“La televisión produz imagens y anula los conceptos”. Giovanni Sartori (1998)
Telenovela representa uma forma e conteúdo dinâmico de popularidade da teledramaturgia. É caraterizada como história social e ficcional desenvolvida para apresentação técnico-metodológica na televisão que permite a reprodução literal. Está em conformidade com a letra de um texto e o sentido próprio e exato das palavras usadas no meio de imagens transmitidas instantaneamente por uma torre de transmissão. Tem a característica social de ser dividida em episódios, ou capítulos sequenciais, em que o seguinte é a continuação do anterior. O sentido da trama não é previsto, o desenrolar e o desenlace são dialéticos e em oposição assimétrica (cf. Hegel, 2007). As tramas normalmente são simples, mas contraditórias; não requerem inteligência científica ou sabedoria para serem entendidas. Durante a exibição, novos rumos e personagens podem ser inseridos. O termo telenovela é uma palavra de origem castelhana, do espanhol falado em Cuba. O vocábulo é fruto da fusão das palavras: tele (televisão) e novela, que em espanhol é o mesmo que romance em português. O Brasil foi o precursor deste gênero audiovisual, inspirado na radionovela (cf. Maigret; Macé, 2005), seguido por vários países. A primeira telenovela produzida na história social foi Sua Vida Me Pertence, escrita em 1951 por Wálter Forster (1917-1996) para a TV Tupi. Após a boa aceitação do público, a emissora passou a produzir telenovelas em escala, e outros canais aderiram ao formato social no início da década de 1950, como a TV Paulista, com Helena em 1952 e a RecordTV, com A Muralha em 1954.
Devido à sua longa duração relacional em termos de tempo e espaço, há quem caracterize uma pretensa contradição na sua denominação (cf. Sartori, 1998), ao dizer que as telenovelas deveriam ser chamadas de teledirigidas. Na língua portuguesa, o gênero literário novela distingue-se do romance, não pelo seu tamanho, mas pela forma como os eventos se sucedem na narrativa e pela abordagem folhetinesca da sua escrita. A matriz original do termo mostrou ser forte ao ponto de conseguir legitimidade noutros idiomas, como o russo, que preferia a palavra serial, para designar os folhetins audiovisuais. A fala cotidiana em países como Brasil, Portugal e Cuba, aceita a forma abreviada nominal “novela” para chamar a obra audiovisual. Porém, o termo telenovela é preferível a fim de distinguir a obra audiovisual da literária. As telenovelas caracterizam-se pela sua exibição diária, mas distinguem-se na duração do tempo enquanto utilidade de uso dessa exibição: enquanto no mundo latino as obras já começam a ser transmitidas com uma previsão de encerramento, as obras produzidas no mundo anglófono possuem duração indefinida. No Brasil na relação produção-consumo são exibidas de segunda-feira a sábado. Em Portugal, em determinadas ocasiões, as telenovelas chegam a ser exibidas em todos os dias da semana, inclusive aos domingos.
A matriz original do termo telenovela demonstrou-se eficaz o suficiente para conseguir legitimidade, isto é, o fundamento do símbolo numa determinada sociedade, em outras línguas, como exemplo o russo, que antes usava serial para esse tipo de seriado de televisão. Diversas línguas como inglês, italiano, francês e outras ainda aceitam o uso de telenovela, telenovella ou mesmo telenovel, sendo entendidas como melodramas de duração limitada, “soap operas” em formato de minisséries de origem ibero-americana ou originalmente faladas em português e espanhol. Nessas línguas eles não falam de romance ou romano, porque indica uma obra literária (cf. Sadek, 2008), não um programa de televisão em espanhol ou português. Na Ásia, maior tanto em área como em população, responsável por abrigar quase três quintos da população mundial, seus folhetins de televisão são chamados também em inglês, como segunda língua de doramas ou folhetins, e exportados para a América Latina tiveram a mesma recepção que as produções regionais. As telenovelas também são reconhecidas no Caribe, chamado Caraíbas e América Caribenha como telerromances ou romance televisivo como ocorre na ilha de Cuba, Colômbia e no Brasil; teleteatro, tira ou ficción diária na Argentina; culebrón na Espanha e Venezuela; telesérie no Chile e em áreas bolivarianas do Peru e Bolívia; comedia no Uruguai; teleserye nas Filipinas; e téléroman na França (cf. Spies, 2004) e regiões do Canadá que falam francês, as telenovelas são chamadas de Téléroman. Alguns famosos são “Riviera” (1991-1992), “Sous le Soleil”, transmitida no canal europeu Télévision Française Une (TF1) de 1996 a 2008. Um spin-off, “Sous le Soleil” de Saint-Tropez, foi transmitido no canal TMC desde 2013, além de “Bella La Vie” e de “Soueurs Cinq”.
A
produção de telenovelas começou nas Filipinas quando Gulong ng Palad
(1949-1956) foi ouvido pela primeira vez no rádio em 1949. Expandiu-se ainda
mais na televisão no início dos anos 1960. A primeira telenovela ocorreu na
filipina chamada Hiwaga sa Bahay na Bato (1963), exibida pela ABS-CBN
Corporation. É um conglomerado de mídia e entretenimento filipino com sede em
Quezon City. Foi formada pela fusão da Alto Broadcasting System e Chronicle
Broadcasting Network com Larawan ng Pag-ibig (1964), Prinsipe Amante (1964) e
outras telenovelas. A telenovela filipina ou drama filipino, em inglês:
“Philippine television drama”, em tagalo: “Dramang pantelebisyon ng Pilipinas”,
a língua malaia falada nas ilhas Filipinas, adotada como sua língua nacional;
malaio, filipino é chamado de P-drama ou Teleserye, é a
“designação dada as telenovelas produzidas nas Filipinas”. Ipso facto,
as telenovelas compartilham algumas características e têm raízes semelhantes às
telenovelas e novelas clássicas, mas a telessérie evoluiu para um gênero
cultural com características próprias, muitas vezes trabalhando como um
desiderato realista social da realidade filipina. As Teleseryes são
transmitidas no chamado horário nobre, e da tarde, durante cinco dias por semana. Eles
atraem uma ampla audiência cruzando as faixas etárias estratificadas de gênero
e classe social e comandam as taxas de publicidade mais altas da indústria cultural de
televisão das Filipinas. A série dura de três meses a um ano, ou mais,
dependendo de sua classificação social. Outras formas de dramas filipinos
incluem os “seriados” e as “antologias”, que geralmente são exibidos
semanalmente. Esses dramas também se destinam a exibir um número finito de
episódios que duram uma temporada, dependendo das
classificações.
A TV Globo a partir de 1975 – mutatis
mutandis - passou a preencher o espaço Novela das Seis com
adaptações de obras da literatura brasileira. Lançou requintadas produções: telenovela
Senhora (1975) A Moreninha (1975-1976), Escrava Isaura (1976-1977),
Maria, Maria, (1978), A Sucessora (1978-1979), Cabocla (2004).
O escritor Gilberto Braga, depois da experimentação de alguns êxitos às seis
horas – Escrava Isaura, um recorde absoluto de exportação, e Dona
Xepa (1977) – estreou no “horário nobre” em grande estilo com Dancin’
Days (1978), representando sucesso arrebatador. Ranking realizado
pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE),
demonstra que o gênero mais visto por homens na televisão pública aberta, em
todo o país, por exemplo, são as telenovelas. Reconhecida pela crítica e pelo
público por abordar temas que retratam parte da história do país, A Escrava
Isaura é baseada no romance homônimo escrito por Bernardo Guimarães, em
1875. Com texto de Tiago Santiago e Anamaria Nunes, a novela tem direção-geral
de Herval Rossano. A audiência das novelas entre mulheres, é quase “o dobro do
que entre homens”. A Kantar IBOPE Media, parte da Kantar Media, é líder no
mercado de pesquisa de mídia na América Latina e fornece aos clientes
informações importantes para a tomada de decisões sobre os aspectos da medição,
monitoramento e planejamento de mídia. Uma pesquisa realizada pelo Kantar Ibope
publicada em 2015, demonstrou que as telenovelas ainda são as “atrações
preferidas dos latinos na televisão”. O gênero é o preferido entre o público no
Brasil, Panamá, Uruguai e Paraguai, o instituto tomou como base dados de audiência aferidos em 11 países da América Latina, com
um universo de 135,5 milhões de espectadores.
A América Latina (cf. Moreno, 1972; Martin-Barbero, 2005) está localizada na totalidade
no hemisfério ocidental, cujas linhas imaginárias do ponto de vista abstrato que
atravessam o continente são: o Trópico de Câncer, pelo qual é cortado o centro
do México; o Equador, linha imaginária passada no Brasil, Colômbia, Equador e
pelo qual perpassa o Norte do Peru e o Trópico de Capricórnio, pelo qual são
atravessados o Brasil, o Paraguai, a Argentina e o Chile. A América Latina é um
complexo cultural das Américas a qual é distribuída irregularmente pelos
hemisférios Norte e Sul, porque a maioria de suas terras é estendida ao Sul da
Linha do Equador. Na América Latina são comportadas diversas culturas étnicas,
porque estão misturadas as línguas, etnias e costumes. Há predomínio do
espanhol como língua dos países da América Latina, pois com a invasão e
conquista do Caribe em 1492, se estendeu rapidamente, por assim dizer, através
da América com os colonos procedentes de Andaluzia e Extremadura, mas também de
outras partes da Espanha, que se estabeleceram ali nos séculos XVI e XVII
constituindo-se ao redor de 200.000 pessoas nesses primeiros séculos. Hoje é
falado por mais de 370 milhões de latino-americanos, mas também o idioma português,
francês e, em certas regiões ao Norte do continente, o idioma inglês e neerlandês.
