“O
tempo somente é porque algo acontece, e onde algo acontece o tempo está”. Milton Santos
O Mundo como uma totalidade
abrangente com uma certa ordem organizada em torno de um princípio comum de inteligibilidade,
é o herdeiro do Cosmos da Antiguidade grega. O filósofo e matemático Pitágoras foi o primeiro a
chamar cosmos (κόσμος) o envoltório de tudo, “por causa da
ordem ali identificada”. Mas os sábios da Grécia estão menos
interessados na busca da totalidade exaustiva do conhecimento do que na busca
do conhecimento da totalidade intrínseca. O conceito de Mundo que gradualmente o
sucedeu foi fortemente teologizado pelo ideário da Idade Média para ser desteologizado
no século XVII, pela tradição cartesiana, ela mesma questionada no início do
século XX pela fenomenologia que inverte a direção do olhar em fazer do homem a
origem absoluta do sentido. O cosmos que se enunciou geografia-mundo
tornando-se pluralista, onde cada indivíduo se constituindo nos variados mundos
em que se insere, organiza seu mundo a partir de seu ponto de vista. Os principais fenomenólogos
progressivamente abordaram de diferentes formas, condições reais e possibilidades os pontos de
vista abstratos desse conceito.
Retomando o cosmos geocêntrico dos
gregos, a Idade Média produziu a ideia de um mundo antropocêntrico, cuja
coerência revela a intenção de seu criador. Este mundo que se decompõe em mundo
sensível e mundo suprassensível de ordem sobrenatural é inseparável da inteligibilidade
geral. A Idade Média acreditava na unidade harmônica entre o homem (microcosmo)
e todo o Cosmos (macrocosmo), sendo ambos considerados como vivos. No
final da Idade Média o macrocosmo se libertará gradualmente de seu significado
religioso para se tornar um conceito filosófico mais adequado à designação do
universo. É deste cosmos que nasceu com a filosofia e mais tarde a fenomenologia
por derivação a abstrata ideia do mundo concebido como uma “unidade viva e
racional”. René Descartes, por exemplo, se separa radicalmente do todo mundo.
Se ele distingue duas categorias de substância em busca da racionalidade, o ego
e a natureza são, no entanto, ontologicamente semelhantes. A fenomenologia
de Edmund Husserl recusará essa interpretação do modo de ser
dessas duas substâncias abstratas.
A Terra interage com objetos
em movimento no espaço, em particular com o Sol e a Lua. Orbita o Sol uma vez
por cada 366,26 rotações sobre o próprio eixo, o que equivale a 365,26 dias
solares ou representa um (01) ano sideral. O eixo de rotação da Terra possui uma
inclinação de 23,4° em relação à perpendicular ao seu plano orbital,
reproduzindo variações sazonais na superfície do planeta, com período igual a
um ano tropical, ou, 365,24 dias solares. Um fato social é questão subjetiva sociológica
ainda mais necessária porque se utiliza essa qualificação sem muita precisão.
Ela e empregada correntemente para designar socialmente as relações práticas que
se dão no interior de uma sociedade, por menos que apresentem, com uma certa
generalidade, algum interesse social. Todo indivíduo come, bebe, dorme,
raciocina, e a sociedade tem todo o interesse em que essas funções se exerçam
regularmente. O sistema de signos de que me sirvo para exprimir meu pensamento,
o sistema de moedas que emprego para pagar minhas dívidas, os instrumentos de
crédito que utilizo nas relações comerciais, as práticas observadas em minha
profissão, e as maneiras de assujeitamento funcionam independentemente da utilidade de uso que faço deles.
Que
se tomem um a um todos os membros de que é composta a sociedade; o que procede
poderá ser repetido a propósito de cada um deles, ou seja, maneiras de agir, de
pensar e pari passu sentir que apresentam essa notável propriedade de
existirem fora das consciências individuais e coletivas. Mas não são apenas exteriores ao
indivíduo, como também são dotados de uma “força imperativa” e coercitiva em
virtude da qual se impõe a ele, quer ele queira, quer não. Em se tratando de
máximas puramente morais, a consciência pública reprime todo ato que as ofenda
através da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos. A coerção
social, mesmo sendo de forma indireta, continua sendo uma técnica ou estratégia
de submissão eficaz. Trata-se de uma ordem de fatos sociais que apresentam
características muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de
sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de um poder de coerção em
virtude do qual esses fatos se impõem a ele. Por conseguinte, eles não poderiam
se confundir com os fenômenos reconhecidos orgânicos, já que consistem em representações
e em ações sociais humanas, muito menos com os fenômenos psíquicos, inconscientes os quais só tem existência na
consciência individual.
Estes
fatos constituem, portanto, uma espécie nova, e é a eles que deve ser dada e
reservada a qualificação de sociais. Essa qualificação lhes convém; pois é
claro que, não tendo o indivíduo por substrato, eles não podem ter outro senão
a sociedade, seja a sociedade política em seu conjunto, seja um dos grupos
parciais que ela encerra: confissões religiosas, escolas políticas, literárias,
corporações profissionais, etc. Por outro lado, é a eles só que ela convém;
pois a palavra social só tem sentido definido com a condição de designar
unicamente fenômenos que não se incluem em nenhuma das categorias de fatos já
constituídos e denominados. Eles representam o domínio próprio da sociologia. Mas
na sociologia durkheimiana há organização delineada, normalizada e estritamente
definida. O hábito coletivo não existe apenas em estado de imanência nos
atos sucessivos que ele determina, mas se exprime na sociedade de uma vez por
todas, por um privilégio cujo exemplo não encontramos no reino biológico, numa
fórmula que se repete de boca em boca, que se transmite pela educação, que se
fixa através da escrita.
Tais
são as origens e a natureza das regras jurídicas, morais, dos aforismos e dos
ditos populares, dos artigos de fé em que as seitas religiosas ou políticas
condensam em crenças, dos códigos de gosto que as escolas literárias
estabelecem, e assim por diante. Nenhuma dessas maneiras de agir ou de pensar
se acha por inteiro nas aplicações que os particulares fazem delas, já que eles
podem inclusive existir sem serem atualmente aplicadas. Há certas correntes de
opinião que nos impelem, com desigual intensidade, conforme os tempos e os
lugares, uma ao casamento, por exemplo, outra, ao suicídio, analisado por Émile Durkheim, ou a uma natalidade
mais ou menos acentuada. As circunstâncias individuais (o sonho) e coletivas
(os mitos, os ritos, os símbolos) que podem ter alguma participação social na
produção do fenômeno, neutralizam-se mutuamente e não contribuem para em
princípio poder determina-lo. O que esse fato social exprime é que os torna um certo estado de alma
coletiva.
A geografia (cf. Almeida, 2000) é uma ciência que estuda a relação entre a Terra e seus habitantes. Os geógrafos querem saber onde e como vivem os homens, as plantas e os animais; onde se localizam os rios, os lagos, as montanhas e as cidades. A palavra geografia vem do grego geographía (γεογραπηία), que significa descrição da Terra. A geografia depende do compartilhamento de outras áreas do conhecimento técnico-científico. Utiliza os dados da química, da geologia, da matemática, da história, da física, da astronomia, da antropologia e da biologia e principalmente da ecologia, pois tanto a Ecologia como a Geografia são estudos e pesquisas com objetos abstratos interrelacionados, porque estão interessados com as análises biológicas, com as análises de fatores geológicos e dos ciclos biogeoquímicos dos ecossistemas, isto é, da relação entre os seres vivos e a utilidade de uso do ambiente como sobrevivência. Os geógrafos utilizam inúmeras técnicas, como viagens, leituras e estudo de estatísticas. Os mapas são seu instrumento etnográfico e meio de expressão mais importante. Além de estudar mapas, os geógrafos os atualizam como pesquisas especializadas, aumentando assim o campo de reconhecimento geográfico.
