quinta-feira, 22 de abril de 2021

Clint Eastwood - Drogas, Cinema & Valor Abstrato da Velhice.

Fui aconselhado a não fazer praticamente nada do que fiz até hoje”. Clint Eastwood


Ator e diretor de cinema, músico e político, Clint Eastwood é um grande defensor das práticas de liberdade e individualidade, tudo isso vivendo e trabalhando num ambiente norte-americano amplamente dominado pelas ideias coletivistas. Aos 88 anos, o ator e cineasta reivindica um papel social bastante incomum para sua carreira: o de um traficante de drogas idoso que é apreendido transportando US$ 3 milhões em cocaína de Michigan (EUA) até o México. O longa-metragem reúne o cineasta com o roteirista Nick Schenk, que assinou o fabuloso Gran Torino (2008), apresentado pelo ator/diretor como “um pequeno filme”, é a sua trigésima realização que acaba de obter um dos seus maiores sucessos comerciais. A trama social foi inspirada na história real de Leo Sharp, nascido na cidade de Michigan, Indiana e criado na cidade de Detroit, Michigan. Sharp lutou na Campanha Italiana na 2ª guerra mundial e recebeu a Medalha de Estrela de Bronze por seus serviços. Sharp afirmou ter sido dono de uma pequena companhia aérea que acabou falindo. Mais tarde se tornou horticultor e florista reconhecido por hibridizar novas raças populares de flores, especificamente o daylily, a saber, um pequeno gênero botânico de plantas com flores pertencentes a família Hemerocallidaceae. O nome simboliza a Hemeroccallis com sua raiz no grego, significando “dia e beleza”, ou seja, beleza de um dia, fato social que se refere à duração de um dia de suas flores. Também são reconhecidas como lírio-de-um-dia. Leo Sharp foi preso por contrabando em 2011, quando foi considerado o “transportador” de drogas mais velho e mais prolífico do mundo 

Do ponto de vista técnico-metodológico e como de costume, o cineasta Eastwood reuniu um elenco estrelado ao seu redor com Bradley Cooper, Michael Peña, Laurence Fishburne, Dianne Wiest, Taissa Farmiga e sua filha, Alison Eastwood. O filme de 2018, The Mule, é baseado na vida de Sharp, com Clint Eastwood interpretando Earl Stone, baseado em Sharp e Bradley Cooper interpretando “Colin Bates”, respaldado no agente estatal Jeff Moore representante da Drug Enforcement Administration (DEA). É um órgão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América encarregado como Aparelho de Estado, da repressão e controle de narcóticos. O órgão foi criado em 1973. Seu mandato inclui a repressão doméstica ao narcotráfico e crimes relacionados às drogas, dividindo responsabilidades com o FBI, uma unidade de polícia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, servindo tanto como uma polícia de investigação quanto serviço de inteligência interno (contra inteligência). O FBI tem jurisdição investigativa sobre as violações de mais de duzentas categorias de crimes federais. Seu lema é Fidelity, Bravery, Integrity. Cinquenta e seis escritórios locais estão localizados nas principais cidades de todo o território dos Estados Unidos da América (EUA), bem como também em mais de 400 agências residentes em cidades menores, por todo o país, e mais de 50 escritórios internacionais estão localizadas em embaixadas norte-americanas ao redor do mundo, além de ser o único órgão dos Estados Unidos encarregado de investigações do narcotráfico no exterior.

O filme The Mule é um drama criminal norte-americano de 2018, produzido e dirigido por Clint Eastwood, que também desempenha o papel principal. O roteiro, de Nick Schenk, é baseado no artigo do The New York Times: “A mula de drogas de 90 anos do Cartel de Sinaloa”, de Sam Dolnick, que narra a história social de Leo Sharp, um veterano da 2ª guerra mundial que se tornou uma “mula” do Cartel de Sinaloa em seus 80 anos de idade. É o primeiro projeto de Eastwood desde Trouble with the Curve, de 2012, e seu primeiro papel principal em um filme dirigido por ele desde Gran Torino, de 2008. As filmagens começaram em junho de 2018, ocorrendo em Atlanta e Augusta, na Geórgia, com outros locais de filmagem em Las Cruces, Novo México. Earl Stone (Clint Eastwood), de 80 anos, é um premiado horticultor e veterano da Guerra da Coréia. Em Peoria, Illinois, ele está enfrentando a ruína financeira e está afastado de sua ex-esposa, Mary (Dianne Wiest), e sua filha, Iris (Alison Eastwood), por sempre colocar o trabalho antes da família. Ele ainda é amigo de sua neta, Ginny, a atriz Taissa Farmiga, e comparece ao ensaio do casamento dela. Desesperado por dinheiro, ele aceita uma oferta do amigo de uma das damas de honra de Ginny e se torna uma “mula” que transporta cocaína por Illinois para um cartel de drogas mexicano. Enfrentando pouca suspeita devido à sua idade, raça, história criminal impecável e aderência estrita às leis de condução, Earl é confiado a transportar enormes quantidades de drogas e recebe quantias em dinheiro. Com o dinheiro que obtém do tráfico, ele compra uma camionete, resolve seus problemas financeiros, paga pela renovação do Vancouver Fashion Week e pelo casamento e educação da neta. Ele se torna amigável com os membros do cartel, que o chamam de Tata (“avô”).  

Conceptualmente droga representa historicamente “toda e qualquer substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo modifica suas funções”. As drogas naturais são obtidas e extraídas tecnicamente através de determinadas plantas, de animais e de alguns minerais. Temos como exemplo: a cafeína (do café), a nicotina (presente no tabaco), o ópio (presente na papoula) e o THC - Tetrahidrocanabiol (da cannabis). As drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso técnicas especiais. O termo “droga” presta-se a várias interpretações sociais e conteúdos de sentido distintos. Para o senso comum urbano é uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, modificando-lhe as funções, as sensações, o humor e o comportamento. As drogas estão classificadas em três formas de categorias sociais: a) as estimulantes, b) os depressores e, c) os “perturbadores das atividades mentais”. O termo droga envolve os analgésicos, estimulantes, alucinógenos, tranquilizantes e barbitúricos, além do álcool e substâncias voláteis. As psicotrópicas são as drogas que tem tropismo e afetam o sistema nervoso central, modificando as atividades psíquicas e o comportamento. Essas drogas podem ser absorvidas de várias formas no corpo: por injeção, por inalação, via oral, injeção intravenosa ou aplicada via retal (supositório). O crack é uma droga, geralmente fumada, “feita a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio”. É a forma “impura de cocaína” e não um subproduto. O nome deriva do verbo “to crack”, que significa “quebrar”, devido aos pequenos estalos produzidos nos cristais (“as pedras”) ao serem queimados, como “se quebrassem”.

Na sociologia, admitimos o ponto de vista e de partida da análise teórica com Fernandes (1970: 36 e ss.), que nem todos os especialistas concordam em admitir que as comunidades vegetais apresentam propriedades sociais. De fato, há requisitos da vida social entre os animais que são inconcebíveis em sua analogia no mundo vegetal. Reações ou relações baseadas na capacidade de locomoção, na plasticidade assegurada pelo sistema nervoso, na interdependência dinâmica produzida pela divisão social do trabalho, em tendências mais ou menos conscientes de comportamento, etc., não comportam condições de manifestação nas comunidades de plantas, por maior que seja o grau de sociabilidade inerente aos seus padrões de organização interna. Isso não impede que se reconheça que alguns tipos de relações comunitárias das plantas possuem valor social definido no amplo e diversificado mercado mundial de consumo de drogas. As dificuldades são de ordem descritiva. Raramente se assume um estado de espírito que lhe permita considerar a vida social, independentemente dos padrões mais complexos, que ela alcança a análise comparada entre os animais e os dos homens. Os índios Tupinambá obrigou-o a alargar seu conhecimento das sociedades ditas primitivas, para poder entender, descrever e explicar as estruturas e os dinamismos da sociedade tribal. Descobriu assim, que nenhum sociólogo é capaz de realizar seu ofício antes de percorrer todas as fases de um projeto de investigação completo, no qual transmite do levantamento dos dados à sua crítica e à sua análise e, em seguida, ao tratamento interpretativo propriamente dito. Os que repudiam o estudo de comunidade (ou o estudo de caso) com obstinação, ignoram o lado do treinamento pela pesquisa  sistemática.  

Nas comunidades de plantas de organização simples, os comensais são iguais; nas comunidades de plantas de organização complexa, os comensais são desiguais e concorrem, com suas necessidades diferentes, para uma utilização mais complexa de possibilidades do habitat comum. Do ponto de vista dinâmico, a sociabilidade das plantas é um produto direto da competição, que regula a distribuição dos indivíduos no espeço e o padrão daí resultante da relação deles entre si. No entanto, as variações no grau de sociabilidade podem afetar as condições gerais de interação das plantas. O aumento da sociabilidade, por exemplo, é útil às plantas em competição com outras espécies. A função social do meio não chega a sofrer uma diferenciação nítida; aparece como uma condição, às vezes mal perceptível, da interação dos organismos através da utilização dos recursos do habitat.  É útil ter-se em mente que o sistema de notações dos botânicos não coincide com os dos sociólogos, pois as aglomerações vegetais não possuem, do ponto de vista sociológico, as propriedades específicas da associação propriamente dita. A polêmica, neste plano abstrato, relaciona-se com os modos de interpretação que correspondam a esses atributos sociais. Alguns biólogos, psicólogos e sociólogos pensam, ao contrário, que as propriedades das comunidades de animais, independentemente do grau técnico em que constituam produtos de mecanismos e de processos extra-sociais, possuem bastante objetividade para serem considerados isoladamente. O homem precisou criar, para sobreviver e tornar-se a espécie dominante.

