“O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder”. William Shakespeare
A Espera de Liz tem como representação social um
filme de drama dirigido por Bruno Torres. O roteiro é
uma parceria entre o diretor e a atriz Simone Iliescu: ambos interpretam os
protagonistas do filme. Também fazem parte do elenco Rosanne Mulholland,
Zécarlos Machado, Murilo Grossi e Ingra Lyberato. Em 2023, o filme A
Espera de Liz foi finalista do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – a
premiação mais importante do segmento no país - em quatro categorias, dentre
elas Melhor Roteiro Original e Melhor Primeira Direção de Longa-Metragem. uma
premiação da Academia Brasileira de Cinema, concedida anualmente com o intuito
de reconhecer os melhores filmes e destacar a excelência dos profissionais em
diversas especialidades da indústria cinematográfica. A cerimônia é atualmente
transmitida pelo Canal Brasil e considerada a maior honraria nacional
para o cinema. Ao longo de sua história, o prêmio contou com diferentes
patrocinadores em seu nome. Em 2002, o evento contou com o apoio da BR
Distribuidora, tendo o nome “BR” incorporado ao título da premiação naquele
ano. No ano seguinte, “o prêmio foi realizado sem patrocinador”. Em 2004, a TAM
Airlines, atualmente LATAM Airlines Brasil assumiu o patrocínio, adicionando
“TAM” ao nome do prêmio. Entre 2008 e 2009, o patrocínio foi fornecido pela
Vivo. Desde 2010, o prêmio não conta com patrocínio de empresas em sua
nomenclatura. Em novembro de 2023, a premiação foi renomeada para Prêmio
Grande Otelo do Cinema Brasileiro, em homenagem ao ator Grande Otelo e
passou a vigorar a partir de sua 23ª edição.
Escólio: Liz vive um
momento de incertezas. Silenciada, ela procura compreender o motivo do
desaparecimento de seu companheiro Miguel. Tentando encontrar respostas, Liz
sente a necessidade do apoio de Lara, sua irmã mais nova. Aos poucos, o resgate
da relação das duas se torna mais intenso e ambas revisam valores, fortalecendo
o amor e a admiração. Mas Lara guarda um segredo que desvenda o desaparecimento
de Miguel, enquanto Liz faz brotar de dentro de si o poder de sua
individualização. Após um decreto do governo do presidente Fernando Collor de
Mello que aboliu o apoio governamental à produção cinematográfica, o início da
década de 1990 foi marcado por uma drástica redução na produção de filmes no
Brasil. Em 1991, apenas 1% dos filmes exibidos no país eram nacionais e, no ano
seguinte, apenas três filmes brasileiros foram lançados. Com o impeachment de
Collor em 1992, o cenário começou a mudar. Em 1993, o governo instituiu
incentivos fiscais para a produção cinematográfica, dando início à Retomada do
Cinema Brasileiro, que marcou o renascimento das produções audiovisuais
nacionais. Em 1998, filmes brasileiros representavam 5% das produções exibidas
nos cinemas. Como parte dos esforços para fortalecer o cinema nacional, o
Ministério da Cultura criou, em novembro de 1999, o Grande Prêmio Cinema
Brasil, com 16 categorias e um prêmio especial. O objetivo era reconhecer obras
e personalidades do setor audiovisual e o crescimento da indústria cultural, e
aumentar a audiência de filmes nacionais. A meta estabelecia até 2002, “20% dos
filmes exibidos no Brasil fossem produzidos no país”.
O processo de impeachment de Fernando Collor transcorreu no final de 1992 e foi o terceiro processo de impeachment do Brasil, resultando no afastamento definitivo de Fernando Collor de Mello do cargo de presidente da República. O processo, antes de aprovado, fez com que Collor renunciasse ao cargo em 29 de dezembro de 1992, deixando o cargo para seu vice-presidente Itamar Franco (1930-2011). Mesmo assim, o processo continuou e os parlamentares se reuniram em plenário para a votação do impeachment e decidiram que o presidente não poderia evitar o processo de cassação pela apresentação tardia da carta de renúncia. Com o julgamento, Collor ficou inelegível por 8 anos. Collor foi acusado de corrupção pelo seu próprio irmão, Pedro Collor de Mello, em matéria de capa da revista Veja, em 1992. O empresário Paulo César Farias (1945-1996), tesoureiro de campanha de Collor, e personalidade-chave do impeachment. O “testa de ferro” em diversos esquemas de corrupção divulgados de 1992 em diante. A investigação do Esquema PC Farias demonstrou que o artifício ilegal usado pelos envolvidos arrecadou cerca de 15 milhões de reais durante o governo de Fernando Collor, sendo que mais de um bilhão de reais chegou a ser movimentado nos cofres públicos. Nenhuma destas contribuições teve qualquer ligação com benefício ao “cliente” por conta de favor prestado por Collor. O esquema movimentou mais de US$ 1 bilhão dos cofres públicos.
Em 1989, depois de 29
anos da eleição direta que levou Jânio Quadros (1917-1992) à presidência da
República, o carioca Fernando Collor de Mello (PRN-AL) foi eleito por pequena
margem de votos (42,75% a 37,86%) sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), em campanha
que opôs dois modelos de atuação estatal: um pautado na redução do papel do
Estado (Collor) e outro de forte presença do Estado na economia (Lula). A
campanha foi marcada pelo tom emocional adotado pelos candidatos e pelas
críticas ao governo de José Sarney. Collor se autodenominou “caçador de
marajás”, que combateria a inflação e a corrupção, e “defensor dos
descamisados”. Lula, por sua vez, apresentava-se à população como entendedor
dos problemas dos trabalhadores, notadamente por sua história no movimento
sindical. Nos primeiros 15 dias de mandato, Collor lançou um “pacote econômico”
com seu nome e que bloqueou o dinheiro depositado nos bancos (caderneta de
poupança e contas correntes) de pessoas físicas e jurídicas (confisco). Entre
as primeiras medidas para a economia, houve uma “reforma administrativa” que
extinguiu órgãos e empresas estatais e que promoveu as primeiras privatizações,
abertura do mercado brasileiro às importações, congelamento de preços e
prefixação dos salários.
Embora inicialmente
tenha reduzido a inflação, o plano trouxe a maior recessão da história
brasileira, até então, resultando no aumento do desemprego e nas quebras de
empresas. Aliado ao plano, o presidente imprimia uma série de atitudes
características de sua personalidade, que ficou conhecida como o “jeito Collor
de governar”. Era comum se assistir a exibições de Collor fazendo cooper,
praticando esportes, voando em caças da Força Aérea Brasileira e subindo a
rampa do Palácio do Planalto, comportamentos estes que exaltavam sua suposta
jovialidade, arrojo, combatividade e modernidade. Todos expressos em sua
notória frase “Tenho aquilo roxo”. Por trás do jeito Collor, montava-se um
esquema de corrupção e tráfico de influência que veio à tona em seu terceiro
ano de mandato. Em reportagem publicada pela revista Veja, na sua edição de 13
de maio de 1992, Pedro Collor de Mello acusava o tesoureiro da campanha
presidencial de seu irmão, o empresário PC Farias, de articular um esquema de
corrupção de tráfico de influência, loteamento de cargos públicos e cobrança de
propina dentro do governo. O “esquema PC” teria, como beneficiários, integrantes
do alto escalão do governo e o próprio presidente. No mês seguinte, o Congresso
Nacional instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o
caso. Durante o processo investigatório, personagens como Ana Acioli,
secretária de Collor, e Francisco Eriberto, seu ex-motorista, prestaram
depoimento à comissão confirmando as acusações e dando detalhes do esquema.
Um dos expedientes
utilizados por PC era abrir contas “fantasmas” para realizar operações de
transferência de dinheiro arrecadado com o pagamento de propina e desviado dos
cofres públicos para as contas de Ana Acioli. Além disso, gastos da residência
oficial de Collor, a Casa da Dinda, eram pagos com dinheiro de empresas de PC
Farias. Aprovado por 16 votos a 5, o relatório final da comissão constatou,
também, que as contas de Collor e PC não haviam sido incluídas no confisco de
1990. Foi pedido, então, o impeachment do presidente. Em agosto, durante os
trabalhos da comissão, a população brasileira começou a sair às ruas para pedir
o impeachment. Com cada vez mais adeptos, os protestos tiveram, como
protagonista, a juventude, que pintou no rosto o “Fora Collor” (com um “l”
verde e o outro amarelo) e o “Impeachment Já”: era o movimento dos “caras-pintadas”.
O presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Pinheiro, dá início à votação do
pedido de impeachment. Em votação aberta, após tentativa de manobra do
presidente para uma sessão secreta, os deputados votaram pela abertura de processo
de impeachment de Collor. Foram 441 votos a favor (eram necessários 336),
38 contra, 23 ausências e uma abstenção. Collor renunciou ao cargo, mas, com o
processo já aberto, teve seus direitos políticos suspensos por oito anos até o
início de 2000. Após seu impeachment, assinou carta para a população afirmando
que saiu da presidência com consciência limpa e que foi vítima de perseguição
política. Menos de duas horas depois, reuniu-se em um churrasco na Casa da
Dinda com nomes como Ricardo Fiuza, Lafaiete Coutinho, Álvaro Mendonça, Odacir
Soares, Gilmar Mendes, José Guilherme Villela, Arthur Castilho, Paulo Octávio,
Luiz Estevão e Marcos Coimbra para preparar sua defesa no senado. Durante o
processo, Collor chegou a pedir asilo em Portugal.
A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA), fundada em 20 de maio de 2002 e sediada no Rio de Janeiro, foi criada visando promover, discutir e fortalecer o cinema brasileiro como manifestação artística e setor industrial. Entre suas principais atribuições estava a instituição de uma premiação nacional, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, voltado a reconhecer a excelência na produção cinematográfica do país. Atualmente, a Academia conta com mais de 300 membros. A primeira edição do prêmio ocorreu em 12 de setembro de 2002, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob o nome de Grande Prêmio BR do Cinema Brasileiro, como vimos, em alusão ao patrocínio da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. O grande destaque da cerimônia inaugural foi o filme Bicho de Sete Cabeças, dirigido por Laís Bodanzky, que conquistou sete prêmios. Em 2003, com o encerramento do patrocínio da BR, a cerimônia foi financiada por recursos de exibidores e distribuidores. Nessa edição, o filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, foi o principal vencedor, levando seis prêmios, incluindo o de Melhor Filme de Ficção. A partir de 2004, a premiação passou a se chamar Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro, após a assinatura de um contrato de patrocínio com a companhia aérea TAM (LATAM Airlines Brasil), válido por quatro anos.
Após o término do
patrocínio da TAM em 2008, a premiação contou com o apoio da companhia de
telecomunicações Vivo nas edições de 2008 e 2009. A partir de 2010, a premiação
deixou de associar nomes de patrocinadores à sua nomenclatura, mantendo-se
apenas como Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Em 2019, a 18ª edição foi
realizada pela primeira vez fora do Rio de Janeiro, ocorrendo no Theatro
Municipal de São Paulo, na capital paulista. Em novembro de 2023, a ABCAA
anunciou a mudança oficial do nome da premiação para Prêmio Grande Otelo do
Cinema Brasileiro, em homenagem ao ator Grande Otelo, um ícone do cinema
nacional. A 23ª edição, em 2024, ocorreu já sob a nova denominação. O prêmio é
representado por uma estatueta banhada a ouro que retrata um cavaleiro
segurando uma espada sobre um pedestal, criada em homenagem ao ator brasileiro
Grande Otelo. Originalmente, desde a primeira edição, o troféu tinha um design
abstrato, composto por uma esfera preta sobre um suporte entreaberto, embora já
levasse o nome do artista. Em 2015, no ano do centenário de nascimento de
Grande Otelo, a Academia Brasileira de Cinema decidiu reformular o
prêmio para refletir as feições de seu homenageado. O novo desenho foi criado
pelo cartunista Ziraldo, que convidou o escultor Altair Souza para dar forma à
peça. A estatueta atual representa um tributo visual mais direto à memória e à
contribuição do ator para o cinema brasileiro.
O prêmio caracteriza-se
por ser uma premiação na qual os próprios profissionais da indústria cultural
têm a responsabilidade de votar promovendo o reconhecimento mútuo e celebrando
os talentos do setor. Desde 2004, o processo de votação ocorre de forma online,
por meio do site oficial da Academia. Cada sócio recebe uma senha eletrônica
individual para participar. A apuração dos votos é realizada pela PricewaterhouseCoopers
(PwC), renomada empresa de auditoria que também supervisiona o processo de
votação do Óscar. A seleção ocorre em duas etapas. Na fase inicial, os membros
do Conselho Acadêmico da Academia votam eletronicamente em uma cédula contendo
a lista completa de todos os concorrentes. Os cinco mais votados em cada
categoria avançam para a etapa final. Em seguida, os mesmos membros votam para
definir os vencedores entre os indicados. A votação é realizada secretamente em
ambas as etapas, e a apuração é conduzida pela PwC, que mantém os resultados em
sigilo até o momento da cerimônia. Os nomes dos vencedores são revelados apenas
durante o evento, quando os envelopes lacrados são abertos ao vivo no palco.
Conforme informado pela Academia Brasileira de Cinema, os prêmios concedidos
exatamente em 2000 e 2001, organizados pelo Ministério da Cultura, não são
reconhecidos como parte da premiação oficial da Academia. O troféu Grande Otelo
começou a ser entregue em 2002 e segue sendo concedido anualmente desde então
até o presente ano.
A origem do cinema em
Brasília (DF) está intrinsecamente ligada à construção da capital, com o
Cine Brasília inaugurado em 22 de abril de 1960 durante as festividades de
inauguração da cidade. O local, marco cultural, tornou-se palco para a
consolidação da produção audiovisual local, que cresceu junto com a nova
capital federal. A Espera de Liz é o primeiro longa-metragem dirigido pelo ator
e cineasta brasiliense Bruno Torres. As gravações do filme ocorreram na cidade
de Gramado, no Rio Grande do Sul. Segundo o diretor, a escolha da cidade como
cenário do filme se deu pelo fato de que “o clima [da cidade] contribuiria
dramaticamente com o roteiro que escreveu”. Além da cidade gaúcha, o filme
também contou com cenas rodadas no Monte Roraima, localizado na fronteira entre
o Brasil, Venezuela e Guiana. A Espera de Liz é o primeiro filme da história do
cinema brasileiro a compensar todas as emissões de carbono da sua produção. A
ação de compensação das emissões do filme partiu de uma iniciativa conjunta das
empresas Aquarela Midwest, Ecooar e Emplac, com
transparência e auditoria pública online. Portanto, além de um produto
audiovisual, a produção é também amiga do clima, com responsabilidade
socioambiental. A Espera de Liz é também a única produção do cinema
brasileiro a desbravar e filmar no topo do Monte Roraima. Uma saga
particular deste filme, que trouxe um caráter imagético extraordinário. Através
de uma plataforma inovadora, utilizando a Tecnologia da Informação e
algoritmos, foram calculadas as quantidades Gases de Efeito Estufa (GEE)
geradas durante a produção.
O monte Roraima é um monte localizado na América do Sul,
na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Constitui um tepui, um
tipo de monte em formato de mesa bastante característico do planalto das
Guianas. Delimitado por falésias de cerca de 1 000 metros de altura, seu
planalto apresenta um ambiente totalmente diferente da floresta tropical e da
savana que se estende a seus pés. Assim, o alto índice pluviométrico promoveu a
formação de pseudocarstes e de numerosas cavernas, além do processo de
lixiviação do solo. A flora adaptou-se a essas condições climáticas e
geológicas com um elevado grau de endemismo, onde encontram-se diversas
espécies de plantas carnívoras – que retiram dos insetos capturados os
nutrientes que faltam no solo. A fauna também é marcada por um acentuado
endemismo, especialmente entre répteis e anfíbios. Esse ambiente é
protegido no território venezuelano pelo Parque Nacional Canaima e no
território brasileiro pelo Parque Nacional do Monte Roraima. Seu ponto
culminante eleva-se no extremo Sul, no Estado venezuelano de Bolívar, a 2 810
metros de altitude.
O segundo ponto mais alto, com 2 772 metros, localiza-se ao norte do planalto, em território guianense, próximo ao marco de fronteira entre os três países. Reconhecido pelos ocidentais apenas no século XIX, o monte Roraima foi escalado pela primeira vez em 1884, por uma expedição britânica chefiada por Everard Ferdinand im Thurn (1852-1932). Entretanto, apesar das diversas expedições posteriores, sua fauna, flora e geologia permanecem largamente desconhecidas. A história de uma dessas incursões inspirou sir Arthur Conan Doyle a escrever O Mundo Perdido, em 1912. Com o desenvolvimento do turismo na região, especialmente a partir da década de 1980, o monte Roraima tornou-se um dos destinos mais populares para os praticantes de trekking, devido ao ambiente singular e às condições relativamente fáceis de acesso e escalada. O trajeto mais utilizado é feito pelo lado Sul da montanha, através de uma passagem natural à beira de um despenhadeiro. A escalada por outros pontos, no entanto, exige bastante técnica, mas permite a abertura de novos acessos. O monte Roraima está localizado no norte da América do Sul, na porção leste do planalto das Guianas, mais precisamente na serra de Pacaraíma, na região do planalto coberto pela Gran Sabana.
