segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Quando a Vida Acontece – Sardenha, Cultura & Arqueologia do Silêncio.

                        Em última análise, precisamos amar para não adoecer”. Sigmund Freud

          Baseado em um conto do suíço Peter Stamm, “Quando a Vida Acontece” (“Was Wir Wollten”) foi o escolhido pela Áustria como seu representante por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional. A trama gira em torno do casal Alice (Lavinia Wilson) e Niklas (Elyas M’Barek) e suas “tentativas disciplinares de gravidez”. Peter Stamm é o autor do conto que inspirou o filme “Quando a Vida Acontece”, de Ulrike Kofler, de 2020. O drama austríaco narra a história de um casal que tem dificuldades para engravidar e decide passar férias na Sardenha. Escólio: Alice (Lavinia Wilson) e Niklas (Elyas M`Barek) estão em crise conjugal e enfrentam tentativas frustradas de engravidar. A Áustria escolheu o “simbiótico” filme representante para a corrida por uma indicação cinematográfica ao status de Oscar de Melhor Filme Internacional. Entretanto, se o problema não pode ser resolvido, eles decidem fazer uma viagem até a Sardenha, no Mediterrâneo, mas é lá que eles ficarão em uma casa geminada com vizinhos enredados em outra ordem de problemas. Na metade do filme temos aspectos sociais de desenvolvimento dos personagens, querendo engravidar e sofrendo, ipso facto, não é apenas o que Ulrike Kofler consegue dar fôlego de forma transcendente. Para engravidar, é necessário que um espermatozoide encontre um óvulo. Para que isso aconteça, é preciso ter relações sexuais durante o período fértil, que é a fase da ovulação.

A partir de sua segunda parte, o longa-metragem parece não ir fundo naquilo que se propõe: a relação social do casal com os vizinhos chega a gerar conflitos realmente interessantes e a insistência de Alice em ter um filho biológico só afasta o espectador ainda mais da personagem – a forma como ela rechaça a possibilidade de uma adoção, por exemplo, é bem questionável? Quando próximo do ato final somos surpreendidos com uma possível reviravolta. Estamos tão envolvidos no ambiente quase blasé do filme, que exprime completa indiferença pela novidade, pelo que deve comover, chocar etc., quando a relação dialética não muda a perda da sensibilidade que elucida. Do ponto de vista sociológico o filme: “Quando a Vida Acontece” consegue amenizar à histórica Sardenha e aparece suas ligações de uma frieza e sutileza que não funcionam (cf. Chodorow, 1978; Badinter, 1985; Ginzburg, 1986), pois é apenas superficial dos seus temas. Existe, gradativamente uma exposição de uma relação social que tende a se desintegrar com o uso do tempo socialmente. Alice (Lavinia Wilson) e Niklas (Elyas M’Barek) formam um casal “cansado de lutar para ter um filho”, e, sem querer, acabam reconhecendo “vizinhos de férias supostamente perfeitos”. A metafísica distingue-se das ciências particulares por conta do objeto reflexivo a respeito do qual está preocupada, o ser total, e por ser uma prioridade. Por isso, a diferença entre os métodos da metafísica e das ciências particulares decorre da diferença entre os objetos estudados. Assim, as categorias abstratas que são expressas nas formas adequadas da subjetividade humana que valem para as partes não podem ser estendidas ao inteiro. 

Uma característica da compreensão do mundo que vivemos é a secularização baseada na individualidade e na racionalidade. É um processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da vida social. Essa perda de influência repercute-se na diminuição do número de membros das religiões e de suas práticas. Na perda do prestígio das igrejas e organizações religiosas. Na influência na sociedade, na cultura, na diminuição das riquezas das instituições religiosas, e, last but not least, na desvalorização das crenças e dos valores a elas associados. A partir do século XIX, houve um progressivo declínio da influência das instituições religiosas tradicionais. Este declínio verificou-se tanto na prática dos fiéis, como na dificuldade crescente em recrutar clero para o desenvolvimento e manutenção da instituição. A maior parte dos estudos acadêmicos versou a tentativa de compreensão deste âmbito. A investigação social já não se centra tanto nas causas e nas razões da secularização, mas nas possibilidades da relação social da modernidade com o religioso. Vale lembrar historicamente que, os movimentos sociais na esteira dos sentimentos religiosos que culminaram na grande reforma religiosa do século XVI tiveram início desde a Idade Média, através dos teólogos John Wycliffe (1328-1384) e Jan Huss (1369-1415). Esses movimentos sociais foram reprimidos, mas, na Inglaterra e Boêmia, Alemanha, os ideais reformistas preservaram em circunstâncias tanto históricas quanto sociais em relação às tendências que romperam a revolta religiosa na Alemanha.

