“O céu não consente no orgulho de ninguém, salvo no seu próprio”. Heródoto
Enquanto método de análise em
filosofia, a dialética representa uma concepção no âmbito geral das leis
do movimento, tanto no mundo externo quanto do pensamento humano. Através dela
compreendemos que as coisas estão sempre em relação recíproca. Nada acontece
por acaso, tanto nos fenômenos da natureza como nas relações sociais entre os
homens. Ela é a representação (Αντιπροσώπευση) da estrutura
contraditória do real. Nada pode ser
entendido isoladamente, fora da realidade à sua volta. Tudo e todos pertencem a
uma “totalidade dialética”, fazem parte de uma estrutura de conhecimento. Quando o Céu se Engana (Good Fortune) tem
como representação social um filme norte-americano de comédia sobrenatural de
2025, escrito e dirigido por Aziz Ansari, demarcando
sua estreia na direção de longas-metragens. Os atores Seth Rogen, Ansari, Keke
Palmer, Sandra Oh e Keanu Reeves estrelam o filme, que é produzido pela
Garam Films, Oh Brudder Productions, Keep Your Head e Yang Pictures. O filme
segue as pegadas um anjo chamado Gabriel (Keanu Reeves) cuja tentativa
fracassada de provar a Arj (Ansari), um homem em dificuldades, que dinheiro não
resolve todos os problemas resulta em um “intercâmbio de corpos” entre Arj e
seu rico empregador, Jeff (Seth Rogen). Em consequência, Gabriel perde “suas
asas, e o trabalho que ele fez como anjo começa a se desfazer ao redor deles”.
Após a suspensão de seu projeto de estreia na direção, Being Mortal
(en), na Searchlight Pictures, em 2022, Ansari deu continuidade para dirigir Good
Fortune. Ele desejava fazer uma comédia com a intenção de que fosse lançada
nos cinemas, citando o sucesso de Barbie (2023) como prova da
viabilidade de tal projeto. Seth Rogen, amigo de longa data de Ansari e que
inspirou a inclusão de vários elementos sociais no filme, juntou-se ao projeto
após o engavetamento de Being Mortal.
Barbie, para sermos breves, é um filme norte-americano dos gêneros comédia e fantasia dirigidas por Greta Gerwig, com o roteiro coescrito com Noah Baumbach. O filme é baseado na franquia de bonecas Barbie, produzida pela empresa multinacional Mattel, sendo o primeiro filme da franquia em formato de live-action depois de uma série de filmes em animação diretos para digital vídeo disc e séries de televisão. Estrelado por Margot Robbie e Ryan Gosling como Barbie e Ken, respectivamente, o filme ainda apresenta um elenco diverso. O desenvolvimento do filme começou originalmente em 2009 na Universal Pictures e depois passou para a Sony Pictures. Após várias mudanças de escritores e a escolha de duas atrizes diferentes para interpretar o personagem-título, o contrato com a Sony expirou e os direitos foram transferidos para a Warner Bros. Pictures. Robbie foi escalada em 2019 e atua como produtora comercial pela LuckyChap Entertainment ao lado da Mattel e da Heyday. Gerwig foi confirmada como diretora e corroteirista com Baumbach em 2021. As filmagens começaram em março de 2022 na Warner Bros. Studios, Leavesden, na Inglaterra. Barbie teve sua première no Shrine Auditorium em Los Angeles no dia 09 de julho de 2023 e foi lançado nos Estados Unidos em 21 de julho de 2023 pela Warner Bros Pictures. No geral, o filme foi um sucesso de público e crítica, sendo a melhor estreia (em bilheteria) de 2023. Nomeado um dos dez melhores filmes de 2023 pela National Board of Review e pelo American Film Institute, Barbie ganhou várias honrarias, incluindo oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante para Gosling e Melhor Atriz Coadjuvante para Ferrera, por Melhor Canção Original por “What Was I Made For?”. Barbie ganhou dois prêmios Globo de Ouro (Realização e de Bilheteria e Melhor Canção Original.
A Barbie
estereotipada (“Barbie”) e uma grande variedade de colegas Barbies
residem na Barbielândia, naturalmente uma sociedade matriarcal onde todas as mulheres
são autoconfiantes, autossuficientes e bem-sucedidas. Enquanto suas
contrapartes Ken passam seus dias em atividades recreativas na praia, as
Barbies ocupam todos os cargos importantes, como médicos, advogados e
políticos. O Ken praiano (“Ken”), namorado de Barbie, só fica feliz quando está
com Barbie e busca um relacionamento mais próximo, mas Barbie o rejeita em
favor da independência e das amizades femininas. Durante uma festa de dança,
Barbie de repente se preocupa com a mortalidade. No dia seguinte, ela descobre
que não consegue mais completar sua rotina habitual e descobre que seus pés
ficaram chatos e ela tem celulite. Barbie estranha, uma pária sábia, mas
desfigurada, diz a ela que para curar sua doença ela deve viajar para o mundo
real e encontrar a criança brincando com ela. Em seu caminho para o mundo real,
Barbie encontra Ken escondido em seu conversível e relutantemente permite que
ele se junte a ela. Chegando a Venice Beach em Los Angeles, a dupla causa
travessuras e é presa, alarmando o CEO da Mattel, que ordena sua captura.
Barbie rastreia sua dona, uma adolescente chamada Sasha, que a crítica por
encorajar padrões de beleza irrealistas. Perturbada, Barbie descobre que
Gloria, funcionária da Mattel e mãe de Sasha, é a catalisadora de sua crise
existencial.
Gloria começou a
brincar com os brinquedos de Sasha enquanto experimentava sua crise de
identidade, transferindo inadvertidamente suas preocupações para a Barbie.