Um mundo especial para si mesmo, o qual não é mera extensão e prolongamento de seu organismo. Esse mundo, é em parte, psicossocial, dizendo respeito à capacidade do homem de substituir condições naturais de existência por outras condições mais vantajosas ou desejáveis, reguláveis artificialmente, através de técnicas culturais. Por isso, muitos autores não têm dúvidas em afirmar que mecanismos superorgânicos, resultante da combinação da herança psicológica e da herança social, no caso ideal-típico da sociologia, com a herança cultural, substituem no homem em extensão e por assim dizer profundidade, os mecanismos predominantemente orgânicos, que regulam o comportamento social dos animais. O homem não é, apenas, um animal social, mas um ser capaz de criar e de alterar o próprio mundo social. A comunidade humana representa, desse ângulo, a revolução mais profunda porque já passaram os quadros da natureza. Ela trouxe consigo um tipo de organização da vida que, se não é autossuficiente em sentido literal, pelo menos elevou ao máximo a capacidade dos seres vivos de desenvolverem, deliberadamente, adaptações e controles ativos sobre os diferentes elementos do meio. Com isso, a porção social do meio estendeu-se em todas as direções abrangidas pelas atividades humanas: nela se incluem o ambiente físico, com seus recursos e possibilidades adaptativas, o próprio organismo do homem, os demais seres vivos e os agrupamentos constituídos por eles ou pelos humanos.  

A luta não pode terminar com a aniquilação de um dos lados, colocando sua liberdade acima da própria vida. Todavia, estabelece-se uma relação que se desenvolve concentrada neste segundo polo, outra atividade essencial ao projeto do homem: o trabalho humano. A dialética que assim se estabelece é um dos pontos culminantes do pensamento desde a Antiguidade, em todas as épocas e sua conclusão é surpreendente: “o homem integral, livre, satisfeito com o que é, o homem que se aperfeiçoa”. Não é o senhor nem o escravo, mas sim o escravo que consegue suprimir sua sujeição. Isto é Hegel, um homem admirável. A célebre metáfora do senhor e do escravo, tão popularizada na tradição ocidental, foi criada por Hegel e utilizada por muitos pensadores no século XX. Ela aparece, em seu primeiro momento, na Fenomenologia do Espírito (1807). Desse modo, qualquer aproximação da metáfora em si ou mesmo do ponto de vista compreensivo do seu sentido, necessita de uma análise da obra e do contexto social onde a mesma se insere. Diferente das muitas lições e cursos que Friedrich Hegel ministrou e que, posteriormente, foram transformados em aulas, sua escrita é bastante diferente.

Neste âmbito podemos notar a clara oposição de Hegel ao posicionamento kantiano. A segunda significação é cultural, isto é, a “consciência vive num determinado contexto e época”. Já a terceira significação é histórica, ou seja, “a consciência do indivíduo e da cultura caminha para uma ciência na história”. Somente a partir de tais cruzamentos é que podemos compreender a dialética do senhor e do escravo em Hegel. Ele que parte da análise da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma dúvida universal que só é própria per se da reflexão filosófica. Por isso mesmo ele segue o caminho aberto pela consciência e a história detalhada de seu longo processo de formação. Ou seja, a Fenomenologia do Espírito vem a ser a representação de uma história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas em definir os sistemas de pensamento, sem no entanto, discutir as peculiaridades e opiniões dos diferentes filósofos.

Na determinação do sistema, o que o preocupa é a categoria fundamental que determina o todo complexo do sistema, e o assinalamento das diferentes etapas, bem como as vinculasses destas etapas que conduzem à síntese do espírito absoluto. Para compreender o sistema é necessário começar pela representação, que não sendo totalmente exata permite, no entender da dimensão de sua obra a seleção de afirmações e preenchimento do sistema abstrato de interpretação per se do método dialético, para poder alcançar a transformação social da representação numa noção clara e exata. A passagem da representação abstrata, para o conceito claro e concreto é mediada através do acúmulo de determinações. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno. A Ideia Absoluta seria existência puramente abstrata se a noção de que procede não fosse mais que unidade abstrata, e não o que é em realidade, isto é, a noção que, por “um giro negativo sobre si mesma”, revestiu-se novamente de forma subjetiva.

Metodologicamente a determinação mais simples e primeira como ponto de partida que o espírito pode estabelecer é o Eu, a faculdade de poder abstrair todas as coisas, até sua própria vida. Chama-se idealidade precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito não se detém na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as coisas, enquanto pensamento filosófico, como princípio universal, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. O espírito finito se encontra-se numa união imediata com a natureza, a seguir em oposição e finalmente em identidade com esta. Porque suprimiu a oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito é a ideia. Mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua realidade. A Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza, produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois, ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim à Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita das diferenças, sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se a história da humanidade; ela é o processo que medeia entre isto e a realização do espírito consciente de si.

A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas de Hegel ocorrem precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à existência na consciência, no espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também isto: trazer à existência, isto é, à consciência. Como consciência em geral eu tenho um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o Eu é o objeto de pensar, é o espírito precisamente produzir-se para fora de si, saber o que ele é. Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é essencialmente razão. O homem, a criança, o culto e o inculto, é a razão. Ou, a possibilidade para isto, para ser razão, existe em cada um, é dada a cada um. A razão não ajuda em nada a criança, sobremodo o inculto. É somente uma possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move em si. 

Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si mesmo. A história para Hegel é o desenvolvimento do Espírito no tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele pensa, converte este ser, em si, em objeto do pensar. Assim o próprio pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O que o ser em si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade humana, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que filosoficamente é em si, no interior, podendo manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença do mundo.

Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem: a liberdade. O europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz) a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que o que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto quer dizer precisamente evolução. O em si que já não fosse em si seria outra coisa. Por conseguinte haveria ali uma variação, mudança. Na mudança existe algo que chega a ser outra coisa. Na evolução social, em essência, podemos também sem dúvida falar da mudança social, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si não seja negado.

É precisamente neste sentido que procede nas comunidades humanas, uma força-tarefa do Órgão para o Controle/Combate das Drogas (DEA) está se aproximando das entregas do cartel para Chicago. As tensões dentro do cartel surgem quando um tenente sedento de poder assassina o chefe e, subsequentemente, exige que Earl seja mantido sob maior controle. No meio de um grande processo de carregamento de cocaína, Earl descobre que Mary está gravemente doente. Depois que Ginny tem uma conversa séria com ele, ele adia a entrega da droga para fazer as pazes com Mary antes de sua morte, o que provoca a ira do cartel. Ele retoma a entrega quando o DEA e o cartel se aproximam dele. Earl é espancado e ameaçado pelos executores do cartel, mas eles cedem depois de saber da morte de sua ex-mulher. Enquanto ele se dirige em direção ao ponto de entrega, ele é preso pelos agentes de Controle ou Combate das Drogas. Quando Earl se declara culpado de todas as acusações e é mandado para a prisão, sua família lhe demonstra seu apoio. Na prisão, ele retorna a sua horticultura. Leo Sharp ficou desanimado com os problemas financeiros com seu negócio de flores e posteriormente foi abordado por trabalhadores mexicanos em sua fazenda em Michigan (EUA), que o solicitaram para transportar narcóticos para o Cartel de Drogas de Sinaloa, no México. O sucesso de Sharp em evitar a detecção de policiais, por mais de dez anos enquanto transportava milhares de libras de cocaína, o catapultou para a lenda urbana entre os traficantes de drogas que sabiam de suas façanhas. Sharp usou uma picape Lincoln Mark LT para transportar entre 100 e 300 kg (220 e 660 lb) de cocaína por vez da fronteira Sul dos Estados Unidos da América até a cidade Detroit, no estado de Michigan. 

No livro Narcotráfico - Um Jogo de Poder nas Américas (1996), José Arbex Jr. procura compreender as questões sociais e políticas das drogas dentro de um contexto amplo, a questão do narcotráfico dentro de um grande jogo de poder. O narcotráfico forma um império de 500 bilhões de dólares anuais, corrompe os poderes constituídos, políticos e policiais e compra a indústria e o comércio de países inteiros. Os consumidores são homens e mulheres de todas as idades e profissões, de todas as classes sociais. As máfias do narcotráfico formam “Estados dentro do Estado”, com suas leis e exército. O narcotráfico e a criminalidade a este associado ameaçam as sociedades, as economias e as instituições democráticas ao colocar em perigo os valores éticos sobre os quais sociedades consumidoras estas se baseiam, no sentido merceológico e, na esfera econômica e esfera politica constituem obstáculos importantes ao desenvolvimento humano sustentável e ao desenvolvimento econômico. A criminalidade economicamente organizada, inclusive a vinculada ao processo de trabalho do narcotráfico, é um problema transfronteiriço e transnacional que se desenvolve compulsoriamente no continente e que requer uma cooperação maior e mais eficiente entre todos os Estados das Américas. O consumo e a produção de drogas ilegais acarretam custos sociais enormes e que as diversas formas de violência ligadas ao seu caráter ilegal atentam contra a segurança da população como um todo. A distribuição, dizia Marx (2011), determina a proproção de produtos que cabem ao indivíduo; a troca determina os produtos que cada indivíduo reclama como parte que lhe foi designada pela distribuição. Produção, distribuição, troca, consumo formam assim um silogismo modelo; a produção constitui o geral, a distribuição e a troca, o particular, o consumo, o singular para o qual tende o conjunto. Trata-se, sem dúvida, de um encadeamento real, mas muito superficial.

A produção é determinada por leis naturais gerais, a distribuição pela contingência social, e esta pode, por consequência, exercer sobre a produção uma ação mais ou menos estimulante; a troca situa-se entre ambas como um movimento social de caráter formal, e o ato final do consumo concebido não só como resultado, mas também como última finalidade; é, a bem dizer, exterior a toda economia, salvo na medida em que reage por sua vez sobre o ponto de partida, abrindo de novo todo o processo. Não há nada mais banal que a acusação feita aos economistas de considerarem a produção exclusivamente como um fim em si, alegando que a distribuição tem igual importância. Esta censura baseia-se precisamente na concepção econômica segundo a qual a distribuição existe como esfera autônoma, independente, lado a lado com a produção. Existe um duplo caráter do consumo, subjetivo e objetivo: por um lado, o indivíduo que desenvolve suas faculdades ao produzir, igualmente as despende, as consome no ato da produção, tal como a procriação natural é um consumo de forças vitais. Em segundo lugar há o consumo dos meios de produção que empregamos, porque se desgastam e se dissolvem, como na combustão, por exemplo, nos elementos do universo. O mesmo acontece com a matéria-prima, que não conserva sua forma e sua constituição naturais, mas que se vê desgastada. Portanto, o ato de produção é, em todos momentos e ao mesmo tempo, um ato designado de consumo produtivo.   