O homem sempre precisou e se utilizou do conhecimento geográfico. Os povos pré-históricos tinham de encontrar cavernas para habitar e reservas regulares de água. Tinham também de morar perto de um lugar onde pudessem caçar. Caverna, gruta ou furna é toda cavidade natural rochosa com dimensões que permitam acesso aos seres humanos. Os termos relativos a caverna geralmente utilizam a raiz espeleo-, derivada do latim spelaeum, do grego σπήλαιον, “caverna”, da mesma raiz da palavra espelunca. As cavernas são também estudadas pela espeleologia, uma ciência multidisciplinar que envolve análises simultâneas e comparativamente através da geologia, hidrologia, biologia, paleontologia e arqueologia. Sabiam localizar “os rastros dos animais e as trilhas dos inimigos”. Usavam carvão ou argila colorida para desenhar mapas primitivos de sua região nas paredes das cavernas ou nas peles secas dos animais. O homem aprendeu a lavrar a terra e a domesticar os animais.
Sơn
Đoòng é uma caverna localizada na província de Quảng Bình, no Vietnã, 500 km ao
sul de Hanói, perto da fronteira Laos-Vietname atualmente é considerada a maior
caverna do planeta situa-se no Parque Nacional de Phong Nha-Kẻ Bàng,
declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2003. Em 1991, um pastor da
zona encontrou-a, mas, receoso do estranho silvo que provinha do interior,
manteve em segredo a sua localização. Foi usada como refúgio dos
bombardeamentos na Guerra do Vietname. A primeira expedição para descobrir os
segredos da gruta foi feita em 2009 por Howard e Deb Limbert que, no entanto,
encontraram uma enorme parede de calcite que os impediu de continuar a
investigação. Segundo os espeleólogos, a gruta é difícil de encontrar por estar
completamente coberta de vegetação. A maior destas cavernas tem 200 metros de
altura e 150 metros de largura, a outra possui 150 metros de altura e 130
metros de largura.
Existem
diversos critérios para medir o tamanho de uma caverna, e neste caso foi levado
em conta a amplitude da sala. Em abril de 2009, a existência de uma grande
caverna de 6,5 km, com uma largura preliminar de 150 m, foi revelada ao público
no Parque Nacional Vietnamita Phong Nha-Ke Bang. Em princípio os espeleólogos
britânicos asseguraram que a gruta só tinha 150 metros de comprimento e 91 m de
largura, mas as novas expedições mostraram que o espaço tem pelo menos 4,5 km e
chega aos 140 metros de altura em algumas partes. Durante as visitas, as
equipas encontraram estalagmites de mais de 70 metros de altura. A maior sala
de Sơn Đoòng tem mais de 5 km de comprimento, 200 metros de altura e 150 metros
de largura. Com estas dimensões enormes, Sơn Đoòng supera a caverna Deer do
parque nacional de Gunung Mulu na Malásia, representando sociologicamente o
título de “maior caverna do mundo”.
O
rio subterrâneo que flui na caverna desanimou os exploradores de ir mais além,
pois puderam apenas considerar o comprimento da caverna utilizando a luz de
lanternas. Estão previstas mais explorações num futuro próximo, reservadas a
cientistas. A gruta de Sơn Đoòng foi encontrada em fevereiro de 2009 quando um
grupo de cientistas britânicos da Associação Britânica de Investigação de
Grutas, dirigida pelo casal Howard e Limbert Deb, organizava uma visita em
Phong Nha-Ke Bang marcada de 10 a 14 de abril de 2009. Um homem local tinha
descoberto a caverna em 1991, mas não se recordava da maneira de chegar ao
local. De finais de março a 14 de abril de 2009, ajudou os exploradores a
cruzar o bosque de 10 km para aceder à entrada da caverna. Este lugar, que faz
parte das 20 novas cavidades identificadas pelo grupo de exploradores
britânicos, é considerado como o descobrimento científico da maior gruta do
mundo. No total há pelo menos 150 grutas no Parque Nacional Phong Nha-Ke Bang. A
revista consagrada National Geographic enviou depois uma equipe para investigar a cartografia
da gruta em 2010 e o fotógrafo Carsten Peter conseguiu magníficas fotos que
foram publicadas em janeiro de 2011.
Este
lugar, que faz parte das 20 novas cavidades identificadas pelo grupo de
exploradores britânicos, é considerado como a maior gruta do mundo. No total há
pelo menos 150 grutas no Parque Nacional Phong Nha-Ke Bang. Em princípio, os
espeleólogos britânicos asseguraram que a gruta só tinha 150 metros de
comprimento e 91 m de largura, mas as novas expedições mostraram que o espaço
tem pelo menos 4,5 km e chega aos 140 metros de altura em algumas partes.
Durante as visitas, as equipas encontraram estalagmites de mais de 70 metros de
altura. A maior sala de Sơn Đoòng tem mais de 5 km de comprimento, 200 metros
de altura e 150 metros de largura. Com estas dimensões enormes, Sơn Đoòng
supera a caverna Deer do parque nacional de Gunung Mulu na Malásia,
tomando o título de “maior caverna do mundo”. O rio subterrâneo que flui na
caverna desanimou os exploradores de ir mais além, pois puderam considerar o comprimento da caverna utilizando a luz de lanternas. Estão
previstas mais explorações num futuro próximo reservadas a cientistas. A gruta
não é visitável a turistas.
Essas
atividades o forçaram a prestar mais atenção ao clima e à localização dos
pastos. Mas a extensão de seu conhecimento certamente não ia além da distância
que podia percorrer em um dia. Para satisfazer nossas necessidades, precisamos
de um saber-poder da geografia da Terra inteira. Como o conhecimento da
geografia representa utilidade de uso em sua vida cotidiana, o aprendizado da
geografia se inicia na infância com o letramento, ou no ensino fundamental e
estende-se à universidade. O objetivo do estudo da geografia é interpretar
o desenvolvimento do sentido de direção, capacidade de ler mapas, compreensão
das relações espaciais e do tempo, do clima e dos recursos naturais
disponíveis. Pode se dizer que o espeleólogo (cf. Monteiro, 2014) é
aquele que explora, documenta, estuda, socializa a conservação e
preservação das cavernas.
Podem
ter desenvolvimento horizontal ou vertical em forma de galerias
e salões. Ocorrem com maior frequência em terrenos formados por rochas
sedimentares, em rochas ígneas e metamórficas, além de geleiras e recifes de
coral. São originárias da série de processos geológicos que podem envolver uma
combinação de transformações químicas, tectônicas, biológicas e atmosféricas.
Devido às condições naturais ambientais exclusivas encontradas nas cavernas,
esse ecossistema apresenta uma fauna especializada para viver em ambientes
escuros e sem vegetação nativa. Outros animais, como os morcegos, podem
transitar per se entre seu interior e exterior. As cavernas também foram
utilizadas como ambiente seguro e moradia na evolução tribal humana para o
homem primitivo, fato comprovado pela imensa variedade de evidências arqueológicas
e pela arte rupestre. Em alguns casos essas cavidades também podem ser chamadas
de tocas, lapas ou abismos.
A
expressão tornou-se notável na modernidade. Cavern Club é um
bar temático inglês especializado em representações musicais, localizado na
cidade de Liverpool do condado de Merseyside, localizado no noroeste da
Inglaterra, Reino Unido, no lado norte do estuário do Mersey. A cidade está
localizada no extremo sudoeste do condado tradicional de Merseyside. Em 29 de
agosto de 1207, o rei João outorgou alvará que transformava a pequena vila de
pescadores de Liverpool em município livre; um segundo alvará, outorgado por
Henrique III em 1229, concedeu aos mercadores o direito de comércio sem
necessidade de pagar taxas governamentais, nascendo assim o porto de Liverpool.
Foi na fase final do reinado de Elizabeth I do comércio com o Novo Mundo, que o porto da cidade se tornou a principal porta de saída para o
novo mundo. A grande peste de 1664 e também o grande incêndio de 1666 em
Londres fez com que muitos mercadores se mudassem para Liverpool e o porto
prosperou na economia. Nos desportos, o Everton FC e o Liverpool F.C. fazem um
dos clássicos de futebol mais antigos do mundo, o Merseyside derby. Liverpool
também foi porto para transatlânticos como o RMS Titanic. A cidade também ficou
famosa, sobretudo, por ter revelado a banda de rock The Beatles
e, em menor prestígio, Liverpool Express.
