“Eu pertenço ao guerreiro no qual o velho estilo juntou-se ao novo”. Nathan Algren
Argumentava com razão o historiador Perry Anderson (1984), que os teóricos
marxistas, persuadidos da universalidade das sucessivas fases do desenvolvimento
socioeconômico registradas na Europa, têm afirmado, pelo contrário, que o
feudalismo foi um fenômeno de proporções mundiais, que abrangeu os
Estados africanos e de países asiáticos tanto quanto os europeus. Distinguiu-se e
estudou-se o feudalismo otomano, egípcio, marroquino, persa,
indiano, mongol ou chinês. A reação política contra a superioridade das
ideologias europeias conduziu a uma extensão intelectual dos conceitos
historiográficos consequentemente derivados do passado de um continente para
explicar a evolução per se análoga dos outros Estados. Nenhum outro termo sofreu
uma difusão tão lata e indiscriminada como “feudalismo” o qual foi muitas vezes
aplicado na prática a qualquer formação social situada entre os polos de
identidade tribal e capitalista, não marcada pelo escravagismo. O modo de
produção feudal, é assim definido como a combinação da grande propriedade com a
pequena produção camponesa, em que a classe exploradora extrai um excedente ao
produtor imediato pelas habituais formas extraeconômicas de coerção como as
corveias, prestações em espécie, ou em numerário em que a troca de mercadorias e a mobilidade são assim restritas.
Nesta
perspectiva teórica e histórica, o tipo de propriedade agrária, a natureza da classe
possuidora e a matriz do Estado podem variar enormemente, sobre uma ordem rural
comum que constitui a base de toda a formação social. Em particular, a
soberania parcelarizada, a hierarquia vassálica e o sistema de feudo da Europa
medieval deixam de ser, sob qualquer aspecto, características essenciais ou
originais do feudalismo. A sua completa ausência é compatível com a presença de
uma formação feudal, desde que se verifique a combinação de exploração agrária
em grande escala com a produção camponesa, baseada em relações extraeconômicas
de coerção e dependência. Assim, a China dos Ming, a Turquia seldjúcida, a
Mongólia de Gengis Khan (1162-1227), a Pérsia dos Safávidas, a Índia dos Mogols,
e Egito dos Telúnidas, o Marrocos almorávida e a Arábia wahhabita, todos
são igualmente susceptíveis de serem classificados em categorias feudais, a par
da França de Hugo Capeto (cf. Duby, 1992), da Inglaterra normanda ou da
Alemanha Hohenstaufen. As confederações nômadas dos Tártaros, o império
bizantino e o sultanato otomano foram designados Estados feudais por teóricos
qualificados na história respectiva, com o argumento de que as divergências
superestruturais (jurídico-político-ideológico), evidentes em relação às normas
ocidentais, ocultam uma convergência subjacente de relações de produção
infraestruturais. O privilégio do desenvolvimento ocidental tende a
desaparecer, no processo multiforme da história do mundo secretamente una à
partida. Na historiografia materialista, o feudalismo torna-se um oceano de
absolvição no qual quase todas as sociedades podem receber o batismo.
A invalidade científica deste “ecumenismo teórico” na análise crítica marxista de Perry Anderson (1984) fica demonstrada pelo paradoxo lógico que dele resulta. Isto é, se o conceito de modo de produção feudal pode definir-se independentemente das várias superestruturas jurídicas e políticas que o acompanham, de tal modo que a sua presença pode registrar-se em todo o globo, onde quer que as formações sociais primitivas e tribais foram superadas, põe-se o problema: como explicar esse dinamismo único no teatro europeu do feudalismo internacional? Ao que parece nenhum historiador afirmou que o capitalismo industrial se desenvolveu espontaneamente em qualquer região exterior à Europa e sua extensão americana, que precisamente então conquistava o resto do mundo em virtude do seu primado econômico que bloqueava um implantava o modo de produção capitalista noutros países, segundo as necessidades e tendências do seu sistema imperial. Se existia uma base econômica comum ao feudalismo de toda essa massa territorial desde o Atlântico até ao Pacífico, apenas interrompida por formas jurídicas, e no entanto, só uma zona produziu a revolução industrial que levaria à transformação das sociedades do mundo, há que procurar a determinante deste sucesso nas superestruturas políticas e jurídicas, únicas que as diferenciam socialmente.
Um modo de produção pré-capitalista só pode ser definido por via das suas superestruturas políticas, jurídicas e ideológicas, uma vez que são estas que condicionam o tipo social de coerção extraeconômica que lhes é específico. As formas jurídicas exatas de dependência, de propriedade e de soberania que caracterizam uma formação social pré-capitalista, longe de serem apenas epifenômenos acessórios ou contingentes, constituem pelo contrário os índices principais do modo de produção determinado que nelas domina. Uma taxonomia escrupulosa e exata é um pressuposto para a elaboração de uma exaustiva tipologia dos modos de produção pré-capitalista. É evidente que a complexa imbricação de exploração econômica com instituições e ideologias extraeconômicas cria modos de produção possíveis antes do capitalismo do que pode deduzir-se da generalidade relativamente simples e massiva do próprio modo de produção capitalista, que acabou por ser, com a época do imperialismo industrial, o seu terminus ad quem comum e involuntário. Neste sentido, as condições e possibilidades de uma pluralidade de modos de produção pré-capitalistas posteriores ao tribalismo e ao escravagismo é inerente ao seu mecanismo de extração de excedentes. Não é por acaso, afirma Anderson (1984: 474), a uma profunda análise das formas de propriedade agrária em modos de produção contemporâneos na Europa, na Ásia e na América refere-se a mudança social no caráter e na posição de propriedade e as suas relações interligadas com os sistemas políticos, do tribalismo primitivo ao capitalismo.
