sábado, 6 de dezembro de 2025

Fim de Semana em Taipei – Livro-razão, Cinema & Paradoxos da Cidade.

 Ser sensível é uma coisa e sensato é outra. Uma tem a ver com a alma, a outra com a razão. Denis Diderot                                

                   

           A trama de Fim de Semana em Taipei (2024) gira em torno de um agente americano da DEA (Evans) que se reencontra a motorista mercenária de Taipei (Gwei) e se envolve afetivamente com ela. Weekend in Taipei teve sua estreia mundial no Vieshow Cinemas Xinyi em Taipei, Taiwan, em 1º de setembro de 2024, e foi lançado na França e em Taiwan em 25 de setembro de 2024. O filme recebeu críticas mistas, que elogiaram as sequências ágeis de ação e as performances, mas criticaram “o roteiro e o desenvolvimento dos personagens”. John Lawlor, um agente da DEA que se disfarça em um restaurante chinês em Minneapolis, a cidade mais populosa de Minnesota, nos Estados Unidos, e a sede do condado de Hennepin. Conhecida como parte das Cidades Gemelas (junto com Saint Paul), é uma região rica em cultura e natureza, com destaque para o sistema de lagos e parques, a cena musical e o cenário artístico e de teatro, isto é, para reunir evidências de tráfico de drogas por um bilionário e comerciante de frutos do mar disfarçado chamado Kwang, quebrar o disfarce devido ao seu colega, tornando meio ano de seu trabalho secreto em vão.  No entanto, ele recebe um e-mail de um informante anônimo em Taipei que afirma possuir o livro-razão da Kwang Enterprises. John informa seu supervisor, mas a alegação é descartada como uma farsa, e o pedido de John para seguir a pista é rejeitado, com seu supervisor até mesmo forçando-o a tirar uma licença de fim de semana para mantê-lo longe do caso. Implacável, John decide viajar para Taipei durante esse período com uma identidade falsa. Enquanto isso, em Taipei, Kwang descobre que seu filho adotivo, Raymond, é o informante que roubou seu livro-razão. Ximending é um bairro e distrito comercial no distrito de Wanhua, em Taipei, Taiwan. A área de pedestres de Ximending foi a primeira zona  construída em Taipei e a maior de Taiwan. Ximending se tornou uma rua de teatro bem conhecida em Taipei na década de 1930 e cresceu ainda mais próspera após a derrota do Japão, tornando-se muito mais popular na década seguinte. 

Em um ponto, a Wuchang St Section 1 tinha mais de dez teatros. No entanto, na década de 1990, conforme a cidade de Taipei se desenvolveu em direção ao Distrito Leste e se afastou de Ximending, ela começou a perder negócios. Em 1999, o governo da cidade e as lojas locais estabeleceram Ximending como uma área de pedestres, proibindo a entrada de veículos nos fins de semana e feriados nacionais, uma mudança que atraiu jovens consumidores e trouxe de volta os negócios. Hoje, Ximending tem mais de vinte teatros e seis mil vendedores, e é uma área popular para pequenos shows, lançamentos de álbuns e apresentações de rua. Também é o lar dos Red Envelope Clubs, criados na década de 1960.  Devido à sua história social, cultural e política, Ximending abriga diversos locais históricos. O Templo Ximending Mazu é um dos templos históricos mais importantes e proeminentes. Originalmente inaugurado como um mercado, o Teatro Red House é outro edifício de destaque. O homônimo Portão Oeste e as Muralhas de Taipé foram demolidos em 1905. O Mercado Chunghwa costumava se estender até esta área, mas foi demolido em 1992. Economicamente Ximending atrai uma média de mais de 3 milhões de compradores/consumidores por mês. Vendedores individuais se reúnem nas ruas, bem como nos grandes edifícios comerciais, como a Loja de Departamentos Wannien e a Praça Shizilin, durante o dia, e a Loja de Departamentos Wanguo e a Eslite 116 mais tarde à noite. A localização central de Ximending em Taipei o torna facilmente acessível, cobrindo a área Noroeste da Estação Ximen do Metrô de Taipei. Como muitas linhas de ônibus se concentram na Rua Zhonghua, Ximending também é uma área importante para baldeações. Ximending também é acessível pela saída 6 da Estação Ximen do Metrô de Taipei (Linha Bannan e Linha Songshan-Xindian). Ximending tem uma taxa de criminalidade mais alta em comparação com o resto da cidade, com relatos de brigas violentas e prostituição. Em resposta, a área também está sujeita a mais policiamento.

Taiwan é uma pequena ilha com cerca de 23 milhões de habitantes que funciona como uma democracia semipresidencialista. Localizada a 180 km da China, a ilha luta para que permaneça independente e não seja reconhecida como parte do território chinês. Para garantir sua soberania contra um dos maiores impérios do mundo, Taiwan apostou na tecnologia e desenvolveu o Escudo de Silício, uma estratégia que evita o ataque dos vizinhos chineses. O termo foi criado por Craig Addison, um jornalista que escreve para o veículo jornalístico The South China Morning Post. O profissional lançou o livro Silicon Shield: Taiwan's Protection Against Chinese Attack e deu uma entrevista à British Broadcasting Corporation (BBC) falando sobre o tema. O primeiro esclarecimento que o jornalista fez é que Taiwan não possui um “escudo de verdade”, como ocorre igualmente com os antimísseis que Israel utiliza para evitar ataques aéreos sobre o confronto armado da Palestina. A terminologia funciona como uma estratégia da ilha, que é líder mundial na fabricação de chips semicondutores. Os produtos, que são essenciais na fabricação de celulares, computadores, videogames e carros, são geralmente feitos de silício e acabam sustentando parte da economia moderna. Um ataque chinês ao país poderia, portanto, afetar a produção dos chips e causar um estrago não só na economia chinesa, mas mundial. - O escudo de silício é semelhante ao conceito de MAD (“Destruição Mútua Assegurada”) que teve progênie na Guerra Fria, um período de tensão político-ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética, que durou de 1947 a 1991, sem um confronto entre as potências, porque qualquer ação militar no estreito de Taiwan seria tão prejudicial para a China quanto para Taiwan e os Estados Unidos da América.

                            


De modo que, com efeito, evita o início do conflito e protege o pequeno território de um ataque militar ordenado por Pequim, explicou Addison. A Terceira Crise do Estreito de Taiwan (1996) representou o resultado de uma série de testes com mísseis realizados pela República Popular da China em águas circundantes de Taiwan - incluindo o Estreito de Taiwan - entre 21 de julho de 1995 a 23 de março de 1996. O primeiro conjunto de mísseis, disparados de meados ao final de 1995, teriam sido destinados a enviar um sinal forte ao governo da República da China sob Lee Teng-hui, que era visto como pertencente ao movimento propagandista de uma política externa distante da Política de Uma China e pró-Independência de Taiwan. O segundo conjunto de mísseis foram disparados no início de 1996, com a intenção deliberada de intimidar o eleitorado de Taiwan na corrida para a eleição presidencial de 1996. O Exército de Libertação Popular também foi mobilizado na província de Fujian, que realiza manobras navais de 15 a 25 agosto de 1995. Em resposta, os Estados Unidos da América enviaram uma frota militar na Ásia, a maior desde a Guerra do Vietnã, também reconhecido como Segunda Guerra da Indochina, chamada no Vietnã de Guerra de Resistência contra a América ou Guerra Americana, foi um grande conflito armado que aconteceu no Vietnã, Laos e Camboja de 1º de novembro de 1955 até a queda de Saigon em 30 de abril de 1975. Foi a segunda das Guerras da Indochina e foi travada entre o Vietnã do Norte e o governo do Vietnã do Sul.

O exército norte-vietnamita era apoiado pelas repúblicas da União Soviética, China e aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas eram apoiados pelos Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Tailândia, e outras nações anticomunistas. O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que serviu como o 42º presidente do país por dois mandatos, entre 1993 e 2001, também ordenou que outros navios fossem implantados na região em março de 1996. O Japão atuou não só como estímulo econômico, mas também como exemplo. A imensa e ininterrupta expansão da economia japonesa foi decisiva para criar um dinâmico mercado em toda a área circundante do Pacífico. O crescimento mais marcante foi o apresentado pela Coreia do Sul, que a partir dali começou a ser conhecido como o “Milagre do rio Han”. Na década de 1960, o país era um dos mais pobres países da região, com menor desenvolvimento. Da década de 1980 até o presente, a Coreia do Sul se transformou em um país desenvolvido, com renda alta e elevados valores de IDH, uma medida média das conquistas de desenvolvimento humano básico em um país e do PIB per capita. O progresso de Taiwan seguiu o mesmo rumo. No final da década de 1990, as exportações chegavam a 202% do Produto Nacional Bruto em Singapura e a 132% em Hong Kong. O índice de crescimento era alto nos tigres, e, a despeito da crise asiática, a população tinha alto nível de alfabetização e a economia girava em torno da sólida base da construção naval, produtos têxteis, petroquímicos e equipamentos elétricos. O crescimento mais notável ocorreu principalmente na economia usurária de entrepostos.

