelho: os ovos de um inseto conhecido como “cochonilha”, que é parasita de muitas árvores e do qual se extrai o “carmim”, uma variante do vermelho.              
Do ponto de vista psicológico a cor preferida remete-nos a um perfil básico das características da personalidade; a segunda cor que dá preferência indica os seus objetivos ou metas básicas na vida. A rejeição ou aversão a uma cor é altamente significativa, pois indica uma necessidade básica insatisfeita, não atendida, na sua personalidade, e que, portanto, gera tensão ou ansiedade. Se você não gosta ou tem aversão ao vermelho, indica que você se sente derrotado e frustrado. Apesar de um “gigantesco” esforço da sua parte, você sente que a vida não tem recompensado a sua luta. Você anseia por paz e segurança, porém por algum motivo não consegue encontrá-las. Você se sente ameaçado pelo ambiente intenso e agressivo que o cerca, porém não encontra saída. Em decorrência, você padece de uma sensação terrível de desamparo. Você deve de começar a usar o vermelho, mesmo que não goste. Com a continuação começará a gostá-lo. É a cor da vitória, por isso, é indicado para os frustrados.
        Vale lembrar, seguindo na direção analítica de Della Volpe (1967), nada menos que Goethe, por um lado, e Marx, por outro, incrementaram esta problemática quando o primeiro advertiu que “o mais alto lirismo é decididamente histórico” e que se se tentar, por exemplo, “separar os elementos mitológico-históricos das Odes de Píndaro” se verificará que assim “se cortou efetivamente a sua vida íntima”, e o segundo, depois de ter adiantado que, por exemplo, “a arte grega pressupõe a mitologia grega”, ou seja, “a natureza e as próprias formas sociais já elaboradas pela fantasia popular”, concluiu em seguida que a “dificuldade [para o materialista] não está no perceber que a arte [figurativa] e o epos dos gregos estão ligados a certas formas de desenvolvimento social”, mas que realmente a dificuldade [maior] reside no fato de “elas nos proporcionarem ainda um prazer artístico e sob certo aspecto terem valor de norma e modelo inatingíveis”. Nota-se a intuição da extrema complexidade do problema estético quando ele se coloca rigorosamente em termos materialistas e não já em termos positivistas. Melhor dizendo,  que a ligação histórica, social da obra de arte não pode condicioná-la, mas deve fazer parte, do prazer sui generis que ela nos proporciona: aquela espécie de sedimento vital, cuja presença na obra de arte tem de ser demonstrada pelo materialismo, propriamente.   
 No momento, o casal golpista Michel-Marcela Temer moram no Palácio do Jaburu, que serve de residência oficial para o vice-presidente da República.Michel Temer assumiu o comando do país em definitivo em 31 de agosto de 2016, com o afastamento de Dilma Rousseff pelo Senado no julgamento do processo aparente de “impeachment” da presidente da República federativa brasileira. A partir do golpe de Estado de abril de 2016 e da sua posse como presidente efetivo do país, M. Temer passou a cogitar a mudança para o Palácio Alvorada. A troca de palácios ocorreria em dezembro, mas está adiada para o início deste ano de 2017. Entre outras alterações no Palácio Alvorada, foi colocada uma tela de proteção na sacada do 1º andar. Essa ala do edifício abriga os aposentos privados da família presidencial. Esse equipamento é usado em apartamentos que têm crianças de pouca idade para evitar risco de quedas. Segundo Claudio Rocha,  foi pedida a instalação de proteção de amparo nos guarda-corpos de vidro.  
        Estas providências foram adotadas para resguardar a segurança de Michelzinho. Claudio Rocha trabalhou até dezembro de 2016 com o processo de mudança de Michel Temer e sua família do Palácio do Jaburu para o Palácio da Alvorada. Afirma que a equipe do presidente “tem considerado exclusivamente o gosto pessoal” na reforma. Experiente era funcionário do Planalto desde o governo do vice-presidente  José Sarney, mas também das gestões em que ocorrera a “quartelada parlamentar” contra Fernando Collor, etc., mas à exceção do mandato-tampão de Itamar Franco, ocorreram eleições livres com os candidatos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). Gláucio Rocha afirma que houve trabalho pós-ditadura militar para refazer a ambientação do Palácio da Alvorada conforme o projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. As principais alterações, segundo ele, ocorreram no governo do presidente de Luiz Inácio Lula da Silva. O Palácio Alvorada foi reformado de 2004 a 2006. Itens como sofás da cor preta e telha, seguiam a mobília original da década de 1960. Ocorre que esses itens estão sendo apagados da memória individual e coletiva por Marcela Temer na sua trágica mudança para o palácio.                       