Gloria e Sasha resgatam Barbie do CEO da Mattel e seus subordinados, e as três
viajam juntas para a Barbielândia. Enquanto isso, Ken aprende sobre o sistema
patriarcal e se sente importante e aceito pela primeira vez. Voltando à
Barbielândia, ele convence os outros “Kens” a assumirem o controle e as Barbies
são subjugadas a papéis submissos, como empregadas domésticas, donas de casa e
namoradas agradáveis. Barbie chega e tenta convencer Ken e as Barbies a
voltarem a ser como eram, mas é rejeitada. Ela fica deprimida, mas Gloria a
inspira com um discurso sobre os problemas de ser mulher. Com o incentivo de
Sasha, Gloria, Barbie estranha, Allan e outras Barbies fora de transe, libertam
as diversas outras Barbies dos Kens. Elas manipulam os bonecos para lutar entre
si, permitindo que as Barbies recuperem seu poder sistêmico, hegelianamente
falando, e impedindo os Kens de alterar a constituição da Barbielândia
para consagrar a superioridade masculina. Como concessão, os Kens recebem um
papel menor na Barbielândia. Barbie e Ken pedem desculpas um ao outro e
reconhecem suas falhas. Ken lamenta não ter identidade ou propósito sem ela, ao
que a Barbie o encoraja a encontrar uma “identidade autônoma”. Barbie, que
permanece insegura sobre seu propósito e identidade, encontra o
espírito da cofundadora da Mattel, Ruth Handler, que explica que a história da
Barbie não tem um final definido e sua história em constante evolução
supera a de suas raízes. Barbie decide se tornar humana e retornar ao mundo
real.
O
novo conceito de dialética originalmente desenvolvido por Friedrich Hegel é todo um
complexo sistema, baseado numa original concepção do absoluto que na filosofia
de Hegel, precisa incorporar todos os momentos significativos do movimento pelo
qual se realiza, assimilando tanto o positivo como o negativo, superando-o numa
capacidade de síntese viva, para poder se estruturar, rigorosamente, como
ocorre no sistema científico: “A verdadeira figura em que a verdade existe”,
afirma Hegel, “só pode ser o sistema científico dela”. O sentido desse
movimento realizado no sistema de pensamento só pode ser compreendido do ângulo
do resultado alcançado. Esta unidade do existente, o que existe, e do que é “em
si” é o essencial. É um conceito dialético na unidade do diferente, do gérmen
e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma: um conceito
da razão. As outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento
puramente abstrato não pode conceber isto. É compreender por intermédio das
abstrações mediante as quais decorre a apropriação mental, sobre o qual
funciona um procedimento específico sobre o modo de apreender a realidade e
saber pensar. Hegel dizia que a verdade é o todo. Que se não o enxergamos,
podemos atribuir valores sociais e políticos exagerados a verdades limitadas,
prejudicando a compreensão de uma verdade geral.
Essa concepção é sempre
provisória, nunca alcança uma etapa definitiva e acabada, caso contrário, a
dialética estaria negando a si própria. Pelo que depreendemos, teremos uma
única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente,
na multiplicidade das determinações, e que a partir de determinados graus
distintos, são em essência, necessárias. E juntas de novo, constituem um
sistema de pensamento. Essa representação é uma imagem da história da
filosofia. O primeiro momento era o “em si” da realização, e “em si” do gérmen
etc. O segundo é a existência, aquilo se exalta e que resulta. Assim, o
terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto e movimento
da própria evolução, o resultado de todo este movimento em torno do
conhecimento. E a isto Hegel chama
abstratamente “o ser por si”. É o por si do homem, do espírito mesmo. Somente o
espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito
produz, isto é, seu objeto, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro reconhecimento.
O desenvolvimento do espírito é um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso,
ao mesmo tempo, um desafogo. Enfim, para Hegel a evolução no modo de pensar não
somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já
no “em si”, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si
mesmo a este ser “por si”. O concreto é “em si” diferente, mas logo só em si,
pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda
em unidade, ainda não como diferente antropologicamente.
É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto vem assim a ser atualmente, na existência. Porém, do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta. Um discurso político, no âmbito da consciência, tem uma estrutura e finalidade diferente do discurso econômico, mas pode operar no nível da análise econômica produzindo efeitos sociais específicos em termos de persuasão. A Fenomenologia é a representação da história concreta da consciência, sua saída da caverna e ascensão como procedimento da Ciência. Daí a analogia que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este vir-a-ser é necessário, como força irresistível que se manifesta per se através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Ipso facto quando Hegel afirma sobre a filosofia em geral, que “a coruja de Minerva só levanta voo ao anoitecer” (“die Eule der Minerva beginnt erst mit der einbrechenden Dämmerung ihren Flug”), ele quer dizer que vale somente para uma filosofia da história.
É verdadeiro para
a concepção científica de história e que, além disso, corresponde à weltanschauung
dos historiadores que têm como seu trabalho (ofício) descrever
metodologicamente a história real. Hegel dizia que a verdade é o todo. Que se
não enxergamos o todo, podemos atribuir valores exagerados a verdades
limitadas, prejudicando a compreensão de uma verdade geral. Essa visão é sempre
provisória, nunca alcança uma etapa definitiva e acabada, caso contrário a
dialética estaria negando a si própria. O método dialético nos incita a
revermos o passado, à luz do que está acontecendo no presente, ele questiona o
presente em nome do futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é”. Para
Hegel, o trabalho é o conceito chave para compreensão da superação da
dialética, atribuindo o verbo suspender (com três significados): negação de uma
determinada realidade, conservação de algo essencial dessa realidade e elevação
a um nível superior. A filosofia descreve a realidade e a reflete, a dialética
busca, não interpretar, mas refletir acerca da realidade. A dialética é a
história das contradições. Aufheben significa supressão (ou, suprassunção)
e ao mesmo tempo manutenção da coisa suprimida. O reprimido ou negado permanece
dentro da totalidade. Hegel, um dos filósofos que mais tratou da concepção
dialética, esta contradição não é apenas do pensamento, mas da realidade.
Então, tudo está em processo de constante devir.
