quinta-feira, 1 de maio de 2025

Copycat – Agorafobia & Angústia Tipica de Perturbação Psicológica.

 Um fogo devora um outro fogo. Uma dor de angústia cura-se com outra”. William Shakespeare

          O ponto de partida para a constituição do sujeito é o desejo, mas não um desejo dirigido a uma coisa ou mercadoria no mundo consumista. O homem se torna humano quando “deseja outro desejo”. Abre-se assim, ao homem, um novo espaço de liberdade, que se manifesta antes de tudo como um desejo de reconhecimento e produz uma luta de morte por puro prestígio – o ato fundante da história, o ato antropogênico por excelência. Mas para que haja história, é preciso que haja relação social entre homens vivos. A luta não pode terminar com a aniquilação de um dos lados. Um deles deve abdicar do combate, colocar a liberdade acima de sua vida, fora da relação entre “senhor-escravo”. Nela se concentrando outra atividade essencial ao projeto do homem: o trabalho intelectual como princípio de liberdade. A dialeticidade que assim se estabelece é um dos pontos culminantes do pensamento humano em todas as épocas, e sua conclusão é surpreendente e magistral: o homem integral, livre, satisfeito com o que é; o homem que se aperfeiçoa, não é o senhor nem o escravo, mas o que consegue suprimir sua sujeição. Na linguagem teórica, abstrata acadêmica, entendemos que as palavras e expressões, ou as palavras e as coisas, funcionam como representação de conceitos teóricos, mas em sua periodização histórica as palavras e expressões funcionam sempre de forma distinta, porque se referem a concepção pontual de formação de uma teoria da história. 

          A dificuldade própria da terminologia teórica consiste, pois, neste sentido em que, por detrás do significado usual da palavra, é preciso sempre discernir o seu significado conceptual, que é sempre diferente do significado usual empírico e casual contido na representação das fontes, nas atas, nos documentos oficiais etc. Na sua significação mais geral deve nos permitir a compreensão histórica e sociológica que tem por efeito social o conhecimento de um objeto: a narrativa da história. É assim que a história abstrata ou a história em geral não existem, no sentido exato do termo, mas apenas a história real, ou “como efetivamente ocorreu, desses objetos que enformam a experiência acumulada da humanidade. A determinação mais simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, a faculdade de poder abstrair todas as coisas, até sua própria vida. Chama-se idealidade, idealização, precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito não se detém na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua faculdade representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as coisas, enquanto pensamento filosófico, isto é, como seu princípio universal, a ideia eterna que as engendra e nelas se manifesta.

          O espírito finito, dialeticamente, segue um passo a passo e se encontra numa união imediata com a natureza, a seguir em oposição com esta e finalmente em identidade com esta, porque suprimiu/subsumiu a oposição e voltou a si mesmo e, per se, o espírito finito é a ideia, que girou sobre si mesma e que existe por si em sua realidade. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda ciência, inclusive toda atividade prática, não possui nenhum outro interesse além do aquilo que “é em si”, no interior, manifestar-se desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se descobre toda a diferença na história do mundo. Os homens são todos racionais. O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza. Isto pertence à essência do homem. O europeu sabe de si, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade como sua substância. Se os homens “falam mal de conhecer é porque não sabem o que fazem”. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio) na realidade o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre, hegelianamente, somente se sabe que o é. Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Esta é a única diferença da existência (Existenz), a diferença do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou livre somente enquanto existo como livre. O conceito de figuração - mutatis mutandis - distingue-se de outros conceitos teóricos da sociologia por incluir expressamente os seres humanos em sua formação social.    

Contrasta, portanto, com um tipo amplamente dominante de formação de conceitos que se desenvolve sobretudo na investigação de objetos sem vida, portanto no campo da física e da filosofia para ela orientada. Há figurações de estrelas, assim como de plantas e de animais. Mas apenas os seres humanos formam figurações uns com os outros. O modo de sua vida conjunta em grupos grandes e pequenos é, de certa maneira, singular e sempre co-determinado pela transmissão de conhecimento de uma geração a outra, por tanto por meio do ingresso singular do mundo simbólico específico de uma figuração já existente de seres humanos. Às quatro dimensões espaço-temporais indissoluvelmente ligadas se soma, no caso dos seres humanos, uma quinta, a dos símbolos socialmente apreendidos. Sem sua apropriação, sem, por exemplo, o aprendizado de uma determinada língua especificamente social, os seres humanos não seriam capazes de se orientar no seu mundo nem de se comunicar uns com os outros. Um ser humano adulto, que não teve acesso aos símbolos da língua e do conhecimento de determinado grupo permanece fora de todas as figurações humanas, pois não é um ser humano. As definições de controle social são demasiado amplas e vagas, e, portanto, seria legítimo indagar, escolhendo-as mais ou menos ao acaso, para inferir que resultam em termos de um controle, isto é, qualquer estímulo ou complexo de estímulos que provoca uma determinada reação na atividade cognitiva humana. Assim, pois, todos os estímulos são controles, pois representam a direção do comportamento por influências grupais, estimulando ou inibindo a ação individual, ou certamente em grupo. 

O controle social pode ser definido como a soma total ou, antes, o conjunto de padrões culturais, símbolos sociais, signos coletivos, valores culturais, ideias e idealidades, tanto como atos quanto como processos diretamente ligados a eles, pelo qual a sociedade inclusiva, cada grupo particular, e cada membro individual participante superam as tensões e os conflitos entre si, através do equilíbrio temporário, e se dispõem a novos esforços criativos. Ipso facto, em toda a dimensão da vida associativa deverá haver algum ajustamento de relações sociais tendentes a prevenir a interferência de direitos e privilégios entre os indivíduos. De maneira mais específica, são três as funções do estabelecidas pelo controle social: a obtenção e a manutenção da ordem social, da proteção social e da eficiência social. O seu emprego hic et nunc na investigação sociológica contribuiu consideravelmente para produzir uma simplificação ou redução na análise dos problemas sociais, conseguida proporcionalmente, graças à compreensão positiva da integração das contradições correspondentes no sistema de organização das sociedades e da importância relativa de cada um deles, como e enquanto expressão do jogo social.  Embora obscuro e equívoco, em sentido corrente, o conceito de controle social é necessário à investigação sociológica na modernidade, encontraram um sistema de referências propício à sua crítica científica, seleção lógica e coordenação metódica.  

O termo “confiança” aflora com muita frequência na linguagem cotidiana. A questão para Giddens é: como estas mudanças afetaram as relações de intimidade pessoal e sexual? Pois estas não são apenas simples extensões da organização da comunidade ou do parentesco. A amizade, por exemplo, desde Simmel ou Nietzsche, foi pouco estudada pelos sociólogos, mesmo se considerarmos a intuição de Alain Touraine a respeito, mas ela proporciona uma pista importante para fatores de amplo alcance que influenciam a vida pessoal. Temos de compreender o caráter da amizade em contextos pré-modernos precisamente em associação com a comunidade local e o parentesco. A confiança nos amigos era frequentemente de importância central. Nas culturas tradicionais, com a exceção parcial de algumas vizinhanças citadinas em Estados agrários, havia uma divisão bem clara entre membros reconhecidos como “os de dentro e os de fora ou estranhos”. As amplas arenas de interação não hostil com outros anônimos, característica da atividade social moderna, não existia. Nestas circunstâncias sociais, a amizade era institucionalizada e vista como meio de criar alianças mais ou menos duradouras com outros contragrupos potencialmente hostis. Amizades institucionalizadas eram formas de camaradagem, assim como mormente ocorrem nas reconhecidas “fraternidades de sangue”, constituídas socialmente ou corporativamente dentre “companheiros de armas”. Institucionalizada ou não, quer dizer, quando a amizade era baseada em valores de sinceridade e honra.

A sinceridade é uma virtude valorizada em circunstâncias onde as divisórias entre “amigo” e “inimigo” eram geralmente distintas e tensas. A vasta extensão de sistemas sociais abstratos associada à modernidade contemporânea transforma a natureza da amizade. Não por acaso o sociólogo inglês percebe que a amizade é com frequência um modo de reencaixe, mas ela não está diretamente envolvida nos próprios sistemas abstratos, que superam explicitamente a dependência ligada a laços pessoais. Acompanhando esta transição, a honra é substituída pela lealdade que não tem outro apoio a não ser o afeto pessoal, e a sinceridade substituída pelo que podemos chamar de autenticidade: a exigência de que o outro seja aberto e bem intencionado. Embora estas conexões sociais possam envolver “intimidade emocional”, isto não é uma condição da manutenção da confiança pessoal. Laços pessoais institucionalizados e códigos de sinceridade e honra informais ou informalizados fornecem estruturas de confiança. É bastante errôneo, contudo, realçar a impessoalidade dos sistemas abstratos contra as intimidades da vida pessoal como a maior parte das explicações sociológicas correntes tendem a fazer. 

A vida pessoal dentro ou fora do trabalho, e os laços sociais que ela envolve estão entrelaçados com os sistemas abstratos de mais longo alcance como ocorre com o partido político. Alguns sentidos do termo, embora partilhem amplas afinidades eletivas, no sentido que Max Weber emprega, no âmbito da literatura e da sociologia, com outras utilidades de usos, são de implicação relativamente desimportante. Quer dizer, alguém que diz: “confio que você esteja bem”, normalmente quer dizer algo mais com esta fórmula de polidez do que “espero que você esteja com boa saúde” – embora mesmo aqui “confio” tenha uma conotação algo mais forte que “espero”, implicando algo mais próximo a “espero não ter motivos para duvidar”. A atitude de crença ou crédito que entra em confiança em alguns contextos mais significativos já se encontra aqui. Quando alguém diz: “confio em que X se comportará desta maneira”, esta implicação social é mais evidente, e não além do nível do “conhecimento indutivo fraco”. É reconhecido que se conta com X para produzir o comportamento em questão, dadas as circunstâncias normais. Eles não se relacionam aos sistemas perpetuadores de confiança, isto é, são designações referentes aos comportamentos; o indivíduo envolvido não é requisitado aquela “fé” religiosa que a confiança envolve em seus significados.  

A principal definição de “confiança” no Oxford English Dictionary é descrita como “crença ou crédito em alguma qualidade ou atributo de uma pessoa ou coisa, ou a verdade de uma afirmação”, e esta definição proporciona um ponto de partida útil. “Crença” e “crédito” estão claramente ligados de alguma forma à “fé”, da qual, seguindo Simmel, mas embora reconhecendo que a fé e confiança são intimamente aliadas, Niklas Luhmann faz uma distinção entre as duas que é a base de sua obra sobre o tema. A confiança, diz ele, deve ser compreendida especificamente em relação ao risco, um termo que passa a existir apenas no período moderno. A noção se originou com a compreensão de que resultados inesperados podem ser uma consequência de nossas próprias atividades ou decisões, ao invés de exprimirem significados ocultos de natureza ou intenções inefáveis da Deidade. Mas “risco”, substitui em grande parte o que antes era pensado como fortuna (fortuna ou destino) e torna-se separado das cosmologias. A confiança pressupõe, segundo Giddens, consciência das circunstâncias de risco, o que não ocorre com a crença. Tanto a confiança como a crença se referem a expectativas que podem ser frustradas ou desencorajadas. A crença, como Niklas Luhmann a emprega, se refere a atitude mais ou menos certa de que as coisas similares permanecerão estáveis.