Há também muitas e várias de línguas nativas, merecendo destaque o quíchua, legado dos Incas e idioma que se fala no Peru, Equador, Bolívia e Argentina. Línguas românicas oficiais na América Latina: português em laranja; espanhol em verde e francês em azul. A etnia dos habitantes da América Latina tem grande variação de país a país. Apesar da intensidade de mestiços, existem algumas nações em que a maior parte dos habitantes é branca como ocorre na Argentina e Uruguai, outras, ungidas no âmbito do processo civilizatório, onde quase todos os habitantes são de origem negra, como ocorre no Haiti, República Dominicana, Granada, Bahamas e Barbados e outras, onde está fortemente presente na origem continental o índio: Peru, Bolívia, México, Equador e Paraguai. Existem países mestiços reconhecidos: Colômbia e Venezuela e demais como o Brasil, no qual são existentes regiões de população com pequeno predomínio de brancos e demais onde é apresentada maior parte de negros, mestiços, mulatos ou índios.
O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística foi criado em 1942, praticamente no período que finda com a ditadura estadonovista, pelo radialista Auricélio Penteado, proprietário da Rádio Kosmos, de São Paulo e por Arnaldo da Rocha e Silva, que posteriormente, veio a ser um dos fundadores da reconhecida Escola Superior de Propaganda e Marketing. Naquele ano, eles decidiram aplicar no Brasil “técnicas de pesquisa aprendidas nos Estados Unidos da América com George Gallup, fundador do American Institute of Public Opinion, para saber “a audiência de sua emissora”. Ao “medir” a audiência através da relação emissor-receptor (produção-consumo) das rádios de São Paulo, Penteado constatou que a Kosmos não estava entre as mais ouvidas. A partir de então, passou a dedicar-se exclusivamente às pesquisas de opinião/pesquisas de mercado. Em 1950, Penteado deixa a presidência da empresa a cargo de um grupo de diretores. Em 1977, Paulo de Tarso Montenegro assumiu a presidência da empresa. Um ano depois, convidaria seus filhos, Carlos Augusto Montenegro e Luís Paulo Montenegro, a ingressarem na companhia que identificava um recorte abstrato heurístico especial. A empresa então realizou as primeiras pesquisas chamada de “boca de urna”, antecipando com certa proximidade de precisão técnica o resultado das disputas eleitorais, no final dos anos 1970.
Nos
anos 1980, o IBOPE criou a empresa Painel dinamizando o Painel
Nacional de Consumo. Ela passou a utilizar o aparelho people meter,
desenvolvido pela empresa inglesa Audits of Great Britain, viabilizando
coleta de dados, processamento e entrega dos dados de audiência em tempo
real, uma espécie de première mundial. Na década de 1990,
associou-se à empresários no México, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Chile
e Argentina. A partir da parceria comercial, deu início ao fornecimento de
dados consolidados da América Latina para empreender TV a cabo, constituindo um
sistema de distribuição de conteúdos audiovisuais de televisão, de rádio FM e
de outros serviços para consumidores através de cabos coaxiais fixos, em vez do
tradicional e antigo sistema de transmissão via antenas de rádio e televisão
aberta. Espalhou-se por vários países, principalmente através dos serviços de
televisão por assinatura. Em homenagem a Paulo de Tarso Montenegro, foi criado,
em 2000, o Instituto Paulo Montenegro, uma organização social sem fins
lucrativos que desenvolve e executa projetos educacionais a partir dos
conhecimentos acumulados pelo IBOPE em 69 anos de pesquisa. Seus dois programas
– Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião e Indicador de Alfabetismo
Funcional (cf. Araújo, 2018), são realizados com a ONG Ação Educativa, fundada em 1994, sendo uma das entidades mais
respeitadas no Brasil na área educacional. O IBOPE foi a primeira empresa do
mundo a oferecer o serviço de medição de audiência de televisão em tempo real, a
partir de 1988 em São Paulo.
Após
esta introdução, ou escorço biográfico hic et nunc, seguimos
a démarche disposta na dimensão estética clássica do pensamento
filosófico europeu, ou, Metafísica. As leis são. Se indago seu
nascimento, dizia Friedrich Hegel (2007), e as limito ao ponto de sua origem,
já passei além delas: pois então sou eu o universal, e elas, o condicionado, o
limitado. Se devem legitimar-se aos olhos de minha inteligência, já pus em
movimento seu ser-em-si, inabalável, e as considero como algo que para mim
talvez seja verdadeiro, talvez não seja. A disposição ética consiste
precisamente em ater-se firmemente ao que é justo, e em abster-se de tudo o que
possa mover, abalar e desviar o justo. Se um depósito for feito a meus
cuidados, é propriedade de outrem, e eu o reconheço, porque assim é, e
me mantenho inflexível. Se tiver para mim o depósito, não incorro absolutamente
em nenhuma contradição, segundo o princípio de meu examinar, a tautologia. Não
o considero como propriedade alheia; ora, reter algo, que não considero
propriedade de outro, é perfeitamente consequente. A mudança de vista
não é contradição, pois a questão não é o ponto de vista, mas o objeto,
o conteúdo, que não deve contradizer-se. Não é porque encontro o não-contraditório
que isso é justo: mas é justo porque é. Algo é propriedade de outrem:
isso constitui o próprio fundamento.
O espírito, em sua verdade simples, é consciência, e põe seus momentos fora um do outro. A ação o divide em substância e em consciência da substância, e divide tanto a substância quanto a consciência. A substância, como essência universal e fim, contrapõe-se em si mesma como à efetividade singularizada. O meio-termo infinito à consciência-se-si que sendo em si unidade de si e da substância, torna-se agora, para si, o que unifica a essência universal e sua efetividade singularizada: eleva à essência de sua efetividade e opera eticamente; faz a essência descer à efetividade, e implementas o fim, isto é, a substância somente pensada; produz a unidade de seu Si e da substância como obra sua e, portanto, como efetividade. No dissociar-se da consciência em seus momentos, a substância simples conservou, por um lado, a oposição frente à consciência-de-si, e por outro lado apresenta nela mesma a natureza da consciência – de diferenciar-se em si mesma, como um mundo organizado em suas massas. A substância se divide, assim, em uma essência ética diferenciada: em uma lei humana e uma lei divina. A consciência-de-si, que se lhe contrapõe, atribui-se, segundo sua essência dessa potência; e como saber se cinde na ignorância do que faz e a respeito disso: um saber que é, por isso, enganoso.
A consciência-de-si experimenta assim, em seu ato, tanto a contradição daquelas potências em que a substância se divide, e sua mútua destruição, como também a contradição entre seu saber sobre a eticidade da sua ação, e o que é ético em si e para si; e aí encontra sua própria ruína. De fato, porém, a substância ética, mediante esse movimento, veio-a-ser consciência-de-si efetiva; ou seja, este Si se tornou algo em-si-e-para-si-essente. Mas nisso, precisamente, a eticidade foi por terra. A substância simples do espírito se divide como consciência. Ou seja: assim como a consciência do ser sensível abstrato passa à percepção, assim também a certeza imediata do ser ético real; e como, para a percepção sensível, o ser simples se torna uma coisa de propriedades múltiplas, assim para a percepção ética, o caso do agir é uma efetividade de múltiplas relações éticas. Contudo, como para a percepção sensível a supérflua multiplicidade das propriedades se condensa entre singularidade e universalidade – com maior razão a percepção ética, que é a consciência substancial e purificada -, a multiplicidade dos momentos éticos se torna a dualidade de uma lei da singularidade e de uma lei da universalidade. Cada uma dessas massas de substância permanece sendo o espírito todo. Se, na percepção sensível, as coisas não tem outra substância, as duas determinações de singularidade e universalidade, essas determinações exprimem apenas a oposição superficial recíproca dos dois lados.
O
termo telenovela é uma palavra de origem castelhana, particularmente do
espanhol falado em Cuba. O vocábulo é fruto da fusão das palavras: tele (oriunda
de televisão) e novela, que em espanhol tem como representação o
mesmo sentido da profusão que encarna o estilo de romance em português. O
Brasil foi o país precursor deste gênero audiovisual, que foi inspirado na
radionovela, e seguido por vários países na sociedade global. Sociologicamente
falando, desnecessário dizer que a telenovela é a forma mais popular de
representação cênica de teledramaturgia, sendo caraterizada como uma história
de ficção vivida para apresentação no meio de comunicação denominado televisão.