Assim, Hegel não é um
idealista platônico para quem as Ideias constituem um campo ontológico superior
à realidade material: elas formam um campo pré-ontológico das sombras. Esta é a
tese defendida com sabedoria no ensaio de Slavoj Žižek:
“Less Than Nothing”... (cf. Žižek 2013: 310 e ss.). Para ele, o espírito tem a
natureza como seu pressuposto e é simultaneamente a verdade da natureza e, como
tal, o “absolutamente primeiro”; a natureza, portanto, “desvanece” em sua
verdade, é “suprassumida” (aufgehoben) na identidade-de-si do espírito:
Essa identidade, afirma Hegel na Lógica: “é a negatividade absoluta,
porque o conceito tem na natureza sua objetividade externa consumada, porém
essa sua extrusão é suprassumida, e o conceito tornou-se nela idêntico a si
mesmo. Por isso só é essa identidade enquanto é retomar da natureza”. Note-se a
estrutura triádica precisa dessa passagem, ao modo hegeliano mais ortodoxo em
sua concepção dialética, todavia exemplar do ponto de vista da irrefutabilidade
do conhecimento de apropriação do real: tese, o conceito tem na natureza sua
objetividade externa consumada; antítese (“Porém”), essa sua extrusão é
suprassumida e, por meio dessa suprassunção, o conceito atinge a
identidade-de-si; síntese (“por isso”), ele só é essa identidade enquanto é
[preciso] retomar o ser da natureza. É dessa maneira que devemos entender a
identidade tendo como representação a negatividade absoluta: a identidade-de-si
do espírito surge por sua relação negativa (“suprassunção”) com esses
pressupostos naturais, e essa negatividade é absoluta não no sentido que nega a
natureza absolutamente, de que a natureza desaparece absolutamente (totalmente)
nele, mas no sentido de que a negatividade da suprassunção (Aufhebung) é
autorrelativa; em outras palavras, o resultado desse trabalho da negatividade é
a identidade-de-si positiva do espírito.
As filmagens do
longa-metragem: Quando o Céu se Engana (Good Fortune) estavam
previstas para começar em maio de 2023, mas devido a mais uma paralisação na
produção no meio do mês, causada pela greve do Sindicato de Roteiristas da
América de 2023, as filmagens só iniciaram no final de janeiro de 2024, em Los
Angeles, quando Palmer anunciou que havia se juntado ao elenco. A maior parte
das filmagens foi concluída antes de abril de 2024, com algumas cenas sendo
retomadas posteriormente, após “uma lesão sofrida por Keanu Reeves duas semanas
após o início das filmagens”. Good Fortune teve sua estreia no Festival
Internacional de Cinema de Toronto em 6 de setembro de 2025 e está para ser
lançado em Portugal no dia 23 de outubro de 2025 e dia 6 novembro de 2025 no
Brasil. O filme recebeu críticas cinematográficas positivas. Gabriel (Keanu
Reeves) é um “anjo da guarda de baixo orçamento”. Um dia, ele nota Arj (Aziz
Ansari), um homem aparentemente sem sorte que faz “bicos” no trabalho para um
socialite rico chamado Jeff (Seth Rogen). Arj atinge o “fundo do poço” ao ter
seu carro guinchado do estacionamento de um restaurante Denny`s enquanto dormia
em uma cabine. Intervindo em sua situação, Gabriel tenta convencer Arj de que “ser
rico como Jeff não resolveria seus problemas”, trocando simbolicamente as vidas
dos dois homens. Mas, falhando na demonstração, os problemas de Arj são
resolvidos pela riqueza de Jeff, Gabriel “perde suas asas” e é enviado à Terra
para viver sua vida, enquanto Arj, em contrapartida, assume o corpo de Jeff.
Gabriel se torna colega de quarto do Jeff deslocado, enquanto “o trabalho que
ele fazia como anjo começa a desmoronar ao redor deles”.
Heródoto foi um
extraordinário historiador e geógrafo grego sucessor dos primeiros que
escreveram em prosa sobre a geografia e a história, Anaximandro e seu provável
discípulo, Hecateu de Mileto. Foi o autor da história da invasão persa da
Grécia, ocorrida no final do século V a.C., reconhecida como As Histórias de
Heródoto. Esta obra foi reconhecida como “uma nova forma de literatura pouco
depois de ser publicada”. Antes de Heródoto, tinham existido crônicas e épicos,
e também estes haviam preservado o conhecimento do passado, mas a maioria deles
tratava apenas do passado concentrado em uma cidade ou região. Heródoto foi o
primeiro a combinar essas narrativas regionais para elaborar uma narrativa mais
ampla sobre os fatos sociais e políticos do passado e a demonstrar como sua
pesquisa poderia servir para a compreensão do presente. A sua criação fez com
que lhe fosse concedido o título de “pai da história”, pelo orador romano
Cícero, embora criticasse o grego no mesmo texto por contar o que chamava de
“histórias fabulosas”. A palavra que utilizou para denominar sua obra,
historie, que previamente tinha significado não por acaso “pesquisa”, tomou a
conotação atualmente de história. Heródoto foi interpretado, desde a
Antiguidade, de ter inventado fatos que narra em sua obra e de não ter
submetido as informações que recebeu de forma oral a um pretenso exame crítico
e de plausibilidade segundo os cânones historiográficos. Mas, o respeito pelo
seu rigor tem aumentado desde a última metade do século XX, sendo reconhecido
não como pioneiro na história, mas também na geografia, etnografia e
antropologia.
Como acontece com
muitos casos de personalidades antigas, os dados disponíveis sobre a vida de
Heródoto são poucos e controversos. A fonte mais extensa, a enciclopédia
bizantina Suda, do século X, também é a mais distante no tempo, tendo sido
escrita cerca de 1.500 anos após a vida do historiador grego, e contém muitas
afirmações que não são confirmadas por outras fontes. Sendo pioneiro e porque
deveria? A maioria dos estudiosos aceita a tradição de que Heródoto nasceu
cerca de 485 a.C. em Halicarnasso (Bodrum, na Turquia), o que significa que ele
nasceu após o fim das Guerras Médicas, assunto central de sua obra. Entretanto,
quanto a sua cidadania, deve-se entrever que Aristóteles menciona Heródoto como
cidadão da colônia de Túrios (In: Retórica, 1402 a 32). Heródoto viajou
extensamente pelo Egito, Oriente Médio e Mediterrâneo pesquisando para sua
obra, e não existem dúvidas se ele esteve pessoalmente em todos os lugares para
os quais afirma que viajou. Depois de uma passagem por Atenas, onde provavelmente
fez leituras públicas de trechos de sua obra, Heródoto seguiu com colonos
gregos para Túrio, no Sul da Itália, onde teria terminado a redação de seu
livro e permanecido até sua morte, embora outras tradições apontem para locais
diferentes de morte. Como trechos das Histórias se referem a eventos ocorridos
no início da Guerra do Peloponeso (até 425 a.C.), o consenso é que ele estava
vivo pelo menos até esse ano. A respeito de sua rede de sociabilidade, é
provável que Heródoto manteve alguma amizade com Sófocles.
