“Ele ouvia as coisas a respeito do evangelho e de Deus do jeito dele”. Robert J. Smith
A palavra igreja, ecclesia, a representação (αντιπροσώπευση) “casa de Deus” tem diversos significados nos livros Sagradas Escrituras, onde os cristãos se reúnem para cumprir seus deveres religiosos. O templo de Jerusalém era a casa de Deus e a casa de oração. O edifício dedicado pelos cristãos ao culto de Cristo, que os sacerdotes gregos chamavam “Kyriaké” (“a casa do senhor”), e, na língua inglesa, veio mais tarde a se chamar “Kirk” e “church”. Em Roma, essa assembleia denominada “Concio”, é aquela que falava “Ecclesiastes” e “Concionator”. No Novo Testamento, uma igreja é um grupo de cristãos que seguem a Cristo. A palavra pode ser usada para falar de todos aqueles que servem ao Senhor, não importa onde estejam (cf. Hebreus 12: 22-23). É frequentemente usada para descrever grupos locais de discípulos que se encontram para adorarem, para edificarem uns aos outros e para proclamarem o evangelho de Jesus. Nos domínios de engajamento social como práticas de lugares dos diversos príncipes em suas dinastias e Estados, existem cristãos, mas cada um deles se sujeita ao Estado do qual é membro, não podendo sujeitar-se às ordens de qualquer outra pessoa. É neste ambiente social de igrejas que encontramos homens escolhidos para supervisionar e guiar.
Os sistemas comuns de denominações, de ligas internacionais de igrejas e de hierarquias que ligam e governam milhares de igrejas locais, são invenções do homem. Não há modelo bíblico de tais arranjos. No Novo Testamento, os cristãos serviam juntos em congregações locais. Eles eram gratos pelos seus irmãos em outros lugares. Mas não tentavam criar laços de organização social onde os cristãos de um lugar pudessem dirigir ou governar o trabalho de discípulos de outro lugar. Este modelo claro se espraia se considerado o ensinamento específico sobre a organização social de uma igreja. É nesse sentido, para a etnografia de Hobbes (1991), que a Igreja pode ser entendida como uma pessoa, isto é, que ela “tenha o poder de querer, de pronunciar, de ordenar, de ser obedecida, de fazer leis ou de praticar qualquer espécie de ação”. O soberano civil é o chefe dos pastores, segundo a lei natural. Embora o poder tanto do Estado quanto da religião estivesse nas mãos dos reis, nenhum deles deixou de ser fiscalizado em seu uso e suas atribuições, a não ser quando bem quistos por suas capacidades de irradiação naturais ou por sua fortuna de bens. Se não existir a autoridade de uma congregação legítima, qualquer ato praticado é individual de cada um dos presentes que contribuíram para a prática desse ato.
O corpo percorre a história da ciência e filosofia. De Platão a Bergson, passando por Descartes, Espinosa, Merleau-Ponty, Freud, Marx, Nietzsche, Weber e Foucault, a definição de corpo demonstra um puzzle. Quase todos reconhecem a profusão da visão dualista de Descartes, que define o corpo como uma substância extensa em oposição à substância pensante. Podemos perceber que seguindo este modo de compreensão, sobretudo com o advento da modernidade, o corpo foi facilmente associado a uma máquina. O corpo foi pensado como um mecanismo elaborado por determinados princípios que alimentam as engrenagens desta máquina promovendo o seu bom funcionamento. Isto quer dizer que através dos exercícios de abstinência e domínio que constituem a ascese necessária, o lugar atribuído ao conhecimento de si torna-se mais importante: a tarefa de se pôr à prova, de se examinar, de controlar-se numa série de exercícios bem definidos, coloca a questão da verdade – da verdade do que se é, do que se faz e do que é capaz de fazer – no cerne da constituição do sujeito moral. E, finalmente, o ponto de chegada dessa elaboração é ainda e sempre definido pela soberania do indivíduo sobre si mesmo.
Neste aspecto Foucault nos adverte sobre a questão abstrata da analítica do poder que se constitui o marco histórico e pontual de “docilidade dos corpos”. Para ele o soldado é, antes de tudo, alguém que se reconhece de longe; que leva os sinais naturais de seu vigor e coragem, as marcas também de seu orgulho: seu corpo é o brasão de sua força e de sua valentia: e se é verdade que deve aprender aos poucos o ofício das armas – essencialmente lutando – as manobras como a marcha, as atitudes como o porte da cabeça se originam, em boa parte, de uma retórica corporal de honra. Eis como ainda no início do século XVIII se descrevia a figura ideal do soldado. Mas na segunda metade deste século, o soldado se tornou algo que se fabrica; de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a máquina de que se precisa; corrigiram-se aos poucos as posturas: lentamente uma coação calculada percorrer cada parte do corpo, assenhoreia-se dele, dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se prolonga, em silêncio, no automatismo dos hábitos; em resumo, foi “expulso o camponês” e lhe foi dada a “fisionomia de soldado”. Houve durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto de pensamento e, na prática, alvo de determinado sistema de poder. Encontraríamos sinais dessa grande atenção dedicada ao corpo que se manipula, modela-se, treina-se, que obedece, responde, torna-se hábil ou cujas forças se multiplicam descrito como “homem-máquina”.
O
grande livro do homem-máquina foi descrito simultaneamente em dois
registros: no anátomo-metafísico, cujas primeiras páginas haviam sido escritas
por Descartes e que os médicos, os filósofos continuaram; o outro,
técnico-político, constituído por um conjunto de regulamentos militares,
escolares, hospitalares e por processo empíricos e refletidos para controlar ou
corrigir as operações do corpo. Dois registros bem distintos, pois se tratava
ora de submissão e utilização, ora de funcionamento e de explicação: corpo
útil, corpo inteligível. E, entretanto, de um ao outro, pontos de cruzamento. “O
homem-máquina” de Julien Offray La Mettrie (1709-1751) é ao mesmo tempo uma
redução materialista da alma e uma teoria geral do adestramento, no centro dos
quais reina a noção de “docilidade” que une ao corpo analisável o corpo
manipulável. Em sua significação específica é dócil um corpo que pode ser
submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado.
Contudo, os famosos autômatos, por seu lado, não eram apenas uma maneira de
ilustrar o organismo; eram também bonecos políticos, modelos reduzidos de
poder: obsessão de Frederico II (1712-1786), rei minucioso das pequenas
máquinas, dos regimentos bem treinados e dos longos exercícios.
Para
Michel Foucault metodologicamente a questão a responder é a seguinte: Nesses
esquemas de docilidade, em que o século XVIII teve tanto interesse, o que há de
tão novo? Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de
investimentos tão imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está
preso no interior de poderes mito apertados, que lhe impõem limitações,
proibições ou obrigações. Muitas coisas, entretanto, são novas nessas técnicas.
A escala, em primeiro lugar, do controle; não se trata de cuidar do corpo,
massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalha-lo
detalhadamente; de exercer sobre el uma coerção sem folga, de mantê-lo ao mesmo
nível prático da mecânica – movimentos, gestos, atitudes, rapidez: poder
infinitesimal sobre o corpo ativo. O objeto, em seguida, do controle: não, ou
mais, os elementos significativos do comportamento ou a linguagem do corpo, mas
a economia, a eficácia dos movimentos, sua organização interna; a coação se faz
mais sobre as forças que sobre os sinais; a única cerimônia que realmente
importa é a do exercício. A modalidade, enfim, implica uma coerção
ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que
sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha
ao máximo em seu desenvolvimento o tempo, o espaço, os movimentos.
Esses
métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam
a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de
docilidade-utilidade, são o que podemos chamar disciplinas. Muitos processos
disciplinares existiam há muito tempo: nos conventos, nos exércitos, nas
oficinas também. Mas as disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e
XVIII fórmulas gerais de dominação. Diferentes da escravidão, pois não se
fundamentam numa relação de apropriação dos corpos; é até a elegância da
disciplina dispensar essa relação custosa e violenta obtendo efeitos de
utilidade pelo menos igualmente grandes. Mas também ocorre que são diferentes
também da domesticidade, que é uma relação social de dominação constante,
global, maciça, não analítica, ilimitada e estabelecida sob a forma de vontade
de poder singular do patrão, sendo quase seu “capricho”. Diferentes da
vassalidade que é uma relação de submissão altamente codificada, mas longínqua
e que se realiza menos sobre as operações do corpo que sobre os produtos do
trabalho e as marcas rituais de obediência. Diferentes do ascetismo e das
“disciplinas” de tipo monástico, que têm por função realizar renúncias mais do
que aumentos de utilidade e obediência, têm como fim um aumento do domínio de
cada um sobre seu próprio corpo.
O
momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo
humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco
aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o
torna tanto uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma
manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus
comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o
esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também
igualmente uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter
o domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se
quer, mas ara que operem como se quer, com as técnicas segundo a rapidez e a
eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e
exercitados, corpos dóceis. A disciplina
aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas
mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela associa
o poder do corpo; faz dele por um lado condicionando uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela
procura aumentar; e inverte, por outro lado a energia, a potência que poderia
resultar disso, e faz dela uma relação social de sujeição estrita. Se a exploração
econômica separa a força e o produto do trabalho, a coerção disciplinar
estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma
dominação acentuada.
