segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Extraterritorial – Rapto Social, Cinema & Conspiração Sombria.

                                                  Culto é aquele que sabe onde encontrar aquilo que não sabe”. Georg Simmel                        

         Exterritorial é um filme alemão de ação e suspense de 2025 dirigido e escrito por Christian Zübert, nascido em 1973, Würzburg é um cineasta e roteirista alemão. Zübert começou como roteirista para a televisão alemã. Em 2000, dirigiu e escreveu seu primeiro longa-metragem, Lambock, que foi um sucesso inesperado na Alemanha, com mais de um milhão de espectadores. No mesmo ano, escreveu o roteiro de Mädchen, Mädchen, que também foi um sucesso de bilheteria. É estrelado por Jeanne Goursaud, Dougray Scott e Lera Abova. O filme foi lançado na Netflix em 30 de abril de 2025. A trama gira em torno de uma ex-soldado das forças especiais com um “transtorno mental” que se desenvolve a partir da experiência de um evento traumático, como agressão sexual, violência doméstica, abuso infantil, guerra e seus traumas associados, desastre natural, luto, acidente de trânsito ou outras ameaças à vida ou ao bem-estar de uma pessoa. que está determinada a encontrar seu filho pequeno após ele desaparecer misteriosamente dentro do Consulado dos Estados Unidos da América na Alemanha. O filme recebeu críticas majoritariamente positivas e alcançou o primeiro lugar nas listas da Netflix em 79 países em 2 de maio de 2025. É o filme alemão de maior sucesso na Netflix. Em 2004, ele dirigiu o filme de aventura infantil Der Schatz der weißen Falken, que recebeu muitos prêmios e foi exibido em diversos festivais internacionais. 

          Depois de dirigir e escrever filmes e séries premiados para a televisão, como o thriller policial Tatort Nie wieder frei sein, Zübert retornou às telas de cinema em 2010 com a comédia dramática Dreiviertelmond (Lua em Quartos), que foi indicada ao Prêmio do Cinema Alemão, ganhou o Prêmio do Cinema da Baviera e o Prêmio Metropolis da Associação de Diretores da Alemanha, além de ter sido exibida em diversos festivais internacionais. Seu trabalho Tour de Force, de 2013, teve estreia na Grand Piazza do Festival Internacional de Cinema de Locarno e sua estreia norte-americana no Festival Internacional de Cinema de Toronto, onde ele retornou no ano seguinte com seu drama germano-grego One Breath. Ele escreveu e dirigiu o thriller da Netflix, Exterritorial, que estreou em 2025 com críticas analíticas majoritariamente positivas. De acordo com o FlixPatrol, o filme alcançou o primeiro lugar nas listas da Netflix em 79 países em 2 de maio de 2025. Após seis semanas, o filme ocupa o quinto lugar no Top 10 de todos os tempos, com mais de 83 milhões de visualizações. É o filme alemão de maior sucesso na Netflix.

            Os sintomas de transtornos mentais relacionados a traumas são documentados desde pelo menos a época dos antigos gregos. Alguns casos de evidência de doença pós-traumática foram atribuídos aos séculos XVII e XVIII, como o diário de Samuel Pepys (1633-1703), que descreveu sintomas intrusivos e angustiantes após o Grande Incêndio de Londres de 1666, um funcionário da administração naval inglesa e um parlamentar.  Durante as guerras mundiais, a condição era conhecida por vários termos, incluindo “choque de guerra”, “nervos de guerra”, neurastenia e “neurose de combate”. O termo passou a ser usado na década de 1970, em grande parte devido aos diagnósticos de veteranos militares americanos da Guerra do Vietnã. As pessoas consideradas em risco de desenvolver incluem militares de combate, sobreviventes de desastres naturais, sobreviventes de campos de concentração e sobreviventes de crimes violentos. Pessoas empregadas em ocupações que as expõem à violência, como soldados, ou a desastres como trabalhadores de serviços de emergência também em risco. Outras ocupações com a questão do risco aumentado incluem policiais, bombeiros, socorristas, paramédicos, profissionais de saúde, maquinistas, mergulhadores, jornalistas e marinheiros, e pessoas que trabalham em bancos, correios ou lojas.                                          