Sociologicamente Guerras
Médicas, Guerras Greco-Persas, Guerras Persas ou Guerras Medas são designações
dadas aos conflitos bélicos entre os antigos gregos e o Império Aquemênida
durante o século V a.C., de 499 até 449 a.C. A colisão entre o mundo político
fragmentado dos gregos (aqueus, jônios, dórios e eólios) e o enorme império dos
persas começara pela disputa sobre a Jónia na Ásia Menor, quando as colônias
gregas da região, em especial Mileto tentaram livrar-se do domínio
persa. Marcam tradicionalmente a transição da era arcaica para a era clássica.
Apesar de não ter tido uma extensão considerável - para o Império Aquemênida
este conflito inicialmente era bastante periférico - as guerras persas surgem
como o ponto de partida da hegemonia ateniense no Mar Egeu, mas também como a
consciência de uma certa comunidade de interesses do mundo grego face à Pérsia
- ideia retomada, quase dois séculos depois, por Alexandre, o Grande. Esta
região da Jônia era colonizada pela Grécia, mas durante a expansão persa em
direção ao Ocidente, Ciro, o Grande conquistou-a em 547 a.C. Lutando para
governar as cidades independentes jônicas, os persas nomearam tiranos para
governar cada uma. Isso provaria ser a fonte de muitos problemas tanto
para os gregos quanto para os persas.
Na história social das
civilizações todo povo que atinge um certo desenvolvimento sente-se
naturalmente inclinada à prática da educação. Ela é o princípio por meio do
qual a comunidade humana conserva e transmite a sua peculiaridade tanto física
quanto espiritual. Uma educação consciente pode mudar a natureza física do
homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior. Mas o
espírito conduz progressivamente à descoberta de si mesmo e cria, pelo
conhecimento do mundo exterior e interior, formas melhores de existência
humana. A natureza do homem, na sua dupla estrutura corpórea e espiritualmente,
cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma peculiar
e exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto dos quais damos o nome
de educação. Nela, a educação, o homem com sua prática social, atua a mesma
força vital, criadora e plástica, que espontaneamente impele todas as espécies
vivas à conservação e propagação de seu tipo social. É nela, porém, que essa
expressão social atinge o mais alto grau de intensidade, através do esforço
consciente do conhecimento e da vontade, dirigida para a consecução de um fim.
Em nenhuma parte, o influxo da comunidade nos seus membros tem maior força que
no constante ato de educar, em conformidade com o próprio sentir, cada nova
geração. A estrutura política assenta nas leis e normas escritas e não escritas
que a unem e unem os seus membros.
O conceito de sociedade
está fundamentalmente ligado aos fatores territoriais, culturais, políticos e
históricos que unem os seus indivíduos. Toda geração é assim o resultado da
consciência viva de uma norma que rege uma comunidade humana, quer se trate da
família, de uma classe social ou de uma profissão, quer se trate de um agregado
mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado. A educação participa na vida e
no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua
estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o
desenvolvimento depende da consciência dos valões que regem a vida, a história
da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valões
válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas válidas corresponde a
solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e destruição das normas
advém a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade absoluta de
qualquer ação educativa. Acontece isto quando a tradição é violentamente
destruída ou sofre decadência interna. Fora de dúvida, a estabilidade não é o
indício seguro de saúde, porque reina também nos estados de rigidez senil, nos
momentos finais de uma cultura: sucede na China confucionista
pré-revolucionária, nos últimos tempos da Antiguidade, nos derradeiros dias dos
Judaísmo, em certos períodos da história da Igrejas, d arte e das escolas
científicas. Segundo Jaeger (2011), é monstruosa a impressão gerada pela
fixidez quase intemporal da história do antigo Egito, através de milênios; mas
também entre os Romanos e a estabilidade histórica comunal das relações sociais
e políticas foi considerada como o valor mais alto e apenas se concedeu
justificação limitada aos anseios e ideais inovadores. O Helenismo ocupa uma
posição singular na história.
Termópilas é um
desfiladeiro localizado na Grécia Central que serviu de lugar praticado para a
violenta batalha entre persas e espartanos. O conflito foi provocado pelo
anseio do persa Xerxes de dominar o território e o povo espartano, o que foi
negado pelo rei e general de Esparta de 491 a. C até a data de sua morte em 480
a.C. durante a batalha de Termópilas. Uma de suas ações mais importantes se deu
por ocasião da invasão da Grécia pelos persas, em 481 a.C. Defendendo o
desfiladeiro das Termópilas, que une a Tessália à Beócia, Leónidas e uma tropa
de aproximadamente 7000 homens, sendo que apenas 300 eram espartanos,
conseguiram repelir os ataques iniciais. Mas Xerxes I, rei da Pérsia, foi
auxiliado pelo pastor Efialtes que o conduziu por um caminho que contornava o
desfiladeiro, e pôde cercar o exército de Leónidas. Restavam apenas 300
espartanos e pouco mais de 1000 soldados tespienses e tebanos, que decidiram
resistir lutando até a morte. Em 462 a.C. Efialtes foi responsável pela reforma
do Areópago, controlado pela aristocracia, limitando o seu poder para julgar
apenas os casos de homicídio e os crimes religiosos. Antes do século V a. C., o
Areópago representava o conselho dos anciãos relativamente semelhante ao Senado
romano. A origem do nome não é clara.