O Cavern Club ficou mundialmente reconhecido por ser o local inicial da carreira dos Beatles. Foi inaugurado em 1957 pelo empresário Alan Sytner, como um clube de jazz. Com a mudança de estilo as bandas de skiffle passaram a se apresentar, entre elas a The Quarrymen, em 1957 e 1958, grupo este liderado por John Lennon, e que foi o embrião dos Beatles. O skiffle é um tipo de música folk com influência de jazz e blues. Foi popular entre a juventude britânica na década de 1950. Os grupos de skiffle usavam instrumentos improvisados, como tábuas de lavar roupa e garrafas, para dar às canções folk e melodias simples um ambiente rápido e rítmico. Em 1959 começaram a se apresentar bandas de blues e beat music, dentre estas Rory Storm and the Hurricanes, onde tocava o baterista Ringo Starr. Em 1961 o Cavern Club se torna definitivamente um clube de Rock and Roll. Os Beatles se apresentaram pela primeira vez nesse mesmo ano, com shows regulares até 1963, em um total de 292 shows. Foi ali que Brian Epstein conheceu a banda e seu empresário. Após viagem aos Estados Unidos, em 1964, e a consagração mundial, os Beatles não mais pisaram no Cavern Club, mas bandas de renome, como The Rolling Stones, The Yardbirds, Elton John, Queen, Status Quo, Suzi Quatro e John Lee Hooker animavam a bela casa de espetáculos. A banda neerlandesa progressiva Focus foi a última a se apresentar no clube quando em 1973 este foi demolido.
Em
1984 o famoso jogador do Liverpool Football Club, Tommy Smith, assumiu o
controle da empresa e o Cavern Club foi reconstruído do mesmo lado da
rua, mas 15 metros adiante. Foram utilizados tijolos retirados do bar original,
e há outro similar do outro lado da rua, onde fica a estátua de John Lennon,
chamado Cavern Pub. Devido a dificuldades financeiras, o clube voltou a
fechar em 1989 e ficou assim por 18 meses quando, em 1991, o professor Bill
Heckle e o taxista Dave Jones se tornaram os novos proprietários e reabriram o Cavern,
mantendo-o em atividade comercial até hoje. Em 1999, Paul McCartney se
apresentou ali durante a turnê de seu álbum Run Devil Run. Artistas de
prestígio tais como Arctic Monkeys, Travis e Oasis fãs declarados dos Beatles,
também fizeram shows. Também se apresentaram no local os legendários Bo Diddley
e Richie Havens depois dos três dias do Festival de Woodstock. Em 3 de abril de
2012, James McCartney, iniciou sua carreira musical com apresentação no Cavern
Club.
Cavern
Club
é um bar temático inglês especializado em apresentações musicais, localizado na
cidade de Liverpool. Ficou mundialmente reconhecido por ser o local inicial da
carreira dos Beatles. Foi inaugurado em 1957 pelo empresário Alan Sytner, como
um clube de jazz. Aos poucos mudou seu estilo, e bandas de skiffle passaram a
se apresentar, entre elas a The Quarrymen, em 1957 e 1958, grupo este
liderado por John Lennon, e que foi o embrião dos Beatles. Em 1959 começaram a
se apresentar bandas de blues e beat music, dentre estas Rory
Storm and the Hurricanes, onde tocava o baterista Ringo Starr. Em 1961 o Cavern
Club se torna definitivamente um clube de Rock and Roll. Os Beatles
se apresentaram pela primeira vez nesse mesmo ano, com shows regulares até
1963, em um total de 292 shows. Foi ali que Brian Epstein conheceu a banda,
vindo posteriormente a ser empresário. Após viagem aos Estados Unidos da
América, em 1964, e a consagração mundial, os Beatles “não mais pisaram no
Cavern Club, mas outros artistas e bandas de renome, como The Rolling Stones,
The Yardbirds, Elton John, Queen, Status Quo, Suzi Quatro
e John Lee Hooker animavam a casa”. A banda neerlandesa de rock progressivo Focus
foi a última a se apresentar no clube quando este foi demolido, em 1973.
John Winston Ono Lennon, nasceu em Liverpool, 9 de outubro de 1940 e foi morto em Nova Iorque, em 8 de dezembro de 1980. Foi um cantor, compositor e ativista da paz britânico que fundou os Beatles, a banda de maior sucesso comercial na história da música popular. Sua parceria de composição com o colega de banda Paul McCartney foi uma das mais célebres da história da música. Juntamente com George Harrison e Ringo Starr, o grupo alcançou fama mundial durante a década de 1960. Em 1969, Lennon começou a Plastic Ono Band com sua segunda esposa, Yoko Ono, e continuou a seguir carreira solo após a separação dos Beatles em abril de 1970. Nascido em Liverpool, Lennon se interessou pelo gênero skiffle quando adolescente. Em 1956, formou sua primeira banda, The Quarrymen, às vezes escrito separadamente como The Quarry Men, um grupo britânico de skiffle e rock and roll formado na cidade de Liverpool em 1956, que culminou na criação dos Beatles em 1960.
Sabemos que John
Lennon se caracterizou por sua natureza rebelde e sagaz em sua música, escrita,
desenho, em filmes e entrevistas. No auge de sua fama na década de 1960, ele
publicou dois livros: In His Own Write (1964) e A Spaniard in the
Works (1965), sendo coletâneas de escritos abstratos e desenhos de rabisco.
Começando em 1967 por “All You Need Is Love”, suas canções foram “adotadas como
hinos pelo movimento antiguerra e pela contracultura”. Em 1969, liderou uma
série de protestos pela paz conhecidos como Bed-Ins for Peace. Após se
mudar para Nova Iorque em 1971, seu criticismo à Guerra do Vietnã
resultou em uma longa tentativa do governo Richard Nixon de deportá-lo, e ao
fazê-lo, “lutava ao mesmo tempo contra o conservadorismo ideológico e
contra o relativismo mascarado de progresso, na verdade subordinado aos
interesses pessoais e profissionais” (cf.
Horkheimer, 1976: 18). Em 1975, Lennon se retirou da “indústria musical”
para cuidar do segundo filho, Sean, e em 1980 retornou com Yoko Ono, em Double
Fantasy. Ele foi assassinado em frente à sua casa em Manhattan por Mark
Chapman, um fã três semanas após o lançamento do último álbum. Como
intérprete, compositor ou colaborador, Lennon teve 25 canções nº 1 na Billboard
Hot 100.
O álbum Double Fantasy, seu solo mais vendido, venceu o Grammy Award para Álbum do Ano logo após sua morte. É o quinto álbum de estúdio de John Lennon e Yoko Ono, lançado em novembro de 1980, poucos dias antes de Lennon ser assassinado. Também é o sétimo álbum de trabalho de Lennon após a sua separação dos Beatles e o último álbum gravado pelo músico em vida. Em meados de 1980, John e Yoko começaram a compor, chamaram o produtor Jack Douglas e começaram as gravações em agosto do mesmo ano. Em 1982, o Brit Award de Contribuição Excepcional à Música foi dado a ele postumamente. Em 2002, Lennon foi eleito o 8º maior artista britânico “de todos os tempos” pela BBC. A revista Rolling Stone o elegeu o 5º melhor cantor da história social e o incluiu na lista dos 100 maiores “artistas de todos os tempos”. Em 1987, ele foi introduzido no Songwriters Hall of Fame, uma fundação criada em 1969 pelo compositor Johnny Mercer e Abe Olman e Howie Richmond (produtores) para homenagear e reconhecer o talento específico dos compositores e de sua contribuição para a música. Está situado em Nova York, nos Estados Unidos da América. Também confere prêmios. Lennon ainda foi introduzido no Rock and Roll Hall of Fame duas vezes: como membro dos Beatles em 1988 e como artista solo em 1994.
