quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Escola de Artes Visuais Parque Lage, Rio de Janeiro.

 

O gratuito significa sempre uma forma de dominação”. Richard Sennett

      

            O Parque Henrique Lage, ou simplesmente Parque Lage é um parque público, localizado aos pés do morro do Corcovado, na rua Jardim Botânico na cidade do Rio de Janeiro. A origem dos parques urbanos é do século XVIII voltados ao interesse da coroa portuguesa nas potencialidades econômicas da natureza brasileira.  O parque possui uma área em torno de 52 hectares e foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 14 de junho de 1957, como patrimônio histórico e cultural da cidade do Rio de Janeiro. O palacete abriga, desde 1966, o Instituto de Belas Artes que deu origem em 1974 à Escola de Artes Visuais. Desde 2004, o Parque Lage é parte integrante do complexo Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, sob a administração do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, estando o palácio sob tutela da própria escola. A Escola de Artes Visuais do Parque Lage, localizada no Parque Lage e por isso comumente referida, é uma escola de arte visual.

A principal construção do Parque Lage é o palacete no estilo eclético romano. O terreno segue estilo romântico europeu projetado em 1840 pelo paisagista inglês John Tyndale (1820-1893). O casarão foi construído no século XIX, com pátio central, piscina e terraço. Está situado aos pés do Morro do Corcovado e integra parte da Floresta da Tijuca com vegetação típica de Mata Atlântica.  Localizado na Zona Sul do município, o bairro contava com 20 014 habitantes em 2000 e teve uma queda para 18 009 em 2010. O rendimento nominal mensal do bairro é entre 5 (cinco) e 10 (dez) salários mínimos. Faz divisa com os bairros da Lagoa, Gávea, Humaitá e Alto da Boa Vista. O bairro é ligado à Zona Norte, pelo túnel Rebouças, perto da divisa com o bairro da Lagoa. A população do bairro é tipicamente classificada sociologicamente de classe média alta e alta. Sua via de comunicação principal é a Rua Jardim Botânico, que se estende peloo bairro sendo um eixo viário da Zona Sul carioca, ligando o bairro aos vizinhos bairro Humaitá e bairro Gávea, e dando acesso da Zona Oeste da cidade.

O Horto Florestal, nos arredores da Rua Pacheco Leão, outrora habitada principalmente por operários em vilas, na sua maioria ex-funcionários do Jardim Botânico, atualmente há muitos barzinhos e restaurantes na região. O bairro possui uma arquitetura bastante variada. Algumas de suas construções mais antigas ainda estão de pé, porém a maioria dos prédios é bastante moderna, já que o bairro é novo em relação à história da cidade. Nas margens das montanhas encontram-se algumas belas casas de famílias de alto poder aquisitivo. O bairro do Jardim Botânico leva esse nome por ser a localização do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, instituição científica criada em 1808 com a chegada de D. João VI ao Brasil. A transferência da corte portuguesa para o Brasil estava relacionada com os eventos políticos que ocorriam na Europa durante o período de domínio napoleônico. O imperador da França, Napoleão Bonaparte, determinou o Bloqueio Continental em 1806, que proibia as nações europeias de comercializar com a Inglaterra, para “sufocar a economia” (suffocate our Economy) inglesa e forçar a derrota desse país, uma vez que a França demonstrava-se incapaz de invadir a Inglaterra. 

Para impor o Bloqueio Continental, Napoleão ordenou a invasão da Espanha e de Portugal. As tropas francesas invadiram Portugal oficialmente em 1807. Em razão disso, D. João VI ordenou a transferência da corte portuguesa para o Brasil evitando ou fugindo das ameaças de Napoleão Bonaparte. O embarque da corte portuguesa aconteceu entre os dias 25 e 27 de novembro de 1807. Estima-se com o deslocamento que de 10 a 15 mil pessoas tenham se mudado para o Brasil junto com o rei português. Durante essa viagem, muitos desafios foram enfrentados, como tempestades, falta de alimentos e surto de piolhos. D. João VI trouxe toda a estrutura de poder de Lisboa para o Rio de Janeiro, ou seja, um sistema global de relações de influência entre quaisquer indivíduos e todos os demais indivíduos dentro de um grupo específico de pessoas, incluindo importantes obras de arte e literárias e os recursos dos cofres reais etc. Há uma expressiva quantidade de vegetação, por consequência de o bairro abrigar o Parque Lage, o histórico Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que batizou o bairro, e parte da Floresta da Tijuca. Todos estes fatores dão ao bairro um grau de vegetação raro em uma cidade que, além do Jardim Botânico, conta com o Parque Lage, com 52,2 ha com a sede da residência da família Lage, desapropriado em 1976.


A quantidade de vegetação e a proximidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas dão ao bairro uma temperatura mais amena que a média da cidade do Rio de Janeiro. O bairro esteve durante muitos anos no imaginário individual (sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) dos brasileiros por ser o local onde ficava o lendário Teatro Fênix, onde eram gravados os programas de auditório famosos de Xuxa, Fausto Silva, Chacrinha e Os Trapalhões. O endereço do Teatro Fênix na Rua Saturnino de Brito, 74, se tornou muito popular quando a apresentadora Xuxa Meneghel pedia para os telespectadores enviarem cartas para o “Xou da Xuxa”. Em 2010, o bairro ganhou uma estátua de bronze do Chacrinha, na Rua General Garzon. O local escolhido para a homenagem fica no caminho que o apresentador fazia para ir ao antigo estúdio da Rede Globo no Teatro Fênix. Artes visuais abrangem qualquer forma de representação visual de cor e forma. As artes visuais são formas de arte, cerâmica, desenho, pintura, escultura, gravura, design, artesanatos, fotografia, vídeo, produção cinematográfica e arquitetura. 

Muitas disciplinas artísticas, a saber: artes cênicas, arte conceitual, artes têxteis, envolvem aspectos das artes visuais, bem como artes de outros tipos. Também incluído no campo das artes visuais são as artes aplicadas ao desenho industrial, desenho gráfico, design de moda, design de interiores e arte decorativa. As representações visuais dramáticas, como cinema, teatro e música, também se incluem nessa área. Os primeiros cursos foram criados na década de 1970 e tinham como objetivo formar educadores de Artes Cênicas, Desenho, Artes Plásticas e Música. A principal edificação do Parque Lage é o palacete no estilo eclético romano. O casarão foi construído no século XIX, com pátio central, piscina e terraço. O parque está situado em área de 52 hectares, aos pés do Morro do Corcovado e parte da Floresta da Tijuca com vegetação típica de Mata Atlântica. O parque-escola conta com alguns jardins, que seguem um estilo romântico europeu projetados por John Tyndale. Os Jardins frontais são geométricos no estilo francês, gramados e descampados, com chafariz e bancos ao redor onde é possível ver o Cristo Redentor, uma estátua art déco que retrata Jesus Cristo, localizada no topo do morro do Corcovado, a 709 metros acima do nível do mar, com vista para parte considerável da cidade do Rio de Janeiro. Os Jardins laterais seguem o estilo inglês, compostos pela densa vegetação, a disposição de diferentes tipos de plantas e flores.