O crescimento de um jovem convivendo e habitando comum em figurações humanas, como processo social e experiência, assim como o aprendizado de um determinado esquema de autorregulação na relação com os seres humanos, é condição indispensável ao desenvolvimento rumo à humanidade. Socialização e individualização de um ser humano, são nomes diferentes para o processo. Cada ser humano assemelha-se aos outros, e é, ao mesmo tempo, diferente de todos os outros. O mais das vezes, as teorias sociológicas deixam sem resolver o problema da relação entre indivíduo e sociedade. Quando se fala que uma criança se torna um indivíduo humano por meio da integração em determinadas figurações, como, por exemplo, em famílias, em classes escolares, em comunidades aldeãs ou em Estados, assim como mediante a apropriação e reelaboração de um patrimônio simbólico social, conduz-se o pensamento por entre dois grandes perigos da teoria e das ciências humanas: o perigo de partir de um indivíduo a-social, portanto como que de um agente que existe por si mesmo; e o perigo de postular um “sistema”, um “todo”, em suma, uma sociedade humana que existiria para além do ser humano singular, para além dos indivíduos. Embora não possuam um começo absoluto, não tendo nenhuma outra substância a não ser seres humanos gerados familiarmente por pais e mães, as sociedades humanas não são simplesmente um aglomerado cumulativo dessas pessoas. O convívio dos seres humanos em sociedades tem sempre, mesmo no caos, na desintegração, na maior desordem social, uma forma absolutamente determinada. É isso que o conceito de figuração exprime. O termo “agorafobia”, por outro lado, tem origem no grego ἀγορά, ágora, que significa praça pública, com o sufixo -φοβία, que significa “fobia” ou “medo”. Existem persistentes críticas e debates a respeito do DSM.

Há um contínuo debate científico sobre a validade da construção e a confiabilidade prática das categorias diagnósticas e seus critérios, apesar de eles terem sido crescentemente padronizados ao aumento de profissionais em pesquisas controladas. É argumentado, entretanto, que os créditos científicos caraterísticos que foram empiricamente fundados são, em geral, exagerados. Apesar da oposição à introdução desta técnica, foi por muito tempo argumentado que esse sistema de classificação faz distinções categoricamente injustas entre as desordens e entre o normal e o anormal. É argumentado que critérios diagnósticos puramente baseados em sintomas falham em adequar a situação ao contexto em que a pessoa está vivendo, e se há real desordem interna de um indivíduo ou simplesmente uma resposta a uma situação em curso. É dito que o uso de aflição e desabilidade como critério adicional para muitos transtornos não tem resolvido problemas falso-positivos, porque o nível de afecção não é frequentemente correlacionado com sintomas relatados e pode se originar de vários fatores individuais e sociais. O contexto político é um tópico controverso, incluindo per se seu uso por indústrias farmacêuticas e seguradoras. O potencial conflito de interesses tem surgido porque aproximadamente 50% dos autores que previamente selecionaram e definiram as desordens psiquiátricas tiveram ou têm relacionamentos com indústrias farmacêuticas levantando expectativas do ponto de vista da neutralidade axiológica. Alguns argumentam que a “expansão dos transtornos” foi influenciada por motivos financeiros e representa um aumento da medicalização dos seres humanos, enquanto outros argumentam que problemas de saúde mental são subestimadas ou subtratadas.

A estratégia do passado recente que visava organizar novos espaços urbanos transformou-se meramente em artifícios políticos e muito pouco em torno de reabilitação de patrimônios. Depois de haver inconscientemente projetado a cidade futura, torna-se uma cidade frequentada por sua estranheza, muito mais elevada aos excessos que reduzem o presente, a nada mais que simples escombros como caixas d`água que deixam escapar seu domínio do tempo. Mas os técnicos se denunciam já no quadriculamento que atrapalhavam os planejadores funcionalistas que deviam fazer tábula rasa das opacidades contidas nos projetos de cidades transparentes. Afinal qual o urbanismo que não descontroem mais do que uma guerra a questão da memória e da história aldeã, operária, com casas desfiguradas, fábricas desativadas, universidades sem vida, cacos de histórias naufragadas que hoje formam as ruínas de uma cidade fantasma ou fantasmas da cidade, antes modernista, cidade de massa, homogênea, como os lapsos de uma linguagem que se desconhece, quem sabe inconsciente. Mas elas surpreendem. O imaginário individual (sonho) e coletivo (os mitos, os ritos, os símbolos), em primeiro lugar, são as coisas que o soletram. Eles têm uma função social que consiste em abrir uma profundidade no presente, mas não têm mais o conteúdo que provê de sentido a estranheza do passado. Suas histórias deixam de ser o que são para um final trágico. 

O Estado se constitui, portanto, em relação à forma de governo um duplo contexto:  de um lado, efeitos de poder político em relação a outros Estados, atuais ou potenciais, isto é, os princípios concorrentes – portanto, precisa concentrar “capital de força física” para travar a guerra pela terra, pelos territórios; de outro lado, em relação a um contexto interno, a contrapoderes, isto é, príncipes concorrentes ou classes dominadas que resistem à arrecadação do imposto ou ao recrutamento de soldados. Esses dois fatores favorecem a criação de exércitos poderosos dentro dos quais se distinguem progressivamente forças propriamente militares e forças propriamente policiais destinadas à manutenção da ordem interna. Essa distinção exército/polícia, evidente hoje, tem uma genealogia extremamente lenta, as duas forças têm sido por muito tempo confundido. O desenvolvimento do imposto está ligado às despesas de guerra. O nascimento do imposto é simultâneo a uma acumulação extraordinária de capital detido pelos profissionais da gestão burocrática e à cumulação de um imenso capital informacional. É o vínculo institucional entre Estado e estatística: o Estado está associado a um conhecimento racional do mundo social e governamental. A estatística em como representação o campo da matemática que relaciona fatos sociais e números em que há um conjunto de métodos que nos possibilita coletar dados e analisá-los, assim sendo possível realizar alguma interpretação deles.

Agorafobia tem como representação social comumente uma perturbação psíquica de ansiedade caracterizada por sintomas em resposta a situações que a pessoa percepciona como inseguras ou das quais é difícil escapar. Entre estas situações estão espaços abertos, tráfego rodoviário, centros comerciais ou qualquer outra situação social em que a pessoa se encontre fora do local próprio de sua residência. Quando a pessoa se depara com uma destas situações, o sintoma “mais comum é um ataque de pânico”. Para que seja diagnosticada agorafobia, os sintomas devem-se manifestar praticamente sempre que a pessoa se depara com a situação e os sintomas devem estar presentes durante pelo menos seis meses. As pessoas afetadas geralmente dão-se a um esforço significativo para evitar as situações. Nos casos mais graves, as pessoas sentem-se incapazes de sair da própria residência. Acredita-se que a agorafobia seja causada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Em muitos casos, a condição agorafóbica é comum na família. A agorafobia pode ter origem em acontecimentos como a morte de um pai ou um ataque violento. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais foi publicado em 1952 pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Ele foi desenvolvido a partir do antigo sistema de classificação adotado em 1918 para reunir a necessidade do Departamento de Censo norte-americano de uniformizar estatísticas vindas pevalentemente de hospitais psiquiátricos; vindas de sistemas de categorização técnica usados pela disciplinarização técnica exército norte-americano; e vindas dos levantamentos dos pontos de vista de 10% dos membros da APA. 

O manual contém 130 páginas, que mostram 106 categorias de desordens mentais. O DSM-II foi publicado em 1968, listando 182 desordens em 134 páginas. Esses manuais refletiam a predominância da “psicodinâmica psiquiátrica”. Sintomas não eram especificados com detalhes em desordens específicas, mas eram vistos como reflexos de grandes conflitos subjacentes ou reações de má adaptação aos problemas da vida, enraizados em uma distinção entre neurose e psicose, ou seja, ansiedade/depressão largamente associadas à realidade concreta, ou alucinações/desilusões aparentemente desconectadas da realidade. O conhecimento biológico e sociológico também foi incorporado, em um modelo que “não enfatizava um claro limite entre normalidade e anormalidade”. Em 1974, a decisão de se criar uma nova revisão do DSM se fez, e Robert Spitzer (1932-2015) foi selecionado dentre especialistas como chefe da força tarefa.  O ímpeto inicial foi fazer uma nomenclatura consistente com a CID, publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A revisão assumiu uma forma muito mais ampla de termos sob a influência e controle de Spitzer e seus membros escolhidos. Uma das metas era aumentar o leque de diagnósticos psiquiátricos. As práticas de profissionais em saúde mental, especialmente em diferentes países, não era uniforme. O estabelecimento de critérios específicos era também uma tentativa técnico-metodológica de facilitar a pesquisa em torno da saúde mental. O sistema multiaxial tenta mostrar um mais completo quadro do paciente, ao invés de apenas fornecer um simples diagnóstico.

O conceito sociológico de nomeado neutralidade axiológica é ambíguo. A palavra alemã correspondente, Wertfreiheit, significa, literalmente, “liberdade em relação aos valores”. O tradutor francês dos Essais Sur la Théorie de la Science, de Max Weber (1965), e especialista deste autor, Julien Freund, optou corretamente pela expressão “neutralidade axiológica”. Com o princípio da “neutralidade axiológica”, Max Weber quis demonstrar, por um lado, que a ciência não podia excluir a intervenção dos valores nos seus procedimentos, e, por outro, que estes deviam ficar circunscritos pela utilização exclusiva que ela faz deles e pelo controle exclusivo que o cientista exerce sobre eles, em suma, que ela se devia proteger da intrusão ilegítima de valores, no âmbito da ciência, que implicariam avaliações práticas de ordem política ou moral. No filme a cientista dá conta do recado em cenas aparentemente inexequíveis, mas que fazem parte da mise-en-scène: portando armas, correndo e na garupa de motocicleta. Essa, por sinal, é exagerada, mas não pode ser reduzida sem prejuízo para o longa-metragem, na medida certa, que passa a ganhar ritmo cinematográfico. Outro momento curioso é o que envolve um lobo. Embora tenha rimado aqui no argumento, não desafina na telona.

A neutralidade axiológica significa que o fundamento da ciência não reside numa objetividade pura de ordem ideal, mas que depende sempre das escolhas valorativas do cientista. O apelo aos valores integra plenamente todo o procedimento científico, tendo em vista que a criação de conceitos ou de tipos ideais, assim como o estabelecimento de relações causais, depende de opções subjetivas últimas que refletem as crenças, as convicções ou as ideologias de cada cientista. Os conceitos nunca gozam de uma imparcialidade intrínseca e nunca são neutros no sentido de exprimirem uma relação objetiva válida para todos os lugares e em todos os tempos, mas representam simples pontos de vista cientificamente informados. Estas construções não são, no entanto, arbitrárias e não constituem, de forma nenhuma, a finalidade da ciência. No domínio da economia política, Marx metodologicamente inferia que a livre investigação científica não só se defronta com o mesmo inimigo presente em todos os outros domínios, mas também a natureza peculiar do material com que ela lida convoca ao campo de batalha as paixões mais violentas, mesquinhas e execráveis do coração humano, as fúrias do interesse privado. – Segui il tuo corso, e lascia dir le genti! A inevitável subjetividade cultural que encontramos no princípio de qualquer ciência fica superada se reconhecermos a pluralidade de valores e de centros de interesse que presidem a cada um deles, se aceitarmos a legitimidade dos outros pontos de vista e se, no decurso do nosso estudo, nos mantivermos sempre fiéis aos nossos pressupostos de partida. 

Robert Leopold Spitzer foi um psiquiatra e professor de psiquiatria na Universidade de Columbia, na cidade de Nova York. Ele foi um pesquisador importante no desenvolvimento do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Spitzer nasceu em White Plains, Nova York, em 1932. Ele recebeu seu diploma de bacharel em psicologia pela Universidade Cornell em 1953 e seu MD pela Escola de Medicina da Universidade de Nova York em 1957. Ele completou sua residência psiquiátrica no Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York em 1961 e se formou no Centro de Treinamento e Pesquisa Psicanalítica da Universidade de Columbia em 1966. Spitzer escreveu um artigo sobre as teorias de Wilhelm Reich em 1953, que o American Journal of Psychiatry se recusou a publicar. Spitzer passou a maior parte de sua carreira na Universidade de Columbia, na cidade de Nova York, como professor de psiquiatria até se aposentar em 2003. Ele fazia parte do corpo docente de pesquisa do Centro de Treinamento e Pesquisa Psicanalítica da Universidade de Columbia, onde se aposentou após 49 anos em dezembro de 2010. Ele foi chamado de um dos psiquiatras mais influentes do século XX. O obituário do The Lancet o descreveu como “teimoso, às vezes abrasivo e sempre ansioso, o trabalho de Spitzer foi guiado por um forte senso de justiça ética”. Um colega da Columbia o descreveu como um “iconoclasta” que “procurava por injustiça”. Spitzer foi um dos principais arquitetos da classificação moderna de transtornos mentais. Em 1968, ele co-desenvolveu um programa de computador, Diagno I, baseado em uma árvore de decisão lógica, que poderia derivar um diagnóstico a partir das pontuações em uma Escala de Status Psiquiátrico que ele co-publicou em 1970 e que o Comitê Diretor dos Estados Unidos para o Projeto de Diagnóstico Estados Unidos-Reino Unido usou para verificar a consistência de seus resultados.  Spitzer foi membro do Comitê Diretor dos Estados Unidos, composto por quatro pessoas, para o Projeto de Diagnóstico Estados Unidos-Reino Unido, que publicou seus resultados em 1972.

