“O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Guimarães Rosa (1908-1967)
A sociologia não pode desinteressar-se do que diz respeito ao substrato da vida social coletiva. Mas o número e a natureza das partes elementares de que se compõe a sociedade, a maneira como elas estão dispostas, o grau de coalescência a que chegaram, a distribuição estatística da população pela superfície do território, o número e a natureza das vias de comunicação, a forma das habitações, etc. não parecem capazes, num primeiro exame, de se reduzir sociologicamente aos modos de agir, de sentir ou de pensar, no plano abstrato da teoria, pois, a sociologia não confunde a prática dos rituais com seu sentido. Ipso facto a palavra função social é empregada de duas maneiras bastante diferentes. Ora designa um sistema de movimentos vitais, fazendo-se abstração das suas consequências dinâmicas, ora exprime a relação de correspondência que existe entre esses movimentos e algumas necessidades específcas sociais. Perguntar-se qual é a função da divisão do trabalho social é, portanto, a que necessidade ela corresponde; isto é, quando tivermos “resolvido” essa questão, poderemos ver se essa necessidade é da mesma natureza comparativamente que aquelas a que correspondem outras regras de conduta cujo caráter moral não é discutido, mas está implícito. De todos os elementos da civilização, a ciência é o único que, em certas condições, apresenta um caráter moral. As sociedades tendem mais a considerar um dever desenvolver sua inteligência, assimilando as verdades científicas que são estabelecidas. Não é impossível antever de onde vem esse privilégio especialmente da ciência ou seu modo de pensar.
Ela nada mais é do que a consciência, desde Friedrich Hegel (1770-1831), Karl Marx (1818-1883), Georg Lukács (1885-1971), elevada a seu mais alto ponto de clareza. Quanto mais obscura uma consciência, lembrava Émile Durkheim, mais refratária à mudança, porque não vê o que é necessário mudar, nem em que sentido é preciso mudar. Ao contrário, uma consciência esclarecida sente, compreende e sabe de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança. Eis por que é necessário que a inteligência guiada pela ciência, com consciência, adquira importância maior no curso da vida social e coletiva. Mas a ciência, do ponto de vista da divisão do trabalho social, de acordo com Durkheim (2015), que todo mundo é assim chamado a possuir não merece ser designada por esse nome. Não é a ciência, é no máximo sua parte comum e mais geral no mundo contemporâneo. Ela se reduz a um número de conhecimentos indispensáveis, que só são exigidos de todos, por estarem ao alcance de todos. A ciência supera infinitamente esse nível vulgar. Ela não compreende apenas o que é vergonhoso ignorar, mas tudo o que é possível saber. Ela não supõe apenas, nos círculos que a cultivam, essas faculdades médias que quase todos os homens possuem, mas disposições especiais. Por conseguinte, não sendo acessível senão a uma elite social, não é obrigatória; é uma coisa útil e bela, mas não é necessária a ponto de a sociedade reclamá-la imperativamente.
É vantajoso estar munido dela; nada há de imoral em adquiri-la. É um campo de ação à iniciativa das massas, mas em que ninguém é obrigado a entrar. Costuma-se qualificar de moral tudo o que tem alguma nobreza e algum preço, tudo o que é objeto de aspirações um tanto elevadas, e é graças a essa excessiva abrangência da palavra que se fez a civilização entrar na moralidade. O domínio do ético está longe de ser tão indeterminado. Ele compreende todas as regras de ação que se impõem imperativamente à conduta e a que está vinculada uma sanção, mas não vai além disso em qualquer instância. Contudo, o conceito de “civilização” refere-se a uma grande variedade de ocorrência de fatos sociais: ao nível de tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às ideias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao tipo especificamente de habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem omundo social juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciário, ou educacional de vigilância e punição, explicado por Michel Foucault (1926-1984), e satisfatoriamente ao modo como são preparados os diversos tipos de alimentação como compreendemos com Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode descrever conceitualmente como civilização. Ela se resume culturalmente em tudo que a sociedade ocidental dos últimos dois ou três séculos julga “superior”, para descrever o que lhe constitui o caráter especial e aquilo que se orgulha: o nível de sua tecnologia, a natureza de suas maneiras, o desenvolvimento de sua cultura científica ou cosmovisão.
Sociologicamente
representa um conjunto de práticas e saberes ordenado de valores, crenças,
impressões, sentimentos e concepções de natureza intuitiva, anteriores à
reflexão, a respeito da época ou do mundo em que se vive. Em outros termos, é a
orientação cognitiva fundamental de um indivíduo, de uma coletividade ou de
toda uma sociedade, num dado espaço-tempo e cultura, a respeito de tudo o que
existe: sua gênese, sua natureza, suas propriedades. Uma visão de mundo pode incluir
a filosofia natural, no sentido hegeliano, postulados fundamentais, existenciais e normativos, ou
temas, valores, emoções e ética. A cosmovisão ou visão do mundo continua a ser
um conceito complexo e confuso em qualquer cultura, sendo usado de forma muito
diferente por cientistas sociais. No
entanto, as crenças centrais da visão mundial são muitas vezes profundamente
enraizadas e raramente são refletidas pelos indivíduos e coletividades, e são
trazidas à superfície apenas em momentos e formas de crise de fé, de algum modo
ocorrentes. Por exemplo, visão de mundo da causalidade como unidirecional,
cíclica ou espiral gera um quadro abstrato do mundo que reflete esses sistemas
de causalidade. Uma visão unilateral da causalidade na ordem do pensamento em mudança e transformação, está presente em algumas
visões de mundo monoteísticas com um começo e um fim e uma única grande
força socialmente descrita com um único fim, no cristianismo e no islamismo,
enquanto que uma visão de mundo cíclica da causalidade está presente na
tradição religiosa que é cíclica e sazonal e na qual os eventos e experiências
repetem-se em padrões sistemáticos como ocorre no zoroastrismo, mitraísmo
e hinduísmo.
