“Existió una persona que podria entenderme. Pero fue, precisamente, la persona que maté”. Ernesto Sabato
A
imaginação humana pode separar todas as ideias simples, e uni-las novamente da
forma que bem lhe aprouver, nada seria mais inexplicável que as operações dessa
faculdade, se ela não fosse guiada por alguns princípios universais, que a
tornam, em certa medida, uniforme em todos os momentos e lugares. Fossem as
ideias inteiramente soltas e desconexas, apenas o acaso as ajuntaria; e seria
impossível que as mesmas ideias simples se reunissem de maneira regular em
ideias complexas se não houvesse algum laço de união entre elas, alguma
qualidade associativa, pela qual uma ideia naturalmente introduz outra. Esse
princípio de união entre as ideias não deve ser considerado uma conexão
inseparável, tampouco devemos concluir que, sem ele a mente não poderia juntar
duas ideias – pois nada é mais livre que essa faculdade. Devemos vê-lo apenas
como uma força suave, que comumente prevalece, e que é a causa pela qual, entre
outras coisas diversas, as línguas se correspondem de modo tão estreito umas às
outras: pois a natureza de alguma forma aponta a cada um de nós as ideias
simples mais apropriadas para serem unidas em uma ideia complexa. As qualidades
não dão origem a tal associação, e que levam a mente, dessa maneira promissora,
de uma ideia a outra, são três: semelhança, contiguidade no tempo e espaço, e a relação de causa e efeito.
Melhor
dizendo, que as ideias da memória são muito mais vivas e fortes que as da
imaginação, simplesmente, e que a primeira faculdade pinta seus objetos em
cores mais distintas que todas as formas que possam ser usadas pela última. Ao
nos lembrarmos de um acontecimento passado, sua ideia invade nossa mente com
força, ao passo que, na imaginação, a percepção é fraca e lânguida, e apenas
com muita dificuldade pode ser conservada firme e uniforme pela mente durante
todo o período considerável de tempo. Temos aqui uma diferença sensível entre
as duas espécies de ideias. Mas há uma outra diferença, não menos evidente,
entre esses dois tipos de ideias. Embora nem as ideias da memória nem as da
imaginação, nem as ideias vívidas nem as fracas possam surgir na mente antes
que impressões correspondentes tenham vindo abrir-lhes o caminho à
subjetividade, a imaginação não se restringe à mesma ordem na forma das
impressões originais, ao passo que a memória está de certa maneira amarrada
quanto a esse aspecto, socialmente quase sem nenhum poder de variação. É evidente que a memória
preserva a forma original sob a qual seus objetos se apresentaram. A principal
função social da memória não é preservar as ideias simples, mas sua ordem e
posição. Esse princípio se apoia em aspectos comuns e vulgares do dia a dia corrente
que podemos nos poupar o trabalho de continuar insistindo ideologicamente nele.
Isto exige de nós no plano abstrato de análise de que abandonemos, como é comum no discurso acadêmico, isto é,
sobre nossa preocupação essencialmente com a pretensão de objetividade do
conhecimento e tornemo-nos satisfeitos com a intersubjetividade.
São enormes as consequências no que diz respeito à problemática da verdade: por não ser rortyniana o conhecimento um “espelho da natureza”, mas algo que está fundamentalmente imbricado com a práxis dialogal e o contexto social, então a crítica das diferentes formas de práxis social é destituída de qualquer sentido, já que estamos presos pelos contextos simbólicos e qualquer tentativa de transcendência a eles significa um retorno à postura fundamentalista. Estabelecido que é impossível ir além do horizonte linguístico de opiniões justificadas, como se combina esta tese fundamental da reviravolta pragmática com a intuição de que sentenças verdadeiras levantam a pretensão de dar conta dos fatos do mundo. O desafio central do contextualismo está aqui: relacionar verdade e justificação. A reviravolta pragmaticamente feliz traz um modelo de conhecimento contraposto ao tradicional da representação, que é um modelo estático. Nossos conhecimentos constituem, na dimensão espacial, o resultado de trabalho sobre as decepções em nossa convivência inteligente com um mundo repleto de riscos, na dimensão social, a partir da legitimação de soluções de problemas frente às objeções de outros participantes da prática na dimensão argumentativa e, na família, no Estado, na educação, na realidade de dimensão histórica e temporalmente, a partir de processos de comunicação e de aprendizagem alimentam a revisão dos próprios erros.
A
América Latina está localizada na totalidade no hemisfério ocidental, cujas
linhas imaginárias que atravessam são: o Trópico de Câncer, pelo qual é
cortado o centro do México; o Equador, linha imaginária passada no Brasil,
Colômbia, Equador e pelo qual perpassa o Norte do Peru e o Trópico de
Capricórnio, pelo qual são atravessados o Brasil, o Paraguai, a Argentina e o
Chile. A América Latina é um complexo cultural das Américas a qual é
distribuída irregularmente pelos hemisférios Norte e Sul, porque a maioria de
suas terras é estendida ao Sul da Linha do Equador. Na América Latina são
comportadas diversas culturas, porque estão diversificados simultaneamente línguas
originárias, etnias e costumes. Há predomínio do espanhol como língua dos
países da América Latina, com a invasão e conquista das ilhas do Caribe em
1492, se estendeu rapidamente através da América com a penetração dos colonos
procedentes de Andaluzia e Extremadura, mas também de outras partes da Espanha,
que se estabeleceram ali nos séculos XVI e XVII constituindo-se ao redor de 200
mil pessoas nesses primeiros séculos. Atualmente é falado por mais de 370
milhões de latino-americanos, mas também o português, francês e, em certas
regiões ao Norte do continente, inglês e neerlandês. Há muitas e variadas formas
de línguas nativas, merecendo destaque o quíchua, legado dos Incas e idioma que
se fala no Peru, Equador, Bolívia e Argentina. Línguas românicas oficiais na
América Latina. Apesar da intensidade de mestiços, existem algumas nações em
que a maior parte dos habitantes é branca como a Argentina e Uruguai, outras,
ungidas no âmbito do processo civilizatório, onde quase todos os habitantes são
de origem étnica negra, como ocorre analogamente no Haiti, República Dominicana, Granada, Bahamas e
Barbados e outras, onde está na origem continental o índio: Peru, Bolívia,
México, Equador e Paraguai.
