quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Bob Dylan – Autodidata, Folk Music & Herdeiro da Contracultura.

                    A felicidade não está na estrada que leva a algum lugar. A felicidade é a própria estrada”. Bob Dylan                                   

            Autodidata é a pessoa que tem a capacidade de aprender algo sem ter um professor ou mestre lhe ensinando ou ministrando aulas. O próprio indivíduo, com seu esforço particular intui, busca e pesquisa o material necessário para sua aprendizagem. O autodidatismo é alvo de estudos acadêmicos, devido especialmente a expansão de sistemas educacionais on-line. Estes estudos visam a compreensão das práticas pedagógicas, a relação entre o uso de tecnologia e a concepção de conhecimento e educação envolvidas no processo. Dentre autodidatas famosos, podem ser citados o 16º presidente dos Estados Unidos da América, Abraham Lincoln, o músico Jimi Hendrix, os escritores Ray Bradbury, Machado de Assis, José Saramago e o polímata Leonardo da Vinci, o fundador da Microsoft Bill Gates, o divulgador de banda desenhada Vasco Granja, o ator e comediante Rowan Atkinson, inventor Alexander Graham Bell, o cineasta Stanley Kubrick, o cineasta, musico, roteirista e escritor Woody Allen, o fundador da Ford Henry Ford, o romancista Charles Dickens, a escritora, compositora e poetisa Doutora Honoris Causa Carolina de Jesus, o cineasta, produtor e animador Walt Disney, o animador e diretor de animação John Kricfalusi e o físico Albert Einstein, entre outros.

            A tecnologia permitiu ao ser humano colonizar todos os continentes e adaptar-se a praticamente todos os sistemas climáticos estudados. Nas últimas décadas, os seres humanos têm explorado a Antártida, as profundezas dos oceanos e o espaço sideral, embora a longo prazo a colonização desses ambientes ainda seja inviável. Com uma população de mais de sete bilhões de indivíduos, os seres humanos estão entre os mais numerosos grandes mamíferos do planeta. A maioria dos seres humanos (60,3%) vive na Ásia. O restante vive na África (15,2%), nas Américas (13,6%), na Europa (10,5%) e na Oceania (0,5%). A habitação humana em sistemas ecológicos fechados e em ambientes hostis, como a Antártida e o espaço exterior, é cara, normalmente limitada no que diz respeito ao tempo e restrita a avanços e expedições científicas, militares e industriais. A vida no espaço tem sido muito esporádica, com não mais do que treze pessoas vivendo no espaço por vez. Entre 1969 e 1972, duas pessoas de cada vez estiveram na Lua. Desde a conquista da Lua, nenhum outro corpo celeste foi visitado por seres humanos, embora tenha havido uma contínua presença humana no espaço desde o lançamento da primeira tripulação a habitar a Estação Espacial Internacional, em 31 de outubro de 2000.

Desde 1800, a população humana aumentou de um bilhão a mais de sete bilhões de indivíduos. Em 2004, cerca de 2,5 bilhões do total de 6,3 bilhões de pessoas (39,7%) residiam em áreas urbanas, e estima-se que esse percentual continue a aumentar durante o século XXI. Em fevereiro de 2008, as Nações Unidas estimaram que metade da população mundial viveria em zonas urbanas até ao final daquele ano. Existem muitos problemas para os seres humanos que vivem em cidades como a poluição e a criminalidade, especialmente nos centros e favelas de cada cidade. Entre os benefícios da vida urbana incluem o aumento da alfabetização, acesso à global ao conhecimento humano e diminuição da suscetibilidade para o desenvolvimento da fome. Os seres humanos tiveram um efeito dramático sobre o ambiente. A atividade humana tem contribuído para a extinção de inúmeras espécies de seres vivos. Como atualmente os seres humanos raramente são predados, eles têm sido descritos como superpredadores. Através da urbanização e da poluição, os humanos são os principais responsáveis pelas alterações climáticas globais. A espécie humana é tida como a principal causadora da extinção em massa do Holoceno, uma extinção em massa, que, desgraçadamente, se continuar ao ritmo que ocorre atualmente, per se poderá acabar com metade de todas as espécies ao longo do próximo século.

                                      

               

Música folclórica tem como representação social um gênero musical que inclui a  música folclórica tradicional e o gênero contemporâneo que evoluiu da primeira durante o chamado “renascimento folclórico” do século XX. Alguns tipos de música folclórica podem ser chamados de world music. A música folclórica tradicional tem sido definida de várias maneiras: como música transmitida oralmente, música com compositores desconhecidos, música tocada em instrumentos tradicionais, música sobre identidade cultural ou nacional, música que muda entre gerações (processo folclórico), música associada ao folclore de um povo ou música executada por costume ao longo de um longo período de tempo. Ela tem sido contrastada com os estilos comercial e clássico. O termo se originou no século XIX, mas a música folclórica se estende além disso. A partir de meados do século XX, uma nova forma de música folclórica popular evoluiu da música folclórica tradicional. Este processo e período são chamados de (segundo) “renascimento folclórico” e atingiram o auge na década de 1960. Esta forma de música é às vezes chamada de música folclórica contemporânea ou música de renascimento folclórico para distingui-la das formas folclóricas anteriores. Entretanto, revivalismos menores e semelhantes ocorreram em outras partes do mundo em outras épocas, mas o termo música folclórica normalmente não foi aplicado à nova criação desses renascimentos. Este tipo de música folclórica também inclui gêneros de fusão como folk rock, folk metal e outros. 

Embora a música folclórica contemporânea seja um gênero geralmente distinto da música folclórica tradicional, em inglês americano ela compartilha o mesmo nome e geralmente compartilha os mesmos artistas e locais que a música folclórica tradicional. Bob Dylan, nasceu Robert Allen Zimmerman, em Duluth, em 24 de maio de 1941. É uma cidade do estado do Minnesota, no Condado de Saint Louis, Estados Unidos da América. É um importante centro siderúrgico, localizado em área próxima às das jazidas de ferro. É a terra natal de Bob Dylan, Prêmio Nobel da Literatura de 2016. Segundo o censo nacional de 2010, a população é de 86 265 habitantes e a densidade populacional é de 491,3 hab./km². É a quarta cidade mais populosa do Minnesota. Possui 38 208 residências, que resulta em uma densidade de 217,62 residências/km². A cidade carrega o nome de Daniel Greysolon (1639-1710), Sieur du Lhut, o primeiro explorador europeu da região. De acordo com o United States Census Bureau, a cidade tem uma área total de 226,44 km², dos quais 175,6 km² estão cobertos por terra e 51 km² por água. Greysolon foi um soldado e explorador francês, o primeiro europeu reconhecido a visitar a região onde se localiza a cidade de Duluth, Minnesota, e a nascente do Lago Superior, em Minnesota. Seu nome às vezes é anglicizado como “DuLuth”, e é o homônimo de Duluth, Minnesota, bem como de Duluth, Geórgia. Daniel Greysolon assinou como “Dulhut” nos manuscritos remanescentes. Ele nasceu por volta de 1639 em Saint-Germain-Laval, perto de Saint-Étienne (Forez), França, e visitou a Nova França pela primeira vez em 1674.

Em setembro de 1678, Dulhut deixou Montreal para o Lago Superior, passando o inverno perto de Sault Sainte Marie e chegando ao extremo Oeste do lago no outono do ano seguinte, onde concluiu as negociações de paz entre os povos Anishinaabe (Saulteur) e Dakota (Sioux). Em 2 de julho de 1679, DuLhut fincou a bandeira da França “na grande vila dos Nadouecioux, chamada Izatys”, uma cidade Dakota Mdewakanton no lugar que hoje é chamado de Lago Mille Lacs. Em junho de 1680, Duluth ouviu falar da captura de um padre católico chamado “Louis Henpin” (Louis Hennepin) que havia sido capturado por outros “Nadouecioux” (Sioux), entre os quais Duluth vivia. Após receber a notícia de sua captura, Duluth partiu imediatamente para encontrar o padre franciscano e exigir sua libertação. Duluth negociou a liberdade do padre, mas, ao fazê-lo, violou as leis que proibiam o comércio com nativos sem a aprovação do governo, o que acabou gerando problemas em Montreal. Atraído pelas histórias da cultura nativa do Mar Ocidental ou Mar Vermelho, provavelmente o Grande Lago Salgado em Utah, Duluth chegou ao Rio Mississippi pelo Rio Saint Croix em 1680, e então retornou ao Forte de Buade, onde ouviu que mercadores invejosos na natureza de Quebec e o intendente Jacques Duchesneau de la Doussinière et d`Ambault (1631-1696) o estavam caluniando.         