O termo discurso pode também ser definido sociologicamente do ponto de vista lógico da análise política. Quando pretendemos significar algo a outro é porque temos a intenção de lhe transmitir um conjunto de informações coerentes - essa coerência é uma condição essencial para que o discurso seja entendido. São as mesmas regras gramaticais utilizadas para dar uma estrutura real compreensível ao discurso que simultaneamente funcionam com regras lógicas para estruturar o pensamento. Um discurso político, comparativamente, tem uma estrutura social e finalidade muito diferente do discurso econômico, mas politicamente pode operar a dimensão econômica produzindo efeitos sociais específicos em termos de persuasão. Os economistas assumiram que o estudo das ações econômicas do homem poderia ser feito abstraindo-se as outras dimensões culturais do comportamento humano: dimensões morais, éticas, religiosas, políticas, etc., e concentraram seu interesse naquilo que eles identificaram como as duas funções sociais elementares exercidas por todo e qualquer indivíduo: o consumo e a produção. O chamado homo economicus nada mais é do que “um fragmento qualquer de ser humano, a sua parcela que apenas produz e consome no mundo das mercadorias, cujo único critério de verdade apoiava-se na evidência”. O conceito teórico, e portanto, abstrato, é um postulado da racionalidade global vigente. É caracterizada pelo triunfo dos economistas que encontraram nele, a semelhança dos biólogos no darwinismo, e na psicologia uma teoria do comportamento coerente.

Um estudo de ideologias da administração, por outro lado, não está preocupado com as origens do espírito capitalista, mas sim com as armas ideológicas empregadas na luta pela ou contra a industrialização. E quando ideologias são formuladas para defender um conjunto de interesses econômicos, é mais esclarecedor examinar a estratégia de argumentação do que insistir em que o argumento é autointeressado. Os argumentos em serviço próprio dos grupos dominantes podem não parecer um campo de estudos promissor, no entanto, sociologicamente Reinhard Bendix acredita que essas ideias desenvolvidas podem ser consideradas um sintoma das relações sociais de classe em mudança, ou seja, indícios para a compreensão das sociedades industriais. Portanto, Bendix (2019), propõe analisar detalhadamente, se já não é um truísmo, as evidências observáveis dos fenômenos do mundo social em seus próprios termos. Segundo o autor, é nesse nível das ações sociais que ocorre a experiência humana, e o estudo das ideologias da gestão empresarial ilustra que ele também pode constituir uma abordagem para o entendimento da estrutura social. As interpretações gerenciais dadas para a relação de autoridade nos empreendimentos econômicos, juntamente com a concepção em oposição assimétrica, mas em nível de complementariedade na relação capital “versus” trabalho acerca de sua posição enquanto classes na sociedade industrial emergente constituem uma imagem conjunta das relações de classe. Imagem que mudando em tempo e espaço e que diferem de um país para outro. Esse aspecto da estrutura social é analisado pelo exame da posição ideológica em termos de seus corolários lógicos. Enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais estão relacionados à autoridade dos empregadores e, em sentido mais amplo, à posição de classe de empregadores e empregados na sociedade globalizada.

Três correntes filosóficas contemporâneas são responsáveis pela criação deste conceito: o hedonismo, o utilitarismo e o sensualismo. O hedonismo, que afirma que o homem está sujeito, tal como os animais, à lei natural dos instintos e que, portanto, se encontra implícita a procura do prazer, do bem-estar e distanciamento da dor. O utilitarismo, para quem o útil é valioso e contrapõe o prazer calculado ao irracional, classificando os prazeres nobres e pobres. O sensualismo quando afirma serem os sentidos a fonte do conhecimento. Os economistas construíram um método teórico unanimemente aceite, elaboraram-se práticas econômicas que se encontra em todas as obras fundamentais: a lei da maximização da utilidade e leis sobre a utilidade marginal, aplicadas ao consumo e à produção. A razão biopsicológica essencial a toda a atividade humana é o interesse pessoal. Este primeiro princípio é então afetivo, pois define a única razão da atividade econômica; o homem não obedece senão à razão consumista.  No nível de análise econômico, oligopólio é uma forma evoluída de monopólio, no qual um grupo de empresas ou governos promove o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Corresponde a uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita, no qual o mercado é controlado por um número reduzido de empresas. Cada uma tem que considerar os comportamentos e as reações das outras quando toma decisões de mercado.

No oligopólio, os bens produzidos podem ser homogêneos ou apresentar alguma diferenciação sendo que, geralmente, a concorrência se efetua mais ao nível de fatores como a qualidade, o serviço pós-venda, a fidelização ou a imagem, e não tanto ao nível do preço. As causas típicas do aparecimento de mercados oligopolistas são a escala mínima de eficiência e características da procura. Em tais mercados existe concorrência, mas as quantidades produzidas são menores, para que os preços sejam maiores do que nos mercados concorrenciais, ainda que relativamente ao monopólio as quantidades sejam superiores e os preços per se sejam menores. Nos mercados oligopolistas onde não exista cooperação entre as empresas a curva da procura do produto da empresa depende da reação das outras empresas. A concorrência neste tipo de mercado para evitar guerras de preços poderá ser feita a outros níveis como nas características dos produtos distintas do preço, qualidade, imagem, fidelização, etc. O oligopólio pode permitir que as empresas obtivessem lucros elevados a custo dos consumidores e do progresso econômico, caso a sua atuação no mercado seja baseada economicamente na formação de cartéis, pois assim terão os mesmos lucros como um monopólio. Em um oligopólio, as alterações nas condições sociais de atuação de uma empresa irão influenciar o desempenho de outras empresas no mercado. Isto provoca reações que são mais relevantes quando o número de empresas do oligopólio é reduzido. Em contrapartida, um truste é uma coligação econômica ou financeira, de empresas que tem como objetivo diminuir e eliminar a concorrência, parcelarizando o mercado.

      

Quando se verifica a formação de trustes, a concorrência é transferida para a área da qualidade e apoio ao cliente, porque não existe concorrência no que diz respeito aos preços. No oligopólio, muitas vezes ocorre à criação de um cartel, onde as poucas empresas dominantes fazem um acordo para manter o preço do produto comercializado. Tanto os cartéis como o truste exercem poder de pressão sobre o mercado. Ao contrário do truste, no cartel as empresas envolvidas continuam independentes no âmbito legal. Tanto o monopólio quanto o oligopólio contribuem para uma concorrência imperfeita. A diferença entre monopólio e oligopólio é que no monopólio existe apenas um fornecedor ou vendedor, que domina o mercado, enquanto que no oligopólio existem poucos fornecedores do mesmo produto. Quando um produto é considerado essencial para a economia de um país, muitas vezes esse país estabelece leis que impedem a criação de monopólios e oligopólios. Talvez o maior exemplo de oligopólio no Brasil seja o mercado de telecomunicações, no qual poucas empresas controlam o mercado.

No caso da telefonia móvel, a fusão das empresas TIM e Vivo consistiu no primeiro oligopólio nesta área do mercado. Também são conhecidos oligopólios no caso da montagem de veículos, na produção de ônibus, por exemplo, o que pode contribuir decisivamente para o aumento do preço das passagens do transporte público. Capital financeiro pode ser entendido como o capital representado por títulos, obrigações, certificados e outros papéis negociáveis e rapidamente conversíveis em dinheiro. Uma vez que as necessidades de liquidez variam significativamente entre os agentes econômicos, há uma grande variedade de instrumentos, sob a forma de contratos, que combinam diferentes ativos e são comercializados nos mercados financeiros. Em termos simplificados, a lógica financeira consiste em “fazer dinheiro a partir de dinheiro”, sem necessariamente passar pela questão da reprodução do trabalho na esfera da produção de mercadorias. O predomínio crescente dessa lógica, de caráter rentista - isto é, que não tem como finalidade a produção, mas a remuneração do detentor de um ativo - na economia mundial globalizada ocorre desde pelo menos o início da década de 1980. 

            Fim de Semana em Taipei tem como representação social um filme de ação e suspense de 2024, dirigido por George Huang e coescrito com Luc Besson. Estrelado por Luke George Evans, é um ator e cantor galês. Sua primeira atuação profissional no cinema foi no filme Sex & Drugs & Rock & Roll (2010), seguido de Robin Hood, O Retorno de Tamara (2010) e o sucesso de bilheteria Fúria de Titãs (2010), Gwei Lun-mei, uma atriz taiwanesa. Ela começou sua carreira de atriz em 2002, com o filme Blue Gate Crossing. Gwei então apareceu em mais alguns filmes antes de obter amplo reconhecimento pelo filme Secret, dirigido por Jay Chou, no qual Gwei interpretou o personagem Lu Hsiao-yu e Sung Kang, um ator de cinema norte-americano. Os papéis mais reconhecidos que interpretou são Han Lue em Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio (2006), Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio (2011), Velozes e Furiosos 6 (2013), Velozes & Furiosos 9 (2021) e Velozes e Furiosos 10 (2023). O filme Fim de Semana em Taipei, é uma coprodução realizada entre França e Taiwan, produzido e distribuído pela EuropaCorp, uma empresa cinematográfica francesa com sede em Saint-Denis, um subúrbio ao Norte de Paris, e um dos poucos estúdios independentes na atualidade de serviço completo que produzem e distribuem comercialmente seus longas-metragens, com o apoio da Comissão de Cinema de Taipei, que foi filmado e ambientado em Taipei, Taiwan.  