Criado em Decatur, uma cidade localizada no estado norte-americano de Geórgia, no Condado de DeKalb. Mark Chapman era fã dos Beatles, mas ficou indignado com o estilo de vida de John Lennon e declarações públicas, como seu comentário sobre a banda ser “mais popular que Jesus” e as letras de suas canções solo God e Imagine. Nos anos que antes do assassinato, desenvolveu uma série de obsessões, incluindo obras de arte e a música de Todd Rundgren. The Catcher in the Rye assumiu um grande significado pessoal para si, no sentido hegeliano, a ponto de desejar modelar sua vida segundo a interpretação do protagonista do romance, Holden Caulfield. Chapman também pensou em matar outras figuras públicas, incluindo Johnny Carson, Paul McCartney e a atriz anglo-americana Elizabeth Rosemond Taylor (1952-2011). Ele não possuía antecedentes criminais e tinha se demitido de um emprego como “segurança” no Havaí. Após o assassinato, a equipe jurídica de Chapman pretendia montar uma defesa de alegação de “insanidade mental que seria baseada no depoimento de especialistas em saúde mental que disseram que ele estava em um estado psicótico delirante”.
Porém,
o próprio Mark Chapman fora mais cooperativo com a promotoria, que argumentou
que seus sintomas estavam aquém de um diagnóstico de esquizofrenia. À medida
que o julgamento se aproximava, acabou por instruir seus advogados de que
queria se declarar culpado “com base no que havia decidido ser a vontade de
Deus”. O juiz atendeu a este pedido e o considerou competente para ser julgado.
Ele foi condenado à prisão perpétua, com a estipulação de receber tratamento
psiquiátrico. Chapman recusou pedidos de entrevistas à imprensa durante seus
primeiros seis anos na prisão; disse mais tarde que lamentava o assassinato e
não queria dar a impressão de que matou Lennon por fama e notoriedade. Após
anos, forneceu entrevistas gravadas ao jornalista Jack Jones, que as usou para
escrever o livro investigativo intitulado: Let Me Take You Down: Inside the
Mind of Mark David Chapman, em 1992. Em 2000, Chapman se tornou elegível
para a questão da liberdade condicional, que desde havia sido negada por onze
vezes. Sua vida foi dramatizada nos filmes The Killing of John Lennon
(2006) e Capítulo 27 (2007).
Na
Filosofia, Descartes prescreve – mutatis mutandis - soberanamente ao
mundo por dedução lógica seu verdadeiro ser, que é “uma coisa estendida em um
espaço matemático”. O mundo, para Descartes, é uma soma de coisas. - “Toda
ação é uma ação mecânica e se reduz ao impacto de um corpo sobre outro, o mundo
está cheio”. Este mundo não tem a lei de seu devir fora de si mesmo: ele
irradia, imutável, inteiramente necessário, a coerência unificada de suas
partes e o indicativo de sua ordem. Gottfried Leibniz contesta as divisões e separações
agudas introduzidas por Descartes. A essência do universo é concebida como uma
força de natureza espiritual. Leibniz vinculou o mecanismo cartesiano à ideia como
um princípio mediante de que “toda ação verdadeira é de natureza espiritual e
que é uma imagem, mais ou menos apagada, de ação divina”. Pascal David faz de
Leibniz “o pensador do ser, portanto da dinâmica da natureza em si, como uma
força inerente às coisas criadas e suas ações, prefigurando nisso tanto a
metafísica do idealismo alemão quanto a vontade de poder em Nietzsche”. Ocorre
que Leibniz faz da criação o resultado de um mecanismo metafísico, cada ser
possível reivindicando existência de acordo com seu grau de perfeição, e o
resultado dessa reivindicação sendo o Bravo de todos os mundos possíveis;
aquele que contém o máximo de perfeições possíveis em ao mesmo tempo”. Aplicando
sua revolução copernicana, Kant demonstra que o mundo, se um todo, é apenas uma
“ideia transcendental”, um princípio regulador do conhecimento empírico que
visam unificar a experiência.
Os
debates tradicionais sobre o caráter “finito” ou “infinito” do mundo só podiam
ser realizados porque as pessoas acreditavam que o mundo era uma Coisa-em-si.
Émile Bréhier, em seu panorama da filosofia alemã, apoia-se na questão do “mundo
finito” ou infinito para mostrar o caráter contraditório da noção de Coisa-em-si.
- Se o mundo é considerado uma “coisa em si”, deve necessariamente ser finito
ou infinito, composto de partes simples ou infinitamente divisíveis; a
série de mudanças terá de depender de uma causa livre ou retroceder
infinitamente em regressão infinita; terá de envolver um ser necessário ou não.
Se o mundo é um mundo de fenômenos, saímos muito naturalmente do dilema em que
a antinomia nos encerrou. A ciência positiva não mais que o senso
comum não é nem finitista nem infinitista; não é finitista; pois, por exemplo,
sempre volta, segundo a lei da causalidade, de uma causa para uma causa
antecedente; não é mais infinitista, que supõe que teria completado, por uma
regressão infinita, a série de causas; contenta-se que Kant desfaz a ligação
entre o “livro da natureza” e a “teologia natural”.
A
natureza, portanto, não esconde mais nenhum “ensinamento teológico” nem
manifesta a perfeição de Deus, porque ela é apenas o resultado de uma
objetivação do sensível realizada por meio das categorias do
entendimento, e neste aspecto David Hume foi magistral. Se o “livro da natureza”
não é mais tão legível, a atenção está voltada para a subjetividade,
escreve Michaël Fœssel. No entanto, Kant permanece ligado “a uma metafísica
criacionista em que o progresso pode ser atribuído à evolução física e sua
causa transcendente, não ao próprio homem”. Se a princípio o mundo foi declarado
incompleto por causa de uma onipotência divina da imaginação ocidental
metafísica que teve que encontrar uma maneira de se expressar na plasticidade
da matéria, ele deve se tornar compatível com a teleologia da liberdade humana.
Reduzido ao status de matéria indeterminada, o mundo não só é feito a
cada momento, mas é feito por quem o habita. Perdendo sua objetividade,
segundo Kant se tornará um a priori existencial “pois está em sua
essência estar sempre lá e preceder qualquer encontro com qualquer ser”.
Para
o mais ilustre representante dessa corrente filosófica, Friedrich Schelling, o
mundo é uma unidade essencial, não há necessidade de opor o mundo ideal e o
mundo real. Humano e natureza são apenas as duas faces de um mesmo ser, o Uno,
o Absoluto. É do seio do Absoluto que nascem a Natureza e o espírito,
coexistindo e desenvolvendo-se paralelamente em perfeita identidade. Os
contraditórios procedem de um Absoluto “indiferente” ao objetivo e ao
subjetivo, de uma unidade indiferenciada. Parece que o ritmo da natureza é o
mesmo do Espírito; é esta tese que se identifica sob o nome de filosofia da
identidade que não é nem o “eu” de Johann Fichte nem o Deus da teologia. Na Naturphilosophie, a terra é
representada como um organismo universal, mãe de todos os outros; é através
dessa imagem em particular que Friedrich Hegel abre o estudo da física
orgânica; a geologia é, para ele, uma morfologia do organismo terrestre. No espírito de sua filosofia Arthur
Schopenhauer vê o mundo como a manifestação de “uma vontade cega, única a todos”
e que produz sem razão e sem propósito. O mundo como objeto é, “como Kant viu,
apenas minha representação”. Para Nietzsche “toda coisa, todo ser, o próprio
mundo, é uma luta de opostos, o lugar de um jogo. Esta ideia é uma ideia
“divina”: só Deus vê a harmonia dos opostos, invisível aos humanos, e só
Heráclito a compreendeu.
Os outros homens, “os muitos” (oi polloi), ficam contentes com os conflitos e o diagnóstico de iniquidade e injustiça”. A filosofia de Friedrich Nietzsche “culmina nestes dois cumes que são a vontade de poder e o eterno retorno do mesmo”, escreve Pascal David, nascido em 10 de fevereiro de 1956 é um historiador francês da filosofia e tradutor. Para o metafísico Nietzsche o ser de ser entendido como “vontade de poder”, buscando superar-se eternamente, será doravante entendido por Nietzsche como “tornar-se ininterrupto”. Para Nietzsche, “o mundo, isto é, o ser na totalidade que se articula como vontade de poder, não é de modo algum uma totalidade impressa de sentido, nem um organismo, nem um processo gigantesco que seria finalizado por um fim último, uma causa final”. O mundo é essencialmente um caos, escreve Joseph Vande Wiele. Ao evacuar todas as questões tradicionais sobre o mundo, Husserl introduz uma atitude radicalmente nova com sua fenomenologia, pois “é marcada pelo fato de que as ciências exatas não têm nada a dizer sobre o mundo como mundo e, portanto, está fora de questão que a filosofia encontre seu método nelas” escreve Emmanuel Housset. Para Husserl não pode haver mundo objetivo senão a partir do fenômeno da intersubjetividade.
