terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Maciço de Baturité – Quadro Geológico & Verdade sobre Ecossistema.

                      A função da juventude depende do lugar em que residem”. Aldous Huxley (1894-1963)

       Aldous Leonard Huxley nasceu em Godalming, em 26 de julho de 1894 e faleceu em Los Angeles, 22 de novembro de 1963. Foi um escritor inglês e um dos mais proeminentes membros da família Huxley. Mais reconhecido pelos seus romances, como Admirável Mundo Novo e diversos ensaios, Huxley também editou a revista Oxford Poetry e publicou contos, poesias, literatura de viagem e guiões de filmes. Passou a última parte de sua vida nos Estados Unidos, vivendo em Los Angeles de 1937 até sua morte, em 1963. No final de sua vida foi amplamente reconhecido como um dos principais intelectuais de seu tempo. Foi nomeado para o Prêmio Nobel de Literatura sete vezes e eleito Companheiro de Literatura pela Royal Society of Literature em 1962. Huxley era humanista e pacifista. Ele cresceu interessado no misticismo filosófico e universalismo, abordando temas com obras como A Filosofia Perene (1945) - que ilustra semelhanças entre misticismo ocidental e oriental - e As Portas da Percepção (1954) - que interpreta sua própria experiência psicodélica com mescalina. Em seu romance famoso Admirável Mundo Novo (1932) e seu último romance A Ilha (1962), ele apresentou sua visão de distopia e utopia (cf. Pavloski, 2022). Faziam parte da sua família distintos membros da classe dominante inglesa; uma vasta elite social intelectual.

O seu avô era Thomas Henry Huxley, um grande biólogo defensor da teoria evolucionista de Charles Darwin, tendo desenvolvido o conceito agnóstico. A sua mãe era irmã da romancista Humphrey Ward; a sobrinha de Matthew Arnold, o poeta; e a neta de Thomas Arnold, um famoso professor e diretor da Rugby School que acabou por se tornar numa personagem do extraordinário romance Tom Brown`s Schooldays. Estudou medicina na Eton College, e foi obrigado a abandonar aos dezesseis anos, devido a uma doença nos olhos que quase o tornou cego impedindo-o de continuar frequentando o curso de medicina. Mas ele recuperou sua visão suficiente para se formar com honra pela Universidade de Oxford, mas insuficiente para servir ao exército britânico na 1ª Guerra Mundial. Em Oxford, teve o contacto com a literatura, conhecendo Lytton Strachey e Bertrand Russell. Se tornou amigo de D. H. Lawrence. 

       O Maciço de Baturité é a representação de um quadro geológico completo, com rochas ígneas, metamórficas, sedimentares e sedimentos. Ecossistema é em ecologia, a conjunção da comunidade de organismos de várias espécies (biocenose), e dos fatores ambientais (abióticos) de um lugar determinado historicamente. Os ecossistemas formam uma série de cadeias de relações entre organismos, o que demonstra a sua interdependência dentro do sistema. Os fatores abióticos e bióticos são ligados por cadeias tróficas, pelo fluxo de energia e nutrientes no ecossistema. Biosfera é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra. Um ecossistema pode ser definido como um conjunto funcional de elementos formado por componentes bióticos e abióticos. A Ecologia procura estudar os seres vivos dentro de uma comunidade biológica e as inter-relações e influências desta com o meio físico, pode-se dizer que o ecossistema representa a unidade básica do estudo ao redor da qual se pode organizar a unidimensionalidade da teoria e prática em ecologia. A Lei Complementar Estadual nº 154, de 20 de outubro de 2015, define a composição de planejamento do Maciço de Baturité e a regionalização fixada em municípios: Acarape, Aracoiaba, Aratuba, Barreira, Baturité, Capistrano, Guaramiranga, Itapiúna, Mulungu, Ocara, Pacoti, Palmácia e Redenção.

                                                

Um ecossistema ou sistema de representação ecológico possui vários componentes de natureza biológica e florestal. Pode ser formado por uma floresta inteira, sendo chamado “macro ecossistema”, que são mais abrangentes, como toda uma caracterização da vegetação de um país, ou por uma planta, a exemplo das bromélias, sendo chamado “micro ecossistema”. Assim semelhante a um grande ecossistema que apresenta todos os fenômenos e fatores que determinam e definem o ambiente dos seres vivos, no pequeno ecossistema acontece o mesmo. Desta forma, independentemente do ambiente geográfico/geológico onde existe a interação entre o físico: natureza solar, luminosidade, temperatura, pressão, água, umidade do ar, salinidade e os seres vivos, consiste, ainda assim, num ecossistema, seja este terrestre ou aquático, grande ou pequeno. Queremos dizer com isso, que, consideram-se como fatores bióticos as interações vegetais das diversas populações de animais, plantas e bactérias umas com as outras e abióticos os fatores externos como a água, a influência solar, o solo, o ar atmosférico, a temperatura determinada, seja uma vegetação de cerrado, mata ciliar, caatinga, mata atlântica ou floresta amazônica, por exemplo, a todas as relações dos organismos entre si, e com seu ambiente chamamos cientificamenete ecossistema, quando podemos definir ecossistema como sendo um conjunto de comunidades interagindo entre si e agindo sobre e sofrendo a ação dos fatores abióticos.

Um maciço representa uma massa montanhosa principal, por exemplo, uma porção compacta de uma cordilheira, contendo um ou mais cumes. Na literatura de montanhismo, um maciço é frequentemente usado para denotar a massa principal de uma montanha. A palavra maciço é tirada do francês, onde é usada para se referir a uma grande massa montanhosa ou grupo compacto de montanhas formando uma porção independente de uma cordilheira. O Rosto em Marte é um exemplo de maciço extraterrestre. Maciços também podem se formar debaixo d`água, como acontece com o Maciço da Atlântida. Como termo científico em geologia, no entanto, um maciço é definido separadamente e mais especificamente como uma seção da crosta de um planeta que é demarcada por falhas ou flexuras. No movimento da crosta, um maciço tende a reter sua estrutura interna enquanto é deslocado como um todo. Um maciço é uma unidade estrutural menor do que uma placa tectônica, e é considerado a quarta maior força motriz em geomorfologia. A caracterização social do ponto de vista técnico-metodológico do quadro natural dessa área social e geográfica é fundamental para o estabelecimento conjunto de estratégias de planejamento ambiental. 

Ecossistemas são por definição, sistemas complexos do austríaco Ludwig von Bertalanffy (1901-1972), com auto-organização, autorregulação e sistema de autodesenvolvimento. A principal característica de um ecossistema é a presença de um conjunto relativamente fechado, estável no espaço e no tempo, de matéria e fluxo de energia entre os fatores bióticos e abióticos. Disto se segue que nem todo sistema biológico pode ser chamado de um ecossistema, por exemplo, um aquário ou um toco podre, não são ecossistemas. Estes sistemas biológicos (naturais ou artificiais) não são suficientemente autossuficientes e autorregulação (aquário), se você parar de ajustar as condições e características do suporte no mesmo nível, ela será destruída com rapidamente. Essas comunidades não formam um ciclo fechado separado de matéria e energia (coto), mas são apenas uma parte de um sistema maior. Tal sistema deveria ser chamado de uma comunidade de classificação mais baixa, ou microcosmos. Eles usam o conceito fácies (por exemplo, geoecologia), mas que não pode descrever completamente um sistema deste tipo, particularmente tendo uma origem artificial. Em geral, em diferentes ciências comparativamente, a noção de “fácies” corresponde a diferentes definições de sistemas de nível subsistemático, em botânica, para conceitos não relacionados ao ecossistema (geologia), um conceito que combina ecossistemas homogêneos ou quase idênticos ao ecossistema provisoriamente definido. 

 O Mundo como uma totalidade abrangente com uma certa ordem organizada em torno de um princípio comum de inteligibilidade, é o herdeiro do Cosmos da Antiguidade grega. O filósofo e matemático Pitágoras foi o primeiro a chamar cosmos (κόσμος) o envoltório de tudo, “por causa da ordem ali identificada”. Os sábios da Grécia estão menos interessados ​​na busca da totalidade exaustiva do conhecimento do que na busca do conhecimento da totalidade intrínseca.  O conceito de Mundo que gradualmente o sucedeu foi teologizado pelo ideário da Idade Média para ser desteologizado no século XVII, pela tradição cartesiana, ela mesma questionada no início do século XX pela fenomenologia que inverte a direção do olhar em fazer do homem a origem do sentido. O cosmos que se enunciou geografia-mundo tornando-se pluralista, onde cada indivíduo se constituindo nos variados mundos em que se insere, organiza seu mundo a partir de seu ponto de vista. Os principais fenomenólogos progressivamente abordaram de diferentes formas, condições reais e possibilidades os pontos de vista abstratos desse conceito.

Não queremos perder de vista que O Mais Antigo Sistema do Idealismo Alemão é um ensaio de 1796/1797, de autoria desconhecida, possivelmente escrito por Friedrich Schelling, Georg Wilhelm Friedrich Hegel ou Friedrich Hölderlin. O documento foi publicado pela primeira vez (em alemão) por Franz Rosenzweig, que o designou como Das älteste Systemprogramm des deutschen Idealismus. Embora o documento tenha a caligrafia de Hegel, especula-se se terá sido escrito por Hegel, Schelling, Hölderlin ou uma quarta pessoa desconhecida. Yves Bonnefoy considera que foi “certamente inspirado por Hölderlin”. Segundo Glenn Magee, a maioria dos peritos em Hegel considera-o o autor. No entanto, várias das ideias defendidas no ensaio (como o desaparecimento do Estado ou a supremacia da poesia no universo intelectual) parecem contraditórias com a filosofia hegeliana. Schelling, Hegel, e Hölderlin eram colegas de turma e de dormitório em Tübinger Stift, o seminário da Universidade de Tubinga, e eram reconhecidos como os “Três de Tubinga”. Hegel e Hölderlin tinham 27 anos, e Schelling 22 anos.

Em 1818 em Berlim, quando ocupou a cátedra de filosofia, período em que encontra a expressão definitiva de suas concepções estéticas e religiosas. Tinha grande talento pedagógico, mas considerado mau orador, pois usava terminologias pouco usadas que dificultavam sua interpretação. Exerceu enorme influência em seus discípulos que dominaram as universidades da Alemanha. Logo passou a ser o filósofo oficial do rei da Prússia. Friedrich Hegel descreve sua concepção filosófica, no prefácio a uma de suas mais célebres obras, a Fenomenologia do Espírito (1807).  O prólogo last but not least é posterior à redação da obra. Foi escrito, passado já o tempo social, quando o próprio Hegel pode tomar consciência de seu avanço e sua descoberta. Tinha como objetivo assegurar o ligamento entre a Fenomenologia, a qual só aparece como a primeira parte da ciência, e a Lógica que, situando-se em uma perspectiva distinta da adotada pela Fenomenologia, deve constituir o primeiro momento abstrato de uma Enciclopédia. Explica-se que neste prólogo que é algo assim, comparativamente, como um gonzo entre a subjetividade da Fenomenologia e a objetividade Lógica, Hegel se sentira preocupado em representar uma ideia geral de todo o seu sistema filosófico.

Isto é, segundo sua concepção que só deve ser justificada pela apresentação do próprio sistema, tudo decorre de entender e exprimir o verdadeiro não como substância, mas precisamente como sujeito. A substância viva é o ser, que na verdade é sujeito, ou que é na verdade efetivo, mas só na medida em que é o movimento do pôr-se-a-Si-Mesmo, ou a mediação consigo mesmo do tornar-se outro. Como sujeito, é a negatividade pura e simples, e justamente por isso é o fracionamento do simples ou a duplicação oponente, que é de novo a negação dessa diversidade indiferente e de seu oposto. Só essa igualdade se reinstaurando, ou só a reflexão em si mesmo no seu ser-Outro, é que são o verdadeiro; e não uma unidade originária enquanto tal, ou uma unidade imediata enquanto tal. O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que pressupõe seu fim como sua meta, ipso facto sua antítese, que o tem como princípio, e que só é efetivo mediante sua atualização e seu fim. Hegel era crítico das filosofias claras e distintas, uma vez que, para ele, o negativo era constitutivo da ontologia. A clareza não seria adequada para conceituar o objeto de pensamento. Introduziu um sistema de pensamento para compreender a história da filosofia e do mundo, chamado geralmente dialética: quer dizer, ocorre uma progressão na qual cada movimento sucessivo surge, pois, como solução das contradições inerentes ao movimento anterior.