Eles descobriram que a diferença mais importante entre os países era que o conceito de esquizofrenia usado em Nova York era muito mais amplo do que o usado em Londres e incluía pacientes que teriam sido denominados maníaco-depressivos ou bipolares. Ele desenvolveu métodos psiquiátricos que se concentravam em fazer perguntas específicas em entrevistas para chegar a um diagnóstico, em oposição ao questionamento aberto da psicanálise, que era a técnica predominante de saúde mental. Ele co-desenvolveu o Questionário de Transtorno de Humor (MDQ), uma técnica de triagem usada para diagnosticar o transtorno bipolar. Ele também co-desenvolveu o Questionário de Saúde do Paciente (PRIME-MD), que pode ser autoadministrado para descobrir se alguém tem uma doença mental. As partes da enquete direcionadas à depressão desde então se tornaram aceitas na medicina de atenção primária para triagem e diagnóstico de depressão grave, bem como para monitorar a resposta ao tratamento. Em 1974, Spitzer tornou-se presidente da força-tarefa da Associação Psiquiátrica Americana da terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM-III, que foi lançado em 1980. Spitzer é um dos principais arquitetos da classificação moderna de transtornos mentais, que envolve a classificação de transtornos mentais em categorias discretas com critérios diagnósticos específicos; no entanto, ele criticou o que viu, como erros e excessos nas versões posteriores do DSM, embora tenha mantido sua posição de que o DSM ainda é melhor do que as alternativas.

Em 2003, Spitzer foi coautor de um artigo de posicionamento com o editor do DSM-IV, Michael First, afirmando que o “DSM é geralmente visto como clinicamente útil” com base em pesquisas de profissionais em atividade e feedback de estudantes de medicina e residentes, mas que os médicos de atenção primária consideram o DSM muito complicado para seu uso. Os autores enfatizaram que, dadas as limitações atuais na compreensão dos transtornos psiquiátricos, uma infinidade de códigos/diagnósticos do DSM possa se aplicar a alguns pacientes, mas que seria uma “especulação total” atribuir um único diagnóstico a um paciente. Os autores rejeitaram os apelos para adotar a CID-9 porque ela não tinha critérios diagnósticos e “[retrocederia] a psiquiatria 30 anos”, enquanto a CID-10 se assemelhava muito à classificação do DSM-III-R. Em 2013, uma autobiografia definitiva de Spitzer, The Making of DSM-III: A Diagnostic Manual`s Conquest of American Psychiatry, foi publicada pela autora e historiadora Hannah S. Decker. Spitzer foi brevemente apresentado na série de TV da BBC de 2007, The Trap, na qual afirmou que o DSM, ao operacionalizar as definições de transtornos mentais enquanto presta pouca atenção ao contexto em que os sintomas ocorrem, pode ter “medicalizado” as experiências humanas normais de um número significativo de pessoas. Em 2008, Spitzer criticou a revisão do DSM-5 por falta de transparência. Ele também criticou propostas específicas, como de introdução da síndrome de risco de psicose para os que apresentam sintomas leves encontrados em transtornos psicóticos. 

Spitzer liderou um esforço bem-sucedido, em 1973, para parar de tratar a homossexualidade como uma doença mental. Foi em parte devido aos esforços de Spitzer que a homossexualidade foi “removida”, ou seja, renomeada como Distúrbio de Orientação Sexual no DSM-II de 1974: - “Ao retirá-la do manual, a homossexualidade foi legitimada como uma diferença normal em vez de um comportamento psiquiátrico. Esta declaração inicial e poderosa da psiquiatria institucional de que isso é normal acelerou a confiança das pessoas no movimento”.  Em 2001, Spitzer apresentou um artigo intitulado: “Alguns homens gays e lésbicas podem mudar sua orientação sexual?” na reunião anual da APA de 2001; ele argumentou que é possível que alguns indivíduos altamente motivados possam mudar com sucesso sua orientação sexual de homossexual para heterossexual. Um artigo do Washington Post indicou que Spitzer realizou entrevistas telefônicas de 45 minutos com 200 pessoas que alegaram que suas respectivas orientações sexuais haviam mudado de homossexual para heterossexual. Spitzer disse que “começou seu estudo como cético”, mas o estudo revelou que “66% dos homens e 44% das mulheres haviam alcançado o que [Spitzer] chamou de bom funcionamento heterossexual”, como “estar em um relacionamento heterossexual duradouro e amoroso no último ano, obter satisfação suficiente no relacionamento emocional com o parceiro para obter uma pontuação de pelo menos sete em uma escala de 10 pontos, ter relações sexuais heterossexuais satisfatórias pelo menos uma vez por mês e nunca ou raramente pensar em alguém do mesmo sexo durante o sexo heterossexual”.

Spitzer também descobriu que “89% dos homens e 95% das mulheres disseram que eram incomodados apenas um pouco, ou nada, por sentimentos homossexuais indesejados”, mas que “apenas 11% dos homens e 37% das mulheres relataram uma ausência completa de indicadores homossexuais, incluindo atração pelo mesmo sexo.  [...] Cerca de 43% da amostra foi encaminhada para Spitzer por 'ministérios ex-gays.  [...] Outros 23% foram encaminhados pela Associação Nacional de Pesquisa e Terapia da Homossexualidade”. Spitzer declarou que sua pesquisa “mostra que algumas pessoas podem mudar de gays para heterossexuais, e devemos reconhecer isso”. Considerando o quão difícil foi encontrar 200 participantes e que eles foram considerados os melhores casos de terapia de conversão, Spitzer concluiu que, embora a mudança pudesse ocorrer, provavelmente era muito rara. A APA emitiu uma rejeição oficial do artigo de Spitzer, observando que ele não havia sido revisado por pares e afirmando: “Não há evidências científicas publicadas que apoiem a eficácia da terapia reparadora como tratamento para mudar a orientação sexual de alguém”. Dois anos depois, o artigo de Spitzer foi publicado no Archives of Sexual Behavior. Dois terços das revisões foram críticas, e a decisão de publicação gerou controvérsia, com um membro da organização de apoio à publicação renunciando em protesto. O artigo foi criticado por seus métodos de amostragem e critérios de sucesso. Em uma entrevista de 2005, Spitzer declarou: - Muitos colegas ficaram indignados” após a publicação do estudo. Spitzer acrescentou: - “Dentro da comunidade gay, inicialmente houve uma tremenda raiva e um sentimento de que eu os havia traído”. Quando questionado se consideraria um estudo de acompanhamento, Spitzer disse que não e acrescentou que sentia “um pouco de fadiga de batalha”.

Embora Spitzer tenha dito que não tinha como saber se os participantes do estudo estavam sendo honestos, ele também indicou que acreditava que os entrevistados estavam sendo francos com ele. O sistema de critério e classificação do DSM-III foi baseado num processo de consultas e reuniões de comitês. Houve uma tentativa de se construir uma base de categorização psicológica e socialmente em descrição ao invés de pressupostos etiológicos, e a psicodinâmica foi facilmente abandonada, talvez em favor do modelo biomédico, com clara distinção entre o normal e o anormal. O DSM-5 classifica a agorafobia como uma fobia pertencente ao grupo das fobias específicas e fobias sociais. Entre outras condições que manifestam sintomas semelhantes estão a perturbação de ansiedade de separação, perturbação de estresse pós-traumático, perturbação depressiva major. As pessoas afetadas apresentam um risco acrescido de depressão e perturbação por abuso de substâncias. É pouco provável que a agorafobia se resolva sem tratamento. O tratamento consiste numa forma de aconselhamento psiquiátrico denominada terapia cognitivo-comportamental. Esta terapia permite resolver cerca de metade dos casos de agorafobia. A condição afeta 1,7% dos adultos. O número de casos em mulheres é o dobro do de homens. A doença é rara em crianças. A maioria dos casos têm origem no início da idade adulta, sendo cada vez menos comum à medida que a idade avança.

Bibliografia Geral Consultada.

MEZAN, Renato, Freud, Pensador da Cultura. 5ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990; GAMA, Carlos Alberto Pegolo, “Agorafobia. Uma Tópica Evanescente”. In: Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 2(2), 72-85; 1999; RICOEUR, Paul, La Mémoire, l`Histoire, l`Oubli. Paris: Éditions Du Seuil, 2000; SILVA, Marcos Paulo do Nascimento, A Problemática do Mal em O Mal-Estar na Civilização. Dissertação de Mestrado. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2004; MAIGRET, Eric; MACÉ, Eric (Organizadores), Penser les Médiacultures. Nouvelles Pratiques et Nouvelles Aproches de la Represéntation du Monde. Paris: Éditeur Armand Colin, 2005; ELIAS, Norbert, Escritos & Ensaios (I): Estado, Processo, Opinião Pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006; MELLO PISETTA, Maria Angélica Augusto, “Angústia e Subjetividade”. In: Revista Subjetividades, 8(1), 73–88, 2008; SHAWN, Allen, Bem Que Eu Queria Ir: notas de uma vida fóbica. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2009; METZ, Christian, A Significação no Cinema. São Paulo: Editora Perspectiva, 2012; EHRLICH, André; DARRIBA, Vinicius Anciaes, “Medô Medo: investigação sobre a fobia em Freud, Lacan e autores contemporâneos a partir de um caso clínico”. In: Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, (16), 59-76, 2013; GOIANA, Francisco Daniel Iris, Instinto e Civilização: A Sociologia Processual de Norbert Elias e Seu Encontro com a Psicanálise Freudiana. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2014; HALL, Stuart, Cultura e Representação. Rio de Janeiro: Editora Apicuri, 2016; DEJOURS, Christophe, Le Choix - Souffrir au Travail n`est pas une Fatalité. Paris: Bayard Éditions, 2015; MARTUCCELLI, Danilo, La Condition Sociale Moderne. L`Avenir d`une Inquiétude. Paris: Éditeur Gallimard, 2017; CARVALHO, Rone, “Por que o Brasil tem a população mais ansiosa do mundo”. In: https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/02/27/MEDEIROS, Nathássia Matias de; GOMES, Karla Marília Mota; MESQUITA, Leonardo; GABRIEL, Giovanna Carbone, “O Uso do Cinema na Educação em Psicologia: Uma Revisão Integrativa da Literatura”. In: Dossiê Temático “Diversidade Social e Educação Escolar”, Vol. 12 n° 30 (2025), entre outros.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

O Papa da Dignidade – Cultura do Vaticano & Solidariedade Orgânica.

