“Um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido”. Jean Rostand
O beijo na boca é o maior gesto de consagração de carinho, amor e paixão entre um casal, desde o simples tocar de lábios até o beijo mais intenso e apaixonado. O dia 13 de Abril é o Dia do Beijo, uma data instituída para celebrar o amor através do beijo. Estudos e pesquisas comprovaram que o ato de beijar na boca estimula o cérebro a liberar endorfina, substância responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Quanto mais prolongado e apaixonado, ocorrem maiores os benefícios. Mantém o rosto mais jovem porque o trabalho muscular dá firmeza à pele. O livro de recordes do Guinness (1955), é uma edição publicada anualmente, que contém uma coleção da representação de recordes e superlativos reconhecidos internacionalmente, tanto em termos de performances humanas como de extremos da natureza. Em 2003, o livro alcançou o binômio produção-consumo em torno de 100 milhões de cópias vendidas, desde a sua primeira edição em 1955, e lá existem vários temas de espaço e lugar relacionando aos beijos. Entre eles está o beijo “mais caro de sempre”. Em 2003, Joni Rimm pagou 50.000 dólares num leilão de beneficência para poder beijar a atriz Sharon Stone que leiloou o beijo para ajudar uma instituição de caridade. Um beijo tem como representação social “o toque dos lábios em outra pessoa” ou objeto. Na cultura ocidental é um poderoso “gesto de afeição”.
O beijo “mais longo gravado em vídeo” foi registrado durante um episódio do The Bachelor programa norte-americano da American Broadcasting Company (ABC). Nesse episódio Sean Lowe e Lesley M. se beijaram durante cerca de 3 minutos e 17 segundos, quebrando assim o anterior recorde de 3 minutos e 15 segundos. Uma das regras da competição “era que se os lábios se separassem durante qualquer altura, eles seriam desclassificados”. Mas o beijo mais longo de sempre aconteceu durante um concurso na Tailândia, onde um casal se beijou durante 50 horas, 25 minutos e 1 segundo. Ekkachai Tiranarat, 44 anos, e a sua mulher Laksana, de 33 anos, permaneceram de “lábios agarrados”, como descreve a organização do evento, durante 58 horas, 35 minutos e 58 segundos, ultrapassando o anterior recorde em mais de oito horas. Ao longo da maratona para conquistar o título de “beijo mais prolongado”, tecnicamente o casal não podia interromper o beijo, nem mesmo para irem à casa de banho, terminando a prova muito cansada por passaram o tempo acordados em pé. Como recompensa pelo ato genuíno da competição, o casal levou para casa um cheque de 100.000 bath, equivalentes a 2.500 euros, e dois anéis com diamantes como prêmio.
Os gregos, é sabido, “adoravam beijar”. Mas foram os romanos que difundiram a prática e permitiram que os nobres mais influentes beijassem seus lábios. Os menos importantes às mãos. Os súditos podiam beijar os pés. O “basium”, entre reconhecidos; o “osculum”, entre amigos; e o “suavium”, o fabuloso beijo dos amantes. Na Escócia, era costume o padre beijar os lábios da noiva ao final da cerimônia. Acreditava-se que a felicidade conjugal dependia dessa benção. Já na festa, a noiva “deveria beijar todos os homens na boca, em troca de dinheiro”. Na Rússia, uma das mais altas formas de “reconhecimento oficial era o beijo do czar”. No século XV, os nobres franceses “podiam beijar qualquer mulher”. Na Itália, entretanto, se um homem beijasse uma donzela em público, “era obrigado a casar imediatamente”. No latim, beijo significatoque dos lábios. Na cultura ocidental, ele é considerado gesto de afeição. Entre amigos é realizado como forma de cumprimento, ou despedida; entre amantes e apaixonados, como prova da paixão. Mas é também um sinal de reverência, ao se beijar, por exemplo, o anel do Papa ou dentre membros da alta hierarquia da Igreja. Beijar os lábios de outra pessoa tornou-se uma expressão comum de afeto em muitas culturas ao redor do mundo. No entanto, em certas sociedades, o beijo só foi introduzido através dos meios de violência simbólica através da colonização europeia, sendo que antes não era uma ocorrência prazerosa rotineira.
O ato de beijar pode se dar de várias formas, em diferentes lugares e com diferentes propósitos, dependendo do país e de sua cultura, da situação, das partes interessadas e de outros aspectos sociais. Entre amigos, é utilizado “como cumprimento ou despedida”. Nos lábios de outra pessoa é um símbolo de afeição romântica ou de desejo sexual, sendo que o beijo pode ocorrer também noutras partes do corpo. Ainda há o “beijo de língua”, em que as pessoas que se beijam mantêm a boca aberta, enquanto trocam carícias em formas prazerosas das línguas. Os mais antigos relatos remontam aos templos de Khajuraho, na Índia. As mais antigas referências vieram do Oriente, precisamente dos hindus. Há um registro de1200 a. C., no livro Satapatha, textos sagrados em que se baseia o bramanismo, abundante de sensualidade: - “Amo beber o vapor de seus lábios”. Os Vedas formam a base do extenso sistema milenar de escrituras sagradas do hinduísmo, que tout court representam a mais antiga literatura de qualquer língua indo-europeia. Mais explícito e malicioso, o Mahabarata, originou-se como um poema épico em sua extensão com mais de 200 mil versos, compilados em torno do ano 1000 a. C., descrito da seguinte forma: - “Pôs a sua boca em minha boca, fez um barulho e isso produziu em mim um prazer”.
A consagrada tela de Klimt é enorme e respeita a forma de um quadrado perfeito - o quadro tem exatamente 180 centímetros por 180 centímetros. O Beijo, é considerada a mais famosa pintura austríaca e faz parte da coleção permanente do Belvedere Palace Museum, situado em Viena. O quadro foi exibido pela primeira vez numa exposição em 1908 na Austrian Gallery, já nessa ocasião ele foi adquirido pelo Belvedere Palace Museum, de onde não saiu mais. Para se ter noção da reputação do pintor austríaco: O Beijo foi vendido (e exposto) antes mesmo de ser terminado. O quadro foi comprado pelo valor de 25 mil coroas, e analisado como um recorde de mercado da arte para a sociedade austríaca de seu tempo. A tela foi pintada provavelmente entre 1907 e 1908, é considerada uma das maiores criações da pintura Ocidental e pertence à chamada interpretação técnica da “fase dourada”, pois do ponto de vista técnico-metodológico o período ganhou esse nome porque nos trabalhos foram utilizadas folhas de ouro. São finas folhas do referente metal, tradicionalmente empregues na decoração de objetos de diversos tipos de arte, como são exemplo retábulos, esculturas, ourivesarias, mobiliário, entre outras. Para além das folhas de ouro, existem também folhas de prata, cobre, alumínio ou paládio que são utilizados conforme o acabamento final pretendido. Um dos métodos de douramento consiste em bater folhas de ouro sobre o suporte que posteriormente são polidos, obtendo assim o brilho desejado. Este procedimento de batimento permanece essencialmente o mesmo desde a Antiguidade.
Imagem: Photographie de Rue, de Robert Doisneau.
Existem diferentes tipos de beijos comumente reconhecidos. O beijo carinhoso, aquele amistoso que é dado na bochecha ou na testa. O beijo na boca, que se da nos lábios de uma pessoa, muitas vezes pode ser visto como um sinal de afeto entre um casal. O selinho, que não é um beijo dado na boca com muito pouco contato envolvidos. O beijo francês (ou de língua), no qual uma ou ambas as pessoas envolvidas introduzem a língua na boca da pessoa que beijam. O Beijo de esquimó, não é tecnicamente um beijo já que acontece quando duas pessoas esfregam seus narizes juntos. O beijo é uma prática social muito comum e está associado a valores românticos e amorosos e ao mesmo tempo, tem sido objeto de inspiração de diversas obras de arte através da história. Entre estas podemos incluir a famosa pintura O Beijo, de Gustav Klimt. Outro exemplo é a escultura de Auguste Rodin, Le Baiser. Uma famosa fotografia de um beijo foi tirada por Alfred Eisenstaedt, fotógrafo e fotojornalista norte-americano que em 14 de agosto de 1945, portanto, com o fim do conflito bélico, demonstra “um marinheiro beijando uma enfermeira no meio da celebração pelo fim da 2ª guerra mundial”.
O Beijo é uma escultura em mármore do artista realista Auguste Rodin que está atualmente no Museu Rodin, em Paris. Na obra do escultor francês, o artista inspirou-se nos delírios amorosos vividos com Camille Claudel, sua assistente. Como muitos dos mais reconhecidos trabalhos de Rodin, incluindo O Pensador. o casal que se abraça retratado na escultura apareceu originalmente como parte de um grupo no trabalho de Rodin os “Os Portões do Inferno”, encomendado por um planeado museu de arte em Paris. O casal foi posteriormente removido e substituído por outro casal de namorados localizado na coluna direita dos Portões. “O Beijo” originalmente tinha o nome “Francesca da Rimini”, pois descreve a nobre do século XIII italiano imortalizado no Inferno de Dante que se apaixona por Paolo, irmão mais novo do seu marido Giovanni Malatesta. Tendo-se apaixonado ao ler a história de Lancelot e Guinevere, o casal é descoberto e morto pelo marido. Na escultura, o livro pode ser visto nas mãos de Paolo. Os lábios dos amantes não se tocam realmente na escultura, sugerindo-se que eles foram interrompidos quando de sua morte, sem seus lábios nunca terem se tocado.