A Marinha dos Estados Unidos da América (EUA) iniciou o uso intensivo do termo “força-tarefa” (task force) como tática e estratégia de guerra no início de 1941 para designar “as forças navais temporárias organizadas como forma de aumentar a flexibilidade operacional”. Antes da 2ª guerra mundial (1939-1945), os navios de guerra das várias marinhas agrupavam-se, tradicionalmente, em frotas, nas quais uma esquadra ficava sob o comando direto do almirante (comandante da frota), outra sob o comando do vice-almirante e a outra do contra-almirante. Por sua vez, cada esquadra dividia-se em duas ou mais divisões. Os navios de pequenas dimensões agrupavam-se em flotilhas ou esquadrilhas. Inicialmente, representavam forças temporárias, mas no final do século XIX, as frotas, esquadras, divisões, flotilhas e esquadrilhas tinham-se tornado realmente forças navais permanentes, às quais estavam atribuídas sempre os mesmos navios como estratégia militar.  O conceito de “força-tarefa” criado pela Marinha dos Estados Unidos visava recriar forças navais temporárias destinadas ao cumprimento de determinadas missões, as quais eram organizadas à exata medida das tarefas a cumprir, como uma espécie de linha de montagem fordista. Uma força-tarefa poderia ser organizada agrupando navios de diferentes esquadras e divisões, sendo facilmente dissolvida depois de cumprida a missão para a qual fora criada, não obrigando, portanto, a reorganizações formais e permanentes da frota. No âmbito do conceito de “força-tarefa” foi também criado o grupo-tarefa, a unidade-tarefa e o elemento-tarefa. O grupo-tarefa era uma subdivisão de uma força-tarefa que incluía várias unidades-tarefas e estas, vários elementos-tarefa. Cada elemento-tarefa correspondia a um navio individual. O conceito foi posteriormente adotado, na divisão internacional do trabalho, pelas marinhas de outros países aliados, e, mais tarde pela Organização do Tratado Atlântico Norte. Conforme o país, é usado o termo original em Inglês “task force”, a sua tradução direta do termo ou do termo alternativo “força operacional”. Analogamente como estratégias de operações de guerra são usados os termos "task group”, “grupo-tarefa” ou “grupo operacional”, os termos “task unit”, “unidade-tarefa” ou “unidade operacional” e os termos “task elemento”, “elemento-tarefa” ou “elemento operacional”.

         O tráfico de vida selvagem é uma ameaça urgente para muitas espécies e prejudica a segurança e o desenvolvimento social e econômico. De acordo com a convocação do Presidente para uma abordagem abrangente em relação às organizações criminosas transnacionais, o governo dos Estados Unidos está empenhado em combater o tráfico de vida selvagem e trabalha em estreita colaboração com uma ampla gama de parceiros públicos e privados para reforçar a fiscalização, reduzir a demanda por vida selvagem ilegal e expandir a cooperação internacional. O governo dos EUA e seus parceiros fizeram progressos tanto no país como no exterior para proteger a vida selvagem do planeta e desmanchar organizações criminosas transnacionais que lucram com esse comércio predador ilegal. Esses esforços são coordenados pela Força-Tarefa Interagencial sobre Tráfico de Vida Selvagem, que é copresidida pelo Departamento de Estado, o Departamento do Interior e o Departamento de Justiça, e reúne 17 departamentos e agências governamentais para uma abordagem ao nível de todas as administrações para combater o tráfico de vida selvagem. A Força-Tarefa está trabalhando para implementar a lei bipartidária Eliminar, Neutralizar e Interromper (END), que o Congresso aprovou por unanimidade em setembro de 2016, e tornou-se lei em outubro de 2016. Esta lei fornece aos Estados Unidos ferramentas adicionais para combater o tráfico de vida selvagem e promover uma ação internacional para acabar com essa ameaça ao nosso patrimônio natural. Alguns destaques dos esforços da Força-Tarefa durante o programado último ano incluem: 1) A Operação Crash, uma investigação em curso sobre o contrabando de chifres de rinoceronte e marfim, conduzida pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA e julgada pelo Departamento de Justiça, resultou em prisões e processos bem-sucedidos de várias pessoas ou empresas, mais de 30 condenações, com sentenças de até 70 meses, e US $ 7,5 milhões pagos em multas e confiscos. 

2) O Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos acionou novos adidos de aplicação da lei para embaixadas dos EUA na China e no Gabão, juntando-se aos adidos existentes da Tailândia, Tanzânia, Botswana e Peru. Esses agentes federais de aplicação da lei, em parceria com o governo dos Estados Unidos e a polícia local, estão investigando e julgando com sucesso as organizações criminosas transnacionais envolvidas no tráfico de vida selvagem. 3) Em cooperação com o Consórcio Internacional de Combate ao Crime Contra a Vida Selvagem (ICCWC, sigla em inglês), os Estados Unidos se uniram a agências de fiscalização de mais de 60 países em uma operação internacional de fiscalização, a Operação Thunderbird, de 30 de janeiro a 19 de fevereiro de 2017. As agências da Força-Tarefa realizaram diversas operações de fiscalização e blitz, e aumentaram as inspeções de carga marítima e aérea em portos nos Estados Unidos. Em janeiro de 2017, os Estados Unidos concederam um Certificado de Mérito da Organização Mundial das Alfândegas (OMA) em nome do Secretário-Geral da OMA para a equipe de Investigações de Segurança Interna (HSI), em San Diego, no sul do estado da Califórnia, pelo seu trabalho conjunto para acabar com o tráfico de pepinos do mar. Isso foi resultado de um esforço colaborativo entre a HSI, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos e o governo mexicano, que encontrou discrepâncias nos registros fiscais expedidos de importação e exportação. A Procuradoria Geral dos Estados Unidos América no Distrito Sul da Califórnia “está em processo de apresentação de uma acusação por 22 crimes e confisco de US$ 10 milhões em dólares”. 

A NOAA apoia os esforços para melhorar a capacidade dos parceiros estrangeiros de combater o comércio ilegal de espécies marinhas, participando de oficinas de fiscalização e acusações de pescas em vários países (incluindo México, Honduras, Senegal e Gana) para abordar assuntos operacionais de aplicação da leia como identificação, ferramentas de investigação, preparação de casos, regulamentações de pesca, coleta / preservação de provas, compartilhamento de informações e cooperação. Na África Ocidental, a NOAA ajudou no desenvolvimento de guias de identificação que fornecerão informações importantes para a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), autoridades de pesca e aduaneiras da África Ocidental, para a implementação e aplicação das listas CITES em um formato que possa ser acessado e disseminado. A NOAA também apoiou uma investigação sobre as rotas e métodos usados ​​para contrabandear totoaba na China e Hong Kong, uma espécie de peixe ameaçada de extinção, cuja extração e comércio ilegais de suas bexigas natatórias está provocando o declínio da vaquita (Phocoena sinus), gravemente ameaçada, constituindo também é outra espécie classificatória rara de toninha endêmica localizada do norte do Golfo da Califórnia.

O Serviço de Inspeção Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura (APHIS) e outras agências estão implementando o sistema de ambiente comercial automatizado (CBE) da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) para arquivar a coleta de informações relacionadas às importações de plantas. Esse sistema aumentou substancialmente a conscientização dos públicos de interesse sobre as emendas da Lacey Act de 1900, ou simplesmente Lacey Act de 2008, é uma lei de conservação nos Estados Unidos que proíbe o comércio de animais selvagens, peixes e plantas que foram ilegalmente tomados, possuídos, transportados ou vendidos, que melhorou a capacidade analítica e reforçou a conformidade. O Departamento de Estado, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos financiaram a capacitação de mais de 2.000 policiais e funcionários judiciais em todo o mundo em 2016. Esses esforços aproveitam a expertise de outras Agências de Força-Tarefa; o Departamento de Justiça organizou um programa regional de capacitação sobre melhores práticas para combater o tráfico de vida selvagem para mais de 70 promotores e juízes em 11 países do continente africano.

Programas do Departamento de Estado treinaram e orientaram investigadores da Força-Tarefa do Acordo de Lusaka, sobre como seguir pistas documentos e dinheiro, o que os ajudou a identificar membros de redes de tráfico de animais na África Central e Oriental, levando a 11 detenções de alto nível. As investigações descobriram um carregamento de seis toneladas de escamas de pangolim que estavam deixando a Tanzânia, e mais de duas toneladas de presas de elefante embarcadas da República Democrática do Congo, ambos com destino à Ásia. O Departamento de Estado apoia unidades caninas de detecção no Quênia, Uganda e, em colaboração com os métodos da USAID, na Tanzânia, para “detectar produtos de origem selvagem contrabandeados em aeroportos, portos e outras grandes zonas de trânsito”. A unidade canina no Aeroporto de Entebe, em Uganda, entrou em operação em dezembro de 2016 e já apreendeu 30 embarques ilegais, consistindo principalmente em marfim. As unidades no Quênia e na Tanzânia também foram bem-sucedidas na interceptação de embarques ilegais de animais selvagens, incluindo apreensões de 1.000 tartarugas vivas, 67 sacos de escamas de pangolim e mais de duas toneladas de marfim em contêineres nos dois últimos meses.

