domingo, 7 de dezembro de 2025

Quando o Céu se Engana – Dialética, Natureza & Comédia Sobrenatural.

                                          O céu não consente no orgulho de ninguém, salvo no seu próprio”. Heródoto


           Enquanto método de análise em filosofia, a dialética representa uma concepção no âmbito geral das leis do movimento, tanto no mundo externo quanto do pensamento humano. Através dela compreendemos que as coisas estão sempre em relação recíproca. Nada acontece por acaso, tanto nos fenômenos da natureza como nas relações sociais entre os homens. Ela é a representação (Αντιπροσώπευση) da estrutura contraditória do  real. Nada pode ser entendido isoladamente, fora da realidade à sua volta. Tudo e todos pertencem a uma “totalidade dialética”, fazem parte de uma estrutura de conhecimento. Quando o Céu se Engana (Good Fortune) tem como representação social um filme norte-americano de comédia sobrenatural de 2025, escrito e dirigido por Aziz Ansari, demarcando sua estreia na direção de longas-metragens. Os atores Seth Rogen, Ansari, Keke Palmer, Sandra Oh e Keanu Reeves estrelam o filme, que é produzido pela Garam Films, Oh Brudder Productions, Keep Your Head e Yang Pictures. O filme segue as pegadas um anjo chamado Gabriel (Keanu Reeves) cuja tentativa fracassada de provar a Arj (Ansari), um homem em dificuldades, que dinheiro não resolve todos os problemas resulta em um “intercâmbio de corpos” entre Arj e seu rico empregador, Jeff (Seth Rogen). Em consequência, Gabriel perde “suas asas, e o trabalho que ele fez como anjo começa a se desfazer ao redor deles”. Após a suspensão de seu projeto de estreia na direção, Being Mortal (en), na Searchlight Pictures, em 2022, Ansari deu continuidade para dirigir Good Fortune. Ele desejava fazer uma comédia com a intenção de que fosse lançada nos cinemas, citando o sucesso de Barbie (2023) como prova da viabilidade de tal projeto. Seth Rogen, amigo de longa data de Ansari e que inspirou a inclusão de vários elementos sociais no filme, juntou-se ao projeto após o engavetamento de Being Mortal.

           Barbie, para sermos breves, é um filme norte-americano dos gêneros comédia e fantasia dirigidas por Greta Gerwig, com o roteiro coescrito com Noah Baumbach. O filme é baseado na franquia de bonecas Barbie, produzida pela empresa multinacional Mattel, sendo o primeiro filme da franquia em formato de live-action depois de uma série de filmes em animação diretos para digital vídeo disc e séries de televisão. Estrelado por Margot Robbie e Ryan Gosling como Barbie e Ken, respectivamente, o filme ainda apresenta um elenco diverso. O desenvolvimento do filme começou originalmente em 2009 na Universal Pictures e depois passou para a Sony Pictures. Após várias mudanças de escritores e a escolha de duas atrizes diferentes para interpretar o personagem-título, o contrato com a Sony expirou e os direitos foram transferidos para a Warner Bros. Pictures. Robbie foi escalada em 2019 e atua como produtora comercial pela LuckyChap Entertainment ao lado da Mattel e da Heyday. Gerwig foi confirmada como diretora e corroteirista com Baumbach em 2021. As filmagens começaram em março de 2022 na Warner Bros. Studios, Leavesden, na Inglaterra. Barbie teve sua première no Shrine Auditorium em Los Angeles no dia 09 de julho de 2023 e foi lançado nos Estados Unidos em 21 de julho de 2023 pela Warner Bros Pictures. No geral, o filme foi um sucesso de público e crítica, sendo a melhor estreia (em bilheteria) de 2023. Nomeado um dos dez melhores filmes de 2023 pela National Board of Review e pelo American Film Institute, Barbie ganhou várias honrarias, incluindo oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante para Gosling e Melhor Atriz Coadjuvante para Ferrera, por Melhor Canção Original por “What Was I Made For?”. Barbie ganhou dois prêmios Globo de Ouro (Realização e de Bilheteria e Melhor Canção Original.         

A Barbie estereotipada (“Barbie”) e uma grande variedade de colegas Barbies residem na Barbielândia, naturalmente uma sociedade matriarcal onde todas as mulheres são autoconfiantes, autossuficientes e bem-sucedidas. Enquanto suas contrapartes Ken passam seus dias em atividades recreativas na praia, as Barbies ocupam todos os cargos importantes, como médicos, advogados e políticos. O Ken praiano (“Ken”), namorado de Barbie, só fica feliz quando está com Barbie e busca um relacionamento mais próximo, mas Barbie o rejeita em favor da independência e das amizades femininas. Durante uma festa de dança, Barbie de repente se preocupa com a mortalidade. No dia seguinte, ela descobre que não consegue mais completar sua rotina habitual e descobre que seus pés ficaram chatos e ela tem celulite. Barbie estranha, uma pária sábia, mas desfigurada, diz a ela que para curar sua doença ela deve viajar para o mundo real e encontrar a criança brincando com ela. Em seu caminho para o mundo real, Barbie encontra Ken escondido em seu conversível e relutantemente permite que ele se junte a ela. Chegando a Venice Beach em Los Angeles, a dupla causa travessuras e é presa, alarmando o CEO da Mattel, que ordena sua captura. Barbie rastreia sua dona, uma adolescente chamada Sasha, que a crítica por encorajar padrões de beleza irrealistas. Perturbada, Barbie descobre que Gloria, funcionária da Mattel e mãe de Sasha, é a catalisadora de sua crise existencial.

                            


Gloria começou a brincar com os brinquedos de Sasha enquanto experimentava sua crise de identidade, transferindo inadvertidamente suas preocupações para a Barbie. Gloria e Sasha resgatam Barbie do CEO da Mattel e seus subordinados, e as três viajam juntas para a Barbielândia. Enquanto isso, Ken aprende sobre o sistema patriarcal e se sente importante e aceito pela primeira vez. Voltando à Barbielândia, ele convence os outros “Kens” a assumirem o controle e as Barbies são subjugadas a papéis submissos, como empregadas domésticas, donas de casa e namoradas agradáveis. Barbie chega e tenta convencer Ken e as Barbies a voltarem a ser como eram, mas é rejeitada. Ela fica deprimida, mas Gloria a inspira com um discurso sobre os problemas de ser mulher. Com o incentivo de Sasha, Gloria, Barbie estranha, Allan e outras Barbies fora de transe, libertam as diversas outras Barbies dos Kens. Elas manipulam os bonecos para lutar entre si, permitindo que as Barbies recuperem seu poder sistêmico, hegelianamente falando, e impedindo os Kens de alterar a constituição da Barbielândia para consagrar a superioridade masculina. Como concessão, os Kens recebem um papel menor na Barbielândia. Barbie e Ken pedem desculpas um ao outro e reconhecem suas falhas. Ken lamenta não ter identidade ou propósito sem ela, ao que a Barbie o encoraja a encontrar uma “identidade autônoma”. Barbie, que permanece insegura sobre seu propósito e identidade, encontra o espírito da cofundadora da Mattel, Ruth Handler, que explica que a história da Barbie não tem um final definido e sua história em constante evolução supera a de suas raízes. Barbie decide se tornar humana e retornar ao mundo real.

           O novo conceito de dialética originalmente desenvolvido por Friedrich Hegel é todo um complexo sistema, baseado numa original concepção do absoluto que na filosofia de Hegel, precisa incorporar todos os momentos significativos do movimento pelo qual se realiza, assimilando tanto o positivo como o negativo, superando-o numa capacidade de síntese viva, para poder se estruturar, rigorosamente, como ocorre no sistema científico: “A verdadeira figura em que a verdade existe”, afirma Hegel, “só pode ser o sistema científico dela”. O sentido desse movimento realizado no sistema de pensamento só pode ser compreendido do ângulo do resultado alcançado. Esta unidade do existente, o que existe, e do que é “em si” é o essencial. É um conceito dialético na unidade do diferente, do gérmen e do desenvolvido. Ambas estas coisas são duas e, no entanto, uma: um conceito da razão. As outras determinações são inteligíveis, mas o entendimento puramente abstrato não pode conceber isto. É compreender por intermédio das abstrações mediante as quais decorre a apropriação mental, sobre o qual funciona um procedimento específico sobre o modo de apreender a realidade e saber pensar. Hegel dizia que a verdade é o todo. Que se não o enxergamos, podemos atribuir valores sociais e políticos exagerados a verdades limitadas, prejudicando a compreensão de uma verdade geral.

Essa concepção é sempre provisória, nunca alcança uma etapa definitiva e acabada, caso contrário, a dialética estaria negando a si própria. Pelo que depreendemos, teremos uma única vida a qual está oculta. Mas depois entra na existência e separadamente, na multiplicidade das determinações, e que a partir de determinados graus distintos, são em essência, necessárias. E juntas de novo, constituem um sistema de pensamento. Essa representação é uma imagem da história da filosofia. O primeiro momento era o “em si” da realização, e “em si” do gérmen etc. O segundo é a existência, aquilo se exalta e que resulta. Assim, o terceiro é a identidade de ambos, mais precisamente agora o fruto e movimento da própria evolução, o resultado de todo este movimento em torno do conhecimento.  E a isto Hegel chama abstratamente “o ser por si”. É o por si do homem, do espírito mesmo. Somente o espírito chega a ser verdadeiro por si, idêntico consigo. O que o espírito produz, isto é, seu objeto, é ele mesmo. Ele é um desembocar em seu outro reconhecimento. O desenvolvimento do espírito é um desprendimento, um desdobrar-se, e por isso, ao mesmo tempo, um desafogo. Enfim, para Hegel a evolução no modo de pensar não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no “em si”, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser “por si”. O concreto é “em si” diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente antropologicamente.