O Parque Nacional da Tijuca é uma unidade de conservação brasileira de proteção integral da natureza localizada integralmente na cidade do Rio de Janeiro. Entre os pontos turísticos do parque, trilhas, grutas e cachoeiras, encontram-se marcos famosos da cidade, como a Pedra da Gávea, o Corcovado, e o Pico da Tijuca, ponto mais alto do parque, elevando-se 1.022 metros acima do nível do mar. De relevo montanhoso, inclui áreas do Maciço da Tijuca. É administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. A área é composta por vegetação secundária, uma vez que é fruto de um reflorestamento promovido à época do Segundo Reinado, quando se tornou patente que o desmatamento causado pelas fazendas de café estava prejudicando o abastecimento de água potável da então capital do Império. Vivem, no parque, mais de 230 espécies de animais e aves: entre eles, macaco-prego, quati, cutia, cachorro-do-mato, sagui, beija-flor e sabiá. O parque, que possui 3 972 hectares, é a quarta maior área verde urbana do país. O Parque Nacional da Tijuca foi declarado Reserva da Biosfera pela Unesco, em 1991. A área atual, de 3 958,47 ha, deve-se a uma ampliação do parque, efetivada através do Decreto Federal sem número de 4 de julho de 2004. Atualmente, o Parque Nacional da Tijuca tem sua gestão compartilhada entre o ICMBio, o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. A participação através de Organizações Não-Governamentais, como a Associação dos Amigos do Parque Nacional da Tijuca, a Terra Brasil e a Terrazul, é incentivada. É superada apenas pelo Parque Estadual da Cantareira com 7 916,52 hectares, da Reserva Floresta Adolfo Ducke com 10 000 hectares em Manaus e do Parque Estadual da Pedra Branca com 12 500 hectares.

O Parque Nacional do Rio de Janeiro foi criado através do Decreto n° 50.932, emitido pela Presidência da República em 6 de julho de 1961, vindo unificar as antigas Florestas Protetoras da União de Tijuca, Paineiras, Corcovado, Pedra da Gávea, Trapicheiro, Andaraí, Três Rios e Covanca, presentes no Maciço da Tijuca, no antigo Estado da Guanabara, em uma única área protegida, de aproximadamente 3 200 ha. Quando da sua criação, o Parque Nacional do Rio de Janeiro era subordinado ao antigo Serviço Florestal do Ministério da Agricultura. Alceo Magnanini seria o primeiro chefe da Unidade de Conservação (UC) do Parque Nacional da Tijuca, se empenhou para que a Floresta da Tijuca e outras florestas da região de entorno estivessem reunidas e protegidas sob um Parque Nacional; foi ele quem incorporou, ao projeto inicial do Parque os trechos da Pedra da Gávea, a Pedra Bonita e a Serra da Carioca; em sua homenagem, a biblioteca do Parque tem o nome de Alceo, como reconhecimento de sua importância para esta Unidade de Conservação. Ele foi uma das principais forças por trás da realização do sonho de Castro Maya de transformar a Floresta da Tijuca em Parque Nacional.

Entre espaço e lugar, situamos uma distinção que delimitará um campo. Um lugar é a ordem segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência. Aí se acha, portanto, excluída a possibilidade, para duas coisas, de ocuparem o mesmo lugar. Aí impera a lei do “próprio”: os elementos considerados se acham uns ao lado dos outros, cada um situado num lugar “próprio” e distinto que define. Um lugar é uma configuração instantânea de posições. Implica uma indicação de estabilidade. Existe espaço sempre que se tomam em conta vetores de direção, quantidades de velocidade e a variável de tempo. O espaço é um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo conjunto de movimentos que aí se desdobram. Segundo Certeau (2014) o espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais. O espaço estaria para o lugar como a palavra quando falada, isto é, quando é percebida na ambiguidade de uma efetuação, mudada em um termo que depende de múltiplas convenções, como o ato de um presente (ou de um tempo), e modificado pelas transformações devidas a proximidades sucessivas. Diversamente do lugar, não tem nem a univocidade nem a estabilidade do “próprio”. É um lugar praticado.

Assim a rua geometricamente definida por um urbanismo é transformada em espaço pelos pedestres. Do mesmo modo, a leitura é o espaço produzido pela prática do lugar constituído por um sistema de signos – um escrito. Merleau-Ponty já distinguia de um espaço “geométrico”, ou seja, “a espacialidade homogênea e isótropa”, análoga do nosso “lugar”, uma outra “espacialidade” que denominava “espaço antropológico”. Essa distinção tinha a ver com uma problemática diferente, que visava separar da univocidade “geométrica” a experiência de um “fora” dado sob a forma do espaço e para o qual “o espaço é existencial” e a “existência é espacial”. Essa experiência é relação com o mundo; no sonho e na percepção, e por assim dizer anterior à sua diferenciação, ela exprime “a mesma estrutura essencial do nosso ser como ser situado em relação com um meio” – um ser situado por um desejo, indissociável de uma “direção da existência” e plantado no espaço de uma paisagem. Deste ponto de vista, “existem tantos espaços quantas experiências espaciais distintas”. A perspectiva é determinada por uma fenomenologia do existir do mundo. Num exame das práticas que articulam essa experiência, há duas determinações: uma, por objetos que seriam no fim das contas reduzíveis ao estar-aí de um morto, da pedra ao cadáver, um corpo inerte parece sempre.