Divide-se entre três
países: Brasil a Leste (5% de sua área), Guiana ao Norte (10%) e Venezuela ao Sul
e Oeste (85%). Administrativamente, é parte do estado brasileiro de Roraima localizado
no município de Uiramutã, da região de guianense do conselho de vizinhança de
Mazaruni/Lower Berbice Essequibo e do Estado venezuelano de Bolívar (município
de Gran Sabana). A parte venezuelana do monte está inserida no Parque Nacional
Canaima e a brasileira no Parque Nacional do Monte Roraima. Outros tepuis ao
redor do monte Roraima: tepui Kukenán a Oeste, tepui Yuruaní a Noroeste e tepui
Wei-Assipu a Leste. Apesar de estar localizado numa região remota da América do
Sul, o acesso ao monte Roraima é relativamente fácil pelo lado venezuelano.
Isso ocorre pela proximidade com uma rota internacional composta pela Autopista
10 na Venezuela e pela Rodovia BR-174 no Brasil que liga a cidade venezuelana
de Carúpano, na costa do Caribe, à cidade brasileira de Cáceres, na divisa com
a Bolívia. Essa rota passa a Oeste do monte Roraima, cruzando a Gran Sabana, e
serve muitas vilas e aldeias. Porém, tanto pelo lado brasileiro quanto pelo
lado guianense, a região é isolada e pouco povoada, acessível por dias de
caminhada pela floresta ou por pequenas pistas de pouso.
Etnograficamente o
monte Roraima é um tepui, um “tipo de platô cercado por falésias, típico do
planalto das Guianas”. A montanha tem formato de arco no sentido Norte-Sul-Leste-Oeste
com um estreitamento central causado pela presença de um grande circo natural
em seu flanco Noroeste. Falésias retilíneas de até 1 000 metros de altura
compõem a maior parte de suas outras faces, como a Sul, Sudeste, Leste, Nordeste
e Noroeste – essas duas últimas faces imitam a proa de um navio avançando sobre
floresta, sendo por isso mesmo denominado “a proa”. No extremo Sul da montanha,
uma parte da falésia rompeu-se e formou um imponente monólito natural: o Tök-Wasen.
As falésias tem suas bases cercadas por encostas íngremes, mas pouco elevadas
nas faces Sul e Leste, que se estendem rapidamente em altas planícies de cerca
de 1 200 metros de altitude, cobertas pela Gran Sabana. Por outro lado, as
faces Norte e Oeste formam vales curtos que conduzem a um planalto de cerca de
600 metros, ocupados pela floresta tropical.
O cume sub-horizontal
do platô tem pouco mais de dez km de comprimento e largura máxima de cinco km –
para uma superfície de trinta e três a cinquenta km² – e mantem-se acima dos 2
200 metros com uma média de 2 600 a 2 700 metros. Sua superfície exibe
formações pseudocársticas esculpidas pelas condições climáticas, estruturas
ruiniformes, grutas e desfiladeiros, “batizados” com nomes como Labirinto,
Vale dos Cristais, as Jacuzzis, etc. Uma dessas formações, a “Maverick
Stone”, corresponde ao ponto culminante da montanha, com 2 810 metros de
altitude. Localizada na extremidade Sul do planalto, a formação é também o
ponto mais alto do estado de Bolívar – o ponto mais alto da Venezuela é o Pico
Bolívar, com 4 978 metros de altitude e da Gran Sabana, sendo o quarto ponto
mais alto do planalto das Guianas, isto é, respectivamente, atrás do Pico da
Neblina, Pico 31 de Março e do Cerro Marahuaca. A 8,25 km ao Norte
do cume, uma outra elevação, com 2 772 metros de altitude, determina o ponto
mais alto da Guiana, na fronteira com a Venezuela. Ao Norte do planalto, a 2
734 metros encontra-se o marco da tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e
Guiana.
Nascido no Rio de Janeiro, Niemeyer estudou na Escola Nacional de Belas Artes, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro e durante seu terceiro ano estagiou com seu futuro colega na construção de Brasília Lúcio Costa, com quem acabou colaborando no projeto para o Ministério de Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Contando com a presença de Le Corbusier, Niemeyer teve a chance de trabalhar junto com o mestre suíço, sendo ele uma grande influência em sua arquitetura. O primeiro grande trabalho de arquitetura individual de Niemeyer foram os projetos de uma série de edifícios na Pampulha, um subúrbio planejado no Norte de Belo Horizonte (MG), tendo como parceiro o engenheiro Joaquim Cardozo - que viria a ser o autor dos cálculos de suas principais obras em Brasília. Esse trabalho, especialmente a Igreja São Francisco de Assis, recebeu elogios da crítica nacional e estrangeira, chamando a atenção internacional para Oscar Niemeyer. Ao longo dos anos 1940 e 1950, Niemeyer se tornou um dos arquitetos mais prolíficos do Brasil, projetando uma série de edifícios, tanto no país como no exterior. Isso incluiu o projeto de diversas residências e edifícios públicos, e ainda a colaboração com Le Corbusier (e outros) no projeto da sede das Nações Unidas em Nova Iorque, o que provocou convites para ensinar na Universidade Yale e na Escola de Design da Universidade Harvard, Estados Unidos da América.
Em 1956, Oscar Niemeyer foi
convidado pelo novo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, para projetar
os prédios públicos da nova capital do Brasil, que seria construída no centro
do país. Seus projetos exclusivamente do Brasil, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Supremo
Tribunal Federal e a Catedral de Brasília, todos concluídos anteriormente a
1960, foram em grande parte de natureza experimental e foram ligados por
elementos de design comuns. Esse trabalho levou à sua nomeação como diretor do
departamento de arquitetura da Universidade de Brasília, bem como membro
honorário do Instituto Americano de Arquitetos. Devido à sua ideologia de
esquerda e sua militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), Niemeyer
deixou o país após o golpe militar de 1964 e, logo abriu um escritório
em Paris. Ele retornou ao Brasil em 1985 e foi premiado com o prêmio Pritzker
de arquitetura, em 1988. Entre seus projetos mais recentes se destacam deste
período já de consagração o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (1996), Rio
de Janeiro, o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (2002), a Cidade Administrativa
de Minas Gerais (2010), o Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer, na
Espanha (2011) e o Memorial Luiz Carlos Prestes (projeto de 2012).
Niemeyer continuou a
trabalhar até dias antes de sua morte, em 5 de dezembro de 2012, aos 104 anos.
Seu último projeto foi idealizado pouco antes de morrer: a “cidade das artes e
da cultura”, em Essaouira, chamada Mogador, é uma cidade da costa Sudoeste de
Marrocos, capital da província, que faz parte de Marraquexe-Safim, região
litorânea. O rei Mohammed VI esperou oito anos para dar aval ao projeto. Existe
uma conexão notável entre o rei Mohammed VI e Oscar Niemeyer, centrada na
aprovação e desenvolvimento do último projeto do arquiteto brasileiro no
Marrocos: a “Cidade das Artes e da Cultura” em Essaouira. Poucos meses antes de
sua morte em 2012, aos 104 anos, Oscar Niemeyer esboçou e doou um projeto para
um grande complexo cultural na cidade costeira de Essaouira, no Marrocos. O
projeto, que inclui vários edifícios, tinha como representação social um sonho
do conselheiro do rei, André Azoulay, que o discutiu com o então embaixador do
Brasil no Marrocos, Frederico Meyer. Como conselheiro da monarquia marroquina
desde 1991, Azoulay contribuiu amplamente para a implementação das reformas
econômicas que foram aplicadas em todo o reino desde o seu início, no começo da
década de 1990. Ele também desempenhou um papel significativo nos programas de
privatização e desregulamentação que começaram em 1993, enfatizando a
necessidade de manter o papel do setor privado e primordialmente incentivar o
investimento internacional para sustentar o crescimento econômico em
Marrocos. Azoulay também contribuiu
amplamente para a promoção de Marrocos em todo o mundo contemporâneo.