Como
categoria analítica social e histórica, o feudalismo foi cunhado pelas Luzes. Mas não
restam dúvidas que Montesquieu, dotado de um sentido histórico muito mais
profundo, andava mais perto da verdade. A investigação moderna descobriu apenas
uma grande região do mundo onde vingou inegavelmente um modo de produção
comparável ao da Europa. No outro extremo da massa continental eurasiana, para além
dos impérios orientais familiares ao Iluminismo, as ilhas do Japão haviam de
revelar um panorama social vivamente evocador do passado medieval para os
viajantes e observadores europeus do final do século XIX, depois que a chegada
do comodoro Perry à baía de Yokoama, em 853, por fim ao seu longo
isolamento do mundo exterior. Pouco mais de uma década passada, é o próprio
Marx que comenta em O Capital, publicado ante da restauração Meiji: - “O
Japão, com sua organização puramente feudal de propriedade fundiária, e a sua petite
culture desenvolvida, dá-nos um retrato mais fiel da Idade Média europeia
do que todos os nossos livros de história”. A opinião sociológica dos teóricos
concorda quase que unanimemente em considerar que o Japão foi lugar histórico
de um autêntico feudalismo. O interesse feudal do Extremo
Oriente reside na análise comparativa desde a sua distinta combinação de similaridades estruturais e divergências
relativamente à evolução em conjunto da sociedade europeia.
O
feudalismo japonês, que surgiu como um modo de produção desenvolvido a partir
do século XIX-XV e após um longo período de incubação, caracterizava-se
essencialmente pela mesma conexão fundamental do feudalismo europeu: a fusão de
vassalagem, benfeitoria e imunidade num sistema de feudo que constituía a
estrutura político-jurídica de base que permitia a extração ao produtor direto
de um sobre-trabalho. As relações sociais entre serviço militar,
propriedade fundiária condicional e jurisdicional senhorial reproduziram-se fielmente
no Japão. Igualmente perante a hierarquia escalonada entre senhor, vassalo e
sub-vassalo, constituindo uma cadeia de suserania e dependência. A classe
dirigente hereditária, era formada por uma aristocracia de cavaleiros; o
campesinato encontrava-se juridicamente vinculado ao solo, numa réplica próxima
da servidão da gleba. Naturalmente, o feudalismo japonês possuía também
características próprias locais, que contrastavam com o feudalismo europeu. As
condições técnicas da cultura do arroz ditavam uma estrutura diferente das
aldeias, de que era ausente o sistema se assolamento trienal. Por sua vez, o
domínio senhorial japonês raramente continha uma reserva ou residência. O pacto
feudal era menos contratual e específico do que na Europa: os deveres do
vassalo eram mais imperativos.
Dentro do peculiar equilíbrio entre honra e subordinação, reciprocidade e desigualdade, que marcava a ligação feudal, a variante japonesa pendia acentuadamente para o segundo termo. Embora a organização clânica estivesse ultrapassada, como em todas as verdadeiras formações sociais feudais, o expressivo “código” da relação senhor-vassalo era ditado pela linguagem de parentesco, mais do que por elementos da lei: a autoridade do senhor sobre o seu subalterno era mais patriarcal e indiscutível do que na Europa. Era-lhe estranho o conceito de felonia senhorial; não havia tribunais de vassalos; e o sistema jurídico manteve-se de uma maneira geral, muito limitado. A mais importante das consequências gerais do maior autoritarismo e do conteúdo assimétrico das relações hierárquicas entre os senhores no Japão foi a ausência de um sistema de cortes, quer a nível regional, que a nível nacional. É esta sem dúvida a mais importante linha divisória ente os feudalismos japonês e europeus, considerados enquanto estruturas fechadas. Na realidade, essa parcelarização da soberania atingiu no Japão Tokugawa uma forma mais organizada, estável e sistemática do que jamais conheceu qualquer país da Europa; e a propriedade privada escalonada da terra foi universal no Japão do que na Europa medieval, já que o Japão rural desconhecia os alódios. O paralelismo de base entre as duas grandes experiências, nos extremos opostos do continente eurasiano, havia de receber a confirmação mais convincente do destino de cada uma delas. Os caracteres históricos e sociais que compõem o nome Japão significam “Origem do Sol”, razão pela qual o Japão é muitas vezes identificado como a “Terra do Sol Nascente”. O nome japonês Nippon é usado de forma oficial tradicional, inclusive no dinheiro japonês, selos postais e para muitos eventos esportivos internacionais. Nihon é um termo percebido senso mais casual e mais frequentemente utilizados no discurso contemporâneo.
Tanto Nippon quanto Nihon, significam “origem do Sol” e muitas vezes são traduzidos como a “Terra do Sol
Nascente”. Esta nomenclatura vem das missões do Império com a dinastia chinesa
Sui e refere-se à posição a Leste do Japão em relação à China. Foi durante o
século XVI que comerciantes e missionários portugueses chegaram ao Japão pela
primeira vez, dando início a um intenso período de trocas linguísticas, culturais
e comerciais. No Japão, os portugueses praticaram pari passu o comércio
e a evangelização. Os missionários, principalmente os sacerdotes da Companhia
de Jesus, levaram a cabo um intenso trabalho disciplinar de missão em cerca de
100 anos de presença portuguesa no Japão. Em 1582 a comunidade cristã no país
chegou a ascender a 150 mil cristãos no Japão e 200 igrejas. Toyotomi Hideyoshi
deu continuidade ao governo de Oda Nobunaga e unificou o país em 1590. Depois
da morte de Hideyoshi, o regente Tokugawa Ieyasu aproveitou-se de sua posição
para ganhar apoio político e militar. Quando a oposição deu início a uma
guerra, ele a venceu em 1603 na Batalha de Sekigahara. Tokugawa fundou
um novo xogunato, um sistema de governo predominante no Japão de 1192 a 1867,
com capital em Edo e expulsou os portugueses e restantes estrangeiros, dando
início à perseguição dos católicos no país, tidos como subversivos, com uma
política reconhecida como sakoku, a política externa isolacionista japonesa. A
perseguição aos cristãos japoneses fez parte desta política, levando esta
comunidade à conversão forçada ou mesmo à morte, como é o caso dos 26 Mártires
do Japão. Neste período o Japão era uma sociedade feudal bem
desenvolvida com tecnologia pré-industrial. Era mais povoado do que
qualquer país ocidental e tinha no século XVI 26 milhões de
habitantes.