            George Jay Huang é um diretor de cinema, escritor, produtor e educador norte-americano. Ele é mais reconhecido por escrever e dirigir o filme Nadando com Tubarões, de 1994. Além de trabalhar em seus próprios filmes, ele também contribui com trabalhos de outros cineastas independentes, incluindo Robert Rodríguez. Filho de imigrantes taiwaneses, George Huang cresceu desenvolvendo uma paixão ávida por cinema. Após o Ensino Médio, matriculou-se na Universidade da Califórnia, Berkeley, para cursar administração, mas durante esse período estagiou na Lucasfilm. Após a graduação, matriculou-se em um programa de produção na Universidade do Sul da Califórnia (USC). Após se formar na USC, Huang começou a trabalhar como assistente executivo na Columbia Pictures. Em 1992, a Columbia adquiriu os direitos de distribuição do filme El Mariachi, de Robert Rodríguez. Enquanto o filme estava sendo preparado para lançamento, Rodriguez fez amizade com o jovem Assistente de estúdio com quem compartilhava o amor pelo cinema. Rodriguez, natural e residente de San Antonio, Texas, ficou no apartamento de Huang em Los Angeles. Robert Rodriguez, reconhecido por suas técnicas de produção cinematográfica de alta qualidade e economia de dinheiro, ficou impressionado com a atitude indiferente de Huang em relação à forma como seus superiores gastavam milhões e milhões na produção de um único filme.   

George Huang, acreditando que suas próprias histórias originais jamais seriam contadas, compartilhou algumas ideias de roteiro com Rodriguez, que prontamente disse ao seu novo amigo e colega de quarto que precisava largar o emprego imediatamente e fazer seus próprios filmes. Huang, compreensivelmente, relutou em aceitar essa ideia, mas, em janeiro de 1993, renunciou ao seu cargo na Columbia. Huang então começou a escrever e a buscar financiamento para um roteiro vagamente baseado em suas experiências na Columbia. Lançado o filme de estreia de Huang, Nadando com Tubarões (1994), é uma sátira da política de Hollywood do ponto de vista de um subordinado do estúdio. Desde então, Huang passou a fazer muito trabalho satisfatório nos bastidores, com participações na direção de diversas séries de televisão de curta duração como Significant Others (1998), Live Through This (1994) e The Invisible Man (2020). Ele também dirigiu os filmes independentes Trojan War (1997), estrelado por Jennifer Love Hewitt e How to Make a Monster (2001) que se tornou um favorito cult, estrelando Clea DuVall como o único papel principal. Huang filmou a fita de audição de Elijah Wood que lhe rendeu o papel de Frodo Bolseiro na trilogia de filmes O Senhor dos Anéis (2001-2003). Em 2006, a Dimension Films adquiriu os direitos da série de histórias em quadrinhos Madman (2003) e planejou ter um filme dirigido por Huang e produzido por Rodriguez e Elizabeth Avellán. O criador da série, Mike Allred, foi definido para escrever o roteiro junto com Huang. O projeto acabou não dando certo, no entanto, com Allred anunciando que havia revertido os direitos do filme Madman em 2015. Huang escreveu o roteiro de Final Recipe, uma coprodução sul-coreana-chinesa-tailandesa de 2013, estrelada por Michelle Yeoh e dirigida por Gina Kim, nascida em 1973, na Coreia do Sul, é cineasta e acadêmica. Seu trabalho abrange desde os filmes-ensaio pessoais Gina Kim`s Vídeo Diary (2001) e Faces of Seoul (2009), às coproduções de estúdios internacionais Never Forever (2007) e Final Recipe (2013), passando por peças em realidade virtual, como sua recente trilogia cinematográfica sobre mulheres coreanas de conforto para o exército norte-americano – Bloodless (2017), Tearless (2021) e Comfortless (2023).       

É precisamente neste sentido, comparativamente, que procede nas comunidades humanas, uma força-tarefa do Órgão para o Controle/Combate das Drogas (DEA) está se aproximando das entregas do cartel para Chicago. As tensões dentro do cartel surgem quando um tenente sedento de poder assassina o chefe e, subsequentemente, exige que Earl seja mantido sob maior controle. No meio de um grande processo de carregamento de cocaína, Earl descobre que Mary está gravemente doente. Depois que Ginny tem uma conversa séria com ele, ele adia a entrega da droga para fazer as pazes com Mary antes de sua morte, o que provoca a ira do cartel. Ele retoma a entrega quando o DEA e o cartel se aproximam dele. Earl é espancado e ameaçado pelos executores do cartel, mas eles cedem depois de saber da morte de sua ex-mulher. Enquanto ele se dirige em direção ao ponto de entrega, ele é preso pelos agentes de Controle ou Combate das Drogas. Quando Earl se declara culpado de todas as acusações e é mandado para a prisão, sua família lhe demonstra seu apoio. Na prisão, ele retorna a sua produção horticultura. Leo Sharp ficou desanimado com os problemas financeiros com seu negócio de flores e posteriormente foi abordado por trabalhadores mexicanos em sua fazenda em Michigan (EUA), que o solicitaram para transportar narcóticos para o Cartel de Drogas de Sinaloa, no México. O sucesso de Sharp em evitar a detecção de policiais, por mais de dez anos enquanto transportava milhares de libras de cocaína, o catapultou para a lenda urbana entre os traficantes de drogas que sabiam de suas façanhas. Sharp usou uma picape Lincoln Mark LT para transportar entre 100 e 300 kg (220 e 660 lb) de cocaína por vez da fronteira Sul dos Estados Unidos da América até a cidade Detroit, no estado de Michigan.

No livro Narcotráfico - Um Jogo de Poder nas Américas (1996), José Arbex Jr. procura compreender as questões sociais e políticas das drogas dentro de um contexto amplo, a questão do narcotráfico dentro de um grande jogo de poder. O narcotráfico forma um império de 500 bilhões de dólares anuais, corrompe os poderes constituídos, políticos e policiais e compra a indústria e o comércio de países inteiros. Os consumidores são homens e mulheres de todas as idades e profissões, de todas as classes sociais. As máfias do narcotráfico formam “Estados dentro do Estado”, com suas leis e exército. O narcotráfico e a criminalidade a este associado ameaçam as sociedades, as economias e as instituições democráticas ao colocar em perigo os valores éticos sobre os quais sociedades consumidoras estas se baseiam, no sentido merceológico e, na esfera econômica e esfera política constituem obstáculos importantes ao desenvolvimento humano sustentável e ao desenvolvimento econômico. A criminalidade economicamente organizada, inclusive a vinculada ao processo de trabalho do narcotráfico, é um problema transfronteiriço e transnacional que se desenvolve compulsoriamente no continente e que requer uma cooperação maior e mais eficiente entre todos os Estados das Américas. O consumo e a produção de drogas ilegais acarretam custos sociais enormes e que as diversas formas de violência ligadas ao seu caráter ilegal atentam contra a segurança da população como um todo. A questão da distribuição, dizia Marx (2011), determina a proporção de produtos que cabem ao indivíduo; a troca determina os produtos que cada indivíduo reclama como parte da divisão do que lhe foi designada pela distribuição. Produção, distribuição, troca, consumo formam assim um silogismo modelo; a produção constitui o geral, a distribuição e a troca, o particular, o consumo, o singular para o qual tende o conjunto. Trata-se, sem dúvida, de um encadeamento real, mas muito superficial.

A produção é determinada por leis naturais gerais, a distribuição pela contingência social, e esta pode, por consequência, exercer sobre a produção uma ação mais ou menos estimulante; a troca situa-se entre ambas como um movimento social de caráter formal, e o ato final do consumo concebido não só como resultado, mas também como última finalidade; é, a bem dizer, exterior a toda economia, salvo na medida em que reage por sua vez sobre o ponto de partida, abrindo de novo todo o processo. Não há nada mais banal que a acusação feita aos economistas de considerarem a produção exclusivamente como um fim em si, alegando que a distribuição tem igual importância. Esta censura baseia-se precisamente na concepção econômica segundo a qual a distribuição existe como esfera autônoma, independente, lado a lado com a produção. Existe um duplo caráter do consumo: por um lado, o indivíduo que desenvolve suas faculdades ao produzir, igualmente as despende, as consome no ato da produção, tal como a procriação natural é um consumo de forças vitais. Em segundo lugar há o consumo dos meios de produção que empregamos, porque se desgastam e se dissolvem, como na combustão, por exemplo, nos elementos do universo. O mesmo acontece com a matéria-prima, que não conserva sua forma e sua constituição naturais, mas que se vê desgastada. O ato de produção é, em todos aspectos e ao mesmo tempo, ato designado de consumo produtivo.  