Essas visões não apenas
subjazem as tradições religiosas, mas outros aspectos do pensamento como a
história econômica e social, teorias políticas e econômicas, e sistemas de representação político na sociedade como a democracia,
autoritarismo, anarquismo, capitalismo, socialismo e comunismo. Nada há na
civilização que apresente esse critério de moralidade, ela é moralmente
indiferente. Se a divisão do trabalho não tivesse outro papel além de tornar a
civilização possível, ela participaria da mesma neutralidade moral. Foi por não
se ter geralmente atribuído à divisão do trabalho outra função, segundo Émile
Durkheim (2015), que as teorias propostas são a tal ponto inconsistentes. Isto é,
supondo-se que exista uma “zona neutra” na moral, é impossível que a divisão
social do trabalho dela faça parte. Se ela não é boa, é ruim; se não é moral, é
uma decadência moral. Se ela não serve para outra coisa, cai-se em insolúveis
antinomias, porque as vantagens econômicas que ela apresenta são compensadas
por inconvenientes morais, e como é impossível subtrair uma dentre duas quantidades
heterogêneas e incomparáveis, não se poderia dizer qual das duas leva a melhor
sobre a outra, nem, por conseguinte, tomar partido. Invocar-se-á o primado da
moral para condenar radicalmente a divisão do trabalho. Mas não apenas essa
última ratio é sempre um “golpe de Estado científico”, como a evidente
necessidade de especialização torna tal posição impossível de ser sustentada.
Se a divisão do trabalho não cumpre outro papel, ela não só não tem caráter
moral, como não se percebe que razão possa ter.
A civilização não tem
valor intrínseco e absoluto; o que lhe dá seu preço é o fato intrínseco de
corresponder a certas formas tecnológicas de divisão do trabalho. Ipso facto, o mais relevante, do ponto
de vista sociológico, é que a experimentação tecnológica normalmente anda lado
a lado, desde muito cedo, com experiências relacionadas à organização social. O
mais notável efeito da divisão do trabalho não é aumentar o rendimento das
funções divididas, como insistem os “burocratas da cultura” a que se referia a
filosofia de José Arthur Giannotti (1930-2021), per se em seus aparelhos de Estado,
mas torna-las solidárias. Seu papel social, em todos esses casos, analogamente,
não é simplesmente embelezar ou melhorar sociedades existentes, mas tonar
possíveis sociedades que, sem elas, não existiriam. Façam a divisão do trabalho
sexual regredir além de certo ponto, e a questão conjugal desaparece, deixando
subsistir relações sexuais eminentemente efêmeras; mesmo se os sexos não fossem
separados, toda uma forma da vida social sequer teria nascido. É possível que a
utilidade de uso econômica da divisão do trabalho tenha algo a ver com esse
resultado, mas, em todo caso, ele supera infinitamente a esfera dos interesses
puramente econômicos, pois consiste no estabelecimento de uma ordem social e
moral sui generis. Se, com frequência, fez-se as relações sociais a que
dá nascimento a divisão do trabalho consistirem apenas na troca, foi por se ter
desconhecido o que a troca implica e o que dela resulta na realidade. Ela supõe que dois
seres dependem mutuamente um do outro, por serem ambos incompletos, e apenas
traduz exteriormente essa dependência mútua. Nada mais é que a expressão
superficial de um estado interno e mais profundo.
Precisamente por ser constante, cronologicamente,
esse estado normalizador suscita todo um mecanismo comunicativo de imagens que
funciona como uma continuidade que a troca não possui. É por isso que
apreciamos a companhia daquele que ela representa, porque a presença do objeto
que ela exprime, fazendo-a passar ao estado de percepção atualmente, lhe dá
maior relevo. Ao contrário, sofremos com todas as circunstâncias que, como a
distância ou a morte, podem ter por efeito impedir seu retorno ou diminuir sua
vivacidade. Mas sofrer no trabalho não é uma fatalidade. Por mais curta
que seja a análise sociológica, basta para demonstrar que esse mecanismo não é
idêntico comparativamente, ao que serve dos sentimentos de simpatia, cuja fonte
é a semelhança. Sem dúvida, só pode haver solidariedade humana entre outrem e
nós se a imagem desse outrem se une à nossa. Mas quando a união resulta da
semelhança das duas imagens, ela consiste numa aglutinação. As duas
representações tornam-se solidárias porque, sendo indistintas, no todo ou em
parte, se confundem e se tornam uma só coisa, e só são solidárias na medida em
que se confundem. Ao contrário, no caso da divisão do trabalho, estão fora uma
da outra e só são ligadas por serem distintas. Os sentimentos não
poderiam ser os mesmos nos dois casos, nem as relações sociais que deles
derivam.
Não temos apenas que
procurar se, nessas espécies de sociedades, existe uma solidariedade
proveniente da divisão do trabalho. É uma verdade evidente, pois a divisão do
trabalho é desenvolvida nelas e produz a solidariedade. Mas é preciso
determinar, sobretudo, em que medida a solidariedade que ela produz contribui
para a integração geral da sociedade, pois então saberemos até que ponto essa
solidariedade é necessária, se é um fator essencial da coesão social, ou então,
ao contrário, se nada é mais é do que uma condição acessória e secundária. Para
responder a essa questão é preciso comparar esse vínculo social aos outros,
seja com o grupo tomado coletivamente, a fim de medir a parte que lhe cabe no
efeito total, na divisão do trabalho, sendo para isso indispensável começar por
classificar as diferentes espécies de solidariedade social. As aptidões
individuais organizadoras do nosso cérebro humano necessitam de condições
socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões do espírito
humano para se organizarem individualmente. A cultura está nos espíritos,
vive nos espíritos, os quais estão na cultura, vivem na cultura. Meu espírito
conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece
através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura conhece
através do meu espírito. Assim, portanto, as instâncias produtoras do
conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa
estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo/espaço
em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma
contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo “o todo enquanto todo”.
Falar em complexidade
(cf. Morin, 1998; 2008) é sociologicamente falar em relação social de interação
simultaneamente complementar, concorrente, antagônica, recursiva e
hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas
não é apenas esse nível de complexidade sob condições determinada que permitem
compreender a possível autonomia relativa do espírito – as faculdades
intelectuais - e no sentido técnico do cérebro individual. Mas é somente assim
mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação à sua
determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais. E exatamente
em relação à sua determinação cultural utilizando a sua aptidão bioantropológicas
para organizar o conhecimento. O espírito individual pode alcançar a sua
autonomia jogando com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o constrange,
limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos, aberturas,
defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser individual
e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito individual está
inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de seu conhecimento
cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou científico. A cultura
fornece ao pensamento as suas condições sociais e materiais de formação, de
concepção, de conceptualização. Portanto, ela impregna, modela e eventualmente
governa os conhecimentos individuais.