Quando os críticos de arte viram pela primeira vez a escultura, em 1887, sugeriram um titulo menos específico: Le Baiser. Rodin indicou que a sua abordagem às mulheres na escultura foi uma homenagem a elas e aos seus corpos, não apenas para submetê-las aos homens, mas como parceiros num ato de pleno ardor. O erotismo consequente na escultura tornou-a controversa. Uma versão de bronze da escultura (74 cm de altura) foi enviada para uma exposição em 1893 na cidade de Chicago. No entanto, a escultura foi considerada inadequada para a exibição em geral e relegada para uma câmara interna. O método de trabalho de Rodin para grandes esculturas, ocorreu empregando escultores assistentes para copiar um modelo menor, de um material que se tornava mais fácil de trabalhar do que o emprego da técnica no mármore. Quando eles tinham acabado, Rodin ia dar os últimos retoques na versão maior. Antes de criar a versão em mármore de “O Beijo”, Rodin reproduziu várias esculturas menores em barro, gesso e bronze.
Uma
história social do rosto será, com efeito, uma história da emergência
da expressão, dessa sensibilidade crescente, dessa atenção mais exigente que se
dá a partir do século 16 a expressão do rosto como signo da identidade
individual. A individualidade expressiva, segundo Courtine e Haroche (2016),
será captada então nas formas de observação do homem natural, no deslocamento
da relação entre o homem exterior e o homem interior, o homem físico e o homem
psicológico. É a razão pela qual dá grande destaque à tradição fisiognomônica, apelando ainda aos
escritos médicos e anatômicos, mas também aos textos usados pelos pintores, a
certos escritos estéticos. Tal abordagem não se inscreve, entretanto, nas
tradições estéticas ou antropológicas de uma história da mímica, da caricatura,
da máscara, ainda que tais objetos possam aí figurar. Ela também não se
confunde com esse modo essencial de representação do rosto: o retrato. Embora o
retrato seja um indicador maior das novas estruturas mentais e sociais, da
expressividade individual, os rostos de uma época não se esgotam no reflexo, quando um objeto bem iluminado é colocado na frente da
câmara invertida de que falavam, no caso da ideologia, os extrtaordinários Marx & Engels, ou da cultura Freud, que deles dá o retrato.
Uma história do rosto é, com
efeito, ao mesmo tempo, a história do controle da expressão, das exigências
religiosas, das normas sociais, políticas e éticas que contribuem
historicamente desde o Renascimento para o aparecimento de um tipo de comportamento
social, emocional, sentimental, psicológico fundado no afastamento dos
excessos, no silenciar do corpo. Elas deram nascimento a um homem sem paixões de
comportamento moderado, medido, reservado, prudente, circunspecto, calculado -
com frequência reticente, silencioso por vezes. P homem razoável das elites e,
depois, das classes médias. O homem das paixões, o homem espontâneo e impulsivo
progressivamenteapagou-se por trás do
home sem paixão. Mas no fundo desse homem sem paixão se abriga o homem sensível
e expressivo. Enfim, vale lembrar que refazer uma história individual e social
dos rostos em que o político se une ao psicológico na questão da expressividade
é, portanto, querer traçar a história dessa paradoxal injunção à autenticidade
e à conformidade, á expressão e ao apagamento, á espontaneidade das emoções e
ao silêncio das figuras. É buscar a gênese do indivíduo moderno numa
antropologia histórica buscando compreender o homem em sociedade de modo
inteiro, ela estenderia sua atenção do escrito ao oral e ao gesto, integrando
assim uma história do corpo dos homens em sociedade. Ipso facto, temos a emergência de um saber, uma ética, uma estética da linguagem e corpo que ligam assim peremptoriamente a civilidade ao processo social de
conversação.
O surgimento da noção de civilidade, e portanto, vir a ser o que é, no sentido hegeliano, dá a noção de civilidade, sua estreita associação com uma educação da linguagem, no sentido amplo da linguagem do corpo, do gesto e do rosto como verbo, de um domínio de si mesmo que são assim, testemunho de uma profunda transformação dos laços sociais. Conquanto aos poucos se irá desfazendo a ordem baseada no berço e na hierarquia de sangue, construindo práticas de espaços e lugares em que a linguagem e as relações entre os homens vão encontrar uma expressão, mais profunda, sem dúvida mais complexa. O renascer da era da eloquência, se já não é um truísmo, mais do que uma simples arte de convencer, marca um deslocamento de práticas, em que a dissolução das sociedades política e civil medievais abre um tempo e um espaço em que se vai fundar gradativamente uma legitimidade nova fundada no uso controlado do corpo e da linguagem. A Arte de conhecer os homens opera, enquanto antropologia física, um divisão social dos rostos. A observação do rosto é um instrumento para governar os outros. Esse reconhecimento da identidade individual e coletiva afirma antes de mais anda que a linguagem é a natureza mesma do homem.
A primeira telenovela brasileira, mutatis mutandis, foi exibida historicamente na TV Tupi de São Paulo, intitulada: Sua Vida Me Pertence, escrita e dirigida por Walter Forster, e estreou em 21 de dezembro de 1951. E na primeira rede de televisão brasileira, a Rede Tupi inaugurada em 18 de setembro de 1950. O primeiro beijo da televisão brasileira ocorreu nesta telenovela entre os protagonistas, interpretados por Walter Forster e Vida Alves. A produção de uma telenovela para o mercado de consumo baseia-se em sua audiência. Trata-se de uma produção em série em que quanto maior a audiência, maior a duração da novela, “pois nem sempre, grandes audiências representam grandes telenovelas”. É uma técnica que se inicia com quatro meses de antecedência. O autor pode ter uma ideia concebida só por ele, ou nos casos de dois ou três autores trabalhando no mesmo tema da novela. Também pode ocorrer os casos de utilização de palavras e expressões, com terminologias distintas com usos diferentes. Esses são os termos usados em telenovelas.
Walter Gerhard Forster foi ator de rádio, cinema, teatro e pioneiro da televisão brasileira. Seu pai, Jacob Forster, era filho de alemães de origem irlandesa, e sua mãe, Ida Forster, era suíça de um dos cantões alemães. Em 1937, mudou-se para a cidade de São Paulo, onde foi contratado pelas Rádios Bandeirantes, como locutor e depois como redator. Depois se mudou para a Rádio Difusora, e com o mesmo contrato, em 1947, pela Rádio Tupi. Como era diretor artístico do elenco de radionovelas, ajudou a formar o elenco para a telenovela da TV Tupi-PRF3. Também trabalhou nas rádios Excelsior, que atende hoje por CBN, e Nacional, como diretor de rádio-teatro (1952-1968). Na inauguração da TV Tupi, em 1950, atuou em todas as discussões e decisões de elenco para a nova emissora. Já estava casado e com dois filhos. Da telenovela Sua Vida Me Pertence, em 1951, foi autor, diretor e ator. Contracenou com Vida Alves que na trama amava o galã (que era ele), e ainda Lima Duarte, Lia de Aguiar, José Parisi e Dionísio Azevedo. Tinha 25 capítulos, mas enfrentou vários problemas com esse meio novo de comunicação: os atores falavam muito alto no estúdio, esqueciam os microfones, não sabiam se posicionar frente às câmeras, o que deixava desesperados os cameramen.
O conceito partiu de uma sugestão técnica do diretor artístico da TV Tupi São Paulo, Cassiano Gabus Mendes, um radialista e pioneiro da televisão no Brasil. Filho do radialista Otávio Gabus Mendes e pai dos atores Cássio e Tato Gabus Mendes. Escreveu novelas de grande sucesso como Anjo Mau,Locomotivas,Que Rei Sou Eu?,Ti Ti Ti, Brega e Chique, Elas por Elas, que sugeriu uma produção que se assemelhasse ao cinema. Forster foi o primeiro a falar em “telenovela”, comparativamente, como versão para televisão da radionovela, que já era sucesso de mercado. O produto começouapresentado ainda “ao vivo” duas vezes por semana. A princípio uma produção menor, com a representação de sua técnica erótica e a reprodução das imagens, se tornou o produto televisivo de maior importância merceológicas nacional. O galã Walter Forster encostou os lábios nos da atriz Vida Alves, enquanto acariciava o braço da amada, causando frisson durante a transmissão da TV Tupi. A cena ocorreu no último capítulo. Não há registros etnográficos, ela fora realizada no teatro e ainda não havia videotape, várias histórias foram narradas ao longo do tempo sobre o beijo.