Raymond, sem saber do tráfico de drogas de Kwang, acredita que o livro-razão documenta o envolvimento da Kwang Enterprises na matança de golfinhos e pretende expor o papel de seu pai na poluição ambiental. Joey, a esposa de Kwang que foi forçada a se casar com ele há 15 anos para proteção, implora pela vida de seu filho. No entanto, Raymond revela que já confiou o livro-razão a um amigo, que o está entregando ao agente da DEA John no Marriott Taipei. Kwang envia seus homens para recuperar o livro-razão, mas ao tentar desmembrar Raymond como punição, ele é nocauteado por Joey e Raymond. A mãe e o filho então vão para o hotel, com a intenção de avisar os agentes da DEA. Como Raymond dá a Kwang o número do quarto errado, eles alcançam John primeiro e dizem que Joey e John se conhecem. Antes que Joey possa explicar a situação, os homens de Kwang chegam, levando ao tiroteio entre as duas facções. Os companheiros de John são todos mortos a tiros, e o livro-razão é apreendido, mas John consegue escapar com Joey e Raymond. Depois de escapar dos homens de Kwang e da polícia, Joey leva John e Raymond para a vila de pescadores onde cresceu, buscando refúgio na casa de sua avó. Ela revela que John é, na verdade, o pai de Raymond, chocando ambos.

John confronta Joey, que conheceu enquanto estava disfarçado como traficante de drogas há 15 anos, revelando sua verdadeira identidade a ela depois de se apaixonar e ajudá-la a escapar. Joey revela que estava grávida na época, mas não teve a chance de contar a John antes de partir, e ficou com o coração partido ao perceber que John estava mentindo para ela o tempo todo. Ele se desculpa e promete nunca mais deixá-la e Raymond, levando à reconciliação. Enquanto isso, Raymond percebe que uma miniatura de rinoceronte na mesa de Kwang é, na verdade, um pen drive contendo uma versão digital de seu livro-razão. Apesar das objeções de seus pais, ele foge da vila para voltar para casa e roubar o pen drive de Kwang, mas é pego por Kwang. Kwang mantém Raymond como refém e convoca Joey e John para negociar. John se oferece para trocar suas vidas, e as duas facções concordam em se encontrar em Ximending, um bairro e distrito comercial no distrito de Wanhua, em Taipei. A área de pedestres de Ximending foi a primeira zona de pedestres construída em Taipei e continua sendo a maior de Taiwan. No entanto, Kwang quebra sua promessa durante a reunião, recusando-se a libertar Raymond e sequestrando Joey. Pouco antes de seus homens executarem John, ele os supera e derrota todos os capangas de Kwang. Ele então percorre os becos complexos e alcança o veículo de Kwang em fuga, expulsando-o e forçando-o a fugir a pé. A perseguição continua, culminando em uma briga em um teatro, onde John subjuga Kwang e o manda prender pela polícia que chega. Ao se reunir com Joey e Raymond, a família se reconcilia e viaja para Paris, onde Joey revela que está grávida do segundo filho.

Bibliografia Geral Consultada.

ARON, Raymond, “La Définition Libérale de la Liberté”. In: Archives Européennes de Sociologie. Quadrimestriel, II, 2, 1961, pp. 199-218; ARBEX JR., José, Narcotráfico – Um Jogo de Poder nas Américas. Rio de Janeiro: Editora Moderna, 1996; ROWN, Melissa, Is Taiwan Chinese? Berkeley: University of California Press, 2003; DUARTE, Ricardo Alexandre dos Santos Almeida, O Papel das Empresas de Taiwan no Contexto das Relações no Estreito de Taiwan. Dissertação de Mestrado em Estudos Chineses (Negócios e Relações Internacionais). Aveiro: Campus Universitário de Santiago, 2003; RABOSSI, Fernando, Nas Ruas de Ciudad del Este. Tese de Doutorado em Antropologia. Museu Nacional. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004; LUHMANN, Niklas, Confianza. Barcelona: Editorial Anthropos, 2005; LIN, Tsé-Min et al, “The Neighborhood Influence on Formation of National Identity in Taiwan”. In: Political Research Quarterly. Londres, vol. 59, nº 01, pp. 35-46, 2006; PINHEIRO MACHADO, Rosana, “Uma ou Duas Chinas? A Questão de Taiwan sob o Ponto de Vista de uma Comunidade Chinesa Ultramar (Ciudad del Este, Paraguai)”. In: Civitas - Revista de Ciências Sociais. Porto Alegre, vol. 10 nº 3, pp. 468-489 set.-dez. 2010; MAFFESOLI, Michel, Saturação. São Paulo: Editoras Iluminuras, 2010; FEDDERSEN, Gustavo Henrique, A Questão de Taiwan na Interação Estratégica do Leste Asiático. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais. Faculdade de Ciências Econômicas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016; FERREIRA, Laís, “A Dificuldade do Amor Face ao Progresso: História de Taipei”. Disponível em: https://revistamoventes.com/2018/01/15/; BENDIX, Reinhard, Construção Nacional e Cidadania: Estudos de Nossa Ordem Social em Mudança. Trad. Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2019; HAN, Byung-Cul; SALVI, Philipson, A Salvação do Belo.  Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2019; JUNQUEIRA, Philipe Alexandre, A Política Externa Chinesa de Xi Jinping: A Contribuição da Iniciativa do Cinturão e Rota para Inserção Internacional da China na Nova Era. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais. Departamento de Ciências Sociais. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2021; DOUGLAS, Mary, Como as Instituições Pensam. 1ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2023; CHEN, Yi Ling, “Da Globalização de Tapei à Aprendizagem de Amsterdã: A Referência como Estratégia de Politização para o Desenvolvimento Urbano em Taiwan”. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/25/11/2024; entre outros.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Amor à Primeira Vista – Par-Ser-Visto & Memória na Vida Cotidiana.

                                   O homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu”. Max Weber                        

       Amor à Primeira Vista tem como representação social um filme de comédia romântica norte-americano de 2023, dirigido por Vanessa Caswill e escrito por Katie Lovejoy, baseado no romance: “A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista”, de Jennifer E. Smith de 2011.  O filme é estrelado por Haley Lu Richardson, Ben Hardy, Dexter Fletcher, Rob Delaney, Sally Phillips e Jameela Jamil. O filme estreou na Netflix em 15 de setembro de 2023. Caswill dirigiu a minissérie da BBC Thirteen (2016) e Little Women (2017). Ela também dirigiu o filme Love at First Sight (2023). Jennifer Elizabeth Smith nascida em 1980, é uma autora norte-americana de romances para jovens adultos, incluindo best-sellers: The Statistical Probability of Love at First Sight, Windfall e Field Notes on Love. Smith nasceu em Lake Forest, Illinois. Ela se formou na Universidade Colgate em 2003 com um diploma em inglês, e também possui um mestrado em escrita criativa pela Universidade de St. Andrews, na Escócia. Ela começou a trabalhar para um agente literário na cidade de Nova York. Seu primeiro romance, The Comeback Season, foi publicado pela Simon & Schuster em 2008. Tanto este livro quanto o segundo livro de Smith, You are Here, venderam mal. No entanto, ela encontrou seu primeiro sucesso comercial com The Statistical Probability of Love at First Sight (2012), curiosamente escrito após ter feito uma pausa na escrita. Smith continuou a trabalhar como editora na Random House enquanto também trabalhava em sua própria escrita até 2015. Atualmente, seu trabalho foi traduzido para 33 idiomas. 

            Em 2022, Smith publicou 11 romances, incluindo 9 romances para jovens adultos, um romance para adultos e um romance voltado para alunos do ensino fundamental.  Seu primeiro livro ilustrado, The Creature of Habit, ilustrado por Leo Espinosa, foi lançado em 2021. Seu primeiro romance para adultos, The Unsinkable Greta James, foi lançado em 2022. A sociologia urbana do bairro, segundo Pierre Mayol (2013), privilegia dados quantitativos, relativos ao espaço e à arquitetura; realiza medições sobretudo em torno da superfície, topografia, fluxo dos deslocamentos, da comunicação de ruídos, etc., e analisa as imposições materiais e administrativas que entram na definição do bairro, segundo “as maneiras de morar na cidade para elucidar as práticas culturais de usuários no espaço de seu bairro”. A análise socioetnográfica da vida cotidiana, que enfeixa desde as pesquisas eruditas dos folcloristas e dos historiadores da chamada cultura popular, até aos imensos painéis poéticos, quase míticos, que a obra de James Agee (1909-1955) representa de maneira exemplar. Nasce assim um rebento de inesperada vitalidade, que talvez se pudesse chamar de “hagiografia do pobre”, gênero literário de considerável sucesso, cujas “vidas” mais ou menos bem transcritas pelos autores da pesquisa dão a ilusão doce-amarga de encontrar um povo para sempre extinto. Estas duas perspectivas antagônicas implicavam o risco de embaralhar as “cartas de nossa pesquisa” arrastando-nos atrás de dois discursos indefinidos: o da lamentação e do “barulho do cotidiano” em que se pode multiplicar os lances de sonda sem jamais encontrar as estruturas que o organizam a vida cotidiana em dois registros.