Somando as horas, foram 124 dias gastos entre a filmagens e a pós-produção, com 89 pessoas envolvidas em emprego direto, e mais de 200 outras empregadas indiretamente como figurantes e/ou estagiários, levando-se em conta também a equipe e população local. Durante as gravações foram utilizados 18 veículos, desde carros, ônibus, caminhões e uma moto de cena. Somam-se a esses impactos também 63 viagens de avião, com grandes distâncias percorridas por toda a equipe. Levando-se em conta todos esses impactos foram compensados, “através do plantio de 130 árvores, em áreas de preservação permanente, previamente mapeadas via satélite, com eficiência e transparência”. Por essas ações de mitigação dos impactos gerados durante a produção do filme A Espera de Liz foi concedido o Selo Verde Ecooar que atesta essa compensação de 16,9 toneladas de GEE. Após o lançamento do filme será disponibilizado um relatório de sustentabilidade, contendo o detalhamento das emissões, das compensações e todos os dados técnicos dos impactos gerados. Visando aplicar os pilares da sustentabilidade são: socialmente justo, ecologicamente correto e economicamente viável, a produção favoreceu uma equipe equilibrada entre homens e mulheres, oferecendo condições justas de trabalho. Do ponto de vistas do gênero 59% da equipe é formada por mulheres e 41% homens, sendo a maior parte dos cargos de chefia ocupado por profissionais mulheres. Esta foi a forma que os gestores do filme encontraram para o “socialmente justo” no arrojado modelo de produção sustentável, além de doar mantimentos e ferramentas essencias de trabalho para a comunidade Taurepang do Monte Roraima.
Ator, cineasta,
fotógrafo e músico, Bruno Torres conquistou mais de 30 prêmios individuais em
sua carreira. Seus curtas metragens: “O Último Raio de Sol”, “Pequena Paisagem
do Meu jardim”, “Encontro das Águas” e “A Noite por Testemunha”, conquistaram
juntos mais de 100 prêmios em festivais de cinema nacionais e internacionais,
tendo também concorrido em festivais internacionais, como por exemplo: Huesca
International Film Fest, o Festival del Nuevo Cine Americano de Havana,
International Film Festival of Valencia, Festival Internacional de
Curtas Metragens de São Paulo, entre outros. No início de sua carreira como
produtor e diretor, conquistou o respeitado prêmio SIGNIS OCIC, por seu
trabalho de direção no curta metragem “O Último Raio de Sol”. Pelo sucesso de
bilheteria “Somos Tão Jovens”, de Antônio Carlos da Fontoura, Bruno Torres foi
finalista na categoria de melhor ator coadjuvante ao Grande Prêmio do Cinema
Brasileiro, o mais importante prêmio do segmento no país. Bruno será
produtor da série documental “A Sustentável Leveza do Ser”, para o Canal
Futura. Além dos já citados, trabalhou em mais de 40 filmes em funções
distintas, e foi ator em mais de 40 obras audiovisuais, entre curtas longas,
novelas e séries. Bruno Torres tem atuado como ambientalista, realizando
trabalhos de fotografia em projetos socioambientais em diversos países, além de
ter recebido importantes prêmios de fotografia de natureza, como por exemplo a menção
honrosa no Concurso Itaú BBA - Árvore Florida, recebendo a honraria das mãos do
fotógrafo Araquém Alcântara. Em 2020, Bruno Torres se tornou o primeiro ator
brasileiro a compensar o carbono de todas as suas atividades profissionais e
pessoais, através das empresas Ecooar, Sustainable Carbon e Iniciativa
Verde. No Brasil, o filme conta com distribuição da Pandora Filmes. Após
alguns adiamentos, o lançamento comercial do filme foi marcado para 17 de março
de 2022.
O conceito de figuração
distingue-se de outros conceitos abstratos da sociologia por incluir
expressamente os seres humanos em sua formação social. Contrasta, portanto,
decididamente com um tipo amplamente dominante de formação de conceitos que se
desenvolve sobretudo na investigação de objetos sem vida, portanto no campo da
física e da filosofia para ela orientada. Há figurações de estrelas,
analogamente, assim como de plantas e de animais. Mas apenas os seres humanos
formam figurações uns com os outros. O modo de sua vida conjunta em grupos
grandes e pequenos é, de certa maneira, singular e sempre co-determinado pela
transmissão de conhecimento de uma geração a outra, por tanto por meio do
ingresso singular do mundo simbólico específico de uma figuração já existente
de seres humanos. Às quatro dimensões espaço-temporais indissoluvelmente
ligadas se soma, no caso dos seres humanos, uma quinta dimensão, a dos símbolos
apreendidos. Sem sua apropriação, sem, por exemplo, o aprendizado de
determinada língua especificamente social, os seres humanos não seriam capazes
de se orientar no seu mundo concretamente nem de se comunicar uns com os
outros. Um ser humano adulto, que não teve acesso aos símbolos da língua e do
conhecimento de determinado grupo social permanece fora de todas as figurações
humanas, pois não é um ser humano. As definições são amplas e vagas, e seria
legítimo indagar, escolhendo-as mais ou menos ao acaso, para inferir que
resultam em termos de um controle, qualquer estímulo ou complexo de estímulos
que provoca uma reação. Todos os estímulos são controles, representam a direção
do comportamento por influências grupais, estimulando ou inibindo a ação individual
(os sonhos) ou coletivamente (mitos, ritos, símbolos).
Mormente
as estruturas sociais de classe, gênero e etnia são reduzidos às imagens do
social e vividos através do meio de reprodução das imagens e de estilo de vida.
Observou que os “meios realizadores” estão em coisas muito diferentes às
expectativas geradas, e, ainda segundo ele, que atendam satisfações mais
superficiais, mas jamais aspectos profundos da vida humana como geralmente
propõem. Sob este aspecto radicalizou ao desenvolver a ideia que os indivíduos
imersos nas práticas e relações de consumo, não combatem nem condenam, mas
exploram ao máximo as tendências figuradas. As sensações imediatas, as
experiências ardentes e isoladas, tanto quanto as intensidades da
sociedade-cultura de consumo. Sem procurar significados obtém prazer estético
de intensidades superficiais. Na ordem da produção, o objeto carece de
unicidade e singularidade, pois, objetos tornam-se simulacros indefinidos uns
dos outros como objetos, os homens que os produzem. A pretensa objetividade do
mundo erigido pela racionalização corresponde à universalização arbitrariamente
advindo da generalização da economia política na forma da lei do valor. A
partir do código, considerado como sistema de signos generalizados, a simulação
opera a inversão das relações entre pessoas, identificada entre o real e sua
representação, estabelecendo oposições binárias que permitem a objetividade do
discurso e o controle dos objetos.
O símbolo não sendo já de natureza linguística deixa de se desenvolver numa só dimensão da sociedade. As motivações que os ordenam não apenas já não formam longas cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear do tipo de dedução lógica ou narrativa introspectiva já não basta essencialmente para o estudo das motivações simbólicas. A classificação dos símbolos da imaginação em categorias motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da não linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades. Metodologicamente, se se parte dos objetos bem definidos pelos quadros da lógica dos utensílios, como faziam as clássicas “chaves dos sonhos”, segundo as estruturas antropológicas do imaginário, cai-se muito rapidamente, pela massificação das motivações, numa inextricável confusão. Parecem-nos mais sérias as tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse humano de um pensamento, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de pretextos para os devaneios imaginários. Tais são as classificações mais profundas de analistas das motivações do simbolismo religioso ou da imaginação de modo geral literária.
Tanto escolhem como
norma classificativa uma ordem de motivação cosmológica e astral, na qual são
as grandes sequências das estações, dos meteoros e dos astros que servem de
indutores à fabulação, tanto são os elementos de uma física primitiva e
sumariamente que, pelas suas qualidades sensoriais, polarizam os campos de
força no continuum homogêneo do imaginário individual e coletivo; tanto, enfim,
se suspeita que são os dados sociológicos do microgrupo ou de grupos que se
estendem aos confins do grupo linguístico que fornecem quadros primordiais para
os símbolos. Quer a imaginação estreitamente motivada pela língua ou
funções sociais, se modele sobre essas matrizes sociológicas e antropológicas e
seus genes raciais intervenham bastante misteriosamente para estruturar os
conjuntos simbólicos, distribuindo seja as mentalidades imaginárias, sejam os
rituais religiosos, querem ainda, com uma matriz evolucionista, se tente
estabelecer uma hierarquia das grandes formas simbólicas e restaurar a unidade
no dualismo de Henri Bergson das Deux Sources, quer enfim que “atravessando
a técnica da psicanálise se tente encontrar uma síntese entre as pulsões de uma
libido em evolução e as pressões recalcadoras do microgrupo familiar”. São
estas diferentes classificações das motivações simbólicas que precisamos
criticar na sociedade antes de estabelecer um método pretensamente firme na
ordem das motivações.