É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de si mesma. O distinto vem assim a ser atualmente, na existência. Porém, do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a unidade verdadeiramente concreta. Um discurso político, no âmbito da consciência, tem uma estrutura e finalidade diferente do discurso econômico, mas pode operar no nível da análise econômica produzindo efeitos sociais específicos em termos de persuasão. A Fenomenologia é a representação da história concreta da consciência, sua saída da caverna e ascensão como procedimento da Ciência. Daí a analogia que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este vir-a-ser é necessário, como força irresistível que se manifesta per se através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Ipso facto quando Hegel afirma sobre a filosofia em geral, que “a coruja de Minerva só levanta voo ao anoitecer” (“die Eule der Minerva beginnt erst mit der einbrechenden Dämmerung ihren Flug”), ele quer dizer que vale somente para uma filosofia da história

É verdadeiro para a concepção científica de história e que, além disso, corresponde à weltanschauung dos historiadores que têm como seu trabalho (ofício) descrever metodologicamente a história real. Hegel dizia que a verdade é o todo. Que se não enxergamos o todo, podemos atribuir valores exagerados a verdades limitadas, prejudicando a compreensão de uma verdade geral. Essa visão é sempre provisória, nunca alcança uma etapa definitiva e acabada, caso contrário a dialética estaria negando a si própria. O método dialético nos incita a revermos o passado, à luz do que está acontecendo no presente, ele questiona o presente em nome do futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é”. Para Hegel, o trabalho é o conceito chave para compreensão da superação da dialética, atribuindo o verbo suspender (com três significados): negação de uma determinada realidade, conservação de algo essencial dessa realidade e elevação a um nível superior. A filosofia descreve a realidade e a reflete, a dialética busca, não interpretar, mas refletir acerca da realidade. A dialética é a história das contradições. Aufheben significa supressão (ou, suprassunção) e ao mesmo tempo manutenção da coisa suprimida. O reprimido ou negado permanece dentro da totalidade. Hegel, um dos filósofos que mais tratou da concepção dialética, esta contradição não é apenas do pensamento, mas da realidade. Então, tudo está em processo de constante devir.  

Assim, Hegel não é um idealista platônico para quem as Ideias constituem um campo ontológico superior à realidade material: elas formam um campo pré-ontológico das sombras. Esta é a tese defendida com sabedoria no ensaio de Slavoj Žižek: “Less Than Nothing”... (cf. Žižek 2013: 310 e ss.). Para ele, o espírito tem a natureza como seu pressuposto e é simultaneamente a verdade da natureza e, como tal, o “absolutamente primeiro”; a natureza, portanto, “desvanece” em sua verdade, é “suprassumida” (aufgehoben) na identidade-de-si do espírito: Essa identidade, afirma Hegel na Lógica: “é a negatividade absoluta, porque o conceito tem na natureza sua objetividade externa consumada, porém essa sua extrusão é suprassumida, e o conceito tornou-se nela idêntico a si mesmo. Por isso só é essa identidade enquanto é retomar da natureza”. Note-se a estrutura triádica precisa dessa passagem, ao modo hegeliano mais ortodoxo em sua concepção dialética, todavia exemplar do ponto de vista da irrefutabilidade do conhecimento de apropriação do real: tese, o conceito tem na natureza sua objetividade externa consumada; antítese (“Porém”), essa sua extrusão é suprassumida e, por meio dessa suprassunção, o conceito atinge a identidade-de-si; síntese (“por isso”), ele só é essa identidade enquanto é [preciso] retomar o ser da natureza. É dessa maneira que devemos entender a identidade tendo como representação a negatividade absoluta: a identidade-de-si do espírito surge por sua relação negativa (“suprassunção”) com esses pressupostos naturais, e essa negatividade é absoluta não no sentido que nega a natureza absolutamente, de que a natureza desaparece absolutamente (totalmente) nele, mas no sentido de que a negatividade da suprassunção (Aufhebung) é autorrelativa; em outras palavras, o resultado desse trabalho da negatividade é a identidade-de-si positiva do espírito.

As filmagens do longa-metragem: Quando o Céu se Engana (Good Fortune) estavam previstas para começar em maio de 2023, mas devido a mais uma paralisação na produção no meio do mês, causada pela greve do Sindicato de Roteiristas da América de 2023, as filmagens só iniciaram no final de janeiro de 2024, em Los Angeles, quando Palmer anunciou que havia se juntado ao elenco. A maior parte das filmagens foi concluída antes de abril de 2024, com algumas cenas sendo retomadas posteriormente, após “uma lesão sofrida por Keanu Reeves duas semanas após o início das filmagens”. Good Fortune teve sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 6 de setembro de 2025 e está para ser lançado em Portugal no dia 23 de outubro de 2025 e dia 6 novembro de 2025 no Brasil. O filme recebeu críticas cinematográficas positivas. Gabriel (Keanu Reeves) é um “anjo da guarda de baixo orçamento”. Um dia, ele nota Arj (Aziz Ansari), um homem aparentemente sem sorte que faz “bicos” no trabalho para um socialite rico chamado Jeff (Seth Rogen). Arj atinge o “fundo do poço” ao ter seu carro guinchado do estacionamento de um restaurante Denny`s enquanto dormia em uma cabine. Intervindo em sua situação, Gabriel tenta convencer Arj de que “ser rico como Jeff não resolveria seus problemas”, trocando simbolicamente as vidas dos dois homens. Mas, falhando na demonstração, os problemas de Arj são resolvidos pela riqueza de Jeff, Gabriel “perde suas asas” e é enviado à Terra para viver sua vida, enquanto Arj, em contrapartida, assume o corpo de Jeff. Gabriel se torna colega de quarto do Jeff deslocado, enquanto “o trabalho que ele fazia como anjo começa a desmoronar ao redor deles”.

Heródoto foi um extraordinário historiador e geógrafo grego sucessor dos primeiros que escreveram em prosa sobre a geografia e a história, Anaximandro e seu provável discípulo, Hecateu de Mileto. Foi o autor da história da invasão persa da Grécia, ocorrida no final do século V a.C., reconhecida como As Histórias de Heródoto. Esta obra foi reconhecida como “uma nova forma de literatura pouco depois de ser publicada”. Antes de Heródoto, tinham existido crônicas e épicos, e também estes haviam preservado o conhecimento do passado, mas a maioria deles tratava apenas do passado concentrado em uma cidade ou região. Heródoto foi o primeiro a combinar essas narrativas regionais para elaborar uma narrativa mais ampla sobre os fatos sociais e políticos do passado e a demonstrar como sua pesquisa poderia servir para a compreensão do presente. A sua criação fez com que lhe fosse concedido o título de “pai da história”, pelo orador romano Cícero, embora criticasse o grego no mesmo texto por contar o que chamava de “histórias fabulosas”. A palavra que utilizou para denominar sua obra, historie, que previamente tinha significado não por acaso “pesquisa”, tomou a conotação atualmente de história. Heródoto foi interpretado, desde a Antiguidade, de ter inventado fatos que narra em sua obra e de não ter submetido as informações que recebeu de forma oral a um pretenso exame crítico e de plausibilidade segundo os cânones historiográficos. Mas, o respeito pelo seu rigor tem aumentado desde a última metade do século XX, sendo reconhecido não como pioneiro na história, mas também na geografia, etnografia e antropologia.  

Como acontece com muitos casos de personalidades antigas, os dados disponíveis sobre a vida de Heródoto são poucos e controversos. A fonte mais extensa, a enciclopédia bizantina Suda, do século X, também é a mais distante no tempo, tendo sido escrita cerca de 1.500 anos após a vida do historiador grego, e contém muitas afirmações que não são confirmadas por outras fontes. Sendo pioneiro e porque deveria? A maioria dos estudiosos aceita a tradição de que Heródoto nasceu cerca de 485 a.C. em Halicarnasso (Bodrum, na Turquia), o que significa que ele nasceu após o fim das Guerras Médicas, assunto central de sua obra. Entretanto, quanto a sua cidadania, deve-se entrever que Aristóteles menciona Heródoto como cidadão da colônia de Túrios (In: Retórica, 1402 a 32). Heródoto viajou extensamente pelo Egito, Oriente Médio e Mediterrâneo pesquisando para sua obra, e não existem dúvidas se ele esteve pessoalmente em todos os lugares para os quais afirma que viajou. Depois de uma passagem por Atenas, onde provavelmente fez leituras públicas de trechos de sua obra, Heródoto seguiu com colonos gregos para Túrio, no Sul da Itália, onde teria terminado a redação de seu livro e permanecido até sua morte, embora outras tradições apontem para locais diferentes de morte. Como trechos das Histórias se referem a eventos ocorridos no início da Guerra do Peloponeso (até 425 a.C.), o consenso é que ele estava vivo pelo menos até esse ano. A respeito de sua rede de sociabilidade, é provável que Heródoto manteve alguma amizade com Sófocles.

