domingo, 4 de novembro de 2018

Ana Caroline Campagnolo - Ideóloga Bolsonarista de Extrema Direita.


                                                                                                  Ubiracy de Souza Braga

Não consigo desejar felicitações a nenhum admirador de Paulo Freire ou Rubem Alves”. Ana Caroline Campagnolo


              Como experiência de si podemos considerar o fascismo um logro, mas não para quem, vivendo um profundo empobrecimento subjetivo per se, não tem melhor saída. A negação do outro é funcional para quem dela se serve. Ela pode ser o único jeito de garantir que se existe. Em termos simples: de conquistar um lugar no mundo. O fascismo é, em qualquer sentido, uma aberração política, mas cujo fundo existencial é a profunda miséria subjetiva. Seu cogito: humilho, logo existo. Ele serve como prova de si para quem vive vazio relativamente ao pensamento, aos afetos e à própria ação. O (a) fascista deve pensar que “é alguém” por meio da transformação do outro em “ninguém”.  A política de extrema direita envolve frequentemente um foco na tradição, real ou imaginada, em oposição às políticas e costumes que são considerados como reflexo do modernismo. Muitas ideologias de extrema-direita têm desprezo ou um desdém pelo igualitarismo, mesmo que nem sempre expressem apoio explícito à hierarquia social, elementos de conservadorismo social e oposição à maioria das formas de liberalismo e socialismo. Alguns grupos apoiam uma forte ou completa estratificação social e a supremacia de certos indivíduos ou grupos considerados naturalmente superiores.
Fora da ideia de nacionalismo, a partir da competição entre nações, foi o filósofo Georg Simmel quem chamou atenção para o fato de que, a luta contra uma potência estrangeira dá ao grupo um vivo sentimento de sua unidade, e, além disso, é um fato que se verifica quase sem exceção. Não há, por assim dizer, grupo - doméstico, religioso, econômico ou político – que possa passar sem esse cimento. Essa atividade intelectual, porque psíquica e de preparação psicológica, quase exclusivamente entre homens, pode representar com o homem diante da guerra um crime contra a humanidade, individual ou coletivamente com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial, militar, ou religioso. A defesa da extrema-direita da supremacia é baseada no que seus adeptos vêem como características inatas de pessoas que não poderiam ser alteradas. A centro-direita, ao contrário, alega que as pessoas podem acabar com sua inferioridade comportamental através da mudança de seus hábitos e escolhas. O termo também é usado para descrever ideologias tais como o nazismo, o neonazismo, o fascismo, o neofascismo e outras ideologias ou organizações que apresentam pontos de vista extremistas, nacionalistas, chauvinistas, xenófobos, racistas ou reacionários, que podem levar a opressão e violência contra grupos de pessoas com base em uma suposta inferioridade ou ameaça à nação, Estado ou instituições sociais tradicionais ultraconservadoras.  A questão do populismo de direita representa uma ideologia fascista que combina elementos sociais do laissez-faire, do nacionalismo, etnocentrismo e antielitismo, ipso facto é muitas vezes descrita como de extrema-direita.

Em 2013 Ana Carolina Campanolo foi selecionada no Programa de Mestrado em História da Universidade do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis, com o projeto “Virgindade e Família: Mudança de Costumes e o Papel da Mulher Percebido através da Análise de Discursos em Inquéritos Policiais da Comarca de Chapecó (1970-1988)”. A orientadora selecionada pela banca examinadora foi a professora TitularMarlene de Fáveri, que ministra a cátedra História e Relações de Gênero. Após não conseguir terminar o mestrado devido ao fato de desenvolver um trabalho que não se adequava a linha de pesquisa da professora que aceitou orientá-la, em julho de 2016, Campagnolo processou Marlene de Fáveri, por perseguição ideológica e discriminação religiosa. A sentença foi favorável à orientadora, tendo o Juízo concluído da improcedência da ação. Fáveri também protocolou uma queixa-crime contra Campagnolo na 3ª Vara Criminal da Comarca da Capital de Santa Catarina. A ação, que versa sobre crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria), corre sob segredo de Justiça. Fáveri pediu para levantar o sigilo. Nas eleições de 7 de outubro de 2018 foi eleita deputada estadual de Santa Catarina para a 19ª legislatura, pelo Partido Social Liberal (PSL) com 0,95% dos votos válidos, equivalente a 34.825 votos. Dia 28 de outubro, domingo, menos de uma hora após confirmada a eleição em segundo turno de Jair Bolsonaro para Presidente da República, Ana Caroline publicou em uma de suas redes sociais pedido para que alunos enviassem vídeos e informações com o nome do docente, da escola e da cidade, garantindo anonimato da denúncia: “na semana do dia 29 de outubro (...) todas as manifestações político-partidárias ou ideológicas que humilhem ou ofendam sua liberdade de crença e consciência”. Justificou a medida em função de “muitos professores doutrinadores estarão inconformados e revoltados com a vitória do presidente Bolsonaro” e “não conseguirão disfarçar sua ira e farão da sala de aula uma audiência cativa para suas queixas político-partidárias”. O Ministério Público de Santa Catarina entrou com ação na justiça contra a deputada estadual AC Campagnolo. 

Em outra mensagem, mais recente, ela justifica o ato como “promessa de campanha”. A ética e política quase sempre tiveram uma intensa relação dialética de conflito, e muitas vezes de contradição na convivência, variando os termos e os temas desse confronto. Entre esses temas, os mais comuns são o ressentimento e a mentira política, como uma espécie de agressão mais aceitável aos princípios morais. De fato a utilidade de uso da mentira nas ações políticas pode ultrapassar casos caracterizadamente decorrentes de “razão de Estado” no sentido populista do termo (cf. Laclau, 2005) e continuar tendo aceitação, muitas vezes até mais consensual, sob o ponto de vista da critica política realizada segundo alguns princípios comuns que cada vez mais se distanciam da ética. O conceito de ética abrange, portanto, o interesse de cada um e de todos. O problema da universalização do debate político está nos meios sociais de comunicação. Pragmáticos funcionam movidos por interesses, dificultando a formação das condições essenciais da ética comunicativa com o livre aceso ao debate e a pretensa igualdade de participação. Um fenômeno sociológico passageiro, o Macarthismo é um termo que se refere à prática política fascista de vigilância e de acusar alguém de subversão ou de traição. O termo tem suas origens no período da história fascista dos Estados Unidos da América (EUA) reconhecido como “segunda ameaça vermelha”, que durou de 1950 a 1957 e foi caracterizado por uma acentuada repressão política aos comunistas, assim como analogamente pela campanha de medo à influência deles nas instituições estadunidenses e à espionagem por agentes da União das Repúblicas Socialistas Soviética. 

Originalmente cunhado para descrever a patrulha anticomunista promovida pelo senador republicano  (1908-1957), do Wisconsin, o termo logo adquiriu um significado mais extenso, tendo utilidadee de uso para descrever o excesso de iniciativas similares. Também é utilizado enquanto um conjunto de práticas e saberes para descrever acusações imprudentes ou de má-fé, pouco fundamentado, assim como ataques demagógicos ao caráter ou ao senso de patriotismo de adversários políticos. Giovanni Gentile (1875-1944) foi um filósofo, político e educador italiano. Foi uma figura de destaque do fascismo italiano e, juntamente com Benedetto Croce, um dos maiores expoentes do neoidealismo filosófico. Realizou uma série de reformas, sociais-pedagógicas e autoritárias, em seu governo como ministro da educação no período da Itália Fascista. Autointitulado “filósofo do fascismo”, ele foi influente em fornecer uma base intelectual para o fascismo italiano, e escreveu sob pseudônimo parte de A Doutrina do Fascismo (1932) com Benito Mussolini. Ele considera que nem os indivíduos nem os grupos em torno de partidos políticos, associações, sindicatos, classes deveriam estar fora do Estado. O fascismo, para ele, era contrário ao socialismo já que o socialismo “ignora a unidade do Estado que pode reunir às classes harmonizando-as em uma única realidade econômica e moral”. Ele estava envolvido no ressurgimento do neoidealismo hegeliano na composição da filosofia italiana e também desenvolveu seu sistema de pensamento, que ele denominou de “idealismo real” ou “atualismo”, e que tem sido descrito como “o extremo subjetivo da tradição idealista”.

Os primeiros escritos de Hegel versaram sobre assuntos teológicos, mas ao concluir o curso, Hegel não seguiu a carreira eclesiástica, preferiu se dedicar ao estudo da literatura e da filosofia grega. Em 1796 mudou-se para Frankfurt, onde Hölderlin lhe conseguiu um lugar de preceptor. Em 1801 habilitou-se Livre-Docente na Universidade Friedrich Schiller de Jena (Friedrich-Schiller-Universität Jena) situada na cidade de Jena (cf. Crissiuma, 2017), na Turíngia no centro do país. É uma das dez universidades mais antigas da Alemanha, estabelecida no ano de 1558 segundo os planos do príncipe João Frederico I da Saxônia. O auge da sua reputação ocorreu exatamente sob os auspícios do duque Carlos Augusto, patrono do escritor Johann Wolfgang von Goethe, autor do clássico Fausto, poema trágico, obra prima da literatura, quando Fichte, Hegel, Schelling, Friedrich von Schlegel e Friedrich Schiller faziam parte do corpo docente. Ainda no seminário de Tübingen, escreveu com dois outros renomados colegas, os filósofos Friedrich Schelling e Friedrich Hölderlin, o que chamaram de “o mais antigo programa de sistema do idealismo alemão”.  Posteriormente desenvolveu um sistema filosófico que denominou Idealismo Absoluto, uma filosofia capaz de compreender discursivamente o Absoluto. 