A cultura e, somente pela via da cultura, diz Morin, a sociedade está no interior do conhecimento. Tese: O conhecimento está na cultura e a cultura está na representação do conhecimento. Um ato cognitivo per se é um elemento do complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato cognitivo individual. As nossas percepções sociológicas do real (análise) ou mesmo concepções estão sob um determinado controle, não apenas de constantes fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis culturais e históricas. A percepção da esfera social é submetida a novas categorizações, sociais tanto quanto as formas de conceptualizações, taxinomias, que influenciarão o reconhecimento e a identificação das cores, das formas, dos objetos. O conhecimento intelectual organiza-se em função técnica de paradigmas que selecionam, hierarquizam, rejeitam as ideias sociais e as informações técnicas, bem como em função de significações mitológicas e de projeções imaginárias. Assim se opera a “construção social da realidade”, ou antes, a “co-construção social da realidade”, visto que a realidade se constrói também a partir de dispositivos cerebrais, em que o real (imagem) se consubstancializa e se dissocia do irreal (fantasia), a weltanschauung, que se concretiza em verdade, em erro, na predestinação da mentira.
Para conceber a sociologia do conhecimento, é necessário, conceber
não só o enraizamento do conhecimento na sociedade e a interação social do
conhecimento na sociedade. Mas no anel recursivo no qual o conhecimento é
produto/produtor sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva. Os
homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que
produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura.
Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura,
dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de
que nada seria capaz de poder libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as
potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas,
dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas
condições culturais mais fechadas, “máquinas triviais” obedecendo
impecavelmente à ordem social e às injunções culturais. É ignorar que toda
cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde retira conhecimentos
objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. É ignorar que
aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia,
podem modificar e transformar uma sociedade inteiramente, e do ponto de vista do desenvolvimento mudar o curso da história. Assim,
o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à
organização social, à práxis histórica.
A mergulhadora e ativista Ocean Ramsey se tornou conhecida mundialmente por nadar “sem proteção com tubarões”. No documentário, acompanhamos sua jornada em defesa desses animais, sua relação com o oceano e as polêmicas que envolvem sua atuação, marcada por belas imagens, ativismo ambiental e questionamentos éticos. Sempre ou quase sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico. James Reed é um cineasta britânico reconhecido por documentários como Shark Whisperer (2025), Chimp Empire (2023), tem como representação uma série de televisão da Netflix sobre chimpanzés, narrada por Mahershala Ali. Chimp Empire acompanha a vida dos chimpanzés Ngogo, o maior grupo de chimpanzés reconhecido. A série explora a complexa dinâmica social da “comunidade de chimpanzés”, incluindo as relações entre machos e fêmeas, pais e filhos, e rivais. Também examina os desafios que os chimpanzés enfrentam, como a “competição por comida e território e a ameaça da caça ilegal”. Ambientado no Parque Nacional Kibale, em Uganda, ele acompanha a vida de grupos rivais de chimpanzés. O documentário foi lançado em 2023 e My Octopus Teacher, este último rendeu um Oscar em 2020. My Octopus Teacher é um documentário original da Netflix de 2020, dirigido por Pippa Ehrlich e James Reed.
Ele documenta “um ano passado pelo cineasta Craig Foster construindo um relacionamento com um polvo comum selvagem em uma floresta de algas marinhas da África do Sul”. O filme ganhou o prêmio de Melhor Documentário no 93º Oscar. Em 2018, Craig Foster começou a praticar mergulho livre em uma floresta fria de algas subaquáticas em um local remoto em False Bay, perto da Cidade do Cabo, África do Sul. O local era perto de Simon`s Town, na Península do Cabo, que está exposta à fria corrente de Benguela do Oceano Atlântico. Ocean Ramsey, nascida em 1987, é uma conservacionista e modelo norte-americana de tubarões. Ela ganhou atenção da mídia internacional por mergulhar livre com tubarões, incluindo grandes tubarões brancos, para aumentar a conscientização sobre a conservação dos tubarões e promover seu negócio. Ramsey mora no Havaí e mergulhou com 47 espécies de tubarões ao redor do mundo em 2019. Ramsey opera a One Ocean Diving, LLC, uma empresa sediada no Havaí que facilita mergulhos com vida marinha. Ela é o tema de um documentário da Netflix de 2025, o Shark Whisperer, que aborda tanto seu trabalho de conservação quanto a controvérsia em torno de sua abordagem. Enquanto filmavam tubarões-tigre em Oahu, Ramsey e uma equipe de filmagem encontraram uma fêmea de tubarão-branco de 6,1 metros de comprimento, mais tarde identificada como Deep Blue, ou Haole Girl. O encontro foi capturado pelo noivo de Ramsey, Juan Oliphant, e a filmagem recebeu atenção da mídia mundial. Embora ela tenha sido elogiada por aumentar a conscientização sobre as espécies, ela foi” criticada por suas ações na filmagem”. O biólogo marinho Michael Domeier, diretor fundador do Marine Conservation Science Institute, criticou Ramsey por aparecer no vídeo viral de interação com tubarões. David Shiffman, um biólogo de conservação marinha que estuda tubarões, disse ao The Washington Post: - “Não acredito que por favor, não agarre o predador selvagem de 5,5 metros de comprimento seja algo que precisa ser dito explicitamente em voz alta, mas aqui estamos”.
Ramsey e dezenas de indivíduos e organizações buscavam há muitos anos uma lei que proibisse a matança de tubarões. Após anos de debates o Projeto de Lei 553 da Câmara do Havaí foi aprovado em 2021, tornando o Havaí o primeiro estado a proibir a matança de tubarões. A divisão do trabalho social não é específica do nível de análise econômico: podemos observar sua influência crescente nas regiões mais distintas da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as funções artísticas e científicas no âmbito das universidades. As especulações filosóficas da biologia nos demonstraram, na divisão do trabalho, um fato social de uma tal generalidade que os economistas, que foram os primeiros a mencioná-lo, não haviam podido suspeitar. Não é mais uma instituição social que tem sua fonte na inteligência e na vontade dos homens. Mas um fenômeno de biologia geral, cujas condições, ao que parece, precisam ser buscadas nas propriedades essenciais da disciplina organizada. A divisão do trabalho social passa a aparecer apenas como uma forma particular desse processo geral, e as sociedades, conformando-se a essa lei, parecem ceder a uma corrente de pensamento que nasceu bem antes delas e que arrasta no mesmo sentido todo o mundo vivo. Semelhante fato não pode, evidentemente, produzir-se sem afetar profundamente nossa constituição moral, pois o desenvolvimento do homem se fará em dois sentidos de todo diferentes. Não é necessário demonstrar a gravidade desse problema prático; qualquer que seja o juízo sobre a divisão do trabalho, o mundo sabe que ela é e se torna cada vez mais uma das bases fundamentais da ordem social tanto quanto política.
O tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) é uma espécie de tubarão terrestre e o único membro existente do gênero Galeocerdo e da família Galeocerdonidae. É um grande predador, com fêmeas capazes de atingir um comprimento de mais de 5 metros (16 pés e 5 pol). As populações são encontradas em muitas águas tropicais e temperadas, especialmente ao redor das ilhas do Pacífico central. Seu nome deriva das listras escuras em seu corpo, que lembram o padrão de um tigre, mas desaparecem à medida que o tubarão amadurece. O tubarão-tigre é um caçador solitário, principalmente noturno. É notável por ter o espectro alimentar mais amplo de todos os tubarões, com uma variedade de presas que inclui crustáceos, peixes, focas, pássaros, lulas, tartarugas, cobras marinhas, golfinhos e outros, até mesmo tubarões menores. Ele também tem a reputação de “comedor de lixo”, consumindo uma variedade de objetos não comestíveis fabricados pelo homem que permanecem em seu estômago. Os tubarões-tigre têm apenas um predador natural registrado, a orca. É considerada uma espécie quase ameaçada por causa da remoção de barbatanas e da pesca por humanos”. O tubarão-tigre fica atrás apenas do tubarão branco em ataques fatais registrados contra humanos, mas esses eventos ainda são raros. O tubarão foi descrito pela primeira vez por Peron e Lesueur em 1822, e recebeu o nome de Squalus cuvier. Müller e Henle em 1837 o renomearam Galeocerdo tigrinus. Metodologicamente, o gênero, Galeocerdo, é derivado do grego galeos, que significa tubarão, e kerdo, a palavra para raposa. O nome da espécie homenageia o naturalista Georges Cuvier (1769-1832). É frequentemente chamado coloquialmente de “tubarão devorador de homens”. O tubarão-tigre tem como representação biológica um membro da ordem Carcharhiniformes, a ordem de tubarões mais rica em espécies, com mais de 270 espécies, incluindo também os pequenos tubarões-gatos e os tubarões-martelo. Os membros desta ordem são caracterizados pela presença de uma membrana nictitante sobre os olhos, duas barbatanas dorsais, uma barbatana anal e cinco fendas branquiais. É o maior membro da ordem, comumente referido como tubarão-terrestre.
É o único membro existente de Galeocerdo, o único membro da família Galeocerdonidae. Os restos mais antigos de Galeocerdo remontam à época do Eoceno, enquanto os fósseis mais antigos do tubarão-tigre moderno Galeocerdo cuvier datam do Mioceno Médio, cerca de 13,8 milhões de anos atrás. O tubarão-tigre geralmente atinge um comprimento adulto de 3,5 a 4,7 metros (11 pés 6 pol - 15 pés 5 pol) e pesa entre 300 e 900 kg (700 e 2.000 lb). O recorde de todos os equipamentos da International Game Fish Association é de 810 kg (1.790 lb). É sexualmente dimórfico, com as fêmeas sendo o sexo maior.As fêmeas maduras
geralmente têm mais de 3,7 metros (12 pés 2 pol), enquanto os machos maduros
raramente chegam a esse tamanho. Fêmeas excepcionalmente grandes podem medir
mais de 5 metros (16 pés 5 pol) e os maiores machos 4 metros (13 pés 1 pol).
Pesos de tubarões-tigre fêmeas particularmente grandes podem exceder 1.300 kg
(2.900 lb). Uma fêmea grávida capturada na Austrália teria medido 5,5 metros
(18 pés e 1 pol.) de comprimento e pesava 1.524 kg (3.360 lb). Capturas ainda
maiores não confirmadas foram reivindicadas. Alguns artigos aceitaram um
registro de um tubarão-tigre excepcional de 7,4 metros (24 pés e 3 pol.) e
3.110 kg (6.860 lb), mas como isso é muito maior do que qualquer espécime
observado cientificamente, a verificação seria necessária. Um estudo de 2019
sugeriu que os tubarões-tigre do Plioceno poderiam ter atingido 8 metros (26
pés) de comprimento máximo. Existe variação cronológica de tempo/espaço na
velocidade de crescimento dos tubarões-tigre juvenis dependendo da região onde
habitam, sendo observado como alguns a crescerem quase duas vezes mais rápido
que outros. Entre os maiores tubarões existentes, o tubarão-tigre ocupa o posto
de tamanho médio apenas atrás do tubarão-baleia (Rhincodon typus), do
tubarão-frade (Cetorhinus maximus) e do tubarão-branco (Carcharodon
carcharias). Isso o torna psicologicamente o segundo maior tubarão
predador, depois do tubarão-branco.
Outras
espécies, comparativamente, como os tubarões-boca-grande (Megachasma
pelagios), os tubarões-dorminhoco-do-pacífico (Somniosus pacificus),
os tubarões-da-groenlândia (Somniosus microcephalus) e os
tubarões-de-seis-guelras-de-nariz-aberto (Hexanchus griseus), se
sobrepõem amplamente em tamanho ao tubarão-tigre, como essas espécies são
comparativamente pouco estudadas, não está claro se seu tamanho típico adulto
corresponde ao do tubarão-tigre. O tubarão-martelo (Sphyrna mokarran),
um membro da mesma ordem taxonômica do tubarão-tigre, tem um comprimento
corporal médio semelhante ou até maior, mas é mais leve e menos volumoso, com
um peso máximo reconhecido vindo de um indivíduo de 4,4 metros (14 pés) de
comprimento e 580 kg (1.280 lb) grávida. Os dentes do tubarão-tigre são únicos,
com serrilhas muito afiadas e pronunciadas e uma ponta inconfundível voltada
para o lado. Essa dentição se desenvolveu para cortar carne, osso e outras
substâncias duras, como cascos de tartaruga. Como a maioria dos tubarões, seus
dentes são continuamente substituídos por fileiras de novos dentes ao longo da
vida do tubarão. Em relação ao tamanho do tubarão, os dentes do tubarão-tigre
são consideravelmente mais curtos do que os de um tubarão-branco, mas são quase
tão largos na raiz quanto os dentes do tubarão-branco e são indiscutivelmente
mais adequados para cortar presas de superfície dura. Um tubarão-tigre
geralmente possui nadadeiras longas para fornecer sustentação enquanto manobra
na água, enquanto a longa cauda superior proporciona explosões de velocidade. O
tubarão-tigre normalmente nada usando pequenos movimentos corporais.
