“A medicina cria pessoas doentes, a matemática, pessoas tristes e a teologia, pecadores”. Martinho Lutero
O cineasta Dennis Bots nasceu em Kitwe em 1974. Seus pais holandeses viviam na Zâmbia, onde seu pai trabalhava. Ainda criança, mudou-se para a cidade holandesa de Gemert. O pai de Bots era um cineasta amador ávido, e Bots fez seu primeiro filme, Shetani, aos 12 anos, sobre uma estátua africana que foi comprada em Wereldwinkel e continha um espírito. Bots cita como influências filmes de sua infância, como Stand By Me, ET the Extra-Terrestrial e The Neverending Story. Ele frequentou o Macropedius College e trabalhou para a emissora local por vários anos. Aos 18 anos, mudou-se para Amsterdã para estudar cinema. Em 1996, se formou na Academia Holandesa de Cinema e Televisão em Amsterdã. Ele começou sua carreira trabalhando na televisão, dirigindo episódios das séries de TV Goudkust, Rozengeur & Wodka Lime, Goede tijden, Slechte tijden e Trauma 24/7. Em 2005, dirigiu seu primeiro longa-metragem, Zoop na África. Ele se concentrou em filmes infantis desde sua estreia. Bots dirigiu Anubis en het Pad der 7 Zonden, o filme mais visto de 2008 na Holanda. Ele dirigiu Achtste Groepers Huilen Nietem 2012, adaptando a história sobre um menino de 12 anos que desenvolve leucemia. Em 2014, dirigiu Oorlogsgeheimen que estreou no Festival de Cinema de Luxemburgo em 2015, mas também na série de TV Celblok H (2014) e Projeto Orpheus (2016). Em 2017, dirigiu Storm: Letters van Vuur, que tem como escopo a Reforma Protestante. Narra a história de Storm, um menino cujo pai foi preso por imprimir uma carta de Martinho Lutero. Bots dirigiu Circus Noel em 2019, sobre uma garota e um circo. Foi escrito por Karen van Holst Pellekaan, com quem Bots havia colaborado em filmes anteriores. Em 2020, Bots dirigiu Engel, baseado no romance de Isa Hoes.
O filme foi escrito por Ellen Barendregt e “narra a história de uma garota que pode realizar desejos para pessoas de bem”. Desde 2016, Bussum, local de sua residência, faz parte do novo município de Gooise Meren. Bussum tem uma população estimada de 33.595 habitantes em 2019 e cobre uma área em torno de 8,15 km². Não por acaso o Macropedius College, representa a memória de Georgius Macropedius que nasceu como Joris van Lanckvelt em Gemert em Brabante do Norte, Holanda, em 1487. Pouco se sabe sobre sua infância, mas depois de frequentar a escola paroquial, Joris van Lanckvelt mudou-se para Hertogenbosch onde frequentou a escola primária. Joris vivia em uma das pensões dos Irmãos da Vida Comum, adeptos da Devoção Moderna. Em 1502, aos quinze anos, tornou-se membro da fraternidade e preparou-se para a carreira docente. Cerca de dez anos depois foi ordenado e começou a ensinar latim na escola primária municipal. Nos anos 1506-1510, ele já havia começado a escrever peças em latim para seus alunos. Os primeiros rascunhos de seu drama Asotus (O Filho Pródigo) datam desse período. Ele assumiu um nome clássico, como era costume entre os humanistas do século XVI. Joris tornou-se Georgius e Van Lanckvelt foi traduzido para Macropédius. Em 1524 foi nomeado diretor da Igreja de São Jerônimo em Liège, escola secundária que floresceu devido às atividades de Macropedius e de outros. Em 1527 Macropedius voltou a 's-Hertogenbosch e no final de 1530 Macropedius já havia se mudado para Utrecht, a maior cidade ao norte da Holanda.
Macropedius,
que aparentemente gozava de alguma fama em seu tempo de ser um católico leal,
foi nomeado diretor. Ele transformou a St. Jerome`s em Utrecht na escola mais
famosa do país. Ele ensinou latim, grego, poesia, retórica e, possivelmente,
hebraico, matemática e teoria da música também. Todos os anos ele compunha
texto e música de uma longa canção escolar latina. Em São Jerônimo, ele
escreveu a maioria de seus livros e peças de latim, que foram publicados não
apenas em Utrecht, mas também em Antuérpia, Basileia, Colônia, Frankfurt, `s-Hertogenbosch,
Paris e Londres. Nos anos de 1552 a 1554, suas obras coletadas foram revisadas
e editadas em dois volumes em Utrecht: Omnes Georgii Macropedii Fabulae
Comicae. As canções foram impressas junto com suas músicas. Depois, ele
escreveu apenas mais uma peça: Jesus Scholasticus. Em 1557 ou 1558, ele renunciou ao cargo de
diretor da escola e deixou Utrecht para retornar ao seu solo natal, Brabant. Na
cidade viveu por mais um ano na Casa dos Irmãos da Vida Comum em `s-Hertogenbosch.
Morreu nesta cidade aos 71 anos durante um período de peste, em julho de 1558,
e foi sepultado na igreja dos Irmãos. Após sua morte, seus agradecidos
ex-alunos ergueram ali uma tumba monumental, com um epitáfio. Eles tinham um
retrato pintado de seu amado mestre, que estava pendurado sobre o túmulo. Desde
então, o túmulo e a pintura desapareceram, assim como a igreja.