                                           

A Sardenha é uma ilha do mar Mediterrâneo ocidental e uma região autônoma da Itália insular, com uma área de 24 100 km² e capital em Cagliari. Situada a Oeste da península Itálica, Sul da Córsega e a Norte da Tunísia, entre o mar Tirreno, que banha a costa oriental, e o mar da Sardenha na costa ocidental, a Sardenha é a segunda maior ilha do Mediterrâneo. O estatuto de autonomia especial, semelhante ao do Vêneto, instituído em 1948, está consagrado na Constituição italiana e garante, além da autonomia administrativa das instituições locais, a proteção das particularidades linguísticas e culturais. A Sardenha situa-se no centro do Mediterrâneo ocidental, a meio caminho entre as penínsulas Itálica e Ibérica, a Sul da Córsega e do estreito de Bonifácio, a norte do canal da Sardenha e da Tunísia, a Oeste da Itália continental e mar Tirreno, a Leste das ilhas Baleares (Espanha) e do mar da Sardenha. Com mais de 24 000 km² de superfície e uma extensa linha costeira de 1 849 km, durante muito tempo foi considerada a maior ilha do Mediterrâneo, quando na realidade é a segunda em área, atrás da Sicília. A maior parte da costa é alta e rochosa, troços longos e relativamente direitos, cabos imponentes, algumas baías largas e profundas, existindo numerosas ilhotas e ilhas menores. A Sardenha tem como representação uma ilha com uma cultura própria, com influências de fenícios, romanos, bizantinos e árabes. A cultura, sem temor a erro, tem uma lógica própria, pois cada sistema cultural possui uma realidade específica: a compreensão de que um sistema cultural não pode ser aplicado a outro, e o sentido de um fato cultural só pode ser compreendido no contexto que lhe é próprio.

O território é predominantemente constituído por montanhas e colinas com altitudes geralmente entre 300 metros e 1 000 metros. O maior maciço montanhoso, o Gennargentu, encontra-se na parte centro-oriental da ilha e tem o seu ponto mais alto, a Punta La Marmora com 1 834 metros. Outras montanhas importantes são o monte Limbara com 1 362 metros, no Nordeste, o monte Rasu com 1 259 metros, no maciço de Marghine e Goceano (Norte), o monte Albo com 1 057 metros, no maciço de Sette Fratelli (Sudeste), e no Sudoeste, o monte Linas com 1 236 metros e os montes Sulcis. As áreas montanhosas e planaltos estão separados por extensos vales aluviais e planícies, sendo as mais importantes as de Nurra, a Noroeste, e de Campidano, a mais extensa, no Sudoeste, entre Oristano e Cagliari. Os principais rios são o Tirso, com 151 km, o Flumendosa, com 127 km, e o Coghinas, com 115 km. Existem pelo menos 54 barragens usadas para irrigação agrícola e produção de eletricidade. As mais importantes são a de Omodeo e de Coghinas. O único lago natural de água doce é o de Baratz, no Noroeste, perto de Alghero. Existem várias lagoas de água salgada pouco profundas ao longo da linha costeira. As ilhas mais importantes são Asinara, San Pietro, Sant`Antioco e as do arquipélago de Maddalena. A ilha foi povoada per se por fenícios, cartagineses, romanos, árabes, bizantinos, espanhóis (catalães), saboianos e italianos. Foi chamada de Ichnusa pelos fenícios e Sandálio pelos gregos, porque a sua forma lembra uma pegada. Um casal com dificuldade para engravidar vai passar férias em um resort na Sardenha, mas a família ao lado pode colocar esse casamento à prova. Na mitologia a Sardenha foi ocupada por várias ondas sucessivas de imigrantes. Os primeiros marinheiros a chegar à Sardenha foram líbios, liderados por Sardo, filho de Máceris, o Héracles egípcio e líbio. 

O nome da Sardenha deriva de Sardo. Este grupo não foi bem recebido pelos autóctones, e nenhum dos grupos ainda sabia construir cidades, vivendo em grupos espalhados, em tendas e cavernas. O segundo grupo foi liderado por Aristeu, filho de Apolo e Cirene. Aristeu mudou-se para a Sardenha por estar triste com o destino de Acteão. Pausânias menciona que alguns autores sugerem que Dédalo estava junto com Aristeu, mas ele não aceita esta teoria baseando-se na cronologia: Aristeu casou-se com uma filha de Cadmo, enquanto que Dédalo foi contemporâneo de Édipo. Estes colonos também não fundaram nenhuma cidade, talvez por serem em pouco número e fracos. Após Aristeu, os iberos migraram para a Sardenha, sob a liderança de Norax, filho de Hermes e Eriteia, filha de Geriões, e fundaram a cidade de Nora. O quarto grupo de colonistas foi liderado por Iolau, sobrinho de Héracles, formado por téspios e homens da Ática. Os téspios fundaram Ólbia, enquanto os atenienses fundaram Ogrile, segundo algumas versões, porque “um herói chamado Ogrile os liderava”. À época de Pausânias havia na Sardenha locais chamados Iolaia, onde Iolau era adorado pelos habitantes. Um grupo de troianos, que se separou de Eneias, também chegou à Sardenha, e imiscuiu-se na vida social com os gregos. Alguns anos mais tarde, outros líbios vieram para a ilha, militarmente com um exército, e derrotaram os gregos, isto é, na verdade praticamente os destruindo. Alguns troianos sobreviveram, escapando para os lugares altos, mas, à época de Pausânias, quase toda a população da ilha era descendente destes líbios.