Do ponto de vista técnico-metodológico do processo de comunicação social a novela não era exibida diariamente. Mas duas vezes por semana, estrategicamente nas bordas da semana, de preparação do telespectador, entre as terças e quintas-feiras. Cada capítulo tinha 20 minutos e, eram apresentadas na televisão ao vivo em preto e branco. Tinham dois cenários: o principal temático, reproduzindo um quarto e o outro, externo, representando um belo jardim da praça. Nessa produção também ocorreu o primeiro beijo da televisão brasileira. Não era um beijo como estamos acostumados a depreender nas paixões, pois não passou de um leve encontro dos lábios entre os protagonistas Walter Forster, o brutal Alfredo, indomável que desdenha de seus sentimentos e Vida Alves, por ela ser jovem e romântica, tem como representação novelesca uma moça ingênua e apaixonada. Ela teve toda a expectativa típica de uma primeira vez: em plano fechado, com os rostos colados, os atores murmuravam suas falas um para o outro. E, muito embora não fosse possível escutar o que diziam, a ação atraía a atenção para seus lábios. Daí, “o homem ajeitava seu vistoso bigode e encostava a boca na da mulher”.
Filmado por Thomas Edison, curiosamente o inventor da lâmpada, The Kiss demonstrava a cena final do musical The Widow Jones, encenada pelos mesmos atores da Broadway. May Irwin foi atriz e também cantora canadense. Apareceu em 1896 no primeiro beijo filmado com John C. Rice e fora filmada por uma máquina de Thomas Edison no filme The Kiss, dirigido por William Heise para o Edson`s Black Maria Studios em West Orange, New Jersey de propriedade do inventor norte-americano. O filme possui 47 minutos de duração com a reencenação do beijo entre May Irwin e John Rice, inspirado na cena final da peça musical The Widow Jones. O fonógrafo foi uma de suas principais invenções. O cinematógrafo, mais do que isso, pois representa a primeira câmera cinematográfica bem-sucedida, com o equipamento disponível para demonstrar os filmes que fazia. O famoso Edison também aperfeiçoou o telefone, inventado por Antonio Meucci, em um aparelho que funcionava melhor. Fez de forma idêntica com a máquina de escrever. Trabalhou em projetos variados, como alimentos empacotados a vácuo, um aparelho de raios X e um sistema de construções feitas de concreto. Entre as suas contribuições mais universais para o desenvolvimento encontra-se a relevante lâmpada elétrica incandescente, o fonógrafo, o cinescópio, o ditafone e o microfone de grânulos de carvão para o telefone.
A desigualdade social reproduzida através da classe social está relacionada ao poder aquisitivo, ao acesso à renda, à posição social, ao nível de escolaridade e ao padrão de vida existente entre as frações da classe dominante que controlam direta ou indiretamente o Estado, através de efeitos de poder político, na educação e trabalho, reproduzindo inexoravelmente uma estrutura social implantada e difundida pelos métodos de trabalho e de produção no âmbito das esferas sociais e de poder dominante. A divisão da sociedade em classes é consequência dos diferentes papéis que os grupos sociais têm no processo de produção, ocupado por cada classe que depende o nível de fortuna e de rendimento, o gênero de vida e numerosas características culturais das diferentes classes. Classe social define-se como conjunto de agentes sociais nas mesmas condições no processo de produção e que têm afinidades eletivas políticas e ideológicas.
E esse problema não estava relacionado exclusivamente ao trabalho manual e às classes trabalhadoras. Basta pensarmos na referência ao capitão Hawdon, ou Nemo, de “A Casa Abandonada”, de Charles Dickens. O personagem era um ex-oficial do Exército que vivia fazendo trabalho temporário como jurista. Mas no caso de Marx, lembra Jones (2017: 357), não se tratava de pobreza no sentido comum da palavra. Em 1862, a bem intencionada sugestão de Lassale de que uma das filhas de Marx trabalhasse para ganhar dinheiro com a condessa Von Hatzfeldt, sua companheira, foi recebida como um indizível desrespeito ao status social deles e provocou um dos mais repulsivos insultos de Marx. – “Imagine só! Esse sujeito, sabendo do caso americano etc. [a perda dos rendimentos do Tribune], e, portanto, da situação de crise em que me encontro, teve a insolência de perguntar se eu cederia uma das minhas filhas à la Hatzfeldt como “dama de companhia”. Uma das justificativas para o comportamentodeles era de que isso seria determinado para garantir o “futuro das filhas”. Em julho de 1865, admitiu Marx: - “É verdade que minha casa está acima de meus meios, e que temos, além disso, vivido melhor este ano do que foi o caso antes. Mas “é o único jeito de as meninas se estabelecerem socialmente, com vistas a assegurar o seu futuro”.
O beijo romântico em culturas ocidentais representa um desenvolvimento relativamente recente e raramente é mencionado, até mesmo na literatura grega antiga. Durante a Idade Média, tornou-se um gesto “social” e era considerado um sinal de refinamento das castas dominantes. Outras culturas têm diferentes definições e usos do ato de beijar. Na China, por exemplo, uma expressão similar de afeto consiste em “esfregar o nariz contra o rosto de outra pessoa”. Em outras culturas orientais beijar é incomum. Nos países do Sudeste Asiático o beijo “entre narizes” é a forma mais comum de afeto e o costume ocidental de beijar na boca é frequentemente reservado para às preliminares sexuais. Um beijo também pode ser usado para expressar sentimentos, sem um elemento erótico. O beijo de respeito também representa uma marca de lealdade, humildade e reverência. O primeiro filme vencedor do Oscar de melhor filme, Wings (“Asas”), também foi o primeiro filme em demonstrar dois homens beijando-se na face, entre os personagens Jack Powell e David Armstrong, no momento em que estava à morte, ferido em batalha. O beijo foi representado de forma fraternal, não sexual e não erótica.
O filme Casablanca emocionou com a cena do beijo de despedida que o personagem de Rick (Humphrey Bogart) dá em Ilsa (Ingrid Bergman).O filme A Um Passo da Eternidade apresentou uma das cenas mais reconhecidas de beijo da história do cinema entre as personagens de Burt Lancaster e Deborah Kerr deitados na areia da praia.No filme de animação da Disney: Lady and the Tramp, enquanto os personagens comem um espaguete, simultaneamente, de lados opostos, seus lábios se encontram no meio. O filme: Guess Who's Coming to Dinner causou furor por demonstrar o relacionamento de um médico afro-americano (Sidney Poitier) e uma garota branca da classe média alta (Katharine Houghton). Giuseppe Tornatore, com Cinema Paradiso, presta uma homenagem ao beijo no cinema. O projetista Alfredo (Philippe Noiret) deixa de herança para seu amigo e auxiliar Salvatore (Jacques Perrin) um rolo de filme onde estão montadas as cenas de beijo (e algumas de nus) que haviam sido cortadas pelo padre de localidade, pois pertenciam, em sua maioria, à Igreja. O filme: Brokeback Mountain causa furor nos lugares do mundo em que foi lançado. A representação da cena que Ennis (Heath Ledger) reencontra Jack (Jake Gyllenhaal), pela primeira vez passados anos, e se beijam é uma das mais lembradas. Acabou por levar um MTV Movie Award de “melhor sequência de beijo”. Na televisão, em 1968, no papel da Tenente Uhura, Nichelle Nichols participou do primeiro beijo inter-racial da televisão norte-americana, no seriado Star Trek com o ator canadense William Shatner. Um episódio do aclamado seriado dramático norte-americano L. A. Law (1991) uma série de televisão norte-americana, um drama de tribunal exibido por oito temporadas pela National Broadcasting Company (NBC) de 15 de setembro de 1986 a 19 de maio de 1994causou enorme controvérsia ao demonstrar um beijo entre as personagens femininas Abby (Michele Greene) e C.J. (Amanda Donohoe). Tal cena foi reconhecida como “o primeiro beijo gay”, de mulher prá mulher, dos seriados norte-americanos, e foi responsável por quebrar um enorme tabu não só televisivo. No episódio Acting Out (2000) da fabulosa série cômica norte-americana intitulada: Will & Grace, os personagens Will (Eric McCormack) e Jack (Sean Hayes) se beijam ao protestarem por causa de uma cena de beijo de um seriado fictício da NBC que não foi reproduzido na mídia, semelhante ao “beijo de América”. O último episódio da telenovela brasileira América (2005) causou muito furor quando um espetacularizado beijo homossexual masculino - que seria o primeiro em telenovela brasileira - dos personagens Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) não ocorreu.
A cena foi escrita pela autora e gravada, mas a Rede Globo de televisão optou por não exibi-la, frustrando seus milhões de telespectadores. A propaganda de trinta segundos da linha de relógios Time (2007) da companhia italiana Dolce & Gabbana “demonstra dois rapazes se beijando e causa furor no mundo inteiro”. Felizmente, os antropólogos não chegaram a uma conclusão sobre se o beijo é aprendido ou se é comportamento do instinto. Mas acertam quando afirmam que o ato de beijar em humanos é postulado como um processo de evolução que surgiu a partir da regurgitação direta boca-a-boca de alimentos dos pais para seus filhos (beijo de alimentação) ou entre machos e fêmeas e tem sido observado empiricamente em vários tipos de mamíferos. As semelhanças entre os métodos usados no “beijo de alimentação” e nos “beijos de língua” humanos são bastante acentuadas. Isto quer dizer que, no primeiro caso, a língua é usada para empurrar o alimento da boca da mãe para a da criança, que recebe os alimentos da mãe através dos movimentos de sucção da língua. E o último é basicamente o mesmo movimento de repetição, mas sem a presença de comida pré-mastigada, através de observações empíricas comparativas de várias espécies e culturas. Pode ser confirmado que, instintivamente beijo e pré-mastigação, evoluíram de comportamentos afetivos semelhantes com base na divisão sexual parental dentre as relações de subalternidade entre os sexos.