No caso dramático tendo como background o filme The Mule, um drama criminal norte-americano de 2018, produzido e dirigido por Clint Eastwood, o cartel também utilizou Sharp para transportar e comercializar um montante de receitas de drogas superiores a dois milhões de dólares por viagem de volta de Michigan ao Arizona na mesma picape. Em outubro de 2011, enquanto possuía 200 kg (440 lb) de cocaína, Sharp, de 87 anos, foi preso pelo policial Craig Ziecina, da Polícia do Estado de Michigan, durante uma operação de prisão coordenada liderada pela DEA. Sua prisão foi capturada na câmera do painel do cruzador da Polícia do Estado de Michigan e publicada no New York Times. A investigação criminal foi processada /pelo procurador assistente dos Estados Unidos, Chris Graveline, no Distrito Leste de Michigan, culminando com a acusação de 25 membros da organização criminosa, incluindo Sharp, que foi autorizado a falar em sua audiência de condenação perante o juiz Edmunds. Ele se dirigiu ao juiz: “Estou realmente com o coração partido por ter feito o que fiz, mas está feito”. Leo Sharp fez um apelo final tentando negociar o encarceramento. Se ele pudesse evitar a prisão, ele propôs pagar a multa de $ 500.000 que devia ao governo cultivando mamões havaianos. - “É tão doce e delicioso”, disse ele. Mas o tribunal recusou a oferta e o condenou a três anos de prisão. A defesa afirmou que Sharp tinha demência e sairia mal na prisão. Sharp foi libertado em 2015 devido ao declínio da saúde depois de cumprir apenas um ano na prisão.

É muito difícil que exista um El Chapo Guzmán norte-americano. Não porque milhões  de dólares não sejam movimentados e não haja traficantes de drogas naquele país, considerado o maior usuário de cocaína do mundo, mas pela maneira metódica como o tráfico de drogas é organizado nos Estados Unidos da América (EUA). Segundo Miranda (2020) não parece haver ali ninguém como o mexicano reconhecido como um dos maiores narcotraficantes do mundo na história recente. Essa é a avaliação teórica de especialistas, inclusive da Drug Enforcement Administration (DEA) o órgão norte-americano de controle de narcóticos que reconhece a presença de “máfias locais”. Desde meados do século passado, sabe-se de chefões do tráfico nacionais nos Estados Unidos, mas a probabilidade de um deles simultaneamente produzir, mover, distribuir e comercializar substâncias ilícitas, talvez, ainda é muito baixa. Não existem cartéis famosos, como os mexicanos ou os grupos armados que disputam territórios de cultivo de coca, como na Colômbia. No entanto, o que ocorre de forma diferenciada diz respeito à organização e divisão do trabalho, pois existem organizações dedicadas ao narcotráfico nos Estados Unidos que transportam no mercado interno de narcóticos por todo o seu vasto território, que abrange quase 2 milhões de quilômetros quadrados, enquanto que, no caso do México que apenas é o quinto maior país das Américas por área total. Em termos gerais, contudo, ainda há ignorância simbólica sobre os protagonistas e a operação do tráfico no país. 

Os narcotraficantes e organizações merceológicas que fazem parte do primeiro nível de tráfico nos Estados Unidos da América são “aqueles que possuem uma certa capacidade de pagar por uma carga que acaba de chegar do México”. Através deles, segundo o jornalista, cocaína e drogas sintéticas começam a viajar para os diferentes mercados existentes no vasto território americano. – “Essas organizações compram remessas de drogas a granel dos mexicanos, mas não é que os mexicanos não tenham capacidade de distribuição. Eles não estão interessados”, explica Jesús Esquivel, autor do livro Los Narcos Gringos (2016) à BBC News Mundo. O pesquisador argumenta que os cartéis latino-americanos sabem que são menos vulneráveis ​​à captura ou ao confisco de cargas usando intermediários locais “que podem facilmente disseminar na sociedade americana sem atrair a atenção”. Esquivel ressalta que as organizações mexicanas não têm um “escritório em Miami”, mas, operam com representantes. Questionado sobre o motivo pelo qual as agências de segurança dos EUA frequentemente anunciam a prisão de cidadãos do México e de outros países por transportar substâncias controladas, o jornalista observou que há muito mais casos de norte-americanos, mas eles não recebem atenção da mídia porque eles não estão ligados a atos considerados violentos.

Historicamente a ideia de pacto está contida na origem da sociedade. O contrato social indica uma classe de teorias filosóficas que tentam explicar os “pactos sociais” que levam as pessoas e grupos a formarem Estados e/ou manterem a ordem social. Baseados na noção de contrato, uma categoria economicamente relevante, faz jus e traz implícito que as pessoas abrem mão de certos direitos, mas do que nunca, para um governo ou outra autoridade, a fim de obter as vantagens da ordem social. O contrato social seria um acordo entre os membros da sociedade, pelo qual reconhecem a autoridade, igualmente sobre todos, de um conjunto de regras, de um regime político ou de um governante. O ponto essencial da maior parte dessas teorias é o exame da condição humana, que compreende algo mais que as condições nas quais a vida foi dada ao homem. Todas as atividades humanas são condicionadas pelo fato de que os homens vivem juntos. Mas a ação social é a única que não pode sequer ser imaginada fora da sociedade dos homens, na ausência de qualquer ordem social estruturada, normalmente denominada em sua progênie “estado de natureza”. É neste sentido da análise política que as ações dos indivíduos estariam limitadas apenas por seu poder associativo e sua consciência para o bem ou para o mal. Desse ponto em comum, os proponentes das teorias abstratas tentam explicar, cada um de seu ponto de vista, como foi do interesse racional do indivíduo abdicar da liberdade que teria naquele estado, para obter os benefícios da ordem política. As teorias sobre o contrato social se difundiram entre os séculos XVI e XVIII como forma de explicar ou postular a origem legítima dos governos e, das obrigações políticas dos governados ou súditos.

O primeiro filósofo moderno que articulou uma teoria contratualista detalhada foi Thomas Hobbes (1651). Na obra Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado   Eclesiástico e Civil (2014), sua concepção abstrata de teoria, especialmente a   teoria a respeito da origem contratual do Estado, exerceu profunda influência no pensamento de Jean-Jacques Rousseau, Immanuel Kant e dos Enciclopedistas, mas principalmente  com seus pontos de vista imaginários sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades, contribuiu em tese para o background, no plano ideológico, para a revolução clássica francesa.  Nesta esteira dos fatos históricos, sociais e políticos nascem as concepções de Locke (1689) e Rousseau (1762) tornando-se importantes pensadores do contratualismo. Ipso facto, as teorias do contrato social ganharam nova expressão nas obras do norte-americano John Rawls (1921-2002) sobre as questões da justiça distributiva e, particularmente, no plano da teoria das “escolhas racionais públicas” dos governantes e homens públicos, que discutem os limites da governamentalidade, de um lado, e de outro, a atividade política do Estado.  A questão do contrato surge devido à função de transferência mútua de direito, em que uma pessoa por meio de “sinais” transfere um direito que era dela para outra pessoa. É necessário que haja o Estado contratualista entre os próprios homens. E o pacto em que eles abrem mão de parte de sua liberdade. Transferem diretos civis ao Estado para ele poder garantir, por meio da utilização legítima da força, o cumprimento de contratos e assim o fim do “clima de guerra”.

O Estado pactua com cada um dos homens e garante a cada um que a sua parte do  contrato seja cumprida, sendo assim o pacto é recíproco. Os contratos são estabelecidos por sinais, que podem ser expressos ou inferenciais. Os expressos são palavras que indicam a transferência de poder e compreendem o que significam, “como abdico, dou, vendo, quero que isto seja teu, dei”. Os sinais inferenciais são consequências dos gestos, ações, do silêncio, da omissão de ações que indiquem a transferência. Na condição de simples natureza não há como estabelecer pactos sociais. Pois ao transferir um direito sem ganhar nada em troca e, estando no “estado de natureza”, estaria abrindo mão do seu próprio meio de vida, de conservação. É necessário que cada indivíduo abra mão de parte da sua total liberdade para poder haver algum poder estabelecido que garanta a sua própria vida, seus direitos e o cumprimento de contratos. A palavra Leviatã foi utilizada no Velho Testamento da Bíblia, no Livro de Jó, para descrever uma criatura mitológica que se assemelharia a um grande polvo ou uma grande baleia, e que na obra O Leviatã, Hobbes, é utilizado para simbolizar o poder do Estado (autoridade), que segundo o filósofo seria a única maneira de superar o “estado da natureza” do homem, governado pelo egoísmo e pela insatisfação. Daí a sentença: Homo homini lúpus, criada por Plauto (254-184) em sua obra Asinaria. Mas no ensaio se diz exatamente: “Lupus est homo homini non homo”, popularizada por Thomas Hobbes no século XVII, na qual ele retrata o “individualismo possessivo” do ser humano (cf. Macpherson, 1979). O desejo que torna o homem corruptível é imutável, e tem aparecimento quando o homem se sente livre do Leviatã.

A prudência, mutatis mutandis, é uma presunção do futuro baseada numa experiência do passado. Porém, existe uma presunção de que as coisas do passado derivem de outras coisas que não são futuras, mas passadas também. O bellum omnium contra omnes representa, sociologicamente, a disputa pelo poder no mundo, em que a análise hobbesiana de Thomas Hobbes sobre esse “estado-natural animalesco”, poderia ser resolvido dentro das próprias fronteiras, sob o comando de um governo soberano. O grande dilema na modernidade é que a teoria não previa a intensa luta supranacional, que ultrapassa os limites imaginários e físicos. Quando limitou a convivência em uma fronteira, não pode conceber a ideia de governos de outros países que tentassem controlar outrem, só causariam o que nós podermos perceber, i. é, o caos e “banhos de sangue” contemporâneo, para lembrarmos de Noam Chomsky. Thomas Hobbes idealizou uma criatura mística chamada Leviatã, em sua ilustração como um monstro composto por vários homens dispostos representados como escamas. Quer dizer: o soberano que controla a sociedade civil é formado pelo conjunto de indivíduos, demonstrando também que o ser humano deu ao Estado o direito de controlá-lo como se deseja. Assim, todos os seres humanos buscam o sucesso contínuo na obtenção dos objetos de desejo, isto é, procuram a felicidade. Suas origens remontam à mitologia fenícia em que simbolizava o caos e possuía a imagem de um crocodilo. Na crença judaica, o Leviatã, também chamado na história mítica de dragão em Ezequiel (29.3) e de crocodilo em Ezequiel (32.2) simboliza um poder contrário ao de Deus que, segundo o cristianismo, deverá sucumbir na esteira messiânica do Juízo Final.