Entre 1807-08 dirigiu um jornal em Bamberg. Entre 1808 e 1816 foi diretor do ginásio de Nuremberg. Em 1816 tornou-se professor da Universidade de Heidelberg. Em 1818 em Berlim, quando ocupou a cátedra de filosofia, período em que encontra a expressão definitiva de suas concepções estéticas e religiosas. Tinha grande talento pedagógico, mas considerado mau orador, pois usava terminologias pouco usadas que dificultavam sua interpretação. Exerceu enorme influência em seus discípulos que dominaram as universidades da Alemanha. Logo passou a ser o filósofo oficial do rei da Prússia (cf. Wickert, 2013)  Friedrich Hegel descreve sua concepção filosófica, no prefácio a uma de suas mais célebres obras, a Fenomenologia do Espírito (1807).  O prólogo é posterior a redação da obra. Foi escrito, passado já o tempo, quando o próprio Hegel pode tomar consciência de seu avanço e sua descoberta (cf. Silva, 2017). Tinha como objetivo assegurar o ligamento entre a Fenomenologia, a qual só aparece como a primeira parte da ciência, e a Lógica que, situando-se em uma perspectiva distinta da adotada pela Fenomenologia, deve constituir o primeiro momento de uma Enciclopédia. Explica-se que neste prólogo que é algo assim como um gonzo entre a subjetividade da Fenomenologia e a objetividade Lógica, Hegel se sentira fundamento preocupado em dar uma ideia geral de todo o seu sistema filosófico.

Isto é, segundo sua concepção que só deve ser justificada pela apresentação do próprio sistema, tudo decorre de entender e exprimir o verdadeiro não como substância, mas precisamente como sujeito. A substância viva é o ser, que na verdade é sujeito, ou que é na verdade efetivo, mas só na medida em que é o movimento do pôr-se-a-si-mesmo, ou a mediação consigo mesmo do tornar-se outro. Como sujeito, é a negatividade pura e simples, e justamente por isso é o fracionamento do simples ou a duplicação oponente, que é de novo a negação dessa diversidade indiferente e de seu oposto. Só essa igualdade reinstaurando-se, ou só a reflexão em si mesmo no seu ser-Outro, é que são o verdadeiro; e não uma unidade originária enquanto tal, ou uma unidade imediata enquanto tal. O verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que pressupõe seu fim como sua meta, sua antítese, que o tem como princípio, e que só é efetivo mediante sua atualização e seu fim. Friedrich Hegel era crítico das filosofias claras e distintas, uma vez que, para ele, o negativo era constitutivo da ontologia. Neste sentido, a clareza não seria adequada para conceituar o próprio objeto. Introduziu um sistema de pensamento para compreender a história da filosofia e do mundo, chamado geralmente dialética: uma progressão na qual cada movimento sucessivo surge, pois, como solução das contradições inerentes ao movimento anterior.

            Desta forma, a Eileintung à Fenomenologia foi concebida ao mesmo tempo em que a obra é redatada em primeiro termo; parece, pois, que encerra o substancial pensamento do que é efetivo em  toda a obra. Verdadeiramente constitui uma Introdução em sentido literal aos três primeiros momentos de toda a obra, isto é: a consciência, a autoconsciência e a razão -, enquanto a última parte da Fenomenologia, que contêm os particularmente importantes desenvolvimentos sobre o Espírito e a Religião, ultrapassa por seu conteúdo a Fenomenologia tal como é definida stricto sensu na muito citada Introdução. Ao que parece é como se Hegel entrasse no marco de desenvolvimento fenomenológico com algo que na teoria, em princípio não deveria haver ocupado um posto nele. Não obstante, seu estudo, em maior medida que o do prólogo, nos permitirá elucidar o sentido da obra que Hegel quis escrever, assim como a técnica que para ele representa o desenvolvimento fenomenológico. Precisamente porque a Introdução não é como Prólogo anexo posterior que contêm consideráveis informações gerais sobre o objetivo que se propunha o autor e as relações que sua obra tem com outros tratados filosóficos do mesmo tema. Ao contrário, de acordo com Jean Hyppolite, “a introdução é parte integrante da obra, constitui o delineamento mesmo do problema e determina os meios postos em prática para resolvê-lo”.
         Em primeiro lugar, Hegel define na Introdução como se coloca para ele o  problema do conhecimento. Vemos como em certo aspecto retorna ao ponto de vista de Kant e de Fichte. A Fenomenologia não é uma noumenologia nem uma ontologia, mas segue sendo todavia um conhecimento do Absoluto, pois, que outra coisa poderia conhecer se só o Absoluto é verdadeiro, ou só o verdadeiro é Absoluto?. Não obstante, em vez de apresentar o saber do Absoluto “em si para si”, Hegel considera o saber tal como é na consciência e precisamente desde esse saber fenomênico, mediante sua autocrítica, é como ele se eleva ao saber absoluto. Em segundo lugar, Hegel define a Fenomenologia como desenvolvimento e cultura, no sentido de seu progressivo afinamento da consciência natural acerca da ciência, isto é o saber filosófico, o saber do Absoluto; por sua vez indica a necessidade de uma evolução. Em último lugar, Hegel precisa a técnica teórica do desenvolvimento fenomenológico e em que sentido este método é precisamente obra própria da consciência que faz sua aparição na experiência, em que sentido é suscetível de ser repensado em sua necessidade pela filosofia. A lei cujo desenvolvimento necessário engendra todo o universo é a da dialética, segundo a qual toda ideia abstrata, a começar pela de ser, considerada no seu estado de abstração, afirma a sua negação, a antítese, de modo a contradição exige para se resolver a afirmação de uma síntese mais compreensiva que constitui uma nova ideia, rica em desenvolvimento, ao mesmo tempo, do conteúdo das duas outras.
             Na Introdução à Fenomenologia Hegel repete suas críticas a uma filosofia que não fosse mais que teoria do conhecimento. E não obstante, a Fenomenologia, como têm assinalado quase todos os seus expressivos comentaristas, marca em certos aspectos um retorno ao ponto de vista de Kant e de Fichte. Em que novo sentido devemos entendê-lo? Ora, se o saber é um instrumento, modifica o objeto a conhecer e não nos apresenta em sua pureza; se for um meio tampouco, nos transmite a verdade sem alterá-la de acordo com a própria natureza do meio interposto. Se o saber é um instrumento, isto supõe que o sujeito do saber e seu objeto se encontram separados; por conseguinte, o Absoluto seria distinto do conhecimento: nem o Absoluto poderia ser saber de si mesmo, nem o saber, fora da relação dialética,  poderia ser saber do Absoluto. Contra tais pressupostos a existência mesma da ciência filosófica, que conhece efetivamente, é já uma afirmação. Não obstante, esta afirmação não poderia bastar porque deixa a margem a afirmação de outro saber; é precisamente esta dualidade o que reconhecia Schelling quando opunha o saber fenomênico e o saber absoluto, mas não demonstrava os laços entre um e outro. Uma vez colocado o saber absoluto não se vê como é possível no saber fenomênico, e o saber por sua parte fica igualmente separado do saber Absoluto. Hegel retorna ao saber fenomênico, ao saber típico da consciência comum, e demonstra como aquele conduz necessariamente ao saber Absoluto, ou também que ele mesmo é um saber absoluto que todavia não se sabe como tal.
           Não é apenas Fichte, mas o próprio Schelling, adverte Vittorio Hösle, tampouco satisfaz a exigência de uma estrutura de sistema que retorna a si mesma, pois o dualismo fichteano do eu e Não-Eu perdura, em última análise, no primeiro projeto resumido de sistema, no Sistema do idealismo transcendental. Segundo ele,  a filosofia tem, com efeito, duas partes – filosofia natural e filosofia transcendental, a qual, por sua vez, contém, entre outras coisas, filosofia prática e filosofia teórica. Schelling argumenta do seguinte modo: já que o saber seria unidade de subjetividade e objetividade, o ponto de partida da filosofia teria de ser ou o objetivo (a natureza) ou o subjetivo (a inteligência). Naquele caso, surgiria a filosofia da natureza; neste, a filosofia transcendental. No entanto, o objetivo de cada uma dessas duas ciências seria avançar na direção da outra – portanto, de um lado, “partindo da natureza chegar ao inteligente”, e, de outro, partindo do subjetivo, “fazer surgir dele o objetivo”. Esta afirmação apenas poderia fazer sentido se para Hösle, com ela se tivesse em mente que a inteligência tem de objetivar e naturalizar em atos práticos e estéticos, como Schelling tenta demonstrar no Sistema.  A segunda falha resulta da primeira. Schelling conhece, em última instância, apenas duas esferas da filosofia, as quais, na terminologia de Hegel, pertencem ambas à filosofia da realidade. Aquela estrutura que precede à ambas e que Hegel tematiza na Ciência da Lógica não tem lugar neste projeto de sistema de Schelling. É fácil ver que não se pode um renunciar a ela, e por três motivos.  
        Em segundo lugar, somente desse modo se pode compreender porque ambas as partes são momentos de uma unidade. Não basta afirmar sua relação mútua, é preciso explicitar estruturas ontológicas gerais que subjazem de igual modo à natureza e à inteligência. Em segundo lugar, somente desse modo se pode tornar plausível a dependência da natureza em relação a uma esfera ideal. E, em terceiro lugar, uma filosofia natural e uma filosofia transcendental apriorísticas são inconcebíveis sem essa esfera abrangente, pois a partir de que deveriam  ser fundamentadas as primeiras suposições de ambas as filosofias da realidade? Depois de se desfazer do “resto de fichteanismo”, ainda reconhecível sobretudo na execução do Sistema do idealismo transcendental, Schelling introduziu na Apresentação, como base destas duas ciências, o Absoluto, e o definiu como identidade de subjetividade e objetividade. No entanto, não se pode deixar de ver um limite na doutrina schellinguiana do absoluto que representa um retrocesso, ficando, no mínimo, aquém de Fichte e, em certo sentido, até mesmo aquém de Kant: as categorias analíticas que Schelling utiliza para a caracterização do Absoluto são catadas e, de modo algum deduzidas do próprio Absoluto. Unidade, identidade, infinitude são determinações que Schelling toam da tradição e que, em primeiro lugar, ele não legitima – ele apenas mostra que em sua utilização de mera identidade, antes elas que seu contrário conviriam ao absoluto, o qual é entendido como unidade de subjetividade e objetividade, e que em segundo lugar, ele nem sequer põe em um nexo causal ordenado.