Sociologicamente Guerras Médicas, Guerras Greco-Persas, Guerras Persas ou Guerras Medas são designações dadas aos conflitos bélicos entre os antigos gregos e o Império Aquemênida durante o século V a.C., de 499 até 449 a.C. A colisão entre o mundo político fragmentado dos gregos (aqueus, jônios, dórios e eólios) e o enorme império dos persas começara pela disputa sobre a Jónia na Ásia Menor, quando as colônias gregas da região, em especial Mileto tentaram livrar-se do domínio persa. Marcam tradicionalmente a transição da era arcaica para a era clássica. Apesar de não ter tido uma extensão considerável - para o Império Aquemênida este conflito inicialmente era bastante periférico - as guerras persas surgem como o ponto de partida da hegemonia ateniense no Mar Egeu, mas também como a consciência de uma certa comunidade de interesses do mundo grego face à Pérsia - ideia retomada, quase dois séculos depois, por Alexandre, o Grande. Esta região da Jônia era colonizada pela Grécia, mas durante a expansão persa em direção ao Ocidente, Ciro, o Grande conquistou-a em 547 a.C. Lutando para governar as cidades independentes jônicas, os persas nomearam tiranos para governar cada uma. Isso provaria ser a fonte de muitos problemas tanto para os gregos quanto para os persas. 

    

Na história social das civilizações todo povo que atinge um certo desenvolvimento sente-se naturalmente inclinada à prática da educação. Ela é o princípio por meio do qual a comunidade humana conserva e transmite a sua peculiaridade tanto física quanto espiritual. Uma educação consciente pode mudar a natureza física do homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior. Mas o espírito conduz progressivamente à descoberta de si mesmo e cria, pelo conhecimento do mundo exterior e interior, formas melhores de existência humana. A natureza do homem, na sua dupla estrutura corpórea e espiritualmente, cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma peculiar e exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto dos quais damos o nome de educação. Nela, a educação, o homem com sua prática social, atua a mesma força vital, criadora e plástica, que espontaneamente impele todas as espécies vivas à conservação e propagação de seu tipo social. É nela, porém, que essa expressão social atinge o mais alto grau de intensidade, através do esforço consciente do conhecimento e da vontade, dirigida para a consecução de um fim. Em nenhuma parte, o influxo da comunidade nos seus membros tem maior força que no constante ato de educar, em conformidade com o próprio sentir, cada nova geração. A estrutura política assenta nas leis e normas escritas e não escritas que a unem e unem os seus membros.

O conceito de sociedade está fundamentalmente ligado aos fatores territoriais, culturais, políticos e históricos que unem os seus indivíduos. Toda geração é assim o resultado da consciência viva de uma norma que rege uma comunidade humana, quer se trate da família, de uma classe social ou de uma profissão, quer se trate de um agregado mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado. A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento depende da consciência dos valões que regem a vida, a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valões válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação. Da dissolução e destruição das normas advém a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade absoluta de qualquer ação educativa. Acontece isto quando a tradição é violentamente destruída ou sofre decadência interna. Fora de dúvida, a estabilidade não é o indício seguro de saúde, porque reina também nos estados de rigidez senil, nos momentos finais de uma cultura: sucede na China confucionista pré-revolucionária, nos últimos tempos da Antiguidade, nos derradeiros dias dos Judaísmo, em certos períodos da história da Igrejas, d arte e das escolas científicas. Segundo Jaeger (2011), é monstruosa a impressão gerada pela fixidez quase intemporal da história do antigo Egito, através de milênios; mas também entre os Romanos e a estabilidade histórica comunal das relações sociais e políticas foi considerada como o valor mais alto e apenas se concedeu justificação limitada aos anseios e ideais inovadores. O Helenismo ocupa uma posição singular na história.

Termópilas é um desfiladeiro localizado na Grécia Central que serviu de lugar praticado para a violenta batalha entre persas e espartanos. O conflito foi provocado pelo anseio do persa Xerxes de dominar o território e o povo espartano, o que foi negado pelo rei e general de Esparta de 491 a. C até a data de sua morte em 480 a.C. durante a batalha de Termópilas. Uma de suas ações mais importantes se deu por ocasião da invasão da Grécia pelos persas, em 481 a.C. Defendendo o desfiladeiro das Termópilas, que une a Tessália à Beócia, Leónidas e uma tropa de aproximadamente 7000 homens, sendo que apenas 300 eram espartanos, conseguiram repelir os ataques iniciais. Mas Xerxes I, rei da Pérsia, foi auxiliado pelo pastor Efialtes que o conduziu por um caminho que contornava o desfiladeiro, e pôde cercar o exército de Leónidas. Restavam apenas 300 espartanos e pouco mais de 1000 soldados tespienses e tebanos, que decidiram resistir lutando até a morte. Em 462 a.C. Efialtes foi responsável pela reforma do Areópago, controlado pela aristocracia, limitando o seu poder para julgar apenas os casos de homicídio e os crimes religiosos. Antes do século V a. C., o Areópago representava o conselho dos anciãos relativamente semelhante ao Senado romano. A origem do nome não é clara.

Etimologicamente em grego antigo, πάγος pagos significa “grande pedaço de rocha”. Areios poderia ter vindo de “Ares” ou do “Erinyes”, pois em seu pé foi erguido um templo dedicado às Erínias onde os que eram considerados assassinos costumavam encontrar abrigo para não enfrentar as consequências de seus atos criminosos. Mais tarde, o Romanos referido à colina rochosa como “Mars Hill”, após Marte, a versão romana do deus grego da guerra. Perto do Areópago também foi construída a basílica de Areopagitas Dionísio. Comparativamente sua composição era restrita aos que pelo status ocuparam cargos públicos importantes, neste caso o de Arconte. Em 594 a. C, o Areópago concordou em transferir suas funções para Solon para reforma. Ele instituiu reformas democráticas, reconstituiu seus membros e devolveu o controle à organização. Sob as reformas de Clístenes promulgadas em 508/507 a. C, o Boule (βουλή) ou conselho, foi expandido de 400 para 500 homens, e foi formado por 50 homens de cada um dos dez clãs ou phylai (φυλαί). Em 462 a. C., Efialtes passou por reformas que privaram o Areópago de quase todas as suas funções, exceto a de um tribunal de homicídio em favor de Heliaia, o tribunal supremo da Atenas antiga. A opinião generalizada entre os acadêmicos é de que a origem de seu nome é o verbo Ήλιάζεσθαι, que significa συναθροίζεσθαι, “congregar”. Esta medida foi impopular entre os aristocratas e levou ao seu assassinato em 461 a. C.

A investigação moderna abriu imensamente o horizonte da história. A oikoumene dos Gregos e Romanos clássicos, que durante dois mil anos coincidiu com os limites do mundo, foi rasgada em todos os sentidos do espaço e perante o nosso olhar surgiram mundos espirituais até então insuspeitados. Quando deixa de ser um povo particular e nos inscreve como membros num vasto círculos de povos, começa a aparição dos Gregos. Foi por essa razão que a esse grupo de povos Jaeger (2011) designou de helenocêntrico. É este o motivo porque, no decurso de nossa história, voltamos constantemente à Grécia. Este retorno e renovação de sua influência não significa que lhe tenhamos conferido, pela sua grandeza espiritual, uma autoridade imutável, fixa e independente do nosso destino. O fundamento de nosso regresso reside nas próprias necessidades vitais, por mais variadas que elas sejam através da História. É claro que, para nós e para cada um dos povos deste círculo, a Grécia e Roma aparecem como algo de radicalmente estranho. Esta separação analítica funda-se em parte no sangue e no sentimento, em parte na estrutura do espírito e das instituições, e ainda na diferença da respectiva situação histórica; mas entre esta separação e a que sentimos ante os povos orientais, distintos pela sua raça e pelo espírito, a diferença é gigantesca. Não se trata inclusive de um sentimento apenas de parentesco racial. É preciso distinguir a história nesse sentido quase antropológico da história que se fundamenta na união espiritual viva e ativa e na comunidade de um destino, quer seja o do próprio povo, quer o de um grupo de povos estreitamente unidos.

Só nesta particularidade histórica se tem uma íntima compreensão e contato criador entre uns e outros. Só nela existe uma comunidade de ideais e de formas espirituais que se desenvolvem e crescem independentes das múltiplas interrupções e mudanças através das quais varia, se cruza, choca, desaparece e se renova uma família de povos diversos na genealogia.   Esta comunidade existe na totalidade dos povos ocidentais e entre estes e a Antiguidade clássica. Se considerarmos a história nesse sentido profundo, no sentido de uma comunidade radical, não poderemos supor-lhe como cenário o planeta inteiro e, por mais que alarguemos os nossos horizontes geográficos, as fronteiras dessa história jamais poderão ultrapassar a antiguidade daqueles que há vários milênios traçaram seu destino. Não é possível dizer até quando a Humanidade continuará a crescer na unidade de sentido que tal destino lhe assinala, pois o objetivo teórico e histórico de Werner Jaeger é apresentar a formação do homem grego, a Paidéia, no seu caráter particular e no seu desenvolvimento histórico. Não se trata de um conjunto de ideias abstratas em sua generalidade, mas da própria história da Grécia na realidade concreta do seu destino vital. Contudo, essa história vivida já teria desaparecido há longo tempo se o homem grego não a tivesse criado na sua forma perene. A ideia de educação representava para ele o sentido de todo o esforço humano. Era a justificação última da comunidade e individualidade humana. Mesmo os imponentes monumentos da Grécia arcaica são perfeitamente inteligíveis a esta “luz”, ou descobrimento, pois, foram criados no mesmo espírito que os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora, isto é, “em relação aos outros povos da Antiguidade de que foram herdeiros”. Augusto concebeu a missão do Império Romano em função da ideia da cultura grega. Sem a concepção grega da cultura não teria existido a Antiguidade como unidade histórica e mundo ocidental global.

