domingo, 6 de abril de 2025

Colônias Penais – Par-ser-visto & Origem da Aprendizagem Corporativa.

  O novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta”. Michel Foucault  

            O escravo fora condenado à forca “por matar a pauladas e punhaladas um dos homens mais respeitados de Pilar e sua mulher. O assassino recorreu ao imperador dom Pedro II, rogando que a pena capital fosse comutada por uma punição mais branda, como a prisão perpétua”. O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves surgiram na sequência da guerra de Portugal contra a França Napoleônica. O Príncipe Regente, o futuro Rei D. João VI, com a sua incapacitada mãe, a Rainha Dona Maria I de Portugal e a Corte Real transferiram-se para a sua brasileira, em novembro de 1807. Com a derrota de Napoleão em 1815, houve apelos para o retorno do Monarca português a Lisboa, o Príncipe Regente gostava da vida da província no Rio de Janeiro, onde a monarquia era mais popular e onde ele tinha demais liberdade, e foi assim, relutante em voltar para a Europa. No entanto, aqueles que defendiam o regresso da Corte para Lisboa, argumentaram que o Brasil era apenas uma colônia e que não era certo para Portugal ser governada a partir de uma colônia. Por outro lado, o governante foi pressionado para elevar politicamente o reino do Brasil a partir da posição de uma colônia, para que eles pudessem desfrutar de todo o estado de ser cidadãos do país-mãe. Nacionalistas brasileiros também apoiaram o movimento, pois é indicado que o Brasil deixaria de ser submisso aos interesses de Portugal, mas seria em igualdade de condições, dentro de uma Monarquia transatlântica.

            Colônias penais são comunidades de prisioneiros que vivem em locais remotos, como ilhas ou territórios coloniais. Elas são usadas para isolar os prisioneiros da população em geral. As monarquias existentes na Europa são constitucionais ou parlamentares, sendo que a liderança do governo é exercida por um Primeiro-Ministro ou o presidente de um Conselho de Ministros. Existem 13 monarquias na América do Sul, América Central e América do Norte, onde cada Estado representa uma monarquia constitucional em que o soberano herda de seu cargo, geralmente mantendo-o até a morte ou que abdique, como no Brasil, e está vinculada por leis e costumes no exercício de seus poderes constituídos. Dez monarquias são Estados nacionais independentes, e compartilham com a Rainha Elizabeth II (1926-2022), que residia principalmente no Reino Unido. Assim, como seus respectivos soberanos, tornando-os parte de uma poderosa rede globalizada de agrupamento reconhecido como Reinos da Commonwealth, enquanto os três restantes são historicamente dependências políticas das monarquias Europeias. Como tal, vale lembrar que nenhuma das monarquias nas Américas tem um monarca que resida permanentemente. Essas Coroas continuam a história da monarquia nas Américas, que remonta ao despotismo antes da colonização. A cidade de Pilar, na província de Alagoas, amanheceu tumultuada em 28 de abril de 1876. Calcula-se em torno de dois mil aglomerado para assistir à execução do negro Francisco. A escravatura, denominada também de escravidão, escravismo, esclavagismo, ou escravagismo, é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo ou escravizado, decorrente da violência física ou moral. Em algumas sociedades, desde os tempos mais remotos, os escravos eram legalmente definidos como “uma mercadoria” ou como “despojos de guerra”. 

         Os preços variavam conforme as condições físicas, habilidades profissionais, idade, procedência e destino. O dono ou comerciante pode comprar, vender, dar ou trocar por uma dívida, sem que o escravo possa exercer qualquer direito e objeção pessoal ou legal, mas isso não é regra. Não era em todas as sociedades que o escravo era visto como mercadoria: na Idade Antiga, haja vista que os escravos de Esparta, os hilotas, não podiam ser vendidos, trocados ou comprados, isto pois eles eram propriedade do Estado espartano, que podia conceder a proprietários o direito de uso de alguns hilotas; mas eles não eram propriedade particular, não eram pertencentes a alguém, era o Estado que tinha poder sobre eles. A escravidão da era moderna está baseada num forte preconceito racial, segundo o qual o grupo étnico ao qual pertence o comerciante é considerado superior; embora já na Antiguidade as diferenças étnicas fossem bastante exaltadas entre os povos escravizadores, principalmente quando havia fortes disparidades fenotípicas. Na antiguidade também foi comum a escravização de povos conquistados em guerras entre nações. Enquanto modo de produção, a escravidão assenta na exploração do trabalho forçado da mão de obra escravizada. Os senhores alimentam os seus escravos e apropriam-se do produto restante do trabalho destes. A exploração do trabalho escravo torna possível a produção de grandes excedentes e uma enorme acumulação de riquezas, e contribuiu para o desenvolvimento econômico e cultural que a humanidade conheceu em dados espaços e momentos: grandes construções como diques e canais de irrigação, castelos, pontes e fortificações, exploração de minas e florestas, desenvolvimento da agricultura em larga escala, abertura de estradas, desenvolvimento das artes e letras.        

            O Cais do Valongo (RJ) construído em 1811 foi local de desembarque e comércio de escravos africanos que durante vinte anos de sua operação mercantil desembarcaram até 1831, entre 500 mil e 1 milhão de escravos ignorando a proibição do tráfico transatlântico. Era o maior porto escravagista da história da humanidade. Um mercado que se intensificou a partir da construção do Cais, porta de entrada de mais de 500 mil africanos, em sua maioria, vindos do Congo e de Angola, Centro-Oeste africano.  O desembarque ocorria no porto, ponto nobre do Rio de Janeiro Imperial. Em 1843, o cais foi reformado para o desembarque da princesa Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, que viria a se casar com o imperador D. Pedro II, alcunhado o Magnânimo, foi o segundo e último Imperador do reinado do Brasil durante 48 anos, de 1840 até sua deposição em 1889. Nascido no Rio de Janeiro foi o filho mais novo do imperador Pedro I do Brasil e da imperatriz Dona Maria Leopoldina de Áustria e, portanto, membro legítimo do ramo brasileiro da Casa de Bragança. A abdicação do pai e sua viagem para a Europa tornaram Pedro imperador com apenas cinco anos, perdendo a maior parte de sua infância e adolescência estudando a arte do poder em preparação para imperar. Suas experiências com as intrigas e disputas tiveram impacto em seu caráter.        

            Um decreto do vice-rei, marquês do Lavradio, ordenou então a construção de um cais no Valongo para os navios negreiros porque a visão dos negros desembarcados perturbava os moradores racistas. O título nobiliárquico de Marquês de Lavradio, de juro e herdade e com Honras de Parente da Casa Real, foi criado por D. José I, por carta de 18 de Outubro de 1753, em favor de D. Antônio de Almeida Soares Portugal, 1º Conde de Lavradio e 4º Conde de Avintes, e bisneto do primeiro conde deste último título. Os Marqueses de Lavradio herdaram a representação dos Duques de Aveiro e Duques de Torres Novas, Marqueses de Torres Novas e Marqueses de Gouveia, Condes de Portalegre e de Santa Cruz e Condes de Torres Vedras, pela morte do 8.º Duque de Aveiro, envolvido na Conspiração dos Távoras, ou, Processo dos Távoras refere-se a um escândalo político português do século XVIII. Os acontecimentos foram desencadeados pela alegada tentativa de assassinato do rei D. José I em 1758, e culminaram numa execução pública em Belém. As origens e genealogias destes títulos foram descritas, entre outros, por D. António Caetano de Sousa nas referidas Memorias Históricas e Genealógicas dos Grandes de Portugal. Anselmo Braamcamp Freire, no Vol. II da sua obra: Brasões da Sala de Sintra dedica o capítulo XVI aos Almeidas, descrevendo ao longo de centena e meia de páginas a formação da linhagem, que deu origem a várias casas e títulos, que ipso facto serviram de estrutura, no sentido marxista do termo, ao processo náutico de comunicação social da colonização portuguesa nos séculos XIV-XVI.  O atracadouro passou a chamar-se “cais da Imperatriz”. Entre 1850 e 1920, a zona tornou-se espaço público determinado, utilizado por ex-escravos de diversas nações, área em que Heitor dos Prazeres (1898-1966), um dos fundadores da escola de samba carnavalesca que mais tarde originou-se Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, no Rio de Janeiro, chamou de “Pequena África”. 

        Heitor dos Prazeres trabalha cedo na oficina do pai que era marceneiro. Talentoso, no trabalho e na imaginação musical, dominava o clarinete e o cavaquinho e seus sambas e marchinhas alcançaram projeção nacional. No local surgiu da terra testemunhos surpreendentes da história do Brasil, e particularmente da cidade do Rio de Janeiro: o chamado “Cais da Imperatriz”. Essa decisão implicou no alargamento e na compra de propriedades, no embelezamento e no melhoramento da região, projeto do famoso paisagista Grandjean de Montigny (1776-1850). Era um cais de triste história, marcada pelo sofrimento e dor chamado de “Cais do Valongo”, pois constituiu a porta de entrada do tráfico negreiro de escravos. O Cais do Valongo foi substituído pelo Cais da Imperatriz, para “apagar a memória do porto da história nacional”. Percebam o nível de ignorância simbólica dos defensores da casta monárquica brasileira. O Brasil traficou cerca de 4 milhões de escravos nos mais de 3 séculos de duração do regime de trabalho escravagista, o que equivale a 40% de todos os africanos que chegaram vivos nas três Américas entre os séculos XVI e XIX. Destes, aproximadamente 60% entraram pelo Rio de Janeiro, sendo que cerca de 1 milhão deles pelo Cais do Valongo. O título de patrimônio histórico da humanidade tem o objetivo de reconhecer a importância do local dos africanos que lá desembarcavam para a formação cultural, social e econômica do Brasil.

O assédio moral está presente desde as primeiras formas sociais de relação de trabalho e constitui-se em um problema teórico, histórico e ideológico profundo, que ocorre tanto no setor público, como no setor da vida privada. No assédio moral, não se observa mais uma relação simétrica como no conflito. Mas uma relação perversa da imaginação entre dominante-dominado, na qual aquela parte que comanda a burocracia das relações sociais procura submeter o outro até fazê-lo perder a própria identidade. Quando isto se passa no âmbito da trapaça e ato de insubordinação, velada, não se transforma em um abuso de poder hierárquico, e a autoridade legítima sobre um subordinado se torna a dominação da casta burocrática. A prática do assédio moral não possui uma legislação específica, mas vem seguida da extinção do modelo fordista de organização da produção. Sua conduta pode ser analisada através da legislação, cujos fundamentos encontram-se hic et nunc na Constituição Federal, no Código Civil, no Código Penal, e na por hora mortificada Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O conceito de assédio moral organizacional foi desenvolvido, em 2006, pela Procuradora Regional do Trabalho, Adriane Reis de Araújo, como uma “tecnologia de gestão globalizada” que se caracteriza pelo emprego de condutas abusivas de qualquer natureza.

Mas a que nos referimos especificamente quando falamos sobre a circuncisão da pedagogia escolar na cena pública? Construída sob o signo de ruptura, a obra de Michel Foucault (1926-1984) subverteu, transformou, amplificou a relação de saber e a verdade institucionalizada. Será preciso balizar: a perversidade da economia do poder e não tanto a fraqueza ou a crueldade é o que ressalta da crítica dos seus reformadores. O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente. Forma-se então uma política de coerções que são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o desarticula e o recompõe. A divisão do trabalho social não visa o aprofundamento das relações técnicas, mas a penas seu quadriculamento: uma disciplina linear das pesquisas.

