segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Nomadismo & Tradição - Falcoaria, Festival de Caça com Águias.

 

El águila simboliza la libertad y forma parte de nuestra bandera nacional”. Bakdaulet Babazhan

               

O nomadismo é a prática dos povos nômades, ou seja, que não têm uma habitação fixa, que vivem permanentemente mudando de lugar. Usualmente são os povos do tipo caçadores-coletores ou pastores, mudando-se a fim de buscar novas pastagens para o gado, quando se esgota aquela em que estavam. Os nômades não se dedicam à agricultura e frequentemente ignoram fronteiras nacionais na sua busca por melhores pastagens. A maioria dos antigos povos nômades tornaram-se sedentários com a descoberta da agricultura. No entanto, subsistem sociedades nômades, como as tribos de tuaregues do Saara. A existência do nomadismo na economia recoletora era motivado pela deslocação dos agrupamentos sociais que, na procura constante de alimentos para sobrevivência, sob determinadas condições climáticas acompanhavam as movimentações dos próprios animais que pretendiam caçar, procuravam os locais onde existiam frutos ou plantas para recolher ou necessitavam de se defender das condições climáticas ou dos predadores. Este tipo de nomadismo manteve-se entre as comunidades que persistiram no modo de produção recoletor.  Há uma diferença entre nomadismo e o nomadismo coincidente com o início da cultura de criação de gado. Alguns povos, por razões ambientais de adaptação cultural, se terem afastado dos agricultores, preferiram um estilo de vida dedicado à criação de ovelhas, cabras, bovinos e outros animais.

A pastorícia implica uma frequente deslocação dos animais criados em função dos recursos naturais existentes ou para possibilitar a renovação da flora. Em consequência da sua constante mobilidade, os nômadas não produziam, em geral, qualquer espécie de cerâmica, que tinham de obter por troca. Na Ásia Central e Setentrional formada por cinco países: Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tajiquistão Quirguistão. O continente asiático é regionalizado em: Extremo Oriente, Oriente Médio, Sudeste Asiático, Ásia Setentrional, Ásia Ocidental, Ásia Meridional, Ásia Oriental e Ásia Central. Também chamada de Ásia do Norte, a Rússia é o único país que compõe a Ásia Setentrional com sua capital Moscou, a população optou e continuou seu estilo de vida característico dos nômadas, mudando frequentemente os seus locais de acampamento. Ampliou-se com o avanço e a diversificação da criação de gado e tem sobrevivido sem modificações assinaláveis. É o caso das tribos nômadas mongóis, a viverem em regiões onde a vegetação típica das estepes proporciona boas pastagens com condições naturais para a manutenção de grandes rebanhos. Na Índia a cultura nômada de caçadores destacou-se na domesticação e criação de animais. Grupos de famílias ou comunidades, atravessavam os rios utilizando jangadas, cobriam o corpo com peles de animais e usavam equipamento de caça como o arco e a flecha com microlitros na ponta. No Saara uma economia de pastoreio nômada mais desenvolvida pode ter sido também uma consequência da desertificação crescente.

Na África Oriental, é a parte da África banhada pelo Oceano Índico e inclui, não só os países costeiros e insulares, Comores, Djibuti, Eritreia, Etiópia, Quénia, Seicheles, Moçambique, Somália e Tanzânia, mas também alguns do interior, como Burundi, Ruanda e Uganda, além de Zimbabué, Zâmbia e Maláui, herdeiros independentes da antiga Federação da Rodésia e Niassalândia, representados no mapa com verde-claro riscado de escuro, são incluídos nesta definição de sub-região estatística da Organização das Nações Unidas. Por vezes, Sudão são também considerado parte da África Oriental. Além disso, Madagáscar e países da África Austral, são também parte da África Oriental, onde ocorrem fenômenos como a dessecação ou escoamento das águas dos lagos, onde eram abundantes os recursos humanos e alimentares, alterou a fixação das populações que passaram a um regime de pastoreio nômada que permaneceu até tempos recentes. Pastores nômades acampando perto de Namtso em 2005. Estatisticamente representam em torno de 40% da população do Tibete que é nômade ou seminômade. 

                  

          É possível que a falcoaria tenha sido desenvolvida na China, já que existem muitas referências sobre a sua prática antes da Era Cristã em diversos textos chineses e japoneses. A mais antiga representação da falcoaria é um baixo-relevo encontrado em finais do século XIX em Korshabad, no atual Irã, datado de 1350 a. C. Não existem provas arqueológicas suficientes para determinar se a falcoaria era praticada no Antigo Egito, mas ainda assim existem bastante imagens de falcões, que eram consideradas aves míticas. Havia, inclusive, um deus com cabeça de falcão - Hórus - e falcões mumificados foram encontrados em tumbas dos faraós. A falcoaria aparece representada em ruínas na Turquia e em restos pertencentes à civilização Assíria; também é mencionada em alguns textos gregos. Embora a falcoaria não tenha sido muito difundida socialmente entre os romanos, eles empregavam o bufo-real e aproveitavam-se da animada versão existentes entre as aves rapinantes diurnas e as noturnas para, com a ajuda desta espécie de coruja, poder capturar rapaces diurnas. Entre as águias da America Latina, a Harpia é umas das maiores em comprimento e chega a pesar em até 8 kg, obtendo comprimento com as asas abertas de até um metro, com envergadura de até dois metros, e do ponto de vista reprodutivo põe até três ovos a cada vez, com tempo de incubação de 35 dias, e atinge a velocidade de aproximadamente 100Km/h.

A coruja bufo-real representa uma das aves de rapina mais conhecidas. Graças à sua majestade e abundância, ela se tornou muito popular na prática da falcoaria. Seu nome científico vem da Idade Média e representa o som que essa ave de rapina faz. Essa espécie de coruja tem uma plumagem marrom e malhada, com diferentes tons de marrom, preto e branco. A composição de cores dependerá das subespécies. Tem dois tufos de penas nas laterais da cabeça, além das típicas “orelhas” características desses animais carismáticos. As orelhas são mais eriçadas nos machos. Os olhos apresentam a característica mais notável​, porque possuem uma coloração laranja muito intensa. O tamanho e o peso desse animal varia muito entre as diferentes regiões em que vivem. Entretanto, ele pode atingir 1,7 metros de extensão e mais de quatro quilos. Isso faz dele a maior ave de rapina noturna do planeta. Como outras aves de rapina noturnas, seu voo é especialmente silencioso, graças às combinações de faixas de penas rígidas e flexíveis. Além disso, o toque da plumagem é aveludado, o que permite que ele seja um caçador muito preciso. O bufo-real tem garras especialmente poderosas, como o resto das corujas e águias. Esses animais têm um bico muito mais curto que seus congêneres diurnos. Isso não impede que o bico seja especialmente mais forte para rasgar sua presa.

A águia representa o nome comumente dado algumas aves de rapina da família Accipitridae, geralmente de grande porte, carnívoras, de grande acuidade visual. O nome é atribuído a animais pertencentes a gêneros diversos e não corresponde a nenhum clade taxonômico. Por vezes, dentro do mesmo gênero ocorrem espécies conhecidas popularmente por gavião ou búteo. Costumam fazer seus ninhos em locais altos como, por exemplo, topo de montanhas e árvores de grande porte. Existem diversas espécies de águias, as mais reconhecidas são: Águia-de-cabeça-branca, águia-gritadeira, águia marcial, águia-malaia, águia-dourada-europeia e águia-imperial-ibérica. Águias costumam ser utilizados como símbolos em vários contextos e culturas. A águia vive, em média, de 50 a 65 anos em cativeiro; bem menos se estiver na Natureza. Águias são sinônimos de imponência e poder, assim como transmitem força, coragem e independência. Desta forma são bastante utilizadas em brasões de famílias importantes, reinos antigos e até em bandeiras de países. A exemplo temos a águia-de-cabeça-branca como escudo dos Estados Unidos da América. Elas se classificam como aves de rapina de grande porte, assim pertencendo à família dos Accipitradae e Pandionidae. Bem como existem cerca de 70 espécies de águias no mundo, sendo a águia americana e a águia real as mais famosas. Suas várias espécies também habitam vários tipos de regiões, desde desertos, savanas até montanhas e florestas densas. Essas aves possuem características que as identificam mesmo na diversidade das espécies. Sendo elas uma visão nítida, assim conseguindo visualizar suas presas do alto, bico pontudo e garras afiadas e boa envergadura na asa. Esses atributos a tornam grandes predadoras, além de serem rápidas e ágeis.