Fascismo é a representação social que é usada para definir formas espetaculares de exposição de preconceitos raciais, sexuais, de gênero, de classe e vários outros no nível do cotidiano concreto ou virtual. Guardados na intimidade, preconceitos são sementes de fascismos potenciais. Mas a potência não é o ato e ninguém pode avaliar o sentimento dos outros, senão por meio de sua expressão. A prova que temos do fascismo de qualquer um é, portanto, segundo Marcia Tiburi, sua expressão verbal, gestual ou prática. O fascismo é uma espécie de teoria prática de ação que começa com atos de fala ética e politicamente empobrecidos. A grave incapacidade de se relacionar com aquela figura da diversidade que podemos denominar de “outro”, da qual essas formas de linguagem comprovam, põem em questão a transformação do verbal em “capital”. Aqueles que, operando dentro de um regime de pensamento democrático, ficam perplexos ou revoltados com isso, contrapõem-se aos que se deixam fascinar. Se os primeiros interpretam a negação do outro como perda ética, política e social, os segundos, deslumbrados e fetichizados, no sentido marxista, pela palavra transformada em mercadoria, descobrem o lucro que a negação do outro pode lhes fornecer na prática. Participam do espetáculo verbal da gritaria sentindo-se capitalizados subjetivamente.

  O bolsonarismo como ideologia conformou uma aparente aliança de classes no Brasil, uma espécie de exército zumbi hidrofóbico originário de “walkmin dead” e que congrega, no mercado, setores do rentismo, do grande comércio varejista, do pequeno e médio produtor rural e de profissionais liberais ligados ao velho bacharelismo. No Congresso brasileiro, parcela das bancadas do boi, da bala, da bíblia e dos nanicos que orbitam ao redor do “centrão”. Na sociedade, segmentos das igrejas neopentecostais, alguns atletas de “MMA/UFC”, duplas e cantores sertanejos, apresentadores de programas de auditório, artistas e músicos ultrapassados, conservadores de “stand up comedy”, depois de Chico Anysio e intelectuais de procedência duvidosa. Uma parcela desse contingente heterogêneo, a extrema-direita que representa seu sumo, partilha de uma visão de mundo obscurantista e marcada pelo ódio, a intolerância, o machismo, o racismo, a lgbtfobia, a xenofobia. Por vezes são criacionistas, moralistas, terraplanistas e monarquistas, rechaçam os direitos civis e louvam a violência e a tortura.

        Neoidealismo ou neo-hegelianismo refere-se a uma vertente (ou vertentes) do pensamento inspirada pelos trabalhos do filósofo idealista alemão Friedrich Hegel e na qual se incluem as doutrinas de um grupo de filósofos influentes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos da América entre 1870 e 1920, além dos pensadores italianos Benedetto Croce e Giovanni Gentile. Junto com Benedetto Croce foi um dos maiores expoentes do neoidealismo filosófico e do idealismo italiano, além de importante protagonista da cultura italiana na metade do século XX, cofundador do Instituto da Enciclopédia Italiana e, como ministro em 1923, da reforma da educação pública conhecida como Reforma dos Gentios. A sua filosofia chama-se atualismo. Ele também figura no fascismo italiano, até se considerou o inventor da ideologia do fascismo.  Após sua adesão à República Social Italiana, ele foi morto durante a 2ª guerra mundial por alguns partidários do Grupo de Ação Patriótica
             Portanto, neo-hegelianismo em contraposição ao positivismo imperante, pretendia satisfazer a necessidade de uma ética baseada em valores ideais e religiosos, contrapondo-a à moral utilitarista. Nessa direção histórico-política, desenvolvia-se a filosofia da religião de Thomas Hill Green e Edward Caird, mediante a aplicação do sistema dialético hegeliano aos princípios religiosos. Entre os neo-hegelianismos ingleses destaca-se Francis Herbert Bradley, em sua obra Aparência e realidade (1893), afirmava o aspecto contraditório da experiência sensível e a necessidade de ir além da contingência, atingindo o absoluto hegeliano como síntese de finito e infinito. Efetivamente, o absoluto apresentado por Bradley aparece num registro quase neoplatônico já que o aspecto finito da realidade desaparecia diante da prevalência do infinito. A concepção de Bradley despertou acesas polêmicas em que se reivindicava, com Bernard Bosanquet, a função essencial da contradição na dialética hegeliana e, com John Ellis McTaggart (1866-1925), os aspectos espirituais do pensamento hegeliano. A crise do neoidealismo inglês ocorre com James Black Baillie, que, em Studies in Human Nature, diante 1ª grande guerra, repudia o otimismo idealista do historicismo e retoma a tradição empirista da filosofia inglesa.
            O interesse pela doutrina hegeliana na Itália difundiu-se no século XIX, sobretudo através das obras de Augusto Vera e Bertrando Spaventa, que pode ser considerado como o precursor, na Itália, da interpretação do pensamento hegeliano que associa as ideias de Kant e Fichte a temas idealistas. Destacam-se também os estudos de Francesco De Sanctis sobre a estética hegeliana e, posteriormente, os trabalhos de Benedetto Croce e Giovanni Gentile. Em 1913 Giovanni Gentile, publica La Riforma della Dialettica Hegeliana.  Gentile vê na lógica hegeliana expressa na categoria do devir coincidente, comparativamente com o ato puro do ser no pensamento, ao qual se transmite toda a realidade abstrata da natureza, da história e do espírito. A essa visão subjetivista de Gentile, contrapõe-se, a partir de 1913, Benedetto Croce, primo de Bertrando Spaventa, que, em seu Saggio sullo Hegel, interpreta o pensamento hegeliano como historicismo imanentista. Depois de ter marcado ideologicamente a cultura filosófica italiana por mais de 40 anos, o neo-hegelianismo entra em crise no segundo pós-guerra, sendo substituído pelo existencialismo, pelo neopositivismo, pela fenomenologia e pelo marxismo.