 No Ocidente, fundar um lugar e dele fazer a figura de um túmulo; a outra, por operações que, atribuídas a uma pedra, a uma árvore ou a um ser humano, especificam “espaços” pelas ações de sujeitos históricos, pois parece que um movimento sempre condiciona a produção de um espaço e associa a uma história real. Entre essas duas determinações, existem passagens, como o assassinato ou a transformação em paisagem dos heróis transgressores de fronteiras e que, culpados de terem atentado contra a lei do lugar, restauram-no por seu túmulo; ou então, ao contrário, o despertar dos objetos inertes; uma mesa, uma floresta, uma personagem do ambiente que, saindo de sua estabilidade, mudam o lugar onde jaziam na estranheza de seu próprio espaço. Os relatos efetuam um trabalho que, incessantemente, transforma lugares em espaços ou espaços em lugares. Organizam também os jogos das relações mutáveis que uns mantém com os outros. São inúmeros esses jogos, num leque que se estende desde a implantação de uma ordem imóvel e quase mineralógica, pois aí nada se mexe, salvo o próprio discurso que, numa espécie de travelling, percorre o panorama, até a sucessividade acelerada das ações multiplicadoras de espaço, como no romance policial ou em certos contos populares, mas esse frenesi espacializante nem por isso deixa de ser menos circunscrito pelo lugar textual. Seria possível uma tipologia de todos esses relatos, em termos de identificação de lugares e de efetuações de espaços. Mas, para aí encontrar os modos segundo os quais se combinam essas distintas operações, precisa-se ter critério e categorias de análise. 

O investimento na indústria de transformação no Brasil, segundo Suzigan (1986), foi muito limitado até meados do século XIX. Como se sabe, esse tipo de atividade chegou a ser proibido a partir de 1795, proibição essa revogada em 1808, quando da transferência do governo central português para o Rio de Janeiro, Brasil. Mas os investimentos continuaram desestimulados em virtude de acordos comerciais assinados a partir de 1810, pelos quais se faziam concessões tarifárias a importações provenientes da Grã-Bretanha e, subsequentemente, também de outros países. Essa falta de proteção prevaleceu até 1844, quando o acordo com a Grã-Bretanha expirou e a primeira tarifa “protecionista” foi adotada. Contudo, o alto valor eterno do mil-réis nessa época compensou parcialmente o aumento na proteção tarifária, e em 1857 uma tarifa mais liberal substituiu a tarifa protecionista de 1844. De qualquer modo, a existência ou não de proteção à indústria nessa época é de interesse secundário, já que “o fraco desempenho da economia agrícola-exportadora baseada no trabalho escravo representava o mais sério desestímulo à diversificação da atividade econômica”. A partir da segunda metade da década de 1850, o progresso econômico acelerou-se com o aumento nos preços do café e a expansão das exportações de algodão. A indústria de algodão limitava-se à produção de panos grossos de algodão, chapéus e calçados em geral produzidos e artigos de ferro fundido.

Na segunda metade da década de 1860, o aumento do investimento na indústria de transformação foi certamente estimulado por mudanças na política econômica em decorrência das despesas governamentais com a Guerra do Paraguai, de 1864 a 1870, e resultou na destruição completa desse país após mais de cinco anos de conflito, as quais foram parcialmente financiadas por uma expansão de estoque de moeda. Essas políticas fiscal e monetária reforçaram a tendência ao crescimento da demanda agregada, a qual já vinha sendo estimulada pela expansão das receitas de exportação de café e algodão. Essa política inflacionária também causou depreciação da taxa de câmbio em 1865-1868 e, dado que o aumento das despesas governamentais foi também parcialmente financiado por um aumento nos direitos aduaneiros, a proteção aumentou no final da década de 1860, criando assim condições favoráveis à produção interna. A política inflacionária foi subsequentemente interrompida, e medidas deflacionárias foram impostas na primeira metade da década de 1860, as quais, embora reduzissem a proteção ao produtor interno de manufaturados, também concorreram para reduzir os custos da maquinaria importada. Essa redução no custo do equipamento certamente também contribuiu para o aumento dos investimentos em 1870-1873. Diversas fábricas de tecidos de algodão foram estabelecidas no período entre fins da década de 1860 e princípios de 1870 em São Paulo, onde ocorreria um surto algodoeiro, em outras províncias produtoras de algodão como Bahia, Pernambuco, Minas Gerais e na província do Rio de Janeiro.

A mecanização dos processos de produção na indústria de chapéus começou também nesse período, e tanto a indústria de chapéus quando a de calçados começaram a introduzir máquinas de costura têxtil no processo produtivo. Fundições foram também estimuladas pelas necessidades geradas pela Guerra do Paraguai, assim como pelo progresso da economia agrícola-exportadora e pela construção das primeiras estradas de ferro. A Guerra do Paraguai ocorreu de 1864 a 1870 e resultou na destruição quase completa desse país após mais de cinco anos de conflito. Do ponto de vista beligerante representou a consolidação das nações da Bacia Platina, formadas por Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai, tendo como fim uma enorme destruição e grande saldo de mortos. Conflito de maior duração e proporção de toda a história da América do Sul, a Guerra do Paraguai foi um grande divisor de águas para todos os países envolvidos. Antigas fábricas de ferro-gusa foram também reativadas durante este período. O surto de investimento que estava em curso na indústria de transformação foi interrompido a partir de 1874, segundo Suzigan (1986), caindo o investimento até 1879. A política deflacionária implementada após a Guerra do Paraguai reduziu o estoque da moeda e causou um declínio no nível geral de preços. Ocorreu então uma recessão em 1874-1876, com uma séria crise bancária em 1875, e o nível de atividades permaneceu deprimido até o final da década. A política comercial também foi alterada. Os direitos de importação foram reduzidos, particularmente após 1874, e o mil-réis valorizou-se. Além disso, os preços de importação caíram de forma quase dramática após 1873-1874, devido a aperfeiçoamentos nos processos de fabricação em geral e ao início da Grande Depressão de 1873-1896. Em consequência, a taxa de câmbio real valorizou-se ainda mais que a taxa de câmbio nominal, reduzindo assim os níveis de proteção da economia de modo geral.   

Enfim, o aumento na competitividade das importações teve efeitos adversos sobre as indústrias já instaladas no País. A indústria de chapéus sofreu uma severa crise, a qual teve seu ponto culminante em 1877, quando diversas fábricas foram fechadas ou voltaram-se para o comércio de importação. A indústria de calçados também foi afetada pela falta de proteção. Da mesma forma, diversas fundições foram fechadas ou reduzidas a meras importadoras, e as primeiras tentativas de modernizar a indústria do açúcar falharam. Somente na indústria de tecidos de algodão foram feitos novos investimentos, embora ainda predominantemente em pequenas fábricas. Um dos mais longos períodos de expansão do investimento da indústria de transformação foi o que começou com a década de 1880 e perdurou até aproximadamente 1895. Este foi um período de grande progresso econômico, particularmente nas áreas produtoras de café no Centro-Sul.  O crescimento da renda impulsionado pela expansão das exportações, a construção de ferrovias e promoção da imigração aumentaram o mercado para produtos industrializados e a oferta de trabalho. Políticas monetária e fiscal restritivas talvez tenham reduzido o ímpeto dos investimentos durante parte da década de 1880, particularmente entre 1884-1887, mas a política monetária expansionista do final do Segundo Reinado e início da República contribuiu favoravelmente para o pico dos investimentos em 1890-1891. A proteção tarifária aumentou na década de 1880, e essa proteção foi reforçada pela depreciação da taxa de câmbio em 1884-1887. Há uma forte evidência de que a grande expansão no estoque de moeda e as facilidades de crédito características daqueles anos não criaram apenas uma “bolha de especulação” que explodiu na crise do Encilhamento.  