Retomando o cosmos geocêntrico dos gregos, a Idade Média produziu a ideia de um mundo antropocêntrico, cuja coerência revela a intenção de seu criador. Este mundo que se decompõe em mundo sensível e mundo suprassensível de ordem sobrenatural é inseparável da inteligibilidade geral. A Idade Média acreditava na unidade harmônica entre o homem (microcosmo) e todo o Cosmos (macrocosmo), sendo ambos considerados como vivos. No final da Idade Média o macrocosmo se libertará gradualmente de seu significado religioso para se tornar um conceito filosófico mais adequado à designação do universo. É deste cosmos que nasceu com a filosofia e mais tarde a fenomenologia por derivação a abstrata ideia do mundo concebido como uma “unidade viva e racional”. René Descartes, por exemplo, se separa radicalmente do todo mundo. Se ele distingue duas categorias de substância em busca da racionalidade, o ego e a natureza são, ontologicamente semelhantes. A fenomenologia de E. Husserl (1859-1938) recusará essa interpretação do modo de ser dessas duas substâncias abstratas.

A Terra interage com objetos em movimento no espaço, em particular com o Sol e a Lua. Orbita o Sol uma vez por cada 366,26 rotações sobre o próprio eixo, o que equivale a 365,26 dias solares ou representa um (01) ano sideral. O eixo de rotação da Terra possui uma inclinação de 23,4° em relação à perpendicular ao seu plano orbital, reproduzindo variações sazonais na superfície do planeta, com período igual a um ano tropical, ou, 365,24 dias solares. Um fato social é questão subjetiva sociológica ainda mais necessária porque se utiliza essa qualificação sem muita precisão. Ela e empregada correntemente para designar socialmente as relações práticas que se dão no interior de uma sociedade, por menos que apresentem, com uma certa generalidade, algum interesse social. Todo indivíduo come, bebe, dorme, raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que essas funções se exerçam regularmente. O sistema de signos de que me sirvo para exprimir meu pensamento, o sistema de moedas que emprego para pagar dívidas, os instrumentos de crédito nas relações comerciais, as práticas observadas na sociologia e de assujeitamento funcionam independentemente da utilidade de uso que faço deles. 

Em primeiro lugar, não queremos perder de vista, analiticamente, que o termo ecosofia é um neologismo formado pela junção das palavras “ecologia e filosofia”. Ou seja, representa um conceito que aproxima analiticamente atitudes ecológicas com o pensamento abstrato humano. É termo cunhado na década de 1960, e, portanto, no tempo e no espaço de crítica à ecologia e de reconhecimento relativamente recente. Está em fase de constituição de seu sentido do ponto de vista da diversidade social, não havendo uma definição única e exata segundo o qual pretenda dele inferir ou referir-se. Sua origem pode ser ligada a dois filósofos que se situam em aspectos chaves para a sua compreensão: o norueguês Arne Naess (1972), pai da ecologia profunda, e o pós-marxista Félix Guattari (1990). O pós-marxismo é uma corrente de pensamento que propõe a teoria de que o social é constituído discursivamente. Para seus representantes não significaria uma redução simplificadamente idealista do nível de análise social e material à linguagem ou ao pensamento. O pós-marxismo representa uma forma de revitalizar a tradição de pensamento crítico marxista, na medida em que demonstra historicamente um progressivo abandono do essencialismo, per se do determinismo e do objetivismo do discurso social e político como parte da história do próprio marxismo. 

Ao considerar uma teoria de concepção realista e materialista, e em certa relação de continuidade e superação com relação ao materialismo histórico de Marx, ao propor a inexistência independente do homem de “um mundo exterior ao pensamento”. Mas, como Marx e grande parte da filosofia contemporânea, rejeitam todo dualismo ou essencialismo que implique a incomunicação entre homem e mundo, sujeito e objeto, discurso e realidade. O pós-marxismo é, contudo, considerado uma “revisão” do pensamento marxista e “não sua atualização”. De fato, em alguns aspectos segue na direção oposta como, por exemplo, a superposição do político diante da importância que teve a ciência para grande parte do marxismo clássico. As críticas analíticas corrente, que possui entre seus maiores representantes Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, residem justamente em sua desconexão com áreas do que foi o marxismo clássico. O que devemos levar em conta é que realiza uma crítica à exacerbação na discussão sobre o marxismo, em detrimento da subjetividade e afirma que os marxistas e progressistas não compreenderam a importância da discussão deste tema, pelo fato de se apegarem ao dogmatismo teórico. Enquanto o professor da Universidade de Oslo em 1972, Arne Naess introduziu, em segundo lugar, a articulação entre os termos “ecologia profunda” e “ecosofia” na literatura ambiental.

Contudo, Naess baseou seu artigo em uma apresentação feita por ele em Bucareste em 1972 na Terceira Conferência Mundial de Pesquisa. Como Drengson descreve em seu livro: Ecofilosofia, Ecosofia e o Movimento Ecologia Profunda: Uma Perspectiva, em seu discurso Naess discutiu o pano de fundo expandido do movimento ecológico em sua progênie e sua conexão e respeito pela natureza e o valor inerente dos outros seres viventes. A perspectiva dos seres humanos como parte integral de uma imagem completa da natureza de Naess contrasta com a construção alternativa, e mais antropocêntrica, de ecosofia delineada por Felix Guattari (1990). Ao registrar três ecologias - a do meio ambiente, a das relações sociais e a das subjetividades humanas -, o filósofo Felix Guattari manifesta sua indignação perante um mundo cultural, social e político com o qual se deteriora lenta e gradualmente. O que está em questão é a maneira de viver em diante sobre o planeta, no contexto da aceleração das mutações técnico-científicas e do crescimento demográfico. Em virtude do contínuo desenvolvimento do trabalho maquínico, redobrado pela revolução informática, as forças produtivas vão tornar disponível uma quantidade cada vez maior do tempo de atividade humana. Surge com que finalidade? - “do desemprego, da marginalidade opressiva, da solidão, da ociosidade, da angústia, da neurose, ou a da cultura, da criação, da pesquisa, da reinvenção do meio ambiente, do enriquecimento dos modos de vida e de sensibilidade?”.

Por mais que os pontos de vista sobre outros pontos de vista acerca da definição de ambos sejam diferentes, como por exemplo, o “nu fotográfico” de Spencer Tunick – e mesmo contraditórios, mas são relacionais, portanto, complementares, contrariando a sabedoria ecológica, expressam a necessidade da emergência de um novo pensamento para além da lógica cartesiana, princípio base das sociedades modernas, que coloca o homem como centro e medida do mundo. Portanto, mestre e possessor da natureza, o qual fez culminar numa sociedade progressista onde a destruição da vida natural e a deterioração das relações humanas ameaçam profundamente a nossa própria espécie. Depreendemos daí que a diversidade de manifestações de vida, seja em Friedrich Nietzsche, seja em Georg Simmel, deve sempre ser levada em conta. Dentro de uma visão de tolerância que buscará permitir que cada indivíduo, humano ou não, possa realizar suas potencialidades, porém sem perder de vista a permissão para que outros a realizem. Por essa démarche cada um proporá suas bases para se pensar o ser humano de forma integrada e compreensiva em todo o processo global em que estamos inseridos.

Compartilhando um mundo de diversas culturas e seres, movendo-nos através de uma visão que propõe um questionamento profundo acerca das normas e premissas sociais, por vias de articulações políticas e de práticas cotidianas. Guattari aponta neste texto para a necessidade de articulação ético-estética e política desses três registros ecológicos. Suas teses são atuais e provocam debates importantes no plano teórico, histórico e ideológico do âmbito da totalidade/globalidade em diversas áreas. Nesse terreno comum, outros autores inseridos no paradigma pós-moderno têm caminhado. É a relação da subjetividade cultural com sua exterioridade - seja ela, social, animal, vegetal, cósmica - que se encontra assim comprometida numa espécie de movimento geral de implosão e infantilização regressiva. A alteridade tende a perder toda a aspereza. O turismo, por exemplo, se resume quase sempre a uma viagem sem sair do lugar, no seio das mesmas redundâncias de imagens e de comportamento. - As formações políticas e as instâncias executivas parecem totalmente incapazes de apreender essa problemática no conjunto de suas implicações. Apesar de estarem começando a tomar uma consciência parcial dos perigos mais evidentes que ameaçam o meio ambiente natural de nossas sociedades, elas geralmente se contentam em abordar o campo dos danos industriais e, unicamente numa perspectiva tecnocrática, ao passo que só uma articulação ético-política - a que chamo ecosofia - entre os três registros ecológicos do ambiente, das relações sociais e subjetividade é que poderia esclarecer convenientemente tais questões.

Através da análise de Felix Guattari (1990), filósofo, psicanalista e militante  revolucionário francês, famoso por suas colaborações com o filósofo Gilles Deleuze,  podemos perceber uma ampliação do tema para aquela de Naess, problematizando para muito além do que convencionou chamar de ecologia. Pode-se enxergar uma clara proposição que conclama que a discussão adentre no campo da transdisciplinaridade ecossistêmica, onde a questão da técnica é fortemente inserida, uma vez que a intervenção do homem se fará primordial para controlar os efeitos causados pela própria espécie humana. Nos termos dos estudos da tecnologia se fará necessário que abandonemos, também, a contraposição histórica e sociológica perpetuada entre humano e técnica. De acordo com Eugen Herrigel no livro: A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (1998): “Mestre, discípulo, arco, flecha, alvo: essas são as personagens que esperam pelo leitor nas páginas que se seguem. Mas tal encontro exigirá, por parte do leitor, algumas abdicações. A lógica do pensamento ocidental deve ser posta de lado. A estrutura do cartesianismo, reduzida a cinzas. A relação causa-efeito, desprezada. A separação sujeito-objeto, ignorada. O tédio, ridicularizado. Mas a paixão pela vida, enaltecida”. Logo na relação social entre cultura e natureza da técnica, passando não mais a enxergá-la necessariamente como fonte de exploração da natureza, no sentido marxista do termo, mas também como parte integrante desse universo comum.

O que não exclui a questão tópica da consciência, de Friedrich Hegel à Karl Marx, e a concepção pós-marxista contemporânea, como vimos, que tem sido compreendida, difundida, analisada e, claro, utilizada conscientemente de forma a compreender e explicar o ecossistema. A comunicação digital influi de fato numa possibilidade de apreensão do mundo. Torna a concepção ecosófica muito palpável e bastante interessante como base para refletirmos acerca do atual estado de coisas que se intensificam. A digitalização das relações e processos sociais dos lugares/espaços está alterando nossa percepção ao criarem sistemas interativos e imersivos, que nos colocam frente ao pensamento ecológico, estabelecida concretamente entre sujeitos sociais, utilidade de uso da tecnologia e a natureza. Ao nos vermos mergulhados em uma rede que apaga as fronteiras entre o corpo físico e a mente, através de uma interface computadorizada capaz de partilhar nossa existência humana em um mundo virtual distribuído mundialmente, as fronteiras entre a existência corpórea localizada predominante até então em todas as experiências humanas, turva-se na direção de uma experiência extracorpórea estilhaçada como ocorreu exatamente com a disponibilidade dos 600 voluntários que posaram para o Greenpeace na “instalação de nu” do renomado Spencer Tunick na geleira Aletsch.

Para entendermos melhor esta questão, do ponto de vista antropológico, foi na região sudoeste da ilha da Tasmânia, localizada na Austrália, que a etno-história Verde começou. Ela não possui caráter de disciplina, constituindo-se apenas em um método de estudo: trata-se de um campo de pesquisa que está por definir-se. O significado varia amplamente pelo contexto e por quem está por trás das máscaras sociais. Melhor dizendo, como afirma Caetano Veloso, “Kabuki, máscara”. Mais precisamente, a criação do primeiro Partido Verde se deu em meio a um controverso projeto político do governo australiano com a tese: “o de transformar o Lago Pedder em um lago artificial para poder construir uma hidrelétrica na região”. Um grupo de ecologistas, do então chamado: “United Tasmanian Group”, se une para tentar impedir o anseio do governo pela obra. No entanto, os esforços dos ecologistas foram minados pela autoridade pública australiana. O Lago Pedder, além de passar de “lago natural para lago artificial”, “deixou de abrigar várias espécies da fauna australiana, resultando em um efeito irreversível para a diversidade de seres vivos e em desequilíbrio do ecossistema local”. Essa triste história social possibilitou uma série de conquistas político-afetivas, que resultam uma resposta aos modos operandi de vida destrutivos da sociedade global moderna como estigma.