    Não tem compromisso com a democracia. Substituem a noção de bem comum pela de ganhos privados. Sufocam o indivíduo moderno nas amarras da família tradicional e no lugar da igualdade de oportunidades retroagem em defesa da naturalização das desigualdades. São liberais conservadores, muitas vezes cínicos que proclamam como princípio a não-intervenção do Estado e contra a instituição do salário mínimo no Brasil. Em termos simplificados, isso quer dizer que há uma vantagem pessoal e provavelmente impagável de negar o outro e expressar a negação com palavras. Essas palavras são publicitárias. Ditas na forma de slogans fáceis de repetir, na comunicação garantem ao fascista poder. Incansável em repetir frases e clichês, ele (a)  parece colocar moedinhas em um cofre. A moedinha pode ser a frase nas redes sociais. Essa busca por lucro por meio de uma repetição torna-se literalmente um modo de ser. Incapaz de supor a existência da alteridade, o (a) fascista encontra um modo de ser.
Os efeitos ideológicos mais notáveis do macarthismo incluem os discursos, as investigações e os inquéritos do próprio senador McCarthy; a chamada Lista Negra de Hollywood, assim como com as investigações conduzidas pelo Comitê de Atividades Antiamericanas (HUAC); e as diversas atividades anticomunistas do FBI sob a direção de J. Edgar Hoover. O macarthismo foi um amplo fenômeno sociocultural que afetou a sociedade dos Estados Unidos em todos os níveis e gerou uma grande quantidade de debate e conflito interno naquele país. A empreitada perdurou até que a própria opinião pública ficasse indignada com as flagrantes violações dos direitos civis, o que levou ao ostracismo e à precoce decadência. Ele morreu em 1957, já totalmente desacreditado e considerado uma figura infame e uma vergonha para os norte-americanos. Muitos filmes foram produzidos neste período, todos retratando McCarthy e seus seguidores como figuras desprezíveis e a história que criaram como uma crise que foi superada.
Muitas ideologias de extrema-direita têm desprezo ou um desdém pelo igualitarismo, mesmo que nem sempre expressem apoio explícito à hierarquia social, elementos de conservadorismo social e oposição à maioria das formas de liberalismo e socialismo. Alguns grupos apoiam uma forte ou completa estratificação social e a supremacia de certos indivíduos ou grupos considerados naturalmente superiores. A defesa da extrema-direita da supremacia é baseada no que seus adeptos veem como características inatas de pessoas que não poderiam ser alteradas. A centro-direita, ao contrário, alega que as pessoas podem acabar com sua inferioridade comportamental através da mudança de seus hábitos e escolhas. O termo também é usado para descrever ideologias fortes como o nazismo, o neonazismo, o fascismo, o neofascismo e outras ideologias ou organizações que apresentam pontos de vista extremistas, nacionalistas, chauvinistas, xenófobos, racistas ou reacionários, que podem levar a opressão e violência contra grupos de pessoas com base em uma suposta inferioridade ou ameaça à nação, Estado ou instituições sociais tradicionais ultraconservadoras.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (SINTE), Regional São José, entrou nesta segunda-feira (29) com uma denúncia no Ministério Público (MPSC) contra a deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL) por ela incitar alunos a entregar professores “doutrinadores”. Na denúncia ao MPSC, o SINTE afirma que a atitude da deputada eleita “incita a coação dos professores em sala de aula e promove o desrespeito aos educadores, comprometendo a didática pedagógica profissional”. O Sindicato também divulgou uma nota conjunta com outras entidades que representam trabalhadores da educação dizendo que a atitude de Ana Caroline é um “ataque a liberdade de ensinar do professor”. - “Esse tipo de ameaça publicada em rede social é um ataque à liberdade de ensinar do professor (liberdade de cátedra), tipicamente aplicado em regimes de autoritarismo e censura”, diz trecho da nota. O populismo de direita, uma ideologia política que muitas vezes combina laissez-faire, nacionalismo, etnocentrismo e antielitismo, é inúmeras vezes descritas como prática de extrema-direita. O populismo de direita envolve apelos ao homem comum e oposição à imigração. Os defensores da chamada teoria da ferradura interpretam dicotomicamente o espectro de esquerda-direita identificando a extrema-esquerda e a extrema-direita, como tendo mais em comum entre si, como extremistas, do que cada um tem com os centristas moderados.
Contra a liberdade de cátedra e o direito à imagem.
Com uma trajetória reconhecida nacional e internacionalmente nos estudos de gênero e feminismo, a historiadora e professora do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Marlene de Fáveri, se viu no meio de uma polêmica que tomou dimensão nacional/internacional. A tensão social gerada pela ação de indenização por dano moral movida pela ex-aluna e orientanda de mestrado, Ana Caroline Campagnolo – que a acusa de perseguição religiosa – levou a professora a pedir afastamento da universidade para tratamento de saúde na última semana. O fato de a orientadora abrir mão da orientação do projeto de pesquisa da aluna é motivação central no processo de indenização de R$ 17.600 por “discriminação, intimidação, ameaça velada via e-mail, exposição discriminatória, humilhação em sala de aula e tentativa de prejudicar academicamente a autora”. A ação foi proposta em 13 de junho de 2016, duas semanas após a aluna ser reprovada no mestrado sob a orientação de outro professor.  
A autora do processo alega que teve sua “vida pessoal e publicações particulares vasculhadas”, além de sofrer perseguição por “ser cristã e suas convicções pessoais não afinarem com a ideologia feminista”. Usa como provas e-mails trocados com a professora e a gravação em áudio de um debate em sala de aula, no qual é questionada por alunos sobre sua posição declaradamente antifeminista nas redes. - “Marlene confirma sua autoridade em sala de aula quando colegas dizem que eu deveria procurar outra universidade – acreditam que a Universidade tem que ser tão dogmática quanto uma Igreja – e quando afirmam categoricamente que ‘nunca vamos ver um conservador com bons olhos aqui’”, alega Ana Caroline em entrevista. Na ação, ela relata que “em meio a esse estresse emocional e sofrimento psíquico, situação de humilhação e sensação de cerceamento, que a autora ao perceber o que acontecia, resolveu iniciar uma gravação de áudio no seu celular”. Professora Titular da disciplina “História e Relações de Gênero”, Marlene argumenta, porém, que a gravação das aulas por Ana Caroline já era rotina a ponto de causar incômodo entre os alunos.
- “Em determinado momento no decorrer de um dos encontros, alguns de nós percebemos que Ana Caroline estava gravando nossas falas sem a autorização necessária, fato que foi levado ao conhecimento da docente que solicitou que ela não mais gravasse os debates ocorridos naquele espaço”, afirmam ex-alunos em nota de apoio à professora. Ao descobrir que a orientanda publicava nas redes sociais conteúdos que desqualificavam o campo de estudos em gênero e feminismo, a professora a chamou para conversar e, após o diálogo, decidiu interromper a orientação. “Minha decisão irrevogável de abrir mão da orientação da mestranda se justifica devido à incompatibilidade do ponto de vista teórico-metodológico com relação à abordagem do tema quando de seu ingresso, incompatibilidade esta expressa em vídeo difundido por mídias eletrônicas, de acesso público, onde manifesta concepções, do ponto de vista acadêmico, que ferem a disciplina que ora ministro e, por extensão, a linha de pesquisa do programa de Pós-Graduação em História”, justifica a professora no documento que formaliza sua solicitação de substituição ao colegiado. O pedido foi aceito.
Após o resultado as urnas de Jair Bolsonaro (PSL) nas eleições presidenciais, a deputada estadual eleita por Santa Catarina Ana Caroline Campagnolo, uma ideóloga de extrema-direita, estimulou estudantes a denunciarem professores que façam “queixas político-partidárias em virtude da vitória do presidente Bolsonaro”. Campagnolo publicou mensagem político-ideológica nas redes sociais pedindo para estudantes filmarem as “manifestações político-partidárias ou ideológicas” e enviem para ela com o nome do professor, da escola em que trabalha e a cidade. Sindicatos de professores das redes públicas e privada municipal, estadual e federal em Santa Catarina repudiaram o fisiologismo dela em nota conjunta. - Esse tipo de ameaça publicada em rede social é um ataque à liberdade de cátedra do professor, tipicamente aplicada em regimes de autoritarismo e censura. É mais grave ainda por partir justamente de alguém recém-eleita para um cargo público, e que deveria fiscalizar o cumprimento das leis. A sugestão de denúncia dos professores por estudantes caracteriza assédio moral e perseguição, que remonta aos tempos da ditadura civil-militar golpista brasileira de 1º de abril de1964. 
Não queremos perder de vista sociologicamente que o percentual de votos nulos no segundo turno das eleições presidenciais de 2018 chegou a 7,4%, o maior registrado desde 1989, totalizando 8,6 milhões. Foi um aumento de 60% em relação ao 2º turno da última eleição presidencial, em 2014, quando 4,6% dos votos foram anulados. Os votos brancos somaram 2,4 milhões, ou 2,1%, neste 2º turno, pouco acima do 1,7% da última eleição presidencial. Ao todo, 31,3 milhões de eleitores não compareceram às urnas, o equivalente a 21,3% total, proporção similar ao do 2º turno presidencial de 2014. Somando os votos nulos e brancos com as abstenções, houve um contingente de 42,1 milhões de eleitores que não escolheram nenhum candidato, cerca de um terço do total. O candidato eleito Jair Bolsonaro (PSL) recebeu 57,7 milhões de votos enquanto o candidato derrotado Fernando Haddad (PT) teve 47 milhões de votos. Os dois maiores colégios eleitorais do país, SP e MG, puxaram os votos nulos no segundo turno desta eleição. Em Minas Gerais, 10,6% dos votos foram anulados. Em São Paulo, foram 10%. Em seguida, vieram Sergipe, com 9,5%, e Rio de Janeiro, com percentual de 9,1%.
O assédio moral está presente desde as primeiras formas sociais de relação de trabalho e constitui-se em um problema teórico, histórico e ideológico mundial, que ocorre tanto no setor público, como no setor privada. No assédio moral, não se observa mais um relação simétrica como no conflito, mas uma relação dominante-dominado, na qual aquela parte que comanda o jogo de relações sociais procura submeter o outro até fazê-lo perder a identidade. Quando isto se passa no âmbito da relação de subordinação, transforma-se em um abuso de poder hierárquico, e a autoridade legítima sobre um subordinado se torna a dominação da pessoa. No Brasil, não há uma lei específica para assédio moral, mas esta pode ser julgada por condutas previstas no artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).  A prática do assédio moral não possui uma legislação específica no Brasil, mas sua conduta pode ser analisada através da legislação existente, cujos fundamentos encontram-se, seja Constituição Federal, no Código Civil, no Código Penal, e seja na Consolidação das Leis do Trabalho. O conceito de assédio moral organizacional foi desenvolvido, em 2006, pela Procuradora Regional do Trabalho, Adriane Reis de Araújo, como uma “tecnologia de gestão globalizada”. 
Um conceito amplo de assédio moral nos é oferecido por Hirigoyen (1998), segundo o qual pode ser considerado assédio moral qualquer conduta abusiva, seja através de gestos, palavras, comportamentos ou atitudes, de forma repetitiva e sistemática, que atinja de alguma forma a dignidade e a integridade, física ou psíquica, de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou tornando insuportável o clima de trabalho. Uma prática que tem sido recorrente no ambiente de trabalho tanto na iniciativa privada quando no serviço público. E consequentemente várias são as condições em que pode ocorrer o assédio moral. Dentre elas podemos destacar àquelas referentes a uma determinada tarefa no ambiente de trabalho, seja atribuindo propositalmente tarefas superiores as que uma pessoa possa realizar ou que afetem sua saúde ou tarefas humilhantes, seja dando permanentemente novas tarefas ou retirando o trabalho que normalmente é da competência de uma pessoa, ou ainda criticando uma tarefa de forma injusta ou exagerada. E mais importante: não transmitir deliberadamente informações úteis para a realização de tarefas; utilizar insinuações desdenhosas para desqualificar;  enfim, tudo o que possa ser considerado como atentado contra a dignidade da pessoa.
No entanto, diferencia-se do conceito de assédio moral como descrito por Marie-France Hirigoyen por tratar esta definição como uma expressão parcial, e, portanto, desloca a ênfase do tratamento psicológico do problema, concentrando a discussão sobre as condições de trabalho e sobre os mecanismos de gestão de pessoas. O conceito implica em soluções psicológicas e jurídicas que frequentemente se sobrepõem as perspectivas organizacionais e coletivas da questão. A “escuta clínica” dos testemunhos revela uma forma de sofrimento psíquico muito semelhante como ocorre com vítimas do assédio moral: paralisia, inibição da ação, ansiedade, depressão, síndrome de burnout, e perda do sentido do trabalho; podendo desenvolver aspectos paranoides. A grande inovação do conceito de assédio moral organizacional é justamente rejeitar a individualização das situações de assédio, fugindo da dicotomia vítima X algoz, discussão pouco operativa por escamotear as fontes organizacionais da violência política e responsabilizar exclusivamente os indivíduos pelos danos ocorridos.  
A falta de reconhecimento tem sido também atribuída como uma origem do assédio moral. Isso porque o trabalho desempenha um papel fundamental à dignidade do empregado, que somente se encontra em sua plenitude quando este tem o seu valor  reconhecido na sociedade pelo sucesso em seu trabalho. Nesse sentido, a inexistência do reconhecimento ensejaria um sentimento de desmotivação, causando, assim, um estado de depressão em que o trabalhador não tem mais vontade de se dedicar emocionalmente ao trabalho. No entendimento de Hirigoyen (1998; 2005) sobre a ausência social de reconhecimento, este é evidenciado quando o desprezo pelo outro tem como significado o primeiro passo na direção do assédio moral e da violência simbólica. É uma tática inconsciente para manter o domínio e o processo de desqualificação das pessoas. No estudo das formas de organização, estão compreendidas as empresas privadas, órgãos públicos etc., mas sabe-se que há a manifestação de patologias individuais e coletivas atribuídas a esses ambientes. O que se pretende com essa afirmação é demonstrar que a forma de agir dessa organização gera um sistema vicioso e em que a agressão se torna implícita. Melhor dizendo, em uma determinada tomada de decisão, em que são estimuladas as disputas em função da competitividade acirrada entre pares.
Aldoir José Kraemer, professor e coordenador estadual do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do estado de Santa Catarina (SINTE), afirma que entidades irão fazer, ainda nesta semana, uma representação ao Ministério Público. Na prática, ela faz é uma incitação para que os estudantes denunciem os professores, atacando alguns direitos constitucionais como o direito do exercício de cátedra do professor. No estado também temos “uma lei específica em relação ao uso de celular em sala de aula, então ela também está incitando o descumprimento desta lei”, em referência à lei estadual nº 14.363 que proíbe o uso de celulares em salas de aula. - “É uma ação completamente absurda que impõe cerceamento da liberdade de cátedra dos profissionais de educação e acaba impondo uma cruzada contra os professores”, avalia Andressa Pellanda, coordenadora de políticas educacionais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Vale lembrar “quando uma parlamentar do PSL defende fazer uma censura junto aos professores na escola por acusação de doutrinação, na verdade ela mesma está fazendo com que a escola não seja um espaço de livre-pensamento, de debate democrático. Então, o que ela acusa de acontecer na escola, ela mesma está fomentando”. 
A recém-eleita deputada estadual pelo PSL de Santa Catarina Ana Caroline Campagnolo, de 28 anos, ficou famosa em todo o País ao incentivar a denúncia de “professores doutrinadores”. Definindo-se como “antifeminista, conservadora, cristã e de direita”, teve uma carreira política meteórica: segundo a imprensa catarinense, é cotada para ser a futura secretária de Educação em Santa Catarina. A vida acadêmica inclui acionar a Justiça contra sua orientadora no mestrado. Filha de um Policial Militar da reserva, evangélica, professora de história do município de Chapecó, oeste de Santa Catarina, Campagnolo é graduada pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó, é uma instituição de ensino superior comunitária brasileira, sendo uma das maiores e mais importantes do estado de Santa Catarina. Está localizada na cidade da tragédia de Chapecó, Oeste do estado. Disputou pela primeira vez um cargo eletivo e jamais ocupou qualquer função pública. - “Eu tenho a sensação que ela construiu um personagem com o intuito de buscar um espaço na carreira política” afirmou uma colega de faculdade que falou ao jornalismo aparentemente crítico da Carta Capital sob condição do anonimato. - “Na sala de aula, nos debates ela era comedida, mas polêmica e muita agressiva nas redes sociais. Chegou a ter a página no Facebook suspensa em função de suas posições”.
Ana Caroline Campagnolo, eleita deputada estadual em Santa Catarina pelo partido fascista do ex-capitão Jair Messias Bolsonaro, abriu um canal de denúncias na “internet” contra professores acusados de “doutrinadores”. Cotada para ser secretária de Educação do estado, segue os passos da alemã AfD - Alternative für Deutschland, partido político alemão populista de extrema-direita, fundado em fevereiro de 2013, por Bernd Lucke, professor de Economia da Universidade de Hamburgo, o ex-jornalista do Frankfurter Algemeine Zeitung, Konrad Adam e um ex-político da CDU, Alexander Gauland. O congresso de fundação do novo partido na cena política alemã com 1 500 membros foi lançado oficialmente em 14 de abril 2013, em Berlim. Em 4 de julho 2015, Frauke Petry foi eleita com 60% dos votos como única chefe do partido num congresso da AfD em Essen. Os líderes da legenda política são respectivamente Jörg Meuthen e Alexander Gauland. Portanto, trata-se de transplante do ideário político-partidário de extrema-direita alemã, associado ao “bolsonarismo” quando a deputada  criou um canal para que “alunos denunciem a doutrinação nas escolas”. A AfD estimula os estudantes a filmar professores que critiquem o partido. – “Garantimos o anonimato dos denunciantes”, afirmou a deputada fascista em uma rede social. Formada em Historia, Campagnolo processou a professora Marlene de Fáveri, da Universidade do Estado de Santa Catarina e sua ex-orientadora no mestrado, em 2016, por suposta “perseguição ideológica”.
A liderança do partido é composta por um grupo de reconhecidos eurocéticos. O mais destacado defensor da agremiação é Hans-Olaf Henkel, ex-executivo-chefe da IBM Europa e ex-presidente da mais importante Associação Federal da Indústria Alemã. Entre outros nomes que apoiam o partido estão Wilhelm Hankel, Karl Albrecht Schachschneider e Joachim Starbatty, economistas que compartilham a coautoria de livros defendendo a extinção do euro. Os três formalizaram uma queixa junto ao Tribunal Constitucional da Alemanha em 2010, dizendo que o apoio da Alemanha ao socorro da Grécia, um membro do grupo de países que adoptou o euro, desrespeitou a Constituição e a cláusula de não socorro inscrita no tratado da união monetária. O tribunal pronunciou-se contra eles em 2011. Eles querem uma alteração dos tratados da  União Europeia (UE), a fim de permitir que países deixem a “zona do euro”. Empréstimos adicionais alemãs para o fundo de estabilidade da zona do euro devem ser bloqueados para forçar outros países europeus a aceitar essa alteração dos tratados, defende o partido. O novo partido tem 21 203 membros (2014) e a prioridade da nova força política é criar novas pequenas federações a nível estadual em todo o país, para eleger os seus líderes e candidatos para as eleições de Setembro 2013.
O partido assenta em duas linhas: a de que os empréstimos aprovados pelo Parlamento alemão aos países em dificuldades são ilegais - visão também de um grupo de economistas que tem desafiado as medidas no Tribunal Constitucional Federal da Alemanha e que apoia o novo partido; e a de que o euro, em vez de unir a Europa, está a dividi-la. A partir de finais de 2014, a AfD  - Alternative für Deutschland dividiu-se em facções: uma, centrada em Bernd Lucke, tendo como escopo as questões econômicas e a crítica ao Euro e, outra, liderada por Frauke Petry, com um discurso próximo da direita populista e nacionalista, atacando a Imigração e alinhada com o Patriotische Europäer gegen die Islamisierung des Abendlandes. Em julho de 2015, no congresso da AfD realizado em Essen, cidade da Alemanha localizada na Renânia do Norte-Vestefália, com uma população de 582.659 habitantes, Frauke Petry foi eleita líder do partido, conquistando 68% dos votos. Esta aparente vitória de Frauke Petry confirmou a viragem do partido para a direita, tornando-se, em muito, alinhado com os partidos de direita populista que têm ganhado popularidade na Europa nos últimos anos.
Bibliografia geral consultada.
KONDER, Leandro, Introdução ao Fascismo. Rio de Janeiro: Graal Editor, 1977; GIRARDET, Raul, Mitos e Mitologias Políticas. São Paulo: Editora Cia das Letras, 1987; HUNTINGTON, Samuel Phillips, O Soldado e o Estado: Teoria e Política das Relações entre Civis e Militares. Rio de Janeiro: Editor Biblioteca do Exército, 1996; LEIRNER, Piero de Camargo, Meia Volta Volver: Um Estudo Antropológico da Hierarquia Militar. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997; BOBBIO, Norberto, Ni con Marx ni contra Marx. 1ª edición. Espanha: Fondo de Cultura, 1999; BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Ideologia Fascista”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 4 de dezembro de 2004; LACLAU, Ernesto, La Razón Populista. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2005; SPACKMAN, Barbara, Fascist Virilities: Rhetoric, Ideology, and Social Fantasy in Italy. Editor University of Minnesota Press, 2008; PEREIRA, Thiago Fernandes dos Santos, Ação da Cidadania: Betinho e sua Concepção de Democracia. Dissertação de Mestrado. Departamento de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2015; SOBREIRO, Rafael Soccol, Uma Nova Velha Polícia: Análise das Polícias Estaduais Brasileiras a partir das Estruturas Institucionais Historicamente Constituídas e das Transações Politicas Decorridas. Dissertação de Mestrado em Ciências Criminais. Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais. Faculdade de Direito. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2016;  MONTEJANO, Paulina, “Debates sobre la Enseñanza en las Academias Militares y su Articulación en el Campo Científico Brasileño”. In: Revista da Unidade da Força Aérea. Rio de Janeiro, vol. 30, nº 2, pp. 58 - 64, jul./dez. 2017; FINCHESTEIN, Federico, From Fascism to Populism in History. Oakland: University of Califórnia Press, 2017; Idem, The Ideological Origins of the Dirty War: Fascism, Populism and Dictatorship in Twentieth-Centuray Argentina. United States: Oxford University Press, 2017; PEREIRA, Isabella Bruna Lemes, As Identidades de Gênero e Sexualidade na Visão dos Parlamentares da Câmara Federal: Uma Análise do Discurso a Partir dos Projetos Escola sem Partido. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2017; PAINS, Clarissa, Deputada Eleita por Partido de Bolsonaro cria Polêmica ao Pedir que Estudantes Denunciem Professores: Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/28/10/2018entre outros.