O Parque Lage possui lugares que podem ser percorridos, dentre a vegetação e incluindo a vivência com alguns animais. Entre encantos do Parque Lage, foi construído no século XIX um aquário com espécies de mares no mundo. Os Jardins frontais são geométricos, gramados e descampados, com chafariz e bancos com vista para o Cristo Redentor. Os Jardins laterais são compostos pela densa vegetação, com diferentes tipos de plantas e flores. Foi renomeado por decreto em 1975, estando localizada no bairro do Jardim Botânico, dentro da residência do armador Henrique Lage (1881-1941), pioneiro na extração salineira e, na década de 1920, na sondagem de petróleo no município de Campos dos Goytacazes. Criou, em 1935, a Companhia Nacional de Navegação Aérea, primeira fábrica de aviões no Brasil. Foi casado com a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni (1888-1962) que nas décadas de 1910 e 1920, consagrou-se uma grande estrela no Teatro Colón de Buenos Aires, assim como em outros importantes teatros da América Latina, tal como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi de sua propriedade também o Parque Lage, localizado aos pés do Morro do Corcovado, no município do Rio de Janeiro. Os negócios da família Lage nos setores carbonífero e naval são iniciados em 1825, pelo bisavô de Henrique Lage, Antônio Martins Lage (1848-1913), que instala na Ilha das Enxadas trapiche de mercadorias, depósito de carvão e oficinas para pequenos reparos navais. A Ilha das Enxadas localiza-se no interior da baía de Guanabara, na cidade e estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Integra o arquipélago de Santa Bárbara. As primeiras informações a seu respeito datam de 1619, quando o Governador e Capitão-Geral da Capitania do Rio de Janeiro, Rui Vaz Pinto, permitiu aos religiosos da Ordem dos Carmelitas dali retirar a pedra necessária à edificação do Convento e Igreja do Carmo.  

Rui Vaz Pinto foi nomeado governador do Rio de Janeiro por provisão de 13 de julho de 1616, mas tomou posse apenas em 1617 e, em contraste flagrante com o governo de seu antecessor Constantino Menelau, teve, segundo Vivaldo Coaracy, um governo que “se caracterizou pelas arbitrariedades que praticou e pela agitação que promoveu. Entrando desde cedo em luta com a Câmara, Vaz Pinto trouxe de novo à cidade o mesmo ambiente de inquietação que se verificara no tempo de Afonso de Albuquerque” (cf. Sennetti, 2021). Desde que assumiu, Vaz Pinto entrou em consecutivos conflitos com a Câmara e as autoridades locais, desprezando suas competências e atribuições, “convencido de serem absolutos e ilimitados os seus poderes”. Em 1619 a Câmara, exacerbada, representou contra ele ao Governador-Geral na Bahia e, por provisão de 17 de junho, o Governador-Geral recomendou a Vaz Pinto abster-se “daqueles puníveis excessos”. Em represália, Vaz Pinto fez recolher à cadeia pública o juiz ordinário, presidente da Câmara, condenando-o a degredo para o Estado do Maranhão. Reuniram-se então os oficiais da Câmara, que descreveria como “homens levantados e rebeldes contra o serviço do rei”, foram à Cadeia com enorme concurso de cidadãos e, alegando a incompetência do governador para condenar alguém exceto em tempos de guerra, retiraram dela o juiz ordinário e o reinstalaram em seu posto. Inconformado, Vaz Pinto o mandou prender com sentinela à vista e intimar cidadãos a dar guarda a sua porta sob pena de multa de 20 cruzados aos que recusassem. 

Os protestos da Câmara foram inúteis e o governador, talvez revelando indícios de distúrbio mental, aumentava as arbitrariedades. No início do século XIX a ilha pertencia ao Capitão Filipe Antônio Barbosa, que nela mantinha casa de sobrado, capela, armazém e cais. Por essa razão, à época da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil (1808) foi requisitada pelo Príncipe-Regente D. João, para servir como hospital a marinheiros ingleses, função que exerceu por curto tempo. Em 1869, a ilha foi adquirida pelo Governo Imperial para o depósito de material de construção das instalações do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), tendo servido posteriormente como sede da Escola de Aviação Naval, da Escola Naval, e da Escola de Educação Física da Marinha do Brasil. Foi em suas águas que amerissou o hidroavião Santa Cruz, com os lendários Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 17 de junho de 1922. 

Sede do Centro de Instrução Almirante Wandenkolk desde dezembro de 1945, nela foi instalado um Criatório Conservacionista que abrigava mais de 80 exemplares de aves da fauna brasileira e de outros países. Neste aspecto, vale lembrar o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ou apenas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, é um instituto de pesquisas e jardim botânico localizado no bairro do Jardim Botânico, na zona sul do município do Rio de Janeiro. Representa uma das mais belas e bem preservadas áreas verdes da cidade, exemplo da diversidade da flora brasileira e estrangeira. Nele podem ser observadas cerca de 6 500 espécies, distribuídas por uma área de 54 hectares, ao ar livre e em estufas. A instituição é responsável pela coordenação da Lista de Espécies da Flora do Brasil e pela avaliação de risco de extinção destas espécies. A instituição abriga, ainda, monumentos de valor histórico, artístico e arqueológico e a mais completa biblioteca do país especializada em botânica, com mais de 32 mil volumes e o maior herbário do Brasil, que possui 600 mil amostras desidratadas, número de 2014, com uma média de 20 mil novas amostras incorporadas anualmente, informatizadas e disponíveis na página da instituição.