   

É indiscutível que foi a partir do momento em que os gregos situaram o problema da individualidade no cimo de seu desenvolvimento filosófico que principiou a história da personalidade europeia. Roma e o Cristianismo agiram sobre ela. E da inserção desses fatores brotou o fenômeno do Eu individualizado. Mas não podemos entender de modo radical e preciso a posição do espírito grego na história da formação dos homens, se tomarmos um ponto de vista moderno. Vale mais partir, segundo Jaeger, da constituição rácica do espírito grego. A vivacidade espontânea, a sutil mobilidade, a íntima liberdade que, embora tenham parecido condições do rápido desabrochar daquele povo na inesgotável riqueza de formas que nos surpreende e espanta ao contato com os escritores gregos de todos os tempos, dos mais primitivos aos mais modernos, não tem as suas raízes no cultivo da subjetividade, como atualmente acontece; pertencem à sua natureza. Os gregos tiveram o sendo inato do que significa natureza. Sendo o conceito elaborado por eles em primeira mão, tem indubitável origem na sua constituição espiritual. Muito antes de o espírito grego ter delineado essa ideia, eles já consideravam as coisas do mundo numa perspectiva tal que nenhuma delas lhes aparecia como parte isolada do resto, mas sempre como um todo ordenado em conexão viva, na e pela qual tudo ganhava posição e sentido. Esta concepção é orgânica, porque nela as partes são consideradas membros de um todo. Sua tendência é clara de apreensão das leis do real.

O estilo e a visão artística entre eles surgem, em primeiro lugar, como talento estético. Assentam num instinto e num simples ato de visão, não na deliberada transferência de uma ideia para o reino da criação artística. A idealização da arte, no entanto, só mais tarde aparece, no período clássico. Até na oratória grega encontramos os mesmos princípios formais que vemos analogamente na cultura ou na arquitetura. As formas literárias dos gregos surgem organicamente, na sua multíplice variedade e elaborada estrutura, das formas naturais e ingênuas pelas quais o homem exprime a sua vida, elevando-se daí à esfera ideal da arte e do estilo. Também na oratória, a sua aptidão para dar forma a um plano complexo e lucidamente articulado deriva simplesmente do sentido espontâneo e madurecido das leis que governam o sentimento, o pensamento e a linguagem, o lugar onde esta ideia reaparece mais tarde na história, ela é uma herança dos gregos, e aparece sempre que o espírito humano abandona a ideia de um adestramento em função de fins exteriores e reflete na essência a própria educação. O fato de os gregos terem sentido esta tarefa como algo grandioso e difícil e se terem consagrado a ela com ímpeto sem igual não se explica nem pela sua visão artística nem pelo espírito teórico.

Desde as primeiras notícias que se disseminam na história da filosofia e que se têm deles, encontramos o homem no centro do seu pensamento. A forma humana dos seus deuses, o predomínio evidente do problema da forma humana na sua escultura e na sua pintura, o movimento consequente da filosofia desde o problema do cosmos até o problema do homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua poesia, cujo tema inesgotável desde Homero até os últimos séculos é o homem e o seu duro destino no sentido pleno da palavra; e, finalmente, o Estado grego, cuja essência só pode ser correspondida sob o ponto de vista da formação do homem e da sua vida inteira: o grego é o antropoplástico. Tudo são raios de uma única e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que não pode ser explicado nem derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas as formas do espírito grego. Assim, impossível não admitir que, entre os povos, a língua de Homero é, naturalmente, um problema em si. Mas adverte: trata-se de uma língua que ninguém nunca falou, afirma Knox (2014). É uma língua artificial, poética – como propõe o estudioso alemão Witte, “a língua dos poemas homéricos é uma criação de versos épicos”. Era também uma língua difícil. Para os gregos da era dourada, o século V a. C., no qual inevitavelmente pensamos quando dizemos “os gregos”, o idioma de Homero estava longe de ser claro e era repleto de arcaísmos, no vocabulário, na sintaxe e na gramática, e incongruências: palavras e formas extraídas de diferentes dialetos e estágios distintos de desenvolvimento da língua. Na realidade, ninguém nem sonharia em empregar a linguagem de Homero, à exceção dos bardos épicos, sacerdotes oraculares e parodistas eruditos. Isso não significa que Homero fosse um poeta conhecido apenas de eruditos e estudantes; pelo contrário, os épicos homéricos eram familiares como as palavras do cotidiano na boca dos gregos comuns.                      

Conservaram sua influência na língua e na imaginação dos gregos por sua excelente qualidade literária – a simplicidade, rapidez e objetividade da técnica narrativa, a genialidade e emoção, a grandeza e a tocante humanidade dos personagens – e por conceder aos gregos, de forma memorável, imagens de seus deuses e do saber ético, político e prático de sua tradição cultural. As maiores obras do helenismo são monumentos de uma concepção do Estado de grandiosidade sem par, cuja cadeia se desenrola numa série ininterrupta, desde a idade heroica de Homero até o Estado autoritário de Platão, dominado pelos filósofos, e no qual o indivíduo e a comunidade social travam a sua última batalha no tereno da filosofia. Todo o futuro humanismo deve estar essencialmente orientado para o fato fundamental de toda a educação grega, a saber: que a humanidade, o “ser do Homem” se encontravam essencialmente vinculado às características do homem como ser político. O fato de os homens mais importantes da Grécia se considerarem sempre a serviço da comunidade é índice da íntima conexão que com ela tem a vida espiritual criadora. No entanto, os grandes homens da Grécia não se manifestam como profetas de Deus, mas antes como mestres independentes do povo e formadores dos seus ideais. Mas por mais pessoal que esta obra do espírito seja, na sua forma e nos seus propósitos, é considerada pelos seus autores, com vigor infatigável, uma função social. A trindade grega do poeta, do homem de Estado e do sábio encarna a mais alta direção da nação. É a íntima representação da liberdade abstrata, a qual se sente vinculada por conhecimento, e até pela mais alta lei divina, a serviço da totalidade, que se desenvolveu o gênio criador dos gregos até chegar à sua plenitude educadora, acima do virtuosismo intelectual e artístico da moderna civilização individualista.

Seria necessário escrever uma história da arte grega que essente como espelho dos ideais que dominam a sua vida. Também se deve dizer que até o século IV a arte grega é fundamentalmente a expressão do espírito da comunidade. Não é possível compreender o ideal agônico, revelado nos cantos pindáricos aos vencedores, sem conhecer as estátuas que nos mostram os vencedores olímpicos na sua encarnação corporal, ou as dos deuses, como encarnação das ideias gregas sobre a dignidade da alma e do corpo humanos. O templo dórico é sem dúvida, o mais grandioso monumento que deixou à posteridade o gênio dórico e o seu ideal de estrita subordinação do individual à totalidade. Habita nele a força poderosa que torna historicamente atual a vida de outrora que ele eterniza, e a fé religiosa que o inspirou. Sem dúvida, os verdadeiros representantes da Paidéia grega não são os artistas mudos – escultores, pintores, arquitetos -, mas os poetas e os músicos, os filósofos, os retóricos e os oradores, quer dizer, os homens de Estado. No pensamento grego, o legislador encontra-se, em certo aspecto, muito mais próximo do poeta que o artista plástico: é que ambos têm uma missão educadora, e só o escultor que forma o homem vivo tem direito a esse título. Assim, a história da educação grega, para o que nos interessa, coincide substancialmente com a da literatura. Esta é, no sentido originário que lhe deram os seus criadores, a expressão do processo de autoformação do homem grego. Independentemente disto, importa-nos saber não possuímos nenhuma tradição escrita dos séculos anteriores à idade clássica além do que nos resta dos seus poemas. Assim, mesmo tomando a história no seu mais amplo sentido, uma só coisa nos torna acessível a compreensão daquele período: a evolução e a formação do homem na poesia e na arte.

A história determinou que só isso ficasse da essência inteira do homem. Não podemos traçar o processo de formação dos gregos daquele tempo senão a partir do ideal de homem que precisamente formaram. Uma achega de nossa parte sociologicamente se torna supérflua segundo esse aspecto, em que conceito e objeto, o padrão de medida e o que deve ser testado estão presentes na consciência mesma. Aliás, somos também poupados da fadiga da comparação entre os dois, conceito e objeto, e do exame propriamente dito. Assim já que para Friedrich Hegel em sua Fenomenologia (2007), a consciência se examina a si mesma, também sob esse aspecto, só nos resta o puro observar. A consciência, por um lado, é consciência do objeto; por outro lado, a consciência de si mesma é consciência do que é verdadeiro para ela, e consciência de seu saber da verdade. Enquanto ambos são para a consciência, ela mesma é sua comparação: é para ela mesma que seu saber do objeto corresponde ou não a esse objeto. O objeto parece, de fato, para a consciência, ser somente tal como ela o conhece. Parece também que a consciência não pode chegar por detrás do objeto, como ele é, não para ela, mas como é em si; e que, portanto, também não pode examinar seu saber no objeto. Mas justamente porque a consciência sabe em geral sobre um objeto, já está dada a distinção entre [um momento de] algo que é, para a consciência, o Em-si, e um outro momento que é o saber ou o ser do objeto para a consciência. O exame se baseia sobre essa distinção que é uma distinção dada. Caso os dois momentos não se correspondam nessa comparação, parece que a consciência deva então mudar o seu saber para adequá-lo ao objeto. Porém, na mudança de saber, de fato se muda também para ele o objeto, pois o saber presente era essencialmente um saber do objeto; junto com o saber, o objeto de pensamento se torna também um outro, pois pertencia essencialmente esse saber.