Os
sucessos de Macropedius não se limitaram apenas ao
campo do drama. Como professor ou diretor em `s-Hertogenbosch, Liège e Utrecht,
ele teve muitos alunos que mais tarde se tornaram homens influentes no governo,
nas ciências e nas artes. Entre eles estavam o estudioso grego Arnoldus
Arlenius, o filólogo Willem Canter, Johannes Heurnius, professor de medicina na
Universidade de Leyden, o geógrafo Gerardus Mercator, o advogado e amigo de
Guilherme de Orange, Elbertus Leoninus, o impressor Lawrence Torrentinus, que
ficou famoso na Itália e o conhecido médico Johannes Wier, que contestou a
crença na feitiçaria já em 1563. Historicamente Macropedius permaneceu famoso
até pelo menos meio século após sua morte. Em 1565, um grupo de ex-alunos
publicou uma coleção de poemas em homenagem a seu admirado mestre: Apotheosis
D. Georgii Macropedii. No século XVII, Macropedius e suas obras caíram
gradualmente no esquecimento. Suas peças não eram mais encenadas e seus livros
não eram mais reimpressos. As peças foram escritas em latim, enquanto os poetas
e dramaturgos autoconfiantes política e culturalmente, com a apoteose da
República Holandesa cada vez mais usavam sua língua nativa. Só depois de dois
séculos seu nome se tornou reconhecido novamente. O século XX viu vários livros
e artigos sobre o humanista. Em 1972, o norte-americano Thomas W. Best publicou
seu Macropedius na “Série de Autores do Mundo” de New York Twayne.
Nos últimos anos, mais livros e artigos foram publicados na Europa, África do
Sul, Canadá e nos Estados Unidos da América. Suas peças foram traduzidas para o
holandês e o inglês também. Traduções de três peças estão sendo apresentadas e estão disponíveis na
web.
Brabante
Frans van der Hulst era advogado do sul dos Países Baixos e membro do Conselho
de Brabante, era licenciado em lei civil e eclesiástica pela Universidade de
Leuven. Em 1522, leigo, foi nomeado como Inquisidor-geral da Holanda, pelo
imperador Carlos V. Em 5 de dezembro de
1505, ele foi nomeado membro extraordinário do Conselho de Brabante, e em 1º de
maio de 1508 tornou-se membro do conselho. Nesta posição, ele era um dos
principais funcionários do imperador Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico
(1500-1558). Carlos V não estava satisfeito com a Inquisição que, para ele, não
funcionava adequadamente, pois preocupava-se com o crescimento do movimento
liderado pelo protestantismo que se avolumavam, e ameaçavam a consistência
poderosa da igreja e a ordem secular, consoante ao processo de formação do
Estado-nação. Assim seguindo o modelo espanhol, Carlos V, em 23 de abril de
1522, criou um conselho de Inquisição composto por dois clérigos e três leigos,
liderados pelo advogado Frans van der Hulst. Carlos V tomou essas decisões sem
consultar a Igreja. Implantou ele a sua
própria Inquisição, seguindo o modelo da Espanha. A confirmação da igreja veio
pelas mãos de Adriaan Floriszoon Boeyens, seu ex-colega e agora eleito o Papa
Adriano VI, mas eleito graças à pressão política de Carlos V, que entendeu por
bem confirmá-lo neste cargo, e assim o fez em 1º de junho de 1523,
atribuindo-lhe o título de “Universalem et Generalem Inquisitorem”, ou seja, Inquisidor
Papal geral na Holanda. Porém a influência exercida pela igreja sobre Van der
Hulst foi limitada pois, “os inquisidores-gerais adquiriram uma independência
de fato da Inquisição Episcopal e Papal existente”. Mas as iniciativas e
prerrogativas sobre este tribunal de inquisição as mantinham como um poder
temporal.
Como
inquisidor, ele escolheu uma equipe de funcionários qualificados: o advogado
Joost Laurensz, presidente do Grande Conselho de Mechelen, como seu
assessor, sendo que ambos não eram clérigos. A esta comissão seguiu-se a
nomeação de Jacobus Latomus e Ruard Tapper, doutores em Teologia na
Universidade de Leuven; o dominicano Jacob van Hoogstraten e o carmelita
Niklaas van Egmond, ambos inquisidores. Graças à sua oposição aos magistrados
da cidade em relação aos direitos de conduzir os processos judiciais, Frans van
der Hulst não teve tanto sucesso em suprimir as chamadas heresias que Carlos V desejava.
Contudo, isto não impediu de vários protestantes serem executados. Ele, por
exemplo, liderou a investigação de Jacopbus Praepositus, o monge agostiniano
flamengo que começou a pregar visões luteranas na Antuérpia e contra Cornelius
Grapheus, que publicou um livro luterano. Mas Praepositus conseguiu fugir para
a Alemanha. Durante muito tempo, ele não conseguiu cumprir suas funções, já que
rapidamente entrou em conflito com o Tribunal da Holanda. Van der Hulst falsificou
uma ação em 1523 para desacreditar Cornelis Hoen. Quando isso veio à público, e
dado seu comportamento brutal e incompetente, caiu em desgraça como inquisidor
e foi forçado a fugir da Holanda. Em 1524, ele foi acusado e deposto pelo
governador.