A trajetória social
evoca um movimento, mas resulta ainda de uma projeção sobre um plano, de uma
redução. Estratégia refere-se ao cálculo das relações de força que se torna
possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder é isolável em
um ambiente. Ela postula um lugar capaz de ser circunscrito como um próprio e,
portanto, capaz de servir de base a uma gestão de suas relações com uma
exterioridade distinta. A nacionalidade política, econômica ou científica foi
construída segundo esse modelo estratégico. Para descrever essas práticas
cotidianas que produzem sem capitalizar, isto é, sem dominar o tempo, segundo a
fenomenologia de Michel de Certeau, impunha-se um ponto de partida por ser o
foco exorbitado da cultura contemporânea e de seu consumo: a leitura. Da televisão
ao jornal, da publicidade a todas as epifanias mercadológicas, a nossa
sociedade canceriza à vista, mede a realidade por sua capacidade de mostrar ou
de se mostrar e transforma as comunicações em viagens do olhar. Até a economia,
transformada em “semiocracia”, fomenta uma hipertrofia da leitura. O binômio
produção-consumo substituído por seu equivalente: escritura-leitura. A leitura
da imagem ao texto parece, aliás, constituir o ponto máximo de passividade que
caracterizaria a relação de inexorabilidade entre o consumidor, constituído em voyeur
(troglodita ou nômade) em uma sociedade do espetáculo. Os gestos diferenciados vão determinar, em
contato com o ambiente natural, os grandes arquétipos mais ou menos como Jung
os definiu.
Os arquétipos constituem as substantificações essenciais dos esquemas. Esta noção em Jacob Burckhardt é sinônima de “origem primordial”, de “enagrama”, de “imagem original”, de “protótipo”. Metáforas de guerra quando Carl Jung evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve: - “A imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições interiores da vida do espírito e da vida em geral”. Este arquétipo, intermediário entre os esquemas subjetivos culturalmente e as reproduções de imagens fornecidas pelo ambiente perceptivo, é como representar o número da linguagem que a intuição percebe. Decerto, Jung insiste, sobretudo, no caráter coletivo e inato das imagens primordiais, mas sem entrar nessa metafísica das origens e sem aderir à crença em “sedimentos mnésicos” acumulados do decurso da filogênese podemos fazer nossa uma observação capital do psicanalista, que vê nesses substantivos simbólicos que são os arquétipos “o estádio preliminar, a zona matricial da ideia”. Contudo, bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e epistemológico dado. No âmbito da guerra, sublinhamos a importância essencial dos arquétipos que constituem o ponto de junção entre o imaginário individual (os sonhos) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos) e os processos racionais. É que pensando assim, com efeito de poder, os arquétipos se ligam a imagens individuais e coletivas diferenciadas pelas culturas e nas quais vários esquemas se vêm imbricar.
Encontramo-nos então em
presença do símbolo em sentido estrito, símbolos que assumem tanto mais
importância quanto são ricos em diversidade de sentidos diferentes. No
prolongamento dos esquemas explicativos, arquétipos e simples símbolos modernos
podem-se considerar o mito. Lembramos, todavia, que não estamos tomando este
termo na concepção restrita que lhe dão os etnólogos, que fazem dele apenas o
reverso representativo de um ato ritualmente. Entendemos por mito,
antropologicamente “um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas,
sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema, tende a compor-se na
narrativa”. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do
discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em
ideias. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do mesmo modo que
o arquétipo promovia a ideia e o símbolo engendrava o nome, podemos dizer que o
mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como observou
Bréhier, a narrativa histórica e lendária. O método de convergência evidencia o
mesmo isomorfismo, comparativamente, na constelação de objeto e propriamente na
disseminação do mito. Este isomorfismo dos esquemas, arquétipos e símbolos dos
sistemas míticos ou de constelações estáticas pode levar-nos a verificar a
existência de protocolos normativos das representações imaginárias, bem
definidos e agrupados em torno dos esquemas e filosoficamente a literatura
refere-se como estruturas.
Aí se mesclam
diversidades e desigualdades de todos os tipos e narrativas, compreendendo
manifestações religiosas e linguísticas, mas sempre envolvendo alguma forma de
racialização das relações étnicas e sociais. Produzidas ao longo de migrações,
escravismos e outras formas de trabalho forçado, convívios pacíficos, conflitos
inesperados, pogroms, genocídios, revoluções, guerras. Assim, não é difícil
admitir, sociologicamente, que o tribalismo, adormecido por séculos, reacende
para destruir nações e nacionalidades. Sempre que há um contexto de crise
social, há o risco de que as intolerâncias se acentuem. Aliás, está acontecendo
uma incrível “racialização do mundo”, embora ocorram desde as grandes
navegações, os acontecimentos nos últimos anos do século XX estão acentuando a
intolerância racial em escala mundial. Em 1978 Edward Said publicou a sua obra
provavelmente mais reconhecida, Orientalismo, na qual analisa a visão ocidental
arquetípica oriental, mais concretamente do mundo árabe. Segundo o autor, o Ocidente
criou uma visão distorcida do Oriente como o “Outro”, numa tentativa de
diferenciação que servia os interesses do colonialismo. Na construção do
argumento central do livro Said analisou uma série de discursos literários,
políticos e culturais que iam desde textos das Cruzadas ou de Shakespeare, nos
quais encontrou um denominador comum: a representação dos habitantes do mundo
oriental como bárbaros.
O que determina a
escolha de um ponto de vista sobre o sujeito e o mundo são os objetivos
pragmáticos. Deixamos de lado a posse de uma teoria fundada em exigências
lógicas ou achados empíricos incontestáveis. Poder, interesse, dominação,
realidade material, são indispensáveis à análise que nos habituaram a aceitar
como verdadeira, pela força ou pela persuasão dos costumes. Para efeitos da
ação, só existem eventos descritivos. A descrição preferida do intérprete será
a mais adequada às suas convicções morais e não a mais iluminada pela razão.
Política é regulação da existência coletiva, poder decisório, disputa por
posições de mando no mundo, confrontos entre mil formas. Violência em última
análise. Assim, é também diferente da produção simbólica porque se exercita
sobre o interesse dos agentes sociais, quando não sobre o seu próprio corpo.
Não produz mensagens, discursos cotidianos, produz obediências, obrigações,
submissões, controles. Poder, na modernidade, é uma relação de mando e
obediência. São decisões tomadas que se impõe a todos num dado território ou
unidade social. Todavia, convertem-se em atividades coercitivas,
administrativas, jurídico-judiciárias e deliberativas. Eis a grande questão: o
processo político diz respeito a pergunta: - Quem pode o quê sobre quem? A
mesma pulsão escópica, analogamente, frequenta a ficção real ou imaginária
individual e coletiva que cria leitores, que muda de legibilidade a
complexidade urbana.
Não é mais suficiente
para compreender as estruturas de poder deslocar para os dispositivos e os
procedimentos técnicos uma multiplicidade humana, capaz de transformar,
disciplinarmente e depois gerir, para consumar o delito: classificar e
hierarquizar os desvios concernentes à aprendizagem, saúde, justiça, forças
armadas ou trabalho social. Na política contemporânea o que faz andar são
relíquias de sentido e às vezes seus detritos, os restos invertidos de grandes
ambições. Nome que no sentido preciso da memória deixaram de ser próprios.
Nesses núcleos simbolizadores se esboçam e talvez se fundem três funcionamentos
distintos (mas conjugados) das relações políticas entre práticas espaciais e
significantes: o crível, o memorável e o primitivo. Em relação ao discurso,
reduzindo o signo ao puro jogo dos significantes, anula a relação entre significante
e significado necessária ao processo de significação. Assim, diferentemente da
ordem da produção, o controle das relações do homem com as “coisas” não mais
advém do agir racional-com-respeito-a-fins, pois a predominância do código
inaugura o monopólio da palavra como característica básica da dominação
contemporânea. Da mesma forma, enquanto técnica de controle do objeto, o
processo de simulação opera uma completa inversão, de forma que o real se torne
efeito ou reflexo de modelos gerativos. Simulacros e Simulação representam
historicamente um tratado filosófico de Jean Baudrillard que discute a relação
entre realidade, símbolos e sociedade. Simulacros são cópias que representam
níveis de análise que nunca existiram ou que não possuem mais o seu equivalente
na realidade. Simulação é a imitação de um processo virtual existente no mundo
real. Se a visão de Jean Baudrillard é problemática e pessimista porque não
depreende nos mass media a possibilidade real da comunicação e da troca,
estando restrita ao encontro “face a face”, por outro lado, ela é profícua na
medida em que, já no início da década de 1970, o autor ergue-se contra o
domínio da semiologia italiana e francesa, relativizando a prática teórica no
que respeita à comunicação social.