O que era reconhecido como “United Tasmanian Group”, em 1972, se tornou Green Party. Quer dizer, Partido Verde nasceu simultaneamente na Tasmânia e na Nova Zelândia. A Nova Zelândia é notável por seu isolamento geográfico: está situada a cerca de 2 000 km a sudeste da Austrália, separados através do mar da Tasmânia e os seus vizinhos mais próximos ao norte são a Nova Caledônia, Fiji e Tonga. Devido ao seu isolamento, o país desenvolveu uma fauna distinta dominada por pássaros, alguns dos quais foram extintos após a chegada dos seres humanos e dos mamíferos introduzidos por eles. A maioria da população da Nova Zelândia é de ascendência europeia (67,6%), sobretudo britânica, enquanto os nativos maoris, ou seus descendentes, Sem desconsiderar o papel social das organizações do terceiro setor nas tentativas de barrar ações do governo que sejam insustentáveis e ecologicamente inviáveis, é importante ressaltar que em certos países a própria estrutura governamental diminui as instâncias de veto das ações do governo, facilitando a aprovação de certas políticas públicas que podem ser prejudiciais à população e ao meio ambiente. Em outras palavras, há momentos em que se sente que é imprescindível estar dentro do governo para conseguir construir políticas públicas sustentáveis, limpas e saudáveis. O Lago Pedder é um lago natural, agora represado, localizado no sudoeste da Tasmânia, Austrália. Um lago artificial e o desvio de alguns rios foram formados quando o lago original foi inundado pelo represamento em 1972 pela Comissão hidrelétrica. O novo Lago Pedder tem uma área com cerca de 240 km² e é considerado o maior lago de água doce na Austrália.

Do ponto de referência dos opositores da barragem do lago original “deve ser conhecido como o reservatório Huon-Serpentine. O lago está localizado no Parque Nacional do Sudoeste, o que lhe dá um importante valor biogeográfico e natural” (cf. Buckman, 2008). A insularidade da Tasmânia e da região selvagem da Tasmânia em particular, tem contribuído para a sua singularidade e ajudou a protegê-la contra o impacto das espécies exóticas que afetou seriamente a fauna do continente. Tasmânia foi cortada da Austrália continental pelas enchentes do Estreito de Bass pelo menos 8000 anos atrás, assim, isolando os aborígenes habitantes. Os aborígenes tasmanianos foram até o advento do explorador europeu Abel Tasman, o maior grupo humano isolado na história social do mundo. Isto é importante, mas deve-se considerar que algumas das 500 gerações sobreviveram sem influência externa. Pesquisas e escavações em vales fluviais interiores têm localizado 37 sítios de caverna, todos considerados por terem sido ocupados entre 30.000 e 11.500 anos atrás no sentido da etno-história. Recentes descobertas de arte rupestre em três locais de caverna demonstraram que certamente representavam um significado cerimonial. Artefatos dispersos, pedreiras e abrigos de rocha nas altas da Tasmânia indicam uma distintiva adaptação humana a este ambiente. 

Historicamente não demorou muito até que os ativistas remanescentes Verdes conseguissem sua primeira grande conquista em eleições gerais. Em 1973, um ano após a criação do partido verde, Helen Smith consegue uma cadeira na cidade de Porirua, Nova Zelândia, ocupando um cargo que, no Brasil, seria equivalente ao cargo de vereador. O primeiro Verde eleito para um parlamento nacional, no entanto, se deu apenas em 1979. Foi na Suíça que Daniel Brelaz escreveu um novo capítulo na história social e política dos Verdes. Desde então a onda Verde tem se espalhado pelo mundo e conquistado cada vez mais espaço político nos governos. Para termos ideia, das 736 cadeiras do Parlamento europeu, 55 foram conquistadas pelos Partidos Verdes. Atualmente estão organizados em mais de 100 países, divididos em quatro Federações: a) a Federação Europeia dos Partidos Verdes, b) a Federação dos Partidos Verdes das Américas, c) a Federação dos Partidos Verdes da África, e d) a Federação dos Partidos Verdes da Ásia e Oceania.

Que se tomem um a um todos os membros de que é composta a sociedade; o que procede poderá ser repetido a propósito de cada um deles, ou seja, maneiras de agir, de pensar e pari passu sentir que apresentam essa notável propriedade de existirem fora das consciências individuais e coletivas. Não são apenas exteriores ao indivíduo, como também são dotados de uma “força imperativa” e coercitiva socialmente em virtude da qual se impõe a ele, quer ele queira, quer não, pois a andorinha sozinha não faz verão. Em se tratando de máximas morais, a consciência pública reprime todo ato que as ofenda através da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos. A coerção social, mesmo sendo de forma indireta, continua sendo uma técnica ou estratégia de submissão eficaz. Trata-se de uma ordem de fatos sociais que apresentam características muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele. Por conseguinte, eles não poderiam se confundir com os fenômenos reconhecidos orgânicos, já que consistem em representações e em ações sociais humanas, muito menos com os fenômenos psíquicos, inconscientes os quais só tem existência na consciência individual.

Estes fatos constituem, portanto, uma espécie nova, e é a eles que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais. Essa qualificação lhes convém; pois é claro que, não tendo o indivíduo por substrato, eles não podem ter outro senão em torno da “sociedade”, seja a sociedade política em seu conjunto, seja um dos grupos parciais que ela encerra: confissões religiosas, escolas políticas, literárias, corporações profissionais, etc. Por outro lado, é a eles só que ela convém; pois a palavra social só tem sentido definido com a condição de designar unicamente fenômenos que não se incluem em nenhuma das categorias de fatos já constituídos e denominados. Eles representam o domínio próprio da sociologia. Mas na sociologia durkheimiana há organização delineada, normalizada e estritamente definida. O hábito coletivo não existe apenas em estado de imanência nos atos sucessivos que ele determina, mas se exprime na sociedade de uma vez por todas, por um privilégio cujo exemplo não encontramos no reino biológico, numa fórmula que se repete de boca em boca, que se transmite pela educação, que se fixa através da escrita. Tais são as origens e a natureza das regras jurídicas, morais, dos aforismos e dos ditos populares, dos artigos de fé em que as seitas religiosas ou políticas condensam em crenças, dos códigos de gosto que as escolas literárias estabelecem, e assim por diante.

Nenhuma dessas maneiras de agir ou de pensar se acha por inteiro nas aplicações que os particulares fazem delas, já que eles podem inclusive existir sem serem atualmente aplicadas. Há certas correntes de opinião que nos impelem, com desigual intensidade, conforme os tempos e os lugares, uma ao casamento, por exemplo, outra, ao suicídio, analisado por Émile Durkheim, ou a uma natalidade mais ou menos acentuada. As circunstâncias individuais e coletivas que podem ter alguma participação social na produção do fenômeno, neutralizam-se mutuamente e não contribuem para em princípio poder determina-lo. O que esse fato social exprime é que os torna um certo estado de alma coletiva. A geografia depende do compartilhamento de outras áreas do conhecimento técnico-científico. Utiliza os dados da química, da geologia, da matemática, da história, da física, da astronomia, da antropologia e da biologia e principalmente da ecologia, pois tanto a Ecologia como a Geografia comparativamente, são estudos e pesquisas com objetos abstratos interrelacionados, porque estão interessados com as análises biológicas, comparadas às análises de fatores geológicos e dos ciclos biogeoquímicos dos ecossistemas, isto é, da relação entre os seres vivos e a utilidade de uso do ambiente natural como sobrevivência. Os geógrafos utilizam técnicas metodológicas, como viagens, leituras e estudo de estatísticas. Os mapas são seu instrumento etnográfico e meio de trabalho mais importante.

 Além de estudar mapas, os geógrafos os atualizam como pesquisas especializadas, aumentando assim o campo abrangente de reconhecimento geográfico. O homem sempre precisou e se utilizou do conhecimento geográfico. Os povos pré-históricos tinham de encontrar cavernas para habitar e reservas regulares de água. Tinham também de morar perto de um lugar onde pudessem caçar. Caverna, gruta ou furna é toda cavidade natural rochosa com dimensões que permitam acesso aos seres humanos. Os termos relativos a caverna geralmente utilizam a raiz espeleo-, derivada do latim spelaeum, do grego σπήλαιον, “caverna”, da mesma raiz da palavra espelunca. As cavernas são também estudadas pela espeleologia, que tem como representação social uma ciência multidisciplinar policompetente que envolve as análises simultâneas e comparativamente através da geologia, hidrologia, biologia, paleontologia e arqueologia. Sabiam localizar “os rastros dos animais e as trilhas dos inimigos”. Usavam carvão ou argila colorida para desenhar mapas de sua região nas paredes das cavernas ou nas peles secas dos animais.  O homem aprendeu a lavrar a terra e a domesticar os animais.

A natureza, portanto, não esconde mais nenhum “ensinamento teológico” nem manifesta a perfeição de Deus, porque ela é apenas o resultado de uma objetivação do sensível realizada por meio das categorias do entendimento, e neste aspecto David Hume foi magistral. Se o “livro da natureza” não é mais tão legível, a atenção está voltada para a subjetividade, escreve Michaël Fœssel. No entanto, Kant permanece ligado “a uma metafísica criacionista em que o progresso pode ser atribuído à evolução física e sua causa transcendente, não ao próprio homem”. Se a princípio o mundo foi declarado incompleto por causa de uma onipotência divina da imaginação ocidental metafísica que teve que encontrar uma maneira de se expressar na plasticidade da matéria, ele deve se tornar compatível com a teleologia da liberdade humana. Reduzido ao status de matéria indeterminada, o mundo não só é feito a cada momento, mas é feito por quem o habita. Perdendo sua objetividade, segundo Immanuel Kant se tornará a priori existencial “pois está em sua essência estar sempre lá e preceder qualquer encontro com qualquer ser”.

Para o mais ilustre representante dessa corrente filosófica, Friedrich Schelling, o mundo é uma unidade essencial, não há necessidade de opor o mundo ideal e o mundo real. Humano e natureza são apenas as duas faces de um mesmo ser, o Uno, o Absoluto. É do seio do Absoluto que nascem a Natureza e o espírito, coexistindo e desenvolvendo-se paralelamente em perfeita identidade. Os contraditórios procedem de um Absoluto “indiferente” ao objetivo e ao subjetivo, de uma unidade indiferenciada. Parece que o ritmo da natureza é o mesmo do Espírito; é esta tese que se identifica sob o nome de filosofia da identidade que não é nem o “eu” de Johann Fichte nem o Deus da teologia.  Na Naturphilosophie, a terra é representada como um organismo universal, mãe de todos os outros; é através dessa imagem em particular que Friedrich Hegel abre o estudo da física orgânica; a geologia é, para ele, uma morfologia do organismo terrestre.  No espírito de sua filosofia Schopenhauer vê o mundo como a manifestação de “uma vontade cega, única a todos” e que produz sem razão e sem propósito. O mundo como objeto é, “como Kant viu, apenas minha representação”. Para Nietzsche “toda coisa, todo ser, o próprio mundo, é uma luta de opostos, o lugar de um jogo. Esta ideia é uma ideia “divina”: só Deus vê a harmonia dos opostos, invisível aos humanos, e só Heráclito a compreendeu.

Os outros homens, “os muitos” (oi polloi), ficam contentes com os conflitos e o diagnóstico de iniquidade e injustiça”. A filosofia de Friedrich Nietzsche “culmina nestes dois cumes que são a vontade de poder e o eterno retorno do mesmo”, escreve Pascal David, nascido em 10 de fevereiro de 1956 é um historiador francês da filosofia e tradutor. Para o metafísico Nietzsche o ser de ser entendido como “vontade de poder”, buscando superar-se eternamente, será doravante entendido por Nietzsche como “tornar-se ininterrupto”. Para Nietzsche, “o mundo, isto é, o ser na totalidade que se articula como vontade de poder, não é de modo algum uma totalidade impressa de sentido, nem um organismo, nem um processo gigantesco que seria finalizado por um fim último, uma causa final”. O mundo é essencialmente um caos, escreve Joseph Vande Wiele. Ao evacuar todas as questões tradicionais sobre o mundo, Husserl introduz uma atitude radicalmente nova com sua fenomenologia, pois “é marcada pelo fato de que as ciências exatas não têm nada a dizer sobre o mundo como mundo e, está fora de questão que a filosofia encontre seu método nelas” escreve Emmanuel Housset. Para Husserl não pode haver mundo objetivo senão a partir do fenômeno da intersubjetividade.


O mundo, para Friedrich Nietzsche, não é ordem e racionalidade, mas desordem e irracionalidade. Seu princípio filosófico não era, portanto, estabelecido através da relação entre Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso, e, por isso, se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. A única e verdadeira realidade “sem máscaras”, para Nietzsche, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante. É neste sentido que Nietzsche era um crítico: a) das “ideias modernas”, b) da vida social e da cultura moderna, c) do neonacionalismo alemão, e, para sermos breves, d) Para ele, os ideais modernos expressos como democracia, socialismo, igualitarismo, emancipação feminina não eram senão expressões da decadência de determinado “tipo homem”. Por estas razões, é, por vezes, apontado como um precursor da concepção de pós-modernidade. A figura de Nietzsche foi particularmente promovida na Alemanha Nazi, num processo político mediante o qual você opta, mas não decide, tendo sua irmã, simpatizante do regime, fomentado esta associação. Como dizia Martin Heidegger, ele próprio nietzschiano, “na Alemanha se era contra ou a favor de Nietzsche”.