            A singularidade tem, na essência a significação da consciência-de-si em geral, e não de uma consciência singular contingente. A substância ética é nessa determinação a substância efetiva, o espírito absoluto realizado na multiplicidade da consciência aí-essente. O espírito é a comunidade, que para nós, ao entrarmos na figuração prática da razão geral, era a essência absoluta; e que aqui emergiu em sua verdade para si mesmo, como essência ética consciente, e como essência para a consciência, que nós temos por objeto. Porque a eticidade é o espírito em sua verdade imediata, os lados em que a consciência do espírito se dissocia, incidem nessa forma de imediatez; e a singularidade passa aquela negatividade abstrata sem consolo nem reconciliação, “deve essencialmente recebe-los mediante uma ação exterior e efetiva”. A consanguinidade completa o movimento natural abstrato, por acrescentar o movimento da consciência, interromper a obra da natureza e arrancar da destruição o consanguíneo. É necessária a destruição – seu vir-a-ser o puro ser – a consanguinidade tomando o ato de destruição.

            A Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza, produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua exterioridade entre inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois, ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim a Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças, sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto e a realização do espírito consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre esse processo e as contribuições mais expressivas de Hegel ocorrem precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à existência na consciência, no espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também isto: trazer à existência, isto é, à consciência. Como consciência em geral tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o Eu é o objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: produzir-se, sair fora de si, saber o que ele é. Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é. Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são nada. O homem é essencialmente razão.   

O homem, a criança, o culto e o inculto, é razão. Ou melhor, a possibilidade para isto, para ser razão, existe em cada um, é dada a cada um. A razão não ajuda em nada a criança, o inculto. É somente uma possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real e que se move em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele e para si mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos e estes a relação humana no espaço e tempo. O que o ser em si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade humana, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que filosoficamente é em si, no interior, podendo manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente.

Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo. Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem: a liberdade. O europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz) a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que o que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto quer dizer precisamente evolução. O em si que já não fosse em si seria outra coisa. Por conseguinte, haveria ali uma variação, mudança. Na mudança existe algo que chega a ser outra coisa. Na evolução, em essência, podemos também sem dúvida falar da mudança, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que resulta, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si não seja negado. Para Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no em si, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser por si.

O espírito abstrato assim adquire o poder concreto da realização. O concreto é em si diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto (ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência. Porém do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta. É algo concreto, algo distinto. Entretanto contido na unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda. Se o gérmen fosse mudado desgastado, triturado, não poderia evoluir. Na alma, enquanto determinada como indivíduo, as diferenças estão enquanto mudanças que se dão no indivíduo, que é o sujeito uno que nelas persiste e, enquanto momentos do seu desenvolvimento. Por serem elas diferenças, à uma, físicas e espirituais, seria preciso, para determinação ou descrição mais concreta, antecipar a noção do espírito cultivado.

As diferenças são: 1) curso natural das idades da vida, desde a criança, desde a criança, o espírito envolvido em si mesmo – passando pela oposição desenvolvida, a tensão de uma universalidade ela mesma ainda subjetiva em contraste com a singularidade imediata, isto é, como o mundo presente, não conforme a tais ideais, e a situação que se encontra, em seu ser-aí para esse mundo, o indivíduo que, de outro lado, está ainda não-autônomo e em si mesmo não está pronto (o jovem) – para chegar à relação verdadeira, ao reconhecimento da necessidade e racionalidade objetivas do mundo já presente, acabado; em sua obra, que leva a cabo por si e para si, o indivíduo retira, por sua atividade, uma confirmação e uma parte, mediante a qual ele é algo, tem uma presença efetiva e um valor objetivo (homem); até a plena realização da unidade com essa objetividade do conhecer: unidade que, enquanto real, vem dar na inatividade da rotina que tira o interesse, enquanto ideal se liberta dos interesses mesquinhos é das complicações do presente exterior (o ancião). O espírito manifesta aqui sua independência da própria corporalidade, em poder desenvolver-se antes que nela torne. Com frequência, crianças têm demonstrado um desenvolvimento espiritual que vai muito mais rápido que sua formação corporal. Esse foi o caso histórico, sobretudo em talentos artísticos indiscutíveis, em particular nos gênios da música. Também em relação ao fácil apreender de variados conhecimentos, especialmente na disciplina matemática; e tal precocidade tem-se mostrado não raramente também em relação a um raciocínio de entendimento, e mesmo sobre objetos éticos e religiosos. O processo de desenvolvimento do indivíduo humano natural decompõe-se então em uma série de processos, cuja diversidade se baseia sobre a relação do indivíduo para com o gênero, e funda a diferença da criança, do homem e do ancião. Essas diferenças são as apresentações das diferenças do conceito.