A sua origem remonta à transferência da Corte portuguesa para o Brasil, entre 1808 e 1821. Ela fixou-se na cidade do Rio de Janeiro, desde 1763 sede do Estado do Brasil, uma colônia portuguesa, e agora alçada à condição de sede do império português, propiciando-lhe diversas oportunidades e melhorias. Dentre essas destaca-se a implantação de uma fábrica de pólvora na sede do antigo Engenho da Lagoa, de propriedade de Rodrigo de Freitas, cujas ruínas dos muros integram os limites da instituição. Por decreto real de 13 de junho de 1808, o príncipe-regente Dom João, em nome de sua mãe “incapacitada” - Dona Maria I -, “manda tomar posse do engenho e terras denominadas da Lagoa Rodrigo de Freitas”, para criar o Jardim de Aclimação, com a finalidade plausível de “aclimatar as plantas de especiarias oriundas das Índias Orientais: noz-moscada, canela e pimenta-do-reino”. No mesmo ano, a 11 de outubro de 1808, recebeu o nome de Real Horto, e no dia seguinte em 12 de outubro, o Príncipe-regente assinou um Decreto Real criando o cargo de feitor para a fazenda da Lagoa.

Os primeiros exemplares de plantas que o integraram vieram do Jardim La Pamplemousse, nas ilhas Maurício, pelas mãos de Luiz de Abreu Vieira e Silva, que os ofereceu ao Príncipe-regente. Entre eles encontrava-se a chamada “Palma Mater”.  A sua direção foi inicialmente entregue ao general Carlos Antônio Napion (1808) e, em seguida, ao brigadeiro dom João Gomes da Silveira Mendonça, marquês de Sabará, que o dirigiu O Jardim de 1808 a 1819. Em 1810, o prussiano Kancke transformou-o em uma estação experimental, recebendo, nessa função, mais de 800 000 réis por ano. Nos viveiros, já havia mudas de cânfora, nogueira, jaqueira, cravo-da-índia e outras plantas do Oriente. Em termos administrativos, o alvará de 1º de março de 1811 “Cria a Real Junta de Fazenda dos Arsenais, Fábricas, e Fundição da Capitania do Rio de Janeiro e uma Contadoria dos mesmos Arsenais (...) dirigindo também um estabelecimento de um jardim botânico da cultura em grandes plantas exóticas que mandou que se haja de formar na dita fazenda da Lagoa (...)”. No ano seguinte (1812), chegaram, ao Real Horto, as primeiras mudas de chá Camellia sinensis, planta denominada anteriormente como Tea viridis, enviadas de Macau pelo senador daquela colônia portuguesa no Extremo Oriente, Dom Rafael Botado de Almeida. Visando dinamizar essa cultura, em 1814 o Príncipe-regente traz mão-de-obra para trabalhar um grupo de 300 chineses.

O decreto real de 11 de maio de 1819 anexa o Real Horto ao Museu Real, criado no ano anterior, por decreto real de 6 de junho de 1818. Pelo Decreto Real de 22 de fevereiro de 1822, a instituição, que, desde 1808, se encontrava subordinada ao Ministério dos Negócios da Guerra, passou para a alçada do Ministério dos Negócios do Reino. O Decreto Real de 11 de maio de 1819 anexa o Real Horto ao Museu Real, criado no ano anterior, por decreto real de 6 de junho de 1818. Pelo decreto real de 22 de fevereiro de 1822, a instituição, que, desde 1808, se encontrava subordinada ao Ministério dos Negócios da Guerra, passou para a alçada do Ministério dos Negócios do Reino.  Com a proclamação da República brasileira (1889), no ano seguinte passou a ser denominado como Jardim Botânico. A partir de então, receberia diversos visitantes ilustres, como Albert Einstein (1925) e a rainha Isabel II do Reino Unido em novembro de 1968, entre outros, transformando-se em cartão-postal da cidade. Entre os pesquisadores que lhe estão ligados destaca-se o de Manuel Pio Correia (1874-1934) um botânico português.

Naturalista, botânico, geólogo e pesquisador, nascido na cidade do Porto, em Portugal, filho do editor e livreiro Ignacio Corrêa, dedicou-se ao estudo da Botânica aplicada, ressaltando aspectos científicos, econômicos e industriais das plantas. Membro de mais de uma dezena de instituições científicas. Os trabalhos desenvolvidos por este naturalista deram origem a importantes publicações, dentre as quais os seis volumes do Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas, publicados a partir de 1926 pelo Ministério da Agricultura. Sua bibliografia completa inclui cerca de 150 trabalhos. Quando faleceu, era pesquisador do Museu de História Natural de Paris. O Jardim Botânico do Rio de Janeiro encontra-se tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1937. No início da década de 1990, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) considerou-o como Reserva da Biosfera. Naquele momento, quando o Jardim Botânico passava por dificuldades de manutenção e conservação, um grupo conveniado de empresas públicas e privadas formou-se para auxiliá-lo. Como resultado das parcerias, em 1992 o orquidário e a estufa de violetas foram renovados, além de uma limpeza no lago.

Em 1995, foi construído o Jardim Sensorial, com plantas aromáticas e placas indicadoras em braile, permitindo a visitação por portadores de deficiência visual. Posteriormente, uma nova estufa para as bromélias foi construída. No início do século XXI, o muro do jardim na rua Pacheco Leão foi demolido, dando lugar a uma grade, melhorando a sua integração tornando transparente a visibilidade paisagística no bairro. Como reconhecimento pela importância científica, foi rebatizado como Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 1998, ficando afeto ao Ministério do Meio Ambiente. Em 2002, tornou-se uma autarquia federal. Atualmente, não havendo tais espécies. Do falecimento deste, em 1838, até 1865, diversas firmas são criadas e dissolvidas pela família, como a Viúva Lage, Campos & Cia., e Viúva Lage & Filhos. Em 1869, o avô de Henrique Lage, também de nome homônimo Antonio Martins Lage, vende a Ilha das Enxadas ao Império, continuando, porém, com os negócios na Ilha do Vianna, em Niterói, propriedade adquirida por ele em 1852. Em 1873, Antonio Martins Lage funda com o filho a Antonio Martins Lage & Filho, com a finalidade de comércio de carvão de pedra, reboques, trapiches e o que convier. No entanto, a sociedade é dissolvida em 4 de fevereiro de 1882 quando é fundada a Lage Irmãos, composta pelo pai de Henrique, como sócio gerente, e pelo tio Alfredo Lage, casado com Cecília Braconnot, Antonio Martins Lage Filho tem, além de Henrique, nascido na cidade do Rio de Janeiro em 1881, mais quatro filhos homens: Antonio, Jorge, Renaud e Frederico.