Durante toda sua vida, tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando à conclusão de que “nascera póstumo”, para os leitores do porvir. O sucesso de Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua obra: “Assim Falou Zaratustra” e, então, tratou de difundi-la, em 1888. Em 3 de janeiro de 1889, Nietzsche sofreu um colapso mental. Teria testemunhado o açoitamento de um cavalo no outro extremo da Piazza Carlo Alberto. Então correu em direção ao cavalo, jogou os braços ao redor de seu pescoço para protegê-lo e em seguida, caiu no chão. Nos dias seguintes, Nietzsche enviou escrito breve conhecido como: “Wahnbriefe” em português: “Cartas da loucura” – para um número de amigos, entre eles, Cosima Wagner, filha do pianista húngaro Franz Liszt com a Condessa Marie d`Agout e Jacob Burckhardt, historiador, filósofo da história e da cultura suíça, autor de importantes obras sobre a cultura e história da arte. Muitas destas cartas foram curiosamente assinadas “Dionísio”. Embora a maioria dos comentaristas considere seu colapso como alheios à sua filosofia, Georges Bataille chegou a insinuar que sua filosofia pudesse tê-lo enlouquecido e a psicanálise “post-mortem”, de René Girard, uma “rivalidade de adoração” com Richard Wagner.

Em Ecologia, um biótopo ou ecótipo, é uma região que apresenta regularidade nas condições ambientais e nas populações animais e vegetais. Corresponde à menor parcela de um habitat que é possível mensurar geograficamente. Mais amplamente, também pode ser considerado como um lugar que oferece as condições socioambientais adequadas para a subsistência de uma comunidade de organismos vivos. Este conceito costuma ser confundido com o de “nicho ecológico”, mas enquanto o biótopo consiste na relação criada entre o ser vivo e a totalidade dos fatores ambientais que o afetam, nicho ecológico diz respeito à maneira como os organismos respondem aos recursos existentes, à competição com outros seres e aos fatores ambientais presentes em sua zona de vida para sobreviver. Biocenose, biota ou comunidade biológica é o grupo de seres vivos de diferentes espécies que coexistem e desenvolvem sua reprodução no mesmo biótopo. O termo biocenose foi criado extraordinariamente pelo zoólogo alemão Karl August Möbius (1825-1908), em 1877, para ressaltar “a relação de vida em comum dos seres que habitam determinada região”. A biocenose de uma típica floresta, por exemplo, compõe-se de populações de arbustos, árvores, pássaros, formigas, microrganismos etc., que convivem e se inter-relacionam. Combinam características físicas e químicas no ambiente do ar ou da água para os organismos vivos e o ambiente.

Define   características físicas básicas para a existência de animais e plantas, e determina a gama de organismos que podem existir em um determinado ecossistema. Edafotop é o ambiente pedológico (ou do solo) de um biótopo. A edafologia é a ciência que trata da influência dos solos em seres vivos, particularmente plantas, incluindo o uso do solo pelo ser humano com a finalidade de proporcionar o desenvolvimento das plantas. Epifitismo é uma relação de inquilinismo entre duas plantas ou algas, na qual uma planta (epífita) vive sobre a outra (forófito), utilizando-se apenas de apoio e sem dela retirar nutrientes e sem estabelecer contato com o solo. O epifitismo é comum nas florestas tropicais e abundante em comunidades de algas. Nas florestas, sua evolução teve como característica marcante a conquista de melhores espaços, em termos de insolação, acompanhada por condições de maior estresse para aquisição de água e nutrientes.  Em ambientes aquáticos, deve-se apenas a existência de substrato sólido e fixo disponível para colonização. Distinguem-se das hemiepífitas por terem um ciclo de vida que não inclui em qualquer das suas etapas o enraizamento no solo. O termo epífito é de Charles-François Mirbel (1775-1854) e vem da junção de epíphyto, significando, portanto, “sobre planta” (1815). Tornou-se reconhecido com as obras de Andreas Franz Wilhelm Schimper (1856-1901) sobre epífitas das “Índias ocidentais” e das Américas.  

O termo forófito, por sua vez, é utilizado em oposição a hospedeiro pois este denota relação parasítica. Provém da junção das palavras foro (sustentar) e fito (planta), podendo ser substituído por árvore-suporte. A ecologia das epífitas aquáticas difere das registradas em ambientes terrestres. Em ambientes aquáticos, especialmente os marinhos as epífitas são espécies de algas e bactérias, e mais raramente macrófitas. Alguns pesquisadores também incluem nesta categoria organismos como fungos, esponjas, briozoários, ascidias, protozoários, crustáceos, moluscos assim como qualquer organismo séssil que crescem nas superfícies de plantas, tipicamente ervas marinhas e árvores de mangue, ou em algas. Elevadas abundâncias de epífitas podem afetar negativamente as plantas-suporte causando danos físicos ou levando a morte, particularmente das ervas marinhas. Isto deve-se ao fato de que, em elevadas densidades, as epífitas podem chegar a bloquear a luz solar impedindo a fotossíntese do hospedeiro. Epífitas em ambientes marinhos conhecidamente crescem em velocidades altas e se reproduzem com facilidade. Epífitas são plantas que, sem contato com o solo, necessitam do suporte fornecido por árvores para seu desenvolvimento. Nos ambientes florestais podem ser divididas em epífitas avasculares, formadas principalmente por hepáticas e musgos, e vasculares, que incluem principalmente pteridófitas e angiospermas e, mais raramente, gimnospermas.

Suas raízes se fixam externamente nos troncos ou galhos e nunca emitem estruturas haustoriais, nem ocorre contato com o xilema ou floema dos forófitos. Plantas com estas habilidades são denominadas hemiparasitas, quando invadem o xilema, ou parasitas quando invadem o floema. As epífitas podem estar expostas a elevados índices de insolação, extremos de temperatura e umidade além de variações na quantidade de água disponível. Para sobreviver necessitam de adaptações, tanto nos aspectos morfológicos quanto fisiológicos. Em geral, as epífitas vicejam sobre o tronco das árvores e dispõe de raízes superficiais que se espalham pela casca e que absorvem a matéria orgânica em decomposição disponível. Muitas vezes, as raízes são acompanhadas por um fungo microscópico que faz uma associação mutualística conhecida como micorriza, que se encarrega de transformar a matéria orgânica morta em sais minerais, facilitando a sua absorção pela planta. Por vezes, o epífito não absorve matéria prima da superfície da árvore ou arbusto, e suas raízes podem ser atrofiadas ou ausentes, de modo que o epífito utiliza seu hospedeiro apenas como suporte para alcançar seu ambiente ideal nos estratos da floresta. As epífitas jamais buscam alimento nos organismos hospedeiros.

Suas raízes superficiais não absorvem a seiva da planta hospedeira, não há qualquer relação de parasitismo. Melhor dizendo, a presença de epífitas não prejudica a árvore ou arbusto onde elas vegetam. A incidência de espécies epífitas diminui à medida que se aumenta a distância para a Linha do Equador, ou afasta-se das florestas úmidas para áreas mais secas. Alguns exemplos de epífitas são as polipodiáceas (fetos ou samambaias); cactáceas (flor-de-maio); as bromeliáceas (bromélias ou gravatás); as orquidáceas (orquídeas). Espécies epífitas são particularmente entre as Bryophyta, Pteridophyta, Orchidaceae, Gesneriaceae, Begoniaceae, Bromeliaceae e Araceae. Há também certas algas verdes que vivem sobre árvores em terra firme. No caso das bromélias, existem as epífitas e as não epífitas: todas têm seu cálice em forma de rosa no ponto onde as folhas se juntam, numa chamada “disposição rosácea”; este mecanismo faz com que recebam água da chuva, poeira e pequenos insetos mortos, que, decompostos pela água e misturados à poeira, serão aproveitados em sua nutrição. As orquídeas têm cerca de 800 gêneros, quase 35 000 espécies já catalogadas e aproximadamente 5 000 em processo de catalogação até 2004. Estão presentes em todos os continentes, menos nas áreas polares que são zonas térmicas da Terra. Têm as raízes revestidas com uma espécie de velame: um tecido formado por células mortas que atuam como uma esponja, absorvendo a umidade e nutrientes.

Bibliografia Geral consultada.

ENZENSBERGER, Hans Magnus, Para Uma Crítica de la Ecologia Política. Barcelona: Editorial Anagrama, 1974; GUATTARI, Félix, As Três Ecologias. Campinas (SP): Editora Papirus, 1990; MARCUSE, Herbert, “La Ecología y la Crítica de la Sociedad Moderna”. In: Ecología Política - Cuadernos de Debate Internacional. Barcelona, n° 5,1993; ELIAS, Norbert, A Sociedade dos Indivíduos1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1994;  HARLEY, John Brian, La Nueva Naturaleza de los Mapas. México: Fondo de Cultura Económica, 2005; BASTOS, Frederico Holanda, Guaramiranga: Propostas de Zoneamento e Manejo Ambiental. Dissertação de Mestrado. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2005; CORTEZ, Ana Isabel Ribeiro Parente, Memória Descarrilhadas: O Trem na Cidade do Crato. Dissertação de Mestrado.  Programa de Pós-Graduação em História Social. Departamento de História. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008; NASCIMENTO, Alexandre Sabino do, A (Re)produção do Espaço do Maciço de Baturité: Análise das Políticas de Desenvolvimento Urbano-regional. Dissertação de Mestrado. Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. Departamento de Geografia. Centro de Ciências. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008; RAMOS, Maria das Graças Ouriques, Definição de Ecossistemas. Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2010; ASSIS, Raimundo Jucier Sousa de, Ferrovias de Papel: Projetos de Domínios Territoriais no Ceará (1864-1880). Dissertação de Mestrado em Geografia. Centro de Ciências. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2011;  BASTOS, Frederico de Holanda; CORDEIRO, Abner Monteiro Nunes; SILVA, Edson Vicente da, “Aspectos Geoambientais e Contribuições para Estratégias de Planejamento Ambiental da Serra de Baturité/CE”. In: Revista da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia 13, 163-198; 2017; ARAÚJO, Vitor Vasconcelos de, A Constituição da Subjetividade: Hegel e a Ordem das Sucessões Cumulativas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2020; PAVLOSKI, Evanir, Admirável Mundo Novo e A Ilha de Aldous Huxley: Entre o Pesadelo e o Idílio Utópico. Curitiba: Editora Universidade Federal do Paraná, 2022; SUZANO JUNIOR, Barthon Favatto, Milton Santos, o Espaço e as Rugosidades: Contribuições da Geografia Renovada à História. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Letras. Assis: Universidade Estadual Paulista, 2022; entre outros. 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Michael Schumacher – Homem-máquina & Automatismo dos Hábitos.

                                O tempo penetra o corpo, e com ele, todos os controles minuciosos de poder”. Michel Foucault

          O automobilismo é um desporto relacionado com competição com automóveis. É um dos desportos mais populares do mundo e talvez aquele em que a comercialização seja mais intensa, globalizada e de influência das corporações midiáticas. As corridas de automóveis iniciaram-se quase imediatamente depois da construção dos primeiros carros movidos a gasolina, bem sucedidos e influenciados pelas populares corridas de carro. Em 1894, foi organizada a primeira competição na França pela revista parisiense Le Petit Journal, entre Paris para Ruão, em francês e em normando: Rouen, é uma cidade localizada na região histórica da Normandia, no Noroeste da França. Uma das mais prósperas cidades do Norte europeu na Idade Média, Ruão é, a capital da região francesa da Normandia e do departamento do Sena Marítimo. Tratava-se de um teste de confiabilidade para determinar o melhor desempenho, chamado de Concours des Voitures sans Chevaux. Começaram a corrida 69 carros em torno de um percurso de 50 km que iria determinar os classificados para a corrida principal de 127 km, selecionando 25 carros que se classificaram. O conde Jules-Albert de Dion foi o primeiro a chegar em Ruão no tempo de 6 horas e 48 minutos, numa velocidade média de 19 km/h, contudo, sua vitória não foi contabilizada, pois o carro continha um acessório proibido, por essa razão o título da corrida foi dado a Georges Lemaître, que chegou na segunda colocação.

O jornal foi responsável pela criação original de dois importantes eventos desportivos na França daquele período. Em 1891 patrocinou a criação da corrida de bicicletas Paris-Brest-Paris. Organizou também a primeira corrida de automóveis da história: a Competição de carruagem sem cavalos de 1894 entre Paris e Ruão. A corrida foi ganha pelo conde Albert Jules Graf de Dion (1856-1946) na De Dion-Bouton. Le Petit Journal foi um jornal parisiense publicado de 1863 a 1944. Foi fundado por Moïse Polydore Millaud (1813-1871). Em suas colunas eram publicados curiosidades, grandes acontecimentos políticos, fatos históricos e sociais e retrospectivos com textos ficcionais de Émile Gaboriau e de Ponson du Terrail. Em diversos números com a utilidade de uso de marketing, e evidente sensacionalismo dado às suas coberturas jornalísticas de campo. Na década de 1890, devido à sua grande popularidade, chegou a ter uma tiragem de um milhão de cópias, e em 1884 foi incluída na publicação um suplemento semanal ilustrado. Conservador e republicano, em novembro de 1923, o jornal elaborou a capa, questionando a relação de gênero, se a “fragilidade feminina se adaptaria a esse esporte violento que é o futebol”.