Com isso, vem-a-ser para a consciência: o que antes era o Em-si não é em si, ou seja, só era em si para ela. Quando descobre a consciência em seu objeto que o seu saber não lhe corresponde, tampouco o objeto se mantém firme. No entanto, há muita coisa ainda em jogo, se bem atendemos, no puro ser que constitui a essência dessa certeza, e que ela enuncia como sua verdade. Uma certeza sensível efetiva não é apenas essa pura imediatez, mas é um exemplo da mesma. Entre as diferenças sem conta que ali se evidenciam, achamos em toda parte a diferença-capital, a saber: que nessa certeza ressaltam logo para fora do puro ser os dois estes para o que nos interessa, um este, como Eu, e um este como objeto. Para nós, refletindo essa diferença, resulta que tanto um como o outro não estão na certeza sensível apenas de modo imediato, mas estão, ao mesmo tempo, mediatizados. Eu tenho a certeza por meio de um outro, a saber: da Coisa; e essa está igualmente na certeza mediante um outro, a saber, mediante o Eu. Essa diferença entre a essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, um momento é posto como o essente simples e imediato, ou como a essência: o objeto. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é em-si, mas por meio de um Outro: o Eu, um saber que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo reconhecido – enquanto o saber não é, se o objeto de pensamento não é plenamente conhecido. O objeto deve ser examinado, a ver se é de fato, na certeza sensível mesma, aquela essência que ela lhe atribui; e esse seu conceito, de ser uma essência, corresponde ao modo como se encontra na certeza sensível. Consiste numa crítica analítica ao saber imediato, sendo o seu ponto de partida aquele momento em que a consciência mais ingênua se torna capaz de distinguir entre si mesma e seu objeto.

Em 499 a.C., o tirano de Mileto, Aristágoras, embarcou em uma expedição para conquistar a ilha de Naxos com o apoio dos persas. Fracassando no seu intento, e antecipando a sua remoção do cargo, Aristágoras incitou toda a Ásia Menor helênica a entrar em rebelião contra os persas. As colônias, lideradas por Mileto e contando com a ajuda de Atenas e Erétria, promoveram uma revolta, dando início à revolta jónica, que duraria até 493 a.C., e progressivamente atraindo mais regiões para o conflito. Essas revoltas levaram o xá Aquemênida Dario, o Grande, a lançar seu poderoso exército sobre a Grécia continental, dando início às Guerras Médicas. O que estava em jogo era o controle do comércio marítimo na região. Aplacando a insurreição e buscando assegurar a integridade de seu império de novas revoltas e da interferência dos gregos continentais, Dario esquematizou uma expedição punitiva à Grécia continental. A primeira invasão persa da Grécia começou em 492 a.C., com o general persa Mardônio subjugando a Trácia e a Macedônia antes que vários contratempos o obrigassem a pôr um fim prematuro ao resto da campanha. Em 490 a.C., uma segunda força foi enviada para a Grécia, desta vez pelo interior do Mar Egeu, sob o comando de Dátis e Artafernes. Essa expedição agrilhoou as Cíclades e arrasou Erétria. Contudo, a caminho para atacar Atenas, as tropas persas, de mais de vinte mil homens, embora como alguns autores falam em 50 mil, outros em 250 mil, não se sabe precisamente o efetivo persa, foram decisivamente rechaçadas por cerca de dez mil gregos chefiados pelo ateniense Milcíades, na Batalha de Maratona. Em 480 a.C., dez anos depois, Xerxes I, filho de Dario, comandou pessoalmente a segunda invasão com um dos maiores exércitos antigos já reunidos. Algumas cidades gregas, lideradas por Atenas e Esparta, formaram uma coalização para enfrentar o invasor.

Outras, como Tebas, submeteram-se aos persas. Inicialmente, os persas venceram os gregos na Batalha das Termópilas e na Batalha de Artemísio, permitindo-os invadir a maior parte da Hélade e incendiar Atenas. A frota ateniense, porém, comandada por Temístocles, conseguiu destruir a frota persa na Batalha de Salamina e mudou o rumo da guerra. No ano seguinte, comandado pelo espartano Pausânias, a confederação helênica entrou na ofensiva, derrotando decisivamente o exército persa na Batalha de Plateias e pondo fim à invasão. Os gregos aliados abateram o resto da marinha de guerra Aquemênida na Batalha de Mícale e expulsaram as guarnições pérsicas de Sestos (479 a.C.) e Bizâncio (478 a.C.). Após a retirada persa da Europa e da vitória grega em Mícale, a Macedônia e os estados da cidade da Jónia recuperaram sua autonomia. Com o decorrer do tempo e das ações do general Pausânias no cerco de Bizâncio, muitas das cidades-Estado gregas reconstituíram a aliança anti-persa em torno da liderança ateniense, denominada de Liga de Delos. Esta continuou com a série de operações militares contra a Pérsia pelas próximas três décadas, começando com a expulsão das guarnições adversárias restantes no continente europeu. Na Batalha do Eurimedonte, em 466 a.C., a Liga ganhou uma dupla vitória à qual finalmente garantiu a liberdade para provavelmente todas as cidades jônicas. No entanto, o seu envolvimento na revolta egípcia por Inaro II contra Artaxerxes I resultou em uma derrota desastrosa, e consequentemente novas campanhas foram suspensas. Uma frota grega foi enviada para Chipre em 451 a.C., mas pouco foi conquistado, e, quando esta se retirou, as guerras greco-persas chegaram ao fim. Algumas fontes históricas sugerem que o fim das hostilidades foi marcado por um tratado de paz entre Atenas e o Império Aquemênida: a chamada Paz de Cálias.

A maioria das tradições, mutatis mutandis, coloca sua data de morte como em torno de 420 a.C., mas a historiadora Elisabeth Irwin (1880-1942) sustenta, a partir de indícios extraídos da própria obra de Heródoto, que ele teria visto o fim da Guerra do Peloponeso, em 404 a.C., e incorporado essa informação em sua obra. Provavelmente escritas durante um longo espaço de tempo, as Histórias foram posteriormente divididas em 9 livros, intitulados com os nomes das musas, por eruditos do período helenístico. Félix Jacoby (1876-1959) estabeleceu como datas limitantes para a publicação de Histórias entre 430 e 424 a. C (cf. Griechische Historiker, 1956). É possível perceber vários trechos de sua obra que podem ser lidos de maneira isolada, provavelmente marcadores para a realização de leituras públicas, a maneira mais comum de se “ler” um livro na época de Heródoto. Histórias de Heródoto apresenta em seu aspecto estilístico e narratológico uma evolução na prosa pois ele ao lado de se guiar pela retórica comum para tal gênero de texto, o que requereria a mimesis da personagem para presentificar a ação, ele também coloca a sua própria pessoa em discurso de diálogo direto com o leitor/ouvinte, referindo a si próprio como testemunho da história. As muitas referências aos costumes, histórias e fábulas de outros povos realizadas nas Histórias são resultado de extensas viagens realizadas por Heródoto, desde a sua juventude. Chama atenção a importância que ele dava sobretudo às fontes orais, confirmando sua perspicácia, ao contrário da tradição posterior da historiografia, que seria de dar “maior importância às fontes escritas”. Embora haja dúvidas se Heródoto realmente chegou a conhecer todos os países que menciona na sua obra, pelo menos em relação ao Egito, à antiga Fenícia, Pérsia e talvez até à cidade da Babilônia, os indícios são de que ele realmente os visitou.

Bibliografia Geral Consultada.

HARTOG, François, O Espelho de Heródoto. Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, 1999; MUNSON, Rosaria Vignolo, Telling Wonders: Ethnographic and Political Discourse in the Work of Herodotus. Michigan: University of Michigan Press, 2001; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; JAEGER, Werner, Paidéia: A Formação do Homem Grego. 5ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010; LOBOSQUE, Ana Marta, A Vontade Livre em Nietzsche. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2010; ZIZEK, Slavoj, Less Than Nothing: Hegel and the Shadow of Dialectical Materialism. Estados Unidos: Editora Verso, 2013; KNOX, Robert, A Critical Examination of the Concept of Imperialism in Marxist and Third World Approaches to International Law. Tese de Doutorado em Filosofia. Londres: The London School of Economics and Political Science, 2014; ASSUMPÇÃO, Luis Filipe Bantim, Discurso e Representação sobre as Práticas Rituais dos Esparciatas e dos seus Basileus na Lacedemônia do Século V a. C. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014; MOURÃO, Patrícia, A Invenção de uma Tradição: Caminhos da Autobiografia no Cinema Experimental. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016; SILVA, Ricardo Barbosa da, Culto à Guerra: Uma Abordagem Historiográfica do Militarismo na Esparta Clássica. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Instituto de Ciências Humanas. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2017; BARROS, Eudenia Magalhães, Contingências da Vida: Sobre Corpos Transformados em um Mundo Feito para Capacitados. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Centro de Humanidades. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2021; BARON, Christopher (Ed.), The Herodotus Encyclopedia. Hoboken (NJ): Editor John Wiley & Sons, 2021, 3vols; ABRAMOVITCH, Seth, “Why Aziz Ansari, Keanu Reeves and Seth Rogen Are Praying for a Little Good Fortune”. In: The Hollywood Reporter, 3 de setembro de 2025; entre outros.

sábado, 6 de dezembro de 2025

Fim de Semana em Taipei – Livro-razão, Cinema & Paradoxos da Cidade.