O
mundo, para Friedrich Nietzsche, não é ordem e racionalidade, mas desordem e
irracionalidade. Seu princípio filosófico não era, portanto, estabelecido
através da relação entre Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo
definido, ao acaso, e, por isso, se está dissolvendo e transformando-se em um
constante devir. A única e verdadeira realidade “sem máscaras”, para Nietzsche,
é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante. É neste sentido
que Nietzsche era um crítico: a) das “ideias modernas”, b) da vida social e da
cultura moderna, c) do neonacionalismo alemão, e, para sermos breves, d) Para
ele, os ideais modernos expressos como democracia, socialismo, igualitarismo,
emancipação feminina não eram senão expressões da decadência de determinado
“tipo homem”. Por estas razões, é, por vezes, apontado como um precursor da
concepção de pós-modernidade. A figura de Nietzsche foi particularmente
promovida na Alemanha Nazi, num processo político mediante o qual você
opta, mas não decide, tendo sua irmã, simpatizante do regime, fomentado esta
associação. Como dizia Martin Heidegger, ele próprio nietzschiano, “na Alemanha
se era contra ou a favor de Nietzsche”.
Durante
toda sua vida, tentou explicar o insucesso de sua literatura, chegando à
conclusão de que “nascera póstumo”, para os leitores do porvir. O sucesso de
Nietzsche, entretanto, sobreveio quando um professor dinamarquês leu a sua
obra: “Assim Falou Zaratustra” e, então, tratou de difundi-la, em 1888. Em 3 de
janeiro de 1889, Nietzsche sofreu um colapso mental. Teria testemunhado o
açoitamento de um cavalo no outro extremo da Piazza Carlo Alberto. Então correu
em direção ao cavalo, jogou os braços ao redor de seu pescoço para protegê-lo e
em seguida, caiu no chão. Nos dias seguintes, Nietzsche enviou escrito breve
conhecido como: “Wahnbriefe” em português: “Cartas da loucura” – para um número
de amigos, entre eles, Cosima Wagner, filha do pianista húngaro Franz Liszt com
a Condessa Marie d`Agout e Jacob Burckhardt, historiador, filósofo da história
e da cultura suíça, autor de importantes obras sobre a cultura e história da
arte. Muitas destas cartas foram curiosamente assinadas “Dionísio”. Embora a
maioria dos comentaristas considere seu colapso como alheios à sua filosofia,
Georges Bataille chegou a insinuar que sua filosofia pudesse tê-lo enlouquecido
e a psicanálise “post-mortem”, de René Girard, postula uma “rivalidade de
adoração” com Richard Wagner.
Não
queremos perder de vista que o ensaio: Quando Nietzsche Chorou (2016) é
o primeiro romance do psicoterapeuta e professor Irvin D. Yalom que mescla
elementos reais com a ficção. O romance é parcialmente baseado em fatos reais.
Obra que traça paralelo entre ficção e realidade e apresenta personagens
históricos como Josef Breuer, um dos pais da psicanálise, o jovem Sigmund Freud
e o filósofo Nietzsche. No último quartel do séc. XIX em Veneza, no café
Sorrento, tem lugar um encontro entre o médico austríaco, Josef Breuer e a
insinuante jovem russa Lou Salomé, que promoveu uma série de outros encontros
entre aquele e Friedrich Nietzsche. Explicadas as motivações tecidas à volta de
um triângulo amoroso entre si, Paul Reé e Nietzsche, e porque a humanidade não
poderia arriscar-se a perder o seu mais promitente filósofo. Lou materializa a
primeira entrevista dele com Breuer, por intermédio do amigo comum Franz Overbeck,
com vista à descoberta da origem do mal que vinha atacando o filósofo. Breuer é procurado por Lou Salomé, interpretada por Katheryn Winnick, a jovem russa
que está apaixonada intelectualmente por Nietzsche, mas não no sentido interpretado do prazer.
Relação
contrária, expressa no filme: Nine ½ Weeks, dirigido por Adrian Lyne
(EUA, 1986), quando Elizabeth conheceu John, ela era inteligente, sofisticada,
com o controle de sua própria vida. Intrigada pela personalidade enigmática e
distante de John, ela mergulha em um relacionamento de pura sensualidade que se
intensifica tornando-se um “pesadelo erótico de fantasia e dominação”. Logo
Elizabeth precisará escolher: entre seus desejos e sua sanidade mental. O
filósofo Nietzsche, entretanto, se apaixona por ela, fisicamente, mas não é
correspondido. Então, escreve cartas onde a propensão suicida é evidente. Lou
Salomé pede ao doutor Josef Breuer que não lhe aplique o “mesmerismo”, fraude
médica do século XVIII desenvolvida por Franz Anton Mesmer. Mas sim “a cura
pela fala” e que o convença de que viver vale a pena. É curioso notar que
quando Salomé entra no consultório de Breuer, ela posiciona um livro de forma a
arrumá-lo como os outros. A sua atitude dominadora também salienta o quanto ela
quer o mundo “girando em torno de seus desejos” (“revolving around her
desires”), inclusive o de curar Nietzsche que se deixa examinar por Josef
Breuer. As dores físicas são psicossomáticas quando ele diz que “está grávido
de Zaratrusta” (“Zarathustra ist schwanger”), seu suntuoso libelo,
considerado pelos niilistas o quinto Evangelho. É fácil verificar que
Zaratrusta define a vida de Nietzsche. Sua solidão diante da incompreensão das
pessoas a respeito de suas ideias próprias. Breuer diz a Nietzsche que “uma
vida dominada por fases obscuras leva ao desespero” (“a life dominated by dark
phases leads to despair”).
O
Filme: 9 1⁄2 Weeks, originalmente intitulado Nine 1⁄2 Weeks é um
filme norte-americano de 1986, do gênero drama erótico, realizado por
Adrian Lyne, com roteiro de Sarah Kernochan, Zalman King e Patrícia Louisanna
Knop. O filme é baseado no livro de memórias de 1978 do mesmo nome da autora
austro-estadunidense Ingeborg Day, que ela publicou sob o pseudônimo de
Elizabeth McNeill. É estrelado por Kim Basinger como Elizabeth McGraw e Mickey
Rourke como John Gray. McGraw é uma funcionária da galeria de arte da cidade de
Nova York que tem um breve e intenso caso com um misterioso corretor de Wall
Street. O filme foi concluído em 1984, mas não foi lançado até fevereiro de
1986. O filme foi um desvio significativo do tom muito mais sombrio do romance
em que foi baseado. Em Nine and a Half Weeks: A Memoir of a Love Affair,
John se envolve em comportamento criminoso e até mesmo coage Elizabeth a
cometer um assalto violento em um elevador sendo que o livro culmina em um
cenário de praticamente “quase-estupro” que deixa Elizabeth em angústia
mental, e ele a leva para um hospital psiquiátrico - para nunca mais voltar
a ela, enquanto o filme termina num tom sombrio, não há menção ao colapso
psiquiátrico que John infligiu em sua amante.
Considerado
“explícito demais” pelo seu distribuidor norte-americano e cortado para
lançamento nos Estados Unidos da América (EUA), o filme representou um fracasso
de vendas nas bilheterias dos Estados Unidos, arrecadando apenas US$6.7 milhões
nas bilheterias com um orçamento previsto de US$17 milhões. Ele também recebeu
críticas mistas na programação de seu lançamento. No entanto, tornou-se um
enorme sucesso internacionalmente em sua versão inédita, especialmente
na Austrália, Canadá, Alemanha e Reino Unido, faturando US$100 milhões em todo
o mundo ocidental. Com o passar do tempo, alguns críticos de cinema se
entusiasmaram com o filme e o público deu a ele um legado graças ao seu sucesso
no mercado de locação. Ele teve um ótimo desempenho na Europa,
particularmente em países de tradição cinéfila como Itália, na França e também em
parte da América Latina. Seu sucesso na França foi tão forte que foi exibido
por cinco anos em um cinema de Paris. Em São Paulo, Brasil, foi exibido por 30
meses na casa de cinema Cine Belas Artes de 1986 a 1989. Ele também adquiriu
uma grande base de fãs em videocassete e DVD e desenvolveu um status cinematográfico
de clássico cult.