Etimologicamente em
grego antigo, πάγος pagos significa “grande pedaço de rocha”. Areios
poderia ter vindo de “Ares” ou do “Erinyes”, pois em seu pé foi erguido um templo
dedicado às Erínias onde os que eram considerados assassinos costumavam
encontrar abrigo para não enfrentar as consequências de seus atos criminosos.
Mais tarde, o Romanos referido à colina rochosa como “Mars Hill”, após Marte, a
versão romana do deus grego da guerra. Perto do Areópago também foi construída
a basílica de Areopagitas Dionísio. Comparativamente sua composição era
restrita aos que pelo status ocuparam cargos públicos importantes, neste caso o
de Arconte. Em 594 a. C, o Areópago concordou em transferir suas funções para
Solon para reforma. Ele instituiu reformas democráticas, reconstituiu seus
membros e devolveu o controle à organização. Sob as reformas de Clístenes
promulgadas em 508/507 a. C, o Boule (βουλή) ou conselho, foi expandido
de 400 para 500 homens, e foi formado por 50 homens de cada um dos dez clãs
ou phylai (φυλαί). Em 462 a. C., Efialtes passou por reformas que
privaram o Areópago de quase todas as suas funções, exceto a de um tribunal de
homicídio em favor de Heliaia, o tribunal supremo da Atenas antiga. A opinião
generalizada entre os acadêmicos é de que a origem de seu nome é o verbo Ήλιάζεσθαι,
que significa συναθροίζεσθαι, “congregar”. Esta medida foi impopular
entre os aristocratas e levou ao seu assassinato em 461 a. C.
A investigação moderna
abriu imensamente o horizonte da história. A oikoumene dos Gregos e
Romanos clássicos, que durante dois mil anos coincidiu com os limites do mundo,
foi rasgada em todos os sentidos do espaço e perante o nosso olhar surgiram
mundos espirituais até então insuspeitados. Quando deixa de ser um povo
particular e nos inscreve como membros num vasto círculos de povos, começa a
aparição dos Gregos. Foi por essa razão que a esse grupo de povos Jaeger (2011)
designou de helenocêntrico. É este o motivo porque, no decurso de nossa
história, voltamos constantemente à Grécia. Este retorno e renovação de sua
influência não significa que lhe tenhamos conferido, pela sua grandeza
espiritual, uma autoridade imutável, fixa e independente do nosso destino. O
fundamento de nosso regresso reside nas próprias necessidades vitais, por mais
variadas que elas sejam através da História. É claro que, para nós e para cada
um dos povos deste círculo, a Grécia e Roma aparecem como algo de radicalmente
estranho. Esta separação analítica funda-se em parte no sangue e no sentimento,
em parte na estrutura do espírito e das instituições, e ainda na diferença da
respectiva situação histórica; mas entre esta separação e a que sentimos ante
os povos orientais, distintos pela sua raça e pelo espírito, a diferença é
gigantesca. Não se trata inclusive de um sentimento apenas de parentesco
racial. É preciso distinguir a história nesse sentido quase antropológico da
história que se fundamenta na união espiritual viva e ativa e na comunidade de
um destino, quer seja o do próprio povo, quer o de um grupo de povos
estreitamente unidos.
Só nesta
particularidade histórica se tem uma íntima compreensão e contato
criador entre uns e outros. Só nela existe uma comunidade de ideais e de formas
espirituais que se desenvolvem e crescem independentes das múltiplas
interrupções e mudanças através das quais varia, se cruza, choca, desaparece e
se renova uma família de povos diversos na genealogia. Esta comunidade existe na totalidade dos
povos ocidentais e entre estes e a Antiguidade clássica. Se considerarmos a
história nesse sentido profundo, no sentido de uma comunidade radical, não
poderemos supor-lhe como cenário o planeta inteiro e, por mais que alarguemos
os nossos horizontes geográficos, as fronteiras dessa história jamais poderão
ultrapassar a antiguidade daqueles que há vários milênios traçaram seu destino.
Não é possível dizer até quando a Humanidade continuará a crescer na unidade de
sentido que tal destino lhe assinala, pois o objetivo teórico e histórico de
Werner Jaeger é apresentar a formação do homem grego, a Paidéia, no seu
caráter particular e no seu desenvolvimento histórico. Não se trata de um
conjunto de ideias abstratas em sua generalidade, mas da própria história da
Grécia na realidade concreta do seu destino vital. Contudo, essa história
vivida já teria desaparecido há longo tempo se o homem grego não a tivesse
criado na sua forma perene. A ideia de educação representava para ele o sentido
de todo o esforço humano. Era a justificação última da comunidade e
individualidade humana. Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica são
perfeitamente inteligíveis a esta “luz”, ou descobrimento, pois, foram criados
no mesmo espírito que os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora,
isto é, “em relação aos outros povos da Antiguidade de que foram herdeiros”.
Augusto concebeu a missão do Império Romano em função da ideia da cultura
grega. Sem a concepção grega da cultura não teria existido a Antiguidade como unidade
histórica e mundo ocidental global.
É indiscutível que foi a partir do momento em que os gregos situaram o problema
da individualidade no cimo de seu desenvolvimento filosófico que principiou a
história da personalidade europeia. Roma e o Cristianismo agiram sobre ela. E
da inserção desses fatores brotou o fenômeno do Eu individualizado. Mas
não podemos entender de modo radical e preciso a posição do espírito grego na
história da formação dos homens, se tomarmos um ponto de vista moderno. Vale
mais partir, segundo Jaeger, da constituição rácica do espírito grego. A
vivacidade espontânea, a sutil mobilidade, a íntima liberdade que, embora
tenham parecido condições do rápido desabrochar daquele povo na inesgotável
riqueza de formas que nos surpreende e espanta ao contato com os escritores
gregos de todos os tempos, dos mais primitivos aos mais modernos, não tem as
suas raízes no cultivo da subjetividade, como atualmente acontece; pertencem à
sua natureza. Os gregos tiveram o sendo inato do que significa natureza. Sendo
o conceito elaborado por eles em primeira mão, tem indubitável origem na sua
constituição espiritual. Muito antes de o espírito grego ter delineado essa
ideia, eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma
delas lhes aparecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo
ordenado em conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Esta
concepção é orgânica, porque nela as partes são consideradas membros de um
todo. Sua tendência é clara de apreensão das leis do real.