A ideia e a crítica da ideologia contida na pena do jovem Marx, é precípua, in statu nascendi na famosa carta ao pai de 10 de novembro de 1837, quando Marx tinha 20 anos, três anos antes da defesa da tese de doutorado em filosofia, quando depreende-se o princípio da  crítica ao idealismo e o fulgor materialista do autor. A crítica em sua essência, diria mais tarde na gigantesca obra Das Kapital, é crítica e revolucionária, antes afirmava: - “Do idealismo que eu, dito seja de passagem, alimentei e comparei com Kant e Fichte, acabei por procurar a Ideia na própria realidade. Se os deuses antes habitavam acima da terra, agora eles haviam se tornado da mesma”. E isto ocorre no parcours dourado denunciando que o “homem natural”, que jamais alcança a transformação da realidade, é o conceito abstrato de Feuerbach, o pedestal sobre o qual este constrói seu idealismo. Se em A Sagrada Família os bravos Marx e Engels não haviam superado aquilo que também pode ser chamado de materialismo antropológico de Feuerbach, em A Ideologia Alemã, os autores criticam Feuerbach pelo fato deste não conseguir compreender o que sucede por trás das raízes societárias da consciência religiosa e se limitar a uma antropologia que não é capaz de entender a essência humana como o conjunto de relações sociais. Ludwig Feuerbach não contempla o homem em sua atividade humana intelectual criadora, mas apenas consciência objetiva, ao que os pensadores materialistas Karl Marx & Friedrich Engels revidam que a consciência  (Bewubtsein) não pode ser outra coisa que não o “ser consciente” (bewubtsein Sein).


Assim, como o materialismo de Ludwig Feuerbach (1804-1872) é, aparentemente, um trampolim para a superação da filosofia hegeliana, fundamental no desenvolvimento da obra da dupla diabólica, é a catapulta para superar o materialismo apenas contemplativo de Feuerbach, que observa o mundo em sua imutabilidade sem buscar transformá-lo, conforme fica claro na tese de Marx a este respeito ad Feuerbach.  Aplicada ao materialismo, a dialética hegeliana concebe a base para o materialismo histórico. A síntese entre F. Hegel e L. Feuerbach, grosso modo, resulta na concepção de teoria da história, de método de análise e objeto de pensamento: a humanidade. Em termos concretos de análise, a obra A Ideologia Alemã, combate o primado da ilusão metafísica sobre a realidade, do mundo das ideias sobre o mundo concreto. Ela postula a unidade entre a práxis e trabalha abstratamente no sentido caraterístico mundano, isto é, terreno, não apenas para inserir-se no quadro de pensamento filosófico, mas para confrontá-lo. Curiosamente a categoria de liberdade está contida na interpretação materialista da história no volumoso livro A Ideologia Alemã (1845-1846), dos magnânimos Karl Marx & Friedrich Engels, retomado recentemente com a organização, tradução e notas de Marcelo Backes (2007). Com a construção histórica e social do “Eu”, cai o próprio “Eu”. Esse “Eu”, o final de uma construção histórica, não é um Eu “corpóreo”, criado carnalmente por um homem e uma mulher, que não necessita de construções para existir; é um “Eu” criado espiritualmente por duas categorias, “idealismo” e contrariamente, “realismo” mera existência no pensamento.

Para Marx & Engels a particularidade do indivíduo se dissolveu na categoria universal da peculiaridade, que era a negação do estar-livre, da liberdade em geral. A descrição das propriedades especiais do indivíduo, pode, portanto, consistir mais uma vez apenas na negação dessa típica “liberdade” em suas três “refrações”; cada uma dessas liberdades negativas é transformada em uma propriedade positiva através de sua negação. Entende-se que, assim, como no Antigo Testamento, o estar-livre no mundo das coisas e do mundo dos pensamentos já foi compreendido como apropriação desses dois mundos; assim, aqui, essa propriedade (Eigenheit) ou apropriação (Aneignung) das coisas e pensamentos é representada mais uma vez na condição de estar livre completo. O “Eu” com sua posse (Eigentum), seu mundo, que consiste nas propriedades acabaram de ser “sinalizadas”, é proprietário (Eigner). Na condição de ente gozando a si mesmo, é o “Eu” na segunda potência, o proprietário do proprietário, do qual se livrou da mesma forma, na medida em que ele lhe pertence, portanto, a “negatividade absoluta” em sua determinação dúplice posta na condição de indiferença (Indifferenz), desimportância (Jleichjültigkeit) e relação negativa consigo mesmo, o proprietário.

Sua posse do mundo e seu estar-livre do mundo agora se transformaram nessa relação negativa consigo mesmo, nessa autodissolução e nesse pertencer-a-si-mesmo do proprietário O Eu, é assim determinado. O que nos interessa, o artifício de provar aos “que se sacrificam”, que eles são egoístas, é um velho truque, explorado à exaustão já em Helvétius e Bentham. O artifício “próprio” de São Sancho é a transformação dos “egoístas em sentido comum”, dos burgueses, em não-egoístas. Helvétius e Bentham de qualquer forma provam aos burgueses [alemães] que através do caráter tapado, prejudicam-se praticamente, mas o artifício “próprio” de São Max consiste em provar que não correspondem ao “ideal”, ao “conceito”, à “essência”, ao “ofício” etc. do egoísta, e não se comportam como negação absoluta em relação a si mesmos. Mais uma vez paira diante dele apenas o pequeno-burguês alemão. Ademais, nosso santo inclui – enquanto o “sovina” figura como “egoísta que se sacrifica” o “cobiçoso”, ao contrário, entre os “impuros, os não-sagrados”. A categoria social de idade com a qual o Ocidente está familiarizado, exceto na religião cristã, as delimitou, organizou e legislou baseadas nas medições complexas da vida, de tempo e espaço em períodos cronológicos, etapas que se sucedem em ciclos biológicos e apresentam características a cada uma, seriam resultado de um desenvolvimento longo e nem sempre regular. Desde o grupo dito “primitivo” e “rudimentar”, ancorada em sua organização, construindo seus próprios critérios simbólicos, significados e valores aos quais seus membros se vinculam, não sendo a idade, necessariamente, o principal critério, anão ser em sociedades motivadas pelo individualismo e competição no trabalho.

Estas sociedades atribuem a cada grupamento que nomeia características, funções e necessidades exclusivas, estabelece um saber especializado e, assim, de acordo com seu grau de evolução, transforma-os em alvo de condutas assistencialistas, políticas e voltadas para a reprodução do capital. A periodização da existência, as idades da vida, têm sido expressas de diferentes formas desde a Antiguidade grega até nossos dias. A utilização da idade cronológica é uma construção relativamente recente, e começou a esboçar-se, com o vislumbrar da infância, como um período singular da vida que, por sua imaturidade biológica e psicológica, demandava cuidados e orientação também singulares. Desde então, a idade tornou-se institucionalizada, perseguida, determinando a inclusão ou exclusão do indivíduo de determinados papéis sociais. Queremos dizer que aquilo que na interpretação da sociedade nos acostumamos chamar de infância, adolescência, disciplina, maturidade e, ao fim e ao cabo, a velhice é um processo biológico, construída pelos elementos culturais e científicos de um povo determinado ou comunidade. A maneira como esses períodos são vistos e interpretados pela sociedade e pela política, a posição que nela ocupam, o tratamento que lhes é dispensado pelas demais gerações, são condicionados e utilizados pelos contextos históricos, sociais e econômicos em que sobrevive cada cultura. No ocidente, a literatura e as artes nos trazem, desde antanho, uma velhice estigmatizada pelo trabalho e sofrimento, que a decadência e a solidão representam da juventude à velhice. Êxito, analogamente também é poder, pois a reputação da sabedoria ou da “boa fortuna” faz com que os outros homens temam, idolatrem ou confiem. O valor ou conceito de homem é, exceto entre os gregos, dependente de quanto seria dado pelo uso de seu poder.

A estima pública de um homem, que é o valor que lhe é conferido pelo Estado, é o que denominamos ordinariamente dignidade. Essa valorização pelo Estado é expressa pelo cargo público para o qual é designado. Tanto na magistratura como em funções públicas, ou quando esse valor-trabalho é expresso por títulos e honrarias concedidos. A fonte da honra é o Estado, e depende da vontade de soberania do Eu. A honra não sofre alterações se uma ação é justa ou injusta. A honra consiste unicamente na opinião de poder. O medo é a única paixão que impede o homem de violar leis.  Em primeiro lugar, não há impressão ou ideia de nenhum tipo, da qual tenhamos alguma consciência ou memória, que não seja concebida como na prática existente. E é evidente que é dessa consciência que deriva a mais perfeita ideia e a certeza do ser. Com base nisso, podemos formular uma alternativa, a mais clara e conclusiva na teoria que se pode imaginar: já que nunca nos lembramos de nenhuma ideia ou impressão sem atribuir a ela uma existência. A ideia de existência deve compreendida de forma distinta da religião, ser derivada de um modo de apropriação, distinta em conjunção com cada percepção ou objeto de nosso pensamento, factível de ser exatamente a mesma que a ideia da percepção ou do objeto. Esse dilema ancora-se na questão que é uma consequência evidente do princípio de que toda ideia procede de uma impressão similar. 

E por isso também não restam dúvidas sobre qual das duas proposições do dilema escolheremos. A ideia de existência, quando conjugada com a ideia própria de um objeto, não acrescenta nada a esta. Tudo que concebemos, concebemos como existente. Qualquer ideia que quisermos formar será a ideia de um ser; e a ideia de um ser será qualquer ideia que quisermos formar. Esse tipo de distinção se baseia nas diferentes semelhanças que a mesma ideia simples pode ter com várias ideias diferentes. Mas não se pode apresentar nenhum objeto que se assemelhe a um segundo objeto no que concerne à sua existência, e que seja diferente de outros no que concerne a esse mesmo ponto – pois todo objeto que se nos apresenta deve necessariamente existir. Um raciocínio semelhante dará conta da ideia de existência externa. Podemos observar que todos os filósofos admitem, e aliás é bastante óbvio por si só, que nada jamais está presente à mente além de suas percepções, isto é, suas representações e ideias próprias sobre os objetos externos pelas percepções que eles nos ocasionam. Melhor dizendo, a fenomenologia do odiar, amar, pensar, sentir, ver, tudo isso não é senão apreender.