Foi intendente da Nova França de 1675 a 1682. Ele foi forçado a retornar a Montreal e depois à França em 1681 para se defender de “falsas acusações de traição”, retornando no ano seguinte. Duluth posteriormente estabeleceu postos de comércio de peles para promover os interesses franceses no Lago Nipigon e no Forte Caministigoyan, foi um forte francês na América do Norte, na foz do Rio Kaministiquia no Lago Superior, local da cidade de Thunder Bay, Ontário, provavelmente em 1684 ou 1685, não em 1679 como algumas fontes sugerem, e no Forte St. Joseph (Porto Huron) entre o Lago Erie e o Lago Huron, guarnecido com 50 homens. Ele morreu de gota, doença inflamatória das articulações causada pelo acúmulo excessivo de ácido úrico no sangue (hiperuricemia), que se deposita na forma de cristais nas articulações, provocando crises de dor e inchaço. Morreu em Montreal em 25 de fevereiro de 1710 e foi enterrado na igreja Recollet. Montreal tem uma Avenida Duluth (Avenue Duluth em francês), nomeada em homenagem a Greysolon, localizada no bairro “The Plateau” da cidade (reconhecido como Le Plateau-Mont Royal em francês). A avenida tornou-se bastante popular entre moradores e turistas após ser redesenhada no início da década de 1980. Ela foi projetada para ser mais amigável aos pedestres, com calçadas bem projetadas, muitas árvores e floreiras.

Diz-se que foi inspirada nas ruas Woonerf, precisamente na Holanda e na Bélgica, onde “pedestres e ciclistas têm prioridade sobre veículos motorizados, que têm um limite de velocidade reduzido”. Duluth, Minnesota, também tem uma estrada que leva o nome de duLhut, Greysolon Road, que se estende dos bairros de Endion a Congdon. Vale lembrar que Colder by the Lake, produziu uma ópera cômica original baseada na vida de Daniel Greysolon, intitulada Les Uncomfortables, isto é, um trocadilho com o título do musical Les Misérables. A música foi composta por Tyler Kaiser e o libreto escrito por Margi Preus e Jean Sramek, todos de Duluth. A obra foi encenada em 2001, 2002 e 2016. Bob Dylan é um cantor, compositor, escritor, ator, pintor e artista visual norte-americano, e apresenta uma importante figuração na cultura popular há mais de 50 anos. Grande parte do seu trabalho mais célebre data da década de 1960, quando canções como “Blowin` in the Wind” (1963) e “The Times They Are a Changin” (1964) se tornaram hinos dos “movimentos pelos direitos civis e de oposição à Guerra do Vietnã”. Suas letras durante esse período incorporaram uma ampla gama de influências políticas, sociais, filosóficas e literárias, desafiaram as convenções da música pop e apelaram à crescente contracultura. A música folk, na cultura norte-americana, atingiu o auge de popularidade historicamente nas décadas de 1950 e 1960 e Bob Dylan incorporou as tensões sociais dessa época da melhor forma, ou seja, com o social irradiado nos detalhes e humor.

Robert Allen Zimmerman (em hebraico: Zushe ben Avraham) nasceu no hospital St. Mary de Duluth, em Minnesota, no dia 24 de maio de 1941 e cresceu em Hibbing, Minnesota, no Mesabi Iron Range a Oeste do Lago Superior. Os estudos realizados por vários de seus biógrafos demonstraram que seus avós paternos, Zigman e Anna Zimmerman, emigraram de Odessa (atualmente Ucrânia) para os Estados Unidos por causa de um pogrom antissemita ocorrido em 1905. Seus avós maternos, Benjamin e Lybba Edelstein, eram judeus lituanos que chegaram à América em 1902. Em sua autobiografia, Crônicas (Vol. 1), Dylan escreveu que o apelido de sua avó materna era Kyrgyz e que sua família era procedente de Istambul. Seus pais, Abram Zimmerman e Beatrice “Beatty” Stone, faziam parte de uma pequena, mas muito unida comunidade judaica. Robert Zimmerman viveu em Duluth até seus seis anos, quando seu pai contraiu poliomielite e sua família voltou à cidade natal de sua mãe, Hibbing, Minnesota, onde passou o resto de sua infância. Robert passou boa parte de sua juventude escutando rádio: em um primeiro momento, escutando emissoras de Shreveport, em Louisiana, country, e posteriormente, rock and roll. Na sua estadia na escola, formou várias bandas, como The Shadow Blasters e The Golden Chords, com a qual chegaria a tocar no programa de busca de talentos Rock and Roll Is Here to Stay. No anuário escolar de 1959, Zimmerman assinalou sua ambição era “unir-se a Little Richard”, um cantor, compositor e pianista. Foi eleito pela revista Rolling Stone como o 8º maior artista da música de todos os tempos.

Uma figura influente na música e cultura populares por sete décadas, ele foi apelidado de “The Innovator”, “The Originator” e “The Architect of Rock and Roll”. O trabalho mais célebre de Penniman data de meados da década de 1950, quando seu carismático espetáculo e música dinâmica, caracterizada por “tocar piano frenético, bater violão e vocais estridentes”, lançaram as bases para o rock and roll. Suas inovadoras vocalizações emotivas e música ritmada também desempenharam um papel fundamental na formação de outros gêneros musicais populares, incluindo soul e funk. Ele influenciou inúmeros cantores e músicos em todos os gêneros musicais, do rock ao hip hop; sua música ajudou a moldar o rhythm and blues nas próximas gerações. No mesmo ano, usando o pseudônimo de Elston Gunn, Bob Dylan tocou em duas apresentações com Bobby Vee, acompanhando ao piano e improvisando com palmas. Em setembro de 1959, Zimmerman se mudou para Minneapolis, para estudar na Universidade de Minnesota. Seu interesse inicial no rock and roll deu lugar a uma aproximação ao folk. Em 1985, Dylan explicou sua atração pelo folk: “A coisa sobre o rock`n`roll é que para mim de qualquer jeito ele não era suficiente (...). Havia bons bordões e ritmo pulsante (...), mas as canções não eram sérias ou não refletiam a vida realista. Eu sabia que quando eu entrei na música folk, era um tipo de coisa mais sério. As canções eram enchidas com mais desespero, tristeza, mais triunfo, mais fé no sobrenatural, sentimentos mais profundos”. Logo começou a tocar no 10 O `Clock Scholar, uma cafeteria a quadras do campus universitário, e se viu envolvido no circuito folk de Dinkytown.     

Durante seus dias en Dinkytown, Zimmerman passou a se chamar de “Bob Dylan”. Em uma entrevista concedida em 2004, Dylan disse: “Você nasce, sabe, com nomes errados, pais errados. Digo, isso acontece. Você se chama do que quiser se chamar. Este é o país da liberdade”. Em sua autobiografia, Crônicas (Vol. 1), Dylan escreveu sobre a mudança de nome: “Eu havia visto alguns poemas de Dylan Thomas. A pronúncia de Dylann e Allyn era parecida. Robert Dylan. A letra D tinha mais força. Entretanto, o nome Roberto Dylan não era tão atraente como Robert Allyn. As pessoas sempre haviam me chamado de Robert ou Bobby, mas Bobby Dylan me parecia vulgar, e além disso já haviam Bobby Darin, Bobby Vee, Bobby Rydell, Bobby Neely e muitos outros Bobbies. A primeira vez que me perguntaram meu nome em Saint Paul, instintiva e automaticamente soltei: Bob Dylan”. Queremos dizer com isso que a individuação, ou princípio de individualização, metodologicamente descreve a maneira segundo qual uma coisa é identificada como distinguida de outras coisas. O conceito aparece em numerosos campos e é encontrado em obras de pensadores diversos, mas sobretudo extraordinários neste panteão como Carl Jung, Gilbert Simondon, Bernard Stiegler, Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer, David Bohm, Henri Bergson, Gilles Deleuze e Manuel De Landa.

É expressa na ideia geral do objeto de poder ser referenciado sendo identificado como algo individual, logo “não sendo outra coisa”. Isso inclui como uma “pessoa uma” é realizada para ser diferente dos outros elementos do mundo e como ela se distingue de outras pessoas. A individuação, conforme descrita por Jung, por exemplo, é um processo através do qual o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma ampliação da consciência. Através desse processo, há identificação menos com as condutas e valores encorajados pelo meio no qual se encontra e mais com as orientações difundidas do “Si-mesmo”, representando assim a totalidade referida analiticamente como o conjunto das instâncias psíquicas sugeridas por Carl Jung, tais como persona, sombra, self, constitutivo de sua personalidade individual.  Em primeiro lugar, “contracultura” é um movimento que tem seu auge na década de 1960 quando teve lugar e espaço um estilo de mobilização e contestação social e utilizando novos meios de comunicação em massa. Jovens inovando estilos, voltando-se mais para o antissocial aos olhos das famílias mais conservadoras, com um espírito mais libertário, resumido como uma cultura underground, “cultura alternativa” ou “cultura marginal”, focada principalmente nas transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca de outros espaços e novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano, embora o hippie, que representa esse auge, almejasse a transformação da sociedade como um todo, através da tomada de consciência, da mudança de atitude e conhecimento do protesto político.