sábado, 3 de novembro de 2018

Usos da Barba - Religião, Política & Cultura Urbana Contumaz.

                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga

                      Mais vale compreender pouco do que compreender mal”. Anatole France

                                    
Uma característica da compreensão moderna do mundo é a secularização. É um processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da vida social. Essa perda de influência repercute-se na diminuição do número de membros das religiões e de suas práticas sociais. Na perda do prestígio das igrejas e organizações religiosas. Na influência na sociedade, na cultura, na diminuição das riquezas das instituições religiosas, e, last but not least, na desvalorização das crenças e dos valores a elas associados. A partir do século XIX, houve um progressivo declínio da influência das instituições religiosas tradicionais. Este declínio verificou-se tanto na liturgia dos fiéis, como na dificuldade crescente em recrutar clero para o desenvolvimento e manutenção da instituição. A maior parte dos estudos acadêmicos versou a tentativa de compreensão deste âmbito. A investigação já não se centra tanto nas causas e nas razões da secularização, mas nas relações da modernidade com o religioso. Mas não é a consciência necessariamente do próprio sujeito que determina a vida, mas neste caso, a mediação complexa, que incorporando o sentido social e político passam a atribuir significado ao espaço/tempo no qual está inserido.
A presença da barba no homem deixou sua marca na arte, literatura, história, filosofia e guerra. Em todas estas áreas temos claras evidências e membros memoráveis da influência da barba em suas obras, ações e resultados. Gregori Rasputin foi um místico russo, e autoproclamado homem santo que se aproximou da família do czar Nicolau II e se tornou uma figura politicamente influente no final do período czarista. Nascido de uma família plebeia na vila de Pokrovskoye na Sibéria, Rasputin passou por uma experiência de conversão religiosa após uma peregrinação até um monastério em 1897. Após viajar a São Petersburgo por volta de 1903 a 1905, cativou alguns líderes da Igreja Ortodoxa Russa e da sociedade. Ele tornou-se uma figura da sociedade e se encontrou com o Czar em novembro de 1905. No final de 1906, começou a atuar como curandeiro do Czar e do filho de sua esposa Alexei, que sofria de hemofilia e era o único herdeiro ao trono. Na corte, ele era uma figura divisiva, visto como um místico, visionário, profeta, e outros interpretados como um charlatão. Na ausência de Nicolau II, a czarina assumiu o trono e colocou-se na posição de refém de Rasputin, que passou a nomear até ministros de Estado. Com a presença dos oportunistas de ocasião indicados pelo conselheiro, o Império Russo caiu no caos e a corrupção se alastrou. Enquanto isso, na frente de batalha, Nicolau II despejava seus soldados para a morte certa, configurando uma crise política.



