quinta-feira, 25 de julho de 2019

Paulo Silvino - Humor & Comédia, Criação na Televisão Brasileira.


                                                                                                     Ubiracy de Souza Braga

                                           Morrer é fácil, difícil é fazer comédia”. Rubens Ewald Filho

         
          No surgimento do teatro, na Grécia a arte era representada, essencialmente, por duas máscaras: a máscara da tragédia e a máscara da comédia. Aristóteles, em sua Arte Poética, para diferenciar comédia de tragédia diz que enquanto esta última trata essencialmente de homens “superiores” (“heróis”), a comédia fala sobre os homens “inferiores”, pessoas comuns da polis. Isso pode ser comprovado através da divisão do trabalho social dos júris que analisavam os espetáculos durante os antigos festivais de Teatro. Ser escolhido como jurado de tragédia era a comprovação de nobreza e de representatividade na sociedade. Já a comissão formada pelo júri da comédia era de cinco membros sorteadas da plateia. A importância da comédia, inicialmente de sentido político, era proporcional à possibilidade democrática do uso de sátira a todo tipo lúdico de ideia. É difícil analisar, sociologicamente, o que faz uma pessoa rir ou o que é engraçado ou não. Uma característica reconhecida da comédia é que ela é uma diversão intensamente pessoal, ou seja, que é próprio e particular culturalmente de cada pessoa.
        Ocorre por volta de meados do séc. VI quando Pisistrato transferiu o antigo e rústico festival dionisíaco dos frutos, para o coração da cidade de Atenas. Com as Dionísias Urbanas, que tinham lugar no fim de março, o povo recebeu um magnífico festival popular em que podia cimentar seus interesses e exibir as glórias de seu Estado aos negociantes que visitavam a cidade. Elas eram consideradas tão sagradas, que violações menores eram punidas como sacrilégio. O Festival começava suntuosamente com uma procissão que escoltava uma antiga imagem de Dioniso, literalmente o “deus pai” do teatro, ao longo da estrada que conduzia à cidade de Eleutéria e regressava depois a Atenas à luz de tochas. A imagem era colocada no métier da orquestra do teatro, com rituais, assentos reservados aos sacerdotes do deus, com grande pompa. Uma das principais características da comédia é a constatação pública sobre o erro, o engano. O cômico está baseado no fato cultural ou político de um ou mais personagens serem enganados ao longo da peça. À medida em que o personagem vai sendo enganado e o equívoco aumentando, o público ri cada vez mais em seu processo de interação social.
           Em seu surgimento, ninguém, se não fosse constituído da cidadania estava a salvo de ser alvo das críticas populares da comédia: governantes, nobres e nem ao menos os deuses, como pode ser visto no ensaio: As Rãs, de Aristófanes (447 a. C. -385 a. C.). A comédia representa a utilidade social de humor nas artes cênicas. Também pode estar presente em um espetáculo, na história social da arte, ou em determinado gênero, na modernidade, com na sátira de um filme, que recorre intensivamente ao humor. De forma geral, comédia é o que é engraçado, que nos faz rir compulsivamente. Uma das principais características da comédia é o engano. Frequentemente, o cômico está baseado no fato social de um ou mais personagens serem enganados através de trocadilhos e gestos habituais ao longo de toda a peça. À medida que o personagem vai sendo enganado e que o equívoco vai aumentando, o público vai gozando cada vez mais. A estética moderna, a partir de Alexander Baumgarten, que introduziu pela primeira vez o termo estética, se construiu como uma tentativa de indagar a especificidade desse “outro saber” e, além disso, de fundar a sua autonomia ao lado do reconhecimento intelectual. Configurando a relação social entre eles, como aquela entre duas formas autônomas no interior do mesmo processo gnosiológico, ela deixava, na sombra o problema fundamental como deveria ser interrogado.   
Na modernidade a comédia encontra grande espaço no teatros como lugar praticado, devido a sua importância social e política enquanto forma de representação e de manifestação coletiva crítica em qualquer esfera: política, social, econômica. Encontra apoio merceológico no processo comunicacional de consumo de massa e é extremamente apreciada por grande parte do público consumidor da chamada indústria cultural ou de entretenimento. Assim, atualmente, não há grande distinção entre a importância artística da tragédia, ideologicamente reconhecida simplesmente como drama ou da comédia. Em defesa do gênero, o crítico de artes e cinema Rubens Ewald Filho lembra o ditado: - “Morrer é fácil, difícil é fazer comédia”. De fato, entre os artistas, reconhece-se que para fazer rir é necessário um ritmo, reconhecido como timing, especial que não é dominado tecnicamente por todos os humoristas. Uma característica reconhecida da comédia é que ela é uma representação social da diversão intensamente coletiva, mas pessoal. Para rir de um fato social ou político é necessário reconhecer: revendo, como na leitura, tornando a conhecer, como no trabalho incessante do aprendizado da escrita, tomando os fatos culturais subjetivamente como parte de determinado valor humano - os homens comuns - a tal ponto que ele deixa de ser mitológico, ameaçador e passa a ser banal, corriqueiro, usual e pode-se, portanto rir intensivamente dele. As pessoas com frequência não acham as mesmas coisas engraçadas, mas quando fazem isso pode ajudar a criar laços poderosos de afeto.    
                                                  

  Paulo Ricardo Campos Silvino esteve desde jovem familiarizado com o meio artístico. Filho do humorista Silvério Silvino Neto e da professora de música e pianista Noêmia Campos Naja Silvino, cresceu em meio aos artistas que, anos mais tarde, viriam a se tornar seus colegas de profissão. Pisou num palco pela primeira vez aos nove anos de idade, quando se atreveu a soprar as falas para um ator de uma peça que o pai participava. Na adolescência, ele se apresentava como crooner de um conjunto de rock, acompanhado por músicos como Eumir Deodato (acordeom), Durval Ferreira (guitarra) e Fernando Costa (bateria). Com o nome de Dickson Savana, em 1958, apresentou-se junto com Erasmo Carlos e Eumir Deodato no extraordinário Clube do Rock, programa comandado pelo apresentador Carlos Imperial na TV Tupi. No ano seguinte, agora sob a alcunha de Silvino Júnior, compôs e cantou a maioria das canções do disco da chamada Nova Geração em Ritmo de Samba, gravado com os amigos Altamiro Carrilho, Durval Ferreira e Eumir Deodato. Até o início dos anos 1960, gravou com vários outros artistas, como o cantor Sílvio César e os conjuntos Tamba Trio e Os Cariocas.

Em 1962, incentivado pelo amigo Gláucio Gil, Paulo Silvino escreveu um espetáculo teatral baseado na letra de Anjinho Bossa Nova, música que havia composto e gravado naquele ano com Os Cariocas. Com um elenco formado por amigos de infância e cenários emprestados de um espetáculo de Dercy Gonçalves, a peça foi um sucesso e marcou sua estreia como ator. Em 1963, 'Anjinho Bossa Nova' ganhou montagem profissional produzida por Fernando D’Ávilla. Elogiado pela crítica como revelação do teatro, Paulo Silvino atuou ao lado de Augusto César Vannucci e Brigitte Blair. Paulo Silvino acha que entrou na televisão por acaso, apenas porque tinha facilidade com humor e não se acanhava diante das câmeras. - “Ser comediante nasceu por acaso. Talvez seja pela minha desfaçatez, porque eu nunca tive inibição de máquina. Tenho tranquilidade com a câmera e tive vantagem em televisão por isso. O riso dos cinegrafistas é o meu termômetro”. Contudo, a carreira na televisão começou na TV Rio, em 1965, como apresentador do programa K Louros e Morenos, uma criação autoral em que os participantes escolhiam o que cantar, mas “só ficavam sabendo como seria a apresentação na hora, por sorteio”. O calouro podia ser obrigado a cantar sua versão para Chega de Saudade, de João Gilberto, vestido de urso enquanto subia e descia a escada.

Em setembro de 1966, Paulo Silvino fez sua estreia na TV Globo, apresentando o “Canal 0”, humorístico de meia-hora de duração que satirizava a programação das emissoras de TV. No início de 1967, a atração passou a se chamar “TV0-Canal 0”. Em abril daquele ano, a emissora estreou o “TV1-Canal ½”, programa similar, apresentado por Agildo Ribeiro. Em julho, houve a fusão dos dois programas, e os dois comediantes passaram a apresentar juntos o “TV0-TV1”. Em 1967, Paulo Silvino foi para a TV Excelsior, onde trabalhou no humorístico “Hotel do Porteiro Doido”, ao lado de comediantes como Castrinho, Consuelo Leandro, Renato Côrte Real, Tião Macalé e Otelo Zeloni. Em 1968, voltou à Globo e, durante três meses, apresentou o programa de variedades “Porque Hoje é Sábado”, ao lado de Lúcio Mauro, Grande Otelo e Dircinha Batista. No ano seguinte, integrou o elenco da primeira versão do humorístico “Balança, Mas Não Cai”, com direção de Augusto César Vannucci. Ao Memória Globo ele revela que “Balança Mais Não Cai”, de que era apresentador, foi um de seus favoritos.