Arqueologia do silêncio tem como representação a reconstrução de práticas, saberes, regras e normas que determinam à percepção social do louco, o imaginário individual e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) que nele se investe, o medo que dele se tem, a proteção real que dele se necessita, o espaço peculiar onde é enclausurado pela família, pelo Estado, pelos juízes, pelos médicos, o olhar que o objetiva. É desse background que se pode reconstituir os processos insidiosos de estigmatização, discriminação, marginalização, patologização e confinamento, operando no nível da percepção social, do espaço social, das instituições sociais, do senso comum, do aparelho judiciário, da família, do Estado, do saber médico. O resultado é o mesmo: o silêncio dos sujeitados, silêncio que é o primeiro e mais forte componente da situação de exclusão, a marca mais forte da impossibilidade de se considerar sujeito aquele a quem a fala é de antemão desfigurada ou negada. Do ponto de vista metodológico Carlo Ginzburg tem um percurso de pesquisa dos mais originais e criativos, que extravasa o quadro da historiografia italiana e mesmo da historiografia europeia. A sua extensa e variada obra, com efeito especificamente, introduziu diversas rupturas tecnológicas nas maneiras de pensar em História, mobilizando metodologias e instrumentos de conhecimento analítico oriundos de outras áreas de saber, estabelecendo novas zonas intermediárias de análise e profícuo diálogo com as restantes perspectivas das ciências humanas e sociais, nomeadamente com a Antropologia e a Filosofia.

Trata-se aqui de uma intervenção ativa, que procura inverter as relações tradicionais de subordinação da História no que diz respeito à produção dos meios de conhecimento, centrada numa forte preparação filológica, caracterizada pela atenção ao detalhe, ao estudo de caso, à análise do processo significativo, com a valorização dos fenômenos aparentemente marginais, como os ritos de fertilidade, ou dos casos obscuros, protagonizados pelos pequenos e excluídos, cuja dimensão cultural e social vem sendo valorizada de forma lenta e desigual. O indivíduo, ator, identidade, grupo social, classe social, etnia, minoria, movimento social, partido político, corrente de opinião pública, poder estatal, todas estas “manifestações de vida”, não mais se esgotam no âmbito da sociedade nacional, o que nos faz admitir que a diferenciação em comunidades locais, tribos, clãs, grupos étnicos, nações e até mesmo Estados, perderam ao menos algo do seu significado anterior. Na chamada “sociedade global” generalizam-se as relações sociais, tanto quanto politicamente sobre os processos e as estruturas sociais de dominação e apropriação de saberes, antagonismo e integração social. Modificam-se os indivíduos, as coletividades, as instituições, as formas culturais, os significados das coisas, gentes e ideias, vistos em configurações histórico-sociais.

Se a análise das ciências sociais desenvolvem-se como autoconsciência da realidade, desde Hegel, pode-se imaginar que elas podem ser seriamente desafiadas quando essa realidade já não é mais a mesma. Nesse sentido é que a formação da sociedade global pode envolver novos problemas epistemológicos, além de históricos e/ou ontológicos. É o êxtase do estranhamento absoluto que na realidade é fruto de análise e interpretação. Metodologicamente para as vítimas da “exclusão social” tornam-se os depositários do único discurso que representa uma alternativa radical às mentiras da sociedade constituída – que passa pelo delito, pelo canibalismo, que é encarnado indiferentemente nas memórias redigidas por Pierre Rivière ou no seu matricídio. É um populismo às avessas, um populismo “negro” – mas assim mesmo populismo. O que foi dito até aqui provisoriamente, demonstra com clareza a ambiguidade do conceito de “cultura popular”. Às classes subalternas das sociedades pré-industriais é atribuída ora uma passiva adequação aos subprodutos culturais distribuídos com generosidade pelas classes dominantes, ora uma tácita proposta de valores, ao menos em parte autônomos em relação à cultura dessas classes, ora um estranhamento absoluto que se coloca até mesmo para além, ou melhor, para aquém da cultura. É bem frutífera a hipótese formulada de uma influência recíproca entre a cultura das culturas subalternas e a cultura dominante. Mas precisar os modos e os tempos dessa influência significa enfrentar o problema indiciário posto pela análise da documentação.

Mas até que ponto a análise dos elementos da cultura hegemônica, presentes na cultura popular, são frutos da aculturação mais ou menos deliberada ou de uma convergência mais ou menos espontânea, e não, ao contrário, de uma inconsciente deformação da fonte, obviamente tendendo a conduzir o desconhecido ao reconhecido, ao familiar?  No ensaio O Queijo e os Vermes (1976), Carlo Ginzburg enfrentou um problema parecido no decorrer de sua pesquisa sobre processos contra a bruxaria, entre os séculos XVI e XVII. Ele queria entender o que a bruxaria representava na realidade para os seus protagonistas – bruxas e bruxos -, mas a documentação da qual dispunha processos e, especialmente, os tratados de demonologia, parecia constituir tal barreira, que impedi, em oposição assimétrica, a de forma irremediável o conhecimento da bruxaria popular. Esbarrava quase sempre, com “os esquemas de origem culta da bruxaria inquisitorial”. Apenas a descoberta de um veio de crenças até aquele momento ignoradas, concentrado nos chamados “benandanti”, abriu uma preciosa brecha. Pela discrepância entre as perguntas dos juízes e as respostas dos acusados – a qual não poderia ser atribuída aos interrogatórios sugestivos nem à tortura -, vinha à baila um estrato profundo corrente de crenças populares substancialmente autônomas.

O mérito analítico da pesquisa está amparado nas confissões de Menocchio, comparativamente, o moleiro friulano tomado como protagonista constitui em certa medida, um caso semelhante Ao dos benandanti, com a irredutibilidade dos discursos de Menocchio a esquemas conhecidos aponta para um estrato ainda não examinado de crenças populares, de obscuras mitologias camponesas. Mas o que torna muito mais complexa a análise do caso de Menocchio é o fato desses obscuros elementos populares estarem enxertados num conjunto de ideias muito claras e consequentes, que vão do radicalismo religioso ao naturalismo tendencialmente científico, às aspirações utópicas de renovação social. A impressionante convergência entre as posições sociais de um desconhecido moleiro friulano e as posições de grupos de intelectuais dos mais refinados e conhecedores de seu tempo repropõe com toda força mental o problema da circularidade da cultura formulado por Mikhail Bakhtin (1895-1975). No momento em que equipes inteiras de estudiosos se lançam a empresas imensas de história quantitativa das ideias ou de história religiosa serial, propor uma investigação capilar sobre um moleiro parece paradoxal, quase como o retorno ao tear fabril de Marx numa era historicamente de teares automáticos. 

