“Grande Otelo é o maior ator do Brasil”. George Orson Welles (1915-1985)
Com o descobrimento do arquivo pessoal
de Sebastião Bernardes de Souza Prata (1915-1993), reconhecido artisticamente como
Grande Otelo, e sua recuperação com o apoio da empresa estatal de
economia Petrobras, o jornalista e crítico musical Sérgio Cabral pôde recompor
passo a passo a démarche pessoal e profissional deste notável artista,
um lendário “duende encantado e encantador” como definiu o ator Paulo José Gómez de Souza (1937-2021). Da
infância em Uberabinha, onde aos seis ou sete anos de idade, já cantava para
hóspedes de hotel “em troca de um tostão”, passando pelo mundo dos circos e das
companhias teatrais da década de 1920, pelo teatro de revistas, o rádio, o cinema
e a televisão, este livro narra a história social do garoto que trocou família
mais de uma vez, compôs a dramatis personae “morador de rua” e Abrigo de
Menores, e que, movido por uma extraordinária vocação para o palco, chegou ao
Rio de Janeiro, de onde sua fama se espalharia pelo resto do país e do mundo. Sérgio
Cabral (2007) nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de maio de 1937. É jornalista,
escritor, compositor e pesquisador brasileiro, pai do também jornalista e
político Sérgio Cabral Filho, nascido no bairro suburbano de Cascadura, na Zona
Norte, no Rio de Janeiro, foi criado no subúrbio de Cavalcante. Órfão de pai com
4 anos de idade, começou sua carreira em 1957, como repórter policial do Diário
da Noite, um jornal vespertino carioca fundado em 1929 dos Diários
Associados, o 3º maior conglomerado de mídia e corporação maior da história
da imprensa no Brasil.
Historicamente,
em 1969, já como Editor político do jornal Última Hora, fundado pelo
jornalista Samuel Wainer (1910-1980), em 12 de junho de 1951 no Rio de Janeiro,
a Cidade Maravilhosa, juntou-se a Jaguar (pseudônimo de Sérgio de
Magalhães Gomes Jaguaribe) e Tarso de Castro (1914-1991) para a criação
extraordinária d`O Pasquim. Para integrar a equipe artística do
periódico, Samuel contratou profissionais de países vizinhos e valorizou a
charge num momento em que outros jornais as deixavam de lado por conta da
censura. Durante os Anos de Chumbo com o golpe civil-militar de Estado
em 1º de abril de 1964, foi preso por seu ativismo neste jornal.
Apaixonado por futebol, torcedor ilustre do Clube de Regatas Vasco da Gama,
fundado em 21 de agosto de 1898 por um grupo de remadores, participou de Mesas
Redondas na TV ao lado de Armando Nogueira, Luís Mendes, João Saldanha
(1917-1990), Rui Porto, Sandro Moreira, Sérgio Noronha e tantos outros reconhecidos comentaristas que fizeram do futebol algo além do tempo e socialidade dos 90 minutos. Trabalhou como
produtor entre 1973 e 1981. Como compositor, foi parceiro de Rildo Hora,
gaitista, violonista, cantor, compositor, arranjador, maestro e produtor
musical, escrevendo letras de sambas Janelas Azuis, Visgo de Jaca,
Velha-Guarda da Portela e Os Meninos da Mangueira, entre outras.
Também foi eleito vereador no município da cidade do Rio de Janeiro por 3
legislaturas políticas entre 1983 e 1993. Neste ano foi indicado para ser Conselheiro
do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro cargo que ocupou até maio de 2007,
quando se aposentou compulsoriamente ao completar 70 anos de idade.
Do
ponto de vista histórico e filosófico dialético a análise de Friedrich Hegel (2007) que
parte da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma
dúvida universal que só é própria da reflexão filosófica e que distingue da interpretação religiosa. Por isso mesmo ele
segue o caminho aberto pela consciência e a história detalhada de sua formação.
A Fenomenologia vem a ser uma história concreta da consciência, sua
saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que existe de forma
coincidente entre a história da filosofia e em seu ersatz a história do
desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como
força irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são
instrumentos de sua manifestação. Na determinação do sistema, o que o preocupa
é a categoria fundamental que determina o todo complexo e as diferentes etapas,
bem como os vínculos destas etapas que conduzem à síntese do espírito Absoluto.
Para compreender seu sistema é necessário começar pela noção conspícua de representação,
na filosofia que, ainda não sendo totalmente exata permite, no entender de sua
obra a seleção de afirmações e preenchimento do sistema abstrato de
interpretação do método dialético, para podermos alcançar a
transformação da representação numa noção clara e exata.
Apreendemos a passagem da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do “acúmulo de determinações”. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a “alma vivente” de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a vida e o espírito eterno. Mas a Ideia Absoluta seria uma existência abstrata se a noção de que procede não fosse mais que uma unidade abstrata, e não o que é em realidade, isto é, a noção que representada por um “giro negativo” sobre si mesma, revestiu-se novamente de forma subjetiva. Metodologicamente a determinação mais simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, a faculdade de poder abstrair todas as coisas. Chama-se idealidade precisamente esta supressão da exterioridade. O espírito não se detém na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua real universalidade. Mas, enquanto consciência metafísica, por sua faculdade representativa do ser, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as coisas, enquanto pensamento como princípio universal, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta. O espírito finito se encontra numa união imediata com a natureza, em oposição com esta e finalmente em identidade com esta. Porque suprimiu a oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, na esfera de apreensão do real o espírito finito é a ideia, mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua própria realidade.
A
Ideia absoluta que para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza,
produz-se através dela como espírito, que através da supressão de sua
exterioridade entre aquela inicialmente em relação simples com a natureza, e, depois,
ao encontrar a si mesma nela, torna-se consciência de si, espírito que conhece
a si mesmo, suprimindo assim a distinção entre sujeito e objeto, chegando assim
à Ideia a ser por si e em si, tornando-se unidade perfeita de suas diferenças,
sua absoluta verdade. Com o surgimento do espírito através da natureza abre-se
a história da humanidade e a história humana é o processo que medeia entre isto
e a realização consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre
esse processo e as contribuições mais expressivas de Friedrich Hegel (2007) ocorrem
precisamente nesta esfera, do espírito. Melhor dizendo, à existência na
consciência, no espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também
isto: trazer à nossa existência, isto é, à consciência. Como consciência em
geral tenho eu um objeto; uma vez que eu existo e ele está à frente. Enquanto o Eu é o objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: produzir-se,
sair fora de si, saber o que ele é. Nisto consiste a diferença: o homem sabe o
que ele é. Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a
liberdade não são nada.
O
homem é essencialmente razão. O homem, a criança, o culto e o inculto, são
razão. Ou melhor, a possibilidade para isto, para ser razão, existe em cada um,
é dada a cada um. A razão não ajuda em nada a criança, o inculto. É somente uma
possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real
e que se move em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e
distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada
está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que
se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele
e para si mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no
tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo
o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele
pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio
pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A
racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O que o ser
em si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender,
toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade humana, não possui nenhum
outro interesse além do aquilo que filosoficamente é em si, no interior,
podendo manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente.
Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo.
Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem: a liberdade. O europeu sabe de si, afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz) a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que o que existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto quer dizer precisamente evolução. Nesta relação o em si que já não fosse em si seria outra coisa. Por que haveria ali uma variação, mudança de tempo e espaço. Na mudança existe algo que chega a ser outra coisa. Na evolução, em essência, podemos também sem dúvida falar da mudança, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que resulta e assimila, é ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si não seja negado.
Deve
ser suprassumida como essa unidade imediata do indivíduo com seu gênero e com o
mundo em geral; é preciso que o indivíduo progrida a ponto de se
contrapor ao universal, como a Coisa assente-para-si, pronto e subsistente; e
de apreender-se em sua autonomia. Essa autonomia, essa oposição, primeiro se
apresenta em uma figura tão unilateral quanto, na criança, a unidade do
subjetivo e do objetivo. O jovem desagrega a ideia efetivada no mundo da vida,
de modo a atribuir-se a si mesmo a determinação do substancial: o verdadeiro e
o bem; e atribui ao mundo, pelo contrário, a determinação do contingente, do
acidental. Não se pode ficar nessa oposição não-verdadeira: o jovem
deve, antes, elevar-se acima da dela à inteligência de que, ao contrário,
deve-se considerar o mundo como o substancial, e o indivíduo, inversamente, só
como um acidente; e que, portanto, o homem só pode encontrar sua ativação e
contentamento essenciais no mundo que se lhe contrapõe, que segue seu curso com
autonomia; e que, por esse motivo, deve conseguir a aptidão necessária para a
Coisa. Chagado a esse ponto de vista, o jovem tornou-se homem. Pronto em si
mesmo, o homem considera também a ordem ética do mundo não como a ser produzida
só por ele, mas como uma ordem pronta, no essencial.
Assim ele é ativo pela Coisa, não contra ela; assim se mantém elevado, acima da subjetividade unilateral do jovem, no ponto de vista da espiritualidade objetiva. A velhice, ao contrário, é o retorno ao desinteresse pela Coisa; o ancião habituou-se a viver dentro da Coisa, e por causa dessa unidade que faz perder a oposição em relação à Coisa renuncia à atividade de interesse por ela. É bem verdade que a liberdade no pensamento tem somente o puro pensamento por sua verdade; e verdade sem a implementação da vida. Por isso, para Hegel, é ainda só o conceito da liberdade, não a própria liberdade viva. Com efeito, para ela a essência é só o pensar em geral, a forma como tal, que afastando-se da independência das coisas retornou a si mesma. Mas porque a individualidade, como individualidade atuante, deveria representar-se como viva; ou, como individualidade pensante, captar o mundo vivo como um sistema de pensamento; então teria de encontrar-se no pensamento mesmo, para aquela expansão do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do pensar do agir, um conteúdo do que é bom, e para essa expansão do pensamento, um conteúdo do que é verdadeiro. Com isso não haveria, absolutamente nenhum outro ingrediente, naquilo que é para a consciência, a não ser o conceito que é a essência. O conceito enquanto abstração, separando-se da multiplicidade variada das coisas, não tem conteúdo nenhum em si mesmo, exceto um conteúdo que lhe é dado. A consciência, quando pensa o conteúdo, o destrói como um ser alheio; mas o conceito é conceito determinado e essa determinidade é o alheio que o conceito possui nele.
Esta
unidade do existente, o que existe, e do que é em si é o essencial da evolução.
É um conceito especulativo, esta unidade do diferente, do gérmen e do
desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma. É um conceito da
razão. Por isso só todas as outras determinações são inteligíveis, mas o
entendimento abstrato não pode conceber isto. O entendimento fica nas
diferenças, só pode compreender abstrações, não o concreto, nem o conceito.
Resumindo, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na
existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que
com graus distintos, são necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema.
Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento
era o em si da realização, e em si do gérmen etc. O segundo é a existência,
aquilo que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais
precisamente agora o fruto da evolução, o resultado de todo este movimento. E a
isto chama “o ser por si”. É o “por si” do homem, do espírito mesmo. Somente o
espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito
produz, seu objeto de pensamento, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu
outro. O devir do espírito é um desprendimento, um desdobrar-se, ao mesmo
tempo, um desafogo.