                 Apenas os que dialogam podem construir pontes e vínculos”. Papa Francisco

           Francisco, S.J., nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936 e morto na cidade do Vaticano, em 21 de abril de 2025, foi o 266º Papa da Igreja Católica, Bispo de Roma e Soberano da Cidade do Vaticano de 13 de março de 2013 até a data da sua morte. Foi o primeiro Bispo de Roma a ser membro da Companhia de Jesus (Jesuítas), o primeiro nascido nas Américas e no Hemisfério Sul, bem como o primeiro pontífice não nascido na Europa em mais de 1 200 anos e o primeiro papa a utilizar o nome de Francisco. Tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 28 de fevereiro de 1998 e foi elevado ao cardinalato em 21 de fevereiro de 2001, véspera da festa da Cátedra de São Pedro, com o título de Cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino, por São João Paulo II. Foi eleito papa em 13 de março de 2013. No decorrer de sua vida pública, Papa Francisco destacou-se por sua humildade, preocupação com os pobres e compromisso com o diálogo inter-religioso. Francisco teve uma abordagem menos formal ao papado do que seus antecessores, tendo escolhido residir na casa de hóspedes Domus Sanctae Marthae, em vez de nos aposentos papais do Palácio Apostólico usado por papas anteriores. Ele sustentava que a Igreja deveria ser mais aberta e acolhedora. Não apoiava o capitalismo definido “selvagem”, o marxismo de Karl Marx (1818-1883), ou as versões marxistas da Teologia da Libertação. Francisco manteve as visões tradicionais da Igreja em relação ao aborto, casamento, ordenação de mulheres e celibato clerical. Opunha-se ao consumismo e apoiava a ação sobre as mudanças climáticas, escopo de seu papado com a promulgação da Encíclica Laudato si'. Na diplomacia internacional, ajudou a restaurar as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba e apoiou a causa dos refugiados durante as crises migratórias da Europa e da América Central. Desde 2018, é um oponente vocal tradicional do neonacionalismo. Enteretanto, seu papado deu ênfase ao combate de abusos sexuais por membros do clero católico, tornando obrigatórias as denúncias e responsabilizando quem as omite.

            Jorge Mario Bergoglio nasceu numa família de imigrantes italianos. O seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, nascido na cidade de Turim (Piemonte) em 2 de abril de 1908 e falecido em 24 de setembro de 1961, era um trabalhador ferroviário. Sua mãe, Regina Maria Sivori, nascida em Buenos Aires, de pais de origem piemontesa e lígure, em 28 de novembro de 1911 e falecida em 8 de janeiro de 1981, era dona de casa. Casaram-se na capital argentina no dia 12 de dezembro de 1935. Mario Giuseppe também jogava basquetebol no San Lorenzo, um dos cinco grandes do futebol argentino e cujas origens haviam sido impulsionadas por um padre. Jorge tornar-se-ia torcedor sanlorencista, tendo afirmado que não perdeu nenhum jogo do título argentino de 1946, quando tinha dez anos. Em carta aos dirigentes do clube que o visitaram uma semana após tornar-se Papa, relembrou: “Tem vindo à minha memória, belas recordações, começando desde a minha infância. Segui, aos dez anos, a gloriosa campanha de 1946. Aquele gol de Pontoni!”. Nascido e criado no bairro de Flores, sede do San Lorenzo, o Papa Francisco era o mais velho de cinco filhos: Oscar Adrián Bergoglio (1938–1997), Marta Regina Bergoglio (1940–2007), Alberto Horácio Bergoglio (1942–2010) e Maria Elena Bergoglio, nascida em 1948, sua única irmã viva. Inicialmente, alguns órgãos de imprensa teriam afirmado que Jorge Bergoglio fez graduação e mestrado em química, na Universidade de Buenos Aires, porém mais tarde se verificou que esta informação era incorreta, tendo ele apenas um diploma técnico em química pela Escuela Técnica Industrial n° 27 Hipólito Yrigoyen, Buenos Aires, Argentina. Na juventude, teve uma doença respiratória que infelizmente numa operação de remoção lhe fez perder um pulmão. 

Durante a sua adolescência, teve uma namorada, Amalia.  Ingressou no noviciado da Companhia de Jesus em 11 de março de 1958. Fez o juniorado em Santiago, Chile. Graduou-se em Filosofia em 1960, na Universidade Católica de Buenos Aires. Entre os anos 1964 e 1966, ensinou Literatura e Psicologia, no Colégio Imaculada, na Província de Santa Fé, e no Colégio do Salvador, em Buenos Aires. Graduou-se em Teologia em 1969. Recebeu a ordenação presbiteral no dia 13 de dezembro de 1969, pelas mãos de Dom Ramón José Castellano. Emitiu seus últimos votos na Companhia de Jesus em 1973, quando também foi nomeado Mestre de Noviços, no Seminário da Villa Barilari, em San Miguel. No mesmo ano foi eleito superior provincial dos jesuítas, na Argentina. Em 1980, após o período do provincialato, retornou a San Miguel, para ensinar em uma escola dos jesuítas. No período de 1980 a 1986 foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel. Após obter seu doutorado na Alemanha, foi confessor e diretor espiritual em Córdoba. Francisco falava fluentemente o castelhano (sua língua materna), italiano, relativamente bem francês e alemão, e pouco o inglês, assim como o português e o latim. Em 20 de maio de 1992, o Papa João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Buenos Aires, com a ser titular de Auca (Aucensi). Sua ordenação episcopal deu-se a 27 de junho de 1992, pelas mãos do cardeal Quarracino, de Dom Emilio Ogñénovich e de Dom Ubaldo Calabresi. Em 3 de junho de 1997, foi nomeado arcebispo coadjutor de Buenos Aires. Tornou-se arcebispo de Buenos Aires no dia 28 de fevereiro de 1998. Foi nomeado ordinário para os fiéis de rito oriental sem ordinário próprio, pelo populismo católico do Papa João Paulo II (1920-2005), em 30 de novembro de 1998.           

         A famosa frase: - “No futuro, todos terão seus quinze minutos de fama”, como profetizou certa vez o cineasta e pintor norte-americano Andy Warhol, reconhecido pelos coloridos retratos da glamorosa Marilyn Monroe e Elvis Presley tornou-se sua marca na modernidade. Mais do que isso, sua fama parece ter se tornada eterna, como tem ocorrido no tempo e espaço quando é cada vez mais celebrada. É o que garante o jornal norte-americano The New York Times. No primeiro semestre de 2015, por exemplo, foram programadas pelo menos três mostras com criações de Andy Warhol nos Estados Unidos da América. Em uma extensa reportagem sobre o legado de um dos criadores e principal representante da Pop Art, o jornal divulgou que nada menos que 40 exposições com obras do artista, muitas delas até então inéditas para o público, “inundarão museus e instituições de arte nos próximos cinco anos”. Isso porque a fundação que leva o nome de Andy Warhol está na terceira fase de um projeto que visa popularizar cada vez mais o trabalho do artista, morto em 1987. É neste sentido que a fundação doou mais de 14 mil obras, sobretudo fotografias e gravuras, “com a condição de que os museus as exibam no prazo de cinco anos”. Já foram distribuídas, desde 1999, 52.786 obras do artista para 322 instituições diversas, sobretudo em seu significado nos Estados Unidos da América. Neste sentido, marca é a representação simbólica de uma entidade, qualquer que seja ela, objeto/símbolo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de presença, uma simples pegada. Na teoria social da comunicação, isto é, em sua dimensão, pode ser um signo, um símbolo ou um ícone. 

Uma simples palavra pode referir uma marca. O termo é frequentemente usado hoje em dia como referência a uma determinada empresa: um nome, uma marca verbal, imagens ou conceitos que distinguem o produto, serviço ou a própria empresa. Quando se fala em marca, é comum estar se referindo, na maioria das vezes, a uma representação gráfica no âmbito e competência do designer, onde a marca pode ser representada graficamente por uma composição de símbolo ou logotipo, tanto individualmente quanto combinados. No entanto, o conceito de marca é bem mais abrangente que a sua representação gráfica. Marca não é um conceito fácil de definir. A marca em essência representa produção-consumo com uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos compradores. A garantia de qualidade surge entre marcas, mas a marca é um símbolo mais complexo, pois em princípio, a relação social entre complexo e símbolo, coincide em muitos aspectos do desejo, comparativamente, pois ambos se enraízam num núcleo de significado arquetípico. Analogamente se referem sociologicamente enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais a unidades de geração que desenvolvem perspectivas, reações e posições políticas e afetivas diferentes em relação a um mesmo mercado de consumo editorial. O nascimento em um contexto idêntico, mas em um período específico, faz surgirem diversidades nas ações dos sujeitos. Outra característica é a adoção ou criação de estilos distintos pelos indivíduos, mesmo vivendo em um mesmo nível social. A unidade geracional constitui uma adesão mais concreta em relação àquela estabelecida pela conexão geracional.

Mas a forma como grupos sociais da mesma conexão geracional lida com os fatos históricos vividos, por sua geração, fará surgir distintas unidades geracionais no âmbito da mesma conexão geracional no conjunto da sociedade. O sociólogo Karl Mannheim não esconde sua preferência pela abordagem histórico-romântica alemã. E destaca que este é um exemplo bastante claro de como a forma de se colocar uma questão pode variar de país para país, assim como de uma época para outra. Ipso facto, sociologicamente falando a relação social entendida por globalização representa um dos processos de aprofundamento da divisão internacional do trabalho, da integração econômica, social e política, em seus extremos que teria sido impulsionado pela redução dos meios sociais de comunicação dos países no final do século XX e início do século XXI. Embora vários estudiosos situem a origem da globalização em tempos modernos, Marx analisou a sua história social e econômica na gênese do industrial capitalista relacionado com os chamados descobrimentos/achamentos do Novo Mundo pelos europeus. Um país com imprensa livre hoje pode ter acesso, algumas vezes por televisão por assinatura ou satélite, a emissoras de difusão de comunicação, desde a NHK do Japão a Cartoon Network norte-americana. A globalização é analisada por sociólogos, historiadores e cientistas políticos como o movimento social sob o qual se constrói o processo de hegemonia econômica, política e cultural ocidental sobre as demais nações. Esta nova dominação é constituída por redes assimétricas, e as relações de poder se dão mais pela via cultural e econômica do que pelo uso coercitivo de força.  

         Historicamente as ordens mendicantes de franciscanos e dominicanos, formam uma resposta surgida do interior da Igreja face a movimentos similares, mas que se tinham colocado à margem e sobretudo fora da Igreja. Foram, portanto, uma resposta a uma necessidade social política, cultural e religiosa daqueles tempos. As suas características eram essencialmente urbanas: vida em comunidade, vida itinerante, vida de pobreza como exemplo e pregação. Ao invés das antigas ordens religiosas, especialmente os beneditinos, dedicados ao trabalho manual e agrícola, estas novas ordens vão marcar e surgem e simultâneo com o despontar da nova classe, a burguesia, constituída por comerciantes, pequenos artificies, operários e serventes nas cidades. O seu carácter aberto e não elitista, democrático na organização interna, a grande mobilidade que se conjuga no tempo e lugar com a abertura das rotas comerciais na Europa, vão tornar estas ordens religiosas atrativas para toda uma nova classe social, urbana, em crescimento de literacia, ascendente social e politicamente, com novas formas de expressão na retórica, na literatura, na arte e arquitetura e na teologia.  A ordem nasceu sob o signo da verdade (Veritas, em latim), isto é o estudo, a pesquisa e a reflexão e pregação da verdade revelada por Jesus Cristo e pela Igreja. Daí que não surpreenda que este empreendimento comunicativo e de trabalho dentre inúmeros membros da ordem se tenham tornado famosos teólogos, escritores e doutores da Igreja. A sua atividade de ensino e da busca intelectual, tiveram como fruto grande pensadores, e deram inúmeros contributos para a história social da Europa e do mundo.