O
experimento com um papel de inquisidor leigo tornara-se um fiasco. Para
substituí-lo, posteriormente, Margarida da Áustria, a poderosa Arquiduquesa da
Áustria por nascimento, princesa das Astúrias como esposa de João, e depois
Duquesa consorte de Saboia como esposa de Felisberto II, além de ter sido
Governadora dos Países Baixos de 1507 a 1530, apresentou três novos candidatos
ao papa com a aprovação do Imperador, com a intenção de que o Papa nomeasse obviamente
um deles. Entrementes, para sua surpresa, os três candidatos foram nomeados
inquisidores clericais em 17 de junho de 1524 pelo Papa Clemente VII. Olivier
Buedens de Ypres para assumir seus deveres no condado de Flandres, Nicolaas
Houzeau de Bergen para Henegouwen Hainaut e Nicolaas Coppin de Leuven para
Brabante, na Holanda. Curiosamente todos os três nomeados inquisidores papais
tinham laços afetivos estreitos com a Universidade de Leuven. Criou-se assim
uma poderosíssima inquisição secular, a qual foram adicionados alguns membros
dos diversos Conselhos Provinciais. Mesmo com a nomeação de conselheiros
especiais nos conselhos de justiça provinciais não conseguiu evitar que o apoio
do protestantismo na Holanda aumentasse lentamente, mas de forma constante.
Erasmo de Roterdã o considerou como uma figura hostil e ficou satisfeito por
ter sido deposto.
Uma
boutade um tanto fictícia, de Frans van der Hulst na Antuérpia, surge em
boa parte da passagem dramática
cinematográfica pode ser vista no filme Em busca da carta proibida,
título original: Storm - Letter of Fire, lançado em 2017, escrito por
Karin van Holst Pellekaan, dirigido por Dennis Bots, e estrelado por Angela
Schijf, Egbert Ja Weeber, Loek Peters, Maarten Heijmans, Nick Golterman, Peter
Van den Begin, Tibo Vandenborre e Yorick van Wageningen. O filme se passa na
cidade de Antuérpia, uma cidade portuária às margens do rio Escalda, na
Bélgica, com uma história social que data da Idade Média. Em seu centro, o
centenário Diamantkwartier é ocupado por milhares de comerciantes, lapidadores
e polidores de diamantes. A arquitetura flamenga renascentista da Antuérpia é
evidenciada pelo Grote Markt, uma praça central da cidade velha, nos idos de
1521, demonstrando uma Europa devastada por guerras religiosas, nos tempos da
Reforma Protestante, e narra a história social de Storm Voeten, um garoto de 12
anos de idade, filho de Klaas, dono de uma gráfica. Certo dia, Klaas, que é
preso pelo inquisidor Frans van der Hulst por imprimir uma carta do reformador
Martinho Lutero proibida pela igreja. Com isso, Storm é forçado a também
procurar a tal carta, já que ela poderá ser a chave para libertar seu pai. Nele
os cidadãos de Antuérpia acabam por se rebelarem contra o inquisidor Frans van
der Hulst em defesa do pai de Storm.
Quando
os portugueses abriram a rota marítima para a Índia, Antuérpia se tornou um
centro de comércio ainda mais proeminente, porque o rei de Portugal para lá
enviava quase tudo que chegava a Lisboa, vindo da Ásia; as corporações da
cidade compravam carregamentos inteiros que daí seguiam para o resto do mundo
ofuscando o brilho comercial de Veneza. Transferiram dessa forma a feitoria que
na Idade Média mantinham em Bruges. Este fato social revelou-se da maior
importância para a cidade. Com os portugueses, instalou-se igualmente forte colônia
mercantil espanhola, passando os negócios das coroas ibéricas a fazer-se majoritariamente.
Assim, ao longo conturbado século XVI, Antuérpia tornou-se um centro da “economia
do mundo”. O volume de negócios financeiros era de tal monta que em 1519 a
sucursal alemã a empresa Fugger emprestou mais de meio milhão de florins de
ouro a Carlos V para patrocinar sua campanha a Imperador do Sacro Império
Romano Germânico. A prosperidade desta cidade prosseguiu ao longo desse século,
atraindo assim inúmeros judeus, expulsos de Portugal, - na sequência da
implementação de política antissemita desencadeada pelo governo absolutista português,
- que buscavam nessa cidade livre grandes oportunidades de enriquecimento. Essa
comunidade de exímios mercadores e artesãos enriqueceu o negócio da indústria
dos diamantes e, consequentemente, a própria cidade, que passou a contar com a
colaboração de artífices especializados no trato comercial. Para além de centro
económico, Antuérpia era igualmente centro cultural e intelectual. Ali nasceu
em 1599 o pintor Anthony van Dyck. No entanto, a sua pujança foi
irremediavelmente abalada por problemas religiosos depois de 1567, data em que
tropas espanholas saquearam violentamente a cidade. Antuérpia foi de novo
atacada em 1584, sendo, dessa feita, forçada a render-se aos espanhóis em 1585.
São
muito característicos desta cidade os bulevares que vieram substituir as
muralhas que circundavam Antuérpia. O interior do seu núcleo histórico guarda a
Catedral de Notre Dame, igreja gótica dos séculos XIV e XV, que constitui o
maior templo da Bélgica, com a sua flecha de quase 122 metros. Das obras de
arte mais significativas desse templo, destacam-se pinturas de Petrus Paulus
Rubens, artista que viveu a maior parte da sua vida nessa cidade. Outros
edifícios dignos de destaque são a Igreja de São Paulo - que contém obras de
Caravaggio e de Van Dyck - e a Câmara (Prefeitura), ambos terminados no século
XVI. As construções medievais estão ainda presentes no lugar praticado do
mercado público. Destacam-se também os Jardins Botânico e Zoológico e o Museu de
Belas Artes, onde se encontram expostas algumas das obras-primas dos mestres
flamengos, reconhecidos pela sua excelência na representação de pormenores
pictóricos, como sejam as joias e os tecidos, que têm uma incrível semelhança
com os objetos reais, para além da qualidade da cor exibida nos seus quadros. Enfim,
a feitoria em Antuérpia, também referida como feitoria da Flandres, foi uma
feitoria portuguesa instalada para administrar o comércio e distribuição dos
produtos vindos do oriente na Europa. Fundada pouco depois da chegada à Índia,
funcionou como extensão da Casa da Índia entre 1508 e 1549, resultando da
transferência para a Flandres da anterior feitoria portuguesa existente em
Bruges. A feitoria portuguesa deu um importante contributo para o florescimento
de Antuérpia, projetando-a como centro da economia do mundo no processo de globalização que se iniciava no século XVI.
