“Aplicar o
conceito de hospitalidade vai além da técnica”. Geraldo Castelli (2005)
Estudiosos do processo civilizador enfrentam um enorme emaranhado de problemas sociais. Para mencionar alguns dos mais importantes, temos, em primeiro lugar, a questão mais geral: o processo civilizador constitui uma mudança na conduta e sentimentos humanos rumo a uma direção muito específica. Mas, evidentemente pessoas isoladas no passado não planejaram essa mudança. Pretendendo efetivá-la gradualmente através de medidas conscientes racionais, deliberadas. A civilização não é, nem o é a racionalização, um produto da racionalidade humana ou resultado de um planejamento calculado a longo prazo. Podemos imaginar (cf. Cardoso, 2019) em tese que o processo civilizador tenha sido posto em movimento por pessoas necessárias. Dotadas de perspectiva histórica, de um controle social específico, inclusivo dos afetos de curto prazo, já que essa perspectiva e esse autodomínio pressupõem um processo civilizador. Mas aconteceu sem planejamento algum, o que não quer dizer sem um tipo específico de ordem. Tomada como um todo, essa mudança não foi “racionalmente planejada”, tampouco se reduziu ao aparecimento e desparecimento aleatórios de modelos sociais desordenados.
Essa organização social dos relacionamentos humanos se fez acompanhar de correspondentes mudanças nas maneiras, na estrutura da personalidade do homem, cujo resultado provisório é nossa forma de conduta e de sentimentos civilizados. A conexão entre essas mudanças específicas na estrutura da personalidade, assim como esses mecanismos de integração são relevantes, de modo mais geral para a compreensão do processo civilizador. A civilização, para Elias (1993), dialeticamente, ou de “modo dialético”, para sermos breves, seguindo os preceitos da dialética, especialmente por meio do diálogo, não é razoável, nem racional, como também não é irracional. É posta em movimento cegamente e mantida em movimento pela dinâmica autônoma de uma rede de relacionamentos, por mudanças específicas na maneira com a qual determinadas pessoas se veem obrigadas a conviver. Mas é absolutamente impossível que possamos extrair dela alguma coisa mais razoável, alguma coisa que funcione melhor em termos de nossas necessidades e objetivos. Porque é precisamente em combinação com o processo técnico e social civilizador que a dinâmica cega dos homens, entremisturando-se em atos sociais e objetivos, leva a um campo de ação mais vasto para a intervenção planejada nas estruturas social e individual – intervenção baseada num reconhecimento cada vez maior da dinâmica não planejada. Uma universidade privada ou pública que modela indivíduos para uma função ou cargo, preparando-os sem honestidade intelectual levam-no ao fracasso.
Em primeiro lugar é preciso compreendermos algumas questões em torno da hospitalidade que, por sinal antecedem, outrossim, a relação técnica, e, portanto, política da administração singular do espaço no Brasil. Vamos então retomar a velha discussão de Ariès que repensada na pena de Norbert Elias (1897-1990) e Michel Foucault (1926-1984), no caso das práticas que produzem efeitos de poder político, transcendem o modo habitual antevisto por Gaston Bachelard (1884-1962) quando materializa a poética do espaço (1961). Historicamente o quarto de dormir tornou-se uma das áreas mais privadas e íntimas da vida humana. Isto é, a família nuclear, base de tudo, continua a ser o único enclave legítimo, socialmente sancionado para esta prática e muitas outras funções humanas. Suas paredes visíveis e invisíveis vedam os aspectos mais privados, íntimos, irrepreensivelmente “animais” da existência humana, à vista de outras pessoas. Na sociedade medieval, essa função não fora assim privatizada e separada do resto da vida social. Era normal receber visitantes em quartos com camas, e as camas tinham valor de prestígio relacionado com sua opulência. Lembra Elias, que era comum que muitas pessoas passassem a noite no mesmo quarto: na classe alta, o senhor com seus serviçais; a dona da casa com sua dama ou damas de companhia; em outras classes homens e mulheres no mesmo quarto, e não raro, hóspedes que passam a noite. Os que dormiam vestidos despiam-se.
A Regra de São Benedito (Regula
Benedicti), escrita por Bento de Núrsia no século VI, é um conjunto de preceitos
destinados a regular a vivência de uma comunidade monástica cristã, regida por
um abade. Escrita numa altura em que pululavam, por toda a Cristandade,
inúmeras regras, começou a ter sucesso sobretudo a partir do século VIII,
quando os Carolíngios ordenaram que fosse a única regra monástica autorizada
nos seus territórios - e a partir daí, esse preceito estendeu-se ao resto da
Europa, sobretudo com o advento da reforma gregoriana. Foi também adotada, com
igual sucesso, pelas comunidades Regrantes femininas. Pode-se dizer que a regra
tem sido um guia, ao longo histórico da sua existência, para as comunidades da
Cristandade Católica e, desde a Reforma Protestante, aplicável às tradições
Anglicana e Protestante. O espírito da Regra resume-se em dois pontos: o lema
da Ordem de São Bento (Pax), que nasceria séculos mais tarde,
como resultado da agremiação de mosteiros que partilhavam a mesma regra; e
ainda o tradicional ora et labora (“reza e trabalha”), súmula da vida
que cada monge deve levar. A Regra de São Bento (cf. Vauchez, 1995) já
era seguida nos séculos X e XI por todos os monges do Ocidente. A regra na vida social era
adaptada e possuía certa diversidade dada às condições modelares de cada abadia, mas se
fixava nos princípios e formas da vida religiosa. A fonte dos acontecimentos da
vida de São Bento são os Diálogos de São Gregório Magno, redigidos em 593, baseados em fatos narrados por monges que o conheceram.
