terça-feira, 6 de setembro de 2022

Sergio Arouca – Médico, Preferia ser Chamado de Sanitarista.

 

Temos que aprender a viver com a adversidade, com o coletivo”. Sergio Arouca

                  

         A Guanabara representou um estado de 1960 a 1975, que existiu no território correspondente à atual localização do município do Rio de Janeiro. Em sua área, esteve situado o antigo Distrito Federal. Em 1834, a cidade do Rio de Janeiro, que em 1763 sucedeu a Salvador como capital do Brasil colonial e do II Reinado, foi compreendida no Município Neutro, permanecendo como capital do reinado do Brasil, enquanto que Niterói passou a ser a “nova” capital da província do Rio de Janeiro. Em 1889, após a Proclamação da República do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro continuou sendo a capital do Brasil e a província homônima foi transformada em estado. No dia 24 de fevereiro de 1891, mediante a promulgação da primeira Constituição republicana do Brasil, o Município Neutro tornou-se o Distrito Federal. Com a mudança da capital do país para Brasília, o Distrito Federal, tornou-se o estado da Guanabara, de acordo com as disposições transitórias da Constituição de 1946 e da Lei nº 3 752, de 14 de abril de 1960, Lei San Tiago Dantas (1911-1964).  Com o término da chamada Era Vargas, o período da história entre 1930 e 1945, quando Getúlio Vargas governou o Brasil por 15 anos de forma contínua, compreendeu o Governo Provisório, o Governo Constitucional e o golpe de classe do Estado Novo (1937-45) e o vislumbrar de uma nova fase política com o presidente Juscelino Kubitschek, iniciada em 1955, a construção de Brasília representava um baque nos interesses da elite social carioca, pois minimizava o seu status de centro das decisões sociais e políticas do país.

Diante dessa ameaça, com intensa mobilização entre os grupos políticos cariocas, ainda indecisa com os rumos que a cidade tomaria, optou-se pela criação do estado da Guanabara, com o estado do Rio de Janeiro que dá nome à capital, nas vizinhanças do jovem estado. Para alguns estudiosos, entretanto, o principal problema político não foi solucionado: a perda do poder político e econômico que os fluminenses possuíam até a Proclamação da República do Brasil, avizinhando-se um possível esvaziamento da cidade do Rio de Janeiro no mesmo sentido. Em plebiscito realizado em 21 de abril de 1963, a sociedade decidiu-se “pela continuidade da existência de um único município na unidade federativa”. O primeiro governador, José Sette Câmara Filho, foi nomeado pelo presidente da República e exerceu o cargo até 5 de dezembro de 1960, quando o passou para o primeiro governador eleito, Carlos Lacerda, que exerceu o cargo por cinco anos. O Governo Lacerda dinamizou mudanças radicais na Guanabara, ao promover a remoção de favelas para outras regiões da cidade e a consequente criação da Vila Kennedy, Vila Aliança e da Cidade de Deus, a construção civil da Adutora do Rio Guandu para o abastecimento de água e uma série de modificações “paisagísticas”. Dentre as principais obras realizadas nesse período, destacam-se a abertura do Túnel Rebouças, o alargamento das vias da Praia de Copacabana e a construção da maior parte do Parque Eduardo Gomes.

Neste período, também foi organizada a Companhia Estadual de Telefones, cuja incumbência foi a de instalar serviço de telefones automáticos nos afastados subúrbios, como os bairros de Irajá, Bento Ribeiro, Bangu, Campo Grande e Santa Cruz, na baixada de Jacarepaguá e na Barra da Tijuca, assim como na Ilha do Governador e na Ilha de Paquetá. Anos mais tarde a companhia estadual foi incorporada ao sistema telefônico fluminense, que, através da TELERJ, passou a atender o restante do estado após a fusão. A pedido de Carlos Lacerda, foi efetuada a elaboração do Plano Doxiadis, conjunto de projetos ligados à área urbanística. A Linha Lilás foi a primeira a ser construída, entre as décadas de 1960 e 1970 e a Linha Verde foi apenas parcialmente construída. A Linha Vermelha e a Linha Amarela foram “desengavetadas” e concretizadas apenas na década de 1990. Todas, baseadas no plano diretor que ainda previa as Linhas Azul e Marrom. Os outros governadores eleitos para exercer a chefia do Poder Executivo da Guanabara foram Francisco Negrão de Lima, de 1965 a 1971 e Antônio de Pádua Chagas Freitas, de 1971 a 1975, em cujo governo foi construído o emissário submarino de esgotos de Ipanema. A condição desse estado permitiu que a Guanabara, mesmo depois de perder verbas federais com a transferência da capital federal para Brasília, desfrutasse de elevada receita per capita de dupla arrecadação com os impostos municipal e estadual, o que lhe possibilitou o financiamento do grande número de obras públicas realizadas durante a década de 1960.   

 Paradoxalmente era um estado rico, ao contrário do vizinho estado do Rio de Janeiro, com uma economia que se esvaziava desde 1927 mesmo com a industrialização ocorrendo no eixo rodoviário Rio-São Paulo. Os investimentos efetuados foram considerados instrumentos de estímulo à reinserção da Guanabara num novo cenário político e econômico brasileiro. O governo federal tirou da gaveta a antiga ideia de uma ligação entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói por uma ponte, a qual seria em meados da década de 1970 usada como um símbolo da fusão. Foi construída a Ponte Presidente Costa e Silva. Outros investimentos federais foram implementados no estado do Rio de Janeiro, como as usinas atômicas de Angra dos Reis, porém, com a fusão, a cidade do Rio de Janeiro teve sua economia fortemente afetada pela fraca economia do estado do Rio de Janeiro. Pela Lei complementar número 20, de 1º de julho de 1974, durante a presidência do general Ernesto Geisel, decidiu-se realizar a “fusão”, termo usado na Lei dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, a partir de 15 de março de 1975, mantendo a denominação de estado do Rio de Janeiro, voltando-se à situação territorial de antes da criação do chamado Município Neutro, uma referência histórico-sociológica, com a cidade do Rio de Janeiro voltando a ser a capital fluminense.

O termo qualidade vem do latim qualitate, e é utilizado em situações históricas e sociais bem distintas. Por exemplo, quando se fala da qualidade de vida das pessoas de um país ou região, quando se fala da qualidade da água que se bebe ou do ar que se respira, quando se fala da qualidade do serviço prestado por uma determinada empresa, ou ainda quando se fala da qualidade econômica de um produto em geral. Como o termo tem diversas utilidades de usos sociológicas e tecnológicas o seu significado nem sempre é de definição clara e objetiva seja no sentido ideológico, seja no sentido político afetivo. Pode-se também seguir como exemplo a qualidade desta enciclopédia. Basta escolher um tema qualquer e escrever absurdos. O tempo para a correção ser feita está inversamente ligada à qualidade e as condições de possibilidade da escrita. Quanto melhor a qualidade, menor será esse tempo de utilidade de uso no mercado de bens simbólicos. A definição de literatura está comumente associada à ideia de escrita de letras. Entretanto, nem todo texto é literário. O termo provém do latim litteratura, “arte (técnica) de escrever bem”, a partir da palavra latina littera, “letra”.