No que toca mais precisamente ao mais preciso e precioso lado da educação, a disciplina, não se há de permitir ao adolescente abandonar-se a seu próprio bel-prazer; ele “deve obedecer para aprender a mandar”. A obediência é o começo de toda a sabedoria; pois, através dela, a vontade que ainda não conhece o verdadeiro, o objetivo, e não faz deles o seu fim, pelo que ainda não é verdadeiramente autônoma e livre, mas, antes, uma vontade despreparada, faz que em si vigore a vontade racional que lhe vem de fora, e que pouco a pouco esta se torne a sua vontade. O capricho deve ser quebrado pela disciplina; por ela deve ser aniquilado esse gérmen do mal. No começo, a passagem de sua vida ideal à sociedade civil pode parecer ao jovem como uma dolorosa passagem à vida de filisteu, mas eles não tinham medo da morte. Até então preocupado apenas com objetos universais, e trabalhando só para si mesmo, o jovem que se torna um homem deve, ao entrar na vida prática, ser ativo para os outros e ocupar-se com singularidades, pois concretamente se se deve agir, tem-se de avançar em direção ao singular. Nessa conservadora produção e desenvolvimento do mundo consiste no trabalho humano. Podemos de um lado dizer que o homem só produz o que já existe. Mas é necessário que um progresso individual seja efetuado. Mas se o progredir no mundo só ocorrer nas massas, só se faz notar em uma grande soma de coisas produzidas.
A Escolinha do Professor Raimundo representou uma alegoria da vida do brasileiro e um quadro cômico experenciado por Chico Anysio e exibido em diversos programa humorístico long time ago de 38 anos, período em que reuniu muitos dos maiores nomes artísticos do formato pragmático de interpretação da chamada “escolinha” no Brasil (cf. Castro, 2020). Estreou como programa próprio na televisão em 4 de agosto de 1957 e na Rede Globo a partir de 1973, até 28 de maio de 1995. Voltou ao vivo em 1999 como parte do humorístico Zorra Total, permanecendo até outubro de 2000. Pouco tempo depois de ter ficado sem mais haver o processo de transmissão na Rede Globo por conta da rotinização do trabalho e baixos resultados de audiência registrados, apesar disso, retornou a seu formato original e independente como programa de televisão sendo exibido entre 26 de março e 28 de dezembro de 2001, quando foi exibida sua última temporada. A partir de 4 de outubro de 2010, passou a ser reprisado pelo canal de tv pago por assinatura Viva. Quatro Dvds da Escolinha foram lançados pela Globo Marcas, cada um com episódios de determinado ano, o primeiro intitulado Turma de 1990.
O segundo, Turma de 1991, incluiu um disco bônus com o especial Chico e Amigos, de 2009 que, todavia, incluía entre seus quadros humorísticos uma imitação da Escolinha com vários personagens de Chico Anysio. Em 2015, o Canal Viva produziu em parceria com a Rede Globo um remake da antiga Escolinha, com 7 episódios, sendo que 2 dos quais passaram apenas na exibição pela TV Globo. A equipe incluiu três familiares de Chico Anysio, todos com experiência na série pioneira original sob direção de sua sobrinha Cininha de Paula, redação do filho Nizo Neto que interpretava Seu Ptolomeu, e o professor Raimundo interpretado pelo filho Bruno Mazzeo, anteriormente era redator na velha Escolinha. O cinema do Brasil – mutatis mutandis - como exibição e entretenimento existe desde julho de 1896, e realização desde 1897. Na primeira década do século XXI, a atividade cinematográfica envolve pouco mais de 2 mil salas, que comercializam uma média de 100 milhões de ingressos anuais dos quais 15 e 20% são para filmes brasileiros. A estruturação do mercado exibidor no país acontece entre os anos 1907 e 1910, quando o fornecimento de energia elétrica no Rio de Janeiro e São Paulo passa a ser confiável com a inauguração da Usina de Ribeirão das Lajes. Em 1908 já havia 20 salas de cinema no Rio, boa parte delas com suas próprias equipes de filmagem. Exibiam filmes de ficção das companhias Pathé e Gaumont (França), Nordisk (Dinamarca), Cines (Itália), Bioskop (Alemanha), Edison, Vitagraph e Biograph (EUA), complementados por “naturais” documentários realizados na cidade dias anteriormente, tais como: “A chegada do Dr. Campos Sales de Buenos Aires”, ou “A Parada de 15 de Novembro” ou assim mesmo, um clássico do futebol carioca “Fluminense x Botafogo”.
A primeira exibição de cinema no Brasil aconteceu em 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro, por iniciativa do exibidor itinerante belga Henri Paillie. Naquela noite, numa sala alugada do Jornal do Commercio, na Rua do Ouvidor, foram projetados oito curtas-metragens de cerca de um minuto cada, com interrupções entre eles e retratando apenas cenas pitorescas do cotidiano de cidades da Europa. A elite carioca participou deste fato histórico para o Brasil, pois os ingressos não eram baratos. Um ano depois já existia no Rio de Janeiro uma sala de exibição fixa de cinema, o “Salão de Novidades Paris”, de Paschoal Segreto, empresário ítalo-brasileiro e pioneiro do cinema no Brasil. Nascido na província italiana de Salerno, Paschoal aos 15 anos decidiu imigrar, junto ao irmão Gaetano, embarcando no vapor Savoie para o Rio de Janeiro. Unindo-se ao banqueiro de jogo do bicho José Roberto Cunha Sales, registravam invenções de outros países como deles, e exploravam diversões que eram novidades na Europa. Em apenas sete meses após os irmãos Lumière estrearem o cinema em Paris os dois trouxeram a novidade ao país, com uma exibição ocorrida em 8 de julho de 1896. Em 1897, José Roberto Cunha Sales dirige Ancoradouro de Pescadores na Baía de Guanabara, primeiro filme brasileiro. Inaugura a primeira sala cinematográfica, o Salão Novidades de Paris e em 1898 lança a revista Animatographo, considerada a primeira revista especializada em cinema do Brasil.
Paschoal Segreto investiu no Teatro de Revista, sendo chamado por Procópio Ferreira (1898-1979) de “papa do teatro brasileiro”. Do início envolvendo-se com a contravenção, logo torna-se figura influente na esfera social e política, frequentando figuras como Hermes da Fonseca e aparecendo com frequência na revista Fon-Fon, concebida por Jorge Schmidt e fundada no Rio de Janeiro. Tendo como um de seus idealizadores o célebre escritor e crítico de arte Gonzaga Duque, tinha no escopo dado a ilustração de pessoas uma de suas principais características. A revista, inclusive, tornou célebres ilustradores como Nair de Tefé, J. Carlos, Raul Pederneiras e K. Lixto e contou, inclusive, com a colaboração do pintor Di Cavalcanti em 1914, circulando entre 13 de abril de 1907 e setembro de 1958. Além do Salão de Novidades, tinha no Rio de Janeiro o Parque Fluminense, a Maison Moderne e o Moulin Rouge, reformado em 1904; era arrendatário dos três grandes teatros o Carlos Gomes, São José e São Pedro. Noutras cidades controlou também várias casas de espetáculos e jogos de azar, como o Politeama e Eldorado, em São Paulo; o Varietés, em na cidade de Santos; o também chamado Salão das Novidades, em Campos, ou um salão para jogo de pelota basca, em Niterói (RJ). Morador do bairro de Santa Teresa, vivia com Carmela, não teve filhos, criando os sobrinhos, filhos de Gaetano e órfãos do pai desde 1908.
George
Orson Welles (1915-1985) foi um ator, diretor, escritor e produtor
norte-americano, considerado um dos artistas mais versáteis do século XX no
campo do teatro, do rádio e do cinema. Ele alcançou o sucesso aos 20 anos
graças à obra radiofônica, A Guerra dos Mundos (1938), que causou
comoção nos Estados Unidos quando “muitos ouvintes pensaram que se tratava de
uma retransmissão verdadeira de uma invasão alienígena”. Esta sensacional
estreia lhe valeu um contrato social de três filmes com o estúdio RKO, que lhe
deu a liberdade absoluta em matizar suas realizações. Apesar destes benefícios,
apenas um dos projetos planejados conseguiu ver a luz do dia: Citizen Kane
(1941), seu filme mais bem sucedido. Seguiu Cidadão Kane os aclamados
pela crítica, incluindo The Magnificent Ambersons (1942) e Touch of
Evil (1958). Embora estes três filmes sejam os mais aclamados, os críticos
têm argumentado que outras obras suas, como The Lady from Shanghai
(1947) e Chimes at Midnight (1966) foram subvalorizados.
Não por acaso ocorre a trilogia idealizada de Rogério Sganzerla sobre a visita de Orson Welles ao Brasil. O primeiro filme foi Nem Tudo É Verdade, de 1986, e o segundo Linguagem de Orson Welles, de 1991. Tudo É Brasil é um filme documentário brasileiro de 1997. Analisa It`s All True, de Orson Welles, rodado na década de 1940. Traz cenas inéditas e imagens dos bastidores do filme, com depoimentos do próprio Orson Welles e de colaboradores brasileiros e estadunidense, retrata o cotidiano dos negros dos subúrbios cariocas e dos jangadeiros de Fortaleza. Foi o terceiro filme da trilogia idealizada por Rogério Sganzerla sobre a visita de Orson Welles ao Brasil; o primeiro foi Nem Tudo É Verdade, de 1986, e o segundo foi Linguagem de Orson Welles, de 1991. Em 2002, Welles foi eleito o maior diretor de todos os tempos em duas votações realizadas pelo consagrado British Film Institute entre diretores e críticos, pesquisa etnográfica de “consenso crítico, listas de melhores e retrospectivas históricas” o consideram o diretor mais aclamado de todos os tempos na cinematografia.
O British Film Institute (BFI) é uma entidade filantrópica, estabelecida pela Carta Régia para incentivar o desenvolvimento das artes cinematográficas, a televisão e a “imagem em movimento” em todo o Reino Unido, promover sua “utilidade de uso”, no sentido marxista, como um registro dos costumes contemporâneos, para estimular o ensino sobre cinema, televisão e a imagem e sobre seu impacto social sobre a utilidade de uso na sociedade, promovendo o acesso e valorização do cinema britânico ou cinema internacional, para cuidar e desenvolver coleções sobre a história e o património da imagem do Reino Unido. O BFI foi fundado em 1933. A fundação teve lugar na sequência de um relatório público, sobre o cinema e a vida nacional. Inicialmente, foi estabelecido como uma sociedade privada, mas no decorrer de sua história, passou a receber fundos públicos. Após o Relatório de Radcliffe em 1948, que recomendou que “se centrasse apenas na apreciação da arte cinematográfica, em vez de produzir filmes”. Perdeu uma parte, para promover a produção cinematográfica, a favor da British Film Academy (BFI) e do controle da produção de filmes educativos em benefício do National Committee for Audiovisual Aids in Education. Em 1988, inaugurou o Museum of the Moving Image.