          Em primeiro lugar, os comportamentos, cujo sistema se torna visível no espaço social da rua e que se traduz pelo vestuário, pela aplicação mais ou menos estrita dos códigos de cortesia: saudações, palavras “amistosas”, pedido de “notícias”, o ritmo do andar, o modo como se evita ou ao contrário se valoriza este ou aquele espaço público. Ipso facto, os benefícios simbólicos que se espera obter pela maneira de “se portar” no espaço do bairro: o bom comportamento “compensa”, mas que o que traz de bom? A análise tem enorme complexidade, segundo Mayol et al (2013), não depende tanto da descrição, mas da interpretação. Esses benefícios deitam suas raízes na tradição cultural do usuário, não se acham jamais totalmente presentes à sua consciência. Aparecem de maneira parcial, fragmentada, no modo como caminha, ou, de maneira mais geral, através do modo como “consome” o espaço público. Pode-se também elucidá-los através do discurso de sentido pelo qual o usuário relata a quase totalidade de suas iniciativas. O imaginário urbano, em segundo lugar, são as coisas que o soletram. Elas se impõem. Estão lá, fechadas em si mesmas, forças mudas. Elas têm caráter. Ou melhor, são “caracteres” no teatro urbano. Personagens secretos. As docas do Sena, monstros paleolíticos encalhados nas margens. O canal San-Martin, brumosa citação de paisagem nórdica. As casas abandonadas (em 1928) da Rue Vercingétorix ou da Rue de l`Quest, onde fervilham os sobreviventes de uma terrível catástrofe urbana. Por subtrair-se à lei do presente, esses objetos inanimados adquirem autonomia. São autores, heróis de legenda. Organizam em torno de si o romance da cidade. A proa aguda de uma casa de esquina, um teto provido de janelas como uma catedral gótica, a elegância de um poço na sombra de um pátio remelento: esses personagens levam sua vida própria. Assum o papel misterioso que as sociedades tradicionais atribuíam à velhice, que vem de regiões que ultrapassam o saber. Eles são testemunhas de uma história que, ao contrário daquelas dos museus ou dos livros, já não têm mais linguagem. 

                                                


          Historicamente, de fato, eles têm uma função que consiste em abrir uma profundidade no presente, mas sem o conteúdo que provê de sentido a estranheza do passado. Suas histórias deixam de ser pedagógicas; não mais “pacificadas” nem colonizadas por semântica. Por que o amor está, antes de mais anda, absolutamente intricado em seu objeto, e não simplesmente associado a ele: o objeto do amor em toda a sua significação categorial não existe antes do amor, mas apenas por intermédio dele. O que faz aparecer de maneira bem clara que o amor e, no sentido lato, todo o comportamento do amante enquanto tal, é algo absolutamente unitário, que não pode se compor a partir de elementos sociais preexistentes. Inúteis parecem, pois, as tentativas de considerar o amor como um produto secundário, no sentido de que seria motivado como resultante de outros fatores psíquicos primários. No entanto, ele pertence a um estágio demasiado elevado da natureza humana para que possamos situá-lo no mesmo plano cronológico e genético da respiração ou da alimentação, ou mesmo do instinto sexual. Tampouco podemos safar-nos do embaraço por esta escapatória fácil: em virtude de seu sentido metafísico, de seu significado atemporal, o amor permanece sem dúvida à primeira – ou última - ordem dos valores e das ideias, mas sua realização humana ou psicológica colocá-lo-ia num estágio ulterior de uma série longa e complexa na evolução contínua da vida. Não podemos nos satisfazer com essa estranheza recíproca de seus significados ou de suas areações. O problema de seu dualismo é aí, reconhecido e bem expresso, mas não resolvido; determo-nos nessa conclusão seria duvidar de sua solubilidade.

O amor é uma das grandes categorias sociais que dá forma ao existente, mas isso é dissimulado tanto por certas realidades psíquicas como in fieri por certos modos de representações teóricas. Não há dúvida que o efeito amoroso desloca e falsifica inúmeras vezes a imagem objetivamente reconhecível de seu objeto e, nessa medida, é decerto geralmente reconhecido, segundo Georg Simmel (1858-1918), como “formativo”, mas de uma maneira que não pode visivelmente parecer coordenada com as outras forças espirituais que lhe dão forma. Trata-se, portanto, aqui, de uma imagem já existente que se encontra modificada em sua determinação qualitativa, sem que se tenha abandonado seu nível de existência teórica, nem criado um produto de uma nova categoria. Essas modificações que o amor já presente traz à exatidão objetiva da representação nada têm a ver com a criação inicial que produz o ser amado como tal. Na verdade, todas essas categorias são coordenadas, por sua significação, quaisquer que sejam o momento ou as circunstâncias em que elas atuam. E o amor é uma delas, na medida em que cria seu objeto como produto totalmente original. É preciso, antes de mais anda, que o ser humano exista e seja conhecido, antes de ser amado. Mas esse algo que acontece não tem lugar com esse ser existente que permaneceria não modificado, foi, ao contrário, no sujeito que uma nova categoria fundamental se tornou criadora. Do mesmo modo que eu, amante, sou diferente do quer era antes – pois não é determinado “aspecto” meu, determinada energia que ama em mim, mas meu ser inteiro, o que não precisa uma transformação visível de todas as minhas outras manifestações -, também ele enquanto tal, é um outro, nascendo de outro a priori que não o ser conhecido ou temido, indiferente ou venerado.

O amor é sempre uma dinâmica que se gera, Para Simmel (1993) por assim dizer, a partir de uma autossuficiência interna, sem dúvida trazida, por seu objeto exterior, do estado latente ao estado atual, mas que não pode ser, propriamente falando, provocada por ele; a alma o possui enquanto realidade última, ou não o possui, e nós não podemos remontar, para além dele, a um dos movens exterior ou interior que, de certa forma, seria mais que sua causa ocasional. É esta a razão mais profunda que torna o procedimento de exigi-lo, a qualquer título legítimo que seja totalmente desprovido de sentido. Sequer sua atualização dependa sempre de um objeto, e se aquilo que chamamos de desejo ou necessidade de amor – esse impulso surdo e sem objeto, em particular na juventude, em direção a qualquer coisa a ser amada – já não é amor, que por enquanto só se move em si mesmo, digamos um amor em roda livre. Seguramente, a pulsão em direção a um comportamento social poderá ser considerada uma probabilidade como o aspecto afetivo do próprio comportamento, ele próprio já iniciado; o fato de nos sentirmos “levados” a uma ação significa que a ação já começou anteriormente e que seu acabamento não é outra coisa que o desenvolvimento ulterior dessas primeiras inervações.

Onde, apesar do impulso sentido, não passamos à ação, isso se dá seja porque a energia não basta para ir além desses primeiros elos da ação, seja porque ela é contrariada por forças opostas, antes mesmo que esses primeiros elos já anunciados à consciência tenham podido se prolongar num ato visível. A possibilidade real, a ocasião apriorística desse modo de comportamento que chamamos amor, fará surgir, se for o caso, e levará à consciência, como um sentimento obscuro e geral, inicial de sua própria realidade, antes mesmo que a ele se some a incitação por um objeto determinado para levá-lo a seu efeito acabado. A existência desse impulso sem objeto, por assim dizer incessantemente fechado em si, acento premonitório do amor, puro produto do interior e, no entanto, já acento de amor, é a prova mais decisiva em favor da essência central puramente interior do fenômeno amor, muitas vezes dissimulado sob um modo de representação pouco claro, segundo o qual o amor seria uma espécie de surpresa ou de violência vindas do exterior, tendo su símbolo mais pertinente no “filtro do amor”, em vez de uma maneira de ser, de uma modalidade e de uma orientação que a vida como tal toma por si mesma – como se o amor viesse de seu objeto, quando, na realidade, vai em direção a ele.