Não é um objetivo sem importância estender às classes subalternas o conceito histórico de indivíduo. Alguns estudos biográficos demonstraram que um indivíduo medíocre, destituído de interesse por si mesmo – e justamente por isso representativo -, pode ser pesquisado como se fosse um microcosmo de um estrato social inteiro num determinado período histórico – a nobreza austríaca ou o baixo clero inglês do século XVI. Seria esse o caso de Menocchio?  Ele não pode ser considerado um camponês típico do seu tempo; seu relativo isolamento na comunidade deixa isso claro. Aos olhos dos conterrâneos Menocchio era um homem, ao menos em parte, diferente dos outros. Mas essa singularidade tinha limites bem precisos: da cultura do próprio tempo e da própria classe não se sai a não ser para entrar no delírio e na ausência de comunicação. Com rara clareza e lucidez, Menocchio articulou a linguagem que estava disponível e inteiramente à sua disposição. Nas suas confissões é possível encontrar de maneira bastante nítida e esclarecedora, quase exagerada, uma série de elementos convergentes. Esses elementos surgem numa documentação análoga contemporânea em que estão dispersos, ou então só é possível vislumbrá-los. Algumas investigações da historiografia confirmam a existência de traços que reconduzem a uma cultura camponesa.

Em poucas palavras, mesmo um caso-limite pode se revelar representativo, seja negativamente, seja positivamente, porque permitem circunscrever as possibilidades latentes de alcance apenas através de documentos parciais fragmentários e deformados, provenientes quase todos de “arquivos da repressão”. Com isso, Ginzburg quer contrapor comparativamente pesquisas qualitativas às não qualitativas. No caso da história quantitativa das ideias, por exemplo, apenas a consciência da variabilidade, histórica e social, da figura do leitor, poderá fornecer de maneira efetiva as premissas de uma história das ideias também quantitativamente diversa. A defasagem entre os textos lidos por Menocchio e o modo como ele os assimilou aos inquisidores indica suas posições não são redutíveis a outro livro. Mesmo que Menocchio tenha entrado em contato, de maneira mais ou menos mediada, com ambientes cultos, suas afirmações em defesa da tolerância religiosa, seu desejo de renovação radical apresentam um tom coloquial original e não parece resultado de influências externas passivamente recebidas.

As raízes de suas afirmações e desejos estão fincadas muito longe, num extrato obscuro, quase indecifrável, de remotas tradições camponesas. Neste nível poder-se-ia perguntar se o que emerge dos discursos de Menocchio não é mais “mentalidade” do que uma “cultura”, pois não se trata de uma distinção fútil. O que tem caracterizado a história social das mentalidades é a insistência nos elementos inertes, obscuros, inconscientes de determinada visão de mundo. As sobrevivências, os arcaísmos, a afetividade, a irracionalidade delimitam o campo específico da história das mentalidades, distinguindo-a com muita clareza de disciplinas paralelas e faz tempo consolidadas, como a história das ideias ou a história da cultura. Inscrever o estudo de caso de Menocchio no âmbito exclusivo da história das mentalidades significaria, portanto, colocar em segundo plano o fortíssimo componente racional. Com isso não se está de maneira alguma afirmando a existência de uma cultura homogênea, comum tanto aos camponeses aos artesãos da cidade, para não falar dos grupos marginais, na Europa pré-industrial. Apenas se está querendo delimitar um âmbito no interior do qual é preciso análises sempre particularizadas. Ou seu funcionamento não é princípio da razão?

As rupturas quase gigantescas determinadas pelo fim do monopólio dos letrados sobre a cultura escrita e do monopólio dos clérigos sobre as questões religiosas haviam criado uma situação nova, potencialmente explosiva. Mas a convergência entre as aspirações de uma parte da alta cultura e as da cultura popular já tinha sido declarada de maneira definitiva mais de meio século antes do processo de Menocchio – quando Martin Lutero condenara com ferocidade os camponeses em revolta socialmente e suas reivindicações. Com a Contrarreforma iniciara-se uma era marcada pelo enrijecimento hierárquico, pela doutrinação paternalista das massas, pela aparentemente extinção da cultura popular, pela marginalização mais ou menos violenta das minorias e dos grupos dissidentes. E o próprio Menocchio acabou desgraçadamente queimado. Menocchio está inserido numa tênue, sinuosa, porém nítida expressão que chega até nós: podemos dizer, segundo Ginzburg, que Menocchio é historicamente nosso antepassado. Mas é também um fragmento do humano perdido que nos alcançou por acaso. Vindo de um mundo obscuro, o qual através de um gesto, talvez arbitrário, pode incorporar a lucidez à nossa história social.  Os ricos recursos mineiros da ilha atraíram a atenção e interesse comercial de povos do Mediterrâneo oriental, como os micênicos e os cipriotas, mas são os fenícios que, a partir do século IX e VIII a.C. estabelecem várias colônias estáveis em vários portos na costa sarda, que ocupam locais regionalmente facilmente acessíveis, favoráveis às trocas simbólicas e comerciais.