E nela, avida cotidiana as paixões humanas só se detêm socialmente diante de
uma força moral que elas respeitam. As tréguas impostas pela violência
simbólica sempre são apenas provisórias e não pacificam os espíritos. Tem a
característica de ser dividida do ponto de vista da divisão do trabalho em
episódios ou capítulos e a continuação do anterior. O sentido geral da trama é
previsto inicialmente, mas o desenrolar e o desenlace não! As tramas
normalmente são simples, não requerem inteligência para serem entendidas.
Durante a exibição, novos rumos e personagens podem ser adicionados.
A atriz Lucélia Santos encarnou a consciência da heroína de maior sucesso na dramaturgia em novelas fora do continente latino-americano. Escrava Isaura (1976), de Gilberto Braga, foi a novela melhor representada da empresa Rede Globo de Televisão, para o público consumidor de 79 países antenados na produção simbólica da TV brasileira, sendo que sua particularidade, tem como representação social e política, os giant comunistas Rússia, China e Polônia. A escrava Isaura ou “Isola”, como os chineses chamavam a personagem, levou Lucélia a visitar o país mais de uma vez. A grande repercussão da novela projetou internacionalmente a atriz. E, last but not least, estrelaram no fabuloso elenco Rubens de Falco, Norma Blum e Edwin Luisi. A novela Escrava Isaura, baseada no livro de Bernardo Guimarães em 1875, sofreu com a vigilância ditatorial que não admitia discussões em torno de movimentos de libertação, mesmo no contexto do sistema escravista do século XIX. As revoltas contra o sistema escravista e as crueldades sem fim do inesquecível vilão Leôncio (Rubens de Falco) contra a romântica e sofredora Isaura (Lucélia Santos) incomodavam a censura reacionária e hipócrita e deram “dores de cabeça” para o autor Gilberto Braga.
A
singularidade tem, na essência a significação da consciência-de-si em geral, e
não de uma consciência singular contingente. A substância ética é nessa
determinação a substância efetiva, o espírito absoluto realizado na
multiplicidade da consciência aí-essente. O espírito é a comunidade, que para
nós, ao entrarmos na figuração prática da razão geral, era a essência absoluta;
e que aqui emergiu em sua verdade para si mesmo, como essência ética
consciente, e como essência para a consciência, que nós temos por objeto.
Porque a eticidade é o espírito em sua verdade imediata, os lados em que a
consciência do espírito se dissocia, incidem nessa forma de imediatez; e a
singularidade passa aquela negatividade abstrata sem consolo nem reconciliação,
deve essencialmente recebe-los mediante uma ação exterior e efetiva. A consanguinidade
completa o movimento natural abstrato, por acrescentar o movimento da
consciência, interromper a obra da natureza e arrancar da destruição o
consanguíneo. É necessária a destruição – seu vir-a-ser o puro ser – a
consanguinidade tomando o ato de destruição.
A divisão técnico-metodológica da telenovela teve como produtor executivo: Almeida Santos. Qualquer tipo de obra cinematográfica, programa de TV, novela, peça teatral, entre outros, começa com uma ideia. Os produtores executivos são os profissionais responsáveis por verificar se essas ideias são viáveis técnica, artística e economicamente e, em caso afirmativo, poder tirá-las do papel. Editor: Beto Mariano. Cenografia: Paulo Dunlop. Supervisão de Figurinos: Carlos Gil. Figurinos: Zenilda Barbosa. Sonoplastia: Guerra Peixe Filho. Produção musical: João Mello. Arranjos especiais: Waltel Branco. Pesquisadora de época: Ana Maria Magalhães. Abertura: Nilton Nunes e Eugênio Fernandes. Gravuras de Debret cedidas pela fundação Castro Maia. Assistentes de produção: Mario Bandarra e Almir Chagas. Maquiagem: Eric Rzepecki. Assistentes: Myrcea Cabral e Mercedes Mattos. Assistente de estúdio: Carlos Domingos. Assistente de cenografia: Sandra Demôro. Assistente de Figurinos: Elizabeth G. Passi. Continuísta: Alzira das Neves. Contrarregra: Paracium Gonçalves, Sergio Hélcio, João de Souza, Otavio de Farias, Adilson Luciano, João Mario e Hélio Conceição. Cinotécnica: Ítalo Romano Papaleo. Câmeras: Milton Valinho, Aislan Canalini e Lizanias de Azevedo. Unidade portátil: José Mario, Antônio Marzullo e Pedro Pellicano. Iluminação: Manoel de Souza. Auxiliar: Cleto Pinto. Operador de vídeo: Denílson Albuquerque. Operador de videotape e de áudio: Washington C. Silva e Ailton Ribeiro da Fonseca. Chefe de equipe: Aristeu Osório. Supervisor de cenas externas: Ivan Ferreira. Chefe de operações: René Proença.
É
o espírito que é para si enquanto se mantém no reflexo dos indivíduos, e que é
em si – ou substância -, enquanto os contém em si mesmo. Como substância
efetiva, o espírito é um povo; como consciência efetiva, é cidadão do povo.
Essa consciência tem sua essência no espírito simples, e tem a certeza de si
mesma na efetividade desse espírito, no povo total, e tem imediatamente sua
verdade; assim, não em algo que não é efetivo; mas em um espírito que existe e
vigora. Esse espírito pode chamar-se de lei humana, por ser essencialmente na
forma de efetividade consciente dela mesma. Na forma da universalidade, é a lei
conhecida e o costume corrente. Na forma da singularidade, é a certeza efetiva
de si mesmo no indivíduo em geral. A certeza de si, como individualidade
simples, é o espírito como governo. Sua verdade é a vigência manifesta, exposta
à luz do dia – uma existência que para a certeza imediata emerge na forma do
ser-aí deixado em liberdade. Outra potência se contrapõe a essa potência ética
e a essa manifestabilidade é a lei divina. Com efeito, o poder ético do
Estado tem, como movimento do agir consciente de si, sua oposição na
essência simples e imediata da eticidade. Como a universalidade efetiva, o
poder do Estado é uma força voltada contra o ser-para-si individual; e como
efetividade em geral, encontra ainda um outro que ele mesmo na essência
interior.
Ipso facto, se a comunidade é, pois, a substância ética como agir efetivo consciente de si, então, o outro lado tem a forma da substância imediata ou essente. Assim, essa última é, de uma parte, o conceito interior, ou a possibilidade universal da eticidade em geral; mas de outra parte, tem nela igualmente o momento da consciência-de-si. Esse momento que exprime a eticidade nesse elemento da imediatez, ou do ser, ou que exprime uma consciência imediata de si, tanto como de essência quanto como deste Si em um Outro, quer dizer, uma comunidade ética natural – é a família. Esta como como conceito carente-de-consciência, e ainda interior, se contrapõe à efetividade consciente de si; como o elemento da efetividade do povo, se contrapõe ao povo mesmo; como ser ético imediato se contrapõe à eticidade que se forma e se sustem mediante o trabalho em prol do universal: os Penates se contrapõem ao espírito universal. Embora o ser ético da família se determine de imediato, no entanto a família não está no interior de sua essência ética enquanto ela é o comportamento da natureza de seus membros, ou o relacionamento desses é a relação imediata de membros efetivos singulares. O ético é em si universal, e essa relação da natureza é também um espírito; e somente é ético em essência espiritual. Em que consiste, segundo Hegel, sua eticidade característica.
A telenovela representa a forma de teledramaturgia mais popular no Brasil.
As telenovelas são costumeiramente tratadas como “obras abertas”, em razão de
seu enredo poder ser alterado para ir ao encontro das reações do público que a
consome. Veiculadas nas redes nacionais de televisão, em sua maioria de sinal
aberto, as telenovelas brasileiras costumam ter seus direitos de exibição
vendidos para diversos outros países. A primeira telenovela brasileira foi
exibida na TV Tupi de São Paulo, Sua Vida Me Pertence, escrita e
dirigida por Walter Forster, estreou em 21 de dezembro de 1951 e permaneceu em
exibição até 15 de fevereiro de 1952, tendo cerca de 15 capítulos, exibidos às
20 horas e duas vezes por semana ao vivo. Alguns dos atores que participaram da
produção foram: Vida Alves, Lia de Aguiar, Lima Duarte, José Parisi, Dionísio
de Azevedo, além de Walter Forster. O primeiro beijo da televisão
brasileira aconteceu nesta novela entre os protagonistas, interpretados por
Walter Forster e Vida Alves, que não passou de um “selinho” entre
lábios. As novelas brasileiras são os programas mais vistos por todos os
segmentos e faixas etárias. Foi dos estúdios da TV Globo
que, a partir de 1970, saíram os maiores êxitos da teledramaturgia global. Logo
depois de Véu de Noiva (1969-1970), Janete Clair escreveu Irmãos
Coragem (1970-1971), um grande sucesso. Seguiram-se títulos marcantes na
dramaturgia da autora: Pecado Capital (1975-1976), Pai Herói (1979),
Selva de Pedra (1986) e O Astro (2011).