A própria natureza do caráter estético, contudo, reconduz à dificuldade de elaborar alguma definição verdadeiramente estável para o texto literário. Para simplificar, pode-se exemplificar através de uma comparação por oposição. Vamos opor o texto científico ao texto literário: o texto científico emprega as palavras sem preocupação com a beleza, o efeito emocional. No texto literário, ao contrário, essa será a preocupação maior do escritor (autor). É óbvio que também o escritor busca instruir, e perpassar ao leitor uma determinada ideia; mas, diferentemente do texto científico, o texto literário une essa instrução à necessidade à recepção. O texto científico emprega as palavras no seu sentido dicionarizado, enquanto que o texto literário busca a utilidade social de empregar as palavras com liberdade, preferindo o seu sentido figurado. O texto literário é, portanto, aquele que pretende emocionar e que, para isso, emprega a língua com liberdade e beleza, utilizando-se, muitas vezes, do sentido metafórico das palavras.

            Em 25 de maio de 1900, por meio do Ofício nº 1 em papel timbrado do Instituto Vacínico Municipal, Pedro Affonso Franco (Barão de Pedro Affonso), diretor do Instituto Soroterápico Federal, comunicava à Diretoria Geral de Saúde Pública que, em consequência da autorização, começariam nesta data os trabalhos do laboratório de Manguinhos, “esperando em breve poder começar o trabalho de inoculação nos cavalos”. O laboratório fora criado para produzir o soro de combate à peste bubônica que ameaçava a Capital Federal Rio de Janeiro.  Em outubro de 1899, Adolpho Lutz, médico e cientista, pai da medicina tropical e da zoologia médica no Brasil. Pioneiro na epidemiologia e na pesquisa de doenças infecciosas e Vital Brazil Mineiro da Campanha, médico cientista, imunologista e pesquisador biomédico brasileiro de renome internacional, pesquisadores do Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo, haviam atestado casos de peste bubônica no porto de Santos, confirmados pelos médicos Eduardo Chapot Prévost (1864-1907),  formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina de Salvador, em 1885, onde defendeu a tese Formas Clínicas do Puerperismo Infeccioso e seu Tratamento. O puerpério é o período compreendido de pós-parto que abrange desde o nascimento até a volta da menstruação da mulher, depois da gravidez, o que pode demorar até 45 dias, dependendo de como é feita da amamentação. 

Na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, iniciou-se no magistério como “preparador em histologia”, em 1888, passando a professor Catedrático da Faculdade Nacional de Medicina, aos 25 anos, em 1890 e Oswaldo Gonçalves Cruz (1872-1917), um médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista. Pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da medicina experimental no Brasil, fundou em 1900 o Instituto Soroterápico Federal no bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, transformado em Instituto Oswaldo Cruz, e posteriormente a Fundação Oswaldo Cruz. A constatação empírica de casos ameaçava a política de estímulo à imigração patrocinada pelo governo brasileiro e para combater a doença era preciso o soro de Yersin, fornecido apenas pelo Instituto Pasteur, de Paris. Yersin testou o soro recebido de Paris em Cantão e Anoy em 1896, e em Bombaim, Índia, em 1897, com resultados desalentadores. Tendo decidido ficar em seu país de adopção, participou ativamente na criação da Escola de Medicina de Hanói em 1902, e foi seu primeiro diretor, até 1904. Às pressas, o governo paulista criou um laboratório na fazenda de Butantan, o futuro Instituto Seroterápico do Estado de São Paulo, o qual funcionou como um apêndice do Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo, visando a produção massiva para consumo do soro antipestoso. No momento da fundação do Instituto Soroterápico Federal, durante a Primeira República (1889-1930), as não possuíam tradição normalizada de investimentos na pesquisa científica. 

Isto é, na essência de todos os sistemas disciplinares, segundo Foucault (2014: 175) funciona um pequeno mecanismo penal. É beneficiado por uma espécie de privilégio de justiça, com suas leis próprias, seus delitos especificados, suas formas particulares de sanção, suas instâncias de julgamento. As disciplinas estabelecem uma infrapenalidade; quadriculam um espaço deixado vazio pelas leis; qualificam e reprimem um conjunto de comportamentos que escapava aos grandes sistemas de castigo por sua relativa indiferença.  Na oficina, na escola, no exército, funciona como repressora toda uma micropenalidade do tempo (atrasos, ausências, interrupções das tarefas), da atividade (desatenção, negligência, falta de zelo), da maneira de ser (grosseria, desobediência), dos discursos (tagarelice, insolência), do corpo (atitudes incorretas, gestos não conformes, sujeira), da sexualidade (imodéstia, indecência). Ao mesmo tempo é utilizada, a título de punição, toda uma série de processos sutis, que vão do castigo físico leve a privações ligeiras e a pequenas humilhações. Trata-se ao mesmo tempo de tornar penalizáveis as frações mais tênues da conduta, e de dar uma função punitiva aos elementos aparentemente indiferentes do aparelho disciplinar: levando ao extremo, que tudo possa servir para punir a mínima coisa; que cada indivíduo se encontre preso numa universalidade punível-punidora. 

A punição disciplinar é, pelo mesno por uma boa parte, isomorfa à própria obrigação; ela é menos a vingança da lei ultrajada que sua repetição, sua insistência redobrada. De modo que o eeito corretivo que dela se espera apenas de uma maneira acessória possa pela expiação e pelo arrependimento; é diretamente obrido pela mecânica de um castigo. Castigar é exercitar. A punição da disciplina, não passa de um elemento de um sistema duplo: gratificação-sanção. E é esse sistema ques e torna operante no processo de treinamento e de coerções. Ess mecanismo de dois elementos permite um certo número de operações características da penalidade disciplinar. Em primeiro lugar, a qualificação dos comportamentos e dos desempenhos a partir de dois valores opostos do bem e do mal: em vez da simples separação do proibido, como é feito pela justiça penal, temos uma distribuição entre polo positivo e polo negativo; todo o comportamento cai no campo das boas e más  notas, dos bons e dos maus pontos. É possível, além disso, estabelecer uma quantificação e uma economia traduzida em números. Uma contabilidade penal, constantemente posta em dia, permite obter o balanço positivo de cada um. A justiça escolar levou muito longe esse sistema, de que se encontram pelo menos os rudimentos no exército e nas oficinas. Os Irmãos das Escolas haviam organizado um microeconomia dos privilégios e dos castigos escritos.   

Embora, desde os anos de 1880, com as reformas do ensino médico, já houvesse um movimento no sentido da prática de uma medicina experimental, com a instalação de diversos laboratórios nas instituições de ensino, essa encontrava grandes obstáculos para desenvolver-se. No cenário internacional, a medicina era transformada pela revolução pasteuriana e pela microbiologia. Ensino e pesquisa eram atividades complementares no Instituto Pasteur de Paris, fundado em 1888, com ampla autonomia administrativa em relação ao governo francês. No mesmo ano de 1888, foi inaugurado o Instituto Pasteur do Rio de Janeiro, vinculado à Santa Casa da Misericórdia. Este restringiu-se à produção da vacina antirrábica e não conquistou expressão científica. A criação do Instituto Soroterápico Federal inseriu-se neste contexto mais geral de transformações na medicina como modelo o Instituto Pasteur de Paris, embora as duas instituições houvessem encontrado condições diversas para o desenvolvimento de suas atividades. Preocupado com a possibilidade de irradiação de um surto de peste bubônica na Capital Federal, como o que havia ocorrido em Santos, e frente à dificuldade de importação do soro de Yersin, o Prefeito do Rio de Janeiro, José Cesário de Faria Alvim, determinou a criação de um Laboratório soroterápico, seguindo a sugestão de Pedro Affonso de Carvalho Franco, primeiro e único barão de Pedro Afonso médico e professor, importante na introdução da vacina animal no país e proprietário do Instituto Vacínico Municipal.