O ponto alto de seu poder se deu em 1915, ocasião em que o Czar deixou a capital para vistoriar e monitorizar as tropas lutando na 1ª grande guerra, provocando um aumento no poder da Imperatriz Alexandra e de Rasputin. Porém, conforme a derrota da Rússia na guerra se aproximava, a popularidade dos dois diminuía, até que no dia 30 de dezembro de 1916 foi assassinado por um grupo de nobres que se opunham à sua influência sobre Alexandra e o Czar. A maioria dos inimigos de Rasputin tinha desaparecido: Stolypin foi morto, Kokovtsov tinha caído do poder, Theofan foi exilado, Hermogen banido e Iliodor ficaram na clandestinidade. A vida social ganha uma dimensão de responsabilidade para com a condução do destino da espécie humana, bem como com relação ao domínio da natureza em suas várias formas de manifestação. O ser humano cria instituições a partir das quais vai gerenciar a vida em sociedade e tais instituições passam a ter a legitimidade de sua atuação amparada em argumentos e motivos típicos racionalmente válidos. Isto significa que o homem que tenha tido um ou mais filhos acede à paternidade. É importante destacar que a paternidade transcende o biológico. A filiação pode acontecer através da adoção, convertendo a pessoa em pai do seu filho mesmo que este não seja seu descendente de sangue. A paternidade, por outro lado, pode ser espiritual ou simbólica. No âmbito da religião, é considerado líder “o guia de uma congregação que é tido como o pai dos fiéis”. Neste sentido, o papa da Igreja católica apostólica romana tende a designar-se ardorosamente como Santo Pai.
No decorrer da história de diferentes culturas do mundo, aos homens com barba têm sido atribuídas essencialmente sabedoria, potência sexual e status social. Em algumas religiões, a barba utilizada como símbolo é considerado importante. A cada ano, 5 bilhões de pessoas voam em companhias aéreas comerciais. A cada 2 segundos, uma aeronave decola e outra pousa em algum lugar do mundo. Todos os dias, cerca de 3 milhões de pessoas voam nos labirintos do mundo. Mas apenas 5% da população mundial já estiveram em um avião! Por que pilotos de avião não podem usar barba? Ela representa o conjunto de pelos que cresce no queixo, nas faces e no pescoço do homem e mais raramente nestes lugares em mulheres. O estudo da barba é chamado de pogonologia. Em algumas religiões, quem tem barba é considerado muito importante.  Mas o filho Nelsinho estava do outro lado: na luta armada contra o regime militar. Foi torturado e esteve preso durante quase oito anos. Mas pai e filho nunca se afastaram, basta ouvir Nelsinho falar sobre Nelson. É o que ele mais tem feito: falar do pai. - Esta conversa deve ser a centésima dos últimos dias, e nem por isso ele se empenha menos. O filho de Nelson Rodrigues é um cavalheiro. Impossível confundi-lo. Em todo o Rio de Janeiro não haverá barbas tão vastas. Barbas e cabelos de Matusalém. Pontualíssimo, à mesa do Sindicato do Chopp, uma esplanada no Leme, junto à casa onde o pai viveu. Nelsinho cumprimenta, galanteia, envolve o empregado numa conversa de futebol (“Rapaz! Não vi o Fluminense!”), conta que foi colega de cela de Alípio de Freitas, padre transmontano que se fez revolucionário no Brasil, pergunta de chofre à repórter: “Você conhece o velho?” Chama sempre velho ao pai. Insiste: “Conhece a obra dele?” A repórter diz que até o ler foi adiando, talvez por ter com ele uma questão política. Nelsinho responde: - “Você e a torcida do Flamengo”. Ou seja, acreditamos que seja muita gente. Na história política e social da Bíblia existe uma riqueza de detalhes e indícios sobre o tema. Em Levítico 19: 26-28, Deus diz ao Seu povo: - “Não comereis coisa alguma com o sangue; não agourareis nem adivinhareis.

                           
Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos da vossa cabeça, nem danificareis as extremidades da tua barba”. Em Levítico 21:1-6 a instrução é específica para os sacerdotes: - “Depois disse o Senhor a Moisés: Fala aos sacerdotes, filhos de Arão, e dize-lhes: O sacerdote não se contaminará por causa de um morto entre o seu povo, Salvo por seu parente consanguíneo mais chegado, isto é, por sua mãe, e por seu pai, e por seu filho, e por sua filha, e por seu irmão. E por sua irmã virgem, chegada a ele, que ainda não teve marido; por ela também se contaminará. Ele sendo principal entre o seu povo, não se contaminará, pois que se profanaria. Não farão calva na sua cabeça, e não rasparão as extremidades da sua barba, nem darão golpes na sua carne. Santos serão a seu Deus, e não profanarão o nome do seu Deus, porque oferecem as ofertas queimadas do Senhor, e o pão do seu Deus; portanto serão santos”.
 Alguém pode objetar e dizer: - “Não sei se é certo ou errado para um homem ter barba”. Bem, vamos parar aqui por um momento e considerar que não é realmente para nós decidirmos. Deus já determinou que é certo para os homens terem barba, porque é assim que Ele nos criou. O que precisamos decidir, não se é certo ou errado para um homem ter barba, mas se é certo ou errado para ele rapar sua barba. A verdade é que você na realidade não pode remover totalmente sua barba, pois ela sempre volta a crescer. A questão real não é se é certo ou errado usar barba, mas se é certo ou errado raspar a barba e manter o rosto liso. E se, além disso, alguém declarar que considera a barba ofensiva? Primeiro, eu responderia que esse indivíduo precisa levar o assunto a Deus em oração, pois Ele é quem criou o homem assim e prescreveu instruções a respeito da manutenção da barba. Em segundo lugar, eu apontaria que ofender, biblicamente falando, significa “incentivar alguém a fazer aquilo que você faz sem ter o seu nível de entendimento”. A palavra grega skandalon, que é de onde derivamos nossa palavra “escândalo” é usada repetidamente assim em 1 Coríntios 8 e em Romanos 14. A barba na arte egípcia indica a nacionalidade estrangeira de um indivíduo. Os inimigos do antigo Egito são sempre retratados com barba. Dado o desdém dos antigos egípcios pelos estrangeiros, isso pode explicar parte da popularidade da prática de se barbear.          
O costume de preservar ou retirar os pelos da face, mais do que indicar um hábito corriqueiro, abre caminhos para a compreensão de traços sociais de diferentes culturas espalhadas ao redor do ecúmeno. Por volta de 30 mil anos nossos ancestrais descobriram ser possível remover a barba com o uso de lascas de pedra afiada. De fato, desde o Paleolítico vários indícios comprovam que o homem pré-histórico vivia cercado de determinados hábitos de higiene e vaidade. No Egito Antigo, os pelos do corpo eram costumeiramente usados para diferenciar os membros da sociedade egípcia. Os membros mais abastados da nobreza, por exemplo, cultivavam a barba como um sinal de seu status. No entanto, a falta da mesma não indicava necessariamente algum tipo de demérito. A classe sacerdotal optava por uma total depilação de seus pelos. De acordo com estudiosos, o hábito sacerdotal indicava o distanciamento do mundo e dos animais.

 Entre os gregos o uso da barba era bastante comum. Prova disso é que muitas das imagens que representavam os filósofos gregos eram sempre acompanhadas de uma farta rama de pelos. Entretanto, durante a dominação macedônica essa tradição grega foi severamente proibida pelo rei Alexandre, O Grande. Segundo o famoso líder político e militar, a manutenção da barba poderia trazer desvantagens aos seus soldados durante um confronto direto. Na civilização romana a barba integrava um importante ritual de passagem. Todos os rapazes, antes de alcançarem a puberdade, não poderiam cortar nenhum fio de cabelo ou barba. Quando atingiam o momento de passagem entre a infância e a juventude, raspavam todos os pelos do corpo e os ofereciam aos deuses. Os senadores costumavam preservar a barba como símbolo de status político. Nessa mesma sociedade surgiram os primeiros cremes de barbear, produzidos através do óleo de oliva. Durante a Idade Média, a barba sinalizou a separação ocorrida na Igreja Cristã com a realização do Cisma do Oriente. Muitos dos clérigos católicos eram aconselhados a fazerem a barba para que “não parecessem com os integrantes da igreja ortodoxa ou até mesmo com os costumeiramente barbudos judeus ou muçulmanos”. Além disso, o uso dos bigodes gerava bastante polêmica entre os cristãos medievais, pois estes eram ostentados pelas levas de germânicos que invadiam o decadente Império Romano.
Curiosamente se você observar na mitologia grega e romana, sempre que vir uma gravura de um falso deus, usualmente ela tem a face lisa. Quase todos os deuses falsos são representados com faces lisas. O Concílio de Cartago, que foi um concílio na igreja primitiva, em aproximadamente 200 DC, se reuniu para discutir e tentar solucionar muitos problemas na igreja. Um dos problemas que eles discutiram foi o uso de trajes imodestos na igreja. Eles já tinham naquele tempo problemas com os trajes imodestos, do mesmo modo como temos hoje. Agora, eles não estavam discutindo minissaias, shorts, decotes, camisetas e blusas regatas, que são sensuais e considerados para muitos conservadores como vulgares. Numa citação do Concílio de Cartago sobre o traje imodesto afirma-se o seguinte: - “Qualquer homem que vier à igreja com cabelos longos e a face barbeada e lisa, será excluído da comunhão, pois esse homem está vestido de forma imodesta”. Se um homem comparecesse à reunião da igreja com cabelos compridos e a face barbeada e lisa, ele era considerado vestido de forma imodesta. Tertuliano, um dos pais da igreja primitiva escreveu um tratado sobre a barba; e que o propósito da barba era “reduzir a lascívia”.
         O Quarto Concílio de Cartago, em 398, decretou: - “O clérigo não deixará seu cabelo crescer, nem removerá sua barba”. Explicações da psicologia para a existência de barbas incluem sinalização de maturidade sexual e de dominância aumentando o tamanho percebido das mandíbulas, e rostos limpos raspados são classificados como menos dominante do que aqueles que possuem barba. Alguns estudiosos afirmam que ainda não está estabelecido se a seleção sexual levando a barba está enraizada na seleção intersexual ou dominância da seleção intra-sexual. A barba pode ser explicada na Antropologia como um indicador da condição geral de masculinidade. A taxa de pilosidade facial parece influenciar atratividade do sexo masculino. A presença de uma barba torna o homem vulnerável em brigas. Ipso facto, os biólogos têm especulado que deve haver outros benefícios que superam o inconveniente. A barba tem textura mais crespa que o cabelo. Seu crescimento surge durante a puberdade devido à ação da testosterona. A função da barba é proteger o rosto, o ar da respiração e de dimorfismo sexual entre humanos. Na foto, a seguir diz respeito à defesa pública de Dissertação de Mestrado em Ciências, Trabalho e Conhecimento. Rio de Janeiro: COPPE-UFRJ, 1990.