O conservadorismo é uma corrente de pensamento político surgida na Inglaterra, no final do século XVIII, através da atividade política do conservador Whig Edmund Burke, como uma reação ao processo revolucionário da clássica Revolução Francesa cujas utopias sociais resultaram imediatas em instabilidade política, e, por isso mesmo de crise social e política na França. O pensamento conservador expandiu-se pelo mundo ocidental principalmente após o período do terror jacobino, que durante o auge da Revolução, causou a morte de 35 mil a 40 mil pessoas. O termo conservador denota a adesão de princípios e valores atemporais, que devem ser conservados a despeito de toda mudança histórica, quando mais não seja porque somente neles e por eles a História adquire uma forma inteligível. Por exemplo, a noção de uma ordem divina do cosmos ou a de uma natureza humana universal e permanente. O sacrifício ritual é rizomático e resiliente nas sociedades contemporâneas. Mas na superfície e na dinâmica do problema como questão social e não meramente individual, estão os agentes sociais e os meios de comunicação de massa que constroem os estereótipos da vítima linchada. 

No período histórico entre a Reforma e a Revolução Francesa, uma nova classe afirmou seus direitos a uma plena participação no controle do Estado. Em sua ascensão ao poder, derrubou as barreiras que, em todas as esferas da vida, exceto a eclesiástica, tinham feito do privilégio uma função de status e associado à ideia de direitos com a posse da terra. Para alcançar os seus propósitos a classe efetuou uma transformação fundamental nas relações legais entre os homens. O status foi substituído pelo contrato como alicerce jurídico da sociedade. A uniformidade da crença religiosa deu lugar a uma diversidade de credos em que até o ceticismo encontrou um direito à expressão. O vago império medieval do jus divinum e da jus naturale, cedeu lugar ao poder irresistível e concreto da soberania nacional. O controle da política por uma aristocracia cuja autoridade assentava na propriedade da terra passou a ser compartilhado com homens cuja influência derivava unicamente da propriedade de bens móveis.

O banqueiro, o mercador, o fabricante começaram substituindo o latifundiário, o eclesiástico e o guerreiro como os tipos de influência social predominante. A cidade, em sua infatigável paixão pela mudança, substituiu o trabalho no campo, com a sua aversão às inovações, como fonte primordial de legislação. Lenta, mas irresistivelmente, a ciência substituiu a religião como fato dominante na modelação dos pensamentos dos homens. A ideia  de uma Idade de Ouro, com sua ideia simultânea de “pecado original”, avançaram à doutrina de progresso, com a sua noção concomitante de perfectibilidade através da razão. Os conceitos de “iniciativa social” e “controle social” renderam-se aos de iniciativa individual e de controle individual. As novas condições materiais deram origem a novas relações sociais, e, em função destas, desenvolveu-se uma nova filosofia para permitir uma justificação racional do novo mundo que assim nascera. Essa nova filosofia foi o liberalismo, e o propósito de Harold Laski é descrevê-lo em linhas gerais, pois representa a história por meio das quais ganhou forma e estruturou-se como uma doutrina seguramente coerente. Sua evolução, é claro, nunca foi direta e raramente apresentou-se consciente. A genealogia das ideias jamais se expande em linha reta.

A inserção e o poder organizado que a comunidade oferece como base da ação política são cruciais, embora sua coerência requeira sistemas de autoridade, um consenso e regras de pertinência democraticamente estruturadas. O propósito de nossa argumentação é abrir o debate em torno de duas questões: por que o conservadorismo floresce hoje? E como floresce? Pode-se dizer que estas questões implicam outra, a saber: floresce realmente? A resposta é uma boutade sobre os destinos das nações. No final da década de 1970, o liberalismo europeu atingiu o centro do sistema internacional com a eleição de Margareth Thatcher no Reino Unido (1979) e Ronald Reagan nos Estados Unidos da América (1980). Desse período histórico em diante, conjunturalmente, o liberalismo passou a tomar a cena globalizada enquanto uma ideologia dominante e hegemônica, com a desregulamentação econômica de diferentes esferas da vida social, a redução maciça de impostos para os ricos, tornando-os mais ricos, a privatização de empresas estatais, a terceirização de empresas e do processo de trabalho, o livre comércio, as medidas de austeridade, o desmantelamento de serviços públicos, em particular a educação superior. Inversamente, elementos como as malditas regulamentações, impostos, programas estatais, atividades sindicais foram severamente bloqueadas reduzindo sua ação política. Não por acaso, já que as coincidências políticas não existem, a não ser como golpe, assassinatos ou farsa, a década de 1980 é reconhecida como a “década perdida” na América Latina.

Entre 1980 e 2006, a riqueza financeira mundial, incluindo ações e debêntures, títulos de dívida privada e da pública e aplicações bancárias, cresceram mais de 14 vezes, enquanto o PIB mundial cresceu menos de cinco vezes. Trata-se, portanto, de um capital fictício - ou seja, não vinculado à esfera produtiva, no âmbito da produção e consumo - e que efetivamente acabou por comandar a economia como um todo.  Desde 1971, o governo dos Estados Unidos, durante a administração de Richard Nixon, cancelou unilateralmente os Acordos de Bretton Woods (1944), acabando com a conversibilidade do dólar norte-americano em ouro, embora a moeda se mantivesse como meio de pagamento internacional geral e hegemônica. As conferências de Bretton Woods, definindo o Sistema Bretton Woods de gerenciamento econômico internacional, estabeleceram em julho de 1944 as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes.

Preparando-se, por assim dizer, para reconstruir o capitalismo enquanto a 2ª guerra mundial ainda grassava, 730 delegados de todas as 44 nações aliadas encontraram-se no Mount Washington Hotel, em Bretton Woods, New Hampshire, para a Conferência monetária e financeira das Nações Unidas. Os delegados deliberaram e assinaram o Bretton Woods Agreement durante as primeiras três semanas de julho de 1944. O Acordo de Bretton Woods durou até 15 de agosto de 1971, quando os Estados Unidos da América, unilateralmente, acabaram com a conversibilidade do dólar em ouro, o que efetivamente levou o sistema de Bretton Woods ao colapso e tornou o dólar uma moeda fiduciária. Essa decisão, referida como “Nixon Shock”, criou uma situação em que o dólar norte-americano se tornou “moeda de reserva”, usado por muitos Estados. Ao mesmo tempo, outras moedas, que até então eram fixas (como a libra esterlina, por exemplo), passaram a ser flutuantes. De fato, o dólar americano continua sendo a moeda constitutiva de mais de 70% das reservas internacionais. Quando dinheiro inconversível funciona como meio de pagamento internacional, abrem-se as portas para a chamada financeirização da economia, consideradas um campo de forças políticas entre nações potencialmente geradoras de crises. Em um contexto de globalização econômica e política, essas crises rapidamente se tornam sistêmicas, sobretudo quando atingem o coração do sistema, a exemplo da crise das hipotecas de alto risco, deflagrada em 2007-2008.

Neste sentido, John Maynard Keynes, em sua teoria geral do emprego, do juro e da moeda, entendeu que, para salvar o capitalismo de si mesmo, era preciso que o Estado o controlasse, através da regulação dos mercados - principalmente o mercado financeiro - e também de controlar os fluxos financeiros internacionais. É neste sentido é que transparece o véu da noiva. Poder de barganha significa no mercado o poder de troca; permuta. Mas barganhar que representa o ato de trocar pode definir na formação do nível de análise econômica de forma fraudulenta não um objeto por outro. Mas a força de uma pessoa (monopólio) ou grupo (oligopólio) ao discutir preços, colocando pressão e exigindo, por exemplo, “maior qualidade em menor preço”. Barganha tem origem na palavra “bargain”, que em sentido figurado pode ser sinônima de trapaça, porque pode representar uma transação fraudulenta. Enfim, poder de barganha, segundo Michael Porter, compõe dois dos fatores deste modelo. O poder de barganha dos compradores é uma das cinco forças, é a capacidade de barganha dos clientes para com as empresas do setor. Este “campo” tem a ver com o poder de decisão dos compradores sobre os atributos do produto. Principalmente quanto a preço e qualidade, quando os clientes exigem mais qualidade por um menor preço de bens e serviços, forçando os preços para baixo, aumentando o consumo e os concorrentes uns contra os outros.

Assim, as economias de mercado mais desenvolvidas aceitaram a visão dos Estados Unidos de gerenciamento econômico internacional do pós-guerra, que foi concebido para criar e manter um sistema monetário internacional efetivo e encorajar a redução de barreiras ao comércio e ao fluxo de capital. O surgimento da hegemonia dos Estados Unidos da América. O gerenciamento econômico internacional baseava-se na potência dominante para dirigir o sistema. A concentração de poder facilitou o gerenciamento na medida em que reduziu o número de atores cujo acordo era necessário para o estabelecimento de regras, instituições e procedimentos e para levar a cabo o gerenciamento dentro dos sistemas em acordo. Esse líder foi os Estados Unidos da América. Como a potência com a economia e política mais avançadas do mundo, os EUA estavam claramente em uma posição ideal para assumir essa liderança. Na condição de maior potência mundial e uma das poucas nações não afetadas pela guerra, os Estados Unidos estavam em posição de ganhar mais do que qualquer outro país com a liberação do comércio mundial. É neste sentido que eles teriam com isso um mercado mundial para suas exportações, e teriam acesso irrestrito a matérias-primas vitais para sua sobrevivência.

Estatisticamente cerca de 7 (sete) milhões de indivíduos que compõem o grupo dos 1% mais ricos do mundo ficaram com 82% de toda a riqueza global gerada em 2017, demonstra um estudo divulgado pela Organização não-governamental (ONG) britânica Oxfam antes do Fórum Econômico Mundial, que passou a ocorrer em Davos, na Suíça.  A metade mais pobre da população mundial, por outro lado, não obteve quase nada do que foi gerado no ano passado. Esse grupo reúne 3,7 bilhões de pessoas, demonstra o Relatório: “Recompensem o Trabalho, Não a Riqueza”. Para fazer seus levantamentos, a ONG britânica de combate à pobreza usa dados sobre bilionários da revista “Forbes” e informações comparativas sobre riqueza em escala global de relatórios do banco Credit Suisse, fundado por Alfred Escher em 5 de julho de 1856, com o nome alemão de Schweizerische Kreditanstalt (SKA). Está dividido em três áreas: Investment Banking, Private Banking e Asset Management. Serviços compartilhados, que incluem funções como TI, marketing e jurídico, estão acoplados às três grandes áreas. Em 1942, abriu sua primeira agência fora da Suíça, em Nova Iorque. Em 1988, ganhou o controle do The Boston Group, permanecendo por um bom tempo com o nome de Credit Suisse First Boston. Em 1993, o Credit Suisse Group comprou o Schweizerische Volksbank. No ano de 1996, os dois bancos de varejo se unificaram e mudando para Credit Suisse. Em 2000, adquiriu o The Investment Bank Donaldson, Lufkin & Jenrette (DLJ) e, com isso, um portfólio de comércio eletrônico, incluindo DLJ Direct, que foi vendido mais tarde para o Bank of Montreal.

Em 2009, o Credit Suisse foi premiado como “Bank of the Year” pela International Financing Review. Em março de 2016, anunciou um corte adicional de 800 milhões de francos suíços (USD 821 milhões) em custos, bem como planos de redução de seu banco de investimentos. Um projeto de reestruturação para a revitalização de seus resultados. Em 2017, o banco criou o departamento Aconselhamento sobre Impacto e Finanças (IAF) para estimular investimentos socialmente responsáveis, no mais recente esforço de um grande banco para atender à crescente demanda pelos chamados investimentos de impacto. Entre os mais ricos do mundo, há um grupo ainda mais VIP, formado apenas por bilionários. Segundo o estudo, o número de bilionários registrou o maior crescimento histórico. Entre março de 2016 e março de 2017, o mundo ganhou um novo bilionário a cada dois dias e o grupo somou 2.043 pessoas. A cada 10 deles, nove são homens, ao passo que, entre os mais pobres, a maioria é mulher. Em 2017 a riqueza da elite global aumentou em US$ 762 bilhões, quantia suficiente, segundo a Oxfam, para acabar com a pobreza extrema mais de sete vezes. Enquanto isso, a metade mais pobre da população mundial vive com renda diária entre US$ 2 a US$ 10. Enfim, de acordo com cálculos estatísticos da entidade britânica, dois terços da riqueza dos bilionários é oriundo de heranças, rendimentos vindos da atuação empresarial em setores monopolizados e vantagens adquiridas e medeadas por meio da complexidade relações externas de interações sociais e sobretudo econômicas e polítcas com os governos.

Historicamente no desenvolvimento do liberalismo participaram “bafejos de doutrinas” tão diversas em suas origens que é difícil a clareza e talvez inatingível a precisão. Para a evolução social do liberalismo foram de primordial importância às contribuições de homens que ignoraram os seus propósitos e frequentemente lhe eram hostis de Maquiavel a Calvino, de Lutero a Copérnico, de Henrique VIII a Tomas Moro, num século, de Richelieu e Luís XIV, de Hobbes e Jurieu, de Pascal e Bacon num outro. Os chamados “Descobrimentos”, a nova cosmologia, as invenções tecnológicas, uma metafísica renovada e secularizada e, sobretudo, as novas formas de vida e exploração econômica, tudo isso contribuiu para a formação das ideias propulsoras do liberalismo. Não teria se convertido naquilo que foi sem a decisiva revolução teológica, a que em teoria chamamos Reforma; e esta por seu turno, recebeu muito de seu caráter de tudo o que está implícito no renascimento do saber. Uma boa parte de seu caráter foi modelada pelo fato social do desmoronamento da respublica christiana medieval ter dividido a Europa numa congérie de distintos Estados soberanos poderosos cada um deles, com seus próprios problemas especiais a resolver e sua experiência singular a oferecer.

O Relatório Mundial sobre Drogas 2020 divulgado pelo United Nations Office on Drugs and Crime demonstra que cerca de 269 milhões de pessoas usaram drogas no mundo em 2018.  Com sede em Viena, na Áustria, está presente em todas as regiões do mundo por meio de seus programas globais, conta com 2.500 funcionários e uma rede de escritórios de campo em 80  países. O Relatório baseia seu trabalho nas três convenções internacionais de controle de drogas, nas convenções contra o crime organizado transnacional e contra a corrupção e nos  instrumentos internacionais contra o terrorismo. O objetivo institucional é de tornar o mundo mais seguro contra a droga, o crime organizado, a corrupção e o terrorismo, combatendo essas ameaças para alcançar saúde, segurança e justiça para todos e promovendo a paz e o bem-estar sustentável. Enquanto a cannabis foi a substância mais consumida no mundo em 2018, com uma estimativa de 192 milhões de pessoas que a usaram, os opioides, no entanto, continuam sendo os mais nocivos, pois na última década o número total de mortes por transtornos associados ao uso de opioides teve alta de 71%, com aumento de 92% entre as mulheres, comparado com 63% entre os homens. O uso de drogas aumentou muito mais rapidamente entre os países em desenvolvimento, durante o período 2000-2018, do que comparativamente nos países chamados de desenvolvidos. Adolescentes e jovens representam a maior parcela daqueles que usam drogas, enquanto os jovens também são os mais vulneráveis aos efeitos das drogas, pois são os que mais consomem e seus cérebros ainda estão em desenvolvimento.

O Relatório baseia seu trabalho nas três convenções internacionais de controle de drogas, nas convenções contra o crime organizado transnacional e contra a corrupção e nos instrumentos internacionais contra o terrorismo. O objetivo institucional é de tornar o mundo mais seguro contra a droga, o crime organizado, a corrupção e o terrorismo, combatendo essas ameaças para alcançar saúde, segurança e justiça para todos e promovendo a paz e o bem-estar sustentável. Os norte-americanos são os maiores consumidores de maconha e cocaína do mundo, apesar da legislação repressiva adotada nos Estados Unidos, revela um estudo realizado em 17 países. Segundo o estudo, dirigido por pesquisadores da Universidade de New South Wales, em Sydney, Austrália, 16,2% dos norte-americanos já consumiram cocaína ao menos uma vez, enquanto que em análise comparada 42,4% já fumaram maconha. O estudo é baseado em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os neozelandeses aparecem na segunda posição entre os consumidores de entorpecentes, com 4,3% para cocaína e 41,9% para maconha. A pesquisa, realizada com 54.068 pessoas, também representou o perfil estatístico do principal consumidor de drogas: jovem adulto, do sexo masculino, com alta renda e solteiro ou divorciado. O consumo “não parece ter uma relação direta com as políticas nacionais de repressão às drogas”, afirmaram os pesquisadores. De fato, “os países com uma legislação mais rigorosa não registram um menor consumo do que nações mais tolerantes”. A Holanda é um perfeito exemplo, baseada em conquistas de cidadania, já que apesar de sua política liberal em matéria de entorpecentes, tem apenas 1,9% de consumidores de cocaína e 19,8% de maconha.

Enquanto a cannabis foi a substância mais consumida no mundo em 2018, com uma estimativa de 192 milhões de pessoas que a usaram, os opioides, no entanto, continuam sendo os mais nocivos, pois na última década o número total de mortes por transtornos associados ao uso de opioides teve alta de 71%, com aumento de 92% entre as mulheres, comparado com 63% entre os homens. Um opioide é qualquer composto químico psicoativo que produza efeitos farmacológicos semelhantes aos do ópio ou de substâncias nele contidas. Também inclui os opiáceos. Os opioides agem sobre receptores opioides, com efeitos similares aos da morfina. O uso de drogas aumentou mais rapidamente entre os países em desenvolvimento, durante o período 2000-2018, do que nos países desenvolvidos. Adolescentes e jovens representam a maior parcela daqueles que usam drogas, enquanto os jovens também são os mais vulneráveis aos efeitos das drogas, pois são os que mais consomem e seus cérebros ainda estão em desenvolvimento. Embora o impacto das leis que legalizaram a cannabis em alguns países ainda seja difícil de avaliar, é notável que o uso frequente da cannabis aumentou em todas essas  áreas após a legalização. Em alguns desses países, os produtos mais potentes da cannabis também são mais comuns no mercado. A cannabis também continua sendo a principal droga que coloca as pessoas em contato com o sistema de justiça criminal, respondendo por mais da metade dos casos de infrações à lei de drogas, com base em dados de 69 países, no período de  2014 a 2018. O Relatório também aponta que os países de baixa renda ainda sofrem com a escassez de opioides farmacêuticos, usados para controle da dor e cuidados paliativos. 

As apreensões dos Estados Unidos custam aos traficantes dezenas de milhões de dólares. Mais de 90% de todos os opioides farmacêuticos disponíveis para consumo médico encontravam-se em países de alta renda em 2018, compreendendo cerca de 12% da população mundial. Os opioides estão entre as drogas mais antigas do mundo: o uso terapêutico da papoula do ópio é anterior à história documentada. Os efeitos analgésicos dos opioides se devem a uma diminuição da percepção da dor, ou seja, a uma maior tolerância à dor. Os efeitos colaterais dessas substâncias incluem sedação, depressão respiratória, obstipação e um forte sentimento de euforia. Podem causar a supressão da tosse - sendo efetivamente empregados na prática clínica com essa finalidade, mas, ao mesmo tempo, a ação antitussígena pode ser considerada um efeito colateral indesejado. O paciente pode desenvolver dependência durante o tratamento, seguindo-se a síndrome de abstinência se o uso dessas substâncias for interrompido repentinamente. A euforia produzida por elas é, todavia, um dos principais motivos para o uso social não médico dessas substâncias, com eventual abuso e dependência. A estimativa estatística é de que os países considerados dentro de baixa e média renda, que   compreendem os 88% da população mundial, ipso facto consumam menos de 10% de opioides      farmacêuticos. O acesso de consumo aos opioides farmacêuticos depende de vários fatores   sociais e políticos, incluindo legislação, cultura, sistemas de saúde e práticas de prescrição.  

Um fato memorável se dá com a biografia de Michel Foucault, escrita por Didier Eribon (1990), onde é belíssima a passagem que ilustra a conversa com Hegel para aquela geração de franceses da década de 1940. O professor que atrairá profundamente esse grupo é aquele encarregado de preparar a classe para a prova de filosofia. Khâgne é um termo em francês reconhecido como classes preparatórias literárias, ou seja, a classe preparada para grandes escolas dedicada à literatura e às humanidades. Chama-se Jean Hyppolite e seu nome reaparece mais de uma vez na caminhada profícua que o filósofo Michel Foucault escolhera. Jean d’Ormesson, que frequentou o Liceu dois anos antes, descreve esse homem redondo atrás da mesa, a palavra sorridente, farta, sonhadora, tímida, alongando o final das frases com patéticas aspirações, reluzindo de eloquência à força de recusá-la, exigindo o mesmo rigor nos métodos, a fim de reconstituir a sequência da filosofia, afirmando ainda “eu não compreendia nada”. Sem dúvida outros também não compreendiam. Hyppolite fascina os alunos. Ele comenta para os alunos a concepção contida na Fenomenologia do Espírito, de Hegel e a Geometria, de René Descartes. Um objeto abstrato não existe em nenhum momento, ou lugar particular, mas como um tipo de representação (coisa) como uma ideia, ou abstração.  Esta ideia foi suficiente ao desenho mais correto na inscrição: “Isto não é um cachimbo”, para que a figura esteja obrigada a sair de si, isolar-se de seu próprio espaço e, finalmente, pôr-se a flutuar, longe ou perto de si mesma, não se sabe, se semelhante ou diferente de si.

No oposto de Isto não é um cachimbo, L`Art de la conversation: numa paisagem de começo do mundo ou mesmo de gigantomaquia, dois personagens minúsculos estão falando: discurso inaudível, murmúrio que é logo retomado no silêncio das pedras, no silêncio dessa parede em desaprumo que domina, com seus blocos enormes, os dois tagarelas mudos; ora esses blocos amontoados em desordem uns sobre os outros, formam a sua base, um conjunto de letras onde é fácil decifrar a palavra: rêve – sonho que é possível, olhando melhor, completar com trêve, trégua, ou crêve, morte, ou morra, arrebente, como se todas essas palavras frágeis e sem peso tivessem recebido o poder de organizar o caos das pedras. Ao contrário, pois por detrás da tagarelice despertada, mas logo perdida, dos homens, as coisas pudessem, em seu mutismo e em seu sono, compor uma palavra, estável que nada poderá apagar, palavra que designa a mais fugidia das imagens. Mas não é tudo: pois segundo Foucault, é no sonho que os homens, enfim, reduzida ao silêncio, comunicam com a significação das coisas, e se deixam impressionar por essas palavras enigmáticas, insistentes, que vem de outro lugar. Isto não é um cachimbo, era a incisão do discurso na forma das coisas, era seu poder ambíguo de negar e de desdobrar: A arte da conversa é a gratidão autônoma das coisas que forma as suas próprias palavras na indiferença dos homens, impondo a eles, sem mesmo que saibam, em sua tagarelice cotidiana. Para o que importa entre esses dois extremos, a obra de Magritte desdobra o jogo das palavras e imagens. Os títulos, frequentes inventados a posteriori e por outrem, se inserem nas figuras onde o ponto em que podem se agarrar, estava senão marcado, autorizado de antemão, onde representam um ambíguo. Foucault nos coloca em dupla diante de complexo filosófico sobre a arte que, é arte enquanto processo de abstração.

Dois sujeitos escapam ao marcado mundo das semelhanças: o leitor e o expectador. Este mesmo campo das semelhanças serve à representação e igualmente a ordena, enquanto a similitude se estabelece na incerteza e na flutuação. Tudo isso é necessário para afirmar que “em nenhum lugar há um cachimbo” (p. 34). O que importa saber para além da representação de Magritte é que os signos e as coisas, dois universos de semelhanças, estão unidos pelo mesmo jogo. A semelhança domina a trama do mundo das coisas. O que Foucault chamou de “um apagar do lugar-comum” não é mais que a ausência de espaço entre os signos da escrita e as linhas da imagem. A arte escreve algo em nós, discursa e apresenta enunciados de difícil compreensão. Um objeto num quadro é um volume organizado e colorido de tal sorte que sua forma se reconhece logo e que não é necessário nomeá-lo, mas no objeto, a massa necessária é reabsorvida, o nome inútil é despedido; Magritte elide o objeto e deixa o nome imediatamente superposto à massa. O fuso substancial do objeto não e mais representado senão por seus dois pontos extremos, a massa que faz sombra e o nome que designa. L`Alphabet des révélations se opõe muito exatamente ao Personagem caminhando em direção do horizonte: para Foucault, um grande quadro de madeira dividido em dois painéis, à direitas, formas simples, perfeitamente reconhecíveis, um cachimbo , uma chave, uma folha, um copo; ora, embaixo do painel, a figuração de um rasgo mostra que essas formas não são nada além de recortes numa folha de papel sem espessura; sobre o outro painel, uma espécie de barbante torcido e inextricável não desenha nenhuma forma reconhecível. Sem massa, sem nome, forma e volume, recorte vazio, tal é o objeto, entenda-se, que havia desaparecido do quadro precedente.

É preciso não se enganar: num espaço em que cada elemento parece obedecer ao único princípio de representação plástica e da semelhança, os sinais linguísticos, que pareciam excluídos, que rondavam de longe à volta da imagem, e que o arbitrário do título parecia ter afastado para sempre, se aproximaram sub-repticiamente: introduziram na solidez da imagem, uma desordem – uma ordem que só lhes pertence. Fizeram fugir o objeto, que revela a finura de sua película. Parece, grosso modo, que Magritte dissociou a semelhança da similitude e joga esta contra aquela. A semelhança tem um padrão impreciso, mas que funciona como elemento original que ordena e hierarquiza a partir de si todas as cópias, cada vez mais fracas, que podem ser tiradas. Assemelhar significa uma referência primeira que prescreve e classifica. O similar se desenvolve em séries que não tem começo nem fim, que é possível percorrer num sentido ou em outro, que não obedecem a nenhuma hierarquia, como num colegiado universitário, ou no sistema de representação presidencialista, mas se propagam sob a forma de pequenas diferenças em inúteis pequenas diferenças. A semelhança serve à representação, que reina sobre ela; a similitude serve à repetição, que corre através dela. A semelhança se ordena segundo o modelo que está encarregada de acompanhar e de fazer reconhecer; a similitude faz circular o simulacro como relação indefinida e reversível do simular ao simular. Na Décalcomanie (1966), uma cortina vermelha de largas dobras que ocupa dois terços do quadro exposto subtrai ao olhar uma paisagem do céu, do mar e de areia. Ao lado da cortina, dando como de costume, as costas ao espectador, o homem com chapéu-coco olha para o perigo. A cortina se encontra recortada com uma forma que é exatamente a do homem: como se fosse ele próprio um pedaço de cortina cortado com a tesoura. Nessa larga abertura, vê-se a praia. O que se deve compreender? É o homem destacado da cortina e, ao se deslocar permite ver o que ele provavelmente estava olhando quando se misturava anteriormente com a dobra da cortina? Decalcomania? Deslocamento e mudança de elementos similares, mas de modo algum uma reprodução semelhante: “corpo=cortina”, diz que é representação semelhante.

Bibliografia geral consultada.

ARON, Raymond, “La Définition Libérale de la Liberté”. In: Archives Européennes de Sociologie. Quadrimestriel, II, 2, 1961, pp. 199-218; FERNANDES, Florestan, Elementos de Sociologia Teórica. São Paulo: Editora Nacional e Editora da Universidade de São Paulo, 1970; Cap. 2, “As Grandes Formas da Vida Social”, pp. 36 e ss.; LEWONTIN, Richard, The Doctrine of DNA: Biology as Ideology. London: Editor Penguin Books, 1993; ARBEX JR., José, Narcotráfico – Um Jogo de Poder nas Américas. Rio de Janeiro: Editora Moderna, 1996; PEIXOTO, Clarice, “Entre o Estigma e a Compaixão e os Termos Classificatórios: Velho, Velhote, Idoso, Terceira Idade”. In: BARROS, Myriam Moraes Lins de (Organizadora), Velhice ou Terceira Idade? Estudos Antropológicos sobre Identidade, Memória e Política. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998; MARX, Karl, Contribuição à Crítica da Economia Política. 4ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011; GOLDENBERG, Mirian, A Bela Velhice. Rio de Janeiro: Editora Record, 2013; HADDAD, Eneida Gonçalves de Macedo, Ideologia da velhice. 1ª edição. São Paulo: Editora Cortez, 2017; RAMPINELLI, Waldir José, “Los Narcos Gringos – Una Radiografía Inédita del Tráfico de Droga en Estados Unidos, de J. Jesús Esquivel”. In: Lutas Sociais. São Paulo, vol. 21, nº 39, pp.154-157, jul./dez. 2017; DOMINGUES, Rafaela de Campos; FREITAS, Joanneliese de Lucas, “A Fenomenologia do Corpo no Envelhecimento: Diálogos entre Beauvoir e Merleau-Ponty”. In: Rev. Subj. vol.19 no.3. Fortaleza, set./dez. 2019; LÓPEZ, Andrés López, Joaquín El Chapo Guzmán: El Varón de la Droga. Madri: Ediciones Debolsillo, 2019; CLOSS, Marília Bernardes, Violência, Autoridade e Território: Ascensão e Consolidação do Narcotráfico na Colômbia (1975-1990). Dissertação de Mestrado em Ciência Política. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2019; MATA, Amanda Louise da; OLIVEIRA, Letícia Pereira de, As Relações do Narcotráfico na América Latna e a Guerra às Drogas Norte-americanas. Trabalho de conclusão de Curso de Relações Internacionais. São Paulo: Universidade São Judas Tadeu, 2021; entre outros. 

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