Entendida
como consumo cultural, a prática do culto em geral ao corpo situa-se como preocupação
geral de mobilidade social, que perpassa a estratificação de classes sociais e
faixas etárias, apoiada num discurso clínico difuso que se refere tanto a
questão estética, quanto a preocupação alimentar com a saúde. Nas sociedades
contemporâneas há uma crescente apropriação do corpo, com a dieta alimentar e o
consumo excessivo de cosméticos, impulsionados pelo processo socsial de massificação da
propaganda/consumo a desde o desenvolvimento econômico dos anos 1980, onde o
corpo ganha mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. Nesse sentido, as
fábricas de imagens estéticas do vencedor como o cinema, televisão,
publicidade, revistas etc., têm contribuído. Ipso facto, nos leva a
pensar que a imagem da eterna fonte de juventude, associada ao corpo perfeito e
ideal, ao sucesso na educação, no trabalho e na vida amorosa atravessa as
etnias e classes sociais, compondo de maneiras diferentes diversos estilos de
vida.
Não um ato conjunto, como se fosse de um só corpo. Nem um ato dos ausentes ou daqueles que, estando presentes, eram contra a sua prática. Uma Igreja pode ser definida “como um conjunto de pessoas que professam a religião cristã, ligadas à pessoa de um soberano, que ordena a reunião e que determina quando não deverá haver reunião”. Ipsofacto, politicamente distingue entre a condição da pessoa e o ofício. Enquanto historicamente Maquiavel discutia as virtudes e deveres dos príncipes, como para Louis XIV “o Estado sou eu”, Hobbes desafiou tal conceito afirmando insidiosamente que “o príncipe poderia ser legitimamente substituído”. Nos Estados semelhantes assembleias são ilegítimas, comparativamente se não são autorizadas pelo soberano civil. É admitida ilegítima, portanto, a reunião da Igreja ocorrida em qualquer Estado em que tiver sido proibida. A emancipação do tradicionalismo econômico aparece indubitavelmente como um fato de apoio à tendência de duvidar da santidade da tradição religiosa, e de todas as autoridades tradicionais. É necessário observar, todavia, algo que muitas vezes tem sido esquecido, o fato de a Reforma não ter implicado a eliminação do controle da Igreja sobre a vida cotidiana, mas a substituição do controle vigente por uma nova forma.
Isto significou, segundo Max Weber (2002), o repúdio a um controle que era muito tênue na época, dificilmente perceptível na prática, e pouco mais do que formal, em favor de uma regulamentação de toda uma conduta, que, penetrando em todos os setores da vida pública e privada, era infinitamente onerosa e seriamente cumprida. O domínio da Igreja Católica, “punindo o herege, mas perdoando o pecador”, nasceu entre as mais ricas e economicamente mais avançadas nações, por volta do século XV. O domínio do Calvinismo, como o introduzido no século no século XVI, em Genebra e a na Escócia, na passagem do século XVI para o XVII, em grande parte dos países Baixos, no século XVII na Nova Inglaterra, seria a forma mais insuportável de controle eclesiástico do indivíduo que até então pode existir, o que coincide na forma de uma definição conceitual, embora provisória, do que se entende por “espírito do capitalismo”.
James Joseph Brown Jr. (1933-2006) foi um cantor, dançarino, compositor e produtor musical norte-americano reconhecido como uma das figuras mais influentes do século XX na música. Em vida, vendeu mais de 100 milhões de álbuns e é reconhecido como um dos maiores artistas de todos os tempos. Como um prolífico cantor, compositor, dançarino e bandleader, James Brown representou uma força fundamental na indústria cultural sobretudo, o modo de produzir culturalmente a música negra. Deixou sua marca e talento em diversos artistas ao redor do mundo ocidental, incluindo o Rei do Pop Michael Jackson, influenciando até mesmo os ritmos da música popular africana, como o afrobeat, juju e mbalax e forneceu o modelo para todo um subgênero do funk, o go-go. Brown começou sua carreira profissional em 1956 e fez fama no fim da década de 1950 e começo da década de 1960 com a força de suas apresentações ao vivo e várias canções de sucesso. Apesar de vários problemas pessoais, continuou fazendo sucesso durante os anos 1980. Além de sucesso como músico, teve presença nas questões políticas dos Estados Unidos da América durante os anos 1960 e 1970.
A carreira artística de James Brown atravessou décadas e influenciou profundamente o desenvolvimento de diferentes gêneros musicais, fazendo apresentações em concertos, primeiro na região Sul dos Estados Unidos, depois por toda a América do Norte e então pelo mundo ocidental, além de se apresentar em shows de televisão e filmes. Embora tenha contribuído com a música por seus vários sucessos, curiosamente sem nunca atingir o número um da parada de sucessos. Entrou nas paradas apenas no começo dos anos 1960, mas com sucessos como a cover “Night Train” em 1962. Enquanto os singles de Brown eram grandes hits no chamado “chitlin' circuit”, no Sul dos Estados Unidos e na parada R&B Top Ten, ele o grupo “Famous Flames” não tinham sucesso nacionalmente até a apresentação ao vivo gravada no LP de 1963 “Live at the Apollo”, lançado pela King Records com objeções do dono da gravadora Syd Nathan, que não viu potencial comercial em um álbum ao vivo sem nenhuma canção nova. Apesar das expectativas contrárias de Nathan, o álbum ficou nas paradas pop por meses, atingindo o número 2. Em 1963 Brown revelou uma versão da balada “Prisoner of Love”, seu primeiro sucesso a atingir o Top 20, quando fundou sob os olhos da King Records a incipiente Try Me Records, primeira tentativa do artista em gerenciar uma gravadora.
Nos Estados Unidos da América, os adultos negros têm quase duas vezes mais hábitos do que qualquer outro grupo étnico de ler a Bíblia durante uma semana típica. Os negros são mais propensos a evangelizar e compartilhar sua fé. Os adultos negros são 50% mais crentes do que os adultos brancos em afirmar que a Bíblia é totalmente precisa em tudo o que ensina. Como resultado destas e outras tendências, há mais grandes igrejas de etnia negra com 2.000 membros ou mais do que qualquer outra etnia. A influência da igreja negra sobre os norte-americanos não é algo novo. Os negros, historicamente, têm feito um grande impacto espiritual: Durante o “Grande Despertar” da década de 1740, os negros vieram a Cristo aos milhares. Os negros deram à luz ao jazz e o blues, algumas das poucas formas originais da música negra que ajudou à criação da música gospel. Homens da igreja formal, principalmente no ativismo, o reverendo Martin Luther King Jr. e muitos outros que estavam por trás demonstravam as reivindicações da igreja negra a toda massiva sociedade norte-americana.
Robert J. Smith (2012) observa que o grito é algo que vem da igreja negra; durante os últimos cem anos, em que outro lugar um homem negro podia gritar assim em público a não ser numa igreja? Onde mais não teria ele sido açoitado, ou submetido à lei ou colocado à margem por ter feito os sons que James Brown faz com exuberância dentro do teatro Apollo? É um grito ativado pela igreja, mas que não vem dela, um grito que é um agente de mudança. O grito: é um som agressivo, sempre foi. Brown espelhava-o por todo o Apollo, fazendo-o ecoar pela espiral ascendente e descendente de “Lost Someone” e estendendo-o por dez minutos, transformando a música numa viagem em que os gritos marcam nosso avanço. Ele constrói um universo de gritos, um universo que não é só dele: - “I`m not singing a song myself, now/I`m singing it for you, too”. É uma agressividade transformada em processo de comunicação que ele joga em cima da plateia e que receber de volta. Brown tinha raízes no mundo da música gospel, mas não frequentava muito à igreja. Quando garoto, ele observava os pastores e “tinha vontade de ser como eles; só não queria ser um deles”.
Em suas próprias palavras, não ia muito à missa, e quando o fazia, era cada hora numa igreja diferente, sem se filiar a nenhuma. Mais do que Tom Dorsey ou Ray Charles, ou qualquer um exceto Aretha Franklin, ele era um músico que colocava o som e o sentimento da fé negra na arena popular, demonstrando a todos que não existe o que chamamos de frequentador de igreja. Era possível identificar com maior facilidade as reivindicações nos cantores negros, e é por isso que Brown e Aretha Franklin e muitos outros depois deles eram vistos com toda a razão como pessoas que traziam o gospel para o mercado – mesmo pessoas brancas que nunca haviam estado dentro de uma igreja negra não podiam deixar de ver a obviedade nisso. Eram chamados de cantores “soul”. Os vocalistas chamavam mais atenção, mas na verdade todo um estilo de se apresentar estava passando do púlpito para o Apollo por meio dos ritmos santificados em que os melhores bateristas tocavam. Mas de uma forma envolvente partindo dos movimentos corporais que indicavam a presença de forças maiores, da crença de que o artifício devia ser posto de lado. E, além disso, que o caminho à frente era iluminado por uma verdade direta que vinha de dentro, do interior, mas que não tinha origem lá. E isto porque todos se encontravam numa reunião diferente, sintonizados no momento, um momento histórico para os afro-americanos.
James Meredith representava um movimento de uma só pessoa. Quando o homem do Mississippi partiu pela Highway 51 num protesto que ele chamou de marcha, estava sozinho. Mesmo sem um seguidor sequer, ele não se importou em marchar sozinho. Mas Meredith foi bem-sucedido em seu intento de se tornar o primeiro afro-americano a ser admitido na Universidade do Mississippi, e sua provação, o abuso e as ameaças que suportou, fizeram dele notícia em todo o país em 1962. Para os habitantes do Mississippi, era um líder negro tão importante quanto Martin Luther King Jr. Em 1966, Meredith anunciou sua “Marcha Contra o Medo”, indo de Memphis até a capital do estado de Mississippi, Jackson, a fim de demonstrar que os defensores da supremacia branca não podiam impedir o registro de eleitores negros. A marcha teve início em 5 de junho de 1966. Foi interrompida em 6 de junho, depois de Meredith te sido baleado por um homem branco com um revólver na periferia de Hernando, na própria Mississippi. Nos dias que se seguiram, Meredith ficou num hospital de Memphis, recuperando-se.