          A caça com águias é uma representação tradicional de falcoaria encontrada em toda a estepe da Eurásia, a grande ecorregião que cobre o centro do supercontinente Eurásia com terras de pasto temperadas, savanas e matagais com biomas característicos. Estende-se da Moldavia através da Ucrânia até à Sibéria, com um enclave importante situado na Hungria chamado Puszta que, por sua vez é um conceito frequentemente associado à tradicional paisagem húngara. O termo significa “estepe”, ou seja, uma terra onde a vegetação predominante é de gramíneas, sem árvores e com alguns arbustos isolados ou em pequenos grupos. Com letra maiúscula e artigo definido, refere-se à parte plana do Alföld. A estepe liga econômica, política e culturalmente o leste da Europa, a Ásia Central, a China, a Ásia Meridional e o Médio Oriente através de rotas de comércio por terra, especialmente a Rota da Seda que operou durante a Antiguidade e a Idade Média praticada por antigos povos mongóis e turcos. Ele é praticado por cazaques e quirguiz na contemporânea Cazaquistão e Quirguistão, bem como diásporas em Bayan-Olgii, províncias Bayan-Olgii, Mongólia e Xinjiang, China. Tanto no Cazaquistão quanto no Quirguistão, há terminologias para quem caça com aves de rapina, em geral, e quem caça com águias em particular. Ölgiy é uma cidade e capital administrativa da província de Bayan-Ölgiy, no extremo oeste de Mongólia. Em  1207, os nômades quirguizes se renderam a Jochi, filho de Genghis Khan. Sob o domínio mongol, o Quirguistão preservou o nomadismo e tradições da falcoaria de águia. 

Historicamente os estudos de arqueólogos remontam à falcoaria na Ásia Central até o primeiro ou segundo milênio da Era a. C. Durante o período comunista, mutatis mutandis no Cazaquistão (1936-1990), muitos cazaques fugiram para a Mongólia para evitar serem forçados a abandonar, mediante “a força bruta da política”, como dizia Marx, seu estilo de vida nômade, o particular método e processo de trabalho,  para fazendas de trabalho coletivistas. Eles se estabeleceram na província de Bayan-Ölgii e trouxeram com eles sua tradição de caça com águias. Estima-se que haja 250 caçadores de águias em Bayan-Ölgii, que está localizada nas montanhas Altai, no oeste da Mongólia. Seu costume envolve caça com águias douradas a cavalo e, principalmente, raposas vermelhas e corças. Eles usam águias para caçar raposas e lebres durante os meses frios do inverno, quando é mais fácil a visibilidade  das raposas douradas na neve. Todo mês de outubro, os costumes da caça à águia do Cazaquistão são exibidos no Golden Eagle Festival. Embora o governo tenha tentado atrair os praticantes dessas tradições cazaques de volta ao período de caça no Cazaquistão, a maioria dos cazaques permaneceu na Mongólia. A cetraria ou falcoaria representa a arte de criar, treinar e cuidar de falcões e aves de rapina treiandos para a caça. Antroplogicamente há pouca informação sobre a ecologia das estepes antes do pastoreio nômada. Os animais primários eram ovelhas e cabras em rebanhos de pouca densidade.

Os camelos foram utilizados nas áreas mais secas para transporte para oeste através de Astrakhan, a capital do Oblast de Astracã, na parte europeia da Federação Russa. A cidade está situada a 1,5 mil quilômetros a Sudeste da capital russa, Moscou, às margens do rio Volga, e próximo a sua desembocadura no mar Cáspio. Houve alguns iaques ao longo das zonas limítrofes com o Tibete. O cavalo foi domesticado pela primeira vez na estepe russa e cazaque em algum momento antes de 3000 a.C., sendo utilizado para transporte e para a  guerra. Em geral pode-se dizer que é uma caça de aves e pequenos quadrúpedes, praticada desde há mais de 6000 anos com falcões, açores, francelhos e outros rapaces, que rouba, rapinante. Que persegue a presa afincadamente: o abutre é rapace, diz-se das aves de rapina que têm a capacidade de perseguir uma presa no ar ou no solo até derrubá-la ou matá-la (cf. Willerslev, 2012). As aves de rapina, rapinantes, raptores ou demais aves predatórias são aves carnívoras que compartilham características, como bicos recurvados e pontiagudos, garras fortes e visão de longo alcance. As rapinantes são ágeis na captura de alimentos: grandes artrópodes, peixes, anfíbios, pequenos mamíferos e aves. Está adaptada para caçar um tipo de animal. 

     

Os vestígios e fontes documentais sobre a falcoaria demonstram que se tratava de um esporte aristocrático, do qual participavam reis e outros membros poderosos das cortes existentes (cf. Herald Tribune, 2020). É possível haver condições e possiblidades de que a falcoaria tenha sido desenvolvida na China, já que existem muitas referências teóricas sobre a sua prática antes da Era Cristã em diversos textos chineses e japoneses. A falcoaria entrou para a Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da  Organização das Nações Unidas (ONU) para Educação, Ciência e Cultura em 2010. Ocorreu na sequência internacional da organização a candidatura liderada por Abu Dhabi, que pela primeira vez na história social da organização das nações agrupou 11 países, a saber: Bélgica, República Checa, França, Coreia, Mongólia, Marrocos, Qatar, Arábia Saudita, Espanha, Síria e Emirados Árabes Unidos,  formados por uma confederação de monarquias árabes, cada uma detendo sua soberania, chamadas emirados, por serem equivalentes a principados, os Emirados Árabes Unidos estão situados no sudeste da península Arábica e fazem fronteira com Omã e com a Arábia Saudita. Os sete emirados são respectivamente Abu Dhabi, Dubai, Xarja, Ajmã, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fujeira. A capital e a segunda maior cidade dos Emirados Árabes Unidos é Abu Dhabi. A cidade também representa o centro de atividades políticas, industriais e culturais.

 Em 2012, a agência estendeu o reconhecimento de Patrimônio da Humanidade à falcoaria praticada na Áustria e na Hungria. Portugal apresentou a sua candidatura em 2015, pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, em parceria com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, a Universidade de Évora e a Associação Portuguesa de Falcoaria. A falcoaria portuguesa passou em 1° de dezembro de 2016 a integrar a lista do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO, juntando-se aos 13 países associados como patrimônio da humanidade. E decisão da 11ª reunião do Comité Intergovernamental do Patrimônio Cultural Imaterial, ocorrido em Adis Abeba, na Etiópia. A ideia nacional e global de Patrimônio da Humanidade é um dos principais elementos, portanto, mais importantes de representação da cidadania no mundo contemporâneo, que pressupõe a identificação de bens simbólicos que se constituem em patrimônio de todos os seres humanos. É uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) com sede em Paris, fundada em 16 de novembro de 1945 com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo globalizado mediante a educação, ciências naturais, ciências sociais e ciências humanas e comunicações e informação.

As atividades culturais procuram o resgate e salvaguarda do patrimônio cultural, o estímulo da criação, a criatividade e a preservação das entidades culturais e tradições orais, assim como a promoção dos livros e a leitura. Em matéria de comunicação social, ela promove: 1) a livre circulação de ideias por meios audiovisuais; 2) fomenta a liberdade de imprensa e a independência intelectual e de raciocínio; 3) o pluralismo e a diversidade do processo de trabalho e reprodução dos meios de comunicação social e informação, através do Programa Internacional para a Promoção da Comunicação. Ela difunde seus objetivos através de cinco programas sociais integrados em educação, ciências naturais, ciências sociais e humanas, cultura e comunicação e informação. Projetos patrocinados pela UNESCO incluem programas de alfabetização, programas técnicos e de formação de professores, programas científicos internacionais, promoção de mídia independente e liberdade de imprensa, projetos de história regional e cultural, promoção de diversidade cultural, traduções de literatura mundial, acordos de cooperação internacional do patrimônio cultural e natural mundial e para preservar seus direitos civis tentando promover e superar a divisão social e técnica do trabalho digital mundial. É membro do Grupo de Trabalho de Desenvolvimento das Nações Unidas.

A Ásia Central é uma das mais fascinantes regiões do mundo, e talvez dentre as menos reconhecidas dos ocidentais. A China antiga já “mitologizava” seu oeste, como uma imagem ideal que transplantada exige adoração e tem capacidade para ter impacto social profundo sobre a criação própria da feminilidade, numa terra bravia de nômades e xamanistas. No caso do hemisfério ocidental não fazíamos, com os relatos medievais de Marco Polo e outros sobre o domínio mongol nessas terras. Por tempos a maioria da Ásia Central caiu em dormência sob o domínio czarista russo no século XIX e soviético durante o século XX, mas a região agora ressurge com sua identidade própria. O sexteto stão que compõem um corredor das nações da Ásia: Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão e Afeganistão, têm etnograficamente rica diversidade de culturas e legados histórico-social e político. Estão longe de serem representantes da mesma cultura e do “fim de mundo” como costumam imaginá-los. Ipso facto, nem todas as definições de Ásia Central incluem a Mongólia, mas cultural e etnicamente last but not least, os mongóis, se inserem mais do que em qualquer outro lugar da cultura. Ali estão também os uigures (China) uma das cinquenta e seis etnias reconhecidas pela República Popular da China, consistindo de uma população em torno de 8 680 000 pessoas, de acordo com o recenseamento chinês de 2004. Sua língua é o uigur, e outros tantos povos da Rússia.

