“A trivialização do conhecimento não faz do conhecimento apenas um produto determinado”. Edgar Morin
Além da própria historiografia, o
conhecimento a história tem sido uma tarefa ímpar de todas as ciências sociais.
A sociologia, a economia política, a ciência política, a antropologia, a
psicologia, trabalham com questões políticas, econômicas, sociais, culturais,
religiosas, militares, demográficas e outras, que correspondem a ações,
relações, processo e estruturas tomados em algum nível da historicidade. Mesmo
as correntes de pensamento orientadas no sentido de formalizar as
interpretações, em temos de indução quantitativa ou construção de modelos,
mesmo nesses casos onde a pesquisa produz alguma explicação nova, reavalia ou
reafirma explicações vigentes, sobre os modos e os tempos da história. Também
há aqueles que formalizam e fetichizam as categorias dialéticas de pensamento,
perdendo de vista o fluxo real das ações, relações, processos e estruturas que
expressam movimentos e as modificações das gentes, grupos, classes e nações.
Uns e outros constroem mitos. Em todos os casos, no entanto, a história aparece
de alguma forma, como história real ou invenção, drama ou epopeia, elegia ou
profecia. A multiplicidade de ciências e teorias relativas ao nível social, tem dado origem a distintas interpretações como se escreve ou
produz a história. São distintas e heterogêneas a histórias do capitalismo que aparecem nas
análises de Ricardo, Marx, Tocqueville, Durkheim, Weber, Keynes, Parsons,
Hobsbawm e outros.
Não só na sociologia, mas no
conjunto das ciências socais, encontram-se as mais diversas explicações sobre
como e por que se da a mudança, a evolução, o progresso, o desenvolvimento, a
modernização, a crise, a recessão, o golpe de classe, a reforma, a revolução.
Para explicar as transformações sociais, em sentido amplo, o sociólogo, antropólogo,
economista, politólogo, psicólogo, historiador e outros têm buscado causas,
condições, tendências, fatores, indicadores, variáveis, e assim por diante. Ao
analisar as condições de formação, funcionamento, reprodução, generalização,
mudança e crise do capitalismo globalizado, os cientistas sociais têm proposto
explicações que nem sempre se excluem. Em certos casos, umas implicam outras,
ou as englobam. Em primeiro lugar, uma interpretação que se generalizou
bastante, desde os arquétipos comparados da Revolução Industrial, estabelece
que o progresso econômico é o resultado da “criatividade empresarial”. Isto é,
toda mudança, inovação ou modernização econômica substantiva tende a consumar a
capacidade de criação e liderança de empresários imaginosos, inventivos ou
mesmo lúdicos, capazes de articular e dinamizar os fatores da produção
preexistentes e novos. Essa interpretação tem os seus principais enunciados nos
escritos de economistas clássicos, seus discípulos e continuadores no século
XIX e XX. Os valores relacionados aos self-made man ao tycoon, ao
capitão de indústria, ao pioneiro, à identidade entre propriedade privada,
livre empresa e sociedade aberta, ligam-se à tese de que a
criatividade é a base do progresso capitalista.
A segunda interpretação, reconhecida como “teoria das elites”, está relacionada com a anterior. Recebeu contribuições de Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca. E tem sido retomada, em diferentes linguagens, por outros cientistas sociais e escritores, como James Burnham, Samuel P. Huntington, Clark Keer, David E. Apter, John Kenneth Galbraith e outros. É uma corrente de pensamento que propõe o funcionamento da sociedade e a mudança social em termos de elites empresariais, gerenciais, militares, intelectuais e outras. Desde o término da 2ª guerra mundial, essa teoria tem sido a base de programas organizados pelo imperialismo norte-americano, no treinamento de quadros de intelectuais, tecnocratas, militares, gerenciais, empresariais e outros, para soluções golpistas ou não em países dependentes e coloniais. Em terceiro lugar, há a intepretação que atribui importância especial à divisão social do trabalho. Toma-se o meio de trabalho como o processo social, de âmbito estrutural, que comanda o funcionamento, as combinações e as transformações das elações sociais e instituições, em níveis econômico, político e outros. Adam Smith e Émile Durkheim são autores importantes nessa corrente de pensamento. Boa parte do pensamento liberal apoia-se nessa ideia. A divisão internacional do trabalho foi apresentada durante o século XIX e até a década de 1930, como a base da prosperidade econômica e social das pessoas, de grupos sociais e das nações. As teorias sobre a democracia liberal, o pluralismo democrático e a cidadania apoia-se implicitamente na ideia de que a divisão social do trabalho, em sentido amplo, é o processo estrutural, mas que historicamente é o que fundamenta e dinamiza a melhor expressão e articulação de pessoas e grupamentos sociais, atividades e instituições políticas e econômicas de setores produtivos e países.