Os fenícios começaram a visitar a ilha à volta de mil vezes, cada vez mais frequentemente. É provável que as primeiras visitas fossem motivadas principalmente para apenas passar as noites em locais seguros ou para usarem ancoradouros utilizáveis em quaisquer condições meteorológicas ao longo das suas rotas de comércio entre a costa do que é hoje o Líbano e as costas atlânticas da África e da Europa, que chegavam às ilhas britânicas. Os portos mais usados eram Caralis, a moderna Cálhari, Nora, perto da moderna Pula, Bithia, perto da moderna Domus de Maria, Sulci, na atualmente província de Carbonia-Iglesias, Tharros, perto da moderna Cabras, Bosa e Ólbia. Estes portos tornar-se-iam colónias fenícias importantes, habitadas por comerciantes fenícios e as suas famílias, que praticavam comércio marítimo e com os locais. Em 509 a.C., a guerra irrompeu entre os nativos e os fenícios. Estes pediram ajuda à sua ex-colônia de Cartago. Depois de várias campanhas militares, os cartagineses dominaram toda a ilha, incluindo as áreas montanhosas do interior. Segundo alguns a Sardenha foi integrada no império cartaginês em 535 a.C., segundo outros em logo 509 a. C. O domínio cartaginês duraria três séculos. Além das minas, os cartagineses exploraram também a produção de trigo e a madeira, tendo em vista que a ilha estava quase totalmente coberta de florestas.

Na sequência da Primeira Guerra Púnica, a Sardenha foi ocupada pelos romanos em 239 a.C., passando a fazer parte, entretanto da criada província romana da Córsega e Sardenha em 227 a.C. Os romanos prosseguiram o mesmo tipo de exploração económica dos cartagineses e expandiram e embelezaram as cidades costeiras. Fundaram ainda várias colônias, como Túrris Libissonis, atualmente Porto Torres, Ferônia, atualmente Posada, as quais foram povoadas por imigrantes romanos. A fim de afirmar o seu controlo das zonas interiores, nomeadamente da Barbária, atualmente Barbagia, cujos habitantes, falantes de determinada língua Pré-latina, eram considerados especialmente aguerridos e corajosos, mais do que em analogia os da costa, Roma institui uma administração forte e bem organizada, cuja eficácia era assegurada por uma rede de estradas muito ramificada, da qual ainda subsistem alguns troços originais e cujo traçado foi em muitos casos retomado pelas estradas atuais. A ocupação militar romana marcou o fim definitivo da civilização nurágica. As diversas campanhas conduzidas nas montanhas da Barbaria, o domínio romano da ilha foi mais formal do que efetivo. A ocupação romana durou 694 anos e só terminou em 476 com a chegada dos vândalos.

O enfraquecimento do Império Romano atinge a ilha originando o abandono progressivo da agricultura e um forte recuo demográfico. Abandonada à sua sorte e sem defesa, a Sardenha é ocupada e sofre várias razias dos vândalos do norte de África durante 80 anos, entre 460 e 530 (ou 456-534 segundo outros autores). A ilha faz parte do efêmero império vândalo até ser conquistada em 530 ou 534 pelas forças do imperador bizantino Justiniano. Sob o domínio bizantino, o representante imperial governava a partir de Caralis, mas a sua autoridade era praticamente nula na região montanhosa da Barbagia, na parte oriental da ilha, onde um reino bárbaro persistiu durante nove séculos. A partir do século VIII, os árabes e berbereses realizaram várias razias à Sardenha. Especialmente depois da conquista árabe da Sicília em 832, os bizantinos ficaram incapazes de defender efetivamente o seu território mais longínquo, e o governador local assumiu uma autoridade independente. Para melhor defesa, ele dividiu a ilha em quatro judicados: Gallura, Logudoro, Arbórea e Caralis. Em 851, esses territórios eram quatro monarquias independentes, que por várias vezes, caíram no poder de Gênova, Pisa e árabes. Em 1014, uma aliança entre Génova e Pisa derrota o caudilho muçulmano das Baleares Mujaide Alamiri, conhecido como Museto em Itália, que se tinha apoderado de Cálhari. Com diversos sobressaltos, os judicados sobreviveram até ao fim do século XIII, conjuntura política em que passam a ser territórios controlados socialmene pelas belas Repúblicas marítimas italianas de Pisa e Gênova, à exceção do Judicado de Arbórea, que permanece independente até 1410, e autônomo até 1478, ano em que é definitivamente conquistado politicamente pelos catalães do extraordinário reino de Aragão.