A idade da infância é o tempo da harmonia natural, da paz do sujeito consigo mesmo e com o mundo. Um começo tão sem-oposição quanto a velhice é um fim sem-oposição. As oposições que surgem ficam sem interesse mais profundo. A criança vive na inocência, sem sofrimento durável; no amor aos seus pais, e no sentimento de ser amado por eles. Na Roma antiga, o gênio representava o espírito ou guia de uma pessoa, ou mesmo de uma gens inteira. Um termo relacionado é genius loci, o espírito de um local específico. Por contraste a força interior que move todas as criaturas viventes é o animus. Um espírito específico ou daimon pode habitar uma imagem ou ícone, dando-lhe poderes sobrenaturais. Gênios são dotados de excepcional brilhantismo, mas frequentemente também são insensíveis às limitações da mediocridade bem como são emocionalmente muito sensíveis, algumas vezes ambas as coisas. O termo prodígio indica simplesmente a presença de talento ou “gênio excepcional” na primeira infância. Os termos prodígio e criança prodígio são sinônimos, sendo o último um pleonasmo. Deve-se ter em consideração que é perigoso tomar como referência as pontuações em testes aplicados de QI quando se deseja fazer um diagnóstico razoavelmente correto de genialidade. Há que se levar em consideração que em todos as pontuações, e em todas as medidas, existe uma incerteza inerente, bem como os resultados obtidos nos testes representam a performance alcançada por uma pessoa em determinadas condições, não refletindo necessariamente toda a capacidade da pessoa em condições ideais. A contribuição histórica e cultura dos filósofos pré-socráticos à matemática, enquanto ciência, não são discutíveis e em grande parte fruto de tradição bem documentada.

    A disposição ética consiste precisamente em ater-se firmemente ao que é justo, e em abster-se de tudo o que possa mover, abalar e desviar o justo. Se um depósito for feito a meus cuidados, é propriedade de outrem, e eu o reconheço, porque assim é, e me mantenho inflexível. Se tiver para mim o depósito, não incorro absolutamente em nenhuma contradição, segundo o princípio de meu examinar, a tautologia. Não o considero como propriedade alheia; ora, reter algo, que não considero propriedade de outro, é perfeitamente consequente. A mudança de vista não é contradição, pois a questão não é o ponto de vista, mas o objeto, o conteúdo, que não deve contradizer-se. Não é porque encontro o não-contraditório que isso é justo: mas é justo porque é. Algo é propriedade de outrem: isso constitui o próprio fundamento. O espírito, em sua verdade simples, é consciência, e põe seus momentos fora um do outro. A ação o divide em substância e em consciência da substância, e divide tanto a substância quanto a consciência. A substância, como essência universal e fim, contrapõe-se em si mesma como à efetividade singularizada. O meio-termo infinito à consciência-se-si que sendo em si unidade de si e da substância, torna-se agora, para si, o que unifica a essência universal e sua efetividade singularizada: eleva à essência de sua efetividade e opera eticamente; faz a essência descer à efetividade, e implementas o fim, a substância somente pensada; produz a unidade de seu Si e da substância como obra sua e, como efetividade.