Desnecessário dizer que o lago Issyk-Kul não somente entre turistas, mas entre os quirguizes é a atração turística mais bem consumida no Quirguistão. São 180 Km de comprimento e 60 Km de largura. Melhor dizendo é um lago imenso, e funciona como uma Riviera para os quentes dias de verão. Os quirguizes sobem o lago, tendo em vista  que é elevado, a 1. 600 metros de altitude e nos fins de semana descem para o litoral. Como ele é levemente salgado, o lago é um tipo-ideal que funciona como lazer de uma praia. Pela salinidade, a água não congela no inverno, daí o nome Issyk-Kul, que tem como significado “lago quente” nas línguas turcas. Esse lago é emblemático porque por milênios representou o limite oeste do império chinês. Funcionava como ponto de parada das caravanas de mercadores na épica Rota da Seda. Foi mencionado no século VII na obra do viajante budista Xuanzang, Relato de Viagem ao Ocidente à época dos Grandes Tang, publicada em 646 após dezenove anos de andanças por estes rincões do que a China reconhecia no “seu ocidente do tempo da dinastia Tang”. Os chineses controlaram à distância este território até o Tratado de Tarbagatai (1864), quando teve que cedê-las ao expansionista império russo dos czares. Foi um dos muitos tratados desiguais econômico e politicamente que a China imperial foi forçada a assinar no século XIX, como o de concessão de Hong Kong ao gigantesco domínio imperialista britânico, entre outros. Durante os três séculos seguintes, os ingleses expandiram o seu império a 3/4 do mundo, segundo Eric Hobsbawm, incluindo grande parte de África, quase toda a América do Norte, a Índia e regiões vizinhas e várias ilhas no mundo. Este pedaço da Ásia Central depois se tornaria a República da Kirguizia da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e, desde 1991 com a Independência, o Quirguistão.

Localizada na Ásia Oriental e Central, a Mongólia é o segundo maior país do mundo sem costa marítima. Com cerca de 2,9 milhões de habitantes, faz fronteira com a Rússia ao Norte e a China ao Sul, Leste e Oeste. Aproximadamente 30% da população é formada por nômades ou seminômades. Estas pessoas, ao contrário do que muitas vezes imaginamos, não são vítimas de um processo da pobreza. Famílias nômades sustentam-se economicamente de cabeças de gado, camelos, cavalos, cabras e ovelhas. Suas casas são as chamadas ger, habitações circulares com quarto e sala, rodeadas por grossas camadas de feltro. A cultura da Mongólia é aparentemente homogênea. Isso porque 96% da população é budista e a língua oficial, o calca-mongol, é falada por cerca de 90% das pessoas. A designação “Mongol” apareceu brevemente em registros do século VIII da dinastia Tang chinesa, “descrevendo uma tribo de Shiwei”, eram um povo Mongolic que habitavam far-leste da Mongólia, norte da Mongólia Interior, no norte da Manchúria e da área perto do Praia do mar de Okhotsk. Registros mencionando o Shiwei foram descritos desde a época do Wei do Norte (386-534) até a ascensão dos mongóis sob o domínio de Genghis Khan em 1206, quando os nomes Mongol e Tatar foram aplicados a todas as tribos Shiwei e ressurgiu novamente no final do século XI durante o governo de Khitan. 

            Após a queda da Dinastia Liao fundada pelo clã Yelü que governou no Império Chinês do ano 907 até ao ano 1125, quando os mongóis se tornaram uma tribo de liderança no estepe e também tinham poder no norte da China. No entanto, suas guerras com a Dinastia Jin e tártaros enfraqueceu-os. No século XIII, a palavra Mongol cresceu em um termo genérico para um grupo grande étnico de Mongolic e Turkic de tribos unidas sob o domínio político de Genghis Khan (1162-1227). Sociologicamente é a personagem histórica mais venerada e lembrada, o responsável pela fundação do Império Mongol no decorrer deste século. Os Shiwei eram descendentes dos Yuwen Xianbei, mas também incluíam algumas tribos do povo Tungusic Mohe. Shiwei é uma transcrição variante de Xianbei. As histórias dinásticas chinesas descrevem o Shiwei como um ente socialmente relacionado aos Khitan, que eram castas de origem Xianbei, considerada a maior e mais importante confederação tribal nômada da região estepe do norte da China, localizada acima do rio Amur, durante os períodos da dinastia Jin (265-420) e dinastias do Norte (386-581). Eram tribos regionais e/ou locais (cf. Bhabha, 1998; Geertz, 1999; Ágoston; Masters, 2009) de tribos do povo Xianbei que se tornaram independentes depois que o Estado de Xianbei foi dissolvido em 234 com a morte do chefe Xianbei Budugen. 

              No Livro de Wei, afirma-se que a língua do Shiwei era a mesma do Khitan, que falava a língua Khitan; no Livro de Sui, afirma-se que os Shiwei pertenciam ao mesmo tipo de povo que os Khitan; e no Novo Livro de Tang e no Antigo Livro de Tang, afirma-se que o Shiwei era um ramo colateral do Khitan. É provável que pelo menos algumas tribos de Shiwei tenham algumas semelhanças étnicas com os Khitan. O historiador da dinastia Tang, Wan Guowei, descreve os Shiwei como uma tribo Khitan. O império chegou a dominar um terço da população mundial em seu tempo, indo da fronteira oeste da Alemanha até a Península Coreana. É cada vez menor o número daqueles que sabem que a Península Coreana já foi um único país. Os que vivenciaram esse tempo são hoje anciãos. Eles vivem de ambos os lados da fronteira, geralmente separados dos parentes do outro lado. Embora às vezes distanciados apenas uns poucos quilômetros, há mundos se interpondo entre eles. Essa imagem desperta na Alemanha lembranças do próprio passado. Como demonstra uma enquete encomendada pela Deutsche Welle (DW), a maioria dos alemães acredita que os países também possam se beneficiar da experiência nacional. Não queremos perder de vista que a DW é empresa pública de radiodifusão da Alemanha, com sedes nas cidades de Bonn e Berlim, que transmitem para o exterior programas de rádio, além de oferecer uma programação televisiva e um amplo portal de conteúdo online em 30 idiomas/línguas.

O país é coberto por estepes e possui pouca terra arável. É repleto de montanhas ao norte e ao oeste. Ao sul, encontra-se o deserto de Gobi. As areias deste local foram descritas por um ocidental pela primeira vez em 1275, na histórica viagem de Marco Polo a Pequim, explorador veneziano cujas aventuras estão registradas em As Viagens de Marco Polo, um livro que descreve para os europeus as maravilhas da China, de sua capital Pequim e de outras cidades e países da Ásia. Uma das maiores curiosidades da Mongólia é que este é um dos países mais altos do mundo, com uma altitude média de 1580 metros acima do nível do mar. Ou seja, as temperaturas são mais baixas nestas terras. Com média de -1,3 °C, a capital, Ulaanbaatar, é considerada a mais fria do mundo. A dieta da população varia conforme a região do país. Mas é baseada em carne bovina, de iaque, de cordeiro e de camelo. Na capital, Ulaanbaatar, a variedade de comida é maior, pois boa parte de suprimentos dos alimentos vem de importações. A carne seca, chamada “borts”, é utilizada em diversas receitas. A carne-seca é uma das formas mais antigas de conservação de alimentos para os povos de caçadores e pastores nômades. Tradicionalmente, ela transforma-se em consumo quando secam-se as carnes de gosto variado de porco, vaca, carneiro, rena, peru, cavalo, avestruz e camelo, entre as espécies domesticadas, para além de várias espécies de animais selvagens. Dentre outras especialidades gastronômicas os khuushuur, são reconhecidos pasteis de massa de farinha de trigo recheados com carne. A manteiga de leite de Iaque também é bastante importante não só para os mongóis, e serve como combustível com utilidade de uso para as lâmpadas e como alimento. No passado, no âmbito do processo civilizatório, como era uma das únicas fontes de combustível, as escolas muitas vezes optavam entre ter comida ou iluminação

Em algumas partes da cultura da Mongólia, China, Quirguistão, mas também no  Cazaquistão há quem cace “na companhia de aves de rapina treinadas”. No Cazaquistão em particular, a tradição antiga ainda é mantida com concursos e caçadas em grupo. O território do Cazaquistão tem sido historicamente habitado por tribos nômades, mas esse cenário mudou no século XIII, quando Genghis Khan ocupou o país. Aconteceram lutas internas entre os conquistadores, o poder eventualmente voltou para os nômades. Por volta do século XVI, os cazaques surgiram como um grupo étnico distinto, dividido em três jüz, ramos ancestrais que ocupam territórios específicos. Os russos avançaram para as estepes cazaques no século XVIII e, em meados do século XIX, todo território nacional fazia parte do Império Russo. Após a revolução de 1917 o país representou a última das Repúblicas soviéticas a declarar sua Independência após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1991. O presidente Nursultan Nazarbayev foi líder nacional da República socialista soviética, mas renunciou em março de 2019, devido a  manifestações civis de descontentamento contra seu governo.  O presidente é o Kassym-Jomart Tokayev, eleito com mais de 70% dos votos dos quase 12 milhões de eleitores. O governo pratica uma política externa equilibrada em conjunto para desenvolver a sua economia, especialmente a sua indústria de hidrocarbonetos.