        Ao contrário do que se crê popularmente, o pelo da barba não nasce mais grosso depois de cortado. Depois que o homem raspa o pelo, ele volta a crescer com a mesma espessura de antes, já que uso do barbeador não arranca o bulbo do pelo, que determina seu diâmetro. Ficamos com essa impressão porque o pelo da barba é cortado rente à pele, justamente no local em que ele é mais grosso - do bulbo à ponta o pelo só afina. Isso vale para todos os pelos do corpo (incluindo os cabelos), em ambos os sexos. Quando o aparelho arranca o pelo, ele leva parte do bulbo. As células responsáveis pela multiplicação do pelo seguem vivas e logo sua espessura se estabilizará. Na verdade, a velocidade de crescimento independe do número de vezes que foi cortado. Ele demora mais para crescer, porque precisa recompor sua raiz, que fica de 1 a 2 milímetros abaixo da pele. Um estudo da Universidade de Nova Gales do Sul resultou que apenas 27% das mulheres preferem rostos lisos, sem barba. O estudo foi realizado com milhares de mulheres e nele foram mostrados fotos de homens no estágio de crescimento da barba, desde o rosto liso até a barba cheia, passando pela barba por fazer e as demais fases.
A barba é um distintivo de honra, de dignidade e de masculinidade. Qualquer um que desejasse expressar o valor de um objeto dizia: - “Isto tem mais valor do que uma barba”. Uma mulher dizia simplesmente: - “Isto custa mais caro do que a barba do meu marido”.  Os homens frequentemente faziam juramentos ou promessas por suas barbas. Nas peças que Shakespeare escreveu frequentemente os homens juram por suas barbas. Sempre que você vir um homem com barba, deve considerar os seguintes fatos: 1. Puxá-la é infligir indignidade; 2. Raspá-la ou mutilá-la à força é um símbolo de desgraça (Samuel 10:4-5); 3. Raspá-la voluntariamente é um sinal de pranto (Jeremias 48: 37-38); 4. Beijá-la é um sinal de grande respeito e honra, amizade e amor fraternal. Impossível compreender diversos versos no Novo Testamento sem antes compreender que a saudação normal entre os primeiros cristãos era o ato de beijar a barba. Enfim,  como o beijo, o costume de beijar é mais antigo do que se possa imaginar, embora nem sempre sirva para demonstrar o mesmo grau de afeto ou consideração. Os beijos mais antigos que se conhecem são os que se constituem em saudações correntes às estátuas dos ídolos e às pessoas a quem se pretendia prestar homenagens. Beijar na boca era coisa rara. A maior parte das vezes beijava-se a barba, os cabelos, a face, os olhos.
A última fase, da barba completa, foi escolhida pela maioria das garotas como sendo a mais atraente. Barbas, pelo ponto de vista feminino, mostram maturidade e masculinidade. Um fato assumido é algo que é considerado evidente como a doutrina de Deus. A propósito, em parte alguma a Bíblia tenta provar a existência de Deus, pois, este é um fato assumido e uma realidade. Assim, Gênesis 1:1 inicia com a seguinte declaração: - “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Da mesma forma, não existe um mandamento específico para que os homens deixem sua barba crescer; entretanto, esta é uma realidade assumida, pois Deus criou o homem assim, com uma barba que cresce em sua face. Consequentemente, existem na Bíblia regulamentações divinas específicas para a barba. A palavra hebraica para barba é zakan e a palavra para ancião é zaken, que se refere a “barbudo”. Assim, o ancião hebraico recebia seu nome com base em sua barba. Do ponto de vista da representação os hebreus viam a barba como a “glória e orgulho do homem”. Eles diziam que “a glória da face é a barba”.
Falando biblicamente, a barba indica que o homem está em submissão a Deus. Primeiro, a barba representa vida para Deus. Somente os homens vivos é que podiam manter uma barba. Em segundo lugar, a barba significa submissão a Deus. Um homem sem barba ou com a face barbeada e lisa indicava que era um escravo e que estava em submissão a outro homem. Dito de outra forma, estar privado de uma barba era, e ainda é em principalmente em alguns lugares no Oriente, um distintivo de servidão - uma marca de infâmia, que degradava o indivíduo entre outros homens, para o nível dos escravos e das mulheres. José usava sua barba enquanto estava na prisão. Ele tinha sido vendido como escravo e depois foi lançado na prisão. Entretanto, quando o faraó o chamou para ir ao palácio, José se barbeou segundo o costume dos egípcios e em reconhecimento à sua condição social de escravo e em submissão religiosa e política ao faraó. Seria arriscado para ele comparecer diante do faraó com barba, estando ele na condição de um escravo; aquilo poderia ser moralmente considerado um insulto.
– “Então mandou Faraó chamar a José, e o fizeram sair logo do cárcere; e barbeou-se e mudou as suas roupas e apresentou-se a Faraó”. (Gênesis 41: 14: 41: 40). Ter o rosto barbeado, liso, representava a marca de submissão de ser escravo e servo de outro homem. José, como um escravo e em submissão ao faraó, raspou sua barba. Depois que José interpretou os sonhos do faraó, este lhe disse: - “Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu”. (Gênesis 41: 40). As bênçãos de Deus são como o óleo da unção, o unguento precioso que escorria pela barba dos sacerdotes. Assim, uma barba bem crescida e bem cuidada indica as bênçãos de Deus sobre a vida de um homem e sua dedicação ao serviço de Deus. A barba somente era arrancada, raspada ou deixada sem cuidados durante um tempo de grande tristeza, luto ou calamidade. Portanto, raspar a barba ou deixá-la sem cuidados significava a perda das bênçãos de Deus. É interessante que quando o povo de Deus peca e se recusa a se arrepender, Deus usa a imagem da barba raspada para transmitir a mensagem do vindouro julgamento sobre Seu povo. O profeta Isaías predisse que os assírios conquistariam o reino do norte de Israel, rapando a barba de Israel com uma navalha e trazendo julgamento sobre o povo. O profeta Ezequiel usou um quadro similar para ilustrar a destruição de Jerusalém pelos babilônios. O quadro do julgamento de Deus sobre Israel como uma navalha que é passada sobre a barba de toda a nação, formando um “quadro de pensamento”, é um retrato intencional de uma desgraça e de um julgamento extremamente severo.
Com o desenvolvimento comercial e tecnológico com o grande número de invenções que marcaram o mundo moderno, a barba começou a indicar um traço da vaidade masculina. Talvez em consequência desse fenômeno, o francês Jean-Jacques Perret, em 1770, criou um modelo de navalha aparentemente mais seguro para barbear. Noutro século a famosa navalha em “T” foi inventada pelos irmãos norte-americanos Kampfe. O grande salto na “tecnologia peluginosa” foi dado por um vendedor chamado King Camp Gillette. Utilizando aguçada inventividade, o então caixeiro viajante percebeu a possibilidade de adotar lâminas descartáveis para os barbeadores. Com o auxílio de Willian Nickerson, engenheiro do Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT, criou uma nova marca de lâminas e barbeadores que ainda é largamente utilizada por homens e mulheres de várias partes do planeta. Durante o século XX, o rosto lisinho virou sinônimo de civilidade e higiene. Muitas empresas e instituições governamentais não admitiam a presença de barbudos em seus quadros. No entanto, entre as décadas de 1970-80, cavanhaques e bigodes começaram a virar uma febre entre os homossexuais norte-americanos. Esse novo dado se instituiu na cultura gay do final do século XX e teve como um dos seus maiores representantes o cantor Freddie Mercury.
A barba é a marca precisa de distinção de um homem. Um homem com barba nunca pode ser confundido com uma mulher. A barba sempre será considerada “como um ornamento sagrado dado por Deus ao homem para distingui-lo da mulher”. Uma coisa é certa: um homem com barba e cabelos curtos nunca será confundido com uma mulher; por outro lado, um homem sem barba e de cabelos curtos pode, algumas vezes, em determinadas culturas, ser confundido com uma mulher, se seus traços faciais forem suaves.  Cada vez que nos olhamos no espelho, devemos nos lembrar da razão por que temos barba. Na religião a barba é importante historicamente e há uma razão para Deus ter dado a barba ao homem, de modo que precisamos compreender e aplicar isto em nossas vidas. Entre as culturas orientais a barba é frequentemente um símbolo de dignidade e sabedoria. A tradição passou para as religiões. Os Sikhs, por exemplo, recusam cortar o cabelo e consideram que a barba é um símbolo da sua masculinidade e dignidade. Este conceito se difundiu também para o jainismo, outra religião do subcontinente indiano, mas já entre o hinduísmo não há uma corrente única.