Mesmo de corte etnográfico, fabrica corpos submissos e exercitados, os “corpos dóceis”. A disciplina aumenta as forças em termos econômicos de utilidade e diminuem essas mesmas forças em termos políticos de obediência programada. É neste sentido que Michel Foucault ressalta que o espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas quando corpos ou elementos há a repartir. A disciplina organiza o espaço analítico. Lugares determinados se definem para satisfazer não só a necessidade de vigiar, de romper as comunicações perigosas, mas também de criar um espaço útil, um dispositivo que afixa e quadricula, decompondo a confusão da ilegalidade e do princípio do mal. Na disciplina, os elementos são intercambiáveis, pois cada um se define pelo lugar que ocupa na série, e pela distância que o separa dos outros. A unidade não é, portanto, nem o território (unidade de dominação), nem o local (unidade de residência), mas a posição na fila, o lugar que alguém ocupa numa classificação, o ponto em que se cruzam uma linha e uma coluna, o intervalo numa série de intervalos que se pode percorrer sucessivamente. A disciplina, segundo Foucault, representa a arte de dispor em fila, e da técnica, para a transformação dos arranjos, individualiza os corpos pela localização que não os implanta, mas os distribui e os faz circular numa rede de relações. 

A organização de um espaço serial representou uma das grandes modificações técnicas do ensino elementar. Permitiu ultrapassar o sistema tradicional: um aluno que trabalha alguns minutos com o professor, enquanto fica ocioso e sem vigilância o grupo confuso dos que estão esperando. Determinando lugares individuais tornou possível o controle de cada um e o trabalho simultâneo de todos. Organizou uma nova economia do tempo de aprendizagem. Fez funcionar o espaço escolar como uma “máquina de ensinar”, mas também de vigiar, de hierarquizar, de recompensar. O tempo penetra o corpo, e com ele todos os controles minuciosos do poder. O controle disciplinar não consiste simplesmente em ensinar ou impor uma série de gestos definidos; impõe a melhor relação entre um gesto e a atitude global do corpo, que é sua condição de eficácia e de rapidez. No bom emprego do corpo, que permite um bom emprego do tempo, nada deve ficar ocioso: tudo deve ser chamado a formar o suporte do ato requerido. Um corpo disciplinado forma o real do mínimo gesto dos recursos multimodais, referente aos aspectos verbais, gestos, corpo e mundo material, com rigor abrangendo por inteiro, da ponta do pé à extremidade do indicador.

A aprendizagem corporativa com a utilização de bolsistas, introduzidas pelas castas que formam pequenos grupos de pesquisas nas universidades públicas, surgiu originalmente em 1667, confiados durante certo tempo a um mestre que devia realizar “sua educação e instrução”, depois colocados para a aprendizagem junto aos diversos mestres tapeceiros da manufatura; após seis anos de aprendizagem, quatro anos de serviço e uma prova qualificatória, tinham direito a “erguer e manter loja” em qualquer cidade do reino. Encontramos aí a divisão técnica do trabalho corporativo: relação de dependência ao mesmo tempo individual e total quanto ao mestre; duração estatutária da formação que se conclui com uma prova qualificatória, mas que não se decompõe segundo um programa preciso; troca total entre o mestre que deve dar seu saber e o aprendiz que deve trazer seus serviços, sua ajuda mútua e muitas vezes uma retribuição. A forma de domesticidade se mistura a uma transferência de conhecimento. A escola é dividida em três classes. A primeira para os que não têm nenhuma noção de desenho; a segunda para os que já têm alguns princípios e, na terceira, aprendem as cores, fazem pastel, iniciam-se na teoria e na prática do tingimento. Regularmente, no âmbito disciplinar, os alunos fazem deveres individuais: cada um desses exercícios, marcado com o nome e a data da execução, é depositado nas mãos do professor. Os melhores são recompensados, reunidos e comparados entre eles, permitem estabelecer os progressos, o valor, o lugar relativo de cada aluno, e os que podem prosseguir para a classe superior.

Em resumo, pode-se dizer historicamente que a disciplina produz, a partir dos corpos que controla quatro tipos de individualidade, ou antes, uma individualidade dotada de quatro características essenciais: é celular, pelo “jogo da repartição espacial”, é orgânica, pela “codificação das atividades”, é genética, pela “acumulação do tempo”, é combinatória, pela “composição das forças”. E, para tanto, utiliza quatro grandes técnicas: constrói quadros; prescreve manobras; impõe exercícios; enfim, para realizar a combinação das forças, organiza táticas. Esta representa a arte de construir, com os corpos localizados, atividades codificadas e as aptidões formadas, aparelhos em que o produto das diferentes forças se encontra majorado por sua combinação calculada é sem dúvida a forma mais elevada da prática disciplinar. Uma técnica extensiva utilizada nos laboratórios das universidades. É possível que a guerra como estratégia seja a continuação da política. A política, como técnica da paz e da ordem interna, procurou por em funcionamento o dispositivo do exército perfeito, da massa disciplinada, da tropa dócil e útil, do regimento na manobra e no exercício. Se há uma série guerra-política que passa pela estratégia, há uma série exército-política que passa pela tática. A vigilância se torna um operador econômico decisivo, na medida em que é ao mesmo tempo uma peça interna no aparelho de produção e uma engrenagem específica do poder disciplinar.

Na essência de todos os sistemas disciplinares, funciona um pequeno mecanismo penal. É beneficiado por uma espécie de privilégio de justiça, com suas leis próprias, seus delitos especificados, suas formas particulares de sanção, suas instâncias de julgamento. As disciplinas estabelecem uma “infrapenalidade”, quadriculam um espaço deixado pelas leis, qualificam e reprimem um conjunto de comportamentos que escapava aos grandes sistemas de castigo por sua relativa indiferença. Na oficina, na escola, no exército, funciona como repressora toda uma “micropenalidade” do tempo (atrasos, ausências, interrupções das tarefas), da atividade (desatenção, negligência, falta de zelo), da maneira de ser (grosseria, desobediência), dos discursos (tagarelice, insolência), do corpo (atitudes incorretas, gestos não conformes, sujeira), da sexualidade (imodéstia, indecência). Ao mesmo tempo é utilizada, a título de punição, uma série de processos sutis, que vão do castigo físico leve a privações ligeiras e a pequenas humilhações. Trata-se ao mesmo tempo de tornar penalizáveis as frações mais tênues de conduta social, e dar uma função predatória punitiva aos elementos aparentemente “indiferentes do aparelho disciplinar”: levando ao extremo, que tudo possa servir para punir a mínima coisa; que cada indivíduo se encontre preso numa universalidade punível-punidora.

Mas a disciplina traz consigo uma maneira específica de punir, e que é apenas um modelo reduzido do tribunal. O que pertence à penalidade disciplinar é a inobservância, tudo o que está inadequado à regra, tudo o que se afasta dela, os desvios. É passível de pena o campo indefinido do não conforme. O regulamento da infantaria prussiana impunha tratar com “todo o rigor possível” o soldado que não tivesse aprendido a manejar corretamente o fuzil. O castigo disciplinar tem a função de reduzir os desvios. Deve, portanto, ser essencialmente corretivo. De modo que o efeito corretivo que dela se espera apenas de uma maneira acessória passa pela expiação e pelo arrependimento; é diretamente obtido pela mecânica de um castigo. Castigar é exercitar. Ipso facto, o exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar, punir. Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados e sancionados. Em todos os dispositivos de disciplina, o exame é altamente ritualizado. Nele vêm-se reunir a cerimônia do poder. A forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade. O indivíduo é o átomo fictício de representação. É realidade fabricada pela tecnologia específica de poder: a disciplina.

O panóptico de Jeremy Bentham (1748-1832), representa uma máquina de dissociara questão em torno do o par-ser-visto: no anel periférico, se é totalmente, se é totalmente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto, pois é a “figura arquitetural dessa composição”. O princípio é reconhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre: esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um estudante. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber a torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível. O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem “ver sem parar e reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções – trancar, privar de luz e esconder – só se conserva a primeira e se suprime duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha” (cf. Foucault, 2014: 194).

E ainda a sua relevância para toda a humanidade como símbolo da violência que a escravidão representa. O Cais do Valongo foi o único sítio inscrito pelo Brasil para concorrer ao título. A candidatura foi apresentada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pela prefeitura do estado do Rio de Janeiro e aceita pelo comitê em 2015. Na oportunidade, foi apresentado Dossiê (cf. Sela, 2006) com detalhes da história do tráfico negreiro e o que o trabalho escravo significou para a economia entre os séculos XVI e XIX. O trabalho, coordenado pelo antropólogo Milton Guran (2000), demonstrou que o sítio arqueológico não está ligado apenas aos afrodescendentes, mas a complexidade histórica da sociedade brasileira. Na ideologia dominante do colonizador português, o “mundo escravo”, o mundo do trabalho escravagista, deveria ser transparente e numerosamente silencioso. Os cativos representavam de metade a dois quintos do total de habitantes da cidade do Rio de Janeiro no decurso do século XIX. A Corte reunia em 1851, a maior concentração urbana de escravos existente no mundo ocidental desde o final do Império romano: 110 mil escravos em 266 mil habitantes. Tal volume de cativos levava a uma divisão fundamental: de um lado, a Rua do Ouvidor, com seus hábitos requintados e europeus; de outro, uma quase “cidade negra” em suas diversificadas etnias e hábitos díspares africanos. No núcleo urbano do município formado por nove paróquias centrais, as porcentagens eram menores, mas o impacto da presença negra era ainda maior. Esse constituía o centro per se nervoso da Corte, sede dos principais edifícios públicos, praças e do comércio mais importante do II Reinado (1840-1888).

Do total de 206 mil habitantes que moravam na área, 38% eram escravos. Dividindo espaços, a Corte da Rua do Ouvidor tentava fazer da escravidão um impossível cenário invisível, diante da ameaça previsível e constante à estabilidade da monarquia que contrastava com a utopia do processo civilizatório. O monarca, poucos dias antes de partir para uma temporada a passeio fora do Brasil, assinou o despacho de execução penal, segundo o qual “não haveria clemência imperial”. Acorrentado ao carrasco e com a corda já no pescoço, Francisco percorreu as ruelas da cidade num cortejo funesto até o ponto em que a forca estava armada com a presença cativa de seu público. Na plateia havia escravos, levados forçados por seus senhores para que o caso lhes servisse de exemplo. A ordenação de 1670 regeu, até à Revolução, as formas gerais da prática penal. Eis a hierarquia dos castigos por ela descritos: A morte, a questão com reserva de provas, as galeras, o açoite, a confissão pública, o banimento. As penas físicas tinham, portanto, uma parte considerável. Os costumes, a natureza dos crimes, o status dos condenados as faziam variar ainda mais. Não só, mas grandes e solenes execuções, é que o suplício, manifestava a parte significativa que tinha na penalidade qualquer pena um pouco séria devia ter alguma coisa do suplício. O suplício é uma técnica disciplinar e não deve ser equiparado aos extremos de “uma raiva sem lei”. Uma pena, para ser um suplício, deve obedecer a três critérios: em primeiro lugar, produzir certa quantidade de sofrimento que se possa, se não medir exatamente, ao menos visivelmente apreciar, comparar e hierarquizar. A morte é um suplício na medida em que ela não é simplesmente privação do direito de viver, mas a ocasião e o termo final de uma graduação calculada, isto é, de sofrimento de sofrimentos.