Um fato social ainda mais revelador, é que o Japão do fim do feudalismo reconheceu um nível de urbanização sem equivalente, exceto na Europa contemporânea: no princípio do século XVIII, a sua capital, Edo, era maior do que Londres ou Paris, e talvez um em cada dez japoneses vivia em cidades de mais de 10 mil habitantes. E há que notar também que o esforço educacional do país suportava bem a comparação com as mais desenvolvidas nações da Europa ocidental: no limiar da “abertura” japonesa ao Ocidente, cerca de 40% a 50% da população masculina adulta estava alfabetizada. O êxito e a rapidez impressionantes com que o capitalismo industrial foi implantado no Japão pela restauração Meiji tiveram os seus pressupostos históricos determinados no avanço ímpar da sociedade que foi herdeira do feudalismo de Tokugawa. Quando a esquadra da Perry aportou a Yokohama, em, 1853, o fosso histórico entre o Japão e as potências euro-americanas que o ameaçavam era, apesar de tudo, enorme. A agricultura japonesa encontrava-se notavelmente comercializada ao nível da distribuição, mas muito menos ao nível da própria produção. Os tributos feudais, coletados em espécie, contavam ainda para o total do sobre-produto, embora acabassem por ser convertidos em moeda: a produção agrícola direta para o mercado era subsidiária dentro da economia. sistema de governo predominante no Japão de 1192 a 1867, baseado na crescente autoridade do xógum, supremo líder militar, que terminaria por submeter até mesmo a autoridade do imperador. A retomada do poder imperial determinou o encerramento do feudalismo baseado no xogunato, a abertura do país ao exterior e o início de sua ocidentalização.
Em outras palavras, nada de comparável ao Renascimento tocar em terra japonesa. É lógico que a estrutura do Estado tivesse uma forma rígida e fragmentária. O Japão teve uma longa e rica experiência de feudalismo, mas nunca produziu um absolutismo no sentido conceitual. O shogunato Tokugawa, que governou as ilhas durante os últimos duzentos e cinquenta anos da sua existência, até a intrusão do ocidente industrializado, assegurou uma paz prolongada e manteve uma ordem disciplinar rigorosa: o seu regime era, porém, a negação do Estado absolutista. O shogunato não mantinha monopólios coercivos no Japão: os senhores regionais mantinham os seus próprios exércitos, cujo total era superior aos das tropas da casa Tokugawa. Não impunha uma legislação uniforme, os seus decretos cobriam apenas um quinto ou um quarto do território. Não possuía uma administração competente para o total da sua área de suserania: todos os feudos importantes tinham as suas próprias administrações separadas e autônomas. Não coletava impostos nacionais, estando três quartos do território fora do seu alcance fiscal. Não tinha diplomacia, pois o isolamento oficial e social impedia o estabelecimento de relações com o mundo exterior. Exército, fisco, administração, direito, diplomacia, comparados, faltavam no Japão todos esses complexos institucionais que são chave explicativa e processual do contexto do absolutismo europeu. A distância política neste aspecto histórico e social entre o Japão e o continente europeu as duas pátrias do feudalismo, manifestava e simbolizava a profunda divergência nas suas evoluções históricas. Torna-se necessária e instrutiva uma comparação teórica e histórica não da “natureza”, mas da “posição” do feudalismo em cada uma destas trajetórias sociais e políticas.
O
filme: The Last Samurai (2003) é um épico de guerra norte-americano
dirigido e coproduzido por Edward Zwick, nascido em Chicago, em 8 de outubro de
1952. É um realizador, produtor e roteirista norte-americano que também
escreveu o roteiro com John Logan. O filme é estrelado por Tom Cruise, que
também o produziu, assim como Ken Watanabe, Shin Koyamada, Tony Goldwyn,
Hiroyuki Sanada, Timothy Spall e Billy Connolly. Inspirado por um projeto de
Vincent Ward, que Zwick se interessou, com Ward servindo como produtor
executivo. A produção do filme foi adiante instalando-se no país nativo de
Ward, Nova Zelândia. The Last Samurai foi bem recebido em seu
lançamento, com uma bilheteria mundial total de $456 milhões. Foi nomeado
para vários prêmios, incluindo quatro Oscar, três Globos de Ouro
e dois National Board of Review Awards. O filme narra a história do
Capitão Nathan Algren (Tom Cruise), veterano dos etnogenocídio nos Estados
Unidos da América. Algren é convidado por seu ex-comandante para participar com
ele do treinamento do recém criado Exército Imperial Japonês. Após a volta do
Imperador ao poder central no Japão, o governo passou a contratar generais e
engenheiros ocidentais para treinar e programar seu exército para exterminar os
Samurais (Restauração Meiji). Após o treinamento dos soldados do
Exército Imperial, Algren percebe que não estão prontos para lutar e não podem
vencer mesmo com armas de fogo. Seu comandante, o Coronel Bagley, insiste em
enviá-los para a batalha campal.