Bibliografia geral consultada.
HAMBURGER, Esther, O Brasil Antenado: A Sociedade da Novela. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005; CAMÊLO, Polyana, O Beijo Invisível do Onírico: Na Linguagem Imaginária de Andara. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de Arte e Comunicação. Departamento de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2010; GOFFMAN, Erving, Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. 4ª edição. Rio de Janeiro: Livro Técnico e Científico, 2013; DEMARCHI, Guilherme, Da Paixão à Ressurreição: Uma Análise Semiótica. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Semiótica. Departamento de Linguística. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2015; COURTINE, Jean-Jacques; HAROCHE, Claudine, História do Rosto. Exprimir e Calar as Emoções: (do século 16 ao começo do século 19). Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2016; ABREU, Relines Rufino de, Mulher de Papel, Mulher de Talento: A Representação da Escritora da Ficção em Reparação, de Ian McEwan, e em Um Beijo de Colombina, de Andrade Lisboa. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Faculdade de Letras. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016; ALMEIDA, Thiago de, O Conceito de Amor: Um Estudo Exploratório com uma Amostra Brasileira. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; COSTA, Jéssica Fraga de, Os Labirintos da Ficção: Os Mosaicos Textuais de um Beijo de Colombina, de Adriana Lisboa. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Instituto de Letras. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande dos Sul, 2017; LUCENA, Cibele Toledo, Beijo de Línguas: Quando o Poeta Surdo e o Poeta Ouvinte se Encontram. Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017; MILLÁS, Cláudia Regina Garcia, Corpo-em-Fluxo. Dança e Escalada como Práticas de Emancipação para o Artista em Cena. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas. Centro de Artes e Letras. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2019; ABREU, Rachel Luiza Pulcino de, É Algo Socialmente Construído: Gênero e Sexualidade na Escola entre Percepções de Docentes e Estudantes. Tese de Doutorado.; Programa de Pós-Graduação em Educação. Rio de Janeiro: pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2019; entre outros.
“A pátria do povo cigano é a própria alma deles”. Ático Vilas-Boas da Mota
Ciganos representa um exônimo para “roma”, singular: “rom”; em português, “homem” e designa um conjunto de populações nômades que têm, em comum, a origem indiana e uma língua, o roman(cf. Soria, 2008), originária do noroeste do subcontinente indiano. Também são reconhecidos pelos termos “boêmios”, “gitanos”, “calons”, e “quicos”. Essas populações constituem minorias étnicas em inúmeros países do mundo e são conhecidas por vários exônimos. O endônimo “rom” foi adotado pela “União Romani Internacional”, em romani: “Romano Internacionalno Jekhetanipe” e pela Organização das Nações Unidas (ONU). A discriminação racial e étnica continua a ser um dos maiores problemas de direitos humanos no mundo. Esses povos, de origem indiana e língua romani, são subdivididos em diversos grupos étnicos: Rom (singular) ou roma (plural) propriamente ditos, presentes na Europa centro-oriental e, a partir do século XIX, também em outros países europeus e nas Américas; Sinti, encontrados na Alemanha, bem como em áreas germanófobas da Itália e da França, onde também são chamados “Manoush”; “Caló”, os ciganos da península Ibérica, presentes em países da Europa e nas Américas, incluído o Brasil; “Romnichals”, principalmente presentes no Reino Unido. Esses grupos foram submetidos a processos políticos de deportação, subdividindo-se vários clãs, segundo antigas profissões, procedência geográfica, com línguas ou dialetos diferentes. Segundo pesquisa da revista Current Biology, “a diáspora dos ciganos começou há 1500 anos no Noroeste da Índia”.
Muito da atenção internacional recaiu sobre o regime apartheid na África do Sul, extinto em 1994. Entretanto, a luta contra o ódio étnico e racial continuou durante a década de 1990, violentamente acometida pelos profundos conflitos étnicos jamais vistos nos Bálcãs e na região dos Grandes Lagos, na África. Raça é definida como um grupo de pessoas de comum ancestralidade. Étnico é relativo ou característico de um grupo humano que tem certos traços raciais, religiosos, linguísticos, entre outros, em comum. Existem tratados ou declarações que objetivam o combate à discriminação contra vários grupos raciais, religiosos, sociais, étnicos, etc., expressa na “Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição dos Crimes de Apartheid” (1973) e a “Convenção Contra o Apartheid nos Esportes” (1985). A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura adotou a “Convenção Contra a Discriminação na Educação” (1960), a qual protege o direito à educação de grupos minoritários, a “Declaração sobre Raça e Preconceito Racial” (1982) e sobretudo o engamenteo na “Declaração sobre os Princípios Fundamentais Relativos à Contribuição dos Meios de Comunicação de Massa para o Fortalecimento da Paz, do Entendimento Internacional, da Promoção dos Direitos Humanos e a Penalização do Racismo, Apartheid e do Incitamento à Guerra” (1978).
As Organizações das Nações Unidas têm tomado inúmeras medidas de retificação desde o início de seu combate contra a discriminação racial. Somando-se a outras inúmeras declarações e convenções, esforços têm sido feitos para mobilizar e conscientizar a opinião pública. O ano de 1971 foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional para Ação de Combate ao Racismo e à Discriminação Racial. Conferências mundiais para combater o racismo foram realizadas sob os auspícios da Organização das Nações Unidas em 1978, 1983 e 2001. A “Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata” realizaram-se em setembro de 2001 na África do Sul. Os documentos da Conferência contêm os mais recentes pronunciamentos sobre o consenso entre governos relativos às questões raciais. A Comissão de Direitos Humanos instituiu um Grupo de Trabalho Internacional (2002) para recomendações políticas e sociais sobre a regulamentação do “Programa de Ação da Declaração de Durban” para a preparação de instrumentos destinados à atualização de documentos existentes.
Documento
da Assembleia-Geral demarca duas décadas da conferência internacional sobre o
tema realizada na África do Sul; debate na Organização das Nações Unidas (ONU)
focou em indenização, justiça racial e igualdade; presidente do órgão destaca
racismo entre falhas que foram agravadas na pandemia; secretário-geral criticou
aumento da intolerância. A Assembleia Geral das Nações Unidas marcou esta
quarta-feira o 20º aniversário da adoção da Declaração e do Programa de Ação
de Durban, em uma reunião de alto nível. No evento, foi adotada uma nova
resolução contra racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância
correlata. Portugal também coordenou a interação entre os Estados-membros,
através do embaixador Francisco Duarte Lopes. - “Quisemos falar com todos,
desde o início, precisamente por causa dessa convicção que nos une, a nós e os
colegas sul-africanos com quem cofalilitamos esta declaração política e da
Organização, ou da preparação das comemorações dos 20 anos. Precisamente porque
estávamos e estamos convictos de que tratando-se de um valor central entre os
princípios das Nações Unidas, que a todos uniria independente da opinião de
cada país sobre o processo de Durban, e independentemente da forma da luta contra o racismo e a discriminação racial, achamos que era
um assunto que a todos unia e deveria continuar a unir”.
A
resolução apela aos países para assumirem um compromisso total e intensificarem
os esforços para a eliminar todas as formas de racismo e de discriminação
racial, xenofobia e intolerância. A ONU convida as entidades internacionais e
regionais, como Parlamentos, sociedade civil, setor privado e academia a se
juntarem e continuarem a cooperar com os órgãos de direitos humanos da
organização para cumprir esse propósito. O documento destaca ainda o impacto
desproporcional que a Covid-19 teve nas desigualdades nas sociedades. Os
sintomas mais comuns são febres, tosse seca e cansaço. Entre outros sintomas
menos comuns estão dores musculares, dor de garganta, dor de cabeça, congestão
nasal, conjuntivite, perda do olfato e do paladar e erupções cutâneas. Cerca de
80% das infeções pelo SARS-CoV-2 confirmadas têm sintomas ligeiros ou são assintomáticos, e a maioria recupera sem sequelas. No entanto, 15% das
infeções resultam em severa com necessidade de oxigénio e 5% são
infeções muito graves que necessitam de ventilação assistida em ambiente
hospitalar. Os casos mais graves podem evoluir para pneumonia grave com
insuficiência respiratória grave, sepse, falência de vários órgãos e morte.