A marcha foi retomada do ponto em que Meredith tombara dessa vez com pessoas provenientes da Southern Christian LeadershipConference, de Martin Luther King, do Congress of Racial Equality e do Student Nonviolent Coordinating Committee (SNCC). Em sua marcha pela Higway 51 em direção a Jackson, os ativistas acampavam à beira da estrada. Quando na cidade de Greenwood, Mississippi, Stokely Carmichael andava passo a passo com agentes da lei. Eleito presidente do SNCC um mês antes, ele era um dos mais inflamados líderes da marcha retomada. Os brancos locais e as forças policiais cercaram os manifestantes, e agressores brancos estavam sendo identificados pela multidão. Carmichael chamou a atenção para um policial violento que agia no local. Foi então detido e levado à cadeia de Greenwood. Ao ser solto, uma multidão de talvez mil pessoas haviam se reunido para ouvir o discurso de Carmichael. – “Esta foi a vigésima sétima vez que fui preso. Não pretendo mais ir para a cadeia”. Nesta hora, ele pronunciou um novo slogan que havia testado por acaso com as pessoas à sua volta. Agora seria o grande teste. – “Queremos Black Power sem nos envergonhar disso”.
A informação de que James Brown estava chegando espalhou-se entre as pessoas. Haviam sido feito apelos a celebridades para que demonstrassem seu apoio, e um homem do Sul, um superastro cuja música conotava negritude, não teria como não se sentir impelido a participar. Talvez Brown tivesse uma afinidade pessoal com Meredith, outro touro, outro individualista que não se sentia à vontade com filiações a grupos. James Meredith, 1º negro a se formar na Universidade do Mississipi. No final de seu primeiro semestre na “Ole Miss”, Meredith havia dado uma coletiva de imprensa anunciando que “o Negro não deverá voltar”. Ele então acrescentou: - “No entanto, decidi que eu J. H. Meredith vou me matricular no segundo semestre”. Como Brown, ele insistia em ser visto como uma pessoa, não como uma categoria, e era um solitário com um traço de grandiosidade. Havia sido uma procissão longa, contundente, até o fim dela. Em Canton, em 24 de junho, Luther King estava discursando para os manifestantes da marcha quando soldados do estado soltaram gás lacrimogênio na multidão, e os participantes correram em todas as direções.
James Meredith
Muitos se lançaram em valas para poder respirar o ar perto do chão. Ali foram espancados pelos soldados, que os agrediram com a coronha dos rifles. No dia seguinte, chegaram às portas de Jackson e se detiveram no Tougaloo College, uma instituição negra logo à saída da cidade. À tarde, King e outros líderes se reuniram na casa do reitor para avaliar a situação e planejar uma programação que marcasse o final da marcha. Harry Belafonte havia organizado a programação, que também incluía Sammy Davis Jr. e Marlon Brando, mas Brown era indiscutivelmente o grande astro. Ele havia reunido uma versão de sete membros de sua banda em Cincinnati, colocou-os no seu Learjet e voou até Jackson. Para poder chegar ao palco, Brown foi guiado através da multidão aglomerada pelo ativista barbudo do SNCC, Cleveland Sellers; a revista Jet disse que ele parecia Moisés dividindo as águas do Mar Vermelho. Imagens filmadas do dia mostram Brown e a banda numa plataforma no alto do morro, com uma floresta atrás deles. Eles parecem pequenos e sérios, diminutos em relação ao seu entorno.
As discussões sobre o sentido do movimento BlackPower iriam dividir muitos afro-americanos durante os anos seguintes. Muitas pessoas que iriam se ver no centro da discussão estavam presentes em Tougaloo. Muitas iriam seguir Carmichael e perder sua fé na não violência e na crença de que brancos e negros poderiam construir juntos uma igualdade.King e aqueles por trás dele iriam fazer um apelo moral à América, um apelo baseado em interesses compartilhados. No espaço entre eles estava Brown. Eles e tornou, de acordo com Robert Smith, “um político cultural” no exato momento em que desembarcou do avião em Jackson. Quando deixou a cidade, ele descobriu que seu portfólio havia ficado bem mais complicado. Brown canta: “It`s a man`s world, but it wouldn`t be nothing without a woman or a girl”. Curiosamente, a música começa com uma declaração orgulhosa, e depois tudo passa para uma confissão. Ao final da letra, o homem nesse mundo dos homens está “perdido no deserto, perdido na amargura, perdido em algum lugar da sua solidão”. É uma exaltação muito peculiar da virilidade: uma promessa de que irá deixa-lo sozinho, corrompido e uivando como um jacal.
A canção não seria nada sem uma mulher em particular, Betty Jean Newsome, que teve grande participação na sua composição, e que passou vários anos lutando para que seu nome fosse creditado na autoria da música. Brown conheceu Newsome da maneira usual: estava cantando no Apollo Theatre em 1965, viu um rosto bonito na plateia e mandou um assistente trazer a mulher até o camarim. Eles começaram a viajar juntos. Era um relacionamento turbulento. Ele insistia em que as coisas fossem de um certo modo, e ela tampouco era fácil. Talvez fosse parte da atração. – “Ele queria que as mulheres dele carregassem cãezinhos pequenos no colo”, disse Newsome. – “Eu não vou carregar nenhum cachorrinho dele no colo. Nem bebês. – Quando estávamos indo para o sul na Limousine, alguém comentou que a maioria das mulheres de Brown tinha tido filhos dele - ´Por que você não quer ter filhos dele? - ´Por que me pergunta isso? – Eu não pretendo ter nenhum desses filhos dele com cara de macaco`. Eles acharam que ele ia me atirar a tapa para fora da Limousine depois do que eu disse.
Um mês depois do concerto de Tougaloo, a imprensa negra estava cheia de notícias de que Brown havia sido agredido por seu cabeleireiro. Havia sido atingido tão brutalmente que talvez não pudesse trabalhar devido aos ferimentos – tão graves que ele entrara com um processo contra o agressor. Algumas pessoas ficavam imaginando como é que um cabeleireiro tinha conseguido bate num ex-boxeador. Outros caíam no sarcasmo. – “Apesar de gostar de usar capas esvoaçantes como as do Batman sapatos de verniz, maquiagem com pacake, cílios postiços e sombra nos olhos, nada no histórico de James Brown faz crer que seja afeminado”, escreveu o colunista do ThePhiladelphia Tribune. Brown estava processando seu antigo cabeleireiro, Frank McRae, sob a alegação e ter sido agredido por ele. O evento que precipitou isso havia ocorrido váios anos antes, em Los Angeles, depois que os haviam bebido no Tommy Tucker`s Playroom. McRae, Brown e sua namorada subiram no Fleetwood roxo e prateado de Brown e dirigiram até a Dolphin`s of Hollywood, uma loja de discos junto à Central Avenue. O cantor foi até a loja e McRae estava indo estacionar o Fleetwood quando foi parado por um carro da polícia. McRae tinha hálito de bebida. Um dos policiais chamou-o de “preto” e de outras coisas, enquanto o colega ficava coma mão no revólver. McRae estava escolado nesse tipo de situação por ter viajado pelo Sul com Brown, por isso disse apenas “sim senhor”. Eles o multaram e foram embora.
Enfim, em março de 1966, ele fez sua primeira visita à Inglaterra e á França. No mês seguinte, a revista Time disse que sua “ascensão no mercado de massas é sinal de que a música racial está talvez finalmente se tornando inter-racial”. As coisas agora aconteciam com rapidez, e continuariam assim durante muitos anos. O tempo aparentemente se acelerava, o planeta se encurtara com a utilização das tecnologias, mas o sucesso individual e coletivo era como uma joia pressionada contra a palma da mão, com muitas decisões a serem tomadas ao mesmo tempo, e com muitos eventos a serem enfrentados com a explosão do mercado fonográfico. Em meados da década de 1960, nenhum concorrente significava tanto para James Brown como Jackie Wilson. Um competente cantor de Detroit, que também havia sido um bom boxeador e um ótimo dançarino, e também era empresariado por Ben Bart. Portanto, ambos tinham muito em comum, o que já era problema suficiente. Mas havia muita coisa que não era igual entre eles, e talvez isso fosse pior ainda. Wilson tinha a pele clara, era bonito e fazia sucesso com as mulheres sem se esforçar, e Brown se ressentia dele em muitos aspectos. – “Por ser mulato, ele não tinha a mesma energia e força que eu”, Brown declarou mais tarde. – “O que fez Jackie ter sucesso foi sua cor de pele. Naquela época, se você tinha a pele clara, você se dava bem. Fui eu que tornei as pessoas de pele escuras populares”.
Bibliografia geral consultada.
FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1987; HOBBES, Thomas, Leviatano. Tradutore Giuseppe Micheli. Biblioteca Universale Rizzoli, 1991; WEBER, Max, La Ética Protestante y el Espiritu delCapitalismo. Madrid: Mestas Ediciones, 2002; ESSINGER, Silvio, Batidão: Uma História do Funk. Rio de Janeiro: Editor Record, 2005; RIBEIRO, Rita Aparecida da Conceição, Identidade e Resistência no Urbano: O Quarteirão do Soul em Belo Horizonte. Tese de Doutorado. Departamento de Geografia. Universidade Federal de Minas Gerais, 2008; GUIMARÃES, Celso, Banda Black Rio e Samba-Funk: Um Estudo de Caso. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Música. Centro de Letras e Artes. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2008; SMITH, Robert Joseph, James Brown, sua vida, sua música. Tradução de Luís Reyes Gil. São Paulo: Editora Leya, 2012; ALBUQUERQUE, Carlos, “O Gênio Indomável e Indecifrável de James Brown”. Disponível em:https://oglobo.globo.com/08/07/2012; TAVARES, Ana Cristina, “James Brown, Pai do Soul e Lenda da Música Pop, pôs Gerações para Dançar”. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/08/12/2012; PASSOS, Enrico Marques Ferreira, Funk Ostentação. O Luxo da Periferia. Dissertação de Mestrado em Estudos Culturais Contemporâneos. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde. Universidade FUMEC, 2016; FELIZARDO JUNIOR, Luiz Carlos, Na Encruzilhada do Soul: Lazer, Educação, Dança e Transgeracionalidade na Metrópole. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos do Lazer. Escola de Educação Física, Fisioterapia de Terapia Ocupacional. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2017; CARVALHO, Paula, A Encruzilhada do Rap - Produção de Rap em São Paulo entre 1987 a 1998 e seus Projetos de Viabilidade Artística. Dissertação de Mestrado. Departamento de Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2019; PATRICK, Arnoldt Jason, Transformações no Funk Carioca (1980-2017): Cenário Sócio-histórico e Cultural. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Música. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019; entre outros.
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Paulo Freire
O acesso à educação básica cresce a cada ano em progressão aritmética (PA). Essa proposta é recorrente nas metas dos governos. Desde 1970 o número de estudantes de 4 a 17 anos nas instituições de ensino subiu estatisticamente de 48% para 94,2%. Tamanha demanda exigiu a construção de novas escolas, adequação da grade curricular e capacitação dos educadores e gestores. E vale lembrar que ainda temos 2,5 milhões de crianças fora da sala de aula. Passaram-se mais de 20 anos da aprovação da LDB e a questão que fica é: quais foram os avanços que tivemos até aqui? A Lei foi o ponto de partida para a criação de mecanismos de avaliação do ensino, como o Índice deDesenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e o Censo Escolar. Saímos da caverna e passamos a reconhecer melhor a realidade educacional do Brasil. Duas décadas seria tempo suficiente para criar toda uma geração com educação de qualidade, da creche à universidade. Foram cinco mandatos para institucionalizar o direito garantido aos estudantes, mas não chegamos lá e ainda temos verba reduzida em 2019. Os cortes do governo fascista do Partido Social Liberal (PSL), mas liberal apenas na economia, é conservador politicamente e demonstra que a educação não é e nem pretende ser a prioridade do governo.
Motivação tem como representação um processo psicológico e sociológico, responsável por impulso no comportamento para uma determinada ação, que o estimula para realizar suas tarefas de tal forma que o objetivo esperado seja alcançado de forma social satisfatória. Na política contemporânea o que se faz andar são relíquias de sentido e muitas vezes seus detritos, os restos invertidos de grandes ambições. Nesses núcleos simbolizadores se esboçam e se fundem três funcionamentos distintos, mas conjugados, das relações políticas entre práticas espaciais e significantes: o crível, o memorável e o legado primitivo. A partir da análise do filme “Invictus”, dirigido por Clinton Eastwood. (2010), a liderança e democracia revelam ética desolidariedade, ou respeito, sem forçá-las para que isso aconteça. E dessa forma as pessoas se sentem motivadas a realizarem seus trabalhos sem uma pressão “superior”, dando-lhes bem-estar em seu ambiente. Uma ética da solidariedade exige que a compreensão em relação ao outro, fundamentada na busca do bem comum em sentido global, busque acima de tudo a valorização da pessoa humana e concretize os ideais de fraternidade e igualdade, operando acima da luta pessoal e interesses de classe.
Estas considerações referentes à motivação nos levam a entender que o processo está intimamente ligado ao comportamento do indivíduo. Melhor dizendo, o que ele busca alcançar; é claro e faz se lembrar de que o ambiente é fator preponderante para a busca da realização das necessidades, e vários fatores são responsáveis pela motivação humana. O que determina a escolha de um ponto de vista sobre o sujeito e o mundo são os objetivos pragmáticos. Assim, deixamos de lado a posse de uma teoria fundada em exigências lógicas ou achados empíricos incontestáveis. Poder, interesse, dominação, realidade material, são indispensáveis à análise que nos habituaram a aceitar como verdadeira, pela força ou pela persuasão dos costumes. Para efeitos da ação, só existem eventos descritivos. A descrição preferida do intérprete será a mais adequada às suas convicções morais e não a mais iluminada pela Razão. Política é regulação da existência coletiva, poder decisório, disputa por posições de mando, confrontos entre mil formas. Violência em última análise. É também diferente da produção simbólica, porque se exercita sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre o seu próprio corpo.
A verdade é que em nossas sociedades tudo está impregnado de ideologia, quer a percebam, quer não. Além disso, na cultura liberal-conservadora o sistema ideológico socialmente estabelecido e dominante funciona de modo a apresentar – ou desvirtuar – suas próprias regras de seletividade, preconceito, discriminação. O discurso ideológico domina a tal ponto a determinação de todos os valores que muito frequentemente não temos a mais leve suspeita de que fomos levados a aceitar, sem questionamento, um determinado conjunto de valores ao qual se poderia opor uma oposição alternativabem fundamentada, juntamente com seus comprometimentos mais ou menos implícitos. O próprio ato de penetrar na estrutura do discurso ideológico dominante inevitavelmente apresenta os seguintes aspectos condicionantes preestabelecidos: a) quanto (ou quão pouco) nos é permitido questionar; b) de que ponto de vista: social, econômico ou político; c) com que finalidade existe e se estabelece uma relação com a ideologia dominante. Isto é importante do ponto de vista analítico e opera uma distinção no âmbito da formação de uma Teoria das Ideologias.
Tese do presidente fascista Jair Messias Bolsonaro (PSL). Primeiro a universidade não poderá pagar água e energia. Depois os contratos de prestação de serviços (como limpeza e segurança) deixarão de ser cumpridos. Em seguida, o restaurante universitário ficará sem recursos. Programas de assistência a estudantes pobres também estão ameaçados. E se a medida não for revista, o corte comprometerá as atividades da universidade já no segundo semestre deste ano. Este é um resumo dos primeiros efeitos da asfixia financeira de Bolsonaro na educação e ciências do Brasil, divulgado por várias instituições, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que teve bloqueio de 30% de suas verbas de custeio, em 48 milhões de reais. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve suspensão de 41% das verbas destinadas à manutenção, no valor de 114 milhões de reais, apontou ainda o bloqueio de recursos para investimentos que impede o desenvolvimento de obras e compra de equipamentos para laboratórios e hospitais. – “Há cinco anos a Universidade vem sofrendo cortes e contingenciamentos sem reposição. Em valores corrigidos, a diferença entre o orçamento de 2014 e o de 2019 é superior a 200 milhões de reais”, informou a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A ideologia dominante do sistema social estabelecido se afirma fortemente em todos os níveis, do mais baixo ao mais refinado. De fato, há muitos modos pelos quais os diversos níveis do discurso ideológico se intercomunicam. Compreensivelmente, a ideologia dominante tem uma grande vantagem na determinação social do que pode ser considerado um critério legítimo de avaliação do conflito, segundo Mészáros (2004), já que controla efetivamente as instituições culturais e políticas da sociedade. Pode usar e abusar abertamente da linguagem, pois o risco de ser publicamente desmascarada é pequeno, tanto por causa da relação de forças existentes quanto ao sistema de dois pesos e duas medidas às questões debatidas pelos defensores da ordem estabelecida. Este sistema movido pela ideologia e viciosamente tendencioso, é evidente em toda parte: mesmo entre aqueles que se orgulham em dizer que representam a qualidade de vida. Dificilmente poderia ser representado de outro modo. A ordem dominante precisa aplicar para si mesma os critérios radicalmente diferentes daqueles que devem ser mantidos em sua posição subordinada. Obviamente, o pensamento social que identifica os próprios desejos com a realidade não tem vergonha nem tem limites.
Claro está, que o poder da ideologia não pode ser superestimado. Ele afeta tanto os que negam sua existência quanto os que reconhecem abertamente os interesses e os valores intrínsecos às várias ideologias. É de todo inútil pretender que seja de outro modo. A crença de que se possa estar livre da ideologia no mundo contemporâneo não é mais realista do que a ideia de Marx que pensava que os homens se afogavam por estarem possuídos pela “ideia de gravidade”. Na verdade, a ideologia não é ilusão nem superstição religiosa de indivíduos mal-orientados, mas uma forma específica de consciência social, materialmente ancorada e sustentada. Como tal, não pode ser superada nas sociedades de classe. Sua persistência se deve ao fato de ela ser constituída objetivamente (e constantemente reconstituída) como consciência prática inevitável das sociedades de classe, relacionada com a articulação de conjuntos de valores e estratégias rivais que tentam controlar o metabolismo social em todos os seus principais aspectos. Os interesses sociais que se desenvolvem ao longo da história e se entrelaçam conflituosamente manifestam-se, no plano da consciência social, na grande diversidadede discursos ideológicos relativamente autônomos e mais tangíveis deste metabolismo.