A nudez no banho é realmente necessária no dia-a-dia para manter a higiene humana, em vista que os banhos podem ser individuais ou coletivos, os banhos podem ser praticados em espaços públicos ou privados, sendo naturais ou em construções humanas. A Civilização do Vale do Indo praticava banhos coletivos “como forma de purificar suas almas”. Em países escandinavos, é popular “o uso de saunas”. No Japão, Sentō e Onsen são “locais de banhos coletivos”. O banho em rios, lagos e praias são os espaços públicos mais comuns, atualmente, o banho de rio é pouco praticado, sendo mais comum em lagos ou em praias quando reservados para isso. Espaços abertos como fontes de praças raramente são utilizados. Em representações artísticas, o banho é um tema recorrente utilizado por pintores para representar a beleza da nudez feminina, como se percebe em obras dos mais variados nomes da pintura clássica. Inspiration (1915), o primeiro filme norte-americano não pornográfico que apresentou cenas de nudez. A representação da nudez em filmes norte-americanos sempre foi controversa. Vários filmes da era silenciosa de Hollywood já apresentavam nudez de uma forma artística e não sexual.
De modo geral as pessoas dormiam nuas na sociedade leiga e, nas ordens monásticas, inteiramente vestidas ou vestidas de acordo com o rigor em torno das regras sociais. A regra de são Benedito – datando pelos menos o século VI – exigia que os membros da ordem dormissem com suas vestimentas e até mesmo conservassem o cinto. No século XII, quando a ordem se tornou mais próspera e poderosa, e menos severas as restrições ascéticas, os monges de Cluny tiveram permissão para dormir sem roupas. Os cistercianos, à época em que lutavam por reformas, voltaram à velha regra beneditina. Em duzentos anos (909-1109), Cluny teve apenas seis abades, sendo quatro deles canonizados: Odão, Odilo, Máiolo e Hugo de Cluny. Roupas de dormir especiais nunca são mencionadas nas regras monásticas e ainda menos nos documentos, poemas épicos, ou ilustrações deixadas pela sociedade secular. Isto se aplicava também às mulheres. No mínimo, era incomum ir para a cama com a roupa de uso diário. Isto despertava a suspeita de que a pessoa pudesse ter algum defeito corporal – por que outra razão o corpo devia ser ocultado? – e de fato isto usualmente acontecia. No Roman de la Violette, por exemplo, a criada, surpresa, pergunta à patroa por que ela vai dormir de camisa e esta última explica que “é por causa de uma marca que tem no corpo”. Esta despreocupação com o corpo nu, e o que demonstra quanto à fronteira da vergonha, é vista com especial clareza nas maneiras ao banho.
A atriz e nadadora Annette Kellerman nua em cena do filme: A Daughter of the Gods (1916). Em resposta às objeções de vários grupos conservadores, as cenas de nudez foram proibidas de filmes produzidos pelos grandes estúdios em 1934 pelo Código das Produções da Motion Picture Association of America nos Estados Unidos da América - reconhecido popularmente pelo nome de Código Hayes. Tal Código dizia que os filmes só poderiam ser exibidos nos cinemas norte-americanos após receberem um selo de aprovação de um júri formado por membros da MPAA. A forte censura regeria até o ano de 1964, quando o filme The Pawnbroker - que mostrava os seios completamente nus de uma mulher - recebeu aprovação do júri da MPAA. Anteriormente a esse filme, apenas alguns documentários e filmes estrangeiros mostravam cenas de nudez sem serem perseguidos pela censura do Código das Produções. Em 1959, o filme The Immoral Mr. Teas se tornou o primeiro filme da chamada “indústria erótica” a ser exibido em cinemas, pois, antes disso, os filmes pornográficos eram exibidos em bordéis como forma de estimular os clientes). Com a instituição voluntária do sistema de classificação por faixa etária pela MPAA em 1968, a nudez finalmente pôde ser legitimamente incluída num filme comercial de sucesso. Desde então, vários filmes começaram a praticar a nudez como utilidade de uso em níveis variados; no entanto, a nudez frontal ainda é mais presente no cinema europeu que norte-americano, onde a violência é aceita na mídia do que a nudez, ao contrário da Europa.
Segundo o papa Gregório I (590-604), São Bento foi filho de uma família nobre romana da região de Nórcia, uma comuna italiana da região da Úmbria, província de Perugia, com cerca de 4. 695 habitantes, próximo à cidade italiana de Espoleto onde realizou seus primeiros estudos. Foi enviado a Roma para estudar retórica e filosofia, mas, tendo-se decepcionado com a decadência moral da cidade, abandona logo a capital e retira-se para Enfide em 500. Ajudado por um abade chamado Romano, instalou-se em uma gruta de difícil acesso, a fim de viver como eremita. Depois de três anos nesse lugar, dedicando-se à oração e ao sacrifício, foi descoberto por alguns pastores, que divulgaram a fama de santidade. A partir de então, foi visitado constantemente por pessoas que buscavam conselhos e direção espiritual. Foi eleito abade de um mosteiro em Vicovaro, no centro da península Itálica. Por causa do regime de vida exigente, os monges tentaram envenená-lo, mas, no momento em que dava a bênção sobre o alimento, saiu da taça que continha o vinho envenenado uma serpente e o cálice que se fez em pedaços. Com isso, São Bento resolve deixar a comunidade e retornando à vida solitária, vivendo consigo mesmo: “habitare secum”. Em 503, recebeu discípulos e fundou doze pequenos mosteiros. Em 529, por causa da inveja do sacerdote Florêncio, tem de se mudar para Monte Cassino, onde fundou o mosteiro que viria a ser o fundamento histórico-teológico da expansão da Ordem Beneditina.