Entre os sinais de agravamento da doença estão a falta de ar, dor ou pressão no
peito, dedos de tom azul ou perturbações na fala e no movimento. O agravamento
pode ser súbito, ocorre geralmente durante a segunda semana e requer atenção
médica urgente. A doença transmite-se através de gotículas produzidas nas vias
respiratórias das pessoas infetadas. Ao espirrar ou tossir, estas gotículas
podem ser inaladas ou atingir a boca, nariz ou olhos em
contato próximo.
Estas gotículas podem também depositar-se em objetos e
superfícies próximos que podem infetar quem nelas toque e leve a mão aos olhos,
nariz ou boca, embora esta forma de transmissão seja menos comum. O intervalo
de tempo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas é de 2 a 14 dias,
sendo em média 5 dias. Entre os fatores de risco estão a idade avançada e
doenças crónicas graves como doenças cardiovasculares, diabetes ou doenças
pulmonares. O diagnóstico é suspeito com base nos sintomas e fatores de risco e
confirmado com ensaios em tempo real de reação em cadeia de polimerase para
deteção de ARN do vírus em amostras de muco ou de sangue. A
situação piorou o status de minorias raciais, étnicas e outros grupos. Entre os
mais afetados estão asiáticos e pessoas de ascendência asiática, especialmente
mulheres e meninas. Elas foram vítimas de violência racista, ameaças de
violência, discriminação e estigmatização. O debate de chefes de Estado e de
governo esteve gerando em torno do tema: “Reparações, Justiça Racial e
Igualdade para os Afrodescendentes”. Para o secretário-geral António Guterres,
a oportunidade é importante para refletir sobre o futuro desses povos. Para ele, quando esta
forma de preconceito é estrutural, aliada à injustiça sistemática, acaba por
negar os direitos humanos essenciais. O líder das Nações Unidas assinalou que o
racismo e a discriminação racial ainda acontecem em instituições, nas
estruturas sociais e na vida quotidiana em cada sociedade.
Foi
na Conferência Mundial realizada em 2001 que líderes mundiais adotaram, por
consenso, uma declaração política. O documento proclamou a “forte determinação
em fazer a luta contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a
intolerância correlata e a proteção das vítimas, uma alta prioridade para os
países”. Guterres indicou que entre os mais afetados estão “africanos e
afrodescendentes, comunidades minoritárias, povos indígenas, migrantes,
refugiados, pessoas deslocadas e tantos outros que continuam a enfrentar o
ódio, a estigmatização”, ou ainda a ser “bodes expiatórios e vítimas da
discriminação e violência”. O secretário-geral disse ainda que o uso da
intolerância contra as minorias ou a manifestação de estereótipos antissemitas,
discurso anti-muçulmano, odioso e afirmações infundadas denigrem o combate ao
racismo. Analisando o cenário global, Guterres disse que o movimento pela
justiça e igualdade racial é um novo despertar. Muitas vezes liderado por
mulheres e jovens este tipo de expressão “criou um ímpeto que deve ser
aproveitado”. O presidente da Assembleia Geral disse que a pandemia agravou as
condições já existentes e expôs várias falhas, incluindo em relação ao racismo.
Abdulla
Shahid disse haver pessoas marginalizadas e vulneráveis que ficaram ainda mais
para trás. O representante apontou áreas como saúde, educação e segurança, onde
essas fraquezas estruturais já existiam e “eram uma receita para o desastre, e
onde a Covid-19 piorou a divisão e a injustiça”. Entre as lições a serem
aprendidas dos afetados pelo racismo, Shahid destacou a consciência global para
reconhecer essas falhas e buscar a igualdade racial. A meta é que a divisão
seja ultrapassada e criada resiliência para os que têm sido esquecidos. A alta
comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que duas décadas
depois de Durban as desigualdades e o sofrimento gerados por essas práticas
ainda são sentidos. Bachelet apontou vítimas como “africanos, afrodescendentes,
asiáticos, seus descendentes e minorias e vítimas de antissemitismo, indígenas
e migrantes” devido às práticas discriminatórias que ainda fazem recuar e
prejudicam sociedades. Para a alta comissária, “é vital que o mundo possa
ultrapassar as controvérsias e unir-se para combater o racismo e discriminação
que esteja relacionada à prática no mundo atual”. Ela destacou passos já dados
que podem fundamentar “uma mudança real” como a proclamação da Década
Internacional dos Afrodescendentes, a criação do mecanismo para justiça
racial e para fazer cumprir a lei e a operacionalização do Fórum de
Afrodescendentes. Em julho, o Escritório dos Direitos Humanos reforçou a
arquitetura contra o racismo.
Nas leis internacionais dos direitos humanos, o termo raça é geralmente utilizado em um sentido mais amplo e frequentemente se confunde com outras distinções entre grupos de pessoas baseadas na religião, etnia, grupo social, língua e cultura. O termo “raça”, nas leis sobre os direitos humanos, é utilizado por vezes para designar grupos que não se enquadram em distinções biológicas de grupo como, por exemplo, os sistemas de castas na Índia e Japão. A Convenção Internacional sobre a Eliminação da Discriminação Racial (Artigo 1°) curiosamente não define “raça”, mas infere da cultura a “discriminação racial” para designar “qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseadas na raça, cor, descendência, nacionalidade ou origem étnica com o propósito ou efeito de anular ou impedir o reconhecimento, o gozo ou o exercício, em pé de igualdade, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos campos políticos, econômicos, sociais e culturais ou qualquer outro da vida pública”. Etnia é explicitamente entendida sob esta definição pelo termo “raça”. Muitos tratados sobre os chamados direitos humanos se referem a “raça” e não utilizam a terminologia “etnia”.
Não queremos perder de vista que, o conceito de identidade cigana é, por assim dizer, uma self-fulfilling prophecy, expressão foi cunhada pelo sociólogo norte-americano Robert Merton, que elaborou o conceito no seu livro Social Theory and Social Structure (1949), existe um consenso alargado, tanto do ponto de vista émico - relativo à descrição e ao estudo de unidades linguísticas em termos da sua função dentro do sistema ao qual pertencem, como ético, sobre o que é “ser cigano”, e, portanto não se discute; opta-se, em alternativa, por “folclorizá-lo” (“exotizando-o”) ou por denunciar tentativas e estratégias hegemónicas de combate a essa identidade e tradição “diferente”. Do ponto de vista histórico, os estudos sobre ciganos denunciam um processo marcante: o da passagem de transformação da “ciganidade” de uma “raça” – que vem ocorrendo nas últimas décadas do século XX - numa precisa minoria étnica. Esta transformação é concomitante com a mudança de paradigma, nos projetos científicos, que foi rejeitando retratos culturalistas homogéneos e primitivistas em favor de uma complexificação do social da consciência e pluralismo que o define. Os processos redundaram numa opção política sobre ciganos em Portugal, de denúncia de lógicas de exclusão e marginalização do povo cigano, ou mesmo, como ocorre frequentemente sem o necessário esforço de questionamento epistemológico dos conceitos empregues nessa denúncia.
Muitos ciganos comerciantes conseguiram, por meio de uma conduta inatacável nos negócios, a confiança de inúmeros clientes que os aguardavam periodicamente para fazerem barganhas. As atividades merceológicas das mais diversas mercadorias oferecia aos ciganos a oportunidade de algum tipo de sociabilidade com as populações locais. Nas barganhas os ciganos geralmente buscavam o lucro, mas além dele, a relação de troca envolvia também uma relação de prazer no ato da transação. O prolongamento da transação, a pechincha, enriquecia as relações humanas de diálogo entre ciganos e o não cigano. Ao pechinchar, o comprador demonstrava seu respeito ao cigano, e vice-versa.O comércio cigano concorria com o dos mascates portugueses, judeus e, a partir da Independência, com os novos mascates vindos, por exemplo, da Itália, do Líbano e da Síria. A imprevisibilidade da vida cigana não permitia que vendessem à prestação como os mascates judeus. Além disso, os ciganos perdiam a disputa pela atenção e o dinheiro das populações visitadas, porque os mascates procuravam atender pedidos e, ao mesmo tempo, criar demanda. E portavam uma variedade maior de produtos a oferecer, enquanto os ciganos negociavam artigos conseguidos em sucessivas barganhas.
Na segunda metade do século XIX, com o conjunto de regras rígidas adotadas quanto à vestimenta, sobretudo nas camadas sociais mais altas, graças aos esforços higienistas, propiciou-se um aumento do comércio de roupas.Isto fez com que os ciganos prestassem mais atenção ao comércio de tecidos, e, secundariamente, ao de roupas. A história do “povo cigano” ou “rom” (homens) é ainda objeto de controvérsia na historiografia. A capacidade para cruzar fronteiras ou para aliar-se em determinadas ocasiões com a população autóctone realizando trabalhos imprescindíveis, faz que os ciganos inclusivos de toda Europa resistam culturalmente à assimilação e conservem as suas próprias características culturais mais ou menos intactos até a atualidade. Em primeiro lugar, a cultura cigana é fundamentalmente ágrafa e despreocupada por sua história social. Mas não de sua cultura, de maneira que não foram conservados por escrito sua procedência. Sua história tem sido estudada sempre pelos não ciganos, com frequência através de um cariz fortemente etnocentrista. Os primeiros movimentos migratórios datam do século X, de sorte que muita informação se perdeu no tempo.