Na realidade o suplício, segundo Foucault (2014) repousa na arte quantitativa de sofrimento. Mas não é só: esta produção é regulada. E pelo lado da justiça que o impõe, o suplício deve ser ostentoso, deve ser constatado por todos, um pouco como seu trunfo. O próprio excesso das violências cometidas é uma das peças de sua glória: o fato de o culpado gemer ou gritar com os golpes não constitui algo de acessório e vergonhoso, mas é o próprio cerimonial da justiça que se manifesta em sua força. Por isso sem dúvida é que os suplícios se prolongam ainda depois da morte: cadáveres queimados, cinzas jogadas ao vento, corpos arrastados na grade, expostos à beira das estradas. A justiça persegue o corpo além de qualquer sofrimento possível. O suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal. Quer dizer, trata-se sensivelmente de uma produção diferenciada de sofrimentos, que ocorre através de um ritual organizado para a marcação das vítimas e a manifestação do poder que pune: não é absolutamente a exasperação de uma justiça que, esquecendo seus princípios, perdesse todo o controle.

Nos “excessos” dos suplícios se investe toda a economia do poder. E ipso facto, diante da justiça do soberano, todas as vozes devem se calar. Temos então uma aritmética penal meticulosa em muitos pontos. Chegamos historicamente ao dia em que a singularidade dessa verdade judicial parece escandalosa: como se a justiça não tivesse que obedecer às regras da verdade comum: que se diria de uma meia-prova nas ciências demonstráveis? Não devemos esquecer que essas exigências formais da prova jurídica eram um modo de controle interno do poder absoluto e exclusivo do saber. Há exatos 140 anos, essa foi a última pena capital oficial executada no Brasil. Depois de Francisco, nenhum “criminoso” perdeu a vida por ordem judicial. Encerrava uma prática autoritária que vinha desde a invasão e colonização portuguesa, chamada pela literatura oficial “descobrimento”. Basta rememorar o caso do índio Tupinambá que o governador-geral Tomé de Souza “mandou explodir à boca de um canhão em 1549”, ou, em Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, enforcado e esquartejado em 1792 em praça pública, ou ainda, no liberal radical frei Caneca, fuzilado em 1825. A informação penal escrita, secreta, submetida, para construir suas provas, a regras rigorosas da justiça penal, é uma máquina que pode produzir a verdade na ausência do acusado. E por essa mesma razão, igualmente, embora no estrito direito isso não seja mais necessário, esse procedimento não requer mais necessariamente tender à confissão. Entretanto, há uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo heresiarca do século III, que divide o mundo entre Bom, ou Deus, e Mau, ou Diabo.

Antes, a única maneira para que esse procedimento perca tudo o que tem de autoridade unívoca, e se torne efetivamente uma vitória conseguida sobre o acusado, a única maneira para que a verdade exerça todo o seu poder, é que o criminoso tome sobre si o próprio crime e ele mesmo assine o que foi sábia e obscuramente construído pela informação. Daí a importância dada à confissão por todo esse processo de tipo inquisitorial. Daí também as ambiguidades de seu papel social. Por um lado, tenta-se fazê-lo entrar no cálculo geral das provas; ressalta-se que ela não passa de uma delas; ela não é a evidentia rei; assim como “a mais forte das provas”, ela sozinha não pode levar à condenação, deve ser acompanhada de indícios anexos, e de presunções; pois já houve acusados que se declararam culpados de crimes que não tinha cometido; o juiz deverá então fazer pesquisas complementares, se só estiver de posse da confissão regular do culpado. No fim do século XVIII, a tortura será denunciada como resto das barbáries de uma outra época: marca de uma selvageria denunciada como “gótica”. É verdade que a prática da tortura remonta à Inquisição, é claro, e mais longe ainda do suplício dos escravos. Mas ela não figura no direito clássico como sua característica ou mancha.     

Ela tem lugar estrito num mecanismo penal complexo em que o processo de tipo inquisitorial tem um lastro de elementos dos sistema acusatório, em que a demonstração escrita precisa de um correlato oral; em que as técnicas de prova administrada pelos magistrados se misturam com os procedimentos de provas que eram desafios ao acusado; em que lhe é pedido – se necessário pela coação mais violenta – que desempenhe no processo o papel do parceiro voluntário; em que se trata em suma de produzir a verdade por um mecanismo de dois elementos – o do inquérito conduzido em segredo pela autoridade judiciária e o do ato realizado ritualmente pelo acusado. O corpo do acusado, “corpo que fala” e, se necessário, sofre, serve de engrenagem aos dois mecanismos; é por isso que, enquanto o sistema punitivo clássico não for totalmente reconsiderado, haverá muito poucas críticas radicais da tortura. O interrogatório é um meio perigoso de chegar ao conhecimento da verdade; por isso os juízes não devem recorrer a ela sem refletir. Nada é mais equívoco. Pode-se a partir daí encontrar o funcionamento do interrogatório como suplício da verdade. Em primeiro lugar, o interrogatório não é uma maneira de arrancar a verdade a qualquer preço; não é absolutamente a “louca tortura” dos interrogatórios modernos; é cruel, certamente, mas não selvagem. Trata-se da prática regulamentada, que obedece a um procedimento bem-definido, com momentos, duração, instrumentos utilizados, comprimentos das cordas, peso dos chumbos, número das cunhas, do magistrado que interroga tudo segundo os diferentes hábitos, cuidados, codificados, a tortura, é um jogo judiciário estrito.

Daí o hábito, que se introduzira para os casos mais graves, de impor suplício do interrogatório “com reserva de provas”. A esta primeira ambiguidade se sobrepõe uma segunda: investiga-se de novo a confissão como prova particularmente forte, que exige para levar à condenação apenas alguns indícios suplementares, que reduzem ao mínimo o trabalho de informação e a mecânica de demonstração; todas as formas possíveis de coerção serão utilizadas para obtê-la. Mas embora ela deva ser no processo, a contrapartida viva e oral da informação escrita, a réplica desta, e como que sua autenticação por parte do acusado será cercada de garantias e formalidades. Ela conserva alguma coisa de uma transação; por isso exige-se que seja “espontânea”, que seja formulada diante do tribunal competente, que seja feita com toda consciência, que não trate de coisas impossíveis etc. Pela confissão, o acusado se compromete em relação ao processo; ele assina a verdade da contida na própria revelação da informação. Essa dupla ambiguidade da confissão: elemento de prova e contrapartida da informação; efeito de coação e transação semi-voluntária, explica os dois meios que o direito utiliza para obtê-la: por um lado o juramento que se pede ao acusado antes do interrogatório; por outro a tortura, violência física para arrancar uma verdade que, para valer como prova, tem que ser em seguida repetida, diante dos juízes, a título de “confissão espontânea”.

A tortura judiciária no século XVIII funciona nessa estranha economia em que o ritual que produz a verdade caminha a par com o ritual que impõe a punição. O corpo interrogado no suplício constitui o ponto de aplicação do castigo e o lugar de extorsão da verdade. E do mesmo modo que a presunção é solidariamente um elemento de inquérito e um fragmento de culpa, o sofrimento regulado da tortura é ao mesmo tempo uma medida para punir e um ato de instrução. Ora, curiosamente, essa engrenagem dos dois rituais através do corpo continua mesmo sendo feita a prova e formulada a sentença, na própria execução da pena. E o corpo do condenado é novamente uma peça essencial de conteúdo de sentido no cerimonial do castigo público. Cabe ao culpado levar à luz do dia sua condenação e a verdade do crime que cometeu. O suplício tem então simultaneamente tanto uma representação social assim como uma função jurídico-política. É um cerimonial para reconstituir a soberania lesada no instante. Ele a restaura manifestando-a em todo o seu brilho. A execução pública, por rápida e cotidiana que seja, se insere em toda a série dos grandes rituais do poder eclipsado e restaurado: por cima do crime que desprezou o soberano, ela exibe aos olhos de todos uma força invencível.

Sua finalidade é menos estabelecer um equilíbrio que de fazer funcionar, até um extremo, a dissimetria entre o súdito que ousou violar a lei e o soberano todo-poderoso que faz valer sua força. Se a reparação do dano privado ocasionado pelo delito deve ser bem-proporcional, se a sentença deve ser justa, a execução da pena é feita para dar não o espetáculo da medida, mas do desequilíbrio e do excesso; deve haver, nessa liturgia da pena, uma afirmação enfática do poder e, concomitantemente de sua superioridade intrínseca. E esta superioridade não é simplesmente a do direito, mas a da força física do soberano que se abre sobre o corpo de seu adversário e o domina; atacando a lei, o infrator lesa a própria pessoa do príncipe: ela - ou pelo menos aqueles a quem ele delegou sua força - se apodera do corpo do condenado para mostra-lo marcado, vencido, quebrado. A cerimônia punitiva é aterrorizante. O suplício não restabelecia a justiça; reativava o poder. Enfim, todo o seu aparato repressivo de Estado se engrenava no funcionamento político da penalidade sobre o criminoso. É uma questão que tem recorrência no plano teórico, histórico e político-ideológico no Brasil.  Não queremos perder de vista, neste aspecto, o caso ímpar em que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), eleito mas, logo “foi processado, condenado e encarcerado sem que tenha cometido crime, com o claro objetivo de interditá-lo politicamente”, disse seu advogado Cristiano Zanin Martins.

             No oceano da linguagem progressivamente disseminado, mundo sem margens e sem âncoras (é duvidoso, e logo improvável, que um Único sujeito se aproprie dele para fazê-lo falar), cada discurso particular atesta a ausência do lugar que, no passado, era atribuído pela organização de um cosmos e, portanto, a necessidade de cortar para si um lugar por uma maneira própria de tratar um departamento por língua. Noutros termos, pelo fato de perder seu lugar, o indivíduo nasce como sujeito. O lugar que lhe era outrora fixado por uma língua cosmológica, ouvida como uma vocação e colocação numa ordem do mundo, torna-se agora um nada, uma espécie de vácuo, que obriga o sujeito a apoderar-se de um espaço, colocar-se a si mesmo, segundo Michel de Certeau (1968), “como um produtor da escritura”. A ideologia dominante muda em técnica, tendo por programa essencial fazer uma linguagem e não mais lê-la. A própria linguagem deve ser fabricada, “escrita”. Não há direito que não se escreva sobre corpos. Ele domina o corpo. A própria ideia de um indivíduo isolável do grupo se instaurou com a necessidade, sentida pela justiça penal, de corpos que devem ser marcados por um castigo e, pelo direito matrimonial, de corpos que se devem marcar com um preço nas transações sociais entre coletividades. Do nascimento ao luto, o direito se apodera dos corpos para fazê-los seu texto. Seja como for, sempre é verdade que a lei se escreve sobre os corpos. 