A
quarta intepretação considera que o fundamento último da mudança, progresso ou
desenvolvimento econômico e social é a “tecnologia”. O progresso técnico
comandaria as possibilidades de articulação e dinamização dos fatores
produtivos principalmente capital e força de trabalho. As possibilidades de
poupança e investimento, bem como desenvolvimento e diferenciação dos sistemas
econômico e social estriam na dependência das inovações e aplicações da
tecnologia, inovações essas originadas das ciências da natureza e da sociedade.
Essa interpretação tem várias formulações. Todas, no entanto, apoiam-se na
ideia de que ciência, tecnologia e desenvolvimento, ou pesquisa e
desenvolvimento em geral relacionam-se positivamente. A quinta interpretação
confere papel especial ao Estado. Depois da crise da concepção liberal do poder
político-econômico e da história, generalizou-se cada vez mais a intepretação
que vê na ação estatal a base da organização e mudanças de relações e
organizações econômicas e sociais. É claro que esta ideia já está presente,
implícita ou explícita, no pensamento científico e filosófico dos séculos XVIII
e XIX. Ela aparece em escritos de Hegel, Marx, Engels e Lenin, além de Keynes,
Myrdal, Baran e ouros. Depois da criação do regime socialista em vários países,
por um lado, e da crise econômica mundial iniciada em outubro de 1929, por
outro, os governos capitalistas, dominantes e dependentes, passaram
a intervir de forma cada vez mais ampla e profunda na economia.
A sexta e última interpretação busca
as razões dos movimentos e transformações sociais, político-econômicas e
culturais nas relações e contradições de classes. De acordo com essa
intepretação, as forças produtivas, a atuação estatal e outros aspectos político-econômicos,
sociais e culturais são articulados e desarticulados em conformidade com os
movimento e desenvolvimentos das relações e contradições das classes sociais:
burguesia, classe média, campesinato, proletariado e suas subdivisões
estruturais e de ocasião. Dentre os autores que se situam nessa orientação, ou
contribuíram para o seu desenvolvimento, destacam-se Marx, Engels, Lenin,
Bukharin, Trostski, Lukács, Gramsci e Mao-Tsé-tung, além de José Carlos
Mariátegui, Maurice Dobb, Paul A. Baran, Paul M. Sweezy, Frantz Fannon e alguns
outros. Essa interpretação se funda na análise do processo de trabalho
produtivo, processo esse que produz a mercadoria, a mais-valia de que o burguês
se apropria e a alienação econômica e política do trabalhador. O principal
conteúdo e resultado desse processo produtivo, ou dessas relações de produção,
é o antagonismo entre o operário e o burguês. O golpe de Estado, a greve e a
revolução produzem-se neste contexto. Numa formulação breve, essa interpretação
engloba relações, processos e estruturas básicos e intermediários da sociedade.
Enfim, cada uma dessas interpretações implica uma forma peculiar de compreender
as relações entre biografia e história, conjuntura e estrutura, sincronia e
diacronia, ou entre as ações, as relações, os processos e estruturas sociais,
em seus perfis e movimentos. Outras interpretações situam-se neste contexto
problemático, paradoxal. São interpretações sobre as condições e possibilidades
de produção da história, em forma cômica ou trágica, dramática ou épica.