É importante assinalar também que os primeiros grupos de ciganos chegados a Europa ocidental fantasiavam acerca de suas origens, atribuindo-se uma procedência misteriosa e lendária, em parte como estratégia de proteção frente a uma população em que eram minoria, em parte como posta em cena de seus espetáculos e atividades. Outro dilema que se deve ter em conta é que a inserção (ou não) na comunidade cigana é uma questão disputada. Não existe uma delimitação clara dentro da própria comunidade (nem fora) acerca “de quem é cigano e quem não o é”. As principais fontes de pesquisa são os testemunhos escritos, as análises linguísticas e a genética populacional. No século XVIII, o estudo da língua romani, própria dos ciganos, confirmou que se tratava de uma língua indo-ariana, muito similar ao “panjabi” o ao “hindi” ocidental. Isso demonstrou que a origem do povo “rom” está no noroeste do subcontinente Indiano, na zona em que atualmente fica a fronteira entre os Estados modernos de Índia e Paquistão. Esse descobrimento linguístico acabou sendo também respaldado por estudos genéticos. É provável que os ciganos originaram-se de uma casta subalterna do noroeste da Índia, que, por causas desconhecidas foi obrigada a abandonar o país no primeiro milênio d. C. A procedência dos “roma” foi objeto de fantasias. Foram considerados descendentes de Caim, ou relacionados com a estirpe de Cam. Algumas tradições os identificam com “magos” caldeus Sírios, ou com uma tribo de Israel fugida do Egito faraônico.
Uma lenda os faz forjadores dos pregos da cruz de Cristo, motivo pelo qual teriam sido condenados a “errar pelo mundo”. Não há qualquer evidência que situe aos ciganos no Oriente Médio nessa época. O termo“cigano”, “gitano”, ou “gypsy” de herança egípcia, estando “aplicado a esse povo pela crença errônea de que seriam provenientes do Egito”. O ramo Domba que se transformaria nos ciganos, deslocou-se do centro da Índia para o noroeste, no séc. I a. C. Quatro séculos depois, migrava novamente, dessa vez para o oeste em direção a Pérsia. Lá permaneceu até a invasão mongol, verificada no século XIII. Então, dividiu-se em dois grupos, dos quais um rumou para a Grécia, através da Armênia, e o outro para a Síria, a Palestina e o Egito. Os primeiros acabaram por atravessar o Danúbio, quando os turcos invadiram a Europa Oriental no século XIV. A partir de então, até por volta de 1460, difundiram-se pela Hungria, Áustria, Boêmia (parte da atual Checoslováquia), Hamburgo (atual Alemanha), França e Suíça. Apesar de se declararem nobres, eram escravizados logo que chegavam a esses países. Só a partir de 1496 puderam usufruir de alguma liberdade. O primeiro a “favorecê-los” foi Vladislau II, rei da Boêmia e Hungria, entre 1456-1516 que lhes concedeu trânsito em território húngaro. As perseguições do século XV, contra judeus e muçulmanos, incluem “caçar” os ciganos, considerados vagabundos e delinquentes.
Na Alemanha e Holanda, “eram exterminados a tiros por caçadores pagos por cabeça”, recordou, para afirmar que “na Europa, o proposito de extermínio dos ciganos sempre foi muito claro”. Mas a diferença com a França e Itália, é que as operações para o controle de estrangeiros indocumentados não os têm como alvos principais. Da segunda metade do século XVI em diante, as coisas ficaram piores quando começou a perseguição aos ciganos, primeiro movido pelos camponeses, depois pelos prefeitos das cidades e pelos reis autoritários. No Ducado de Milão, em 1663, foi publicado um édito que proibia a entrada dos ciganos nos domínios milaneses, “sob a pena de sete anos de cárcere para os homens e de uma orelha cortada para as mulheres”. Maria Teresa, da Áustria, em 1768 tornou ilegal a permanência de ciganos em seu país “a menos que eles morassem em casas, trajassem à maneira dos camponeses e trabalhassem em ofícios definidos”. Mas nem em Milão, nem na Áustria, nem no resto da Europa eles mudaram seu modo de vida. A América do Norte e a Austrália só os receberam na segunda metade do século XX. Tradicionalmente, os ciganos levam vida nômade, deslocando-se em grupos diversos, formando histórias de vida em trânsito, compostos por um conjunto de núcleos familiares, sob a liderança de um chefe vitalício escolhido entre eles.
Em nível acadêmico, o descobrimento da origem indiana do romani corresponde ao alemão Johann Rüdiger, catedrático da Universidade de Halle-Wittenberg, que em 1782 publicou um artigo de investigação linguística, no que analisava a fala de uma mulher cigana, Barbara Makelin, e a comparava com a língua recolhida numa gramática alemã do “hindustani”, ou seja, o nome ao qual se conhecia antigamente os atuais hindi e urdu. No seu artigo, Rüdiger reconhecia a influência nas suas investigações do dicionário de romani de Hartwig Bacmeister, de 1755, a quem já em 1777 comunicara as suas ideias, assim como a sua dívida com seu professor Christian Büttner, que anos antes aventurara a possibilidade duma origem indiana, ou acaso afegã dos ciganos. Entretanto, foi Rüdiger que estabeleceu, mediante a sua análise comparativa entre a descrição gramatical do hindustani e a fala de Barbara Makelin, que “as similitudes entre ambas variedades linguísticas evidenciavam uma origem comum”. Estudos subsequentes da língua romani demonstraram “um estreito parentesco com o punjabi e o hindi ocidental, tanto no seu vocabulário fundamental como nas suas estruturas gramaticais e nas mudanças fonéticas”. As investigações de Alexandre Paspati, “Études sur les Tchinghianés”, publicado em Constantinopla (1870), de John Sampson, “The Dialect of the Gypsies of Wales” (1926) e dos suecos Gjerdman e Ljungberg, “A Língua do Cigano Sueco Trabalhador do Cobre Dimitri Taikon”, publicado (1963) evidenciam que existe uma unidade dentro do romani que se estende por toda Europa.
Desde a sua chegada a terras europeias, uma das faces da comunidade cigana que mais chamou a atenção dos demais povos era etnocentricamente “a sua estranha língua, muito diferente das faladas na Europa”. A primeira reprodução escrita do romani remonta a uma Enciclopédia de título: First Book of the Introduction of Knowledge, escrito por Andrew Boorde. Esta obra, completada em 1542 e publicada em 1547, recolhia exemplos de frases do que o autor chamava “Egipt speche”, dando por válida a “crença popular de que os ciganos procediam do Egito”. Durante os dois séculos seguintes aparecem mais menções escritas da língua romani. Na Espanha, o marquês de Sentmenat publicou em 1750 um pequeno vocabulário do romani falado na Península Ibérica. Um dos primeiros ou o primeiro documento em que se propõe identificar a língua romani como uma língua indiana é um trabalho de Szekely de Doba na Gazeta de Viena em 1763. Neste artigo, comentou o predicador Vali, que “na universidade de Leiden estudou o idioma de uns estudantes de Malabar do distrito de Zigânia”, nome que lhe recordou o dos zíngaros e que expôs o vocabulário a ciganos de Almasch (Komora, Eslováquia), “comprovando que estes entendiam as palavras”. Os estudos genéticos e linguísticos comparados parecem confirmar que os “roma” são originários do subcontinente Indiano, possivelmente da região do Punjab. Entretanto, a causa da sua diáspora continua sendo um mistério.
Algumas teorias sugerem que foram originalmente indivíduos pertencentes “a uma casta inferiores recrutados e enviados a lutar ao oeste contra a invasão muçulmana”. Ou talvez os próprios muçulmanos conquistassem os roma, “escravizando-os e trazendo-os para o oeste, onde formaram uma comunidade separada”. Esta última hipótese baseia-se no relato de Mahmud de Ghazni, que informa sobre 50 mil prisioneiros durante a invasão turco-persa do Sindh e do Punjab. Por que os roma escolheram viajar para o oeste em vez de regressar para a sua terra é mistério, se bem que a explicação pode ser o serviço militar obrigatório sob o domínio muçulmano. Na União Soviética e na Iugoslávia, felizmente são publicados jornais em língua cigana. A Sociedade Cigana Lore, na Inglaterra, preocupa-se em recolher todas as informações possíveis sobre esse povo. A biblioteca da Universidade de Liverpool, também na Inglaterra, tem em seu acervo um conjunto precioso de livros sobre os ciganos. Assim, esse povo se torna cada vez menos “estranho” aos demais povos originados no velho continente europeu.