Em
sua fundação na década de 1930, o BFI não tinha mandato para financiar a
produção de filmes no Reino Unido. No entanto, o Relatório Radcliffe de 1948 “cria
[d] um clima mais favorável para a produção cinematográfica potencial ao
recomendar que o Instituto deve concentrar suas atividades exclusivamente na
promoção do filme como forma de arte”. Como parte dos planos para o Festival da
Grã-Bretanha em 1951, o BFI recebeu financiamento para produzir um lado
cinematográfico do festival, usando £ 10.000 para encomendar vários
curtas-metragens experimentais “a serem exibidos no Telecinema, um estúdio
temporário de quatrocentos lugares cinema na margem sul”. Após o fechamento da Crown
Film Unit, não havia mais nenhum órgão estatal de financiamento de filmes
no Reino Unido. Quando um novo esquema, o Eady Levy, foi introduzido em
dezembro de 1951, fornecendo duas bolsas de £ 12.500 para fazer filmes
experimentais para o Telecinema, o BFI convidou o produtor Michael
Balcon para presidir o comitê de seleção, e o Experimental Film Fund foi
criado. Não recebeu mais financiamento do BFI e ofereceu pouco apoio, apesar de
suas ambições. – “Os primeiros projetos considerados foram nas áreas de
tecnologia estereoscópica e documentários de arte”. O surgimento do Movimento Cinema Livre, que incluía vários jovens
cineastas como Lindsay Anderson, Karel Reisz, Tony Richardson e Walter
Lassally, contribuíram de forma proeminente para a Revista Sight &
Sound da BFI. O Fundo de Cinema Experimental apoiou filmes de Cinema Livre
como Reisz e Momma Don`t Allow, de Richardson, Juntos, de
Lorenza Mazetti (1956) e Ten Bob in Winter (1963) de Lloyd Reckord (1929-2015), primeiro filme britânico realizado por um cineasta negro.
Lloyd
Malcolm Reckord nasceu em Kingston, Jamaica, em 26 de maio de 1929. Começou sua
carreira teatral com a pantomima Little Theatre Movement (LTM) no Ward
Theatre. Conforme relatado por Michael Reckord no Jamaica Gleaner, “o primeiro
grande papel de Reckord foi como Tobias em uma produção de Tobias and the Angel,
no Garrison Theatre, Up-Park Camp, quando ele estava no final da adolescência.
Demitido de seu emprego na loja de ferragens de seu tio porque insistiu que
tinha que sair mais cedo para interpretar seu papel na pantomima da LTM, Alice
no País das Maravilhas, Lloyd deixou a Jamaica em 1951 quando tinha 21 anos
para se juntar ao irmão Barry, também dramaturgo e ator, na Inglaterra”. Fez o teste e aceito como aluno na Bristol Old Vic Theatre School,
posteriormente ingressando na Old Vic Company em Londres. Ele também estudaria
teatro nos Estados Unidos da América, anos depois, na Howard University,
Universidade de Yale e a ala norte-americana do teatro.
Lloyd Reckord
apareceu na peça de Ted Willis, Hot Summer Night no New Theatre, St
Martin`s Lane, Londres, em 1958, com Andrée Melly “como sua namorada branca”;
uma adaptação posterior do Armchair Theatre no ano seguinte, em 1958,
concentrou-se no relacionamento do casal. A adaptação do ITV Armchair Theatre
desta peça, transmitida em 1º de fevereiro de 1959, é atualmente o primeiro
exemplo reconhecido de um beijo interracial na televisão, e três anos
depois, ele participou de “outro beijo interracial televisionado em You in
Your Small Corner, uma peça da semana de Granada transmitida em junho de
1962, na qual ele beijou a atriz Elizabeth MacLennan . Essa reivindicação já
havia sido feita para Emergência – Ala 10, que é posterior aos beijos
anteriores de Reckord. A peça foi escrita a quatro mãos, pelo irmão de Reckord,
Barry, e dirigida por Claude Whatham. Também atuou em várias séries de
televisão, incluindo 4 episódios de Danger Man (1960-1961, 1964-1965),
e The Human Jungle (1964), mas sentindo-se na teoria da rotulação como ator, ele queria mover em direção.
Que
Jornada nas Estrelas foi a pioneira a mostrar um beijo interracial na
televisão, entre o capitão Kirk e a tenente Uhura, já se reconhecia. O que
ninguém sabia é que aquele momento revelava também que William Shatner era tão
mulherengo quanto seu personagem, o bom e velho Jim. Conforme a data de
exibição do episódio, “Plato’s Stepchildren”, foi se aproximando, as risadas
foram substituídas por preocupações de como o público iria reagir. - “Chegamos
ao dia –você sabe, o Grande dia. E de repente havia aquele zunzunzum no
estúdio, eles estavam preocupados sobre como o Sul ia reagir”. Mas a atriz fez
questão de dizer que a resposta acabou sendo muito positiva. - “As cartas
despencavam. Tivemos mais cartas sobre aquele episódio do que de qualquer outro
episódio em todos os tempos de Jornada nas Estrelas. Mas Gene me disse
sobre uma carta vinda de um fã, ‘Essa carta aqui, essa é o máximo de cartas
negativas que recebemos’. Era de um homem no Sul, que disse, ‘Eu não acredito
na integração das raças e na fraternidade das raças, mas toda vez que algum
rapaz americano de sangue vermelho como o capitão Kirk pega uma garota em seus
braços que se parece com a tenente Uhura, ele não vai resistir a ela.’ Então,
muitas das preocupações e temores sobre se as pessoas saberiam lidar com aquilo
se dissiparam, e eu acho que sabíamos estar no caminho certo”.
Alguém
que também pensava que Jornada estava no caminho certo com Uhura era
Martin Luther King (1929-1968), que persuadiu Nichols a permanecer na série. - “Eu
conheci o dr. King em uma entidade beneficente e ele me disse que ele era uma
das pessoas mais importantes na família dele. Que eles assistiam Jornada nas
Estrelas e que eu era um modelo e uma heroína para eles. E eu disse que estava
muito orgulhosa disso e que era muito legal, e então eu disse que eu estava ... muito deixar a série, e ele disse abruptamente, ‘Você não pode!
Você não deve de jeito nenhum. Você sabia que você tem o primeiro papel
não-estereótipo na televisão? Você é a primeira. Isso não é um papel feminino.
Isso não é um papel negro. É um papel de qualidade, e é um papel igualitário, e
é em uma posição de comando. Você tem de continuar, porque não só crianças
negras e mulheres veem você e aspiram e você tem significado para elas, mas
todo o resto nos olha pela primeira vez do jeito que deveríamos –em uma base
igual e em um nível de dignidade e autoridade e com a mais alta das
qualificações`”.
Mas
este museu não foi um sucesso no Reino Unido e o fechamento temporário em 1999,
se tornou definitivo em 2002. O Instituto recebeu a Carta Régia em 1983.
Ele foi alterado em 2000, quando a Film Council foi criada para gerir as
suas atividades. O Instituto de Cinema Britânico mantém o maior acervo
cinematográfico do mundo, o BFI National Archive, anteriormente reconhecido
como National Film Library (1935-1955), National Film Archive
(1955-1992) e National Film and Television Archive (1993-2006). O acervo
contém mais de 50.000 filmes de ficção, 100.000 títulos não-ficcionais e cerca
de 625 mil programas das redes de televisão. A maior parte da coleção, são
materiais britânicos, mas possuem participações internacionais significativas
de todo o mundo. O acervo também recolhe filmes que apresentam atores
britânicos e obras de diretores do Reino Unido. O BFI dirige o BFI Southbank,
anteriormente reconhecido por National Film Theatre, o principal
repertório cinematográfico do Reino Unido e o cinema Maximum, de Londres, é um
formato de filme criado pela empresa canadense IMAX Corporation que tem a
capacidade de mostrar imagens muito maiores em tamanho e resolução do que os
sistemas convencionais de exibição de filmes, ambos localizados na margem sul
do Rio Tâmisa em Londres. A IMAX tem a maior tela de cinema do Reino Unido, e
mostra recentes estreias populares e os curtas-metragens que exibem sua
tecnologia, onde inclui projeções em 3D e 11.600 watts de som surround digital.
O BFI Southbank (National Film Theatre) também mostra filmes do
mundo ocidental e filmes históricos e especializados, particularmente aclamados
pela crítica cinematográfica, que de outra forma, não poderiam obter uma
exibição tão plena no cinema. O BFI também distribui os arquivos de filmes
culturais anualmente em outros locais e regiões.
Órfão
aos quinze anos, após a morte do seu pai, pois sua mãe morreu quando ainda
tinha 9 anos, Orson Welles começou a estudar pintura em 1931, primeira arte em
que se envolveu. Adolescente, não via interesse nos estudos e em pouco tempo logo
passou a atuar. Tal paixão o levou a criar sua própria companhia de teatro em
1937. Em 1938, Orson Welles produziu uma transmissão radiofônica intitulada A
Guerra dos Mundos, adaptação da obra homônima de Herbert George Wells e que
ficou famosa mundialmente “por provocar pânico nos ouvintes, que imaginavam
estar enfrentando uma invasão de extraterrestres”. Um Exército que ninguém via,
mas que, do ponto de vista comunicativo, de acordo com a dramatização
radiofônica, em tom jornalístico, acabara de desembarcar no nosso planeta Terra.
O sucesso da cadeia de “transmissão foi tão grande que no dia seguinte todos
queriam saber quem era o responsável”. A fama do jovem cineasta Orson Welles
começava. Foi casado com a atriz Rita Hayworth e tiveram a filha Rebecca.
Rita Hayworth (1918-1987) foi uma atriz, dançarina e produtora norte-americana. Alcançou a fama durante a década de 1940, como uma das principais estrelas de seu tempo, aparecendo em 61 filmes ao longo de 37 anos. A imprensa cunhou o termo “A Deusa do Amor” para descrever Rita Hayworth depois que ela se tornou “a ídolo mais glamourosa das telonas”, na década de 1940. Ela foi a maior garota pin-up para os militares durante a 2ª guerra mundial. É talvez mais reconhecida por sua atuação no filme noir Gilda, de 1946, ao lado de Glenn Ford, no qual ela interpretou uma femme fatale em seu primeiro grande papel dramático. Hayworth nasceu como Margarita Carmen Cansino em Brooklyn, Nova Iorque, sendo a filha mais velha de dois dançarinos. Seu pai, Eduardo Cansino, era descendente de ciganos em Castilleja de la Cuesta, uma pequena cidade perto de Sevilha, Espanha. Sua mãe, Volga Hayworth, era uma norte-americana de ascendência irlandesa e inglesa que havia se apresentado com Ziegfeld Follies. Casaram-se em 1917. Eles também tiveram outros dois filhos: Eduardo Jr. e Vernon. Seu tio materno Vinton Hayworth também era ator. O pai de Margarita queria que ela se tornasse dançarina profissional. Conquanto sua mãe esperava que ela se tornasse atriz. Seu avô paterno, Antônio Cansino, era reconhecido como um prestigioso dançarino clássico espanhol. Ipso facto, ele popularizou o gênero musical bolero, e sua Escola de Dança em Madrid era mundialmente famosa. Antônio Cansino deu a primeira aula de dança de Rita Hayworth.