O beijo na boca é o maior gesto de consagração
de carinho, amor e paixão entre um casal, desde o simples tocar de lábios ao
beijo mais intenso e apaixonado. O dia 13 de abril é o Dia do Beijo,
uma data instituída para celebrar o amor através do beijo. Estudos e pesquisas
comprovaram que o ato de beijar na boca estimula o cérebro a liberar endorfina,
substância responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Quanto mais
prolongado e apaixonado, ocorrem maiores os benefícios. Mantém o rosto mais jovem
porque o trabalho muscular dá firmeza à pele. O livro de recordes do
Guinness (1955), é uma edição publicada anualmente, que contém uma coleção
da representação de recordes e superlativos reconhecidos internacionalmente,
tanto em termos de performances humanas como de extremos da natureza. Em 2003,
o livro alcançou o binômio produção-consumo em torno de 100 milhões de cópias
vendidas, desde a sua primeira edição em 1955, e lá existem vários temas de
espaço e lugar relacionando aos beijos. Entre eles o beijo “mais caro de
sempre”. Em 2003, Joni Rimm pagou 50.000 dólares num leilão de beneficência
para beijar a atriz Sharon Stone que leiloou o beijo à instituição de
caridade. Um beijo tem como representação social “o toque dos lábios em outra pessoa”
ou objeto. Na cultura ocidental é um poderoso “gesto de afeição”.
O beijo mais longo com gravação em
vídeo foi registrado num episódio do The Bachelor programa
norte-americano da American Broadcasting Company (ABC). Nesse episódio Sean
Lowe e Lesley M. se beijaram durante cerca de 3 minutos e 17 segundos,
quebrando assim o anterior recorde de 3 minutos e 15 segundos. Uma das regras
da competição “era que se os lábios se separassem durante qualquer altura, eles
seriam desclassificados”. Mas o beijo mais longo de sempre, historicamente,
aconteceu durante um concurso na Tailândia, onde um casal se beijou durante 50
horas, 25 minutos e 1 segundo. Ekkachai Tiranarat, 44 anos de idade, e a sua
mulher Laksana, de 33 anos, permaneceram de “lábios agarrados”, como descreve a
organização do evento, durante 58 horas, 35 minutos e 58 segundos,
ultrapassando o anterior recorde em mais de oito horas. Ao longo da maratona
para conquistar o título de “beijo mais prolongado”, tecnicamente o casal não
podia interromper o beijo, nem mesmo para irem à casa de banho, terminando a
prova muito cansada por passaram o tempo acordados em pé. Como recompensa pelo
ato genuíno da competição, o casal levou para casa um cheque de 100.000 Bath,
equivalentes a 2.500 Euros, e dois anéis com diamantes como prêmio.
Os gregos, é sabido, “adoravam
beijar”. Mas foram os romanos que difundiram a prática e permitiram que os
nobres mais influentes beijassem seus lábios. Os menos importantes às mãos. Os
súditos podiam beijar os pés. O “basium”, entre reconhecidos; o “osculum”,
entre amigos; e o “suavium”, o fabuloso beijo dos amantes. Na Escócia,
era costume o padre beijar os lábios da noiva ao final da cerimônia.
Acreditava-se que a felicidade conjugal dependia da benção. Na festa, a noiva
“deveria beijar todos os homens na boca, em troca de dinheiro”. Na Rússia, uma
das mais altas formas de “reconhecimento oficial era o beijo do czar”. No
século XV, os nobres franceses “podiam beijar qualquer mulher”. Na Itália, entretanto,
se um homem beijasse uma donzela em público, “era obrigado a casar
imediatamente”. No Latim, beijo significa “toque dos lábios”. Na cultura
ocidental, ele é considerado gesto de afeição. Entre amigos é realizado como
forma de cumprimento, ou despedida; entre amantes e apaixonados, como prova da
paixão. Mas é também um sinal de reverência, ao se beijar, por exemplo, o anel
do Papa ou dentre membros da alta hierarquia da Igreja. Beijar os lábios de
outra pessoa tornou-se uma expressão comum de afeto em muitas culturas ao redor
do mundo. Em certas sociedades, o beijo só foi introduzido através
dos meios de violência simbólica do processo da colonização europeia, sendo que
antes não era uma ocorrência prazerosa rotineira.
O ato comunicativo de beijar pode se
dar de várias formas, em diferentes lugares e com diferentes propósitos,
dependendo do país e de sua cultura, da situação, das partes interessadas e de
aspectos secretos sociais. Entre amigos, é utilizado “como cumprimento ou
despedida”. Nos lábios de outra pessoa é um símbolo de “afeição romântica ou de
desejo sexual”, sendo que o beijo pode ocorrer também noutras partes do corpo.
Ainda há o “beijo de língua”, em que as pessoas que se beijam mantêm a boca
aberta, enquanto trocam carícias em formas prazerosas das línguas. Os mais
antigos relatos etnográficos remontam aos templos de Khajuraho, construído ao
longo de cem anos, desde o ano 950 até ao ano 1050, na Índia. As mais antigas
referências vieram do Oriente, precisamente dos hindus. Há um registro de1200
a. C., no livro Satapatha, de textos sagrados em que se baseia o
bramanismo, abundante de sensualidade: - “Amo beber o vapor de seus lábios”. Os
Vedas formam a base do sistema milenar do hinduísmo, que tout
court é a mais antiga literatura de qualquer língua
indo-europeia. Explícito e malicioso, o Mahabarata, originou-se como
poema épico em extensão com mais de 200 mil versos, compilados no ano 1000 a.
C., descrito da seguinte forma: - “Pôs a sua boca em minha boca, fez um barulho
e isso produziu em mim um prazer”.
A consagrada tela de Gustav Klimt
(1862-1918) um pintor simbolista austríaco, é enorme e respeita a forma de um
quadrado perfeito - o quadro tem exatamente 180 centímetros por 180
centímetros. O Beijo, é considerada a mais famosa pintura austríaca e
faz parte da coleção permanente do Belvedere Palace Museum, situado em
Viena. O quadro foi exibido pela primeira vez numa exposição em 1908 na
Austrian Gallery, já nessa ocasião ele foi adquirido pelo Belvedere Palace
Museum, de onde não foi mais retirado. Para se ter noção da reputação do pintor
austríaco curiosamente, O Beijo foi vendido e exposto antes mesmo de ser
terminado como processo final. O quadro foi comprado pelo valor de 25 mil
coroas, e analisado como um recorde de mercado da arte para a sociedade
austríaca de seu tempo. A tela foi pintada provavelmente entre 1907 e 1908, e de
fato é considerada uma das maiores criações da pintura Ocidental e pertence à
interpretação técnica da chamada “fase dourada”, pois do ponto de vista
técnico-metodológico o período ganhou esse nome porque nos trabalhos
foram utilizadas folhas reais de ouro. São finas folhas do referente metal,
tradicionalmente empregues na decoração de objetos de diversos tipos de arte,
como são exemplo retábulos, esculturas, ourivesarias, mobiliário, entre outras.
Para além das folhas de ouro, existem também folhas de prata, cobre, alumínio
ou paládio que são utilizados conforme o acabamento final pretendido. O douramento consiste em “bater folhas de ouro sobre o suporte” quando
posteriormente são polidos, obtendo assim o brilho desejado. Este
procedimento de batimento permanece essencialmente o mesmo desde a Antiguidade.
Em primeiro lugar, segundo a
fenomenologia hegeliana, por ser o ético o universal em si, o relacionamento
ético dos membros da família não é o relacionamento da sensibilidade, ou a
relação do amor. O ético parece agora que deve ser colocado na relação de
membro singular da família para com a família toda, como para com a sua
substância, de forma que seu agir e efetividade só tenham a família por fim e
conteúdo. Mas o fim consciente, que tem o agir desse todo, na medida em
que concerne esse próprio todo, é também o singular. A aquisição e conservação
do poder e riqueza, por um lado, só dizem respeito à necessidade, e pertencem
ao desejo. Por outro lado, em sua determinação mais alta, se tornam algo apenas
imediato. Essa determinação não incide no interior da família mesma, mas se
abre ao verdadeiramente universal, à comunidade. Quanto à família, é antes
negativa e consiste em pôr o singular fora da família, em subjugar sua
naturalidade e singularidade, e em educa-la para a virtude, para a vida no
e para o universal. Seu fim é o particular. Para que esta relação seja
ética, nem que age, nem aquele a quem a ação se dirige, podem apresentar-se
segundo uma contingência – como seria o caso em uma ajuda ou serviço
espiritual. O conteúdo da ação ética deve ser substancial, completo e universal.
Não se trata de algo como uma prestação de serviço que lhe proporcione a
felicidade.