É
neste episódio que Florêncio lhe enviou de presente um pão envenenado, mas
Bento deu o pão a um corvo que todos os dias vinha comer de suas mãos e ordenou
à ave que o levasse para longe, onde não pudesse ser encontrado. Durante a
saída de Bento para Monte Cassino, Florêncio, sentindo-se vitorioso, saiu ao
terraço de sua casa para ver a partida do monge. Entretanto, “o terraço ruiu e
Florêncio morreu”. Um dos discípulos de Bento, Mauro, foi pedir ao mestre que
retornasse, pois o inimigo havia morrido, mas Bento chorou pela morte de seu
inimigo e também pela alegria de seu discípulo, “a quem impôs uma penitência
por regozijar-se pela morte do sacerdote”. Em 534, começou a escrever a Regula
Monasteriorum. Morre em 21 de março de 547, tendo antes anunciado a alguns
monges que iria morrer e seis dias antes mandado abrir sua sepultura. Sua irmã
gêmea Escolástica havia falecido em 10 de fevereiro do mesmo ano. As
representações sociais ou abstratas, no âmbito da teologia de São Bento
geralmente demonstram, junto com o santo, o “livro da Regra dos Mosteiros, um
cálice quebrado e um corvo com um pão na boca, em memória ao pão envenenado que
recebeu do sacerdote invejoso”.
São Bento de Núrsia (480-547) é irmão gêmeo de Santa Escolástica (480-542). Ela preceituava a pobreza, a virgindade, a obediência, a oração e o trabalho, bem como a obrigação de hospedar peregrinos e viajantes em seus mosteiros, dar assistência aos pober e promover o ensino. Por este motivo, ao lado dos seus mosteiros, havia semper uma escola, razão pela qual ainda, a ordem tornou-se um dos centros culturais da Idade Média, com suas bibliotecas reunindo o que restara das obras e ensinamentos da Antiguidade. Embora a fundação da ordem seja anterior a ele, considera-se que terá verdadeiramente tomado impulso a partir da reunião de vários mosteiros que professavam a regra por ele escrita, iso muito antes de sua morte. Mais tarde, os monges dessa ordem passaram a ser reconhecidos como beneditinos. A ordem está espalhada por quase todo o mundo, com mosteiros masculinos e femininos de monges e monjas de clausura. Seguindo o seu exemplo e inspiração, diversos fundadores de ordens religiosas tem baseado as normas e regras de seus mosteriros na regra deixada por Bento, cujo princípio é Ora et Labora, o que quer dizer Reza e Trabalha. Santa Escolástica é uma santa católica, nascida no Reino Ostrogótico e gêmea de São Bento de Núrsia, pai do monaquismo. Escolástica buscava a santidade desde jovem que iniciou sua vida consagrada a Deus antes de seu irmão.
Em épocas posteriores, segundo a análise histórica e pontual de Norbert
Elias (2011: 160), causou surpresa saber que os cavaleiros medievais eram atendidos no
banho por mulheres; do mesmo modo, eram elas que lhes lavavam à cama a bebida
de despedida da noite. Parece ter sido prática comum, pelo menos nas cidades,
despir-se em casa antes de ir para a casa de banhos. – “É muito frequente”, diz
um observador, “ver o pai, nada mais usando que calções, acompanhado da esposa
e dos filhos nus, correr pelas ruas, de sua casa para os banhos... Quantas
vezes vi mocinhas de dez, doze, quatorze, dezesseis e dezoito anos inteiramente
nuas, exceto por uma curta bata, muitas vezes rasgada, e com trajo de banho
esmulambado, na frente e atrás! Com isto aberto aos pés e com as mãos
decorosamente às costas, correndo de suas casas no meio-dia pelas longas ruas
em direção aos banhos. E quantos corpo nus de rapazes de dez, doze, quatorze e
dezesseis anos correndo ao lado delas”.
Esta despreocupação desaparece lentamente no século XVI e mais rapidamente nos séculos XVII, XVIII e XIX, no início nas classes altas e muito mais devagar nas baixas. Até então, todo o estilo de vida, com a maior intimidade dos indivíduos, tornava a vista do corpo nu, pelo menos no lugar apropriado, incomparavelmente mais comum do que nos primeiros estágios da Era Moderna. – “Chegamos à conclusão surpreendente”, disse alguém com referência à Alemanha, “que... a vista da nudez total era regra diária até o século XVI. Todos se despiam inteiramente à noite antes de ir dormir e da mesma maneira nenhuma roupa era usada nos banhos a vapor”. E isto por certo não se aplicava apenas à Alemanha. As pessoas adotavam uma atitude menos inibida – ou poderíamos dizer, mais infantil – com relação ao corpo e a muitas de suas funções. Os costumes ligados ao ator de ir dormir, porém, mostram menos isso do que os hábitos de banho. Contudo, uma camisola especial começou a ser adotada lentamente, mais ou menos na ocasião em que acontecia o mesmo com o garfo e o lenço. Tal como outros “implementos de civilização”, espalhou-se de forma bem gradual pela Europa. E, como eles, era símbolo de uma mudança decisiva que ocorria nessa época nos seres humanos. Aumentava a sensibilidade com tudo aquilo que entrava em contato com o corpo. A vergonha passou a acompanhar formas de comportamento que antes haviam estado livres desse sentimento.
A moda no período de 1795-1820 em países europeus e com influência europeia viu o triunfo final da nudez ou dos estilos informais sobre os brocados, rendas, perucas e pó de arroz do início do século XVIII. Após a Revolução Francesa, ninguém queria parecer um membro da aristocracia francesa, e as pessoas começaram a usar roupas mais como uma forma de expressão individual do verdadeiro eu do que como uma mera indicação de seu status social. Como resultado, as mudanças que ocorreram na moda na virada do século XIX deram a oportunidade de apresentar novas identidades públicas que também forneceram percepções sobre seu eu privado. Katherine Aaslestad indica como “a moda, incorporando novos valores sociais, emergiu como um local-chave de confronto entre tradição e mudança”. Para o vestido feminino, o dia-a-dia da saia e do estilo da jaqueta eram práticos e diplomáticos, lembrando a mulher da classe trabalhadora. A moda feminina seguia os ideais clássicos, e os espartilhos apertados foram temporariamente abandonados em favor da figura natural de cintura alta. Essa figura natural foi enfatizada por ser capaz deixar o corpo nu visível por baixo da roupa.