A partir da fundação da Lage Irmãos, Antonio Martins Lage Filho adquire, em nome da empresa, terras em Santa Catarina onde existem jazidas carboníferas. Em 1890, é criada, com as mesmas finalidades da anterior, a segunda Lage Irmãos, sendo, então, extinta a primeira. No ano seguinte, durante o chamado “Encilhamento”, Antonio Martins Lage Filho funda com outros sócios, em 7 de fevereiro, a Companhia Nacional de Navegação Costeira, que se torna uma das mais respeitáveis empresas de navegação do Brasil. Os primeiros governos republicanos tomam medidas com relação ao setor naval. Em 1891, a primeira Constituição republicana prevê, dentre outros temas, condições favoráveis para a marinha nacional, embora o texto constitucional só venha a ser regulamentado durante o ano de 1896. Em 1904, o governo Rodrigues Alves (1902-1906) elabora um plano para o reaparelhamento da Marinha, através da construção de diversas embarcações. Nos anos seguintes, devido às mudanças no comando da Armada, alterações acontecem no Plano e afetam diversos estaleiros, inclusive da família Lage. Encomendas comerciais são feitas, algumas não são pagas e outras são suspensas.

Nos setores carbonífero e naval, a participação governamental é fundamental para desenvolvimento das atividades, assim, ter boas relações com membros do governo traz, naturalmente, benefícios para aqueles que atuam nesses segmentos de negócios. Os Lage reconhecem a importância desses contatos e, assim, procuram ter boa convivência com as autoridades, convidando-as para encontros sociais e visitas às instalações da Ilha do Vianna. Mas nem sempre ter boas relações com pessoas do Governo significa ter facilidades no campo empresarial. Como exemplo, em 1908, Antonio Martins Lage Filho tenta iniciar a exploração do carvão em Santa Catarina, mas ações governamentais dificultam a sua intenção, em virtude da criação de impostos e alterações no percurso da Estrada de Ferro Dona Thereza Christina. A posição social e o papel empresarial dos Lage proporcionam a Henrique Lage uma educação com estudos no exterior, tendo se formado em Engenharia Naval nos Estados Unidos. Em 1906, casa-se com Lilliam Agnes Whitman (1876-?), divorciando-se em 1909. O casamento e o divórcio são feitos pela lei americana. Anos depois, em 1925, Henrique casa-se novamente, desta vez no Brasil, com a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni (1888-1962). Com a morte do pai, em 1913, os irmãos de Henrique, Antonio e Jorge, assumem os negócios da família.

O governo estabelece o regulamento da marinha mercante e navegação de cabotagem, adotando medidas como a diminuição e suspensão de taxas, maior prazo para as vistorias e outros favores importantes. O conflito mundial iniciado em 1914 afeta a economia brasileira, principalmente em virtude das dificuldades do tráfego marítimo. Existem problemas na exportação de produtos, e no abastecimento de artigos importados, inclusive o carvão mineral. Para este segmento, o Governo adota uma série medidas, como a redução das tarifas para o carvão nacional, taxação do produto estrangeiro, facilidades de crédito e criação da Junta de Abastecimento de Carvão. Os negócios ligados ao setor carbonífero em Santa Catarina são acompanhados de perto por Henrique Lage. Em 1918, em face da necessidade de transporte ferroviário para o carvão extraído das minas, enfrenta o problema e incorpora a Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá, empresa possuidora do arrendamento da E.F.D. Thereza Christina.

Com a Guerra, a questão naval torna-se alvo de preocupação governamental, que edita uma série de medidas compondo o chamado Plano Naval Wenceslau Braz (cf. Victorino, 2012)Através desses instrumentos legais são abolidos impostos, instituídos prêmios por navios construídos, e concedido empréstimo à Costeira para a construção dos estaleiros na Ilha do Vianna. Como presidente da Costeira, o irmão de Henrique Lage, Antonio, participa das negociações do Plano, mas a fatalidade o impede de acompanhar a sua execução. Vítimas da gripe espanhola, pandemia causada pelo vírus influenza que surgiu em 1918. Espalhou-se rapidamente pelo mundo, causando cerca de 50 milhões de mortes. A gripe espanhola foi o nome que recebeu uma pandemia de vírus influenza que se espalhou pelo mundo entre 1918 e 1919. Antonio e Jorge falecem em 20 de outubro de 1918. Em decorrência do desenlace dos irmãos, Henrique Lage assume a direção e inicia a expansão dos negócios, compondo um conjunto de empresas reconhecido como Organização Lage. Ao assumir o controle, Henrique Lage implementa a estratégia baseada no trinômio: carvão, ferro e navio. Este trinômio, considerado como a adoção da integração vertical, origina-se da preocupação com o fornecimento dos insumos necessários ao processo produtivo de suas empresas. Esta estratégia não possui ineditismo, sendo até uma prática comum entre os empresários brasileiros da época. No entanto, a forma como Henrique Lage trata a questão é completamente diferenciada, ou seja, a verticalização não é obra do acaso nem uma atitude oportunista é, antes de tudo, uma filosofia empresarial. 

É no período entre 1919 e 1930 que Henrique Lage mais expande seus negócios, criando e incorporando empresas, formando, assim, um verdadeiro império empresarial. Como os seus antecessores, Lage busca aproximar-se das autoridades governamentais, visando a obtenção de apoio, através de investimento financeiro ou encomendas. Embora consiga algum resultado nessa aproximação, nem sempre acordos e contratos são respeitados pelos governos, forçando o empresário a fazer inversões com capital próprio ou através de obtenção de empréstimos com pagamento de juros, contraindo, assim, dívidas que geram dificuldades financeiras. Como exemplo, Henrique Lage investe na melhoria da qualidade do carvão nacional e no aprimoramento das instalações da Ilha do Vianna. Porém, no setor carbonífero, não são efetivados os empréstimos provenientes de decretos oriundos da Lei Wenceslau Bráz (1928), concedidos à Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá e, também, à Companhia Nacional de Mineração e Carvão do Barro Branco. Na navegação, constrói os navios Itaquatiá e Itaguassú, sem que receba os prêmios pela construção destas embarcações. Apesar dessas questões, Henrique Lage funda empresas, como a Cia. Nacional de Construção Civis e Hidráulicas; a Sociedade Anônima de Seguros Gerais Lloyd Industrial Sul Americano; o Lloyd Sul Americano, Cia de Seguros Marítimos e Terrestres; a Companhia Nacional de Mineração e Carvão do Barro Branco; a Industrial Friburguense; e a Companhia Docas de Imbituba. Assume, o controle da Cia. de Navegação São João da Barra e Campos, e incorpora, o Lloyd Nacional e a firma Estaleiros Guanabara.     