Em 1970, sob o governo autoritário do general Médici, os dispositivos discursivos de censura funcionavam “a todo vapor”, vigiando e limitando tudo o que o brasileiro poderia ler, ouvir, assistir, falar e escrever. A novela Irmãos Coragem (1970-1971) falava da luta contra a opressão, contra o poder econômico do grande garimpo, de políticos de esquerda e de direita, o que incomodava o governo. A partir daí, os temas trazidos pelas novelas ganharam maior amplitude, assim como seu estilo formal seja em termos das sociedades rurais ou urbanas, folclóricas ou realistas, engraçadas ou dramáticas, de época ou contemporâneas, o que acarretou tanto grande adesão do público consumidor como uma vigilância por parte da censura dos aparelhos de Estado. Por ser mercadoria acessível ao aparelho de televisão, foram alvo de vigilância intensa não só quando havia temáticas transparentes à ditadura militar envolvidas. Todas as questões morais relacionadas a romances, divórcio, sexo fora do casamento, corrupção, e mesmo relacionamentos familiares ruins ou atitudes pessimistas diante da vida estariam sob a alça de mira dos censores quer sejam militares, quer sejam civis. Acontece por isso que também o ser morto, o ser universal, se torne um ser retornado, a si, um ser-para-si ou que a pura singularidade singular, carente-de-forças, seja elevada à individualidade universal. O morto, por ter libertado seu ser de seu modo de agir, ou do Uno negativo – é, pois, a “singularidade vazia”, um passivo ser na relação com o outro, abandonando a toda individualidade irracional inferior às forças da matéria abstrata.
Agora, elas são mais poderosas que o morto: a primeira, em razão da vida que possui, e as outras, por causa de sua natureza negativa. A família afasta do morto esse agir que o profana, o agir dos desejos inconscientes e das essências abstratas; põe o seu agir no lugar do agir deles e faz o parente desposar o seio da terra, a individualidade elementar imperecível. Desse modo, torna-se sócio de uma comunidade que, antes, mantém subjugadas e prisioneiras as forças das matérias singulares e as vitalidades inferiores, que queriam desencadear-se contra o morto e destruí-lo. Esse último dever constitui assim a lei divina perfeita, ou a ação ética positiva para com o Singular. Qualquer outra relação para com ele – que não fique no amor, mas seja ética – pertence à lei humana, e tem a significação negativa de elevar o Singular acima da inclusão na comunidade natural, a que pertence enquanto efetivo. Embora o direito humano já tenha por conteúdo e potência a substância ética efetiva consciente-de-si – o povo todo – e o direito divino, a lei ética divina, o Singular além da efetividade nem por isso o singular é sem potência. Ela é o puro Universal abstrato, o indivíduo elementar que, como é fundamento da individualidade, reconduz à pura abstração, isto é, como sua essência, a individualidade que se desprende do elemento e constitui a efetividade, consciente-de-si, do povo.
Um
dos casos mais famosos nesta década opôs Dias Gomes e a TV Globo ao governo civil-militar
e seus censores no caso da televisão brasileira, exercida especialmente pela Divisão
de Censura e Diversões Públicas. A história da viúva sem nunca ter sido
Porcina, seu amante Sinhozinho Malta e Roque Santeiro na fictícia cidadezinha
nordestina de Asa Branca, falava de mitos, de ritos, de corrupção, de usufruto
da ganância generalizada entre o poder público e privado, uma igreja hipócrita
e venal, fazendeiros ultrapoderosos que se autointitulavam aqueles velhos “coronéis”.
Pior: baseava-se em uma peça do próprio Dias Gomes chamada o Berço do Herói (2012),
uma comédia política, onde o mito do heroísmo é desconstruído
analiticamente depois de examinado pelo autor à luz dos interesses da fração da
classe dominante em nosso país, anteriormente proibida pela censura. Ao
perceber a artimanha, revelada por escutas, o governo ordenou a suspensão da
telenovela, que já contava com dezenas de capítulos gravados. Dez anos depois,
ela seria regravada e, liberada com a transição conservadora, de governo civil antes da nova Constituição, faria desenlaçamento
em 1985. Mesmo histórias sociais consagradas sofriam com o zelo dos censores.
A Divisão de Censura de Diversões Públicas foi
o órgão oficial de censura e fiscalização do Departamento de Polícia Federal do
Brasil durante a ditadura militar brasileira (1964-1985. Sua origem, no
entanto, remonta do Decreto Federal nº 24651, de 10 de Julho de 1934, pelo qual
Getúlio Vargas instituiu o Departamento de Propaganda & Difusão Cultural
(1934-1939) e posteriormente originou a continuidade e intensificação da
censura e fiscalização de qualquer espécie de produção bibliográfica, cultural
ou midiática produzida ou reproduzida no Brasil durante o Estado Novo, através
do Departamento de Imprensa & Propaganda (1939-1945) e do Departamento
Nacional de Informações (1945) - e durante a vigência da constituição
brasileira de 1946, através do Serviço de Censura de Diversões Públicas
(1945-1972). Durante a sua existência, o contexto sociopolítico dos anos de
chumbo não permitia reclamação perante o Poder Judiciário contra as decisões
censórias da Polícia Federal à execução, reprodução ou publicação destes
conteúdos e sua desobediência era penalizada pela legislação brasileira durante
o período de 10 de julho de 1934 a 5 de outubro de 1988. Especificamente
durante a ditadura militar brasileira, o Conselho Superior de Censura
(1968-1972) antecedeu a Divisão de Censura de Diversões Públicas no intuito de
rever, em grau de recurso, as decisões censórias proferidas pelo Diretor-Geral
do Departamento de Polícia Federal do Brasil. Foi instituída pelo Decreto
Federal nº 70665, de 2 de junho de 1972, porém sua vigência foi indiretamente
derrubada pelo Inc. IX do Art. 5º da Constituição Federal de 1988. O
acervo da DCDP está sob a guarda do Arquivo Nacional (RJ).
O
primeiro documento produzido no Brasil, a Carta de Pero Vaz de Caminha, é
considerado o primeiro texto literário, embora tenha sido
escrito por um português. O texto só ganhou status de literatura porque
Pero Vaz de Caminha não era apenas um mero escrivão e, por isso, não se
contentou em fazer um simples relato de viagem: basta ler a carta para perceber
o cuidado com as palavras e as metáforas construídas para descrever a terra
recém-descoberta no processo civilizatório e de colonização português. A chamada
“Era nacional da literatura” começa em 1836 e dura até os dias atuais. Começa
com o Romantismo e perpassa pelo Realismo, Naturalismo, Parnasianismo,
Simbolismo, Pré-Modernismo, Modernismo e o Pós-modernismo. Recebe esse nome
pois ela aconteceu após a Independência do Brasil, em 1822. Por terem sido tão
influenciados pelo cânone lusitano, muitos autores preferem referir-se aos
textos produzidos nessa época como “manifestações literárias” ou até mesmo como
“ecos da literatura no Brasil”, na segunda metade do século
XVIII, quando surgiram os primeiros escritores comprometidos com as
causas políticas nacionais, importante condição para a formação de uma
literatura genuína brasileira.
Escrava
Isaura é uma telenovela de dimensão representativa
brasileira, produzida pela TV Globo e exibida originalmente de 11 de outubro de
1976 a 5 de fevereiro de 1977, em 100 capítulos. Substituiu a novela O
Feijão e o Sonho e foi substituída pela À Sombra dos Laranjais,
sendo a 10ª novela das seis produzida pela emissora. A trama é uma adaptação do
romance A Escrava Isaura, escrito por Bernardo Guimarães. A adaptação é
de Gilberto Braga e a direção é de Herval Rossano. Conta com as atuações de
Lucélia Santos, Rubens de Falco, Edwin Luisi, Roberto Pirillo, Norma Blum,
Átila Iório, Beatriz Lyra, Léa Garcia, Isaac Bardavid, Haroldo de Oliveira e
Maria das Graças nos papéis principais. O elenco completo é composto pelos
atores Agnaldo Rocha (Alceu), Almeida Santos (Jayme), Amires Veronese ( Alba),
Ana Lucia Torre, Ana Maria Grova, André
Valli (Martinho), Ângela Leal (Carmem), Ary Coslov (Geraldo), Átila Iório
(Miguel), Beatriz Lyra (Ester), Carlos Duval (Belchior), Clarisse Abujamra (Lúcia),
Dary Reis – Conselheiro Fontoura, Edir Silva de Castro (Ana), Edwin Luisi
(Álvaro), Gilberto Martinho – Comendador Almeida, Gilda Sarmento, Haroldo de
Oliveira (André), Henriette Morineau, atriz francesa convidada com participação
especial, Isaac Bardavid (Francisco), Ítalo Rossi (José), José Maria Monteiro –
Capitão Andrada, Lady Francisco – mãe de Isaura (participação especial), Lea
Garcia – Rosa, Elisa Fernandes – Taís, Francisco Dantas – Mattoso, Lucélia
Santos (Isaura), Maria das Graças (Santa), Mário Cardoso (Henrique), Mário
Polimeno (Palhares), Marlene Figueiró
(Leonor), Myriam Rios (Aninha), Nena Ainhoren (Lucíola), Neusa Borges (Rita),
Norma Blum (Malvina), Roberto Pirillo Tobias), Rubens de Falco (Leôncio), Zeny
Pereira (Januária).