         O termo ideologia aparece pela primeira vez em 1801 no livro de Destutt de Tracy, Eléments d`ldéologie. Juntamente com o médico Pierre-Jean-Georges Cabanis, De Gérando e Volney, De Tracy pretendia elaborar uma ciência da gênese das ideias, tratando-as como fenômenos naturais que exprimem a relação do corpo humano enquanto organismo com o ambiente. Elabora uma teoria sobre as faculdades sensíveis, responsáveis pela formação de todas as nossas ideias: querer (vontade), julgar (razão), sentir (percepção) e recordar (memória). Nesses termos os ideólogos franceses eram antiteológicos, antimetafísicos e antimonárquicos. Pertenciam ao partido liberal e esperavam que o progresso das ciências experimentais, baseadas exclusivamente na observação, na análise e síntese dos dados observados, pudesse levar a uma nova pedagogia e a uma nova moral. Contra a educação religiosa e metafísica, que permite assegurar o poder político de um monarca, De Tracy propõe o ensino das ciências físicas e químicas para “formar um bom espírito”, isto é, um espírito capaz de observar, decompor e recompor os fatos, sem se perder em vazias especulações. Cabanis pretende construir ciências morais dotadas de tanta certeza quanto os naturais, capazes de trazer a felicidade coletiva e de acabar com os dogmas, desde que a moralidade não seja separada da fisiologia do corpo humano. Na parte dedicada ao estudo da vontade, De Tracy procura analisar os efeitos de nossas ações voluntárias e escreve, sobre economia, na medida em que os efeitos destas ações concernem à nossa aptidão para prover necessidades materiais. Procura saber como atuam, sobre o indivíduo e sobre a massa, o trabalho e as diferentes formas da sociedade, isto é, a família, a corporação. Suas considerações, na verdade, são glosas das análises do economista francês Jean-Baptiste Say, a respeito da troca, da produção social, do valor, da indústria, da distribuição do consumo e das riquezas.

No ensaio: Influências do Moral sobre o Físico, Cabanis procura determinar a influência do cérebro sobre o resto do organismo, no quadro puramente fisiológico. O ideólogo francês partilha do otimismo naturalista e materialista do século XVIII, acreditando que a Natureza tem, em si, as condições necessárias e suficientes para o progresso e que só graças a ela nossas inclinações e nossa inteligência adquirem uma direção e um sentido. Os ideólogos foram partidários de Napoleão e apoiaram o golpe de 18 Brumário, pois o julgava um liberal continuador dos ideais da Revolução Francesa. Enquanto Cônsul, Napoleão nomeou vários dos ideólogos como senadores ou tribunos. Todavia, logo se decepcionaram com Bonaparte, vendo nele o restaurador do Antigo Regime. Opõe-se às leis referentes à segurança do Estado e são por isso excluídos do Tribunado e sua Academia é fechada. Os decretos napoleônicos para a fundação da nova Universidade Francesa dão plenos poderes aos inimigos dos ideólogos, que passam, então, para o partido da oposição. O sentido pejorativo dos termos “ideologia” e “ideólogos” veio de uma declaração de Napoleão que, num discurso ao Conselho de Estado em 1812, declarou: - “Todas as desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à ideologia, essa tenebrosa metafísica que, buscando com sutilezas as causas primeiras, quer fundar sobre suas bases a legislação dos povos, em vez de adaptar as leis ao conhecimento do coração humano e às lições da história”. Bonaparte invertia a imagem que os ideólogos tinham de si mesmos: eles, que se consideravam materialistas, realistas e antimetafísicos, foram chamados de “tenebrosos metafísicos”, ignorantes do realismo político que adapta as leis ao coração humano e às lições da história.

O curioso, segundo Marilena Chauí, no opúsculo: O que é Ideologia (2017), é que se a acusação de Bonaparte é infundada com relação aos ideólogos franceses, não o seria se se dirigisse aos ideólogos alemães, criticados por Marx. Ou seja, Marx conservará o significado napoleônico do termo: o ideólogo é aquele que inverte as relações entre as ideias e o real. Assim, a ideologia, que inicialmente designava uma ciência natural da aquisição, pelo homem, das ideias calcadas sobre o próprio real, passa a designar, dar por diante, um sistema de ideias condenadas a desconhecer sua relação real com o real. Entrementes, na década de 1820, Heinrich Marx (1777-1838) parece ter prosperado. Após sua nomeação para o Tribunal de Apelação de Trier (1818), ele redigiu outro Relatório sobre a usura em 1821 e se tornou advogado público. Era, evidentemente, bem visto pelos colegas. A imponente casa perto da Porta Nigra adquirida em 1819 foi comprada de um colega jurista, e os padrinhos dos seus filhos eram, quase sempre, advogados em Trier. Edgar von Westphalen (1819-1890) dizia que ele era um dos melhores advogados e um dos homens mais nobres da Renânia. E Heinrich não perdeu contato social com a comunidade judaica.

  A Grande Fome, que atingiu a Ucrânia entre 1932-1933, reconhecida como Holodomor. Outro sinal da ansiedade dos governantes prussianos foi que no Ginásio de Tier que Karl Marx frequentou de 1830 a 1835, juntamente com o diretor, Johan Hugo Wyttenbach, acentuadamente um conservador, Vitus Loers, foi nomeado e incumbido da vigilância política da escola. Wyttenbach era professor de história, além de diretor. Homem culto e progressista, certa vez saudara a Queda da Bastilha como a aurora da liberdade, e suas crenças religiosas foram influenciadas por Kant. Heinrich lembrou ao filho. Quando ele chegou ao fim do seu período no ginásio, que mandasse alguns versos agradecidos a Wyttenbach – “eu disse a ele que você lhe tem a maior devoção”. Mas também lhe informou que tinha sido convidado para um almoço oferecido por Loers, “que ficou ressentido porque você não lhe fez uma visita de despedida”. Heinrich tinha contado uma mentira para desculpar o desrespeito do filho”. Um judeu que tinha ingressado na Igreja cristã evangélica - que representava a confissão oficial da monarquia prussiana – em terra de católicos não pode de maneira alguma, ser considerado típico. Mas Heinrich Marx compartilhava muitos valores e condutas dos liberais renanos. Mesmo em assuntos religiosos, pelo menos até que o conflito em torno dos casamentos se intensificasse subitamente no final da década de 1830, havia uma sobreposição muito mais consensual de atitudes na elite renana – fosse católica, protestante ou judaica – do que as divisões confessionais sugerem. Os pontos e consenso eram políticos. Incluíam a determinação de não destruir os benefícios de 20 anos de cominação francesa, com o Código Civil, o sistema de júri e a abolição da aristocracia feudal. Essas mudanças tinham sido acompanhadas pela aversão ao jacobinismo e autoritarismo burocrático de Napoleão.

Havia também uma antipatia social e uma desconfiança política generalizada contra o militarismo da Prússia, um ressentimento com a política econômica prussiana, tida como favorável às províncias orientais, e um desejo de um governo parlamentar moderado, prometido pelo rei ainda em 1815. Para a geração de Heinrich, os anos decisivos tinham sido de 1789 a 1791 – a promessa de uma assembleia representativa, igualdade perante a lei, abolição dos Estados, direitos do homem –, e para os judeus especialmente o ano de 1791 e a conquista de uma emancipação incondicional. Eram essas as demandas que inspiravam os novos líderes renanos, que ganharam renome na década de 1830 – David Hansemann (1790-1864), Gustav Mevissen (1815-1899) e Ludolf Camphausen (1803-1890) - e que lideraram os ministérios liberais nas cidades de Berlim e Frankfurt em 1848. Entretanto, em 1830, quando Karl Marx tinha doze anos, depois de quinze anos de severa repressão, voltou-se a falar em revolução, quando outra geração assistiu de novo à ruína de um rei Bourbon em Paris. Regimes parlamentares foram estabelecidos na França e na Bélgica, e o direito ao voto foi reformado na Grã-Bretanha. Mas em toda a Europa havia uma pressão radical para impulsionar mais as reformas, e desavenças começaram a surgir entre os grupos de liberais e radicais, monarquistas constitucionais e republicanos, bonapartistas, nacionalistas e democratas. Na França e na Grã-Bretanha, diferenças se tornavam quase que de ocorrência imediata.

Mas na Alemanha, para o que nos interessa, onde as condições continuavam repressivas, divergências dentro do Bewegungspartei permaneciam implícitas e em surdina. Quando o partido em movimento é chamado na ciência política, um tipo de partido independente, ao contrário de outros tipos de partido (como o “partido pega-tudo”), é definido de maneira diferente. Via de regra, porém, as definições científicas do partido no movimento têm um enfoque particular nos movimentos sociais em comum. Dez anos depois, porém, em face da recusa da monarquia prussiana a fazer qualquer concessão à causa da reforma, essas divisões políticas se tornaram tão explícitas e polarizadas quanto em outras partes. Foi nessa conjuntura que Karl Marx com 24 anos de idade, surgiu como um dos mais distintos expoentes de uma nova forma de interpretação do real e peculiarmente alemã forma de radicalismo, muito diferente das cautelosas esperanças de seu pai. O que há de novo e precisa ser explicado refere-se as circunstâncias da família, a condição crítica da religião e da filosofia alemã e, acima de tudo as precisas ambições de teoria e método de análise e intelectuais do próprio Marx, para formar uma postura tão singular na história continental e de resto no mundo ocidental. Foi na primavera de 1845 que os jovens pensadores de filosofia e literatura Karl Marx e Friedrich Engels decidiram escrever juntos A Ideologia Alemã. Começaram a fazê-lo em setembro do mesmo ano, após terem se conhecido pesquisando na Biblioteca de Londres, terminando-a, praticamente no verão de 1846; na parte atinente ao conceito abstrato de Ludwig Feuerbach, o trabalho adentrou a metade do final do ano de 1846, sem que a tivessem concluída a obra.  O Holodomor tem como real significado “matar pela fome”, mas é também reconhecido como a Fome-Terror e por vezes referido como a Grande Fome, foi uma fome na Ucrânia Soviética de 1932 a 1933 que causou a morte de milhões de ucranianos. 

O termo Holodomor enfatiza representa os aspectos artificiais e intencionais da fome, tais como a rejeição da ajuda externa, o confisco de todos os alimentos domésticos e a restrição do movimento populacional. Como parte da mais vasta fome soviética de 1932-33 que afetou as principais áreas produtoras de cereais do país, milhões de habitantes da Ucrânia, a maioria dos quais eram ucranianos de etnia ucraniana, morreram de fome numa catástrofe sem precedentes na história social da Ucrânia em tempo de paz. A última grande fome a atingir a União Soviética começou em julho de 1946, seu auge em fevereiro-agosto de 1947 e depois diminuiu em intensidade, embora ainda houvesse algumas mortes por fome em 1948. A situação atingiu a maioria das regiões produtoras de grãos do país: Ucrânia, Moldávia e partes da Rússia central. As condições sociais foram causadas pela seca, cujos efeitos específicos foram exacerbados pela devastação causada pela 2ª guerra mundial (1940-45). A safra de grãos em 1946 totalizou 39,6 milhões de toneladas de apenas 40% da produção de 1940. Com a guerra, houve diminuição significativa no número de homens rurais, recuando para os níveis históricos de 1931. Houve uma escassez de máquinas agrícolas e cavalos. O governo soviético, com suas reservas de grãos, forneceu alívio para as áreas rurais e apelou para as Nações Unidas em busca de ajuda. A assistência também veio dos ucranianos, principalmente da diáspora rutena e dos russos do leste da Ucrânia e da América do Norte, que minimizaram a mortalidade. O economista Michael Ellman afirma que o Estado poderia ter alimentado todos aqueles que morreram de fome. Ele argumenta que se as políticas do regime soviético tivessem sido diferentes, talvez não houvesse nenhuma fome ou uma muito menor. Ellman afirma que a fome resultou em uma estimativa de 1 a 1,5 milhões de vidas perdidas, além das perdas secundárias da população devido à redução da fertilidade. O economista Steven Rosefielde afirma que o governo soviético era responsável pelas condições. Robert Service argumenta que Stalin pensou, em primeira instância, que quaisquer relatos de dificuldades rurais eram o resultado de camponeses enganando as autoridades urbanas para que os favorecessem.