       A águia representa um símbolo de força, inteligência e destreza. É um animal solar e celestial, símbolo universal do poder, da capacidade de utilização da força, da expressão da autoridade, da consequente vitória de seu reino animal e da sua proteção espiritual. Muito ágil e habilidosa, essa ave guerreira e predadora, reconhecida como a “rainha das aves”, está relacionada com a mitologia dos deuses e da própria realeza. A perspicácia única nesse reino, da utilização técnica do seu olhar lhe permite fitar o sol diretamente, o que representa um dos maiores símbolos da clarividência. Por conta dos impulsos progressivos dos altos voos, essa ave é considerada uma mensageira divina, simbolizando o poder dos deuses e a superioridade espiritual. Considerada um animal Psicopompo, do grego psychopompós, está representando a união das palavras psyché (alma) e pompós (guia), sua função social é guiar os seres vivos na transição do mundo terreno para o divino. Isso faz da águia uma ave mediadora simbolizando a passagem entre os reinos divino e o espiritual. Tal como a representação da Fênix, que renasce das próprias cinzas, pode ser considerada um símbolo de regeneração humana e espiritual. Treinar uma águia exige força, destreza, e sobretudo delicadeza, além de sintonia psicológica e a simbiose realizada entre a ave e seu imediato adestrador. Primeiro, é necessário testar a questão dos reflexos e o equilíbrio da nova águia a ser plenamente adestrada. Em três semanas, a águia estará normalizada e pronta para caçar. As fêmeas são as preferidas para serem treinadas.

         O sucesso da caça também dependerá do temperamento própria da águia. Sua precisão na captura de presas, faz das águias um dos animais com impressionante habilidade da vida selvagem. No caso particular das águias, depois de dez temporadas de trabalho elas são soltas, para que se reproduzam na natureza. Na  Heráldica, arte ou ciência cujo objeto de pensamento é o estudo da origem, evolução e significado dos emblemas blasônicos, assim como a descrição e a criação de brasões, a águia representa o pássaro dos reis e dos líderes, enquanto que no Cristianismo ela simboliza o poder e inspiração das palavras de Deus. Para os chineses, a águia simboliza a coragem, glória, força e temeridade. Na cultura Celta, representa o símbolo do renascimento e da renovação, mas para os egípcios é o seu símbolo único da vida eterna. Muitos países adotaram-na como símbolo da identidade nacional, como Alemanha e nos Estados Unidos da América. Historicamente, essa ave imponente foi escolhida símbolo e meio de comunicação dos impérios Romano, Santo Império medieval, Russo e Austríaco.   

Na mitologia grega, a águia está associada a Zeus (Júpiter), o deus maior do Olimpo. Na mitologia germânica, é uma referência a Wotan, o deus maior do Válhalla. No mito cristão, a águia é um símbolo de São João, e para Carl Jung, um símbolo de representação do pai. Na alquimia, a águia simboliza a transmutação do metal vil em ouro, ou seja, a ideia do homem de transformação técnica e social da substância impura em substância pura. Para reconhecidos alquimistas, essa ave mítica, associada aos elementos ar e mercúrio, simbolizam a esperança de renovação, a vitória do nascimento. Fernando Pessoa, um dos maiores poetas, é um ótimo exemplo tanto de representação quanto de combinação entre os elementos Ar e Água: aos seus vários planetas no signo de Gêmeos (Ar) e Marte em Libra (Ar), se contrapõem o ascendente Escorpião (Água) e Mercúrio em Câncer (Água). A vasta obra legada pela grandiosidade de Pessoa é um da sensibilidade e inteligência decorrentes da combinação Ar & Água.   

O Cazaquistão é povoado por 100 etnias, entre cazaques que compõem em torno de 68.5% da população, mas também russos, uzbeques, ucranianos, alemães, tártaros e uigures. Foi em 1980 quando o Cazaquistão ganhou o título de laboratório de amizade interétnica e agora todos os anos, a nova capital, Astana, organiza o Fórum de Consentimento Interconfessional com o apoio do presidente Nazarbayev. O islamismo em análise comparada representa a religião aproximadamente de 75% da população, enquanto o cristianismo é praticado por 21% dos habitantes; o país permite a liberdade de religião. O idioma cazaque é a língua oficial, enquanto o russo tradicionalmente tem um estatuto oficial igual para todos os níveis administrativos e institucionais. Embora a palavra cazaque seja usada geralmente para se referir a pessoas de ascendência étnica, inclusive os que vivem na China, Rússia, Turquia, Uzbequistão e países vizinhos, no interior das cidades é usado para descrever todos os cidadãos e territorialidades, inclusivo aos que não são cazaques étnicos. O etnônimo cazaque tem  como representação social muito mais do que a palavra que designa tribo, etnia, raça, grupo humano definido, nação e, quando em alguns casos, equivale a gentílico. É uma derivação da antiga palavra turca que significa “independente; um espírito livre” da cultura nômade dos cazaques. O sufixo persa stan   significa “terra ou lugar de”, e exatamente por isso Cazaquistão significa “terra dos cazaques”.              

A cetraria é sociologicamente compreendida como a arte de criar, cuidar e adestrar águias, falcões e demais aves existentes no ecúmeno que sirvam para a caça. É um das práticas ancestrais historicamente constituídas do povo cazaque que passa de geração em geração e constitui uma tradição nacional de dimensão internacional. Os animais tem envergadura de 2,1 metros e em torno de 6 kg, caçam coelhos, raposas, faisões, lobos e chacais durante as festividades. A 30 km de Astana em plena estepe, 18 homens de forma organizada se reúnem com objetivo frequente para trocar habilidades técnicas e conhecimentos culturais, “além de fazer suas aves voarem”. Bakdaulet Babazhan é vencedor do campeonato de cetraria realizado no Cazaquistão, posto que trabalha com uma águia. – “A águia simboliza a liberdade e faz parte de nossa bandeira nacional”. Enquanto explica estes detalhes, a águia descansa sobre seu braço que está protegido por uma luva de cetreiro. Depois que a ordena voar e, enquanto isso, explica o treino e a técnica de adestramento da cetraria ou burkitshy em língua cazaque.

As classes de idade e as chamadas sociedades secretas foram objeto de estudo de H. Schurtz e H. Webster, nas quais, contudo não foi dada a devida importância aos ritos das cerimônias que garantem o acesso a tais classes e sociedades. Os autores imbuídos da ideia que a iniciação coincidia com a puberdade. E que todas estas cerimônias têm como ponto de partida este fenômeno fisiológico, lançaram-se a teorias que reduz tudo ao “instinto de sociabilidade”, considerando o instinto gregário, contudo, sem chegar a fazer compreender no âmbito da teoria, nem as variações das instituições consideradas nem a natureza das cerimonias correspondentes. Sociedade secreta é uma associação de iniciados que têm acesso a certos mistérios e conhecimentos que, segundo os seus membros e líderes, não devem ser compartilhados com as demais pessoas, por estas serem incapazes de compreendê-los e levá-los a sério. Assim sendo, não mereceriam reconhecer ou fazer parte de tais sociedades ou grupos. No sentido antropológico e histórico, as resistentes sociedades secretas são profundamente ligadas ao conceito de Männerbund, traduzido da língua alemã vagamente como  uma “união de homens”, que seria próprio de culturas pré-modernas. Tais sociedades são criadas para propósitosː políticos, ideológicos, sociais, econômicos etc. Mas há também propósitos políticos ocultos, como múltiplos segredos envolvendo governos e instituições, incluindo igrejas e/ou organizações religiosas. Muitas sociedades são acusadas de encobrirem segredos importantes e intrigantes a nível mundial. As sociedades secretas, quase sempre, estão ligadas do ponto de vista ideológico ao ocultismo e/ou teorias ditas “conspiratórias”.