O momento histórico das disciplinas é o momento, segundo Foucault (2014: 135 e ss.), em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna mais obediente quanto é mais útil, e inversamente. Forma-se então uma política das coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seu comportamento. O corpo humano entras numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica de poder”. Está nascendo; ela define como se pode ter o domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”. A disciplina aumenta as força do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte a energia, a potência que poderia resultar, e faz dela relação de sujeição estrita.               

Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. A “invenção” dessa nova anatomia política não deve ser entendida como uma descoberta súbita. Mas como uma multiplicidade de processos muitas vezes mínimos, de origens diferentes, de localizações esparsas, que se recordam, se repetem, ou se imitam, apoiam-se uns sobre os outros, distinguem-se segundo seu campo de aplicação, entram em convergência e esboçam aos poucos a fachada de um método geral. Encontramo-los nos colégios, muito cedo; mais tarde nas escolas primárias; investiram lentamente o corpo hospitalar; e em algumas dezenas de anos reestruturam a organização militar. Circulam às vezes muito rápido de um ponto a outro, entre o exército e as escolas técnicas ou os colégios e liceus, às vezes lentamente e de maneira mais discreta quando formam a militarização insidiosa das grandes oficinas. A cada vez, ou quase, impuseram-se a exigências de determinada conjuntura: aqui uma inovação industrial, lá a recrudescência de certas doenças epidêmicas, acolá a invenção do fuzil ou as vitórias da Prússia. O que não impedem que se inscrevam, no total, nas transformações gerais e essenciais que necessariamente serão condicionadas.        

Émile Gaboriau (1832-1873), citado por Michel Foucault (2014), foi um escritor francês, romancista, jornalista e um pioneiro da ficção policial. Gaboriau nasceu na pequena cidade de Saujon, Charente-Maritime. Ele era filho de Charles Gabriel Gaboriau, funcionário público e sua mãe era Marguerite Stéphanie Gaboriau. Tornou-se secretário de Paul Féval e, depois de publicar alguns romances e diversos escritos, encontrou seu verdadeiro dom em L`Affaire Lerouge (1866). Foi o primeiro romance policial de Gaboriau, apresentou um detetive amador. Também apresentou um jovem policial chamado Monsieur Lecoq, que foi o herói de três dos romances policiais posteriores de Gaboriau. O personagem de Lecoq foi baseado em um ladrão da vida real que se tornou policial, Eugène François Vidocq (1775-1857), cujas próprias memórias, Les Vrais Mémoires de Vidocq, misturavam ficção e realidade. Também pode ter sido influenciado pelo vilão Monsieur Lecoq, um dos principais protagonistas da série de livros Les Habits Noirs de Féval. O livro foi publicado no Le Siècle e imediatamente fez sua reputação. Gaboriau ganhou um grande número de seguidores, mas quando Arthur Conan Doyle criou Sherlock Holmes, a fama internacional de Monsieur Lecoq diminuiu. A história foi produzida no palco em 1872. Uma longa série de romances lidando com os anais do tribunal policial se seguiu e provou ser muito popular. Os livros de Gaboriau foram geralmente bem recebidos. Sobre o mistério do orcival, Harper`s escreveu em 1872: - “De sua classe de romance - sensacionalista francês - este é um espécime notável e único”. Uma versão cinematográfica de Le Dossier nº 113 foi lançada em 1932. Em A Study in Scarlet, Conan Doyle faz Watson perguntar a Sherlock Holmes o que ele acha do trabalho de Gaboriau. Holmes menospreza Lecoq como “um miserável trapalhão”.

Em 1895 realizou-se a primeira corrida propriamente dita, entre Paris e Bordéus. A corrida tinha um trajeto de 1 178 km e 46 concorrentes, mas apenas 22 deles iniciaram a prova. O primeiro a chegar foi Émile Levassor (1843-1897), um engenheiro francês, pioneiro da indústria automobilística, mas foi desclassificado porque o seu carro não obedecia às exigências da competição. Assim, o prêmio foi para o segundo colocado. A primeira corrida de automóveis na América do Norte é geralmente considerada a corrida do Chicago Times-Herald, um percurso de 54,36 milhas realizado no Dia de Ação de Graças em 28 de novembro de 1895. A cobertura do evento pela imprensa “despertou pela primeira vez um interesse norte-americano significativo no automóvel”. O veículo elétrico La Jamais Contente, de aerodinâmica automotiva avançada e projetado por Camille Jenatzy (1868-1913), foi o primeiro automóvel a superar a velocidade de 100 km/h, em Paris a 29 de abril de 1899. Era um corredor belga, reconhecido por romper três vezes o recorde de velocidade em terra, sendo o primeiro em superar a barreira dos 100 km/h. Era apelidado Le Diable Rouge devido à cor da sua barba. 

Michael Schumacher representa um expert automobilista alemão, sete vezes campeão do mundo da principal categoria do automobilismo, detém inúmeros recordes, incluindo voltas mais rápidas, maior número de campeonatos e mais corridas ganhas em uma única temporada no ano de 2004. Em 2002 ele se tornou o único piloto na história da F1 a terminar entre os três primeiros em todas as corridas em um mesmo campeonato. Fora das pistas, Schumacher foi embaixador da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e orador para a segurança do motorista. Esteve envolvido em inúmeros esforços humanitários ao longo da vida e doou dezenas de milhões de dólares para a caridade. Michael e seu irmão Ralf Schumacher são os únicos irmãos a vencer corridas na Fórmula 1, e eles foram os primeiros irmãos 1° e 2° lugar na mesma corrida, em Montreal em 2001 e novamente em 2003.  Após três temporadas afastado da categoria que o consagrou, Schumacher retornou defendendo a Mercedes na temporada de 2010. 

Em 1987, Schumacher iniciou sua carreira em monopostos na Fórmula König. Nesta época, recebia investimento de dezesseis mil marcos alemães por corrida, de Jürgen Dilk. Acabou campeão da categoria. Em 1988, disputou a Fórmula Ford e foi vice-campeão. Passou para a Fórmula 3, tendo Willi Weber seu novo empresário. Em 1989, terminou em terceiro no campeonato, e no ano seguinte conquista seu segundo título de categorias de base. Após anos de competições, em 1990, Michael foi escolhido em um programa de formação de jovens pilotos promissores financiado pela Mercedes-Benz. Teve como companheiros o alemão Heinz-Harald Frentzen e o austríaco Karl Wendlinger. Terminou o campeonato em quinto. No final do ano, para aprimorar seu ritmo de corrida, a montadora decidiu dar-lhe um carro para o encerramento da temporada do Deutsche Tourenwagen Masters (DTM), no Circuito de Hockenheim, autódromo localizado perto de Hockenheim, no estado de Baden-Württemberg. Carro oficial, de fábrica, número 65. Mercedes-Benz 190 E 2.5/16 Evo 2, vencedor de cinco corridas no ano. Mesmo com o equipamento competitivo, Schumacher conseguiu apenas o 15º tempo nos treinos, quase 5s atrás do pole position, piloto Frank Jelinski, da Audi. A corrida do jovem piloto durou apenas uma curva, mas uma curva que, todavia, mudou a ordem das coisas daquela temporada. Michael bateu na traseira do BMW de Johnny Cecotto, líder do campeonato, que liderava na pista pelo título com Hans Von Stuck.       

Com o abandono do venezuelano, Stuck venceu as duas provas, ficando com a taça. Schumacher, com o carro destruído, sequer pôde correr na segunda bateria. E o autódromo, lotado, sequer imaginava que aquele “novato atrapalhado seria aclamado alguns anos depois”. Schumacher seguiu com a Mercedes em 1991. Disputou novamente o Mundial de Protótipos, vencendo uma corrida em Autópolis, no Japão. No meio do ano, mais uma oportunidade para correr no DTM. Seria no veloz circuito de rua de Norisring. Schumacher teve uma vez mais um carro oficial de fábrica, da equipe Zakspeed, com o francês Fabien Giroix e o alemão Roland Asch como companheiros. Asch fez a pole e largou na frente na primeira bateria. Schumacher foi apenas 19º no grid, terminando a corrida em 24º vitória do dinamarquês Kurt Thiim, da equipe Mercedes Benz. Com problemas mecânicos, Michael pouco correu na segunda prova do dia 30 de junho de 1991. Um mês depois, na pista montada no aeroporto de Diepholz, Schumacher voltou a ocupar um Mercedes no Alemão de Turismo. Da mesma equipe Zakspeed, carro número 20. Nos treinos, obteve a mísera 21ª colocação. Pole-position para Jacques Laffite, também da Mercedes. E abandono para Schumy, no começo. Na segunda bateria, novamente em 21º, atuação discreta até o 14ª lugar, na posição final.

A Zakspeed foi uma equipe alemã de Fórmula 1 onde correu de 1985 à 1989. Foi fundada em 1968 por Erich Zakowski, inicialmente como uma equipe para a DRM (atual DTM). Competiu, ainda, na extinta Championship Auto Racing Teams (CART), em associação com a Forsythe. Hoje, disputa a ADAC GT Masters. Na Fórmula 1, teve como pilotos os alemães Christian Danner e Bernd Schneider, o holandês Huub Rothengatter, os ingleses Martin Brundle e Jonathan Palmer, o italiano Piercarlo Ghinzani e o japonês Aguri Suzuki. Sua peculiaridade era o patrocínio dos cigarros West, que patrocinariam a McLaren entre 1997 e 2005, e os motores de 4 cilindros que recebiam o nome da equipe até 1988. Estreou no Grande Prêmio de Portugal, de 1985, lembrado pela primeira vitória do brasileiro Ayrton Senna na categoria. Em 74 corridas, o máximo que a Zakspeed obteve foi o 5° lugar de Brundle no Grande Prêmio de San Marino de 1987. Com os propulsores da Yamaha, a Zakspeed largou em apenas 2 provas da temporada de 1989, tendo amargado 13 não-classificações consecutivas. A última corrida em que a equipe alemã se inscreveu foi o Grande Prêmio da Austrália, onde também não conseguiu vaga no grid. Em 2001, 12 anos após a experiência na F-1, a Zakspeed voltou a disputar uma categoria top do automobilismo em 2001, quando competiu na CART em parceria com a Forsythe, que inscreveu um terceiro carro para o norte-americano Bryan Herta. A parceria não foi renovada para 2002 e a Zakspeed deixou a CART após o encerramento da temporada.

Os companheiros de Michael Schumacher, Heinz-Harald Frentzen, é um ex-piloto alemão e Frentzen, ingressaram na Fórmula 1 por intermédio da Sauber Mercedes, mas a estreia de Schumy seria antecipada.  Piloto muito técnico e arrojado, fez parte do Programa de Desenvolvimento de “Jovens Pilotos da Mercedes Benz” (Mercedes Junior Team), juntamente com o compatriota Michael Schumacher e o austríaco Karl Wendlinger. Jochen Neerpash permitiu que Schumacher participasse, no verão no hemisfério Norte de 1991, da Fórmula 3000 japonesa, a assim chamada Fórmula Nippon, pela Scuderia Suntory Team Le Mans, em um Ralt RT23 - Mugen MF308. Em Sugo, Schumacher fez uma boa corrida, chegando em segundo lugar, atrás do norte-americano Ross Cheever. Em 1991 o piloto belga Bertrand Gachot foi preso “por envolvimento em um acidente de trânsito”. A Mercedes Benz viu uma oportunidade e pagou 300 mil dólares à Michel Jordan pela vaga que Schumacher assumiria no Grande Prêmio da Bélgica. Schumacher foi convidado a disputar a prova e em apenas uma corrida chamou a atenção de Flávio Briatore ao conquistar a sétima posição na classificação. Na largada, ele pula para a 4ª posição, mas um problema na embreagem fez com que o jovem alemão de 22 anos abandonasse a prova de forma prematura, mas o recado foi o suficiente. Briatore despediu o piloto brasileiro Roberto Pupo Moreno e contratou Schumacher, formando dupla com o tricampeão brasileiro Nelson Piquet, na Benetton a partir do Grande Prêmio da Itália de 1981, 1983 e 1987, termina em 5º lugar e os primeiros 2 pontos na carreira.