As ideias movem-se, mudam de lugar, ganham força na história, apesar das formidáveis determinações internas e externas globais. O conhecimento transforma-se, progride, regride. Crenças e teorias renascem; outras, antigas, morrem. A primeira condição de uma dialógica cultural é a pluralidade e diversidade de pontos de vista. Essa diversidade cultural é potencial e está em toda parte. Toda sociedade comporta indivíduos genética, intelectual, psicológica e afetivamente muito diverso, apto, portanto, a outros pontos de vista cognitivamente muito variados. São, justamente, essas diversidades de pontos de vista culturais e políticos que inibem e a normalização reprime. Do mesmo modo, as condições sociais ou acontecimentos aptos a enfraquecerem o imprinting, segundo Morin (2008), e a normalização permitirão às diferenças individuais exprimirem-se no domínio cognitivo. Essas condições aparecem nas sociedades que permitem o encontro, a comunicação e o debate de ideias. A dialógica cultural supõe o comércio, constituído de trocas múltiplas de informações, ideias, opiniões, teorias; o comércio das ideias é tanto mais estimulado quanto mais se realizar com ideias de outras culturas do passado. O intercâmbio das ideias produz o enfraquecimento dos dogmatismos e intolerâncias sociais e religiosas, o que resulta no próprio crescimento. Comporta a competição, a concorrência, o antagonismo, o conflito social, moral e político, entre ideias, concepções e visões de mundo.
A trivialização do conhecimento não
faz produto do conhecimento apenas um produto determinado, faz também dele um produto
qualquer. Mas as ideias podem tornar-se ideológicas na medida em que sua
estrutura socialmente obedece às estruturas socioprofissionais, sua produção integra-se
entre os outros processos de produção e a cultura torna-se cognoscível a partir
das categorias econômicas do capital e do mercado. Mas nem a informação, nem a
teoria, nem o pensamento abstrato, nem a cultura são produtos triviais,
ainda que mais não seja pelo fato de serem, ao mesmo tempo, produtos/produtores
e, mesmo comportando hologramaticamente a dimensão socioeconômica, não
poderiam ser reduzidas a isso. A redução trivializante não teme exercer-se como
sujeito sobre o conhecimento científico. Este nível abstrato como
qualquer outro é apropriado pelo pensamento, como a religião e através da
ciência, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e sua estratégias,
seus interesses e seus ganhos. Mas, por seu lado, os estudos de etnografias dos
laboratórios, estes que parecem ter dinamismo, demonstram-nos como se
estabelecem essas mediações dos pesquisadores, em função de posições, ou
status, as lutas e a utilização de alguns truques diabólicos pelo
reconhecimento per se, pelo prestígio ou pela glória, com as negociações
necessárias ao estabelecimento de uma prova, os ritos de passagem na pesquisa e
na universidade. A motivação primeira do cientista é a notoriedade. Mas não se
pode reduzir o interesse científico ao interesse econômico, a vontade de
pesquisar ao desejo de prestígio, a sede de conhecimento à sede de poder, em
alguns casos terrenos sim. A sociologia não pode ser considerada uma concepção
que exclui o indivíduo ou que, no máximo, o tolera. É uma concepção humanista,
mas que deve implicá-lo e explicitá-lo.
Sobre a aquisição do conhecimento
pesa um formidável determinismo. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como
se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos,
estabelece os limites, ergue cercas de arame farpado e conduz-nos ao ponto onde
devemos ir. E também que conjunto prodigioso de determinações sociais,
culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, da menor
teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior
sobre o conhecimento. É necessário considerar, também, os determinismos
intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Edgar Morin, muito mais
implacáveis. Em primeiro lugar, princípios iniciais, comandam esquemas e
modelos explicativos, os quais impõem uma visão de mundo e das coisas que se
governam/e controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos,
pensamentos, teorias. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos
associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que,
quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a força imperativa do sagrado, a
força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. As doutrinas e
ideologias dominantes nas sociedades dispõem também da força imperativa e
coercitiva que evidencia aos convictos e o temor inibitório aos desalmados.