Na década de 1970, o comediante trabalhou nos programas “Faça Humor, Não Faça Guerra” (1970), “Uau, a Companhia” (1972), “Satiricom” (1973) e “Planeta dos Homens” (1976). Deixou sua marca artística como intérprete de personagens lunáticos e criou bordões absurdos como “Ah, eu preciso tanto!”, “Eu gosto muito dessas coisas!”, “Guenta! Ele guenta!”, “Ah, aí tem!” e “Dá uma pegadinha!”. O humorista relembra: “O Satiricom era a sátira da comunicação. Depois, tivemos o Satiricom, a “sátira do comportamento humano”; depois, houve aquele filme o “Planeta dos Macacos”, e o Max Nunes veio com a inversão da ideia: “Agora, o terceiro ano vai ser o Satiricom, a sátira do Planeta dos Homens”. Mas o José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) não quis mais continuar com Satiricom no nome e o programa virou só “Planeta dos Homens”. Em 1977, Paulo Silvino fez uma participação em um episódio do “Sítio do Picapau Amarelo” como Merlin, o mago da lenda do Rei Arthur. No ano seguinte, trabalhou na novela “O Pulo do Gato”, escrita por Bráulio Pedroso e dirigida por Jardel Mello, fazendo a chamada para as cenas dos próximos capítulos com uma narração ao estilo radiofônico. No final da novela, fez uma participação representando a figura do Destino.

Entre 1981 e 1987, trabalhou no programa “Viva o Gordo” (1981), estrelado por Jô Soares. Em 1983, fez parte do humorístico “A Festa é Nossa”, dirigido por Lúcio Mauro, e ganhou o papel do Louco Vampiro em “O Inspetor Geral”, episódio do Caso Especial escrito por Doc Comparato e Bernardo Carvalho, com Lucélia Santos, Carlos Vereza, Gracindo Jr., José Vasconcellos e Maurício do Valle. Com a saída de Jô Soares da TV Globo em 1989, Paulo Silvino trabalhou durante um breve período como redator do “Domingão do Faustão”. Em 1990, foi para o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) para apresentar o “Condomínio Brasil, programa escrito por Max Nunes que, no entanto, não chegou a estrear. O comediante passou, então, a integrar o elenco de “A Praça é Nossa” e da “Escolinha do Golias”. Em 1993, voltou à TV Globo e trabalhou na “Escolinha do Professor Raimundo”. Em 1995, foi para TV Record, onde participou da “Escolinha do Barulho”. Em 1997, de volta à TV Globo, fez uma breve participação na novela “Zazá”, de Lauro César Muniz. Em 1999, passou a atuar no “Zorra Total”, humorístico dirigido por Maurício Sherman. Entre os vários tipos de personagens que já interpretou no programa, um dos mais famosos era Severino, porteiro da Globo que estava “sempre em dificuldades por servir de quebra-galhos para um diretor”. Um dos bordões do personagem – “Meu negócio é conferir a cara e o crachá” – fez tanto sucesso que virou símbolo de uma campanha interna da emissora sobre a importância do uso do crachá pelos funcionários. Outros personagens de sucesso foram Lobichomen e Teseu.

Em 2015, o “Zorra Total” passou por uma reformulação, transformando-se em um humorístico que destaca, entre outros elementos, a paródia musical. Nessa nova fase, o humorístico passou a ser escrito por Marcius Melhem, Celso Taddei e Gabriela Amaral. No cinema, Paulo Silvino trabalhou tanto como ator quanto como roteirista. Em muitos casos, cumpriu as duas funções: como em “Ascensão e Queda de um Paquera” (1970), “Café na Cama” (1973), “Com a Cama na Cabeça” (1972), “Um Varão Entre as Mulheres” (1974), “O Padre que Queria Pecar” (1975), “A Mulata que Queria Pecar” (1977), “Assim Era a Pornochanchada” (1978), “Os Melhores Momentos da Pornochanchada” (1978) e “Um Marciano em Minha Cama” (1981). Também fazem parte de sua carreira no cinema atuações em “Sherlock de Araque” (1957), “Minha Sogra é da Polícia” (1958), “O Rei da Pilantragem” (1968) e “Um Edifício Chamado 200” (1973), também atuou nos filmes “Rádio Nacional” (2011), “Muita Calma Nessa Hora 2” (2013) e “Até que a Sorte nos Separe 3” (2015). Paulo Silvino permaneceu no elenco de “Zorra”, nome do programa após a reformulação, e esteve no ar até 2020.

A história técnica e social da televisão começou no início do século XX por meio de experimentos realizados por diferentes inventores sociais. Seu desenvolvimento se deu graças a uma série de outros avanços tecnológicos que se estendiam desde o século XIX. Do ponto de vista técnico-metodológico um transistor pode ter apenas um tipo de portador de carga, em um transistor de efeito de campo, ou pode ter dois tipos de portadores de carga em dispositivos de transistor de junção bipolar. Comparado com válvula termiônica, eles são menores e requerem menos energia para operar. Certos tubos de vácuo têm vantagens sobre os transistores em frequências de operação muito altas ou altas tensões operacionais. alguns transistores são feitos para especificações padronizadas por vários fabricantes. O tríodo termiônico é um tubo a vácuo inventado em 1906, que possibilitou a amplificação da tecnologia de rádio e a telefonia típica de longa distância. O tríodo, no entanto, era um dispositivo frágil que consumia uma quantidade substancial de energia. Em 1909, o físico William Eccles (1875-1966) descobriu o oscilador de diodo de cristal. O físico Julius Edgar Lilienfeld depositou uma patente para um transistor de efeito de campo (FET) no Canadá em 1925, que foi planejado para ser um substituto de estado sólido para o tríodo. O físico também apresentou patentes idênticas nos Estados Unidos da América (EUA) em 1926 e 1928. No entanto, não publicou nenhum artigo sobre seus dispositivos técnicos e sociais, nem suas patentes citam exemplos específicos de algum protótipo funcional.

Como a produção de materiais semicondutores de alta qualidade ainda estava caminhando a décadas de distância, as ideias de amplificadores de estado sólido de Lilienfeld não teriam encontrado utilidade de uso nas décadas de 1920 e 1930, mesmo se tal dispositivo tivesse sido construído. Em 1934, o inventor alemão Oskar Heil patenteou um dispositivo similar na Europa. Oskar Heil (1908-1994) foi um engenheiro elétrico e inventor alemão. Ele estudou física, química, matemática e música na Universidade Georg-August de Göttingen e obteve seu doutorado em 1933, por seu trabalho em espectroscopia molecular. Na universidade Oskar Heil conheceu Agnesa Arsenjewa (1901-1991), uma promissora jovem física russa que também obteve seu doutorado na mesma universidade. Eles se casaram em Leningrado, na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 1934. Juntos eles se mudaram para o Reino Unido para trabalhar no Laboratório Cavendish, da Universidade de Cambridge. Durante uma viagem à Itália, eles co-escreveram um artigo pioneiro sobre a geração de micro-ondas que foi publicado na Alemanha no Zeitschrift für Physik em 1935. Agnesa posteriormente retornou à Rússia para prosseguir trabalhando no Instituto Físico-Químico de Leningrado com o marido. Ele retornou ao Reino Unido; Agnesa, trabalhando no que se tornou assunto sensível, possivelmente não teve permissão para sair. De volta à Grã-Bretanha, Heil trabalhou para a Standard Telephones and Cables.

De 17 de novembro de 1947 a 23 de dezembro de 1947, John Bardeen e Walter Brattain da Bell Labs da AT&T em Murray Hill, Nova Jersey, nos Estados Unidos, realizaram experimentos e observaram quando dois pontos de ouro eram aplicados a um cristal de germânio, um sinal foi produzido com a potência de saída maior que a entrada. O líder do Grupo de Física do Estado Sólido, William Shockley, viu o potencial nos meses subsequentes trabalhando para ampliar o reconhecimento sobre semicondutores. O termo transistor foi cunhado por John Robinson Pierce como uma contração do termo transresistência. De acordo com Lillian Hoddeson e Vicki Daitch, autores de uma biografia de John Bardeen, Shockley propôs que a primeira patente do Bell Labs para um transistor deveria ser baseada no efeito de campo e que ele fosse nomeado como o inventor. Tendo desenterrado as patentes de Lilienfeld que entraram na obscuridade alguns anos antes, os advogados da Bell Labs desaconselharam a proposta de Shockley porque a ideia de um “transistor de efeito de campo” que usasse um campo elétrico como “grade” não era nova. Em vez disso, o que Bardeen, Brattain e Shockley inventaram em 1947 foi o primeiro transistor de contato pontual. Em reconhecimento a essa conquista científica, William Shockley, John Bardeen e Brattain receberam conjuntamente o Prêmio Nobel de Física de 1956 representando a invenção social “por suas pesquisas sobre semicondutores e sua descoberta do efeito do transistor”.