Não queremos perder de vista que Nelson Piquet é considerado por especialistas um dos melhores pilotos da história da Fórmula 1, a categoria mais avançada do esporte a motor regulamentada pela Federação Internacional de Automobilismo, por avaliações de grande prestígio sobre automobilismo. Teve uma breve carreira no tênis antes de perder o interesse no esporte e, posteriormente, entrou no kart e escondeu sua identidade para evitar que seu pai descobrisse seu hobby. Tornou-se o campeão brasileiro de kart em 1971-1972 e venceu o campeonato de Fórmula V em 1976. Piquet foi para a Europa e obteve êxito, tendo o número recorde de vitórias na Fórmula 3 Britânica em 1978, derrotando o recorde histórico de Jackie Stewart. No mesmo ano, fez sua estreia na Fórmula 1 com a equipe Ensign, pilotou pela McLaren e posteriormente para a Brabham. Desde 1979 na Brabham, foi vice-campeão em 1980, antes de ganhar o campeonato de 1981. Apesar de não disputar o título em 1982, viu-se um ressurgimento de sua carreira em 1983 dando um segundo campeonato mundial. Para 1984-1985, o piloto Nelson Piquet contabilizou três vitórias com um quinto lugar em 1985.

Seu divisor de águas foi a transferência para a equipe Williams em 1986, e foi um postulante contumaz ao título, até a corrida final na Austrália em que terminou em terceiro. Piquet teve seu terceiro e último campeonato em 1987, durante uma batalha feroz com o companheiro de equipe Nigel Mansell. tendo sido campeão mundial na Fórmula 1 em 1992 e na Fórmula Indy em 1993. Piquet transferiu-se para Lotus para temporada 1988-1989 onde teve 3 pódios em 1988, terminando em 6º na temporada com 22 pontos e o 4º lugar como melhor resultado em 1989, terminando em oitavo com 12 pontos. Nelson Piquet foi para a equipe Benetton para 1990-1991 onde ele conseguiu ganhar três corridas, nos casos de Japão e Austrália em 1990, onde acabou o ano em terceiro, mais a vitória no Canadá em 1991, e o sexto lugar antes de se aposentar da Fórmula 1. Piquet correu as 500 Milhas de Indianápolis em 1992-1993. Também correu em carros esportivos como as corridas históricas 24 Horas de Le Mans em 1996 e 1997.

Na temporada de 1992, o alemão vence o GP da Bélgica, local que estreou na Fórmula 1 há um ano. É a sua primeira vitória na categoria e com o 2º lugar (6 pontos) no GP da Austrália, Schumacher finaliza o campeonato em 3º lugar e supera Ayrton Senna (abandonou a prova numa colisão com Nigel Mansell) por 3 pontos.  Em 1994, conquistou seu primeiro título mundial por apenas um ponto, após diversas polêmicas envolvendo as equipes Williams e Benetton, culminando no Grande Prêmio da Austrália, onde colidiram com seu carro contra o carro de Damon Hill, numa controversa manobra. Neste mesmo ano, Schumacher havia sido banido por duas corridas. A FIA, no entanto, foi acusada pela equipe Benetton de favorecer a Williams, tentando tornar a temporada mais competitiva. Ainda assim, é campeão pela primeira vez e a equipe Benetton consegue também estrear um piloto campeão, apesar de falhar com o título de construtores. Mas a suspeita de irregularidades em várias equipes relativas à presença de ajuda eletrônica foi indicada após investigação envolvendo Ferrari, McLaren e Benetton. Nos treinos para o Grande Prêmio do Pacífico, em Aida, a Ferrari admitiu ter usado o mecansmo de “controle de tração” em seus dois carros, mas se retratou garantindo que não mais usaria o dispositivo eletrônico.

Não houve punição por parte da FIA. Em Ímola, corrida que vitimou Ayrton Senna, a FIA encontrou softwares ilegais nos carros da Benetton e McLaren que inicialmente haviam se negado a entregar os seus códigos fonte. No entanto, beneficiando-se de uma brecha no regulamento - que dizia que os dispositivos jamais poderiam ser usados durante os GPs, mas não especificava sobre a possibilidade de existência dos mesmos -, a Benetton não pôde ser formalmente acusada, pois não houve provas de que esses mecanismos (Launch Control- Controle de Tração) tenham sido usados nos eventos oficiais. Já a McLaren, apesar de constatado o uso de um software ilegal durante o GP de San Marino não foi condenada. A FIA considerou que a equipe acreditava que o dispositivo não era ilegal. Uma investigação estava por ser iniciada quando a FIA descobriu que o técnico contratado tinha vínculos com a Benetton.  

Entretanto a única infração comprovada foi a respeito da bomba de gasolina: no GP da Alemanha, o carro de Jos Verstappen, o companheiro de Schumacher na Benetton foi incendiado: segundo a investigação da FIA, a remoção do filtro de segurança aumentava a fluência da gasolina para mais de 13 litros por segundo, ganhando 1 segundo em média por parada - suspeita-se que a Benetton e Schumacher obtiveram vantagens através deste artifício naquele ano em corridas anteriores ao GP da Alemanha, inclusive o GP do Brasil, quando superou Senna nos boxes. Na audiência da World Motor Sport Council, que julgou a questão da ausência do filtro de combustível foi elucidado, entre outras questões, que o time Benetton recebeu uma carta enviada pelo fabricante (Intertechnique) da bomba de combustível instruindo a remover o filtro de combustível. A Benetton ainda afirmou que Charlie Whiting, chefe do departamento técnico da Fórmula 1, havia autorizado a retirada do filtro de combustível, apesar de não ter sido apresentada nenhuma autorização por escrito pela equipe. Também se concluiu que outras quatro equipes, cujos nomes não foram citados, estavam operando sem o filtro de combustível. A FIA decidiu não punir a Benetton e as demais equipes envolvidas desde que o filtro não fosse mais removido.

No GP da Grã-Bretanha, casa de seu adversário, foi punido com um “stop & go” de 5 segundos por ultrapassagem em volta de apresentação. Schumacher daria 7 voltas na pista sem entrar nos boxes, o que motivou sua posterior desclassificação. Mesmo assim, Schumacher não abandonou o GP, cumprindo o stop & go nas voltas finais: a ideia de Flavio Briatore era que Schumacher, com tal punição, conseguisse o segundo lugar, mas o piloto perderia os pontos. Esta decisão sofreu apelação pela equipe Benetton e foi anulada ainda durante a corrida, mas, apesar de anulada, acarretou nova punição inédita: banimento por duas corridas devido a desrespeito à bandeira preta. Um fato que coincidiria com as suspeitas dos dispositivos eletrônicos foi que a Benetton decidiu usar o carro reserva ambas as etapas. Nova polêmica foi no GP da Bélgica: uma surpreendente punição com desclassificação por possuir o assoalho do carro com desgaste um milímetro superior à margem de tolerância permitida no regulamento. A Benetton alegou que uma rodada de Schumacher e subsequente passagem em caixa de britas durante a corrida teria alterado a medida. A FIA não aceitou as explicações e manteve a punição.

Apesar das várias punições polêmicas e da guerra entre Benetton e FIA, pela primeira vez na história um piloto alemão foi consagrado campeão da Formula 1, e surpreendentemente com os motores Ford Zetec, algo que parecia impossível desde 1982 e que continua a ocorrerem nas temporadas atuais. Em 1995, o piloto continua na equipe Benetton, agora equipada com motores Renault mais potentes do que no ano anterior, e sagra-se bicampeão mundial com relativa facilidade, mesmo que o carro tenha tido alguns problemas de estabilidade durante a temporada. Este ano foi marcado pela espetacular vitória no GP da Bélgica, em que largara na 16ª posição. Sua equipe torna-se campeã de construtores. Em 1996 o alemão transfere-se para a Ferrari, com a meta de quebrar o jejum da tradicional equipe: nenhum piloto havia sido campeão pilotando uma Ferrari nos quinze anos anteriores: depois do título de 1979, os melhores resultados foram os vice-campeonatos de 1982,1985 e 1990. Entre os construtores, a equipe não terminava em primeiro desde 1983. Porém, a equipe vinha em franca ascensão: depois de passar três anos (entre 1991 e 1993) sem vencer uma corrida, a Ferrari, que havia contratado Jean Todt, foi a única marca fora Benetton e Williams a vencer GPs em 1994 e 1995.

Schumacher levou toda sua equipe técnica da Benetton (liderados pelo estrategista Ross Brawn). Em sua primeira corrida pela equipe italiana (Austrália), largou em quarto (atrás de seu companheiro, Eddie Irvine) e abandonou após trinta e duas voltas, devido a problemas em seus freios. Na corrida seguinte (Brasil), voltou a largar em quarto e, após um duelo com Rubens Barrichello, conquistou seu primeiro pódio pela Ferrari, ao completar a prova de Interlagos em terceiro. Na terceira etapa (Argentina), largou na primeira fila, segundo, ao lado de Damon Hill, o pole, mas não completou a prova devido a um problema no aerofólio traseiro. Na quarta etapa (Europa), largou em terceiro e chegou em segundo, colocação final que repetiu na etapa seguinte em San Marino, onde conquistou sua primeira pole position pela Ferrari. Em Mônaco, cravou nova pole-position, mas bateu ainda na primeira volta, nesta prova, apenas quatro carros chegaram ao fim, e o vencedor foi o francês Olivier Panis, com um Ligier. Finalmente, na sétima etapa (Espanha), em 2 de junho de 1996, o alemão conquistou sua primeira vitória pela Ferrari, após largar em terceiro e dar “um show de pilotagem debaixo de forte chuva”. No restante da temporada, o piloto Michael Schumacher conseguiu mais duas vitórias, na Bélgica e na Itália, somando, ao final da temporada, 59 pontos e finalizando o certame justamente na terceira colocação.

O campeonato de 1997 foi problemático para Schumacher que enfrentou forte concorrência da Williams. Na última corrida do ano, ele jogou seu carro contra o de Jacques Villeneuve, tentando tirar seu rival da competição, mas falhou e perdeu a corrida. A FIA classificou a manobra do alemão como atitude antidesportiva e retirou-lhe o vice-campeonato, mas os pontos conquistados na temporada foram mantidos. No final, Villeneuve ficou com o título. Schumacher foi vice-campeão em 1998 e viu o piloto finlandês Mika Hakkinen, da McLaren, sagrar-se campeão mundial de Fórmula 1 pela primeira vez. A temporada, no entanto, foi disputada até a última etapa, e poderia ter dado o tricampeonato para Schumacher se David Coulthard, na Bélgica, não houvesse atirado com o alemão para fora da prova quando estava a ser ultrapassado, num grande prêmio disputado sobre um enorme dilúvio. Anos mais tarde, em 2003, após acidente semelhante envolvendo Fernando Alonso e David Coulthard, desta vez como vítima, o “piloto escocês insinuou que causara o acidente de Spa intencionalmente, dando assim o título de pilotos ao companheiro de equipe”. Em 1999, o piloto acidentou-se durante a primeira volta após a primeira largada do Grande Prêmio da Grã-Bretanha, quando as rodas dianteiras travaram, impedindo o controle do carro que bateu violentamente no muro protegido por pneus. Schumacher fraturou a perna direita e ficou de fora de sete corridas, tendo perdido de forma irremediável o campeonato. Nessas sete corridas foi substituído pelo finlandês Mika Salo. Outro finlandês, Mika Hakkinen, sagrou-se bicampeão.

O companheiro de Schumacher, o piloto norte-irlandês Eddie Irvine foi vice-campeão. Contudo Schumacher regressou a tempo das duas últimas corridas e ajudou a Ferrari a sagrar-se campeã de construtores após dezesseis anos sem títulos. Entre os anos de 2000 e 2004 ganhou cinco títulos consecutivamente, feito nunca obtido antes, nem mesmo por Juan Manuel Fangio. E de 1999 a 2004, sua equipe conquistou seis títulos consecutivos de construtores, um feito também inédito, graças em grande parte aos esforços de Michael Schumacher e sua equipe, Ross Brawn, Aldo Costa, Jean Todt, Rory Byrne, Rubens Barrichello e vários outros. Nesse período, de 2002 a 2004, Schumacher ganha os campeonatos, conquistando diversos recordes, muitos deles inéditos. Em 2002, houve uma polêmica corrida da Áustria, em que a Ferrari obrigou Rubens Barrichello, seu então companheiro de equipe, a entregar a vitória a Schumacher. Rubinho o fez após a última curva, antes da linha de chegada. Apesar de ter sido feito por diversas vezes na história da categoria, o jogo de equipe, neste caso provocou uma intensa vaia no pódio, justificados pelo campeonato ainda em seu início e pela proximidade com a bandeirada final, fato que se fez sentir ainda mais quando Schumacher, envergonhado, trocou de lugar no pódio com Barrichello. Em 2003 ele ganhou o campeonato na última corrida do ano por apenas dois pontos, tendo tido grandes dificuldades contra a nova geração de pilotos que estava surgindo na F1: Kimi Raikkonen, Juan Pablo Montoya e Fernando Alonso.