Durante a crise, a URSS continuou a exportar grãos, com a maioria indo para a zona soviética da Alemanha ocupada, Polônia, Hungria e Tchecoslováquia para consolidar o novo Bloco Oriental. Em parte, como resultado dessa fome, ao contrário de países da Europa e da América, a União Soviética não passou por um baby boom do pós-guerra. Impulsionado pela fome de 1946-47, o chamado “Grande Plano para a Transformação da Natureza” consistiu da série de projetos ambiciosos em melhoria do cultivo da terra. Desde 2006, o Holodomor é reconhecido pela Ucrânia e outros 15 países como “um genocídio do povo ucraniano levado a cabo pelo governo soviético”. As estimativas iniciais do número de mortos por estudiosos e funcionários do governo variaram muito. De acordo com estimativas mais elevadas, até 12 milhões de ucranianos étnicos terão perecido em resultado da fome. Uma declaração conjunta Organização das Nações Unidas (ONU), assinada por 25 países em 2003, declarou que 7-10 milhões pereceram. Desde então, a investigação reduziu as estimativas para entre 3,3 e 7,5 milhões. Segundo as conclusões do Tribunal de Recurso de Kiev em 2010, as perdas populacionais demográficas devidas à fome ascenderam a 10 milhões, com 3,9 milhões de mortes por fome direta, e mais 6,1 milhões de déficits de natalidade. Se o Holodomor foi genocídio é ainda objeto de debate acadêmico, tal como as causas da fome e da intencionalidade das mortes. Alguns estudiosos acreditam que a fome foi planejada por Joseph Stalin para eliminar um movimento social e político de Independência ucraniano.

Bibliografia Geral Consultada.

WACQUANT, Loïc, “L’Ascension de l’ État Pénal en Amérique”. In: Actes de la Recherche en Sciences Sociales, vol. 124, pp. 7-26, 1998; Idem, Les Prisons de la Misère. Paris: Éditions Raisons d’Agir, 1999; MAMELUQUE, Maria da Glória Caxito, “A subjetividade do encarcerado, um desafio para a psicologia”. In: Psicol. cienc. prof. 26 (4) • dez 2006; MARTUCCELLI, Danilo, La Société Singulariste. Paris: Editeur Armand Colin, 2010; FERREIRINHA, Isabella Maria Nunes; RAITZ, Tânia Regina, “As Relações de Poder em Michel Foucault: Reflexões Teóricas”. In: Rev. Adm. Pública 44 (2) • Abr., 2010; ELIAS, Norbert, O Processo Civilizador: Uma História dos CostumesVol. 12ª edição. Rio de Janeiro: Editor Zahar, 2011; DIAS, Camila Caldeira Nunes, Da Pulverização ao Monopólio da Violência: Expansão e Consolidação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Sistema Carcerário Paulista. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011; SERGE, Victor, Memorie di un Rivoluzionario. Itália: Massari Editore, 2011; FERRAZ, Sérgio Eduardo, O Império Revisitado, Instabilidade Ministerial, Câmara dos Deputados e Poder Moderador (1840-1889). Tese de Doutorado em Ciência Política. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2012; FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; BONY, Lucie, “La Prison, une Cité avec des Barreaux? Continuum Socio-spatial Par-delà les Murs”. In: Annales de Géographie, 702-703: 275-299, 2015; pp. 61-85; BORGES, Viviane Trindade, “Carandiru: Os Usos da Memória de um Massacre”. In: Revista Tempo e Argumento. Florianópolis, vol. 8, nº 19, pp. 04‐33, set./dez. 2016; OLIVEIRA, Heitor Coelho Franca de, Marx na Transição: Sobre a Relação entre Teoria e Práxis n`A Ideologia Alemã. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; MALLART, Fábio, “O Arquipélago”. In: Dossiê – Punição, Prisão e Cidade: Contextos Transversais. In: Tempo Soc. 31 (3) • Sep.-Dec., 2019; LUCA, Plinio Paulo Leiva de; SALES, Giza Guimarães Pereira, “Universidade Corporativa. Possibilidade para uma formação sociocultural do indivíduo”. In: https://periodicos.fclar.unesp.br/2024; entre outros

sábado, 5 de abril de 2025

Manchester à Beira Mar – Incêndio, Culpa & Lembranças Familiares.

                            Não é um crime esquecer de colocar a tela na lareira”. Casey Affleck

         Manchester à Beira-Mar é um filme norte-americano de 2016, do gênero drama, dirigido e escrito por Kenneth Lonergan, um cineasta, dramaturgo, roteirista e diretor estadunidense. Nasceu em Nova Iorque, em 16 de outubro de 1962. Em sua filmografia destaca-se: Możesz na mnie liczyć (2000), em que Sammy é uma chamada “mãe solteira”, na falta de melhor expressão, mas conseguiu se estabilizar financeiramente pela via do trabalho, e cria sozinha o filho Rudy, de oito anos. Sem notícias do irmão, ela fica feliz ao saber que ele está voltando para casa. Porém, o que ela cotidianamente pensa ser apenas uma visita passageira, acaba se transformando em uma convivência pra lá de complicada com o irresponsável Terry. Em Gangi Nowego Jorku (2002), William Cutting é o líder de uma gangue violenta na Nova York do século XIX que confronta seus rivais. Após ter o pai morto pelo criminoso, um jovem jura se vingar, mas fica dividido no plano simbólico da violência, entre a sede de justiça e o fascínio pelo carismático gângster. Em Margaret (2011), um filme do gênero drama romântico que seria lançado em 2007, mas devido a adiamentos, com financiamento e judiciais, acabou por ser lançado e limitada em 2011.  

Pela sua performance no filme, Anna Paquin foi indicada ao London Film Critics` Circle. Uma estudante de Manhattan de 17 anos, Lisa Cohen, faz compras no Upper West Side, interage com motorista Gerald Maretti quando ela corre ao lado de seu ônibus em movimento; ele se permite ser distraído, levando a um acidente fatal por passar o sinal vermelho em que um pedestre, Monica Patterson, é atingida por ônibus e, posteriormente, morre nos braços de Lisa. Inicialmente, Lisa diz à polícia que o motorista passou o semáforo verde, mas depois, por remorso, muda a sua história social. Ela confronta Maretti, que primeiro finge ter esquecido os detalhes do acidente e, em seguida, revela a ela com raiva que ele se lembra deles, mas acredita que ele não fez nada errado, fazendo com que Lisa o persiga por sua demissão da empresa. Em colaboração com o melhor amigo de Monica, Emily, e primo, Abigail, Lisa, em última análise torna-se envolvido em um processo de morte por negligência contra a Autoridade de Trânsito Metropolitana, buscando a demissão do motorista (que causou dois acidentes anteriores), bem como danos monetários, que seriam atribuídas a próxima da vítima de parentes, seu primo.  Enquanto isso, na vida real de Lisa assume várias voltas.  

Incluindo um flerte com seu professor de matemática, Aaron Caije, sua decisão de perder a virgindade com um colega, Paul Hirsch, e vários debates veementes sobre política e terrorismo com colegas. Lisa e sua mãe atriz tem um relacionamento rochoso, com combates esporádicos e Lisa expressar ambivalência em relação namorado da mãe Ramon. Um jantar pós-show, com a participação de Lisa, sua mãe, Emily e Ramon, termina com Ramon fazendo uma observação percebido como antissemita para Emily. Ramon morre de um ataque cardíaco não muito tempo depois. Lisa tem relações sexuais com Caije, e depois confronta Caije, dizendo-lhe enfaticamente que “ela teve um aborto na presença de outro professor”. Ela expressa a dúvida sobre quem era o pai e menciona que há duas possibilidades. A ação judicial chega a uma conclusão, com um prêmio de US$ 350 mil, mas o MTA recusa a demitir Maretti, com a preocupação de que iria inflamar uma disputa trabalhista. Abigail aceita a oferta de acordo, revelando o acordo monetário ter sido sua principal motivação; isso faz com que Lisa a tornar-se muito triste e desiludido com o desfecho do caso. Lisa e sua mãe vão assistir a uma ópera que Ramon e ela iriam antes de sua morte. No caminho, Lisa vê Maretti dirigindo o mesmo ônibus que tinha matado o pedestre e há um breve momento onde os dois ver uns aos outros. Durante a performance de ópera, a emoção acumulada de Lisa a partir da sequência de eventos explode e ela e sua mãe carinhosamente reconectam-se, chorando juntas e abraçadas enquanto a ópera continua. Entetanto, o que á mais importante é que venceu o Óscar de Melhor Argumento Original por Manchester by the Sea (2016).

Venceu o British Academy Film Awards, mais reconhecido pela abreviatura BAFTA Film Awards, são prêmios atribuídos anualmente pela Academia Britânica de Cinema e Televisão para homenagear as melhores contribuições britânicas e internacionais para as artes cinematográficas. Entre 2008 e 2016, a cerimónia foi realizada no centro de Londres no Royal Opera House. A sua 72.ª edição foi realizada em 10 de fevereiro de 2019, no Royal Albert Hall. Portanto, o BAFTA de Melhor Argumento Original por Manchester by the Sea (2016). Foi nomeado para três Globos de Ouro. Foi nomeado para três Tony Awards. Foi nomeado para um Laurence Olivier Award. No teatro é reconhecido pelas peças de teatro, incluindo This Is Our Youth (2015), Lobby Hero (2018) e The Waverly Gallery (2018).  Foi nomeado para um Tony Award por This Is Our Youth (2015), Lobby Hero (2018) e The Waverly Gallery (2019).  Em janeiro de 2020, foi nomeado Visiting Fellow e Artist in Residence no Kellogg College da Universidade de Oxford, uma faculdade para pós-graduação da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Fundada em 1990 como Rewley House, a Kellogg é a 36ª faculdade da universidade e a maior em número em período integral e parcial. 

A produção de Manchester à Beira-Mar (2016) é estrelada por Casey Affleck, filho de Chris Ann, uma professora e Timothy Affleck, um assistente social, barman e ex-ator da Companhia de Teatro de Boston, nasceu em 12 de agosto de 1975. Casey é irmão mais novo do ator e diretor Ben Affleck, com quem colaborou profissionalmente em filmes como Good Will Hunting (1997) e Gone Baby Gone (2007). O sobrenome Affleck é escocês, mas o ator também é descendente de alemães, ingleses, irlandeses e suíços. Michelle Williams, uma atriz norte-americana, reconhecida por “estrelar filmes independentes com temas sombrios ou trágicos”. Ela venceu dois Globos de Ouro, um Emmy e um SAG, e recebeu cinco indicações ao Oscar, três ao BAFTA e uma ao Tony. Williams começou a carreira ainda criança e estreou no cinema com o filme Lassie (1994). Ganhou notoriedade com o papel de Jen Lindley na série de drama bendito adolescente Dawson`s Creek (1998–2003). Conseguiu destaque no cinema como Alma Beers del Mar no drama Brokeback Mountain (2005), que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Ela foi indicada ao Oscar novamente por suas atuações nos filmes Blue Valentine (2010), My Week with Marilyn (2011), Manchester by the Sea (2016) e The Fabelmans (2022). Kyle Chandler, um ator americano, reconhecido pela série Friday Night Lights, na qual foi protagonista.  