A
partir deste fundamento, compreendemos que ordem, desordem e organização são
elementos essenciais para o entendimento da questão da complexidade, pois se desintegram e
se desorganizam ao mesmo tempo. Nesse entendimento, constata-se que o sentido
da realidade se dá por meio da relação do todo com as partes e vice e versa em
uma análise integradora em que não é pertinente examinar o fenômeno a partir de
uma única matriz de racionalidade. A desordem torna-se indispensável para a
organização social da vida humana, pois a sociedade é dependente de
acontecimentos/fatos que possam modificar a ordem já estabelecida para gerar
novos meios de organização entre os sujeitos. Há um imprinting cultural, matriz
que estrutura o conformismo, e há uma normalização que o impõe. O imprinting é
um termo que Konrad Lorentz propôs para dar conta da marca incontornável pelas
primeiras experiências do jovem animal, como o passarinho que, ao sair do ovo,
segue como se fosse sua mãe, o primeiro ser vivo ao seu alcance. Há um
imprinting cultural que marcam os humanos, desde o nascimento, com o selo da
cultura, primeiro familiar e depois da escola, prosseguindo na universidade ou
na profissão. Contrariamente à orgulhosa pretensão dos intelectuais e
cientistas, o conformismo cognitivo não é de modo algum uma marca de subcultura
que afeta principalmente as camadas subalternas da sociedade. Os subcultivados
sofrem um imprinting e uma normalização atenuados e há mais opiniões
pessoais diante do balcão de café do que num coquetel literário.
Embora
contrariados em contradição com seu desenvolvimento liberal intelectual que
permite a expressão de desvios e de ideias e formas escandalosas, o imprinting
e a normalização crescem paralelamente com a aquisição real da cultura. O imprinting
cultural determina à desatenção seletiva, que nos faz desconsiderar tudo aquilo
que não concorde com as nossas crenças, e o recalque eliminatório, que nos faz
recusar toda informação inadequada às nossas convicções, ou toda objeção vinda
de fonte técnica considerada ruim. A normalização manifesta-se de maneira
repressiva ou intimidatória. Cala os que teriam a tentação de duvidar ou de
contestar. A normalização, portanto, com seus subaspectos de conformismo,
exerce uma prevenção contra o desvio e elimina-o, se ele se manifesta. Mantém,
impõe a norma do que é importante, válido, inadmissível, verdadeiro, errôneo,
imbecil, perverso. Indica os limites a não ultrapassar. As palavras que não
devem proferir. Os conceitos a desdenhar, as teorias a desprezar. O imprinting
assimila a perpetuação dos modos de conhecimento e verdades estabelecidas.
Obedece a processos de tribunais: uma cultura produz modos de conhecimento
entre os homens dessa própria cultura. Através do seu modo de conhecimento,
reproduzem a legitimidade que produz esse conhecimento. As crenças que se
impõem são fortalecidas pela fé que as suscitaram. Então, se reproduzem não
somente os conhecimentos, mas as
estruturas e os modos reguladores que determinam a invariância desses
conhecimentos.
É
isto exatamente o que ocorre. A prova disso, no entanto, ocorre com as
anulações de concursos quando não surge o candidato certo. Mas o inegavelmente
ridículo é quando operam um parecer contrário. Sustentando que a carreira do
pesquisador não apresenta o desempenho (fálico) estimulado, ultrapassado pela quase
“meia verdade”, caraterizada pelo conceito de estigma especificamente
propalado por um cientista político estudioso das relações concretas de poder
nas instituições. Mas isso não deve mascarar ou anular a originalidade complexa
da comunidade/sociedade constituída pela trupe de cientistas, nem as ideias
fixas, as obsessões intelectuais, themata, autônomas e dissociadas da
estrutura social, que animam ou dispensam a busca específica da verdade
objetiva da qual Michel Foucault, com razão, apoiando-se na exterioridade
visível que Magritte nomeia seus quadros infere dizendo: “Ceci n`est pas um
pipe”, para impor respeito à denominação. Nesse espaço quebrado e à deriva, que
exige respeito, estranhas relações se tecem, intrusões se produzem, bruscas
invasões destrutoras, quedas de imagens em meios às palavras, fulgores verbais
que atravessam os desenhos e fazem-no voar em pedaços. Pacientemente, Paul Klee
constrói um espaço sem nome nem geometria, entrecruzando a cadeia dos signos e
a trama das figuras. Magritte, quanto a ele, mina em segredo um espaço que
parece mante na disposição tradicional. Mas ele o cava com palavras: e a velha
pirâmide da perspectiva está carcomida em seu secreto mórbido está aponto de
ruir, a sair de si própria e isolar-se. A arte da conversa, segundo Foucault
(2016: 49) cotidianamente, “é a gravitação autônoma das coisas que fizeram suas
próprias palavras na indiferença dos homens, impondo-a a eles, sem mesmo que
eles o saibam, em sua tagarelice cotidiana”.