Tommaso De Vio, reconhecido Caetano |
Os
julgamentos sobre a importância de um fenômeno histórico podem ser, por um
lado, de valor ou de fé, isto é, quando eles se referem ao que, por si só, é
“interessante” ao que, por si só, é duradouramente “válido em si”. Por outro
lado, metodologicamente, podem referir-se à sua influência como fator causal
sobre o processo histórico. Trata-se, portanto, de julgamentos de imputação
histórica, se partirmos, deste último ponto de vista e investigarmos o
significado a ser atribuído aquele dogma em virtude de suas consequências
histórico-culturais, mas devemos ter por ele alta consideração. Por ele foi
destroçado o movimento que Johan van Oldenbarnevelt liderou. Ele estudou direito
em Leuven, Bourges, Heidelberg e Pádua, e viajou pela França e Itália antes de
se estabelecer em Haia. Ele apoiou Guilherme, o Silencioso, em sua
revolta contra a Espanha e lutou no exército de Guilherme. Em seus últimos
anos, ele apoiou os arminianos na controvérsia político-religiosa que dividiu a
jovem República Holandesa. Ele é o fundador da Companhia das Índias Orientais
Holandesas. Em 1576 obteve o importante posto de pensionista de Roterdã, cargo
que o levou a ser membro oficial dos Estados da Holanda. Nessa função, sua
indústria, conhecimento singular dos negócios e poderes persuasivos de discurso
ganharam rapidamente para ele uma posição de influência. Foi ativo na
promoção da União de Utrecht (1579) e na oferta do condado da Holanda e da
Zelândia a Guilherme, o Silencioso, impedida pela morte de Guilherme em
1584.
Ele
era um feroz oponente das políticas do conde de Leicester, o governador-geral deste
período histórico, e em vez disso favorecia Maurício de Nassau, filho de Guilherme.
Leicester partiu em 1587, deixando o poder militar na Holanda para Maurice.
Durante o governo de Leicester, Van Oldenbarnevelt representou o líder da forte
oposição oferecida pelos Estados da Holanda à política centralizadora do
governador. Durante os dois anos críticos após a retirada de Leicester, a
liderança do advogado impediu que as Províncias Unidas entrassem em colapso de
governabilidade sob suas próprias tendências separatistas inerentes. Isso
impediu que as Províncias Unidas se tornassem uma conquista fácil para o
formidável exército de Alexandre de Parma. Também de boa sorte para a Holanda,
a atenção de Filipe II da Espanha estava em sua maior fraqueza, em vez disso se
concentrou em uma invasão da Inglaterra. A falta de atenção da Espanha, juntamente
com a falta de um governo central e organizado da Província Unida, permitiu que
Van Oldenbarnevelt assumisse o controle dos assuntos administrativos. Sua
tarefa foi facilitada por receber o apoio sincero de Maurício de Nassau,
que, após 1589, ocupou o cargo de Stadholderate de cinco províncias. O stadtholder
representou a substituição do duque ou conde de uma província durante o período
da Borgonha e dos Habsburgos.
O
título na política foi usado para o oficial encarregado de manter a paz e a
ordem provincial no início da República Holandesa e, às vezes, tornou-se de
fato chefe de Estado da República Holandesa durante os séculos XVI a XVIII, o
que era um papel típico hereditário. Ele também foi Capitão-General e Almirante
da União. Os interesses e ambições de Van Oldenbarnevelt e Maurice não se
chocaram. Os pensamentos de Maurice estavam centrados em treinar e liderar
exércitos, e ele não tinha nenhuma capacidade especial como estadista ou desejo
de política. A cisma na Igreja inglesa tornou-se inevitável no reinado de Jaime
I, desde que a coroa e os puritanos vieram a diferir, de maneira dogmática
sobre esta doutrina. Repetidas vezes ela foi encarada e combatida como o maior
elemento de perigo político no Calvinismo pelos detentores de poder. O Sínodo
de Dort também reconhecido como o Sínodo de Dordt ou de Dordrecht foi um sínodo
internacional que teve lugar em Dordrecht, na Holanda, de 1618 a 1619 pela
Igreja Reformada Holandesa, com o objetivo de regular uma séria controvérsia
nas Igrejas Holandesas iniciada pela ascensão do arminianismo. A primeira
reunião do sínodo ocorreu a 13 de novembro de 1618 e a última, a 154ª foi a 9
de maio de 1619. Foram também convidados representantes com direito de voto
vindos de oito países estrangeiros.
O
nome Dort era usado como domínio livre em inglês para a cidade holandesa
de Dordrecht. O sínodo decidiu pela rejeição das ideias arminianas,
estabelecendo a doutrina reformada em cinco pontos: depravação total, eleição
incondicional, expiação limitada, vocação eficaz ou graça irresistível e
perseverança dos santos. Estas doutrinas, descritas no documento final chamado Cânones
de Dort, são também reconhecidas como os Cinco pontos do calvinismo.