No dissociar-se da consciência em seus momentos, a substância simples conservou, por um lado, a oposição frente à consciência-de-si, e por outro lado apresenta nela mesma a natureza da consciência – de diferenciar-se em si mesma, como um mundo organizado em suas massas. A substância se divide, assim, em uma essência ética diferenciada: em uma lei humana e uma lei divina. A consciência-de-si, que se lhe contrapõe, atribui-se, segundo sua essência dessa potência; e como saber se cinde na ignorância do que faz e a respeito disso: um saber que é, por isso, enganoso. A consciência-de-si é em seu ato a contradição daquelas potências em que a substância se divide, e sua mútua destruição, como também a contradição entre seu saber sobre a eticidade da sua ação, e o que é ético em si e para si; e aí encontra sua própria ruína. De fato, porém, a substância ética, mediante esse movimento, veio-a-ser consciência-de-si efetiva; ou seja, este Si se tornou algo em-si-e-para-si-essente. Mas nisso, precisamente, a eticidade foi por terra. A substância simples do espírito se divide como consciência. Ou seja: assim como a consciência do ser sensível abstrato passa à percepção, assim também a certeza imediata do ser ético real; e como, para a percepção sensível, o ser simples se torna uma coisa de propriedades múltiplas, assim para a percepção ética, o caso do agir é uma efetividade de múltiplas relações éticas. Contudo, como para a percepção sensível a supérflua multiplicidade das propriedades se condensa filosoficamente entre singularidade e universalidade – com maior razão a percepção ética, que é a consciência substancial e purificada -, a multiplicidade dos momentos éticos se torna a dualidade de uma lei da singularidade e de uma lei da universalidade. Cada uma dessas massas de substância permanece sendo o espírito todo. Se, na percepção sensível, isto é, as coisas não tem outra substância, as duas determinações de singularidade e universalidade exprimem apenas a oposição assimétrica superficial recíproca dos dois lados.  

A intensidade do evento também está associada a um risco subsequente de desenvolver, sendo que experiências relacionadas a morte presenciada, tortura presenciada ou vivenciada, lesão, desfiguração corporal, traumatismo cranioencefálico estão altamente associadas ao desenvolvimento. Da mesma forma, experiências inesperadas ou das quais a vítima não pode escapar também estão associadas a um alto risco de desenvolver. O Rapto das Sabinas foi o episódio lendário da história de Roma em que a primeira geração de homens romanos teria se originado através do rapto das filhas das famílias sabinas vizinhas. Narrada por Lívio e Plutarco, ela serviu como tema para diversas obras de arte do Renascimento e pós-renascentistas, com uma oportunidade de retratar diversos personagens, incluindo figuras heroicamente seminuas, envolvidas numa disputa intensamente passional. Entre temas semelhantes da Antiguidade Clássica estavam, a batalha dos lápitas contra os centauros e o tema da Amazonomaquia, a batalha de Teseu contra as amazonas. O rapto teria acontecido no início da história de Roma, logo após sua fundação por Rômulo e seus seguidores, em sua maior parte homens. À procura de esposas com quem pudessem formar famílias, os romanos negociaram, sem sucesso, com os sabinos, que haviam povoado a região anteriormente.

Temendo o surgimento de uma sociedade rival, os sabinos recusaram-se a permitir que suas mulheres se casassem com os romanos; estes tiveram então a ideia de raptar as mulheres sabinas. Rômulo inventou então um festival em homenagem a Netuno Equestre, e proclamou-o aos povos vizinhos de Roma. De acordo com Lívio, muitos habitantes destes povoados vizinhos compareceram ao festival, incluindo os ceninenses, os crustumerinos e os antemnos, bem como muitos dos sabinos. Durante o festival Rômulo deu um sinal, indicando a seus conterrâneos que era hora de capturar as mulheres sabinas, o que eles fizeram, simultaneamente, enquanto combatiam os homens. Após o rapto social as mulheres, indignadas, se viram diante de um Rômulo que lhes suplicava que aceitassem os romanos como seus maridos. Lívio é claro em afirmar que não houve abuso sexual da parte dos romanos; Rômulo ofereceu-lhes liberdade de escolha, prometendo-lhes direitos civis e de propriedade. Ainda de acordo com Lívio, ele teria pessoalmente ido a cada uma delas “e indicado a elas que tudo aquilo era culpa de seus pais, que haviam negado a elas o direito de casar-se com seus vizinhos”. Elas viveriam em uniões matrimoniais dignas, e partilhariam de todos os direitos civis e de propriedade, bem como o mais precioso à natureza humana seriam mães de homens livres. Após a reconciliação que se seguiu, os sabinos concordaram em formar uma nação única com os romanos, e o rei sabino, Tito Tácio, passou a governar Roma com Rômulo até a sua morte, cinco anos mais tarde.