 Nos quase oito séculos de história desta ordem, inúmeros foram os seus membros que se destacaram, entre os quais se realça Santo Tomás de Aquino, Santa Catarina de Siena, Santo Alberto Magno, Beato Inocêncio V, Papa Bento XI, São Pio V, Papa Bento XIII, Henri Dominique Lacordaire, Fr. Luís Beltran, Beato Raimundo de Cápua, Bartolomeu Las Casas, São Raimundo de Penaforte, São Vicente Ferrer, São Francisco Coll e o Prêmio Nobel da Paz de 1958, Dominique Pire. Em Portugal será de lembrar Frei Luís de Sousa, André de Resende, S. Frei Gil, Fr. Soeiro Gomes, Frei Bartolomeu dos Mártires, Teresa de Saldanha, Frei Francisco Foreiro, Frei Jerónimo de Azambuja, Frei Luís de Soto Mayor, entre muitos outros. Após sofrerem tortura física, os frades informam aos policiais o horário e o local de reunião do grupo, onde Marighella costumava receber recursos oriundos dos frades. Marighella foi então surpreendido e executado por policiais do velho Departamento de Ordem Política e Social (Dops) paulista, sob o comando do delegado Sérgio Paranhos Fleury. O Dops, criado em 30 de dezembro de 1924, foi o órgão do governo brasileiro, utilizado principalmente durante o Estado Novo e mais tarde na Ditadura Militar de 1964, cujo objetivo era censurar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder. O órgão, que tinha a função de assegurar e disciplinar a ordem militar no país foi instituído em 17 de abril de 1928 pela lei nº 2304 que tratava de reorganizar a Polícia do Estado. Frei Betto, refugia-se no Rio Grande do Sul onde é encontrado, preso, e une-se ao restante do grupo no presídio de Tiradentes, na capital São Paulo, em 1971. Os frades são posteriormente julgados e sentenciados a quatro anos de reclusão em regime fechado. A única exceção é Frei Tito, que é libertado como valor de troca do suíço Giovanni Enrico Bucher, com outros presos políticos, em 11 de junho de 1970.

Frei Tito não supera as sequelas psicológicas sofridas após ser preso e torturado: comete suicídio. De acordo com Durkheim (2014), os indivíduos têm certo nível de integração com os seus grupos, o que ele chama de integração social. Níveis anormalmente baixos ou altos de integração social poderiam resultar num aumento das taxas de suicídio: a) níveis baixos porque baixa integração social resulta numa sociedade desorganizada, levando os indivíduos a se voltar para o suicídio como uma última alternativa; b) níveis altos porque as pessoas preferem destruir a si próprias a viver sob o grande exercício de controle da sociedade, o que resultou no caso de suicídio egoísta no território norte-americano de Ariel Castro. O trabalho de Durkheim influenciou os proponentes das teorias sociais funcionais do controle, e é frequentemente mencionado como um estudo sociológico clássico. Baseado em um dos três livros em que Frei Betto descreve suas experiências na prisão, “Batismo de Sangue” é impactante e expõe de forma nua e crua o que representou a ditadura civil-militar brasileira. O roteiro do longa-metragem Batismo de Sangue é uma adaptação do livro homônimo de Frei Betto, vencedor do prêmio Jabuti. O filme dirigido por Helvécio Ratton ganhou os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Fotografia no Festival de Brasília. A película retrata a vida de cinco frades dominicanos e o desenrolar de seus dias, cheios de perseguições, torturas e sofrimentos. Resistentes à ditadura militar e movidos por ideais cristãos, os frades Tito, Betto, Oswaldo, Fernando e Ivo passam a apoiar logística e politicamente o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella. Durante os primeiros anos da ditadura instalada em 1964, jovens frades seguidores de São Domingos desempenharam papel importante na oposição às forças armadas. Eles deram cobertura à ALN, grupo guerrilheiro comandado por Carlos Marighella – ex-deputado federal e um dos principais opositores do governo. Os frades defendiam que viver o evangelho era integrar-se à comunidade através de práticas sociais concretas, que defendessem os injustiçados. Pagaram o preço com perseguição, cadeia, tortura e exílio.

Frente ao endurecimento do regime e das prisões de pessoas mais próximas a eles, os cinco seminaristas são obrigados a se separar. Aos poucos, os que não conseguem sair do país são presos – no meio da noite ou na rua, sem qualquer aviso prévio e sem dar informações aos parentes e amigos, que ficam sem notícias alguma do que está sendo feito dos presos políticos. Junto com as prisões, começam as torturas. Aqueles que não têm parentes influentes, como é o caso de Betto, sofrem violências intermináveis e são obrigados a delatar amigos e companheiros. O filme demonstra também o lado psicológico dos torturados. Por mais que estes queiram resistir, a tortura é forte demais e eles acabam cedendo às pressões. Apesar dos nomes falsos e de todas as principais medidas de segurança tomadas, um a um, eles vão caindo nas armadilhas do Aparelho Repressivo de Estado. Dentro da prisão, cada um resiste também como pode e se apoia nas possibilidades de comunicação e do que melhor poderá conseguir lutar pela sua sobrevivência. É neste sentido que os freis, já presos, celebram uma missa. Cercados por um contexto político em que os torturadores tentam ao nível ideológico desacreditá-los de tudo que foi importante para eles. Em um lugar em que muitos perdem a fé e a esperança no que estão fazendo, rezar uma missa e relembrar tudo o que os trouxe até ali é dar força a si mesmos e aos outros, é uma maneira de resistir à repressão e reafirmar sua rebeldia. Na linguagem teórica as palavras e expressões funcionam como conceitos.

Foi criado cardeal no Consistório Ordinário Público de 2001, ocorrido em 21 de fevereiro de 2001, presidido pelo Papa João Paulo II (1920-2005), recebendo o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Curiosamente, quando foi nomeado, convenceu centenas de argentinos a não viajarem para Roma. Em vez de irem ao Vaticano celebrar a nomeação, inversamente, “pediu que dessem o dinheiro da viagem aos pobres”. Foi membro dos seguintes dicastérios, os departamentos ou órgãos da Cúria Romana, a estrutura administrativa central da Igreja Católica, que são responsáveis por diferentes áreas da vida e da missão da Igreja, funcionando de forma semelhante a ministérios de um governo civil: Congregação para o Clero; Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos; Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica; Pontifícia Comissão para a América Latina; Pontifício Conselho para a Família. O cardeal Bergoglio foi eleito em 13 de março de 2013, no segundo dia do conclave, escolhendo o nome de Francisco. Ele é o primeiro jesuíta a ser eleito Papa, o primeiro Papa do continente americano, do Hemisfério Sul e o primeiro não europeu investido como bispo de Roma em mais de 1 200 anos, desde Papa Gregório III, que nasceu na Síria e governou a Igreja Católica entre 731-741. Quando lhe foi perguntado, na Capela Sistina, se aceitava a escolha, disse: “Eu sou um grande pecador, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento, aceito”. O Habemus Papam foi através de Jean-Louis Pierre Tauran.

É difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, dizia Freud (2011), com razão, sobre a questão tópica do mal-estar na civilização, de que buscam poder, sucesso, riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, assim subestimando os autênticos valores da vida. E, no entanto, corremos o risco, num julgamento assim genérico, de esquecer a variedade do humano - last but not least – e de sua vida psíquica. Existem homens que não deixam de ser venerados pelos contemporâneos, como Herman Hesse (1877-1962), embora sua grandeza repouse em qualidades e realizações inteiramente alheias aos objetivos e ideais da multidão. Provavelmente se há de supor que apenas uma minoria reconhece esses grandes homens, enquanto a maioria os ignora. Mas a coisa, é claro, pode não ser tão simples assim, devido à incongruência entre as ideias e os atos das pessoas e à diversidade dos seus desejos. A ideia de que o homem adquire noção de seu vínculo com o mundo por um sentimento imediato, desde o início orientado para isso, é tão estranha, ajusta-se tão mal à nossa trama, que podemos tentar uma explicação psicanalítica, isto é, genética para esse sentimento. A seguinte linha de pensamento se oferece. Normalmente nada é mais seguro do que o sentimento de nós mesmos, de nosso Eu. Este Eu nos aparece como autônomo, unitário, bem demarcado de tudo o mais. Que esta aparência é enganosa, que o Eu na verdade, se prolonga para dentro, sem fronteira nítida, numa entidade psíquica inconsciente a que denominamos Id, à qual ele serve de fachada – isto aprendemos com a psicanálise, mas que não é bem o nosso caso, na sociologia que propugnamos.

De todo modo a patologia nos apresenta um grande número de estados em que a delimitação do Eu ante o mundo externo se torna problemática, e nos faz lembrar a expressão de despedida do extraordinário filósofo Gilles Deleuze que tomamos de empréstimo, através das palavras, entre as palavras, que se vê e que se ouve: - “A vergonha de ser um homem: haverá razão melhor para escrever?”. Ipso facto, no prefácio à 2ª edição da obra Da Divisão do Trabalho Social, de Émile Durkheim (2010) lembra-nos da ideia que ficou na penumbra na primeira edição e que parece útil ressaltar e determinar melhor, pois ela esclarecerá melhor algumas partes do presente trabalho. Trata-se do papel que os agrupamentos profissionais estão destinados a desempenhar na organização social dos povos contemporâneos. Mas o que proporciona, particularmente nos dias de hoje, excepcional gravidade a esse estado é o desenvolvimento então desconhecido, que as funções econômicas adquiriram nos últimos dois séculos, aproximadamente. Estamos longe do tempo em que eram desdenhosamente abandonadas às classes inferiores, pois diante delas, vemos as funções militares, administrativas, religiosas recuarem cada vez mais. Somente as funções científicas, adverte o pragmático sociólogo, que encetou sua obra magnífica em torno de dez anos de produção ininterrupta, de reconhecimento, estão em condição de disputar-lhes o lugar – e ainda assim, a ciência contemporaneamente só tem prestígio na medida em que pode servir à prática, isto é, em grande parte, condicionada na vida às “profissões econômicas”. É por isso que se pode dizer que elas são ou tendem a ser essencialmente de tipos industriais.

Uma forma de atividade generalizada que tomou lugar na vida social não pode, evidentemente, permanecer tão desregulamentada, em seu desempenho e atividade, sem que disso resulte os impactos sociais sobre a divisão do trabalho e as mais profundas perturbações. Mas sofrer no trabalho não é uma fatalidade. É, em particular, como decorre e testemunhamos, uma fonte de desmoralização geral real. Pois, precisamente porque as funções econômicas absorvem o maior número de cidadãos, para o pleno desenvolvimento da vida social, há uma multidão de indivíduos, como dizia Freud, cuja vida transcorre quase toda no meio industrial e comercial; a decorrência disso é que, como tal meio é pouco marcado pela moralidade, a maior parte da existência transcorre fora de toda e qualquer ação moral. A tese funcionalista expressa na pena de Émile Durkheim, como uma espécie de antídoto da civilização, e que o sentimento do dever cumprido se fixe fortemente em nós, é preciso que as próprias circunstâncias em que vivemos permanentemente desperto. A atividade de uma profissão só pode ser regulamentada eficazmente por “um grupo próximo o bastante dessa mesma profissão para conhecer bem seu funcionamento, para sentir todas as suas necessidades e poder seguir todas as variações destas”. O único grupo que corresponde a essas condições é o que seria formado por todos os agentes de uma mesma condição reunidos num mesmo corpo. E que a sociologia durkheimiana conceitua de corporação ou grupo profissional. É na ordem econômica que o grupo profissional existe tanto quanto a moral profissional. Desde que com a supressão técnica das antigas corporações, não se fizeram mais do que tentativas fragmentárias e incompletas para reconstituí-las em novas bases sociais. 

Os únicos agrupamentos dotados de permanência são os que se chamam sindicatos, seja de patrões, seja de operários. Historicamente, temos aí in statu nascendi o começo e o princípio ético de uma organização profissional, mas ainda de forma rudimentar. Isto porque, em primeiro lugar, um sindicato é uma associação privada, sem autoridade legal, desprovida, por conseguinte, de qualquer poder regulamentador. O número deles é teoricamente ilimitado, mesmo no interior de uma categoria industrial; e, como cada um é independente dos outros, se não se constituem em federação e se unificam, não há neles nada que exprima a unidade da profissão em seu conjunto de práticas e saberes sociais. Não só os sindicatos de patrões e de empregados são distintos uns dos outros, o que é legítimo e necessário, como não há entre eles contatos regulares. Não existe organização comum que os aproxime sem fazê-los perder sua individualidade e na qual possam elaborar em comum uma regulamentação que, estabelecendo suas relações mútuas, imponha-se a ambas as partes com a mesma autoridade; por conseguinte, é sempre a “lei dos mais forte” que resolve os conflitos, e o estado de guerra subiste inteiro. Salvo no caso de seus atos pertencentes à esfera moral comum estão na mesma situação. A tese sociológica in statu nascendi é: para que uma moral e um direito profissionais possam se estabelecer nas diferentes profissões, é necessário, pois, que a corporação, em vez de permanecer um agregado confuso e sem unidade, se torne, ou antes, volte a ser, um grupo definido, organizado, uma instituição pública.