De
fato, há nas formas sociais de motivação científica, um complexo variável e
instável de interesse e desinteresse, do qual as buscas do graal de
verdade, objetividade científico-social, elucidação são partes integrantes.
Assim, a cegueira sobre tudo o que não é ambição, conhecimento e interesse e vaidade nos
esclarece apenas sobre as motivações e os comportamentos dos que semeiam a
cegueira. O que ocorre é que à sombra do paradigma dominante, que o jovem Marx
insistia em referir-se a ideologia dominante e um intenso cretinismo, coquetel
de racionalização delirante, de sofística refinada e de grosseria determinista,
trivializou pela força o não-trivial. Ele se manifestou na biologia no determinismo
pangenético, na linguística, na antropologia, na psicanálise e, evidentemente,
na sociologia, na qual a complexidade das interações sociedade, a cultura e a
sociedade e os indivíduos, foi ocultada pela concepção ao mesmo tempo
determinista e trivial da sociedade e a organização do conhecimento; pisoteia
todo o que deriva da criação intelectual; reduz a teoria e as ideias a puros
objetos, produtos, instrumentos. Todas as interpretações deterministas,
redutoras, trivializante têm algo em comum, por um lado, a ignorância do
complexo das condições negativas ou permissivas favoráveis ao conhecimento e à
ideia autônomos e, e por outro lado, uma rejeição extraordinária da ideia de
indivíduo, inventor, criador; de resto, é aterrador ver o ódio suscitado entre
os autores, os inventores e os criadores dessa desindividualização pela
própria ideia de autor, inventor e criador.
Foi também através deste filme, que a atriz alemã Marianne Sägebrecht, ex-artista de cabaré, fez sua estreia no cinema. A partir daí, ela iria estrelar com destaque absoluto em vários filmes do diretor, entre os quais Bagdad Café (1987), primeiro sucesso de Percy Adlon em língua inglesa. O não-trivial é o que estabelece as relações sociais na esteira de Out of Rosenheim (“Bagdad Café”), um filme alemão de 1987, dirigido por Percy Adlon. O cinema produzido na Alemanha é fortemente marcado por uma influência das tendências artísticas e vanguardas plásticas. O filme tem como representação um drama passado num remoto posto-motel no Deserto de Mojave, de beira de estrada, num deserto árido sendo o mais seco da América do Norte. Está localizado no sudoeste dos Estados Unidos, principalmente no sudeste da Califórnia e no sul de Nevada, e ocupa um total de 124.000 km², mas áreas pequenas também se estendem para pelos parques nacionais de Utah e Arizona. Utah é um dos cinquenta Estados americanos. Localizado na Região dos Estados das Montanhas Rochosas, o mesmo limita-se com os Estados de Nevada a oeste, Colorado a leste, Arizona ao sul e Wyoming e Idaho ao norte. O Arizona, é reconhecido pelo Grand Canyon, uma fenda com quilômetros de profundidade esculpida pelo rio Colorado. Flagstaff, é uma cidade montanhosa coberta de extraordinários pinheiros da espécie pinus ponderosa, e importante acesso ao Grand Canyon. Outro destaque é o Parque Nacional de Saguaro, que protege a paisagem de cactos do Deserto de Sonora. Tucson é da Universidade do Arizona e abriga o Arizona-Sonora Desert Museum.
Seus
limites são geralmente observados pela presença de árvores de Josué, que são
nativas apenas do deserto e são consideradas uma espécie indicadora. A região
abriga de 1.750 a 2.000 espécies de plantas. A parte central do deserto é
escassa, enquanto suas periferias apoiam grandes comunidades como San
Bernardino, Las Vegas, Lancaster, Palmdale, Victorville e St. George. Esse
deserto possui clima hostil e abriga formações geológicas famosas, como o Vale
da Morte, desértico localizado no leste da Califórnia, ao norte do deserto
de Mojave, na fronteira com o Deserto da Grande Bacia. É um dos lugares mais
quentes do mundo no auge do verão, com seus leitos de lagos secos e cheios de
sal, juntamente com os desertos no Oriente Médio. Nessa região também está
alocado o maior cemitério de aviões do mundo, que consiste em um depósito onde
grandes jatos das empresas aéreas de todo o mundo ficam aguardando para serem
desmontados para aproveitamento de seus materiais recicláveis. Ganhou
notoriedade ao ser citado no clássico filme de Wim Wenders, Paris, Texas (1984).