O Instituto criado em 1894, era responsável pela produção da vacina antivariólica e pela distribuição de soro antidiftérico no Distrito Federal. O laboratório soroterápico foi instalado na fazenda de Manguinhos, na capital federal com uma propriedade de 35.000 m² pertencente à prefeitura, e distante da cidade “devido ao receio de contágio de doenças por parte da população”. José Cesário de Faria Alvim, advogado, economista, fazendeiro e político, foi presidente do estado de Minas Gerais, de 25 de novembro de 1889 a 10 de fevereiro de 1890 e de 18 de junho de 1891 a 9 de fevereiro de 1892. Cesário Alvim autorizou a despesa para a construção, aparelhamento e instalação do estabelecimento, segundo o projeto do Barão de Pedro Affonso, que era o responsável pela organização e direção administrativa do Instituto, ficando a direção técnica a cargo de Oswaldo Cruz. O castelo da Fiocruz foi inaugurado em 1918 e, ao lado do sonho de Oswaldo Cruz, o edifício tinha uma função concreta: abrigar o Instituto Soroterápico Federal responsável pela produção de medicamentos e vacinas, pela pesquisa em C & T e por outras atividades da área de Saúde Pública. A construção levou cerca de 13 anos e seu idealizador morreu antes que o prédio fosse concluído.

Além disso, o Castelo Mourisco não foi o único edifício construído pelo Instituto Soroterápico Federal, posteriormente transformado em Fundação Oswaldo Cruz. A da Casa de Chá, outros cinco pavilhões compõem o Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos, na cidade do Rio de Janeiro. Todos foram projetados e executados mais ou menos neste período, à exceção do Hospital Evandro Chagas. Dois deles estão tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: o Pavilhão do Relógio que foi criado para abrigar atividades relacionadas à peste bubônica e a Cavalariça também criada para abrigar cavalos saudáveis e inoculados com a peste. Além de atenderem necessidades do antigo Instituto Soroterápico Federal, os sete prédios têm outros aspectos comuns. Foram projetados pelo mesmo arquiteto e concebidos com o que havia de mais moderno, seja na área de arquitetura e engenharia, seja na montagem dos laboratórios. A formação da equipe também tem sido uma preocupação constante desde os primeiros tempos do instituto. Seu criador e diretor, o Barão Pedro Afonso, foi quem deu início à biblioteca que inclui um salão de obras raras. Conta-se que enquanto o prédio do castelo era construído, Oswaldo Cruz instituiu uma reunião semanal de trabalho que ficou reconhecida como “Mesa das Quartas-feiras”. Nesses encontros, ele distribuía artigos científicos que deveriam ser debatidos na semana seguinte.

As obras científicas adquiridas por esses dois primeiros diretores foram reunidas na Biblioteca de Manguinhos inaugurada em 1909, no terceiro andar do prédio, cerca de nove anos antes de sua conclusão. O acervo da biblioteca conta com cerca de 50 mil itens entre livros, manuscritos, dissertações, teses e periódicos. A biblioteca não se limita à área de medicina. Também fazem parte de seu acervo de obras raras o livro O Alhambra, de 1906, que teria influenciado Oswaldo Cruz na concepção do castelo Mourisco; e História Naturalis Brasilae, de 1648, a primeira obra a catalogar a região da Mata Atlântica de Pernambuco.  Seus autores, William Piso e Georg Marggraf, faziam parte da comitiva trazida ao Brasil por Maurício de Nassau.  A arquitetura do castelo e sua biblioteca já seriam mais do que suficientes justifica de visita a Manguinhos.

A compreensão do fenômeno literário tende a ser marcada por alguns sentidos, alguns marcados de forma mais enfática na história da cultura ocidental, outros diluídos entre os diversas utilidade de uso que o termo assume nos circuitos de cada sistema literário particular. Assim encontramos uma concepção clássica, surgida durante o Iluminismo que organiza e estabelece as bases de periodização usadas na estruturação do cânone ocidental; uma definição romântica na qual a presença de uma intenção estética do próprio autor torna-se decisiva para essa caracterização; e, finalmente, uma concepção crítica na qual as definições estáveis tornam-se passíveis de confronto, e a partir da qual se buscam modelos analíticos capazes de localizar o fenômeno literário e, apenas nesse movimento, defini-lo. Deixar a cargo do leitor individual a definição implica uma boa dose de subjetividade cultural. De qualquer forma, destas três denominações a clássica, a romântica e a crítica surgem conceitos de literatura especializada, cuja pluralidade não impede de prosseguir a classificações de gênero e exposição de autores e obras científicas.           

Nascido em Ribeirão Preto em 1941, Sergio Arouca morreu em 2003 e, com o seu falecimento, pela primeira vez na história centenária da Fiocruz “um corpo humano foi velado no Castelo de Manguinhos, que simboliza a instituição de pesquisa”. O velório, ocorrido em um domingo qualquer, atraiu centenas de amigos, admiradores, ex-alunos e autoridades que reconhecem em Arouca um dos grandes pensadores e líderes da Reforma Sanitária brasileira. Professor, pesquisador, político, homem de múltiplas funções sociais e atividades políticas, era como sanitarista que Arouca preferia ser reconhecido. No livro, biográfico Sergio Arouca – Um Cara Sedutor, escrito com emoção sociológica pela médica e professora Marília Bernardes Marques, que manteve uma amizade com a personagem sanitarista por cerca de 40 anos. Marília revela a trajetória do homem que foi visto por muitos que o conheceram como um exemplo extraordinário de talento, correção, honestidade e generosidade. Em sua visão mesmo vivendo em meios extremamente competitivos, conservou a afabilidade e a delicadeza. É uma etnografia de fatos acompanhados de perto por Marilia, muitos deles com a sua participação direta, a em que a autora lembra que ambos pertenceram ao que chama de “Geração dos Sonhos Coletivos”, aquela que imaginou um mundo mais solidário, fraterno e igualitário, movido pelos ideais de esquerda. A conquista da liberdade sexual e corporal, o enfrentamento e abandono de velhos comportamentos e hábitos, a luta contra uma medicina ainda presa a conceitos ultrapassados, muitas vezes de costas para a população – em especial a mais pobre – são descritos nos primeiros capítulos do livro, que recuperam o início da formação profissional e acadêmica de Arouca e os embates que o então jovem médico teve.

Marilia Marques discorre sobre o Sergio Arouca comunista – e que entrou para a militância do antigo Partidão ainda na adolescência, em 1956. Embora nunca tenha pegado em armas ou participado de qualquer ato violento contra a ditadura, Arouca combateu o regime militar com atitudes e palavras, deixando claro seu compromisso com a liberdade. A postura libertária foi uma característica que marcou o seu comportamento nos lugares onde trabalhou: na Universidade de Campinas, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz, nas secretarias estadual e municipal de Saúde do Rio de Janeiro, no Ministério da Saúde. A biografia resgata com detalhes o momento em que Arouca se tornou presidente da Fundação Oswaldo Cruz, em 1985, depois de nove anos atuando como professor da ENSP. Começava ali um amplo processo de revitalização da instituição, que a biógrafa chama de “resgate da alma da Fiocruz”. Arouca, em entrevista concedida ao tabloide Pasquim em 2002, disse que ao assumir a Fundação pegara “uma instituição que estava falida”. Ao se cercar de lideranças emergentes, com mentalidade inovadora, na área da saúde pública, ele conseguiu por novamente a instituição de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas na posição de destaque internacional que ela ocupou desde a sua fundação. Depois da Presidência da Fiocruz Arouca disputou a Vice-Presidência da República na chapa do senador Roberto Freire, em 1989. Embora derrotados, os dois conseguiram inserir o tema da Ciência & Tecnologia na pauta presidencial ao fazerem uma campanha limpa, propositiva e com ênfase nos direitos humanos, no meio ambiente, na educação, na saúde e na radicalização da experiência democrática no Brasil. Uma proposta socialista, em ruptura com a esquerda do passado e seus importantes dogmas.