Durante
seu tempo na Fox Entertainment Group, Rita Hayworth foi anunciada como
Rita Cansino e apareceu em papéis comuns, muitas vezes escalados como “a
estrangeira exótica”. No final de 1934, aos 16 anos, performou uma
sequência de dança em “A Nave de Satã” (1935), filme de Spencer Tracy, e foi
contratada em fevereiro de 1935. Ela teve seu primeiro papel como uma garota
argentina em “Under the Pampas Moon”, de 1935. Ela interpretou uma garota
egípcia em “Charlie Chan in Egypt” e uma dançarina russa em “Paddy O`Day”,
ambos também de 1935. Sheehan estava preparando-a para o papel principal no
filme tecnicolor “Ramona”, de 1936, esperando estabelecê-la como uma nova
Dolores del Río da Fox Film. No final de
seu contrato de 6 meses, a Fox se fundiu com a 20th Century Fox, com Darryl Francis
Zanuck atuando como produtor executivo. Descartando o interesse de Sheehan por
ela e dando a Loretta Young a liderança em “Ramona”, Zanuck não renovou o
contrato social com Cansino. Sentindo seu potencial na tela, o vendedor e
promotor Edward Charles Judson, com quem ela fugiria em 1937, conseguiu
trabalho freelance para ela em vários filmes pequenos de estúdios e uma
parte no filme da Columbia Pictures “Meet Nero Wolfe”, de 1936.
O
chefe de estúdio da Columbia Harry Cohn assinou um contrato de sete anos com
ela e a testou em pequenos papéis. Cohn argumentou que sua imagem era “muito
mediterrânea”, o que a limitava a ser escalada para papéis típicos “exóticos”
em menor número. Ouviram-no dizer que o sobrenome dela soava muito espanhol.
Judson agiu de acordo com o conselho de Cohn: Rita Cansino tornou-se Rita
Hayworth quando adotou o nome de solteira de sua mãe, para consternação de seu
pai. Com um nome que enfatizava sua ascendência anglo-americana, as pessoas
estavam mais propensas a considerá-la uma “clássica” americana. Com o incentivo
de Cohn e Judson, Hayworth mudou “a cor do cabelo para vermelho escuro” e fez eletrólise
para aumentar a linha do cabelo e ampliar a aparência da testa. Hayworth
apareceu em cinco filmes menores da Columbia e três filmes independentes em
1937. No ano seguinte, ela apareceu em cinco filmes B da Columbia. Em
1939, Cohn pressionou Howard Hawks a usar Hayworth em papel pequeno, mas
importante, daí o drama de aviação “Paraíso Infernal” (1939), atuando com Cary Grant e Jean Arthur, quando construiu o rosto (cf.
Courtine, 2016) de Hayworth em 1940 nos filmes: “Music in My Heart”, “The Lady
in Question”, e “Angels Over Broadway”.
Não
queremos perder de vista sociologicamente que o rosto é objeto de um
trabalho pessoal, indispensável à conversação e ao comércio entre os homens.
Manuais de retórica, obras de fisiognomonia, um antigo tratado grego, livros e civilidade e artes da
conversação lembram incansavelmente do século XVI ao XVIII que o rosto está no “centro
das percepções de si, da sensibilidade ao outro, dos rituais da sociedade
civil, das formas do político”. Trata-se de um privilégio antigo que reveste, per
se, uma nova tonalidade a partir do início do século XVI. Ou, mais
precisamente, que pelo rosto é o indivíduo que se exprime. Um laço se
esboça e depois é traçado mais nitidamente a relação social entre sujeito,
linguagem e rosto, um laço crucial para a elucidação da personalidade moderna.
As percepções do rosto são lentamente deslocadas, assim como sensibilidades à
expressão se desenvolvem progressivamente. Um dos traços essenciais do avanço
do individualismo no âmbito da história social das mentalidades. Melhor
dizendo, trata-se de um “individualismo dos costumes” que o historiador Philippe
Ariès atribui a um processo geral de privatização que vai transformar
profundamente a identidade individual entre aqueles dois séculos, e
reconfigurar de maneira paradoxal as relações entre comportamentos públicos e
privados: o que vai, por um lado, afirmar a preeminência do indivíduo e incitar
a expressão pessoal.
Se
o final do século XVIII vê a vitória política do indivíduo, trata-se também de
um triunfo da expressão quando Denis Diderot (1713-1784) pode afirmar: - “Num
indivíduo, cada instante tem sua fisionomia, sua expressão”. Ipso facto,
o indivíduo é, daí em diante, indissociável da expressão singular de seu próprio
rosto, tradução corporal de seu íntimo. Exprimir e calar, descobrir e mascarar,
esses paradoxos do rosto são os do indivíduo e constituem metodologicamente uma
arqueologia importante. Para sermos breves, elementos desses paradoxos
estão presentes, sob diferentes formas em diferentes ensaios publicados no
começo do século XX, tanto de Norbert Elias quanto de Max Weber, pois,
comparativamente ocorre sob a denominação geral de “civilização dos costumes” e
de “racionalização dos comportamentos práticos”, que um e outro sociólogo, se
referiram a esse processo de afirmação individual, e, mais, de
autocontrole, de repressão dos impulsos, de contenção. Esses paradoxos estão no
quadro de análise da sociedade cortesã e do desenvolvimento da civilização,
para Elias, e daquilo que para Weber equivale aos “fatores religiosos” na
gênese de uma ética protestante e capitalista.
Naquele
ano, apareceu pela primeira vez em uma reportagem de capa da Revista Life.
Fundada por John Ames Mitchell em 4 de janeiro de 1883 e editada semanalmente
pela Life Publishing Company, a Revista Life ficou reconhecida
pelos Cartoons, séries de Pin-up, textos humorísticos e pelas críticas
de teatro e cinema. Enquanto estava emprestada à Warner Bros., Hayworth
apareceu como a segunda protagonista feminina em “Uma Loira com Açúcar” (1941),
ao lado de James Cagney e Olivia de Havilland. Ela voltou triunfante para o
estúdio da Columbia Pictures e foi escolhida para o musical “Ao Compasso do
Amor”, em 1941, ao lado de Fred Astaire em um dos filmes de maior orçamento que
a Columbia realizou. O filme fez tanto sucesso de bilheteria que o estúdio
produziu e noutro filme com Astaire-Hayworth, “Bonita Como Nunca”. Peter
Levinson, o biógrafo de Astaire, escreveu que a combinação de dança entre
Astaire e Hayworth representava o “magnetismo absoluto na tela”. Embora Astaire
tenha feito 10 filmes com Ginger Rogers, sua outra principal parceria de dança,
a sensualidade de Rita Hayworth superou a habilidade técnica legal e
disciplinar de Rogers. – “A exuberância juvenil de Rita combinava perfeitamente
com a maturidade e elegância de Fred”, diz Levinson.
Quando
perguntaram a Astaire quem era sua parceira de dança favorita, ele tentou não
responder à pergunta, mas depois admitiu que era Rita Hayworth: - “Tudo bem, eu
vou te dar um nome”, disse ele. – “Mas se você deixar escapar, eu vou jurar que
menti. Foi Rita Hayworth”. Astaire comentou que “Rita dançou com perfeição e
individualidade treinadas (...). Ela era melhor quando estava gravando do que
nos ensaios”. O biógrafo Charlie
Reinhart descreve o efeito que ela teve no estilo de Astaire: - “Havia
uma espécie de reserva em Fred. Era encantador. Isso se transferiu para sua
dança. Com Hayworth não havia reservas. Ela era muito explosiva. E é por isso
que eu acho que eles realmente se complementavam”. Em agosto de 1941, Hayworth
foi destaque em uma foto icônica da Revista Life, na qual ela posou em “uma
camisola de cetim com um corpete de renda preta”. A foto de Bob Landry fez dela
uma das duas melhores garotas pin-up dos anos da 2ª guerra mundial; a
outra era Betty Grable, em uma fotografia de 1943. Por dois anos, a fotografia
de Hayworth foi a fotografia pin-up mais solicitada em circulação. Em
2002, a camisola de cetim que Hayworth usou para a foto foi vendida por US$
26.888. Eram modelos que estamparam pôsteres sensuais com uma estética muito
própria nas décadas de 40 e 50. Embora sua origem remeta à Gibson Girl, uma
mulher provocante pintada pelo artista norte-americano Charles Dana Gibson, em
1887, as pin-ups se popularizaram, quando soldados norte-americanos
penduravam seus pôsteres nos alojamentos (daí o nome “pin-up”, que significa
“prender com tachinhas”. Elas estabeleceram um processo de trabalho e
comunicação com estilo de erotismo sutil que ainda hoje é reverenciado.
Em março de 1942, Hayworth visitou o Brasil como uma “embaixadora cultural” pela política de boa vizinhança do governo de Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), sob os auspícios do Escritório para Assuntos Interamericanos. Durante a década de 1940, Hayworth também contribuiu para a iniciativa da diplomacia cultural do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs, agência dos Estados Unidos que promovia a cooperação interamericana durante a década de 1940, em apoio ao Pan-americanismo por meio de suas transmissões para a América do Sul na rádio “Cadena de las Américas”, da Columbia Broadcasting System (CBS). Hayworth teve o maior faturamento em um de seus filmes mais reconhecidos, o musical tecnicolor “Modelos”, lançado em 1944. O filme a estabeleceu “como a principal estrela da Columbia na década de 40”, e deu a ela a distinção de ser a primeira de apenas seis mulheres a dançar na tela com Gene Kelly e Fred Astaire. – “Acho que as únicas joias da minha vida”, disse Hayworth em 1970, “foram as fotos que fiz com Fred Astaire... E “Modelos` também”. Por três anos consecutivos, começando em 1944, Hayworth foi considerada uma das principais atrações de bilheteria do mundo. Ela era adepta do balé, sapateado, dança de salão, e rotinas espanholas. Cohn continuou a mostrar os talentos de dança de Hayworth. A Columbia nos filmes “O Coração de Uma Cidade”, de 1945, com Lee Bowman; e “Quando os Deuses Amam”, de 1947, com Larry Parks. Grande Otelo e Oscarito em cena de Barnabé, Tu És Meu (1951). Foto: Arquivo Estadão.