No
estudo da relação entre genealogia e poder, mutatis mutandis, observava
Michel Foucault que a primeira característica do que ocorria de forma nebulosa
dizia respeito ao caráter local da crítica, uma espécie de produção teórica
autônoma, não centralizada, isto é, que não tem necessidade, para estabelecer
sua validade, da concordância de um sistema comum. Esta crítica local se
efetuou através do que se poderia chamar de “retorno do saber”. Em um caso como
no outro, no saber da erudição como naquele desqualificado, nestas duas formas
de saber sepultado ou dominado, se tratava na realidade de saber histórico da
luta. Nos domínios especializados da erudição como nos saberes desqualificados
das pessoas jazia a memória dos combates, que até então havia sido subordinada.
Delineou-se o que se poderia chamar uma genealogia, ou, pesquisas genealógicas
múltiplas: a redescoberta exata das lutas e memória bruta dos combates. E esta
genealogia, como acoplamento do saber científico e do saber das pessoas, só
será possível se for eliminada a tirania dos colegiados, com suas hierarquias e
os privilégios que permeia o discurso religioso/científico em saberes
regionais.
Trata-se de ativar saberes locais,
descontínuos, desqualificados, não legitimados, contra a instância teórica
unitária que pretenderia depurá-los, hierarquiza-los, ordená-los em nome de um
conhecimento verdadeiro, em nome dos direitos de uma concepção de ciência
detida por alguns. Trata-se da insurreição dos saberes não tanto contra os
conteúdos, os métodos e os conceitos de uma ciência, mas de uma insurreição dos
saberes antes de tudo contra os efeitos de poder centralizadores que estão
ligados à instituição e ao funcionamento de um discurso científico organizado
no interior da sociedade. Pouco importa que esta institucionalização do
discurso científico se realize em uma universidade ou, de modo mais geral, em
um aparelho político com todas as suas aferências, pois são os efeitos de poder
próprios a um discurso considerado como científico que a genealogia deve
combater, seja diante do processo de gentrificação do Centro Dragão do Mar de
Arte e Cultura, objeto de pesquisa de pós-doutoramento em curso em análise
comparada da degradação do Centro Poliesportivo da Universidade Estadual do
Ceará. Não se trata de estudos de caso, mas com a pesquisa efetiva, torna-los
capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico,
unitário, formal e científico. Poderíamos lançar o desafio, lembrava o filósofo Michel Foulcault: - “Tentem
colonizar-nos”. A burocracia moderna engendrou o intelectual específico nas
universidades, através das atividades regulares necessárias aos objetivos da
estrutura governada burocraticamente, que por sua vez são distribuídas de forma
fixa como deveres oficiais que contém uma orientação, mas podem mudar de forma
e sentido.
A autoridade de dar
ordens necessárias à execução desses deveres oficiais se distribui de forma
estável, sendo rigorosamente delimitada pelas normas relacionadas com os meios
de trabalho e de coerção, físicos, sacerdotais ou outros, que possam ser colocados
à disposição dos funcionários ou autoridades. O princípio da autoridade
hierárquica de cargo encontra-se em todas as organizações burocráticas. Não
importa, para o caráter da burocracia, que sua autoridade seja compreendida
como privada ou pública. É o que tenta demonstrar, de forma hilária, o escritor
gaúcho Luís Fernando Veríssimo em uma série de ensaios temáticos. Quando o
cargo está plenamente desenvolvido, a atividade oficial exige a plena
capacidade de trabalho do funcionário, a despeito do fato de ser rigorosamente
delimitado o tempo de permanência na repartição, que lhe é exigido. O
desempenho do cargo segue regras gerais, mais ou menos estáveis, mais ou menos
exaustivas, e que podem ser apreendidas. O conhecimento dessas regras
representa um aprendizado técnico especial, a que se submetem esses
funcionários. Envolve jurisprudência, ou administração pública e privada. A
redução do cargo a regras está profundamente arraigada à sua própria natureza.
A teoria da administração pública, sustenta que a autoridade para ordenar
certos assuntos através decretos não dá à repartição o direito de regular o
assunto através de normas expelidas em cada caso, mas na prática, converte-se
em relações através dos privilégios individuais e concessão de favores, que domina
de forma absoluta as relações entre indivíduos no âmbito do patrimonialismo.
A ocupação de um cargo é considerada uma profissionalização ou estágio, com a exigência de um treinamento rígido, que demanda toda a capacidade de trabalho durante um longo período de tempo e nos exames especiais que, em geral, são pré-requisitos para o emprego. A posição de um funcionário tem a natureza de um dever, sendo a lealdade dedicada a finalidades impessoais e funcionais. Sua posição social é assegurada pelas normas que se referem à hierarquia ocupada. A posse de diplomas educacionais está habitualmente ligada à qualificação técnica para o cargo. O tipo puro sociológico de funcionário burocrático é nomeado por uma autoridade superior. Mas uma autoridade eleita pelos governados não é como tal, uma figura exclusivamente burocrática. A nomeação independe dos estatutos legais, mas da forma pela qual funciona o sistema. Em todas as circunstâncias, a designação de funcionários por meio de uma eleição entre os governados modifica o rigor da subordinação hierárquica. O funcionário se prepara para uma carreira por concurso público, o que não impede que ocorra por determinado tempo a vigilância hierárquica para o cargo no serviço público. Foi esse tipo específico de poder que Michel Foucault chamou de “disciplina” ou “poder disciplinar”. E é justamente esse aspecto que explica o fato de que tem como alvo o corpo humano, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestra-lo. O que lhe interessa não é expulsar os homens da vida social, impedir o exercício de suas atividades, e sim gerir a vida dos homens, controla-los em suas ações para que seja possível e viável utilizá-los ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema de aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas capacidades. É um objetivo ao mesmo tempo econômico e político: aumento do efeito de seu trabalho, isto é, tornar os homens força de trabalho dando-lhes uma utilidade econômica máxima; diminuição de sua capacidade de revolta, de resistência, de luta, de insurreição contra as ordens do poder, neutralização dos efeitos sociais de contrapoder, isto é, tornar os homens dóceis politicamente. Portanto, aumentar a utilidade econômica e diminuir os inconvenientes, os perigos políticos; aumentar a força econômica e diminuir expressivamente a sua força política.