Em boa parte do mundo ocidental o vermelho sinaliza perigo e atenção. Para um grupo de pesquisadores do Dartmouth College, nos Estados Unidos da América (EUA), não há nada de casual nisso: por algum motivo, durante a evolução da espécie humana, aprendemos a evitar a cor vermelha – e a nos sentirmos submissos em sua presença. Para demonstrar na prática o que acreditam ser uma característica universal, os cientistas submeteram machos de macaco “reso” – uma espécie que consegue enxergar vermelho, verde e azul - a alguns experimentos e observaram similaridades com o “comportamento humano”. Como esperavam os animais também demonstraram tendências a se afastar ou assumir um comportamento presumivelmente submisso na presença do vermelho. Para chegar a estes resultados, a equipe de pesquisadores fez com que um homem e uma mulher entrassem na colônia de macacos de Cayo Santiago, em Porto Rico. Então eles se ajoelharam, colocaram uma bandeja na frente dos macacos e tiraram um pedaço de maçã da mochila – de maneira que os animais de fato soubessem que a fruta estava em seu poder em suas mãos.
Depois, colocaram o alimento sobre a bandeja e se afastaram dois passos para trás. Precisaram a seguinte “observação participante”: se as roupas dos participantes eram vermelhas, os animais tendiam a pegar a maçã de outras bandejas – independente do sexo da pessoa que estava oferecendo a comida. Contudo, quando a vestimenta era azul ou verde os macacos seguiam diretamente para a maçã. A equipe de pesquisadores acredita que esta aversão ao vermelho reflete uma “adaptação evolutiva”. A associação da cor a um alimento, por exemplo, poderia indicar que ele não é comestível. - “Nós, primatas, somos visuais”, explica o neurocientista Jerald D. Kralik, envolvido no estudo. Se for verdade que o vermelho tende a incitar o sentimento de aversão no meio natural, o mesmo não pode ser dito das roupas masculinas. Estudo realizado em agosto de 2010 pela Universidade de Rochester nos Estados Unidos da América (EUA) demostrou que roupas avermelhadas são tomadas pela sociedade norte-americana como um sinal de prestígio e de status social, o que tornaria os homens mais desejáveis.
A cor vermelha significa paixão, energia e excitação. É uma cor quente. Está associada ao poder, à guerra, ao perigo e à violência. O vermelho é a cor do elemento fogo, do sangue e do coração humano. Simboliza a chama que mantém vivo o desejo, a excitação sexual e representa os sentimentos de amor e paixão. No contexto religioso, o vermelho é a cor da carne, do pecado, do diabo, da tentação; é a cor que provoca a paixão carnal e o desejo. Na política, a cor vermelha está associada ao espírito revolucionário. Representa a cor do comunismo e da ideologia política de esquerda. A cor vermelha estimula o sistema nervoso, a circulação sanguínea, dá energia ao corpo e eleva a autoestima. Um ambiente de vermelho se torna vibrante, com glamour, requinte e estimula a sexualidade. Em excesso, pode provocar inquietação. Na sala e na cozinha, o vermelho estimula o apetite e a sexualidade deixando-o mais convidativo.
             No âmbito político a bandeira vermelha é um emblema socialista e também comunista associado particularmente com a esquerda revolucionária. No entanto, faz parte da tradição socialdemocrata, estandarte utilizado pelo Partido Trabalhista do Reino Unido, pelo Partido Socialista Francês e grupos similares em todo o mundo globalizado. A utilização da bandeira vermelha por parte dos sociais democratas diminuiu à medida que muitos partidos políticos foram se distanciando da esquerda política. Por outro lado, o sentido radical da bandeira é muito mais antigo do que o socialismo. Na consciência popular individual e coletiva a bandeira vermelha está associada com o ideário comunista, o sindicalismo marxista em geral e as manifestações populares massivas, fato político que é cimentado com a imagem difundida com as bandeiras de República Popular da China e da União Soviética. Durante o período clássico revolucionário da Comuna de Paris, as bandeiras francesas da cidade foram retiradas e em seus lugares hasteadas bandeiras vermelhas. Enfim, o vermelho irradia-se como uma das sete cores do arco-íris, o vermelho representa uma das sete notas musicais, um dos sete céus, um dos sete planetas, um dos sete dias da semana. Simboliza um dos elementos vitais, o fogo. A dimensão horizontal, mais clara a oriente e mais escura a ocidente. É visto como elemento fundamental da vida e da sensualidade feminina. Como o sol, incita a ação, é tônico, forte e brilhante.