Nascido em Buffalo, no estado de Nova Iorque, é filho de Sally, uma adestradora de cães e de Edward Chandler, dono de farmácia e representante de vendas farmacêuticas. Ele cresceu em Loganville (Geórgia) e próximo a Chicago, Illinois. Se formou pela Universidade da Geórgia, em Athens. Chandler iniciou a carreira de ator ainda bem jovem. Fez participações em algumas séries, com destaque para os oito episódios na série Tour of Duty e sua atuação em Homefront. Anos depois, foi convidado a ser o protagonista Gary Hobson na série Early Edition, na qual interpretaria um típico cidadão de Chicago que recebe as edições do dia seguinte do jornal local em sua casa, podendo evitar acontecimentos. Após o cancelamento da série, fez participações em seriados, ganhando destaque na regravação do filme King Kong. Em 2007 participou do filme The Kingdom ao lado do extraordinário ator Jamie Foxx, e atualmente faz parte do elenco da série Friday Night Lights, sobre um time de futebol americano do colegial. Lucas Hedges, um ator também norte-americano. Tornou-se reconhecido por seu trabalho em questão, Manchester by the Sea (2016), com diversas indicações a prêmios renomados, o Critics` Choice Movie Awards e ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Por mais simples que seja a linguagem e clara a sua exposição, sempre apresenta dificuldades específicas inevitáveis, porque dizem respeito à natureza própria da teoria, mais precisamente da produção do discurso teórico, e por isto produção.

A dificuldade própria da terminologia teórica consiste pois em que, por detrás do significado usual da palavra, é sempre preciso discernir o seu significado conceptual, que é sempre diferente do significado usual. Um bom exemplo, ocorre quando o leitor pensa compreender imediatamente o que Marx quer dizer quando emprega uma palavra tão corrente como a palavra trabalho. No entanto, é preciso um grande esforço para discernir, por detrás da evidência familiar (ideológica) desta palavra, o conceito marxista de trabalho, e mais, para ver que a palavra trabalho pode designar vários conceitos distintos: os conceitos de processo de trabalho, de trabalho concreto, de trabalho abstrato, etc. Quando uma terminologia teórica é boa, lembra Louis Althusser, no ensaio: Sobre o Trabalho Teórico (1978), isto é, bem determinada e bem referenciável, ela assume a função precisa de impedir as confusões entre o significado usual das palavras e o significado teórico (conceptual) das mesmas palavras. E a sua conjunção particular que produz significado novo, definido que é indiscutivelmente a produção do conceito teórico. Não pode haver discurso teórico sem a produção destas expressões específicas, que designam conceitos de determinada prática da teoria.

          Isto quer dizer que a noção de cultura, a sociedade e a comunicação social vêm articular-se a uma estrutura de relações sociais (cf. Castells, 2006). No escravagismo antigo, por exemplo, nada distingue, do ponto de vista da análise comparada do modo de produção, o escravo do agricultor independente, proprietário privado individual. O que os distingue é a relação permanente com o trabalho manual. Se um se conduz como proprietário das condições materiais da reprodução de sua existência, no outro caso é o mestre que se conduz como proprietário das condições naturais da reprodução de sua existência material do escravo. Pode-se fazer a mesma comparação e distinção entre o escravo moderno, do século XIX, e o trabalhador agrícola no sistema técnico de trabalho, ao qual se articulam relações sociais diferentes. A interligação dos processos de trabalho é primeiramente de ordem técnica, na medida em que está contida nos meios de trabalho e envolve imediatamente trabalhadores em situações específicas de trabalho. Em seguida é de ordem social, basicamente quanto à escala e quanto ao sentido de conjunto para satisfazer necessidades sociais. É, de ordem tecnológica, na medida em que a produção, circulação, uso, dos produtos resultantes do processo de trabalho interligados, representam o próprio sistema social no âmbito de determinada cultura e/ou sociedade. Produzindo e consumindo determinados produtos/mercadoria os homens primeiro tecnologicamente produzem a sociedade e as relações existentes. Um sistema de trabalho é uma estrutura onde o que está em jogo é o trabalho e a reprodução da vida. Do ponto de vista teórico-metodológico notou o sociólogo Norbert Elias (2011) que o conceito de civilização se refere a uma grande variedade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, às ideias religiosas e aos costumes. 

Pode se referir ao tipo de habitações ou à maneira como homens e mulheres vivem juntos, à forma de punição determinada pelo sistema judiciário ou ao modo como são preparados os alimentos. Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito de forma “civilizada” ou “incivilizada”. Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo o que se pode descrever como civilização. Mas também não significa a mesma coisa para diferentes nações ocidentais. Acima de tudo, é grande a diferença entre a forma como ingleses e franceses empregam a palavra, culturalmente, por um lado, e os alemães, por outro. O conceito resume em uma única palavra seu orgulho pela importância social e cultural de suas nações para o progresso do Ocidente e da humanidade. Quando no emprego que lhe é dado pelos alemães Zivilisation, significa algo de fato útil, mas, apesar disso, apenas um valor de segunda classe, compreendendo apenas a aparência externa dos seres humanos, a superfície da existência humana.

A palavra pela qual os alemães se interpretam, que mais do que a qualquer outra expressa-lhes o sentimento de orgulho em suas próprias realizações e no próprio ser, é Kultur, pois são inteiramente claras no emprego interno da sociedade a que pertencem. O conceito francês e inglês de civilização pode ser referir a fatos políticos ou econômicos, religiosos ou técnicos, morais ou sociais. O conceito alemão Kultur alude basicamente a fatos intelectuais, sociais, artísticos e religiosos e apresenta a tendência de uma nítida linha divisória entre fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos, econômicos e sociais, por outro lado. Os conceitos comumente apropriados em francês e inglês de civilização pode se referir a realizações, mas também a atitudes ou “comportamento”, pouco importando se realizaram alguma coisa. No conceito alemão de Kultur, em contraste, a referência a comportamento, o valor que a pessoa tem em virtude de sua mera existência e conduta, sem absolutamente qualquer realização, é de fato considerado muito secundário. O sentido alemão de Kultur encontra sua expressão mais clara derivado no adjetivo Kulturell, que descreve o caráter e valor de determinados produtos humanos, e não o valor intrínseco. O conceito inerente a Kulturell, porém não pode ser traduzido exatamente para o francês e o inglês. A palavra kultiviert (cultivado) aproxima-se muito do conceito ocidental de civilização. Até certo ponto, representa a forma mais alta de ser civilizado: até pessoas e famílias que nada realizaram de kulturell pode ser kultiviert.

Tal como a palavra “civilizado”, kultiviert refere-se primariamente à forma da conduta ou comportamento da pessoa. Descreve a qualidade social das pessoas, suas habitações, suas maneiras, sua fala, suas roupas, ao contrário de kulturell, que não alude diretamente às próprias pessoas, mas exclusivamente a realizações humanas peculiares. Há outra diferença entre os dois conceitos estreitamente vinculada a isto. “Civilização” descreve um processo ou, pelo menos, seu resultado. Diz respeito a algo que está em movimento constante, movendo-se incessantemente “para a frente”. O conceito alemão de Kultur, no emprego corrente, implica uma relação diferente, com movimento. Reporta-se a produtos humanos que são semelhantes a “flores do campo”, a obras de arte, livros, sistemas religiosos ou filosóficos, nos quais se expressa a individualidade de um povo. O conceito Kultur delimita. Até certo ponto, o conceito de civilização minimiza as diferenças nacionais entre os povos: enfatiza o que é comum a todos os seres humanos ou – na opinião dos que o possuem – deveria sê-lo. Manifesta a autoconfiança de povos cujas fronteiras nacionais e identidade nacional foram plenamente estabelecidas, desde séculos, que deixaram de ser tema de qualquer discussão, perremptoriamente seja ela de caráter pública ou privada, de povos que há muito se expandiram fora de suas fronteiras e colonizaram terras muito além delas.

A questão da trivialização do conhecimento não faz produto do conhecimento apenas um produto determinado, faz também dele um produto qualquer. Mas as ideias podem tornar-se ideológicas, na medida em que sua estrutura socialmente obedece às estruturas socioprofissionais. Sua produção integra-se entre os outros processos de produção e a cultura torna-se cognoscível a partir das categorias econômicas do capital e do mercado. Mas nem a informação, nem a concepção de teoria, nem o pensamento abstrato, nem a cultura são produtos triviais, ainda que mais não seja pelo fato de serem, ao mesmo tempo, produtos/produtores e, mesmo comportando a questão urbana hologramaticamente a dimensão socioeconômica, não poderiam ser reduzidas a isso. A redução trivializante não teme exercer-se como sujeito sobre o conhecimento científico. Este nível abstrato como qualquer outro é apropriado pelo pensamento, como a religião e através da ciência, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e suas estratégias, seus interesses e seus prováveis ganhos. Mas, por seu lado, os estudos de etnografias dos laboratórios, estes que parecem ter dinamismo, demonstram-nos como se estabelecem essas mediações complexas dos pesquisadores, em função de posições, ou status, as lutas e a utilização de truques diabólicos pelo reconhecimento, pelo prestígio ou pela glória, com as negociações necessárias ao estabelecimento da prova, os ritos de passagem na vida e na universidade. A motivação primeira do cientista é a notoriedade.

Mas não se pode reduzir o interesse científico ao interesse econômico, a vontade de pesquisar ao desejo de prestígio, a sede de conhecimento à sede de poder, em alguns casos terrenos sim. A sociologia não pode ser considerada uma concepção que exclui o indivíduo ou que, no máximo, o tolera. É uma concepção humanista, mas que deve implicá-lo e explicitá-lo. Sobre a aquisição do conhecimento pesa um formidável determinismo encouraçado de coerção. Ele nos impõe o que se precisa conhecer, como se deve conhecer, o que não se pode conhecer. Comanda, proíbe, traça os rumos, estabelece os limites, ergue muralhas e conduz-nos ao ponto onde devemos ir. E também que conjunto prodigioso de determinações sociais, culturais e históricas é necessário para o nascimento da menor ideia, e per se da menor teoria. Não bastaria limitarmo-nos a essas determinações que pesam do exterior sobre o conhecimento. É necessário considerar os determinismos intrínsecos ao conhecimento, que são, segundo Morin, muito mais implacáveis. Em primeiro lugar, princípios, comandam esquemas e modelos explicativos, os quais impõem visão de mundo e das coisas que se governam/controlam de modo imperativo e proibitivo a lógica dos discursos, pensamentos, teorias sociais.

Com maior razão, o mesmo vale para a arte, que é absolutamente refratária a tudo o que parece uma obrigação, porque é o domínio da liberdade. É um luxo e um adorno que talvez seja bonito ter, mas que não se pode ser obrigado a adquirir: o que é supérfluo não se impõe. Ao contrário, amoral é o mínimo indispensável, o estritamente necessário, o pão cotidiano sem o qual as sociedades civis não podem viver. A arte corresponde à necessidade de que temos de difundir nossa atividade social sem objetivo, pelo prazer de difundi-la, enquanto a moral nos obriga a seguir um caminho determinado em direção a um objetivo definido – e quem diz obrigação diz, com isso, coerção. Conquanto possa estar animada por essas ideias morais ou ver-se envolvida na evolução moral própria, a arte não é moral por si mesma. A observação estabelecida nos indivíduos, como nas sociedades, de um tal desenvolvimento intemperante das faculdades estéticas é um grave sintoma do ponto de vista da moralidade. Vale lembrar, segundo Durkheim (2010) que de todos os elementos da civilização, a ciência é o único que, em certas condições, apresenta um caráter moral. As sociedades tendem cada vez mais a considerar um dever para o indivíduo desenvolver sua inteligência, assimilando as verdades científicas que são estabelecidas. Há número de conhecimentos na história que devemos possuir.