Os novos habitantes sabinos de Roma passaram a viver no Capitólio. Durante o Renascimento o tema se tornou popular, como uma história que simbolizava a importância central do matrimônio para a continuidade das famílias e culturas. Também era um dos raros exemplos de um tema de batalha, um gênero altamente popular, que permitia ao artista demonstrar seu virtuosismo no retrato tanto da figura feminina quanto da masculina, em poses extremas, com a vantagem adicional de um tema sexual palpitante. Foi representado regularmente nos cassoni italianos do século XV, e, posteriormente, em pinturas maiores. A escultura de Giambologna (1574–1583) que foi interpretada como abordando este tema demonstra três figuras, isto é, um homem que levanta uma mulher no ar, enquanto um segundo homem se agacha e foi esculpida a partir de um único bloco de mármore. A obra, que é tida como a obra-prima de Giambologna, nascido como Jean Boulogne, foi um escultor maneirista. Ele tinha originalmente como intenção ser apenas uma demonstração da capacidade do artista de criar um grupo escultural complexo; seu tema, o lendário rapto das sabinas, foi associado a ela apenas após Francisco I de` Medici (1541-1587), Grão-Duque da Toscana, decretar que ela seria exposta na Loggia dei Lanzi, na Piazza della Signoria, em Florença. Mantendo-se de acordo com as características historicamente típicas das composições maneiristas, como figuras compactas e entrelaçadas, a interpretação da estátua transmite “uma panóplia dinâmica de emoções, em poses que oferecem pontos de vista múltiplos”.

Contrastada com a pose serena do Davi de Michelangelo que está na mesma praça, concluído quase 80 anos antes, a estátua apresenta a dinâmica que acabou por levar a arte europeia ao barroco, porém também a verticalidade pouco flexível e desconfortável, autoimposta pela restrição virtuosa do próprio autor a uma composição que podia ser feita a partir de um único bloco, e não apresenta os impulsos diagonais que Bernini conseguiria obter quarenta anos depois com obras como O Rapto de Proserpina e Apolo e Dafne, ambas na Galeria Borghese, em Roma. O tema proposto pela escultura, situada diante da estátua de Perseu de Benvenuto Cellini (1545-1554), sugere que o grupo ilustrava um tema relacionado a outra obra, como o rapto de Andrômeda, de Fineu. Na mitologia grega, foi um tio de Andrômeda, a quem a princesa havia sido prometida em casamento. Após sua libertação por Perseu, Fineu atacou o herói, e foi morto, transformado em pedra. Os raptos de Proserpina e Helena também foram sugeridos como possíveis temas originais. Eventualmente decidiu-se que a escultura seria identificada com uma das virgens sabinas. A obra está assinada com “Obra de João de Bolonha de Flandres”, 1582. Um rascunho preparatório feito em bronze que demonstra apenas duas figuras está em exposição no Museu Nacional de Capodimonte, em Nápoles. Giambologna revisou então a obra, desta vez acrescentando uma terceira figura, em dois modelos de cera que estão expostos no Museu Victoria e Albert, em Londres. O molde em gesso, em escala natural, realizado para a escultura final, de 1582, se encontra em exposição na Sala do Colosso, situada na Galleria da Academia de Belas Artes, em Florença. Reduções da escultura realizadas em bronze, produzidas pelo próprio estúdio de Giambologna e imitadas por outros artistas, eram parte integrante das coleções de apreciadores de arte no século XIX.