O estilo e a visão
artística entre eles surgem, em primeiro lugar, como talento estético. Assentam
num instinto e num simples ato de visão, não na deliberada transferência de uma
ideia para o reino da criação artística. A idealização da arte, no entanto, só
mais tarde aparece, no período clássico. Até na oratória grega encontramos os
mesmos princípios formais que vemos analogamente na cultura ou na arquitetura.
As formas literárias dos gregos surgem organicamente, na sua multíplice
variedade e elaborada estrutura, das formas naturais e ingênuas pelas quais o
homem exprime a sua vida, elevando-se daí à esfera ideal da arte e do estilo.
Também na oratória, a sua aptidão para dar forma a um plano complexo e
lucidamente articulado deriva simplesmente do sentido espontâneo e madurecido
das leis que governam o sentimento, o pensamento e a linguagem, o lugar onde
esta ideia reaparece mais tarde na história, ela é uma herança dos gregos, e
aparece sempre que o espírito humano abandona a ideia de um adestramento em
função de fins exteriores e reflete na essência a própria educação. O fato de
os gregos terem sentido esta tarefa como algo grandioso e difícil e se terem
consagrado a ela com ímpeto sem igual não se explica nem pela sua visão
artística nem pelo espírito teórico.
Desde as primeiras
notícias que se disseminam na história da filosofia e que se têm deles,
encontramos o homem no centro do seu pensamento. A forma humana dos seus
deuses, o predomínio evidente do problema da forma humana na sua escultura e na
sua pintura, o movimento consequente da filosofia desde o problema do cosmos
até o problema do homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua
poesia, cujo tema inesgotável desde Homero até os últimos séculos é o homem e o
seu duro destino no sentido pleno da palavra; e, finalmente, o Estado grego,
cuja essência só pode ser correspondida sob o ponto de vista da formação do
homem e da sua vida inteira: o grego é o antropoplástico. Tudo são raios
de uma única e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que
não pode ser explicado nem derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas
as formas do espírito grego. Assim, impossível não admitir que, entre os povos,
a língua de Homero é, naturalmente, um problema em si. Mas adverte: trata-se de
uma língua que ninguém nunca falou, afirma Knox (2014). É uma língua
artificial, poética – como propõe o estudioso alemão Witte, “a língua dos
poemas homéricos é uma criação de versos épicos”. Era também uma língua
difícil. Para os gregos da era dourada, o século V a. C., no qual
inevitavelmente pensamos quando dizemos “os gregos”, o idioma de Homero estava
longe de ser claro e era repleto de arcaísmos, no vocabulário, na sintaxe e na
gramática, e incongruências: palavras e formas extraídas de diferentes dialetos
e estágios distintos de desenvolvimento da língua. Na realidade, ninguém nem
sonharia em empregar a linguagem de Homero, à exceção dos bardos épicos,
sacerdotes oraculares e parodistas eruditos. Isso não significa que Homero
fosse um poeta conhecido apenas de eruditos e estudantes; pelo contrário, os
épicos homéricos eram familiares como as palavras do cotidiano na boca dos
gregos comuns.
Conservaram sua
influência na língua e na imaginação dos gregos por sua excelente qualidade
literária – a simplicidade, rapidez e objetividade da técnica narrativa, a
genialidade e emoção, a grandeza e a tocante humanidade dos personagens – e por
conceder aos gregos, de forma memorável, imagens de seus deuses e do saber
ético, político e prático de sua tradição cultural. As maiores obras do
helenismo são monumentos de uma concepção do Estado de grandiosidade sem par,
cuja cadeia se desenrola numa série ininterrupta, desde a idade heroica de
Homero até o Estado autoritário de Platão, dominado pelos filósofos, e no qual
o indivíduo e a comunidade social travam a sua última batalha no tereno da
filosofia. Todo o futuro humanismo deve estar essencialmente orientado para o
fato fundamental de toda a educação grega, a saber: que a humanidade, o “ser do
Homem” se encontravam essencialmente vinculado às características do homem como
ser político. O fato de os homens mais importantes da Grécia se considerarem
sempre a serviço da comunidade é índice da íntima conexão que com ela tem a
vida espiritual criadora. No entanto, os grandes homens da Grécia não se
manifestam como profetas de Deus, mas antes como mestres independentes do povo
e formadores dos seus ideais. Mas por mais pessoal que esta obra do espírito
seja, na sua forma e nos seus propósitos, é considerada pelos seus autores, com
vigor infatigável, uma função social. A trindade grega do poeta, do homem de
Estado e do sábio encarna a mais alta direção da nação. É a íntima representação
da liberdade abstrata, a qual se sente vinculada por conhecimento, e até pela
mais alta lei divina, a serviço da totalidade, que se desenvolveu o gênio
criador dos gregos até chegar à sua plenitude educadora, acima do virtuosismo
intelectual e artístico da moderna civilização individualista.
Seria necessário
escrever uma história da arte grega que essente como espelho dos ideais que
dominam a sua vida. Também se deve dizer que até o século IV a arte grega é
fundamentalmente a expressão do espírito da comunidade. Não é possível
compreender o ideal agônico, revelado nos cantos pindáricos aos vencedores, sem
conhecer as estátuas que nos mostram os vencedores olímpicos na sua encarnação
corporal, ou as dos deuses, como encarnação das ideias gregas sobre a dignidade
da alma e do corpo humanos. O templo dórico é sem dúvida, o mais grandioso
monumento que deixou à posteridade o gênio dórico e o seu ideal de estrita
subordinação do individual à totalidade. Habita nele a força poderosa que torna
historicamente atual a vida de outrora que ele eterniza, e a fé religiosa que o
inspirou. Sem dúvida, os verdadeiros representantes da Paidéia grega não
são os artistas mudos – escultores, pintores, arquitetos -, mas os poetas e os
músicos, os filósofos, os retóricos e os oradores, quer dizer, os homens de
Estado. No pensamento grego, o legislador encontra-se, em certo aspecto, muito
mais próximo do poeta que o artista plástico: é que ambos têm uma missão
educadora, e só o escultor que forma o homem vivo tem direito a esse título.