O movimento hippie foi um comportamento coletivo de contracultura dos anos 1960. Embora tendo uma relativa queda de popularidade nos anos 1970 nos Estados Unidos da América, a célebre máxima paz e amor (“Peace and Love”), que precedeu a expressão “Ban the Bomb”, a qual criticava o uso letal de armas nucleares. As questões ambientais, a prática de nudismo (ou naturismo) e a emancipação sexual eram ideias respeitadas recorrentemente através de atos e caminhadas por estas comunidades.  A contracultura no âmbito dos estudos e pesquisas sobre as humanidades pode ser definida como um ideário altercador que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental. Justamente por causa deste ponto de vista, são pessoas que costumam se excluir socialmente e algumas que se negam a se adaptarem às visões aceitas pelo mundo. Com o vultoso crescimento dos meios de comunicação massivos, a difusão de normas, valores, gostos e padrões de comportamento se libertavam das amarras tradicionais e locais ou regionais, comumente a religiosa e a familiar, ganhando uma dimensão mais universal e aproximando a juventude de todo o globo terrestre, de uma maior integração cultural e humana. Destarte, a contracultura desenvolveu-se na América Latina, Europa e principalmente nos Estados Unidos onde os indivíduos pragmáticos buscavam valores novos.  Em 1971, foi organizado no vale de Avándaro perto da cidade de Toluca, uma cidade vizinha Cidade do México, e ficou conhecido como O Woodstock Mexicano. Nudez publicamente, uso de drogas desvairadamente, bem como a presença da bandeira dos Estados Unidos orgulhosamente escandalizaram a sociedade mexicana a tal ponto que o governo reprimiu performances de rock and roll na década. 

O festival, comercializado como prova da modernização do México, nunca esperou atrair as massas como se fez, e o governo teve de dispersar os participantes encalhados em massa no final. Isso ocorreu durante a era do presidente Luis Echeverría, uma época extremamente repressiva na história mexicana. De outra parte, no âmbito da contracultura o pacifismo teve como escopo, especialmente, a guerra imperialista norte-americana contra o Vietnã e está presente nas primeiras cenas do filme Hair. – “Claude sai da sua casa na fazenda e é levado pelo pai até o ônibus que o levará à cidade, atravessa de caminhonete a zona rural americana com sua igrejinha simples, a estrada de terra, as frutas e as plantações. Deixa sua família para servir a pátria. Ele chega ao Central Park onde se encontra um grupo de jovens. Berger está lendo em voz alta para o grupo a convocação para o alistamento militar: - “Quem alterar, fraudar, destruir propositadamente, danificar propositadamente ou modificar de algum modo essa convocação, pode ser multado em até 10.000 dólares ou ser preso por até 5 anos”. Em seguida, o grupamento social como representação da contracultura queima a convocação e foge dos policiais que assistiam a tudo e passam a persegui-los. Está aí definida e segundo escritor marxista francês Guy Debord, a “dis-posição” cultural conscientemente ardilosa dos hippies frente à guerra de extermínio humano imperialista. Nascido no estado de Minnesota, neto de imigrantes judeus russos, aos dez anos de idade Dylan escreveu seus primeiros poemas e, adolescente, aprendeu piano e guitarra sozinho. 

Começou cantando em grupos de rock, imitando Little Richard e Buddy Holly, mas, quando foi para a Universidade de Minnesota em 1959, voltou-se para a folk music, impressionado com a obra do lendário cantor folk, Woody Guthrie, a quem foi visitar em Nova Iorque em 1961. Em 2004 foi eleito pela revista Rolling Stone o 7º maior cantor de todos os tempos e, pela mesma revista, o 2º melhor artista da música de todos os tempos, ficando atrás somente dos extraordinários Beatles, de Liverpool, Inglaterra e uma de suas principais canções, “Like a Rolling Stone”, foi escolhida como a melhor de todos os tempos. Influenciou diretamente grandes nomes do rock norte-americano e britânico dos anos de 1960 e 1970. Em 2012, Dylan foi condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade pelo presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Foi laureado com o Nobel da Literatura de 2016, por “ter criado novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana”. E, assim, tornou-se o primeiro e único artista na história a ganhar, além do Prêmio Nobel, o Pulitzer, o Oscar, o Grammy e o Globo de Ouro.

A cultura, que caracteriza as sociedades humanas, é organizada/organizadora via o veículo cognitivo da linguagem, a partir, segundo Morin (1998, 2008), do “capital cognitivo coletivo” dos conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. E, dispondo de seu capital cognitivo, a cultura institui as regras/normas que organizam a sociedade e governam os comportamentos individuais. Estas regras geram processos sociais e regenera globalmente a complexidade social adquirida por essa mesma cultura. Assim, a cultura não deve ser compreendida pelas metáforas estruturais, que são termos impróprios em uma organização recursiva onde o que é produzido e gerado torna-se produtor e gerador daquilo que o produz ou gera. Isso facto, cultura e sociedade estão em relação geradora mútua; nessa relação, não podemos esquecer as interações entre indivíduos, eles próprios portadores ou transmissores de cultura, que regeneram a sociedade, a qual regenera a cultura. Daí a tese sociológica segundo a qual, “se a cultura contém um saber coletivo acumulado em uma memória social, se é portadora de princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se gera uma visão de mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da cultura, então a cultura não comporta somente uma dimensão cognitiva: é uma máquina cognitiva cuja práxis é cognitiva”. É neste sentido próprio de saber cognitivo que uma cultura abre e fecha as potencialidades bioantropológicas do conhecimento. Ela as abre e atualiza fornecendo aos indivíduos o seu saber acumulado, a sua linguagem, os seus paradigmas, a sua lógica, os seus esquemas, os seus métodos de aprendizagem, métodos de investigação, de verificação, etc., mas, ao mesmo tempo, ela as fecha e inibe com as suas normas, regras, proibições, tabus, o seu etnocentrismo, a sua autossacralização, a sua ignorância de ignorância. 

Ainda aqui, o que abre o conhecimento é o que fecha o conhecimento. Desde o seu nascimento, o ser humano conhece não só por si, para si, em função de si, mas, também pela sua família, pela sua tribo, pela sua cultura, pela sua sociedade, para elas, em função delas. Assim, o conhecimento de um indivíduo alimenta-se de memória biológica e de memória cultural, associadas na própria memória, que obedece a várias entidades de referência, diversamente presentes nela. Tudo o que é linguagem, lógica, consciência, tudo o que é espírito e pensamento, constitui-se na encruzilhada dialógica entre dois princípios de tradução, um contínuo, o outro descontínuo (binário). As aptidões individuais organizadoras do cérebro humano necessitam de condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura conhece através do meu espírito. Assim, portanto, as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo o todo enquanto todo. Falar em complexidade é falar respectivamente em relação de interação per se complementar, concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas não é apenas essa complexidade que permite compreender a possível autonomia relativa do espírito (faculdades intelectuais) e no sentido técnico do cérebro individual. Mas é assim mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação à sua determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais.

Em relação à determinação cultural utilizando sua aptidão bioantropológicas para organizar o conhecimento. O espírito individual pode alcançar a sua autonomia jogando com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o constrange, limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos, aberturas, defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser individual e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito individual está inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de seu conhecimento cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou científico. A cultura fornece ao pensamento as suas condições sociais e materiais de formação, de concepção, de conceptualização. Impregna, modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais. A cultura e, pela via da cultura, a sociedade está no interior do conhecimento. O conhecimento está na cultura e a cultura está na representação do conhecimento. Um ato cognitivo per se é, ipso facto, um elemento do complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato cognitivo individual. As nossas percepções ou mesmo concepções estão sob um controle, não apenas de constantes fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis culturais e históricas. A percepção é submetida a categorizações, conceptualizações, taxinomias, que influenciarão o reconhecimento e a identificação das cores, das formas, dos objetos. O conhecimento intelectual organiza-se em função de paradigmas que selecionam, hierarquizam, rejeitam as ideias sociais e as técnicas, bem como em função de significações mitológicas e de projeções imaginárias.

Assim se opera a “construção social da realidade”, ou antes, a “co-construção social da realidade”, visto que a realidade se constrói também a partir de dispositivos cerebrais, em que o real (imagem) se consubstancializa e se dissocia do irreal (ficção), que constitui a visão de mundo, que se concretiza em verdade, em erro, na mentira. Para conceber a sociologia do conhecimento, é necessário, segundo Edgar Morin, conceber não só o enraizamento do conhecimento na sociedade e a interação social do conhecimento/na sociedade. Mas no anel recursivo no qual o conhecimento é produto/produtor sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva. Os homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as potencialidades de autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas, dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições culturais mais fechadas, máquinas triviais obedecendo impecavelmente à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde tiram conhecimentos objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas.                               