O controle social pode ser definido como a soma total ou, antes, o conjunto de padrões culturais, símbolos sociais, signos coletivos, valores culturais, ideias e idealidades, tanto como atos quanto como processos diretamente ligados a eles, pelo qual a sociedade de forma inclusiva, opera em cada grupo particular, e cada membro individual participante superam as tensões e os conflitos entre si, através do equilíbrio temporário, e se dispõem a novos esforços criativos. Ipso facto, em toda a dimensão da vida associativa deverá haver algum ajustamento de relações sociais tendentes a prevenir a interferência de direitos e privilégios entre os indivíduos. De maneira mais específica, são três as funções do estabelecidas pelo controle social: a obtenção e a manutenção da ordem social, da proteção social e da eficiência social. O seu emprego hic et nunc na investigação sociológica contribuiu consideravelmente para produzir uma simplificação ou redução na análise dos problemas sociais, conseguida proporcionalmente, graças à compreensão positiva da integração das contradições correspondentes no sistema de organização das sociedades e da importância relativa de cada um deles, como e enquanto expressão do jogo social. Embora obscuro e equívoco, em seu significado, o conceito de controle social é necessário à investigação sociológica na modernidade, encontraram um sistema de referências propício à sua crítica, seleção lógica e coordenação metódica.
O crescimento de um
jovem convivendo e habitando comum em figurações humanas, como processo social
e experiência, assim como o aprendizado de um determinado esquema de
autorregulação na relação com os seres humanos, é condição indispensável ao
desenvolvimento rumo à humanidade. Socialização e individualização de um ser
humano, são nomes diferentes para o processo. Cada ser humano assemelha-se aos
outros, e é, ao mesmo tempo, diferente de todos os outros. O mais das vezes, as
teorias sociológicas deixam sem resolver o problema da relação entre indivíduo
e sociedade. Quando se fala que uma criança se torna um indivíduo humano por
meio da integração em determinadas figurações, como, por exemplo, em famílias,
em classes escolares, em comunidades aldeãs ou em Estados, assim como mediante
a apropriação e reelaboração de um patrimônio simbólico social, conduz-se o
pensamento por entre dois grandes perigos da teoria e das ciências humanas: o
perigo de partir de um indivíduo a-social, portanto como que de um agente que
existe por si mesmo; e o perigo de postular um “sistema”, um “todo”, em suma,
uma sociedade humana que existiria para além do ser humano singular, para além
dos indivíduos. Embora não possuam um começo absoluto, não tendo nenhuma outra
substância a não ser seres humanos gerados familiarmente por pais e mães, as
sociedades humanas não são simplesmente um aglomerado cumulativo dessas
pessoas. O convívio dos seres humanos em sociedades tem sempre, mesmo no caos, lembra
Norbert Elias, na desintegração, na maior desordem, uma forma absolutamente
determinada. É isso que o conceito de figuração exprime na vida social.
É um objeto cuja
inteligibilidade está alhures, lugar vazio cujo verdadeiro lugar “está em outro
lugar”. A “falsa consciência” é o produto exclusivo das relações sociais. E
qualquer tentativa de buscar nela própria as leis do seu funcionamento,
abstraindo dessas relações, já é em si uma falsa consciência da filosofia de Friedrich
Hegel, que a define ainda-não-consciência do Espírito, dos jovens hegelianos
que combatem no pensamento os grilhões imaginários, deixando intactos os
grilhões reais. Fato da consciência, ela não pode ser tratada no plano da
consciência: tendo em vista que é um objeto ausente, espaço em branco que só
pode ser preenchido por algo que não está nele. O espaço pleno é o das
estruturas sociais: espaço extraterritorial, externo à problemática da
consciência, mas ao qual se atribui o privilégio de revelar a verdade do que
está situado fora dos seus limites. Pode-se perguntar se uma estratégia de
libertação que consiste em ignorar a existência do objeto a ser libertado é das
mais lúcidas. Falsa consciência como epifenômeno da base material, falsa
consciência como forma de percepção própria a cada suporte (Träger)
do processo social global, falsa consciência como o produto de uma “pedagogia”
exercida pelos efeitos dos Aparelhos de Estado – em todos os casos, a análise
se concentra num mais além da consciência, a história, a economia, as relações
de produção, a instância ideológica. Casos de investigação são objetivos,
palpavelmente materiais, só é tranquilizador em que é fácil proteger-se das
mistificações idealistas.
Nesse campo de saber,
tudo pode ser investigado, e tudo foi investigado – exceto a falsa consciência
– a consciência em que se refratam esses fatores. Ela foi tabuizada, pela razão
que leva o primitivo a traçar um “círculo no chão”, e a proibir-se de
atravessa-lo, neste caso representa o medo animista dos demônios. Esse medo não
era totalmente infundado. Era de fato importante precaver-se contra a tese de
que “a consciência determina a existência”, defendendo a tese oposta de que a
existência determina a consciência. Mas ao proclamar o primado da consciência,
a ideologia produziu um efeito social inesperado, que foi a ocultação da
problemática da consciência. Ocultação sui generis, cuja técnica é expor à luz
do dia a realidade que se pretende dissimular, estimulando a questão tópica da
“razão cativa” que irá exemplificar no conto de Allan Poe, The Purloined
Letter (1884), o que a polícia parisiense procura em vão na casa do
personagem influente: uma carta politicamente comprometedora, que teria sido
roubada pelo próprio dono da residência. A polícia procura o documento roubado,
e obviamente nada encontra. Em desespero de causa, o chefe de Polícia pede o
auxílio de C. Auguste Dupin, precursor historicamente de todos os detetives da
literatura policial, que encontra a carta. E explica ao chefe de polícia que
ela não estava em nenhum esconderijo, mas de fato se encontrava disponível à
nossa vista. E nisto consiste, justamente, a astúcia. A carta era totalmente
visível, e seu ocultamento consistia em sua visibilidade.
Outros sinais indicam
que a ficcionalização (cf. Augé, 1997) do mundo está a caminho e que ela
não passa unicamente pela imagem. Monstros humanos são aqueles que por
nascimento nunca foram totalmente representados por humanos, a Medusa e suas
irmãs Górgonas, ou que por algum ato medonho ou sobrenatural ou não natural
perderam sua própria humanidade, isto é, enquanto lobisomens, o monstro de
Frankenstein, e assim quem não pode mais, ou quem nunca pode seguir a lei moral
da sociedade humana. Os monstros também podem ser descritos como criaturas
incompreendidas e amigáveis que assustam os indivíduos sem querer, ou podem
ser tão grandes, fortes e desajeitados que causam danos não intencionais ou
morte. Alguns monstros na ficção são descritos como travessos e violentos, mas
não necessariamente ameaçadores (como um goblin astuto), enquanto outros
podem ser dóceis, mas propensos a ficarem com raiva ou com fome, precisando ser
domados e ensinados a resistir a impulsos selvagens ou mortos se eles não podem
ser manuseados ou controlados com sucesso. Na literatura são frequentemente
descritos como criaturas pequenas, grotescas, travessas ou maliciosas,
presentes em diversos folclores europeus, o inglês, escocês, galês e irlandês.
Os monstros são anteriores à história documentada, e o estudo acadêmico das
noções culturais particulares expressas nas ideias de monstros da sociedade é
reconhecido como monstruosidade. A literatura impõe sentimentos de isolamento
socialmente aos seus personagens. A literatura, como toda a arte, indiscutivelmente
é uma confissão de que a vida não basta. A literatura sobre monstros apresenta
seus personagens como seres solitários e indefesos.
Uma corrente social da comunidade científica defende que as alterações provocadas pela humanidade na natureza são suficientes para marcar historicamente uma nova era geológica, o Antropoceno. É um termo conceitual usado por cientistas para descrever o período na história tecnológica da Terra. Ainda não há data de início precisa e oficial apontada. Mas muitos consideram que começa no final do século XVIII, inclusive o extraordinário Michel Foucault (1926-1984), à questão da analítica do poder, quando as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo na sociedade europeia e sobre o conjunto no climatológico da Terra e, além disso, no funcionamento dos seus ecossistemas. Um conjunto de fatores climáticos vai definir um tipo de clima de determinado lugar. Ressalta-se que esses fatores não podem ser estudados isoladamente para a definição de um clima, mas sim de forma integrada. Esta data coincide com a aprimoração técnica do vapor por James Watt em 1784. Outros cientistas consideram que o Antropoceno começa mais cedo, como no advento da agricultura. As tentativas de datação precisas revelam, porém, o problema do necessário distanciamento histórico na ponderação de eventos e grandezas relevantes de tempo geológico. Um observador distanciado milhões de anos no futuro poderá, munido de suficiente informação, melhor determinar uma data e uma tipologia para o Antropoceno.