Em 1948, o transistor de “ponto de contato” foi inventado independentemente pelos físicos alemães Herbert Mataré e Heinrich Welker enquanto trabalhavam na Compagnie des Freins et Signaux, uma subsidiária da Westinghouse localizada em Paris. Mataré tinha experiência anterior no desenvolvimento de retificadores de cristal de silício e germânio no esforço de radar alemão durante a 2ª guerra mundial (1939-1945). Usando esse conhecimento, ele começou a pesquisar o fenômeno da “interferência” em 1947. Em junho de 1948, testemunhando correntes fluindo através de pontos de contato, Mataré produziu resultados consistentes usando amostras de germânio produzidas por Welker, semelhante ao que Bardeen e Walter Brattain haviam realizado antes, em dezembro de 1947. Percebendo que os cientistas da Bell Labs já haviam inventado o transistor antes deles, a empresa colocou seu “transístor” em produção para uso na rede de telefonia da França. Os primeiros transistores de junção bipolar foram inventados por William Shockley, da Bell Labs, que solicitou a patente em 26 de junho de 1948. Em 12 de abril de 1950, os químicos Gordon Teal (1907-2003) e Morgan Sparks (1916-2008), da Bell Labs, produziram com sucesso uma junção NPN bipolar que amplificava o transistor de germânio. A Bell Labs anunciou a descoberta deste novo transistor “sanduíche” em um comunicado de imprensa em 4 de julho de 1951. A televisão na Turquia foi introduzida em 1964 pelo provedor de mídia do governo TRT. O primeiro canal de televisão turco, ITU TV, foi lançado em 1952. 

A primeira televisão nacional é o TRT 1. A televisão colorida foi introduzida em 1981. Naquela época o único canal com o nome de TRT 1, e transmitia em vários momentos da linha de dados. O aparelho televisor em sua forma original é ainda interação mais popular, envolve a transmissão de som e imagens por ondas de radiofrequência (RF), que são captadas pelo equipamento. Neste sentido, pode ser considerada uma evolução técnica real do rádio. Em 1923 Vladimir Zworykin registra a patente do tubo iconoscópico, para a transmissão de imagens. Este dispositivo foi o precursor das câmeras televisivas. O primeiro sistema semimecânico de televisor analógico foi demonstrado por John Logie Baird em 26 de janeiro de 1926, em Londres e dois anos depois, em fevereiro de 1928, imagens em movimento foram transmitidas por Baird de Londres para Nova Iorque. Esse sistema era composto de um disco giratório perfurado, no qual luzes de néon se ascendiam por detrás, respondendo ao sinal da estação que capturava as imagens de um disco original idêntico. Os ruídos de comunicação provocados dificultavam a emissão sonora, mas o aparelho reproduzia imagens em 32 linhas de ResoluçãoIsto quer dizer que o significado do  termo se aplica igualmente a imagens digitais, imagens em filme e outros tipos técnicos de uso de imagem. A resolução de imagem pode ser medida de várias formas. Para o que nos interessa, podemos dizer que resoluções mais altas significam mais detalhe na imagem. As resoluções de lentes fotográficas e filmes são citadas como pares de linhas por mm.




O primeiro serviço de alta definição apareceu na Alemanha em março de 1935. Uma das primeiras grandes transmissões televisivas foi dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936. O uso do televisor aumentou enormemente depois da 2ª guerra mundial (1940-1945) devido aos avanços tecnológicos surgidos com as necessidades da guerra e à renda adicional disponível. A primeira transmissão em cores ocorreu comercialmente em 1954, na rede norte-americana National Broadcasting Company (NBC). Um ano antes o governo dos Estados Unidos da América (EUA) aprovou o sistema de transmissão em cores proposto pela rede Columbia Broadcasting System (CBS), mas quando a Radio Corporation of America (RCA) apresentou um novo sistema que não exigia alterações nos aparelhos antigos que consolidou a reprodução em preto e branco, a Columbia Broadcasting System abandonou sua proposta em favor da nova. Em 1960 a Sony Group Corporation introduziu os televisores com a inovação dos transistores. O satélite Telstar transmitia os sinais através do oceano Atlântico. A miniaturização chegou em 1979 quando a Matsushita registrou a patente do televisor de “bolso” com tela plana.
A história da televisão no Brasil tem início comercialmente em 18 de setembro de 1950, quando foi inaugurada a TV Tupi em São Paulo, com equipamentos trazidos por Assis Chateaubriand (cf. Morais, 1994), fundando assim o primeiro canal de televisão no país. Quatro meses depois, em 20 de janeiro de 1951, entra no ar a TV Tupi Rio de Janeiro. Desde então a televisão desenvolveu-se comercialmente no país representando um fator importante na cultura popular da sociedade brasileira. Em 1955 é inaugurada a TV Rio, aliando-se à TV Record, inaugurada em 1953, às Emissoras Unidas. Em agosto de 1957 iniciam-se as transmissões entre cidades, com um link montado entre a TV Rio e a TV Record, ligando o eixo industrial concentrado nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, com a transmissão do Grande Prêmio Brasil de Turfe, direto do Hipódromo da Gávea no Rio de Janeiro. Em 1960 é inaugurada a primeira TV Excelsior em São Paulo, a segunda viria em 1963 no Rio de Janeiro. As duas saíram de funcionamento por decisão jurídico-política-militar em 1970. Em 1959 surge a TV Continental no Rio, com o videotape, mas ela seria mormente cassada pelo regime militar em 1972.
Paulo Silvino era um dos poucos e raros humoristas que conseguia ter brilho próprio além dos magnânimos Chico Anysio, Jô Soares, Agildo Ribeiro e Os Trapalhões. Era diferente deles – era o mais ousado, quem mais ficava perto de cruzar a linha do incorreto, ainda mais naqueles tempos bicudos de censura, quando ser incorreto era ser subversivo – quer dizer, ser incorreto era demonstrar claramente que se era contra a ditadura. Paulo Silvino era o rei dos bordões: “passinho pra frente, passinho pra trás”, “dandá pra ganhá tentém”, “dá uma pegadinha”, “nas coxinhas”, “ai, como era grande”, “guenta, ele guenta”. O mais reconhecido é o “cara, crachá”. O porteiro Severino, do Zorra Total, foi seu último personagem de enorme sucesso. Mais do que isso, pois demonstrava-se um comediante completo. Confirmava a essência do humor para Chico Anysio: “não existe humor velho ou novo, existe engraçado ou sem graça”.
No dia 10 de agosto de 1972, é inaugurada a Rede Amazônica, em Manaus, com seu sinal em cores, sendo uma das pioneiras com o uso da tecnologia no país. Em abril de 1977 foi cassada a TV Rio. Em 16 de julho de 1980, foi fechada pelo governo federal a Rede Tupi, emissoras pioneiras da TV no Brasil, no ar desde a década de 1950. No dia 19 de agosto de 1981, Silvio Santos unificou suas emissoras, fundando o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Em 5 de junho de 1983, foi fundada no Rio de Janeiro, a Rede Manchete composta de canais no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e com representação em Brasília. Em março de 1985, o Brasil começou a operar com o seu primeiro satélite, o sistema Brasil-Sat. Em 1987 voltou a funcionar a TV Rio, que mais tarde seria vendida à Igreja Universal. Em 9 de novembro de 1989, a TV Record de São Paulo foi vendida para o milionário Bispo Edir Macedo, iniciando então a Rede Record de Televisão. A primeira TV por Assinatura no Brasil surgiu simultaneamente, em 1990, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, com o sistema de Serviço de Distribuição Multiponto Multicanal, que representa tecnologia de comunicação sem fio, usado para redes de “banda larga”, ou, mais comumente, como um método alternativo de recepção de programação de redes televisão a cabo.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1939, Paulo Silvino cresceu nos bastidores do  rádio e do teatro, levado sempre pelo pai, mentor e comediante Silvério Silvino Neto, nascido em São Paulo, em 21 de julho de 1913 e faleceu no Rio de Janeiro, 12 de junho de 1991. Foi um ator, cantor, compositor e radialista. Pai do comediante Paulo Silvino e filho de Ernesto e Leonor Dutra Silvino, estudou no Ginásio do Estado, terminando o secundário aos 17 anos, em 1930. No ano seguinte, estreou na Rádio Educadora Paulista cantando tangos, sob o pseudônimo de Pablo González, apresentando-se ipso facto noutras emissoras paulistas. Em 1932, dirigiu seu repertório para a música nacional por sugestão de Marcelo Tupinambá, dando início também na carreira de compositor. Sua primeira composição a ser gravada foi a marcha Goodbye, meu bem, por Raquel de Freitas na Arte-Fone. Em 1934, cantou com as orquestras de Osvaldo Borba, Gaó, Martínez Grau e Eduardo Patané, e formou com Alvarenga e Ranchinho o trio Mosqueteiros da Garoa. Participou do filme Fazendo Fitas, de Vittorio Capellaro em 1935, junto de Cândido Botelho, Alzirinha Camargo, Januário de Oliveira e outros. Participou de mais seis filmes. Deixou sua carreira de cantor romântico em 1936, transferindo-se para o Rio de Janeiro, e no ano seguinte, entrou em contato com Oduvaldo Cozzi, diretor da Rádio Nacional. Este o aconselhou a deixar a carreira de cantor e se dedicar ao humorismo. Estreou como comediante em janeiro de 1938 na Rádio Nacional, imitando Arnaldo Pescuma, Carlos Galhardo e Lamartine Babo, fazendo sucesso.