Seria ignorar que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história. Assim, o conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico.  Sobre a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os limites, ergue cercas de arame farpado e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso de terminações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, da menor teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior sobre o conhecimento. É necessário considerar, também, os determinismos intrínsecos ao conhecimento, que são muito mais implacáveis. Em primeiro lugar, princípios iniciais, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem uma visão de mundo e das coisas que governam e controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que, quando reinam, impõem a força imperativa do sagrado, normalizadora do dogma, proibitiva do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes dispõem também da força imperativa e coercitiva que leva a evidência aos convictos e o temor inibitório aos desalmados.

Bibliografia Geral Consultada.

D`ESCHAMBAULT, Antoine, “La Vie Aventureuse de Daniel Greysolon, Sieur Dulhut”. In: Revue d’Histoire de l`Amérique Française, V (1951–52), 320–39; ADORNO, Theodor, “Ideias para a Sociologia da Música”. In: Teoria e Prática. São Paulo, nº 3, abril de 1968; ROSZAK, Theodore, A Contracultura. Petropolis (RJ): Editoras Vozes, 1972; CLAGHORN, Charles Eugene, Biographical Dictionary of American Music. Estados Unidos: Editor Parker Publishing Company, 1973;  WHITE, Charles, The Life and Times of Little Richard: The Authorized Press. Londres: Editor Omnibus Press, 2003; BRIZUELA-GARCIA, Esperanza, Decolonising African History: Crisis and Transitions in African Historiography (1940-1990). Tese de Doutorado. Londres: School of Oriental and African Studies, 2004; VATTIMO, Gianni, El Sujeto y la Mascara. Barcelona: Editorial Península; 2003; ARALDI, Clademir Luís, Niilismo, Criação, Aniquilamento. São Paulo: Editora Unijuí, 2004; DAMIÃO, Carla Milani, Sobre o Declínio da Sinceridade. São Paulo: Editora Loyola, 2004; ANDRADE, Daniel Pereira, Nietzsche: A Experiência de Si como Transgressão. São Paulo: Editora Annablume, 2007; MORIN, Edgar, Introducción al Pensamiento Complejo. Barcelona: Editorial Gedisa, 1998; Idem, O Método 4 – As Ideias. Habitat, Vida, Costumes, Organização. 4ª edição. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008; TOUBOUL-TARDIEU, Eva, Séphardisme et Hispanité. Paris: Presses de l`Université Paris-Sorbonne, 2009; EPSTEIN, Daniel Mark, A Balada De Bob Dylan: Um Retrato Musical. São Paulo: Editor Zahar, 2012; FERRAZ, Maiaty Saraiva, A Poesia de Bob Dylan na Fronteira da Canção Popular e da Poesia Acadêmica. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1997; Idem, Refração e Retradução em Versões de Canções de Bob Dylan Gravadas no Brasil. Tese de Doutorado: Estudos da Tradução. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2020; Artigo: “Jagger, Dylan, Quincy Jones React to Death of Little Richard”. In: The Associated Press, 9 de maio de 2020; Artigo: “Livraria Lello Comprou em Leilão as Cartas de Amor do Jovem Bob Dylan por Meio Milhão de Euros”. In: https://ominho.pt/18/11/2022; CAMARGO, Gabriel Marinho, E sim eu sei que eles vêm tomar meu drinque em meu copo a trincar: Bob Dylan, os beats e a contracultura. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários. Faculdade de Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2025; entre outros.

domingo, 5 de outubro de 2025

Encantadora de Tubarões, Disciplina, & Espetacularização da Cultura.

                                                   O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Guimarães Rosa                                

As aptidões individuais organizadoras do nosso cérebro humano necessitam de condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura conhece através do meu espírito. Assim, portanto, as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo/espaço em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo “o todo enquanto todo”. Falar em complexidade é sociologicamente falar em relação social de interação simultaneamente complementar, concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas não é apenas esse nível de complexidade sob condições determinada que permitem compreender a possível autonomia relativa do espírito – as faculdades intelectuais - e no sentido técnico do cérebro individual. Mas é somente assim mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação à sua determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais.

E exatamente em relação à sua determinação cultural utilizando a sua aptidão bioantropológicas para organizar o conhecimento. O espírito individual pode alcançar a sua autonomia jogando com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o constrange, limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos, aberturas, defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser individual e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito individual está inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de seu conhecimento cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou científico. A cultura fornece ao pensamento as suas condições sociais e materiais de formação, de concepção, de conceptualização. Portanto, ela impregna, modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais. A cultura e, somente pela via da cultura, a sociedade está no interior do conhecimento. Edgar Morin sustenta a seguinte tese: O conhecimento está na cultura e a cultura está na representação do conhecimento. Um ato cognitivo per se é um elemento do complexo cultural coletivo que se atualiza em um ato cognitivo individual. As nossas percepções sociológicas do real (análise) ou mesmo concepções estão sob um determinado controle, não apenas de constantes fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis culturais e históricas. A percepção da esfera social é submetida a novas categorizações, sociais tanto quanto as formas de conceptualizações, taxinomias, que influenciarão o reconhecimento e a identificação das cores, das formas, dos objetos. O conhecimento organiza-se em função técnica de paradigmas que selecionam, hierarquizam, rejeitam as ideias e as informações técnicas, bem como em função de significações mitológicas e de projeções imaginárias. 

Assim se opera a “construção social da realidade”, ou antes, a “co-construção social da realidade”, visto que a realidade se constrói também a partir de dispositivos cerebrais, em que o real (imagem) se consubstancializa e se dissocia do irreal (fantasia), a weltanschauung, que se concretiza em verdade, em erro, na predestinação da mentira. Para conceber a sociologia do conhecimento, é necessário, conceber não só o enraizamento do conhecimento na sociedade e a interação social do conhecimento na sociedade. Mas no anel recursivo no qual o conhecimento é produto/produtor sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva. Os homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que produz seu reconhecimento. A cultura gera os conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de poder libertá-lo. Mas isso seria ignorar as potencialidades de autonomia no interior daquelas culturas dos espíritos individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições culturais mais fechadas, máquinas triviais obedecendo à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que toda cultura está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde retira conhecimentos objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. Seria ignorar que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma ideia, podem modificar e transformar uma sociedade, mudar o curso da história. O conhecimento está ligado, por todos os lados, à estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica.  

A mergulhadora e ativista Ocean Ramsey se tornou conhecida mundialmente por nadar “sem proteção com tubarões”. No documentário, acompanhamos sua jornada em defesa desses animais, sua relação com o oceano e as polêmicas que envolvem sua atuação, marcada por belas imagens, ativismo ambiental e questionamentos éticos. Sempre ou quase sempre por toda parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico. James Reed é um cineasta britânico reconhecido por documentários como Shark Whisperer (2025), Chimp Empire (2923), tem como representação uma série de televisão da Netflix sobre chimpanzés, narrada por Mahershala Ali. Chimp Empire acompanha a vida dos chimpanzés Ngogo, o maior grupo de chimpanzés reconhecido. A série explora a complexa dinâmica social da “comunidade de chimpanzés”, incluindo as relações entre machos e fêmeas, pais e filhos, e rivais. Também examina os desafios que os chimpanzés enfrentam, como a “competição por comida e território e a ameaça da caça ilegal”. Ambientado no Parque Nacional Kibale, em Uganda, ele acompanha a vida de grupos rivais de chimpanzés. O documentário foi lançado em 2023 e My Octopus Teacher, este último rendeu um Oscar em 2020. My Octopus Teacher é um documentário original da Netflix de 2020, dirigido por Pippa Ehrlich e James Reed. Ele documenta um ano passado pelo cineasta Craig Foster construindo um relacionamento com um polvo comum selvagem em uma floresta de algas marinhas da África do Sul. 