Andrômeda era filha de Cefeu e Cassiopeia, e, por Cassiopeia ter dito que era mais bela que as nereidas, Posidão enviou um monstro para devastar o país. Para aplacar o monstro, Andrômeda foi oferecida em sacrifício, mas Perseu se ofereceu para salvá-la, se esta se casasse com ele. Segundo os textos de Pseudo-Apolodoro e Ovídio, Fineu era irmão de Cefeu, o rei da Etiópia. Autores modernos, porém, reconstroem esta família de forma diferente: Fineu seria filho de Fênix, filho de Agenor e de Cassiopeia, filha de Árabo, os pais de Cassiopeia, a mãe de Andrômeda. As fontes antigas sobre Cassiopeia estão em fragmentos de Hesíodo, citado por outros autores, e em escólios. Fênix, filho de Agenor, e Cassiopeia foram os pais de Fineu, que, segundo outra versão, era filho de Agenor. Outro filho de Cassiopeia, com Zeus, foi Atímnio, um rapaz muito belo que foi amado por Minos e Sarpedão, e foi a causa da briga entre os irmãos. Árabo era filho de Hermes com Trônia, filha de Belo; Árabo deu o nome à Arábia. Segundo W. Preston, havia dois personagens de nome Fineu, um filho de Fênix e neto de Agenor, e outro, o personagem da história dos Argonautas, filho de outro Agenor, descendente na sétima geração de Fênix. O mais antigo Fineu era filho de Fênix e Cassiopeia, sendo seus avôs, respectivamente, Agenor e Árabo. Fênix e Cassiopeia tiveram três filhos, Cílix, Fineu e Dóriclo, e, nominalmente, Atímnio, que era, de fato, filho de Zeus. Segundo Adolf Bastian, Cassiopeia, filha de Árabo, se casou com Fênix, e desta união nasceu Cassiopeia, a esposa de Cefeu. Fineu, a quem Andrômeda havia sido prometida em casamento, conspirou contra Perseu. Perseu descobriu a trama e transformou Fineu e seus companheiros em pedra, mostrando-lhes a cabeça da Medusa.        

Na versão de Ovídio, foi durante a festa de casamento de Perseu e Andrômeda que Fineu, furioso por ter sido preterido, ameaçou Perseu com uma lança. Cefeu tentou dissuadi-lo, argumentando que Perseu não a havia roubado dele, mas a havia salvo do monstro, enquanto Fineu não havia feito nada para salvá-la. Mesmo assim, após um breve momento de hesitação, Fineu arremessou a lança contra Perseu, mas errou, e conseguiu escapar logo depois do ataque de Perseu. Cefeu saiu da festa, clamando a todos deuses da hospitalidade, verdade e justiça. Na festa, Perseu continuou lutando contra os partidários de Fineu: ele matou Átis, um rapaz indiano de 16 anos, filho de Limnate, ninfa do rio Ganges, o assírio Licabas, companheiro de Átis que o amava muito, Forbas, um descendente de Metião, com seu amigo Anfimedão, da Líbia, Erithus, filho de Actor, Ábaris, do Cáucaso, Peridamo, descendente de Semíramis, e vários outros. Fineu, sem engajar em combate corpo-a-corpo, jogou sua lança contra Perseu, mas errou e acertou Idas, que não havia tomado nenhum partido durante a luta, e que, ferido, tentou atacar Fineu com a mesma lança, mas não teve forças para isto. A luta continuou, e Fineu matou dois irmãos gêmeos, Broteas e Ammon, além de Ampycus, sacerdote de Ceres. Perseu se viu cercado por uma miríade de homens, liderados por Fineu, e, já sem forças, gritou para que seus amigos desviasse o olhar. Ele levantou a cabeça da Medusa, e seus atacantes se transformaram em estátuas de mármore. Fineu vendo, incrédulo haviam sido transformados em estátua, implorou perdão a Perseu, mas também o fez ver a cabeça da Medusa e virar pedra, sendo eternizado como covarde.