Seios visíveis faziam parte desse visual clássico, e alguns os
caracterizaram na moda como exclusivamente estéticos e sexuais. Na
Grã-Bretanha, a era da Regência na Inglaterra cobriu os anos em que o rei
George III foi considerado incapaz para governar e seu filho, o príncipe de
Gales, governou a Inglaterra como príncipe regente antes de sua ascensão como
rei George IV. Mas a definição mais ampla do período, caracterizado por
tendências na moda, arquitetura, cultura e política, começa com a Revolução
Francesa de 1789 e termina com a ascensão da Rainha Vitória ao poder, iniciando
a chamada Era Vitoriana e terminando o período da Regência. Os nomes de pessoas
populares que viveram época são famosos ainda em nossos dias atuais: Napoleão I Bonaparte e
Josefina, Madame Récamier, Jane Austen, Percy Bysshe Shelley, Lord Byron, Beau
Brummell, Lady Emma Hamilton, Rainha Luísa da Prússia (1776-1810) seu marido e mais. Beau
Brummell (1778-1840), introduziu as calças longas, um arquétipo da moda masculina, alfaiataria de linho imaculado sem
adornos como os ideais de representação da moda masculina.
Na Alemanha, as cidades-Estado republicanas abandonaram suas roupas tradicionais, modestas e práticas e começaram a seguir as tendências da moda francesa e inglesa de vestidos de manga curta e jaquetas Spencer. As tendências da moda americana emulavam os vestidos franceses, mas de uma maneira atenuada com xales e túnicas para lidar com a transparência de chemise. No entanto, na Espanha, membros da aristocracia, bem como cidadãos da classe baixa, se uniram e se rebelaram contra os ideais e a moda do iluminismo francês, vestindo-se como majas e majos para conter seu “orgulho espanhol”. No final do século XVIII, estava ocorrendo uma grande mudança na moda que eram além das mudanças no mero estilo e indumentária, mas também para mudanças nos ideais filosóficos e sociais. Antes dessa época, historicamente a questão do estilo, da identidade e das tradições do Ancien Régime impediam a conceituação hegeliana de “Eu”. Em vez disso, a identidade era considerada maleável; sujeito a alterações dependendo das roupas que a pessoa vestia. No entanto, na década de 1780, o novo estilo “natural” permitiu que o Eu interior transcendesse suas roupas.
O processo psicológico já descrito na Bíblia – “percebendo que estavam nus, ficaram envergonhados” – isto é, um avanço da fronteira da vergonha, um movimento em direção a mais comedimento – repete-se aqui, como aconteceu tantas vezes no curso da história. Desaparece a despreocupação em mostrar-se nu, como também em satisfazer necessidades corporais na frente dos outros. Tornando-se menos comum na vida social esse espetáculo, adquire uma nova importância a descrição do corpo nu na arte. Mais do que até então, torna-se uma imagem onírica um emblema de desejos irrealizados. Para usarmos a palavra de Friedrich Schiller (cf. Maia, 2021), torna-se “sentimental”, em comparação com a “ingenuidade” de fases anteriores. Na sociedade da corte na França – onde levantar-se e ir dormir, pelo menos no caso dos grandes senhores e senhoras, estão incorporados solidamente à vida social – a camisola, como todas as formas de vestuário que aparecem na vida comunitária do homem, assume funções representativas à medida que se desenvolve. Isto muda quando, com a ascensão das classes subalternas, levantar-se e deitar-se tornam-se coisas íntimas na vida social da família nuclear. Desde sua infância José Datrino era possuidor de um comportamento atípico.
Por volta
dos treze anos de idade, passou a ter premonições sobre sua missão na terra, na
qual acreditava que um dia, depois de constituir família, filhos e bens,
deixaria tudo em prol de sua missão. Este comportamento causou preocupação em
seus pais, que chegaram a suspeitar que o filho sofria de algum tipo de
loucura, chegando a buscar ajuda em curandeiros espirituais. No dia 17 de
dezembro de 1961, ocorreu a Tragédia do Gran Circus Norte-Americano, na
cidade de Niterói no Rio de Janeiro, considerada uma das maiores fatalidades em
todo o mundo circense. Neste incêndio morreram mais de 500 pessoas, a maioria,
crianças. Na antevéspera do Natal, seis dias após o acontecimento, José acordou
alegando ter ouvido “vozes astrais”, segundo suas próprias palavras, que o
mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual. O
Profeta pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio onde hoje
encontra-se a Policlínica Militar de Niterói. Plantou jardim e horta sobre as
cinzas do circo em Niterói, local que um dia foi palco de tantas alegrias, mas
também de muita tristeza.
Aquela foi sua morada por quatro anos. Lá, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido e Gentileza. Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Daquele dia em diante, passou a se chamar “José Agradecido”, ou “Profeta Gentileza”. Contrariando a lenda popular, Gentileza sempre reafirmava: - “Sou papai de cinco filhos, três femininos e dois masculinos, não perdi ninguém no incêndio do circo!”. Após deixar o local que foi denominado “Paraíso Gentileza”, o profeta Gentileza começou a sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970 percorreu toda a cidade. Era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - “Sou maluco para te amar e louco para te salvar”. O Profeta Gentileza, também oferecia, em gesto de gentileza, flores e rosas para as pessoas que cruzavam seu caminho nas ruas do Rio de Janeiro.