O filme ganhou o prêmio de Melhor Documentário no 93º Oscar. Em 2018, Craig Foster começou a praticar mergulho livre em uma floresta fria de algas subaquáticas em um local remoto em False Bay, perto da Cidade do Cabo, África do Sul. O local era perto de Simon`s Town, na Península do Cabo, que está exposta à fria corrente de Benguela do Oceano Atlântico. Ocean Ramsey, nascida em 1987, é uma conservacionista e modelo americana de tubarões. Ela ganhou atenção da mídia internacional por mergulhar livremente com tubarões, incluindo grandes tubarões brancos, para aumentar a conscientização sobre a conservação dos tubarões e promover seu negócio. Ramsey mora no Havaí e mergulhou com 47 espécies de tubarões ao redor do mundo em 2019. Ramsey opera a One Ocean Diving, LLC, uma empresa sediada no Havaí que facilita mergulhos com vida marinha. Ela é o tema de um documentário da Netflix de 2025, o Shark Whisperer, que aborda tanto seu trabalho de conservação quanto a controvérsia em torno de sua abordagem. Enquanto filmavam tubarões-tigre em Oahu, Ramsey e uma equipe de filmagem encontraram uma fêmea de tubarão-branco de 6,1 metros de comprimento, mais tarde identificada como Deep Blue, ou Haole Girl. O encontro foi capturado pelo noivo de Ramsey, Juan Oliphant, e a filmagem recebeu atenção da mídia mundial. Embora ela tenha sido elogiada por aumentar a conscientização sobre as espécies, ela foi” criticada por suas ações na filmagem.” O biólogo marinho Michael Domeier, diretor fundador do Marine Conservation Science Institute, uma organização sem fins lucrativos, criticou Ramsey por aparecer no vídeo viral de interação com tubarões. David Shiffman, um biólogo de conservação marinha que estuda tubarões, disse ao The Washington Post: “Não acredito que por favor, não agarre o predador selvagem de 5,5 metros de comprimento seja algo que precisa ser dito explicitamente em voz alta, mas aqui estamos”. Ramsey e dezenas de indivíduos e organizações buscavam há muitos anos uma lei que proibisse a matança de tubarões. Após anos de debates o Projeto de Lei 553 da Câmara do Havaí foi aprovado em 2021, tornando o Havaí o primeiro estado a proibir a matança de tubarões.

            A divisão do trabalho social não é específica do nível de análise econômico: podemos observar sua influência crescente nas regiões mais distintas da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as funções artísticas e científicas no âmbito das universidades. As especulações filosóficas da biologia nos demonstraram, na divisão do trabalho, um fato social de uma tal generalidade que os economistas, que foram os primeiros a mencioná-lo, não haviam podido suspeitar. Não é mais uma instituição social que tem sua fonte na inteligência e na vontade dos homens. Mas um fenômeno de biologia geral, cujas condições, ao que parece, precisam ser buscadas nas propriedades essenciais da disciplina organizada. A divisão do trabalho social passa a aparecer apenas como uma forma particular desse processo geral, e as sociedades, conformando-se a essa lei, parecem ceder a uma corrente de pensamento que nasceu bem antes delas e que arrasta no mesmo sentido todo o mundo vivo. Semelhante fato não pode, evidentemente, produzir-se sem afetar profundamente nossa constituição moral, pois o desenvolvimento do homem se fará em dois sentidos de todo diferentes. Não é necessário demonstrar a gravidade desse problema prático; qualquer que seja o juízo sobre a divisão do trabalho, o mundo sabe que ela é e se torna cada vez mais uma das bases fundamentais da ordem social tanto quanto política.

  

            No estudo da relação entre genealogia e poder, observava Michel Foucault que a primeira característica do que ocorria de forma nebulosa dizia respeito ao caráter local da crítica, uma espécie de produção teórica autônoma, não centralizada, isto é, que não tem necessidade, para estabelecer sua validade, da concordância de um sistema comum. Esta crítica local se efetuou através do que se poderia chamar de “retorno do saber”. Em um caso como no outro, no saber da erudição como naquele desqualificado, nestas duas formas de saber sepultado ou dominado, se tratava na realidade de saber histórico da luta. Nos domínios especializados da erudição como nos saberes desqualificados das pessoas jazia a memória dos combates, exatamente aquela que até então havia sido subordinada. Delineou-se o que se poderia chamar uma genealogia, ou, pesquisas genealógicas múltiplas: a redescoberta exata das lutas e memória bruta dos combates. E esta genealogia, como acoplamento do saber acadêmico e o saber das pessoas, só será possível se for eliminada a tirania dos colegiados, com suas hierarquias e os privilégios que permeia o discurso religioso/científico em saberes regionais.   

            Trata-se de ativar saberes locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados, contra a instância teórica unitária que pretenderia depurá-los, hierarquiza-los, ordená-los em nome de um conhecimento verdadeiro, em nome dos direitos de uma concepção de ciência detida por alguns. Trata-se da insurreição dos saberes não tanto contra os conteúdos, os métodos e os conceitos de uma ciência, mas de uma insurreição dos saberes antes de tudo contra os efeitos de poder centralizadores que estão ligados à instituição e ao funcionamento de um discurso científico organizado no interior da sociedade. Pouco importa que esta institucionalização do discurso científico se realize em uma universidade ou, de modo mais geral, em um aparelho político com todas as suas aferências, pois são os efeitos de poder próprios a um discurso considerado como científico que a genealogia deve combater, seja diante do processo de gentrificação do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na cidade de Fortaleza, objeto de pesquisa de pós-doutoramento em curso em análise comparada da degradação consciente do Centro Poliesportivo da Universidade Estadual do Ceará. O cedntro está sendo inutilizado pela ignorância. Não se trata de estudos de caso, mas torna-los capazes de oposição contra a coerção de um discurso teórico, unitário, formal e científico. Poderíamos lançar o desafio: - “Tentem colonizar-nos”. A burocracia moderna engendrou o intelectual específico nas universidades, através das atividades regulares necessárias aos objetivos da estrutura governada burocraticamente, que por sua vez são distribuídas de forma fixa como deveres oficiais que contém uma orientação, mas podem mudar de forma e sentido.

A autoridade de dar ordens necessárias à execução desses deveres oficiais se distribui de forma estável, sendo rigorosamente delimitada pelas normas relacionadas com os meios de trabalho e de coerção, físicos, sacerdotais ou outros, que possam ser colocados à disposição dos funcionários ou autoridades. O princípio da autoridade hierárquica de cargo encontra-se em todas as organizações burocráticas. Não importa, para o caráter da burocracia, que sua autoridade seja compreendida como privada ou pública. É o que tenta demonstrar, de forma hilária, o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo em uma série de ensaios temáticos. Quando o cargo está plenamente desenvolvido, a atividade oficial exige a plena capacidade de trabalho do funcionário, a despeito do fato de ser rigorosamente delimitado o tempo de permanência na repartição, que lhe é exigido. O desempenho do cargo segue regras gerais, mais ou menos estáveis, mais ou menos exaustivas, e que podem ser apreendidas. O conhecimento dessas regras representa um aprendizado técnico especial, a que se submetem esses funcionários. Envolve jurisprudência, ou administração pública e privada. A redução do cargo a regras está profundamente arraigada à sua própria natureza. A teoria da administração pública, sustenta que a autoridade para ordenar certos assuntos através decretos não dá à repartição o direito de regular o assunto através de normas expelidas em cada caso, mas na prática, converte-se em relações através dos privilégios individuais e concessão de favores, que domina de forma absoluta as relações entre indivíduos no âmbito do patrimonialismo.

A ocupação de um cargo é considerada uma profissionalização ou estágio, com a exigência de um treinamento rígido, que demanda toda a capacidade de trabalho durante um longo período de tempo e nos exames especiais que, em geral, são pré-requisitos para o emprego. A posição de um funcionário tem a natureza de um dever, sendo a lealdade dedicada a finalidades impessoais e funcionais. Sua posição social é assegurada pelas normas que se referem à hierarquia ocupada. A posse de diplomas educacionais está habitualmente ligada à qualificação técnica para o cargo. O tipo puro sociológico de funcionário burocrático é nomeado por uma autoridade superior. Mas uma autoridade eleita pelos governados não é como tal, uma figura exclusivamente burocrática. A nomeação independe dos estatutos legais, mas da forma pela qual funciona o sistema. Em todas as circunstâncias, a designação de funcionários por meio de uma eleição entre os governados modifica o rigor da subordinação hierárquica. O funcionário se prepara para uma carreira por concurso público, o que não impede que ocorra por determinado tempo a vigilância hierárquica para o cargo no serviço público. Foi esse tipo específico de poder que Michel Foucault chamou de “disciplina” ou “poder disciplinar”. E é justamente esse aspecto que explica o fato de que tem como alvo o corpo humano, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestra-lo. O que lhe interessa não é expulsar os homens da vida social, impedir o exercício de suas atividades, e sim gerir a vida dos homens, controla-los em suas ações para que seja possível e viável utilizá-los ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema de aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas capacidades. É um objetivo ao mesmo tempo econômico e político: aumento do efeito de seu trabalho, isto é, tornar os homens força de trabalho dando-lhes uma utilidade econômica máxima; diminuição de sua capacidade de revolta, de resistência, de luta, de insurreição contra as ordens do poder, neutralização dos efeitos sociais de contrapoder, isto é, tornar os homens dóceis politicamente.