Jean-Louis Pierre Tauran nascido em Bordeaux, em 5 de abril de 1943 e morto em Hartford, em 5 de julho de 2018, foi um cardeal francês, Presidente-emérito do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso e camerlengo da Câmara Apostólica. Em 13 de março de 2013, foi encarregado de anunciar ao mundo a escolha do Papa Francisco, com a célebre frase Habemus Papam. Nascido em Bordeaux, França, seu nome de batismo é Louis-Pierre. Ele recebeu o sacramento da confirmação em 5 de junho de 1955, a partir de Paul-Marie-André Richaud, arcebispo de Bordeaux, futuro cardeal. Estudou na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, licenciado em filosofia e teologia, e doutorado em Direito Canônico de 1973 e no Instituto Católico de Toulouse. Também estudou na Pontifícia Academia Eclesiástica, em Roma. Além de seu francês nativo, ele fala espanhol, inglês e italiano. Ordenado padre em 20 de setembro de 1969, em Bordeaux, por Marius Maziers, arcebispo de Bordeaux. Foi pároco na arquidiocese de Bourdeaux. Entrou no serviço diplomático da Santa Sé em 1975. Secretário da Nunciatura, na República Dominicana, entre 1975 e 1978. Secretário da Nunciatura no Líbano, entre 1979 e 1983. Foi membro no Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja a partir de julho de 1983. Participou de missões no Haiti, de 1984 e Beirute e Damasco, em 1986 e da delegação da Santa Sé para a Conferência sobre Segurança e Cooperação Europeia, Conferência sobre o Desarmamento, em Estocolmo, na Suécia e no Fórum Cultural em Budapeste, e sucessivas reuniões em Viena.

A Cidade do Vaticano possui uma rede de comunicação social de transportes razoavelmente bem desenvolvida considerando comparativamente a sua grandeza espacial. Como país com 1,05 km de comprimento e 0,85 km de largura, que tem um sistema de transporte de pequenas dimensões, sem aeroportos ou estradas. Existe um heliporto e uma ferrovia de bitola padrão conectando-se à rede da Itália e à estação de São Pedro de Roma por uma ferrovia de 852 m, onde apenas 300 m estão dentro do território do Vaticano. O Papa João XXIII foi o primeiro Papa a fazer uso desta estrada de ferro e o Papa João Paulo II a usou também, embora muito raramente. O transporte ferroviário no Vaticano é utilizado principalmente para transporte de mercadorias. Como a Cidade do Vaticano não tem aeroporto, pois é um dos poucos estados independentes no mundo sem tal infraestrutura, é servida pelos aeroportos que servem Roma, o Aeroporto Internacional de Roma e, em menor medida, o Aeroporto de Roma Ciampino, que serve como porta de entrada e partida para visitas internacionais do Papa. A cidade é servida por um sistema de telefone moderno e independente, pela Farmácia do Vaticano e pelos correios. O sistema postal foi fundado em 11 de fevereiro de 1929, e dois dias mais tarde tornou-se operacional. Em 1 de agosto, o estado começou a liberar seus próprios selos postais, sob a autoridade do Gabinete Filatélico e Numismático da Cidade do Vaticano.

O serviço postal da cidade é, por vezes, reconhecido como “o melhor do mundo”, e as cartas chegam ao seu destino antes do serviço postal de Roma. O Vaticano também controla seu próprio domínio de Internet, rede mundial de computadores, que está registrado como (.va). O serviço de banda larga é amplamente fornecido na Cidade do Vaticano. À Cidade do Vaticano foi também atribuído um prefixo de rádio, HV, e às vezes é usada por operadores de rádio amador. A Rádio Vaticano, que foi organizada por Guglielmo Marconi (1874-1937), faz transmissões em frequências de ondas curtas, ondas médias e FM e na rede Internet. Suas principais antenas de transmissão estão localizadas em território italiano. Serviços de televisão são fornecidos através de uma outra entidade, o Centro Televisivo do Vaticano. O jornal L`Osservatore Romano é oficialmente semimultilingue da Santa Sé. É publicado por uma empresa privada, sob a direção de leigos católicos, mas como relatórios sobre as informações oficiais. No entanto, os textos oficiais de documentos estão na Acta Apostolicae Sedis, o jornal oficial da Santa Sé, que tem um apêndice para documentos da Cidade do Vaticano. Rádio Vaticano, o Centro Televisivo Vaticano, L`Osservatore Romano não são órgãos de Estado do Vaticano, distinta da Santa Sé, listadas no Anuário Pontifício, que os coloca na separadamente na seção “Instituições ligadas com a Santa Sé”, à frente das secções de serviço diplomático da Santa Sé no estrangeiro e ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, após o que é colocado na seção sobre o Estado da Cidade do Vaticano.

A cultura do Vaticano é obviamente correspondente à cultura da Igreja Católica e o seu expoente são as obras de arquitetura como a Basílica de São Pedro, a Arquibasílica de São João de Latrão, a Praça de São Pedro, a Capela Sistina e a coleção dos Museus Vaticanos. O palácio onde reside o Papa tem 5 mil quartos, duzentas salas de espera, 22 pátios, 100 gabinetes de leitura, 300 casas de banho e dezenas de outras dependências destinadas a recepções diplomáticas. Dos fogões vaticanos saíram tentações como os ovos beneditinos (um capricho de Bento XI), a lagosta com trufa branca (habitual nas coroações do Renascimento), a mousse de faisão ao molho chaudfroid (prato preferido de Pio VI) ou o maçapão de água de rosas (uma iguaria na Idade Média). A arquitetura do Vaticano, o canto gregoriano cantado pelo Coro da Capela Sistina, além das vestimentas e símbolos utilizados pelo Papa, pelos Cardeais e pelos soldados da Guarda Suíça, são considerados como uns dos principais resquícios da cultura medieval na atualidade. A Biblioteca Apostólica Vaticana e as coleções dos Museus Vaticanos são da mais alta importância histórica, científica e cultural. Em 1984, o Vaticano foi adicionado pela UNESCO para a lista do Patrimônios Mundiais; é o único que consiste em um Estado inteiro. Além disso, é o único local registrado na UNESCO como um centro monumental no “Registo Internacional dos Bens Culturais sob Proteção Especial” de acordo com a Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito Armado de Haia, assinada em 1954. No território do Vaticano existem vários edifícios de origem muito antiga. Contudo, existem propriedades que não estão na Cidade do Vaticano, mas que, em virtude do Tratado de Latrão assinado entre a Santa Sé e a Itália, estão sujeitas à extraterritorialidade com isenção de impostos e expropriação.

Vaticano ou Cidade do Vaticano, em italiano: Stato della Città del Vaticano, é a sede da Igreja Católica e uma cidade-Estado soberana sem costa marítima, cujo território consiste de um enclave murado dentro da cidade de Roma, capital da Itália. Com cerca de 44 hectares (0,44 km²) e com uma população estimada de 1 000 habitantes, é a menor entidade territorial do mundo administrada por um Estado. O Tratado de Latrão, de 1929, que criou a cidade-Estado do Vaticano, descreve-a como uma nova criação (preâmbulo e no artigo III) e não como um vestígio dos muito maiores Estados Pontifícios (756–1870), que anteriormente abrangiam a região central da Itália. A maior parte desse território foi absorvida pelo Reino de Itália em 1860 e a porção final, a cidade de Roma, com uma pequena área perto dela, dez anos depois, em 1870. Os papas residem nesta harmoniosa área, que em 1929 tornou-se Cidade do Vaticano, desde o retorno de Avinhão em 1377. Antes, residiam no Palácio de Latrão na colina Célio, no lado oposto da cidade de Roma, local que Constantino cedeu ao Papa Milcíades em 313. A assinatura dos Acordos que estabeleceram o novo Estado teve recepção “lugar praticado” de produção de feitos de poder, neste último edifício, dando origem ao nome Tratado de Latrão, pelo qual é reconhecido. A Cidade do Vaticano é um Estado eclesiástico (ou teocrático-monárquico), governado pelo bispo de Roma, o Papa.

            Nos primeiros mil anos da história católica, diferentes variedades do cristianismo se desenvolveram nas áreas cristãs ocidental (latino) e oriental da Europa. Embora a maioria das igrejas de tradição oriental não esteja mais em comunhão com a Igreja Católica, historicamente, após o Grande Cisma de 1054, atualmente participam igrejas particulares autônomas de ambas as tradições, também conhecidas como "igrejas sui iuris". A maior e mais conhecida é a Igreja Latina, a única igreja de tradição ocidental, com mais de 1 bilhão de membros em todo o mundo. Relativamente pequenas em termos de aderentes em comparação com a Igreja Latina, são as 23 igrejas católicas orientais autônomas, com um número combinado de 17,3 milhões de seguidores, de acordo com estimativas de 2010. A Igreja Latina é governada pelo papa e por bispos diocesanos designados diretamente por ele. O papa exerce um papel patriarcal direto sobre a Igreja Latina, que é considerada a parte original e ainda principal do cristianismo ocidental, uma herança de certas crenças e costumes originários da Europa e do noroeste da África, alguns dos quais são herdados por muitas denominações cristãs que traçam suas origens na Reforma Protestante. Uma igreja sui iuris é definida no Código de Cânones para as Igrejas Orientais como um “grupo de fiéis cristãos unidos por uma hierarquia” que é reconhecido pelo Papa em sua capacidade de autoridade suprema em questões de doutrina dentro da igreja. O termo é uma inovação do CCEO para denotar a relativa autonomia das Igrejas Católicas Orientais, que estão em comunhão com o Papa, mas possuem estruturas de governança e tradições litúrgicas separadas das da Igreja Latina. 

       Algumas igrejas católicas orientais são governadas por um patriarca que é eleito pelo sínodo dos bispos dessa igreja, outras são chefiadas por um arcebispo maior, outras estão sob uma metropolita e outras são organizadas como eparquias individuais. Cada igreja tem autoridade sobre os detalhes de sua organização interna, ritos litúrgicos, calendário litúrgico e outros aspectos de sua espiritualidade, sujeitos apenas à autoridade do papa. A Cúria Romana tem um departamento específico, a Congregação para as Igrejas Orientais, para manter relações com elas. Países, regiões ou grandes cidades são servidas por igrejas específicas conhecidas como dioceses na Igreja Latina, ou eparquias nas Igrejas Católicas Orientais, cada uma supervisionada por um bispo. Segundo dados estatísticos de 2008, a Igreja Católica possui 2 795 dioceses. Os bispos em um determinado país são membros de uma conferência episcopal nacional ou regional. As dioceses são divididas em paróquias, cada uma com um ou mais padres, diáconos ou ministros eclesiais leigos. As paróquias são responsáveis pela celebração diária dos sacramentos e pela pastoral dos leigos. De acordo com estimativas de 2016, hic et nunc existem 221,7 mil paróquias em todo o mundo. Na Igreja Latina, os homens católicos podem servir como diáconos ou sacerdotes, recebendo ordenação sacramental. Homens e mulheres podem servir como ministros extraordinários da comunhão, como leitores, ou como coroinhas. Historicamente, meninos e homens só foram autorizados a servir como “servidores de altar”; no entanto, desde os anos 1990, meninas e mulheres também são permitidas para esse tipo de serviço. Os católicos ordenados, bem como os membros dos leigos, podem entrar na vida consagrada, seja individualmente, como eremita ou “virgem consagrada”, ou ingressando em um instituto de vida consagrada, melhor dizendo, um instituto religioso ou um instituto secular, no qual recebe votos confirmando seu “desejo de seguir os três conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência”. Os conselhos evangélicos, em um contexto afetivo cristão, são geralmente entendidos como princípios e práticas inspirados na vida e ensinamentos de Jesus, que podem ser seguidos por pessoas que buscam uma vida mais radicalmente dedicada a Deus e ao serviço do próximo. Exemplos de institutos de vida consagrada são osque ocorrem entre os beneditinos, os carmelitas, os dominicanos, os franciscanos, os missionários da caridade, os legionários de Cristo e as irmãs da misericórdia. 