Existem
países mestiços de verdade: Colômbia e Venezuela e demais como o Brasil, no
qual são existentes regiões de população com pequeno predomínio de brancos e
demais onde é apresentada maior parte de negros, mestiços, mulatos ou índios. Vale
lembrar-se do ponto de vista técnico-metodológico, que a recepção das ideias de
Marx à América do Sul, tal como a chegada delas à América do Norte, dependeu
amplamente, do deslocamento dos imigrantes, que vinham da Europa, atravessavam
o Atlântico, para “fazer a América”. Para atender à demanda de mão-de-obra na
agricultura em substituição ao modo escravista de produção, e estratégias também
para promover a diversificação das atividades artesanais e manufatureiras, os
governos de diversos países sul-americanos, entre os quais os políticos da
Argentina e do Brasil, tomaram medidas destinadas a atrair os imigrantes; e na
segunda metade do século passado tais imigrantes acorreram em muitas centenas
de milhares. Em sua maioria, não eram socialistas, uns poucos, porém,
simpatizavam com seus ideais, aprovavam suas doutrinas. Outros já tinham
adquirido experiência em lutas políticas e sociais travadas em seus países de
origem e vinham justamente porque suportavam mal a repressão institucionalizada
nas sociedades em que tinham vivido. Poucos, entretanto, terão sido aqueles trabalhadores
que teriam ouvido do Manifesto Comunista de Karl Marx
e Friedrich Engels, de 1848.
A
teoria do modo de produção asiático como modo de produção característico das
milenares formas de constituição e manutenção da sociedade, bem como primeira
forma originária e mais geral de sociedade pós-comunidade primitiva, foi
fundamental para a concepção histórica e analítica de Marx, como aparecia
também em contraposição mais evidente em relação ao desenvolvimento da história
greco-romana ocidental. Suas mais importantes formações econômico-sociais, como
a China e a Índia, não se teriam alterado substancialmente mesmo com as grandes
invasões de povos bárbaros em passado mais remoto, como os mongóis, os árabes e
os hunos. Estes povos, apesar de superiores belicamente a chineses e hindus,
eram culturalmente inferiores a essas grandes civilizações orientais de
culturas milenares. O que transforma estas analogias em relação dinâmica de afinidade
eletiva, na falta de melhor expressão, é uma conjuntura histórica, uma constelação peculiar de eventos que se dá a partir do final
dos anos 1950. Por um lado, trata-se de uma conjuntura mundial: a crise e
renovação teológica do catolicismo europeu no pós-guerra, a eleição de João
XXIII em 1958 e sua convocação de Concílio, visando o aggiornamento da
doutrina e das práticas da Igreja.
Completou o doutorado em física na Universidad Nacional de La Plata em 1937, aos 26 anos. Ernesto Sabato (1911-2011) é um dos principais escritores argentinos do século XX, ao lado de Jorge Luis Borges, Roberto Arlt e Julio Cortázar. Escreveu três romances, “O Túnel”, “Sobre Heróis e Tumbas” e “Abaddón, o Exterminador”, além de numerosos ensaios. Em 1984, recebeu o Prêmio Miguel de Cervantes. Durante o governo de Raul Alfonsín (1983-1989), coordenou o projeto “Nunca Más”, que investigou os abusos cometidos pelo regime militar argentino. Depois de estudos no Laboratoire Curie, em Paris – quando se aproximou do círculo surrealista –, e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), passou a dar aulas na universidade de La Plata. Artigos que escreveu contra o governo de Juan Domingos Perón lhe custaram a demissão (cf. Zanata, 2011; Zamppronha, 2017). Em pouco tempo, Sabato abandonou a carreira na física, decepcionado com a “racionalidade científica”. Outro desencanto viria com o comunismo, do qual se afastou diante dos crimes de massificação de Josef Stálin. Em sua longa vida, Sabato exerceu vários ofícios e papéis sociais. Septuagenário, recebeu o pedido do presidente Raúl Alfonsín (1927-2009) para chefiar as investigações sobre as violações dos direitos civis durante a sangrenta ditadura militar argentina (1976-1983). Sabato presidiu, no decorrer de 280 dias (1983-1984), a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep). Esse trabalho, extraordinário e humanista reconhecido “Relatório Sabato”, resultou no livro Nunca Más (1984), que enumera as mortes e desaparecimentos de um total entre 10 mil e 30 mil pessoas, além de 340 centros de triagem e tortura.