Claro, representa o lado masculino e escuro, o feminino, noturno, secreto; os mistérios da vida. Diz-se que ele seduz, encoraja e provoca; alerta, em forma de sinais - como os de trânsito -, proíbe e inquieta. Convida às casas de tolerância, transgredindo proibições e atiçando pulsões sexuais e de instintos passionais. Acredita-se que uma mulher vestida de vermelho jamais seria vista como inocente. Representante da carne e da possessividade, o vermelho é o glamour do tapete vermelho. O vermelho simboliza o fogo central, o ser humano e a terra. Para a alquimia, é a transmutação do homem universal e o sangue da imortalidade, na trilogia bachelardiana. O vermelho sagrado é a cor da alma, do coração, do esoterismo e da ciência. Relacionado aos mares e oceanos, nomeia-os sob o mesmo simbolismo - o ventre, o fogo no meio da vulva, no qual vida e a morte inscrevem-se num processo extraordinário de transmutação. Na morte, de acordo com Artemidorus, é púrpura e sombria. O vermelho é duo e ambíguo; é visto dialeticamente como puro e impuro. Quando varia ao vivo, rubro, negro, é ativo, belo, generoso e juvenil. É dito símbolo da vitalidade - na África negra, as mulheres tribais se pintam de vermelho antes de seus casamentos e ao que nascem seus primogênitos. Símbolo de vida e morte é a cor da guerra e da devastação pelo fogo e pelo sangue, e a cor da salvação representada pela Cruz Vermelha. Morreu a revolução! Viva a revolução!
Bibliografia geral consultada.
VOLPE, Galvano Della, Critica dell`Ideologia Contemporanea. Saggi di Teoria Dialettica. Roma: Editori Riuniti, 1967; Idem, Schizzo di una Storia del Gusto. Roma: Editori Riuniti, 1971; VIOLI, Carlo, Galvano della Volpe: Testi e Studi 1922-1977. Introduzione di Nicolao Merker. Messina: Edizione La Libra, 1978; FREUD, Sigmund, “Sobre la Más Generalizada Degradación de la Vida Amorosa (Contribuciones a la Psicología del Amor, II)”. In Sigmund Freud, Obras completas. Volumen 11. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1988; MOREIRA, André Luis Andrade, A Estrutura do Palácio da Justiça em Brasília: Aspectos Históricos, Científicos e Tecnológicos de Projeto, Execução, Intervenções e Proposta de Estratégias para Manutenção. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Brasília: Universidade de Brasília, 2007; JUNG, Carl, O Livro Vermelho. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2010; SILVA, Élcio Gomes da, Os Palácios Originais de Brasília. Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Brasília: Universidade de Brasília, 2012; MARTINS, Alexandre Augusto, Liberdade Estática, Razão Estética: Permeabilidades entre Arquitetura e Engenharia na Obra de Oscar Niemeyer. Dissertação de Mestrado em Ciências. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo, 2015; SOUZA, Felipe Luís Melo de, O Livro Vermelho de Jung: As Polaridades da Psique e as Concepções de Deus. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Instituto de Ciências Humanas. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2015; RODRIGUES, Marcus Vinicius Macri, Salão de Banquetes do Palácio do Catete: A Invenção de uma Tradição Clássica nos Trópicos. História Comparada entre as Representações Imagéticas de Pompéia e as do Palácio do Catete. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História Comparada. Instituto de História. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016; Artigo: “Temer e Marcela Mudam Decoração do Alvorada feita por Oscar Niemeyer”. In: http://www.cartacapital.com.br/13/01/2017; entre outros. 
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* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do Curso de Ciências Sociais. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará (UECE).