Gilberto
Tumscitz Braga (1945-2021) foi um autor brasileiro de telenovelas e
minisséries, considerado um dos maiores nomes da teledramaturgia
brasileira. Gilberto Tumscitz adotou o sobrenome Braga, de sua mãe. Nascido no
Rio de Janeiro, em 1º de novembro de 1945, foi professor de francês e crítico
de teatro e cinema na imprensa carioca. Gilberto Braga foi o primeiro autor
brasileiro formado exclusivamente para a televisão - jamais escreveu para
teatro. Ele foi responsável por outras adaptações: O Preço de Cada Um
(modernização de Misantropo) e Mulher (versão moderna de Casa
das Mulheres). Ele também se notabilizou pelas adaptações de clássicas
obras literárias para a televisão. Em 1975, foi responsável pelas adaptações
dos romances Helena, de Machado de Assis que seria adaptada em 1987 pela
extinta TV Manchete – responsável por reinaugurar a famosa faixa das seis – e Senhora
de José de Alencar. Mas o primeiro grande sucesso da carreira de Gilberto foi Escrava
Isaura (1976), baseada no romance homônimo de Bernardo Guimarães, cujo
êxito foi enorme – durante muito tempo, foi a novela mais vendida de todos os
tempos e consagrou mundialmente a atriz Lucélia Santos, que iniciava a
carreira. Com a novela, foi considerado o responsável por levar a
teledramaturgia brasileira para o mundo, sendo vendida para países como Cuba,
China, Alemanha, Rússia e outros. Sua telenovela de 2007, Paraíso Tropical
foi indicada em 2008 ao Emmy de melhor novela. A maioria de suas novelas,
para lembrarmos de Alfred Hitchcock, tem um assassinato misterioso, que é
revelado nos capítulos finais.
Gilberto
Braga cursou a faculdade de Letras na Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (PUC-Rio), depois foi professor de francês na Aliança Francesa e em
seguida ingressou no jornal O Globo como crítico de teatro e cinema.
Estreou como autor televisivo em 1972, quando assinou um episódio de Caso
Especial: Dama das Camélias 1972, versão atualizada de A Dama das
Camélias, protagonizada por Glória Menezes e Cláudio Cavalcanti. Durante o
ano de 1973, produziu mais especiais, como As Praias Desertas e Feliz
na Ilusão. Sua desenvoltura e rapidez na escrita dos episódios chamaram a
atenção do diretor Daniel Filho, então “chefe” das novelas na emissora, que o
convidou para assinar, junto com Lauro César Muniz, a autoria da novela das
sete Corrida do Ouro (1974), trabalho do qual Muniz se afastaria para
estrear na faixa das oito. Por ainda não estar habituado ao ritmo de escrita
para a televisão, Gilberto chegou a desistir de escrever a trama, sendo
impedido por Daniel Filho, que comentou a situação com Janete Clair. A veterana
– admiradora dos diálogos de Braga –, então, se ofereceu para supervisioná-lo.
Em
1973, estreou na TV Globo roteirizando Casos Especiais. Sua primeira
experiência em telenovela foi dividindo com Lauro César Muniz a autoria de Corrida
do Ouro, em 1974. Em 1975, Gilberto Braga colaborou com Janete Clair na
autoria da novela Bravo! e a substituiu quando ela teve que preparar
outra trama no lugar de Roque Santeiro, de Dias Gomes, cuja exibição
fora proibida pela censura no dia da estreia. Com a proibição, ela escreveu
então aquele que se tornaria um dos maiores sucessos, a novela Pecado
Capital (1975). No ano seguinte, foi colaborador de Janete Clair na novela Bravo!
enquanto duas adaptações suas, de obras literárias, eram exibidas no horário
das seis: Helena, de Machado de Assis, e Senhora, de José de
Alencar. Entre 1976 e 1977, escreveu
mais duas adaptações, que já demonstravam o domínio do jovem autor ao
roteirizar telenovelas: Escrava Isaura e Dona Xepa, grandes
sucessos. Foi a deixa para Gilberto estrear no horário nobre em grande estilo:
em 1978 escreveu Dancin’ Days, que virou mania nacional e consagrou o
novelista. Um sucesso arrebatador. Seguiram-se outros títulos: Água Viva (1980),
Brilhante (1982), Louco Amor (1983) e Corpo a Corpo (1985).
Em 1988, Gilberto Braga mobilizou o país com Vale Tudo (1988), escrita
com a parceria de Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, representando um dos
maiores êxitos da nossa televisão brasileira, discutindo corrupção e malandragem
do “jeitinho brasileiro”.
De
quebra, “Quem matou Odete Roitman?”, questionamento que interpelou o indivíduo
ao nível ideológico constituindo-o em sujeito parou o país no último capítulo.
É considerada por muitos especialistas “a melhor novela brasileira de todos os
tempos”. Entre as minisséries, duas tornaram-se clássicos da televisão: Anos
Dourados, em 1986, e Anos Rebeldes, em 1992. Nos anos 1990, Gilberto
Braga propunha uma continuação da discussão sobre as mazelas da sociedade
brasileira, iniciada em Vale Tudo: O Dono do Mundo, em 1991, e Pátria
Minha, em 1994-1995, dessa vez sem a mesma repercussão. Entretanto, no caso específico
de Celebridade (2003-2004) ficou marcada pela pérfida protagonizada pela
dupla Laura Cachorra e Marcos dos atores Cláudia Abreu e Márcio Garcia e pela
surra que na memória traz à memória a cachorrada no Brasil como “mal das
cadeiras”, “derrangadera”, etc., que Maria Clara Diniz (Malu Mader) deu em
Laura, trancadas em banheiro de boate. Paraíso Tropical (2007) é mais
lembrada pelo irresistível papel do casal Bebel e Olavo (Camila Pitanga e
Wagner Moura). Seguiram-se Insensato Coração (2011) e Babilônia
(2015) – esta última, marcada pela rejeição do público.
Para Hegel, não se trata de um serviço como a educação, que efetivamente tome o
Singular, enquanto totalidade, por objeto de pensamento e em uma série de
procedimentos cuidadosos o produza como obra sua. Nesse caso, excetuando o fim
negativo em relação à família, a ação efetiva só em um conteúdo
limitado. Enfim, ainda menos se trata de algo como um socorro, pelo qual em
verdade o singular todo seja alvo, pois o socorro mesmo é um ato totalmente
acidental, cuja ocasião é uma efetividade qualquer, que pode ser ou não ser. A
ação que abarca a existência toda do parentesco consanguíneo, é a que o tem por
objeto e conteúdo: não o cidadão, pois este não pertence à família, nem o
menino que deve tornar-se cidadão, e deixar de contar como este
singular; e sim este Singular que pertence à família, porém tomado como
uma essência universal, subtraída à efetividade sensível, isto é,
singular. Essa ação já não concerne ao vivo, mas sim ao morto: aquele que da
longa série de seu ser-aí disperso, se recolheu em uma figuração acabada, e se
elevou da inquietação da vida contingente à quietude da universalidade. Tendo
em vista que somente como cidadão ele é efetivo e substancial, o Singular,
enquanto não é cidadão e pertence à família, representa o que Hegel considera “a
sombra inefetiva sem medula”. O dever do membro-da-família é, acrescentar esse
lado, de forma que ser último, não pertence só à
natureza, nem a algo irracional; mas seja um agido, e nele seja
afirmado o direito da consciência.
Melhor dizendo, como, na verdade, a quietude e a universalidade da essência consciente de si não pertencem à natureza, o significado da ação é que seja descartada a aparência de um tal agir que a natureza se arroga, e a verdade se estabeleça. O que a natureza faz no singular é o lado segundo o qual seu vir-a-ser em direção ao universal se apresenta como o movimento de um essente. Esse movimento recai, sem dúvida, no interior da comunidade ética, e a tem como fim: a morte é a consumação e o trabalho supremo, que o indivíduo como tal empreende ela comunidade. Mas Hegel entende que, enquanto o indivíduo é essencialmente singular, é acidental que sua morte estivesse imediatamente conexa com seu trabalho pelo universal e fosse seu resultado. Se a morte em parte foi tal resultado, a morte é a negatividade natural, o movimento do Singular, como essente; nesse movimento a consciência não retorna a si mesma, nem se torna consciência-de-si. Sendo o movimento do essente um movimento tal que o essente é suprassumido atinge o ser-para-si – a morte é lado da cisão, em que o ser-para-si alcançado é um Outro que o essente, que iniciou o movimento.
Porque a eticidade representa o espírito em sua verdade imediata, os lados, em que a consciência do espírito se dissocia, incidem também nessa forma da imediatez; e a singularidade passa àquela negatividade abstrata que, sem consolo nem reconciliação em si mesma, deve essencialmente recebe-los mediante uma ação exterior e efetiva. A consanguinidade completa o movimento natural abstrato, por acrescentar o movimento da consciência, interromper a obra da natureza e arrancar da destruição o consanguíneo. Mas já que é necessária a destruição – seu vir-a-ser o puro ser – a consanguinidade toma sobre si o ato da destruição. Em síntese, que também o ser morto, o ser universal, se torne um ser retornado a si, um ser-para-si ou que a pura singularidade singular, carente-de-forças, seja elevada à individualidade universal. O morto, por ter libertado seu ser de seu agir comunicativo, ou do Uno negativo – tem como escopo o que Hegel chama de singularidade vazia, na medida em que ocorre apenas um passivo ser para Outro, abandonado a toda a individualidade irracional inferior e às forças nela contidas da matéria abstrata. Agora elas são mais poderosas que um morto, isto é, a primeira, em razão da vida que possui e as outras, por causa do sentido de sua natureza negativa.