De fato, o amor é o sentimento que, fora dos sentimentos religiosos, se liga mais estreita e mais incondicionalmente a seu objeto. À acuidade com a qual ele brota do sujeito corresponde a acuidade igual com que ele se dirige para o objeto. O que é decisivo aqui é que nenhuma instância de caráter geral vem se interpor. Se venero alguém. É pela mediação da qualidade de certo modo geral de venerabilidade que, em sua realidade particular, permanece ligada à imagem desse por tanto tempo quanto eu o venerar. Do mesmo modo, no homem que temo, o caráter terrível e o motivo que o provocou estão intimamente ligados; mesmo o homem que odeio não é, na maioria dos casos separado em minha representação da causa desse ódio – é esta uma das diferenças entre amor e ódio que desmente a assimilação que comumente se faz deles. Mas o específico do amor é excluir do amor existente a qualidade mediadora de seu objeto, que aparece na sociedade sempre relativamente geral, que provocou o amor por ele. Ele permanece como intenção direta e centralmente dirigida para esse objeto, e revela a sua natureza verdadeira e incomparável nos casos em que sobrevive ao desaparecimento indubitável do que foi sua razão de nascer. Essa constelação, que engloba inúmeros graus, desde a frivolidade até a mais alta intensidade, é vivida segundo o mesmo modelo, seja em relação a uma mulher ou a um objeto, a uma ideia ou a um amigo, à pátria ou a uma divindade.          

Isso deve ser estabelecido em primeiro lugar, se quisermos elucidar em sua estrutura seu significado mais restrito, o que se eleva no terreno da sexualidade. A ligeireza com que a opinião corrente alia instinto sexual a amor lança talvez uma das pontes mais enganadoras na “paisagem psicológica” exageradamente rica em construções desse gênero. Quando, ademais, ela penetra no domínio da psicologia que se dá por científica, temos com demasiada frequência a impressão de que esta última caiu nas mãos de açougueiros. Por outro lado, o que é óbvio, não podemos afastar pura e simplesmente essa relação. Nossa emoção sexual, afirma Simmel, desenrola-se em dois níveis de significação. Por trás do arrebatamento e do desejo, da realização e do prazer sentidos, diretamente subjetivos, delineia-se, consequência disso tudo, a reprodução da espécie. Pela propagação contínua do plasma germinal, a vida corre infinitamente, atravessando todos estágios ou levada por eles de ponta a ponta. Por mais insuficiente, por mais preso a um estreito simbolismo humano que esteja o conceito de objetivo e de meios em presença da misteriosa realização da vida, devemos qualificar essa emoção sexual de meio de que a vida se serve para a manutenção da espécie, confiando aqui a consecução desse objetivo não mais a um mecanismo (no sentido lato) mas a mediações psíquicas.

Enfim, a pulsão, dirigida a princípio, tanto no sentido genérico quanto no sentido hedonista, ao outro sexo enquanto tal, parece ter diferenciado cada vez mais seu objeto, à medida que seus suportes se diferenciavam, até singularizá-lo. Claro, a pulsão não se torna amor pelo simples fato de sua individualização; esta última pode ser refinadamente hedonista, ou instinto vital-teleológico para o parceiro apto a procriar os melhores filhos.  Mas, indubitavelmente, ela cria uma disposição formativa e, por assim dizer, um marco para essa exclusividade que constitui a essência do amor, mesmo quando seu sujeito se volta para uma pluralidade de objetos. Não duvidamos em absoluto que no seio do que se chama “atração dos sexos” constitui-se o primeiro factum, ou, se quiserem, a prefiguração do amor. A vida se metamorfoseia também nessa produção, traz sua corrente à altura dessa onda, cuja crista, porém, sobressai livremente acima dela. Se considerarmos o processo da vida absolutamente como um dispositivo de mios a serviço desse objetivo - a vida – es e levarmos em conta o significado simplesmente efetivo do amor para a propagação da espécie, então este também é um dos meios que a vida se dá para si e a partir de si.

Na sociologia, o conceito de “individuação” é utilizado pelo sociólogo Danilo Martuccelli, na sua entrevista: “Como os indivíduos se tornam indivíduos”, ele ressalta a importância de estudar os fenômenos sociológicos através da ótica dos indivíduos, o que ele chama de teoria da individuação. Segundo o mesmo, estudar a realidade segundo as vivências históricas particulares, nos auxilia no processo social de compreensão dos mecanismos responsáveis pela produção de sujeitos em diversos contextos históricos. A individuação é um fenômeno que se mostra eficiente para desvendar os problemas sociais, portanto, uma excelente formação de estudo sociológico, podendo ser aplicada a qualquer fenômeno. Dessa forma, o entendimento de cada problema ou manifestação social deve ser analisado do microcosmo para o macrocosmo, traduzindo a nível de experiências individuais os grandes desafios coletivos de uma sociedade. A individuação dos sujeitos se desenvolve quando estes se veem envoltos pelas forças dos processos de racionalização e aceitação social condicionantes. Todos os sujeitos estão destinados a encarar as mesmas dificuldades, o que psicologicamente Martuccelli denomina de “prova”. Porém a resposta de cada um será diretamente proporcional à sua própria caraterização contida nas relações sociais de identidade, posição social, raça, gênero e recursos.              

        A trama retrata a história de dois estranhos que se apaixonam perdidamente depois de se conhecerem no aeroporto, e que tentam se reencontrar depois que seus caminhos se separam após chegarem em seu local de destino. No dia 21 de dezembro, no Aeroporto JFK, a narradora (Jameela Jamil) apresenta Hadley Sullivan (Haley Lu Richardson), uma estudante estadunidense de 20 anos que frequentemente se atrasa e está com pouca carga em seu telefone. Hadley perde seu voo para Londres, o que a faz remarcada para o próximo. Em uma estação de carregamento, Hadley conhece Oliver Jones (Ben Hardy), um estudante britânico de 22 anos da Universidade Yale, que gentilmente lhe empresta seu carregador. Eles se dão bem e combinam de jantar juntos na praça de alimentação. Durante a conversa, Hadley revela que está indo para Londres para o segundo casamento de seu pai, Andrew (Rob Delaney), e expressa suas dúvidas sobre a decisão dele de se casar poucos anos após o divórcio de sua mãe. Oliver menciona estar estudando inferência estatística e realizando um projeto de pesquisa não especificado.

            O Aeroporto Internacional John F. Kennedy é um aeroporto localizado em Queens, em Nova Iorque, e que serve à cidade de Nova Iorque. Ele fica a 26 km do centro de Nova Iorque, sendo o quinto aeroporto mais movimentado dos Estados Unidos e o primeiro em movimento de voos internacionais no país. O JFK tem um tamanho equivalente a 4 390 acres (1 776 hectares), incluindo 880 no Área do Terminal Central (CTA). O aeroporto tem mais de 48 km de estradas e fica a 4 m acima do nível do mar. O Aeroporto é operado pela Port Authority of New York and New Jersey. É um dos aeroportos mais movimentados do país, especialmente a nível de voos internacionais, e foi inaugurado a 1° de julho de 1948, na altura com o nome de Aeroporto de Idlewild. Em 1963, o aeroporto foi rebatizado como Aeroporto John F. Kennedy, em homenagem ao presidente dos Estados Unidos da América que fora recentemente assassinado em Dallas. A partir de 1977, o JFK passou a acolher os voos do Concorde até 2003. Era o aeroporto que mais operações recebia do Concorde, até este avião supersónico ser retirado de circulação. A 19 de Março de 2007, o JFK foi o primeiro aeroporto dos Estados Unidos da América a receber o novo Airbus A380 com passageiros a bordo.

Como ele está carregando um saco de roupas, Hadley presume que ele também está indo para um casamento, o que ele não contesta. Depois do embarque, Hadley e Oliver seguem caminhos distintos, mas Oliver descobre que o cinto de segurança de seu assento está quebrado e é realocado para o assento ao lado de Hadley. Durante o voo, eles aproveitam a oportunidade para se conhecer melhor e acabam se apaixonando. Ao pousarem, Oliver insere seu número de telefone no celular de Hadley para que ela possa contatá-lo, mas o aparelho desliga e ela perde o número. Sem meios de localizá-lo, Hadley segue para o casamento, chegando exatamente no horário do início da cerimônia. Apesar das dificuldades em aceitar a decisão de seu pai de se casar novamente, Hadley é comovida pela bondade e consideração da noiva dele, Charlotte (Katrina Nare). Após a cerimônia, Hadley escuta amigos da família comentando com Charlotte sobre a necessidade de irem embora mais cedo para comparecer a um serviço memorial. Ao ouvir alguns detalhes, Hadley percebe rapidamente que Oliver veio a Londres para o memorial de sua mãe, e não para um casamento. Com a recepção do casamento de seu pai prevista para começar apenas em quatro horas, Hadley decide ir ao memorial. Enquanto isso, o irmão de Oliver, Luther (Tom Taylor), irá busca-lo no aeroporto para levá-lo à cerimônia, que possui um tema baseado em obras de William Shakespeare. No local, Oliver se encontra com seu pai, Val (Dexter Fletcher), e com sua mãe ainda viva, Tessa (Sally Phillips), que sofre de câncer de pulmão terminal e deseja participar de seu próprio memorial. 