É provavelmente um de seus trabalhos
mais conhecidos e aclamados pela crítica. O roteiro é de L. M. Kit Carson e Sam
Shepard; os temas musicais foram compostos por Ry Cooder e a direção de
fotografia é de Robby Muller. O filme ocorreu de uma coprodução entre a França
e Alemanha, porém as locações para filmagem ocorreram nos Estados Unidos da
América.
É no Mojave também que o protagonista, vivido por Harry-Dean-Stanton, perambula no início do filme. Com carreira prolífica, Harry se mantinha atuando no cinema, e também na televisão, desde 1957. Em 1988 fez parte do júri do Festival de Cinema de Veneza. Até 1971 era creditado nos filmes e na televisão apenas como Dean Stanton, para evitar ser confundido com o ator Harry Stanton, com quem atuou em 1969 em episódio do seriado Petticoat Junction. Foi onde a banda de rock Californiana, Red Hot Chili Peppers, formada em Los Angeles, Califórnia, em 13 de fevereiro de 1983, considerada uma das maiores bandas da história do rock, gravou o extraordinário clipe da música “Give It Away”, assim como as Spice girls filmaram o premiado clipe Say You'll Be There, a cantora Madonna gravou o clipe da música “Frozen” nesse deserto norte-americano. Elas assinaram com a Virgin Records e tornaram-se reconhecidas em 1996 com o primeiro single, Wannabe que alcançou o topo das paradas de sucesso em mais de 30 países, fazendo as garotas tornarem-se um fenômeno global em função de três aspectos merceológico pode ser entendido como um estudo que leva em consideração a análise das características técnicas e comerciais de uma determinada mercadoria. Seu álbum de estreia, Spice, vendeu 30 milhões de cópias, tornando-se o álbum mais vendido de todos os tempos por um grupo feminino. O álbum Spiceworld vendeu 25 milhões de cópias no mercado fonográfico em todo mundo globalizado. As Spice Girls venderam 90 milhões de discos, tornando-as o grupo mais vendido de todos os tempos, um dos grupos pop que mais vendeu em todos os tempos, e o maior fenômeno pop britânico desde a démarche de consumo Beatlemania.
O grupo pop global Now United, criado por Simon Fuller e gerenciado pela XIX Entertainment, teve sua primeira formação escolhida mediante processos de seleção. Gravou o videoclipe de “Come Together” também nesse panorâmico deserto. E também a cantora Selena Gomez. Como atriz, estreou na série infantil Barney e seus Amigos, em 1999. Ganhou destaque internacional ao estrelar a série vencedora do Prêmio Emmy, Os Feiticeiros de Waverly Place, exibida pelo Disney Channel, interpretando Alex Russo. Ela formou sua banda Selena Gomez & The Scene, após assinar um contrato com a Hollywood Records em 2008, gravou seu clipe A Year Without Rain neste deserto da trama Bagdad Café. E também é o local onde o jogo se passa da Fallout: New Vegas, produzido pela Obsidian Entertainment. Em 2001, o maratonista Carlos Sposito foi o primeiro brasileiro a correr na região, em um desafio típico-solitário. O filme tem como ponto de partida e contradição dialética quando a turista alemã Jasmin (Sägebrecht) tem uma briga com seu marido e o abandona na estrada. Ela caminha pelo deserto até chegar ao posto-motel Bagdad Café. O posto-motel é frequentado por personagens.
A liberdade intelectual não pode ser vista apenas como determinada possibilidade de expressão. É uma noção que se torna necessário sociologizar, culturalizar, complexificar, termodinamizar. Está ligada a um contexto cultural pluralista, dialógico, conflitual agitado. Necessita não apenas das condições que se tornam, de fato, permissivas, mas, também das condições dinâmicas irradiadas pelas crises, turbulências, conflitos nas ideias e visões de mundo. Comparativamente, como ocorre no mundo físico, a termodinâmica do mundo das ideias só é fecunda, produtiva ou criadora entre certos patamares, os quais não podem ser determinados a priori. Aquém desses limiares, não há “efervescência cultural” e, além, a turbulência torna-se dispersiva ou explosiva. Não se pode determinar uma temperatura intelectual ideal, ainda mais que não há nenhum termômetro ad hoc. Mas, para concordarmos com Edgar Morin, assim como a verdadeira vida do pensamento realiza-se na temperatura de sua própria destruição, “a verdadeira vida de uma efervescência cultural desenrola-se quase na temperatura de sua própria ebulição. Neste sentido, se podemos conceber o complexo das liberdades, então podemos compreender que a cultura enquanto representação social seja tanto libertação quanto prisão para o conhecimento ou para o pensamento.