“Institutos religiosos” é um termo moderno que abrange “ordens religiosas” e “congregações religiosas”, que já foram distinguidas no direito canônico. Os termos “ordem religiosa” e “instituto religioso” tendem a ser usados como sinônimos coloquialmente. Por meio de instituições de caridade católicas e além, a Igreja Católica é o maior provedor não governamental de educação e saúde no mundo. A maior parte dos funcionários públicos são os clérigos católicos de diferentes origens étnicas e nacionais. É o território soberano da Santa Sé e de residência do Papa, referido como o Palácio Apostólico. O tratado e os pactos associados receberam o nome do Palácio de Latrão, onde foram assinados em 11 de fevereiro de 1929, e o parlamento italiano os ratificou em 7 de junho de 1929. O tratado reconheceu a Cidade do Vaticano como um Estado independente sob a soberania da Santa Sé. O governo italiano também concordou em dar à Igreja Católica Romana “uma compensação financeira pela perda dos Estados Pontifícios”. Em 1948, o Tratado de Latrão foi reconhecido na Constituição da Itália como regulador das relações entre o Estado e a Igreja Católica. O tratado foi significativamente revisado em 1984, acabando com o status do catolicismo como “a única religião estatal”. Francesco Pacelli foi o braço direito do secretário de Estado de Pio XI, Pietro Gasparri, durante as negociações do Tratado de Latrão. Durante a unificação da Itália em meados do século 19, os Estados Pontifícios sob Pio IX resistiram à incorporação à nova nação, mesmo quando quase todos os outros países italianos se juntaram a ela; entretanto, o sonho de Camillo Cavour de proclamar o Reino da Itália a partir dos degraus da Basílica de São Pedro não se concretizou.

O nascente Reino da Itália invadiu e ocupou a Romagna, a parte oriental dos Estados Pontifícios em 1860, deixando o Lácio nos domínios do papa. O Lácio, incluindo a própria Roma, foi ocupado e anexado em 1870. Nos anos seguintes, as relações entre o papado e o governo italiano foram hostis, e os direitos soberanos do papa ficaram reconhecidos como a Questão Romana. Os chamados Estados Pontifícios, para sermos breves, que compunham a parte central da península Itálica, pertenciam à Igreja Católica desde os tempos medievais, tendo sido doados pelo rei franco Pepino, o Breve, ao papa. No ano de 754, o papa Estêvão II recebeu de Pepino o ducado de Roma e as terras conquistadas dos lombardos com o título de Patrimônio de São Pedro. Em 1861, os italianos promoveram a unificação política da península, mas não conseguiram anexar Roma, dada a forte presença militar francesa em apoio ao papa. Em 1870, os alemães, liderados pelo Reino da Prússia, declararam guerra à França, durante o processo de unificação alemã. Napoleão III retirou as tropas francesas de Roma. Aproveitando este momento, os italianos anexaram Roma ao Reino de Itália. O papa Pio IX não aceitou a perda do “Patrimônio de São Pedro” e declarou-se prisioneiro do governo italiano, dando origem à Questão Romana. A conclusão da terceira guerra de Independência italiana não passou sem consequências para a situação política interna. Tanto os seguidores de Giuseppe Mazzini (1805-1872), político, maçom e revolucionário da unificação italiana, quanto os católicos lançavam violentas acusações contra a forma de administração moderada. A isto juntou-se a crise do governo Bettino Ricasoli (1809-1880) e sua substituição por um governo presidido por Urbano Rattazzi em 10 de abril de 1867. Foi neste clima político fervoroso, envenenado pelas malditas polêmicas e marcado pela invenção crescente impopularidade do governo, que amadureceu a última empresa do chamado “partido de  ação”, intencionado marchar sobre Roma um pequeno exército de voluntários comandado por Giuseppe Garibaldi (1807-1882) e a jogar “a carta da insurreição popular na capital”. 

Ainda uma vez Rattazzi politicamente assumiu atitude ambígua, antes aprovando tacitamente a empresa, e depois chamado por Napoleão III a respeitar os empenhos assumidos pelo governo italiano, fazendo prender Garibaldi em Sinalunga, na província de Siena em 24 de setembro de 1867 e forçando-o a estadia obrigatória em Caprera. Mas com isto não conseguiu parar a ação. Poucos dias depois, evitando o bloqueio naval em volta da ilha, Garibaldi conseguiu chegar até a Toscana e assumir o comando de mais de 9 mil voluntários. No mesmo tempo, Napoleão III julgando que foram violados os Acordos, ordenou a partida de Tolone de uma expedição de 20 000 homens com destino a Roma para garantir a proteção do papa. Uma primeira tentativa de insurreição falhou entre os dias 22 e 23 de outubro de 1867: um grupo de voluntários, guiado pelos irmãos Enrico e Giovanni Cairoli (1842-1869), penetrou na cidade com objetivo de levar armas para os revolucionários, mas deparou-se com os guardas pontifícios em Villa Glori. Os mortos foram 76, incluindo dois irmãos comandantes. Três dias mais tarde Giuseppe Garibaldi, chegando em Monterotondo, próximo de Roma, obrigou a guarnição pontifícia a se render, mas em 3 de novembro de 1867, em Mentana, último posto avançado no caminho da capital, sofreu uma dura derrota por parte da guarnição francesa que tinha acabado de desembarcar em Civitavecchia e que era superior em número e sobretudo armada com os novíssimos fuzis Chassepots, que eram recarregáveis pela culatra. 

A adoção do fuzil Chassepot em 30 de agosto de 1866 foi acelerada pela vitória do Reino da Prússia sobre a Áustria em Sadová, obtida em boa parte graças ao uso do moderno fuzil Dreyse, depois pela adoção pelo Reino da Baviera do fuzil Werder M1869. O fuzil Chassepot foi fabricado pela Manufacture d`armes de Saint-Étienne (MAS), Manufacture d`Armes de Châtellerault (MAC), Manufacture d`Armes de Tulle (MAT) e, até 1870, na Manufacture d`Armes de Mutzig no antigo Château des Rohan. Muitos também foram fabricados sob contrato na Inglaterra, os Chassepots “Potts et Hunts” entregues à Marinha Francesa, na Bélgica (em Liège) e na Itália em Brescia (pela Glisenti). O número aproximado de fuzis Chassepot disponíveis para a “Armée de terre” em julho de 1870 era de 1 037 555 unidades. Além disso, os fabricantes estaduais podiam entregar 30 mil novos fuzis por mês. Os fabricantes de armas na Inglaterra e na Áustria também produziram fuzis Chassepot para apoiar o esforço de guerra francês. O arsenal Steyr na Áustria entregou 12 mil carabinas Chassepot e 100 mil peças para a França em 1871.  A fabricação do fuzil Chassepot terminou em fevereiro de 1875, quatro anos após o fim da Guerra Franco-Prussiana, com aproximadamente 700 mil outros fuzis Chassepot fabricados entre setembro de 1871 e julho de 1874. O Chassepot recebeu o nome de seu inventor, Antoine Alphonse Chassepot (1833–1905), que, a partir de meados da década de 1850, construiu várias formas experimentais de fuzis por retrocarga. 

Os dois primeiros modelos do Chassepot ainda usavam o sistema de espoleta de percussão. O terceiro modelo, usando um sistema semelhante ao fuzil de agulha Dreyse prussiano, tornou-se o fuzil de serviço francês em 30 de agosto de 1866. No ano seguinte, fez sua primeira aparição na Batalha de Mentana em 3 de novembro de 1867, onde infligiu graves perdas sobre as tropas de Giuseppe Garibaldi. Foi relatado no Parlamento francês que “Les Chassepots ont fait merveille!”. As pesadas balas de chumbo cilíndricas disparadas em alta velocidade pelo fuzil Chassepot causaram feridas que foram ainda piores do que as do fuzil Minié. Em 1868, todo o exército francês ativo foi rearmado com o Chassepot. Na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), o Chassepot encontrou sua contraparte prussiana, o fuzil Dreyse. O Chassepot tinha várias vantagens sobre o Dreyse. Ele apresentava um obturador de borracha na “cabeça” do ferrolho para fornecer uma vedação de gás mais eficiente. Embora tenha disparado um calibre menor (11 mm vs. 15,4 para o Dreyse), a munição do Chassepot tinha mais pólvora (5,68 gramas contra 4,85 gramas), resultando em maior velocidade de saída (436 metros por segundo, 33% sobre o Dreyse), a trajetória mais plana e um alcance mais longo. Assim, as miras do Chassepot poderiam ser elevadas até 1 600 metros, enquanto a configuração de miras máxima do Dreyse era de apenas 600 metros. O Chassepot pesava 4,1 kg contra 4,57 kg do fuzil de agulha. Também era mais curto (1 310 mm vs. 1 424 mm). Após a guerra, 20 mil fuzis Chassepot capturados foram vendidos ao Xá da Dinastia Persa Cajar. O excedente do Chassepot foi exportado para a China. Guerreiros do Império Etíope foram equipados com fuzis Chassepot durante a Primeira Guerra Ítalo-Etíope de 1896.

A Guarda Suíça Pontifícia, também conhecida como Guarda Suíça Papal ou simplesmente Guarda Suíça, é uma força armada, guarda de honra e unidade de segurança protetora, mantida pela Santa Sé que protege o Papa e o Palácio Apostólico dentro do território do Estado da Cidade do Vaticano. Estabelecida em 1506 pelo Papa Júlio II, está entre as unidades militares mais antigas em operação contínua, e às vezes é chamada de "o menor exército do mundo”.  A Guarda Suíça é reconhecida por seu uniforme de gala da era renascentista, consistindo de uma túnica listrada em vermelho, azul escuro e amarelo, capacete alto com plumas e armas tradicionais, como a alabarda. Os guardas desempenham suas funções de proteção em trajes funcionais e com armas de fogo modernas. Desde a tentativa de assassinato do Papa João Paulo II em 1981, a Guarda tem dado maior ênfase às suas funções não cerimoniais e tem visto treinamento aprimorado em antimilitares irregulares, ataques estilo comando , contrainteligência , táticas de contra-atirador, contraterrorismo , combate a curta distância, desarmamento e descarte de bombas , proteção executiva, resgate de reféns, inteligência humana, evacuação médica , reconhecimento , direção tática, serviços médicos táticos e tiro rápido tático com armas de pequeno porte. A Guarda Suíça é uma unidade militar de elite e altamente seletiva em seu recrutamento: os candidatos devem ser homens católicos suíços solteiros, com idade entre 19 e 30 anos e pelo menos 1,74 metros, que tenham concluído o treinamento básico com as Forças Armadas Suíças e possuam um diploma profissional ou Ensino Médio.  

Em 2024, havia 135 membros. A missão de segurança da Guarda Suíça estende-se às viagens apostólicas do Papa, ao palácio pontifício de Castel Gandolfo e ao Colégio Cardinalício quando o trono papal está vago. Embora a Guarda atue como vigilante da Cidade do Vaticano, a segurança geral e a aplicação da lei da cidade-estado são conduzidas pelo Corpo de Gendarmaria da Cidade do Vaticano, que é um órgão separado. A Guarda Suíça Pontifícia tem suas origens no século XV. O Papa Sisto IV (1471-1484) aliou-se à Confederação Suíça e construiu quartéis na Via Pellegrino após prever a possibilidade de recrutar mercenários suíços. O pacto foi renovado pelo Papa Inocêncio VIII (1484-1492) para usar tropas suíças contra o Duque de Milão. Alexandre VI (1492-1503) posteriormente utilizou os mercenários suíços durante sua aliança com o Rei da França. Durante o reinado dos Bórgias, começaram as Guerras Italianas, nas quais os mercenários suíços eram presença constante nas linhas de frente entre as facções em guerra, às vezes pela França, às vezes pela Santa Sé ou pelo Sacro Império Romano-Germânico. Os mercenários se alistaram quando souberam que o Rei Carlos VIII da França entraria em guerra com Nápoles. Entre os participantes da guerra contra Nápoles estava o Cardeal Giuliano della Rovere, o futuro Papa Júlio II (1503-1513), que conhecia bem os suíços, tendo sido Bispo de Lausanne anos antes. A expedição fracassou, em parte graças às novas alianças realizadas por Alexandre VI contra os franceses.