Na realidade, as coisas passam-se, segundo o antropólogo franco-holandês Van Gennep (2013), de modo inteiramente diferente da vida social, o que se explica em primeiro lugar por fatos sociais de ordem fisiológica. 1°) O prazer sexual não depende da puberdade, mas é sentido, conforme os indivíduos, ora antes, ora depois; o espasmo pode mesmo produzir-se vários anos antes, de maneira que a puberdade só tem importância no que diz respeito ao poder de concepção. 2°) O aparecimento do primeiro sangue não acontece na mesma idade nas diversas raças, nem no interior de uma mesma raça entre os diversos indivíduos. Mesmo na Europa estas variações não correspondem às prescrições legais. Em Roma, por exemplo, as moças são legalmente núbeis aos 12 anos, mas somente duodécima parte das jovens romanas têm suas regras nessa idade, enquanto a grande maioria só as têm entre os 14 e os 15 anos, e algumas, são muito raras, desde os 9 anos. Em Paris, a idade legal para o casamento é de 16 anos e seis meses. Mas a média da puberdade é de 14 anos e quatro meses, segundo o médico e psiquiatra Brierre de Boismont, e também de 15 anos e quatro meses segundo Aran, Baudelocque, Courty e outros dizem ter visto exemplos de menstruação análogos. Nas classes sociais hierarquicamente ricas a média de puberdade ocorre mais cedo que nas classes operárias. Em Roma, a puberdade social é anterior à puberdade física; em Paris é de ordem posterior. 

As variações da idade em que é praticada a circunscrição bastariam por si sós fazer compreender do ponto de vista analítico que se trata de um ato não de alcance fisiológico, mas de significação social. Não somente em numerosos povos a operação é executada em intervalos muito distantes, por exemplo, de dois em dois anos, de três em três, de quatro em quatro anos ou de cinco em cinco anos, de maneira que a circuncisão é praticada ao mesmo tempo em crianças de desenvolvimento físico sexual diferente. Além disso, em uma mesma região, habitada por populações do mesmo tipo somático (raça), encontram-se notáveis variações. Assim, nas regiões de Marrocos exploradas por Doutté verifica-se que a circuncisão é realizada entre os Dukkâla, originários de uma planície que se estende do Oceano Atlântico ao sul do rio Oum Er-Rbia até cerca de 50 km mais ao sul e à mesma distância para o leste, com idade de sete a oito dias depois do nascimento ou aos 12 ou 13 anos; entre os Rehamna, de 2 a 5 anos; em Fez, ente 2 10 anos; em Tânger, aos 8 anos; entre os Jbala, dos 5 aos 10 anos; nos arredores de Mogador, cidade da costa sudoeste de Marrocos, capital da província homônima, que faz parte da região Marrakech-Tensift-Al Haouz, variando de idade de 2 a 4 anos; na Argélia, aproximadamente aos 7 ou 8 anos; mas ocorre que dentre os muçulmanos ortodoxos, quando não é feita exatamente no sétimo dia depois do nascimento, realiza-se de forma que ocorra o mais cedo possível. É possível realizar  quadro semelhante com materiais reunidos pelos estudos de R. Andree, pelo Dr. Lasnet no Senegal, etc.

Assim, o mesmo rito de passagem (cf. Van Gennep, 2013), comparativamente, assinala a entrada na infância ora a entrada na adolescência, mas sem nada ter a ver com a puberdade física. Foi com plena razão que Doutté aproximou a circuncisão do primeiro corte dos cabelos e das cerimônias da primeira dentição, agregando R. Lasch e Edward Westermarck, das outras mutilações corporais. Cortar o prepúcio equivale exatamente a arrancar um dente, a cortar a última falange do dedo mínimo, a cortar o lobo da orelha ou a perfurar o lobo, o septo ou a praticar tatuagens e escarificações, ou a cortar os cabelos de certa maneira.  Com estas práticas retira-se o indivíduo mutilado da humanidade comum mediante um rito de separação que automaticamente o agrega a um grupo determinando, e de tal maneira que a operação, deixando traços indeléveis, torna a agregação definitiva. É a alteração deliberada e permanente do corpo humano por razões étnicas ou culturais e não por razões clínicas ou médicas. Consiste em alteração realizada com o intuito de diferenciar o indivíduo socialmente de outros dentro da geração. A circuncisão judaica, por exemplo, nada tem de particularidade, entretanto, emerge culturalmente, sendo claramente apresentada como um mero “sinal de aliança” político-afetiva com determinada divindade, e marcadamente de que o indivíduo pertence a uma mesma comunidade de fiéis. Em suma, se levarmos em conta ainda o corte do clitóris, a perfuração do hímen e a secção do períneo, assim como a subincisão, verifica-se que o corpo humano foi tratado, segundo Arnold Van Gennep, “como um simples pedaço de pau, que qualquer pessoa talhou e arranjou a seu gosto”.   

 Nursultan, Nur-Sultan ou, na forma aportuguesada, Nur-Sultã (ou Nur Sultã), até 20 de março de 2019 denominada Astana, é capital do Cazaquistão. Ela está localizada ao longo do rio Ishim no norte do país, na região Akmola, embora seja administrada separadamente como uma entidade independente. O censo de 2014 estimou a população em 835 153 habitantes, sendo a segunda maior aglomeração urbana do país depois de Almaty. Povoado em 1830 como o assentamento de Akmoly, o local serviu como fortificação dos cossacos siberianos. Em 1832, um acordo concedeu o estatuto de cidade e rebatizou-a para Akmolinsk. Em 20 de março de 1961, a cidade foi renomeada pelos soviéticos para Tselinogrado. Em 1992, seu nome foi novamente alterado para Akmola, o nome original modificado que significa “vala branca”. Em 10 de dezembro de 1997, Akmola se tornou a capital do Cazaquistão. Em 6 de maio de 1998, a cidade foi rebatizada Astana, que significa “capital” em idioma azaque. Em 20 de março de 2019, foi oficialmente designada Nursultan. Mas obteve uma homenagem ao ex-presidente e espiritualmente “pai da nação” Nursultan Nazarbaev. É uma cidade planejada, assim como  Brasília, que possui o maior produto interno bruto per capita em relação às capitais, o quarto maior entre as principais cidades da América Latina e cerca de três vezes maior que a renda média entre capitais brasileiras.

Registramos o caso semelhante de Canberra, na Austrália, que enquanto capital o governo federal contribui com uma grande porcentagem da receita bruta da cidade, sendo, assim, o seu maior empregador. Camberra atrai tanto turistas domésticos quanto internacionais. É um importante centro cultural contando com a Biblioteca Nacional e Galeria Nacional de Arte e comercial da Austrália; Huambo, em Angola é capital de um dos grandes reinos pré-coloniais da região central angolana, teve a designação oficial de Nova Lisboa entre 1928 e 1975, quando rivalizava com Luanda pela predominância econômica regional; enfim, Washington, DC, foi nomeada em homenagem ao primeiro Presidente dos Estados Unidos, George Washington, enquanto que o termo District of Columbia deriva do antigo nome poético dos Estados Unidos, Colúmbia e Islamabad, no Paquistão,  com o assassinato de Osama bin Laden abria uma profunda crise entre os norte-americanos e o Paquistão está longe do fim. Ao mesmo tempo, enfraquecia o poder dos militares e da elite política, sendo humilhados pela ação. O Plano Diretor da cidade foi projetado pelo arquiteto japonês Kisho Kurokawa. Nursultan sedia o parlamento, a suprema corte, o palácio presidencial e departamentos e agências governamentais, assim como é referência de edifícios, hotéis e arranha-céus futuristas. 

São denominados países sem costa marítima”, países “interiorizados” ou países “encravados”, significando aqueles que não têm saída para o mar ou oceano. Note-se que esta definição de mar não inclui os mares que não estão ligados aos oceanos, pelo que o mar Cáspio e o mar de Aral, ao serem lagos endorreicos, permitem que alguns países que neles têm costa sejam considerados “países sem costa marítima”. Os países banhados pelo mar de Aral e/ou mar Cáspio são Azerbaijão, Cazaquistão, Uzbequistão e Turquemenistão. Com uma área de 2,7 milhões de km², o Cazaquistão é o nono maior país do mundo, e o maior país sem costa marítima. Equivale ao tamanho da Europa Ocidental. Partilha 6.846 km de fronteira com a Rússia, 2 203 km com o Uzbequistão, 1 533 km com a China, 1 051 km com o Quirguistão e 379 km com o Turcomenistão. Entre as principais cidades estão Nursultan, Almaty, Karaganda, Shymkent, Atyrau e Oskemen. O território se estende, de oeste para leste, do mar Cáspio às montanhas Altai, e, de norte a sul, das planícies da Sibéria Ocidental aos oásis e desertos da Ásia Central. A estepe cazaque, com cerca de 804,5 mil km², ocupa um terço do país e “é considerada maior região seca de estepe do mundo”. A estepe se caracteriza por grandes áreas de prados e regiões arenosas. A região possui rios e lagos, como o Mar de Aral, o rio Ili, o rio Irtich, o rio Ishim, o rio Ural, o Sir Dária, o rio Charyn, o lago Balkhash e o lago Zaysan. O clima é continental, com verões quentes e invernos frios. A precipitação varia em condições climáticas áridas e semiáridas.   