Situemos as suas características básicas. Em primeiro lugar, a disciplina é um tipo de organização do espaço. É uma técnica de distribuição dos indivíduos através da inserção dos corpos em um espaço individualizado, classificatório, combinatório. Isola em um espaço fechado, esquadrinhado, hierarquizado, capaz de desempenhar funções diferentes segundo o objetivo específico que deles se exige. Mas, como relações de poder disciplinar não necessitam de espaço fechado para se realizar, é essa sua característica menos importante. Em segundo lugar, e mais fundamentalmente, a disciplina é um controle do tempo. Isto é, ela estabelece uma sujeição do corpo ao tempo, com o objetivo de produzir o máximo de rapidez e o máximo de eficácia. Em terceiro lugar, a vigilância é um dos seus principais instrumentos de controle. Não uma vigilância que reconhecidamente se exerce de modo fragmentar e descontínuo; mas que é ou precisa ser vista pelos indivíduos que a ela estão expostos como forma contínua, perpétua, permanente; que não tenha limites, penetre nos lugares mais recônditos, esteja presente em toda extensão do espaço. Olhar invisível que permite impregnar quem é vigiado de tal modo que este adquira de si mesmo a visão panóptica de quem o olha. A disciplina implica um registro contínuo de conhecimento. O olhar que observa para controlar não é o mesmo que transfere as informações para os pontos mais altos da hierarquia do poder? Seu objetivo econômico e político é tornar o homem útil e dócil. A grande importância estratégica que as relações de poder disciplinar desempenham nas sociedades depois do século XIX, vem do fato delas não serem negativas. Mas positivas, quando tiramos desses termos qualquer juízo de valor moral ou político e pensarmos unicamente na tecnologia empregada. É então, que, segundo Foucault, surge uma das teses fundamentais da genealogia: “o poder é produtor de individualidade”. O indivíduo é uma produção do poder e do saber. Atuando sobre uma massa confusa, desordenada e desordeira, o esquadrinhamento disciplinar faz nascer uma multiplicidade ordenada na qual o indivíduo emerge como alvo do poder.
O nascimento da prisão em fins do século XVIII, não representou uma massificação com relação ao modo como anteriormente se era encarcerado. O nascimento do hospício não destruiu a especificidade da loucura. É o hospício, ao contrário, que produz o louco como doente mental.Um personagem individualizado a partir da instauração de relações disciplinares. E antes da constituição das ciências humanas, no século XIX, a organização das paróquias, a institucionalização do exame de consciência e da direção espiritual e a reorganização do sacramento da confissão, que aparecem como importantes dispositivos de individualização. Em suma, o poder disciplinar não destrói o indivíduo; ao contrário, ele o fabrica. O indivíduo não é o outro do poder, realidade exterior, que é por ele anulado; é um de seus mais importes efeitos. O objetivo é neutralizar a ideia que faz da ciência um conhecimento em que o sujeito vence as limitações reais ou imaginárias de suas condições particulares de existência instalando-se na neutralidade objetiva do universal e da ideologia um conhecimento em que o sujeito tem sua relação com a verdade perturbada, obscurecida, velada pelas condições reais de existência. Todo conhecimento, seja ele científico ou ideológico, só pode existir a partir de condições políticas que são as condições para que se formem tanto o sujeito quanto os domínios do saber. A investigação do saber não deve remeter a um sujeito de conhecimento que seria a sua origem, mas a relações de poder que lhe constituem. Não há saber neutro. Todo saber é político. E isso não porque cai nas malhas do Estado, é apropriado por ele, que dele se serve como instrumento de dominação, descaracterizando seu núcleo essencial. Mas porque todo saber tem sua gênese em relações de poder.
O fundamental da análise teórica é que saber e poder se implicam mutuamente; não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder. Todo ponto de exercício do poder é, ao mesmo tempo, um lugar de formação de saber. É assim que o hospital não é apenas local de cura, mas também instrumento de produção, acúmulo e transmissão de saber. Do mesmo modo que a escola está na origem da pedagogia, a prisão da criminologia, o hospício da psiquiatria. Mas a relação ainda é mais intrínseca: é o saber enquanto tal que se encontra dotado estatutariamente, institucionalmente, de determinado poder. O saber funciona dotado de poder. E enquanto é saber tem poder. A configuração do que Foucault denomina de “intelectual específico” se desenvolveu na 2ª grande guerra (1939-1945), e talvez o físico atômico tenha sido quem fez a articulação entre intelectual universal e intelectual específico. É porque tinha uma relação direta e localizada com a instituição e o saber científico que o físico atômico intervinha; mas já que a ameaça atômica concernia todo o gênero humano e o destino do mundo, seu discurso podia ser ao mesmo tempo o discurso do universal. Sob a proteção deste protesto que dizia respeito a todos, o cientista atômico desenvolveu uma posição específica na ordem do saber. E admite Foucault, pela primeira vez o intelectual foi perseguido pelo poder político, não mais em função do seu discurso geral, mas por causa do saber que detinha: é neste nível que ele se constituía como um perigo político. Mas o intelectual específico deriva de uma figura muito pobre e diversa do “jurista-notável”. O “cientista-perito”. O importante é que a verdade não existe fora do poder ou sem poder. A verdade é deste mundo, produzida nele graças a múltiplas coerções que produz efeitos regulamentados de poder.
Cada sociedade tem seu regime de
verdade, seus tipos de discursos que faz funcionar como verdadeiros; os
mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros
dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os
procedimentos que são valorizados, sob nosso olhar, para a obtenção da verdade.