As Forças Armadas argentinas prendem e depõem a presidente Isabel Martinez de Perón. Uma Junta Militar assume o governo e dá início à mais sangrenta ditadura da história do país e da América do Sul. O novo regime seria responsável pela morte e desaparecimento de cerca de 30 mil pessoas num período de sete anos – um em cada mil argentinos, a maioria jovens, foi assassinado pelos militares. O golpe de Estado de março de 1976 foi o último de uma série de seis intervenções das Forças Armadas na vida política da Argentina no século 20. Tirou do poder Isabelita, como era reconhecida a vice e mulher de Juan Domingo Perón, eleito em 1973 e que morreu menos de um ano depois da posse. O próprio Perón, que antes fora presidente do país por dois mandatos, já havia sido alvo de um golpe em 1955 também por parte dos militares. Seus governos tiveram como marcos a nacionalização de estradas de ferro e de serviços públicos, a promoção do desenvolvimento industrial e do emprego e a introdução de benefícios sociais aos trabalhadores. A popularidade conquistada junto às classes trabalhadoras fortaleceu o Partido Justicialista e consolidou o movimento político-ideológico que ficou reconhecido como peronismo. Após a deposição de Isabelita, quatro juntas militares mantiveram nos sete anos seguintes uma política sistemática de fazer desaparecer não apenas seus adversários, como também seus filhos. As Forças Armadas orientavam os agentes da repressão a encaminhar as crianças de até quatro anos para adoção por familiares de militares. A ditadura acabou em 1983 com a economia do país em frangalhos e uma fragorosa derrota na guerra contra o poderoso Reino Unido pela posse imperialista das Ilhas Malvinas. Nem todos os generais das juntas militares foram julgados e condenados pela tortura, assassinato e morte dos milhares de argentinos.
Na passagem do século XIX para o XX, a Argentina viveu um período próspero e estável logo após o fim da ditadura de Juan Manuel Rosas. O cenário político era regido por um Estado Liberal onde os grandes proprietários de terra e a burguesia financeira equilibrava-se no controle do poder. O crescimento da economia argentina ocorria a largos passos e aproveitou da crise econômica europeia no início do século XX para ampliar seu parque industrial. Juan Manuel José Domingo Ortiz de Rosas, apelidado de “o Restaurador das Leis”, foi um político e oficial militar argentino que governou a província de Buenos Aires e brevemente a Confederação Argentina. Nasceu em uma família rica, porém mesmo assim conseguiu “acumular uma riqueza pessoal, adquirindo grandes extensões de terra no processo”. Ortiz de Rosas colocou seus trabalhadores em uma milícia particular, algo comum para proprietários rurais de seu tempo, e participou de disputas entre facções que levaram a várias guerras civis no país. Foi bem sucedido na guerra, conseguiu influência pessoalmente e era seguido por um exército particular leal, tornando-se o modelo pragmático do caudilho, como os senhores provinciais da região eram reconhecidos. Rosas eventualmente alcançou a patente de brigadeiro-general, a mais alta do exército argentino, e tornou-se o líder incontestável do Partido Federal. Em meio a confrontação ocorre a determinação afetiva. O impessoal precisa ser apreendido em articulação com a técnica que se apresenta como instâncias condicionantes do modo de abertura do ente na totalidade que vigora em nosso tempo.
Com
isso, compreensão projeta o campo existencial do poder-se que cada ser-aí é,
mas sempre levando em conta a relação filosófica com o mundo fático que se
apresenta de forma tenra constitutiva das possibilidades efetivas de ser. É
muito provável que essas peculiaridades da história e do pensamento, em suas
realizações e frustrações, sejam o que há de mais característico da modernidade
latino-americana e caribenha. Uma modernidade entre barroca e mágica,
indo-americana e afro-americana, ibérica e ocidental, original e
esquizofrênica. É assim que essas nações, cada uma a seu modo, e todas como se
fosse um concerto de grande envergadura, se constituem como processos
históricos e mentais, realidades sociais em devir, possibilidades de realização
e criação. Em todos os casos, e em todas as épocas, compreendendo tanto o
colonialismo e o imperialismo como o globalismo, o que está em causa, na prática,
é o enigma envolvido no contraponto pensamento e pensado, conceito e
metáfora, categoria e alegoria. Subsiste permanentemente a impressão social de
que o pensamento, em suas várias e diferentes modalidades, não apreende o que
realmente está ocorrendo, quais são os problemas e os dilemas cruciais, porque
não correspondem a ideias, modelos ou ilusões que emergem sob formas de imaginários,
emprestados de outras realidades.
Outros, no entanto, podem fascinar-se precisamente porque assim se desvendam diferentes e fascinantes realidades, possibilidades e modos de ser, sentir, agir, pensar, compreender, explicar e fabular. As motivações que ordenam os símbolos não apenas já não formam longas cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear do tipo ideal de dedução lógica ou narrativa introspectiva já não basta para o estudo das motivações simbólicas. A classificação social dos grandes símbolos da imaginação em categorias motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da não linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades. Metodologicamente, se se parte dos objetos bem definidos pelos quadros da lógica dos utensílios, como faziam as clássicas “chaves dos sonhos”, segundo as estruturas antropológicas do imaginário, cai-se rapidamente, pela massificação das motivações, numa inextricável confusão. Parecem-nos mais sérias as tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse de um pensamento, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de meros pretextos para os devaneios imaginários. Tais são, de fato, socialmente as classificações mais profundas de analistas das motivações comparativamente do simbolismo religioso ou da imaginação de modo geral literária.
No prolongamento dos esquemas explicativos, arquétipos e simples símbolos modernos podem-se considerar o mito. Lembramos, todavia, que não estamos tomando este termo na concepção restrita que lhe dão os etnólogos, que fazem dele apenas o reverso representativo de um ato ritual. Entendemos por mito, “um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema, tende a compor-se na narrativa”. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do mesmo modo que o arquétipo promovia a ideia e que o símbolo engendrava o nome, podemos dizer que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem observou Emile Bréhier (1876-1952), a narrativa histórica e lendária. O método de convergência evidencia o mesmo isomorfismo na constelação e no mito. Enfim, para sermos breves, este isomorfismo dos esquemas, arquétipos sociais e símbolos no seio dos sistemas míticos, ou de constelações estáticas, pode levar-nos a verificar a existência de protocolos normativos das representações imaginárias, agrupados em torno dos esquemas originais e que antropologicamente a literatura refere-se como estruturas.