Grande Otelo, nasceu em Uberlândia, Minas Gerais, em 18 de outubro de 1915 e faleceu em Paris, em 26 de novembro de 1993. Foi ator, comediante, cantor, produtor e compositor. Grande artista de cassinos cariocas e do chamado Teatro de Revista, participou de diversos filmes brasileiros de sucesso, entre eles, as famosas chanchadas nas décadas de 1940 e 1950, quando estrelou em parceria com o artista cômico Oscarito, e a versão cinematográfica de Macunaíma, realizada em 1969 do gênero comédia e fantasia, escrito e dirigido por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), baseado na obra de Mário de Andrade. É citado como um dos mais importantes atores da história do Brasil. Sua vida teve várias tragédias. Seu pai morreu esfaqueado e a mãe era alcoólatra. Quando já era um ator consagrado, sua mulher cometeu suicídio “logo após matar com veneno seu filho de seis anos de idade, que era enteado do ator”. Grande Otelo vivia em Uberlândia quando conheceu uma companhia de teatro Mambembe e fugiu com eles, com “o consentimento da diretora do grupo, Abigail Parecis, que o levou para São Paulo”. Ele voltou a fugir e acabou no Juizado de Menores, até “ser adotado pela família do político Antônio de Queiroz”. O artista Grande Otelo estudou no Liceu Coração de Jesus, até a 3ª Série Ginasial. Participou na década de 1920, da Companhia Negra de Revistas (cf. Barros, 2005), que tinha a colaboração de Pixinguinha como maestro. Foi em 1932 que entrou para a Companhia Jardel Jércolis, tornando-se um dos pioneiros do Teatro de Revista. Nasce o nome que levaria a boa fama como Grande Otelo, reiterado por Sebastião Bernardes de Souza Prata que adotou consciente o nome na Sétima Arte.
Em 1926, com apenas seus 11 anos de idade, ingressou na Companhia Negra de Revista, composta exclusivamente por artistas negros, entre eles, Pixinguinha, um maestro, flautista, saxofonista, compositor e arranjador considerado um dos maiores compositores da Música Popular Brasileira (MPB). Contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva, o músico Donga e a atriz e cantora Rosa Negra. Em 1932 entrou para a Companhia Jardel Jércolis, um dos pioneiros do teatro de revista. Com esta Companhia chegou ao Rio de Janeiro, realizando “seu sonho de infância”. Era um assíduo frequentador das noites cariocas, na famosa gafieira Elite, no bar Vermelho ou nos bares da Lapa (Centro). Entre 1938 e 1946, fazia trabalhos na Rádio Nacional, na Rádio Tupi, entre outras. Atuou no Cassino da Urca em diversos espetáculos. Em 1939, contracenou com a atriz e dançarina norte-americana Josephine Baker (1906-1975), que considerou uma das mais importantes apresentações de sua carreira. Negro, com apenas 1,50 metros de altura viveu numa época de dominação colonialista e preconceituosa, em que negros não podiam se quer entrar pela porta da frente do Cassino, fato social que “mudou depois da contratação do artista”. Nessa época, compôs junto com Herivelto Martins o famoso samba “Praça Onze”, um grande sucesso no carnaval de 1942.
O Cassino da Urca foi uma casa de jogos com representação comercial de fama internacional localizado no bairro carioca da Urca na cidade do Rio de Janeiro e que funcionou de 1933 a 1946, quando os jogos foram proibidos. O prédio onde se localizava o Cassino foi construído no ano de 1922, abrigando inicialmente o Hotel Balneário. Transformado em Cassino no ano de 1933, passou por um período de adaptações e poucas visitas até que o empresário Joaquim Rolla ganhasse numa rodada de cartas parte de suas ações. A partir daí, o Cassino viveu dias de glória e funcionou até o ano de 1946, quando os jogos de azar foram proibidos pelo Presidente Dutra. Entre 1954 e 1980, após ter sido comprado pelos Diários Associados, o prédio foi adaptado para receber os estúdios da TV Tupi. Após décadas de abandono e deterioração o antigo Cassino, lado praia, foi restaurado pelo Istituto Europeo di Design para sua sede no Rio de Janeiro. Desde 2013 as instalações são utilizadas pelo Istituto Rio. O famoso salão de público e o palco do teatro que recebia grandes atrações e shows de artistas brasileiros Grande Otelo, Carmen Miranda e sua irmã Aurora Miranda, Dick Farney, Virginia Lane, Dalva de Oliveira e o Trio de Ouro, Ary Barroso e a famosa dançarina Josephine Baker. Com a criação da TV Tupi, o palco era o centro de programas incluindo o “Cassino do Chacrinha” líder de audiência da televisão durante muitos anos. Grande Otelo em cena de bastidores com Joaquim Pedro de Andrade, Dina Sfat e Cristina Ache, ao fundo. Foto: Arquivo Estadão.
Josephine
Baker era filha de Carrie McDonald, “mas seu pai é de nome incerto”.
Alguns biógrafos afirmam que seria Eddie Carson, que foi certamente amante de
sua mãe, mas Josephine acreditava que “seu pai teria sido um homem branco”. O
pai de Josephine, segundo a biografia oficial, era o ator Eddie Carson. Várias
fontes, no entanto, afirmam que seu pai teria sido “um vendedor ambulante de
joias”. Ela era efetivamente fruto de grande miscigenação racial: tinha além da
herança negra, de escravizados da Carolina do Sul, também a herança genética de
índios americanos apaches. Os apaches são um grupo étnico na-dene, sendo
um dos povos nativos dos Estados Unidos. Falam a língua apache e habitam
reservas indígenas, no sudoeste dos Estados Unidos da américa. Os povos Apaches
ocupavam territórios em Arizona, norte do México, Novo México, oeste e sudoeste
do Texas e sul de Colorado. Os locais tradicionais dos Apaches consistiam em
montanhas altas, vales abrigados e fornecidos de água, grandes ravinas,
desertos e as Grandes Planícies do Sul. Há controvérsia sobre a inclusão ou não
dos navajos entre os apaches. Josephine começou sua carreira ainda
criança, como artista de rua. Participou de espetáculos de vaudeville de
St. Louis Chorus, aos 15 anos. Atuou em Nova York, em alguns espetáculos da
Broadway, em 1921 e 1924. Em 2 de outubro de 1925, estreou em Paris, no Théâtre
des Champs-Élysées, fazendo imediato sucesso com sua dança erótica,
aparecendo praticamente nua em cena. Graças ao sucesso da sua temporada europeia,
rompeu o contrato e voltou para a França, tornando-se a estrela da Folies
Bergère. Suas apresentações foram memoráveis, dentre elas uma que vestia uma
saia feita de bananas.
Por
suas atuações no Teatro de Revista, foi contemporânea da grande vedete
francesa Jeanne Bourgeois, artisticamente reconhecida como Mistinguett. O
charme de Mistinguett estava em sugerir nudez, exibindo as suas belíssimas
pernas, ao passo que Josephine ia muito mais longe em matéria de nudez. Na
verdade, eram duas formas de arte diferentes. Mistinguett era mais elitista enquanto
Josephine era mais visivelmente popular. Durante a 2ª guerra mundial, teve um
papel importante na resistência à ocupação, atuando como espiã. Depois da
guerra, foi condecorada com a Cruz de Guerra das Forças Armadas Francesas
e a Medalha da Resistência. Recebeu também, do presidente Charles de
Gaulle, o grau de Cavaleiro da Legião de Honra. Nos anos 1950, usou sua
grande popularidade na luta social contra o racismo e pela emancipação dos
negros, apoiando o Movimento dos Direitos Civis, de Martin Luther King. Também trabalhou na National Association for the
Advancement of Colored People. Curiosamente adotou 12
órfãos de várias etnias que chamava “tribo arco-íris”. Eram eles: Janot,
coreano; Akio, japonês; Luís, colombiano; Jari, finlandês; Jean-Claude,
canadense; Moïse, judeu francês; Brahim, argelino; Marianne, francesa; Koffi,
costa-marfinense; Mara, venezuelana; Noël, francês; e Stellina, marroquina.
Tinha um guepardo de estimação com o nome de Chiquita.
Jeanne
Bourgeois começou a trabalhar como florista em restaurante, na sua cidade
natal, cantando “cançonetas populares enquanto vendia as flores”. Seu grande
sonho era brilhar em grandes palcos. Sabendo não ter um talento aguçado, fez os
pais investirem em aulas de dança e de canto. Posteriormente, alterou a sua
profissão, a sua voz e nome artístico, tendo utilizado sucessivamente Miss
Helyett, Miss Tinguette, “Mistinguette” e, finalmente, Mistinguett, sem a
vogal “e” no final. Estreou no Cassino de Paris, em 1895, aparecendo também em
espetáculos no Folies Bergère, no Moulin Rouge, e no Eldorado. A sensualidade
de suas apresentações cativou Paris, tornando-a “a mais popular vedete de sua
época e a mais bem paga do mundo”. Em 1919, as suas pernas foram cobertas por
uma apólice de seguros, pela importância segurada de 500 000 francos,
milionária. Nos anos 1920, encenou operetas de sucesso: Paris qui Danse,
Paris qui Jazz, En Douce, Ça, c`est Paris, e Oui, Je
suis de Paris. A maioria das músicas utiliza-se da corneta como
acompanhamento musical, característica desse bom tempo. Suas músicas são
marcadas pela sensualidade e alegria nas letras. Tinha também um talento enorme
para escolher as canções pela popularidade que residiam das mesmas. Por isso,
Mistinguett também é reconhecida como um símbolo dos anos loucos, os loucos anos
1920. Mesmo sendo um símbolo dos anos 20, Mistinguett teve uma carreira muito
longa. Reconhecida desde o fim do século XIX, não deixou de trabalhar até a sua
morte, em meados dos anos 1950.
Também
lançou muito no âmbito da moda. E isso bem antes de Coco Chanel, Mistinguett já
usava seus cabelos curtos e cruzava elegantemente as pernas, além de fumar
muito, hábito que, antes dela, era restrito apenas aos homens. Foi um símbolo
de ousadia e de vanguarda, isso quando o século XX ainda nem despontara completamente.
Após 1933, sua carreira começou a entrar em lentíssimo declínio. Mesmo assim,
nunca parou de trabalhar. Numa quadra sem cirurgias plásticas e cosméticos
avançados, chamou atenção a jovialidade que ela demonstrava natural mesmo após
ter passado dos 60 anos. Aparentava ter 20 anos a menos, tanto que no filme Rigolboche,
de 1936, quando ela provavelmente tinha 61 anos, ela fazia o papel de uma
cantora que mostrava belas pernas e era mãe de um garoto de 6 anos. Era
apelidada devido à forma física de “indestrutível”. Trabalhou nos filmes da
indústria cinematográfica francesa, numa conjuntura em que filmes de cinema em
sua progênie ainda eram filmes mudos. No cinema falado, trabalhou em Rigolboche,
em 1936 e em Carrocelo del Varietà, de 1955, um ano antes de morrer.