Durante
o combate, vendo o exército ser massacrado pelos samurais, o Coronel
Bagley foge da frente de batalha, pois na verdade não tinha o dever de lutar bravamente mesmo. Ao contrário de seu comandante, Algren fica e luta bravamente até ser
rendido pelo líder dos Samurais, que ficam impressionados com a bravura de seu
adversário, poupando-lhe assim a vida, mas politicamente relevando-o como
prisioneiro de guerra. Durante sua estadia com os Samurais, Algren acaba se
apaixonando não só pela cultura encarnada pelos valores dos guerreiros, mas num
processo de adesão, passa a apoiá-los contra as Forças Imperiais e a ocidentalização
e processo difusionista desenfreado no país. Dado que o xogunato foi incapaz de
controlar tais incidentes, países estrangeiros como Estados Unidos da América
(EUA), Reino Unido, França e Países Baixos, tomaram a iniciativa com
represálias contra o insurgente movimento nacionalista. Em 16 de julho de 1863,
teve ocorrência a batalha de Shimonoseki entre os Estados Unidos e o domínio de
Chōshū. Quatro dias depois a França bombardeou Shimonoseki, que foi
seguidamente bombardeada pelos aliados da coligação a 5 e 6 de setembro de
1864, resultando na derrota iminente de Chōshū. Em agosto de 1863, o Reino
Unido bombardeou Kagoshima, derrotando o domínio extraterritorial e político de Satsuma. Entre meados de
1864 e início de 1865 combateu os samurais e seguidores do sonnō jōi na chamada rebelião
de Mito, na qual o xogunato realmente saiu vitorioso.
Durante
a extraordinária rebelião Hamaguri, ocorrida a 20 de agosto de 1864, defensores do sonnō jōi
e membros do domínio Chōshū tentaram apoderar-se do Palácio Imperial em Kyoto, entretanto,
sem lograr êxito. Em finais de 1864, através dos confrontos bélicos, o xogunato
conseguiu neutralizar o movimento xenófobo juntamente com movimentos
nacionalistas como o Ishin Shishi, é o termo pelo qual vários ativistas
políticos japoneses do final do período Edo são reconhecidos, o qual foi
brutalmente reprimido. O imperador Kōmei decidiu alterar a sua atitude em não
desenvolver tratados com as potências estrangeiras, sendo que mais tarde, em
novembro de 1865, vários navios de guerra aliados foram estacados nos portos de
Hyogo e Osaka, com o propósito de convencer o imperador a ratificar os acordos
comerciais com os Estados Unidos. A partir desse momento, a filosofia de “expulsar
os bárbaros” perdeu o seu ímpeto, visto que era algo irrealizável,
especialmente quando as potências ocidentais conseguiram severamente suprimir
aqueles que os desafiaram. No entanto, o ônus econômico que se impôs sobre o
Japão ao ser vencido nestas batalhas, com indenizações, novos tratados,
abertura de mais portos e privilégios para as potências, demonstrou que a
estrutura do xogunato era obsoleta e precisava de um novo tipo de
liderança, apresentando como figura máxima o imperador.
O
Exército Imperial Japonês representou a força militar terrestre oficial do
Império do Japão de 1867 até 1945. Era controlado pelo Gabinete do Estado-Maior
do Exército Imperial Japonês, que por sua vez era subordinado ao Imperador do
Japão. Em meados do século XIX, o Japão não tinha um exército nacional
unificado e o país era formado por domínios feudais (han) com o xogunato
Tokugawa (bakufu) no controle geral, que governava o Japão desde 1603. O
exército bakufu, embora uma grande força, era apenas um entre outros, e
os esforços do Xogum para controlar a nação dependiam da cooperação dos
exércitos de seus próprios vassalos. A abertura do país após dois séculos de “reclusão”
levou posteriormente à Restauração Meiji e à Guerra Boshin em 1868. Os domínios
de Satsuma e Chōshū passaram a predominar a coalizão contra o xogunato. O estado Meiji exigia um novo comando militar para suas operações
contra o xogunato. Em 1868, o Exército Imperial sendo apenas um amálgama frouxo
de exércitos de domínio, o governo criou quatro divisões militares específicas:
Tōkaidō, Tōsandō, San`indō e Hokurikudō, as quais
receberam o nome de uma grande rodovia existente.
Supervisionando esses quatro exércitos estava um novo alto comando, o Alto Comando Expedicionário Oriental (Tōsei daisō tokufu), cujo chefe nominal era o príncipe Arisugawa-no-miya, com dois nobres da corte como oficiais superiores. Isso conectou a montagem frouxa das forças de domínio com a corte imperial, que era a única instituição nacional em um estado-nação ainda não formado. O exército enfatizou continuamente sua ligação com a corte imperial: primeiro, para legitimar sua causa; em segundo lugar, marcar os inimigos do governo imperial como inimigos da corte e traidores; e, por último, obter apoio popular. Para fornecer subsistência com alimentos, armas e suprimentos para a campanha, o governo imperial estabeleceu estações de retransmissão logística ao longo percurso daquelas grandes rodovias. Esses pequenos depósitos mantinham material armazenado fornecido por domínios regionais pró-governo e outros que, contrariamente se opunham ao poder do governo imperial. Os aldeões locais eram rotineiramente “contratados como carregadores para mover e entregar suprimentos entre os depósitos e as unidades da linha de frente”.
Após
a derrota do xogunato Tokugawa e das operações no nordeste de Honshu e
Hokkaido, não existia um verdadeiro exército nacional. Muitos na coalizão de
restauração reconheceram a necessidade de uma autoridade centralizada forte e,
embora o lado imperial fosse vitorioso, o governo Meiji inicialmente era fraco
e os líderes tinham que manter sua posição com seus domínios cujas forças
militares eram essenciais para o que quer que o governo precisasse alcançar. Os
líderes da restauração estavam divididos sobre a futura organização do
exército. Ōmura Masujirō, que buscou um governo central forte às custas dos
domínios, defendeu a criação de um exército nacional sob o controle do governo,
a introdução do recrutamento para plebeus e a abolição da classe
samurai. Ōkubo Toshimichi preferia uma pequena força voluntária composta por
ex-samurais. Os pontos de vista de Ōmura para modernizar as forças armadas do
Japão levaram ao seu assassinato em 1869 e suas ideias foram implementadas após
sua morte por Yamagata Aritomo, descrito como o pai do Exército Imperial
Japonês. Ele havia comandado unidades mistas de plebeus e samurais Chōshū
durante a Guerra Boshin e estava convencido do mérito dos soldados camponeses.