Na trama cinematográfica de Extraterritorial Sara Wulf tem como representação uma ex- soldado das Forças Especiais que serviu no Afeganistão até 2017. Ela foi a única sobrevivente de uma emboscada na qual oito soldados foram mortos. Sara e seu filho pequeno, Joshua (Josh), visitam o Consulado dos EUA em Frankfurt para solicitar um visto de trabalho. Durante a longa estadia, ela deixa Josh em uma sala de brinquedos; quando retorna, ele desapareceu. Sara pede ajuda ao agente de segurança regional Eric Kynch e ao sargento Donovan. Segundo Donovan, Sara entrou no consulado sozinha e nenhuma criança foi registrada, e as imagens de vigilância também mostram apenas Sara, sem o filho. Sara contata a polícia alemã, mas as autoridades alemãs não têm jurisdição em território extraterritorial americano. Sua mãe, Anja, também não acredita nela; suspeita que Sara não tenha tomado seus remédios para transtorno de estresse pós-traumático. Considera-se que Sara está tendo um episódio psiquiátrico e pedem que ela deixe o consulado. Em vez disso, Sara se esconde no prédio e procura por Josh. Lá, ela encontra Irina, que está sendo mantida em cativeiro no consulado há quase dois meses. Irina se oferece para ajudá-la a encontrar Josh em troca de ajudá-la a sair do consulado. Sara encontra um pacote de drogas ilegais no armário de um funcionário do consulado e suspeita que Josh possa ter sido sequestrado, pois ele testemunhou a transação. Após a segurança do consulado encontrar Sara, Kynch injeta nela um sedativo e ela desmaia. Quando acorda, a Cônsul Geral Deborah Allen está ao seu lado. Ela foi contatada pela mãe de Sara, que está preocupada com o transtorno de estresse pós-traumático e os delírios da filha após sua missão no Afeganistão, durante a qual o pai de Joshua também foi morto. Mais tarde, Sara é libertada por Irina, cujo nome verdadeiro é Kira Volkova. Seu pai era um dissidente bielorrusso e foi morto pelo governo russo. Kira fugiu para a embaixada dos Estados Unidos da América em Minsk; a Central Intelligence Agency, a agência de inteligência estrangeira dos Estados Unidos, responsável por coletar, analisar e divulgar informações de segurança nacional para o governo americano a havia levado para Frankfurt. Kira quer ir a Boston para ver sua mãe e, de lá, compartilhando dados incriminatórios sobre crimes russos em um pen drive, espera libertar outros dissidentes. Sara recebe uma oferta de emprego de uma empresa de segurança nos EUA que está recrutando ex-soldados mulheres. Ela descobre Kynch como estratagema para levá-la ao consulado e sequestrá-la, já que ele também serviu no Afeganistão.      

Sara recebeu um vídeo de um jornalista mostrando Kynch se encontrando com um militante talibã. Segundo o jornalista, Kynch é corrupto e foi responsável por alertar o Talibã, permitindo que eles emboscassem o grupo de Sara. Sara arma uma distração para que Kira possa escapar para os EUA via França. Kynch confessa a Sara que sequestrou Josh e adulterou as imagens de vigilância. Como Sara era a última testemunha sobrevivente do incidente no Afeganistão, e Kynch se sentia ameaçado pelas provas da jornalista, seu plano era fazer com que Sara se preocupasse com o filho e a deixasse causar tumulto no consulado para que ele pudesse atirar nela em legítima defesa. Sara sequestra Aileen, a filha de Kynch, e a leva para um quarto seguro. Inicialmente, ela tenta trocá-la por Josh, mas depois muda de ideia e a liberta. Mais tarde, Sara grava secretamente a confissão de Kynch no gravador digital de Aileen. O próprio Kynch era um soldado e sentia-se desamparado pelo exército para lidar com o trauma, além de estar em desvantagem financeira. Por isso, ele fez um acordo politicamente com o Talibã para vender informações e melhorar sua situação financeira. Após Sara ser baleada e ferida por Kynch, Josh é libertado. Oito semanas depois, Sara liga para Kira; Kynch agora está sob custódia nos EUA. Donovan e o homem da recepção também estavam envolvidos no plano de sequestro de Kynch. Sara viaja para os EUA com Josh e planeja encontrar Kira.