Dogma é um termo de origem grega que significa literalmente “o que se pensa é verdade”. Karl Marx era notoriamente ateu. Com a emergência do pragmatismo no século XIX, ao longo do decorrer da história, podemos verificar que crer ou não crer, é uma questão importantíssima para a pessoa do crente ou mesmo do descrente, e claro, menos importante para os grupos humanos que se formam e se transformam à luz de rituais e doutrinas. Na antiguidade, o termo dogma estava ligado ao que parecia ser uma crença ou convicção, um pensamento firme ou doutrina. Os dogmas têm estas características porque os católicos romanos confiam que um dogma é uma verdade que está contida, implícita ou explicitamente, na imutável revelação divina ou que tem com ela uma conexão necessária. Para que estas verdades se tornem em dogmas, elas precisam ser propostas pela Igreja Católica diretamente à sua fé e à sua doutrina, através de uma definição solene e infalível e do posterior ensinamento destas pelo magistério ordinário da Igreja. Para que tal proclamação ou clarificação solene aconteça, são necessárias duas condições: a) o sentido deve estar suficientemente manifestado como uma autêntica verdade revelada por Deus; b) a verdade ou doutrina em causa deve ser proposta e definida pela Igreja como verdade revelada e parte integrante da fé católica.

Mas, a definição dos dogmas ao longo da história da Igreja não quer dizer que tais verdades só tardiamente tenham sido reveladas, mas que se tornaram mais claras e úteis somente para a Igreja na sua progressão na fé. A definição gradual dos dogmas não é contraditória com a crença católica de que a revelação divina é inalterável, definitiva e imutável desde a ascensão de Jesus. Em contrapartida, a práxis é o conceito central da filosofia de Marx, que está mais vivo nela. É a matriz da concepção original de história, uma concepção que, sendo materialista, reconhece o poder do sujeito de tomar iniciativas, fazer escolhas. Ipso facto, precisa de uma ética, como de valores que lhe permitam empenhar-se na transformação do mundo, na criação de um tipo melhor de sociedade pela qual valha a pena lutar. São os valores sociais e a credibilidade discursiva que nos fazem levantar da cama de madrugada para pensar melhor na vida. Marx nasceu em Trier, centro da região vinícola do vale do Mosela, no sudoeste da Renânia. Como centro de uma região puramente agrícola, os êxitos e os fracassos da cidade estavam estreitamente ligados à uva e à madeira. Vinhedos e bosques ocupavam as encostas que subiam do rio, e para além deles havia as florestas da região pobre de Hunsrück ao sul e o Eifel ao norte. Fundada como Áustria Treverorum nos anos de 16 a. C., e reivindicando o título de cidade mais antiga da Alemanha, Trier foi a capital da província romana da Gália Bélgica.

Em dado momento o principal centro da Gália, a cidade romana deve ter abrigado uma população em torno de até 80 mil habitantes. Depois de um declínio em importância administrativa no início da Idade Média, durante o século XII o arcebispo de Trier tornou-se príncipe-eleitor do Império, e a cidade desfrutou outro período de prosperidade durante os últimos tempos medievais. Mas em 1802, de acordo com as instâncias oficiais, a população de Trèves, como os ocupantes franceses a batizaram, era apenas de 8 846, e despencou para 7 887 com a retirada dos soldados e oficia franceses em 1814. Depois disso, a população voltou a crescer, e em 1819 totalizava 11 432 habitantes. O pai de Marx, Heinrich, nasceu em 1777 na contestada cidade fronteiriça de Saarlouis, terceiro filho de Meier Halevi Marx, o rabino da comunidade judaica da cidade. Em 1788, Meier Halevi mudou-se de residência para servir como rabino em Trier, onde permaneceu até a morte, em 1804. O irmão mais velho de Heinrich, Samuel, sucedeu ao pai no cargo até morrer, em 1827, enquanto Heinrich se tornou advogado. Bem sucedido em 1832 obteve a posição de Justizrat, o equivalente a jurisconsulto. Reconhecido como distinto jurista renano, Heinrich morreu em de maio de 1838.

A Prússia era um Estado cristão que se afirmava sobre o direito divino dos reis, e as igrejas cristãs eram como responsáveis pela sua liderança política. Um decreto de 1812, imposto pela Prússia, afirmou que os judeus não poderiam ocupar cargos jurídicos ou do serviço público, e a execução da lei trouxe problemas para Heinrich Marx. Os colegas de Marx, incluindo o Presidente do Supremo Tribunal Provincial, o defendeu e procurou uma exceção para ele. Porém, o ministro prussiano da justiça rejeitou seu apelo. Em 1817 ou 1818, Marx converteu-se ao cristianismo luterano. Sua esposa e crianças foram batizadas em 1825 e 1824. Isaiah Berlin escreveu que Heinrich Marx acreditava “que o homem é por natureza bom e racional, e que tudo o que é necessário para garantir o triunfo dessas qualidades é a remoção de obstáculo artificiais pelo caminho. Eles vão desaparecendo depressa, e o tempo se aproxima quando as últimas cidadelas da reação, a Igreja Católica e a nobreza feudal, se derreterão diante da marcha irresistível da razão”. Heinrich tornou-se um patriota e monarquista que educou sua família tendo como base as ideias de luteranos liberais. Ele educou seu filho em casa até os 12 anos de idade.

Depois de terminar o liceu em Tréveris, Karl Marx se matriculou na Universidade de Bonn em 1835, quando tinha 17 anos; pretendia estudar filosofia e literatura, mas seu pai insistiu que direito era um curso mais prático para ele. Em Bonn, Karl juntou-se à sociedade da bebida Landsmannschaft der Treveraner e numa ocasião oportuna “serviu como seu presidente”. Por causa das notas baixas na universidade, seu pai o obrigou a transferir-se para a Universidade de Berlim, “academicamente mais comprometida com a educação”, onde Karl deixou os estudos jurídicos e passou a se dedicar mais aos estudos de filosofia, economia e história. A mãe de Marx, Henriette Pressburg, nasceu em 1788 numa família judaica em Nimega, Holanda, onde era descrito como comerciante, cambista e coletor de fundos da loteria. Em 1814, ela casou com Heinrich, a quem provavelmente tinha sido apresentada por reconhecidos da família de Amsterdam. Deu a Heinrich nove filhos e morreu em 30 de novembro de 1863. Num momento entre 1816 e 1819, Heinrich foi batizado na Igreja cristã evangélica da Prússia. Os filhos também foram batizados por volta de 1824, seguidos por Henriette em 1825. O drama histórico por trás desses dados biográficos era o da Revolução Francesa, que resultou na tomada da Renânia pelos franceses, nas reformas do Império Napoleônico e, em 1815, na aquisição da Renânia pela Prússia, acontecimentos estes que testemunharam radicalmente o destino da família Marx. Heinrich não teria se tornado advogado, se não fosse pelos efeitos da Revolução. Jamais conseguiria licença para exercer a advocacia, se não fosse pelas inciativas educacionais, e não poderia ter continuado como advogado tendo em vista que não se adapta à política social restritiva com relação aos judeus depois de 1815.