Em outras palavras, as diferentes formas ideológicas de consciência social têm implicações práticas de longo alcance em todas as suas variedades, na arte, na literatura, assim como na filosofia e na teoria social, independentemente de sua vinculação sociopolítica a posições progressistas ou conservadoras. É esta orientação prática que define também o tipo de racionalidade apropriado ao discurso ideológico. Não produz mensagens, discursos cotidianos, produzem obediências, obrigações, submissões, controles. Poder, na modernidade contemporânea é uma relação social de mando e obediência. São decisões tomadas politicamente que se impõe a todos num dado território, espaço ou unidade social. Todavia, convertem-se em atividades coercitivas, administrativas, jurídico-judiciárias e deliberativas. Eis a grande questão: o processo político diz respeito a pergunta: “Quem pode o quê sobre quem”? A mesma pulsão escópica frequenta a ficção que cria leitores, que muda de legibilidade a complexidade urbana. Não é mais suficiente para as estruturas de poder deslocar para os dispositivos e os procedimentos técnicos a estratégica multiplicidade, capaz de transformar, disciplinar e depois gerir, classificar e hierarquizar os desvios concernentes à aprendizagem social, saúde, justiça, forças armadas ou trabalho.
A institucionalização não é um processo irreversível, a despeito do fato das instituições, uma vez formadas, terem a tendência a perdurar, por uma multiplicidade de razões históricas, a extensão das ações institucionalizadas pode diminuir. Pode haver desinstitucionalização em certas áreas da vida social. A deslegitimação de uma prática social ou procedimento outrora institucionalizado é denominado desinstitucionalização. Ela implica uma nova legitimidade e refere-se ao processo pelo qual a legitimidade de uma estabilidade ou prática organizacional institucionalizada se degrada ou sofre uma descontinuidade. Configura-se um tipo de mudança institucional que pode ser entendida como produto de algumas intervenções de frações de classes e de choques exógenos que rompem uma ordem estabilizada. Os mecanismos políticos e sociais são determinantes nesse processo. As pressões simultâneas de entropia e inércia moderam o nível de desinstitucionalização. A entropia prática da organização tende a acelerar a desinstitucionalização e a inércia tende a impedi-la. Ambas determinam a dissipação e rejeição de uma prática organizacional institucionalizada.
Autoridade é algo que um indivíduo tem por possuir determinado conhecimento, que está ligado à liderança, compostura, comando. Representa a base social de certos tipos de organização hierarquizada. Refere-se à prática social que tem como objetivo levar as pessoas a perceberem e respeitarem as normas, julgando sua legitimidade e avançando na democracia, no estabelecimento do bem maior. O autoritarismo, ao contrário, está ligado às práticas corruptas, antidemocráticas e antissociais. É a imposição de algo pela força bruta, e geralmente as decisões se restringem às vontades do próprio indivíduo ou de pessoas estritamente ligadas a ele – seja no âmbito pessoal, profissional, acadêmico, governamental. Quando existe autoridade, as pessoas agem motivadas afetivamente pelas lideranças que os detém formalmente, visualizando o alcance do objetivo. Quando é o autoritarismo que prevalece, de mil formas e jeitinhos, as pessoas também agem, porém não existe particularmente motivação pessoal; existe medo, censura e ameaças constantes. Na esfera da vida social a luta política é uma das questões que sempre marcaram a dialética entre capital e trabalho. Destarte, é na esfera de ação social onde a ideologia interpela o indivíduo e manifesta mais seu poder de enviesamento e, neste caso com perversidade, no campo da atividade intelectual.
No curso de Economia da Universidade de São Paulo (USP), Abraham Weintraub se matriculou em 13 (treze) disciplinas e foi reprovado em 9 (nove).
O sujeito da ação política é alguém que quer conhecer o quadro em que age; que quer poder avaliar o que pode e o que não pode fazer. Mas, ao mesmo tempo, é um sujeito que depende, em altíssimo grau, de motivações particulares, sua e dos outros para agir. A política é levada, assim, a lidar com duas referências contrapostas, legitimando-se através da universalidade dos princípios e viabilizando-se por meio das motivações particulares. Mas vale lembrar que os caminhos trilhados na política (ou na universidade) evitam a opção por uma dessas linhas extremadas: o doutrinarismo, o oportunismo crasso, o cinismo ostensivo ou a completa e absurda indiferença. São frequentes as combinações de elementos de tais direções, porém combinados em graus e dimensões diversas. E é nessa combinação hábil que se enraíza a ideologia política. Sua atividade interpretativa também pode ser criativa, de modo que ao interpretar um caso, determinado ator social aplicaria e criaria um direito novo, praticamente legislando.
Apesar de ter assumido o posto vago de ministro da Educação com o objetivo declarado de “acalmar os ânimos” na pasta ministerial, o financista Abraham Weintraub vem anunciando uma série de alterações nas universidades federais do país. O chefe do Ministério de Educação e Cultura (MEC) determinou a redução cirúrgica no repasse de verbas para cursos de filosofia e sociologia e afirmou que cortaria o investimento em faculdades que praticassem o que ele chama de “balbúrdia”. Contudo, voltou atrás e anunciou um contingenciamento de 30% do orçamento para todas as 63 universidades federais que funcionam hoje no Brasil. Com um discurso de que é preciso respeitar “os pagadores de impostos”, Weintraub definiu o bloqueio de 5,8 bilhões de reais do orçamento do MEC para as instituições. De acordo com o presidente da República Jair Bolsonaro (PSL), “esse valor será revertido para investimentos na educação básica”.
Todas essas medidas estabelecidas pelo ministro da educação, contudo, têm sido questionadas tanto no nível político (repressivo) quanto ideológico (persuasivo) por descumprirem a legislação brasileira. Quando o Executivo diz que vai escolher quais serão os cursos que receberão mais ou menos dinheiro, ele estaria ferindo a autonomia das universidades, um princípio estabelecido na Constituição Federal de 1988. No artigo 207, está determinado que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. - “Se o governo entende que há dificuldades financeiras é necessário conversar com os reitores das universidades para analisar de quais maneiras se podem estabelecer outras metas. Não é permitido, no entanto, cortar linearmente o recurso e muito menos baseado em uma motivação vaga e inespecífica”, diz Nina Ranieri, coordenadora da Cátedra UNESCO de Direito à Educação da prestigiosa Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Em sociologia política, legitimação é a ação espontânea de conferir legitimidade a um ato, um processo ou uma ideologia, de modo que se torne aceitável para uma comunidade. O poder é habitualmente legitimado através da autoridade. Enquanto legitimidade pressupõe consenso mais ou menos generalizado, a legitimação refere-se ao modo de obtenção desse consenso entre os membros de uma dada coletividade. Da natureza da legitimação derivam os tipos de obediência, bem como o caráter e os efeitos sociais do seu exercício. Portanto, a legitimação é decorrente da percepção, por parte dos cidadãos, de que as instituições dentro das quais eles vivem são justas, benevolentes e existem no melhor interesse deles, merecedor do seu apoio, sua lealdade e adesão. A crise de legitimação é uma condição em que uma ordem política ou um governo não é capaz de obter adesão, nem de investir-se de autoridade suficiente para governar. Não raras vezes, na política, a noção de poder público assume uma indefinição conceitual, carregada de subjetividades culturais à medida de atribuições e responsabilidades.
A forma de comportamento na dinâmica burocrática, administrativa e acadêmica das universidades se reporta em grande parte, às competências distribuídas e amparadas no sistema normativo instituído. Os conflitos ditos de competência e desempenho resultam do confronto da autoridade com uma forma de comportamento indesejável, porém amparada em normas técnicas, regras e leis. Uma das consequências é que a responsabilidade pelos resultados de cada um é sempre neutralizada ou desculpada a contextualmente onde atuamos. Consequentemente muito pouca responsabilidade individual é atribuída no processo burocrático, do ponto de vista institucional no caso das universidades. A sociedade brasileira rejeita a avaliação e a universidade padece com ela, geralmente vista como algo negativo, como representação simbólica de uma ruptura de um universo aparentemente amigável, homogêneo e saudável, no qual a competição, vista como um mecanismo social profundamente negativo encontra-se ausente. Tendo em vista que, na universidade não há “premiação” para o professor qualificado, mas aqueles que fazem pesquisa e orientam pesquisadores, pois fazem porque querem fazer, porque podem fazê-lo, não porque a universidade lhes gratifica.
Desnecessário dizer que as formas de representar as hierarquias sociais e a reprodução destas hierarquias são como se estivessem baseadas na hierarquia de dons, dádivas, méritos ou competências que suas sanções estabelecem e consagram. Melhor dizendo, ao converter hierarquias sociais em hierarquias administrativas-acadêmicas, o sistema universitário cumpre uma função de legitimação cada vez mais necessária à perpetuação da ordem social. Uma vez que a evolução das relações de força entre as classes não produtoras tende a excluir de modo mais completo a imposição de uma hierarquia fundada na afirmação bruta e brutal das relações de força. Na maioria das sociedades pós-industrializadas, a expansão contínua da proporção de membros diplomados pelas melhores universidades, dos títulos escolares mais prestigiados pode significar apenas a necessidade de invocar a caução escolar para legitimar a transmissão do poder e dos privilégios compartilhados que se impõe de forma cada vez mais sólida. Em suma, os investimentos aplicados na carreira técnico-burocrática viriam integrarem-se no sistema das estratégias de reprodução, estratégias mais ou menos compatíveis e mais ou menos rentáveis conforme o tipo de capital social a transmitir, e pelas quais cada geração esforça-se por transmitir a seguinte os privilégios que costumam deter.