Ortiz de Rosas foi eleito
governador em dezembro de 1829 e estabeleceu uma ditadura apoiada pelo
terrorismo de Estado. Assinou o Pacto Federal em 1831, reconhecendo a autonomia
provincial e criando a Confederação Argentina. Seu mandato terminou em 1832 e
Rosas partiu para as fronteiras a fim de travar uma guerra contra populações
indígenas. Seus apoiadores realizaram em 1835 um golpe de Estado em Buenos
Aires e pediram para que ele retornasse mais uma vez como governador. Rosas
restabeleceu sua ditadura e formou a Mazorca, “uma polícia armada repressiva
que matou centenas de civis”. As eleições acabaram tornando-se farsas e os
poderes legislativo e judiciário foram transformados em instrumentos de sua
vontade. Rosas também criou um “culto de personalidade” e seu regime se tornou
totalitário, com todos os aspectos políticos da sociedade sendo rigidamente
controlados. Enfrentou muitas ameaças contra seu poder no final da década de
1830 e início da de 1840 quando travou uma guerra com a Confederação
Peru-Boliviana, sofrendo um bloqueio naval promovido pela França. Enfrentou uma
revolta em sua própria província e lutou durante anos contra uma rebelião que
se espalhou rapidamente pelos outros territórios. Mesmo assim perseverou e
ampliou sua influência, exercendo controle efetivo de todas as províncias
através de meios repressivos diretos ou indiretos. Por volta da década de 1848,
seu poder se estendia para além das fronteiras de Buenos Aires e governava toda
a Argentina. Enfim, Rosa também tentou anexar os países vizinhos do Uruguai e
Paraguai. Os franceses e britânicos retaliaram em conjunto contra o
expansionismo argentino, bloqueando Buenos Aires pela maior parte da segunda
metade dos anos 1840, porém eventualmente foram incapazes de parar Rosas, cujo
prestígio tinha crescido enormemente devido progressivos sucessos.
O desenvolvimento sócio-econômico argentino trouxe um amplo processo de urbanização que aumentou a formação dos grupos trabalhadores do país. A ascendência desse novo cenário sócio-político se contrapôs ao controle político das oligarquias que se cristalizaram no poder. As tensões e disputas políticas ficaram assim marcadas pelo surgimento da União Cívica Nacional, que reunia diversos grupos políticos defensores do Estado democrático de direito. Durante a década de 1920, a União Cívica conseguiu chegar ao poder com a eleição de Hipólito Irigoyen. A força política desse novo grupo foi oprimida pelos grupos conservadores que, no ano de 1930, realizaram um golpe de Estado com o apoio dos norte-americanos. Dessa forma, a década de 1930 foi reconhecida como a “década da infâmia”, onde fraudes eleitorais e a violência davam sustentação à chamada Concordância. No ano de 1943, a Concordância impôs o mandato de Ramon Castilho, que ficaria reconhecido como “o último dos presidentes apoiados pelo grupo conservador”. Em seu governo, o coronel Juan Domingo Perón liderou a pasta do Ministério do Trabalho, incentivou a ampliação dos direitos trabalhistas e a organização dos movimentos sindicais argentinos. Seu apelo popular, ideologicamente dirigido aos chamados “descamisados” da nação argentina, como ocorrera com o político alagoano pragmático e golpista Fernando Collor de Mello, no Brasil, fez com que Perón vencesse as eleições de 1946. O mágico está presente na literatura e na realidade social latino-americana. A fantasia do escritor, trabalhada por sua linguagem, produz a magia da escritura. O que há de novo, talvez, é que sempre ressoa a realidade na ficção, da mesma forma que está naquela. Assim como pode ser um traço fundamental de uma época da história da literatura latino-americana.
Um estilo literário que revela o espírito da cultura dessa época que por sua vez, ressoa os trabalhos e os dias, os impasses e as lutas, as derrotas e as façanhas da vida das pessoas, famílias, grupos, classes, movimentos sociais e outros setores nas sociedades nacionais, do continente e das ilhas. É como se um novo horizonte iluminasse de repente todo o vasto mural da história, revelando fatos sociais e feitos políticos que adquire outro movimento, som, cor. O romancista pode ser um cronista “fora do tempo”, narrando o imaginado e o acontecido segundo a luz que o ilumina. Pode representar um estilo de olhar na medida em que o realismo mágico parece uma superação do realismo social, crítico. É visto sociologicamente como um estilo diferente, novo. Emerge de uma época em que ele aparentemente estaria esgotado, ou revelando extraordinárias limitações. A fabulação do artista, então, cria outros meios sociais de expressão, abre horizontes novos à imaginação individual e coletivamente. Entre as soluções formais mais frequentes, podem-se antever: a desintegração da lógica linear cartesiana de consecução e consequência do relato, de cortes na cronologia fabular, da multiplicação e simultaneidade dos espaços da ação; caracterização polissêmica dos personagens e atenuação da qualificação diferencial do herói; maior dinamismo nas relações entre o narrador e o narratário, o relato e o discurso, através da diversidade das localizações, da auto-referencialidade e do questionamento da instância produtora da ficção.