Os grandes sínodos do século XVII de Dordrecht e Westminster, em relação ao
sacramento da ordem, é válido o princípio da implicação intrínseca entre jurisdição
e ordem, entre capacitação sacramental e autoridade jurídica, além de numerosos
outros menores, fizeram de sua elevação à autoridade canônica o objetivo
principal de seus trabalhos. Ele serviu como pedra de toque a inúmeros
heróis da Igreja militante, e, causou cismas na Igreja e foi o grito de guerra
de novas e grandes revivências. Ipso facto, o Grande Cisma foi o evento
que causou a ruptura da Igreja Cristã em duas, por um lado, a Igreja Católica
Apostólica Romana e, por outro lado, a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, ocorrido
a partir do ano 1054, quando os líderes da Igreja de Constantinopla e da Igreja
de Roma se excomungaram mutuamente.
Não estamos interessados na questão do que era abstrato e oficialmente ensinado nos compêndios éticos de seu tempo e espaço singular, por maior significado prático que isto possa ter tido através da influência ideológica da disciplina da Igreja, do trabalho pastoral e da pregação. Estamos mais interessados em algo inteiramente diferente: na influência daquelas sanções psicológicas que, originadas da crença religiosa e da prática da religião, orientavam a conduta e a ela prendiam o indivíduo. Essas sanções eram, em larga medida, derivadas das peculiaridades das ideias religiosas. O homem singular deste tempo preocupava-se com dogmas abstratos, cuja extensão, por si só pode ser entendida quando percebemos a conexão de sentido desses dogmas com os interesses religiosos práticos. São indispensáveis algumas reflexões sobre o dogma, que, ao leitor não versado em teologia, parecerão obscuras, quanto serão precipitadas e superficiais para o teólogo. Em Calvino, o decretum horribile derivou não da experiência religiosa, como para Lutero, mas da necessidade lógica de seu pensamento; sua importância aumenta em cada progresso da consciência deste pensamento religioso. Max Weber (2003) lembra que, seu interesse religioso não está no homem, mas em Deus. Melhor dizendo, é algo omnipresente em que Deus não existe para os homens, mas estes por causa de Deus. E tudo o que acontece, até mesmo que parte dos homens seja acolhida para a bem-aventurança, só pode ter algum sentido como meio para a glória e a majestade de Deus.
Aplicar padrões de Justiça terrena aos Seus desígnios soberanos é desprovido de sentido e é um insulto à Sua Majestade, uma vez que Ele, e apenas Ele, é livre, não está submetido a lei nenhuma. Seus desígnios só podem ser entendidos, ou mesmo conhecidos, por nós, na medida em que seja de Seu agrado nos revelar. Tudo mais, inclusive o significado de nosso destino, está envolto em mistério, cuja penetração seria impossível e cujo questionamento seria presunçoso. O condenado reclamar do seu destino seria o mesmo, comparativamente, que os animais deplorassem o fato de não terem nascido homens, porque tudo que é de carne está separado de Deus por um abismo, e Dele merece apenas a morte eterna, na medida em que Ele não tiver deliberado diferentemente para a glorificação de Sua Majestade. Sabemos apenas que uma parte da humanidade está salva, e outra, condenada. Pressupor que o mérito humano ou a culpa no sentido religioso participem da determinação deste destino, no sentido weberiano, seria algo como considerar os desígnios absolutamente livres de Deus, estabelecidos para a eternidade, passíveis de mudança por influência humana, e isto constitui uma contradição impossível. Desapareceu o Pai Celestial do Novo Testamento tão humano e compreensível, que se alegra com o arrependimento de um pecador como a mulher que encontrou com a moeda de prata perdida. Seu lugar foi ocupado por um ser transcendental, que, em seus desígnios incompreensíveis, decidiu seu destino e regulou os detalhes do cosmos na eternidade. A graça de Deus, uma vez que seus desígnios não podem mudar, é tão impossível de ser perdida por aqueles a quem Ele a concedeu, como é inatingível para aqueles aos quais Ele a negou. Aquele grande processo histórico-religioso da eliminação da magia do mundo, que começara com os velhos profetas hebreus em conjunto com o ideário helenístico.
Repudiou todos os meios mágicos de salvação como superstição e pecado, chega aqui à sua conclusão lógica. O puritanismo genuíno rejeitava até todos os sinais de cerimônia religiosa na sepultura e enterrava seus entes mais próximos e mais queridos sem cânticos ou ritual, a fim de que nenhuma superstição, nenhuma crença nos efeitos de forças de salvação mágicas ou sacramentai, pudessem imiscuir-se. Combinada com as rígidas doutrinas da absoluta transcendência de Deus e da corrupção de tudo que se refere à matéria, esta solidão interna do indivíduo contém, por sua vez e imediatez, a razão da atitude inteiramente negativa do Puritanismo para com todos os elementos sensuais e emocionais na cultura e religiosidade, pois são inúteis para a salvação analogamente e fomentam ilusões sentimentais e superstições idólatras. Isto prepara a base para um antagonismo fundamental para com todos os tipos de culturas sensualistas, no entanto forma uma das razões deste individualismo malgrado de tendência pessimista e despido de ilusões, que, compreendemos até hoje, pode ser identificado no caráter nacional e nas instituições dos povos de passado puritano, em chocante contraste com os ângulos bem diferentes dos quais, a posteriori o Iluminismo encarou os homens.