Seu
verdadeiro nome de nascimento era José Datrino, nascido em 1917. Antes de
tornar-se “Profeta Gentileza”, Datrino possuía uma empresa de transporte de
cargas e residia, com sua família, no bairro de Guadalupe. O Profeta Gentileza
também morou na cidade de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais, onde fazia
pregações de frente ao prédio onde está instalado o INSS, isso ocorreu por
volta dos anos 1977 e 1978. Fazia pregações e realmente chamava a atenção dos
estudantes que falavam palavrões perto dele. A partir de 1980, escolheu 56
pilastras do Viaduto do Gasômetro, que vai do Cemitério do Caju até o Terminal
Rodoviário do Rio de Janeiro, numa extensão de aproximadamente 1,5 km. Ele
encheu as pilastras com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do
mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização. Durante a Eco-92, o
Profeta Gentileza colocava-se estrategicamente no lugar por onde passavam os
representantes dos povos e incitava-os a viverem a gentileza e a aplicarem
gentileza em toda a Terra. A partir de 2000, os murais foram tombados pelos
órgãos de proteção da prefeitura do Rio de Janeiro, entretanto “em 2016
sofreram atos de vandalismo”.
As gerações que se seguiram à 1ª grande guerra (1914-18), nos seus livros de etiqueta, lembram com certa ironia – e não se um leve estremecimento – esse período, quando a descrição de funções como dormir, despir-se e vestir-se era imposta com especial severidade, a simples menção das mesmas já sendo objeto de proibições relativamente pesadas. Um livro inglês de boas maneiras diz em 1936, talvez com leve exagero, mas por certo não de todo sem justificação: - Durante a Era Elegante antes da Guerra, acampar ao ar livre era a única maneira através da qual escritores respeitáveis podam abordar a questão do sono. Nesses dias senhores e senhoras não iam para a cama à noite – eles se retiravam. Como faziam isso não era da conta de ninguém. O escritor que pensasse de maneira diferente descobria que era excluído das bibliotecas circulantes. A transição da camisola para o pijama para um traje de dormir mais “socialmente apresentável” – constitui um sintoma desta situação. A mudança não é, como se pensa algumas vezes, apenas um ou, quem sabe, “uma liberação e descontrole de ânsias instintivas”, mas o desenvolvimento de uma forma que se ajusta “a nosso padrão avançado de delicadeza e da específica atual vida social que coloca o indivíduo”.
O
ato de dormir não é mais tão íntimo e segregado como no estágio
precedente. Há mais situações em que pessoas veem estranhos dormindo,
despindo-se ou vestindo-se. As roupas de dormir da fase precedente despertavam
sentimentos de vergonha e embaraço exatamente porque eram relativamente
informes. Não havia intenção de que fossem vistas por pessoa fora do círculo
familiar. Por um lado, a camisola do século XIX assinala uma época em que a
vergonha e o embaraço no tocante à exposição do corpo eram tão intensas e internalizadas
que as formas corporais tinham que ser inteiramente cobertas, mesmo que o
indivíduo estivesse sozinho ou no círculo familiar mais íntimo; por outro,
caracteriza uma época na qual a esfera “íntima” e “privada”, por quer era tão
severamente separada do resto a vida social, não fora ainda em grande extensão
articulada e padronizada. Esta combinação peculiar de sentimentos fortemente
internalizados, compulsivos, de delicadeza, ou moralidade, com a falta
de padronização social no relativo a “esferas de privacidade” é característica
do social no século XIX e não pouco da nossa.
Os
exemplos dão uma ideia, segundo a teoria de Norbert Elias, aproximada de
como dormir, tornando-se, aos poucos, uma situação mais íntima e privada, é
separado da maioria das demais relações sociais, e como as regras passadas aos
jovens assumem uma conotação moralística específica, com o aumento dos
sentimentos de vergonha. O contraste como o período posterior torna-se muito
mais claro se lembrarmos que essas regras se dirigiam inegavelmente a pessoas
que iam dormir despidas. Que desconhecidos dormissem na mesma cama, a julgar
pela maneira como a situação foi discutida, não parecia estranho nem de nenhuma
aneira impróprio, mesmo na época de Erasmo. Nas citações do século XVIII a
tendência não continua em linha reta, em parte, porque ela não se limita mais,
predominantemente, à classe alta. Mas no entretempo, mesmo em outras classes,
tornou-se indubitavelmente mais raro que jovens dividissem a cama com outra
pessoa: - “Se for forçado por necessidade inevitável a dividir a cama com outra
pessoa ... em uma viagem, não é correto ficar tão perto que o perturbe ou
mesmo o toque”, escreve La Salle, e “você não deve nem se despir nem ir para a
cama na presença de qualquer outra pessoa”. Na edição de 1774, os detalhes são
mais uma vez evitados.
O
sentimento de vergonha que cerca as relações sexuais humanas têm aumentado e
mudado muito no processo de civilização. Isto se manifesta com especial clareza
na dificuldade experimentada por adultos, nos estágios mais recentes de
civilização, em falar com crianças sobre essas relações. O que se coloca aqui
no tocante ao processo civilizador nada é amis do que o problema geral da
mudança histórica. Tomada como um todo, essa mudança não foi racionalmente
planejada, mas tampouco se reduziu ao aparecimento e desaparecimento aleatórios
de modelos desordenados. Como teria sido isso possível? Mas a questão é a
seguinte. Como pode acontecer que surjam no mundo humano formações sociais que
nenhum ser isolado planejou e que, ainda assim, são tudo menos formações de
nuvens, sem estabilidade ou estrutura? Essa ordem nem é racional – se por ela
entendemos que resultaria intencionalmente da deliberação e do propósito de
pessoas isoladas; nem irracional, se que remos dizer com isso que ela tenha
surgido de maneira incompreensível. Ela às vezes foi identificada com a ordem
da Natureza. Friedrich Hegel, principalmente interpretou como um tipo de
Espírito supraindividual, e o conceito hegeliano de “astúcia da razão” mostra o
quanto o filósofo se preocupava com o fato de que o planejamento das ações
humanas dá origem a numerosas coisas que ninguém realmente pretendeu. Os
hábitos mentais que tendem a nos prender a pares de opostos, como racional e
irracional ou espírito e natureza não se mostram inadequados.