A 4 de abril de 1297 é formalmente criado pelo papa Bonifácio VIII o Regnum Sardiniae et Corsicae (Reino da Sardenha e Córsega), o qual é concedido como feudos ao Reino de Aragão. Os aragoneses e catalães iniciam em 1323 uma campanha para conquistar efetivamente a Sardenha. O judicado d`Arbórea resistiu e, por um tempo, quase governou a totalidade da ilha, mas a sua última governadora, Eleonora d`Arborea, foi derrotada pelos aragoneses e catalães na decisiva Batalha de Sanluri, de 30 de junho de 1409. Os nativos de Alghero, originário S`Alighera em sardo, e L`Alguer em catalão foram expulsos e a “cidade foi repovoada pelos invasores catalães, cujos descendentes ainda falam catalão”. O Reino de Aragão renunciou à Córsega em 1487, mas manteve o domínio sobre a Sardenha até o princípio do século XVIII. Entre 1708 e 1718 a ilha esteve na posse do Sacro Império Romano-Germânico, uma situação que confirmada em 1713 pelo Tratado de Utrecht. O Tratado de Londres de 1718 determina a concessão da Sardenha à Casa de Saboia, os governantes do Ducado de Saboia, em troca da Reino da Sicília, passando o duque de Saboia a usar o título de rei da Sardenha a partir de 1720. O Reino da Sardenha tinha a sua capital em Turim, sendo instalado em Cálhari um vice-reino. O interior da ilha manter-se-ia autônomo até 1847, ano em que é extinto o vice-reino e o governo é centralizado. A 28 de abril de 1794 estala uma rebelião antifeudal de grandes proporções em Cálhari, a qual só termina em 1796, com a derrota de Giovanni Maria Angioy perto de Oristano. Em 1799, em consequência das Guerras Napoleônicas, os duques da Saboia deixaram Turim e refugiaram-se em Cálhari durante 15 anos.

Em 1556, a República de Veneza publicou pela primeira vez o mensal Notizie scritte (“Avisos escritos”) que custava uma gazeta, uma moeda veneziana da época, cujo nome acabou por significar “jornal”. Esses avvisi eram boletins escritos à mão e usados ​​para transmitir notícias políticas, militares e econômicas de forma rápida e eficiente em toda a Europa, mais especificamente na Itália, durante o início da era moderna (1500-1800), compartilhando algumas características dos jornais, embora geralmente não sejam considerados verdadeiros jornais. No entanto, nenhuma dessas publicações atendeu plenamente aos critérios modernos para jornais adequados, pois normalmente não se destinavam ao público em geral e se restringiam a uma determinada gama de tópicos. As primeiras publicações contribuíram para o desenvolvimento socialmente do que hoje seria reconhecido como o jornal, que surgiu por volta de 1601. Por volta dos séculos XV e XVI, na Inglaterra, na França e na Espanha, foram publicados longos relatos de notícias chamados “relações”. As publicações de notícias de eventos únicos eram impressas no formato de folha ampla, que era frequentemente postada. Essas publicações como panfletos e pequenos livretos, para narrativas mais longas, muitas vezes escritas em formato de carta, muitas vezes contendo ilustrações em xilogravura. 

As taxas de alfabetização eram baixas em comparação com os nossos dias, e essas publicações eram frequentemente lidas em voz alta para alfabetização e cultura oral estavam, de certa forma, coexistindo nesse cenário. Por volta de 1400, empresários em cidades italianas e alemãs compilavam crônicas manuscritas de importantes eventos noticiosos e as distribuíam para seus contatos comerciais. A ideia de usar uma prensa para este material apareceu pela primeira vez na Alemanha por volta de 1600. Os primeiros precursores socialmente foram os chamados Messrelationen (“relatórios de feiras”) que eram compilações de notícias semestrais para as grandes feiras de livros em Frankfurt e Leipzig, começando na década de 1580. O primeiro jornal de fato foi o semanário Relation aller Fuernemmen und gedenckwürdigen Historien (“Coleção de todas as notícias ilustres e memoráveis”), iniciado em Estrasburgo em 1605. O Avisa Relation oder Zeitung foi publicado em Wolfenbüttel a partir de 1609, e logo foram estabelecidas gazetas em Frankfurt (1615), Berlim (1617) e Hamburgo (1618). Em 1650, trinta cidades alemãs tinham diários comercialmente ativos.  As notícias circulavam em boletins de canais bem estabelecidos nas cidades da Europa do século XVII. Antuérpia era o centro de duas redes, uma ligando França, Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda; o outro ligando Itália, Espanha e Portugal. Os tópicos favoritos incluíam guerras, assuntos militares, diplomacia e negócios judiciais e fofocas. Depois de 1600, praticamente os governos nacionais da França e da Inglaterra começaram a imprimir boletins oficiais.

Em 1622, a primeira revista semanal em língua inglesa, “A Current of General News”, foi publicada e distribuída na Inglaterra em formato de quarto de 8 a 24 páginas. Com a amplificação de diferentes ideologias políticas nos meios sociais de comunicação, os jornais adquiriram importância estratégica tornando-se importantes instrumentos de difusão da propaganda política. Dentre as ideologias do início do século XX está o jornalismo do qual Antonio Gramsci, intelectual italiano, foi importante expoente. Não fugiu de controvérsias partidárias e teóricas, defendendo pressupostos éticos-políticos e propôs estratégias, alianças e táticas de ação para a luta de classes. Não temeu a imersão no que antevia ser um difícil, acidentado, mas possível percurso de construção da sociedade socialista. E fez do jornalismo o principal veículo para o exercício da crítica, associada por ele, em artigo publicado no “Il Grido del Popolo” em 1916. Entendendo a importância que um veículo de comunicação poderia ter para a difusão das ideias do partido, em 12 de setembro de 1923, Gramsci escreveu uma carta dirigida ao Comitê executivo do Partido Comunista Italiano e propôs a fundação do periódico do Partido, o Jornal L'Unità. – “O jornal não deverá ter alguma indicação de partido, deverá ser um jornal bendito de esquerda. Eu proponho como título L`unità puro e simples que terá um significado para os operários e terá um significado mais geral”.