No mesmo ano, Orlando Silva gravou com êxito na RCA Victor sua valsa-canção Uma saudade a mais, uma esperança a menos. Em 1938, casou-se com Naja Siqueira Campos, com quem teve um filho, Paulo Ricardo Campos Silvino, nascido seis dias depois de seu aniversário, no ano seguinte. Conquistou grande popularidade interpretando a personagem Pimpinela, com a qual gravou alguns discos pela RCA Victor e estreou programas de rádio: A pensão da Pimpinela (no ar de 1940 a 1942), Aventuras da Pimpinela (até 1944) e, a seguir, Pimpinela, Anestésio e o telefone. Findando-se a ditadura getulista do Estado Novo (1937-45), criou um programa chamado Futebol político, no qual imitava com perfeição Getúlio Vargas, Ademar de Barros e outros políticos. Seu samba-canção Adeus, também chamado Cinco letras que choram, foi gravado por Francisco Alves na Odeon, em 1947. A música fez grande sucesso, tornando-se um clássico da Música Popular Brasileira. Participou com Dercy Gonçalves da revista Fogo no pandeiro, em 1945, voltando a atuar com ela dois anos depois, em Confete na boca. Participou também das revistas Passo da girafa, com Mara Rúbia, e A borracha é nossa! com Eros Volúsia, em 1949. Em 1950, candidatou-se vereador pelo Rio de Janeiro e, depois de uma campanha eleitoral basicamente humorística, foi eleito como o mais votado. No ano seguinte, gravou pelo selo Carnaval, as marchas Mão boba, de Carvalhinho e Marino Pinto, e Costureira, de Luís Soberano, Jorge Abdala e Airton Amorim. Retornou ao rádio em 1953, atuando na Rádio Mayrink Veiga até 1956. Nesse ano, musicou o poema Meus oito anos, do poeta romântico Casimiro de Abreu, dando-lhe a forma de tango, que foi gravado no mesmo ano por Carlos Galhardo na RCA Victor. Também criou uma melodia para o poema Ser mãe de Coelho Neto, gravada por Jorge Goulart na Mocambo, em 1962. Passou a se apresentar esporadicamente no rádio e na televisão. Trabalhando como fiscal do Instituto Brasileiro do Café, continuou compondo. Morreu no Rio aos 77 anos.

Filho de Silvino Netto e Naja Silvino, Paulo Ricardo Campos Silvino não tardou a despontar para a carreira artística. Iniciou a carreira no cinema em 1957, atuando no filme Sherlock de Araque, onde aparece como um cantor de rock and roll, usando o pseudônimo Dixon Savannah. Ao lado de Carlos Imperial no ano seguinte, atuou no filme Minha Sogra é da Polícia, que também teve a participação de Imperial, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Cauby Peixoto. Ao lado de músicos notáveis como Altamiro Carrilho, Durval Ferreira e Eumir Deodato, lançou o Long Play “Nova Geração em Ritmo de Samba”, compondo e interpretando com sua voz abaritonada a maioria das canções, com o pseudônimo Silvino Júnior. Curiosamente escreveu livros eróticos com o pseudônimo “Brigitte Bijou”. Durante as décadas de 1960 e 1970 ampliou sua produção musical e teatral, como escritor e ator no teatro e cinema. Passa pelas emissoras de seu tempo: TV Tupi, TV Continental, TV Rio e TV Excelsior. 

Além de reconhecer a importância de quem conta a piada na frente da televisão,  até descobrir que muitos bordões que ficaram eternizados nasceram de uma mesma mente criativa, como é o caso de Max Nunes, como já se disse alhures, com suas duas décadas dedicadas ao trabalho de fazer rir, criador de um dos esquetes mais hilários da história da televisão: O Primo Rico e o Primo Pobre. Em determinada hora precisamos ser convidados a nos retirar da sala de leitura da biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil, por pura incapacidade de conter o riso. Citando o quadro de humor do porteiro Severino do programa Zorra Total, que tem sua função básica de conferir cara “crachá, cara crachá”, por diversas vezes Severino cisma que a foto no crachá do diretor é a de Vossa Excelência Max Nunes, uma homenagem mais do que merecida a um dos roteiristas do humorístico Viva o Gordo. Mas o destino de quem escreve nem sempre é o de ficar por trás das câmeras, o pessoal do quadro Casseta e Planeta, por exemplo, eles eram figuras demais para ficar apenas no cargo de mentor intelectual da gozação. Foram mais de vinte anos assinando sucessos como TV Pirata e Doris para Maiores, quando arriscaram um voo mais alto, num dos programas humorísticos originais da TV. Um lado pouco reconhecido de Paulo Silvino é que ele tinha uma forte relação empírica e atoral com a música popular brasileira. Esse talento foi descoberto quando fez aulas com a mãe, a pianista e professora Noêmia Campos Silvino.