No
entanto, não gostava de atuar em filmes, dizendo que não tinha a mínima graça
trabalhar “olhando para uma máquina de olho de vidro”, conforme ela própria
dizia. Jeanne Bourgeois foi sobretudo uma artista que precisava de contato
direto com o público. Isso explica o seu sucesso: mesmo sem ter voz potente e
sem dançar com desenvoltura, hipnotizava plateias. Manteve um longo
relacionamento afetivo com o jovem Maurice Chevalier (1888-1972), treze anos
mais novo que ela, muito embora tenha mantido outros tórridos envolvimentos
amorosos, que se tornaram lendários em seu tempo, como o caso com um marajá
indiano e o filho da Rainha Vitória, da Inglaterra. No início do século XX,
teve um romance com o engenheiro e diplomata Leopoldo José de Lima e Silva, de
rica família do Rio de Janeiro e cônsul do Brasil em Paris, com quem teve um
filho, nascido em 1901. Não é de se estranhar que em algumas de suas canções
seja citado um riche brésilien, como em Gosse de Paris e Sur
le boulevard des italiens. Em 1923, esteve no Brasil na inauguração do
hotel Copacabana Palace, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no Rio de
Janeiro. Sua presença foi muito alardeada, mas mesmo assim Mistinguett, famosa “por
ter as mais belas pernas do mundo”, foi proibida de exibi-las. A maneira mais
teimosa, porém, de nos entregarmos à técnica, de acordo com uma lição antiga, é
entendermos que a essência de alguma coisa é aquilo que ela é, como aquilo que
é afirmativo na dialética hegeliana. Questionar a técnica significa perguntar o
que ela é. Pertence à técnica a produção e o uso de ferramentas, aparelhos e
máquinas, como a ela pertencem estes produtos e utensílios em si mesmos e as
necessidades a que eles servem. O conjunto de tudo isso é a técnica. A própria
técnica é também um instrumento. Enfim, a concepção corrente da técnica de ser
ela um meio de trabalho e uma atividade humana pode se chamar a determinação
instrumental e antropológica da técnica.
Na
arte cinematográfica lembramos que Fritz Lang é considerado dentre os mais
famosos cineastas contemporâneos vinculado ao expressionismo alemão, cujo auge
se deu na década de 1920. É caracterizado pela distorção de cenários e
personagens, através da maquiagem, dos recursos de fotografia e de outros mecanismos,
com o objetivo de expressar a maneira como os realizadores viam o mundo. Em
1919 estreou na direção com o filme: Halbblut, obtendo o primeiro
sucesso com Os Espiões, do mesmo ano inicial de sua estreia. Baseado no
romance de Thea Gabriele von Harbou, sua parceira e esposa que
também assina o roteiro, a história social gira em torno do “desaparecimento de
certos documentos e a iminente assinatura de um tratado internacional”.
Alemães, russos, franceses e japoneses do ponto de vista da análise comparada
têm interesses na correlação de forças sociais e políticas. A montagem inicial
é ágil e já nos deixa a par dos fatos políticos e uma antecipação da
ação em seu devir. É um filme que não envelhece. Chega com
fôlego na história do cinema e da modernidade aos oitenta anos de sua démarche.
Seu ritmo extraordinário e o uso da técnica garantem a adrenalina.
Fritz
Lang representava o segundo filho do arquiteto e gerente de uma empresa de
construção civil Anton Lang e de Pauline Lang, católicos romanos praticantes,
apesar de sua mãe ter nascido judia Ish e depois se convertido ao
catolicismo quando Fritz tinha 10 anos de idade. Lang nunca demonstrou
interesse sociológico pela herança judaica e identificou-se mais com o
catolicismo cristão, não sendo um devoto praticante, apesar de ter utilizado
regularmente imagens católicas e temas correlatos em seus filmes. Fritz começou
estudando Engenharia Civil na Universidade Técnica de Viena, fundada em 1815
como Instituto Politécnico Real e Imperial. O escopo da universidade é o ensino
e a pesquisa em engenharia e ciências naturais, mas depois acabou “migrando”
para a arte. Por volta de 1910 resolveu sair de Viena e viajou para conhecer a
Europa e também a África, indo depois para a Ásia quando conheceu parte do
Pacífico, e em 1913 resolveu ir para Paris, onde passou a estudar pintura. A
efervescência cultural, política e social da Berlim do pós-guerra, se reflete
nas suas primeiras obras. Em 1919 estreou na direção cinematográfica como vimos
com Halbblut, perdido, acerca do qual se sabe muito pouco. Alcançou o
primeiro sucesso com o filme Os Espiões, do mesmo ano de sua estreia.
Dirige
na sequência a produção Die Nibelungen (1924) tematizando sobre o
“fantástico mitológico”, ou, a linguagem de distopia futurista Metropolis
(1927) contendo os trabalhadores, que vivem debaixo de terra e põem as máquinas
para funcionar, e a “classe dirigente”, para lembramos do conceito marxista de Antônio
Gramsci (1975) que vive à superfície – talvez o expoente máximo do cinema dos
anos 1920. Nasceu em Viena, na Áustria, filho de um engenheiro civil. Aos 21
anos mudou-se para Munique (1911), onde estudara pintura e escultura diante da
efervescência cultural, política e social da Berlim do pós-guerra. Em 1921
casou-se com a roteirista Thea Von Harbou, que escreveu os argumentos dos
filmes desta primeira fase da carreira. Era uma família da base da nobreza, com
oficiais no governo, que lhe deu conforto enquanto crescia. Quando criança, foi
educada em um convento, com tutores particulares, onde aprendeu a falar
diversos idiomas, a tocar piano e violino, sendo “considerada uma criança
prodígio”. Seus primeiros trabalhos foram contos publicados em revista e um
livro de poemas publicado por conta, tematizado em suas percepções a respeito
da arte, algo quase incomum para uma criança de 13 anos. Apesar de levar uma
vida privilegiada, queria ganhar seu próprio dinheiro, tornando-se atriz,
apesar dos protestos conservadores de sua pródiga família.
Após estreia em 1906, Thea conheceu Rudolf Klein-Rogge, com quem se casou
durante a 1ª guerra mundial (1914-18). Em 1917, o casal se mudou para Berlim,
onde Thea se dedicou a “construir uma carreira de escritora”. Começou a
escrever sobre mitos épicos e lenda, em geral com um tom ultranacionalista.
Segundo historiadores, seus livros começaram a se tornar patrióticos e com a
intenção de levantar a moral do povo alemão, pedindo que as mulheres se
dedicassem e se sacrificassem a promover a “glória eterna da pátria”. Sua
primeira interação social com o cinema ocorreu através do diretor alemão Joe
May, que decidiu adaptar o livro de Thea, Die heilige Simplizia. Sua
produção de ficção começou a cair, conforme ela se tornavam uma das maiores
roteiristas alemãs, não apenas por sua parceria com Fritz Lang, mas por seus
roteiros escritos para Friedrich Wilhelm, Carl Dreyer e Ewald André Dupont,
considerados os luminares alemães. O irmão Horst von Harbou, foi trabalhar para
a empresa Film Aktiengesellschaft (UFA) como fotógrafo e começou uma
parceria com o casal Thea e Fritz em várias de suas produções. Os estúdios UFA
foram criados no decurso da guerra por indicação do alto comando alemão de “produzir filmes de propaganda e, simultaneamente, obras de arte
que permitissem promover a imagem da Alemanha no estrangeiro”. São películas do
“cinema mudo”, que entrariam para a história dentre os maiores expoentes
do expressionismo. O cineasta deixou a marca estética na história do
cinema. Influenciou diretores tão distintos de formação e influência mundial
como o inglês Alfred Hitchcock, o espanhol Luís Buñuel e o norte-americano Orson
Welles.
No cinema, o magnífico ator Grande Otelo representou um dos grandes destaques da Atlântida Cinematográfica, fundada no Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1941, por Moacir Fenelon e os irmãos José Carlos e Paulo Burle. O objetivo da Companhia era bem definido e de forma pragmática: promover o desenvolvimento industrial do cinema brasileiro, quando protagonizou o filme Moleque Tião (1943), de José Carlos Burle, o primeiro sucesso nacional da produtora. Na década de 1950, Grande Otelo atuou na Televisão Tupi (1950-1980) do Rio de Janeiro e na TV Rio (1955-1977). A partir de 1960 começou a realizar diversos trabalhos na TV Globo. Participou da novela Sinhá Moça (1986), do humorístico Escolinha do Professor Raimundo (1990/1993) e da Renascer novela de 1993. Grande Otelo foi casado com a atriz e dançarina Maria Helena Soares (Joséphine Hélene), e com Olga Prata, com quem teve quatro filhos, entre eles o ator José Prata. Em 1993 viajou para a França para receber uma homenagem no Festival dos Três Continentes realizado na cidade de Nantes. Durante uma semana, 10 filmes, todos inéditos em França e dois deles sem estreia comercial a nível mundial competiram. O continente asiático é o que está mais representado, com um total de 7 longas-metragens em competição. Foram retrospectivos os filmes de sabre e samurais de Hong Kong e a história do cinema da Malásia. Tem objetivo homenagear à atriz mexicana Katy Jurado, que foi durante 1950 a “mulher fatal” e ao ator egípcio Nour El-Chérif.
Fascinado pela vida boêmia da Lapa e dentre outros bairros cariocas, Grande Otelo se mudou para o Rio de Janeiro em meados da década de 1930. Lá conheceu seu grande parceiro, o músico Herivelto Martins, com quem compôs o famoso samba Praça Onze (1944) em uma das muitas idas ao badalado Cassino da Urca. Aliás, até a contratação de Grande Otelo para apresentações, os negros não podiam sequer entrar pela porta da frente do Cassino. Práticas do racismo brasileiro (cf. Habib, 2003; Hirano, 2013). Herivelto de Oliveira Martins (1912-1992) foi um dos maiores compositores brasileiros e também cantor, músico e ator. Ficou reconhecido como criador do célebre conjunto vocal Trio de Ouro, formado em 1937, que durante as primeiras décadas do século XX foi um dos mais importantes grupos musicais brasileiros. Suas canções já foram regravadas por diversos artistas dos mais variados estilos musicais, sendo sua obra considerada uma das mais importantes da Era de Ouro da Música Popular Brasileira (MPB). Em 1935, no Cine Pátria, na enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro, Herivelto Martins conheceu Dalva de Oliveira e passaram a cantar em dueto. Iniciaram um namoro e, no ano seguinte, iniciaram uma convivência conjugal, oficializada em 1937 num ritual de umbanda (cf. Pordeus Junior, 1988), que gerou os filhos Pery Ribeiro e Ubiratan de Oliveira Martins.
A
União formal durou até 1947, quando as constantes brigas e traições da parte
dele deram fim ao casamento. Em 1949, depois da separação oficial do casal e o
fim da primeira formação do Trio de Ouro, Herivelto Martins e Dalva de
Oliveira iniciaram uma discussão, inclusive através das composições que
gravaram, bastante explorada pelos jornais e revistas de entretenimento da
época. Depois de uma pequena turnê na Venezuela, Herivelto saiu de casa,
e tirou de Dalva a guarda dos filhos, e os manda para um internato. Passa a
publicar em todos os jornais que Dalva é prostituta e que promove orgias dentro
de casa, o que resultou nas mencionadas “canções de guerra” um para o outro. Em
1946, Herivelto passou a namorar a aeromoça Lurdes Nura Torelly, uma mulher
desquitada, que tinha um filho do primeiro casamento. Vinha de família
rica, sendo prima do conhecido comediante de alcunha Barão de Itararé. Em 1952,
o casal passou a viver juntos, tendo oficializado a união em 1978. Herivelto e
Lurdes geraram três filhos: Fernando José, Yaçanã Martins e Herivelto Filho,
além dele criar o filho de Lurdes como filho. O casamento durou 38 anos, até a
morte de Lurdes, em 1990.