Ipso facto essa reorganização dos relacionamentos afetivos humanos se fez acompanhar de correspondentes mudanças nas maneiras, na estrutura da personalidade do homem, cujo resultado provisório é nossa forma de conduta e de sentimentos civilizados. A conexão entre essas mudanças específicas na estrutura das relações humanas e as modificações correspondentes na estrutura da personalidade, e, portanto, desses mecanismos de integração é relevante para a compreensão do processo civilizador. Mas só se percebermos no âmbito da análise a força irresistível com a qual uma estrutura social determinada, uma forma particular de entrelaçamento social, orienta-se, impelida por suas tensões, para uma mudança específica e, assim, para outras formas de mentalidade humana, na modelação do maleável aparato psicológico, como se pode observar repetidas vezes na história humana, desde os tempos mais remotos até o presente. E só então, por conseguinte, poderemos entender que a mudança psicológica que a civilização implica esteja sujeita a uma ordem e direção muito específicas, embora não tivessem estas sido planejadas por pessoas isoladas, nem produzidas por medidas “razoáveis” propositais. A civilização não é “razoável”, nem “racional”, como também não é irracional. É posta em movimento cegamente e mantida em movimento pela dinâmica autônoma de uma rede de relacionamentos, por mudanças específicas na maneira como as possamos extrair dela alguma coisa mais “razoável”, alguma coisa que funcione em termos da combinação das necessidades e objetivos. Porque é precisamente em combinação com o processo civilizador que a dinâmica “cega dos homens”, entremisturando-se em seus atos e objetivos, gradualmente leva a um campo de ação mais vasto para a intervenção planejada nas estruturas social e individual – intervenção esta que está baseada num conhecimento cada vez maior da dinâmica não planejada dessas próprias estruturas sociais.
A
cidade de Guaramiranga está situada na Área de Proteção Ambiental da Serra de
Baturité. As terras da atual Guaramiranga eram habitadas por várias etnias. A
principal delas era a Kanyndé. Com a criação da Missão da Palma,
durante o século XVIII, para a “evangelização” forçada dos indígenas, e a
expansão da pecuária e as plantações de café no século XIX, consolidou-se o domínio
do centro urbano Guaramiranga. Localizado no Maciço de Baturité, tem como
principal elevação o Pico Alto, com 1 115 metros acima do nível do mar. Foi
registrado a ocorrência de caolim, uma variedade da argila, em seu território.
As principais fontes de água fazem parte da bacia Metropolitana, sendo elas os
rio Pacoti e os riachos Candeias e Sinimbútantos, todos afluentes do rio
Aracoiaba. A região possui uma vegetação diversificada, variando desde a
caatinga arbustiva densa, floresta subcaducifólia tropical, floresta úmida
semiperenofólia, floresta úmida semicaducifólia, floresta caducifólia à mata
ciliar. O clima da região é tropical úmido, com pluviometria média de 1 668 mm
anuais e chuvas concentradas de janeiro a julho.
O turismo representa um componente competitivo
da economia do município, graças a atrativos como o clima serrano, belas
paisagens e eventos acolhidos durante todo o ano, como o tradicional Festival de Jazz
e Blues. Guaramiranga é conhecida também por “cidade das flores”. A
origem desse título reside na tradição do cultivo de rosas no Maciço de
Baturité. Guaramiranga é um dos mais disputados destinos de carnaval dos
cearenses, pois oferece opção para aqueles contingentes que preferem ficar
longe do forró e do axé, que normalmente são dominantes no litoral do estado.
Nesse período, a cidade abriga o Festival de Jazz e Blues de
Guaramiranga, um evento que conta com a participação de artistas renomados da
música nacional e internacional. Nas noites frias da pequena cidade, a música
entretém uma multidão de apreciadores, que lotam as ruas e hospedagens, muitas
vezes improvisando barracas de acampamento e casas alugadas por moradores.
Além
das atrações culturais, Guaramiranga é reconhecida pelos atrativos naturais.
Por estar localizada no Maciço de Baturité, região serrana a 865 metros acima
do nível do mar, as temperaturas são amenas, geralmente entre 16 e 25º, embora,
no mês de julho, a temperatura em torno de 12°C. Por essas condições
climáticas, é popularmente conhecida como “suíça cearense”. A vegetação é
composta de mata atlântica. As trilhas ecológicas são uma forte atração da
região. Há, ainda, a Cachoeira do Perigo, localizada em Baturité. Nas rotas
turísticas de Guaramiranga há também o Pico Alto, local de maior altitude no
Maciço de Baturité, com 1115 metros, e, consequentemente, de menores
temperaturas, que podem chegar a 10°C em julho. Lá existe um mirante onde os
visitantes podem ver o pôr do sol. Juntamente com as cidades de Palmácia,
Pacoti, Mulungu e Aratuba, faz parte da Rota Turística Serra de Guaramiranga. Os
prédios históricos e seu valor afetivo são outra característica do município. A
Pousada dos Capuchinhos, antes um mosteiro, é um dos principais pontos
turísticos da cidade, mesmo para aqueles que não estejam lá hospedados: os
cantos gregorianos são tradição, entoados nas manhãs do antigo prédio
religioso. A beleza do antigo mosteiro se estende por seus jardins e fontes.