– “Uma águia ou qualquer outra ave adestrada nas artes da cetraria deve voar 300 metros e retornar à mão de seu treinador”. Bakdaulet Kapsalgan executa a ordem, voa sobre as estepes nevadas, plana e pousa no braço de seu adestrador. - O passo seguinte do treino consiste em pegar uma ave artificial, que está presa a um cavalo, e retornar com ela à mão de seu proprietário”, acrescentou o cetreiro. A realização de torneios e o apoio à cetraria visa a conservação das aves de rapina, que estão em perigo de extinção. A Organização Não-Governamental Kansonar tem registradas mais de 165 espécies, acrescentou Zhunusov. Segundo o Ministério da Agricultura, 489 espécies de aves podem ser encontradas no Cazaquistão, sendo que 396 delas vivem no país, e o resto aparece no inverno e migra na primavera e no outono. Os criadores especialistas em espécies raras ou ameaçadas de aves de rapina criaram 738 falcões-sacre e 15 de águia real em habitat natural. Em 2010, a caça com águias foi incluída oficialmente na lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. As listas foram estabelecidas para garantir a melhor proteção dos importantes patrimónios culturais intangíveis em todo o mundo e a consciência da sua importância. Através do compêndio dos diferentes “tesouros orais e imateriais”, na falta de melhor expressão, o programa objetiva chamar a atenção para a salvaguarda do património intangível, que foi identificado como um componente essencial e um repositório de diversidade cultural e da expressão criativa.           

            O Mar de Aral foi um lago de água salgada, localizado na Ásia Central, entre as províncias de Aqtöbe e Qyzylorda (ao norte), e a região autônoma usbeque de Caracalpaquistão (ao sul). O nome refere-se à grande quantidade de ilhas presentes em seu leito; mais de 1500. Este já foi o quarto maior lago do mundo com 68 000 km² de superfície e 1100 km³ de volume de água, mas tem encolhido gradualmente desde os anos 1960 após projetos de irrigação soviéticos terem desviado os rios que o alimentam. Em 2007 já havia se reduzido a apenas 10% de seu tamanho original, e em 2010 estava dividido em três porções menores, em avançado processo de desertificação. A outrora próspera indústria pesqueira foi praticamente destruída, provocando desemprego e dificuldades econômicas. A região também foi fortemente poluída, com graves problemas de saúde pública como consequência. O recuo do mar também já teria provocado a mudança climática local com verões cada vez mais quentes e secos, e invernos mais frios e longos. Está em curso uma iniciativa no Cazaquistão para salvar e recuperar o norte do mar de Aral. Como parte desta iniciativa, foi concluída uma barragem em 2005, e, em seguida em 2008, o nível de água já havia subido doze metros em comparação ao nível mais baixo, registrado em 2003. A salinidade vem caindo, e os peixes são encontrados em número suficiente para tornar historicamente a pesca viável. As perspectivas para o mar remanescente do sul permanece sombria, tendo sido chamado não faz muito tempo de “um dos piores desastres ambientais do planeta”.

A Caçadora e a Águia é um documentário que gira em torno de Aisholpan, uma menina nômade de 13 anos da Mongólia que se propõe a lutar para se tornar na primeira caçadora de águias das doze gerações da sua família Kazakh. Esta profissão e arte, considerada imprópria para mulheres, é a barreira e o obstáculo que Aisholpan lutará para ultrapassar durante a sua trajetória e treino. Através de uma cinematografia aérea espantosa e filmagens vérité intimas, o filme captura a sua jornada pessoal enquanto trata temas universais como o papel da formação da mulher, o mundo natural, a maturidade e a modernidade. Foi com este documentário que Otto Bell foi nomeado para os prêmios da British Academy Film Awards (BAFTA), no Reino Unido, e graças ao qual ainda recebeu como efeito dominó uma quantidade de prêmios hic et nunc por todo o mundo globalizado. A Academia Britânica de Cinema e Televisão foi fundada em 1947 como a Academia de Cinema Britânica, por David Lean, Alexander Korda, Carol Reed, Charles Laughton, Roger Manvell e outros. Em 1958, a Academia se fundiu com a Guild of Television Producers e Directors para formar The Society of Film and Television, que se tornou a Academia Britânica de Cinema e Televisão em 1976. A empresa afirma que o seu propósito de caridade é “apoiar, desenvolver e promover as formas de arte da imagem em movimento, através da identificação e recompensar a excelência, inspirar os profissionais e beneficiar o público”. Além de cerimônias de premiação, executa um programa durante o ano de eventos educacionais, incluindo exibições de filmes e noites de tributo. O grupo é apoiado por uma associação de cerca de 6.000 pessoas notáveis das indústrias de cinema, televisão e videogame. Os prêmios da Academia representam uma máscara teatral projetada pelo escultor norte-americano Mitzi Cunliffe, que foi encomendada pela Guild of Television Producers em 1955.

      Segundo a concepção antropológica de Van Gennep (2013) entre o mundo profano e o sagrado há incompatibilidade, a tal ponto que sua passagem não pode ser feita sem um estágio de mediação intermediário. Á medida que descemos na série das civilizações, sendo utilizada no sentido amplo, constatamos a maior predominância do mundo sagrado sobre o mundo profano, o qual, nas sociedades ditas menos evoluídas que reconhecemos, engloba praticamente tudo. Igualmente, as sociedades organizadas sobre bases mágico-religiosas, e a passagem de uma a outra assume a aparência da passagem especial marcada entre nós por determinados ritos, batismo, ordenação, etc.  Assim, o grupo totêmico constitui uma mesma unidade através das tribos da Austrália, e seus membros consideram-se irmãos, do mesmo modo que todos os padres católicos, seja qual for o país em que vivam. O caso das castas já é mais complexo porque à noção de parentesco acrescenta-se uma especificidade profissional. Se em todas as sociedades a noção de solidariedade sexual é claramente reduzida ao mínimo teórico, entre os semicivilizados desempenha considerável papel em consequência da separação dos sexos nas questões econômicas, políticas e sobretudo mágico-religiosas. A família constitui entre eles unidade fundamental em bases ora mais estreitas, ora mais largas do que ocorre entre nós, mas em todo caso são rigorosamente delimitadas.

Nascer, parir, caçar, habitar, etc., são representações sociais que se prendem ao sagrado pela maioria de aspectos sociais. Toa sociedade geral contém várias sociedades especiais, que são tanto mais autônomas e possuem contorno tanto mais definidos quanto menor o grau de civilização em que se encontra a sociedade geral. Esta divisão é encontrada em todos os Estados da Europa, de tal maneira que as sociedades leigas, de um lado, e as sociedades religiosas, de outro, ligam-se entre si separadamente por suas bases ancestrais. Assim também a nobreza através das nações e dos Estados sem levar em contra, ao menos em teoria, as fronteiras. Cada uma dessas categorias contém por sua vez categorias de menor amplitude, profissões e ofícios diversos. Para passar de uma delas a qualquer das outras, para passar de camponês a operário e mesmo de servente a pedreiro, é preciso satisfazer certas condições sociais que, entretanto, têm de comum assentarem só em uma base econômica ou intelectual. Em vez disso, para o indivíduo que em sua representação social é leigo, tornar-se sacerdote, ou inversamente, é preciso executar culturalmente cerimônias, isto é, atos de um gênero especial, ligados a uma certa tendência de sensibilidade e a determinada reorientação mental.           

            O Cazaquistão é um país bilíngue: o idioma cazaque, falado por 64,4% da população, tem o status de “língua de Estado”, enquanto o russo, que é falado por quase todos os cazaquistaneses, foi declarado o idioma oficial, e é usado frequentemente para os negócios. A década de 1990 foi marcada pela migração de boa parte dos russos e alemães do país, um processo que foi iniciado na década de 1970; este foi um fator importante na obtenção de uma maioria populacional pelos cazaques autóctones, assim como taxas de nascimento mais altas da parte deste povo singular, além da imigração de cazaques que viviam em países como China, Mongólia e Rússia. No início do século XXI, o Cazaquistão curiosamente se tornou uma nação com os maiores índices de “adoções internacionais”, despertando críticas no parlamento, devido a temores sobre a segurança e o tratamento das crianças no interpretados no exterior, e indagações sobre nível populacional do Cazaquistão; embora tenha área territorial cinco vezes maior do que a da França, o país tem densidade demográfica das mais baixas do ecúmeno.           