O
cinema surgiu na vida de Grande Otelo ainda nos anos 1940, tempo em que
estrelou filmes como Moleque Tião e Também Somos Irmãos, ao lado
da grande amiga atriz Ruth de Souza. A interpretação reconhecida do ator foi Macunaíma,
de 1969. Adaptação da célebre obra de Mário de Andrade, que narra as mudanças sociais
de “um herói preguiçoso e sem caráter, que nasce negro, mas se transforma em
branco para emigrar da selva para a cidade”. Pela atuação e interpretação,
Grande Otelo venceu o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Brasília de 1969.
No cinema, o mineiro radicado no Rio de Janeiro também fez parte do elenco de
um filme não finalizado, It’s All True, de Orson Welles, que apontou
Grande Otelo como um dos maiores atores do mundo. Elogiado por Welles, Grande
Otelo protagonizou outro momento marcante para a história das artes cinematográficas
brasileiras. Ao lado do então presidente Juscelino Kubitschek e de Pixinguinha,
se encontrou com o músico norte-americano Louis Armstrong, que desembarcara no
Brasil para uma temporada de shows. Na TV acumula atuações, entre outros, ao
lado de nomes como Chico Anysio, Geisa Bôscoli e Ruth de Souza.
Foi na empresa cinematográfica Atlântida que Grande Otelo fez uma grande parceria com Oscarito, tornando-se a dupla mais famosa e mais bem sucedida do cinema brasileiro, estrelando grandes sucessos como, Noites Cariocas (1935), Este Mundo é um Pandeiro (1946), Três Vagabundos (1952), A Dupla do Barulho (1953) e Matar ou Correr (1954), Assalto ao Trem Pagador (1962), O Dono da Bola (1961), Quilombo (1984). Entre suas peças teatrais destacam-se: Um Milhão de Mulheres (1947), Muié Macho, Sim Sinhô (1950), Banzo Aiê (1956) e O Homem de La Mancha (1973). No teatro, atuou com diversos diretores, entre eles, o precursor Walter Pinto (1913-1994), um produtor e autor de teatro brasileiro, responsável direto pela renovação cultural no país do Teatro de Revista. Consagrou-se neste gênero, que renovou e proporcionou seu auge e dinamismo, com espetáculo em que a cenografia e grandes efeitos visuais eram o atrativo, e per se não um enredo ou a presença de desta estrela em cena.
TV Brasil é a rede de
televisão pública do Poder Executivo Brasileiro. Pertence à Empresa Brasil
de Comunicação (EBC) um “conglomerado de mídia do governo do país”. Tem cobertura
nacional pela retransmissão de três emissoras próprias: matriz na capital
federal Brasília e filiais nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, e 63
afiliadas, sendo parte delas componentes da Rede Nacional de Comunicação
Pública. A emissora foi formada em 2007 a partir da fusão da TVE Brasil, do Rio
de Janeiro, e da TVE Maranhão, de São Luís, com canais educativos mantidos pela
Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, com a TV Nacional, de
Brasília, canal público da extinta Radiobrás, que passaram a integrar a EBC,
também criada no mesmo ano, junto a outros veículos pertencentes a suas
mantenedoras, como as rádios Nacional e MEC. A rede está presente em sinal
aberto e via antenas parabólicas, além de ser obrigatoriamente transmitida pelos
serviços de operadoras de TV paga, segundo a Lei do Serviço de Acesso
Condicionado, conjuntamente ao seu canal secundário estatal, a TV Brasil 2,
subordinado à Presidência da República e a suas ações oficiais. Em maio de
2007, foi anunciado que o Governo do Brasil planejava criar uma rede de
televisão pública com programação gerada a partir da capital federal Brasília e
das cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo e de São Luís, que recebeu TV
Brasil como nome. Para tal, seria realizada uma fusão incluindo a TV Nacional,
pertencente à Radiobrás, a TVE Brasil e a TVE Maranhão, mantidas pela
Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP), das quais equipes e
espaços seriam utilizados pela futura rede popular de televisão brasileira.
O
responsável por gerir o projeto social foi Franklin Martins, ministro-chefe da
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Em 10 de outubro,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT)
assinou Medida Provisória que criou a Empresa Brasil de Comunicação,
integrando os veículos da Radiobrás e da ACERP, como as rádios Nacional e MEC e
a TV Nacional do Brasil. A empresa teria um conselho curador composto por
quinze membros da sociedade civil, quatro representantes do governo e um
indicado dos funcionários, e seria financiada por recursos públicos, doações e
patrocínios. Seu orçamento seria de R$
350 milhões. Em 24 de outubro, a medida provisória torna-se o Decreto n.º
6.246, instituindo definitivamente a criação da EBC, publicado no Diário
Oficial da União no dia seguinte. A TV Brasil foi inaugurada ao meio-dia de
2 de dezembro em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em São Luís. A
data foi escolhida por ser a de lançamento, na capital paulista, do sistema de
transmissão digital de televisão no país. No período pós-estreia, sua
grade de programação, improvisada, era composta por atrações da Nacional e da
TVE. Sua primeira e até aquele momento única produção própria foi criar o Repórter
Brasil, telejornal apresentado em duas edições direto das três primeiras
capitais.
Até o fim de 2008, apenas Rio de Janeiro, Brasília e São Luís podiam sintonizar a TV Brasil em canal aberto analógico. O sinal aberto chegou a ser disponibilizado em São Paulo, mas sofreu interferências provocadas por uma companhia telefônica, obrigando a mudança para o canal 62. Em 2008, a emissora passou a cobrir eventos como o carnaval em Recife e em Salvador e festas juninas na Bahia, em Pernambuco e em Sergipe, com o auxílio de suas afiliadas. A emissora transmitiu as cerimônias de abertura e de encerramento dos Jogos Paralímpicos de 2008. A emissora também fez coberturas integradas com outros veículos da EBC como nos Jogos Olímpicos e nas Eleições 2008. Ainda no primeiro semestre de 2008, o então editor-chefe do telejornal Repórter Brasil, Luís Lobo, foi demitido. Na época, Lobo acusou o governo federal de interferir na divulgação de assuntos contrários ao governo. O conselho curador da TV Brasil refutou as acusações de Lobo. Em 3 de dezembro de 2008, comemorando um ano, a emissora inaugurou seu canal digital em São Paulo. Nessa data estreou também uma nova logomarca que ficaria até julho do ano seguinte. Em 16 de outubro, a então presidente da EBC, Tereza Cruvinel, anunciou a criação do canal internacional, voltado para emigrantes e a África foi o primeiro continente a receber as transmissões, em 2010.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a presidente da EBC Tereza Cruvinel no lançamento da TV Brasil Internacional em 2010. Em 3 de maio, a emissora começa a operar oficialmente a Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP), formada pelos quatro canais da EBC, sete emissoras universitárias e 15 estações estaduais. Em 13 de maio, foi anunciado o início das operações da TV Brasil Internacional a partir de 24 de maio, pela África, como previsto. Com um evento realizado no Itamaraty, foi realizada uma conversa ao vivo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente de Moçambique, Armando Guebuza, em Maputo. O canal só não estará disponível em cinco países do continente: Egito, Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos. O início pela África foi justificado por ser o primeiro contrato fechado de retransmissão local por cabo, com a distribuidora Multichoice. Diferentemente de outras estações internacionais de comunicação social, que transmitem nos seus idiomas, mas com legendas em línguas dos países receptores, tendo em vista neste momento inicial, que não haverá legendas.
Venceu,
pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) os prêmios de
melhor produtor de teatro musicado do ano em 1949, 1950, 1951 e 1953, com a
medalha de ouro. José Carlos Penafiel Machado (1908-1992) foi um produtor e
diretor de espetáculos musicais brasileiro, reconhecido como “O Rei da Noite”,
e pai da atriz Djenane Machado. O auge de sua fama na carreira ocorreu entre o
final da chamada Era dos Cassinos, em 1946, e a mudança da capital do
Rio de Janeiro para Brasília, em 1960. Foi produtor de espetáculos musicais no
formato de Teatro de Revista, apreciados pela nata da sociedade carioca, entre
eles estadistas, políticos, milionários e diplomatas, e onde podia ser
encontrado o que de melhor havia entre músicos, cenógrafos, coreógrafos, atores
e mulheres bonitas, mais conhecidas como as vedetes de Carlos Machado. Produziu
e dirigiu mais de 150 espetáculos. Seus shows eram realizados na Boate Night
and Day, que funcionou no Edifício Serrador entre as décadas de 1940 a 1960,
na cidade do Rio de Janeiro e o talentoso Chico Anysio (1931-2012), humorista,
ator, radioator, produtor, locutor, roteirista, escritor, dublador,
apresentador, compositor e pintor brasileiro, notório por seus inúmeros quadros
artísticos e programas humorísticos na Rede Globo, emissora onde trabalhou por
mais de 40 felizes anos. Ipso facto tendo criado e reinventado mais de 200
personagens cômicos em 65 anos de gloriosa carreira, é considerado um dos
maiores humoristas. Dirigiu e atuou ao lado de importantes humoristas
brasileiros no rádio e na televisão, como Paulo Gracindo, Grande Otelo,
Costinha, Walter D`Ávila, Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, Ivon
Curi, José Vasconcellos entre outros. Com 63 anos de carreira, é considerado um
dos mais geniais humoristas brasileiros. Em 2009 recebeu a Ordem do Mérito
Cultural, a mais alta honraria da cultura no Brasil.
Em
abril de 1942, historicamente as Filipinas, Indochina e Cingapura caem sob
domínio japonês. A Alemanha nazista e seus parceiros do Eixo declaram guerra
aos Estados Unidos. Os britânicos bombardeiam a cidade de Köln, ou Colônia, trazendo
a guerra para dentro do território alemão pela primeira vez. Em 1942 Grande
Otelo participou do filme It`s All True, de Orson Welles. O intérprete e
diretor norte-americano considerava o ator Grande Otelo “o maior ator
brasileiro”. Fez inúmeras parcerias no cinema, sendo a mais reconhecida com Oscarito,
nome artístico de Oscar Lorenzo Jacinto de la Inmaculada Concepción Teresa Díaz
(1906-1970), um ator espanhol, naturalizado brasileiro. É considerado um dos
mais populares cômicos do Brasil, ficando famoso pela dupla que fez com Grande
Otelo, em comédias dirigidas por Carlos Manga e Watson Macedo. Depois os
produtores formariam uma nova dupla dele com o cômico paulista Ankito, nome
artístico de Anchizes Pinto (1924-209) um notável ator brasileiro, considerado
um dos cinco maiores nomes das chanchadas que eram comédias musicais,
misturadas com elementos sociológicos de filmes policiais e de ficção
científica.