        Quando era adolescente, ele virou crooner de um conjunto de rock. Nos anos 1950, Paulo Silvino encarnou um tipo pouco lembrado, Dickson Savana, cantor de rock que entrou na onda da revolução mundial causada por  Elvis Presley em 1956. Veio a Bossa Nova em 1958 e, a partir dela, o sambalanço da década de 1960. Foi nesse balanço carioca que o artista se transformou em Silvino Junior, gravando já em 1960 o raríssimo e pouco conhecido álbum “Nova geração em ritmo de samba”. Mas foi a carreira de humorista que o projetou nacionalmente. Iniciou sua trajetória no rádio e, nos anos 1960, quando foi para a TV Rio de Janeiro. Apesar do reclame “Severino” ser seu personagem mais popular, Paulo Silvino fez memoráveis parcerias com Jô Soares, em programas de TV. Estreou na TV Globo em 1967, em TV Ó – Canal Zero e ganha prêmios como representa o melhor comediante de televisão do ano.  
Desde então, apresentou e foi destaque em diversos programas de humor da TV Globo: Faça Humor, Não Faça Guerra, caracterizado como o primeiro programa de humor moderno da TV brasileira, transformando-se num marco com suas glosas e piadas curtas e cortes secos, Satiricom, contava com a participação fixa de Agildo Ribeiro, Paulo Silvino, Jô Soares, Renato Corte Real e Luiz Carlos Miele. Girava em torno de sátiras aos mais variados meios e processos sociais de comunicação, que historicamente se alongava desde a Idade da Pedra, da atividade humana com domínio e fabricação em pedra reconhecido como o período paleolítico, finalizado com a Revolução Agrícola ocorrida há aproximadamente 10 mil anos, como consta da etnologia produzida pelas pesquisas de Darcy Ribeiro. A originalidade do rádio, da escrita, da fala, da música, além, claro, da própria televisão, é satirizada e parodiada, com o Planeta dos Homens, Balança Mas Não Cai, Viva o Gordo e Brasil Pandeiro. Os artistas envolvidos no processo de trabalho artístico usavam o humor como formas de críticas estéticas, políticas e sociais e psicológicas de comportamento, essencialmente em: Satiricom (1973), Planeta dos Homens (1976), apresentando quadros de humor baseados em sátira de costumes, crítica social e paródias de programas de rádio e televisão. Neste aspecto Viva o Gordo (1981) é o primeiro programa dirigido  por Jô Soares na rede Globo de televisão que ironizava a política e os costumes do país.
Vejamos resumidamente o conteúdo de sentido sociológico-humorístico dos refereidos programa televisivos: i) Balança Mas não Cai, foi um programa humorístico criado por Max Nunes e Paulo Gracindo na Rádio Nacional do Rio de Janeiro na década de 1950 e permaneceu até 1967, sendo ancorado por Milton Franco, que apresentava quadros humorísticos, supostamente passados nos apartamentos de um edifício residencial fictício, onde moravam as personagens. O sucesso comercial do programa fez com que seu tírulo se tornasse apelido de um edifício (real) superpopuloso no Centro do Rio de Janeiro e de outro em Belo Horizonte. Na televisão o programa estreou na Rede Globo em 16 de setembro de 1968, exibido nas segundas-feiras à noite, permanecendo no ar até dezembro de 1971. Inicialmente, era apresentado ao vivo e tinha como apresentador Augusto César Vannucci. O programa tornou-se líder de audiência ao reeditar personagens queridos do público no meio audiovisual. Em 1972, o humorístico possou a ser apresentado na TV Tupi e só retoenaria para a Globo em 1982, nos domingos à tarde, com apresentação de Paulo Silvino. No ano seguinte o programa foi cancelado; ii) Planeta dos Homens foi um programa humorístico produzido pela Rede Globo e exibido semanalmente de 1976 a 1982 às 21: 00 horas. A abertura de Planeta dos Homens tornou-se clássica, mostrando uma mulher (Wilma Dias) saindo de uam banana quando um macaco a abria. Inicialmente , ela aprecia  de biquini, mas a censura do governo militar fez a abertura ser refeita com um comportado maiô”. 
O diretor Paulo Araujo é reconhecido do público por suas participações em novelas de sucesso como Irmãos Coragem (1970-1971) e o Homem que Deve Morrer (1971-1972), ambas de Janete Clair e, principalmente, por causa do seriado A Grande Família (2001-2014), em 14 temporadas e 485 episódios, no qual interpretou Agostinho, o genro. Os macacos Sócrates e Charles que apreciam no programa eram feitos por Orival Pessini, com máscaras especiais de sua propriedade. As máscaras de Pessini são feitas de latex e argola. O ator depois continuaria seu trabalho com novos personagens e outras máscaras, em outros programas humorísticos e infantis, sendo desses os amis famosos Patropi, Ranulfo Pereira e Fofão, um personagem fictício dos extintos programas de televisão, infantis brasileiros Balão Mágico e TV Fofão. Interpetado pelo ator e humorista Persini que faleceu no dia 14 de outubro de 2016, tornou-se bastante popular entre as crianças brasileiras nos anos 1980, chegando a ter seu próprio programa, além de dois discos de vinil, bonecos e diversos produtos licenciados; ii) V iva o Gordo,  foi um programa de televisão humorístico exibido pela Rede Globo na década de 1980, com apresentação de Jô Soares e participação de convidados. Composto por esquetes feitos por Jô Soares, com texto de Max Nunes, onde mais de 300 personagens foram compostos  durante seis anos do programa (1981-1987),quando apresentava quadros fixos e esquetes, com personagens vividos pelo humorista e o elenco de apoio, além da participação de convidados especiais. 
Dentre os personagens mais famosos estão o Capitão Gay (criado por Max Nunes, para o Jô Soares e seu assistente Carlos Suely (Eliezzer Motta), Alice no País das Maravilhas, Reizinho, Ciça (ginasta), Aninha (a cozinheira que apresentava um programa de culinária), zé da Galera (com seu bordão Bota ponta Telê!), Vovó Nana, Pai Coruja e Dalva Mascarenhas (a mulheríssima). Grande parte do conteúdo das histórias eram críticasimplícitas ao governo de transição conservadora desse tempo. O último programa foi ao ar em 15 de dezembro de 1987. O título foi retirado de uma peça de teatro do Jô Soares, Viva o Gordo e Abaixo o Regime, fazendo trocadilho com a palavra regime, já que o Brasil estava na fase final da ditadura civil-militar; iv) Brasil Pandeiro, foi um programas produzido e apresentado pela Rede Globo no anos de 1978, sendo levado ao ar uma vez por mês na faixa de programa Sexta super. Mesclava números musicais e humor tendo como estrela a atriz Betty Faria, e seu título era uma referência-homenagem à canção de Assis Valente. No programa, a atriz encarnava a heroína brasileira Maria Maravilha, num quadro criativo com texto de autoria de Ruy Castro.                 
Em 1988, comandou inúmeras vezes o Cassino do Chacrinha, substituindo o Velho Guerreiro. Esteve no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) de 1989 a 1992, onde atuou no tradicional humorísrico A Praça É Nossa, programa de televisão humorístico criado em 1956 por Manuel de Nóbrega e na Escolinha do Golias, com Ronald Golias, programa de televisão humorístico criado por Carlos Alberto de Nóbrega, que foi produzido e exibido pela rede de televisão SBT. Participou da Escolinha do Professor Raimundo (1993 - 1995), na rede Globo, e da Escolinha do Barulho (1999), programa de TV da Rede Record, baseado no formato reconhecido da Escolinha do Professor Raimundo, e com vários personagens na TV Record. De volta à Rede Globo, participa do Programa Zorra Total, onde já fez muitos personagens, entre eles o mulherengo Alceu. Seu humor é fortemente baseado em bordões e piadas ambíguas de duplo sentido. É, portanto, típico daquele que fez escola nos programas no qual atuou cinicamente como comediante nas décadas de 1960 e 1970. São memoráveis os bordões do policial Fonseca, em quadro no qual contracenava com Jô Soares: “Guenta, doutor, ele gueeeeenta!!”, e do porteiro Severino: “isso é uma tremenda bichona, seu diretor” e, do quebra-galho: “Cara, crachá! Cara, crachá!”. O ator busca a piada simples, mas de gosto popular (cf. Agamben, 2017), com estereótipos criativos, popularizando assim a ilustração dos famosos bordões de seus personagens.



 
No cinema brasileiro participou da chanchada Sherlock de Araque (1957), dirigido por Victor Lima para os estúdios da Herbert Richers, estrelado pelo humorista Costinha e pelo Palhaço Carequinha, que atua sem seus trajes circenses. Música de Orlando Costa (Cipó) e número musical com Carlos Imperial e Paulo Silvino. O roteiro foi escrito pelo jornalista e novelista, Moyses Weltman. Minha Sogra É da Policia, Valdemira (Violeta Ferraz) faz um curso de artes marciais e decide abrir uma agência de detetives dentro da própria casa e envolve a família, em especial o genro Evaristo (Costinha), um simples funcionário público, em inúmeras confusões. (1958), O Rei da Pilantragem (1968), as tentativas de conquista do pilantra Bebeto são geralmente interrompidas por acontecimentos intermitentes, surreais. Um Edifício Chamado 200 (1973), Alfredo Gamela é um carioca de 20 anos, que vive num pequeno apartamento num edifício treme-treme do bairro Copacabana com sua amante Karla e, embora não tenha dinheiro, gosta de aparentar que é rico e, para sermos breves, Com a Cama na Cabeça (1973), é um filme brasileiro de comédia erótica de 1973, protagonizado, dirigido, escrito e produzido  pelo baiano de nascimento, carioca por adoção, Mozael Silveira que foi, como tantos, realizador generoso na década de 1970, sendo Paulo Silvino o autor do argumento. A chanchada, é o espetáculo ou filme em que predomina um humor ingênuo, burlesco, de caráter popular. As chanchadas (cf. Dourado, 2013; Moraes, 2018) foram muito populares e comuns no Brasil nas décadas de 1930 e 1960. É neste período de industrialização entre as décadas de 1950 e 1960, que os filmes ganham maior empatia com o consumidor da Sétima Arte e a Atlântida vive seu auge.
Ele fez parte ativamente de uma geração intelectualizada considerada de ouro do humor televisivo no país. As unidades de geração desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo dado problema. O nascimento num contexto social idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos de vida distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo âmbito social. Em outras palavras: a unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional. Mas a forma como grupos de uma mesma conexão geracional lidam com os fatos históricos vividos, por sua geração, que tendo como escopo a crítica e a autocrítica, fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no conjunto da sociedade. O tabu expressa, como conceito, um sentimento individual (sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos)  sobre um comportamento dicotômico, num ambiente entre amigos de um lado, e inimigos, do outro. Pode ser compreendido de forma diferente das regras sociais, como construção cultural típica de sociedades mais complexas, de acordo com seu uso ou motivação psicológica: uns são devido ao medo, ou um sentimento de delicadeza e outros, a um sentido de decência e decoro.
Bibliografia geral consultada.