Embora ele próprio fizesse parte da classe samurai, sendo de status
inferior, Yamagata desconfiava da classe guerreira, vários membros dos
quais ele considerava como perigos claros para o estado Meiji.
Em
março de 1871, o Ministério da Guerra anunciou a criação de uma Guarda Imperial
(Goshinpei) de seis mil homens, composta por nove batalhões de
infantaria, duas baterias de artilharia e dois esquadrões de cavalaria. O
imperador doou 100.000 ryō para subscrever a nova unidade, que estava
subordinada à corte. Ela era composta por membros dos domínios Satsuma, Chōshū
e Tosa, que lideraram a restauração. Satsuma forneceu quatro batalhões
de infantaria e quatro baterias de artilharia; Chōshū forneceu três batalhões
de infantaria; Tosa dois batalhões de infantaria, dois esquadrões de cavalaria
e duas baterias de artilharia. Pela primeira vez, o governo Meiji foi capaz de
organizar racionalmente um grande corpo de soldados sob um esquema consistente
de classificação e pagamento com uniformes, que eram leais ao governo e não aos
domínios. A principal missão da Guarda Imperial do ponto de vista da segurança pública e do Estado era “proteger o trono
suprimindo revoltas samurais domésticas, revoltas camponesas e manifestações políticas
antigovernamentais. A posse dessa força militar foi um fator preponderante na
abolição do sistema han pelo governo.
O
ministério militar (Hyōbushō) foi reorganizado em julho de 1871; em 29
de agosto, simultaneamente com o decreto de abolição dos domínios, o Daijō-kan
ordenou aos daimiôs locais que dispersassem seus exércitos privados e
entregassem suas armas ao governo. Embora o governo sofresse com a ameaça
estrangeira, especialmente a expansão da Rússia para o Sul, para justificar um
exército nacional, o perigo imediatamente percebido era a insurreição
doméstica. Consequentemente, em 31 de agosto, o país foi dividido em quatro distritos
militares, cada um com sua própria guarnição (chindai) para lidar com
levantes camponeses ou insurreições samurais. A Guarda Imperial formou a
guarnição de Tóquio, enquanto as tropas dos antigos domínios preencheram as
fileiras das guarnições de Osaka, Kumamoto e Sendai. As quatro guarnições
tinham um total de cerca de 8.000 soldados - principalmente infantaria, mas
também algumas centenas de artilheiros e engenheiros. Destacamentos menores de
tropas também guardavam postos avançados em Kagoshima, Fushimi, Nagóia,
Hiroshima e outros lugares. No final de dezembro de 1871, o exército
estabeleceu a modernização e a defesa costeira como prioridades; planos de
longo prazo foram concebidos para uma força armada manter a segurança interna,
defender áreas costeiras estratégicas, treinar e educar oficiais militares e
navais e construir arsenais e depósitos de suprimentos. Apesar da retórica
anterior sobre a ameaça estrangeira, pouco planejamento foi direcionado. Em
fevereiro de 1872, o ministério militar foi abolido e os ministérios separados
para o exército e a marinha.
Desnecessário
dizer que os samurais eram militares profissionais que serviam a
nobreza. Até o século XIII, se destacavam como arqueiros ou na cavalaria. Mas
depois ganharam a imagem que conservam ainda hoje: a de espadachins, com suas
inseparáveis katanas. Seguiam o bushido, uma série de normas morais
baseadas no confucionismo, no zen-budismo e no xintoísmo. No século XVI,
envolveram-se em guerras civis que só terminaram com a ascensão ao trono
japonês de Tokugawa Ieyasu, um deles – à época, os samurais representavam quase
10% da população. A espada curta era usada no combate corpo a corpo, quando o
guerreiro perdia ou dispensava a katana. Ficava na barriga. A clássica é
chamada de haramaki e permaneceu idêntica durante séculos. Usa
couro e metal em placas sobrepostas e amarradas umas às outras. Durante a 1ª Guerra
Sino-Japonesa e a 2ª Guerra Mundial, um soldado que partia para lutar recebia
frequentemente um senninbari haramaki (“cinto de 1.000 pontos”) de sua
família.
Uma
mãe, irmã ou esposa ficava na rua e pedia às mulheres que passavam para
contribuir com um ponto até que 1.000 fossem coletados. A vestimenta foi criada
para fornecer calor e servir como um talismã para afastar o mal. Os haramaki
modernos não têm muito em comum com seus predecessores históricos que foram
feitos para armaduras. Eles são um tubo circular simples de tecido, muito
parecido com um top de tubo, usado ao redor da barriga em oposição ao peito. Os
novos haramaki ganharam popularidade na moda japonesa como acessório e são
feitos de diversos tecidos e estampas para fins práticos e estéticos. Shigesato
Itoi e sua empresa Hobonichi são comumente creditados pelo atual ressurgimento.
Itoi usava haramaki há anos, apesar de sua reputação antiquada e percepção como
uma roupa íntima fora de moda, eventualmente reintroduzindo-os como um
acessório à venda comercialmente no Japão. Um sarashi (“pano branqueado”) é um tipo de pano
branco, geralmente algodão, ou menos comumente linho, usado também para fazer várias espécies de roupas no Japão, tais como o juban que representa uma espécie de quimono,
fundoshi ou tenugui. Um comprimento de sarashi pode ser enrolado
ao redor do corpo sob um quimono como a mesma forma de um haramaki, ou ao redor
do peito para amarrar os seios.