Vale
lembrar que as 95 Teses ou Disputação do Doutor Martinho Lutero (1483-1546)
sobre o poder e eficácia das Indulgências são uma lista de proposições para uma
disputa acadêmica escrita em 1517 por Martin Lutero, professor de teologia
moral da Universidade de Vitemberga, Alemanha, as quais iniciaram a Reforma
Protestante, uma cisma da Igreja Católica que transformou profundamente a
Europa. Lutero enviou as Teses anexadas a uma carta a Alberto de Mainz, o
Arcebispo de Mainz, em 31 de outubro de 1517, data que é considerada historicamente
o início da Reforma Protestante e que é comemorada anualmente como o Dia da
Reforma Protestante. Lutero também pode ter afixado as Teses na porta da Igreja
do Castelo de Vitemberga e de outras igrejas em Vitemberga, de acordo com o
costume da Universidade, em 31 de outubro, ou em meados de novembro. As Teses
foram reimpressas pelo processo gráfico in statu nascendi traduzidas e
distribuídas por grande parte da Alemanha e também da Europa. Iniciou-se uma “guerra
panfletária” como meios de comunicação com o pregador de indulgências Johann
Tetzel, contribuindo para a difusão positivas das ideias e da fama reformista de
Lutero. Os superiores eclesiásticos de Lutero de forma autoritária o julgaram
de heresia, o que culminou na sua excomunhão em 1521. Embora a publicação das
Teses seja o início da Reforma Protestante, Lutero não considerava as
indulgências tão importantes como outras questões teológicas que dividiriam a
igreja, como a justificação pela fé e o livre arbítrio. Sua descoberta acerca
destas questões viria mais tarde tornar-se um busílis, sendo que ele não via a
escrita das Teses como divergente de suas crenças e contrárias daquelas da
Igreja Católica.
A
Martin-Luther-Universität Halle-Wittenberg, também designada como MLU, é uma
universidade orientada para a pesquisa social localizada nas cidades de Halle
an der Saale e Vitemberga na Saxónia-Anhalt, Alemanha. Foi fundada em 1502 por
Frederico III da Saxônia e a Universidade de Halle foi fundada em 1694 por
Frederico I da Prússia, antes denominado Frederico III de Brandemburgo. A atual
Universidade Martinho Lutero formou-se através da fusão de duas instituições
universitárias. Uma delas fundada em Vitemberga em 1502 e outra em Halle, no
ano de 1694. A história dessas duas instituições universitárias teve momentos
marcantes. Por um lado, em Vitemberga lecionaram Martinho Lutero e Filipe
Melâncton e, através desses dois personagens históricos, tornaram-se esta
cidade e sua universidade centros da Reforma Protestante na Alemanha. Por outro
lado, a Universidade de Halle tornou-se, em torno de 1700, o ponto de partida
do Renascimento alemão, principalmente devido a atuação do jurista Christian
Thomasius e do filósofo Christian Wolff. Em 1813, Napoleão fechou a
Universidade de Vitemberga por curto período. Devido à reordenação territorial
após as guerras napoleônicas, ambas universidades se unificaram em Halle em 1817. Essa especificidade das instituições encontra-se marcada no brasão
duplo da Universidade Martinho Lutero.
Nas Teses, Lutero afirmou que o arrependimento
requerido por Cristo para que os pecados sejam perdoados envolve o
arrependimento espiritual interior e não meramente uma confissão sacramental
externa. Ele argumentou que as indulgências paradoxalmente levam os cristãos a
evitar o verdadeiro arrependimento e a tristeza pelo pecado, acreditando que
podem renunciá-lo comprando por um valor monetário uma indulgência. Estas
também, de acordo com ele, desencorajam os cristãos de dar aos pobres e
realizarem outros atos de misericórdia, acreditando que os certificados de
indulgência eram mais valiosos espiritualmente. Apesar de Lutero ter afirmado
que suas posições sobre as indulgências estavam de acordo com as do papa, as
teses desafiaram uma bula pontifícia do século XIV, as quais afirmavam que “o
papa poderia usar o tesouro do mérito e as boas obras dos santos do passado
para perdoar a punição temporal pelos pecados”. As Teses são formuladas como
proposições a serem discutidas em debate não representariam necessariamente as
opiniões de Lutero, porém ele as esclareceu posteriormente na obra intitulada: Explicações
da Disputa sobre o Valor das Indulgências. Em fevereiro de 1518, o papa
Leão solicitou ao chefe dos eremitas agostinianos, a ordem religiosa de Lutero,
para convencê-lo religiosamente a parar de difundir suas ideias sobre
indulgências.
Lutero
recebeu uma convocação para Roma em agosto de 1518. Ao apresentar suas opiniões mais abertamente, Lutero parece ter
reconhecido que as implicações de suas crenças o afastavam do ensino oficial do
que inicialmente sabia. Ele disse mais tarde que talvez não tivesse iniciado a
controvérsia se soubesse até onde esta o conduziria. As Explicações
foram conhecidas como a primeira obra da Reforma Protestante de Lutero. Johann
Tetzel respondeu às Teses solicitando que Lutero fosse queimado por praticar
heresia e que o teólogo Konrad Wimpina escrevesse 106 teses contra a obra de
Lutero. Tetzel defendeu estas em uma disputa perante a Universidade Europeia
Viadrina em janeiro de 1518. Em torno de 800 exemplares da disputa impressa
foram enviados para serem vendidos em Vitemberga, mas estudantes da
Universidade as pegaram do livreiro e as queimaram. Lutero ficou cada vez mais
temeroso de que a situação estivesse fora de controle e que ele estaria pondo
sua vida em perigo. Para aplacar seus oponentes, ele publicou laboriosamente a
questão tópica religiosa inferida sob o tema Um Sermão Sobre a Indulgência e
a Graça, que não desafiou a autoridade do papa. Este panfleto, escrito em
alemão, era muito curto e de fácil compreensão para os leigos.