Friedrich Nietzsche médico das almas, cruel cirurgião da mente, tendo penetrado nos labirínticos meandros da psique de Breuer, lhe desperta a força expressiva da idiossincrasia própria de um ser irrepetível e único, pelo que começa a sentir-se como o caçador caçado. Nietzsche, a maior parte do ano doente, acossado por doenças do foro psiquiátrico acompanhadas de graves manifestações somáticas, era um homem deprimido. A atravessar desertos de solidão. Uma solidão altiva, desejada, própria dos fortes. A sua imaginação febril, afetada pelo rompimento com Wagner, ficou fundamente abalada com as notícias da irmã Elizabeth sobre o que Lou fazia correr sobre ele na sociedade. A traição de novo a corroer-lhe as entranhas. Está condenado a viver só com o seu mal. Longe do mundo e dos homens. Voltaria a galgar o alto Engadine de onde administraria na companhia de sua querida e orgulhosa dor o vasto e exclusivo império do seu EU: tanto mais robusto quanto mais sofrido. Fascínio de consciência que se revela quando ele se coloca no lugar de quem será tratado buscando a empatia de Nietzsche ao ponto dele mesmo querer revelar sua intimidade. A transformação da relação deles é “dialeticamente trágica”, vez que conseguimos depreender Breuer lentamente o paciente de fato nas sessões de terapia.
Como observa Emmanuel Housset, em seu livro intitulado Husserl e o Enigma do Mundo, a atenção ao fenômeno do mundo, ao seu aparecimento em sua transcendência constitui o ponto mais constante do pensamento de Husserl. O objeto da fenomenologia “não é um objeto particular já dado, mas a origem de toda objetividade em geral”. Segundo Husserl, o ato fundamental que deve permitir o acesso ao enigma do mundo é aquele que nos permite sair da “atitude natural”. Trata-se de deixar o ser do mundo, que se tornou problemático, preconceitos e hábitos. Na reflexão transcendental, “o mundo se torna um horizonte, uma ideia que jaz no infinito”. O fato de por ocasião da percepção o objeto ser descoberto, desvelado e dado a nós implica, segundo Husserl, a existência de um fundamento universal de crença no mundo que toda prática pressupõe. Husserl escreve que “o mundo, que se apresenta à consciência como horizonte, tem na validade contínua de seu ser o caráter geral subjetivo de confiabilidade, pois é um horizonte de seres conhecidos em geral, mas, portanto, desconhecidos no que diz respeito às particularidades individuais [...] o sentido de ser geral do mundo é invariável e a certeza do mundo é inalterável”, citado por Étienne Bimbenet. Ele demonstra que o sentido se constitui na experiência. O mundo torna-se um sentido constituído pela consciência. A experiência de um objeto se constitui segundo um duplo horizonte, o do objeto e o do mundo. Husserl marca assim o caráter inseparável da consciência do objeto e da consciência do mundo. Se o mundo em sua totalidade é co-dado em cada percepção, então, desse fato conclui Edmund Husserl, ele não é um objeto diante de um sujeito que dele poderia ser abstraído, nem a simples totalidade das coisas existentes.
Em seu livro sobre a questão da Consciência Íntima do Tempo, Husserl descreve o entrelaçamento das principais “experiências” envolvidas na “consciência íntima do tempo”. Trata-se de compreender a continuidade do ser das coisas, sabendo que ser para um objeto significa que ele é apreendido como o mesmo em suas mudanças. Husserl dá um passo decisivo nessa direção com a descoberta dos fenômenos de “retenção” e protensão, que acompanham qualquer consciência. “A fenomenologia inverte a direção do olhar que a ciência lança sobre o mundo e sobre o homem: para ela, o homem não é um objeto de conhecimento ou uma parte do mundo, mas uma subjetividade (inseparável da intersubjetividade) considerada como a origem absoluta do sentido”. A delimitação do “mundo objetivo”, perseguida pela redução fenomenológica, levaria a um mundo que seria exclusivamente meu; agora pertence ao sentido de ser deste “mundo objetivo” ser simultaneamente, um “mundo comum”. Para resolver essa contradição, Husserl retoma a ideia central de Kant através de uma condição de ligação entre a intersubjetividade e a objetividade do mundo. Depois de ter recusado dar ao mundo um valor absoluto, Husserl tenta mostrar segundo Emmanuel Housset, que a constituição da “objetividade” nada mais séria do que a correta interpretação da “intersubjetividade”. A doação de sentido realizada pelos outros álter egos seria uma condição de possibilidade do mundo objetivo.
Concordamos com o geógrafo Milton Santos (2021) que neste mundo globalizado, a competitividade, o consumo, a confusão dos espíritos constituem baluartes do presente estado de coisas. O consumo hic et nunc comanda nossas formas de inação. E a confusão dos espíritos impede o nosso entendimento do mundo, do país, do lugar, da sociedade e de cada um de nós. A concorrência não é a mais a velha concorrência, sobretudo porque chega eliminando toda forma de compaixão. A competitividade tem a guerra como norma. Os últimos anos do século XX forma emblemáticos, porque neles se realizaram grandes concentrações, grandes fusões, tanto na órbita da produção como na das finanças e da informação. Esse movimento marca um ápice do sistema capitalista, mas é também indicador do seu paroxismo, já que a identidade dos atores, até então mais ou menos visível, agora finalmente aparece aos olhos de todos. Essa guerra como norma justifica toda forma de apelo social à força, um apelo não dissimulado, utilizado para diminuir os conflitos e consequência dessa ética da competitividade que caracteriza nosso tempo.
É
isso também que justifica os individualismos arrebatadores e possessivos: individualismos
na vida econômica; individualismo na ordem política; individualismo
na ordem do território. Também na ordem social (os mitos, os ritos, os
símbolos) e individual (o sonho) são individualismos arrebatadores e
possessivos, que acabam por constituir o outro como coisa. Comportamento que
justificam todo desrespeito às pessoas são, afinal, uma das bases da
sociabilidade atual. Aliás, para Milton Santos, a maneira como as classes
médias, no Brasil, se constituíram entroniza a “lógica dos instrumentos”, em
lugar da “lógica das finalidades”, e convoca per se os pragmatismos a
que se tornem triunfantes. Para tudo isso, não por acaso também contribuiu a
perda da influência da filosofia na formulação das ciências sociais, cuja
interdisciplinaridade aca por buscar inspiração na economia. Daí o
empobrecimento das ciências humanas e a consequente dificuldade para
interpretar o que vai pelo mundo, já que a ciência econômica se torna, cada vez
mais, uma disciplina da administração das coisas ao serviço de um sistema
ideológico. É assim que se implantaram novas concepções sobre o valor a
atribuir a cada objeto, a cada indivíduo, a cada relação, a cada lugar,
legitimando novas modalidades e novas regras da produção e consumo. E novas
formas financeiras e da contabilidade nacional, que se reduz apenas um nome fantasia
de uma suposta contabilidade global, algo que inexiste de fato.
Esta
é uma das bases do subsistema ideológico que comanda outros subsistemas
da vida social, formando uma constelação que tanto orienta e dirige a produção
a economia como também a produção da vida. Essa nova lei do valor – que é uma
lei ideológica do valor – é filha dileta da competitividade e acaba por ser
responsável também pelo abandono da noção e do fato da solidariedade.
Daí as fragmentações resultantes. Daí a ampliação do desemprego. Daí o abandono
da educação. Daí o desapreço à saúde como um bem individual e social
inalienável. Daí toas formas perversas de sociabilidade que já existem ou se
estão preparando neste país, para fazer dele – ainda mais – um país
fragmentado, cujas diversas parcelas, de modo a assegurar sua sobrevivência
imediata, serão jogadas contra as outras e convidadas a uma “batalha sem
quartel”. Também o consumo muda de figuração durante uso do tempo. Falava-se,
antes, de autonomia da produção, para significar que uma empresa, ao assegurar
uma produção, buscava também manipular a opinião pela via da publicidade. Nesse
caso, o fato gerador do consumo seria a produção. Mas, atualmente, as empresas
hegemônicas produzem o consumidor mesmo antes de produzir os produtos. Um dado
essencial por trás das relações do entendimento do consumo é que a
produção do consumidor precede à produção dos bens e serviços.