BECKER, Howard, Los Extraños. Buenos Aires: Editorial Tiempo Contemporâneo, 1971; TOURAINE, Alain, La Produzione della Società. Bolonha: Il Mulino, 1973; LASCH, Christopher, A Cultura do Narcisismo: A Vida numa Era de Esperança em Declínio. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1983; MARCONDES FILHO, Marcondes, Televisão: A Vida pelo Vídeo. São Paulo: Editora Moderna, 1988; AUGUSTO, Sérgio, Esse Mundo é um Pandeiro: A Chanachada de Getúlio a JK. São Paulo: Editora Companhia das Letras; Cinemateca Brasileira, 1989; MANNHEIM, Karl, “El Problema de las Generaciones”. In: Revista Española de Investigaciones Sociológicas, n° 62, pp. 193-242; 1993; MEZAN, Renato, A Sombra de Dom Juan. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993; MORAIS, Fernando, Chatô: O Rei do Brasil, a Vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1994; JAY, Martin, A Imaginação Dialética: História da Escola de Frankfurt e do Instituto de Pesquisas Sociais, 1923-1950. Rio de Janeiro: Editor Contraponto, 2008; ASLAN, Odette, O Ator no Século XX. São Paulo: Editora Perspectiva, 2010; FREIRE, Rafael de Luna, Carnaval, Mistério e Gangsters: O Filme Policial no Brasil (1915-1951). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2011; DOURADO, Ana Karícia Machado, Chanchada: Performance do Insólito e Paradoxo do Comediante. Tese de Doutorado. Departamento de História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013; AGAMBEN, Giorgio, Gosto. 1ª edição. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017; ORICCHIO, Luiz Zanin, “Como Cantor de Rock e de Samba, Paulo Silvino deixou sua Marca na Música Popular Brasileira”. In: O Estado de S. Paulo, 17 de agosto de 2017; COELHO, Paulo Henrique, “Filhos Relembram Convivência com Paulo Silvino e Agradecem Carinho”. In: https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/17/08/2017; MORAES, Lidianne Porto, Vai que Cola: A Neochanchada como Proposta para uma Comédia à Brasileira. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2018; LE BRETON, David, Antropologia das Emoções. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2019; entre outros.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

La Casa de Papel - Televisão & Excitante Novela Política Espanhola.

                                                                                                      Ubiracy de Souza Braga

 “Afinal, o amor é uma boa razão para que tudo fracasse”. Álex Pina, La Casa de Papel 

          
             As origens da forma discursiva novela como gênero literário remontam aos primórdios do Renascimento, designadamente a Giovanni Boccaccio, um importante escritor e poeta italiano do século XIV. Sua principal obra é Decameron, um conjunto de histórias curtas, em realidade, contos. Trata-se de uma compilação de cem histórias narrada por dez pessoas, refugiadas numa casa de campo para escaparem aos horrores da Peste Negra (cf. Gottfried, 1983) a qual é objeto de vívida descrição no preâmbulo da obra. O nome pela qual ficou conhecida representa uma das mais devastadoras pandemias na história humana, resultando na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia que forma em conjunto a relação espacial e demográfica entre a Europa e a Ásia, com várias regiões costeiras distintas: o Oriente Médio, Sul da Ásia, Ásia Oriental, Sudeste Asiático e Europa, ligado a massa interior da estepe eurasiana da Ásia Central e Europa Oriental. Embora geograficamente em um continente separado, o norte da África, histórica e culturalmente, tem sido integrado na história da Eurásia. Somente no continente europeu, estima-se que tenha vitimado pelo menos um terço da população em geral, sendo o auge da peste entre os anos de 1346 e 1353.
              Filho de um mercador, Boccaccio não se dedicou ao comércio como era o desejo de seu pai, preferindo cultivar o talento literário que se manifestou desde muito cedo. Foi um importante humanista, autor de um número notável de obras, incluindo Decameron, e o poema alegórico, Amorosa visione (Visão Amorosa) e De claris mulieribus, uma série de biografias de mulheres ilustres. O livro apresenta as muheres, até então relegadas ao segundo plano, equiparadas aos homens, com os mesmos direitos de usufruir os prazeres da vida, como o amor, a liberdade e as aventuras. Mas o que mais perturbou a sociedade na época foram o realismo e a sensualidade da narrativa. Nada até então havia sido tão chocante como os termos explícitos de Decameron que ocasionaram as mais duras críticas e todo o tipo de censura das autoridades religiosas. O Decameron representa o primeiro grande realista da literatura universal. Ao longo de dez dias, sete mulheres e três homens, para ocuparem as longas horas de ócio do seu isolamento, combinam que todos os dias cada um narraria uma história, subordinada a um tema designado por um deles. Boccaccio é considerado, por muitos estudiosos, como um dos precursores do humanismo, que foi de extrema importância no Renascimento Italiano na literatura e nas artes plásticas. É também considerado uma dos maiores contadores de historias apresentando uma narrativa singular na Europa do século XIV.