Muitos
estudiosos reconhecem que a transição do realismo social ao mágico ocorre
simultaneamente à redescoberta das culturas de índios e negros. Como crenças,
tradições, estórias, lendas e mitos que expressam formas de serem, sentidos da
vida e trabalho no tempo e espaço. Sua estratégia política combinava elementos
populistas e mecanismos de autoritários de centralização do poder. O poder de
políticas de intervenção foi marcado por “baixos preços de consumo e altos
salários”. De acordo com a interpretação do próprio Juan Perón essa seria a
autêntica justiça social necessária ao povo trabalhador argentino. A fama desse
seu discurso político de controle da economia acabou dando nome ao seu governo
reconhecido como “justicialista”. Em verdade do ponto de vista ideológico o
peronismo é a denominação dada genericamente ao Movimento Nacional
Justicialista, criado e liderado a partir do pensamento de Juan Domingo Perón,
militar e estadista argentino, presidente daquele país, eleito nos pleitos
de1946, 1951 e 1973. O Movimento Justicialista transformou-se, mais
tarde em Partido Justicialista, a força política maioritária na Argentina. Os
ideais políticos do peronismo se encontram nos escritos de Perón como “La
Comunidad Organizada”, “Conducción Política”, “Modelo Argentino para un
Proyecto Nacional”, onde expressa a rotinização que continuam
influenciando o pensamento teórico acadêmico e na vida política da 2ª maior
nação sul-americana. Em 1944, durante
campanha de socorro às vítimas do terremoto de San Juan, ela conheceu o Juan
Domingo Perón, que, aos 48 anos, se encantou com aquela moça de 24 anos e
cabelos ainda escuros. O terremoto destruiu 80% da cidade de San Juan. Embora
as estimativas “falassem” em 15 mil vítimas, entre os estudos posteriores
indicaram que mortes no terremoto foi de cerca de 9 mil pessoas.
Como vê o direito somente de seu lado, e do outro, o agravo, a consciência que pertence à lei divina enxerga, do outro lado, a violência humana contingente. Mas a consciência, que pertence à lei humana, vê no lado oposto à obstinação e a desobediência do ser-para-si interior. Os mandamentos do governo são, com efeito, o sentido público universal, exposto à luz do dia; mas a vontade da outra lei é o sentido subterrâneo, enclausurado no interior, que em seu ser-aí se manifesta como vontade da singularidade, e que, em contradição com a primeira, comparativamente, lei é o delito. Assim, surge na consciência a oposição entre o sabido e o não-sabido, como também na substância a oposição entre o consciente e o carente de consciência – o direito absoluto da consciência-de-si ética entra em conflito com o direito divino da essência. A efetividade objetiva, tem como representação a essência para a consciência-de-si como consciência; mas segundo sua substância essa consciência-de-si é a unidade de si e desse oposto, e a consciência-de-si ética é a consciência da substância. O objeto abstrato, enquanto oposto à consciência-de-si, perdeu por isso sua significação de ter essência para si. Como desvaneceram as esferas sociais em que o objeto de pensamento é apenas coisa, as esferas em que a consciência solidifica algo de si, e faz, singular, a essência.
Esta unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução. É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito. Resumidamente, é possível afirmar que manteremos uma única vida social a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a isto Hegel chama “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, seu objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro. É um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo.
No
que toca mais precisamente a um dos lados da educação, melhor dizendo, à
disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio
bel-prazer; ele deve obedecer para aprender a mandar. A obediência é o começo
de toda a sabedoria; pois, por ela, a vontade que ainda não conhece o
verdadeiro, o objetivo, e não faz deles o seu fim, pelo que ainda não é
verdadeiramente autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que
em si vigore a vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta
se torne a sua vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela
deve ser aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal
à sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de filisteu.
Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só para si
mesmo, o jovem que se torna homem deve, ao entrar na vida prática, ser ativo
para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se deve
agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa conservadora produção do
mundo consiste no trabalho do homem. Podemos, pois, fora de dúvida, de um lado
dizer que o homem só produz o que já existe. É necessário que um
progresso individual seja efetuado. Mas o progredir no mundo globalizado só
ocorrer nas massas, e só se faz notar em uma grande soma de coisas realmente produzidas.
É a característica preservada e atribuída ao ente cuja existência é não necessária, mas, ao
mesmo tempo, não impossível - isto é, a sua realidade não pode ser demonstrada
nem negada em termos abstratos definitivos.
Dizer que são contingentes as proposições, e neste sentido que não contém um entendimento necessariamente verdadeiras nem necessariamente falsas é uma boutade. Há quatro classes abstratamente de proposições, algumas das quais se sobrepõem: proposições necessariamente verdadeiras ou tautologias, que devem ser verdadeiras, não importam quais são ou poderiam ser as circunstâncias. Geralmente o que se entende por proposição necessária é a proposição “necessariamente verdadeira”. Proposições necessariamente falsas ou contradições, que devem ser falsas, não importam quais são ou poderiam ser as próprias circunstâncias. Proposições contingentes, que não são necessariamente verdadeiras nem necessariamente falsas. Proposições possíveis, que são verdadeiras ou poderiam ter sido verdadeiras em certas circunstâncias. Enfim, todas as proposições necessariamente verdadeiras e todas as proposições contingentes também são proposições possíveis. O interesse, neste caso reprsentado especialmnee na esfera social da paixão é, portanto, inseparavelmente da realização do universal, pois o universal resulta do particular e definido e de sua negação. É o particular que se esgota na luta, onde parte dele é destruída. Não é a ideia geral que se envolve em oposição e luta expondo-se ao perigo, ela permanece no segundo plano, intocada e incólume.