O que é aceito pela maioria dos pesquisadores é que os ciganos poderiam abandonar a Índia em torno do ano 1000, e atravessar o que agora é o Afeganistão, Irã, Armênia e Turquia. Vários povos similares aos ciganos vivem atualmente na Índia, aparentemente originários do estado desértico de Rajastão, e à sua vez, povoações ciganas reconhecidas como tais pelos próprios romavivem, todavia, no Irã, com o nome de lúrios. Partiram em direção à Pérsia onde se dividiram em dois ramos: o primeiro, que tomou rumo oeste, atingiu a Europa através da Grécia; o segundo partiu para o sul, chegando à Síria, Egito e Palestina. No século XII, os ciganos enfrentaram o avanço dos muçulmanos, como é sabido, que tentaram impor sua religião na Índia, e lutaram contra os Sarracenos por muitos séculos, inclusive durante a Idade Média. Apesar de que as provas documentais começam a ser confiáveis só a partir do século XIV, alguns autores contemporâneos rebaixaram a data do ano 1000 e inclusive antes. Certas digressões sugerem que as primeiras referências literárias da existência do povo “rom” são anteriores: um texto que relata como Santa Atanásia de Egina repartiu comida em Trácia a uns “estrangeiros chamados atsinagi” (cf. Vaux de Falêtier, 1983), do grego Ατσίνγανος'durante a escassez do século IX, em plena época bizantina.
Inclusive antes, nos primórdios do mesmo século, no ano 803, Teófanes o Confessor escreve que o imperador Nicéforo I usa mão de obra de certos “atsigani” (cf. Vaux de Folêier, 1983), que com a sua magia, ajudaram-no a conter uma revolta popular. “Atsinganoi” foi um termo usado também para referir-se “a adivinhadores ambulantes e ventríloquos e feiticeiros que visitaram ao imperador Constantino em 1054”. Um texto hagiográfico “Vida de São Jorge anacoreta” refere como os “atsigani” foram chamados por Constantino para ajudá-lo a limpar as fragas de feras. Foram descritos como feiticeiros e malfeitores e acusados de intentar envenenar o galgo favorito do imperador. A extensão desse termo geraria os substantivos: “tzigane”, “Zigeuner”, “zingari” e “zíngaros”. Um relato histórico-lendário do século X intitulado “Crônica Persa”, de Hazma de Ispaham, menciona a certos músicos solicitados ao rei da Índia, aos que chamou “zott”. O “Livro dos Reis” ou “Shahnameh”, datado de 1010, do poeta Ferdusi conta uma história similar: vários milhares de “Zott”, “Rom” ou “Dom” (“homens”) partiriam do atual Sindh (pode ser do rio Indo) com objetivo de entreter o rei da Pérsia com os seus espetáculos. A partir de uma longa estância nessa região, descrita “como um povo que rejeitava viver da agricultura”, espalhar-se-iam em dois grupos migratórios: o primeiro, que tomou rumo oeste, atingiu a Europa através da Grécia; o segundo partiu para o sul, chegando à Síria, Egito e Palestina.
Devido às frequentes guerras entre bizantinos e turcos, os roma iniciaram uma nova migração, a primeira que está documentada. As evidências linguísticas permitem a reconstrução desta nova peregrinação. Partindo de que os ciganos abandonaram o Subcontinente Indiano, e dali passaria pelo Irã, supõe-se que mais tarde tomariam duas rotas. A primeira, desde a Armênia até Bizâncio, o que explicaria a presença de vocabulário greco-bizantino na língua dos ciganos. A outra rota, através da Síria e Oriente Médio e o Mediterrâneo da que ficariam vestígios de vocabulário árabe. Em sua estadia nos Balcãs, a língua cigana absorveu o vocabulário germânico, mas a ausência desse resto linguístico nos ciganos espanhóis faz pensar que a migração dividiu-se em dois, antes desse assentamento centro-europeu. Uma dirigir-se-ia ao oeste, ao interior de Europa, e outra ao sul, até a Síria. A primeira ponta estender-se-ia por todo o continente europeu, enquanto a segunda cruzaria a África do Norte para reaparecer na Europa depois de cruzar o estreito de Gibraltar no século XV, reencontrando-se ambas correntes migratórias em algum ponto do sul da Europa. Dessa maneira, a chegada dos ciganos à península Ibérica é um assunto controverso, mas dinâmico na história social europeia.
O certo é que a migração foi massiva e extraordinariamente rápida, e foi objeto de uma acolhida desigual. No século XV, foram encontrados em diversos locais, e os documentos etnográficos multiplicam as testemunhas da sua presença por toda a Europa, que foi muito estudada. Em 1416, sabe-se da presença de ciganos na Romênia, Boêmia (República Checa) e em Lindau (Alemanha). Em 1471, o rei de Boêmia Sigismundo II concedeu-lhes um salvo-conduto, e entre 1418 e 1419, os ciganos já circulavam pela Suíça. Entraram na França em 1419, e em 12 de agosto um grupo chegou às portas de Sisteron e logo circulou pela Provença. Primeira chegada dos ciganos às muralhas de Berna, no século XV. Eram descritos como de pele escura, usando roupas e armas sarracenas. Em janeiro de 1420, estavam em Bruxelas, e em outubro em Flandres e o norte da França. Em 1421 chegaram a Bruges, cidade belga, capital da província de Flandres Ocidental, na região de Flandres e depois foram a Arras, cidade e capital do departamento de Pas-de-Calais. É sé episcopal. Reconhecida como Nemêtaco no período romano. Em 1427, produziu-se uma das recepções de ciganos melhor documentadas, conservada na obra: “Temoignage d`un bourgeois de Paris”. Em 12 de agosto do Ano 11, chegaram a Paris, onde causaram fascinação pelo seu aspecto miserável e estranho, e o povo acudiu em massa para vê-los adivinhar o futuro. Viviam da magia e dos pequenos roubos, até que o bispo expulsou-os em setembro desse mesmo ano e partiram em direção a Pontoise. Segundo Helena Sánchez Ortega essa crônica resume o quadro de tipificação negativa dos ciganos que se manteve até os nossos dias. O seu périplo europeu não se deteve, e em 1430, circulavam por toda França sob uma acolhida desigual: Arles, Brignoles, Metz, Troyes, Grenoble, Nevers, Romans, Colmar, Orleães e Le Luc. Em 1435, foram vistos em Santiago de Compostela, e em 1462 foram recebidos com honras em Jaén. A Suíça expulsou-os em 1471. Em 1493, estavam em Madri. Nessa última cidade, “no Concelho acordaram de dar esmolas aos do Egito porque o rogo da Vila passaram adiante, dez reais, para evitar os danos que poderiam fazer trezentas pessoas que viriam”. A 2 de maio de 1935 a cidade de Arras foi feita Dama da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal. Em 18 de julho desse ano, um grupo chegou a Bolonha “para solicitar ao Papa um salvo-conduto como peregrinos cristãos”. Na Espanha, há informações etnográficas da sua presença social de comunicação pela primeira vez em 1415, e em 8 de maio de 1425 localizam-se em Saragoça sua estadia. Em 1427, se encontravam indo para Roma.
O século XVI pode ser considerado como quase a “idade de ouro” dos ciganos na Europa, mas também de preconceitospor “suas vidas em trânsito”. Vagavam de cidade em cidade, e se bem é certo que foram expulsos com frequência, haveria que esperar ao século XVI para que se desatasse uma onda de perseguição só comparável ao anti-judaísmo secular dos europeus. No século XV, os estereótipos negativos ainda não estavam enraizados, e entre a hostilidade e a fascinação, a cultura cigana dispersou-se pelo continente, misturando-se com as culturas e línguas locais. Lentamente, foi-se convertendo em um desafio para os poderes estabelecidos, para a população sedentária e para a religião dominante. A partir do final do século XVI sucederam em toda a Europa “autorizações, leis e decretos contra o modo de vida dos ciganos”. A dinâmica dessas disposições será contraditória. São obrigados a sedentarizar-se ao tempo que se lhes impede a entrada em muitas cidades; são obrigados a assimilarem a cultura local ao tempo que se são concentrados em determinados bairros; são obrigados a trabalhar em ofícios reconhecidos ao tempo que são impedidos de entrar nos grêmios etc. A tenacidade dos ciganos, as suas estratégias de ocultamento, de multi-ocupacionalidade, como chama Teresa San RománEspinosa (1984) de “seminomadíssimo” ou “itinerância circunscrita”, de adaptação às circunstâncias instáveis da legislação, a capacidade para cruzar fronteiras ou para aliar-se em determinadas ocasiões com a população autóctone realizando trabalhos imprescindíveis, faz que os ciganos da Europa como etnia resistam à assimilação e conservem suas características mais ou menos intactos até a atualidade.