No setor salineiro, o industrial lança o sal refinado da marca “ITA”. Além disso, na Ilha do Vianna é construído um petroleiro para o governo argentino, lançado ao mar em agosto de 1928. Henrique Lage investe, também, na aviação, construindo protótipos de dois aviões, denominados Rio de Janeiro e Independência. Neste segmento, Lage espera por encomendas governamentais, o que não ocorre e, assim, suspende o seu plano. O período marca, também, a ampliação do investimento de Henrique Lage em outra vertente de seu trinômio: o ferro. No plano de Lage constam usinas em Gandarella, Minas Gerais; no Maruhy, em Niterói; em Antonina, no Paraná; e na ilha do Vianna, além da fábrica de coke instalada na Sociedade Anônima Gaz de Nictheroy. No início do século XX, Niterói ainda exibia, segundo o recém-nomeado prefeito Paulo Ferreira Alves (1850-1908), ares de “arraial sertanejo”. Ruas sem pavimentação, iluminadas a gás, bondes puxados por burros, “quitandas volantes de roceiros”, problemas com o abastecimento de água e coleta de esgotos, tratavam de conferir à cidade uma atmosfera incompatível com o seu estatuto de capital fluminense, então recentemente reconquistado. Em 1924, Henrique Lage formaliza a constituição do Consortium Siderúrgico Nacional.

Artur da Silva Bernardes (1875-1955) foi um advogado e presidente de Minas Gerais de 1918 a 1922 e presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926, em função do comércio de gêneros frigorificados, Henrique Lage busca incentivo para a construção de navios frigoríficos, e pede auxílio governamental, o que lhe é negado. Em decorrência, a solução encontrada por Henrique é a compra no estrangeiro. Assim, o empresário vai para a Europa e encomenda navios na Inglaterra, França e Itália. Se, por um lado, a compra das embarcações soluciona o problema de atualização da frota, por outro lado, a queda cambial durante o prazo da amortização do empréstimo estrangeiro provoca grande prejuízo para a Costeira. O advento da chamada Revolução de 1930 traz problemas para Henrique Lage, que é temporariamente preso. Asilando-se inicialmente na Embaixada do México, Lage viaja, em seguida, para a Europa, onde permanece até o ano seguinte. Logo ao retornar, o empresário defronta-se com a ação executiva dos Cantieri Riunitti del’Adriático (C.R.D.A.) um estaleiro naval italiano sediado nas cidades de Trieste e Monfalcone, no litoral do Mar Adriático, em função do atraso do pagamento dos navios encomendados na Itália. Assim, as dívidas acumuladas criam para o industrial uma situação de grande dificuldade econômica e política, só resolvida após acordos realizados nos anos seguintes com o governo.

A C.R.D.A foi fundada em 16 de junho de 1930 a partir da fusão dos estaleiros Stabilimento Tecnico Triestino, Cantieri S. Rocco e Cantiere Navale Triestino para melhor aproveitar o ritmo do crescimento industrial e de construção marítimo. A empresa logo se tornou uma das principais italianas do ramo, construindo navios de guerra para a Marinha Real Italiana e também embarcações civis. Dentre os navios construídos nesse período, destacam-se o cruzador pesado Fiume, os cruzadores rápidos Luigi Cadorna, Muzio Attendolo e Giuseppe Garibaldi, o couraçado Vittorio Veneto e o transatlântico SS Conte di Savoia, representou um navio de passageiros italiano operado pela Italia di Navigazione e construído pelo Cantieri Riuniti dell`Adriatico em Trieste. Foi lançado ao mar em outubro de 1931 e realizou sua viagem inaugural em novembro do ano seguinte. As instalações da Cantieri Riuniti dell`Adriatico foram bombardeadas várias vezes na 2ª guerra mundial, destruindo boa parte de suas instalações; sua capacidade industrial ao final do conflito era de apenas 25 por cento do que havia sido antes. A empresa conseguiu se reerguer até o final da década de 1940, continuando como um dos principais estaleiros da Itália. Ela continuou a operar até 22 de outubro de 1966, quando se fundiu com a Ansaldo e Navalmeccanica para formar a Italcantieri, uma empresa italiana que atuava no setor de construção naval mercante e também militar. Era totalmente controlada pela Fincantieri, financeira do Instituto de Reconstrução Industrial para construção naval.

                                 

Os Acordos permitem a Henrique Lage continuar investindo. Durante a década de 1930, o empresário amplia e diversifica os negócios, adquirindo a Companhia Serras de Navegação e Comércio, e arrendando os navios da sociedade Brasileira de Cabotagem. Além disso, na aviação, cria Companhia Nacional de Navegação Aérea. Além dos negócios, Lage participa da política. Concorrendo na chapa do Partido Autonomista, consegue em 1934 se eleger Deputado Federal, pelo Distrito Federal, com mais de trinta mil votos no segundo turno.18 Como parlamentar, participa de comissões ligadas ao setor naval e apresenta projeto para a Marinha Mercante. Em 1937 surgem novidades para os setores carbonífero e siderúrgico. O carvão recebe mais um incentivo governamental, com a edição do decreto que aumenta, de 10% para 20%, o percentual obrigatório de utilização do carvão nacional estabelecido em 1931. Na siderurgia, Henrique Lage retoma o projeto de implementação da Usina em Antonina, com o objetivo de atender às atividades desenvolvidas na Ilha do Vianna. Durante o Estado Novo, as relações entre Henrique Lage e Getúlio Vargas tornam-se mais próximas, inclusive com a prestação de homenagens de parte a parte. Daí a concessão, ocorrida em 1938, por Getúlio Vargas a Henrique Lage, da Ordem do Mérito Militar de oficial. Por sua vez, Lage homenageia Getúlio Vargas com a inauguração de Retratos do Presidente, sendo o principal na sala de reuniões do Conselho Geral de Administração da “Organização Lage”, em cerimônia de comemoração do primeiro aniversário do Estado Novo. 

O ano de 1941 torna-se trágico para Henrique Lage. Logo no primeiro trimestre o governo cria Comissão de Marinha Mercante e, no mesmo ato, suspende as subvenções pagas às empresas de navegação. Este fato é catastrófico, visto que no contrato firmado com o Banco do Brasil para a composição da dívida do empresário, a amortização é feita com os recursos oriundos dos subsídios. Sem estes recursos financeiros, as empresas de Henrique Lage não têm condições de cumprir o compromisso com o banco. Para evitar a inadimplência da Costeira, o Governo resolve conceder empréstimos à Companhia. Em 16 de junho, em função do seu estado de saúde, Henrique Lage encaminha circular aos dirigentes das empresas, com aval de Pedro Brando, então seu principal auxiliar, solicitando que sejam prestadas a Gabriella Besanzoni informações a respeito das atividades. Dias depois, em 29 de junho, o empresário envia carta a Getúlio Vargas, onde coloca os destinos da “Organização Lage” sob a proteção do Presidente. Neste mesmo dia, Lage dita o testamento, onde lega a Gabriella todos os bens pessoais, inclusive imóveis. Com relação a parte do patrimônio das empresas, Henrique Lage distribui 52% para Gabriella e, o restante, de forma desigual, para os outros herdeiros. Henrique Lage falece no dia 2 de julho de 1941. Com o falecimento do industrial e a disputa pelas empresas, o Banco do Brasil “considera não ser conveniente que Gabriella seja a inventariante, em função da condição de mulher e por estar fora de negócios”. A solução é feita pelos herdeiros com procuração para Pedro Brando. 