No
final dos anos 1950, Grande Otelo formou dupla em vários espetáculos musicais e
também no cinema, com Vera Regina (1925-1988), “uma negra alta que lembrava a
famosa dançarina norte-americana naturalizada francesa Josephine Baker”. Atriz
que começou sua carreira como dançarina, primeiro nos musicais de Silveira
Sampaio e, em seguida, na companhia de Carlos Machado. Foi nas revistas de
Carlos Machado que fez parceria de grande sucesso com Grande Otelo, revivida
nas telas de cinema em várias chanchadas. Ankito foi outro parceiro de
sucesso. Com o fim da parceria, Grande Otelo passou por um período de crise,
até voltar ao sucesso no cinema com sua grande atuação como o personagem título
de Macunaíma (1969), baseado na obra de Mário de Andrade. Em 1974,
estrelou ao lado de Miriam Batucada o exitoso espetáculo Samba, Coisa e Tal,
produzido por Haroldo Costa. Participou também do filme dirigido por Werner
Herzog, Fitzcarraldo, de 1982, filmado na extraordinária floresta
amazônica. Nos anos 1960, contratado da rede Globo de televisão, emissora na qual
atuou em diversas telenovelas de grande sucesso, como Uma Rosa com Amor
(1972). Também participou do humorístico Escolinha do Professor Raimundo,
de Chico Anysio no início dos anos 1990. Partiu no trabalho na TV com Renascer
pouco antes de morrer.
Um
problema particular surge quando a teoria deve desbravar um território onde não
há mais discursos. A operação teorizante se encontra aí nos limites do
território onde funciona normalmente. É um espaço delimitado na natureza por um
grupo social ou indivíduo, animal ou humano. Território com o qual se
identificam & via de regra são identificados. Onde encontram e ou produzem
os meios materiais à sua existência. A interrogação abstrata teórica, não
esquece, não pode esquecer, que além da relação desses discursos, uns com os
outros, existe a sua relação comum com aquilo que eles tomaram cuidado para
excluir de seu campo para constituí-lo. Uma reflexão teórica não escolhe manter
as práticas à distância de seu lugar, de maneira que tenha de sair para
analisa-las, mas basta-lhe invertê-las para se encontrar em casa. Os
procedimentos sem discurso são coligidos e fixados e uma região abstrata que o
passado organizou e que lhes dá o papel, condicionante da teoria, de ser
constituídos em “reservas” selvagens para o saber abstrato e policompetente da
ciência esclarecido. À medida em que a razão que surgiu da Aufklärung
determina suas disciplinas, suas coerências e seus poderes sociais. A distinção
não se refere mais essencialmente ao binômio tradicional que divide o ponto de
vista abstrato do concreto, especificado pela separação entre a
imaginação que decifra o livro do cosmos, e as aplicações concretas, mas visa
duas operações diferentes, uma discursiva (na e pela linguagem) e a práxis não
discursiva. Desde o século XVI, a ideia de método abala a
relação prática entre o conhecer e o fazer, impõe-se o esquema fundamental de
um discurso que organiza a maneira de pensar em maneira de fazer, em gestão
racional de uma produção e em operação regulada sobre campos apropriados.
Fato
notável, desde o século XVIII e no decorrer do século XIX, os etnólogos, os
filósofos materialistas, ou os historiadores da ciência ou da técnica consideram as técnicas
respeitáveis em si mesmas. Destacam aquilo que fazem. Não sentem necessidade
exclusivamente de interpretar. Basta saber-poder-descrever. Enquistada na
particularidade, desprovida das generalizações que fazem a competência
exclusiva do discurso, a arte nem por isso deixa de formar um “sistema” e
organizar-se por “fins” – dois postulados que permitem a uma ciência e a uma
ética conservar em seu lugar o discurso “próprio” de que está privada, isto é,
escrever-se no lugar e em nome dessas práticas. A arte constitui em relação à
ciência um saber em si mesmo essencial, mas ilegível sem ela. Entre a ciência e
a arte, considera-se não uma alternativa, mas a complementaridade e, se
possível, a articulação. O lugar que lhe foi atribuído é relativo ao trabalho
que, durante o século XIX, de um lado isolou da arte as suas técnicas e, de
outro, “geometrizou” e matematizou essas técnicas. No saber-fazer se conseguiu
isolar tecnicamente aquilo que poderia ser destacado da chamada “performance
individual”, e isto se “aperfeiçoou” em máquinas com utilidade de uso, para lembramos de Marx, que
constituem combinações controláveis de formas materiais e forças sociais.
Encontra-se
disponível para acesso pela World Wide Web designa um sistema de
documentos em hipermídia que são interligados e executados na rede mundial de computadores (Internet) grande
parte do Acervo Grande Otelo, recebido oficialmente pela Fundação
Nacional da Arte (Funarte) em dezembro de 2007. O material estava armazenado
há vários anos em um apartamento no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro,
guardado em caixas de papelão, nas quais foram descobertos manuscritos, livros
de autoria de Grande Otelo, e outros com dedicatórias de amigos e
personalidades reconhecidas da cultura brasileira; letras de música suas compostas
por ele e em parcerias, discos de formato em vinil, fitas-cassete com os mais
variados conteúdos etnográficos de entrevistas, músicas e programas
apresentados pelo artista; prêmios e homenagens referidas em troféus, placas,
diplomas e certificados, recebidos durante a sua longa e produtiva carreira,
roteiros de cinema, TV, teatro, rádio, shows, partituras, correspondências,
livros, monografias, poemas, fotos, obras de arte, recortes de jornais e
revistas. A Fundação Grande Otelo é a detentora dos direitos de nome, imagem, obra e acervo, após doação dos direitos por seus
herdeiros.
O
trabalho iconográfico de restauração e catalogação do material se iniciou em
2004 pela produtora artística carioca Sarau Agência de Cultura Brasileira. O
acervo foi fundamental para o conteúdo de sentido do Projeto 90 anos de
Grande Otelo, idealizado pela mesma produtora, fornecendo informações
inéditas e pontuais para a biografia do artista, realizada pelo escritor Sérgio
Cabral. O acervo serviu de base também para a criação de um site, um documentário
e um espetáculo teatral. Após o término do projeto, o acervo restaurado,
higienizado e digitalizado foi entregue à Funarte, oficialmente no dia 17 de
dezembro. O público tem acesso físico ao material desde fevereiro de 2008. Esses
“órgãos técnicos” são retirados da competência manual e colocados num espaço
próprio. Passam a subordinar-se ao domínio de uma nova tecnologia. E agora o saber-fazer
se acha lentamente privado que o articulava objetivamente num fazer crer.
Aos poucos essas técnicas lhe são tiradas para serem transformadas em máquinas, o saber-fazer parece retirar-se para um saber no plano subjetivo,
separado da divisão do trabalho e da particularidade da
linguagem técnica e de seus procedimentos científicos.
A
otimização técnica ocorrida no século XIX, indo inspirar-se no tesouro das
artes e ofícios para criar os modelos, pretextos ou regras obrigatórias para
suas invenções mecânicas, deixa às práticas cotidianas apenas um solo privado
de meios ou de produtos próprios. Ela o constitui em região folclórica ou em
uma terra duplamente silenciosa, sem discurso verbal como outrora e agora sem
linguagem manual. O “retorno” dessas práticas na narração, segundo a
fenomenologia de Michel de Certeau, está ligado a um fenômeno mais amplo, e
historicamente menos determinado, que a crítica se poderia designar como
“estetização do saber” implícito no saber-fazer. Separado de seus
procedimentos, este saber é considerado um “gosto” ou um “tato”, quem sabe
mesmo “genialidade”. A ele se emprestam os caracteres sociais de uma intuição
ora artística, ora reflexa. Trata-se, como se costuma dizer, de um conhecimento
que não se conhece. Este “fazer cognitivo” não viria acompanhado de uma
autoconsciência que lhe desse um domínio por meio de uma reduplicação ou
“reflexão” interna. Entre a questão reconhecida entre a prática e a teoria,
esse conhecimento ocupa ainda uma “terceira” posição, não discursiva, mas
primitiva.
Acha-se
recolhido, originário, como representante de uma “fonte” daquilo que se
diferencia e se elucida como um próprio. Que admitimos tratar-se de um saber
não sabido. Há, nas práticas cotidianas, um estatuto análogo aquele que se
atribui às fábulas ou aos mitos, como os dizeres de conhecimentos que não se
conhecem em si mesmos. Tanto num caso como no outro, trata-se de um saber sobre
os quais os sujeitos não refletem. Dele dão testemunho per se sem
poderem apropriar-se dele. São afinal locatários e não os proprietários do seu
próprio saber-fazer. A respeito não se pergunta se há saber (supõe-se
que deva haver), mas este é sabido apenas por outros e não por seus portadores.
Tal como o dos poetas ou pintores, o saber-fazer das práticas cotidianas
não seria reconhecido senão pelo intérprete que o esclarece no seu
espelho discursivo, mas que não o possui tampouco. Pode-se dizer como
possibilidade que não pertence a ninguém. Fica circulando entre a inconsciência
dos praticantes e a reflexão dos não praticantes. Trata-se de saber anônimo
referencial, uma condição de possibilidade das práticas técnicas ou eruditas.
Bibliografia geral consultada.
PORDEUS JUNIOR, Ismael de Andrade, Promethé mal Encheinée, ou Exu le Roi des Carrefour. Tese de Doutorado em Sociologia e Ciências Sociais Etnologia. Lyon: Université Lumière Lyon 2, 1988; PAIVA, Salvyano Cavalcanti de, Viva o Rebolado: Vida e Morte do Teatro de Revista Brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1991; HABIB, Paula Arantes Botelho Briglia, “Eis o Mundo Encantado que Monteiro Lobato Criou”: Raça, Eugenia e Nação. Dissertação de Mestrado. Departamento de História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2003; BARROS, Orlando de, Corações de Chocolate – A História da Companhia Negra de Revistas (1926-27). Rio de Janeiro: Editor Livre Expressão, 2005; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; CABRAL, Sérgio, Grande Otelo: Uma Biografia. 1ª edição. São Paulo: Editora 34, 2007; JACOBUS, Rodrigo Maciel, Um Nobre Bufão no Reino da Grande Imprensa. A Construção do Personagem Barão de Itararé na Paródia Jornalística do Semanário A Manhã (1926-1935). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010; HIRANO, Luís Felipe Kojima, Uma Interpretação do Cinema Brasileiro através de Grande Otelo: Raça, Corpo e Gênero em sua Performance Cinematográfica (1917-1993). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Departamento de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013; SANTOS, Tadeu Pereira, Entre Grande Otelo e Sebastião: Tramas, Representações e Memórias. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2016; ASSUNÇÃO, Érica Patrícia Barros de; MOURA, João Benvindo de, “O Paradoxo do Autor: A Paratopia Criadora de Mário de Andrade no Discurso Literário de Macunaíma”. In: Revista Desenredo, 13 (1) 2017; BRITO, Deise Santos, Casamento de Preto: Um Estudo a Respeito do Corpo Negro a partir de Josephine Baker e Grande Otelo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Artes. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 2019; RODRIGUES, Ana Ligia Muniz, Por Trás das Câmeras: Diretoras e Diretores Negros e o Fazer Cinema no Brasil. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2021; CAETANO, Maria do Rosário, “Grande Othelo renasce em dois filmes nas telas da Mostra de Cinema de Ouro Preto”. Disponível em: https://revistadecinema.com.br/2022/06/27; entre outros.
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