Alguns estudos dão nuances diferentes da organização social dos ciganos, possivelmente em razão da diversidade dos grupos estudados. Quanto à posição das mulheres dizem que segundo os costumes ciganos, as mulheres devem subserviência aos homens e “as mulheres casadas sempre usam um lenço para cobrir a cabeça”. Várias foram as tentativas de agrupar os ciganos sob o poder de um só governante. Uma delas foi o aparecimento da dinastia Kwick, inaugurada por Gregory Kwick, cigano polonês que, por volta de 1883, se declarou “rei dos ciganos”. Durante seu reinado, realizou-se, em 1909, o único recenseamento cigano de que se tem notícia; o censo informou que havia então na Europa 600 mil ciganos. Gregory abdicou em 1930 em favor de seu filho Michael II, que, após sete anos de governo, foi sucedido por Janusz I. Este proclamou-se “administrador dos ciganos da Hungria, Espanha, Alemanha, Bulgária, Iugoslávia e Polônia”. Planejou ir a Genebra reivindicar um país para seu povo, “mas o projeto foi vetado por uma assembleia cigana”. Seu reinado durou apenas um ano. Sucedeu-o Mathew Kwick, do qual não se tem maiores notícias. Em 1933, foi cogitada, sem êxito, a possibilidade de agrupar todos os ciganos do mundo (aproximadamente 2 milhões) nas ilhas da Polinésia, com subvenção da Liga das Nações. A ideia não se concretizou. Pouco depois, eclodiram a violência da 2ª guerra mundial (1939- 1945) e com a ascensão do espectro autoritário nazista “cerca de 20 mil ciganos foram exterminados nos campos de concentração”.
Os regimes comunistas da Europa Oriental do pós-guerra forçaram os ciganos a se fixarem em cidades industriais e residirem em grandes edifícios de apartamentos, desmembrando os grupos familiares extensos e obrigando-os a trabalhar em fábricas, fazendo-os abandonar o modo de vida tradicional. A tendência dos governos pós-comunistas mais recentes foi permitir aos ciganos que se organizassem politicamente para encontrar os meios de reivindicar seus direitos como minoria étnica. Formaram-se associações e grupos de pressão, como é o caso dos phralip da Hungria que em romani, significa “irmandade”, para lutar por escolas especiais e adoção de livros pedagógicos na língua romani. A grande maioria do povo cigano, ainda enfrenta discriminação social, está sujeita a más condições habitacionais, desemprego e expectativa de vida mais baixa que a de seus membros compatriotas. Atualmente eles estão espalhados em quase todo o mundo. E alguns relatos etnográficos dão conta da inevitável mudança de costumes – “Cigano dos Estados Unidos não viaja mais de carroça: usa trailer motorizado; nem prepara mais sua refeição: comem enlatados”. Enfim, cigano quer dizer intocável, do grego athinganoi, que se transformou em atsigan e tsigane. Espelha a relativa incomunicabilidade que existiu entre esse povo no mundo. Na Espanha, seu nome é gitano, resquício da crença em sua origem egípcia, pois gitano vem de egiptano. O que também acontece com a denominação húngara de Faraonemtség, que tem como representação raça do faraó. A crença foi disseminada pelos próprios ciganos em seu devir, tendo em vista que nada neste mundo é permanente, exceto a mudança e a transformação que, entre ciganos, ao chegarem à Europa, se apresentavam como nobres egípcios. Mas, na verdade, os ciganos têm ascendência hindu.
O
desenvolvimento do estamento é essencialmente uma questão de
estratificação que se baseia na usurpação, que é a origem normal de quase toda
honra estamental. Mas o caminho dessa situação puramente convencional para o
privilégio local, positivo ou negativo, é percorrido facilmente, tão logo
determinada estratificação da ordem social tenha, na verdade, sido vivida e
tenha conseguido a estabilidade em virtude de uma distribuição estável do poder
econômico. Isto quer dizer o seguinte: onde as suas consequências se realizaram
em toda extensão, o estamento evolui para uma casta fechada. As distinções
estamentais são, então, asseguradas não simplesmente pelas convenções e leis,
mas também pelos rituais. Isto ocorre de tal modo que todo contato físico com
um membro de uma casta “superior” é considerado como uma impureza ritualística
e um estigma que deve ser expiado por um ato religioso. O estigmatizado e o
normal, admitira Erving Goffman (2013: 146), “são parte um do outro; se alguém
se pode mostrar vulnerável, outros também o podem. Porque ao imputar
identidades aos indivíduos, desacreditáveis ou não, o conjunto social mais
amplo e seus habitantes, de certa forma, se comprometeram, mostrando-se como
tolos”. As castas individuais criam cultos e deuses bem distintos. A casta, é
realmente, a forma natural pela qual costumam socializar-se as comunidades
étnicas que creem na relação de parentesco de sangue com as comunidades exteriores e relacionamento social.
Todos esses
povos formam comunidades que adquirem tradições ocupacionais específicas de
artesanatos, ou de outras artes, e cultivam uma crença em sua comunidade
étnica. As castas já foram contestadas por vários movimentos hindus
reformistas, muçulmanos, siques, cristãos e budistas. O Sikhismo ou siquismo é
uma religião monoteísta fundada em fins do século XV no Punjab, região dividida
entre o Paquistão e a Índia por Guru Nanak (1469-1539). É por vezes retratado
como o resultado de um sincretismo entre elementos do hinduísmo e do Islamismo
e Sufismo. Quando chegou à Índia, a Companhia Britânica das Índias Orientais
criou leis constitucionais separadas por religião e casta. A Índia britânica
tornou a organização por castas, a base do sistema de administração do país. Os
jatis foram a base da etnologia das castas na Índia britânica. No censo de 1881
e posteriormente, os etnógrafos coloniais usaram os jatis para inserir num
sistema de modo que pudesse classificar as pessoas. O censo de 1891 incluiu
sessenta subgrupos, cada um deles dividido em seis categorias ocupacionais e
raciais, e os números aumentaram nos censos subsequentes. A divisão por castas
na Índia britânica, segundo Bayly (2001), “classificou os jatis indianos com
base em princípios semelhantes aos da zoologia e botânica, ranqueando-os em
ordem de pureza, origem ocupacional e reputação social”. O sistema ideológico
compreendia 3 000 castas, englobando 90 mil subgrupos
endogâmicos regionais.
Apesar da proteção legal, a Índia
continua marcada pelo o que ex-primeiro-ministro Manmohan Singh descreveu como
“apartheid de castas”, um complexo sistema de estratos sociais profundamente
arraigados na cultura indiana. Milhões de dalits, considerados intocáveis no
sistema de castas, sofrem de forma permanente a discriminação, constantemente
reforçada pelo Estado e por entidades privadas. Uma pesquisa realizada em 2014
pelo Conselho Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (NCAER) revelou que um em
cada quatro pessoas entrevistadas, de diferentes grupos religiosos reconheceu
ter sido praticado a intocabilidade. Lamentavelmente, a prática se manifesta de
várias maneiras. Em algumas aldeias os estudantes das castas superiores se
negam a comer alimentos preparados pelos dalits, um grupo que inclui
várias comunidades marginalizadas. Um estudo detalhado, feito por Sarva Shiksha
Abhiyan, um programa estatal para conseguir a educação primária universal,
concluiu que existem três tipos de discriminação social, dos professores, dos
colegas e de todo o sistema educacional. O sistema de castas, considerado uma
característica dominante da religião hindu e praticamente visto como uma
divisão divina do trabalho dá aos dalits as tarefas mais servis: coleta
de lixo, remoção de excrementos humanos, varrer, pavimentar e eliminar corpos
humanos e de animais.
Dados
estatísticos do censo de 2011 revelam que cerca de 800 mil dalits
trabalhavam esvaziando manualmente latrinas, embora se estime que através da
divisão do trabalho social essa tarefa pudesse afetar em torno de 1,3 milhão de
pessoas. A casta, isto é, os direitos e deveres rituais que ela dá e impõe, e a
posiçãobrâmane, é a instituição
fundamental do hinduísmo que só pode ser compreendida em relação à casta, sem
cujo entendimento é impossível compreender o hinduísmo que representa o
terceiro dos três períodos da religião indiana, caracterizado por um extremo
pluralismo de cultos, deuses e seitas; neobramanismo, neo-hinduísmo. Mas a
posição social do hindu em relação á autoridade do brâmane pode variar
extraordinariamente, desde a submissão incondicional até o desafio de sua
autoridade. Quando algumas castas contestam a autoridade do brâmane, isto
significa que o brâmane é rejeitado como sacerdote, que seu juízo nas questões
controversas de ritual não é reconhecido como autorizado, e que seu conselho é
jamais buscado. À primeira vista parece contrariar a regra de que as castas e
os brâmanes pertencem ambos ao hinduísmo. Mas na realidade, se a casta é
essencial ao hindu, o inverso não é válido, isto é, nem toda casta é uma casta
hindu. Há castas entre os maometanos da Índia, copiadas dos hindus existentes também entre budistas. Até mesmo os cristãos indianos
comparativamente não foram capazes de evitar, por motivos práticos, o
reconhecimento das castas. Os jats são historicamente uma casta majoritária na
região rural do estado de Haryana, mas presente em outros sete estados do norte
da Índia, como no Uttar Pradesh, Rajastão e Gujarat. Mais de um século
depois,e com o fenômeno sociológico do chamado “êxodo rural”, os jats passaram a exigir um maior reconhecimento das grandes
cidades no perímetro urbano e da administração do Estado. Com cerca de 6
milhões de membros na Índia, os jats dividem-se em dois grupos religiosos, os
Sikhs e os hindus.
Bibliografia geral consultada.
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Evidências em Saúde sobre o Povo Cigano: Uma Revisão de Literatura entre 2009 a
2018. Dissertação de Mestrado. Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro: Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, 2019; entre outros.