            O país hospedou politicamente uma grande variedade de grupos étnicos, com diversas religiões. A tolerância a outras sociedades tornou-se parte da cultura cazaque. A fundação de uma república independente, após a desintegração da União Soviética, provocou inúmeras mudanças em todos os aspectos das vidas dos habitantes do país; a religiosidade da população, parte essencial de qualquer identidade cultural, também passou por transformações dinâmicas. Durante o fim do século XX e o início do século XXI, o Cazaquistão experimentou um renascimento da língua cazaque, que vem retornando ao uso tanto na mídia globalizada como na sociedade em geral, em ramos tão diversos como o Direito e os negócios. Embora a medida tenha sido bem recebida pela etnia cazaque e por diversas organizações internacionais, como uma maneira de preservar a identidade e a cultura nacional, ela causou alguma preocupação entre os cazaquistaneses de origem russa, e até mesmo entre setores políticos da própria Rússia. O parlamento do país vem considerando a introdução do alfabeto cazaque, baseado no latino, para substituir o cirílico, atualmente em uso. Os motivos mais citados seriam as considerações culturais derivadas da natureza turcomana do idioma cazaque; outros idiomas turcomanos, como o turco e o uzbeque utilizam o alfabeto latino. No entanto, opositores da medida acreditam que a implementação do alfabeto no Cazaquistão envolveria altos gastos financeiros em traduções e substituição da literatura já existente.

            A cordilheira de Altai, localizada na Ásia Central, ocupa os territórios da Rússia, China, Mongólia e Cazaquistão. O nome advém do turco Alytau ou Altay, que significa “montanhas de Ouro”. A cordilheira é também reconhecida como Ek-tagh. No Altai, nascem os rios Irtysh, Obi e Ienissei. O término noroeste da cordilheira, mais elevado e nevado no Pico Belucka com seus 4.506 metros, na fronteira entre a Rússia e o Cazaquistão, situa-se em 52º N e entre 84º e 90º E, onde se funde com as Montanhas de Sayan a leste, e estende-se sentido sudeste, seguindo a fronteira entre China e Mongólia desde esse ponto até aproximadamente 45° N 99° E, perdendo altitude gradualmente e terminando no deserto de Gobi. A cordilheira de Altai é a mais alta cadeia de montanhas no sul da Sibéria. Vales profundos e grandes depressões abrem-se entre as montanhas, que se estendem em direção à Ásia Central e atravessam as fronteiras de quatro países: Rússia, Mongólia, China e Cazaquistão. As áreas montanhosas de Altai, a mais de 3.000 km terrestres de Moscou, figuram, junto com o lago Baikal, como as áreas turísticas mais populares da Sibéria. Nas fronteiras com a Mongólia e o Cazaquistão, encontram-se relíquias de antigas religiões xamânicas, na verdade, entendidas como um conjunto de práticas, saberes e rituais muito antigos, como danças e músicas que atravessam séculos, com o uso de substâncias psicoativas encontradas em ervas e palavras usadas para evocar espíritos aliados, pinturas rupestres pré-históricas e campos floridos. Para expandir a consciência, muitos grupos bebem, mastigam ou fumam ervas psicotrópicas. Na Sibéria, toma-se chá do cogumelo Amanita muscaria durante o solstício de inverno.

            Entre as pessoas nativas cazaques da cordilheira Altai, na Mongólia ocidental, caçar com águias douradas tem sido um modus vivendi por milhares de anos e meninos tradicionalmente (e meninas raramente) começam a aprender a caçar raposas e lebres com as aves em torno de treze anos de idade. Aisholpan, é filha do célebre caçador Han Gohadok. Com a mudança climática levando a invernos mais severos nas montanhas Altai, no entanto, a tradição aparentemente está morrendo lentamente. Como seu pastoreio seminômade torna-se cada vez mais difícil, muitos dos cazaques estão sendo forçados a se deslocar para as áreas urbanas e agora tem apenas cerca de 250 caçadores (falcoeiros) de águia. O lento declínio da tradição faz a história de Aisholpan mais pungente, como a primeira representante caçadora cazaquistanesa com águia e pode também ser a última. Mas sua experiência marcante é muito bem retratada no filme de Otto Bell. Aisholpan e seu pai, juntos representam o tema bisado no documentário que recentemente estreou no Festival de Sundance.  Nurgaiv diz que Aisholpan ajuda a atender às suas águias como uma criança muito jovem e mesmo assim ele sempre pode ver seu interesse. Logo, apesar da total falta de precedente para treinar uma filha, ele decidiu fazer de Aisholpan sua aprendiz. O filme dirigido pelo cineasta demonstra como os filhotes das águias são retiradas do ninho e vivem  com o falcoeiro/treinador como membro da família; a águia de Aisholpan, vive na casa da família e permanecerá ao seu lado sob seus cuidados e alimentação até que ela (a águia) atinja a maturidade, quando as águias são tradicionalmente soltas de volta ao seu habitat na natureza.

Toda tribo, quer faça, ou não, parte de uma unidade política mais vasta tendendo para a nação, possui uma individualidade, cuja rigidez pode ser bem compreendida pelo conhecimento das cidades gregas. Finalmente a todas estas formas de grupamento acrescenta-se mais uma, que não tem equivalente entre nós das gerações ou classe de idades. A vida individual, qualquer que seja o tipo de sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma idade e de uma ocupação a outra. Nos lugares em que as idades são separadas, e também as ocupações sociais, esta passagem é acompanhada por atos especiais, que, por exemplo, constituem, para os nossos ofícios, a aprendizagem, que entre os semicivilizados consistem em cerimônias, porque entre eles nenhum ato é absolutamente independente do sagrado. É o próprio ato de viver que exige as passagens sucessivas de uma sociedade espacial a outra e de uma situação social a outra, de tal modo que a vida individual consiste em uma sucessão de etapas, tendo por término e começo conjuntos da ordem de mesma natureza, a saber, nascimento, puberdade social, casamento, paternidade, progressão de classe, especialização de ocupação, morte.   

As eleições para os majilis em setembro de 2004 produziram uma câmara baixa dominada pelo partido Nur-Otan pró-governo cujo líder é o presidente Nazarbayev. Dois outros partidos considerados aliados do presidente, incluindo o bloco agrário-industrial da Agency of Industrial Sciences and Technology (AIST) e o partido Asar, fundado pela filha de Nazarbayev, venceram conquistando boa parte dos assentos. Dariga Nazarbayeva, filha de Nursultan Nazarbayev, que renunciou ao cargo de presidente do Cazaquistão após quase 30 anos no poder, foi escolhida para o cargo de presidente do Senado do país. A candidatura de Nazarbayeva, apresentada pelo presidente, Kassym-Jomart Tokayev, foi aprovada por unanimidade. – “Antes de mais nada, quero expressar com todo o meu coração a minha profunda gratidão aos senhores pela confiança que depositaram em mim”, afirmou Nazarbayeva após a escolha. A nova presidente acrescentou que é “plenamente consciente do papel do Parlamento na vida política e social do país, sobretudo neste momento crucial da sua história”.  

Os partidos políticos de oposição democrática que estavam registrados oficialmente e competiram nas eleições venceram apenas um único assento durante estas eleições, que, segundo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), ficou muito aquém dos padrões internacionais. Dia 4 de dezembro de 2005 Nursultan Nazarbayev foi reeleito em uma vitória esmagadora. A comissão eleitoral anunciou que o candidato havia conquistado mais de 90% dos votos. A OSCE concluiu que a eleição não atingiu os padrões internacionais, apesar de algumas melhorias na administração do processo de votação. A agência de notícias oficial do governo chinês, Xinhua, relatou que os observadores daquele país, responsáveis por supervisionar 25 postos de votação em Nursultan, consideraram a situação política havia sido conduzida de uma maneira oportuna “transparente e justa”. Os governos ocidentais não expressaram mais críticas. Em 17 de agosto de 2007, as eleições para a câmara baixa do foram realizadas, e a coligação governista Nur-Otan venceu os assentos disponíveis, com 88% dos votos. Nenhum dos partidos de oposição alcançou o mínimo de 7% necessário para assegurar um assento próprio, o que levou parte da mídia a questionar a competência e o carisma das lideranças. Nas eleições os partidos políticos de oposição fizeram, notadamente por sua vez, acusações de irregularidades na eleição no processo eleitoral.

O Cazaquistão quer manter viva esta tradição que o Ministério da Agricultura pretende popularizar. – “As aves de caça fazem parte da história do Cazaquistão. Tiveram durante milhares de anos um papel importante na vida e na cultura dos nômades”, disse à Agência EFE, é um serviço de notícias internacional criado em 1939 em Espanha. O vice-presidente da Comissão Florestal e de Fauna do Ministério da Agricultura, Nariman Zhunusov. A agência EFE, originada de Fabra, Febus e Faro, agência de notícias internacional espanhola é um serviço de comunicação de notícias internacional criado em 1939 em Espanha. É a quarta maior agência do mundo, primeira em espanhol e principal provedor de serviços para os meios de comunicação nos países de língua espanhola. – “Este tipo de caça representa uma atitude de respeito à natureza”,  acrescentou o representante do Ministério da Agricultura. – “A caça com águias é o tipo mais interessante e honesto da caça; sem o uso de armas de fogo ou outras técnicas modernas”, frisou Zhunusov.  O frio chegou ao coração do Cazaquistão, as estepes estão cobertas de manto espesso de neve e as águias reais voam às ordens dos cetreiros.