A primeira edição do jornal foi publicada no dia 12 de fevereiro do ano seguinte em Milão com tiragem de, aproximadamente, 20 mil cópias, chegando a 34 mil quando da morte do político de esquerda Giacomo Matteotti. L’Unità é um jornal italiano, consorciado ao partido “Democratas de Esquerda” (“Democratici di Sinistra”) referente ao período 1924-2014. Representou a ascensão um partido político italiano de ideologia socialdemocrata. Fundado em 1998, após a fusão do Partido Democrata de Esquerda com pequenos partidos socialdemocratas, trabalhistas, socialistas e eurocomunistas. Governou Itália desde o ano da sua fundação até 2001 e, de novo, em 2006 até 2007, altura em que se fundiu com “A Margarida-Democracia é Liberdade” para dar origem ao Partido Democrático. Foi fundado pelo socialista Antonio Gramsci em 12 de fevereiro de 1924, com o subtítulo “Diário dos Operários e Camponeses”, como órgão oficial do Partido Comunista Italiano (PCI). Impresso em Milão, chegando a uma circulação em torno de 20 a 30 mil exemplares. Em 8 de novembro de 1925 o jornal foi vetado pela censura do regime e definitivamente fechado depois do atentado frustrado contra o fascista em 31 de outubro de 1926. Uma edição clandestina ainda assim, publicada no dia 1° de janeiro de 1927, com circulação restrita a Milão, Turim, Roma e França. 

A publicação do diário foi oficialmente retomada depois da libertação de Roma, em 6 de junho de 1944.  Depois da libertação da Itália, em 1945, foram retomadas as edições locais de L’Unità em Milão, Gênova e Turim, a última editada pelo filósofo Ludovico Geymonat (1908-1991). Em 1847, os sardos renunciaram espontaneamente à sua autonomia e formaram uma união com o Piemonte, de forma que o reino teve um parlamento e governo comum, com capital em Turim. Em 1848, estalou a guerra da guerra de independência e unidade italiana, a qual foi liderada pelo rei do Piemonte-Sardenha. O Reino da Sardenha torna-se o Reino de Itália em 1861. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os soldados italianos da Brigada Mecanizada Sassari distinguiram-se em combate, tendo vários deles sido extraordinariamente condecorados. A brigada foi a primeira e única unidade militar italiana constituída exclusivamente por soldados da Sardenha. Durante o período fascista, impulsionado pelas políticas de autossuficiência, diversas áreas alagadas da Sardenha foram convertidas em terrenos agrícolas, tendo sido fundadas diversas comunidades agrícolas. As principais surgiram na área de Oristano, onde se foi fundada a aldeia de Mussolinia, atualmente Arborea, e na região adjacente a Alghero, na zona de Nurra surgiu Fertilia. Ainda durante esse período foi fundada a cidade de Carbonia, que se tornaria o principal centro mineiro.  

Nas décadas de 1950 e 1960 verificaram-se altas taxas de emigração. No início da década de 1960, foi feito um grande esforço técnico de industrialização, o Piani di Rinascita, tendo sido iniciada a construção de infraestruturas importantes, que incluíram novas barragens e estradas, reflorestação, transformação de áreas pantanosas em terrenos agrícolas e grandes complexos industriais, principalmente refinarias de petróleo e unidades industriais petroquímicas. Milhares de ex-agricultores tornaram-se operários industriais. No entanto, a crise petrolífera de 1973 provocou a extinção de milhares de empregos na indústria petroquímica. A crise econômica, o desemprego e a militarização da ilha Sardenha, pois, 70% das bases militares italianas estavam localizadas na Sardenha agravaram a taxa de criminalidade, verificando-se um aumento de sequestros e de corrupção política. Grupos comunistas radicais floresceram, destacando-se entre eles as Brigadas Vermelhas (Brigate Rosse ou Barbagia Rossa), que perpetraram diversas ações terroristas nos anos 1970 e em 1983, um militante autonomista, do Partido Sardo de Ação (em italiano: Partito Sardo d`Azione), foi eleito presidente do parlamento regional. Na década de 1980, surgiram vários movimentos separatistas, tendo-se alguns deles tornado partidos políticos na década de 1990. Em 2006, um militante de um destes movimentos foi eleito na província de Sassari. Em 1999, o sardo tornou-se língua oficial, a par do italiano. Atualmente, a Sardenha assume-se como região da União Europeia, com economia diversificada com planejamento no turismo e no setor terciário.

Os esforços econômicos dos últimos 20 anos reduziram as desvantagens da insularidade, especialmente nos campos da aviação de baixo custo e a tecnologia da informação avançada. Por exemplo, o Centro di Ricerca, Sviluppo e Studi Superiori in Sardegna (CRS), desenvolveu o primeiro website italiano em 1991e primeiro sistema de webmail em 1995. O CRS4 potenciou o aparecimento de empresas de telecomunicações e de internet baseadas da ilha, como a Vide online em 1994 e a Tiscali em 1998. A realização de uma conferência do G8, os oito países mais ricos e influentes do mundo: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido e Rússia, esteve prevista para a ilha de La Maddalena em julho de 2009. No entanto, em abril de 2009, o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi (1923-2023) decidiu realizá-la em L`Áquila sem consultar o parlamento italiano, nem o presidente da Sardenha, apesar dos trabalhos de preparação estarem praticamente concluídos, o que provocou “um coro de protestos entre os sardos, que clamaram que o estatuto de autonomia da região tinha sido violado”.