Primeira Dama Marisa Letícia & recuperação do presidente Lula.
Algumas correntes ascetas proíbem a posse de bens, o que inclui lâminas, mas outras exigem caras rapadas como símbolo de limpeza. Também os rastafáris, uma religião que nasceu na Jamaica e que mistura conceitos cristãos, judaicos e um messianismo negro, proíbem que se corte queira o cabelo como a barba. No Budismo, embora haja alguma liberdade, a tradição mais generalizada é de raspar não só os pelos faciais como todo o cabelo também. No Cristianismo depende da região. No ocidente há uma longa tradição, herdada pela supremacia no império romano, de ausência de barbas. A razão é que a barba seria considerada um adorno, um sinal de vaidade, que se devia evitar a todo o custo. Embora não seja mais obrigatório, os clérigos cristãos de tradição ocidental mantinham o padrão de não deixar crescer a barba. No oriente a barba representa simbolicamente um adereço obrigatório para os clérigos. A razão é que raspar a barba é considerado vaidade. Essa tradição é largamente respeitada, sobretudo, historicamente pela distinção da tradição nas igrejas ortodoxas.
      Entre os Amish, uma confissão cristã anabaptista que enaltece a não-violência e evita determinado uso de tecnologia, tem sido um assunto particularmente complexo. Recentemente uma das comunidades sofreu uma dolorosa disputa na qual uma das facções adoptou o hábito de cortar as barbas dos seus adversários enquanto dormiam, para humilhá-los. Os Amish, curiosamente, não cortam a barba a partir do dia em que casam, mas uma vez que há uma longa tradição militar associada aos bigodes, estes são proibidos por causa dos princípios de não-violência. Uma das regras Amish é os homens não cortarem a barba, e as mulheres o cabelo, depois do casamento. Nos Estados  Unidos da América (EUA) vivem cerca de 270 mil Amish. A maioria vive nos estados do Ohio, Pensilvânia e Indiana, mas em comunidades isoladas. Os Amish vivem, sobretudo, da agricultura de subsistência e rejeitam o uso de roupas modernas (jeans), televisão e computadores.
A exceção é aberta num período na vida dos jovens das comunidades, designado Rumspringa. Entre os Amish, que usam este termo, no entanto, simplesmente se refere à adolescência. Durante esse tempo, certa quantidade de mau comportamento é, se não tolerado, não tão severamente condenado. Quando atinge a adolescência os jovens deixam de ter a supervisão dos pais nos fins-de-semana, tendo liberdade para conviver com outras pessoas e estilos de vida. É neste período que decidem se querem ser Amish para o resto da vida. A maioria dos jovens acaba por casar com outros Amish, o que demarca a sua opção definitiva por este estilo de vida. As mulheres deixam de cortar o cabelo e os homens a barba. A maioria dos jovens não diverge destes padrões neste período. A metade deles e a minoria em pequenas comunidades permanecem dentro das normas e padrões Amish de se vestir ou de se comportar durante a adolescência.            
Os fundamentalistas acreditam piamente que a sua causa é de grave e cósmica importância. Acolhem a máxima weberiana de interpretação pragmática da política, segundo a qual, fim, “é a representação de um resultado que se converte em causa de uma ação” (cf. Weber, 2009). Eles vêem a si mesmo como protetores de uma única e distinta doutrina como modo de vida e de salvação. A comunidade, compreensivelmente centrara-se num modo de vida particular, egocêntrico e preponderantemente religioso em todos os seus aspectos. É o compromisso dos movimentos religiosos-políticos fundamentalistas, e atrai então não apenas os que compreendem a distinção entre política e religião, mas também outros insatisfeitos e os que julgam que a dissidência é distintiva, sendo vital à formação de suas identidades religiosas. O chamado muro de virtudes fundamentalista que protege a identidade do grupo é instituído não só em oposição a religiões estranhas, mas contra os quais compactuam continuar numa versão nominal inclusiva da sua própria religião.
              É neste sentido que no cristianismo, o fundamentalismo representa uma reação contra o modernismo que estava começando a se espalhar nas igrejas dos Estados Unidos da América e uma afirmação na inspiração divina e inerrância da Bíblia e ressureição e retorno de Jesus Cristo, doutrinas consideradas fundamentais do Evangelho; daí o nome fundamentalista que os teólogos modernistas já não criam que eram verdadeiras. No islamismo eles são jamaat que em linguagem árabe significam “enclaves religiosos”, com conotações de irmandade fechada ego-conscientemente flertam com o jihad na luta contra a cultura ocidental que suprime o Islam autêntico que implica submissão ao modo de vida prescrita na determinação divina contida na Charia. No judaísmo eles são os judeus Haredi que se julgam os “verdadeiros judeus da Torah” que se alimenta, se vestem, e enfim, vivem estritamente no modo religioso. Existem equivalentes no hinduísmo e outras religiões mundiais. Estes grupamentos que insistem na existência de um agudo limite entre eles e os partidários fiéis de outras religiões, e finalmente entre uma visão sagrada da vida e do “mundo secular” e da sua “religião nominal”. Com suas críticas, os fundamentalistas objetivam atrair e converter os religiosos da comunidade maior, em linhas gerais, tentando convence-los de que eles não estão experimentando a versão autêntica (e única) da religião professada.
Depois da publicação da A Origem das Espécies de Charles Darwin em 1859, o desenvolvimento da Alta Crítica alemã e o surgimento da Teologia Liberal, vários grupos cristãos reagiram temendo que o crescente racionalismo afetasse a fé cristã. No início do século XX foi publicado Os Fundamentos, livro que foi patrocinado por empresários e escrito por vários escritores conservadores de seu tempo. Preocupados com o avanço do modernismo, os fundamentalistas começaram a organizar-se. Entre 1878–1897 realizaram a Conferência Bíblica de Niágara, que estabeleceu os pontos básicos do fundamentalismo. Com o tempo, essa conferência levou a um grande movimento de conferências bíblicas e ao movimento de Institutos e Colégios Bíblicos - dois grandes fatores no aparecimento e expansão do fundamentalismo norte-americano. Desde 1925, quando o professor elementar John T. Scopes foi condenado por ensinar a Teoria da Evolução nas escolas públicas, o fundamentalismo perdeu sua popularidade entre os protestantes conservadores. A partir da década de 1940 ganhou força e expressão social outro movimento conservador protestante, porém mais aberto à sociedade em geral e à ciência, denominado: o EvangelicalismoA comunidade religiosa interpreta os fundamentalistas como dissidentes e a razão para a formação de novas seitas e religiões.

Mas, frequentemente são fundados grupos fundamentalistas com o objetivo de manter e resguardar a fidelidade dos princípios religiosos ditos desnaturados e forçar uma aproximação interna com o mundo moderno atendendo aos referidos princípios fundamentais. Não raro isto se passa individualmente com religiosos que, independentemente da formação de grupos ativos continua a proceder e atender aos princípios fundamentais de modo a conservar a doutrina adotando-a como prática de vida. Este fenômeno sociológico ocorreu e legou o uso do termo dos Fundamentalistas Cristãos que surgiram no início do século XX com o protestantismo dos Estados Unidos da América, com a publicação do livro: “Os Fundamentos”,  patrocinado por empresários e escrito por eruditos evangélicos reconhecidos.  O padrão do conflito entre os fundamentalistas cristãos e os cristãos modernos no cristianismo protestante tem notável aplicação às outras comunidades religiosas.
Em seu uso cotidiano como uma descrição destes aspectos sociais e religiosos correspondentes. Em caso contrário, em movimentos religiosos diversos o termo fundamentalista se tornou mais que só um termo qualquer um de ego-descrição ou de desprezo pejorativo. No fim do século passado, um grupo de mulheres cristãs norte-americanas, lideradas por Elizabeth Cady Stanton, começou a se reunir periodicamente para estudar todas as passagens bíblicas onde havia referência à mulher, a fim de relê-las e interpretá-las à luz da nova consciência que a mulher tinha de si mesma. Nesses encontros nasceu a “Woman’s Bible”, editada em duas partes, respectivamente em 1895 e 1898, uma obra que abalou o mundo protestante norte-americano. A realização desse vasto projeto de revisão e reinterpretação da Bíblia por parte de um grupo de mulheres é o primeiro sinal marcante de uma nova consciência da mulher, que amadureceu também no interior de comunidades cristãs. A idealização da “Bíblia da Mulher” foi considerada tanto cultural como eclesial e como ponto de partida de um longo processo, que levaria em torno dos anos 1960 - contemporaneamente ao emergir das teologias da libertação - à elaboração do projeto de uma “teologia feminista”.
Elizabeth Cady Stanton nascida em Johnstown, New York foi uma feminista e reformista estadunidense (1815-1902). Começou sua carreira como abolicionista, e quando um grupo de oito mulheres foi banido do World Anti-Slavery Convention de 1840, em Londres, que ela e Lucretia Mott, duas das delegadas banidas, resolveram fundar uma convenção pelos direitos das mulheres, em 1848. Outras delegadas frustradas, como Mary Grew, se juntaram, e o movimento pelos direitos femininos acabou surgindo em Seneca Falls. Ela formou um casal com a líder feminista Susan B. Anthony; durante o dia, elas cuidavam juntas da casa e dos filhos e, à noite, se armavam de munição e se preparavam para atacar o inimigo. Elizabeth Stanton descreveu a relação entre as duas em termos românticos, dizendo que preferia uma tirania do próprio sexo, e que era submissa a Susan. Anthony e Stanton formaram a 1ª convenção sufragista depois da guerra civil americana, em 1869, que fundou a National Woman Suffrage Association. Elizabeth foi casada, adorável, feliz e teve sete filhos.
Bibliografia geral consultada.

LORENZINO, Ariana de Abreu, A Poética da Gentileza: Um Patrimônio Carioca. Dissertação de Mestrado. Instituto de Artes. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2009; SOUZA, Altay Alves Lino de, A Influência de Atributos Físicos na Formação de Primeiras Impressões no Uso do TAT e Impacto no Processo Decisório de Profissionais de Recursos Humanos. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2010; WEBER, Max, La Objetividad del Conocimiento en la Ciencia Social y en la Politica Social. Madrid: Alianza Editorial, 2009; AFARY, Janet; ANDERSON, Kevin, Foucault e a Revolução Iraniana: As Relações de Gênero e as Seduções do Islamismo. São Paulo: Editor É Realizações, 2011; TEIXEIRA, Rafael Saddi, O Ascetismo Revolucionário do Movimento 26 de Julho: O Sacrifício e o Corpo na Revolução Cubana (1952 a 1958). Tese de Doutorado. Faculdade de História. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2009; COSTA, Renato José da, A Influência dos Ulemás Xiitas nas Transformações Políticas ocorridas no Irã durante o Século XX: O Wilayat al-Faqih e o Pragmatismo dos Aiatolás como Inviabilizadores na Expansão da Revolução Iraniana. Tese de Doutorado. Departamento de História Social. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2013; SILVA, Kleber Lopes da, Isso é Coisa Prá Macho - A Construção de Masculinidade nos Encontros de Motociclistas em Goiânia. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Faculdade de Ciências Sociais. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2016; LENZI, Gabriela Poltronieri, A Autoestima e o Chapéu? Uma Questão de Identidade e de Sociabilidade Durante o Tratamento Quimioterápico. Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Universidade de Salamanca, 2018; MENDES, Mírian Lúcia Brandão, A Construção Descritiva do Racismo no Século XIX: Um Estudo dos Jornais Correio Paulistano e A Redempção. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos. Faculdade de Letras. Belo Horizonte: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018; entre outros.