O filme foi produzido pela Constantin Film, com Kerstin Schmidbauer como produtora e Oliver Berben como produtor executivo. As filmagens ocorreram em Viena com o apoio da FISAplus e terminaram no final de 2023. As filmagens ocorreram, entre outros locais, no Centro Universitário Althanstraße, sede da Universidade de Economia e Negócios de Viena de 1982 a 2013. Matthias Pötsch foi o cinegrafista, Sara Barone compôs a música, Ueli Christen foi o responsável pela edição, e Cornelia von Braun e Lisa Stutzky cuidaram da seleção do elenco. Heike Lange foi a cenógrafa, Anna Zeitlhuber a figurinista, Herbert Verdino o designer de som e Aurora Hummer a maquiadora. Katharina Haudum atuou como coordenadora de intimidade e Florian Hotz como coordenador de dublês. Exterritorial foi lançado pela Netflix em 30 de abril de 2025. O filme recebeu críticas geralmente positivas. Escrevendo para o New York Times, Robert Daniels observou que “o cenário opressivamente branco e luminoso, a angústia psicológica sentida por Sara e a insistência de Zübert em planos longos fazem de Exterritorial um sucesso como uma luta frustrante por reconhecimento”. Jake Dee escreveu no movieweb.de que “Exterritorial é uma história de redenção centrada nos personagens, disfarçada de filme de ação no estilo Duro de Matar. No entanto, para Sara, trata-se menos de vingar inimigos externos e mais de exterminar seus demônios internos... com seu inegável valor de entretenimento, é fácil entender por que o filme é tão popular”. De acordo com o FlixPatrol, o filme alcançou o primeiro lugar nas listas da Netflix em 79 países em 2 de maio de 2025. Após seis semanas, o filme ocupa o quinto lugar no Top 10 de todos os tempos da Netflix, com mais de 83 milhões de visualizações.

Bibliografia Geral Consultada.

MERLEAU-PONTY, Maurice, Le Cinema et la Nouvelle Psychologie. Paris: Éditions Gallimard, 1996; ZULIANI, Fabiana de Mello, Passado e Presente em Estrabão: As Estruturas Espaço-temporais da Geografia e suas Relações com o Império Romano. Dissertação de Mestrado em Geografia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999; AUBENQUE, Pierre, A Prudência em Aristóteles. São Paulo: Discurso Editorial, 2003; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; D’ALLONNES, Myriam Revault, El Poder de los Comienzos: Ensayo sobre la Autoridad. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 2008; JAEGER, Werner Wilhelm, Paidéia: A Formação do Homem Grego. 5ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010; HOMERO, Odisseia. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011; BAUMAN, Zygmunt, Cegueira Moral - A Perda da Sensibilidade na Modernidade Liquida. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2014;  ASSUMPÇÃO, Luis Filipe Bantim, Discurso e Representação sobre as Práticas Rituais dos Esparciatas e dos seus Basileus na Lacedemônia do Século V a. C. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014; WATERS, Matt, Pérsia Antiga: Uma História Concisa do Império Aquemênida, 550–330 a.C. Cambridge University Press, 2014; SILVA, Ricardo Barbosa da, Culto à Guerra: Uma Abordagem Historiográfica do Militarismo na Esparta Clássica. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2017; MCKECHNIE, Paul, Cristianizando a Ásia Menor: Conversão, Comunidades e Mudança Social na Era Pré-Constantino. Nova Iorque (NY): Cambridge University Press, 2019; LIMA, Linnikar Glória de Castro, Território, Transferência e Tratamento: A Psicanálise nas Clínicas Públicas. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2025; entre outros.

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