O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 74, letra a, da Constituição, e tendo em vista o Decreto-lei nº 1.985, de 29 de janeiro de 1940, (Código de Minas), Decreta: Art. 1º Fica autorizada a Organização Henrique Lage - Patrimônio Nacional - a pesquisar carvão mineral e associados numa área de mil hectares (1.000 ha), situada no lugar denominado Rio do Meio, distrito de Grão Pará, município de Orleans no Estado de Santa Catarina. Art. 2º Esta autorização é outorgada nos termos estabelecidos no Código de Minas. Art. 3º O título da autorização de pesquisa, que será uma via autêntica deste Decreto, pagará a taxa de cinco mil cruzeiros (Cr$5.000,00) e será transcrito no livro próprio da Divisão de Fomento da Produção Mineral do Ministério da Agricultura. A nacionalidade italiana de Gabriella e a entrada do Brasil na guerra são elementos utilizados por aqueles que se opõem à permanência da viúva de Henrique como personagem do processo sucessório, e que disputam com ela o comando das empresas. Em decorrência, Gabriella tenta naturalizar-se brasileira, sendo o pedido negado inicialmente, tendo como justificativa a não validade do casamento com Henrique. Gabriella recorre, mas, somente em 30 de janeiro de 1943 é que consegue a naturalização. A entrada do Brasil na 2ª guerra mundial, em 1942, fortalece o dirigismo estatal. Assim, as empresas do espólio de Henrique Lage sofrem importantes mudanças, através de dois atos do governo Vargas. 

O primeiro, com relação ao setor carbonífero, ocorre com a edição de decreto, que estabelece, como medida de emergência, a entrega obrigatória ao Governo Federal de todo o carvão nacional destinado ao mercado brasileiro fora dos Estados produtores. O segundo, e mais importante, o Decreto-Lei nº 4.648, de 2 de setembro de 1942, que incorpora ao patrimônio nacional os bens e direitos das empresas da chamada “Organização Lage” e do espólio de Henrique Lage. Na justificativa, o Governo considera que as entidades constituem um conjunto valioso, aproveitável no interesse da defesa nacional, pelo que se impõe o exercício de sua administração pelo Estado e a sua incorporação ao patrimônio da Nação. Assim, finalizando o presente trabalho, cabe recordar que Henrique Lage recebe, como herança, um grupo de empresas e as multiplica, especialmente no período compreendido entre as duas guerras mundiais, adotando a estratégia empresarial baseada na integração vertical, sob o trinômio: carvão, ferro e navio. Outra questão relevante a ser lembrada, é que com as dificuldades de abastecimento ocasionadas pela Grande Guerra, surge o apoio governamental a duas vertentes do trinômio preconizado por Henrique Lage: carvão e navio. Incentivos aos dois setores são concedidos, embora os compromissos nem sempre sejam cumpridos pelos governos brasileiros. Aliás, as mudanças dos cenários políticos e econômicos, ocorridas no Brasil, durante todo o período estudado, afetam sobremaneira a Organização Lage. Contudo, o decreto nº 17.864, de 24 de fevereiro de 1945 autoriza a Organização Henrique Lage - Patrimônio Nacional - a pesquisar carvão mineral e associados no município de Orleans, no Estado de Santa Catarina. Vale ressaltar a característica empresarial de Henrique Lage. Determinado buscar soluções independente do apoio governamental, apesar dos riscos que possam acarretar as finanças das empresas. Assim, Lage investe permanentemente em seus negócios, sendo que, em determinadas ocasiões, fica à beira da falência. O empresário só não sucumbe graças às relações políticas que mantém com autoridades da República, o que lhe possibilita, inclusive, obter crédito e renegociar dívidas.

Bibliografia geral consultada.

SUZIGAN, Wilson, Indústria Brasileira. Origem e Desenvolvimento. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986; MENCARELLI, Fernando Antonio, A Voz e a Partitura: Teatro Musical, Indústria e Diversidade Cultural no Rio de Janeiro (1868-1908). Tese de Doutorado em História Social. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade de Campinas, 2003; CUNHA, Luiz Antônio, A Universidade Temporã: O Ensino Superior, da Colônia à Era Vargas. 3ª edição. São Paulo: Editora Unesp, 2007; CAMPELLO RIBEIRO, Carlos Alberto, Henrique Lage e a Companhia Nacional de Navegação Costeira: A História da Empresa e sua Inserção Social (1891-1942). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007; VICTORINO, Juliana Leme, Wenceslau Braz e a Política do Café com Leite: Estratégias de Comunicação e Marketing Político que Elegeram Presidente da República do Brasil. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo, 2012; CERTEAU, Michel de, A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de Fazer. 22ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; VIANA, Marcele Linhares, Arte Decorativa na Escola Nacional de Belas Artes - Inserção, Conquista de Espaço e Ocupação (1930-1950). Tese de Doutorado. Escola de Belas Artes. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015; FONSECA, Thiago Vinícius Mantuano da, Comendador Antônio Martins Lage: Entre a Navegação e a Operação Portuária no Século XIX. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Instituto de História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017; FERNANDES, Natália de Andrade, As Ações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN para a Proteção do Patrimônio Cultural na Sociedade de Risco: Uma Crítica à Luz do Tombamento Federal do Centro Histórico de São Luís - MA. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade. Departamento de Direito. São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2019; SALDANHA, Claudia Werneck, Escola de Artes Visuais do Parque Lage: A Formação do Artista. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Contemporânea. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2019; BULCÃO, Clóvis, Henrique Lage: O Grande Empresário Brasileiro que, por Amor, Criou um Parque. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora ‏Record, 2021; SENNETT, Richard, O Declínio do Homem Público: As Tiranias da Intimidade. Rio de Janeiro: Editora Record, 2021; LIMA, Nísia Trindade; SÁ, Dominichi Miranda de; CASAZZA, Ingrid Fonseca & BRITO, Carolina Arouca Gomes de, “As Ciências na Formação do Brasil entre 1822 e 2022: História e Reflexões sobre o Futuro”. In: Estudos Avançados, 36 (105), 211-236; 2022; entre outros.

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