Quem está de fora do poder, mas tem a capacidade analítica de interpretar o
estatuto que delimita o seu campo de saber, percebe os efeitos de poder do que
funciona como verdadeiro. É preciso
repensar os problemas políticos dos intelectuais não mais em termos exclusivos
da relação entre ciência e ideologia, mas sem abandoná-la, tendo em vista que a
universidade pública é um domínio de casta, a forma natural pela qual costumam
socializarem-se as comunidades étnicas que creem no parentesco de sangue com os
membros de comunidades exteriores e o relacionamento social. Essa situação de
casta é parte do fenômeno de povos párias e se encontra em todo o mundo, a análise pode ser religada na medida em que a
questão da profissionalização do intelectual, da divisão entre trabalho manual
e intelectual, na esfera pública pode ser retomada. A verdade está
circularmente ligada a sistemas de poder que a produzem e apoiam, e a efeitos
de poder que ela induz e a reproduzem. Ipso facto, o problema político
essencial para o intelectual não é apenas criticar os conteúdos ideológicos que
privilegiam grupos no sistema educacional que estariam ligados à ciência ou
fazer com que sua prática científica seja acompanhada por métodos de inclusão
democráticos. O que está em jogo num sistema de castas, é se podemos constituir
uma nova arena política sobre a questão da verdade. Mas não se trata de
libertar a verdade do sistema de poder, mas de desvincular o poder da verdade
das formas com as quais ele legitima suas formas de saber. A genealogia exige a
minúcia do saber, evidenciando um grande número de materiais acumulados.
Jovens cientistas unem biologia e matemática na Amazônia (2024).Vale lembrar, neste aspecto que a biomatemática é um ramo da biologia que emprega análises teóricas, modelos matemáticos e abstrações dos organismos vivos para investigar os princípios que governam a estrutura, desenvolvimento e comportamento dos sistemas, em oposição à biologia experimental que lida com a realização de experimentos para comprovar e validar as teorias científicas. O campo multidisciplinar é algumas vezes chamado, precisamente, de biologia matemática ou biomatemática para enfatizar o lado técnico-científico matemático, ou biologia teórica para enfatizar abstratamente o lado biológico. Ipso facto, deste ponto de vista a biologia teórica se concentra mais do que nunca no desenvolvimento programático de princípios teóricos per se para a biologia. Enquanto a biologia matemática se concentra no uso de técnicas matemáticas para estudar sistemas biológicos embora ambos sejam muitas vezes trocados. A biologia matemática visa a representação matemática e modelagem de processos biológicos, utilizando técnicas e procedimentos metodológicos da matemática aplicada. Pode ser útil tanto em pesquisas teóricas e práticas. Descrever sistemas de maneira quantitativa significa que seu comportamento pode ser melhor simulado e, podem ser previstas propriedades que podem não ser evidentes para o experimentador. Uma matéria sempre apresenta a tendência de manter o seu estado, seja de repouso, seja de movimento, a não ser que uma força externa influencie.
A massa é uma grandeza que indica a medida da inércia ou da resistência de um corpo de ter seu movimento acelerado. De uma forma geral, podemos associar a massa à quantidade de partículas existentes em uma matéria. Isso requer modelos matemáticos precisos. Devido à complexidade dos sistemas vivos, a biologia teórica emprega vários campos de domínio de métodos da matemática, e tem contribuído para o desenvolvimento de novas técnicas. A matemática foi usada na biologia já no século XIII, quando Leonardo Fibonacci (1170-1250) usou a famosa série de Fibonacci para descrever uma população crescente de coelhos. No século XVIII, Daniel Bernoulli (1700-1782) aplicou a matemática para descrever o efeito da varíola na população humana. O ensaio de Malthus de 1789 sobre o crescimento da população humana foi baseado no conceito de crescimento exponencial. Há aqui um debate memorável: Pierre François Verhulst (1804-1849) formulou o modelo de crescimento logístico em 1836. Fritz Müller (1822-1897) descreveu os benefícios evolucionários do que é chamado mimetismo Müllerian em 1879, em uma conta notável sendo o primeiro uso de argumento matemático em ecologia evolutiva para mostrar o quão poderoso o efeito da seleção natural seria, a menos que se inclui Malthus s` discussão dos efeitos do crescimento populacional que influenciaram Charles Robert Darwin (1809-1882) e Thomas Malthus (1766-1834) argumentam que tal crescimento seria exponencial, enquanto os recursos só poderiam crescer aritmeticamente. O termo biologia teórica foi usado pela primeira vez por Johannes Reinke em 1901. Um texto fundador é On Growth and Form (1917) por D`Arcy Thompson, e outros incluem exatamente Ronald Fisher, Hans Leo Przibram, Nicolas Rashevsky e Vito Volterra.
A Terra é o terceiro
planeta mais próximo do Sol, o mais denso e o quinto maior dos oito planetas do
Sistema Solar. É também o maior dos quatro planetas telúricos. É por vezes
designada como Mundo ou Planeta Azul. Lar de milhões de espécies de seres vivos,
incluindo os seres humanos, a Terra é o único corpo celeste onde é reconhecida
a existência de vida. O planeta formou-se há 4,56 bilhões de anos, e a vida
surgiu na sua superfície depois de um bilhão de anos. Desde então, a biosfera
terrestre alterou de forma significativa a atmosfera e fatores abióticos do
planeta, permitindo a proliferação de organismos aeróbicos, como a formação da
camada de ozônio, que em conjunto com seu campo magnético, bloqueia radiação
solar prejudicial, permitindo a vida no planeta. A sua superfície exterior é
dividida em segmentos rígidos, chamados placas tectônicas, que migram sobre a
superfície terrestre ao longo de milhões de anos. Aproximadamente 71% da
superfície é coberta por oceanos de água salgada, com o restante consistindo de
continentes e ilhas, contendo lagos e corpos de água que contribuem para a
hidrosfera. Os polos geográficos encontram-se cobertos por
mantos de gelo ou banquisas. O interior abstrato da Terra permanece ativo e
relativamente sólido: um núcleo externo líquido que gera um campo magnético, e
um núcleo interno sólido, composto, sobretudo por ferro. A Terra interage com
objetos em movimento no espaço, em particular com o Sol e a Lua. Orbita o Sol
uma vez por cada 366,26 rotações sobre o próprio eixo, o que equivale a 365,26
dias solares ou representa um (01) ano sideral.