Assim, a história da educação grega, para o que nos interessa, coincide
substancialmente com a da literatura. Esta é, no sentido originário que lhe
deram os seus criadores, a expressão do processo de autoformação do homem
grego. Independentemente disto, importa-nos saber não possuímos nenhuma
tradição escrita dos séculos anteriores à idade clássica além do que nos resta
dos seus poemas. Assim, mesmo tomando a história no seu mais amplo sentido, uma
só coisa nos torna acessível a compreensão daquele período: a evolução e
a formação do homem na poesia e na arte.
A história determinou
que só isso ficasse da essência inteira do homem. Não podemos traçar o processo
de formação dos gregos daquele tempo senão a partir do ideal de homem que
precisamente formaram. Uma achega de nossa parte sociologicamente se
torna supérflua segundo esse aspecto, em que conceito e objeto, o padrão de
medida e o que deve ser testado estão presentes na consciência mesma. Aliás,
somos também poupados da fadiga da comparação entre os dois, conceito e objeto,
e do exame propriamente dito. Assim já que para Friedrich Hegel em sua Fenomenologia
(2007), a consciência se examina a si mesma, também sob esse aspecto, só nos
resta o puro observar. A consciência, por um lado, é consciência do objeto; por
outro lado, a consciência de si mesma é consciência do que é verdadeiro para
ela, e consciência de seu saber da verdade. Enquanto ambos são para a
consciência, ela mesma é sua comparação: é para ela mesma que seu saber do
objeto corresponde ou não a esse objeto. O objeto parece, de fato, para a
consciência, ser somente tal como ela o conhece. Parece também que a
consciência não pode chegar por detrás do objeto, como ele é, não para ela, mas
como é em si; e que, portanto, também não pode examinar seu saber no objeto.
Mas justamente porque a consciência sabe em geral sobre um objeto, já está dada
a distinção entre [um momento de] algo que é, para a consciência, o Em-si, e um
outro momento que é o saber ou o ser do objeto para a consciência. O exame se
baseia sobre essa distinção que é uma distinção dada. Caso os dois momentos não
se correspondam nessa comparação, parece que a consciência deva então mudar o
seu saber para adequá-lo ao objeto. Porém, na mudança de saber, de fato se muda
também para ele o objeto, pois o saber presente era essencialmente um saber do
objeto; junto com o saber, o objeto de pensamento se torna também um outro,
pois pertencia essencialmente esse saber.
Com isso, vem-a-ser
para a consciência: o que antes era o Em-si não é em si, ou seja, só era em si
para ela. Quando descobre a consciência em seu objeto que o seu saber não lhe
corresponde, tampouco o objeto se mantém firme. No entanto, há muita coisa
ainda em jogo, se bem atendemos, no puro ser que constitui a essência dessa
certeza, e que ela enuncia como sua verdade. Uma certeza sensível
efetiva não é apenas essa pura imediatez, mas é um exemplo da mesma. Entre as
diferenças sem conta que ali se evidenciam, achamos em toda parte a diferença-capital,
a saber: que nessa certeza ressaltam logo para fora do puro ser os dois estes
para o que nos interessa, um este, como Eu, e um este como objeto. Para nós,
refletindo essa diferença, resulta que tanto um como o outro não estão na
certeza sensível apenas de modo imediato, mas estão, ao mesmo tempo,
mediatizados. Eu tenho a certeza por meio de um outro, a saber: da Coisa; e
essa está igualmente na certeza mediante um outro, a saber, mediante o Eu. Essa
diferença entre a essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem
faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve
ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de
determina-la. Na certeza sensível, um momento é posto como o essente simples e
imediato, ou como a essência: o objeto. O outro momento, porém, é posto como o
inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é em-si, mas por meio de um
Outro: o Eu, um saber que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou
não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja
conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo reconhecido – enquanto o saber não é,
se o objeto de pensamento não é plenamente conhecido. O objeto deve ser examinado, a ver se é de fato, na certeza sensível
mesma, aquela essência que ela lhe atribui; e esse seu conceito, de ser uma
essência, corresponde ao modo como se encontra na certeza sensível. Consiste
numa crítica analítica ao saber imediato, sendo o seu ponto de partida aquele
momento em que a consciência mais ingênua se torna capaz de distinguir entre si
mesma e seu objeto.
Em 499 a.C., o tirano de Mileto, Aristágoras, embarcou em uma expedição para conquistar a ilha de Naxos com o apoio dos persas. Fracassando no seu intento, e antecipando a sua remoção do cargo, Aristágoras incitou toda a Ásia Menor helênica a entrar em rebelião contra os persas. As colônias, lideradas por Mileto e contando com a ajuda de Atenas e Erétria, promoveram uma revolta, dando início à revolta jónica, que duraria até 493 a.C., e progressivamente atraindo mais regiões para o conflito. Essas revoltas levaram o xá Aquemênida Dario, o Grande, a lançar seu poderoso exército sobre a Grécia continental, dando início às Guerras Médicas. O que estava em jogo era o controle do comércio marítimo na região. Aplacando a insurreição e buscando assegurar a integridade de seu império de novas revoltas e da interferência dos gregos continentais, Dario esquematizou uma expedição punitiva à Grécia continental. A primeira invasão persa da Grécia começou em 492 a.C., com o general persa Mardônio subjugando a Trácia e a Macedônia antes que vários contratempos o obrigassem a pôr um fim prematuro ao resto da campanha. Em 490 a.C., uma segunda força foi enviada para a Grécia, desta vez pelo interior do Mar Egeu, sob o comando de Dátis e Artafernes. Essa expedição agrilhoou as Cíclades e arrasou Erétria. Contudo, a caminho para atacar Atenas, as tropas persas, de mais de vinte mil homens, embora como alguns autores falam em 50 mil, outros em 250 mil, não se sabe precisamente o efetivo persa, foram decisivamente rechaçadas por cerca de dez mil gregos chefiados pelo ateniense Milcíades, na Batalha de Maratona. Em 480 a.C., dez anos depois, Xerxes I, filho de Dario, comandou pessoalmente a segunda invasão com um dos maiores exércitos antigos já reunidos. Algumas cidades gregas, lideradas por Atenas e Esparta, formaram uma coalização para enfrentar o invasor.