Esses acontecimentos sociais e políticos de suma importância muito contribuíram para influenciar a concepção de mundo do jovem Karl Marx, suas relações com os pais e sua atitude geralmente perturbadora e negativa para com o passado judaico da família (cf. Marx, 1964). Antes de 1789, os pensadores mais simpáticos aos judeus tinham sido protestantes exilados na Holanda, como os que viviam em volta de Pierre Bayle e Jacques Basnage, ou livres pensadores na Inglaterra, que contribuíram para a formação do discurso filosófico sobre o conceito de tolerância, na modernidade como John Toland, que reivindicavam liberdade de crença para todas as religiões. Ele lembrou em 1961 que em seus primeiros anos como escritor ele havia sido “o maior fracasso que um homem pode ser”. Disciplinado, entretanto, ele afirmou ter escrito seis romances completos, 26 peças e cem contos antes de completar sua primeira venda, um conto pelo qual a American Magazine pagou US $ 165 em 1954. Em 1792-1793, exércitos tomaram o sul da Renânia e estabeleceram uma república jacobina no eleitorado religioso de Mainz, conjunto ao de Trier; em 1794, tomaram toda a esquerda do Reno e ali permaneceram até a queda de Napoleão em 1815. A Renânia tornara-se parte da República francesa, e subsequentemente do 1º Império. A doutrina dos direitos universais tinha, portanto, que ser posta em prática nesta ocasião. A situação da população judaica de 22 mil judeus na majoritariamente católica Renânia variava significativamente de um território para outro.                  

Mudanças sociais e políticas muito mais dramáticas ocorreram na vida dos judeus da Renânia sob o domínio de Napoleão. Na década de 1790, os jacobinos tinham adotado, de modo geral, uma atitude exploradora para com a população local. Tinham fechado as quatro universidades da Renânia – Bonn, Colônia, Trier e Mainz – e rebocado tesouros artísticos para Paris. Napoleão, diferentemente, estava decidido a cortejar a colaboração das elites sociais. Aboliu o calendário revolucionário e apoiou costumes e feriados consensuais incluindo o Dia de São Napoleão, que passa a ocorrer em 2 de dezembro de 1804. De pouca paciência com as humanidades e os cursos tradicionais das universidades, era entusiasmado defensor das disciplinas de formação profissional. Fora as ciências aplicadas, ele se interessava particularmente em promover a jurisprudência como meio de apoiar seu recém-construído e definitivo código legal, o Código Napoleônico. Em 1801, basicamente para pacificar a área francesa ocidental da Vendeia, o coração da resistência monárquica e eclesiástica à República secular, Napoleão fez também uma concordata com o papa. Tendo removido as objeções católicas ao governo, ele tomou medidas subsequentes destinadas a estender uniformidade administrativa e outras confissões, principalmente referidas a protestantes e judeus. Sua justificativa era que “o povo precisa ter uma religião”, e “essa religião deve estar sob controle do governo”. “Minha política”, declarou ele, “é governar os homens como a maioria deseja ser governada. É dessa maneira, acredito, que se reconhece a soberania do povo. Se governasse um pouco de judeus, eu reconstruiria o Templo de Salomão”. 

A capacidade de crer parece estar em recessão em todo o campo político. A tática é a arte do fraco. O poder se acha amarrado à sua visibilidade, mas esta, é uma armadilha. Mas a vontade de “fazer crer”, de que vive a instituição, fornecia nos dois casos um fiador a uma busca de amor e/ou de identidade. Importa então interrogar-se sobre os avatares do crer em nossas sociedades e sobre as práticas originadas a partir desses deslocamentos. Durante séculos, supunha-se que fossem indefinidas as reservas de crença. Aos poucos a crença se poluiu, como o ar e a água. Percebe-se ao mesmo tempo não se saber o que ela é. Tantas polêmicas e reflexões sobre os conteúdos ideológicos em torno do voto e os enquadramentos institucionais para lhe fornecer não foram acompanhadas de uma elucidação sobre a dimensão social e política acerca da natureza do ato de crer. Os poderes antigos geriam habilmente a autoridade. Hoje são os sistemas administrativos, sem autoridade, que dispõem de mais força em seus “aparelhos” e menos de autoridade legislativa. Portanto, metodologicamente, queremos dizer com isso, que sem se reconhecer a determinação das ideologias historicamente (condicionadas) como a consciência prática dos rituais das sociedades de classe, a estrutura interna permanece completamente ininteligível para a conceituação social.

É neste sentido que devemos diferenciar, entretanto, três posições ideológicas fundamentalmente distintas, com sérias consequências para os tipos de conhecimento compatíveis com cada uma delas. A primeira apoia a ordem estabelecida com uma atitude acrítica, adotando e exaltando a forma vigente do sistema dominante, por mais que seja problemático e repleto de contradições, tendo como o horizonte absoluto da própria vida social. A segunda, exemplificada por pensadores de perspectivas radicais como Jean-Jacques Rousseau, revela acertadamente as irracionalidades da forma específica de uma anacrônica sociedade de classes que ela rejeita a partir de um ponto de vista. Mas sua crítica é viciada pelas próprias contradições de sua própria posição social, igualmente determinada pela classe social, ainda que seja historicamente evoluída. E a terceira, contrapondo-se às duas posições sociais anteriores, questiona a viabilidade histórica da própria sociedade de classe, propondo, como objetivo central de sua intervenção prática consciente, a superação de todas as formas de antagonismo de classe. Apenas o terceiro tipo social de ideologia pode tentar superar as restrições associadas com a produção do conhecimento prático dentro do horizonte da consciência social dividida, sob as condições da sociedade dividida em classes sociais. A questão prática pertinente, então, permanece a mesma, melhor dizendo, sugere como resolver pela luta o conflito fundamental relativo ao direito de controlar o “metabolismo social” como um todo.

A censura no Brasil, tanto cultural como política, vem durante todo o período após a colonização e recolonização do país. Embora a maioria da censura estatal tenha terminado pouco antes do período da redemocratização que começou em 1985, o Brasil ainda experimenta uma larga quantidade de censura aparentemente não oficial hoje. A legislação restringe a liberdade de expressão em relação ao racismo, e a Constituição Federal promulgada em 1988, proíbe o anonimato, embora a liberdade de expressão seja cumprida. Com o golpe de Estado de 17 de abril de 2016 tudo volta a ser como dantes no quartel de Abrantes. A música da banda “Os Paralamas do Sucesso”, intitulada: “Luís Inácio (300 Picaretas)”, tematizada a partir de uma frase do ex-presidente da República Lula, em que ele dizia que a Câmara são alguns homens honrados e uma maioria de 300 picaretas, lançada em 1995, fazia protestos sobre a política brasileira, mencionando os chamados “anões do orçamento” e a corrupção geral. O deputado mineiro Bonifácio Andrada se indignou, vetou a música em um show em Brasília, Distrito Federal, e lançou um protesto autoritário no Congresso nacional, querendo proibir a canção, o que a imprensa logo considerou anticonstitucional. O processo ideológico não deu em quase nada, apenas vetaram a exibição de “300 Picaretas” em rádios e lojas de discos.  