Vale lembrar que o eixo
de rotação da Terra possui uma inclinação de 23,4° em relação à perpendicular
ao seu plano orbital, reproduzindo variações sazonais na superfície do planeta,
com período igual a um ano tropical, ou, 365,24 dias solares. Um fato social é
questão sociológica ainda mais necessária porque se utiliza essa qualificação
sem muita precisão. Ela e empregada correntemente para designar socialmente as
relações que se dão originariamente no interior de uma sociedade, por menos que
apresentem, com uma certa generalidade, algum interesse social. Todo indivíduo
come, bebe, dorme, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que essas
funções se exerçam regularmente. O sistema de signos de que me sirvo para
exprimir meu pensamento, o sistema de moedas que emprego para pagar minhas
dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo em minhas relações comerciais,
as práticas observadas em minha profissão, etc., funcionam independentemente do
uso que faço deles. Que se tomem um a um todos os membros de que é composta a sociedade;
o que procede poderá ser repetido a propósito de cada um deles, ou seja,
maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam essa notável propriedade
de existirem fora das consciências individuais. Mas não são apenas exteriores
ao indivíduo, como também são dotados de uma “força imperativa” e coercitiva em
virtude da qual se impõe a ele, quer ele queira, quer não. Em se tratando de
máximas morais, a consciência pública reprime todo ato que as ofenda
através da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos. A coerção, mesmo sendo de forma indireta, continua sendo uma técnica ou estratégia
de submissão eficaz.
Trata-se de uma ordem
de fatos que apresentam características muito especiais: consistem em maneiras
de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de
um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele. Por conseguinte,
eles não poderiam se confundir com os fenômenos orgânicos, já que consistem em
representações e em ações, nem com os fenômenos psíquicos, os quais só tem
existência na consciência individual e através dela. Estes fatos constituem,
portanto, uma espécie nova, e é a eles que deve ser dada e reservada a
qualificação de sociais. Essa qualificação lhes convém; pois é claro que, não
tendo o indivíduo por substrato, eles não podem ter outro senão a sociedade,
seja a sociedade política em seu conjunto, seja um dos grupos parciais que ela
encerra: confissões religiosas, escolas políticas, literárias, corporações
profissionais, etc. Por outro lado, é a eles só que ela convém; pois a palavra
social só tem sentido definido com a condição de designar unicamente fenômenos
que não se incluem em nenhuma das categorias de fatos já constituídos e
denominados. Eles representam o domínio próprio da sociologia. Mas só há fato
social onde há organização delineada, normalizada e estritamente definida. O
hábito coletivo não existe apenas em estado de imanência nos atos sucessivos
que ele determina, mas se exprime de uma vez por todas, por um privilégio cujo
exemplo não encontramos no reino biológico, numa fórmula que se repete de boca
em boca pela educação, que se fixa através da escrita.
Tais são as origens e a
natureza das regras jurídicas, morais, dos aforismos e dos ditos populares, dos
artigos de fé em que as seitas religiosas ou políticas condensam em crenças,
dos códigos de gosto que as escolas literárias estabelecem, etc. Nenhuma dessas
maneiras de agir ou de pensar se acha por inteiro nas aplicações que os
particulares fazem delas, já que eles podem inclusive existir sem serem
atualmente aplicadas. Há certas correntes de opinião que nos impelem, com
desigual intensidade, conforme os tempos e os lugares, uma ao casamento, por
exemplo, outra, ao suicídio, ou a uma natalidade mais ou menos acentuada. As
circunstâncias individuais (o sonho) e coletivas (os mitos, os ritos, os
símbolos) que podem ter alguma participação social na produção do fenômeno,
neutralizam-se mutuamente e não contribuem para em princípio poder
determina-lo. O que esse fato exprime é um certo estado de alma coletiva. Um
fato social se reconhece, segundo Durkheim (1999), pelo poder de coerção que
exerce ou é capaz de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se
reconhece, por sua vez, seja pela resistência que o fato opõe a toda tentativa
individual de faze-lhe violência. De fato, a coerção é fácil de constatar
quando se traduz exteriormente por alguma reação direta da sociedade, como é o
caso em relação ao direito, à moral, às crenças, aos costumes, inclusive às
modas. Mas, quando, é apenas indireta, como a que exerce uma organização
econômica, ela nem sempre se deixa perceber tão bem. A generalidade combinada
com a objetividade pode ser mais fácil de esclarecer. Essa segunda
definição não é senão outra forma da primeira; pois, se uma maneira de se
conduzir, que existe exteriormente às consciências individuais, se generaliza,
ela só pode fazê-lo impondo-se.
Bibliografia Geral Consultada.
ENZENSBERGER, Hans Magnus, Para Uma Crítica de la Ecologia Política. Barcelona: Editorial Anagrama, 1974; GUATTARI, Félix, As Três Ecologias. Campinas (SP): Editora Papirus, 1990; MARCUSE, Herbert, “La Ecología y la Crítica de la Sociedad Moderna”. In: Ecología Política Barcelona, n° 5, pp. 73-79, 1993; SATO, Michèle, Educação para o Ambiente Amazônico. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 1997; DEBORD, Guy, A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 1997; CARLA, Ricardo Clapis, Ecologia e Conservação de Tubarões do Arquipélago de Fernando de Noronha, com ênfase no Tubarão-Cabeça-de-Cesto Carcharhinus perezi (Poey, 1876) (Carcharhiniformes, Carcharhinidade). Tese de Doutorado. Instituto de Biociências. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, 2003; LÖWY, Michael, Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez Editores, 2005; MORIN, Edgar, Introducción al Pensamiento Complejo. Barcelona: Editorial Gedisa, 1998; Idem, O Método 4 – As Ideias. Habitat, Vida, Costumes, Organização. 4ª edição. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008; GOFFMAN, Erving, Estigma: La Identidad Deteriorada. 2ª edición. Madrid: Amorrotu Editores, 2009; GIDDENS, Anthony, As Conseuquências da Modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991; Idem, A Constituição da Sociedade. 3ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009; BERMAN, Marshall, Tutto ciò che è Solido Svanisce nell`aria. L`Esperienza della Modernità. Bologna: Editore Il Mulino, 2012; FOUCAULT, Michel, Arqueologia do Saber. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 1971; Idem, Vigiar e Punir. Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo: WMF/Martins Fontes, 2015; PEREIRA, Renato Crespo; SOARES-GOMES, Abílio, Ecologia Marinha. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2021; OLIVEIRA, Cícero Diogo Lins de, Temas Prioritários para Conservação de Elasmobrânquios Marinhos e Métodos Alternativos para Determinação de Risco de Extinção. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos. Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2023; GAMEIRO, Gabriel, “Encantadora de Tubarões divide opiniões ao tentar promover a preservação ambiental”. In: https://geekpopnews.com.br/01/07/2025; entre outros.
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