             Ser sensível é uma coisa e sensato é outra. Uma tem a ver com a alma, a outra com a razão. Denis Diderot                                

                   

           A trama de Fim de Semana em Taipei (2024) gira em torno de um agente americano da DEA (Evans) que se reencontra a motorista mercenária de Taipei (Gwei) e se envolve afetivamente com ela. Weekend in Taipei teve sua estreia mundial no Vieshow Cinemas Xinyi em Taipei, Taiwan, em 1º de setembro de 2024, e foi lançado na França e em Taiwan em 25 de setembro de 2024. O filme recebeu críticas mistas, que elogiaram as sequências ágeis de ação e as performances, mas criticaram “o roteiro e o desenvolvimento dos personagens”. John Lawlor, um agente da DEA que se disfarça em um restaurante chinês em Minneapolis, a cidade mais populosa de Minnesota, nos Estados Unidos, e a sede do condado de Hennepin. Conhecida como parte das Cidades Gemelas (junto com Saint Paul), é uma região rica em cultura e natureza, com destaque para o sistema de lagos e parques, a cena musical e o cenário artístico e de teatro, isto é, para reunir evidências de tráfico de drogas por um bilionário e comerciante de frutos do mar disfarçado chamado Kwang, quebrar o disfarce devido ao seu colega, tornando meio ano de seu trabalho secreto em vão.  No entanto, ele recebe um e-mail de um informante anônimo em Taipei que afirma possuir o livro-razão da Kwang Enterprises. John informa seu supervisor, mas a alegação é descartada como uma farsa, e o pedido de John para seguir a pista é rejeitado, com seu supervisor até mesmo forçando-o a tirar uma licença de fim de semana para mantê-lo longe do caso. Implacável, John decide viajar para Taipei durante esse período com uma identidade falsa. Enquanto isso, em Taipei, Kwang descobre que seu filho adotivo, Raymond, é o informante que roubou seu livro-razão. Ximending é um bairro e distrito comercial no distrito de Wanhua, em Taipei, Taiwan. A área de pedestres de Ximending foi a primeira zona  construída em Taipei e a maior de Taiwan. Ximending se tornou uma rua de teatro bem conhecida em Taipei na década de 1930 e cresceu ainda mais próspera após a derrota do Japão, tornando-se muito mais popular na década seguinte. 

Em um ponto, a Wuchang St Section 1 tinha mais de dez teatros. No entanto, na década de 1990, conforme a cidade de Taipei se desenvolveu em direção ao Distrito Leste e se afastou de Ximending, ela começou a perder negócios. Em 1999, o governo da cidade e as lojas locais estabeleceram Ximending como uma área de pedestres, proibindo a entrada de veículos nos fins de semana e feriados nacionais, uma mudança que atraiu jovens consumidores e trouxe de volta os negócios. Hoje, Ximending tem mais de vinte teatros e seis mil vendedores, e é uma área popular para pequenos shows, lançamentos de álbuns e apresentações de rua. Também é o lar dos Red Envelope Clubs, criados na década de 1960.  Devido à sua história social, cultural e política, Ximending abriga diversos locais históricos. O Templo Ximending Mazu é um dos templos históricos mais importantes e proeminentes. Originalmente inaugurado como um mercado, o Teatro Red House é outro edifício de destaque. O homônimo Portão Oeste e as Muralhas de Taipé foram demolidos em 1905. O Mercado Chunghwa costumava se estender até esta área, mas foi demolido em 1992. Economicamente Ximending atrai uma média de mais de 3 milhões de compradores/consumidores por mês. Vendedores individuais se reúnem nas ruas, bem como nos grandes edifícios comerciais, como a Loja de Departamentos Wannien e a Praça Shizilin, durante o dia, e a Loja de Departamentos Wanguo e a Eslite 116 mais tarde à noite. A localização central de Ximending em Taipei o torna facilmente acessível, cobrindo a área Noroeste da Estação Ximen do Metrô de Taipei. Como muitas linhas de ônibus se concentram na Rua Zhonghua, Ximending também é uma área importante para baldeações. Ximending também é acessível pela saída 6 da Estação Ximen do Metrô de Taipei (Linha Bannan e Linha Songshan-Xindian). Ximending tem uma taxa de criminalidade mais alta em comparação com o resto da cidade, com relatos de brigas violentas e prostituição. Em resposta, a área também está sujeita a mais policiamento.

Taiwan é uma pequena ilha com cerca de 23 milhões de habitantes que funciona como uma democracia semipresidencialista. Localizada a 180 km da China, a ilha luta para que permaneça independente e não seja reconhecida como parte do território chinês. Para garantir sua soberania contra um dos maiores impérios do mundo, Taiwan apostou na tecnologia e desenvolveu o Escudo de Silício, uma estratégia que evita o ataque dos vizinhos chineses. O termo foi criado por Craig Addison, um jornalista que escreve para o veículo jornalístico The South China Morning Post. O profissional lançou o livro Silicon Shield: Taiwan's Protection Against Chinese Attack e deu uma entrevista à British Broadcasting Corporation (BBC) falando sobre o tema. O primeiro esclarecimento que o jornalista fez é que Taiwan não possui um “escudo de verdade”, como ocorre igualmente com os antimísseis que Israel utiliza para evitar ataques aéreos sobre o confronto armado da Palestina. A terminologia funciona como uma estratégia da ilha, que é líder mundial na fabricação de chips semicondutores. Os produtos, que são essenciais na fabricação de celulares, computadores, videogames e carros, são geralmente feitos de silício e acabam sustentando parte da economia moderna. Um ataque chinês ao país poderia, portanto, afetar a produção dos chips e causar um estrago não só na economia chinesa, mas mundial. - O escudo de silício é semelhante ao conceito de MAD (“Destruição Mútua Assegurada”) que teve progênie na Guerra Fria, um período de tensão político-ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética, que durou de 1947 a 1991, sem um confronto entre as potências, porque qualquer ação militar no estreito de Taiwan seria tão prejudicial para a China quanto para Taiwan e os Estados Unidos da América.

                            


De modo que, com efeito, evita o início do conflito e protege o pequeno território de um ataque militar ordenado por Pequim, explicou Addison. A Terceira Crise do Estreito de Taiwan (1996) representou o resultado de uma série de testes com mísseis realizados pela República Popular da China em águas circundantes de Taiwan - incluindo o Estreito de Taiwan - entre 21 de julho de 1995 a 23 de março de 1996. O primeiro conjunto de mísseis, disparados de meados ao final de 1995, teriam sido destinados a enviar um sinal forte ao governo da República da China sob Lee Teng-hui, que era visto como pertencente ao movimento propagandista de uma política externa distante da Política de Uma China e pró-Independência de Taiwan. O segundo conjunto de mísseis foram disparados no início de 1996, com a intenção deliberada de intimidar o eleitorado de Taiwan na corrida para a eleição presidencial de 1996. O Exército de Libertação Popular também foi mobilizado na província de Fujian, que realiza manobras navais de 15 a 25 agosto de 1995. Em resposta, os Estados Unidos da América enviaram uma frota militar na Ásia, a maior desde a Guerra do Vietnã, também reconhecido como Segunda Guerra da Indochina, chamada no Vietnã de Guerra de Resistência contra a América ou Guerra Americana, foi um grande conflito armado que aconteceu no Vietnã, Laos e Camboja de 1º de novembro de 1955 até a queda de Saigon em 30 de abril de 1975. Foi a segunda das Guerras da Indochina e foi travada entre o Vietnã do Norte e o governo do Vietnã do Sul.

O exército norte-vietnamita era apoiado pelas repúblicas da União Soviética, China e aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas eram apoiados pelos Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Tailândia, e outras nações anticomunistas. O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que serviu como o 42º presidente do país por dois mandatos, entre 1993 e 2001, também ordenou que outros navios fossem implantados na região em março de 1996. O Japão atuou não só como estímulo econômico, mas também como exemplo. A imensa e ininterrupta expansão da economia japonesa foi decisiva para criar um dinâmico mercado em toda a área circundante do Pacífico. O crescimento mais marcante foi o apresentado pela Coreia do Sul, que a partir dali começou a ser conhecido como o “Milagre do rio Han”. Na década de 1960, o país era um dos mais pobres países da região, com menor desenvolvimento. Da década de 1980 até o presente, a Coreia do Sul se transformou em um país desenvolvido, com renda alta e elevados valores de IDH, uma medida média das conquistas de desenvolvimento humano básico em um país e do PIB per capita. O progresso de Taiwan seguiu o mesmo rumo. No final da década de 1990, as exportações chegavam a 202% do Produto Nacional Bruto em Singapura e a 132% em Hong Kong. O índice de crescimento era alto nos tigres, e, a despeito da crise asiática, a população tinha alto nível de alfabetização e a economia girava em torno da sólida base da construção naval, produtos têxteis, petroquímicos e equipamentos elétricos. O crescimento mais notável ocorreu principalmente na economia usurária de entrepostos.