Oliver expressa seu descontentamento com a decisão dela de não se submeter ao tratamento, mas Tessa ressalta que, mesmo com tratamento, ela ainda morreria, então prefere viver o tempo que lhe resta de acordo com sua própria identidade. Hadley consegue localizar o serviço memorial, onde conhece a família de Oliver. Após superar a confusão inicial sobre Tessa ainda estar viva, ela finalmente encontra Oliver. Oliver se alegra ao ver Hadley e tenta suavizar seus sentimentos em relação à morte de sua mãe. Quando ela o pressiona a ser sincero e não usar estatísticas para justificar a situação, Oliver se irrita. Constrangida, Hadley decide ir embora, e apesar das desculpas de Oliver, como é normal em termos de senso comum, eles se despedem em um clima ruim. Posteriormente, Oliver faz o discurso em homenagem a Tessa. Durante sua fala, ele admite que tentou quantificar sua vida em números para entender melhor o que está vivendo. Contudo, ele reconhece que não pode reduzir a presença e o significado de sua mãe a meras estatísticas. Enquanto isso, Hadley percebe que esqueceu sua mochila no memorial e tenta voltar para a recepção do casamento a pé, mas acaba se perdendo. Ela pede emprestado o telefone de um desconhecido e liga para seu pai, que vai buscá-la junto com Charlotte. Andrew elogia sua filha por ter decidido ir ver Oliver e a ajuda a dar um fechamento aos seus sentimentos em relação ao divórcio dele com sua mãe.

Ele e Charlotte se desculpam por terem, inadvertidamente, pressionado Hadley ao tentar envolvê-la no casamento. Eles se reconciliam e todos seguem juntos para a recepção. No fim do memorial, a família de Oliver faz provocações sobre Hadley, e ele afirma que é inútil tentar algo, pois acredita que as chances do relacionamento prosperar são pequenas. Ao encontrar a mochila de Hadley, eles descobrem o convite para o casamento de Andrew e encorajam Oliver a procurá-la. Val comenta que, mesmo sabendo que Tessa acabaria morrendo de câncer, ele não teria feito nada de maneira diferente. Com isso, a família decide ir atrás de Hadley. Oliver encontra Hadley na recepção e compartilha seus três maiores medos: germes, a escuridão e surpresas, resultado do diagnóstico de câncer de sua mãe. Em seguida, Hadley lhe dá a lembrança de uma surpresa agradável ao beijá-lo. Quando ela pergunta sobre a pesquisa de Oliver, ele revela que está investigando a probabilidade estatística do amor à primeira vista. A narradora então revela que Hadley e Oliver passarão o resto de suas vidas juntos, serão casados por 58 anos e terão uma filha. Não queremos perder de vista que o raciocínio intuitivo da forma como está sendo apresentado, revela-nos uma superficialidade na forma de compreender o mundo. Retomando ao exemplo do homem: o mesmo não saberia explicar o porquê de nenhuma de suas conclusões, visto que ele se baseou somente em suas antigas experiências. Os fatos usados para formar a conclusão, não são compreendidos pelo homem, ele apenas sabe que são tal como são e aceita isso como natural. Além dessas substâncias e de outras, que estão em menor quantidade, o ar, por exemplo, também apresenta gotículas de água, poeira, e sobretudo partículas de vírus, bactérias e outro micro-organismos. Não entende ele, no plano abstrato da teoria “como” e nem o “por que” daqueles fatos a se apresentarem daquela maneira. Tudo que ele sabe, foi captado pelos sentidos, guardado na memória. Utilizado no dia-a-dia como forma de entender o mundo que lhe é anterior e ao seu redor.  - “A gente não quer só comida; A gente quer saída para qualquer parte”.                                  

A “intuição trabalhada”, por outro lado, tal como a entendera Gaston Bachelard, significa assumir com essa ideia a existência de polos necessariamente presentes no universo cultural humano. Melhor dizendo, o polo da objetividade e o polo da subjetividade, entrelaçados e mediados nos duros e doces caminhos da constituição da mediação científica assim como dos demais caminhos existentes, ideia tão cara à concepção de ciência nestes tempos. O pensamento de Bachelard se faz contemporâneo na atualidade potente de sua reflexão. Felizmente fora da dinâmica consensual entre pesquisadores, pois é conhecido por sua filosofia não cartesiana, não bergsoniana, não aristotélica e não kantiana, visto que sua obra excede a epistemologia e a estética e dialoga com diferentes áreas de saber. É representante do novo espírito científico que, ao refletir sobre o conhecimento, problematiza o erro em sua positividade e a importância real da retificação. Seu novo racionalismo aberto e dinâmico, histórico e factual, inova a concepção de imaginação social, porque explora os devaneios e desconfia das metáforas. A formação das expectativas não leva em consideração os fatores previstos na sociedade como muito incertos. Em determinadas situações, fatos muito incertos possam se tornar decisivos, tornando-se um guia razoável para as decisões correntes e os eventos a que se atribui um grau elevado de confiança. Bachelard foi um “filósofo da solidão feliz” que a procura de instantes poéticos nos desestabiliza nas incertezas do mundo objetivo.

As motivações que ordenam os símbolos não apenas já não formam longas cadeias de razões, mas nem sequer cadeias. A explicação linear do tipo de dedução lógica ou narrativa introspectiva já não basta para o estudo das motivações simbólicas. A classificação dos grandes símbolos da imaginação em categorias motivacionais distintas apresenta, com efeito, pelo próprio fato da não linearidade e do semantismo das imagens, grandes dificuldades. Metodologicamente, se se parte dos objetos bem definidos pelos quadros da lógica dos utensílios, como faziam as clássicas “chaves dos sonhos”, segundo as estruturas antropológicas do imaginário, cai-se rapidamente, pela massificação das motivações, numa inextricável confusão. Parecem-nos mais sérias as tentativas para repartir os símbolos segundo os grandes centros de interesse de um pensamento, certamente perceptivo, mas ainda completamente impregnado de atitudes assimiladoras nas quais os acontecimentos perceptivos não passam de pretextos para os devaneios imaginários. Tais as questões, as classificações mais profundas de analistas das motivações do simbolismo religioso ou da imaginação de modo geral literária.

Uma parte de sua obra, incluindo seus livros mais representativos sobre a tópica da intuição trabalhada como: A Poética do Espaço (1957), A Poética do Devaneio (1948), A Água e os Sonhos (1942) e O Ar e os Sonhos (1943), é permeada por categorias e conceitos que fogem ao lugar comum de análise e, sobretudo, do debate contemporâneo da ciência institucionalizada: sonho, devaneio, poética, alquimia, tempo, imaginação. A riqueza de Bachelard consiste fundamentalmente do ponto de vista do processo de criação em trazer para sua produção intelectual um duplo projeto: o aspecto diurno da sua obra, onde se inscrevem os conceitos mais ligados à epistemologia, e o aspecto noturno, onde aparece a complementaridade dos sinais da poesia e do sonho e, posteriormente, do devaneio e da ciência. Ao aproximar os dois aspectos, a sua concepção de história e filosofia demonstra que a cisão entre razão e imaginação fica bem clara se utilizarmos a via racional; mas se usarmos a via onírica, a razão e a imaginação se articulam, se interpenetram e se tornam complementares. No prolongamento dos esquemas explicativos, arquétipos e simples símbolos modernos podem-se considerar o mito.

Lembramos, todavia, que não estamos tomando este termo na concepção restrita que lhe dão os etnólogos, que fazem dele apenas o reverso representativo de um ato ritual. Entendemos por mito, “um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema, tende a compor-se na narrativa”. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do mesmo modo que comparativamente o arquétipo promovia a ideia e que o símbolo engendrava o nome, podemos dizer que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem observou Bréhier, a narrativa histórica e lendária. O método de análise em pregando a questão da convergência evidencia o mesmo isomorfismo na constelação e no mito. Enfim, para sermos breves, este isomorfismo dos esquemas, arquétipos e símbolos no seio dos sistemas míticos ou de constelações estáticas pode levar-nos a verificar a existência de protocolos normativos das representações imaginárias, bem definidos e relativamente estáveis, agrupados em torno dos esquemas originais e que antropologicamente a literatura refere-se como estruturas.             

A atividade dialética surge esboçada em princípio como atividade e a partir da análise da noção de “corpúsculo”. Tendo como certo que o filósofo deve tentar compreender a novidade da linguagem e ao mesmo tempo aprender a formar noções e conceitos novos para resistir aos conhecimentos comuns e à memória cultural, Bachelard, tentando precisar a noção de “corpúsculo”, rememora uma sequência de teses: o corpúsculo não é um pequeno corpo. Não é fragmento de substância. O corpúsculo não tem dimensões absolutas definidas. Só existe nos limites do espaço em que atua.  Correlativamente, se o corpúsculo não tem dimensões definidas, não tem, portanto, forma reconhecida. Melhor dizendo, o elemento não tem geometria. E, ipso facto, não se lhe pode atribuir um lugar muito preciso em virtude do princípio da indeterminação na Física de Werner Heisenberg (1927), a sua localização é submetida a tais restrições que a função de existência situada não tem mais valor absoluto. Em várias circunstâncias, a microfísica põe como um verdadeiro princípio a perda da individualidade do corpúsculo. Enfim, uma última tese que contradiz o axioma fundamental do chamado atomismo filosófico.