 Refira-se a analogia noutra obra escrita em francês, com o mesmo tipo de estruturação: Heptameron, da autoria de Margarida de Navarra, rainha consorte de Henrique II de Navarra. Neste caso, são dez viajantes que se abrigam de uma violenta tempestade numa abadia. Impossibilitados de comunicarem com o exterior, todos os dias cada um narra uma história, real ou inventada. Em jeito de epílogo, cada uma é concluída com comentários dos participantes, em ameno diálogo. Era intenção da autora que, à semelhança do Decameron, a obra compreendesse cem histórias, porém a morte impediu-a de realizar o seu intento, não indo além da segunda história do oitavo dia, num total de 72 relatos. Será também a morte prematura que poderá explicar certa pobreza de estilo, contrabalançada, porém por uma grande perspicácia psicológica. Os estudos de gênero da literatura de língua portuguesa classificam, grosso modo, uma narrativa em romance, novela ou conto. É comum dividirmos romance, novela e conto pelo número de páginas. Em média, a novela tem entre 50 e 100 páginas, com uso técnico-metodológico de 20 mil a 40 mil palavras. Entretanto, o romance tem diferenças importantes em relação ao gênero novela, e convém notar a diferença dos termos em diferentes línguas. Os equivalentes de novela em inglês, francês e espanhol são: novella, nouvelle e “novela corta” ou novele, respectivamente, enquanto o romance é chamado novel, em inglês, roman, em francês, e novela, em espanhol. Efetivamente, tradição, educação, linguagem são os componentes nucleares da cultura e formam os ídolos da sociedade na perspectiva de poder dizer sua palavra.
          A sociologia é um poderoso conhecimento que, nas suas origens e limitações históricas inevitáveis permitem uma relativa emancipação. Se a cultura contém um saber coletivo acumulada em memória social, se é portadora de princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se gera uma visão de mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da cultura, então a cultura, segundo Edgar Morin (2008), não comporta somente uma dimensão cognitiva; é por assim dizer, uma “máquina cognitiva cuja práxis é cognitiva”. Nesse sentido, podemos dizer metaforicamente que a cultura de uma sociedade determinada funciona como uma espécie de “megacomputador complexo”. Que memoriza todos os seus dados cognitivos e, portadora dessa memória coletiva, prescreve as normas práticas, éticas, políticas dessa sociedade complexa. Mas uma cultura abre e fecha as suas potencialidades bioantropológicas do conhecimento. Ela as abre e atualiza fornecendo aos indivíduos o seu saber acumulado, a sua linguagem, os seus paradigmas, a sua lógica, ipso facto seus esquemas de domínio, os seus métodos de aprendizagem, investigação, de verificação, mas ao mesmo tempo em que ela as fecha. Inibe com as suas normas técnicas, regras, proibições, tabus do corpo, o seu etnocentrismo, a sua sacralização, a sua “ignorância de sua ignorância”, na expressão de Morin sendo que o que abre o conhecimento é o per se que fecha o conhecimento.
   Mas alimentam-se de memória biológica e de memória cultural, associadas em sua própria memória, que obedece a várias entidades de referência, diversamente presentes nela. A percepção das formas e das cores e a identificação dos objetos e dos seres obedecem à conjunção de esquemas inatos e de seus esquemas culturais de reconhecimento. Tudo o que é linguagem, lógica, consciência, tudo o que é espírito e pensamento, constitui-se na encruzilhada dessa “máquina cerebral” que se movimenta entre dois princípios de tradução, um contínuo análogo, o outro descontínuo, digital, binário. As culturas modernas justapõem, alternam, opõem, complementam uma enorme diversidade de princípios, regras, métodos de conhecimento expressos através dos meios distintos de vária interpretação: racionalistas, empiristas, místicos, poéticos, proféticos, religiosos. Assim, descobrimos a complexidade genérica do conhecimento humano. Mas não é somente o reconhecimento egocêntrico de um sujeito sobre um objeto. Mas o conhecimento de um sujeito portador de vários centros-sujeitos de referência. A cultura está nos espíritos, vive neles os quais estão na cultura não obstante o reconhecimento de temores e horrores, mas o seu aprendizado.
      La Casa de Papel retrata os dias de um assalto e sequestro na Casa de Moeda. Um homem misterioso, cujo passado é desconhecido e chamado apenas de Professor, recruta seus próprios “cães de aluguel” para realizar aquele que é empreendido como o maior roubo do século. Tal qual o Professor, os ladrões adotam nomes de cidades do mundo, na tentativa de esconder a identidade deles. Temos então as personagens: Tóquio (Úrsula Corberó), Nairóbi (Alba Flores), Rio (Miguel Herrán), Moscou (Paco Tous), Berlim (Pedro Alonso), Denver (Jaime Lorente), Helsinque (Darko Peric) e Oslo (Roberto García). Todos, segundo o orquestrador do golpe de mestre, foram escolhidos pelas especialidades próprias: a assassina é Tóquio, enquanto Rio é o hacker e os “músculos” são Helsinque e Oslo e por não terem nada a perder. O plano é engenhoso e envolve uma síndrome de Robin Hood, um personagem mítico inglês que roubava dos ricos e distribuía aos pobres, o que auxilia o público ideologicamente a se identificar com os ladrões, pois a ideia de um anti-herói que subtraia dos ricos e repasse aos pobres, agrada, pois não se trata simplesmente roubar o dinheiro dos outros, mas, fabricar ¤ 2,4 bilhões durante 11 dias. Para isso, é arquitetado um sequestro de 67 pessoas que estavam dentro do local de trabalho: funcionários, visitantes e estudantes.
                A Casa de Papel tem como background a “maldita sede pelo dinheiro”. A principal dificuldade da análise do dinheiro é vencida quando se compreende que o dinheiro tem a sua origem na própria mercadoria. Deste pressuposto, apenas resta conceber nitidamente as determinidade que lhe são próprias; o que é dificultado em certa medida pelo fato de que todas as relações aparecem transformadas em ouro ou prata, aparecendo como relações monetárias. Marx chamava a atenção para o fato da quantidade de trabalho necessário para produzir uma mercadoria variar constantemente ao variarem as forças produtivas do trabalho aplicado. Proporcionalmente quanto maiores são as forças produtivas do trabalho, mais produtos se elaboram num tempo de trabalho dado, e quanto menores são, menos se produzem na mesma unidade de tempo. Daí que quanto maior é a força produtiva do trabalho, menos trabalho se inverte numa dada quantidade de produtos e, portanto, menor é o valor destes produtos. Marx analiticamente restabeleceu o equivalente do valor-trabalho: “estão na razão direta do tempo de trabalho invertido em sua produção e na razão inversa das forças produtivas do trabalho empregado”. O preço de uma mercadoria representa a expressão em dinheiro do valor dessa mercadoria realizada no processo de subsunção do trabalho. O valor-trabalho e o bem produzido por seu trabalho estabelece uma razão segundo a qual à mercadoria que requer mais trabalho para ser produzida, deveria corresponder uma maior remuneração do trabalhador que a produz. Este valor situado no preço final do produto traria proporcionalmente maior igualdade do preço nas relações de trabalho.  
E a forma dinheiro parece possuir, por conseguinte, um conteúdo infinitamente variado que lhe é estranho. Não é possível tratar, na esfera da circulação simples, o modo como se estabelece praticamente esta equiparação. Todavia é evidente que nos países produtores de ouro e prata um determinado tempo social de trabalho é imediatamente incorporado numa determinada quantidade de ouro e prata. Ao passo que nos países que não produzem ouro ou prata chega indiretamente ao mesmo resultado, através da troca, direta ou não, de mercadorias nacionais. Isto é, de certa quantidade do trabalho médio nacional, por uma quantidade determinada de tempo de trabalho dos países, que possuem minas, materializado no ouro e na prata. Sua variação de valor é regida pela lei dos valores de troca. Invariado o valor de troca das mercadorias, uma elevação geral de seus preços-ouro só será possível se cair o valor de troca do ouro. Invariado o valor de troca do ouro, no âmbito do mercado global só será possível uma elevação geral dos preços-ouro se aumentarem o valor de troca de todas as mercadorias.   
La Casa de Papel é uma série de televisão espanhola do gênero de filmes de assalto. Criada por Álex Pina para a rede televisiva espanhola Antena 3, uma emissora de TV por Assinatura espanhola a série estreou em 2 de maio de 2017, sendo protagonizada por Úrsula Corberó, Álvaro Morte, Itziar Ituño, Paco Tous, Pedro  Alonso, Alba Flores e Miguel Herrán. Estreou ao longo de 2017, em duas partes, com 15 episódios no total, e uma média de 70 minutos de duração. Foi adquirida pela Netflix  uma provedora global de filmes e séries de televisão via streaming, estatisticamente com mais de 100 milhões de assinantes para um público intercontinental/global, La Casa de Papel passou por mudanças: os 9 primeiros episódios foram editados em 13, com até 50 minutos cada um. A série foi adicionada internacionalmente no catálogo da Netflix no dia 25 de dezembro de 2017 com uma nova edição e diferente quantidade de episódios. A série recebeu críticas positivas e ganhou em 2018, o Emmy Internacional concedido pela Academia Internacional das Artes & Ciências de melhor série dramática. A Netflix renovou a série para uma terceira parte. Em 1° de abril a Netflix anunciou a data de estreia da terceira parte, da série espanhola marcada para 19 de julho de 2019. Um homem misterioso que atende pelo nome de El Profesor, está planejando o maior assalto bancário do século.