O termo discurso pode também ser definido sociologicamente do ponto de vista lógico da análise política. Quando pretendemos significar algo a outro é porque temos a intenção de lhe transmitir um conjunto de informações coerentes - essa coerência é uma condição essencial para que o discurso seja entendido. São as mesmas regras gramaticais utilizadas para dar uma estrutura real compreensível ao discurso que simultaneamente funcionam com regras lógicas para estruturar o pensamento. Um discurso político, comparativamente, tem uma estrutura social e finalidade muito diferente do discurso econômico, mas politicamente pode operar a dimensão econômica produzindo efeitos sociais específicos em termos de persuasão. Os economistas assumiram que o estudo das ações econômicas do homem poderia ser feito abstraindo-se as outras dimensões culturais do comportamento humano: dimensões morais, éticas, religiosas, políticas, etc., e concentraram seu interesse naquilo que eles identificaram como as duas funções sociais elementares exercidas por todo e qualquer indivíduo: o consumo e a produção. O chamado homo economicus nada mais é do que “um fragmento qualquer de ser humano, a sua parcela que apenas produz e consome no mundo das mercadorias, cujo único critério de verdade apoiava-se na evidência”. O conceito teórico, e portanto, abstrato, é um postulado da racionalidade global vigente. É caracterizada pelo triunfo dos economistas que encontraram nele, a semelhança dos biólogos no darwinismo, e na psicologia uma teoria do comportamento coerente.

Um estudo de ideologias da administração, por outro lado, não está preocupado com as origens do espírito capitalista, mas sim com as armas ideológicas empregadas na luta pela ou contra a industrialização. E quando ideologias são formuladas para defender um conjunto de interesses econômicos, é mais esclarecedor examinar a estratégia de argumentação do que insistir em que o argumento é autointeressado. Os argumentos em serviço próprio dos grupos dominantes podem não parecer um campo de estudos promissor, no entanto, sociologicamente Reinhard Bendix acredita que essas ideias desenvolvidas podem ser consideradas um sintoma das relações sociais de classe em mudança, ou seja, indícios para a compreensão das sociedades industriais. Portanto, Bendix (2019), propõe analisar detalhadamente, se já não é um truísmo, as evidências observáveis dos fenômenos do mundo social em seus próprios termos. Segundo o autor, é nesse nível das ações sociais que ocorre a experiência humana, e o estudo das ideologias da gestão empresarial ilustra que ele também pode constituir uma abordagem para o entendimento da estrutura social. As interpretações gerenciais dadas para a relação de autoridade nos empreendimentos econômicos, juntamente com a concepção em oposição assimétrica, mas em nível de complementariedade na relação capital “versus” trabalho acerca de sua posição enquanto classes na sociedade industrial emergente constituem uma imagem conjunta das relações de classe. Imagem que mudando em tempo e espaço e que diferem de um país para outro. Esse aspecto da estrutura social é analisado pelo exame da posição ideológica em termos de seus corolários lógicos. Enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais estão relacionados à autoridade dos empregadores e, em sentido mais amplo, à posição de classe de empregadores e empregados na sociedade globalizada.

Três correntes filosóficas contemporâneas são responsáveis pela criação deste conceito: o hedonismo, o utilitarismo e o sensualismo. O hedonismo, que afirma que o homem está sujeito, tal como os animais, à lei natural dos instintos e que, portanto, se encontra implícita a procura do prazer, do bem-estar e distanciamento da dor. O utilitarismo, para quem o útil é valioso e contrapõe o prazer calculado ao irracional, classificando os prazeres nobres e pobres. O sensualismo quando afirma serem os sentidos a fonte do conhecimento. Os economistas construíram um método teórico unanimemente aceite, elaboraram-se práticas econômicas que se encontra em todas as obras fundamentais: a lei da maximização da utilidade e leis sobre a utilidade marginal, aplicadas ao consumo e à produção. A razão biopsicológica essencial a toda a atividade humana é o interesse pessoal. Este primeiro princípio é então afetivo, pois define a única razão da atividade econômica; o homem não obedece senão à razão consumista.  No nível de análise econômico, oligopólio é uma forma evoluída de monopólio, no qual um grupo de empresas ou governos promove o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Corresponde a uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita, no qual o mercado é controlado por um número reduzido de empresas. Cada uma tem que considerar os comportamentos e as reações das outras quando toma decisões de mercado.

No oligopólio, os bens produzidos podem ser homogêneos ou apresentar alguma diferenciação sendo que, geralmente, a concorrência se efetua mais ao nível de fatores como a qualidade, o serviço pós-venda, a fidelização ou a imagem, e não tanto ao nível do preço. As causas típicas do aparecimento de mercados oligopolistas são a escala mínima de eficiência e características da procura. Em tais mercados existe concorrência, mas as quantidades produzidas são menores, para que os preços sejam maiores do que nos mercados concorrenciais, ainda que relativamente ao monopólio as quantidades sejam superiores e os preços per se sejam menores. Nos mercados oligopolistas onde não exista cooperação entre as empresas a curva da procura do produto da empresa depende da reação das outras empresas. A concorrência neste tipo de mercado para evitar guerras de preços poderá ser feita a outros níveis como nas características dos produtos distintas do preço, qualidade, imagem, fidelização, etc. O oligopólio pode permitir que as empresas obtivessem lucros elevados a custo dos consumidores e do progresso econômico, caso a sua atuação no mercado seja baseada economicamente na formação de cartéis, pois assim terão os mesmos lucros como um monopólio. Em um oligopólio, as alterações nas condições sociais de atuação de uma empresa irão influenciar o desempenho de outras empresas no mercado. Isto provoca reações que são mais relevantes quando o número de empresas do oligopólio é reduzido. Em contrapartida, um truste é uma coligação econômica ou financeira, de empresas que tem como objetivo diminuir e eliminar a concorrência, parcelarizando o mercado.

      

Quando se verifica a formação de trustes, a concorrência é transferida para a área da qualidade e apoio ao cliente, porque não existe concorrência no que diz respeito aos preços. No oligopólio, muitas vezes ocorre à criação de um cartel, onde as poucas empresas dominantes fazem um acordo para manter o preço do produto comercializado. Tanto os cartéis como o truste exercem poder de pressão sobre o mercado. Ao contrário do truste, no cartel as empresas envolvidas continuam independentes no âmbito legal. Tanto o monopólio quanto o oligopólio contribuem para uma concorrência imperfeita. A diferença entre monopólio e oligopólio é que no monopólio existe apenas um fornecedor ou vendedor, que domina o mercado, enquanto que no oligopólio existem poucos fornecedores do mesmo produto. Quando um produto é considerado essencial para a economia de um país, muitas vezes esse país estabelece leis que impedem a criação de monopólios e oligopólios. Talvez o maior exemplo de oligopólio no Brasil seja o mercado de telecomunicações, no qual poucas empresas controlam o mercado.

No caso da telefonia móvel, a fusão das empresas TIM e Vivo consistiu no primeiro oligopólio nesta área do mercado. Também são conhecidos oligopólios no caso da montagem de veículos, na produção de ônibus, por exemplo, o que pode contribuir decisivamente para o aumento do preço das passagens do transporte público. Capital financeiro pode ser entendido como o capital representado por títulos, obrigações, certificados e outros papéis negociáveis e rapidamente conversíveis em dinheiro. Uma vez que as necessidades de liquidez variam significativamente entre os agentes econômicos, há uma grande variedade de instrumentos, sob a forma de contratos, que combinam diferentes ativos e são comercializados nos mercados financeiros. Em termos simplificados, a lógica financeira consiste em “fazer dinheiro a partir de dinheiro”, sem necessariamente passar pela questão da reprodução do trabalho na esfera da produção de mercadorias. O predomínio crescente dessa lógica, de caráter rentista - isto é, que não tem como finalidade a produção, mas a remuneração do detentor de um ativo - na economia mundial globalizada ocorre desde pelo menos o início da década de 1980. 

            Fim de Semana em Taipei tem como representação social um filme de ação e suspense de 2024, dirigido por George Huang e coescrito com Luc Besson. Estrelado por Luke George Evans, é um ator e cantor galês. Sua primeira atuação profissional no cinema foi no filme Sex & Drugs & Rock & Roll (2010), seguido de Robin Hood, O Retorno de Tamara (2010) e o sucesso de bilheteria Fúria de Titãs (2010), Gwei Lun-mei, uma atriz taiwanesa. Ela começou sua carreira de atriz em 2002, com o filme Blue Gate Crossing. Gwei então apareceu em mais alguns filmes antes de obter amplo reconhecimento pelo filme Secret, dirigido por Jay Chou, no qual Gwei interpretou o personagem Lu Hsiao-yu e Sung Kang, um ator de cinema norte-americano. Os papéis mais reconhecidos que interpretou são Han Lue em Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio (2006), Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio (2011), Velozes e Furiosos 6 (2013), Velozes & Furiosos 9 (2021) e Velozes e Furiosos 10 (2023). O filme Fim de Semana em Taipei, é uma coprodução realizada entre França e Taiwan, produzido e distribuído pela EuropaCorp, uma empresa cinematográfica francesa com sede em Saint-Denis, um subúrbio ao Norte de Paris, e um dos poucos estúdios independentes na atualidade de serviço completo que produzem e distribuem comercialmente seus longas-metragens, com o apoio da Comissão de Cinema de Taipei, que foi filmado e ambientado em Taipei, Taiwan.  