Teoria da Firma foi um conceito criado pelo economista britânico Ronald Coase (1910-2013), no artigo The Nature of Firm, de 1937. Filho da classe trabalhadora, Coase se apaixonou pelas economias de mercado, sendo agraciado com o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel de 1991, por sua produção acadêmica da área da microeconomia, desenvolvendo a Teoria da Firma, e pelo seu trabalho denominado O Problema do Custo Social, que é considerado uma mudança de paradigma na área de legislação econômica bem como o trabalho mais citado na mesma. A mais importante obra de Ronald Coase, The Firm, the Market and the Law, foi traduzida para a língua portuguesa em 2016 e publicada pela Forense Universitária, na Coleção Paulo Bonavides, dirigida pelo ministro Dias Toffoli e pelo professor Otavio Luiz Rodrigues Junior. Sob o título A firma, o Mercado e o Direito, foi antecedido de Estudo Introdutório do ministro Antônio Carlos Ferreira e por Patrícia Candido Alves Ferreira.
Segundo
Coase, o objetivo com o seu artigo The Nature of Firm “foi estabelecer
uma base lógica para a firma e indicar o que determina a gama de atividades que
desenvolve”. Procurou responder ao questionamento sobre “a origem do
crescimento das firmas”, propondo que elas crescerão enquanto for mais barato
racionalizar os custos de transação de um determinado produto internamente, do
que adquiri-lo diretamente no mercado. Para o economista britânico, era
importante responder tal questão, pois a teoria econômica até então se
preocupava com um funcionamento do mercado não realista, ignorando o
funcionamento de algo tão importante para o funcionamento das modernas
economias de mercado: as firmas. Em suas palavras: “A principal razão
pela qual é lucrativo estabelecer uma firma pareceria ser que existe um custo
na utilização do mecanismo de preços”, uma vez que seria bastante oneroso a
celebração de inúmeros contratos para cada transação de troca. Assim, cria-se a
firma para que o custo dessas inúmeras transações seja reduzido. Para ele a
operação de um mercado tem seus custos e, ao estabelecer uma organização
e permitir que alguma autoridade, por exemplo, o “empresário” direcione os
recursos, são economizados determinados custos de mercado.
A
primeira observação familiar da crítica de Émile Durkheim (1858-1917), é que a corporação
tem contra si seu próprio passado histórico. De fato, ela é tida como
intimamente solidária do antigo regime político e, por conseguinte, como
incapaz de sobreviver a ele. Na história da filosofia, o que permite considerar
as corporações de ofício uma organização temporária, boa apenas para uma época
e uma civilização determinada, é, ao mesmo tempo, sua grande antiguidade e a
maneira como se desenvolveram na história. Se elas datassem unicamente da Idade
Média, poder-se-ia crer, de fato que, nascidas com um sistema político, deviam
necessariamente desaparecer com ele. Mas, na realidade, têm uma origem bem mais
antiga. Em geral, elas aparecem desde que as profissões existem, isto é, desde
que a atividade deixa de ser puramente agrícola. Se não parecem ter sido
conhecidas na Grécia, até o tempo da conquista romana, é porque os ofícios,
sendo desprezados, eram exercidos exclusivamente por estrangeiros e, por isso
mesmo, achavam-se excluídos da organização legal da cidade. Mas em Roma,
comparativamente, elas datam pelo menos dos primeiros tempos da República; uma
tradição chegava até a atribuir sua criação ao rei Numa, um sabino escolhido
como segundo rei de Roma.
Sábio,
pacífico e religioso, dedicou-se a elaboração das primeiras leis de Roma, assim
como dos primeiros ofícios religiosos da cidade e do primeiro calendário. É
verdade que, por tempo, elas tiveram de levar uma existência bastante humilde,
pois os historiadores e os monumentos só raramente as mencionam; não sabemos
muito bem como eram organizadas. Desde de Cícero, segundo Durkheim (2010) sua
quantidade tornara-se considerável e elas começavam a desempenhar um papel.
Nesse momento, diz J.-P. Waltzing (1857-1929), “todas as classes de trabalhadores
parecem possuídas pelo desejo de multiplicar as associações
profissionais”. Uma forma de atividade
generalizada que tomou lugar na vida não pode, evidentemente, permanecer tão
desregulamentada, em seu desempenho e atividade, sem que disso resulte os impactos
sociais sobre a divisão do trabalho e as mais profundas perturbações. Mas
sofrer no trabalho não é uma fatalidade. É, em particular, como decorre e
testemunhamos, uma fonte de desmoralização geral real. Pois, precisamente
porque as funções econômicas absorvem o maior número de cidadãos, para o pleno
desenvolvimento da vida social, há uma multidão de indivíduos, como dizia
Freud, cuja vida transcorre quase toda no meio industrial e comercial; a
decorrência disso é que, como tal meio é pouco marcado pela moralidade, a maior
parte da existência transcorre fora de toda e qualquer ação moral. A tese
expressa como uma espécie de antídoto da civilização, e que o sentimento do
dever cumprido se fixe fortemente em nós, é preciso que as próprias
circunstâncias em que vivemos permanentemente desperto.
A
atividade de uma profissão só pode ser regulamentada eficazmente por “um grupo
próximo o bastante dessa mesma profissão para conhecer bem seu funcionamento,
para sentir todas as suas necessidades e poder seguir todas as variações
destas”. O único grupo que corresponde a essas condições é o que seria formado
por todos os agentes de uma mesma condição reunidos num mesmo corpo. E que a
sociologia durkheimiana conceitua de corporação ou grupo profissional. É na
ordem econômica que o grupo profissional existe tanto quanto a moral
profissional. Desde que, não sem razão, com a supressão das antigas
corporações, não se fizeram mais do que tentativas fragmentárias e incompletas
para reconstituí-las em novas bases sociais. Os únicos agrupamentos dotados de permanência são os que se chamam
sindicatos, seja de patrões, seja de operários. Temos aí in
statu nascendi o começo e o princípio ético de uma organização profissional,
mas ainda de forma rudimentar e sem “vocação como ciência”.