Sendo este o primeiro trabalho bem-sucedido de Lutero, acabou por ser reimpresso vinte vezes. Johann Tetzel respondeu “com uma refutação ponto-a-ponto, citando a Bíblia e teólogos importantes”, porém, seu panfleto não era tão popular quanto o de Martin Lutero. A resposta de Lutero ao panfleto de Tetzel, por outro lado, foi outro grande sucesso comunicativo de publicação. Outro crítico proeminente das Teses foi João Maier, amigo de Lutero e teólogo da Universidade de Ingolstadt. Maier escreveu uma refutação, destinada ao bispo de Eichstätt, intitulada Os Obeliscos. O nome foi utilizado em referência aos obeliscos usados para marcar passagens heréticas em alguns textos na Idade Média, sendo este um ataque pessoal áspero e inesperado, acusando Lutero de heresia e estupidez. Lutero respondeu em privado com Os Asteriscos, intitulado após as marcas de asteriscos usadas para destacar textos importantes. A resposta de Lutero foi violenta e expressou a opinião que Maier não compreendeu a matéria que ele escreveu. A disputa entre Lutero e Maier tornar-se-ia pública no debate de Leipzig em 1519. Lutero foi convocado pela autoridade do papa para defender-se contra acusações de heresia de Tomás Caetano em Augsburgo, em outubro de 1518.
A Universidade de Ingolstadt, ou, na sua forma portuguesa, de Ingolstádio, foi fundada em 26 de junho de 1472 por Luís IX da Baviera (1417-1479) e seu primeiro Chanceler foi Wilhelm von Reichenau (1426-1496), bispo de Eichstätt. Consistia de cinco faculdades: Humanidades, Ciências, Teologia, Direito e Medicina, todas as quais figuravam no Hoheschule (high school). A universidade foi criada segundo o modelo da Universidade de Viena e seu principal objetivo era representar a divulgação da fé cristã. A universidade encerrou as suas atividades em maio de 1800, por ordem do Príncipe Eleitor Maximiliano IV, mais tarde Maximiliano I, Rei da Baviera, sendo transferida para Landshut, quando Ingolstadt estava sendo ameaçada pelos franceses, até ser realocada definitivamente para a cidade de Munique em 1826, pelo rei Luís I, da Baviera. Em 1802, a universidade passou a se chamar oficialmente Universidade Luís Maximiliano em homenagem a seu fundador e ao imperador anterior. Em termos quantitativos, é a terceira maior universidade da Alemanha com aproximadamente 46.000 estudantes. A Universidade possui 657 Professores e 18 faculdades. Os alunos são cuidadosamente selecionados com base em sua formação educacional, capacidades intelectuais e competências sociais. É amplamente reconhecida por sua relação professor-aluno muito favorável, permitindo aos funcionários de ensino para oferecer experiências de aprendizagem altamente interativo e intensivo. Ocorreram parcerias de renome em todo o mundo e com dois programas de duplo diploma proporciona excelentes oportunidades de estudo internacionais. Tommaso De Vio, reconhecido como Caetano ajudou na redação do projeto de excomunhão contra Lutero em 1519.
Não permitiu que Lutero discutisse com ele sobre suas
supostas heresias, mas identificou dois pontos de controvérsia. A primeira foi
contra a tese 58, que afirmava que “o papa não poderia usar o tesouro do mérito
para perdoar a punição temporal do pecado”. Isto contradiz a bula pontifícia
Unigênito, promulgada por Clemente VI em 1343. O segundo ponto era saber se
alguém poderia ter certeza de que tinha sido verdadeiramente perdoado quando
seus pecados foram absolvidos por um padre. As Explicações de Lutero
sobre a tese sete afirmam que se poderia basear-se na promessa de Deus, mas
Caetano argumentou que o humilde cristão nunca deve presumir estar certo de sua
posição perante Deus. Lutero se recusou a retrair-se e “pediu que o caso fosse
revisado por teólogos universitários”. Este pedido foi negado, então Lutero
apelou ao papa antes de sair de Augsburgo. Lutero foi finalmente excomungado em
1521 depois que ele queimou a bula pontifícia que o ameaçava a se retratar ou
então receber a excomunhão. A controvérsia sobre as indulgências desencadeada pela
divulgação pública pelas Teses marcou o início da Reforma Protestante, uma
cisma na Igreja Católica que iniciou profundas e duradouras mudanças sociais e
políticas na Europa. Lutero declarou que a questão das indulgências era
insignificante em relação às controvérsias que ele iria enfrentar, como o
debate com Erasmo de Roterdã sobre o livre arbítrio, sendo que nem ele
viu a controvérsia como importante para sua descoberta intelectual sobre o
evangelho.