As três dimensões da atividade universitária, ensino, pesquisa e extensão, vêm se tornando dependentes de um processo burocrático incontrolável, submetido a normas e dependências que conduz a distorções com a plena identidade da atividade de pesquisa que se desenvolve por ação complementar dos docentes, em ambientes de ensino e de caracterização muito individualizada. Os ambientes de pesquisa que identificam um nível elevado e próprio dessa atividade acadêmica são raros. O departamento é, insofismável e claramente, um órgão estanque, burocrático e corporativo por excelência, organizando-se em núcleos irrisórios ou laboratórios por meio de projetos técnicos específicos, diretamente, com as agências autoritárias e excludentes de financiamento públicas. Nos órgãos públicos o padrão de funcionalidade burocrática tem identidade própria. O sujeito da ação funcional, individual ou coletivamente, é um agente do poder público, tanto na atividade meio como na atividade fim. O poder público é uma instituição representativa da sociedade, em nome da qual exerce uma administração regida por leis, normas, regulamentos e códigos de conduta que em tese devem ser cumpridos, mas na realidade social em que vivemos universitárias na prática é outra.
Na imprensa e nas redes sociais, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendeu na prática o corte de recursos das universidades que não apresentassem resultados acadêmicos “esperados”, ou que, em suas palavras estivessem promovendo “balbúrdia” no campus. O ministro também defendeu o investimento prioritário em educação infantil. Em nota, no entanto, a pasta informou que “o critério utilizado para o bloqueio foi operacional, técnico e isonômico para todas as universidades e institutos, em decorrência da restrição orçamentária imposta a toda administração pública federal pelo Decreto 9.741, de 28 de março de 2019” que bloqueou R$ 5,8 bilhões do total de R$ 23,6 bilhões destinados pelo orçamento “às despesas não obrigatórias do MEC”.Na avaliação do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) “o ministro da educação está promovendo uma retaliação ao mundo acadêmico, com prejuízo para a sociedade”.Não raras vezes, com mudança de governo a noção de poder público assume indefinição conceitual, carregada de subjetividades à medida de atribuições e responsabilidades.
Estudantes do Rio de Janeiro criticam cortes de verbas na educação básica, nas UFs e IFs. A forma de comportamento na dinâmica da esfera burocrática, administrativa e acadêmica, das universidades se reporta em grande parte, às competências distribuídas e amparadas no sistema normativo instituído. Os conflitos de competência e desempenho resultam do confronto da autoridade com uma forma de comportamento não desejada, porém amparada em normas, regras e leis. Uma das consequências é que a responsabilidade pelos resultados de cada um é sempre neutralizada ou desculpada a partir do contexto em que cada um de nós atuou. Consequentemente muito pouca responsabilidade individual é atribuída a cada um de nós, do ponto de vista institucional no caso das universidades. A sociedade brasileira rejeita a avaliação e a universidade padece com ela, geralmente vista como algo negativo, como representação simbólica da ruptura de um universo aparentemente amigável, homogêneo e saudável, no qual a competição, como um mecanismo social profundamente negativo encontra-se ausente. Tendo em vista que, na universidade não há “premiação” para o professor qualificado em nenhum aspecto. Aqueles que fazem pesquisa e orientam alunos, fazem por mérito e vocação, porque podem fazê-lo, não porque a universidade lhes gratifica.
Enfim, nessa sociedade hierarquicamente estruturada, todos os atos praticados na presença de numerosas pessoas adquiriram valor de prestígio. Por este motivo, o controle das emoções, aquilo que Norbert Elias chama “polidez”, revestia uma forma diferente da que adotou mais tarde, época socializada em que diferenças externas em categoria haviam sido parcialmente niveladas. Este isolamento das funções naturais da vida pública, e a correspondente regulação ou moldagens das necessidades instintivas, porém, só se tornaram possíveis porque, juntamente com a sensibilidade crescente, surgiu um aparelhamento técnico do saber que solucionou de maneira muito satisfatória o problema de eliminação dessas funções na vida social e seu deslocamento para locais mais discretos. Nos países em fase de industrialização dos séculos XIX-XX, onde foram escritos os primeiros tratados pioneiros da sociologia, as vozes que expressavam as crenças, ideais, esperanças e objetivos de longo prazo das nascentes classes industriais ganharam, gradativamente, vantagens sobre as que procuravam preservar a ordem social existente no interesse das tradicionais elites de poder dinásticas de corte, aristocráticas ou patrícias. Agiram em conformidade com sua situação/posição de classes emergentes, que alimentaram altas expectativas, talvez, por motivação de um futuro melhor.
Bibliografia geral consultada.
WEBER, Max, ElPolítico y el Científico. Madrid: Alianza Universidad, 1967; MONTEIRO, Agostinho dos Reis, A Educação, Acto Político. Lisboa: Editor Livros Horizontes, 1976; HIRSCHMAN, Albert, The Passions and the Interests: Political Arguments For Capitalism Before Its Triumph. Princeton: Princeton University Press, 1977; LOWY, Michael, Paysages de la Verité: Introducion à une Sociologie Critique de la Connaissance. Paris: Éditions Anthropos, 1985; GADOTTI, Moacir, Convite à Leitura de Paulo Freire. 2ª edição. São Paulo: Editor Scipione, 1991; FOUCAULT, Michel, Os Anormais. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002; MANNHEIM, Karl, “El Problema de las Generaciones”. In: Revista Española de Investigaciones Sociológicas, n° 62, 1993; pp. 193-242; MÉSZÁROS, István, O Poder da Ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004; NERI, Marcelo, A Nova Classe Média: O Lado Brilhante dos Pobres. Rio de Janeiro: Centro de Políticas Sociais; Fundação Editora Getúlio Vargas, 2010; MENEZES, Danubia Paula da Silva, Motivação e Satisfação no Serviço Público e os seus Reflexos no Ato de Remoção: Um Estudo na Universidade Federal de Pernambuco. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Administração. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2016; ROSSATTO, Adalberto Dutra, Educação e Barbárie: Formação de Professores na Prevenção de Catástrofes. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2018; OLIVEIRA, Regiane, “Os Primeiros Efeitos da Asfixia Financeira de Bolsonaro sobre as Ciências do Brasil”. In: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/02/; YASCHA, Mounk, O Povo contra a Democracia. Por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2019; entre outros.
“Virei Zeca Pagodinho por causa da Beth Carvalho”. Jessé Gomes da Silva Filho
Elizabeth
Santos Leal de Carvalho, carioca, reconhecida como Beth Carvalho (1946-2019) foi
uma cantora e compositora brasileira de samba. Desde que começou a fazer
sucesso, na década de 1970, Beth Carvalho se tornou uma das maiores intérpretes
do gênero, ajudando a revelar nomes como Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão,
Zeca Pagodinho, Almir Guineto, o grupo Fundo de Quintal e Arlindo Cruz. Era
filha de João Francisco Leal de Carvalho, piauiense, e de Maria Nair Santos.
Tinha uma única irmã, chamada Vânia Santos Leal de Carvalho. Sua avó, Ressú
Carvalho e o marido Doutor Tote Carvalho (dentista) e Dona Maria da
Ressurreição avós eram Piauienses de Luzilândia tiveram vários filhos todos em
Teresina, tocava bandolim e violão. Sua mãe tocava piano clássico. Sua irmã
Vânia cantava e gravou discos de samba. Decidiu seguir a vida artística após ganhar
um violão da mãe. Bem-vinda de família de músicos, aos oito anos já ouvia
emocionada as famosas canções de sucesso de rádio de Sílvio Caldas, Elizeth
Cardoso e Aracy de Almeida, grandes amigos de seu pai, que era advogado. A
paixão pelo instrumento tornou-a professora de
música, ministrando aulas em diferentes escolas na cidade do Rio de Janeiro. Na
década de 1960, em festas e reuniões musicais com amigos, surgiu a artista Beth
Carvalho, que adicionava a suas influencias a bossa nova. Em 1964, após o golpe
militar, a licença de advogado de seu pai foi cassada. Beth Carvalho fez balé durante a infância e na adolescência estudou violão, numa escola de música. Seguindo nessa direção, se tornou professora de música e passou a dar aulas em escolas locais. Morou em vários bairros do Rio de Janeiro. Seu pai a levava com regularidade aos ensaios das escolas e rodas de samba, onde ela dançava em apresentações nas festas e reuniões com seus amigos. Assim, nos anos 1960, surgia a cantora Beth Carvalho, influenciada pela qualidade da cultura suburbana e pela bossa nova, gênero que passou a gostar depois de ouvir João Gilberto, passando a compor e a cantar. Seu pai foi cassado pelo golpe civil-militar de 1° de abril de 1964, por sua formação de esquerda. Para superar as dificuldades que sua família enfrentou durante alguns anos da ditadura, Beth Carvalho voltou a dar aulas de violão, dessa vez para quarenta alunos. - Já dizia a canção “quem que não gosta de samba bom sujeito não é”. Afinal, existe algum outro ritmo mais reconhecido popularmente no cenário musical brasileiro? O samba é nosso e durante mais de 100 anos nos presentou com belas canções e grandes artistas. E entre a leva de sambistas e compositores, todos reverenciam aquela que é a madrinha do estilo: Beth Carvalho.