Ninguém é obrigado a se lançar no grande turbilhão industrial; ninguém é obrigado a ser artista; mas todo o mundo é obrigado a não ser ignorante. Essa obrigação é, inclusive, sentida com tamanha força que, em certas sociedades, não é apenas sancionada pela opinião pública, mas pela lei. Aliás, não é impossível entrever de onde vem esse privilégio especial da ciência. É que a ciência nada mais é do que a consciência levada a seu mais alto ponto de clareza. Ora, para que as sociedades possam viver nas condições de existência que lhe são dadas, é necessário que o campo da consciência, tanto individual como social, se estenda e se esclareça. Os meios em que elas vivem se torna cada vez mais complexos e, por conseguinte, cada vez mais móveis, para durar é preciso que elas mudem com frequência. Por outro lado, sabemos o quanto mais obscura uma consciência, mais é refratária à mudança, porque não vê depressa o bastante que é necessário mudar, nem em que sentido é preciso mudar; ao contrário, uma consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança social. Eis porque é necessário que a inteligência guiada pela ciência adquira uma importância maior no curso da vida coletiva. Mas a ciência que todo o mundo é assim chamado a possuir não merece ser designada por esse nome. Não é a ciência, é no máximo sua parte mais geral. Ela se reduz a um pequeno número de conhecimentos indispensáveis, que só são exigidos de todos por estarem disponíveis ao alcance de todos na vida social. A ciência supera infinitamente nesse nivelamento da cultura. Ela compreende o que é vergonhoso ignorar, mas existe, como um navio na praia, que é possível saber.

   

Ela não supõe apenas, nos que a cultivam, essas faculdades médias que todos possuem, mas disposições especiais. Senão a uma elite, não é obrigatória; mas não é necessária a ponto de a sociedade reclamá-la imperativamente. É vantajoso estar munido dela; nada há de imoral em não a adquirir.  Paris, a capital de D’Amour, foi palco de um extraordinário e concreto romance. Ao organizar os paradigmas e modelos explicativos associa-se o determinismo organizado dos sistemas de convicção e de crença que, quando reinam em uma sociedade, impõem a todos a força imperativa do sagrado, a força normalizadora do dogma, a força proibitiva do tabu. As doutrinas e ideologias dominantes dispõem também da força imperativa e coercitiva que evidencia aos convictos e o temor inibitório aos desalmados. A partir deste fundamento etnográfico, compreendemos que ordem, desordem e organização são elementos essenciais para o entendimento da questão da complexidade, pois se desintegram e se desorganizam ao mesmo tempo na história singular da vida. Constata-se que o sentido da realidade se dá por meio da relação do todo com as partes e vice e versa em uma análise integradora em que não é pertinente examinar como tal a partir de uma única matriz de racionalidade. Ipso facto, o conceito alemão de Kultur dá ênfase especialmente a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos.

Em virtude disto, o conceito adquiriu em pesquisa etnológica e antropológica uma significação muito além da área linguística alemã e da situação em que se originou o conceito.  Todavia, a necessidade de comunicar-se sempre foi o motor de todo tipo de codificações expressivas, sendo a linguagem e a escrita instrumentos de comunicação oral e escrita sujeitos as limitações de espaço e lugar e a sua transmissão através da distância entre o emissor e o receptor. Simplificadamente, pode-se dividir em quatro fases a história da codificação de signos e fonemas ao serviço da relação inter-humana: mnemônica, pictórica, ideográfica e fonética. A primeira, mnemônica, historicamente se caracterizou pelo emprego de objetos reais como dados ou mensagens entre pessoas que viviam alheios e não pertenciam ao mesmo sistema convencionalmente de comunicação social. Aos antigos peruanos, escreve Albert A. Sutton (1866-1923), os chineses, e inclusive tribos mais recentes, utilizaram com muita frequência o quipo, representando cada um dos cordões usados do ponto de vista comunicativo pelos peruanos, no tempo social da monarquia Inca, na literatura comparada que formavam um método mnemônico, de interpretação, fundado nas cores e ordem dos cordões, número e disposição de nós, etc., ou série de cordas atadas para comemorar acontecimentos felizes, para servir como instrumentos de cálculo ou resguardar na memória as recordações dos mortos das tribos.

Na segunda, pictórica, a comunicação social tem como representação a imagem e se transmite mediante a pintura, a comunicando a relação dos objetos. Estas gravuras aparecem não só na pintura rupestre, e também sobre objetos variados: utensílios, armas ou artigos de valor empregados para o intercâmbio comercial. Na terceira, ideográfica, resulta de uma associação de símbolos pictográficos com objetos e ideias. Nesta fase os signos se empregam cada vez mais na representação de ideias, numa progressiva separação da estrutura do objeto que tenciona comunicar e a modelação cada vez mais simbólica que aproximará no signo alfabético, na escritura. A expressão ideográfica serviu para as formas primitivas de relatos, tal como podemos valorar na escritura ideográfica das culturas pré-colombianas ou mesopotâmicas, ainda que o máximo tipo cultural deste sistema de comunicação foi a escrita hieroglífica dos egípcios. A última, fonética, se estabelece quando o signo representa um som, fora das palavras inteiras, de sílabas ou do que depois chamamos letras, como unidade fonética menor. A invenção do alfabeto foi o ponto máximo da codificação da comunicação e foi propiciada precisamente por aqueles povos de maior desenvolvimento social e de maior inter-relação comercial com outros povos. O alfabeto representou uma chave de intercomunicação e ao mesmo tempo um aríete de penetração cultural em mãos dos povos da antiguidade criadores das primeiras rotas de comércio marítimo e terrestre.

  

O sistema social condiciona o sistema de comunicação. A comunicação vem unida à existência da mudança de mercadoria e à busca incessantemente de matérias-primas que já mobilizou aos antigos. As rotas comerciais e de expansão imperial depredatória da Antiguidade foram autênticos canais informativos, lentos e precários, que abasteceram aos homens de um conhecimento aproximado dos limites do mundo e das tentações dos outros considerados desde cada particular forma etnocêntrica do indivíduo na sociedade. A rota do Cabo, contornando África, viria a ser explorada pelos Holandeses, e outras potências europeias. As rotas das especiarias passavam por intermediários antes de serem revendidos na Europa medieval. Era um tempo de medo. Há mil anos, na mesma Europa que agora se prepara para ingressar, próspera e unida como nunca, no terceiro milênio do calendário cristão, os homens viviam socialmente o pior dos mundos. O irreversível desmoronamento, século após século, do que ainda restava da civilização greco-romana, depois sucedeu-se do fim do Império Romano do Ocidente, no século V, transformara o território europeu em campo de batalha onde gerações sucessivas se guerreavam interminavelmente - visigodos e vikings, bretões e saxões, vândalos e ostrogodos, magiares e eslavos, um sem-fim de povos que não por acaso entraram para a História sob a denominação coletiva de “bárbaros”.  Além da violência simbólica e física das religiões, a miséria, a ignorância e a superstição recobriam a Europa na marca do ano 1000. Os proprietários de terras transformavam seus domínios em unidades autônomas, com fortificações feitas de árvores e espinheiros e habitações cercadas de paliçadas. Registrou um observador do ano 888: - “Cada qual quer se fazer rei a partir das próprias entranhas”. A cidade, como sede da política e da administração, centro do comércio e do conhecimento, à maneira de Roma, e comparativamente, Atenas ou Alexandria na Antiguidade clássica, inexistia na paisagem ocidental desse período.

Havia historicamente burgos descendentes dos centros logo fundada pelos conquistadores romanos, como também ajuntamentos de um punhado de milhares de almas, nascidos da presença, nas proximidades, de um mosteiro ou de um vale fértil, ou do fato de se situarem no centro de uma região dominada por um príncipe. Nada, porém, que se comparasse a Constantinopla (Istambul), capital do Império Romano do Oriente, com suas centenas de milhares de habitantes, abastado comércio e porto movimentado. Há cerca de mil anos, amplas extensões do continente europeu eram constituídas de florestas um mundo sombrio, estranho e ameaçador aos homens que construíam povoados, cultivavam cereais e criavam gado em grandes clareiras nas suas cercanias, numa economia de pura subsistência, da mão para a boca. A construção de castelos, abadias e mosteiros ocupava igualmente muitos braços. Mas o principal motor da atividade econômica era a guerra: a necessidade de produzir armas, acumular provisões para a tropa e pagar os mercenários em metal sonante estimulava o comércio. Perigos reais, como os animais selvagens, e terrores imaginários historicamente constituídos na Europa, como monstros e demônios, espreitavam os aldeões que adentravam a mata em busca de carne de caça e de mel, a única fonte extrativista de açúcar dos europeus de então. Entretanto, vista pelos olhos de hoje, a vida cotidiana tinha tons de pesadelo.

A culpa, por outro lado, se refere à responsabilidade dada à pessoa por um ato que provocou prejuízo material, moral ou espiritual a si mesma ou a outrem. O processo de identificação e atribuição de culpa refere-se à descoberta de quem determinou o primeiro ato ilícito ou prejudicial, e pode se dar em três planos da atividade analítica: subjetivo, intersubjetivo e objetivo. No sentido subjetivo, a culpa é um sentimento que se apresenta à consciência quando o sujeito avalia seus atos de forma negativa, sentindo-se responsável por falhas, erros e imperfeições. O processo pelo qual se dá essa avaliação é estudado pela Ética, a disciplina filosófica que estuda os fundamentos da ação moral, procurando justificar a moralidade de uma ação e distinguir as ações morais das ações imorais e amorais e pela formação em Psicologia, que trata, estuda e analisa os processos mentais e comportamentos de indivíduos e grupos humanos em diferentes situações. A psicologia, do ponto de vista técnico-metodológico, tem como objetivo a compreensão de grupos e indivíduos tanto pelo estabelecimento de princípios universais, como pelo case study específico, e tem, segundo alguns analistas, objetivo final o benefício geral da sociedade. Um pesquisador ou profissional desse campo de atividade é reconhecido como psicólogo, podendo ser classificado como cientista social, comportamental ou cognitivo. A função dos psicólogos é tentar compreender o papel das funções mentais no comportamento individual e socialmente, e também, simultaneamente, os processos fisiológicos e biológicos que acompanham os comportamentos e funções cognitivas.

   

             Entretanto, o sentido religioso de culpa, pelo qual um ato da pessoa recebe uma avaliação negativa da divindade, por consistir na transgressão de um tabu ou de uma norma religiosa. A sanção religiosa é um ato social, e pode corresponder a repreensão e pena objetivas. De outra parte, a culpa religiosa pode compreender também um estado psicológico, existencial e subjetivo, que propõe a busca de expiação de faltas ante o sagrado como parte da própria experiência religiosa. O termo pecado, por exemplo, está geralmente ligado à culpa, no sentido religioso, sendo a culpa consequência do pecado cometido e arrependido por quem o cometeu. Por outro lado, a religião, principalmente neste caso o cristianismo, trata solenemente a culpa como um sentimento necessário ao arrependimento e a melhoria pessoal do infrator pois o mesmo alcança a mudança apenas se reconhecer como inadequado o ato cometido. Conforme II Coríntios, capítulo 7, verso 10, a culpa ou tristeza leva ao arrependimento para a salvação daquele que está amparado por Deus ao contrário do indivíduo, que sem este amparo, tem a culpa ou tristeza proveniente do mundo que o leva da realidade para a morte. A consequência da culpa poderá ser a mudança pessoal amparada por Deus que nos livra do pecado e das dores ou a autopunição consciente ou inconsciente daquele que carrega consigo toda a sua culpa.