A cultura aprisiona-nos no seu etno-sócio-centrismo, seu hic et nunc, nos seus imperativos categóricos e proibições, nas suas normas e normalizações, nas suas limitações e encobrimentos, nos seus artigos de fé e também de desconfiança, nas suas verdades e nos seus erros. Mas, ao mesmo tempo, a cultura oferece-nos uma linguagem, um saber, uma memória, um processo comunicativo, uma possibilidade de trocas linguísticas, verificações e refutações. Quando comporta em si a pluralidade dialógica e a abertura para as outras culturas e os outros saberes exteriores, oferece-nos as condições e possibilidades de emanciparmos relativamente das suas limitações e dissimulações. Com o desenvolvimento da cultura crescem, naturalmente, o artificial e o frívolo na esfera do pensamento; além de pequenos imprinting locais e sofísticos multiplicam-se em outros tantos diaforismos e trissotinadas; um “alto cretinismo” instala-se nas esferas superiores; a proliferação da abstração e da matematização mascara o real concreto ou mesmo de análise, que deviam traduzir, mas, ao mesmo tempo crescem e multiplicam-se as brechas que permitem as autonomias e as liberdades, as possibilidades de acesso aos problemas essenciais e universais, mesmo se, sob a pressão das frivolidades e dos “altos cretinismos”, inicialmente usado para descrever uma pessoa de muito pouca inteligência e lunática, os problemas decisivos permanecem confinados a uma minoria tola, medíocre, desviante.
Bibliografia
geral consultada.
ALLEGRO, Luís Guilherme Vieira, A Reabilitação dos Afetos: Uma Incursão no Pensamento Complexo de Edgar Morin. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007; MORIN, Edgar, O Método 4 – As Ideias. 4ª edição. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008; Idem, Edwige, L`Inséparable. Paris: Éditions Fayard, 2009; Idem, Rumo ao Abismo: Ensaios sobre o Destino da Humanidade. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2011; CARVALHO, Marçal Luis Ribeiro, A Questão Punitiva na Pós-modernidade: Desafios Contemporâneos à Luz da Ética da Alteridade. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2010; MARTINS, Carlos Benedito, “A Contemporaneidade de Erving Goffman no Contexto das Ciências Sociais”. In: Rev. Bras. Cien. Soc. volume 26, n° 77. São Paulo, 2011; IANNI, Octavio, A Sociologia e o Mundo Moderno. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2011; FREITAS, Francisco Augusto Canal, Habitar o Hábito: Reflexão e Origem da Cidade no Pensamento de Walter Benjamin. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2012; NUNES, Elaine C. Roschel; LORKE, Franziska; JANZEN, Henrique, “Diálogo, Conflito e Movimento Identitário no Encontro de Culturas: Uma Análise do Filme Bagdá Café”. In: Pandaemonium Germanicum, São Paulo, vol. 16, nº 21, pp. 111-127, 2013; JUNQUEIRA, Flávia, A Teatralidade na Vida Cotidiana. Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2014; LELOUP, Jean-Yves, Une Danse Immobile. Paris: Éditions Du Relie, 2015; FOUCAULT, Michel, Isto não é um cachimbo. 7ª edição. Sã Paulo: Editora Paz e Terra, 2016; BACH, Augusto, Michel Foucault e a História Arqueológica. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia e Metodologia das Ciências. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2016; FRAGA, Júlia Massadas Romeiro, Precaução e Direcionamento de Condutas sob Incerteza Científica. Dissertação de Mestrado. Escola de Direito. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2019; AFTEL, Mandy, Essência e Alquimia. Belo Horizonte: Editor Laszlo, 2020; SANTOS, Géssica Brito, “Devir e escrita na filosofia de Deleuze e Guattari”. In: Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 6, edição 1, vol. 5, pp. 191-204, jan. 2021; entre outros.
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