Isto pode ser chamado astúcia da razão, porque deixa as paixões trabalharem por si, enquanto aquilo através do qual ela se desenvolve paga o preço e sofre a perda. O fenomenal é que em parte é negativo e em parte, positivo. Em geral o particular é muito insignificante em relação ao universal, os indivíduos são sacrificados e abandonados. Ela contraria o tributo da existência e da transitoriedade, não de si mesmo, mas das paixões dos indivíduos. Podemos achar tolerável a ideia de que os indivíduos, seus objetivos e suas satisfações sejam assim sacrificados e sua felicidade entregue ao domínio do acaso, a que ela pertence – e que em geral os indivíduos sejam vistos sob a categoria social de seus recursos. Este é um aspecto dinâmico de representação da individualidade humana que devemos recusar a tomar exclusivamente a esta luz, mesmo em relação ao mais elevado, um elemento que absolutamente não está subordinado, mas que existe nos indivíduos como essencialmente eterno e divino. Estamos falando essencialmente da moral, da ética e da religião. Por prosperidade pode-se entender analogicamente muitas coisas – a riqueza, a honra aparente e afins, mas ao falar-se de objetivo em si e por si, o que chamamos de prosperidade ou infelicidade, deste ou daquele indivíduo isolado, não pode ser visto como elemento essencial na ordem racional do universo que vivemos.
A
substância viva é o ser, que na verdade é sujeito, ou que é na verdade
efetivo, mas só na medida em que é o movimento do pôr-se-a-si-mesmo, ou a
mediação consigo mesmo do tornar-se outro. Como sujeito, é a negatividade pura
e simples, e justamente por isso é o fracionamento do simples ou a duplicação oponente,
que é de novo a negação dessa diversidade indiferente e de seu oposto. Só essa
igualdade se reinstaurando, ou só a reflexão em si mesmo no seu ser-Outro, é
que são o verdadeiro; e não uma unidade originária enquanto tal, ou uma unidade
imediata enquanto tal. O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que
pressupõe seu fim como sua meta, ipso facto sua antítese, que o tem como
princípio, e que só é efetivo mediante sua atualização e seu fim. Friedrich
Hegel era crítico das filosofias claras e distintas, uma vez que, para ele, o
negativo era constitutivo da ontologia do ser social. Neste sentido, a clareza
não seria adequada para conceituar o próprio objeto. Introduziu um sistema de
pensamento para compreender a história da filosofia e do mundo chamado
geralmente dialética: uma progressão no âmbito da história e sociedade na qual
cada movimento sucessivo surge como solução das contradições inerentes ao
movimento anterior. Com mais razão que a felicidade as vezes afortunadas,
requer-se do mundo que os objetivos bons, morais e corretos
encontrem sua satisfação e segurança realizadas de forma plena.
O
que faz os homens insatisfeitos moralmente – uma insatisfação de que eles se
orgulham – é que não acham o presente adequado à realização de objetivos que em
sua opinião são corretos e bons, especialmente os ideais das instituições
políticas de nosso tempo. Comparam as coisas como elas são, com seu ideal de
como deveriam ser. Neste caso, não é o interesse privado ou a paixão que deseja
a satisfação, mas a razão, a justiça, a liberdade. Em seu nome as pessoas pedem
o que lhes é devido e geralmente não estão apenas insatisfeitas, mas
abertamente revoltadas contra a condição de mundo. Para julgar esses pontos de
vista e esses sentimentos, ter-se-ia de examinar as exigências persistentes e
as opiniões dogmáticas em questão. Em nenhuma época tanto como na nossa vida
privada esse tipo de princípios e ideias gerais se apresentou com tamanha
pretensão. Embora as paixões não faltem, a história demonstra uma luta de
ideias justificáveis e, em parte, uma luta de paixões e interesses subjetivos
sob as pretensões mais elevadas como possíveis que são encaradas como legítimas
em nome do suposto destino ou conteúdo de sentido da Razão, têm assim validade
como fins absolutos, da mesma maneira que a religião, a moral, a ética. No
amor, nunca é demais repetir, um indivíduo tem a consciência de si na
consciência do outro, se vive de maneira altruísta.
Nesta renúncia cada um ganha a vida do outro e também a sua, que é uma só com o outro. Contra tal unilateralidade tem a efetividade uma força própria: alia-se à verdade contra à consciência, e lhe mostra enfim o que é a verdade. Mas a consciência ética bebeu, da taça da substância absoluta, o olvido de toda a unilateralidade do ser-para-si, de seus fins e conceitos peculiares; e por isso afogou, ao mesmo tempo, nessa água do Estige toda essencialidade própria e significação independente da efetividade objetiva. É, portanto, seu direito absoluto que, agindo conforme à lei ética, não encontre outra coisa nessa efetivação que o cumprimento dessa lei mesma, e o ato não mostre outra coisa senão o agir ético. O ético, enquanto essência absoluta e ao mesmo tempo potência absoluta, não pode sofrer perversão de seu conteúdo. Fosse apenas a essência absoluta sem a potência, poderia experimentar uma perversão por parte da individualidade, mas essa, como consciência ética, com o abandonar de seu ser-para-si unilateral, renunciou ao perverter. Inversamente, a simples potência seria pervertida pela essência, caso fosse ainda um tal ser-para-si. A individualidade é pura forma da substância, que é o conteúdo; e o agir comunicativo humanamente do pensamento à efetividade, somente como o movimento de uma oposição socialmente carente-de-essência, cujos momentos não possuem conteúdo e essencialidade distintos entre si. O direito absoluto da consciência ética consiste em que a figura de sua efetividade – não seja outro, senão o que ela sabe.
Rapidamente o romance entre os dois se tornou público, já que Perón, na época à frente do Ministério do Trabalho, gostava de chocar seus correligionários e amigos ao apresentá-la de maneira formal como sua amante. Após tingir os seus cabelos de loiro para um filme, que depois se tornou a sua marca registrada, Evita falsificou os seus documentos, transformando-se em Maria Eva Duarte, nascida em Junín, em 1923, para poder casar-se legalmente com o coronel Perón em uma cerimônia intima e para poucos amigos. Após a sua forte atuação na campanha presidencial, que levou Perón ao poder em fevereiro de 1946, Eva foi convidada para uma viagem para a Itália, França, Espanha e Suíça, onde passou três meses e retornou com um novo guarda-roupa repleto de roupas de grife. Uma matéria publicada na revista Life, em 1950, mostrando seus inúmeros armários com joias, peles, sapatos e vestidos de grandes estilistas causou espanto na comunidade internacional. No papel de primeira-dama, Evita desenvolveu um trabalho intenso no lado político, criando o Partido Peronista Feminino e dando direito a voto às mulheres em 1947.