Portanto, aumentar a utilidade econômica e diminuir os inconvenientes, os perigos políticos; aumentar a força econômica e diminuir expressivamente a sua força política. Situemos as suas características básicas. Em primeiro lugar, a disciplina é um tipo de organização do espaço. É uma técnica de distribuição dos indivíduos através da inserção dos corpos em um espaço individualizado, classificatório, combinatório. Isola em um espaço fechado, esquadrinhado, hierarquizado, capaz de desempenhar funções diferentes segundo o objetivo específico que deles se exige. Mas, como relações de poder disciplinar não necessitam de espaço fechado para se realizar, é essa sua característica menos importante. Em segundo lugar, e mais fundamentalmente, a disciplina é um controle do tempo. Isto é, ela estabelece uma sujeição do corpo ao tempo, com o objetivo de produzir o máximo de rapidez e o máximo de eficácia. Em terceiro lugar, a vigilância é um dos seus principais instrumentos de controle. Não uma vigilância que reconhecidamente se exerce de modo fragmentar e descontínuo; mas que é ou precisa ser vista pelos indivíduos que a ela estão expostos como forma contínua, perpétua, permanente; que não tenha limites, penetre nos lugares mais recônditos, esteja presente em toda extensão do espaço. Olhar invisível que permite impregnar quem é vigiado de tal modo que este adquira de si mesmo a visão panóptica de quem o olha. A disciplina implica um registro contínuo de conhecimento. O olhar que observa para controlar não é o mesmo que transfere as informações para os pontos mais altos da hierarquia do poder? Seu objetivo econômico e político é tornar o homem útil e dócil.

A grande importância estratégica que as relações de poder disciplinar desempenham nas sociedades modernas depois do século XIX, vem justamente do fato delas não serem negativas. Mas positivas, quando tiramos desses termos qualquer juízo de valor moral ou político e pensarmos unicamente na tecnologia empregada. É então, que, segundo Foucault, surge uma das teses fundamentais da genealogia: “o poder é produtor de individualidade”. O indivíduo é uma produção do poder e do saber. Atuando sobre uma massa confusa, desordenada e desordeira, o esquadrinhamento disciplinar faz nascer uma multiplicidade ordenada no seio da qual o indivíduo emerge como alvo do poder. O nascimento da prisão em fins do século XVIII, não representou uma massificação com relação ao modo como anteriormente se era encarcerado. O nascimento do hospício não destruiu a especificidade da loucura. É o hospício, ao contrário, que produz o louco como doente mental. Um personagem individualizado a partir da instauração de relações disciplinares. E antes da constituição das ciências humanas, no século XIX, a organização das paróquias, a institucionalização do exame de consciência e da direção espiritual e a reorganização do sacramento da confissão, que aparecem como importantes dispositivos de individualização. Em suma, o poder disciplinar não destrói o indivíduo; ao contrário, ele o fabrica. O indivíduo não é o outro do poder, realidade exterior, que é por ele anulado; é um de seus mais importes efeitos.

O objetivo é neutralizar a ideia que faz da ciência um conhecimento em que o sujeito vence as limitações reais ou imaginárias de suas condições particulares de existência instalando-se na neutralidade objetiva do universal e da ideologia um conhecimento em que o sujeito tem sua relação com a verdade perturbada, obscurecida, velada pelas condições reais de existência. Todo conhecimento, seja ele científico ou ideológico, só pode existir a partir de condições políticas que são as condições para que se formem tanto o sujeito quanto os domínios do saber. A investigação do saber não deve remeter a um sujeito de conhecimento que seria a sua origem, mas a relações de poder que lhe constituem. Não há saber neutro. Todo saber é político. E isso não porque cai nas malhas do Estado, é apropriado por ele, que dele se serve como instrumento de dominação, descaracterizando seu núcleo essencial. Mas porque todo saber tem sua gênese em relações de poder. O fundamental da análise teórica é que saber e poder se implicam mutuamente; não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder. 

Todo ponto de exercício do poder é, ao mesmo tempo, um lugar de formação de saber. É assim que o hospital não é apenas local de cura, mas também instrumento de produção, acúmulo e transmissão de saber. Do mesmo modo que a escola está na origem da pedagogia, a prisão da criminologia, o hospício da psiquiatria. Mas a relação ainda é mais intrínseca: é o saber enquanto tal que se encontra dotado estatutariamente, institucionalmente, de determinado poder. O saber funciona dotado de poder. E enquanto é saber tem poder. A configuração do que Foucault denomina de “intelectual específico” se desenvolveu na 2ª grande guerra (1939-1945), e talvez o físico atômico tenha sido quem fez a articulação entre intelectual universal e intelectual específico. É porque tinha uma relação direta e localizada com a instituição e o saber científico que o físico atômico intervinha; mas já que a ameaça atômica concernia todo o gênero humano e o destino do mundo, seu discurso podia ser ao mesmo tempo o discurso do universal. Sob a proteção deste protesto que dizia respeito a todos, o cientista atômico desenvolveu uma posição específica na ordem do saber. E admite Foucault, pela primeira vez o intelectual foi perseguido pelo poder político, não mais em função do seu discurso geral, mas por causa do saber que detinha: é neste nível que ele se constituía como um perigo político.

Mas o intelectual específico deriva de uma figura muito pobre e diversa do “jurista-notável”. O “cientista-perito”. O importante é que a verdade não existe fora do poder ou sem poder. A verdade é deste mundo, produzida nele graças a múltiplas coerções que produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, seus tipos de discursos que faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados, sob nosso olhar, para a obtenção da verdade. Quem está de fora do poder, mas tem a capacidade analítica de interpretar o estatuto que delimita o seu campo de saber, percebe os efeitos de poder do que funciona como verdadeiro.  É preciso repensar os problemas políticos dos intelectuais não mais em termos exclusivos da relação entre ciência e ideologia, mas sem abandoná-la, tendo em vista que a universidade pública é um domínio de casta, “a forma natural pela qual costumam socializarem-se as comunidades étnicas que creem no parentesco de sangue com os membros de comunidades exteriores e o relacionamento social. Essa situação de casta é parte do fenômeno de povos párias e se encontra em todo o mundo” (cf. Weber, 1982; pp. 449-470), a análise pode ser religada na medida em que a questão da profissionalização do intelectual, da divisão entre trabalho manual e intelectual, na esfera pública pode ser retomada. A verdade está circularmente ligada a sistemas de poder que a produzem e apoiam, e a efeitos de poder que ela induz e a reproduzem. Ipso facto, o problema político essencial para o intelectual não é apenas criticar os conteúdos ideológicos que privilegiam grupos no sistema educacional que estariam ligados à ciência ou fazer com que sua prática científica seja acompanhada por métodos de inclusão democráticos. O que está em jogo num sistema de castas, é se podemos constituir uma nova arena política sobre a questão da verdade. Mas não se trata de libertar a verdade do sistema de poder, mas de desvincular o poder da verdade das formas com as quais ele legitima suas formas de saber. A genealogia exige a minúcia do saber, evidenciando um grande número de materiais acumulados.

  

       Vale lembrar, neste aspecto que a biomatemática é um ramo da biologia que emprega análises teóricas, modelos matemáticos e abstrações dos organismos vivos para investigar os princípios que governam a estrutura, desenvolvimento e comportamento dos sistemas, em oposição à biologia experimental que lida com a realização de experimentos para comprovar e validar as teorias científicas. O campo multidisciplinar é algumas vezes chamado, precisamente, de biologia matemática ou biomatemática para enfatizar o lado técnico-científico matemático, ou biologia teórica para enfatizar abstratamente o lado biológico. Ipso facto, deste ponto de vista a biologia teórica se concentra mais do que nunca no desenvolvimento programático de princípios teóricos per se para a biologia. Enquanto a biologia matemática se concentra no uso de técnicas matemáticas para estudar sistemas biológicos embora ambos sejam muitas vezes trocados. A biologia matemática visa a representação matemática e modelagem de processos biológicos, utilizando técnicas e procedimentos metodológicos da matemática aplicada. Pode ser útil tanto em pesquisas teóricas e práticas. Descrever sistemas de maneira quantitativa significa que seu comportamento pode ser melhor simulado e, podem ser previstas propriedades que podem não ser evidentes para o experimentador. Uma matéria sempre apresenta a tendência de manter o seu estado, de repouso ou de movimento, a não ser que uma força externa influencie. A massa é uma grandeza que indica a medida da inércia ou da resistência de um corpo de ter seu movimento acelerado, ou seja, a massa à quantidade de partículas existentes em uma matéria. 