A polêmica toda ajudou os “Paralamas” a voltarem para os holofotes após um período obscuro. O documentário “Di Cavalcanti” (1976), um curta-metragem de 18 minutos realizado pelo cineasta Glauber Rocha numa homenagem ao pintor brasileiro Di Cavalcanti (1897-1976), por ocasião de sua morte, teve sua divulgação no Brasil proibido judicialmente, neste caso, a pedido da filha de Di Cavalcanti. No filme, foram incluídas algumas cenas do velório de Di Cavalcanti no Museu de Arte Moderna (MAM), no extraordinário Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, bem como de seu enterro. Segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo, o sobrinho de Glauber Rocha, João Rocha, teria “driblado” a proibição colocando comercialmente o vídeo na Internet – rede mundial de computadores, em provedores fora do Brasil, para o “internauta” baixar determinado arquivo temático livremente. Em 3 de novembro de 1999, o estudante de medicina Mateus da Costa Meira, então com 29 anos, matou três pessoas e feriu outras quatro durante uma sessão do filme “Clube da Luta” em um cinema de São Paulo. Mateus ficou marcado ou reconhecido como “o atirador do shopping”. É um filme norte-americano dirigido por David Fincher, baseado no romance homônimo de Chuck Palahniuk, publicado em 1996. O filme é protagonizado por Brad Pitt, Edward Norton e Helena Bonham Carter.

Norton representa o protagonista anônimo, um “homem comum” que está descontente com o seu trabalho de classe média na sociedade americana. Ele forma um “clube de combate” com o vendedor de sabonetes Tyler Durden, representado por Brad Pitt, e se envolve com uma mulher dissoluta, Marla Singer, representada por Helena Bonham Carter. Foi condenado em 2004 a 120 anos de prisão. Em depoimentos ele teria citado o jogo Duke Nukem 3D, que traz um cinema em um trecho da primeira fase. Mesmo quase quatro anos depois de lançado, o jogo teve a venda proibida. Desde 18 de janeiro de 2008, a comercialização de livros, encartes, etc., contendo o jogo “Counter-Strike” está proibida em território brasileiro: “pois é muito violento”, conforme decisão da justiça do país. O juiz responsável argumenta que Counter-Strike e o jogo Everquest “trazem imanentes estímulos à subversão da ordem social, atentando contra o Estado democrático e de direito e contra a segurança pública, impondo sua proibição e retirada do mercado”. Ainda é possível, no entanto, utilizar o gerenciador Steam, a quem interessar possa, para comprar eletronicamente qualquer versão deste jogo. Como a comercialização foi proibida, a censura falhou, por desconhecimento da versão 1.5  gratuita, portanto, não são comercializáveis, continuam de livre circulação na rede. 

Em várias conjunturas econômicas ou políticas a chamada liberdade de imprensa é questionada pelos censores de plantão. Muitas reportagens recebem censura prévia por serem muito sensacionalistas e, em várias vezes, inventadas. No entanto, existem alguns casos um pouco controversos. Em outubro de 2002 o jornal Correio Braziliense é proibido de publicar, com possibilidade de busca e apreensão de eventuais exemplares já impressos, uma matéria que divulgaria trechos de escutas telefônicas de funcionários do chamado “alto escalão” do governo do Distrito Federal. De acordo com o jornal, tais pessoas estariam envolvidas com processos ilegais de “loteamentos de territórios”. Em protesto contra a censura, o jornal publicou matéria alegando ter sido censurado e, no dia seguinte, seus diretores de redação pediram demissão. Apesar de o Ministério da Cultura considerar jogos eletrônicos obras culturais e de expressão, aparentemente não existe nenhum movimento público contra a proibição de jogos no país. Várias novelas de televisão foram censuradas por diferentes motivos que vão do moralismo ao controle ideológico. Além das censuras que causam controvérsia, também materiais e espaciais, tiveram a sua veiculação proibida de acordo com determinados valores sociais.          

A pregação socialista pelo país e a seriedade de seu projeto político, mutatis mutandis, levaram Sergio Arouca a ser eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1990. Ele viveu novamente a derrota em 1992, ao concorrer ao cargo de vice-prefeito do Rio de Janeiro na chapa de Benedita da Silva, nascida no Rio de Janeiro, 26 de abril de 1942, uma servidora pública, professora, auxiliar de enfermagem, assistente social e política brasileira filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Foi a 59ª governadora do Rio de Janeiro e atualmente é deputada federal. É esposa do ator Antonio Pitanga e madrasta da atriz Camila Pitanga e do ator Rocco Pitanga, em 1996, quando disputou a prefeitura carioca já pelo Partido Popular Socialista (PPS) – agremiação da qual foi um dos fundadores ao sair do Partido Comunista Brasileiro. Arouca voltou a saborear o gosto da vitória (a última) em uma eleição em 1998, quando voltou ao Congresso Nacional como deputado federal representando o Rio de Janeiro. Em 2003, Arouca assumiu aquele que foi seu último cargo público: o de secretário de Gestão Participativa do Ministério da Saúde, cargo no qual convocou a 12ª Conferência Nacional de Saúde – que ele não viu ser realizado por ter morrido alguns meses antes.

Marilia encerra o livro fazendo um apelo para que Antonio Sergio da Silva Arouca não seja esquecido. A trajetória pessoal e profissional como seus muitos exemplos de vida que deixou e a biografia publicada contribuem bastante para que o pedido seja atendido. Primeira senadora negra do Brasil, também sendo ativista política do Movimento Negro e assumidamente feminista, Benedita Sousa da Silva nasceu no dia 26 de abril de 1942, no Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro. Filha da lavadeira Maria da Conceição Sousa da Silva, e do pedreiro e lavador de carro José Tobias da Silva. A família era “extremamente humilde, e viviam na favela da Praia do Pinto”, no Leblon. Esta comunidade não existe mais, pois foi completamente destruída nos anos 1960 por um incêndio. Ainda recém-nascida, foi morar na reconhecida favela do Chapéu-Mangueira, no Leme, onde foi criada. Com uma família numerosa de 14 irmãos, todos precisaram interromper os estudos para ajudar nas despesas do lar. Benedita, apelidada de Bené, passou a trabalhar ainda na infância, vendendo limões e amendoins pelas ruas da cidade.

Na adolescência foi trabalhar como tecelã em uma fábrica de tecidos, e em casa ajudava sua mãe a lavar, passar e entregar as roupas dos clientes.  Por ocasião das comemorações do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, em 1965, e também por seu ativismo político desde muito cedo, foi indicada como representante do bairro de Copacabana, no concurso de mulheres sambistas promovido pela Prefeitura, tendo sido eleita a Miss IV Centenário. Em 1968 batizou-se nas águas, convertendo-se ao evangelismo, no seguimento Assembleia de Deus. Foi nas décadas de 1960-70, tempos de agitação social devido ao regime militar, que Benedita e sua amiga Marcela reuniram diversas mulheres do Chapéu-Mangueira para enfrentar a difícil situação da comunidade, saindo as ruas em protestos e cobrando melhorias, resistindo também às investidas da polícia. Com ajuda da comunidade, fundou o Departamento Feminino da Associação de Moradores do Chapéu-Mangueira. Logo depois do renascimento do movimento feminista carioca em 1975, essa pioneira associação de mulheres da comunidade, na falta de melhor expressão, procurou o Centro da Mulher Brasileira, para articular um trabalho social em conjunto, promovendo uma relação social ou troca histórica de experiências de vida entre estratos sociais diferentes: A classe média ilustrada e as mulheres moradoras do morro.