Representa na cadeia causal, a chamada “autonomia da produção” cede lugar ao despotismo do consumo. Daí o império da informação e da publicidade. Tal remédio teria 1% de medicina e 99% de publicidade. Tais operações podem tornar-se simultâneas diante da questão do “tempo do relógio”, mas, do ponto de vista da lógica, é a produção da informação e da publicidade que precede. Desse modo, vivemos cercados, por todos os lados, por esse sistema ideológico tecido ao redor do consumo e da informação ideologizados. Esse consumo ideologizado e essa informação ideologizada acabam por ser o motor de ações públicas e privadas. Esse par é, ao mesmo tempo, fortíssimo e fragilíssimo. De um lado é muito forte, pela sua eficácia sobre a produção e o consumo. Mas, de outro lado, ele é muito fraco, muito débil, desde que encontremos a maneira de defini-lo como um dado de um sistema mais amplo. O consumo é o grande emoliente, produtor e encorajador de imobilismos. Ele é, também, um veículo de narcisismos psicopatológicos, por meio dos seus estímulos estéticos, morais, sociais e aparece como o grande fundamentalismo do nosso tempo, porque alcança e envolve toda gente. Por isso, o entendimento e interpretação das relações do que é o mundo passa pelo consumo e pela competitividade, ambos fundados no mesmo sistema turvo da ideologia.
O
termo ideologia aparece pela primeira vez em 1801 no livro de Destutt de
Tracy, Eléments d`ldéologie. Juntamente com o médico Pierre-Jean-Georges
Cabanis, De Gérando e Volney, De Tracy pretendia elaborar “uma ciência da
gênese das ideias”, tratando-as como fenômenos naturais que exprimem a relação
do corpo humano enquanto organismo com o ambiente. Elabora uma teoria sobre as
faculdades sensíveis, responsáveis pela formação de todas as nossas ideias: querer
(vontade), julgar (razão), sentir (percepção) e recordar
(memória). Nesses termos os ideólogos franceses eram antiteológicos,
antimetafísicos e antimonárquicos. Pertenciam ao partido liberal e esperavam
que o progresso das ciências experimentais, baseadas exclusivamente na
observação, na análise e síntese dos dados observados, pudesse levar a uma nova
pedagogia e a uma nova moral. Contra a educação religiosa e metafísica, que
permite assegurar o poder político de um monarca, Destutt De Tracy propõe a
normalização do ensino das ciências físicas e químicas para “formar um bom
espírito”, isto é, um espírito capaz de observar, decompor e recompor os fatos,
sem se perder em vazias especulações. Cabanis pretende construir ciências
morais dotadas de tanta certeza quanto os naturais, capazes de trazer a
felicidade coletiva e de acabar com os dogmas, desde que a questão em
torno da moralidade não seja separada da fisiologia do corpo humano.
Nos
Elementos de Ideologia, na parte dedicada ao estudo da vontade, De Tracy
procura analisar os efeitos de nossas ações voluntárias e escreve, então, sobre
economia, na medida em que os efeitos das ações voluntárias concernem à nossa
aptidão para prover necessidades materiais. Procura saber como atuam, sobre o
indivíduo e sobre a massa, o trabalho e as diferentes formas da sociedade, isto
é, a família, a corporação. Suas considerações, na verdade, são glosas das
análises do economista francês Jean-Baptiste Say, a respeito da troca, da
produção, do valor, da indústria, da distribuição do consumo e das riquezas. No
texto Influências do moral sobre o físico, Cabanis procura determinar a
influência do cérebro sobre o resto do organismo, no quadro puramente
fisiológico. O ideólogo francês partilha do otimismo naturalista e materialista
do século XVIII, acreditando que a Natureza tem, em si, as condições
necessárias e suficientes para o progresso e que só graças a ela nossas
inclinações e nossa inteligência adquirem uma direção e um sentido. Os
ideólogos foram partidários de Napoleão e o golpe de 18 Brumário,
pois o julgava um liberal continuador dos ideais da Revolução Francesa.
Enquanto Cônsul, Napoleão nomeou vários dos ideólogos como senadores ou tribunos. Todavia, logo se decepcionaram com Bonaparte, vendo nele o restaurador do Antigo Regime. Opõe-se às leis referentes à segurança do Estado e são por isso excluídos do Tribunado e sua Academia é fechada. Os decretos napoleônicos para a fundação da nova Universidade Francesa dão plenos poderes aos inimigos dos ideólogos, que passam, então, para o partido político da oposição. O sentido pejorativo dos termos “ideologia” e “ideólogos” veio de uma declaração de Napoleão que, num discurso ao Conselho de Estado em 1812, declarou: - “Todas as desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à ideologia, essa tenebrosa metafísica que, buscando com sutilezas as causas primeiras, quer fundar sobre suas bases a legislação dos povos, em vez de adaptar as leis ao conhecimento do coração humano e às lições da história”. Bonaparte invertia a imagem que os ideólogos tinham de si: eles, que se consideravam materialistas, realistas e antimetafísicos, foram chamados de “tenebrosos metafísicos”, ignorantes do realismo político que adapta as leis ao coração humano e às lições da história.
O
curioso, segundo Marilena Chauí no opúsculo: O que é Ideologia (2017), é
que se a acusação de Bonaparte é infundada com relação aos ideólogos franceses,
não o seria se se dirigisse aos ideólogos alemães, criticados por Marx. Ou
seja, Marx conservará o significado napoleônico do termo: o ideólogo é aquele
que inverte as relações entre as ideias e o real. Assim, a ideologia, que
inicialmente designava uma ciência natural da aquisição, pelo homem, das ideias
calcadas sobre o próprio real, passa a designar, dar por diante, um sistema de
ideias condenadas a desconhecer sua relação real com o real abstrato.
Entrementes, na década de 1820, Heinrich Marx parece ter prosperado. Após sua
nomeação para o Tribunal de Apelação de Trier em 1818, ele redigiu outro
Relatório sobre a usura em 1821 e se tornou advogado público. Era,
evidentemente, bem visto pelos colegas. A imponente casa perto da Porta Nigra
adquirida em 1819 foi comprada de um colega jurista, e os padrinhos dos seus
filhos eram, quase sempre, advogados em Trier. Edgar von Westphalen dizia que “ele
era um dos melhores advogados e um dos homens mais nobres da Renânia”. E Heinrich
não perdeu contato com a comunidade judaica.
A
família Marx continuou a compartilhar a propriedade de um vinhedo em Mertesdorf
com o dr. Lion Bernkastel, destacado membro do Consistório, e a procurar sua
assistência em assuntos médicos até os anos 1830. A família mantinha relação de
amizade com a viúva do rabino Samuel Marx. Economicamente a crise dos
viticultores prosseguiu nas décadas de 1830-1840, até chegar a um ponto em que
sua miséria só podia ser comparada ao caso contemporâneo, internacionalmente
notório, dos tecelões salesianos. O outro pilar da região, para a economia, era
a floresta, e durante a primeira metade do século XIX houve um aumento da
demanda por madeira, especialmente das forjas de ferro de Gustave Eiffel e dos
tanoeiros do mercado de comércio de vinho. Pobres camponeses do planalto se
beneficiaram dessa demanda vendendo a madeira que coletavam no chão das
florestas. Mas a consolidação dos direitos de propriedade privada durante o
período de domínio napoleônico e sua confirmação pelos Estados Provinciais nas
décadas de 1820 e 1830 ameaçaram a manutenção dos meios de subsistência do
trabalhador ao contestar o direito natural de poder coletar árvores
mortas.