Esventramento representa uma forma pragmática de execução associada com tortura que consiste em abrir o ventre da vítima e extrair seus órgãos internos (vísceras). Na Antiguidade, houve episódios de guerra em que, nas cidades capturadas, as mulheres grávidas sofreram o esventramento; isso ocorreu, por exemplo, quando o rei de Israel Menaém suprimiu uma revolta em Tifsa. O seu reinado ocorreu por volta de 752 a.C. - 742 a.C., segundo o teólogo Edwin Richard Thiele (1895-1986), um adventista norte-americano na China, editor, arqueólogo, escritor e professor de Antigo Testamento. Ele é consagrado por seus estudos cronológicos dos reinos de Judá e Israel. Menaém chegou ao trono após ter assassinado o rei Salum. O rei assírio Tiglate-Pileser III invadiu o seu reino e impôs a Menaém um alto tributo, “um tributo de mil talentos de prata”. Além da Bíblia, este episódio histórico e pontual encontra-se também descrito numa inscrição Assíria. Na Idade Média, os condenados ao esventramento eram colocados na Mesa de Esventramento, e quanto mais tempo a vítima levasse para morrer, “maior era considerada a perícia do executor”. O suicídio dos samurais japoneses reconhecido como hara-kiri, ou, mais corretamente, nomeado seppuku ou kappuku é uma forma de esventramento. Sociologicamente refere-se metodologicamente ao ritual suicida japonês reservado à classe guerreira samurai, em que ocorre o suicídio por esventramento.
Surgiu no Japão no século XII generalizando-se até 1868, quando sua prática foi oficialmente interditada. A palavra haraquíri, embora reconhecida no estrangeiro, é raramente utilizada pelos japoneses, que preferem o termo seppuku que é composto pelos mesmos caracteres chineses por ordem inversa. O ritual de estripação normalmente fazia parte de uma cerimônia bastante elaborada e executada na frente de espectadores. O método apropriado de execução consistia num corte (kiru) horizontal na zona do abdómen, abaixo do umbigo (hara), efetuado com um tantō, wakizashi ou um simples punhal, partindo do lado esquerdo e cortando-o até ao lado direito, deixando assim as vísceras expostas como forma de mostrar pureza de carácter. Finalmente, se as forças assim o permitissem, era realizado outro corte puxando a lâmina para cima, prolongando o primeiro corte ou iniciando um novo ao meio desse. Terminado o corte, o kaishakunin realizava a sua principal função no ritual, a decapitação. Tratando-se de um processo extremamente lento e doloroso de suicídio, o seppuku foi utilizado como método de demonstrar a coragem, o autocontrole e a forte determinação característicos de um samurai. Como parte do código de honra do bushido, o seppuku representava culturalmente uma prática comum entre os samurais, que consideravam a sua vida puramente como uma entrega à honra de morrer gloriosamente, rejeitando cair nas mãos dos seus inimigos, ou como forma de pena de morte frente à desonra por um crime, delito ou por outro motivo que os desrespeitasse.
Buxido tem como significado literalmente, “caminho do guerreiro”, é um código de conduta e modo
de vida para os samurais, a classe guerreira do Japão feudal ou bushi,
vagamente semelhante ao conceito de cavalheirismo que define os
parâmetros para os Samurais viverem e morrerem com honra. É originário do
código moral dos samurais e salienta a frugalidade, fidelidade, artes marciais,
mestria e honra e até a morte. Nascido de duas principais influências, a
existência violenta do samurai é “atenuada pela sabedoria e pela serenidade do
Confucionismo e do Budismo”. O Buxido foi desenvolvido entre os séculos IX e
XII e inúmeros documentos traduzidos a partir dos séculos XII e XVI
demonstraram a sua grande influência em todo o Japão, embora alguns estudiosos
tenham mencionado que o “termo Buxido em si é raramente mencionado na
literatura pré-moderna”. Durante o período da ditadura militar feudal do
Xogunato Tokugawa estabelecida no Japão em 1603 por Tocugaua Ieiasu, os
aspectos do Buxido ficaram formalizados no Direito Feudal japonês. Outras razões estavam por detrás destes
corajosos atos, como a violação da lei ou o chamado oibara, no qual o rōnin
após perder o seu dáimio, que na época possuía um papel semelhante ao senhor
feudal no ocidente, seria compelido à prática do seppuku, excetuando-se
casos “em que o seu senhor por escrito impedia tal costume”.
Desde
a Antiguidade, os escravos europeus foram comuns durante o reinado da Roma
Antiga e proeminentes durante o Império Otomano no início da Idade Moderna. Para
manter essas proteções e direitos, os dhimmis eram obrigados a pagar os
impostos de Jizia e Caraje como uma tarifa pelo reconhecimento do domínio
muçulmano. De acordo com Abu Yusuf, a falta de pagamento destes impostos
deveria tornar a vida e propriedade do dhimmis nulas e submete-los à conversão
forçada, escravidão, prisão ou morte. Se alguém tivesse concordado em pagar a
Jizia, deixar o território muçulmano para a terra inimiga seria punível com
escravidão caso fosse capturado. A falta de pagamento da Jizia era comumente
punida com prisão e vigilância domiciliar e algumas autoridades permitiram a
escravização de dhimmis por falta de pagamento de impostos. No Sul da
Ásia, por exemplo, a captura de famílias dhimmis por não pagar a jizia anual
foi uma das duas fontes significativas de escravos vendidos nos mercados de
escravos do Sultanato de Déli, as cinco dinastias de curta duração, atualmente
a capital da Índia, compostas por turcos e pastós na Índia medieval. Governaram
do Sultanato de Déli entre 1206 e 1526, quando a última dinastia foi derrotada pelo
Império Mongol. Os mongóis constituíram uma tribo de nômades da Ásia Central ou
Norte da Ásia. Eles viviam nas estepes, com um estilo de vida de
movimento constante, como um modus operandi.