 A origem do brasão da Sardenha não está bem definida, mas existem referências históricas de 1281. É notória a sua analogia com o brasão da vizinha Córsega. Há diversos acontecimentos históricos que eventualmente podem explicá-lo. O mais antigo é de 1014, a vitória sobre o líder muçulmano Museto (Mujahid al- ‘Amiri) - as cabeças de mouros representariam os vencidos, sendo quatro por esse é o número de regiões sardas. Um outro acontecimento histórico, quiçá mais explicativo ou plausível, é a vitória do rei Pedro I de Aragão sobre quatro reis mouros em 1096, na batalha de Alcoraz, perto de Huesca, Espanha. Segundo a lenda, os mouros foram derrotados graças a uma aparição milagrosa de São Jorge, também reconhecido como Jorge da Capadócia e Jorge de Lida foi, conforme a tradição, um soldado romano no exército do imperador Diocleciano, venerado como mártir cristão. Isso explicaria a cruz vermelha sobre fundo branco, assim como a representação do símbolo guerreiro de São Jorge. Além disso, algumas representações iconográficas antigas do brasão apresentam as quatro cabeças com coroas. O brasão foi oficialmente declarado o símbolo da Sardenha em decreto promulgado de 5 de julho de 1952. Por razões diplomáticas, uma lei regional de 15 de abril de 1999 substituiu as vendas nos olhos por bandanas nas testas.

Os processos de trabalho de secagem de terrenos e a retoma das atividades mineiras favoreceram a chegada de colonos e imigrantes, inicialmente do Vêneto e, depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), da Ístria e da Dalmácia, territórios perdidos por Itália para a Jugoslávia. A repressão política exercida pelo regime fascista sobre os seus oponentes demopcratas foi brutalizada. O sardo Antonio Gramsci (1891-1937), fundador do Partido Comunista Italiano, foi preso e morreu na prisão em 1937. Outro sardo, o anarquista Michele Schirru (1899-1931), foi executado após uma tentativa falhada para assassinar o fascista Benito Mussolini. A Itália tornou-se uma República após o referendo popular realizado em 1946. A Sardenha foi definida como uma região autônoma em 1948. Em 1951, a malária foi erradicada com o apoio da Fundação Rockefeller, o que facilitou o início do turismo comercial em larga escala, focado principalmente nas férias de praia e turismo de elite. Em 2008, cerca de 12 milhões de turistas visitaram a ilha, que já há vários anos registava uma média estatística superior a 10 milhões de entradas anuais. Com o desenvolvimento do turismo, a mineração de carvão perdeu relativa importância social.

Bibliografia Geral Consultada.

CHODOROW, Nancy, The Reproduction of Mothering: Psychoanalysis and the Sociology of Gender. Berkeley: University of California Press, 1978; BADINTER, Elisabeth, Um Amor Conquistado: O Mito do Amor Materno. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985; COUTINHO, Carlos Nelson, “Volontà Generale e Democrazia in Rousseau, Hegel e Gramsci”. In: Giuseppe Vacca. (Org.), Gramsci e il Novecento. 1ª ed. Roma: Carocci, 1999, vol. 2, pp. 291-312; GINZBURG, Carlo, Indagini su Piero. Il Battesimo, il ciclo di Arezzo, la Flagellazione di Urbino. Torino: Einaudi Editore, 2001; HAESBAERT, Rogério, O Mito da Desterritorialização. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2004; MELIS, Alberto, Fiabe della Sardegna. Sardenha: Éditeur Giunti Kids, 2005; CROWLEY, Helen, “Women and the Domestic Sphere”, em Stuart Hall et al (eds), Modernity: An Introduction to Modern Societies. Malden: Editor Blackwell, 2007; ORTU, Gian Giacomo, Analitica Storica dei Luoghi. Lezioni di Storia Moderna. Cagliari: Cuece Editrice, 2007; AUGÉ, Marc, Claude Lévi-Strauss en el Pensamiento Contemporáneo. Buenos Aires: Ediciones Colihue, 2009; FERRER, Eduardo Blasco, Storia della Lingua Sarda. Itália: Cagliari: Editore Cuec, 2009; ACCARDO, Aldo; GABRIELLE, Nicola Gabriele, Scegliere la Patria, Classi Dirigenti e Risorgimento in Sardegna. Saggi. Storia e Scienze Sociali. Milano: Editore Donzelli, 2011, pp. XIV-276; BADIOU, Alain, El Cine Como Acontecimiento. Paradiso: Ciudad de México, 2014; BUCCI, Eugenio, O Estado de Narciso: A Comunicação Política a Serviço da Vaidade Particular. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2015; CASSALES, Lucas Pereira, A Representação do Mal-estar Líquido no Cinema de Michael Haneke. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Faculdade de Comunicação Social. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2015; RANCIÈRE, Jacques, A Partilha do Sensível: Estética e Política. São Paulo: Editora 34, 2015; FABIETTI, Ugo, Elementi di Antropologia Culturale. Mondadori: Editor Mondadori Universitá, 2018; BAEZ, Luiz Severiano Ribeiro de Paula, Emancipar o Espectador? Distâncias e Intervalos no Cinema de Michael Haneke. Dissertação de Mestrado. Departamento de Comunicação Social. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2020; VALENTE, Alana Karoline Fontenelle, A Maternidade é Política: Mobilização da Maternidade por Candidatas no Instagram (2021-2022). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência Política. Brasília: Universidade Federal de Brasília, 2023; TOKARNIA, Mariana, “Pesquisadoras falam dos desafios de conciliar maternidade com estudos”. In: https://agenciabrasil.ebc.com.br/2024/05/12; entre outros. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário