“A
trivialização do conhecimento não faz do conhecimento apenas um produto
determinado”. Edgar Morin
Além da própria historiografia, o
conhecimento a história tem sido uma tarefa ímpar de todas as ciências sociais.
A sociologia, a economia política, a ciência política, a antropologia, a
psicologia, trabalham com questões políticas, econômicas, sociais, culturais,
religiosas, militares, demográficas e outras, que correspondem a ações,
relações, processo e estruturas tomados em algum nível da historicidade. Mesmo
as correntes de pensamento orientadas no sentido de formalizar as
interpretações, em temos de indução quantitativa ou construção de modelos,
mesmo nesses casos onde a pesquisa produz alguma explicação nova, reavalia ou
reafirma explicações vigentes, sobre os modos e os tempos da história. Também
há aqueles que formalizam e fetichizam as categorias dialéticas de pensamento,
perdendo de vista o fluxo real das ações, relações, processos e estruturas que
expressam movimentos e as modificações das gentes, grupos, classes e nações.
Uns e outros constroem mitos. Em todos os casos, no entanto, a história aparece
de alguma forma, como história real ou invenção, drama ou epopeia, elegia ou
profecia. A multiplicidade de ciências e teorias relativas ao nível social, tem dado origem a distintas interpretações como se escreve ou
produz a história.São distintas e heterogêneas a histórias do capitalismo que aparecem nas
análises de Ricardo, Marx, Tocqueville, Durkheim, Weber, Keynes, Parsons,
Hobsbawm e outros.
Não só na sociologia, mas no
conjunto das ciências socais, encontram-se as mais diversas explicações sobre
como e por que se da a mudança, a evolução, o progresso, o desenvolvimento, a
modernização, a crise, a recessão, o golpe de classe, a reforma, a revolução.
Para explicar as transformações sociais, em sentido amplo, o sociólogo, antropólogo,
economista, politólogo, psicólogo, historiador e outros têm buscado causas,
condições, tendências, fatores, indicadores, variáveis, e assim por diante. Ao
analisar as condições de formação, funcionamento, reprodução, generalização,
mudança e crise do capitalismo globalizado, os cientistas sociais têm proposto
explicações que nem sempre se excluem. Em certos casos, umas implicam outras,
ou as englobam. Em primeiro lugar, uma interpretação que se generalizou
bastante, desde os arquétipos comparados da Revolução Industrial, estabelece
que o progresso econômico é o resultado da “criatividade empresarial”. Isto é,
toda mudança, inovação ou modernização econômica substantiva tende a consumar a
capacidade de criação e liderança de empresários imaginosos, inventivos ou
mesmo lúdicos, capazes de articular e dinamizar os fatores da produção
preexistentes e novos. Essa interpretação tem os seus principais enunciados nos
escritos de economistas clássicos, seus discípulos e continuadores no século
XIX e XX. Os valores relacionados aos self-made man ao tycoon, ao
capitão de indústria, ao pioneiro, à identidade entre propriedade privada,
livre empresa e sociedade aberta, ligam-se à tese de que a
criatividade é a base do progresso capitalista.
A segunda interpretação, reconhecida
como “teoria das elites”, está relacionada com a anterior. Recebeu
contribuições de Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca. E tem sido retomada, em
diferentes linguagens, por outros cientistas sociais e escritores, como James
Burnham, Samuel P. Huntington, Clark Keer, David E. Apter, John Kenneth
Galbraith e outros. É uma corrente de pensamento que propõe o funcionamento da
sociedade e a mudança social em termos de elites empresariais, gerenciais,
militares, intelectuais e outras. Desde o término da 2ª guerra mundial, essa
teoria tem sido a base de programas organizados pelo imperialismo
norte-americano, no treinamento de quadros de intelectuais, tecnocratas,
militares, gerenciais, empresariais e outros, para soluções golpistas ou não em
países dependentes e coloniais. Em terceiro lugar, há a intepretação que
atribui importância especial à divisão social do trabalho. Toma-se o meio de
trabalho como o processo social, de âmbito estrutural, que comanda o
funcionamento, as combinações e as transformações das elações sociais e
instituições, em níveis econômico, político e outros. Adam Smith e Émile
Durkheim são autores importantes nessa corrente de pensamento. Boa parte do
pensamento liberal apoia-se nessa ideia. A divisão internacional do trabalho
foi apresentada durante o século XIX e até a década de 1930, como a base da
prosperidade econômica e social das pessoas, de grupos sociais e das nações. As
teorias sobre a democracia liberal, o pluralismo democrático e a cidadania apoia-se implicitamente na ideia de que a divisão social do trabalho, em
sentido amplo, é o processo estrutural, mas que historicamente é o que fundamenta e dinamiza a melhor
expressão e articulação de pessoas e grupamentos sociais, atividades e instituições políticas e econômicas de setores produtivos e países.
A
quarta intepretação considera que o fundamento último da mudança, progresso ou
desenvolvimento econômico e social é a “tecnologia”. O progresso técnico
comandaria as possibilidades de articulação e dinamização dos fatores
produtivos principalmente capital e força de trabalho. As possibilidades de
poupança e investimento, bem como desenvolvimento e diferenciação dos sistemas
econômico e social estriam na dependência das inovações e aplicações da
tecnologia, inovações essas originadas das ciências da natureza e da sociedade.
Essa interpretação tem várias formulações. Todas, no entanto, apoiam-se na
ideia de que ciência, tecnologia e desenvolvimento, ou pesquisa e
desenvolvimento em geral relacionam-se positivamente. A quinta interpretação
confere papel especial ao Estado. Depois da crise da concepção liberal do poder
político-econômico e da história, generalizou-se cada vez mais a intepretação
que vê na ação estatal a base da organização e mudanças de relações e
organizações econômicas e sociais. É claro que esta ideia já está presente,
implícita ou explícita, no pensamento científico e filosófico dos séculos XVIII
e XIX. Ela aparece em escritos de Hegel, Marx, Engels e Lenin, além de Keynes,
Myrdal, Baran e ouros. Depois da criação do regime socialista em vários países,
por um lado, e da crise econômica mundial iniciada em outubro de 1929, por
outro, os governos capitalistas, dominantes e dependentes, passaram
a intervir de forma cada vez mais ampla e profunda na economia.
A sexta e última interpretação busca
as razões dos movimentos e transformações sociais, político-econômicas e
culturais nas relações e contradições de classes. De acordo com essa
intepretação, as forças produtivas, a atuação estatal e outros aspectos político-econômicos,
sociais e culturais são articulados e desarticulados em conformidade com os
movimento e desenvolvimentos das relações e contradições das classes sociais:
burguesia, classe média, campesinato, proletariado e suas subdivisões
estruturais e de ocasião. Dentre os autores que se situam nessa orientação, ou
contribuíram para o seu desenvolvimento, destacam-se Marx, Engels, Lenin,
Bukharin, Trostski, Lukács, Gramsci e Mao-Tsé-tung, além de José Carlos
Mariátegui, Maurice Dobb, Paul A. Baran, Paul M. Sweezy, Frantz Fannon e alguns
outros. Essa interpretação se funda na análise do processo de trabalho
produtivo, processo esse que produz a mercadoria, a mais-valia de que o burguês
se apropria e a alienação econômica e política do trabalhador. O principal
conteúdo e resultado desse processo produtivo, ou dessas relações de produção,
é o antagonismo entre o operário e o burguês. O golpe de Estado, a greve e a
revolução produzem-se neste contexto. Numa formulação breve, essa interpretação
engloba relações, processos e estruturas básicos e intermediários da sociedade.
Enfim, cada uma dessas interpretações implica uma forma peculiar de compreender
as relações entre biografia e história, conjuntura e estrutura, sincronia e
diacronia, ou entre as ações, as relações, os processos e estruturas sociais,
em seus perfis e movimentos. Outras interpretações situam-se neste contexto
problemático, paradoxal. São interpretações sobre as condições e possibilidades
de produção da história, em forma cômica ou trágica, dramática ou épica.
As
ideias movem-se, mudam de lugar, ganham força na história, apesar das
formidáveis determinações internas e externas globais. O conhecimento
transforma-se, progride, regride. Crenças e teorias renascem; outras, antigas,
morrem. A primeira condição de uma dialógica cultural é a pluralidade e
diversidade de pontos de vista. Essa diversidade cultural é potencial e está em
toda parte. Toda sociedade comporta indivíduos genética, intelectual,
psicológica e afetivamente muito diverso, apto, portanto, a outros pontos de
vista cognitivamente muito variados. São, justamente, essas diversidades de
pontos de vista culturais e políticos que inibem e a normalização reprime. Do
mesmo modo, as condições sociais ou acontecimentos aptos a enfraquecerem o
imprinting, segundo Morin (2008), e a normalização permitirão às diferenças
individuais exprimirem-se no domínio cognitivo. Essas condições aparecem nas
sociedades que permitem o encontro, a comunicação e o debate de ideias. A
dialógica cultural supõe o comércio, constituído de trocas múltiplas de
informações, ideias, opiniões, teorias; o comércio das ideias é tanto mais
estimulado quanto mais se realizar com ideias de outras culturas do passado. O
intercâmbio das ideias produz o enfraquecimento dos dogmatismos e
intolerâncias sociais e religiosas, o que resulta no próprio crescimento. Comporta a competição, a
concorrência, o antagonismo, o conflito social, moral e político, entre ideias, concepções e visões de mundo.
A trivialização do conhecimento não
faz produto do conhecimento apenas um produto determinado, faz também dele um produto
qualquer. Mas as ideias podem tornar-se ideológicas na medida em que sua
estrutura socialmente obedece às estruturas socioprofissionais, sua produção integra-se
entre os outros processos de produção e a cultura torna-se cognoscível a partir
das categorias econômicas do capital e do mercado. Mas nem a informação, nem a
teoria, nem o pensamento abstrato, nem a cultura são produtos triviais,
ainda que mais não seja pelo fato de serem, ao mesmo tempo, produtos/produtores
e, mesmo comportando hologramaticamente a dimensão socioeconômica, não
poderiam ser reduzidas a isso. A redução trivializante não teme exercer-se como
sujeito sobre o conhecimento científico. Este nível abstrato como
qualquer outro é apropriado pelo pensamento, como a religião e através da
ciência, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e sua estratégias,
seus interesses e seus ganhos. Mas, por seu lado, os estudos de etnografias dos
laboratórios, estes que parecem ter dinamismo, demonstram-nos como se
estabelecem essas mediações dos pesquisadores, em função de posições, ou
status, as lutas e a utilização de alguns truques diabólicos pelo
reconhecimento per se, pelo prestígio ou pela glória, com as negociações
necessárias ao estabelecimento de uma prova, os ritos de passagem na pesquisa e
na universidade. A motivação primeira do cientista é a notoriedade. Mas não se
pode reduzir o interesse científico ao interesse econômico, a vontade de
pesquisar ao desejo de prestígio, a sede de conhecimento à sede de poder, em
alguns casos terrenos sim. A sociologia não pode ser considerada uma concepção
que exclui o indivíduo ou que, no máximo, o tolera. É uma concepção humanista,
mas que deve implicá-lo e explicitá-lo.
Sobre a aquisição do conhecimento
pesa um formidável determinismo. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como
se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos,
estabelece os limites, ergue cercas de arame farpado e conduz-nos ao ponto onde
devemos ir. E também que conjunto prodigioso de determinações sociais,
culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, da menor
teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior
sobre o conhecimento. É necessário considerar, também, os determinismos
intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Edgar Morin, muito mais
implacáveis. Em primeiro lugar, princípios iniciais, comandam esquemas e
modelos explicativos, os quais impõem uma visão de mundo e das coisas que se
governam/e controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos,
pensamentos, teorias. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos
associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que,
quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a força imperativa do sagrado, a
força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. As doutrinas e
ideologias dominantes nas sociedades dispõem também da força imperativa e
coercitiva que evidencia aos convictos e o temor inibitório aos desalmados.
A
partir deste fundamento, compreendemos que ordem, desordem e organização são
elementos essenciais para o entendimento da questão da complexidade, pois se desintegram e
se desorganizam ao mesmo tempo. Nesse entendimento, constata-se que o sentido
da realidade se dá por meio da relação do todo com as partes e vice e versa em
uma análise integradora em que não é pertinente examinar o fenômeno a partir de
uma única matriz de racionalidade. A desordem torna-se indispensável para a
organização social da vida humana, pois a sociedade é dependente de
acontecimentos/fatos que possam modificar a ordem já estabelecida para gerar
novos meios de organização entre os sujeitos. Há um imprinting cultural, matriz
que estrutura o conformismo, e há uma normalização que o impõe. O imprinting é
um termo que Konrad Lorentz propôs para dar conta da marca incontornável pelas
primeiras experiências do jovem animal, como o passarinho que, ao sair do ovo,
segue como se fosse sua mãe, o primeiro ser vivo ao seu alcance. Há um
imprinting cultural que marcam os humanos, desde o nascimento, com o selo da
cultura, primeiro familiar e depois da escola, prosseguindo na universidade ou
na profissão. Contrariamente à orgulhosa pretensão dos intelectuais e
cientistas, o conformismo cognitivo não é de modo algum uma marca de subcultura
que afeta principalmente as camadas subalternas da sociedade. Os subcultivados
sofrem um imprinting e uma normalização atenuados e há mais opiniões
pessoais diante do balcão de café do que num coquetel literário.
Embora
contrariados em contradição com seu desenvolvimento liberal intelectual que
permite a expressão de desvios e de ideias e formas escandalosas, o imprinting
e a normalização crescem paralelamente com a aquisição real da cultura. O imprintingcultural determina à desatenção seletiva, que nos faz desconsiderar tudo aquilo
que não concorde com as nossas crenças, e o recalque eliminatório, que nos faz
recusar toda informação inadequada às nossas convicções, ou toda objeção vinda
de fonte técnica considerada ruim. A normalização manifesta-se de maneira
repressiva ou intimidatória. Cala os que teriam a tentação de duvidar ou de
contestar. A normalização, portanto, com seus subaspectos de conformismo,
exerce uma prevenção contra o desvio e elimina-o, se ele se manifesta. Mantém,
impõe a norma do que é importante, válido, inadmissível, verdadeiro, errôneo,
imbecil, perverso. Indica os limites a não ultrapassar. As palavras que não
devem proferir. Os conceitos a desdenhar, as teorias a desprezar. O imprinting
assimila a perpetuação dos modos de conhecimento e verdades estabelecidas.
Obedece a processos de tribunais: uma cultura produz modos de conhecimento
entre os homens dessa própria cultura. Através do seu modo de conhecimento,
reproduzem a legitimidade que produz esse conhecimento. As crenças que se
impõem são fortalecidas pela fé que as suscitaram. Então, se reproduzem não
somente os conhecimentos, mas asestruturas e os modos reguladores que determinam a invariância desses
conhecimentos.
É
isto exatamente o que ocorre. A prova disso, no entanto, ocorre com as
anulações de concursos quando não surge o candidato certo. Mas o inegavelmente
ridículo é quando operam um parecer contrário. Sustentando que a carreira do
pesquisador não apresenta o desempenho (fálico) estimulado, ultrapassado pela quase
“meia verdade”, caraterizada pelo conceito de estigma especificamente
propalado por um cientista político estudioso das relações concretas de poder
nas instituições. Mas isso não deve mascarar ou anular a originalidade complexa
da comunidade/sociedade constituída pela trupe de cientistas, nem as ideias
fixas, as obsessões intelectuais, themata, autônomas e dissociadas da
estrutura social, que animam ou dispensam a busca específica da verdade
objetiva da qual Michel Foucault, com razão, apoiando-se na exterioridade
visível que Magritte nomeia seus quadros infere dizendo: “Ceci n`est pas um
pipe”, para impor respeito à denominação. Nesse espaço quebrado e à deriva, que
exige respeito, estranhas relações se tecem, intrusões se produzem, bruscas
invasões destrutoras, quedas de imagens em meios às palavras, fulgores verbais
que atravessam os desenhos e fazem-no voar em pedaços. Pacientemente, Paul Klee
constrói um espaço sem nome nem geometria, entrecruzando a cadeia dos signos e
a trama das figuras. Magritte, quanto a ele, mina em segredo um espaço que
parece mante na disposição tradicional. Mas ele o cava com palavras: e a velha
pirâmide da perspectiva está carcomida em seu secreto mórbido está aponto de
ruir, a sair de si própria e isolar-se. A arte da conversa, segundo Foucault
(2016: 49) cotidianamente, “é a gravitação autônoma das coisas que fizeram suas
próprias palavras na indiferença dos homens, impondo-a a eles, sem mesmo que
eles o saibam, em sua tagarelice cotidiana”.
De
fato, há nas formas sociais de motivação científica, um complexo variável e
instável de interesse e desinteresse, do qual as buscas do graal de
verdade, objetividade científico-social, elucidação são partes integrantes.
Assim, a cegueira sobre tudo o que não é ambição, conhecimento e interesse e vaidade nos
esclarece apenas sobre as motivações e os comportamentos dos que semeiam a
cegueira. O que ocorre é que à sombra do paradigma dominante, que o jovem Marx
insistia em referir-se a ideologia dominante e um intenso cretinismo, coquetel
de racionalização delirante, de sofística refinada e de grosseria determinista,
trivializou pela força o não-trivial. Ele se manifestou na biologia no determinismo
pangenético, na linguística, na antropologia, na psicanálise e, evidentemente,
na sociologia, na qual a complexidade das interações sociedade, a cultura e a
sociedade e os indivíduos, foi ocultada pela concepção ao mesmo tempo
determinista e trivial da sociedade e a organização do conhecimento; pisoteia
todo o que deriva da criação intelectual; reduz a teoria e as ideias a puros
objetos, produtos, instrumentos. Todas as interpretações deterministas,
redutoras, trivializante têm algo em comum, por um lado, a ignorância do
complexo das condições negativas ou permissivas favoráveis ao conhecimento e à
ideia autônomos e, e por outro lado, uma rejeição extraordinária da ideia de
indivíduo, inventor, criador; de resto, é aterrador ver o ódio suscitado entre
os autores, os inventores e os criadores dessa desindividualização pela
própria ideia de autor, inventor e criador.Percy Adlon é diretor, produtor e roteirista alemão. É considerado como um dos mais respeitados profissionais do cinema alemão, Adlon trabalhou como ator, antes de se tornar reconhecido como produtor de documentários. Em 1981, escreveu e dirigiu sua primeira peça teatral, Celeste, um relato etnográfico dos últimos dias de Marcel Proust, narrado por sua empregada. Um dos principais expoentes do cinema alemão, o filme Estação Doçura (1985), que narra a história social de uma atendente de funerária que seduz um condutor de metrô, o tornou mundialmente reconhecido.
Foi também através deste filme, que a atriz
alemã Marianne Sägebrecht, ex-artista de cabaré, fez sua estreia no cinema. A
partir daí, ela iria estrelar com destaque absoluto em vários filmes do
diretor, entre os quais Bagdad Café (1987), primeiro sucesso de Percy Adlon
em língua inglesa. O não-trivial é o que estabelece as relações sociais na
esteira de Out of Rosenheim (“Bagdad Café”), um filme alemão de 1987,
dirigido por Percy Adlon. O cinema produzido na Alemanha é fortemente marcado
por uma influência das tendências artísticas e vanguardas plásticas. O filme tem
como representação um drama passado num remoto posto-motel no Deserto de Mojave,
de beira de estrada, num deserto árido sendo o mais seco da América do Norte.
Está localizado no sudoeste dos Estados Unidos, principalmente no sudeste da
Califórnia e no sul de Nevada, e ocupa um total de 124.000 km², mas áreas
pequenas também se estendem para pelos parques nacionais de Utah e Arizona. Utah
é um dos cinquenta Estados americanos. Localizado na Região dos Estados das
Montanhas Rochosas, o mesmo limita-se com os Estados de Nevada a oeste,
Colorado a leste, Arizona ao sul e Wyoming e Idaho ao norte. O Arizona, é reconhecido
pelo Grand Canyon, uma fenda com quilômetros de profundidade esculpida
pelo rio Colorado. Flagstaff, é uma cidade montanhosa coberta de extraordinários
pinheiros da espécie pinus ponderosa, e importante acesso ao Grand
Canyon. Outro destaque é o Parque Nacional de Saguaro, que
protege a paisagem de cactos do Deserto de Sonora. Tucson é da Universidade do Arizona e abriga o Arizona-Sonora Desert Museum.
Seus
limites são geralmente observados pela presença de árvores de Josué, que são
nativas apenas do deserto e são consideradas uma espécie indicadora. A região
abriga de 1.750 a 2.000 espécies de plantas. A parte central do deserto é
escassa, enquanto suas periferias apoiam grandes comunidades como San
Bernardino, Las Vegas, Lancaster, Palmdale, Victorville e St. George. Esse
deserto possui clima hostil e abriga formações geológicas famosas, como o Vale
da Morte, desértico localizado no leste da Califórnia, ao norte do deserto
de Mojave, na fronteira com o Deserto da Grande Bacia. É um dos lugares mais
quentes do mundo no auge do verão, com seus leitos de lagos secos e cheios de
sal, juntamente com os desertos no Oriente Médio. Nessa região também está
alocado o maior cemitério de aviões do mundo, que consiste em um depósito onde
grandes jatos das empresas aéreas de todo o mundo ficam aguardando para serem
desmontados para aproveitamento de seus materiais recicláveis. Ganhou
notoriedade ao ser citado no clássico filme de Wim Wenders, Paris, Texas (1984).
É provavelmente um de seus trabalhos
mais conhecidos e aclamados pela crítica. O roteiro é de L. M. Kit Carson e Sam
Shepard; os temas musicais foram compostos por Ry Cooder e a direção de
fotografia é de Robby Muller. O filme ocorreu de uma coprodução entre a França
e Alemanha, porém as locações para filmagem ocorreram nos Estados Unidos da
América.
É
no Mojave também que o protagonista, vivido por Harry-Dean-Stanton, perambula
no início do filme. Com carreira prolífica, Harry se mantinha atuando no
cinema, e também na televisão, desde 1957. Em 1988 fez parte do júri do
Festival de Cinema de Veneza. Até 1971 era creditado nos filmes e na televisão
apenas como Dean Stanton, para evitar ser confundido com o ator Harry Stanton,
com quem atuou em 1969 em episódio do seriado Petticoat Junction. Foi
onde a banda de rock Californiana, Red Hot Chili Peppers, formada em Los
Angeles, Califórnia, em 13 de fevereiro de 1983, considerada uma das maiores
bandas da história do rock, gravou o extraordinário clipe da música “Give It
Away”, assim como as Spice girls filmaram o premiado clipe Say You'll
Be There, a cantora Madonna gravou o clipe da música “Frozen” nesse deserto
norte-americano. Elas assinaram com a Virgin Records e tornaram-se reconhecidas
em 1996 com o primeiro single, Wannabe que alcançou o topo das paradas de
sucesso em mais de 30 países, fazendo as garotas tornarem-se um fenômeno global
em função de três aspectos merceológico pode ser entendido como um estudo que
leva em consideração a análise das características técnicas e comerciais de uma
determinada mercadoria. Seu álbum de estreia, Spice, vendeu 30 milhões
de cópias, tornando-se o álbum mais vendido de todos os tempos por um grupo
feminino. O álbum Spiceworld vendeu 25 milhões de cópias no mercado fonográfico em
todo mundo globalizado. As Spice Girls venderam 90 milhões de discos,
tornando-as o grupo mais vendido de todos os tempos, um dos grupos pop
que mais vendeu em todos os tempos, e o maior fenômeno pop britânico desde
a démarche de consumo Beatlemania.
O
grupo pop global Now United, criado por Simon Fuller e gerenciado pela XIX
Entertainment, teve sua primeira formação escolhida mediante processos de
seleção. Gravou o videoclipe de “Come Together” também nesse panorâmico deserto.
E também a cantora Selena Gomez. Como atriz, estreou na série infantil Barney
e seus Amigos, em 1999. Ganhou destaque internacional ao estrelar a série
vencedora do Prêmio Emmy, Os Feiticeiros de Waverly Place, exibida pelo
Disney Channel, interpretando Alex Russo. Ela formou sua banda Selena Gomez
& The Scene, após assinar um contrato com a Hollywood Records em 2008, gravou
seu clipe A Year Without Rain neste deserto da trama Bagdad Café. E
também é o local onde o jogo se passa da Fallout: New Vegas, produzido
pela Obsidian Entertainment. Em 2001, o maratonista Carlos Sposito foi o
primeiro brasileiro a correr na região, em um desafio típico-solitário. O filme
tem como ponto de partida e contradição dialética quando a turista alemã Jasmin
(Sägebrecht) tem uma briga com seu marido e o abandona na estrada. Ela caminha
pelo deserto até chegar ao posto-motel Bagdad Café. O posto-motel é
frequentado por personagens.
A
liberdade intelectual não pode ser vista apenas como determinada possibilidade de expressão.
É uma noção que se torna necessário sociologizar, culturalizar, complexificar,
termodinamizar. Está ligada a um contexto cultural pluralista, dialógico,
conflitual agitado. Necessita não apenas das condições que se tornam, de fato,
permissivas, mas, também das condições dinâmicas irradiadas pelas crises,
turbulências, conflitos nas ideias e visões de mundo. Comparativamente, como
ocorre no mundo físico, a termodinâmica do mundo das ideias só é fecunda,
produtiva ou criadora entre certos patamares, os quais não podem ser
determinados a priori. Aquém desses limiares, não há “efervescência
cultural” e, além, a turbulência torna-se dispersiva ou explosiva. Não se pode determinar
uma temperatura intelectual ideal, ainda mais que não há nenhum termômetro ad
hoc. Mas, para concordarmos com Edgar Morin, assim como a verdadeira vida
do pensamento realiza-se na temperatura de sua própria destruição, “a
verdadeira vida de uma efervescência cultural desenrola-se quase na temperatura
de sua própria ebulição. Neste sentido, se podemos conceber o complexo das
liberdades, então podemos compreender que a cultura enquanto representação social seja tanto libertação
quanto prisão para o conhecimento ou para o pensamento.
A cultura aprisiona-nos
no seu etno-sócio-centrismo, seu hic et nunc, nos seus imperativos categóricos
e proibições, nas suas normas e normalizações, nas suas limitações e
encobrimentos, nos seus artigos de fé e também de desconfiança, nas suas
verdades e nos seus erros. Mas, ao mesmo tempo, a cultura oferece-nos uma
linguagem, um saber, uma memória, um processo comunicativo, uma possibilidade
de trocas linguísticas, verificações e refutações. Quando comporta em si a
pluralidade dialógica e a abertura para as outras culturas e os outros saberes
exteriores, oferece-nos as condições e possibilidades de emanciparmos
relativamente das suas limitações e dissimulações. Com o desenvolvimento da
cultura crescem, naturalmente, o artificial e o frívolo na esfera do
pensamento; além de pequenos imprinting locais e sofísticos
multiplicam-se em outros tantos diaforismos e trissotinadas; um “alto
cretinismo” instala-se nas esferas superiores; a proliferação da abstração e da
matematização mascara o real concreto ou mesmo de análise, que deviam traduzir,
mas, ao mesmo tempo crescem e multiplicam-se as brechas que permitem as
autonomias e as liberdades, as possibilidades de acesso aos problemas
essenciais e universais, mesmo se, sob a pressão das frivolidades e dos “altos
cretinismos”, inicialmente usado para descrever uma pessoa de muito pouca inteligência e lunática, os problemas decisivos permanecem confinados a uma minoria tola,
medíocre, desviante.
Bibliografia
geral consultada.
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jan. 2021; entre outros.
“A vida social consiste em destruir aquilo
que lhe dá o seu aroma”. Claude Lévi-Strauss
Uma forma discreta de superar
contradições reais ou abstratas supostas por um conjunto de práticas e saberes
sociais, é atribuir as teses inconciliáveis a momentos distintos e sucessivos
na reprodução de determinada mentalidade. Mas a questão que se coloca é:
estará sujeita à indignação de fatores que se pode atribuir o fato de ocorrer
na origem da civilização ocidental, e somente nela, o surgimento de fenômenos culturais
dotados de um desenvolvimento universal em seu valor e significado? Isto porque
os conhecimentos empíricos, as reflexões sobre os problemas do mundo e da vida
social, a sabedoria filosófica e teológica mais profunda não se restringe à
ciência. Não queremos perder de vista que um dos principais episódios da
Querela dos Antigos e dos Modernos gira em torno de uma tradução da Ilíada.O debate não se restringe à doutrina ou arte
poética, mas à genealogia da imitação das obras gregas em pintura e
escultura, além da base da alimentação como principal fonte de alimentos. O ambiente
favoreceu a criação de cabras e ovelhas, no lugar de vacas; pratos com carne
bovina são mais raros. Pratos com peixes são mais comuns, especialmente nas
regiões litorâneas e nas ilhas. A culinária é tradicional da Grécia, de
características mediterrânicas, e que partilha diversas características com as
culinárias da Itália, dos Balcãs, da Turquia e do Oriente Médio em geral. A
culinária grega contemporânea é tipicamente mediterrânea, e utiliza azeite,
grãos, pão, vinho, peixes, queijos, presunto e tipos de carnes, incluindo aves
e coelho. Entre os ingredientes estão a carne de cordeiro, ou de porco,
azeitonas kalamata, queijo feta, folhas de uva, abobrinha e iogurte. Entre as
sobremesas camel e as nozes, algumas utilizando massa filo, como a baclavá, um
tipo de pastel elaborado com pasta de nozes trituradas, envolvida em massa filo
e banhada em xarope ou mel, existindo variedades que incorporam pistache,
avelãs e sementes de gergelim, papoula ou outros grãos. A origem é no Médio
Oriente, feito com massa folhada muito fina geralmente recheada com frutos
secos como amêndoas ou pistachos e coberta com mel ou calda.
A Grécia tem uma tradição culinária
antiga, além de ser o berço da filosofia ocidental, com uma história de vários
milênios, quando ao longo do tempo, esta culinária evoluiu e absorveu diversas
influências, e acabou influenciando, por sua vez, as culinárias de outras regiões.
Os nomes de muitos dos pratos atuais vêm da tradição otomana e revelam suas
origens árabes, persas e turcas, como mussaca, uma espécie de lasanha
feita de berinjela, carne moída e tomate assados; baclavá, massa filo
doce com recheio típico; tzatziki, do turco cacık, iogurte com
alho e pepino picado; yuvarlakia e kefthedhes (almôndegas). A
maioria destas palavras entrou no vocabulário do idioma grego durante o período
otomano, que durou de 1299 a 1922, porém já havia contato anterior tanto com os persas quanto com os
árabes. Alguns destes pratos podem ser pré-otomanos, tendo adotado simplesmente
o nome utilizado pelos turcos para designá-los; os dolmades, por
exemplo, feitos com folhas de videira, também eram consumidos pelos bizantinos.
Alguns pratos tiveram influência italiana, especificamente veneziana,
como o pastitsio, o makaronia me kima (macarrão com carne),
encontrado principalmente na Anatólia e na Ásia Menor, de influência
grega. Segundo a mística, o kleftikó, cordeiro assado cujo
significado pode ser traduzido como uma “carne roubada”, tem sua origem nas
ovelhas e cabras que os kleftes, espécie de “guerreiros-bandidos” que
habitavam historicamente as regiões montanhosas, roubavam e cozinhavam
posteriormente num poço fechado, para que a fumaça não atraísse a atenção. Também
deve-se levar em conta que essa periodização está relacionada à história da
Europa e do Oriente Próximo como precursor das civilizações que se
desenvolveram no Mediterrâneo, culminando com Roma. Essa visão se consolidou
com a historiografia que surgiu no século XIX, que fez da escrita da história
uma ciência e uma disciplina acadêmica. Se repensarmos os critérios que definem
o que é a Antiguidade do resto do mundo, não é possível pensar em outros critérios
e datas balizadoras no âmbito da história.
Sem temor a erro em oposição ao
estatuto privilegiado atribuído à visão e à audição, na tradição da cultura
ocidental, o gosto, segundo Agamben (2017), é classificado como o
sentido mais baixo, cujos prazeres o homem condivide com outros animais e a
cujas impressões não se mistura “nada de moral”. Também nas Lições sobre
Estética de Hegel (1817-1829), o gosto é oposto aos dois sentidos
“teoréticos”, visão e audição, porque “não se pode degustar uma obra de
arte como tal, porque o gosto não deixa o objeto livre para si, mas tem a ver
com ele de modo realmente prático, dissolvendo-o e consumindo-o”. Por outro
lado, em grego, em latim e nas línguas modernas que dele derivam, é um vocábulo
etimologicamente ligado à esfera do gosto que designa o ato do conhecimento: “O
sapiente é assim chamado por causa da palavra `saber` (Sapiens dictus a
sapore), pois, assim, como o gosto é a apropriado à distinção do sabor, do
mesmo modo o sapiente tem a capacidade de conhecer as coisas e as suas causas,
na medida em que tudo o que ele conhece, ele o distingue segundo um critério de
verdade”, enuncia ainda no século VII uma etimologia (livro X, 240) de Isidoro
de Sevilha; e, nas lições de 1872 sobre os filósofos pré-platônicos, o jovem
filólogo Nietzsche nota a propósito da palavra grega sophós, “sábio”:
etimologicamente ela pertence à família de sapio, degustar, sapiens,
o degustante, saphēs, perceptível do gosto. Nós falamos do gosto na
arte: para os gregos, a imagem do gosto é ainda mais ampla. Uma forma
redobrada, Sísyphos, de forte gosto (ativo); também sucus
pertence a esta família, dizia Nietzsche. O prazer proporcionado pela comida é
um fator social preponderante da vida depois da alimentação bendita de
sobrevivência. Mas enquanto o gosto é a reação química entre o alimento e as
papilas gustativas, o sabor é a riqueza de sensações que o paladar em conjunto
com o olfato proporciona; sem olfato, não há 80% do sabor que começa quando
sentimos o cheiro da comida no prato que se aproximade nós.
Quando, no curso dos séculos XVII e
XVIII, começa-se a distinguir uma faculdade específica á qual são atribuídos o
julgamento e o gozo da beleza, é precisamente termo gosto, oposto
metaforicamente, como um sentido figurado, à sua acepção própria, que se impõe
na maior parte das línguas europeias para indicar aquela forma especial de
saber que goza do objeto belo e aquela forma especial de prazer que julga a
beleza. Com a sua habitual lucidez, Immanuel Kant, individua, de fato, desde a
primeira página da Crítica do juízo (1790), o “enigma” do gosto em uma
interferência entre saber e prazer. Desde o início, o problema do gosto se
apresenta assim como aquele de um “outro saber”, (um saber que não pode dar
razão em seu ato de conhecer), mas dele goza; nas palavras de Montesquieu: “a
aplicação pronta e requintada de regras que nem sequer conhecemos” e de um
outro prazer, (um prazer que conhece e julga), de acordo com o que está implícito
na definição de gosto de Montesquieu como “mesure du plaisir”; o conhecimento
do prazer, precisamente, ou o prazer do conhecimento, se nas duas expressões se
dá ao genitivo um valor subjetivo, e não apenas objetivo. Enfim, a estética
moderna, a partir de Baumgarten, se construiu como uma tentativa de indagar a
especificidade desse “outro saber” e de fundar a sua autonomia ao lado do
conhecimento intelectual (cognitio sensitiva) ao lado da lógica,
intuição ao lado do conceito). Desse modo, configurando a relação entre eles
como aquela entre duas formas autônomas no interior do mesmo processo
gnosiológico, ela deixava, porém, na sombra precisamente o problema
fundamental, que, como tal, deveria ser interrogado: por que o conhecimento
está assim originalmente dividido e por que ele mantém, de modo igualmente
original, uma relação com a doutrina do prazer, isto é, com a ética? Ora,
situar o gosto como lugar privilegiado no qual vem à luz a fratura do objeto do
conhecimento, em verdade e beleza, e do télos ético do homem, em
conhecimento e prazer, caracteriza de modo essencial a metafísica ocidental.
A
gastronomia nasceu desse prazer e constituiu-se como a arte e a
habilidade técnica de cozinhar e de associar aos alimentos o máximo benefício
num tempo determinado. Cultura antiga, a gastronomia esteve na origem de
grandes transformações sociais e políticas. A alimentação vem passando por longas
etapas do desenvolvimento humano, junto com a evolução do estágio de nômade
caçador ao de homem sedentário, quando este descobriu a importância da
agricultura e da domesticação dos animais. A fixação à terra trouxe uma maior
abundância de comida, provocou um aumento demográfico, e consequente processo que
levou a um aparente esgotamento dos recursos e migração para novos locais a
explorar. Houve apenas duas importantes exceções na história antiga: o Egito e
a Mesopotâmia, devido à fertilidade trazida das águas do Nilo, Tigre e
Eufrates, que se mantiveram constantes em sua duração do tempo. A riqueza
proporcionada pela abundância trouxe a curiosidade pela novidade e pelo
exotismo. O homem que viajava, o comerciante, não só levava aquilo que faltava
numa região como introduzia novos alimentos, criando necessidades
imprescindíveis ao desenvolvimento do seu comércio. O transporte de
alimentos provocou a necessidade cultural de aditivos: por exemplo, sabemos que
o aroma da resina de alguns atuais vinhos gregos foi induzido pelo fato de se
utilizar a resina em tempos remotos para tratar os odores de cabra que o vinho
continha.
Começando
pela origem palavra gastronomia, que tem a sua raiz no grego e faz parte da
união de duas outras palavras: gaster, que significa estômago e nómos,
que significa “leis que governam”. A gastronomia é entendida como subsistência,
como leis que governam o estômago. Sobre a sua história, propriamente dita, o
que se revela pela pesquisa é que ela não é tão antiga quanto muitos de nós
imaginamos, uma vez que, na Idade Média as pessoas se preocupavam mais se
realmente conseguiriam encontrar algo para comer e menos no como
comeriam. De acordo com alguns
historiadores, foi no reinado de Luís XIV (1638-1715) que a gastronomia teve a
sua origem, quando os nobres da França passaram a elaborar e definir regras e
normas sobre o que realmente seria “comer bem ou comer mal”. No entanto,
somente em 1801 é que a palavra gastronomia surgiu e foi utilizada pela
primeira vez, como título de um poema de Joseph Berchoux. A partir destes fatos
etnográficos é que a culinária francesa se tornou tão tradicional e passou a
ser reconhecida como símbolo de sofisticação na alimentação, fazendo com que percebêssemos
que existem diferenças elementares entre comer em decorrência da necessidade biológica
e comer como forma de celebrar um ritual etnográfico.
Segundo
Norbert Elias, quando narra a questão tópica: Dos Costumes Medievais
(2011: 70 e ss.) lembra que a Idade Média nos deixou um grande volume de
informações sobre o que era considerado comportamento socialmente aceitável.
Neste particular, também preceitos sobre a conduta às refeições tinham
importância muito especial. Comparativamente ele admite que comer e beber nessa
época ocupavam uma posição muito mais central na vida social do que temos,
quando propiciavam, com frequência, embora nem sempre, o meio e a introdução às
conversas e do convívio social. Religiosos cultos redigiam às vezes, em latim,
normas de comportamento que servem de testemunho do padrão vigente na sociedade
que se desenvolvia lentamente. Hugo de São Vitor, por exemplo, falecido em
1641, em seu De Instituitone Novitiarum, estuda entre outras questões. O
judeu espanhol batizado Petrus Alphonsi tratou delas em sua obra Disciplina
Clericaris, em princípios do século XII; Johannes von Garland dedicou aos
costumes e, em especial, às maneiras à mesa, parte dos 662 versos latinos que,
em 1241, apareceram sob o título Morale Scolarum. Além dessas normas
sobre comportamento discutidas pela sociedade religiosa de fala latina, houve,
a partir do século XIII, documentos correspondentes nas várias línguas leigas –
acima de tudo, no início, procedentes das cortes da nobreza guerreira. As
primeiras notícias sobre as maneiras que prevaleciam na alta classe
secular são fora de dúvida as que vêm da Provença e da vizinha e culturalmente
aparentada Itália. O primeiro trabalho alemão sobre a courtoisie
é também de autoria de um italiano, chamado Thomasin von Zirklaria, e
intitulado O Convidado Italiano (Der Wälsche Gast), traduzido por
Ruckert para o alemão moderno. Thomasin von Zirclaere, também chamado Thomasîn von Zerclaere ou Tommasino Di Cerclaria, era um poeta lírico italiano
do alto alemão médio. O poema épico Der Wälsche Gast é o único trabalho
preservado.
Outra
obra de Thomasin von Zirklaria, em italiano, transmite-nos o título alemão uma
forma antiga do conceito de “cortesia” (Höflichkeit). Refere-se ele a
esse livro, que se perdera, como um “Buoch von der hüfscheit”, um fac-símile do
manuscrito de Heidelberg. Originários dos mesmos círculos da tradição
cavalaria-corte são os 50 Courtoisies de autoria de Bonvicino da Riva e
o Hofzuch (Maneiras Cortesãs), atribuído a Tannhäuser. Essas normas também
ocasionalmente encontradas nos grandes poemas épicos da sociedade cavalheirosa,
como, por exemplo, o Roman de la Rose, do século XIV. O Book of Nature, escrito
em versos ingleses provavelmente no século XV, já é um compêndio de
comportamento para o jovem nobre a serviço de um grande senhor, como,
resumidamente, o The Babees Book. Além disso existe, principalmente em
versões dos séculos XIV e XV, mas provavelmente, em parte pelos menos, mais
antiga me tema, uma série inteira de poemas chamados mnemônicos a fim de
inculcar boas maneiras à mesa. Tischzuchten de variada extensão e nas mais
diversas línguas. A aprendizagem de cor como meio para educar ou condicionar
desempenhava um papel muito mais importante na sociedade medieval, onde os
livros eram relativamente raros e caros, e esses preceitos rimados em um dos
meios usados para gravar na memória da pessoa o que ela devia e não devia fazer
em sociedade, e acima de tudo à mesa. Esses Tischzuchten , ou disciplina à
mesa, como trabalhos medievais sobre maneiras de autores conhecidos, não são
produtos individuais no sentido moderno, registro das ideias singulares de
determinada pessoa em uma sociedade extensamente individualizada. Segundo,
Norbert Elias, não foi feito ainda um estudo mais minucioso dessas modificações
ocorridas no comportamento medieval. Basta mencioná-las, não esquecendo que
esse padrão medieval não era destituído de movimento interno e certamente não
foi o princípio nem o “primeiro degrau” do processo de civilização, nem
representa, como se afirmou vezes, inclusive na perspectiva materialista de
Friedrich Engels que não está só, nas agruras do sujeito, o estágio de “barbarismo” ou “primitividade”, como é provável
ocorrer ainda por diante.
A
humanidade em seus ciclos de transformação vegetal e humana percebeu as
virtudes da associação de plantas aromáticas aos alimentos para lhes exaltar o
sabor, contribuir para a sua conservação e permitir uma melhor e mais saudável e
concupiscente assimilação por parte do corpo. A expressão sociológica “realismo
mágico” é empregada desde os fins dos anos 1940 para denominar um tipo de
ficção literária hispano-americana que se contrapunha ao realismo e ao
naturalismo do século XIX e contra a chamada “novela da terra”, um tipo de
regionalismo muito produzido e difundido nas primeiras décadas do século XX. A
fase mais expressiva desse estilo literário ocorreu por volta década de 1940,
com Jorge Luis Borges, Alejo Carpentier e Arturo Uslar Pietri. Este último,
inclusive, foi o primeiro autor a empregar a expressão “realismo mágico”, em
sua obra Letras y Hombres de Venezuela (1948). Para esse notável escritor,
o realismo mágico incorporou o mistério humano à realidade, que passa a ser
negada em sua tentativa de sempre tender a expressar o real lógico-racional. Em
primeiro lugar, talvez tenham sido os desafios característicos de uma época da
história social que transformaram a cultura da América Latina em um vasto
arsenal de fatos surpreendentes, insólitos, brutais, incríveis, encantados;
isto é, uma profusão de fantasias, maravilhas e barroquismos.
Os
impasses e as façanhas de uma época permitem reler o passado e o presente. É
como se um novo horizonte iluminasse de repente todo o vasto mural da história,
revelando fatos e feitos que adquire outro movimento, som, cor. O romancista
pode ser um cronista “fora do tempo”, narrando o imaginado e o acontecido
segundo a luz que o ilumina. Nesse sentido ele pode representar um estilo de
olhar na medida em que o realismo mágico parece uma superação do realismo
social, crítico. Tem sido visto como um estilo diferente, novo. O sentido de
fabuloso pode ser compreendido no romance de Juan Rulfo, Pedro Páramo,
adaptado à cena pelo Teatro. A história passa-se numa aldeia fantasma,
na cercania da fazenda da Meia-lua, num território do México oitocentista
dominado por quatro gerações de Páramos. Juan Preciado vem em busca do pai, Dom
Pedro, mas encontra apenas morte, de lugares algures no túmulo que nos é
narrada. A obra mistura magia e realidade, mortos e vivos convivendo entre si.
Pesadelos, delírios, memórias, vozes do além, os fragmentos não se distinguem,
nem se separam bem dos pensamentos do leitor, tal é o poder de sugestão de Juan
Rulfo que, narrados, misturam-se nos sonhos de quem os lê. Emerge de uma época
em que ele estaria esgotado, ou revelando limitações. A fabulação do artista
cria outros meios de expressão, abre horizontes novos à imaginação. Entre as
soluções mais frequentes estão a desintegração da lógica linear de consecução e
de consequência do relato, de cortes na cronologia fabular, da multiplicação e
simultaneidade dos espaços práticos da ação; caracterização polissêmica dos
personagens e atenuação da qualificação diferencial do herói; maior dinamismo
nas relações entre o narrador e o narrativo, o relato e o discurso, através da
diversidade das localizações, da auto-referencialidade e do questionamento da
instância abstrata produtora da ficcionalização do real. Muitos reconhecem que a transição histórica do realismo social ao mágico ocorre simultaneamente à redescoberta das culturas de índios e negros.
São crenças,
tradições, estórias, lendas e mitos que expressam outras formas de ser, outros
sentidos da vida e trabalho, do tempo e espaço. Muitas guerras se fizeram pela
apropriação de recursos alimentares, que de uma forma geral, são escassos regionalmente
e conferem poder a quem domina a gestão desses recursos. A título de exemplo, a
busca das especiarias foi um dos fatores demográficos que contribuíram para a chamada
Era dos Descobrimentos. A arte do gosto da comida motivou Leonardo da Vinci, a inventar
vários acessórios de cozinha. Precursor da nouvelle cuisine française, Da Vinci
fundou, com outro sócio, o restaurante A Marca das Três Rãs, na cidade
de Florença. A gastronomia despertou curiosas sensibilidades em músicos, como
Rossini, e em escritores portugueses e estrangeiros. O culto dos prazeres da
mesa chegou ao ponto de fazer com que os aficionados se juntassem em
associações gastronómicas como a belga Ordre des Agathopédes em 1585, a
francesa Confrérie de la Jubilation, ou o português Clube dos
Makavenkos em 1884, para além de exemplos mais recentes como o Slow Food,
um movimento e uma organização não governamental fundado por Carlo Petrini em
1986, tendo como objetivo promover uma maior apreciação da comida, melhorar a
qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto, o produtor e o
ambiente, comparativamente em reação ao Fast-food tem como símbolo, um
caracol, é o nome genérico dado ao consumo de refeições servidas em tempo como
ocorre com os sanduíches, pizzas e pastéis, entre outros. O primeiro tratado
sobre gastronomia foi escrito por Jean Anthelme Brillat-Savarin que
em 1825, publicou o estudo Fisiologia do Paladar, cujo título
completo em francês pretende difundir o pensamento abstrato sobre o
gosto, tendo como escopo uma obra teórica, histórica e pontual,
estruturada para gastrônomos parisienses, por um membro de várias sociedades
literárias e científicas. Sua distinção considera a gastronomia uma ciência ou uma arte.
A
gastronomia é a área de conhecimento que estuda e aprofunda-se nos saberes da
comida (cf. Vilches, 1989; Virilio, 1998). E gastrônomo representa o profissional que irá se imiscuir nesse campo
como carreira. Enquanto a culinária ocupa-se da esfera técnica de preparo dos
alimentos, a gastronomia estuda os aspectos culturais, comerciais e científicos
dos prazeres da mesa. A função mais comum e procurada é a de chef, ou melhor,
chefe de cozinha é o profissional responsável pela seleção dos ingredientes
para uma receita, pela combinação dos sabores, pela preparação dos pratos em si
e pela sua apresentação. A prática profissional da gastronomia teve início na
França, o que explica a sua influência em perpetuar o termo Chef de Cuisine em
diversos idiomas falados ao redor do mundo, inclusive em português. Apenas no
século XIX passou-se a usar apenas a palavra “chef”, como um encurtamento
referido do termo oficial, para referir-se ao responsável por comandar ou
coordenar o funcionamento de uma cozinha e sua equipe. Desnecessário dizer que
a tradição tem um papel social muito importante e influente no universo
gastronômico. As expressões no idioma francês em referência a práticas
culinárias são usadas nos ambientes de consumo moderno. Esse conceito foi
bastante valorizado no meio social gastronômico, principalmente com a mass
productions de programas de TV como o Masterchef, por exemplo, que é
reconhecido socialmente como o maior reality show de culinária do mundo
ocidental.
Lembra
Certeau (2018) esses fatos não são mais os dados de nossos cálculos, mas o
léxico de suas práticas. Uma vez analisadas as imagens distribuídas pela TV e
os tempos que se passa assistindo aos programas, resta perguntar o que é que o
consumidor fabrica com essas imagens e durante horas. Os 500 mil
franceses que compram Infomation-santé, os fregueses do supermercado, os
praticantes do espaço urbano, os consumidores das histórias e legendas
jornalísticas, o que é que eles “absorvem”, recebem e pagam? Para ele tem-se o
enigma do consumidor-esfinge. Suas fabricações se disseminam na rede da
produção televisiva, urbanística e comercial. São tanto menos visíveis como as
redes do enquadramento se fazem mais apertadas, ágeis e totalitárias.
Proteiformes então, ou cor de muralha, elas desaparecem nas organizações
colonizadoras cujos produtos não deixam lugar para os consumidores marcarem sua
atividade. Uma criança ainda rabisca e seja o livro escolar; mesmo que receba
um castigo por esse crime, a criança ganha um espaço, assina aí sua existência
de autor. O telespectador não escreve coisa alguma na tela da televisão. Ele é
afastado do produto, excluído da manifestação. Perde seus direitos de autor,
para se tornar, ao que parece, um puro receptor, o espelho de um ator
multiforme e narcísico. No limite, seria ele a imagem de aparelhos que não mais
precisam dele para produzir, a reprodução de uma máquina celibatária. Na
realidade, diante de uma produção racionalizada, expansionista, centralizada,
espetacular e barulhenta, posta-se uma produção diversa, qualificada como
“consumo”, como característica de astúcias, seu esfarelamento em conformidade
com ocasiões, suas “piratarias”, sua clandestinidade, seu murmúrio incansável,
em suma, uma quase invisibilidade do dinheiro, pois ela quase não se faz notar
por produtos próprios, as por uma arte de utilizar aqueles que lhes são
impróprios.
Nessa
medida, a evolução do pensamento abstrato, que se eleva do mais simples ao mais
complexo, corresponderia ao processo histórico real. Por outro lado, afirmava
Marx (2011: 250-251, passim) podemos dizer que há formas de sociedade muito
desenvolvidas, mas a quem falta historicamente maturidade, e nas quais
descobrimos as formas mais elevadas da economia, como, por exemplo, a
cooperação, uma divisão do trabalho desenvolvida, etc., sem que exista nenhuma
forma de moeda: o Peru, por exemplo. O trabalho parece ser e representar uma categoria
muito simples. A ideia de trabalho nesta universalidade – como trabalho em
geral – é, também, das mais antigas. No entanto, concebido do ponto de vista
econômico nesta forma simples, o “trabalho” é uma categoria tão moderna como as
relações que esta abstração simples engendra. O sistema monetário, por exemplo,
situa ainda de forma perfeitamente objetiva, como coisa exterior a si, a
riqueza no dinheiro. Em relação a este ponto de vista, fez-se um grande
progresso quando o sistema industrial ou comercial transportou a fonte de
riqueza do objeto para a atividade subjetiva o trabalho comercial e fabril -,
concebendo ainda esta atividade apenas sob a forma limitada de produtora de
dinheiro. Em face deste sistema, o sistema dos fisiocratas admite uma forma
determinada do trabalho - a agricultura – como a forma de trabalho criadora de
riqueza, e admite o próprio objeto não sob a forma dissimulada do dinheiro, mas
como produto, como resultado geral do trabalho. Este produto, em virtude do
caráter limitado da atividade, continua a ser ainda um produto determinado pela
natureza, produto da agricultura.
Assim,
do ponto de vistas metodológico a abstração mais simples, que a economia
política moderna coloca em primeiro lugar e que exprime uma relação muito
antiga e válida para todas as formas de sociedade, só aparece, no entanto, sob
esta forma abstrata como verdade prática enquanto categoria da sociedade
mais moderna. Poder-se-ia dizer que esta indiferença em relação a uma forma
determinada de trabalho, que se apresenta nos Estados Unidos como produto
histórico, se manifesta na Rússia, por exemplo, como uma disposição natural. Mas,
por outro lado, que extraordinária diferença de trabalho entre os bárbaros que
têm uma tendência natural para se deixar empregar em todos os seus trabalhos, e
os civilizados comparativamente que empregam a si próprios. E, por outro lado,
a esta indiferença, neste caso, em relação a um trabalho determinado
corresponde na prática, entre os russos, a sua sujeição tradicional a um
trabalho bem determinado, ao qual só influências exteriores podem arrancá-los. Este
exemplo do trabalho mostra com toda a evidência que até as categorias mais
abstratas, ainda que válidas – precisamente por causa da sua natureza abstrata
– para todas as épocas, não são menos, sob a forma determinada desta mesma
abstração, o produto de condições históricas e só se conservam plenamente
válidas nestas condições e no quadro destas relações históricas.
A
sociedade burguesa é a organização histórica da produção mais desenvolvida e
mais variada que existe. Por este fato, as categorias que exprimem as relações
desta sociedade e que permitem compreender a sua estrutura permitem ao mesmo
tempo perceber a estrutura e as relações de produção de todas as formas de
sociedade desaparecidas, sobre cujas ruínas e elementos se edificou, de que
certos vestígios, parcialmente ainda não apagados, continuam a subsistir nela,
e de que certos signos simples, desenvolvendo-se nela, se enriqueceram de todas
a sua significação. Se é certo que as categorias da economia política possuem
uma certa verdade válida para todas as outras formas de sociedade, isto só pode
ser admitido cum grano salis. O que se chama desenvolvimento histórico,
para Marx, baseia-se ao fim e ao cabo, sobre o fato de a última forma
considerar as formas passadas, como jornadasque levam ao seu próprio grau de desenvolvimento, e dado que ela
raramente é capaz de fazer a sua própria crítica, e isto em condições bem
determinadas. Na Idade Média o próprio capital- na medida em que não se trata
apenas de capital monetário – tem, sob a forma de aparelhagem de um ofício
tradicional, etc., esse caráter de propriedade fundiária. Na sociedade burguesa
é o contrário. A agricultura torna-se cada vez mais um simples ramo da
indústria e acha-se totalmente dominada pelo capital. O mesmo acontece com a
renda imobiliária. Em todas as formas de sociedade em que predomina a
propriedade fundiária, a relação com a natureza é predominante.
Cada
hábito alimentar compõe um minúsculo cruzamento de histórias. No cotidiano nem
sempre invisível, sob o sistema silencioso e repetitivo das tarefas realizadas
como que por hábito, espírito alheio, numa série de operações executadas
maquinalmente cujo encadeamento segue um esboço tradicional dissimulando sob a
máscara da evidência primeira. Empilha-se de fato uma montagem sutil de gestos,
de ritos e de códigos sociais, de ritmos e de opções, de hábitos herdados e de
costumes repetidos. No espaço solitário da vida doméstica, longe do ruído do
século, faz assim porque sempre se fez a mesma coisa, cochicha a voz das
cozinheiras; mas basta viajar, ir a outro lugar para constatar que acolá, com a
mesma certeza tranquila da evidência, se faz de outro modo sem buscar muitas
explicações, sem se preocupar com o significado profundo das diferenças ou das
preferências, sem por em questão a coerência de uma escala de compatibilidades
(do doce e do salgado, do adocicado e do acre etc.) e a validade de uma
classificação dos elementos em não comestível, repugnante, comível, deleitável
e delicioso.Alexanderplatz é uma das
mais reconhecidas, e, provavelmente maior praça de Berlim. Já serviu de palco para
protestos sociais e cenas de diversos filmes, entre eles: Good Bye Lenin
(2003) dirigido por Wolfgang Becker, e o magnífico resultado da Supremacia
Bourne, (2004) dirigido por Paul Greengrass. Originalmente no local havia
uma feira de venda de gado que se chamava Ochsen Markt ou Ochsenplatz.
Em novembro de 1805, recebeu seu nome numa homenagem ao czar russo Alexander I
que havia visitado a cidade em outubro daquele ano.Foi o Imperador da Rússia de 1801 até sua
morte, em 1825, sendo o primeiro russo Rei da Polônia e Grão-Duque da
Finlândia. Era filho do imperador Paulo I e Sofia Doroteia de Württemberg,
ascendendo ao trono após o terrível assassinato do pai. A praça é chamada pelos
moradores simplesmente devido à sua localização perto da Alexanderplatz.
Mas
a torre é apelidada de Alex, especialmente por visitantes/turistas de Berlim.
Com a construção da estação de trem em 1882, o Mercado Central em 1886 e a loja
de departamentos Tietz, torna-se um centro comercial. É, uma grande praça que
funciona como terminal de transportes públicos no centro de Berlim, próximo do
rio Spree e do Berliner Dom. É considerado o centro de Berlim desde a Idade
Média. Nela começaram os protestos que dinamizaram a queda do Muro de Berlim em
1989. Embora no final da guerra a zona tenha ficado completamente destruída
pelos bombardeios, durante as três décadas em que Berlim esteve dividida,
Alexanderplatz representou o centro comunista Oriental. Entretanto, nessa
região, como o rio Spree pertencia à Alemanha Oriental, havia apenas a barreira
interna e Faixa da Morte, seguida do rio também vigiado. Na outra margem do rio
Spree encontra-se o bairro de Kreuzberg. Após a queda do muro de Berlim, o
artista Thierry Noir, reconhecido “por ser o primeiro a usar o muro como grande
tela, só que do lado ocidental, inicia uma ação de pintura no lado oriental do
muro”. Como parte do plano para reformar a cidade, a República Democrática
Alemã ampliou a Alexanderplatz e fez dela uma zona urbana para uso exclusivo
destes pedestres. Para demonstrar o poder persuasivo em 1969, levantaram a Torre de Televisão (Berliner Fernsehturm),
que atualmente continua sendo uma das edificações mais altas da Europa. O
acontecimento mais importante ocorrido na Alexanderplatz foram os protestos
sociais de 4 de novembro de 1989. Meio milhão de pessoas se
manifestaram pela unidade da zona com o governo comunista. Cinco dias depois,
em 9 de novembro, o governo anunciou a liberdade para atravessar o Muro de
Berlim.
Do
ponto de vista técnico Masterchef é uma franquia televisiva de
competição de culinária criada por Franc Roddam, que se originou com a versão
do Reino Unido em julho de 1990. O formato foi relançado e atualizado pela BBC
em fevereiro de 2005 pelos produtores executivos suíços Franc Roddam e John
Silver e pelo produtor da série Karen Ross. O formato do programa foi
exportado em todo o mundo ocidental sob o mesmo logotipo Masterchef, e
agora é produzido em mais de 40 países e vai ao ar televisado em pelo menos 200
territórios. O formato técnico apareceu em quatro versões originais principais:
a série principal Masterchef; MasterChef: The Professionals para chefs
profissionais; Celebrity MasterChef com celebridades bem conhecidas como
concorrentes e Junior MasterChef, uma versão criada e adaptada para as
crianças, que foi desenvolvido pela primeira vez em 1994 e também tem
proliferado para outros países fora do Reino Unido nos últimos anos. Em 2012, a
Austrália criou uma versão da franquia, chamada MasterChef All-Stars,
para ex-concorrentes levantarem fundos para fundações da caridade. Em 2018, a
Ucrânia criou uma nova versão, chamada MasterChef Teens, para
competidores adolescentes. Em 2019, o Brasil criou o MasterChef Para Tudo,
em referência a expressão recorrente “para tudo!” dita aos competidores pela
apresentadora Ana Paula Padrão nas versões de competição do programa. Tal spin-off,
não consiste em um jogo entre cozinheiros, mas sim em entrevistas com jurados e
ex-participantes, reportagens, receitas, melhores momentos e conteúdos “virais”
sobre a franquia Masterchef.
O
MasterChef Australia é a série de televisão mais assistida na Austrália, com a
final da segunda temporada sendo o terceiro programa mais visto na história da
televisão australiana. MasterChef Australia também venceu o prêmio de “Melhor
Programa Popular de Reality” no Logie Awards de 2010. Muitos países transmitem
a versão australiana, dublado ou com legendas na língua local. O Nine
Network, em tradução literal Rede Nove, ou Channel Nine (Canal
Nove), é um canal de televisão australiano sediado em Sydney. É um dos três
maiores canais generalistas comerciais na Austrália. Produz o seriado infantil
Hi-5, Portal Do Intercâmbio e Mortified, sucesso em todo o mundo. A emissora é
uma das duas redes de televisão de maior classificação na Austrália, junto com
a Seven Network e à frente da Network Ten, ABC e SBS. Nine tinha sido
historicamente a rede de televisão mais alta classificação desde o início da
televisão na Austrália em 1956, para a maioria dos anos anteriores a 2006,
embora Network Ten tinha dominado em 1985 e para um número de anos na década de
1970. A Rede Nine foi ultrapassada na classificação em 2007 por seu rival, o
Seven Network, que dominou até recentemente. Como resultado, o slogan do Nine
Still the One foi interrompido. Desde 2009, o slogan da rede tem
sido Welcome Home. Depois de alguns anos em ligeiro declínio, com um
período atormentado por demissões em massa, cancelamentos de programas e cortes
no orçamento, a Nine Network tem experimentado um período de
estabilidade.
Além
de criar pratos, combinar ingredientes, montar cardápios e reconhecer temperos,
ele precisa, portanto, saber, não raro, trabalhar em equipe, pois normalmente é
o responsável por gerenciar equipes numerosas e, assim coordenar etapas
complexas de uso de tempo e movimento do trabalho na cozinha. Além de colocar a
“mão na massa”, literalmente, é preciso combinar conhecimento técnico de
administrador, marqueteiro e artista, pois é atribuição do chefe calcular
custos, realizar treinamentos, promover e participar de eventos gastronômicos,
negociar com fornecedores e manter contato social com a clientela. São
habilidades valorizadas tout court: paixão pela profissão, conhecimento
de línguas estrangeiras, atualização e muita dedicação, já que o ramo
alimentício é um dos mais exigentes. Não por acaso o povo brasileiro, para
lembrarmos de Darcy Ribeiro, é um apaixonado por comida. Essa informação de
conteúdo foi constatada por um estudo qualitativo conduzido pela GFK com
participantes de 22 países, no qual o Brasil ficou em 11ª posição no ranking
de população mais apaixonada por culinária. Cerca de 38% dos entrevistados
declaram serem apaixonados por comida e culinária. O resultado dessa paixão é
que a nação brasileira tem como hábito passar, em média, 5,2 horas semanais
cozinhando. Isso também fica claro ao notarmos como existem músicas que fazem
referência aos pratos típicos do Brasil, como a feijoada, e enaltecem as frutas
regionais.
Pesquisa
realizada pela empresa Growth from Knowledge (GfK) revela que 42% da
população mundial e 37% dos brasileiros consideram importante estar
constantemente acessível. No estudo realizado em 22 países, mais de 27 mil
consumidores online declararam o quanto concordam com a afirmação: “Para mim, é
importante sempre estar acessível, onde quer que eu esteja”. Logo depois dos Estados
Unidos da América (EUA), o Brasil é o sétimo colocado entre os países que mais
fortemente concordam com a afirmação. A lista é encabeçada pela Rússia, seguida
pela China, em segundo lugar. Os resultados globais por faixa etária demonstram
que os consumidores com idades entre 30 e 39 anos são os que mais fortemente
concordam com a importância de estar sempre acessível. Os níveis de
concordância chegam a 47% nessa faixa etária e declinam significativamente de
acordo com a idade, chegando a apenas 29% entre entrevistados com mais de 60
anos. No Brasil, comparativamente, a percepção da importância de
estar sempre acessível se intensifica entre os maiores de 60 anos, chegando a 48%,
o mesmo percentual entre os brasileiros com idades entre 30 e 39 anos. O estudo
também revela que Alemanha, Suécia, Canadá e Holanda estão na contramão da
tendência mundial de conectividade. Esses quatro países são os únicos entre os
22 pesquisados em que o percentual de entrevistados que discorda da necessidade
de estar permanentemente conectado é superior ao daqueles que concordam com a
afirmação proposta pela GfK. Segundo a diretora de Market
Opportunities and Innovation na GfK, Eliana Lemos “ao comparar os dados em
2009 com os de agora, vemos que, hoje, 43% dos adolescentes do mundo sentem
necessidade de estar disponíveis o tempo todo. Há 6 anos, esta porcentagem era
de apenas 20%. isto evidencia a necessidade de entendermos verdadeiramente este
futuro consumidor, por meio da observação atenta e contínua de seus hábitos e
atitudes”.
Além
disso, a criação competitiva de festivais gastronômicos e restaurantes, assim
como a preocupação com a alimentação saudável e balanceada, têm crescido exponencialmente
no país. Nesse contexto técnico e social, existem duas opções programadas de
cursos de graduação interessantes para quem deseja entrar no ramo de trabalho
alimentício. Apesar de ocuparem o mesmo nicho, tendo em vista o consumo
alimentar, o curso superior em Nutrição e o curso de Gastronomia são
completamente diferentes. A cada dia as pessoas obtêm mais conhecimento e
entendem a importância social de ter uma alimentação saudável. Afinal, esse
hábito é fundamental para manter saúde sob controle, qualidade de vida e
longevidade, e assim poder evitar doenças graves relacionais, tais como a
ocorrência de obesidade, hipertensão e diabetes. Além disso, a dieta balanceada
auxilia na manutenção e na perda de peso, aumentando a autoestima. Para que a pessoa
alcance tantos benefícios individuais, é preciso alimentar-se de forma variada,
e o mais importante, sempre na quantidade certa. O nutricionista é o
profissional responsável pela estratégia alimentar completa, ou seja, com todos
os nutrientes necessários para a manutenção da saúde e definir quais serão os
horários e as quantidades adequadas. O curso superior de Nutrição é do típico bacharelado
e tem duração de quatro anos. A formação teórica tem disciplinas de conformidade,
como anatomia, bioquímica e fisiologia, comuns aos cursos da área de Saúde, e
específicas, como composição de alimentos, dinâmica dos exercícios físicos,
avaliação nutricional e outras. Grande parte do curso é realizada em
laboratórios, e é necessário que o aluno conclua um estágio supervisionado
ao final do tempo da graduação.
Um
bom exemplo ocorre no filme Casamento de May que tem como escopo a
questão tópica do pós-orientalismo. Para
tratarmos do tema orientalismo, comumente utilizado para definir o
estudo constituído por todas as sociedades que se situam fora do contexto
ocidental, da cultura global europeia, – utilizamos a noção “pós-orientalismo”.
Por duas razões: a) É correlata à filosofia dita pós-moderna; b) Trata-se de um
eclético e elusivo movimento social caracterizado por sua crítica à filosofia
ocidental. Começando como um movimento de crítica da filosofia Continental, foi
influenciada fortemente pela fenomenologia, pelo estruturalismo e pelo
existencialismo, incluindo Kierkegaard e Martin Heidegger. Sofreu influências,
também, em certo grau associado ao positivismo da filosofia analítica de Ludwig
Wittgenstein. Para a maior parte dos pensadores, a filosofia pós-moderna
reproduz a volumosa literatura da teoria crítica. Outras áreas de produção
incluíram a “desconstrução” e as diversas áreas que começam com o prefixo
“pós”, como o “pós-estruturalismo”, o “pós-marxismo” e o “pós-feminismo”. É
também utilizado na interpretação teórica para designar a familiaridade por
artistas e criadores ocidentais de elementos, descrições ou imitações
culturalmente conotadas com as culturas ditas orientais. Popularizado como um
campo de estudo desde o século XVIII, mas tendo adquirido particularidades
institucionais a partir do colonialismo do século XIX (cf. Kemp, 1976), o
orientalismo estudava, sem distinções, um vasto grupo humano vulgarizado pela
designação “mundo árabe” e mesmo a África, em alguns casos. O orientalismo
ratificou a hipótese colonialista da inferioridade racial e cultural de todas
as civilizações não europeias.
Claude Lévi-Strauss en Amazonie au Brésil. Rue des Archives/PVDE.
O
Oriente, sociologicamente falando, é uma entidade autônoma dotada de múltiplas
identidades com suas respectivas localizações territoriais. O que seria então
esse Orientalismo cuja definição permite afirmar que o Oriente é uma invenção
do Ocidente? Segundo Said (1990) esse conceito tem diversos significados, mas
que de modo geral reflete a forma específica pela qual o Ocidente europeu
reproporia ao nível ideológico e cultural a designação do que é mesmo o
Oriente. Assim, o Orientalismo não necessariamente estabelece uma relação
dialética e real de identificação real com o Oriente e sim, inversamente é a
ideia que o Ocidente faz dele segundo seu ponto de vista. Nesse sentido o Oriente
ajudou a definir, ao contrário, a Europa ou o Ocidente transcendente com sua
imagem, ideia, personalidade e experiência contrastantes. O Oriente na visão do
Orientalismo então é o “lugar do exótico”. Analiticamente precisamos tornar
do ponto de vista teórico, prático e afetivo o exótico em familiar. É o que
inferimos nestas notas sobre o filme Casamento de May. Trata-se do lugar
de análise do não civilizado, da barbárie, do oposto, do diferente, do
inimigo, do Outro. Além de todas essas características que constituem o
estereotipo do Oriente criado pelo Ocidente existe um marco na história das
ciências que contribuiu para que o Oriente também fosse considerado um lugar
atrasado, menos evoluído, e, em seu desenvolvimento, incivilizado. A definição
de civilização baseada na análise comparada teve origem no Iluminismo. Através
do empirismo e posteriormente da importação da teoria evolucionista de Charles
Darwin pelas ciências humanas. Que adotaram por muitos anos essa ideia da
“escala evolutiva da sociedade”.
Assim
como o ser humano evoluiu, em termos biológicos, de um ancestral primata até o Homo
Sapiens, a sociedade evolui também de forma que, uma sociedade anterior a
atual é inferior, menos evoluída do ponto de vista de sua formação e
desenvolvimento social como ocorre no discurso antropológico evolucionista de
Lewis Morgan à Friedrich Engels etc. Esse orientalismo está ligado à produção
cultural de seu tempo como a literatura, a arte, a filmes e novelas culturais
nos dias atuais constituindo-se objeto de nossa reflexão. Quando nos vemos
diante da comédia dramática O Casamento de May, com o olhar feminino de
Cherien Dabis, pode-se à primeira vista imaginar que o filme abordará um
conflito religioso. Afinal, a protagonista também Cherien, uma palestina de
origem cristã, vai se casar com um noivo muçulmano, na Jordânia natal de ambos,
embora sejam os dois radicados nos Estados Unidos da América. Mas quanto mais
avança a história, que tem roteiro de sua diretora e atriz, mais se afasta
desta intenção. Segue aproximando-se da discussão no âmbito das relações de
parentesco e familiares e da condição feminina neste contexto que aspira a ser
universal – embora dedique espaço também a conflitos interculturais devido ao
próprio confronto de regionalização. Nota-se do ponto de vista ideológico da
cineasta Cherien Dabis uma intenção sutil de apresentar este “pedaço”
historicamente relevante do mundo sob um viés menos carregado. Especialmente ao
retratar, last but not least, o relacionamento social temperamental
entre homens e mulheres. Perto do dia de seu casamento, May vai até Amã, na
Jordânia, para visitar sua família. Sua mãe católica não aprova o noivo, que é
muçulmano, e pretende boicotar o matrimônio.
Enquanto
isso, seu pai, até então um pouco distante, resolve se reaproximar e suas irmãs
continuam agindo como crianças. As “cafajestadas” não são nem mais nem menos do
que as que se poderia esperar em qualquer outro lugar nas mesmas situações –
exceto, talvez, nas cenas do “jogging” de May na rua, que são recebidas por
olhares e manifestações um tanto fortes, de um ponto de vista do olhar
ocidental. No geral, o filme transmite a autoridade de quem: a) tem um “olhar
de dentro” plantado no Oriente Médio, b) que fala pouco de política, mas c) não
a ignora ao mesmo tempo em que procura manter “mão leve no tom”. Tal como Amreeka,
comparativamente, O Casamento de May também foi exibido no Festival de
Sundance. Mas o melhor mesmo em Amreeka, que significa América em língua
árabe, é a quebra de estereótipos socialmente desnecessários. Descreve a vida
de uma mãe e um filho palestino que recebem o greencard e se mudam de
Belém para uma cidade perto de Chicago. Tem um pouco de tragédia nietzschiana,
mas a maior parte do enredo faz rir em uma comédia meio parecida como as
argentinas Filho da Noiva ou Clube da Lua. Quando começamos a
ficar triste, com o menino sendo humilhado por um soldado israelense em um checkpoint
na Cisjordânia, acontece alguma cena engraçada, com a avó culturalmente
reclamando que a filha não levou tomate para preparar o taboule, em árabe: تبولة,
é um prato libanês de salada, frequentemente degustado como um aperitivo. É
basicamente feito de trigo para quibe, tomate, cebola, salsa, hortelã e outras
ervas, com suco de limão, pimenta e vários temperos.
O
bairro se define como uma organização coletiva de trajetórias individuais. A
organização da vida cotidiana se articula ao menos segundo dois registros
etnográficos: 1. Os comportamentos, cujo sistema se torna visível no espaço
social da rua e que se traduz pelo vestuário, pela aplicação mais ou menos
estrita dos códigos de cortesia, o ritmo de andar, o modo como se evita ou ao
contrário se valoriza este ou aquele espaço público. 2. Os benefícios
simbólicos que se espera obter pela maneira de “se portar” no espaço do bairro
aparecem como o lugar onde se manifesta um “engajamento” social: uma arte de
conviver com parceiros (vizinhos, comerciantes) que estão ligados a você pelo
fato concreto, mas essencial, da proximidade e da repetição. Existe uma regulação
articulando um ao outro esses dois sistemas com o auxílio do conceito exato de conveniência,
que surge no nível dos comportamentos, representando um compromisso pelo qual
cada pessoa, renunciando à anarquia das pulsões individuais, contribui para a
vida coletiva, retirando daí benefícios simbólicos necessariamente protelados.
Pela relação “saber comportar-se”, o usuário se obriga a respeitar para que
seja possível a vida cotidiana.O
bairro, é quase por definição, um domínio do ambiente social, pois ele
constitui para o usuário uma parcela conhecida do espaço urbano na qual,
positiva ou negativamente, ele se sente reconhecido. Pode-se, portanto,
apreender o bairro como esta porção do espaço público em geral (anônimo, de
todo o mundo) em que se insinua pouco a pouco, segundo Certeau, um espaço
privado particularizado pelouso cotidiano desse espaço.
Cada
hábito social/cultural alimentar compõe um minúsculo cruzamento de histórias. No cotidiano nem
sempre invisível, sob o sistema silencioso e repetitivo das tarefas realizadas
como que por hábito, espírito alheio, numa série de operações executadas
maquinalmente cujo encadeamento segue um esboço tradicional dissimulando sob a
máscara da evidência primeira. Empilha-se de fato uma montagem sutil de gestos,
de ritos e de códigos sociais, de ritmos e de opções, de hábitos herdados e de
costumes repetidos. No espaço solitário da vida doméstica, longe do ruído do
século, faz assim porque sempre se fez a mesma coisa, cochicha a voz das
cozinheiras; mas basta viajar, ir a outro lugar para constatar que acolá, com a
mesma certeza tranquila da evidência, se faz de outro modo sem buscar muitas
explicações, sem se preocupar com o significado profundo das diferenças ou das
preferências, sem por em questão a coerência de uma escala de compatibilidades
(do doce e do salgado, do adocicado e do acre etc.) e a validade de uma
classificação dos elementos em não comestível, repugnante, comível, deleitável
e delicioso. Alexanderplatz é uma das mais reconhecidas, e, provavelmente maior
praça de Berlim. Já serviu de palco para protestos sociais e cenas de diversos
filmes, entre eles: Good Bye Lenin, dirigido por Wolfgang Becker (2003)
e o magnífico A Supremacia Bourne, dirigido por Paul Greengrass (2004).
Originalmente no local havia uma feira de venda de gado que se chamava Ochsen
Markt ou Ochsenplatz. Em novembro de 1805, recebeu seu nome numa homenagem
ao czar russo Alexander I que havia visitado a cidade em outubro daquele
ano.Foi o Imperador da Rússia de 1801
até sua morte, em 1825, também sendo o primeiro russo Rei da Polônia e
Grão-Duque da Finlândia. Era filho do imperador Paulo I e Sofia Doroteia de
Württemberg, ascendendo ao trono após o terrível assassinato do pai. A praça é
chamada pelos moradores simplesmente devido à sua localização perto da histórica
Alexanderplatz.
Mas
a torre é apelidada de Alex, especialmente por visitantes/turistas de Berlim.
Com a construção da estação de trem em 1882, o Mercado Central em 1886 e a loja
de departamentos Tietz, torna-se um centro comercial. É, uma grande praça que
funciona como terminal de transportes públicos no centro de Berlim, próximo do
rio Spree e do Berliner Dom. É considerado o centro de Berlim desde a Idade
Média. Nela começaram os protestos que dinamizaram a queda do Muro de Berlim em
1989. Embora no final da guerra a zona tenha ficado completamente destruída
pelos bombardeios, durante as três décadas em que Berlim esteve dividida,
Alexanderplatz representou o centro comunista Oriental. Entretanto, nessa
região, como o rio Spree pertencia à Alemanha Oriental, havia apenas a barreira
interna e Faixa da Morte, seguida do rio também vigiado. Na outra margem do rio
Spree encontra-se o bairro de Kreuzberg. Após a queda do muro de Berlim, o
artista Thierry Noir, reconhecido “por ser o primeiro a usar o muro como grande
tela, só que do lado ocidental, inicia uma ação de pintura no lado oriental do
muro”. Como parte do plano para reformar a cidade, a República Democrática
Alemã ampliou a Alexanderplatz e fez dela uma zona urbana para uso exclusivo
destes pedestres. Para demonstrar o poder cotidianamente/persuasivo daquele
governo, em 1969, levantaram a Torre de Televisão (Berliner Fernsehturm), que
atualmente continua sendo uma das edificações mais altas da Europa. O
acontecimento mais importante ocorrido na Alexanderplatz foram os protestos
sociais de 4 de novembro de 1989. Nesse dia, meio milhão de pessoas se
manifestaram pela unidade da zona com o governo comunista. Cinco dias depois,
em 9 de novembro, o governo anunciou a liberdade para atravessar o Muro de
Berlim.
Por
mais de 28 anos, o Muro de Berlim ressignificou o símbolo da divisão política das duas
Alemanha. A fortaleza se estendia por 155 quilômetros e separava Berlim
Ocidental de Berlim Oriental. Muito maior era a fronteira interna alemã, isto
é, entre a República Federal da Alemanha (RFA) e a República Democrática Alemã
(RDA), de regime comunista. Ela somava 1400 km, indo da baía de Lübeck, no Norte,
até Hof, no sul, na fronteira com a antiga Tchecoslováquia. Somente na região
metropolitana de Berlim, o Muro tinha mais de 43 quilômetros de comprimento. Ao
longo de seu percurso na cidade, ele interrompia oito linhas de trens urbanos,
quatro de metrô e 193 ruas e avenidas. Em sua extensão, o “gigante de
concreto” atravessava 24 quilômetros de rios e cruzava 30 km de bosques. A
fronteira de Berlim, cujas instalações incluíam o muro, era controlada 24 horas
por dia. Soldados armados, em mais de 300 torres de observação, vigiavam
constantemente para evitar fugas a Berlim Ocidental. A área da fronteira tinha
100 metros de largura, com diversos tipos de obstáculos. Esse território era
reconhecido como “Faixa da Morte”. Muitos tentaram atravessar o muro apesar do
perigo de vida. Nos 28 anos do Muro erigido sob a vigilância panotípica, ou
seja, um mecanismo arquitetural, utilizado para o domínio da distribuição de
corpos em diversificadas superfícies, destacadamente entre prisões, manicômios,
escolas, fábricas, houve em torno de 5075 fugas humanas bem-sucedidas. Os
estratagemas usados foram diversos desde túneis através da cidade, veículos que
passassem debaixo das traves, caminhões pesados para arrebentar os obstáculos,
barcos, ultraleves, balões e aviões de voos leves improvisados.
As
funções sociais e de comunicação das praças nem sempre foram idênticas. A ideia
de espaço de encontro com fins culturais, políticos e comerciais, não
prevaleceu durante a história social da Idade Média. Nesse período, elas
serviram como espaços públicos de rituais de execuções, funerais e ritos
religiosos. Historicamente sempre que surgia uma cidade, existia também uma
praça. Isso acontecia porque as comunidades necessitavam fazer comércio e se
relacionar através da troca e consumo de mercadorias. É por isso que em cidades
maiores, com a formação de mercado, a área concentrar-se em torno de
edificações comerciais e de estruturas públicas de poder municipal. Etnograficamente
existem três tipos de praças: as úmidas, as mistas e as secas. As praças úmidas
são aquelas com grande presença de arborização. Seu surgimento tem relação com
a criação dos passeios e jardins públicos no final do século XVIII, quando
estes espaços deixaram de ser usados apenas para fins comerciais, mas também para
uso de encontros sociais. A ideia prevalente era atender uma demanda da
sociedade e, só depois, em meados do século XIX, é que elas assumiram papel
unicamente social e estético.
No
entanto, consideram-se úmidas aquelas com pouca pavimentação e que, muitas
vezes, são lugares de preservação da natureza no cenário urbano. As formações
mistas aquelas que apresentam pavimentação e arborização, assim como os
passeios públicos. São bastante comuns, pois apresentam padrão estético,
paisagismo e embelezamento da cidade. Além disso, desperta a função social de
proporcionar um ato de caminhar mais confortável, pela sombra das árvores, que
absorvem gás carbônico e liberam oxigênio, contribuindo para a diminuição da
poluição. Por fim, surgem as praças secas, que não apresentam grande
arborização e são as mais antigas, com a função original mantida nas sociedades
contemporâneas. Elas apareceram com intensidade após o século XIX em que os
arquitetos de vanguarda transplantaram esse conceito ecológico nas cidades
europeias. A ideia permanente é que o ambiente natural fosse usado para arte e
cultura, evidenciando monumentos, uma estética minimalista e elementos de
concreto. Mas embaixo, nos limiares onde cessa a visibilidade, vivem os
praticantes ordinários do âmago da cidade. Forma elementar de experiências são
os caminhantes, pedestres, Wandersmänner, cujo corpo obedece aos planos
cheios e vazios de um texto urbano que escrevem sem lê-lo. Os caminhos que se
respondem nesse entrelaçamento, poesias ignoradas que cada corpo é um elemento
animado por muitos outros, escapam à legibilidade.
Tudo
se passa como uma espécie de cegueira caracterizada nas práticas organizadoras
da forma habitada. As redes dessas escrituras avançando e entrecruzando-se
compõem uma história múltipla. Sem autor nem espectador, tombada em fragmentos
de trajetórias, em alterações de espaços. Mas com relação às representações,
ela permanece cotidianamente, indefinidamente, e sempre noutra. Essas práticas
do espaço remetem a uma forma específica de operações. Noutra espacialidade e
numa mobilidade social opaca que cega a cidade na forma de per si habitada. Uma
cidade transumante, ou metafórica, insinua-se assim no texto claro da cidade
planejada e visível. O World Trade Center foi a mais monumental das figuras do
urbanismo ocidental. Agora é outro corpo, no alto que foge à massa que carrega
e tritura em si mesma toda identidade, de autores ou espectadores que podem
ignorar as astúcias que se transfiguram em voyeur. A cidade, á maneira
de um nome próprio, oferece a capacidade de conceber e construir o espaço a
partir de um número finito de propriedades estáveis, isoláveis e articuladas
uma sobre a outra. Nesse lugar organizado por operações especulativas e
classificatórias combinam-se práticas de gestão e eliminação do gestual. Existem
uma diferenciação e uma redistribuição das próprias partes em função da cidade,
graças a inversões, deslocamentos, acúmulos etc. Mas também se rejeitam tudo
aquilo que não é tratável e constitui, portanto, os detritos da administração
limitada, funcionalista, tecnoburocrática.
A
fixidez do habitat dos usuários, o costume recíproco do fato da
vizinhança, os processos de reconhecimento e de identificação que se
estabelecem graças à proximidade, graças à coexistência concreta, comunicativa no
território urbano, todos esses elementos “práticos” se nos oferecem como
imensos campos de exploração em vista de compreender um pouco melhor esta
grande desconhecida que é a vida cotidiana. O bairro surge como o domínio onde
a relação espaço/tempo é a mais favorável para um usuário que deseja
deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, é a
representação o espaço da cidade atravessado por um limite distinguindo o
espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada, da sucessão
de passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com
a residência. O bairro em seu ersatz é uma noção dinâmica, que se
reinventa, necessita de uma progressiva aprendizagem, que vai progredindo
mediante a repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até
exercer aí uma apropriação. A
trivialidade cotidiana desse processo, partilhado por (quase) todos os
cidadãos, torna inaparente a sua complexidade enquanto prática cultural e a sua
urgência para satisfazer o desejo “urbano” dos usurários da cidade. Pelo fato
do seu uso ser habitual, o bairro pode ser considerado como a privatização
progressiva do espaço público. O bairro constitui o termo médio de uma
dialética existencial entre o dentro e o fora. E é na tensão entre esses dois
termos, um dentro e um fora, que vai aos poucos se tornando o prolongamento de
um dentro, que se efetua a apropriação do espaço.
Surgindo no
Líbano é consumido por cima de folhas de alface. É popular principalmente na região sudeste no Brasil e na República Dominicana,
onde é reconhecido como tipili, devido à presença de imigrantes
mediterrâneos. A família, que inclui também tio, tia e primos, é cristã
palestina. Os norte-americanos, como muitos também no Brasil, possuem enorme
dificuldade para entender que a causa palestina não é islâmica, e sim nacionalista.
Tampouco conseguem compreender que os cristãos vivem bem socialmente no
convívio entre os muçulmanos. Os Estados Unidos da América apesar de todas as
críticas, ainda incentiva a vinda de estrangeiros, inclusive palestinos para a
América. Os palestinos e os árabe-americanos têm renda per capita
superior à da média norte-americana, sendo considerados ricos. O diretor da
escola é quem mais ajuda a mãe e o menino. Entende os problemas que ele e a mãe
enfrentam e acaba se tornando uma espécie de protetor dos dois. Claro, filho de
judeus poloneses sabe bem o que representa o preconceito social. Isto é, nos Estados
Unidos, os judeus são, muitas vezes, os que mais entendem e ajudam os árabes.
Não é à toa que o filme foi exibido nos bairros Lower East Side, um bairro na
parte sudeste da cidade de Nova York localizado em Manhattan, e no Upper West
Side, um distrito no bairro de Manhattan, Nova York, que se situa entre o
Central Park e o Rio Hudson e entre a West 59th Street e a West 125th Street.
Ele abrange o bairro de Morningside Heights. Tal como o Upper East Side, é uma
área nobre, essencialmente residencial, com muitos dos seus residentes
trabalhando em áreas mais comerciais e no centro financeiro de Manhattan, tradicionalmente
de habitantes judaicos de Nova York. Embora
essas distinções nunca tenham sido regras sem exceções, sendo que agora têm
pouco significado, já que no século XXI o bairro passou a ser casa também dos
trabalhadores culturais e artísticos, enquanto que o Upper East Side é
tradicionalmente visto como a casa de grandes comerciantes e empresários. O
bairro de renda familiar média está acima da média de Manhattan.
A
Cidade-conceito se degrada. Isto significaria que a enfermidade que afeta a
razão que a instaurou e seus profissionais é igualmente presente na conjuntura
de uma contradição entre o modo coletivo da gestão e o modo individual de uma
reapropriação, nem por isso essa questão deixa de ser essencial, caso se admita
que as práticas do espaço tecem com efeito as condições determinantes da vida
social. Essa narrativa, para Certeau, começa ao rés do chão, com passos. São
eles o número, mas um número que não constitui uma série. Não se pode conta-lo,
porque cada uma de suas unidades é algo qualitativo etnograficamente: um estilo
de apreensão táctil de apropriação cinésica. Sua agitação é um inumerável de
singularidades. Os jogos dos passos moldam espaços. Tecem os lugares
praticados. Elas não se localizam, mas são elas que se especializam. Noutras
palavras, a descrição oscila ente os termos de uma alternativa: ou ver (é um
conhecimento da ordem dos lugares), ou ir, (são ações espacializante). Ou então
apresentará um quadro (“existe”) ou organizará movimentos (“você entra”, “você
atravessa”). Qual é a coordenação entre um fazer e um ver, nesta linguagem
ordinária onde o primeiro domina de maneira tão evidente? A relação entre o
itinerário (uma série discursiva de operações) e o mapa (uma descrição redutora
totalizante das observações), entre duas linguagens simbólicas e
antropológicas do espaço. São dois polos da experiência que se passa de um para
outro, da cultura ordinária ao discurso científico. Mas universidades dentro
das cidades se separam.
O
tecido narrativo onde predominam os descritores de itinerários é, portanto,
pontuado de descritores do tipo mapa, que têm como função indicar ou um efeito
obtido pelo percurso (“você vê...”), ou um dado que postula como seu limite
(“há uma parede”), sua possibilidade (“há uma porta”) ou uma obrigação (“há um
sentido único”) etc. A cadeia de operações espacializante parece toda pontilhada
de referências ao que produz (uma representação de lugares) ou ao que implica
(uma ordem local). Tem-se assim a estrutura do relato de viagem: histórias de
caminhadas e gestas são marcadas pela “citação” dos lugares que daí resulta ou
que as autorizam. Dessa maneira de ver, pode-se comparar a combinação dos
“percursos” e dos “mapas” nos relatos cotidianos com a maneira como são, há
quinhentos anos, imbricados, e depois lentamente dissociados nas representações
literárias e científicas do espaço. Em particular, tomando-se o “mapa” sob a
sua forma geográfica atual. Marcado pelo nascimento do discurso científico
moderno, aos poucos separados do itinerário que constituíam a sua condição de
possibilidade de interpretação real. O documento mapa fica só: as descrições de
percurso desaparecem. Os processos rituais do caminhar podem reportar-se em
mapas urbanos de maneira a transcrever-lhes seus traços e suas trajetórias. Mas
essas curvas em cheios ou em vazios remetem somente, como palavras, à ausência
daquilo que passou. Os destaques de percursos perdem o que foi seu próprio ato
de passar, mas também a operação de ir, vagar ou olhar as vitrines, noutras
palavras: a atividade corriqueira dos passantes é transposta em pontos que
compõem sobe o plano de uma linha totalizante e reversível. Visível, tem como
efeito tornar invisível a operação que a tornou possível, levando ao processo
de esquecimento.
O
ato de caminhar está para o sistema urbano como a enunciação (“o speech act”)
está comparativamente para a língua ou para os enunciados proferidos. O ato de
caminhar parece encontrar uma primeira definição como espaço de enunciação.
Considerada através desse prisma, a enunciação pedestre apresenta três
características que de saída a distinguem do sistema espacial: o presente, o
descontínuo, o “fático”. Uma atividade narrativa, mesmo quando seja multiforme
e não mais unitária, continua, portanto se desenvolvendo onde se trata de
fronteiras e de relações com o estrangeiro. Fragmentada e disseminada, ela não
cessa de efetuar operações de demarcação. A caminhada, que sucessivamente
persegue e faz ao andar, o perseguir, cria uma organicidade móvel do ambiente,
uma sucessão de topoi fáticos. E se a função fática,esforço para assegurar a comunicação, já
caracteriza a linguagem dos pedestres que se destaca assim de sua representação
no papel social se poderiam analisar as modalidades, isto é, os tipos de ações
sociais e de relação que mantém com os percursos (ou “enunciados”)
atribuindo-lhes um valor de verdade, modalidades “aléticas” do necessário, do
impossível, do possível ou do contingente, um valor cognitivo (modalidades
epistêmicas do certo, do excluído, do plausível ou do contestável, ou enfim, um
valor concernente a um dever-fazer (modalidades “deônticas”) do obrigatório, do
proibido, do permitido ou do facultativo. Enfim, a caminhada afirma, emite
suspeita, arrisca, transgride, respeita as trajetórias que falam sobre nós.
Todas
as modalidades entram aí em jogo, mudando a cada passo, e repartidas em
proporções, em sucessões, e com intensidades que variam conforme os momentos,
os percursos e os próprios caminhantes. Indefinida diversidade social dessas
operações enunciadoras. Não seria, portanto, possível reduzi-las apenas ao seu
traçado gráfico. Um indício da relação que as práticas do espaço mantêm com
essa ausência é precisamente fornecido por seus jogos sobre e com os nomes
próprios. As relações de sentido da caminhada com o sentido das palavras situam
duas espécies de movimentos aparentemente contrários, um de exterioridade
(caminhar é sair); o outro, interior: uma mobilidade sob a estabilidade do
significante. Nos espaços brutalmente iluminados por uma razão estranha, os
nomes próprios cavam reservas de significações escondidas e familiares. Esses
nomes criam um não-lugar abstrato nos lugares praticados: mudam-nos em
passagens. O que eles soletram? Postas em constelações que hierarquizam e
ordenam semanticamente a superfície da cidade, operam arranjos cronológicos e
legitimações históricas, de grupos elitistas ou de classes sociais, suas palavras
perdem aos poucos o seu valor gravado, como moedas gastas, mas a sua capacidade
de significar sobrevive à sua determinação primeira. Ligando gestos e passos,
abrindo rumos e direções, essas palavras operam ao mesmo título de um
esvaziamento e de um desgaste do seu significado primário. O que as faz andar
são relíquias de sentido e às vezes seus detritos, os restos invertidos de
grandes ambições.
Os
relatos de lugares representam bricolagens. Tem-se assim a própria relação das
práticas do espaço com a ordem construída. Em sua superfície, esta ordem se
apresenta por toda a parte furada e cavada por elipses, variações e fugas de
sentido: é uma ordem-coador. As relíquias verbais de que se compõe o relato,
ligadas a histórias perdidas e a gestos opacos, segundo Michel de Certeau, fundamentando
uma fenomenologia, são justapostas numa colagem em que suas relações sociais não
são pensadas e formam, por esse fato, um conjunto simbólico. Elas se articulam
por lacunas. Pelos processos de disseminação que abrem, os relatos se opõem ao
boato, porque o boato é sempre injuntivo, instaurador e consequência de um
nivelamento do espaço, criador de movimentos comuns que reforçam uma ordem
social acrescentando um fazer-crer ao fazer-fazer. Os relatos diversificam, mas
os boatos totalizam, presente desde Aristóteles quando afirma: “o menor desvio
inicial da verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança”. Se há sempre
oscilação de uns para os outros, que vigiam e expressam truques em determinada
espacialidade, parece que há estratificação, pois os relatos se privatizam e se
escondem nos cantos dos bairros, das famílias ou dos indivíduos. Ao passo que a
boataria dos meios, irradiadas pelos processos de comunicação, cobre tudo e,
sob a figura da Cidade, palavra-chave de uma lei anônima, e substituto dos
nomes próprios, que apaga ou combate as superstições culpadas, mas que ainda
lhes pode conter ou fazer resistir. A dispersão dos relatos já é a do memorável.
De fato, a memória é o
antimuseu, como ocorre com aqueles desprezados pela memória: ela não é
localizável. Dela saem clarões nas lendas. Os objetos também, e as palavras,
são ocos. Aí dorme um passado, como nos gestos cotidianos de caminhar, comer,
deitar-se, onde dormitam revoluções antigas. A lembrança é somente um príncipe
encantado de passagem, que desperta, um momento, a Bela-Adormecida-no-Bosque de
nossas histórias sem palavras. Os demonstrativos dizem do visível suas
invisíveis identidades. Constitui a própria definição do lugar, com efeito, ser
esta série de deslocamentos e de feitos entre os estratos partilhados que o
compõem e jogar com essas espessuras em movimento contínuo. Os lugares são
histórias fragmentárias e isoladas em si, dos passados roubados à legibilidade
por outro, tempos empilhados que podem se desdobrar, mas que estão ali antes
como histórias à espera e permanecem no estado de quebra-cabeças, enigmas,
enfim simbolizações enquistadas na dor ou no prazer do corpo. O memorável é
aquilo que se pode sonhar a respeito do lugar. Já nesse lugar palimpsesto, a
subjetividade se articula sobre a ausência que a estrutura como existência e a
faz “ser-aí” (Dasein). Aí se deve reconhecer a repetição, em metáforas
diversas, de uma experiência decisiva e originária. Aí se inaugura a
possibilidade do espaço e de uma localização do sujeito. Praticar o espaço é, portanto,
repetir a experiência jubilatória e silenciosa da infância. É, no lugar, ser
outro e passar ao outro.
Na
universidade o homem de certo modo habita e não habita. Se por habitar
entende-se simplesmente uma residência. Quando se fala em habitar,
representa-se costumeiramente um comportamento social que o homem cumpre e
realiza em meio a vários outros modos de comportamento. Não habitamos
simplesmente. Mas construir significa originariamente habitar. Mais que isso,
significa ao mesmo tempo: proteger e cultivar, a saber, cultivar o campo,
cultivar a vinha. Construir significa cuidar do crescimento que, por si mesmo,
dá tempo aos seus frutos. No sentido de proteger e cultivar, construir
não é o mesmo que produzir. Note bem, sociologicamente em oposição ao
cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de construir, seja construir,
como cultivar, em latim, cultura, e construir como edificar construções estão
contidos no sentido da palavra edificar. No sentido de habitar, ou construir,
permanece, para a experiência cotidiana do homem. Aquilo sempre é linguagem de
forma tão exclusiva e bela, habitual. Isto esclarece porque acontece um
construir por detrás dos múltiplos modos de habitar, por detrás das atividades
de cultivo e edificação. O sentido próprio de construir, a saber, habitar, cai
no esquecimento de tecnocratas enfadonhos. Em que medida construir pertence ao
habitar? Quando construir e pensar são indispensáveis para habitá-lo.
Ambos são, insuficientes para habitá-lo, se cada um se mantiver
isolado, distantes, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro. Ipso
facto é ineludível o fato social de que construir e pensar pertence ao espaço e lugar próprio para o habitar. Permanecem em seus limites.
Sabem, quando aprendemos a pensar, que tanto um como outro provém da longa experiência abstrata de trabalho, programática de convívio disciplinar e exercício incessante com propriedade intelectual de pensar.
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