Eles sempre foram dependentes e anexados aos seus cavalos, que representava o principal meio de transporte. Religiosamente, eram “animistas politeístas”. Isabelle Stengers vai além da analogia entre fatos (“fatiches”) e fetiches para buscar na história das ciências modernas a tensão constitutiva com as práticas ditas mágicas. Segundo ela, as ciências modernas se estabelecem a partir da desqualificação de outras práticas, acusadas de equívoco ou charlatanismo. Ela acompanha, por exemplo, como a química se divorciou da alquimia, e a psicanálise, do magnetismo e da hipnose. Em suma, as ciências modernas desqualificam aquilo que está na sua origem. Eles nunca estabeleceram um grande império, organizado, e em vez disso ficaram como uma coalizão de tribos no norte da China. Historicamente eles entravam geralmente em guerra com seus vizinhos. A China ao Sul de fato construiu a Grande Muralha da China durante o reinado do Imperador Shi Huang (247-221 a. C.) como um meio para manter os mongóis e outros para longe de suas aldeias. Os mongóis também rivalizaram com outros grupos tribais na Ásia Central, como tribos turcas e os tártaros. A história social Mongol mudou para sempre durante o reinado de Genghis Khan. Ele transformou-se em chefe tribal dos mongóis entre 1206 e 1227. Em seu reinado, ele conseguiu unificar as diversas tribos mongóis, juntamente com inúmeras tribos turcas existentes. Com um grupo grande, unificado, começou a conquistar terras onde os cavaleiros mongóis poderiam alcançar. Genghis Khan conquistou a maior parte do Norte da China em 1210.
Ao fazê-lo, de fato ele destruiu as dinastias Xia (cf. Schafer, 1979), também reconhecida como dinastia Hsia, a primeira dinastia descrita pela historiografia tradicional chinesa. Reinou cerca século XXI a. C. – século XVI a. C. A historiografia lista os nomes de 9 (nove) reis por 14 (catorze) gerações e Jin, também reconhecida como a dinastia Jurchen, fundado pelos Waynan, clã dos Jurchen, antepassados dos manchus que estabeleceram a dinastia Qing, 500 anos mais tarde. O nome é algumas vezes escrito como Jinn para ser diferenciado da primeira dinastia Jin, “cujo nome é igual ao desta dinastia no alfabeto latino”. Fundada em 1115, no Norte da Manchúria, aniquila a dinastia Liao no ano 1125. Esta última tinha existido entre a Manchúria e a fronteira Norte da China historicamente durante vários séculos. Em 9 de janeiro de 1127, as forças Jin saquearam Kaifeng, a capital da dinastia Song do Norte, capturando o novo imperador Qinzong (1100-1161), que havia subido ao trono após a abdicação do pai, o imperador Huizong (1082-1135), ao ver a necessidade de organização política com o objetivo de enfrentar o exército Jin.
Depois da queda da capital de Kaifeng, os Song (960-1279), sob a liderança da herdeira dinastia Song do Sul, continuaram a luta por conquista de territórios durante mais de uma década contra os Jin, assinando por fim um Tratado de Paz em 1141, e cedendo todo o Norte da China aos Jin em 1142, a fim de obter a paz. Ele também conseguiu conquistar a maioria das tribos turcas da Ásia Central, abrindo todo o território para a geopolítica da Pérsia. Isso o levou a enviar exércitos para o Leste da Europa, bem como, a atacar terras russas, inclusive as fronteiras de Estados alemães da Europa Central. Mais importante do que o processo civilizatório é entender como Genghis Khan o conquistou. Na esfera política ele usou deliberadamente o “terror como arma de guerra”. Se uma cidade que ele estava sitiando desistisse sem lutar, o povo normalmente seria poupado, mas teria que ficar sob controle Mongol. Se a cidade lutou contra os mongóis, todos, incluindo civis, seriam massacrados. Este reinado de terror é uma grande parte da razão pela qual ele irá se tornar um “conquistador consagrado”. Os povoados estavam mais dispostos a desistirem do que sofrerem massacres em suas mãos. Por exemplo, quando ele sitiou a cidade de Herat, no atual Afeganistão, matou mais de 1,6 milhões de pessoas. No Norte da África e no Oriente Próximo, algumas dinastias principais, como os Fatímida (909-1171), surgiram e governaram uma área que inclui as regiões atuais do Egito, Sicília, Argélia, Tunísia e partes da Síria. Foi também neste período que algumas das principais dinastias turcas e povos da Ásia central tomaram a vanguarda da política e da criatividade artística do mundo islâmico.
Os seljúcidas eram nômades da Ásia central que governaram terras do oriente islâmico e eventualmente controlaram o Irã, o Iraque e grande parte da Anatólia, embora tenha sido um império de curta duração. O ramo principal dos seljúcidas, o Império Seljúcida, manteve o controle sobre o Irã. Esse foi também o período das cruzadas cristãs europeias, que tinham por objetivo reconquistar a Terra Santa dos muçulmanos. Uma série de pequenos reinos cristãos surgiram no século XII, bem como dinastias muçulmanas, como o Império Aiúbida (1179-1260), cujo líder mais famoso, Salah al-Din (r.1169-93), reconhecido no ocidente como Saladino, terminou a dinastia Fatímida. Por fim, os soldados escravizados, responsáveis pela proteção militar da dinastia Aiúbida, derrubaram o último sultão Aiúbida em 1249-1250. Esses escravos, denominados em árabe mamluk, que significa “possuídos”, ficaram reconhecidos como mamelucos na antropologia colonialista e controlaram a Síria e o Egito até 1517. Representavam soldados de uma milícia egípcia constituída por escravos capturados turcos.