O número deles é teoricamente ilimitado, mesmo no interior de
uma categoria industrial; e, como cada um é independente dos outros, se não se
constituem em federação e se unificam, não há neles nada que exprima a unidade
da profissão em seu conjunto de práticas e saberes sociais. Não só os sindicatos
de patrões e de empregados são distintos uns dos outros, o que é legítimo e
necessário, como não há entre eles contatos regulares. Não existe organização
social comum que os aproxime sem fazê-los perder sua individualidade e na qual
possam elaborar em comum uma regulamentação que, estabelecendo suas relações
mútuas, imponha-se a ambas as partes com a mesma autoridade; por conseguinte, é
sempre a “lei dos mais forte” que resolve os conflitos, e o estado de guerra
subiste inteiro. Salvo no caso de seus atos pertencentes à esfera moral comum
estão na mesma situação. A tese sociológica é a seguinte: para que uma moral e
um direito profissionais possam se estabelecer nas diferentes profissões, é
necessário, pois, que a corporação, em vez de permanecer um agregado confuso e
sem unidade, se torne, ou antes, volte a ser, um grupo definido, organizado,
uma instituição pública.
Em
administração e microeconomia, firmas “são organizações que produzem e vendem
bens e serviços, que contratam e utilizam fatores de produção, que podem ser
classificados em primárias ou secundárias”. Segundo essa teoria, as firmas
trabalham com o lado da oferta de mercado, que vão oferecer aos consumidores,
como bens e serviços produzidos. As firmas são de extrema importância para os
mercados. Elas organizam o capital e trabalho para realizar a produção e são as
responsáveis pelo processo de valorização às matérias-primas utilizadas no
processo e uso de tecnologia. As empresas produzem conforme a procura do
mercado e a oferta é ajustada por que estão dispostos a consumir. A Teoria
da Firma (Fagundes, 2021) não o interesse específico
de definir a empresa do ponto de vista jurídico ou contábil. Ela é vista como
uma “unidade técnica de produção, propriedade de indivíduos ou famílias que
compram fatores de produção para produção de bens econômicos e serviços”. Em
2009 Oliver Williamson ganhou o Prêmio de Ciências Econômicas sobre os limites
da firma.
A teoria da produção abrange os
conceitos de produção e produtividade. Em conjunto com as teorias
dos custos e dos rendimentos, ela permite a uma firma determinar qual “a
quantidade ideal a ser produzida”. Na teoria da produção no estágio I o
produto total cresce a taxas crescentes e decrescentes até o ponto onde a
produtividade marginal do fator variável iguala a produtividade média deste
fator em seu máximo, no estágio II o produto total cresce a taxas
decrescentes até o seu máximo, sendo a produtividade marginal do fator variável
sempre decrescente até o ponto onde ela iguala-se a zero, no estágio III
o produto total é decrescente sendo a produtividade marginal do fator variável
decrescente e negativa. A função de produção representa as possibilidades
técnicas de produção eficiente - ou seja, sem desperdício - de uma
empresa. É fácil notar que qualquer fator fixo, no longo prazo, também varia. O
aluguel do espaço utilizado pode ser constante por alguns meses, e sua variação
anual pode até ser desconsiderada. Não é correto considerar que esse fator seja
fixo em um prazo determinado de dez anos. Portanto, a definição de fatores
fixos e variáveis está ligado ao conceito abstrato de curto e longo prazos. Na teoria
da firma, a compreensão do curto prazo é definida como o espaço de tempo em que
há pelo menos um fator fixo envolvido na produção de uma firma. A teoria da
firma é o ramo de estudo que visa entender o funcionamento das empresas,
partindo do princípio de que elas buscam a maximização dos lucros. A
divisão do trabalho e a industrialização foram responsáveis por aumentar a
produtividade.
Bibliografia
geral consultada.
VAUCHEZ, André, A Espiritualidade na Idade Média Ocidental. Rio de Janeiro: Editor Jorge Zahar, 1995; LÉVI-STRAUSS, Claude, Tristes Trópicos. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1996; SIFFERT FILHO, Nelson Fonte, A Teoria dos Contratos Econômicos e a Firma. Tese de Doutorado. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1996; CASTELLI, Geraldo, Hospitalidade na Perspectiva da Gastronomia e da Hotelaria. Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 2005; SACCOL, Amarolinda Iara da Costa Zanela, A Teoria da Hospitalidade e o Processo de Adoção de Tecnologias da Informação Móveis e Sem Fio. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Administração. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005; ELIAS, Norbert, O Processo Civilizador. Volume 1: Uma História dos Costumes. 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2011; LOPES, Fernanda Tarebal, Entre o Prazer e o Sofrimento: História de Vida, Drogas e Trabalho. Tese de Doutorado. Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2013; YADO, Thaís Harumi Manfré, Sentidos do Espaço Urbano: Os Dizeres de Gentileza Dentro e Fora da Cidade. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Centro de Educação e Ciências Humanas. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2016; LIMA, Glessia Silva de, Inovação na Pequena Empresa: Desvendando Conceitos, Modelos e Políticas de Inovação. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas. Escola de Administração de Empresas. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2018; SILVEIRA, Bianca Resende Campos, Formação Profissional, Hotelaria e Acolhimento Turístico: Possíveis Inter-relações no Campo do Hotel-Escola. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Turismo. Brasília: Universidade de Brasília, 2019; MAIA, Nertan Dias Silva, Sobre o Conceito de Educação Estética em Friedrich Schiller: Um Estudo Comparativo entre as Cartas a Augustenburg e Sobre a Educação Estética do Homem. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Centro de Ciências Sociais. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2021; VALDUGA, Manoela Carrillo; COSTA, Carlos Manuel Martins da; BREDA, Zélia Maria de Jesus, “A Percepção da Hospitalidade na Cidade do Rio de Janeiro”. Disponível em: https://rbtur.org.br/vol. (16) 2022; entre outros.
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