Em 2005 Schumacher vence uma corrida, o Grande Prêmio dos Estados Unidos, disputado por apenas seis carros, após todos os carros equipados com pneus Michelin terem abandonado a corrida já que seus pneus não ofereciam garantias de segurança na curva que antecede a reta da meta. Com um carro problemático, em função da nova regra de pneus, termina a temporada na terceira colocação, atrás do espanhol Fernando Alonso (campeão) e do finlandês Kimi Räikkönen (vice). Em 2006 perdeu seu derradeiro campeonato para Fernando Alonso, numa disputa acirrada com o espanhol, que mostrou que assim como Schumacher era um piloto muito rápido, constante e com raros erros naquela temporada. Superou a marca de pole positions de Senna e protagonizou, no Grande Prêmio de Mônaco, mais um acontecimento polêmico em sua carreira. Michael Schumacher parou sua Ferrari na saída da curva “Rascasse”, provocando uma bandeira amarela no local e prejudicando teoricamente a volta de seu principal adversário, o espanhol Fernando Alonso. Apesar de conquistar a pole-position, os comissários decidiram, após quase oito horas de reunião temática e análise de imagens, que ele deveria ser punido, largando da última posição. Esta Punição foi rebatida pelo chefe de equipe Jean Todt que alegou ter sido imposta sem qualquer evidencia real e apesar da telemetria do seu carro mostrar claramente que ele havia feito aquilo de propósito.

Na prova de Mônaco de 2007 este mesmo incidente gerou nova discussão após o também piloto da Ferrari, Kimi Raikkonen, ter ficado preso no mesmo ponto do circuito, ainda que neste caso o carro tenha sido danificado na curva anterior. Apesar da punição, no dia seguinte conseguiria acabar a corrida em quinto lugar em uma de suas mais impressionantes performances. Sua última corrida foi no Grande Prêmio do Brasil, realizado em Interlagos, São Paulo, em 22 de outubro de 2006. Apesar de ter tido vários problemas com sua Ferrari, o alemão fez questão de brindar todos os fãs de Fórmula 1 com uma das suas mais inesquecíveis corridas, realizando uma série de brilhantes ultrapassagens que o levaram a um quarto lugar final. Michael Schumacher se aposentou da Fórmula 1 conquistando praticamente todos os mais importantes recordes da categoria. O ano de 2006 foi a última temporada de Schumacher, e foi, segundo muitos especialistas, uma de suas melhores temporadas. Tanto ele como Alonso tiveram problemas mecânicos durante o campeonato, e a vantagem em desempenho do carro Renault no início de 2006 foi revertida em favor da Ferrari após polemicamente a FIA banir os amortecedores de massa utilizados pela Renault. No final ambos tiveram equipamento relativamente equilibrado para disputar o campeonato que só foi decidido em Interlagos.

Em novembro, participou dos treinos pós-temporada na Espanha, pilotando o modelo utilizado pela Ferrari em 2007, que deu o título de pilotos ao finlandês Kimi Raikkonen. Também em novembro veio ao Brasil participar do “Desafio Internacional das Estrelas” de Kart, realizado no Kartódromo dos ingleses, em Florianópolis (SC). Sagrou-se campeão geral, fazendo o melhor tempo da competição, e vencendo a primeira das duas baterias disputadas. Na segunda bateria, após inversão das posições, largando em oitavo por ter sido vencedor da primeira bateria, chegou a disputar a liderança, porém envolveu-se em um toque com o então líder da corrida, Thiago Camilo (piloto da Stock Car), perdendo posições e chegando em sexto. Disputaram com ele diversos pilotos de várias categorias, entre eles Nelsinho Piquet, Felipe Massa, Rubens Barrichello, Luciano Burti, Lucas Di Grassi e outros pilotos brasileiros de renome. Schumacher volta a participar do Desafio Internacional das Estrelas, mas não consegue obter a vitória como no ano anterior. Na primeira bateria, largando em quarto lugar, perde posições na largada, e volta a se recuperar durante a prova, mas comete um erro e perde o controle ao passar por uma zebra, logo após ultrapassar Rubens Barrichello e assumir a segunda posição. Após rodar, tem seu kart atingido e a carenagem danificada. 

A prova acabou sendo encerrada antes do tempo por causa da chuva, com a vitória de Barrichello e Michael finalizando em quarto lugar. Na segunda bateria Schumacher abandonou a corrida, por problemas no seu kart. Felipe Massa, seu ex-companheiro de Ferrari, venceu a prova. O campeão do evento acabou sendo Barrichello pela somatória dos resultados. Após acidente com o piloto Felipe Massa, durante o treino classificatório para o Grande Prémio da Hungria, em que foi atingido na cabeça por uma mola que escapou do carro de Rubens Barrichello, Michael Schumacher chegou a ser anunciado como substituto enquanto o piloto brasileiro estivesse afastado. Ainda no hospital, Felipe Massa aceitou bem a decisão da substituição temporária por Schumacher. Porém com fortes dores no pescoço causadas por um acidente de moto em fevereiro e sem poder testar o Ferrari F60, Schumacher desistiu de voltar a F1. O substituto inicial de Felipe Massa foi o italiano Luca Badoer, mas Giancarlo Fisichella assumiu o posto a partir do Grande Prêmio da Itália.

Com a construção de automóveis e as corridas dominadas pela França, o clube automóvel francês, realizou algumas grandes corridas internacionais, em geral partindo ou chegando a Paris e tendo a outra extremidade noutra grande cidade na Europa ou na França. Estas corridas de grande sucesso terminaram em 1903 quando Marcel Renault se envolveu num acidente fatal perto de Angoulême durante a corrida Paris - Madrid. Oito mortes levaram o governo francês a interromper a corrida em Bordéus e a banir as corridas de estrada em 1900. Devido à grande quantidade de acidentes que as “corridas de rua” causavam, muitas cidades chegaram a proibir corridas de rua, viu-se que era mais seguro se realizar corridas em espaços fechados, muitos desses espaços eram os hipódromos utilizados para corridas de cavalos, no Knoxville Raceway é relatado que existiam corridas de carros desde o século XIX. Nos Estados Unidos da América, em 1903, baseados no formato oval dos hipódromos é construído o Milwaukee Mile, considerado o primeiro autódromo do mundo, em 1907 é construído o oval de Brooklands na Inglaterra que foi o primeiro circuito feito realizado especialmente para corridas de carros, contando, inclusive, com inclinação nas curvas, em 1909 é construído o Indianapolis Motor Speedway nos Estados Unidos da América. Em 1922 é construído o Circuit de Spa-Francorchamps na Bélgica, em 1923 o Circuit de la Sarthe na França, em 1927 o circuito de Nürburgring na Alemanha, em 1929 o Autódromo Nazionale Monza na Itália.

A Fórmula 1 é a competição automobilística mais famosa do mundo e existe há mais de 70 anos. Ela começou em 1950 com o objetivo de unificar as corridas do Grande Prêmio na Europa e estabeleceu regras para os carros das equipes. A primeira corrida aconteceu na Inglaterra e foi vencida por Nino Farina. Com o tempo, a Fórmula 1 se espalhou para outros países, como Argentina, Marrocos e Brasil, que sediou sua primeira corrida oficial em 1972. Nomes lendários como Juan Manuel Fangio, Ayrton Senna, Michael Schumacher e Lewis Hamilton surgiram no esporte, que também viu recordes notáveis, como os sete campeonatos mundiais de Schumacher e Hamilton. Além disso, a Fórmula 1 é conhecida por curiosidades, como velocidades incríveis, pit stops super rápidos e a intensa demanda física sobre os pilotos. O desporto automotor é regulado mundialmente pela Fédération Internationale de l`Automobile (FIA), que promove e homologa os carros, as pistas e as condições das corridas. O evento máximo organizado pela FIA é a Fórmula 1. Cada nação que organiza este tipo de esporte tende a organizar também uma instituição filiada à FIA que homologa e regula o automobilismo em seu território. No Brasil a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e em Portugal a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK), são as instituições responsáveis por isso. O Código de Automobilismo também regula as sinalizações usadas durante as competições. Quando algo que ocorre na pista necessita da atenção de todos os pilotos, são exibidas bandeiras coloridas próximas ao acontecimento ou na linha de chegada/largada ou especificamente para algum piloto. Os pilotos também podem ser avisados pelo rádio, pelos chamados spotters, mas como estes avisos normalmente são críticos e o rádio pode apresentar problemas durante a competição, usa-se o método das bandeiras que é o mais prático e seguro.

As bandeiras são mais habitualmente usadas para avisar os pilotos sobre a entrada ou a saída do safety car na pista. As bandeiras usadas atualmente são: Bandeira amarela. Perigo logo a frente. Reduza a velocidade! Bandeira azul. Dê passagem a um carro mais veloz que quer ultrapassar! Atualmente, o piloto deverá permitir a passagem até três curvas após lhe ser mostrada a bandeira ou arrisca penalizações. Bandeira verde. Pista livre. Geralmente mostrada após o Safety Car sair da pista ou após um trecho em bandeira amarela. Bandeira vermelha. Corrida paralisada. Devido a acidente, chuva ou má condição da pista. Bandeira listrada em amarelo e vermelho. Cuidado! Óleo na pista ou pista escorregadia. Bandeira branca. Carro lento em pista. Pode ser um monolugar, uma ambulância ou qualquer outro carro de serviço na pista. Nas categorias norte-americanas, esta bandeira indica a última volta. Bandeira xadrez ou quadriculada. Fim da prova. Bandeira metade preta, metade branca na diagonal. O piloto tomou alguma atitude antidesportiva; deve ser corrigida o mais rápido possível para não haver desclassificação. Bandeira preta. Desclassificação do piloto ao qual foi indicada. Bandeira preta com um círculo laranja. Algum problema técnico. O piloto volta aos boxes.

Os que assistiram à diferenciação radical dos veículos desportivos a partir dos carros de estrada de luxo, com a Delage, a Auto Union, a Mercedes-Benz, a Delahaye e a Bugatti a construir veículos aerodinâmicos dotados de motores com mais de 450 kW de potência, com o auxílio de superchargers múltiplos. O máximo peso autorizado era de 760 kg, uma regra diametralmente oposta aos regulamentos modernos de competição. Era necessário o uso intenso de ligas de alumínio para conseguir baixar o peso e, no caso do Mercedes, até a tinta foi removida para satisfazer as limitações no peso. Todavia, com o fim da 2ª guerra mundial, em 1945, houve um rápido crescimento do automobilismo no mundo ocidental, numa forma de unificar as corridas de Grand Prix foi criada em 1950 a Fórmula 1, pela Federação Internacional de Automobilismo. No entanto, a história social da categoria remonta ao final do século XIX, quando as primeiras corridas de carros foram disputadas na Europa. Como na época não existiam circuitos, as corridas aconteciam em estradas. Contudo, em 1953 o Campeonato Mundial de Resistência foi criado, contando com vários grupos de corrida, em 1973 foi criado o Campeonato Mundial de Rali.

O evento automobilístico pode ser realizado em autódromos, circuitos fechados construídos especificamente para as provas de velocidade e habilidades de condução dos veículos, ou circuitos de rua, last but not least, como o do Grande Prêmio de Mônaco. Como muitas corridas europeias, é anterior ao atual Campeonato Mundial de Formula 1. O primeiro Grande Prêmio do principado foi organizado por Antony Noghès (1890-1978) e aconteceu em 14 de abril de 1929, no reinado do Príncipe Louis II, através do Automóvel Clube de Mônaco, que organizou o chamado Rali de Monte Carlo e, em 1928, candidatou-se à Association Internationale des Automobiles Clubs Reconnus, o órgão regulador internacional do automobilismo, visando elevar-se de um clube regional francês para o status nacional completo. A inscrição foi recusada devido à falta de um grande evento automobilístico realizado dentro dos limites de Mônaco. O rali não pôde ser considerado, pois utilizou principalmente as estradas de outros países europeus. Para obter o status nacional completo, Noghès propôs a criação de um Grande Prêmio automobilístico nas ruas de Monte Carlo. Após a sanção do príncipe Louis II, o organizador da prova buscou o apoio de seu conterrâneo, o piloto Louis Chiron (1899-1979), para quem “a topografia de Mônaco era adequada à construção de uma pista de corrida”.

Dezesseis nomes disputaram o primeiro Grande Prêmio de Mônaco e nele a classificação foi definida curiosamente por sorteio, cabendo a pole position ao francês Philippe Étancelin, piloto da Bugatti. Outro piloto renomado e favorito à vitória era o alemão Rudolf Caracciola, da Mercedes, além de um certo “Georges Philippe”, na verdade um pseudônimo utilizado pelo barão Philippe de Rothschild afim de ocultar sua identidade. Para o torcedor monegasco, no entanto, a terça-feira de competição foi prejudicada pela ausência de Louis Chiron, comprometido com os treinos e a disputa das 500 Milhas de Indianápolis de 1929. Sobre a corrida, o vencedor foi o britânico William Grover-Williams, sob o heterônimo de “Williams”, dirigindo um Bugatti Type 35B, modelo de fábrica colorido com o tradicional “verde bretão”. O Mercedes SSK de Caracciola não teve permissão para correr no ano seguinte, quando René Dreyfus e seu Bugatti Type 35B venceram a prova, com Chiron em segundo lugar a bordo de um Bugatti Type 35C. Resiliente, Louis Chiron permaneceu na equipe e venceu a corrida de 1931. Fato social notável é que presentemente, melhor dizendo desde 2022, extraordinariamente ele continua sendo o único nativo de Mônaco a vencer um Grande Prêmio em seu país.