O sentimento de culpa tem como representação o sofrimento humano obtido após  reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesmo. A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem criada pelo superego daquilo que achamos que deveríamos ter sido. Há também outra definição para “sentimento de culpa”, quando se viola a consciência moral pessoal, ou seja, quando pecamos e erramos, surge o sentimento de culpa. Para a psicologia humanista-existencial, especialmente a da linha de pesquisa rogeriana, a culpa é um sentimento como outro qualquer e que pode ser “trabalhado” terapeuticamente ao se abordar este sentimento com aquele que sofre. Para esta linha de raciocínio de Psicologia, um sentimento como esse, quando chega a ser considerado um obstáculo por aquele que o sente, é resultado de um inadequado crescimento pessoal, mas não é considerado uma psicopatologia. Para os teóricos rogerianos, todas as pessoas têm uma tendência a atualização que se dirige para a plena auto realização; o sentimento de culpa pode ser apenas limitação momentânea no processo de auto realização.

É bastante concebível que tampouco o sentimento de culpa produzido pela civilização seja percebido como tal, mas que em grande parte permaneça inconsciente, ou apareça como uma espécie de mal-estar, uma insatisfação, para a qual as pessoas buscam outras motivações. As religiões nunca desprezaram o papel desempenhado na civilização pelo sentimento de culpa. O sentimento de culpa, a severidade do superego, é, portanto, o mesmo que a severidade da consciência. É a percepção que o ego tem de estar sendo vigiado dessa maneira, a avaliação da tensão entre os seus próprios esforços e as exigências do superego. É o ponto-chave do ensaio “Mal-estar na Civilização” de Sigmund Freud, um médico neurologista criador da psicanálise. Freud, como se tornara reconhecido, nasceu em uma família judaica, em Freiberg in Mähren, pertencente ao Império Austríaco, atualmente, a localidade é denominada Příbor, e pertence à República Tcheca. Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose no tratamento de pacientes com histeria, como forma de acesso aos seus conteúdos mentais. 

Isto posto, introdutoriamente para facilitar a leitura temática e a história social de Manchester à Beira-Mar, lembramos ela se passa no Condado de Essex e tem como representação social “um homem que cuida de seu sobrinho adolescente após a morte do pai do garoto”. A área atualmente da Essex foi ocupada antes da chegada e ocupação dos romanos pela tribo celta dos trinobantes. Uma disputa entre eles e os catuvelaunos teve como utilidade de uso e como desculpa à invasão romana de Júlio César em 54 a.C. Em 43, o imperador Cláudio (41–54) conquistou a capital trinobante Camuloduno (atualmente Colchester), que seria capital da Britânia romana, mas em 60-61 Boudica conduziu uma fracassada revolta contra a autoridade romana com ajuda de icenos e trinobantes, mas que conseguiu destruir Camuloduno. O nome Essex deriva historicamente do Reino de Essex que, segundo a tradição inglesa foi fundado por Escuíno em 527, ocupando o território ao Norte do rio Tâmisa e a Leste do rio Lea. Em 825, fez parte do Reino de Wessex e mais tarde foi cedida pelo Tratado de Wedmore aos viquingues daneses da Lei Danesa. Em 991, a Batalha de Maldon resultou na derrota completa dos anglo-saxões pelos viquingues e é rememorada no poema A Batalha de Maldon. Manchester é uma cidade do Reino Unido, no Noroeste da Inglaterra.

     

A aglomeração urbana de Manchester tem cerca de 3,6 milhões de habitantes, a segunda cidade mais populosa da Inglaterra, que inclui outras cidades e áreas no condado, e é chamada Grande Manchester. A cidade é um centro industrial, econômico, e muitas companhias têm as sedes administrativas no centro da cidade ou num parque industrial ao este do centro, Trafford Park. Tem origem num povoado céltico e foi designada de Mancunium pelos antigos romanos e, por isso, os habitantes são chamados de Mancunians em inglês. Manchester teve um papel primordial na Revolução Industrial: foi aqui aplicada a máquina a vapor à indústria têxtil pela primeira vez em 1789. A primeira máquina a vapor relatada, foi a eolípila, também chamada de “bola de vento”, criada por Heron de Alexandria no século I. Em 1698, Thomas Savery (1650-1715), engenheiro militar inglês, criou um motor que leva seu nome que poderia ser utilizado dentro das fábricas, sendo considerado uma das evoluções iniciais da revolução industrial. Em 1712, Thomas Newcomen (1663-1729) projetou uma nova máquina que poderia ser utilizada dentro de minas de carvão, a qual, apesar de mais lenta que as anteriores, podia tanto elevar água quanto cargas mais pesadas e tinha um custo de capital muito menor, uma vez que substituía os cavalos que eram usados no trabalho. Em 1769, Joseph Cugnot criou um triciclo movido a vapor, que é considerado o primeiro carro a vapor construído.  

O veículo de Cugnot envolveu-se naquele que é tido como “o primeiro acidente rodoviário motorizado da história”. Todavia, foi no ano de 1777 que o motor a vapor mais importante foi criado, quando James Watt (1736-1819), fabricante de instrumentos londrino, aperfeiçoou o motor a vapor de Newcomen. Após perceber uma falha no projeto da mesma, que era o tempo gasto, demasiadamente elevado, para ter o aquecimento, tanto do vapor quanto do combustível, em um mesmo cilindro. melhorando o projeto, criou assim um segundo cilindro. A primeira linha férrea de passageiros foi também construída aqui, ligando a cidade com Liverpool em 1830. Está ligada desde 1894 por um canal ao mar. A Instituição para a estatística nacional do Reino Unido não recolhe os dados econômicos para a cidade de Manchester sozinha, mas em conjunto com quatro outros distritos metropolitanos, a saber: Salford, Stockport, Tameside, Trafford, em uma área geográfica denominada de Greater Manchester South. A economia teve um crescimento relativamente forte entre 2002 e 2012, crescimento econômico de 2,3% acima da média nacional. Com um PIB de $ 88,3 bilhões a economia metropolitana é a terceira maior no Reino Unido. É classificada como uma cidade beta mundial pela Globalization and World Cities Research Network. Como a economia do Reino Unido continua a se recuperar da “desaceleração” experimentada em 2008-2010, como de resto no mundo, Manchester compara-se favoravelmente em relação a outras de acordo com os últimos números.

Em 2012 é demonstrado o crescimento anual o mais forte no estoque de negócio (5%) de todas as cidades do núcleo. A cidade experimentou um aumento relativamente forte no número de falências empresariais, o maior aumento de todas as cidades-núcleo, no entanto, isso foi compensado pelo crescimento em novos negócios que resultou em um forte crescimento líquido. A liderança cívica de Manchester tem uma reputação de perspicácia empresarial. Possui dois dentre os quatro aeroportos mais movimentados do país e usa seus ganhos econômicos e financeiros para financiar projetos locais. Enquanto isso, o relatório de competitividade alternativa da KPMG, é uma rede global de firmas independentes que prestam serviços de consultoria, auditoria e impostos. É uma das maiores empresas de auditoria do mundo, quando relatou que em 2012 Manchester teve o 9º menor custo tributário de qualquer cidade industrializada no mundo e a devolução de impostos chegou mais cedo a Manchester do que qualquer outra cidade britânica: ela pode manter metade do extra Impostos que obtém de investimento de transporte. O relatório de competitividade alternativa da KPMG descreve Manchester como a cidade mais acessível da Europa, com um ranking ligeiramente melhor do que as cidades holandesas, Rotterdam e Amsterdam, que têm um custo de vida inferior a 95.

Manchester é uma cidade de contraste, onde alguns dos bairros mais pobres e mais afluentes do país podem ser encontrados. De acordo com os índices 2010 de “privação múltipla”, Manchester é o quarto conselho municipal mais privado na Inglaterra. O desemprego ao longo de 2012-13 teve uma média de 11,9%, superior à média nacional, mas inferior a algumas das outras grandes cidades comparáveis ​​do país. Por outro lado, Greater Manchester é o lar de “mais multimilionários do que em qualquer lugar fora de Londres, com a cidade de Manchester ocupando a maior parte da contagem”. Em 2013 Manchester ficou em 6º lugar no Reino Unido para a qualidade de vida, de acordo com uma classificação das 12 maiores cidades do Reino Unido. As mulheres se saem melhor em Manchester do que no resto do país em termos de igualdade de remuneração para os homens. A diferença salarial por horas trabalhadas é de 3,3%, em contraste com 11,1% para a Grã-Bretanha. 37% da população em idade de trabalhar em Manchester têm qualificações de grau em contraste com a média de 33% em outras cidades principais, embora as escolas under-perform ligeiramente quando comparado à média nacional. Manchester tem o maior mercado de escritórios no Reino Unido fora de Londres de acordo com GVA Grimley com uma captação de escritório trimestral (média em 2010-14) de aproximadamente 250 000 pés quadrados - equivalente à captação de escritório trimestral de Leeds, Liverpool e Newcastle combinado e 90 000 pés quadrados mais que o rival mais próximo Birmingham. O forte mercado de escritórios em Manchester tem sido em parte atribuído à Northshoring (“deslocalização”), que implica a deslocalização ou criação alternativa de postos de trabalho fora do superaquecido Sul para áreas onde o espaço de escritório é possível e mais barato o mercado de trabalho não pode ser saturado. 

Bibliografia Geral Consultada.

HISGAIL, Fani (Org.), Biografia. Sintoma da Cultura. São Paulo: Hacker Editor, 1997; BORGES, Jorge Luis, Esse Ofício do Verso. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2000; HANDS, David; Sarah Parker, Manchester: A Guide to Recent Architecture. London: Editor Ellipsis Arts, 2000; HARTWELL, Clare, Manchester. Col: Pevsner Architectural Guides. London: Editor Penguin Books, 2001; BAKHTIN, Mikhail, Estética da Criação Verbal. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2003; BOSI, Ecléa, O Tempo Vivo da Memória: Ensaios de Psicologia Social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003; HARTWELL, Clare; HAYDE, Matthew; PEVSNER, Nikolaus, Lancashire: Manchester and the South-East. Col: The Buildings of England. New Haven and London: Yale University Press, 2004; BARTHES, Roland, O Rumor da Lingua. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2004; BENKLER, Yochai, The Wealth of Networks. New Haven: Yale University, 2006; CASTELLS, Manuel, A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Volume 1. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2006; DURKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2010; DEWEY, John, A Arte como Experiência. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; GELLIS, André; HAMUD, Maria Isabel Lima, “Sentimento de Culpa na Obra Freudiana: Universal e Inconsciente”. In: Outros Trabalhos • Psicol. USP 22 (3) • Set 2011; ELIAS, Norbert, O Processo Civilizador, Volume 1: Uma História dos Costume. 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2011;  ARCHER, Michael, Arte Contemporânea. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2013; MOURA BERGAMO, Thelma Maria de, Michel Foucault e os Mestres do Dizer Verdadeiro. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2015; SANTOS, Luiza Carolina, Quando a Leitura Encontra a Escrita: Uma Análise das Relações Estabelecidas na Comunidade de Ficção Científica da Plataforma. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Comunicação Social. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2015; LÓPEZ, Mercedes Ron, Culpa Tuya. Londres: Penguin Random House Grupo Editorial, 2017; Idem, Culpa Nossa. Lisboa: Editorial Presença, 2023; Idem, Minha Culpa. São Paulo: Universo dos Livros, 2024; URZAIZ, Begoña Gómez; AGUIAR, Eliana; VON RANDOW, Elisa, As Abandonadoras: Histórias sobre Maternidade, Criação e Culpa.  1ª edição. Rio de Janeiro: Editora ‏Zahar, 2024; entre outros.