Quando o Cardeal della Rovere se tornou Papa Júlio II em 1503, ele pediu à Dieta Suíça que lhe fornecesse um corpo constante de 200 mercenários suíços. Isso foi possível graças ao financiamento dos mercadores alemães de Augsburg, Ulrich e Jacob Fugger, que haviam investido no Papa e acharam adequado proteger seu investimento. É uma cidade no Sul do estado alemão da Baviera. É a capital e sede de administração da Suábia bem como da respectiva região administrativa (Bezirk). Atualmente, a cidade tem cerca de 270 000 habitantes e é desse modo a terceira maior cidade da Baviera, depois de Munique e Nuremberg. Augsburgo é uma “cidade independente” (Kreisfreie Städte) ou distrito urbano (Stadtkreis), ou seja, possui estatuto de distrito (kreis). Situa-se na confluência dos rios Wertach e Lech. Em setembro de 1505, o primeiro contingente de 150 soldados partiu em marcha para Roma, sob o comando de Kaspar von Silenen (1467-1517), e entrou na cidade em 22 de janeiro de 1506, agora considerada a data oficial da fundação da Guarda. – “Os suíços veem a triste situação da Igreja de Deus, Mãe do Cristianismo, e percebem quão grave e perigoso é que qualquer tirano, ávido por riquezas, possa atacar impunemente a Mãe comum do Cristianismo”, declarou o teólogo suíço Ulrico Zuínglio (1484-1531), que mais tarde se tornou um reformador protestante.

O Papa Júlio II (1443-1513) concedeu mais tarde à Guarda o título de “Defensores da liberdade da Igreja”. A força variou muito em tamanho ao longo dos anos e, ocasionalmente, foi dissolvida e reconstituída. Seu engajamento hostil mais significativo foi em 6 de maio de 1527, quando 147 dos 189 Guardas, incluindo seu comandante Caspar Röist (1478-1527), morreram lutando contra as tropas do Sacro Imperador Romano Carlos V na resistência feita pela Guarda Suíça durante o Saque de Roma, a fim de permitir que Clemente VII escapasse pelo Passetto di Borgo, escoltado pelos outros 42 guardas. O último campo de batalha está localizado no lado sul da Basílica de São Pedro, perto do Campo Santo Teutônico (Cemitério Alemão). Clemente VII foi forçado a substituir a Guarda Suíça esgotada por um contingente em torno de 200 mercenários alemães (Custodia Peditum Germanorum).  Em 1537, o Papa Paulo III (1468-1549) ordenou que a Guarda Suíça fosse reintegrada e enviou o Cardeal Ennio Filonardi (1466-1549) para supervisionar o recrutamento. O sentimento antipapal na Suíça dificultou o recrutamento. Em 1548, o papado chegou a um Acordo com o prefeito de Lucerna, Nikolaus von Meggen, para empossar 150 novos guardas suíços sob o comandante Jost von Meggen, sobrinho do prefeito. Nikolaus foi o prefeito de Lucerna em 1548. A Guarda Suíça tornou-se associada à família de Franz Ludwig Pfyffer von Altishofen, (1699-1772), militar suíço, 15º Comandante da Guarda Suíça Pontifícia Pfyffer von Altishofen que forneceu nove em cada dez comandantes entre 1652 e 1847. 

Forçado a recuar em território italiano, Garibaldi foi preso pelas tropas do rei e enviado de volta para Caprera. A onda de indignação da opinião pública contra o governo, presidido pelo general Luigi Federico Menabrea, sucedido a Urbano Rattazzi em 27 de outubro de 1867 no auge da crise romana, e contra a França foi muito forte e juntou-se à crise aberta pela lei sobre o moído. Em 14 de dezembro de 1869 o governo Menabrea foi forçado a demitir-se e foi substituído por um ministério presidido por Giovanni Lanza, que se valeu, como ministro das finanças, da obra muito eficaz de Quintino Sella. Tratava-se de uma virada em relação aos governos anteriores, regidos por homens de confiança do rei (o chamado “partido da corte”), quase sempre reconhecido sem a prerrogativa de experiência política e econômica. Ele dedicou-se primeiro ao “saneamento financeiro” e equilíbrio do balanço, assumindo providências muito severas, entre as quais o aumento dos impostos diretos e indiretos, cortes nas despesas militares, redução dos escritórios centrais e periféricos. O governo Lanza gozou também da situação internacional particularmente favorável e aproveitou-se deste fato para resolver definitivamente a Questão Romana. O conflito que eclodiu em 19 de julho de 1870 entre França e Reino da Prússia criou as condições necessárias para “uma fácil intervenção militar pelo Reino de Itália”. No começo de agosto de 1870, Napoleão III foi forçado a retirar a pequena expedição que estacionava no Lácio, enquanto na Itália aumentava a pressão popular para que o governo acelerasse uma solução baseada na força bruta da política.

Em 1º de setembro de 1870, o imperador Napoleão III foi feito prisioneiro pelos prussianos e no dia 4, em Paris, foi proclamada a República. No dia 5, o governo italiano decidiu por unanimidade ocupar Roma. O conde Gustavo Ponza de S. Martino foi enviado para a capital para tentar uma solução pacífica com o papa Pio IX. O rei Vítor Emanuel II oferecia ao papa todas as garantias necessárias para a independência espiritual da Santa Sé, mas o papa recusou decididamente qualquer negociação. Assim o exército italiano, comandado pelo general Cadorna, invadiu o Estado Pontifício sem encontrar resistência. Foi necessário usar a força somente para entrar em Roma: em 20 de setembro de 1870 a artilharia italiana abriu uma brecha nos muros perto da Porta Pia e a cidade foi conquistada. Morreram 49 soldados italianos e 19 soldados pontifícios. Em 2 de outubro de 1870, um plebiscito sancionou a anexação de Roma e do Lácio ao Reino de Itália: em 135 188 votantes, 133 681 foram favoráveis e 1 507 contrários. Um mês mais tarde, Pio IX propagou a encíclica Respicientes na qual declarou “injusta, violenta, nula e inválida” a ocupação italiana, isto é, “denunciou a condição de cativeiro do pontífice e excomungou o rei da Itália”. De sua parte, politicamente, o senado italiano votou, em 27 de janeiro de 1871, a transferência da capital de Florença para Roma com “94 votos favoráveis e 39 contrários”. Desaparecia assim o último território do poder temporal da Igreja Católica e no mesmo tempo foram subtraídos, ao movimento democrático, um objetivo e um argumento de agitação política que no passado haviam qualificado sua ação. Desde então a esquerda mudará sua identidade assumindo conotações profundamente diferentes.

Os católicos, ao contrário, não modificaram sua posição de rígida contraposição em relação ao novo estado italiano, não obstante o parlamento havia votado uma lei das garantias de 21 de março de 1871, com a qual assegurava para a Igreja a absoluta liberdade de culto e a soberania sobre os prédios do Vaticano, de Latrão e da casa de Castel Gandolfo considerados fora do território (extraterritorialidade), destinando também para a mesma, uma côngrua, doação anual, igual àquela que o erário pontifício pagava para o mantimento da corte do Papa. Passaram-se alguns decênios para ser removida a absoluta e taxativa proibição de Pio IX de participar, mesmo que com o voto, da vida política (non expedit). Ao lado da questão social, constituída pela revolta meridional, se flanqueava, porém, sem entrelaçar, a questão da conclusão do processo de unificação, começando pela questão romana que se tornou mais incandescente pela decisão do primeiro parlamento italiano de declarar, na sessão de 27 de março de 1861, Roma capital do Reino de Itália quando ainda a cidade estava firmemente nas mãos do papa, garantido pelo apoio das principais potências da Europa. A favor de uma rápida conquista de Roma mobilizou-se em particular o Partido de Ação e mais em geral os democratas. Depois que os moderados conseguiram dirigir e controlar plenamente o processo de unificação, para a corrente democrática a questão romana permaneceu praticamente como o único cavalo de batalha e único tema qualificativo para conservar e recuperar uma identidade e uma presença política significativa. De fato, socialmente, ela servia particularmente para que a corrente democrática alcançasse seu objetivo.

Em primeiro lugar a relevância internacional da questão romana a colocava no centro dos difíceis equilíbrios da complexa rede de alianças tecidas pelos moderados no contexto europeu. Fazer precipitar a situação acelerando e forçando o processo de unificação (pondo a questão romana em termos revolucionários) significaria colocar em gravíssima dificuldade a direita, fazer emergir suas contradições e colocar em crise toda a política externa. Tanto mais que a onda de geral simpatia da qual gozou a revolução italiana entre as potências liberais, andou rapidamente apagando-se, e a Itália, que com a unificação ficou maior do que o previsto, agora era vista com geral desconfiança. Em segundo lugar a impossibilidade de separar a questão romana dá problemática político-religiosa exasperava a contraposição entre o intransigente anticlericalismo (e por certos aspectos anticatolicismo) dos democratas e a lógica de mediação e de compromissos de uma parte da direita. A fórmula separatista de Cavour "livre Igreja em livre estado" baseava-se de fato na ideia de um compromisso estável entre Estado liberal e Igreja católica, fundado sobre a renúncia, por parte da segunda, ao próprio poder temporal em troca do domínio espiritual, e sobre o empenho do primeiro a garantir não somente a plena liberdade religiosa, mas o “primado ético-civil do catolicismo como base da vida nacional”. Neste sentido orientaram-se as negociações iniciadas pelo Conde de Cavour com a Santa Sede, e continuada por Bettino Ricasoli, que em 12 de junho de 1861 sucedeu a Cavour na guia do governo. Católico praticante, o barão Ricasoli tentou convencer o Papa Pio IX para uma solução negociada, e de abrandar a posição francesa sobre a questão. Mas recebeu uma dupla recusa: Pio IX defendeu o próprio poder temporal com intransigência, opondo um seco “non possumus” (não podemos).

            A Constituição da República Italiana pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), adotada em 1948, afirma que as relações entre o Estado e a Igreja Católica “são reguladas pelos Tratados de Latrão”. Em 1984, a concordata foi significativamente revista. Ambos os lados declararam: “O princípio da religião católica como única religião do Estado italiano, originalmente referido pelos Pactos de Latrão, será considerado como não estando mais em vigor”. O apoio financeiro estatal exclusivo para a Igreja também foi encerrado, e substituído por financiamento através de um imposto de renda pessoal dedicado chamado “otto per mille”, ao qual outros grupos religiosos, cristãos e não cristãos, também têm acesso. A partir de 2013, havia outros dez grupos religiosos com acesso. A concordata revista regulava as condições sob as quais o Estado concede reconhecimento legal aos casamentos eclesiásticos e às declarações eclesiásticas de nulidade dos casamentos. O acordo também acabou com o reconhecimento estatal de títulos de cavaleiro e títulos de nobreza conferidos pela Santa Sé, o direito do Estado de solicitar honras eclesiásticas para aqueles escolhidos para desempenhar funções religiosas para o Estado ou a casa real, e o direito do Estado de apresentar objeções políticas à proposta de nomeação de bispos diocesanos. Em 2008, foi anunciado que o Vaticano não adotaria mais imediatamente todas as leis italianas, citando conflitos extraordinários sobre questões de direito à vida após o julgamento e decisão do caso Eluana Englaro (1970-2009), uma mulher italiana que entrou em um estado vegetativo persistente em 18 de janeiro de 1992, na sequência de um acidente de carro e, posteriormente, se tornou o leitmotiv de uma batalha judicial e política entre apoiantes e opositores da eutanásia. Pouco depois de Eluana tinha sido mantida em suporte artificial de vida, seu pai pediu para ter seu tubo de alimentação e removido para permitir que ela morra naturalmente. As autoridades recusaram o seu pedido, mas a decisão foi alterada.

Bibliografia Geral Consultada.

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