Perante o alcance das
consequências da ação do Homem na evolução do Planeta Terra, o Antropoceno
poderá ser reconhecido e classificado, por exemplo, como “um novo período ou
era geológica”. Nesta perspectiva, é plausível apontar o seu início a partir do
surgimento do Homo sapiens. O biólogo Eugene F. Stoermer (1934-2012)
originalmente cunhou o termo, mas foi o químico vencedor do Prêmio Nobel
Paul Crutzen (1995) que independentemente o reinventou e popularizou. Era
um professor de biologia da Escola de Recursos Naturais e Meio Ambiente da
Universidade de Michigan. Obteve seu bacharelado em Ciência em 1958 e seu
doutorado em 1963, ambos na Universidade do Estado de Iowa. Stoermer escreveu:
“eu comecei a usar o termo antropoceno na década de 1980, mas nunca formalizei
até ser contatado pelo Paul”. Isto é, Crutzen explicou, eu estava numa
conferência onde alguém disse alguma coisa sobre o Holoceno. De repente, eu
pensei que isso estava errado. O mundo mudou demais. Então eu disse: - Não, nós
estamos no Antropoceno. Eu criei a palavra no calor do momento. Todos se
chocaram. Mas ela parece ter ficado. O termo foi usado pela primeira vez em uma
publicação por Paul Crutzen & Eugene, em 2000, e F. Stoermer em um
informativo técnico-científico do importante Programa Internacional da
Geosfera-Biosfera. Ainda em 1873, o geólogo italiano Antônio Stoppani
(1824-1891), curiosamente um padre católico italiano, patriota, geólogo e
paleontólogo. Ele estudou a geologia da região italiana e escreveu um tratado
popular, Il Bel Paese, sobre o desenvolvimento da geologia e história natural.
Ele reconheceu o
aumento do poder e do efeito da humanidade nos sistemas da Terra e se referiu
assim a uma “era antropozoica”. Um termo similar, Homogenoceno, foi usado pela
primeira vez por Michael Samways em seu primeiro artigo editorial no Journal
of Insect Conservation (1999) intitulado: “Translocating fauna to Foreign
lands: here comes the Homogenocene”. Samways utilizou o termo para definir a
geológica atualmente, na qual a biodiversidade está diminuindo e os
ecossistemas ao redor do globo se tornaram mais similares uns aos outros, usado
por John L. Curnutt em 2000 em Ecology, em uma lista intitulada: “A Guide to
the Homogenocene”. Andrew Revkin criou o termo Antroceno em: Global Warming:
Understanding the Forecast (1992), no qual escreve, “nós estamos entrando
em uma era que pode um dia ser referida como, poderia dizer, o Antroceno. No
final das contas, é uma era geológica de nossa própria autoria”. O nome evoluiu
para “Antropoceno” e é considerado como um termo técnico mais apropriado no
sentido global e inclusivo ao homem. Inúmeras espécies foram extintas devido ao
ser humano. A maioria dos especialistas concorda que as atividades humanas têm
acelerado progressivamente a taxa de extinção de inúmeras espécies.
A taxa exata é
controversa, sendo muitas vezes situada entre 100 a 1000 vezes a taxa
considerada normal. Em 2010 um estudo publicado na revista Nature refere que o
fitoplâncton declinou substancialmente nos oceanos do mundo ao longo do século
XX. Desde a década 1950, a biomassa de algas diminuiu cerca de 40%, em resposta
ao aquecimento do oceano, sendo que o declínio ganhou ritmo nos últimos anos.
Alguns autores postulam que sem impactos atribuído das atividades humanas a
biodiversidade do planeta continuaria a crescer a um ritmo exponencial.
Inseparável do declínio da biomassa, para não falarmos no problema da paz
central em Jiddu Krishnamurti e o Dalai Lama. É também preocupação de Edgar
Morin, essa pela primeira vez expressa no seu livro Terre-Patrie (1993),
“a nossa casa e o nosso jardim”, pondo em destaque uma questão com implicações
globais. Na edição aberta de 13 de julho
de 2012 do jornal New York Times, o ecologista Roger Bradbury (1355-1398)
previu o “fim da biodiversidade marinha”, que estão condenados, “os recifes de
coral serão os primeiros, mas certamente não o último grande ecossistema, a
sucumbir ao Antropoceno”.
Este artigo gerou
discussão entre os famosos ambientalistas e foi aparentemente refutada no site
da The Nature Conservancy, defendendo sua posição de proteger os recifes
de coral, apesar de impactos humanos continuaram causando quedas de recife.
Destaca-se uma mudança na variedade de animais, já que áreas onde várias
espécies superiores viviam anteriormente foram modificadas para a criação de
animais que servissem para a alimentação, diminuindo a diversidade da área em
sua extensão geográfica; isto é especialmente verdade para pastos e fazendas
marinhas. Alteração similar houve nas regiões urbanas, onde alguns animais
foram expulsos de seus habitats, enquanto outros se adaptaram, tornando-se por
vezes pragas. A diversidade de plantas comestíveis e não-comestíveis foi
afetada pela seleção gradativa, que priorizou poucos cultivares em detrimento
da diversidade natural; enormes áreas povoadas com centenas de espécies
vegetais diferentes são degradadas para originar plantações de um só ou de
poucos espécimes de plantas, o que também afeta a fauna, em um outro plano
biológico.
Se a injustiça social é
parte inevitável do atrito no funcionamento da máquina governamental, pois que
seja assim: talvez ela acabe suavizando-se com o desgaste - certamente a
máquina ficará desajustada. Se a injustiça for uma peça dotada de uma mola exclusiva
- ou roldana, ou corda, ou manivela -, aí então talvez seja válido julgar se o
remédio não será pior do que o mal; mas se ela for de tal natureza que exija
que você seja o agente de uma injustiça para outros, digo, então, que se
transgrida a lei. Faça da sua vida um contra-atrito que pare a “máquina”. O que
é preciso fazer é cuidar para que de modo algum participe das misérias que
condeno. Mas nesse caso o Estado, enquanto práticas, não forneceu outra via: o
mal está na sua própria Constituição. Isto pode parecer grosseria, teimosia e
intransigência, mas só quem merece ou pode apreciar a mais fina bondade e
consideração deve receber este tipo de tratamento. Todas as mudanças para melhor
são assim, tais como o nascimento e a morte, que produzem convulsões nos
corpos. O coletor de impostos é meu vizinho e concidadão, e é com ele que tenho
de lidar porque afinal de contas estou lutando contra homens, e não contra o
pergaminho das leis, e sei que ele voluntariamente optou por ser um agente
governamental. Haverá outro modo dele ficar sabendo o que é e o que fiz
enquanto agente do governo, ou homem, a não ser quando forçado a decidir que
tratamento vai dar a mim, o vizinho que ele respeita como tal e como homem de
boa índole, ou que ele considera um maníaco e desordeiro?
Sob um governo que
prende qualquer homem injustamente, o único lugar digno para um homem justo é
também a prisão. Se há alguém que pense
ser a prisão um lugar de onde não mais se pode influir, no qual a sua voz deixa
de atormentar os ouvidos do Estado, no qual não conseguiria ser tão hostil a
ele, esse alguém ignora o quanto a verdade é mais forte que o erro e também não
sabe como a injustiça pode ser combatida com muito mais eloquência e
efetividade por aqueles que já sofreram na carne um pouco dela. Manifeste
integralmente o seu voto e exerça toda a sua influência; não se deixe confinar
por um pedaço de papel na sociedade. Uma minoria é indefesa quando se conforma
à maioria; não chega nem a ser uma minoria numa situação dessas; mas ela é
irresistível quando intervém com todo seu peso. Se a alternativa ficar entre
manter todos os homens justos na prisão ou desistir da guerra e da escravidão,
o Estado não hesitará na escolha. Se no
ano corrente mil homens não pagassem seus impostos, isso não seria iniciativa
tão violenta e sanguinária quanto o próprio pagamento, pois neste caso o Estado
fica capacitado para cometer violências e para derramar o sangue dos inocentes.
Esta é a definição da revolução pacífica, se é que é possível uma coisa dessas.
O dinheiro acalma perguntas que de outra forma ele se veria pressionado a
fazer; de outro lado, a única pergunta nova que o dinheiro suscita é difícil,
embora supérflua: - “Como gastá-lo?”.