Durante uma competição de caça realizada neste fim de semana nos arredores da cidade de Almaty, no Cazaquistão, um flagrante da vida selvagem. Imagens mostram o ataque de um exemplar de “águia-dourada” (Aquila chrysaetos), pássaro também reconhecido como águia-real, a um coelho em meio à intensa geada de neve. A ave de rapina foi fotografada no momento em que sobrevoava a presa, capturada pelo pássaro de garras afiadas. Essa espécie habita grande parte do Hemisfério Norte, a metade deo  planeta localizada entre a linha do Equador (latitude 0º) e o Polo Norte. Pode definir também a metade da esfera celeste ao Norte do equador celeste. A palavra hemisfério significa literalmente a metáfora “metade de uma esfera”. Na Terra, o hemisfério Norte é composto pelos continentes: América do Norte, América Central, parte da África, boa parte da América do Sul, pela Europa e Ásia. Além da porção norte dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico e em totalidade o glacial ártico. No Hemisfério Norte ficam 69,72% das terras emersas e 90,94% da população do globo terrestre, sendo encontrada na Europa Ocidental, no Norte da África, e grande parte da América do Norte. Além de coelhos, a águia se alimenta de aranhas, morcegos, pássaros menores, ratos e répteis. 

            No documentário de Otto Bell,  A Caçadora e a Águia (The Eagle Huntress, 2016), a caçadora é Aisholpan Nurgaiv, uma menina de 13 anos que vive na Mongólia longínqua e quer tornar-se na primeira mulher caçadora de águias na família. Ela vive o ano letivo nos dormitórios da escola onde estuda e, aos fins de semana, desloca-se à sua tribo, nômade, onde concretiza com a ajuda do seu pai, Rys Nurgaiv, o seu sonho de treinar uma águia para praticar a caça, uma tradição tribal que passa de pais para filhos. A caça com águias reais é prática ancestral, vinda dos povos recoletores da Mongólia. Os caçadores usam águias treinadas como auxiliares para a caça de animais. É um estilo de vida milenar, e a ideia da mulher caçadora, a primeira numa tradição vivida pelo gênero masculino, não é bem vista pelas gerações mais antigas. No documentário, existe um registro etnográfico do cotidiano da família Nurgaiv e representação do sonho de uma menina de 13 anos na tradição da caça com águias. Essa documentação escolhe um caminho narrativo básico, aproveitando a fórmula moralizadora, reconhecida da heroína que concretiza o seu sonho contra tudo e todos, tudo isto numa mescla de uma trilha sonora épica, uma narrativa realizada por Daisy Riddley, e imagens naturais típica dos documentários do National Geographic. A tradição da caça de águia dourada é praticada por nômades da Ásia central, cazaque e kyrgiz, há milhares de anos.

            Todo mês de outubro, a cidade de Olgii sedia um dos eventos mais celebrados da Mongólia, o Festival da Águia. A cidade é o lar de pelo menos 4 grandes mesquitas. A cidade é conhecida por seus bordados e arte do Cazaquistão, música do Cazaquistão, e caça com águias . Todo mês de outubro, Ölgii recebe anualmente o Águia Festival de Ouro que mostra o antigo costume cazaque de caça águia. Era o centro do Islã na Mongólia antes expurgos religiosos na década de 1930 em que a mesquita foi destruída e o imã foi executado. Mongólia inicialmente tentou suprimir a língua ea cultura do Cazaquistão antes de criar Bayan-Ölgii Aimag em 1939, com Ölgii como a sede do governo. Grande parte do centro da cidade foi construída na década de 1950 a 1980. Ölgii desenvolveu menos do que o resto da Mongólia e não estava conectada por ferrovia ou estrada pavimentada devido à sua localização isolada e falta de recursos minerais. Com dois dias de duração o festival, reúne dezenas de caçadores, que viajam até 180 km a cavalo com a enorme ave equilibrada no braço para participar da competição. A competição é estabelecida pelo trio formado por águia, cavalo e homem disputa duas provas. Na primeira, a ave é solta no alto de uma montanha e tem de pousar no braço do seu dono. O segundo desafio, simula uma caçada: isto se dá sob a forma de repetição em que novamente, a águia é solta. Mas dessa vez o participante da competição no Festival de Caça com Águias, tem de agarrar uma pele de raposa arrastada pelo cavalo sob a destreza própria do dono.  Em ambas as provas, ganha o mais rápido. Os caçadores chamam tanto ou mais atenção que as águias.

Neste ano corrente, havia 47 inscritos, com idades variando entre largamente entre a faixa etária de 20 anos e 80 anos. Imponentes, cavalgam em marcha acelerada e trajam belas roupas, coloridas, vistosas e tipicamente adornadas. Vários usam sobretudo vistosos casacos feitos com peles de raposa, que constitui o principal alimento das águias caçadoras. Para viajar na companhia de sua ave, os competidores apoiam o braço num pedaço de pau seguro e equilibrado, encaixado na sela do cavalo e cobrem os olhos da águia com um capuz. O uso dessas aves para caça representa uma tradição de séculos entre os povos cazaques e, comparativamente, está mais preservada na Mongólia do que no próprio Cazaquistão. A espécie treinada usada é a águia dourada, cuja envergadura da asa pode chegar a 2,2 metros. Sua principal arma são as poderosas garras que matam a presa instantaneamente com sua destreza e força. O festival, que tem data móvel entre as primeiras semanas do mês de outubro, é realizado a 8 km do centro comercial, num descampado próximo a irradiante cordilheira de Altai. A organização, amadora, se resume a formação da equipe alojada em um caminhão de som para juízes e narradores e as pedras alinhadas no chão, demarcando um quadro de pensamento, representando um conjunto de práticas e saberes sociais onde ocorrerão as provas.

Bibliografia geral consultada.

LAPA, Rodrigues, Livro de Falcoaria de Pero Menino. Coimbra: Edição Imprensa da Universidade, 1931; ANDERSON, Perry, Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Porto: Edições Afrontamento, 1984; NICOLLE, David, The Mongol Warlords: Genghis Khan, Kublai Khan, Hulegu, Tamerlane. London: Editor Firebrand Books, 1990; RICH, David Alan, The Tsar`s Colonels: Professionalism, Strategy, and Subversion in Late Imperial Russia. Cambridge: Harvard University Press, 1998; CRESPO, Carlos, A Arte da Falcoaria. Lisboa: Edições Inapa, 1999; GEERTZ, Clifford, Mondo Globale, Mondi Locali. Cultura e Politica alla Fine del Ventesimo Secolo. Traduttore A. G. Michler. Bolonha: Editore Il Mulino, 1999; SECRET, François, I Cabbalisti Cristiani del Rinasciment. Malino: Editore Arkeios, 2001; BUNES, Miguel Ángel de, Los Barbarroja: Corsarios del Mediterráneo. Madri: Ediciones Aldebarán, 2004; ÁGOSTON, Gábor & MASTERS, Bruce (Editors), Encyclopedia of the Ottoman Empire. New York: Facts on File, 2009; THOMAS, Keith, O Homem e o Mundo Natural: Mudanças de Atitude em Relação às Plantas e aos Animais (1500-1800). São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2010; ELIADE, Mircea, O Sagrado e o Profano: A Essência das Religiões. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora WMF; Editora Martins Fontes, 2010; WILLERSLEV, Rane, “Percepções da Presa: Caça, Sedução e Metamorfose entre os Yukaghirs da Sibéria”. Tradução de Fabiano Campelo Bechelany. In: Anuário Antropológico. Brasília: Universidade de Brasília, 2012, volume 37, n° 2; 57-75; MAISONNAVE, Fabiano, “Caçadores e Suas Águias Estrelam Festival na Mongólia”. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/1/11/2012; GENNEP, Arnold van, Os Ritos de Passagem: Estudo Sistemático dos Ritos da Porta e da Soleira, da Hospitalidade, da Adoção, Gravidez e Parto, Nascimento, Infância, Puberdade, Iniciação, Coroação, Noivado, Casamento, Funerais, Estações, etc. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2013; MAMEDE FILHO, João, A Arte Milenar que Ensina Falcões a Prevenir Acidentes. Disponível em: https://www.terra.com.br/23/01/2016MATTOS, Jéssica Vaz de, Entre Literatura e História: Questões de Representação em Mongólia e O filho de mãe, de Bernardo Carvalho. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Letras. Centro de Letras e Comunicação Social. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2016; GIRALDIN, Maíra Machado, Resistência à Dessecação e Morfologia de Ovos de Odonata Neotropicais. Dissertação de Mestrado. Instituto de Ciências Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2020; Artigo: “Cazaquistão Realiza o Único Festival de Caça com Águias do Mundo”. Disponível em: https://noticias.r7.com/09/02/2018; Artigo: “Falconer-Trained Golden Eagles Soar above Kazakhstan`s Steppes”. In: Latin American Herald Tribune, 18 de novembro de 2020; entre outros.

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