Mais
tarde, Lutero escreveria que na época em que formulou as Teses ele permaneceu
um papista, e não parecia pensar que as Teses representariam uma ruptura com a
doutrina católica estabelecida. No entanto, foi fora da controvérsia das
indulgências que o movimento intitulado Reforma começou, todavia, a
controvérsia propeliu Lutero para a posição de liderança que ele iria
desempenhar nesse movimento. As Teses também tornaram evidente que Lutero
acreditava que a igreja não estava pregando corretamente e que isto
colocava os leigos em grave perigo. As teses contradiziam o decreto do Papa
Clemente VI, que afirmava que as indulgências são “o tesouro da igreja”. Este
desprezo pela autoridade papal pressagiou conflitos posteriores. Em 31 de
outubro de 1517, o dia em que Lutero enviou suas teses à Alberto, foi
comemorado como o início da Reforma já em 1527, momento em que Lutero e
seus amigos brindaram com um copo de cerveja para comemorar o “pisoteio das
indulgências”. A publicação das Teses foi estabelecida na historiografia da
Reforma como o início do movimento por Filipe Melâncton na obra Historia de Vita
et Actis Lutheri, de 1548. Durante o Jubileu da Reforma de 1617, o
centenário de 31 de outubro foi comemorado com uma procissão à Igreja de
Vitemberga, onde Lutero teria afixado as teses. Uma gravura foi feita demonstrando
Lutero escrevendo as Teses na porta da igreja com uma gigantesca pena, a qual
penetra na cabeça de um leão que simboliza o Papa Leão X. Em 1668, o dia 31 de
outubro foi oficializado como o Dia da Reforma Protestante, um festival
anual da Saxônia e que se espalhou por terras.
A
análise de Max Weber precisa as consequências inevitáveis dentro do movimento
protestante, das tendências ascéticas da conduta dos primeiros adeptos que
formam, em princípio a mais forte antítese da relativa fraqueza moral do
luteranismo. A gratia amissibilis luterana, que podia ser sempre
reconquistada através da contrição penitente, não continha em si nenhuma sanção
para o que é, para nós, o resultado mais importante do protestantismo ascético:
uma ordenação racional sistemática da vida moral como um todo. A fé luterana
deixou, deste modo, inalterada a espontânea vitalidade da ação impulsiva e da
emoção ingênua. Faltava o estímulo para o constante autocontrole e, assim, para
uma regulamentação deliberada da vida de cada um, introduzido pela melancólica
doutrina de Calvino. Um gênio religioso como Lutero podia viver sem
dificuldades nesta atmosfera de liberdade e, enquanto seu entusiasmo fosse
bastante poderoso, sem perigo de recair no status natutalis. Esta forma
de piedade simples, sensível e peculiarmente emocional, que é o ornamento de
muitos dos mais destacados tipos do luteranismo, assim como a sua moralidade
livre e espontânea, encontra poucos paralelos no genuíno puritanismo, mas muito
mais no suave anglicanismo de homens como Hookes, Chillingsworth etc. Para o
luterano comum, mesmo para o mais convicto apoiado nas ideias da Reforma, nada
era mais certo que ele estar apenas temporariamente – enquanto a confissão ou o
sermão durassem – acima do status naturalis. Havia uma grande diferença,
que era muito chocante entre os padrões morais das cortes e dos príncipes
reformados e dos luteranos, os últimos sendo frequentemente degradados pela
embriaguez e pela vulgaridade. O fato é que ao luteranismo, em razão de sua
doutrina de graça, faltava uma sanção psicológica da conduta sistemática que o
compelisse à racionalização metódica da vida.
Bibliografia
geral consultada.
MENEZES, Arlete Antônia Schmidt, Sobre o Papel da Educação na Concepção Religiosa de Martinho Lutero. Dissertação de Mestrado em Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2005; DREHER, Martin Norberto, “Martinho Lutero (1483-1546) e Tomás Münzer (1489-1525): A Justificação Teológica da Autoridade Secular e da Revolução Política”. In: Veritas, vol. 51, nº 3. Porto Alegre, pp. 145-168, 2006; SANTOS, João Henrique dos, Da Conciliação Possível à Ruptura: Uma Análise dos Documentos de 1520 de Martinho Lutero. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião. Instituto de Ciências Humanas. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2009; MEDEIROS, Rúbia Mércia de Oliveira, De Partida, Deslocamento e Exílio: Escrever com a Imagem o Processo de Subjetivação e Estética em Filmes-carta. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação. Escola de Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012; MIGLIORIN, Cezar, “O Ensino de Cinema e a Experiência do Filme-carta”. In: Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Brasília, vol.17, nº1, jan./abr. 2014; COURTOIS, Sébastien de, Sur les Fleuves de Babylone, nous Pleurions. Le Crépuscule des Chrétiens d`Orient. Paris: Éditions Stock, 2015; GIELIS, Gert; SOEN, Violet, O Escritório Inquisitorial nos Países Baixos Habsburgo do Século XVI: Uma Perspectiva Dinâmica. Cambridge: Cambridge University Press, 09 de janeiro de 2015; WACHHOLZ, Wilhelm, “O Pensamento de Martim Lutero sobre Razão e Revelação na Igreja, na Política e na Economia”. In: Dossiê: Lutero e a Reforma: 500 anos, vol. 14, nº 44, out./dez. 2016; SILVA, William Francisco, Educação em Martinho Lutero e em Paulo Freire: Tessitura de Vida, Conhecimento e Emancipação na Pró Ludus (Gravatá-PE). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação Contemporânea. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2018; BERZOSA, Alfonso Ropero, “La Leyenda Negra: ¿Fue Lutero un Oportunista?”. In: Actualidad Evangélica, 13 de junio de 2019; COSTA, Ramon Alberto Machado, Divination Artificia na República das Letras: Profecia e Divinação no de Occulta Philosophia de Agríppa de Netteshein (1509-1533). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Guarulhos: Universidade Federal de São Paulo, 2021; entre outros.
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