Formaram
uma casta militar, vindo a conquistar o poder no Egito. Giocangga (1526-1583)
era filho de Fuman e avô paterno de Nurhaci, o homem que unificou os povos
Jurchen e fundou a dinastia Jin posterior da China. Tanto ele quanto seu filho
Taksi atacaram o Forte de Atai, que estava sendo sitiado por um chefe rival de
Jurchen, Nikan Wailan, que “prometeu o governo da cidade a quem o matasse”. Um
dos subordinados se rebelou e o assassinou. Ambos Giocangga e Taksi foram
mortos por Nikan Wailan em circunstâncias pouco claras. Giocangga, Taksi e
Nikan estavam todos sob o comando de Li Chengliang. Giocangga recebeu o nome de
templo Jǐngzǔ e o nome póstumo Imperador Yi pela dinastia Qing. Em 2005, um
estudo liderado por um pesquisador do Instituto britânico Wellcome Trust Sanger
sugeriu que Giocangga pode ser um ancestral direto de gênero de mais de 1,5
milhão de homens no Nordeste da China.
Este aspecto foi atribuído às muitas esposas e concubinas de Giocangga e
seus descendentes. Os descendentes de Giocangga na linha patrilinear estão
concentrados entre várias minorias étnicas que faziam parte do sistema Manchu
Eight Banners, e não são encontrados na população Han. Giocangga pode ter
deixado cerca de 1,5 milhão de descendentes homens na China e na Mongólia, de acordo
com uma pesquisa baseada na análise do cromossomo Y, exclusivo dos homens.
O
primeiro haraquíri citado nas crônicas de guerra data de 1170, cometido
pelo célebre Minamoto no Tametomo do clã Minamoto, “reconhecido pela sua
habilidade no manejo de arco-e-flecha”, o qual se suicida após perder uma
batalha contra o clã Taira. Entretanto, o primeiro modelo formal do ritual
seppuku foi o de Minamoto no Yorimasa, em 1180, motivado por uma inevitável
derrota na Primeira Batalha de Uji em 1180 e executado no templo de Byōdō-in.
Entre as mais reconhecidas e horrendas histórias de haraquiri cometido por um
guerreiro samurai ocorreu em 1333, na Era Kenmu, quando Murakami Yoshiteru se
esventrou para dissimular a fuga de seu senhor durante a guerra pela
restauração dos plenos poderes imperiais, em oposição aos bushidan do clã Hojo
− que regia no xogunato Kamakura. Antes do budismo no Japão, a
história do país revela que o povo japonês tenderia a dar ênfase à
continuidade da vida enquanto que a tradição zen tende a sublinhar a
importância do momento e a forma de morrer. O importante passa a ser, não
apenas se o corpo vive e morre, contrariando a analítica de Michel Foucault, mas “se a mente
vive em harmonia e paz consigo mesma”. Os japoneses davam mais importância à
paz da mente e à honra da vida do que uma vida longa. Com a aceitação do
budismo e dos seus respectivos conceitos de transitoriedade da natureza da
vida e a glória da morte, o desenvolvimento do pensamento deste tipo ideal de
ritual de passagem foi-se tornando possível. Ao contrário das religiões
cristãs, tanto o budismo como o xintoísmo não trazem o
estigma do pecado atrelado ao ato de suicidar-se. O suicídio egoísta
chegava a ser visto como uma boa maneira com eficácia para resolver
determinadas situações-limite, não sendo considerado um ato de desespero
humano.
Bibliografia
geral consultada.
ANDERSON, Perry, Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Porto: Edições Afrontamento, 1984; DUBY, Georges, A Idade Média na França: de Hugo Capeto a Joana D’Arc. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1992; AUGÉ, Marc, La Guerre des Rêves. Exercices d`ethno-fiction. Paris: Éditions du Seuil, 1997; PRADO, Maria Yuka de Almeida, “A Canção Infantil no Processo de Ocidentalização do Japão. Estudo de Caso: Akatonbo”. Brasília: XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música, 2006; FRANCO, José Eduardo, “Jesuítas e Franciscanos perante as Culturas e as Religiões do Extremo Oriente: O Caso da Apologia do Japão e a Dramática Missionação das Ilhas do Sol Nascente”. In: História Unisinos. Volume 11, nº 2 - maio/agosto de 2007; MELL, Julie Lee, Religion and Economy in Pre-Modern Europe: The Medieval Commercial Revolution and the Jews. Thesis PhD. North Carolina: University of North Carolina, 2007; MOORE JR., Barrington, As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia: Senhores e Camponeses na Construção do Mundo Moderno. 1ª edição. Lisboa: Edições 70, 2010; KIKUCHI, Wataru, Relações Hierárquicas do Japão Contemporâneo: Um Estudo da Consciência de Hierarquia na Sociedade Japonesa. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Sociologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012; CHURCH, Stephen, King John: England, Magna Carta and the Making of a Tyrant. Oxford: Editor Macmillan, 2015; ROCHA, Rafael Machado da, O Processo de Ocidentalização do Estado e do Direito Japonês na Era Meiji: Conflitos e Contradições. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Direito. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2016; RIBEIRO, Jaqueline de Sá, As Transformações Sociopolíticas e Culturais no Japão da Era Meiji (1868-1912) a Partir das Cartas do Japão, de Wenceslau de Moraes. Dissertação de Mestrado em História Política. Programa de Pós-Graduação em História. Centro de Ciências Sociais. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017; HIRST, John, A Mais Breve História da Europa. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2018; IWAMOTO, Vivian, Cultura Nipo-Sul-Mato-Grossense de Dourados. Tese de Doutorado em Educação. Faculdade de Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2023; entre outros.
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