Benedita percebeu que sua saída era estudar, para conseguir se manter atuante no movimento político em prol de sua comunidade. Com esforço, voltou aos estudos, tentando conciliar com seu trabalho de faxineira as aulas do Colegial e posteriormente do pré-vestibular. Primeiramente formou-se em um curso de Auxiliar de Enfermagem, saindo do trabalho de faxineira, onde conseguiu trabalho em um hospital, para ganhar melhor e poder pagar um bom preparatório para o curso de serviço social, conseguindo aprovação alguns anos depois. Formou-se em Serviço Social no ano de 1982.  Sua atuação política nos movimentos sociais de favela, no movimento negro e de mulheres foi o início para sua candidatura como vereadora nas eleições municipais de 1982 pela legenda do Partido dos Trabalhadores (PT). Eleita, sua trajetória política foi meteórica, tornando-se a primeira mulher afro-brasileira a atingir os mais altos cargos da história do Brasil: Vereadora e deputada federal constituinte, reeleita para um segundo mandato em 1990, sendo eleita senadora em 1994, com mais de 2 milhões e 400 mil votos, e vice-governadora no pleito de 1998. Seus mandatos foram marcados pela defesa das minorias sociais. É de sua autoria o projeto que inscreveu Zumbi dos Palmares no panteão dos heróis nacionais; instituiu o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, além de outros projetos que propõem a inclusão de negros nas produções das emissoras de televisão, filmes e peças publicitárias. Também criou Delegacias Especiais para apurar crimes raciais, a obtenção de cota mínima em Instituições de Ensino Superior (IES), obrigatoriedade do quesito etnia em documentos oficiais, assinou a Lei contra o assédio e a favor dos Direitos Trabalhistas extensivos às empregadas domésticas. Bené teve sua iniciação política no movimento comunitário na favela: - “A militância política do pobre começa no berço, no bairro, e não no partido. Foi na rua que aprendi que preciso lutar pela igualdade social para os homens e as mulheres!”.

O discurso preventivista na definição conceitual de Arouca (1975) encontra sua superfície primeira de emergência na adjetivação da Medicina, constituindo um “outro”, que lhe é simultaneamente igual e diferente, ou seja, ao agregar-se o adjetivo “Preventiva” à Medicina, ela separou-se do espaço limitado das condutas preventivas para constituir-se em uma nova estrutura reflexiva que, referida à Medicina, representava também a sua transformação. Assim, a Medicina Preventiva ocupava o próprio espaço da Medicina, sendo também a sua alternativa. Trata-se de um discurso que fala de uma medicina adjetivada que se torna no próprio futuro da medicina. Assim, o discurso adota uma grade de especificação, que lhe permite uma separação dos objetos próximos, como a Medicina Social e a saúde Pública, as cujo resultado nada mais é de que a afirmação de sua identidade com a própria Medicina. A relação mantida entre estes dois elementos não adquire a natureza de uma oposição de contrários, mas, sim, de uma coexistência no tempo e no espaço, entre o “que é” e o “que poderia ser”, de forma tal que o segundo elemento assume a tarefa de transformação do “que é”. A Medicina Preventiva surge como projeto e como processo de transformação. Assumindo a relação de identidade e mudança técnico-metodológica da Medicina, “o discurso preventivista toma como seu objeto a saúde e a doença, a prática e a educação médica”.

 Este discurso é instaurado na sociedade através de uma institucionalização de espaços discursivos, como os Departamentos de Medicina Preventiva, as Associações Nacionais de Escolas Médicas, as diferentes instituições internacionais, como a Organização Panamericana de Saúde, Federação Panamericana de Escolas de Medicina e as Fundações como a Kellogg, Ford, Rockefeller, etc. Portanto, as instâncias de delimitação do discurso preventivista espraiam-se em uma rede que vai desde o nível local propriamente executivo até um nível internacional que representa a instância normativa, legitimadora, financiadora e instauradora do nível local. No Seminário de Colorado Spring, segundo Arouca (1975: 149), o vice-presidente da Fundação Rockefeller comenta as três características da Medicina Preventiva, sendo a primeira a maturidade, já que ela representa o último estágio do conhecimento e da prática médica que se pode pensar diante dos atuais fatos sociais e conhecimentos; a segunda, que ela é compreensiva por sua própria natureza; e a terceira, que ela é eventual.

 Nos Seminários de Viña del Mar e Tehuacan, participaram representantes da Fundação Rockefeller e do Instituto de Assuntos Interamericanos, a Fundação Milbank financia a formação de pessoal docente para os Departamentos de Medicina Preventiva e, atualmente, a Fundação Kellogg financia, através da Federación Panamericana de Asociaciones de Facultades y Escuelas de Medicina (FEPAFEN), programas de Medicina de Comunidade nas Américas. Este tipo de relação, promovendo um fluxo de recursos para os diferentes níveis, determina uma grande mobilização de pessoas através de bolsas, seja para um treinamento acadêmico em centros de pós-graduação, seja para observação e troca de experiências ou para o financiamento de projetos de demonstração e investigação. A instância normativa do nível internacional se faz na composição de uma formação discursiva, que é prescritiva por excelência, na transformação do discurso em Parecer, que fala sobre um “que fazer”, sobre uma prática que existe antes no discurso do que no mundo concreto. Discurso que se afirma causal em relação à prática, já que a antecede no mundo da consciência e a cria após a “Grande Depressão” e reforçada no após grande Guerra, de que a História precisa ser dirigida, corresponde a montagens de mecanismos de intervenção econômica estatal, nos subsistemas centrais e nos subsistemas periféricos. O Parecer ao ser prescritivo aponta para a instauração de tal tipo de prática, que seria obviamente legitimada ao nível internacional pelo reconhecimento da adesão, e per se a mudança social da prática médica em seu momento preventivista é um fato político do tipo de planejamento indicativo internacional ou nacional.

Neste sentido sobre as regras da formação do discurso preventista, ou seja, as condições concretas de existência dos elementos que compõem este discurso, em sua singularidade de acontecimento em um espaço finito, emergem em três aspectos: 1. A formação dos objetos; 2. A formação das modalidades discursivas; 3. A formação dos conceitos. As formas predominantes dos enunciados do discurso preventivista são: 1º) a reorganização do conhecimento existente em termos de modelos, como o da História Natural das Doenças, a partir da qual é deduzida uma série de conclusões que aparecem como condutas a serem seguidas pelos profissionais médicos; 2º) a combinação de uma abordagem epidemiológica sedimentada com todo um instrumental estatístico que possibilite a construção de enunciados baseados em deduções, estimativas, associações causais, inferências; com uma abordagem clínica que comporte raciocínio hipotético-dedutivo e todo um sistema classificatório próprio; 3º) as descrições qualitativas das experiências pessoais ou institucionais do setor em relação a programas de ensino, experiências de campo, viagens de estudo, de sucessos ou fracassos, de integração ou mudança, de trabalhos multidisciplinares, etc.; 4º) a combinação, em um mesmo discurso, de objetos vindos de diferentes áreas no âmbito das Ciências Sociais, a Administração, a Ecologia, a Psicologia Social, a Pedagogia, e assim por diante, todas elas contidas em um conhecido modelo de dominação da abordagem biológica.       