Mas na Alemanha onde as condições políticas e sociais continuavam repressivas, divergências dentro do Bewegungspartei permaneciam implícitas e em surdina. Quando o partido em movimento é chamado na ciência política, um tipo de partido independente, ao contrário de outros tipos de partido: como o “partido pega-tudo”, é definido de maneira diferente. Via de regra, porém, as definições científicas do partido no movimento têm um enfoque particular nos movimentos sociais em comum. Dez anos depois, porém, em face da recusa da monarquia prussiana a fazer qualquer concessão à causa da reforma, essas divisões políticas se tornaram tão explícitas e polarizadas quanto em outras partes. Foi nessa conjuntura que Karl Marx com 24 anos de idade, surgiu como um dos mais distintos filósofos expoentes de uma nova forma de interpretação do real e peculiarmente alemã forma de radicalismo, muito diferente das cautelosas esperanças de seu pai. O que há de novo e precisa ser explicado refere-se as circunstâncias da família, a condição crítica da religião e da filosofia alemã e, acima de tudo as precisas ambições de teoria e método de análise e intelectuais do próprio Marx, para formar uma postura tão singular na história continental e de resto no mundo ocidental. Foi na primavera de 1845 que os jovens pensadores de filosofia e literatura Karl Marx e Friedrich Engels decidiram escrever A Ideologia Alemã. Começaram a fazê-lo em setembro, após se conhecerem na Biblioteca de Londres, terminando-a no verão de 1846; na parte atinente ao conceito abstrato de Ludwig Feuerbach (1804-1872), que abandonou os estudos de Teologia para tornar-se aluno do filósofo Hegel, durante dois anos, o trabalho penetrou o final do ano de 1846, sem que a tivessem concluída a obra.
Tudo isso se deve em grande parte, ao fato de que o fim do século XX erigiu como um dado central do seu funcionamento o despotismo da informação, relacionado, em certa medida, com o próprio nível alcançado pelo desenvolvimento da técnica tão necessitada de um discurso. Como as atividades hegemônicas são todas elas, fundadas nessa técnica, o discurso aparece como algo de importância capital na produção da existência de todos. Essa imprescindibilidade de um discurso que antecede a tudo – a começar pela própria técnica, a produção, o consumo, o poder – abre a porta à ideologia. Hoje, essa discussão talvez não tenha sequer cabimento, afirma Milton Santos, porque a ideologia se torna real e está presente como realidade, sobretudo por meio dos objetos. Os objetos são coisas, são reais. Eles se apresentam diante de nós não apenas como um discurso, mas como um discurso ideológico, que nos convoca, malgrado nós, a uma forma de comportamento. E esse império dos objetos concretos tem papel relevante na produção desse novo homem apequenado que estamos todos ameaçados de ser. Até a 2ª guerra (1941-1945) tínhamos em torno de nós alguns objetos, os quais comandávamos. O que há é uma multidão de objetos, todos ou quase todos querendo nos comandar. Uma das grandes diferenças entre esse mundo e o mundo de agora é esse papel de comando aos objetos: - “O tempo somente é porque algo acontece, e onde algo acontece o tempo está”.
O capitalismo concorrencial unificou o planeta, mas é uma unificação relativa, aprofundada sob o capitalismo monopolista graças aos progressos técnicos alcançados nos últimos dois séculos e possibilitando uma transição para a situação atual de neoliberalismo. Agora se pode, de alguma forma, falar numa vontade de unificação absoluta alicerçada na “tirania do dinheiro” e da informação produzindo em toda parte situações nas quais tudo, isto é, coisas, homens, ideias, comportamentos, relações, lugares, é atingido. Em cada um desses momentos, são diferentes as relações entre o indivíduo e a sociedade, entre o mercado e a solidariedade. Ipso facto, na fase atual da globalização o uso das técnicas conhece uma importante mudança qualitativa e quantitativa. Passamos de um uso típico “imperialista”, que era, também, um uso desigual e combinado, segundo os continentes e lugares, a uma presença obrigatória em todos os países dos sistemas técnicos hegemônicos, devido ao papel unificador das técnicas de informação. Com a globalização, as técnicas se tornam mais eficazes, sua presença se confunde com o ecúmeno, seu encadeamento praticamente espontâneo se reforça e, ao mesmo tempo, a sua utilidade de uso escapa, sob muitos aspectos, ao domínio da política e se torna subordinado ao mercado de consumo liberal. Tudo que é feito pelas mãos dos vetores fundamentais da globalização parte de ideias científicas, indispensáveis à produção e ao consumo, aliás acelerada, de novas realidades, de tal modo que as ações assim criadas se impõem como soluções únicas.
Enfim, na esfera da sociabilidade, levantam-se utilitarismos como regra de vida mediante a exacerbação do consumo, dos narcisismos, do imediatismo, do egoísmo, do abandono da solidariedade, com a implantação galopante, de uma ética pragmática individualista. É dessa forma que a sociedade e os indivíduos aceitam dar adeus à generosidade, à solidariedade e à emoção na vida sociológica com a entronização do reino do cálculo e da competitividade. Seja qual for o ângulo pelo qual se examinem as situações características do período atual, a realidade pode ser vista como “uma fábrica de perversidade”. A fome deixa de ser um fato isolado ou ocasional e passa a ser um dado generalizado e permanente. Ela atinge 800 milhões de pessoas espalhadas por todos os continentes, sem exceção. Quando os progressos da medicina e da informação deviam autorizar uma redução substancial de problemas de saúde, sabemos que 14 milhões de pessoas morrem todos os anos, antes do quinto anos de vida. Dois bilhões de pessoas sobrevivem sem água potável. Nunca na história social e política houve tão grande número de deslocados e refugiados. O fenômeno dos “sem-teto”, curiosidade na primeira metade do século XX, hoje é um fato banal, presente nas grandes cidades do mundo.
O
desemprego é algo comum. Ao mesmo tempo, ficou mais difícil do que antes atribuir
educação de qualidade e, mesmo, acabar com o analfabetismo. A pobreza também
aumenta. No fim do século XX havia mais de 600 milhões de pobres do que em
1960; e 1, 4 bilhão de pessoas que ganham menos de 1 dólar por dia. Tais
números podem ser, na verdade, ampliados porque, ainda aqui, os métodos
quantitativos da estatística enganam: ser pobre não é apenas ganhar menos do
que uma soma arbitrariamente fixada; ser pobre é participar de uma situação
estrutural, com uma posição relativa inferior dentro da sociedade como um todo.
E essa condição se amplia para um número cada vez maior de pessoas. O fato,
porém, é que pobreza tanto quanto o desemprego agora, são considerados como
algo “natural”, inerente a seu próprio processo. Junto ao desemprego e à
pobreza absoluta, registre-se o empobrecimento relativo de camadas cada vez
maiores em função da deterioração do valor do trabalho. No México, a parte de
trabalho na renda nacional cai de 36% na década de 1970 para 23% em 1992.
Vivemos num mundo de exclusões, agravadas pela desproteção social, apanágio do
modelo neoliberal, que é, também, criador de insegurança social. A perversidade deixa de se manifestar por fatos isolados, atribuídos a distorções
da personalidade, para se estabelecer como um sistema global.
Os papéis dominantes, legitimados pela ideologia dominante e pela prática da competitividade, são a mentira, com o nome de segredo da marca; o engodo, com o nome de marketing; a dissimulação e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia. É uma situação na qual se produz a glorificação da esperteza, negando a sinceridade, e a glorificação da avareza, negando a generosidade. Desse modo, o caminho fica aberto ao abandono das solidariedades e ao fim da ética, mas, também, da arte da política. Para o triunfo das novas virtudes pragmáticas, o ideal de democracia plena é substituído pela construção de uma “democracia de mercado”, na qual a distribuição do poder é tributária da realização dos fins últimos do próprio sistema globalitário. Estas são as razões pelas quais a vida normal de todos os dias está sujeita a uma violência estrutural que, aliás, é a mãe de todas as outras violências. A globalização marca um momento de ruptura nesse processo de evolução social e moral que se vinha fazendo nos séculos precedentes. É irônico recordar que o progresso técnico aparecia, desde os séculos anteriores, como uma condição para realizar essa sonhada globalização com a mais completa humanização da vida do planeta. Finalmente, quando esse progresso técnico alcança um nível superior, a globalização se realiza, mas não a serviço da humanidade. A globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem à condição primitiva do cada um por si e, como se voltássemos a ser animais na selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada.
Bibliografia Geral Consultada.
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