Um homem assim fica sem
base para uma moralidade. As oportunidades sociais de viver diminuem
proporcionalmente ao acúmulo daquilo ao qual se chama de meios de trabalho. A
melhor coisa a ser feita em prol da cultura do seu tempo por um homem rico é
realizar os planos que tinha quando era pobre. Cristo respondeu aos seguidores
de Herodes de acordo com a situação deles. – “Mostrem-me o dinheiro dos
tributos, disse ele; e um deles tirou do bolso uma moeda. Disse então Jesus
Cristo: - Se vocês usam o dinheiro com a imagem de César, dinheiro que ele
colocou em circulação e ao qual ele deu valor; se vocês são homens do Estado e
estão felizes de se aproveitar das vantagens do governo de César, então
paguem-no por isso quando ele o exigir. Portanto, “dai a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus”; Cristo não lhes disse nada sobre como
distinguir um do outro; eles não queriam saber isso. Confúcio disse: - “Se um Estado é governado
pelos princípios da razão, a pobreza e a miséria são fatos acabrunhantes; se um
Estado não é governado pelos princípios da razão, a riqueza e as honrarias são
os fatos acabrunhantes”. Não! Até que eu solicite um remoto porto sulino, que a
proteção do Estado de Massachusetts, Estados Unidos da América, me seja
estendida com o fim de preservar a liberdade, ou até que me dedique apenas a
construir pacificamente um patrimônio aqui no meu Estado, posso negar a minha
lealdade ao governo e negar o seu direito à minha propriedade e à minha vida.
Em todos os sentidos, sofrer a penalidade pela desobediência do que obedecer. Essencialmente,
é uma forma concisa de expressar a ideia de que o custo da obediência é maior
que o custo da desobediência civil.
O Estado enquanto práticas que produzem efeitos de poder habitualmente nunca confronta intencionalmente o sentimento intelectual ou moral de um homem, mas apenas o seu corpo, os seus sentidos. Ele não é dotado de gênio superior ou de honestidade, apenas de mais força física. Estava claro que eles não sabiam como lidar comigo e que se comportavam como pessoas pouco educadas. Havia um erro crasso em cada ameaça e em cada saudação, pois eles pensavam que o meu maior desejo era o de estar do outro lado daquela parede de pedra. Não pude deixar de sorrir perante os cuidados com que fecharam a porta e trancaram as minhas reflexões - que os acompanhavam porta afora sem delongas ou dificuldade; e o perigo estava de fato contido nelas. Como eu estava fora do seu alcance, resolveram punir o meu corpo; agiram como meninos incapazes de enfrentar uma pessoa de quem sentem raiva e que então dão um chuto no cachorro do seu desafeto. Percebi que o Estado era um idiota, tímido como uma solteirona às voltas com a sua prataria, incapaz de distinguir os seus amigos dos inimigos; perdi todo o respeito que ainda tinha por ele e passei a considerá-lo apenas lamentável. É nesta medida que decorre a analogia - Não sou individualmente responsável pelo bom funcionamento da máquina da sociedade. Não sou o filho do maquinista. No meu modo de ver quando sementes de carvalho e de castanheira caem lado a lado, uma delas não se retrai para dar vez à outra; pelo contrário, cada uma segue as suas próprias leis, e brotam, crescem e florescem da melhor maneira possível, até que por acaso acaba superando e destruindo a outra. Se uma planta não pode viver de acordo com a sua natureza, ela morre; o mesmo acontece com um homem.
Se outros resolvem pagar o imposto que o Estado exige, nada mais fazem além do
que já fizeram quando pagaram o seu imposto, ou melhor dizendo, estimulam a
injustiça além do limite que o Estado lhes pediu. Se eles pagam o imposto
alheio a partir de um equivocado interesse pela sorte daquele que não paga,
isto é, para salvar a sua propriedade ou para evitar o seu encarceramento, isso
só ocorre porque não meditaram seriamente no quanto estão permitindo que os
seus sentimentos particulares interfiram no bem de consumo geral. Acredito que
logo o Estado será capaz de aliviar-me de todos os encargos deste tipo e então
não serei mais patriota do que o resto dos meus conterrâneos. Encarada de um
ponto de vista menos elevado, a Constituição, com todos os seus defeitos, é
muito boa; a lei e os tribunais são muito respeitáveis; mesmo o Estado de
Massachusetts e o governo são, em muitos aspectos, coisas admiráveis e bastante
raras. Mas se elevarmos um pouco o nosso ponto de vista, quem será capaz de
dizer o que são elas, ou quem poderá dizer que sequer vale a pena observá-las
ou refletir sobre elas? Mesmo no mundo contemporâneo tal como é, não passo
muitos momentos sujeito a um governo. Se um homem é livre de pensamento, para
fantasiar, livre de imaginação, de modo que aquilo que nunca é lhe parece ser
na maior parte do tempo, admite extraordinariamente Henry David Thoreau
(1817-1862), “governantes ou reformadores insensatos não são capazes de lhe
criar impedimentos fatais”. A autoridade do governo, mesmo do governo que estou
disposto submeter é ainda impura; para ser inteiramente justa, ela precisa contar
com a sanção e com o consentimento dos governados.
Ele não pode ter sobre
a minha pessoa e meus bens qualquer direito puro além do que eu lhe concedo. O
progresso de uma monarquia absoluta para uma monarquia constitucional, e desta
para uma democracia, é um progresso no sentido do verdadeiro respeito pelo
indivíduo. Será que a democracia tal como a conhecemos é o último
aperfeiçoamento possível em termos de construir governos? Não será possível dar
um passo a mais no sentido de reconhecer e organizar os direitos do homem?
Nunca haverá um Estado realmente livre e esclarecido até que ele venha a
reconhecer no indivíduo um poder maior e independente - do qual a organização
política deriva o seu próprio poder e a sua própria autoridade - e até que o
indivíduo venha a receber um tratamento correspondente. Fico imaginando, e com
prazer, um Estado que possa enfim se dar ao luxo de ser justo com todos os
homens e de tratar o indivíduo respeitosamente, como um vizinho; imagino um
Estado que sequer consideraria um perigo à sua tranquilidade a existência de
alguns poucos homens que vivessem à parte dele, sem nele se intrometerem nem
serem por ele abrangidos, e que desempenhassem todos os deveres de vizinhos e
de seres humanos. Um Estado que produzisse esta espécie de fruto, e que
estivesse disposto a deixá-lo cair logo que amadurecesse, abriria caminho para
um Estado ainda mais perfeito e provavelmente glorioso; já fiquei afirma Henry
Thoreau a imaginar um Estado desses, mas nunca o encontrei em qualquer lugar.
Bibliografia Geral Consultada.
CARDOSO, Miriam Limoeiro, Ideologia do Desenvolvimento - Brasil: JK-JQ. Tese de Doutorado em Sociologia. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1977; MAY, Rollo, Amor y Voluntad. Las Fuerzas Humanas que dan Sentido a Nuestra Vida. 1ª edición. Barcelona: Editorial Gedisa, 1985; THOREAU, Henry, Walden: Seguido del Deber de la Desobediencia Civil. Barcelona: Ediciones Parcifal, 1989; DURAND, Gilbert, As Estruturas Antropológicas do Imaginário: Introdução à Arquetipologia Geral. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997; AUGÉ, Marc, La Guerre des Rêves. Exercices d’Ethno-Fiction. Paris: Éditions du Seuil, 1997; MARTINS, José de Souza, La Reforme Agraire et la Mondialisation de l`Économie: Le Cas du Brésil. Brasília: Editor Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2000; STOWE, Harriet Beecher, Uncle Tom`s Cabin. Massachusetts: Editor Spark Publishers, 2002; NIEMEYER, Oscar, Oscar Niemeyer – Minha Arquitetura 1937-2004. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2004; PASQUETTI, Camila Alvares, A Reding of Thoreau`s Walking as a Travel Narrative. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras/Inglês e Literatura Correspondente. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2005; PEREIRA, Marcio da Silva, O Leitmotiv: Da Ópera ao Cinema, à Televisão. Tese de Doutorado em Música. Centro de Letras e Artes. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2007; COSTA, Grasielle Aires da, Ritual em Richard Schechner e Victor Turner: Aspectos de um Diálogo Interdisciplinar. Programa de Pós-graduação em Performance Cultural. Escola de Música e Artes Cênicas. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2015; MILLS, Charles Wright, Escucha Yanqui. La Revolución Cubana. México: Fondo de Cultura Económica, 1961; Idem, L’Élite du Pouvoir. Paris: Éditions François Maspéro 1969; Idem, Critiques Sociologiques. Paris: Éditions du Croquant, 2019; ROMANETTO, Matheus Capovilla, Clínica e Política: Bases Subjetivas da Transformação Social em Erich Fromm. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Departamento de Sociologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2021; PRACIANO, Emerson Ellano Dutra, Alienação em Karl Marx e o Cinema como Formação Prático-crítica. Dissertação de Mestrado Profissional em Filosofia. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Instituto de Cultura e Arte. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2022; GUIMARÃES, Luís Gustavo Faria, Impeachment: Aspectos Jurídicos, Políticos e Institucionais. Tese de Doutorado. Program de Pós-Graduação em Direito. Faculdade de Direito. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2022; entre outros.
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