A
família afasta do morto esse agir que o profana, o agir dos desejos
inconscientes e das essências abstratas; põe o seu agir comunicativo no lugar
do agir deles e faz o presente desposar o seio da terra, a individualidade
elementar imperecível. Desse modo, torna-se o sócio de uma comunidade que,
antes, mantém subjugadas e prisioneiras as forças das matérias singulares e as
vitalidades inferiores, que queriam desencadear-se contra o morto e destruí-lo.
Esse último aspecto em se tratando de dever constitui assim a lei divina
perfeitas, ou a ação ética, positiva para com o Singular. Qualquer outra
relação par com ele – que não fique no amor, mas seja ética – pertence à lei
humana, e tem a significação negativa de elevar o singular acima da inclusão na
comunidade natural, a que pertence enquanto efetivo. Embora o direito
humano já tenha por conteúdo e potência a substância ética efetiva que emerge consciente-de-si
e, por assim dizer, o povo todo – e o direito divino, a lei ética divina, por
sua vez tenham por conteúdo e potência o singular que está além da efetividade,
nem por isso o singular quer significar algo sem potência. Sua potência é o Universal
abstrato, o indivíduo elementar que, como é o fundamento da
individualidade, reconduz à pura abstração – como à sua essência – a
individualidade que se desprende do elemento e constitui a efetividade,
consciente-de-si, do povo.
Friedrich Hegel lembra-nos que a “lei divina” que reina na família possui, de seu lado, também diferenças em si, cujo relacionamento constitui o movimento vivo de sua efetividade. Mas entre as três relações – o homem e mulher, pais e filhos, irmão e irmã – em primeiro lugar a relação do homem e da mulher é o imediato reconhecer-se de uma consciência outra, e o conhecer do mútuo ser-reconhecido. Esse reconhecer-se, por ser natural e não o ético, é apenas a representação e a imagem do espírito, e não o espírito efetivo mesmo. Mas a representação ou a imagem tem a sua efetividade em um Outro que ela. Essa relação não tem, pois, sua efetividade nela mesma, mas na criança: em Outro, cujo vir-a-ser é a relação mesma, e no qual a relação desvanece. Essa mudança das gerações, que se sucedem, tem sua base permanente no povo. A piedade mútua do marido e da mulher está, pois, misturada com uma relação natural, e com a sensibilidade; e sua relação não tem em si mesma seu retorno a si. O mesmo corre com a segunda relação, piedade recíproca dos pais e filhos. A piedade dos pais para com seus filhos está justamente afetada por essa emoção de ter no Outro a consciência de sua efetividade, e de ver o seu ser-para-si vir-a-ser nele, sem poder recuperá-lo; senão que permanece uma efetividade alheia, peculiar. Inversamente, a piedade dos filhos para com os pais é afetada pela emoção de ter o vir-a-ser de si mesmo – ou o Em-si – em Evanescente, e de só alcançar o ser-para-si e a própria consciência-de-si através da separação da origem em que essa origem se esgota. Essas relações entre pessoas permanecem na transição e na desigualdade dos lados que lhe são assegurados.
Mas a relação “sem mistura” encontra lugar entre irmão e irmã. São o mesmo sangue, o qual, porém neles chegou à sua quietude e equilíbrio. O feminino, tem, pois para Hegel, como irmã, o mais elevado pressentimento da essência ética: mas não chega à consciência e à efetividade da mesma, uma vez que a lei da família é a essência do interior, em-si-essente que não está exposta à luz da consciência, mas permanece como sentimento interior e como o divino subtraído à efetividade. O feminino está ligado a esses Penates, e neles intui, de uma parte, sua substância universal, mas, de outra parte, sua singularidade; de tal maneira, porém que essa relação da singularidade não seja, ao mesmo tempo, a relação natural do prazer. Como filha, a mulher deve ver agora os pais desvanecerem com emoção natural e tranquilidade ética – pois só às custas dessa relação ao ser-para-si de que é capaz; assim, não intui nos pais ser, ser-para-si de maneira positiva. Porém as relações da mãe e da esposa têm a singularidade de uma parte, como algo natural que pertence ao prazer; de outra parte, como algo negativo, que neles só enxerga seu desvanecer; e por isso mesmo, de outra parte como algo contingente, que pode ser substituído por um outro. No lar da eticidade, aquilo em que se baseiam as relações da mulher não é este marido, nem este filho, mas um marido, filhos em geral; sua base não é sensibilidade, mas o universal. A diferença da eticidade da mulher em relação à do homem consiste justamente em sua determinação para a singularidade e no prazer, permanece imediatamente universal e alheia à singularidade do desejo.
No
homem ao contrário, esses dois lados se separam um do outro, e enquanto ele
como cidadão possui a forma consciente-de-si da universalidade,
adquire com isso o direito ao desejo. Assim enquanto nessa relação da
mulher a singularidade está mesclada, sua eticidade não é pura; mas na medida
em que a eticidade é pura, a singularidade é indiferente, e a mulher
carece de se reconhecer como este Si no Outro. Porém o irmão é para si a
essência igual e tranquila, em geral. O reconhecimento dela estás nele, puro e
sem mistura de relação natural. A indiferença da singularidade e a sua
contingência ética não estão, pois, presentes nesta relação. Mas o momento do Si
singular, que reconhece e é reconhecido, pode afirmar aqui o seu direito,
porque está unido ao equilíbrio-de-sangue e à relação carente-de-desejo. Por
isso, a perda do irmão é irreparável para a irmã; e seu dever para com ele, o
dever supremo. Essa relação é, ao mesmo tempo, o limite em que a família,
circunscrita a si mesma, se dissolve e vai para fora de si. O irmão é o lado
segundo o qual o espírito da família se torna individualidade que se volta para
Outro e passa à consciência da universalidade. O irmão abandona essa eticidade
da família – imediata elementar e por isso negativa – a fim de
conquistar e produzir a eticidade efetiva, consciente de si mesma. O irmão
passa da lei divina, em cuja esfera vivia, à lei. A irmã, porém, se
torna – ou a mulher permanece – a dona da casa, a guardiã da lei divina.
Destarte, os dois sexos ultrapassam sua essência natural e entram em cena em sua
significação ética, como diversidades que dividem entre si as diferenças que a
substância ética se confere. Essas duas essências universais do mundo ético
têm, pois, sua determinada individualidade nas consciências-de-si
diferenciadas por natureza – já que o espírito ético é a unidade imediata da
substância com a consciência-de-si: uma imediatez, portanto, que se
manifesta ao mesmo tempo como o ser-aí de uma diferença natural, segundo a lado
da realidade e da diferença. No entanto, a diferença dos sexos e de seu
conteúdo ético permanece na unidade da substância, e seu movimento é justamente
o constante vir-a-ser da mesma substância. Pelo espírito da família, o homem é
enviado à comunidade e nela encontra sua essência consciente-de-si. Como desse
modo a família possui na comunidade sua universal substância e subsistência,
assim, inversamente, a comunidade tem na família o elemento formal de sua
efetividade; e na lei divina, sua força e legitimação. Nenhuma das duas leis é
tecnicamente em si e para si. A lei humana, em seu movimento vital, procede
para Hegel, da lei divina; a lei vigente sobre a terra, da lei subterrânea; a
lei consciente, da inconsciente; a mediação, da imediatez – e cada uma retorna,
igualmente, ao ponto donde procede. A potência subterrânea, ao contrário, tem
sobre a terra sua efetividade, mediante a consciência torna-se ser-aí e
atividade.
As
essências éticas universais, são, assim, condição e possibilidade da substância
como consciência universal e a substância como consciência singular; elas têm o
povo e a família por sua efetividade universal, mas têm o homem e
a mulher por seu Si natural e individualidade atuante. O que a razão aprendia
somente como objeto de pensar, tornou-se consciência-de-si, e o que esta tinha
dentro dela mesma, está presenta como verdadeira efetividade. O que a
observação sabia como um achado, em que o Si não tinha nenhuma parte, aqui é um
“costume encontrado”, mas também uma efetividade que ao mesmo tempo é ato e
obra de quem a encontra. O Singular, que busca o prazer do gozo de sua
singularidade, encontra-o na família; e a necessidade, em que o prazer
desaparece, representa sua própria consciência-de-si como de cidadão de seu
povo. Ou seja: é saber a lei do coração como lei dos corações, e
a consciência do Si como a ordem universal reconhecida; é a virtude que goza
dos frutos de seu sacrifício, que realiza o que tem em mira, isto é, elevar a
essência à presença efetiva, e seu gozo é a vida universal.