 O segundo nível da formação das modalidades discursivas comporta uma análise do sujeito que enuncia, assim, o sujeito do discurso preventivista distribui-se pelos diferentes níveis de organização do movimento. No nível local dos Departamentos, está constituído por profissionais que, em um primeiro instante, vieram das mais diferentes áreas da Medicina ou da Saúde Pública, comprometidos com uma nova visão da Medicina. Assim refere-se Gilbert Ryle (1949) esta mudança: - “Some of my friends have rebuked me for leaving the clinical fold. I reply in effect that I have merely taken the necessary steps to enlarge my field of vision and increase my opportunities for actiological study”. Os sujeitos ao nível Departamental, assumem simultaneamente posição na “prática discursiva”, como também são os sujeitos de todas as práticas decorrentes do discurso, sendo profetas e guerreiros de um vir “a ser”.

O direito e o estatuto de tal posição estão centrados em cima da posição desta nova consciência que assume a crítica da medicina e lhe propõe uma alternativa, portanto posição de sujeito pode ser assumida em qualquer espaço ou lugar, desde que brote esta nova consciência que, em última análise, é a marca (ou o signo) que caracteriza a possibilidade de ser sujeito dentro desta formação discursiva. O nível internacional, que opera em um mecanismo produtor de normas, adesões e limitações, cria suas próprias categorias de sujeito. Assim, 1º) o funcionário internacional, cuja função é participar na produção e organização de um discurso orgânico do movimento, bem como organizar as instâncias de legitimação e de troca de divulgação de experiências. 2º) o expert, cuja função é emitir o discurso orgânico, sendo uma metamorfose do professor ou investigador, resguardado por uma “experiência prática”, que o legitima. O consultor que assessora as próprias organizações no desdobramento dos seus discursos ou os executantes na aderência de suas práticas a estes discursos. No conjunto, a prática social destes intelectuais é dar coerência e unidade ao projeto, na combinação de um discurso ideológico articulado com o discurso científico, ou seja, através de um “saber” que, sendo indicativo, orienta a criação de um conjunto de experiências no espaço social.

O discurso preventivista privilegia, na formação dos conceitos, as formas de coexistência. Em uma primeira instância, existe um campo de presença, representado pelo conjunto de enunciados já formulados nos vários ramos do saber médico e que servem como material para a fundamentação de suas proposições e como crítica da própria medicina. Assim, o campo de presença situa em um mesmo espaço, o da História Natural, dado o conhecimento relativo a um complexo de objetos de pensamentos que são unificados dentro da estrutura do modelo. Combinado com este, o campo de concomitância faz convergir para a mesma estrutura enunciados de outros discursos, como a sociologia e a psicologia. Porém, o fundamental é que o discurso opera uma biologização do campo de concomitância, de tal forma que os enunciados provenientes de domínios diferentes são incorporados sob uma dominância dos conceitos biológicos e fundamentalmente médicos. Assim, o saber clínico e epidemiológico rege as formas de introdução de enunciados associados ou dependentes dentro da estrutura básica.

O domínio da memória opera nas formas de coexistência, no sentido de exemplificar a sucessão histórica que representa a Medicina Preventiva em relação à Higiene e à Medicina Curativa, de tal forma que se estabelece uma relação de filiação com a Higiene e de transformação com a Medicina Preventiva, ambas situadas diante de uma continuidade essencialmente teleológica. Em relação aos procedimentos de intervenção, o ponto fundamental de crítica é que, na associação da Medicina Preventiva com a Estatística, gerou-se um processo de formalização do conhecimento médico, na tentativa de transformação dos enunciados qualitativos em quantitativos. Esta dominância colocou o instrumental estatístico em uma posição central dentro do discurso preventivista, significando, também, sua forma de validação e legitimação. Trata-se, portanto, de um campo conceitual que combina proposições extremamente subjetivas com “atitudes”, bem estar físico, social e mental, e de toda uma tentativa de uma linguagem formal, como se esta atribuísse à primeira o estatuto de um rigor científico.

O discurso preventivista privilegia, na formação dos conceitos, as formas de coexistência. Em uma primeira instância, existe um campo de presença, representado pelo conjunto de enunciados já formulados nos vários ramos do saber médico e que servem como material para a fundamentação de suas proposições e como crítica da própria medicina. Assim, o campo de presença situa em um mesmo espaço, o da História Natural, dado o conhecimento relativo a um complexo de objetos que são unificados dentro da estrutura do modelo. Combinado com este, o campo de concomitância faz convergir para a mesma estrutura enunciados de outros discursos, como a sociologia e a psicologia. Porém, o fundamental é que o discurso opera uma biologização do campo de concomitância, de tal forma que os enunciados provenientes de domínios diferentes são incorporados sob uma dominância dos conceitos biológicos e fundamentalmente médicos. Assim, compreendemos que o saber clínico e epidemiológico rege as formas de introdução de enunciados associados ou dependentes dentro desta estrutura básica.

Bibliografia geral consultada.

AROUCA, Antônio Sérgio da Silva, O Dilema Preventivista. Contribuição para a Compreensão e Crítica da Medicina Preventiva. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1975; Idem, O Dilema Preventivista – Contribuição para a Compreensão e Crítica da Medicina Preventiva. São Paulo: Universidade Estadual Paulista; Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2003; ESCOREL, Sarah, Reviravolta na Saúde: Origem e Articulação do Movimento Sanitário. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1999; MENICUCCI, Telma Maria Gonçalves, Público e Privado na Política de Assistência à Saúde no Brasil: Atores, Processos e Trajetória. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007; PAIM, Jairnilson Silva, Reforma Sanitária Brasileira: Contribuição para a Compreensão e Crítica. Salvador: Editora de Universidade Federal da Bahia;  Rio de Janeiro: Editora Fundação OswaldoCruz, 2008; FRANCO NETTO; ABREU, Regina (Coord.), Arouca meu irmão, uma trajetória a favor da saúde coletiva. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editor Contracapa, 2009; FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; SOUZA, Filipe Leonardo Cardoso de, A Evolução da Rede de Transporte Coletivo por Ônibus e a Expansão Viária: O Caso da Linha Amarela. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação de Engenharia de Transporte. Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016; FLEURY, Sonia (Org.), Teoria da Reforma Sanitária: Diálogos Críticos. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2018; CARNUT, Leonardo; MENDES, Áquilas; MARQUES,  Maria Cristina da Costa, “Outra Narrativa no Ensino da Reforma Sanitária Brasileira: O Debate Crítico de uma Escolha Política”. In: Saúde Debate. Rio de Janeiro, vol.43, Número Especial 8, pp. 133-145; dez. 2019; BORGES, Camila Furlanetti; BAPTISTA, Tatiana Wargas de Faria, “Leituras sobre o Sanitarismo Desenvolvimentista e Interpretações para a Reforma Sanitária Brasileira e a Saúde Coletiva”. In: Análise - Hist. cienc. saude-Manguinhos 28 (1), Jan-Mar 2021; VIRGENS, João Henrique Araújo; TEIXEIRA, Carmen Fontes, “Estudos sobre o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira: olhares diversos sobre um mesmo fenômeno”. In: Saúde Debate. Rio de Janeiro, vol. 46, nº 132; pp. 211-226, jan. Mar., 2022; entre outras.

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