Outras, como Tebas,
submeteram-se aos persas. Inicialmente, os persas venceram os gregos na Batalha
das Termópilas e na Batalha de Artemísio, permitindo-os invadir a maior
parte da Hélade e incendiar Atenas. A frota ateniense, porém, comandada por
Temístocles, conseguiu destruir a frota persa na Batalha de Salamina e mudou o
rumo da guerra. No ano seguinte, comandado pelo espartano Pausânias, a
confederação helênica entrou na ofensiva, derrotando decisivamente o exército
persa na Batalha de Plateias e pondo fim à invasão. Os gregos aliados
abateram o resto da marinha de guerra Aquemênida na Batalha de Mícale e
expulsaram as guarnições pérsicas de Sestos (479 a.C.) e Bizâncio (478 a.C.). Após
a retirada persa da Europa e da vitória grega em Mícale, a Macedônia e os
estados da cidade da Jónia recuperaram sua autonomia. Com o decorrer do tempo e
das ações do general Pausânias no cerco de Bizâncio, muitas das cidades-Estado
gregas reconstituíram a aliança anti-persa em torno da liderança ateniense,
denominada de Liga de Delos. Esta continuou com a série de operações
militares contra a Pérsia pelas próximas três décadas, começando com a expulsão
das guarnições adversárias restantes no continente europeu. Na Batalha do
Eurimedonte, em 466 a.C., a Liga ganhou uma dupla vitória à qual finalmente
garantiu a liberdade para provavelmente todas as cidades jônicas. No entanto, o
seu envolvimento na revolta egípcia por Inaro II contra Artaxerxes I resultou
em uma derrota desastrosa, e consequentemente novas campanhas foram suspensas.
Uma frota grega foi enviada para Chipre em 451 a.C., mas pouco foi conquistado,
e, quando esta se retirou, as guerras greco-persas chegaram ao fim. Algumas
fontes históricas sugerem que o fim das hostilidades foi marcado por um tratado
de paz entre Atenas e o Império Aquemênida: a chamada Paz de Cálias.
A maioria das tradições,
mutatis mutandis, coloca sua data de morte como em torno de 420 a.C.,
mas a historiadora Elisabeth Irwin (1880-1942) sustenta, a partir de indícios
extraídos da própria obra de Heródoto, que ele teria visto o fim da Guerra
do Peloponeso, em 404 a.C., e incorporado essa informação em sua obra. Provavelmente
escritas durante um longo espaço de tempo, as Histórias foram
posteriormente divididas em 9 livros, intitulados com os nomes das musas, por
eruditos do período helenístico. Félix Jacoby (1876-1959) estabeleceu como
datas limitantes para a publicação de Histórias entre 430 e 424 a. C (cf.
Griechische Historiker, 1956). É possível perceber vários trechos de sua
obra que podem ser lidos de maneira isolada, provavelmente marcadores para a
realização de leituras públicas, a maneira mais comum de se “ler” um livro na
época de Heródoto. Histórias de Heródoto apresenta em seu aspecto
estilístico e narratológico uma evolução na prosa pois ele ao lado de se guiar
pela retórica comum para tal gênero de texto, o que requereria a mimesis da
personagem para presentificar a ação, ele também coloca a sua própria pessoa em
discurso de diálogo direto com o leitor/ouvinte, referindo a si próprio como
testemunho da história. As muitas referências aos costumes, histórias e fábulas
de outros povos realizadas nas Histórias são resultado de extensas
viagens realizadas por Heródoto, desde a sua juventude. Chama atenção a
importância que ele dava sobretudo às fontes orais, confirmando sua
perspicácia, ao contrário da tradição posterior da historiografia, que seria de
dar “maior importância às fontes escritas”. Embora haja dúvidas se Heródoto
realmente chegou a conhecer todos os países que menciona na sua obra, pelo
menos em relação ao Egito, à antiga Fenícia, Pérsia e talvez até à cidade da
Babilônia, os indícios são de que ele realmente os visitou.
Bibliografia Geral Consultada.
HARTOG, François, O Espelho de Heródoto. Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, 1999; MUNSON, Rosaria Vignolo, Telling Wonders: Ethnographic and Political Discourse in the Work of Herodotus. Michigan: University of Michigan Press, 2001; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; JAEGER, Werner, Paidéia: A Formação do Homem Grego. 5ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010; LOBOSQUE, Ana Marta, A Vontade Livre em Nietzsche. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2010; ZIZEK, Slavoj, Less Than Nothing: Hegel and the Shadow of Dialectical Materialism. Estados Unidos: Editora Verso, 2013; KNOX, Robert, A Critical Examination of the Concept of Imperialism in Marxist and Third World Approaches to International Law. Tese de Doutorado em Filosofia. Londres: The London School of Economics and Political Science, 2014; ASSUMPÇÃO, Luis Filipe Bantim, Discurso e Representação sobre as Práticas Rituais dos Esparciatas e dos seus Basileus na Lacedemônia do Século V a. C. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014; MOURÃO, Patrícia, A Invenção de uma Tradição: Caminhos da Autobiografia no Cinema Experimental. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; SILVA, Ricardo Barbosa da, Culto à Guerra: Uma Abordagem Historiográfica do Militarismo na Esparta Clássica. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2017; BARROS, Eudenia Magalhães, Contingências da Vida: Sobre Corpos Transformados em um Mundo Feito para Capacitados. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2021; BARON, Christopher (Ed.), The Herodotus Encyclopedia. Hoboken (NJ): Editor John Wiley & Sons, 2021, 3vols; ABRAMOVITCH, Seth, “Why Aziz Ansari, Keanu Reeves and Seth Rogen Are Praying for a Little Good Fortune”. In: The Hollywood Reporter, 3 de setembro de 2025; entre outros.