 A fim de realizar o ambicioso plano ele recruta oito pessoas com habilidades e que não têm nada a perder. O objetivo é se infiltrar na Casa da Moeda da Espanha, de modo que eles possam imprimir 2,4 bilhões de euros. Eles precisam de onze dias de reclusão, durante os quais vão ter que lidar com 67 reféns e as forças da Polícia de elite, com cenas de muita ação e planos brilhantes de El Profesor, que acaba se apaixonando pela policial que está encarregada no caso do assalto a Casa da Moeda. Criada por Álex Pina, um espanhol de Pamplona, La Casa de Papel chegou ao serviço de streaming Netflix e ganhou seguidores. Mas curioso foi encontrar gente vestida com o uniforme dos “bandidos da série”, representados com um macacão vermelho e uma máscara do pintor surrealista Salvador Dalí, dentro do universo da série escolhido por acaso: é um dos artistas preferidos do Professor, nos blocos de carnaval de São Paulo. A Fundação Gala-Salvador Dalí, instituição criada para proteger e promover o legado do artista espanhol busca o controle sobre os direitos de imagens do pintor. Segundo o jornal El País, a organização está preocupada com o uso do rosto de Dalí nas máscaras utilizadas pelos ladrões protagonistas da série La Casa de Papel. – “Estamos em vias de regularizar os usos do direito de imagem de Salvador Dalí”, afirmou a Fundação. 
No século XVIII havia Casas de Moedas estatais e privadas, mas o Rei Felipe V decidiu que todas elas deveriam ser controladas pelo Estado. No século XIX, existiam 7 empresas de fabricação, e cada qual possuía um modelo diferente de siglas e signos. Todas elas, menos a de Madrid, desapareceram depois que a Peseta passou a ser considerada a moeda nacional. A Fábrica Nacional de Moneda y Timbre foi criada em 1893, com a fusão de dois organismos estatais, a Casa da Moeda e a Fábrica de Selo. Antigamente, estava situada na Plaza de Colón, mas tornou-se obsoleta com o tempo, sendo levada para outro edifício que foi inaugurado em 1964, sua atual sede. Quando foi derrubada, o local foi transformado nos “Jardins do Descobrimento” em 1970. Conta com um Centro Cultural e com esculturas que simulam as caravelas comandadas por Cristóvão Colombo durante sua viagem de descobrimento do continente sulamericano. Além do mais, o jardim está presidido pela maior Bandeira da Espanha que existe no mundo. A Fábrica Nacional de Moneda y Timbre foi o cenário para a trama da série “La Casa de Papel”, cujo roteiro relata ao assalto de um grupo de pessoas à instituição. 
A série espanhola La Casa de Papel entrou para o catálogo da Netflix no final de dezembro de 2017 e, mesmo sem nenhum tipo de divulgação massiva, rapidamente conquistou uma grande audiência. Originalmente, a série foi escrita para a Antena 3, na Espanha, e tem quinze episódios ao total, tendo nove em sua primeira temporada e seis na segunda. Ao entrar na Netflix, os nove primeiros episódios foram transformados em treze, e a segunda parte da temporada, com os capítulos restantes, tem sua estreia no catálogo com previsão para abril de 2018. Criada por Álex Pina, La Casa de Papel aborda o que seria “o maior assalto do século”, no qual oito criminosos com a ajuda do “Professor”, interpretado por Álvaro Morte, o gênio por trás do crime, se infiltram na Casa da Moeda, em Madri, para que eles possam imprimir 2,4 bilhões de euros. Para que o plano dê certo, eles precisam da margem de 11 dias para imprimir as notas e, por isso, fazem 67 pessoas reféns no local, incluindo a filha do embaixador do Reino Unido. Não demora muito para que a polícia de elite das mais complexas dentro da União Europeia (UE) seja acionada e a ação de verdade comece.
Com excessos pelo carisma dos personagens e a adrenalina da missão, a série de orçamento limitado produzida pela emissora espanhola Antena 3 virou sucesso mundial ao entrar na Netflix. Precisava de uma continuação? Talvez não. Mas é difícil ignorar a projeção que ela ganhou. Em uma das cenas, o Professor (Álvaro Morte) mostra ao grupo imagens de protestos pelo mundo com as máscaras de Dali e o macacão vermelho como símbolo do sucesso. A produção usou imagens de protestos reais, inclusive no Rio de Janeiro. A prisão e a tortura de Rio são transformadas pelos personagens em uma afronta aos direitos humanos. A partir de então, partem em uma incursão contra o Estado todo poderoso, exigem um advogado e um julgamento sob a lei para ele. É um tema importante, mas não tem o mesmo apelo que a justiça social pregada na primeira temporada. Para negociar com o Estado, eles invadem o Banco da Espanha, onde está guardado o ouro bruto do país. E aí há uma dinâmica muito explorada pela série: reféns assustados, assaltantes atrapalhados e o xadrez agonizante entre o Professor e a polícia.
A chegada de novos personagens dinamiza a equipe e renova o fôlego. E as muitas viagens no tempo alteram o tom da série e são partes de um esforço cognitivo de trazer profundidade, com exploração da origem social e sentimentos dos personagens. Quem mais se destaca nessa extraordinária jogada é Berlim. Morto no fim da segunda temporada, o personagem aparece em flashbacks que narram a descoberta de sua doença e como ele criou o plano agora posto em prática pelo grupo. Em locações regionais bonitas pela Itália, o personagem está em seu melhor estilo bon-vivant, com um ar de muito deboche, inteligência e sensibilidade. E ouvir espanhol falado com gosto. Se você se surpreende ou se delicia ouvindo as expressões espanholas a plenos pulmões, a estratégia disciplinar da equipe deu certo. Depois de décadas neutralizando o sotaque a fim de tornar os produtos midiáticos mais palatáveis em mercados externos, os espanhóis, sobretudo os produtores da série, estão interessados em escancarar suas particularidades ao mundo social. Alex Pina, disse em entrevista à revista Variety que “a temporada quer valorizar não só o espanhol da Espanha, mas também a latinidade”. Na última temporada, Nairóbi declarava o começo do matriarcado. Não durou!


E, pelo menos no começo da nova temporada, também não há sinais dele. O professor continua coordenando. E a cabeça de tudo na trama psicológica é Berlim. Mas as mulheres estão mais combativas, falam abertamente sobre o machismo e lutam contra ele. Nairóbi, com seu jeito espalhafatoso-divertido comanda ações importantes do roubo. Tóquio se destaca no campo das relações pessoais, seja se livrando de uma monogamia com Rio de Janeiro ou dizendo ao novo colega que não fale de sua vagina. Pelo menos um pouquinho do sucesso de “La Casa de Papel” está ligado à efusividade da música “Bella Ciao”, uma canção popular italiana, provavelmente composta no final do séc. XIX. Na sua origem, teria sido um canto de trabalho das Mondine, trabalhadoras rurais temporárias, em geral provenientes da Emilia Romagna e do Veneto, que se deslocavam sazonalmente para as plantações de arroz da planície Padana que se estende de oeste a leste, entre os Alpes a norte e os Apeninos a sul, tendo aproximadamente no centro o rio Pó; o adjetivo “padana” deriva do nome do rio em latim, “Padus”.
Mais tarde, a mesma melodia foi base para uma canção de protesto contra a 1ª grande guerra. Finalmente, a mesma melodia foi usada para a canção que se tornou um símbolo da Resistência italiana contra o fascismo durante a 2ª guerra mundial. A música tem como representação o hino da resistência italiana contra o fascismo de Benito Mussolini e das tropas nazistas. Essa referência aparece na série, sendo revelada pela personagem Tóquio (Úrsula Corberó), ao falar do mentor do assalto. – “A vida de Professor girava em torno de uma única ideia Resistência. Seu avô, que tinha ficado ao lado dos partigiani, como são chamados os heróis da resistência antifascista, para derrotar os fascistas na Itália, lhe havia ensinado essa música e depois ele nos ensinou”, diz ela numa cena. Bella Ciao tornou-se reconhecida em todo o mundo e foi gravada por vários artistas dentre italianos, russos, bósnios, croatas, sérvios, húngaros, ingleses, espanhóis, alemães, turcos, japoneses, chineses, brasileiros e curdos. Mas há outra música famosa entoada: a cubana “Guantanamera”, das mais célebres canções da música cubana, de autoria de José Martí e música Josito Fernandez. Guantanamera é o gentílico (feminino) para as nascidas em Guantánamo, província do sudeste de Cuba. A música datada de 1963 é a mais conhecida do grupo Sandpipers que marcou as décadas de 1960-70 com suas harmonias vocais e arranjos inovadores de baladas e sucessos populares.
Bibliografia geral consultada.  

NAPOLEONI, Claudio, Smith, Ricardo, Marx. Considerazioni sulla Storia del Pensiero Econômico. Torino: Boringhieri Editore, 1970; LUHMANN, Niklas, “L’Opinione Pubblica”. In: Stato di Diritto e Sistema Sociale. Napoli: Guida Editori, 1978; OROZCO, Guillermo, “O Telespectador Frente à Televisão: Uma Exploração dos Processos de Recepção Televisiva”. In: Comunicação: Teorias e Metodologias. Volume 5, n° 1, pp. 27-42, 2005; PEDROSSIAN, Dulce Regina dos Santos, A Ideologia da Racionalidade Tecnológica, o Narcisismo e a Melancolia: Marcas do Sofrimento. Tese de Doutorado em Psicologia Social. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005; MORIN, Edgar, O Método. 4ª edição. Porto Alegre: Editora Sulina, 2008; MORAES, Andréa Pereira, Mudar o Mundo ou Mudar a Vida: Uma Representação da Crise das Subjetividades Políticas nos Romances Luísa (Quase uma História de Amor) e Aos Meus Amigos, de Maria Adelaide Amaral. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística. Faculdade de Letras. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2010; HILFERDING, Rudolf, Il Capitale Finanziario. Tradução de Vittorio Sermonti, Savero Vertone. Milano: Editore Mimesis, 2011; BOCCACCIO, Giovanni, Decameron. Tradução de Ivone Benedetti. Porto Alegre: L&PM Editores, 2013; PIKETTY, Thomas, Le Capital au XXIe Siècle. Colecção: Les Livres du Nouveau Monde. Paris: Éditions Du Seuil; 2013; TÁRDÁGUILA, Cristina, A Arte do Descaso: A História do Maior Roubo a Museu no Brasil. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2016; JONES, Gareth Stedman, Karl Marx: Grandeza e Ilusão. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2017; CARVALHO, Eurídice Janaína Ferreira de, et alii, “La Casa de Papel: Um Estudo sobre a Inversão de Valores Presentes na Série Espanhola”. In: Intercom - XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste - Juazeiro, Ba, 5 a 7 de julho de 2018; LIMA, Cecília Almeida Rodrigues, Telenovela Transmídia na Rede Globo: O Papel das Controvérsias. Tese de Doutorado. Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2018; SILVÉRIO, Bruna Maria Silva, Entre o Apagamento das Diferenças e o sonho da Imigração: Uma Análise Discursiva de Identidades nos Livros Didáticos de Espanhol. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2019;  entre outros.