Complementarmente com as suas reflexões acerca da imaginação criadora e da poética, Bachelard infere que os corpúsculos, não sendo dados dos sentidos, “nem de perto nem de longe”, também não são dados escondidos. No entanto, apenas é possível conhecê-los, descobrindo-os, ou melhor, inventando-os, porque eles são a prova de que algo está no limite da invenção e da descoberta. Admirável é, então, a referência que Bachelard faz à noção de intuição trabalhada. Em Études, no ensaio “Idealismo discursivo” ele sublinha que tem alguma confiança e garantia na intuição para descrever positivamente o seu ser íntimo. Diz mesmo que o fato de exercermos uma preparação discursiva dá à intuição uma nova Jeunesse. De maneira que aconselha a fecharmos os olhos como uma forma de nos prepararmos para termos uma visão do nosso ser. A intuição será a via refletida de renunciar aos acidentes na história e significa um recurso metafísico de compreensão “de si”. Interessa, então, a intuição trabalhada e não a intuição imediata, a intuição que permite uma espécie de “repouso”, mesmo sabendo que na ciência, esse “repouso” na intuição pode ser “quebrado” por uma nova necessidade de rigor metafísico e pela necessidade de encadear mais forte as teorias sociais.

Esta valorização da intuição intelectual em detrimento da intuição sensível torna-se nítida quando o realismo das primeiras intuições deve pôr-se entre parêntesis, uma vez que a apreensão do real científico não se satisfaz com imagens primeiras. As imagens podem ser então, boas e más, indispensáveis e perigosas, dependendo da moderação no seu uso e da instância da redução em que as imagens devem permanecer quando as queremos usar para descrever um mundo que não se vê, ou fenômenos que não aparecem. Na ciência é preciso ir das imagens às ideias e este caminho é de análise, de discussão e de ordenação. Com certeza, também de polêmica, uma razão polêmica pode pensar-se como uma razão que tanto sabe afirmar, como também nas prováveis em reação às negações oficiais antecedentes, como negar afirmações anteriores a partir dos valores da verificação e da descoberta; uma razão polêmica crítica e introduz “nãos” que passam a desempenhar um papel pedagógico decisivo na produção de conhecimento por darem a compreender que na interpretação toda a afirmação não é sinônimo de conhecimento e que aquilo que é dado como verdadeiro aparece, muitas vezes, sob um fundo de erros e de ignorâncias tomadas como antecedentes. O espírito, exigindo aproximações sucessivas da experiência deve afastar-se daquelas teses cartesianas da razão.  O novo espírito sabe-se que todo o problema da intuição se encontra subvertido, trabalhado.

Enfim, a reflexão teórica não escolhe manter as práticas à distância de seu lugar, de maneira que tenha de sair para analisá-las, mas basta-lhe invertê-las para se encontrar em casa. Ela repete o corte que efetua. Este lhe é imposto pela história. Os procedimentos sem discurso são coligidos e fixados em uma região que o passado organizou e que lhes dá o papel, determinante para a teoria, de ser constituídos em “reservas” selvagens para o saber esclarecido. Esses procedimentos foram adquirindo um valor fronteiriço, à medida que a razão que surgiu historicamente da Aufklärung ia determinando suas disciplinas, suas coerências e poderes. Aparecem então como alteridades e “resistências”, relativas às escrituras científicas cujo rigor e operatividade se vão precisando a partir do século XVIII. Em nome do mesmo progresso, vê-se ocorrer o diferenciamento, de um lado, das artes (ou maneiras) de fazer, cujos títulos se multiplicam na literatura popular, objetos de crescente curiosidade dos “observadores do homem” e, de outro lado, as ciências esboçadas por uma nova configuração do saber.     

A distinção não se refere mais essencialmente ao binômio tradicional da “teoria” e da “prática”, especificado pela separação entre a “especulação” que decifra o livro do cosmos, e as “aplicações” concretas, mas visa duas operações diferentes, uma discursiva (na e pela linguagem) e a não discursiva. Desnecessário dizer que, desde o século XVI, a ideia de método abala progressivamente a relação entre o conhecer e o fazer, a partir das práticas do direito, da retórica, mudadas pouco a pouco em “ações” discursivas que se exercem em terrenos diversificados e, portanto, em técnicas de transformação de um ambiente, impõe-se o esquema fundamental de um discurso que organiza a maneira de pensar em maneira de fazer, em gestão racional de uma produção em operação regulada sobre campos apropriados. Eis o “método”, semente da cientificidade moderna. No fundo, o método sistematiza a arte que Platão já colocava sob o signo da atividade. Mas é por um discurso que ele ordena um saber-fazer. Portanto, a fronteira não separa mais dois saberes hierarquizados, um especulativo, o outro ligado às particularidades, um ocupado em ler a ordem cósmica e o outro às voltas com os pormenores das coisas no quadro que lhe é fixado pelo primeiro, mas ela opõe as práticas articuladas pelo discurso às que (ainda) não o são. Trocando em miúdos, admitimos que do “saber-fazer” não discursivo, per se sem escritura (é o discurso do método que é ao mesmo tempo escritura e ciência), qual será o estatuto? É feito de operatividades múltiplas, mas selvagens.

Essa proliferação não obedece à lei do discurso, mas obedece já à lei da produção, valor último da economia fisiocrata e depois capitalista. Ela contesta, portanto, à escritura científica o seu privilégio de organizar a produção. Ela irrita e estimula volta e meia os técnicos da linguagem. Pede uma conquista, não como de práticas desprezíveis, mas ao contrário de saberes “engenhosos”, “complexos” e “operativos”. De Francis Bacon e Christian Wolff ou Jean Beckmann, faz-se gigantesco esforço para colonizar essa imensa reserva de “artes” e “ofícios” que, por não conseguirem ainda articular-se em uma ciência, podem ser já introduzidos na linguagem pela “Descrição” e, deste modo, levados a uma maior “perfeição”. Mediante esses dois termos, a “descrição” que depende da narratividade e a “perfeição” que tem em mira uma otimização técnica, a posição das “artes” é fixada perto, mas fora da ciência. A arte é, portanto, um saber que opera fora do discurso esclarecido e que lhe falta. Mais ainda, esse saber-fazer precede, por sua complexidade, a ciência esclarecida. O princípio de uma operação etnológica sobre essas práticas já se acha então posto: o seu isolamento social pede uma espécie de “educação” que, graças a uma inversão linguística, vai introduzi-las no campo da escritura científica.

Fato notável, desde o século XVIII ao XX, os etnólogos ou os historiadores e sociólogos consideram as técnicas respeitáveis em si mesmas. Destacam aquilo que fazem. Não sentem mais a necessidade de interpretar. Basta descrever. Ao contrário, consideram como “lendas” que significam outra coisa diferente do que dizem as histórias pelas quais um grupo situa ou simboliza suas atividades. Estranha disparidade entre o tratamento dado às práticas e o domínio aos discursos. Onde o primeiro registra uma “verdade” do fazer, o outro decodifica as “mentiras” do dizer. As breves descrições do primeiro tipo contrastam, aliás, com as interpretações prolixas que fizeram dos mitos ou das lendas um objeto privilegiado pelos profissionais da linguagem, “clérigos” com longa experiência com procedimentos hermenêuticos transmitidos dos juristas aos professores e/ou etnólogos para glosar e “traduzir” em textos científicos ou documentos referenciais. Para sermos breves, a pergunta é: existiria então uma ciência onde “tudo seja fruto da reflexão”? Seja como for, usando um vocabulário bem próximo da Enciclopédia (que mencionava o contemplar), cabe à teoria “refletir” esse “todo”. De modo ainda mais geral, para Émile Durkheim a sociedade é uma escritura que só se faz legível por ele. Aqui existe um saber já escrito nas práticas, mas ainda não esclarecido. A ciência fornecerá o espelho para torná-lo legível, com o discurso “refletindo” uma operatividade imediata e precisa, mas privada da linguagem e consciência, já sábia, mas paradoxalmente inculta. A arte constitui em relação à ciência um saber em si mesmo, desde Hegel, essencial. Posição perigosa para a ciência, pois só lhe resta poder dizer ao saber que lhe falta. Entre a ciência e a arte, considera-se não uma alternativa, mas a complementaridade e, se possível, a articulação. A literatura se muda em repertório dessas práticas desprovidas de copyright tecnológico. São elas ainda que vão ocupar um lugar privilegiado nos relatos dos clientes nas salas das instituições psiquiátricas ou dos psicanalistas. Noutras palavras, igualmente há quem forneça às práticas genuinamente sociais o escrínio de liberdade.

Bibliografia Geral Consultada.

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