Isso requer modelos matemáticos precisos. Devido à complexidade dos sistemas vivos, a biologia teórica emprega vários campos de domínio de métodos da matemática, e tem contribuído para o desenvolvimento de novas técnicas. A matemática foi usada na biologia já no século XIII, quando Leonardo Fibonacci (1170-1250) usou a famosa série de Fibonacci para descrever uma população crescente de coelhos. No século XVIII, Daniel Bernoulli (1700-1782) aplicou a matemática para descrever o efeito da varíola na população humana. O ensaio de Malthus de 1789 sobre o crescimento da população humana foi baseado no conceito de crescimento exponencial. Há aqui um debate memorável: Pierre François Verhulst (1804-1849) formulou o modelo de crescimento logístico em 1836. Fritz Müller (1822-1897) descreveu os benefícios evolucionários do que é chamado mimetismo Müllerian em 1879, em uma conta notável sendo o primeiro uso de argumento matemático em ecologia evolutiva para mostrar o quão poderoso o efeito da seleção natural seria, a menos que se inclui Malthus s` discussão dos efeitos do crescimento populacional que influenciaram Charles Robert Darwin (1809-1882) e Thomas Malthus (1766-1834) argumentam que tal crescimento seria exponencial, enquanto os recursos só poderiam crescer aritmeticamente. O termo biologia teórica ​​foi usado pela primeira vez por Johannes Reinke em 1901. Um texto fundador é On Growth and Form (1917) por D`Arcy Thompson, e outros especialistas incluem Ronald Fisher, Hans Leo Przibram, Nicolas Rashevsky e Vito Volterra.

A Terra é o terceiro planeta mais próximo do Sol, o mais denso e o quinto maior dos oito planetas do Sistema Solar. É também o maior dos quatro planetas telúricos. É por vezes designada como Mundo ou Planeta Azul. Lar de milhões de espécies de seres vivos, incluindo os seres humanos, a Terra é o único corpo celeste onde é reconhecida a existência de vida. O planeta formou-se há 4,56 bilhões de anos, e a vida surgiu na sua superfície depois de um bilhão de anos. Desde então, a biosfera terrestre alterou de forma significativa a atmosfera e fatores abióticos do planeta, permitindo a proliferação de organismos aeróbicos, como a formação da camada de ozônio, que em conjunto com seu campo magnético, bloqueia radiação solar prejudicial, permitindo a vida no planeta. A sua superfície exterior é dividida em segmentos rígidos, chamados placas tectônicas, que migram sobre a superfície terrestre ao longo de milhões de anos. Aproximadamente 71% da superfície é coberta por oceanos de água salgada, com o restante consistindo de continentes e ilhas, contendo lagos e corpos de água que contribuem para a hidrosfera. Os polos geográficos encontram-se majoritariamente cobertos por mantos de gelo ou por banquisas. O interior abstrato da Terra permanece ativo e relativamente sólido: um núcleo externo líquido que gera um campo magnético, e um núcleo interno sólido, composto, sobretudo por ferro. A Terra interage com objetos em movimento no espaço, em particular com o Sol e a Lua. Orbita o Sol uma vez por cada 366,26 rotações sobre o próprio eixo, o que equivale a 365,26 dias solares ou representa um (01) ano sideral.

O eixo de rotação da Terra possui uma inclinação de 23,4° em relação à perpendicular ao seu plano orbital, reproduzindo variações sazonais na superfície do planeta, com período igual a um ano tropical, ou, 365,24 dias solares. Um fato social é questão sociológica ainda mais necessária porque se utiliza essa qualificação sem muita precisão. Ela e empregada correntemente para designar socialmente as relações que se dão originariamente no interior de uma sociedade, por menos que apresentem, com uma certa generalidade, algum interesse social. Todo indivíduo come, bebe, dorme, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que essas funções se exerçam regularmente. O sistema de signos de que me sirvo para exprimir meu pensamento, o sistema de moedas que emprego para pagar minhas dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo em minhas relações comerciais, as práticas observadas em minha profissão, etc., funcionam independentemente do uso que faço deles. Que se tomem um a um todos os membros de que é composta a sociedade; o que procede poderá ser repetido a propósito de cada um deles, ou seja, maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam essa notável propriedade de existirem fora das consciências individuais. Mas não são apenas exteriores ao indivíduo, como também são dotados de uma “força imperativa” e coercitiva em virtude da qual se impõe a ele, quer ele queira, quer não. Em se tratando de máximas puramente morais, a consciência pública reprime todo ato que as ofenda através da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos. A coerção social, mesmo sendo de forma indireta, continua sendo uma técnica ou estratégia de submissão eficaz.

Trata-se de uma ordem de fatos que apresentam características muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele. Por conseguinte, eles não poderiam se confundir com os fenômenos orgânicos, já que consistem em representações e em ações, nem com os fenômenos psíquicos, os quais só tem existência na consciência individual e através dela. Estes fatos constituem, portanto, uma espécie nova, e é a eles que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais. Essa qualificação lhes convém; pois é claro que, não tendo o indivíduo por substrato, eles não podem ter outro senão a sociedade, seja a sociedade política em seu conjunto, seja um dos grupos parciais que ela encerra: confissões religiosas, escolas políticas, literárias, corporações profissionais, etc. Por outro lado, é a eles só que ela convém; pois a palavra social só tem sentido definido com a condição de designar unicamente fenômenos que não se incluem em nenhuma das categorias de fatos já constituídos e denominados. Eles representam o domínio próprio da sociologia. Mas só há fato social onde há organização delineada, normalizada e estritamente definida. O hábito coletivo não existe apenas em estado de imanência nos atos sucessivos que ele determina, mas se exprime de uma vez por todas, por um privilégio cujo exemplo não encontramos no reino biológico, numa fórmula que se repete de boca em boca pela educação, que se fixa através da escrita.

Tais são as origens e a natureza das regras jurídicas, morais, dos aforismos e dos ditos populares, dos artigos de fé em que as seitas religiosas ou políticas condensam em crenças, dos códigos de gosto que as escolas literárias estabelecem, etc. Nenhuma dessas maneiras de agir ou de pensar se acha por inteiro nas aplicações que os particulares fazem delas, já que eles podem inclusive existir sem serem atualmente aplicadas. Há certas correntes de opinião que nos impelem, com desigual intensidade, conforme os tempos e os lugares, uma ao casamento, por exemplo, outra, ao suicídio, ou a uma natalidade mais ou menos acentuada. As circunstâncias individuais (o sonho) e coletivas (os mitos, os ritos, os símbolos) que podem ter alguma participação social na produção do fenômeno, neutralizam-se mutuamente e não contribuem para em princípio poder determina-lo. O que esse fato exprime é um certo estado de alma coletiva. Um fato social se reconhece, segundo Durkheim (1999), pelo poder de coerção que exerce ou é capaz de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se reconhece, por sua vez, seja pela resistência que o fato opõe a toda tentativa individual de faze-lhe violência. De fato, a coerção é fácil de constatar quando se traduz exteriormente por alguma reação direta da sociedade, como é o caso em relação ao direito, à moral, às crenças, aos costumes, inclusive às modas. Mas, quando, é apenas indireta, como a que exerce uma organização econômica, ela nem sempre se deixa perceber tão bem. A generalidade combinada com a objetividade pode então, ser mais fáceis de esclarecer. Essa segunda definição não é senão outra forma da primeira; pois, se uma maneira de se conduzir, que existe exteriormente às consciências individuais, se generaliza, ela só pode fazê-lo impondo-se.

A sociologia não pode desinteressar-se do que diz respeito ao substrato da vida social coletiva. Mas o número e a natureza das partes elementares de que se compõe a sociedade, a maneira como elas estão dispostas, o grau de coalescência a que chegaram, a distribuição estatística da população pela superfície do território, o número e a natureza das vias de comunicação, a forma das habitações, etc.  não parecem capazes, num primeiro exame, de se reduzir sociologicamente aos modos de agir, de sentir ou de pensar.  Ipso facto, no plano abstrato da teoria, a sociologia não confunde a prática dos rituais com seu sentido. Ipso facto a palavra função é empregada de duas maneiras bastante diferentes. Ora designa um sistema de movimentos vitais, fazendo-se abstração das suas consequências, ora exprime a relação de correspondência que existe entre esses movimentos e algumas necessidades sociais. Perguntar-se qual é a função da divisão do trabalho é, portanto, a que necessidade ela corresponde; quando tivermos “resolvido” essa questão, poderemos ver se essa necessidade é da mesma natureza que aquelas a que correspondem outras regras de conduta cujo caráter moral não é discutido. De todos os elementos da civilização, a ciência é o único que, em certas condições, apresenta um caráter moral. De fato, as sociedades tendem mais a considerar um dever para o indivíduo desenvolver sua inteligência, assimilando as verdades científicas que são estabelecidas.

           

           Não é impossível entrever de onde vem esse privilégio especial da ciência. Ela nada mais é do que a consciência, desde Hegel, Marx, Lukács, elevada a seu mais alto ponto de clareza. Quanto mais obscura uma consciência, lembrava Durkheim, mais refratária à mudança, porque não vê o que é necessário mudar, nem em que sentido é preciso mudar. Ao contrário, uma consciência esclarecida sente, compreende e sabe de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança. Eis por que é necessário que a inteligência guiada pela ciência, com consciência, adquira importância maior no curso da vida social e coletiva.   Mas a ciência, do ponto de vista da divisão do trabalho social, de acordo com Durkheim (2015), que todo mundo é assim chamado a possuir não merece ser designada por esse nome. Não é a ciência, é no máximo sua parte comum e mais geral. Ela se reduz a um pequeno número de conhecimentos indispensáveis, que só são exigidos de todos, aparentemente por estarem ao alcance de todos. A ciência propriamente dita supera infinitamente esse nível vulgar. Ela não compreende apenas o que é vergonhoso ignorar, mas tudo o que é possível saber. Ela não supõe apenas, nos círculos que a cultivam, essas faculdades médias que quase todos os homens possuem, mas disposições especiais. Por conseguinte, não sendo acessível senão a uma elite social, não é obrigatória; é uma coisa útil e bela, mas não é necessária a ponto de a sociedade reclamá-la imperativamente. É vantajoso estar munido dela; nada há de imoral em adquiri-la. É um campo de ação aberto à iniciativa das massas, mas em que ninguém é obrigado a entrar.