Ao mesmo tempo, no lado social, desenvolveu a Fundação Eva Perón, onde trabalhava mais de 18 horas por dia distribuindo alimentos, roupas, construindo hospitais, escolas, lares para as chamadas “mães solteiras” e asilos para idosos. Apesar de ter ganhado a simpatia da classe média baixa da população, Evita era severamente atacada pela oposição, que transferiu para ela a antipatia e a rejeição que sentiam por Perón. Contudo, os elementos paternalistas e nacionalistas de Juan Perón andavam de mãos dadas com um governo centrista que não aceitava protestos públicos aniquilando a oposição através de um sistema partido único. A popularidade que lhe garantiu um segundo mandato, em 1951, não conseguiu resistir à crise econômica global deflagrada naquele mesmo ano. O papel intervencionista do Estado acabou gerando uma enorme dívida pública incapaz de desenvolver a indústria pesada e de bens não-duráveis. O processo inflacionário veio logo em seguida. A estagnação da economia obrigou tanto seu governo a tomar medidas impopulares que regulavam o consumo e congelava os salários. Juan Perón estabeleceu na Argentina a onda populista que se irradiava de diferentes formas em governos latino-americanos. O projeto de justiça social que encabeça seu governo e o seu poder carismático, aglutinam as classes trabalhadores, as massas, em um novo campo de interação social e política que formam a base política de Perón. Essa fórmula realiza o movimento peronista de viés justicialista com a ideia precisa de apoio tanto econômico e político de setores da sociedade argentina, caracterizando-se os movimentos liderados por líderes personalistas da América Latina.
Na América Latina, o primeiro país que concedeu o voto às mulheres foi o Equador, em 1929. Na Argentina só após a posse de Juan Domingo Perón, em 1946, é que começou a campanha pelo voto feminino, através de sua esposa Evita, que se empenhou com vontade política por essa conquista, aprovada pelo Congresso em 23 de setembro de 1947. A Lei do Voto Feminino assinada em 1947, e a criação do Partido Feminino tiveram grande importância na inclusão das mulheres no âmbito político foram decisivos para o segundo mandato de Juan Perón. As mulheres que fizeram parte do partido feminino peronista eram escolhidas por Evita Perón (1919-1952) devido à sua lealdade partidária. A primeira dama a partir de sua expressão política representou para essas mulheres o principal instrumento ideológico de inclusão na sociedade. A criação do partido feminino contribuiu para construir a sua liderança de Eva Perón, porém não buscava somente esse propósito, mas também o controle social e eleitoral para aumentar a base de sustentação do regime populista. As mulheres escolhidas por Evita trabalhavam nas Unidades Básicas Femininas, que tinham uma política pública clientelista voltada para as mulheres e crianças e a proteção da família. Elas trabalhavam em ligação com a Fundação Eva Perón, pois ajuda social era um dos objetivos clientelistas do partido. Com a liderança de Eva, as mulheres conseguiam mais presença política, sendo candidatas aos cargos importantes e do rol eleitoral. Em 1938 Ernesto Sabato obteve doutorado em Física na Universidade Nacional de La Plata. Graças a Bernardo Houssay, lhe foi concedida uma bolsa anual para realizar trabalhos de investigação sobre radiação atômica no Laboratório Curie em Paris. Nasce seu primeiro filho, Jorge Federico.
Em 1939 foi transferido para o MIT, deixando Paris antes da 2ª guerra mundial. Voltou à Argentina em 1940 para ser professor da Universidade de Buenos Aires. Em 1943, devido uma crise existencial, decide afastar-se definitivamente da área científica, para se dedicar completamente à literatura e a pintura. Ao final da 2ª guerra mundial, em 1945, nasce seu segundo filho, Mario Sabato que será um reconhecido diretor de cinema. Em 1945 publica seu primeiro livro, Nós e o Universo, uma série de artigos filosóficos nos quais crítica a neutralidade moral da ciência e alerta sobre os processos de desumanização nas sociedades tecnológicas. Em 1945 saiu Uno y el Universo, uma “série de aforismos e observações pessoais sobre questões políticas, sociais e filosóficas”. Antes e depois da publicação de O Túnel, Sabato continuou escrevendo livros de ensaios, incluindo o estudo El Otro Rosto del Peronismo. Somente em 1961 veio à luz o segundo romance do autor, Sobre Heróis e Tumbas, no qual retoma o estudo psicológico de O Túnel sobre um background histórico. Em 1974 Sabato publicou o terceiro e último romance, Abaddón, o Exterminador. Entre outros volumes de não ficção, por exemplo, o escritor lançou em 1968: Tres Aproximaciones à la Literatura de Nuestro Tiempo, ensaios sobre Jorge Luis Borges, Alain Robbe-Grillet e Jean-Paul Sartre. Sabato recebeu o Prêmio Cervantes, o mais relevante da língua espanhola, em 1984, ano em que saiu na Espanha o Relatório Nunca Mais. Em 1999, lançou seu livro de memórias Antes do Fim e, em 2000, veio a público seu último livro, La Resistencia, primeiro na rede internet e depois em papel impresso de editora. O escritor, que foi também um pintor respeitado, morreu em Santos Lugares, nas imediações de Buenos Aires, a poucos meses de completar 100 anos.