Do ponto de vista técnico-metodológico os autódromos podem ser ovais como o Talladega Superspeedway nos Estados Unidos da América, misto, com várias curvas e retas como o de Autódromo do Estoril, em Portugal e combinado oval com misto, os chamados “rovais”, como constitui o circuito de Indianápolis também nos Estados Unidos. O piso pode variar entre asfalto, terra, ou uma combinação dos dois, tanto em circuitos mistos, quando nos ovais. Também podem ter utilidade de uso estádios adaptados como na Race of Champions, algumas divisões da National Association for Stock Car Auto Racing, de sprint cars, ou em competições de speedway. As categorias e modalidades como os ralis que colocam à prova a resistência de condutores e veículos usam pistas e circuitos em vários terrenos. Os fora de estrada usam terrenos acidentados naturais ou preparados. Entretanto, existem várias categorias de competição no desporto automotivo. Todas as categorias devem ser adequadas as regulações do Apêndix J do Código Internacional de Automobilismo. As corridas de monoposto (ou monologares), muitas vezes reconhecidos por Fórmulas, são talvez o aspecto mais reconhecido do automobilismo, com carros desenhados especificamente para corridas de alta velocidade.

As rodas não são cobertas, e os carros têm asas aerodinâmicas à frente e atrás para produzir uma força para baixo e aumentar a adesão à pista. As corridas de monoposto realizam-se em circuitos especialmente construídos, ou em circuitos citadinos fechados para o efeito. Muitas das corridas de monoposto na América do Norte têm lugar em circuitos ovais como a Indy Racing League. As mais melhores conhecidas corridas de monoposto são as de Fórmula 1, que se desenvolvem num campeonato do mundo anual em que participam alguns dos principais fabricantes de automóveis e de motores do mundo, numa batalha que é tanto tecnológica como de desempenho na pista. Na América do Norte, os carros Champ Cars e os da Fórmula Indy assemelham-se aos de Fórmula 1, mas são sujeitos a muito mais restrições. Existem outras categorias de monoposto, incluindo as corridas de karts que empregam pequenas máquinas de baixo custo em pequenas pistas. Muitos dos melhores pilotos da atualidade iniciaram as suas carreiras nos karts. Os ralis, ou rallyes são corridas de carros de produção profundamente modificados em estradas públicas (fechadas) ou em áreas sem estrada. Um rali típico tem lugar em várias etapas, que os participantes podem analisar antes da competição. O navegador ou copiloto usa as notas tiradas durante o reconhecimento para ajudar o piloto a completar a etapa o mais depressa possível. A competição é baseada nos tempos, embora tenham aparecido algumas etapas com competição direta.

O principal campeonato de ralis representa o Campeonato Mundial de Rali (WRC), mas também existem campeonatos regionais e muitos países têm os seus próprios campeonatos nacionais. Há alguns ralis famosos: o Rali de Monte Carlo ou o Rali de San Remo. Outro acontecimento semelhante a um rali (na realidade um raide) é o Rali Dakar. Existem ainda muitas categorias de ralis menores, populares entre os amadores, constituindo a base dos desportos motorizados. Há que considerar também o Rali Rota dos Vinhos Verdes, uma das mais importantes provas de Regularidade Histórica para Automóveis Antigos e Clássicos que se realiza anualmente em Portugal. As Regularidades Históricas cada vez assumem mais adeptos e aficcionados em todo o mundo e possibilitam uma nova abordagem desta temática. As corridas em piso de terra estão divididas em duas grandes categorias: corridas em circuitos fechados, geralmente designada de off Road, ou corrida em terrenos abertos, em etapas em linha, designadas por provas de todo-o-terreno. Neste tipo de corridas participam geralmente carros modificados para suportar a dureza do piso, consistindo em completar um determinado número de voltas a um circuito que poderá ser totalmente em terra, recebendo em Portugal a designação de Autocross, pistas mistas de terra e asfalto (Ralicross), ou pistas em terra, disputadas por carros especialmente concebidos para esse fim (Kartcross).

No Brasil também existe uma categoria chamada “Velocidade na Terra”, onde veículos correm em circuitos fechados, de terra batida, sem os tradicionais obstáculos dos Ralies, onde vence quem primeiro completar o número de voltas estipuladas. Os principais campeonatos regionais são disputados no Paraná e em Santa Catarina, onde os carros são divididos em diversas categorias, quer sejam: KartCross, Formula Tubolar, Marcas, Turismo, Novatos, Hot Dodge, Stock Car, Fusca Velocidade e Autocross. Ao redor do mundo, há ainda a categoria chamada de rallycross, que é uma corrida com vários carros de rali, todos simultaneamente em um circuito fechado, geralmente de terra, embora também haja rallycross em pistas com asfalto, vence quem chegar na frente ao final do número de voltas estipuladas. Um dos campeonatos mais famosos de rallycross é o Campeonato Mundial de Rallycross, organizado pela FIA. As provas de todo o terreno são praticadas em percursos que atravessam campos, montanhas, alagados, pedreiras, desertos e outros terrenos que proporcionem dificuldades para sua transposição. Os carros utilizados são normalmente do tipo jipe, com tração nas quatro rodas ou Buggy's especialmente concebidos para o efeito. Neste tipo especificamente de provas, é comum participarem também motos, camiões e quad`s (ou moto-quatro).

A maioria de provas deste gênero concentra-se em duas grandes categorias: as provas designadas de “Cross-Country ou Bajas” e os “Rali-Raide”. A grande diferença entre estas categorias sociais encontra-se na extensão da prova e na exigência mecânica da mesma. As provas de Cross-Country ou Bajas são provas que decorrem numa geografia mais ou menos limitada, com a duração média entre 1 e 3 dias, e um parque de assistência fixo. Este tipo de provas constituem a maior parte dos troféus de competições todo-o-terreno nacionais. São exemplos deste tipo de provas a Baja Portalegre 1000 ou o Rali Transibérico, em Portugal, o Rally dos Sertões no Brasil ou a Baja 1000 no México. As provas Rali-Raide são marcadas por longas provas classificativas, estendendo-se por mais de uma semana, atravessando países ou continentes, exigindo parques de assistência que vão-se deslocando de acordo com o percurso da prova. Os principais fatores técnicos que ditam a classificação final são a regularidade e fiabilidade dos equipamentos em detrimento da velocidade de ponta. São exemplos destes ralis o Rali Dakar, o Rali Rota da Seda ou o África Eco Race. A prova 24 horas de Todo-o-Terreno de Fronteira consiste numa corrida num circuito fechado, mas de perfil cross-country, designado de Terródromo, no qual participam todo o tipo de automóveis, desde jipes, SUV`s a carros citadinos, correndo durante 24 horas, apenas com paragens para reabastecimentos, troca de pilotos ou manutenção, vencendo a equipe que conseguir o maior número de voltas é prova mais conceituada internacionalmente.

Nesta modalidade participam carros com configurações semelhantes às dos rali, em circuitos em piso de terra, que se encontra geralmente coberto de neve ou gelo. O troféu mais conceituado é o Troféu Andros disputado, em circuitos nos Alpes e Pirenéus. As Rampas ou Corridas de Montanha, corresponde numa etapa em linha (partida diferente da chegada) disputada com declive ascendente, cujo objetivo é o de efetuar o menor tempo do percurso. Cada veículo efetua o trajeto sozinho, em modalidade semelhante aos ralis. Este tipo de provas é pluralista, aberto a praticamente todos os automóveis desde Fórmulas, carros de Turismo ou GT, Sport-Protótipos (Barquetas), Clássicos ou até carrinhas (Desafio Ford Transit). As provas de maior reconhecimento são a Rampa da Falperra (em Braga, Portugal) ou a Subida Internacional de Pikes Peak nos Estados Unidos. Nesta modalidade as versões de produção de carros de desporto e protótipos competem em circuitos fechados. As corridas desenrolam-se, em regra, em distâncias longas, em provas conhecidas como corridas de “Endurance”, ou corridas de resistência. Os carros são conduzidos por equipes de dois, três ou quatro condutores que se revezam de vez em quando. Devido às grandes diferenças entre os carros desportivos “normais”, denominados GT`s e os protótipos de competição, uma única corrida envolve geralmente várias classes diferentes. Nos EUA, organiza-se a IMSA SportsCar Championship, incluindo classes GT, GTS e duas classes de protótipos.

Uma competição semelhante foi criada na Europa em 2004, com assinalável sucesso entre os concorrentes que preenchem grids com cerca de 50 carros denominada de Campeonato Mundial de Endurance da FIA. Corridas famosas de carros de desporto são, por exemplo, as 24 Horas de Le Mans, as 12 Horas de Sebring, os 1 000 km de Monza, 24 Horas de SPA, 1 000 km de Nürburgring, 24 Horas de Daytona e a Mil Milhas Brasileiras. A FIA organiza um campeonato, chamado de FIA GT, com carros divididos em 4 classes. Em seu conceito original, as corridas de stock cars consistiam em competições em que se usavam carros comuns sem nenhuma adaptação para corridas, contudo hoje em dia este termo não se designa a essas competições, já que os carros de stock cars são projetados exclusivamente para corridas, esse tipo de corrida é popular principalmente nos Estados Unidos, contudo existem categorias expressivas no Canadá, Brasil, Argentina, no México, na Grã-Bretanha e na Oceania, a principal característica dessa competição é o uso de circuitos ovais (de terra ou asfalto) para as corridas. A maior categoria de stock cars é a NASCAR, a sua série principal é a Sprint Cup Series, e a mais famosa corrida da série é a Daytona 500. A organização NASCAR também organiza a Nationwide Series, uma liga inferior de stock cars e a Camping World Truck Series, de pick-up, além de sancionar outras categorias menores regionais nos Estados Unidos.

A NASCAR organiza ainda a série Featherlite de carros “modificados”, com carros muito modificados a partir da estrutura básica dos stock cars, através da adição de motores poderosos, pneus largos e chassis leve de rodas livres. Mas a série mais antiga da NASCAR continua a ser a que tem maior apelo junto do público. No Brasil, a principal categoria é a Stock Car Brasil e na Argentina a Turismo Carretera. Consiste em corridas em circuitos fechados, em pisos de asfalto ou terra, disputadas apenas por caminhões, sendo apenas a parte motorizada, cujo objetivo é efetuar um determinado número de voltas no menor tempo. No Brasil, tal modalidade é representada pela Copa Truck, um aprimoramento da extinta 1ª Copa Brasil de Caminhões, ocorrida na cidade de Cascavel, no Paraná, e que culminou com a morte de Jeferson Ribeiro da Fonseca. Foi em 1993, ainda com o nome de Racing Truck, a categoria foi criada por Aurélio Batista Félix. O reconhecimento do trabalho veio em 1996, com a homologação da categoria e a criação do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck.  Nas corridas lineares (drag racing), ou também conhecidas como corridas de arrancada, o objetivo é completar uma certa distância, tradicionalmente um quarto de milha ou 1 320 pés ou 402 metros, no mais curto espaço de tempo possível. Os veículos utilizados variam entre o carro de todos os dias e o dragster. As velocidades e os tempos diferem, naturalmente, de classe para classe.

Um carro vulgar pode completar os 402 metros em 15 segundos, ao passo que um dragster poderoso pode cobrir a mesma distância em 4,5 segundos e atingir 530 km/h (330 m/h). As corridas lineares foram iniciadas, enquanto desporto, por Wally Parks, no início dos anos 1950, por intermédio da National Hot Rod Association, que é o maior corpo organizativo do desporto automóvel no mundo. A NHRA foi formada com o objetivo de afastar as pessoas das corridas de rua. Corridas de rua ilegais não são corridas lineares. Ao acelerar até aos 530 km/h, um dragster poderoso puxa 4,5 g de aceleração, e quando os travões e os paraquedas estão em ação, o condutor experimenta uma aceleração negativa de 4g, mais do que os tripulantes do vaivém espacial. Um único dragster pode ser ouvido a 13 km, e pode gerar uma leitura sismográfica de 1,5 - 2 na escala de Richter, dados dos NHRA Mile High Nationals de 2001, e de testes realizados em 2002 pelo Centro Nacional de Sismologia dos Estados Unidos. As corridas lineares realizam-se frequentemente em competição direta entre dois carros, com o vencedor de cada ronda a passar à ronda seguinte. Nas classes profissionais é sempre o primeiro a chegar à meta que ganha. Nas classes amadoras, existe um handicap, nos carros mais lentos é dada vantagem que usa índice, e os carros que correm mais que o seu índice permite, “rebentam” e perdem sob determinadas condições de temperatura e pressão.

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