Costuma-se qualificar de moral tudo o que tem alguma nobreza e algum preço, tudo o que é objeto de aspirações um tanto elevadas, e é graças a essa excessiva abrangência da palavra que se fez a civilização entrar na moralidade. O domínio do ético está longe de ser tão indeterminado. Ele compreende todas as regras de ação que se impõem imperativamente à conduta e a que está vinculada uma sanção, mas não vai além disso em qualquer instância. Contudo, o conceito de “civilização” refere-se a uma grande variedade de ocorrência de fatos: ao nível de tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às ideias religiosas e aos costumes. Pode se referir ao de tipo de habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciário, ou educacional de vigilância e punição, explicado por Michel Foucault, e satisfatoriamente ao modo como são preparados os diversos tipos de alimentação como compreendemos com Claude Lévi-Strauss. Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode descrever como civilização. Ela se resume culturalmente em tudo que a sociedade ocidental dos últimos dois ou três séculos julga “superior”, para descrever o que lhe constitui o caráter especial e aquilo que se orgulha: o nível de sua tecnologia, a natureza de suas maneiras, o desenvolvimento de sua cultura científica ou cosmovisão. Sociologicamente representa um conjunto ordenado de valores, crenças, impressões, sentimentos e concepções de natureza intuitiva, anteriores à reflexão, a respeito da época ou do mundo em que se vive.

Em outros termos, é a orientação cognitiva fundamental de um indivíduo, de uma coletividade ou de toda uma sociedade, num dado espaço-tempo e cultura, a respeito de tudo o que existe: sua gênese, sua natureza, suas propriedades. Uma visão de mundo pode incluir a filosofia natural, postulados fundamentais, existenciais e normativos, ou temas, valores, emoções e ética. A cosmovisão ou visão do mundo continua a ser um conceito complexo e confuso em qualquer cultura, sendo usado de forma muito diferente por cientistas sociais.  No entanto, as crenças centrais da visão mundial são muitas vezes profundamente enraizadas e raramente são refletidas pelos indivíduos e coletividades, e são trazidas à superfície apenas em momentos e formas de crise de fé, de algum modo ocorrentes. Por exemplo, visão de mundo da causalidade como unidirecional, cíclica ou espiral gera um quadro abstrato do mundo que reflete esses sistemas de causalidade. Uma visão unilateral da causalidade está presente em algumas visões de mundo monoteísticas com um começo e um fim e uma única grande força com um único fim, exatametne no cristianismo e no islamismo, enquanto que uma visão de mundo cíclica da causalidade está presente na tradição religiosa que é, portanto, cíclica e sazonal e na qual os eventos e experiências repetem-se em padrões sistemáticos: zoroastrismo, mitraísmo e hinduísmo.

Ramsey opera a One Ocean Diving, LLC, uma empresa sediada no Havaí que facilita mergulhos com vida marinha. Ela é o tema de um documentário da Netflix de 2025, o Shark Whisperer, que aborda tanto seu trabalho de conservação quanto a controvérsia em torno de sua abordagem. Essas visões não apenas subjazem as tradições religiosas, mas outros aspectos do pensamento como a história, teorias políticas e econômicas, e sistemas como a democracia, autoritarismo, anarquismo, capitalismo, socialismo e comunismo. Nada há na civilização que apresente esse critério de moralidade, ela é moralmente indiferente. Se a divisão do trabalho não tivesse outro papel além de tornar a civilização possível, ela participaria da mesma neutralidade moral. Foi por não se ter geralmente atribuído à divisão do trabalho outra função, segundo Émile Durkheim, que as teorias propostas são a tal ponto inconsistentes. Isto é, supondo-se que exista uma “zona neutra” na moral, é impossível que a divisão social do trabalho dela faça parte. Se ela não é boa, é ruim; se não é moral, é uma decadência moral. Se ela não serve para outra coisa, cai-se em insolúveis antinomias, porque as vantagens econômicas que ela apresenta são compensadas por inconvenientes morais, e como é impossível subtrair uma dentre duas quantidades heterogêneas e incomparáveis, não se poderia dizer qual das duas leva a melhor sobre a outra, nem, por conseguinte, tomar partido. Invocar-se-á o primado da moral para condenar radicalmente a divisão do trabalho. 

Mas não apenas essa última ratio é sempre um “golpe de Estado científico”, como a evidente necessidade de especialização torna tal posição impossível de ser sustentada. Se a divisão do trabalho não cumpre outro papel, ela não só não tem caráter moral, como não se percebe que razão possa ter.  A civilização não tem valor intrínseco e absoluto; o que lhe dá seu preço é o fato de corresponder a certas formas de divisão do trabalho.  Ipso facto, o mais relevante, do ponto de vista sociológico, é o fato de que a experimentação tecnológica normalmente anda lado a lado, desde muito cedo, com experiências relacionadas à organização social. O mais notável efeito da divisão do trabalho não é aumentar o rendimento das funções divididas, como insistem os “burocratas da cultura” a que se referia José Arthur Giannotti, em seus aparelhos de Estado, mas torna-las solidárias. Seu papel social, em todos esses casos, não é simplesmente embelezar ou melhorar sociedades existentes, mas tonar possíveis sociedades que, sem elas, não existiriam. Façam a divisão do trabalho sexual regredir além de certo ponto, socialmente e a questão conjugal desaparece, deixando subsistir relações sexuais eminentemente efêmeras; mesmo se os sexos não fossem separados, toda uma forma da vida social sequer teria nascido.

É possível que a utilidade de uso econômica da divisão do trabalho tenha algo a ver com esse resultado, mas, em todo caso, ele supera infinitamente a esfera dos interesses puramente econômicos, pois consiste no estabelecimento de uma ordem social e moral sui generis. Se, com frequência, fez-se as relações sociais a que dá nascimento a divisão do trabalho consistirem apenas na troca, foi por se ter desconhecido o que a troca implica e o que dela resulta. Ela supõe que dois seres dependem mutuamente um do outro, por serem ambos incompletos, e apenas traduz exteriormente essa dependência mútua. Nada mais é que a expressão superficial de um estado interno e mais profundo. Precisamente por ser constante, esse estado suscita todo um mecanismo comunicativo de imagens que funciona como uma continuidade que a troca não possui. É por isso que apreciamos a companhia daquele que ela representa, porque a presença do objeto que ela exprime, fazendo-a passar ao estado de percepção atual, lhe dá maior relevo. Ao contrário, sofremos com todas as circunstâncias que, como a distância ou a morte, podem ter por efeito impedir seu retorno ou diminuir sua vivacidade. Por mais curta que seja a análise, basta para demonstrar que esse mecanismo não é idêntico comparativamente ao que serve dos sentimentos de simpatia, cuja fonte é a semelhança.

Sem dúvida, só pode haver solidariedade entre outrem e nós se a imagem desse outrem se une à nossa. Mas quando a união resulta da semelhança das duas imagens, ela consiste numa aglutinação. As duas representações tornam-se solidárias porque, sendo indistintas, no todo ou em parte, se confundem e se tornam uma só coisa, e só são solidárias na medida em que se confundem. Ao contrário, no caso da divisão do trabalho, estão fora uma da outra e só são ligadas por serem distintas. Portanto, os sentimentos não poderiam ser os mesmos nos dois casos, nem as relações sociais que deles derivam. Não temos apenas que procurar se, nessas espécies de sociedades, existe uma solidariedade social proveniente da divisão do trabalho. É uma verdade evidente, pois a divisão do trabalho é muito desenvolvida nelas e produz a solidariedade. Mas é preciso determinar, sobretudo, em que medida a solidariedade que ela produz contribui para a integração geral da sociedade, pois somente então saberemos até que ponto essa solidariedade é necessária, se é um fator essencial da coesão social, ou então, ao contrário, se nada é mais é do que uma condição acessória e secundária. Para responder a essa questão é preciso comparar esse vínculo social aos outros, seja com o grupo tomado coletivamente, a fim de medir a parte que lhe cabe no efeito total, sendo para isso indispensável começar por classificar as diferentes espécies de solidariedade social.

Bibliografia Geral Consultada.

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