Com
o tempo, vai construindo uma postura libertária. Em 1948 marcou o início do
repentino prestígio de Ernesto Sabato: publicou seu primeiro romance, O Túnel,
de polida construção psicológica de personagens (cf. Castiglioni, 1995; Pacheco,
1997; Mascarenhas, 2020) e de apurada narrativa. Enraizada no existencialismo,
uma corrente filosófica de enorme difusão no pós-guerra, O túnel recebeu
críticas entusiastas de Albert Camus que fez com que a obra fosse traduzida
para o francês por Gallimard. Em 1961 publica o ensaio: Sobre Heróis e Tumbas,
que foi considerado como o melhor romance Argentino do século XX. Se trata de
um romance complexo, no qual a história social de decadência de uma família
aristocrática se intercala com um comovedor relato intimista sobre a morte do general Juan Lavalle, herói da Independência, e sobre a qual se fez
uma peça poético-musical, com o músico Eduardo Falú, com o título
de Romance para a Morte de Juan Lavalle. – “Quando decidi usá-lo em meu
romance, não era, de modo algum o desejo de exaltar Lavalle, nem de justificar
o fuzilamento de outro grande patriota como foi Dorrego, mas sim de conseguir
através da linguagem poética o que jamais se consegue através de documentos de
partidários e inimigos; tentar penetrar nesse coração que abriga o amor e o
ódio, as grandes paixões e as infinitas contradições do ser humano em todos os
tempos e circunstâncias, o que só se consegue através do que se deve chamar de
poesia, não no sentido estreito e equivocado que é dado em nosso tempo a essa
palavra, mas sim em seu mais profundo e primordial significado”.
O
romance inclui também o famoso Informe sobre cegos que algumas vezes foi
publicado como peça separada, e que serviu de base para um filme. Se trata de
um texto tortuoso que coloca o protagonista nu, ambiente infernal e opressivo,
em uma história de pesadelo e paranoia, que transcorre nos sótãos e
subterrâneos de Buenos Aires. No ano de 1975 recebeu o Prêmio de Consagração
Nacional da Argentina. Dois anos mais tarde recebeu na Itália o Prêmio Medici. Por
solicitude do presidente Raúl Alfonsín, presidiu entre 1983 e 1984 a Comissão
Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas, cuja investigação, publicada no
livro Nunca Más, abriu as portas para o julgamento dos militares da
ditadura argentina. Em 1984 recebeu o Prêmio Cervantes. No ano de 1987 foi
homenageado na França como Comandante da Legião de Honra. Dois anos mais tarde,
em 1989, recebeu em Israel o Prêmio Jerusalém. No mesmo ano recebeu um
Doutorado honoris causa da Universidade de Murcia, na Espanha. No ano de
1991 recebeu um Doutorado honoris causa da Universidade de Rosario, na
Argentina e em 1993 recebeu um Doutorado honoris causa da Universidade Estadual
de Campinas, na cidade de São Paulo, Brasil. A mesma honra lhe foi outorgada
por parte da Universidade de Turin, na Itália, em 1995, ano em que morreu seu
filho Jorge em um acidente automobilístico. Faleceu na madrugada de 30 de abril
de 2011, aos 99 anos de idade.
Bibliografia
Geral Consultada.
LEE, Cecilia Castro de, “El Tiempo en El Túnel de Ernesto Sabato.” In: Boletín Cultural y Bibliográfico, vol. 18, n° 01, 1981, pp. 217–227; URBINA, Nicasio, La Significación del Género. Estudio Semiótico de las Novelas y Ensayos de Ernesto Sabato. Miami: Ediciones Universal, 1992; CASTIGLIONI, Ruben Daniel Méndez, História y Circunstancia: Ernesto Sábato, el Hombre y su Literatura. Dissertação de Mestrado. Instituto de Letras e Artes. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1995; PACHECO, Gilda, “El Verdadero Móvil del Crimen en El Túnel de Ernesto Sábato”. In: Repertorio Americano, n° 4, 1997; SABATO, Ernesto, Hombres y Engrenajes. Madrid: Alianza Editorial, 1973; Idem, O Túnel. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2000; LÓPEZ, Pablo Sánchez, “Notas sobre la Represéntation de la Mujer en la Obra de Ernesto Sábato”. In: Espéculo: Revista de Estudios Literários, n° 29, 2005; GUIMARÃES, Andresa Fabiana Baptista, Os Cegos em Sábato e em Saramago: Análise Comparativa de Alguns Procedimentos Literários. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Letras. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005; LACLAU, Ernesto, La Razón Populista. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2005; SILVA, Lindinei Rocha, Figurações do Intelectual Latino-americano em Las Venas Abiertas de América Latina, de Eduardo Galeano. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2011; ZANATTA, Loris, Eva Perón. Una Biografia Política. Buenos Aires: Editora Sudamérica, 2011; CONSTENLA, Julia, Sabato, el Hombre. La Biografía Definitiva. Buenos Aires: Editora Sudamérica, 2011; ROMERO, Joyce Conceição Gimenes, O Perigo das Águas: Aspectos do Feminino Terrível em Gustavo Adolfo Bécquer, Octavio Paz e Eduardo Galeano. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista, 2014; SARTRE, Jean-Paul, Esboço Para Uma Teoria das Emoções. Porto Alegre: L&PM, 2014; ZAMPRONHA, Maria Amélia Güllnitz, Psicologia Social e Educação no Brasil: Os Estudos de Dante Moreira Leite sobre Ideologia e Preconceito. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade. Faculdade de Educação. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017; MACHADO, Matheus Avila, A Produção Acadêmica sobre Tradução Indireta no Brasil: Um Estado da Arte. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução. Centro de Comunicação e Expressão. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2024; entre outros.
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