Vale lembrar que Zeca
Pagodinho é considerado por especialistas e estudiosos da história do samba
como um dos mais prodigiosos versadores de partido alto de sua geração, dado
sua intensa participação em rodas de samba do bloco Cacique de Ramos na Zona da Leopoldina no início
de sua carreira. Como vocalista, embora o próprio não se considere “um cantor”,
Zeca Pagodinho é reverenciado no universo do samba como um talentoso intérprete
que consegue perpassar com fidelidade a ideia sociológica da emoção e o sentido
das canções que interpreta, sempre aliando o lirismo ao estilo jocoso e
desregrado. Ao longo de sua carreira, é notável sua evolução de simples
compositor de sambas para um intérprete de outros compositores de gerações mais
novas e também de gerações passadas, sendo que o próprio artista costuma citar “falta
de espaço” em seus álbuns para inclusão de composições próprias. Ao longo de
seu extenso repertório, regravou diversas canções anteriores ao seu sucesso de
compositores que considera suas referências, como Monarco e Noel Rosa. Gravou
mais de 20 discos e é considerado um grande nome do gênero samba. O
artista, que começou sua carreira nas rodas de samba dos bairros de Irajá e Del
Castilho, subúrbio do Rio de Janeiro, tornou-se tão imensamente popular que
seus shows chegam a ser contratados por “cachês generosos”, sendo realizados
nas mais badaladas casas de espetáculo do país. Sempre fiel a suas
características de irreverência e jocosidade, Zeca Pagodinho recebe também reconhecimento
da crítica e de artistas e compositores consagrados. Nei Lopes afirma que o
sambista “é uma das poucas unanimidades nacionais, elevado ao patamar do megaestrelato
pop pelas gravadoras”.
Aos dezenove anos fica em terceiro lugar no III Festival Internacional da Canção de 1968, com a canção “Andança”, sendo seus compositores Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi e Edmundo Souto, vocal: Golden Boys, da TV Globo - Canal 4, do Rio de Janeiro, atual Rede Globo de televisão. Participou dos festivais de música popular da TV Excelsior, TV Record e TV Tupi. É estudiosa dos sambas brasileiros. Chegando a trabalhar com o legendário escritor e compositor Nelson Sargento. Em 1971, Beth era a supercantora da Escola de Samba Unidos de São Carlos, atual Grêmio Recreativo Escola de Samba Estácio de Sá, indo para o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, e se dedicando exclusivamente a “verde e rosa”, que são as cores da escola. Conheceu Jorge Aragão no bloco carnavalesco Cacique de Ramos, onde cantava e desfilava animada, junto com o famoso bloco de rua. Jorge Aragão deu para ela gravar em 1977, a música “Vou Festejar”, dele, de Dida e Neoci. Ela é um dos grandes nomes da MúsicaPopularBrasileira (MPB), com dezenas de sucessos e participações em diversos movimentos sociais de forma estruturante para a música brasileira enquanto categoria sociológica que designa a ação coletiva de setores emergentes da sociedade para defesa ou promoção, no âmbito das relações de classes, de certos objetivos ou interesses reativos, de transformação ou de preservação da ordem nesta sociedade.Segundo Alain Touraine, movimentossociais representam a “ação conflitante de agentes das classes sociais, lutando pelo controle do sistema de ação histórica”. Para o autor, em cada sociedade existe um movimento social que “encarna” não uma simples mobilização, mas um projeto de mudançasocial.
Nenhum movimento social se define somente pelo conflito, mas pela sua aspiração a controlar o movimento da história. A definição do movimento social se dá através de três princípios: 1. Princípio de identidade: corresponde à autodefinição do ator social e a sua consciência de pertencer a um grupo ou classe social; 2. Princípio de oposição: um movimento só se organiza se puder nomear seu adversário, mas a sua ação não pressupõe essa identificação; 3. Princípio de totalidade ocorre quando os atores sociais em conflito, mesmo quando este seja circunscrito ou localizado, questionam a orientação geral do sistema social. A classificação tradicional dos sociólogos e do nascimento da sociologia como ciência, impele-os à sua relação profissional pelo tipo de sistema social que condiciona seu trabalho e seu objeto - as relações sociais – em uma tipologia social determinada a que são mais sensíveis: os sociólogos das organizações, das instituições políticas ou da historicidade e das classes sociais, e na modernidade, o sociólogo engajado nas universidades. Trata-se da dramatispersonæ dos que estão presentes na realidade, mas que não aparecem no palco em tragédias, pois não são considerados parte da personæ. Diz-se que passou a ser usada nas obras do idioma inglês desde o início da década de 1730. É evidente que seu uso na divisão do trabalho intelectual sofreu positivamente inúmeras mudanças na sociologia, a partir da posterior utilização na etnologia da expressão “ator social”.
É por isso que o domínio mais difícil de explorar da Sociologia é da “eficácia das respostas ao poder”. Como compreender academicamente que o reconhecimento do sentido da ação não é jamais dado inteiramente pela consciência do ator? A crítica do poder não se faz em função de um contrapoder. O conhecimento do social não prepara a ordem de amanhã. O poder reivindica o sentido para aquele que o detém. Ele só distingue aqueles que participam do poder, por delegação de autoridade ou simples obediência, daqueles que forjam alijados na direção de um “não sentido” e utilizados como seres “não sociais”. Não há nenhuma sociedade sem o poder, ainda que existam sistemas políticos sem o Estado. Toda sociedade se descontrói assim, para reconstruir a própria realidade. Faz um corte nas relações sociais, desfigura o outro e o dessocializa através do preconceito individual ou coletivo, da hostilidade, da repressão ou da exploração. Assim, o poder se reveste de positividade, seja a do Estado no caso das instituições e práticas, ou da ideologia, no caso das universidades públicas. O que nos traz de volta ao ponto de partida, pois o sociólogo encontra os efeitos de poder político ou a interpelação do sujeito através da ideologia.
Graças à formação política recebida de seus pais, foi uma artista engajada nos movimentos sociais, políticos e culturais brasileiros e de outros povos. Um exemplo foi a conquista, ao lado do cantor Lobão e de outros companheiros da classe artística, de um fato social que até então era inédito no mundo: “a numeração dos discos”. O então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assinou o decreto que torna obrigatória a numeração de CDs e a impressão, em cada faixa de todos os discos, de um código digital que obedece a padrões internacionais e permite a identificação dos autores e intérpretes da obra gravada. Em 1979, Beth Carvalho casou-se com o futebolista Édson Cegonha, revelado pelo Bonsucesso Futebol Clube do bairro da zona da Leopoldina do subúrbio do Rio de Janeiro, e que jogou também pelos clubes paulistanos Corinthians, São Paulo e Palmeiras. Em 22 de fevereiro de 1981 nasceu sua única filha, Luana Carvalho, com formação de atriz e cantora, espelhando-se no sucesso de sua mãe. Poucos anos após o nascimento da filha, separou-se do marido. Beth Carvalho morava no bairro de São Conrado, área nobre da Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Escondido entre as montanhas e uma bela praia, é um bairro de caros apartamentos, mesmo vizinho da Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro. As asas-deltas que decolam da Pedra da Gávea e pousam na praia, são comuns nos céus de São Conrado.
A carreira de Beth Carvalho se originou na bossa nova. No início de 1968 participou no movimento Musicanossa, criado pelos músicos Armando Schiavo, e Hugo Bellard. O movimento surgiu em 1967, por idéia do jornalista Armando Henrique e seu parceiro de músicas Hugo Bellard. Visava reunir os grandes nomes da bossa nova. A história começou na Rua Lucio de Mendonça no bairro da Tijuca. O maestro Hugo Bellard, então com 18 anos, era pianista do grupo “Forma 4 de Jazz e Bossa Nova”. Armando Henrique era primo do baterista do grupo Hélio Schiavo, e ia assistir aos ensaios naquela rua. Além disso, fazia algumas letras para músicas de Hugo Bellard. Armando Henrique propôs a Hugo, que já começava a fazer arranjos, a visitarem os principais nomes da bossa nova que estavam no Brasil. A intenção de Armando Henrique era o trabalho de resgate da bossa nova, que estava estagnada no Brasil.
Os espetáculos eram realizados no Teatro Santa Rosa, em Ipanema, onde teve a oportunidade de gravar uma das suas belas canções “O Som e o Tempo”, no LP do Musicanossa. Neste período Beth Carvalho gravou com Taiguara, pela gravadora Emi-Odeon. Em 1965, gravou o seu primeiro compacto simples com a música “Por Quem Morreu de Amor”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Em 1966, já envolvida com o repertório de samba, participou do show “A Hora e a Vez do Samba”, ao lado de expressivos sambistas como Nelson Sargento e Noca da Portela. Vieram os festivais em que participou de quase todos: FestivalInternacional da Canção (FIC), Festival Universitário, Brasil Canta no Rio, e outros. No FIC de 1968, conquistou o 3º lugar com “Andança”, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, e ficou reconhecida nas cidades do perímetro urbano do país. Além de representar seu primeiro grande sucesso, “Andança” é o título de seu primeiro LP lançado no ano seguinte durante os anos de chumbo do golpe civil-militar.
O movimento começou a ficar falado no meio musical e muitos novos artistas apareceram e se juntaram ao movimento. Entre eles: Milton Nascimento, Toninho Horta, Egberto Gismonti, Wagner Tiso, Tibério Gaspar, Joyce. Logo em seguida Marcos Valle, autor de “Samba do Verão” com seu irmão Paulo Sérgio Valle, recém-chegado dos Estados Unidos da América (EUA), também aderiu ao grupo. As gravadoras se uniram ao movimento, e 3 álbuns históricos foram lançados pela RCA, EMI e Rozemblit. Depois de certo tempo o movimento social teve uma cisão interna e acabou. Mas foi um importante momento da música brasileira. A partir de 1973, passou a lançar um disco por ano e se tornou sucesso de vendas, com vários sucessos como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Olho por Olho”, “Coisinha do Pai”, “Firme e Forte”, “Vou Festejar”, “Acreditar”, “Mas Quem Disse que Eu te Esqueço”. Beth Carvalho é reconhecida pelo trabalho de escavação e resgatar como revelar músicos e compositores do samba. Em 1972, buscou Nelson Cavaquinho para a gravação de “Folhas Secas” e em 1975 fez o mesmo com Cartola, ao lançar “As Rosas Não Falam”. Aproximando-se do gênero popular do “Pagode”, reconheceu a criatividade e assimilação da malandragem dos compositores do povo, ipsofacto, reconheceu os lugares conquistados onde estavam, onde viviam, onde cantavam e tocavam.
O pagode é um subgênero do samba. Tem suas origens no Rio de Janeiro entre o final da década de 1970 e início da década de 1980, a partir da tradição das rodas de samba feitas nos “fundos de quintal”. O termo pagode está presente na linguagem musical brasileira desde meados do século XIX. Inicialmente, era associado às festas que aconteciam nas senzalas e, mais tarde, se tornou sinônimo de qualquer festa regada a bebidas alcoólicas e cantoria. Ipsofacto, historicamente o termo pagode começou a ser usado como sinônimo de samba, por causa de sambistas que se valiam deste nome pra suas festas, que têm como representação social seus pagodes. Como vertente musical, o pagode nasceria exatamente dessa manifestação popular individual (o sonho) e coletiva (os mitos, os ritos, os símbolos) completamente marginal aos acontecimentos musicais dos grandes meios de comunicação hegemônicos que controlam a produção de saber.
A partir do surgimento de nova geração de sambistas no Rio de Janeiro nos anos 1980, oriunda desses pagodes e que inovaria a forma do fazimento do samba, surgindo o termo “pagode batizaria espontaneamente o novo estilo musical derivado do samba”. Frequentadora assídua dos pagodes, entre eles os do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, no subúrbio da Leopoldina carioca, Beth Carvalho revelou artistas talentosos como o grupo “Fundo de Quintal”, o cantor e letrista Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Luís Carlos da Vila, Jorge Aragão e muitos outros. Por essa característica, Beth ganhou a alcunha de “Madrinha do Samba”. Mais do que isso, a cantora trouxe um novo som ao samba, porque introduziu em seus shows e discos instrumentos como o banjo com afinação de cavaquinho, o tantã e o “repique de mão”, que até então eram utilizados exclusivamente nos pagodes do Cacique de Ramos, um dos mais conhecidos e tradicionais blocos de carnaval do Rio de Janeiro. Entre seus componentes estão os membros do grupo de samba Fundo de Quintal que se originou do próprio bloco e Zeca Pagodinho. A sambista Beth Carvalho é outra cria do bloco, que a homenageou elegendo-a como madrinha do bloco. Diversos outros cantores e compositores fazem parte do bloco entre eles: Almir Guineto, Jorge Aragão, Marquinhos Satã, Arlindo Cruz, Sombrinha, Jovelina Pérola Negra e Luiz Carlos da Vila. Sua sede fica na Rua Uranos, nº 1326, bairro Olaria, na zona da Leopoldina do Rio de Janeiro.
Beth Carvalho com o reconhecimento (cf. Honneth, 2004) passou a ser chamada em seu processo de evolução artística de “Madrinha do Pagode”. Sambista de maior prestígio e popularidade do Brasil é aclamada também como a “Diva dos Terreiros” que na Umbanda congrega Terreiros nos quatros cantos do mundo. A luta pela Umbanda é contínua e líderes como Átila Nunes Filho, Paulo Newton de Almeida, Baba Fátima Damas, o Grande Curimbeiro e Intérprete de Pontos de umbanda Tião Casimiro, Pedro Miranda, Marco Xavier, Flávia Pinto, Luís Fernando Barros e a comunicativa Baba Emília de Omolu reconhecida como Nada Vunci pela defesa desta religião legitimamente brasileira.Um ato de reconhecimento na concepção sociológica de Axel Honneth pressupõe dois elementos encadeados pela peercepção: 1) uma identificação cognitiva de uma pessoa como dotada de propriedades particulares em uma situação particular, e: 2) a confirmação da cognição da existência da outra pessoa como dotada de características específicas, através de ações, gestos e expressões faciais positivas manifestados por quem a percebe. A invisibilidade, por outro lado, significa sociologicamente mais do que a negação desses dois elementos articulados entre si. Sintetizada em expressões como de um “olhar através”, ela nega a existência do outro do ponto de vista perceptual, como se ele não estivesse presente no campo de observação da visão de quem olha.
É importante mencionar na análise sociológica, uma distinção sofisticada entre invisibilidade e/visibilidade. Ela apresenta-se distinguindo ideias aparentemente espelhadas, sobretudo quando elas contem em si mecanismos de funcionamento fundamentalmente nas esferas de ação sociais. Foram 51 anos de carreira, 31 discos, 2 DVD e apresentações em diversas cidades e países do mundo ocidental: Angola, Atenas, onde representou o Brasil no Festival Olimpíada Mundial da Canção em um teatro de arena construído 400 anos a. C. Beth Carvalho obteve sua consagração pelo caráter meritório de reconhecimento com um busto na Grécia, Berlim, Boston, na Universidade de Harvard, Buenos Aires, no Luna Park projeto “Sin Fronteiras” de Mercedes Sosa, Espinho, Frankfurt, Munique, Johannesburgo, Lisboa, no show do projeto comunista “Avante”, para um público em torno de 300 mil pessoas, Lobito, Luanda, Madri, Miami, Montevidéu, Montreux, onde participou seguidamente dos festivais ocorridos em 1987, 1989 e 2005, Nice, New Jersey, Nova York, no Carnegie Hall, Newark, Paris, Punta del Este, São Francisco, Soweto, Cuba, Zurique, Milão, Padova, Toulouse e finalmente em Viena, Áustria.
No Japão, embora nunca tenha realizado shows, vendeu milhares de cópias de CDs e teve sua carreira musical incluída no currículo escolar da Faculdade de Música de Kyoto, com suas mais de 50 bibliotecas, com um robusto acervo bibliográfico para consultar e o acesso a catálogos online em mais de 260 computadores; e o Museu da Universidade. Beth Carvalho recebeu seis Prêmios Sharp, 17 Discos de Ouro, 9 de Platina, 1 DVD de platina, centenas de troféus e premiações diversas. Em 1984, foi enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçu, “Beth Carvalho, a enamorada do samba”, quando a escola foi campeã e subiu para o chamado Grupo Especial. Como o Sambódromo, o nome dado aos conjuntos arquitetônicos destinados aos desfiles das escolas de samba no Brasil. Geralmente, são compostos por uma passarela exclusiva e por uma área de dispersão das agremiaçõesfoi inaugurado naquele mesmo ano, Beth Carvalho e a Escola Cabuçu foram as primeiras campeãs do Sambódromo (RJ). Dentre todas as homenagens à grande cantora, Beth considerava esta a maior de todas. E declarava: - “Não existe no mundo, nada mais emocionante do que ser enredo de uma escola de samba. É a maior consagração que um artista pode ter”. Em 1985, Beth Carvalho foi enredo de samba novamente, sendo que dessa vez do Grêmio Recreativo Escola de Samba Boêmios de Inhaúma que é uma escola de samba da cidade do Rio de Janeiro, cuja sede está localizada no bairro do Engenho da Rainha. O GRBC Boêmios de Inhaúma, embrião da escola de samba, foi fundado a 22 de agosto de 1973. A escola de samba, ocorreu em 21 de agosto 1988.
Em 2009, ao desfilar na Intendente Magalhães, a agremiação demonstrou o samba-enredo “Samba, Praia e Futebol. Sorria, você está no Rio de Janeiro!”, desenvolvido pelo carnavalesco Wagner Silva, classificando-se em 6º lugar com 154 pontos. Em 2011 apresentou um enredo sobre o fogo, sendo uma das quatro rebaixadas para desfilarem como bloco de enredo em 2012. Por não ter cumprido a exigência disciplinar dos prazos da Federação dos Blocos Carnavalescos do Estado do Rio de Janeiro, não desfilou em 2012, sendo punida pela Federação e automaticamente rebaixada para o Grupo II dos blocos para o carnaval de 2013. Afastou-se dos desfiles novamente a partir de 2014. Voltou ao carnaval em 2016, desfilando no grupo E. Em suas origens, a região hoje denominada Engenho da Rainha (Carlota Joaquina) fazia parte da Freguesia de Inhaúma, criada em 1743, e ganhou este nome quando esta Freguesia foi desmembrada, resultando nos atuais bairros de Pilares, Tomás Coelho e parte de Inhaúma. O bairro do Engenho da Rainha era cortado por duas importantes estradas que se interligavam na altura de Thomás Coelho. Esse caminho fazia a ligação com as Minas Gerais. Hoje são a Avenida Pastor Martin Luther King que era a antiga Automóvel Clube e a Avenida Ademar Bebiano a antiga Estrada Velha da Pavuna. O bairro foi cortado pela Estrada de Ferro Rio D`ouro e possuiu uma estação. Hoje é a estação do Metrô Engenho da Rainha.
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