O todo é um equilíbrio estável
“de todas as partes”, e cada parte é um espírito semelhante ao indígena, que
não procura sua satisfação fora de si – mas a possui dentro de si, pelo motivo
de que ele mesmo está nesse equilíbrio com o todo. Por isso esse equilíbrio na
verdade só pode ser vivo, por surgir nele a desigualdade e ser reconduzida à
igualdade pela justiça. Porém a
justiça nem é uma essência estranha que se encontre no além; nem tampouco é
efetividade – indigna dela – de uma recíproca impostura, perfídia, ingratidão,
etc., que executasse a sentença à maneira de um acaso irrefletido, como um nexo
irracional e como uma ação ou omissão destituída de consciência. Ao contrário:
como justiçado direito humano, que reconduz ao universal o ser-para-si que saiu
do equilíbrio – isto é, a independência dos estamentos e indivíduos – a
justiça é o governo do povo, que é a individualidade presente a si da essência
universal, e a própria vontade, consciente-de-si, de todos. Mas a justiça, que
reconduz ao equilíbrio o universal que se torna prepotente sobre o Singular, é
igualmente o espírito simples de quem sofreu o agravo. Esse espírito não está
cindido em alguém que foi agravado, e em uma essência situada no além: ele
mesmo é a potência subterrânea, e é sua Erínie a que exerce a vingança. Com efeito, sua individualidade, seu sangue,
continua vivendo na casa: sua substância tem uma efetividade perene. O agravo
que no reino da eticidade pode ser infligido ao Singular é somente este: que
alguma coisa lhe aconteça.
A potência que inflige esse agravo próprio à consciência – de fazer dela uma pura coisa – é a natureza; é a universalidade – não da comunidade, mas a universalidade abstrata do ser; e na reparação do agravo infligido, a singularidade não se volta contra a comunidade – pois não foi dela que sofreu o agravo – mas contra o ser. Como vimos, afirma Hegel, a consciência do sangue do indivíduo repara esse agravo, de modo que aquilo que aconteceu se torne antes uma obra; para que o ser, se derradeiro [estado], seja algo querido e, portanto, agradável. Dessa maneira, o reino ético é, em sua subsistência, um mundo imaculado, que não é manchado por nenhuma cisão. Seu movimento é igualmente um tranquilo vir-a-ser – de uma potência para a outra – de modo que cada uma receba e produza a outra. Nós o vemos, de certo, dividir-se em duas essências, e em sua efetividade; mas sua oposição é, antes, a confirmação de uma pela outra. O ponto onde imediatamente se tocam como efetivas – seu meio-termo e elemento – é sua imediata interpenetração. Um extremo – o espírito universal consciente-de-si – é concluído com seu outro extremo, sua força e seu elemento, com o espírito carente-de-consciência, mediante a individualidade do homem. É na mulher que a lei divina tem sua individualização, ou seja, é nela que o espírito, carente-de-consciência, do Singular tem seu ser-aí. Mediante a mulher, como meio-termo, esse espírito emerge da inefetividade para a efetividade: do que-não-sabe e que-não-é-sabido, para o reino consciente.
A união do homem e da mulher constitui o meio-termo ativo do todo, o elemento, que, cindindo nestes extremos da lei divina e da lei humana, é igualmente sua unificação imediata; que faz daqueles dois primeiros silogismos, um mesmo silogismo e que unifica em um só os movimentos opostos: - o movimento descendente da efetividade para a inefetividade, da lei humana que se organiza em membros independentes, para o perigo e prova da morte; e o movimento ascendente da luz do dia e para o ser-aí consciente. O primeiro desses movimentos compete ao homem; o segundo à mulher. Porém a consciência-de-si ainda não surgiu em seu direito como individualidade singular, devido ao modo como a oposição está constituída nesse reino: nele a individualidade, por um lado, só em valor como vontade universal; por outro lado, como sangue da família: este Singular só vale como sombra inefetiva. Nenhum ato foi ainda cometido; ora, é o Si efetivo. O ato perturba a calma organização do mundo ético, e a tranquilidade de seu movimento. O que aparece no mundo ético como ordem e harmonia de duas essências – uma das quais confirma e completa a outra - torna-se através do ato uma transição de opostos, em que cada qual se mostra mais como anulação de si e do outro do que como sua confirmação.
Transforma-se
no movimento negativo – ou na eterna necessidade do destino assustador, que
devora no abismo de sua simplicidade tanto a lei divina quanto a lei humana,
como também as duas consciências de si em que essas duas potências têm seu
ser-aí. Essa necessidade vem a dar no absoluto-ser-para-si da
consciência-de-si. O fundamento – do qual e sobre o qual esse movimento procede
– é o reino da eticidade; mas a atividade desse movimento é a
consciência-se-si. Como consciência ética, ela é a pura orientação
simples para a essencialidade ética, ou seja, o dever. Nela não
existe nenhum arbítrio, e também nenhum conflito, nenhuma indecisão, já que
foram abandonados o legislar e o examinar das leis; ao contrário, a
essencialidade ética é para essa consciência algo imediato, inabalável e imune
à contradição. Por conseguinte, não se oferece o triste espetáculo de uma
colisão da paixão com o dever, e ainda menos o [espetáculo] cômico de uma
colisão de dever contra dever; uma colisão que segundo o conteúdo equivale à
colisão entre paixão e dever, pois, a paixão é também capaz de ser representada
como dever. A consciência ética, porém, sabe o que tem de fazer e está decidida
a pertencer seja à lei divina, seja à lei humana. Essa imediatez de sua decisão
é um ser-em-si e tem, ao mesmo tempo, a significação de um ser
natural.
O
que assina um sexo a uma lei e o outro sexo a outra, é a natureza, e não a
contingência das circunstâncias ou da escolha. Ou, inversamente: as duas
potências éticas se conferem, nos dois sexos, seu ser-aí individual e sua
efetivação. A consciência ética, porque está decidida por uma lei só
dessas potências, é essencialmente caráter. Não é válida para a consciência
a igual essencialidade de ambas: a oposição se manifesta, por isso, como
uma colisão infeliz do dever somente com a efetividade carente-de-direito. A consciência ética está, como
consciência-de-si, nessa oposição; e como tal empreende submeter, pela força à
lei a que pertence, essa efetividade oposta; ou então burlá-la. Como vê o
direito somente de seu lado, e do outro, o agravo, a consciência que pertence à
lei divina enxerga, de outro lado, a violência humana contingente. Mas a
consciência, que pertence à lei, vê no lado oposto a obstinação e a
desobediência do ser-para-si interior. Os mandamentos do governo são o sentido público universal, exposto à luz do dia: mas a vontade da
outra lei é o sentido subterrâneo, enclausurado no interior, que em seu ser-aí
se manifesta como vontade da singularidade, e que, em contradição com a
primeira lei, é o delito. Surge na consciência a oposição entre o sabido
e o não-sabido; na substância a oposição entre o consciente e
carente-de-consciência – o direito absoluto da consciência-de-si ética entra em
conflito com o direito divino da essência. A efetividade objetiva tem essência
para a consciência-de-si como consciência; mas, a consciência-de-si ética é a
consciência da substância. O objeto, oposto à consciência-de-si, perdeu por
isso a significação de ter essência para si.
O
ético, enquanto essência absoluta e ao mesmo tempo potência
absoluta, não pode sofrer perversão de seu conteúdo. Fosse apenas a essência
absoluta sem a potência, poderia experimentar uma perversão por parte da
individualidade; mas essa, como consciência ética, com o abandonar de seu
ser-para-si unilateral, renunciou ao perverter. Inversamente, a simples
potência seria pervertida pela essência, caso fosse ainda um tal ser-para-si.
Graças a essa unidade, a individualidade é pura forma da substância, que é o
conteúdo; e o agir é o passar o pensamento à efetividade, somente como
movimento de uma oposição carente-de-essência, cujos momentos não possuem
conteúdo e essencialidade particulares e distintos entre si. O direito absoluto
da consciência ética consiste pois nisto: que o ato – a figura de sua efetividade
– não seja outra coisa senão o que ela sabe. Assim como essa consciência simples
insiste no direito absoluto de que se manifeste a ela, enquanto
consciência ética, a essência tal como é em si, assim também essa
essência insiste no direito de sua realidade, isto é, no direito de ser
dúplice. Ao mesmo tempo, porém, esse direito da essência não se contrapõe à
consciência-de-si, como se a essência estivesse alhures; mas a própria essência
da consciência-de-si. Só nela tem seu ser-aí e sua potência; e sua oposição é o
ato da consciência-de-si. Pois ela, justamente, quando se sabe como Si,
e parte para o ato, ergue-se da imediatez simples e põe ela mesma a cisão.
Abandona mediante o ato a determinidade da eticidade – a de ser a certeza
simples da verdade imediata – e põe a separação de si mesma: o em si, como
o-que-é-atuante, e na efetividade oposta que é, negativa. A
consciência-de-si torna-se culpa. Ela é o seu agir, e
o é sua essência. A culpa recebe a significação
de delito, pois a consciência-de-si, como simples consciência ética,
consagrou-se a uma lei, mas renegou a outra e a violou mediante seu próprio
ato.
Bibliografia
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