            George Jay Huang é um diretor de cinema, escritor, produtor e educador norte-americano. Ele é mais reconhecido por escrever e dirigir o filme Nadando com Tubarões, de 1994. Além de trabalhar em seus próprios filmes, ele também contribui com trabalhos de outros cineastas independentes, incluindo Robert Rodríguez. Filho de imigrantes taiwaneses, George Huang cresceu desenvolvendo uma paixão ávida por cinema. Após o Ensino Médio, matriculou-se na Universidade da Califórnia, Berkeley, para cursar administração, mas durante esse período estagiou na Lucasfilm. Após a graduação, matriculou-se em um programa de produção na Universidade do Sul da Califórnia (USC). Após se formar na USC, Huang começou a trabalhar como assistente executivo na Columbia Pictures. Em 1992, a Columbia adquiriu os direitos de distribuição do filme El Mariachi, de Robert Rodríguez. Enquanto o filme estava sendo preparado para lançamento, Rodriguez fez amizade com o jovem Assistente de estúdio com quem compartilhava o amor pelo cinema. Rodriguez, natural e residente de San Antonio, Texas, ficou no apartamento de Huang em Los Angeles. Robert Rodriguez, reconhecido por suas técnicas de produção cinematográfica de alta qualidade e economia de dinheiro, ficou impressionado com a atitude indiferente de Huang em relação à forma como seus superiores gastavam milhões e milhões na produção de um único filme.   

George Huang, acreditando que suas próprias histórias originais jamais seriam contadas, compartilhou algumas ideias de roteiro com Rodriguez, que prontamente disse ao seu novo amigo e colega de quarto que precisava largar o emprego imediatamente e fazer seus próprios filmes. Huang, compreensivelmente, relutou em aceitar essa ideia, mas, em janeiro de 1993, renunciou ao seu cargo na Columbia. Huang então começou a escrever e a buscar financiamento para um roteiro vagamente baseado em suas experiências na Columbia. Lançado o filme de estreia de Huang, Nadando com Tubarões (1994), é uma sátira da política de Hollywood do ponto de vista de um subordinado do estúdio. Desde então, Huang passou a fazer muito trabalho satisfatório nos bastidores, com participações na direção de diversas séries de televisão de curta duração como Significant Others (1998), Live Through This (1994) e The Invisible Man (2020). Ele também dirigiu os filmes independentes Trojan War (1997), estrelado por Jennifer Love Hewitt e How to Make a Monster (2001) que se tornou um favorito cult, estrelando Clea DuVall como o único papel principal. Huang filmou a fita de audição de Elijah Wood que lhe rendeu o papel de Frodo Bolseiro na trilogia de filmes O Senhor dos Anéis (2001-2003). Em 2006, a Dimension Films adquiriu os direitos da série de histórias em quadrinhos Madman (2003) e planejou ter um filme dirigido por Huang e produzido por Rodriguez e Elizabeth Avellán. O criador da série, Mike Allred, foi definido para escrever o roteiro junto com Huang. O projeto acabou não dando certo, no entanto, com Allred anunciando que havia revertido os direitos do filme Madman em 2015. Huang escreveu o roteiro de Final Recipe, uma coprodução sul-coreana-chinesa-tailandesa de 2013, estrelada por Michelle Yeoh e dirigida por Gina Kim, nascida em 1973, na Coreia do Sul, é cineasta e acadêmica. Seu trabalho abrange desde os filmes-ensaio pessoais Gina Kim`s Vídeo Diary (2001) e Faces of Seoul (2009), às coproduções de estúdios internacionais Never Forever (2007) e Final Recipe (2013), passando por peças em realidade virtual, como sua recente trilogia cinematográfica sobre mulheres coreanas de conforto para o exército norte-americano – Bloodless (2017), Tearless (2021) e Comfortless (2023).       

É precisamente neste sentido, comparativamente, que procede nas comunidades humanas, uma força-tarefa do Órgão para o Controle/Combate das Drogas (DEA) está se aproximando das entregas do cartel para Chicago. As tensões dentro do cartel surgem quando um tenente sedento de poder assassina o chefe e, subsequentemente, exige que Earl seja mantido sob maior controle. No meio de um grande processo de carregamento de cocaína, Earl descobre que Mary está gravemente doente. Depois que Ginny tem uma conversa séria com ele, ele adia a entrega da droga para fazer as pazes com Mary antes de sua morte, o que provoca a ira do cartel. Ele retoma a entrega quando o DEA e o cartel se aproximam dele. Earl é espancado e ameaçado pelos executores do cartel, mas eles cedem depois de saber da morte de sua ex-mulher. Enquanto ele se dirige em direção ao ponto de entrega, ele é preso pelos agentes de Controle ou Combate das Drogas. Quando Earl se declara culpado de todas as acusações e é mandado para a prisão, sua família lhe demonstra seu apoio. Na prisão, ele retorna a sua produção horticultura. Leo Sharp ficou desanimado com os problemas financeiros com seu negócio de flores e posteriormente foi abordado por trabalhadores mexicanos em sua fazenda em Michigan (EUA), que o solicitaram para transportar narcóticos para o Cartel de Drogas de Sinaloa, no México. O sucesso de Sharp em evitar a detecção de policiais, por mais de dez anos enquanto transportava milhares de libras de cocaína, o catapultou para a lenda urbana entre os traficantes de drogas que sabiam de suas façanhas. Sharp usou uma picape Lincoln Mark LT para transportar entre 100 e 300 kg (220 e 660 lb) de cocaína por vez da fronteira Sul dos Estados Unidos da América até a cidade Detroit, no estado de Michigan.

No livro Narcotráfico - Um Jogo de Poder nas Américas (1996), José Arbex Jr. procura compreender as questões sociais e políticas das drogas dentro de um contexto amplo, a questão do narcotráfico dentro de um grande jogo de poder. O narcotráfico forma um império de 500 bilhões de dólares anuais, corrompe os poderes constituídos, políticos e policiais e compra a indústria e o comércio de países inteiros. Os consumidores são homens e mulheres de todas as idades e profissões, de todas as classes sociais. As máfias do narcotráfico formam “Estados dentro do Estado”, com suas leis e exército. O narcotráfico e a criminalidade a este associado ameaçam as sociedades, as economias e as instituições democráticas ao colocar em perigo os valores éticos sobre os quais sociedades consumidoras estas se baseiam, no sentido merceológico e, na esfera econômica e esfera política constituem obstáculos importantes ao desenvolvimento humano sustentável e ao desenvolvimento econômico. A criminalidade economicamente organizada, inclusive a vinculada ao processo de trabalho do narcotráfico, é um problema transfronteiriço e transnacional que se desenvolve compulsoriamente no continente e que requer uma cooperação maior e mais eficiente entre todos os Estados das Américas. O consumo e a produção de drogas ilegais acarretam custos sociais enormes e que as diversas formas de violência ligadas ao seu caráter ilegal atentam contra a segurança da população como um todo. A questão da distribuição, dizia Marx (2011), determina a proporção de produtos que cabem ao indivíduo; a troca determina os produtos que cada indivíduo reclama como parte da divisão do que lhe foi designada pela distribuição. Produção, distribuição, troca, consumo formam assim um silogismo modelo; a produção constitui o geral, a distribuição e a troca, o particular, o consumo, o singular para o qual tende o conjunto. Trata-se, sem dúvida, de um encadeamento real, mas muito superficial.

A produção é determinada por leis naturais gerais, a distribuição pela contingência social, e esta pode, por consequência, exercer sobre a produção uma ação mais ou menos estimulante; a troca situa-se entre ambas como um movimento social de caráter formal, e o ato final do consumo concebido não só como resultado, mas também como última finalidade; é, a bem dizer, exterior a toda economia, salvo na medida em que reage por sua vez sobre o ponto de partida, abrindo de novo todo o processo. Não há nada mais banal que a acusação feita aos economistas de considerarem a produção exclusivamente como um fim em si, alegando que a distribuição tem igual importância. Esta censura baseia-se precisamente na concepção econômica segundo a qual a distribuição existe como esfera autônoma, independente, lado a lado com a produção. Existe um duplo caráter do consumo: por um lado, o indivíduo que desenvolve suas faculdades ao produzir, igualmente as despende, as consome no ato da produção, tal como a procriação natural é um consumo de forças vitais. Em segundo lugar há o consumo dos meios de produção que empregamos, porque se desgastam e se dissolvem, como na combustão, por exemplo, nos elementos do universo. O mesmo acontece com a matéria-prima, que não conserva sua forma e sua constituição naturais, mas que se vê desgastada. O ato de produção é, em todos aspectos e ao mesmo tempo, ato designado de consumo produtivo.  

Raymond, sem saber do tráfico de drogas de Kwang, acredita que o livro-razão documenta o envolvimento da Kwang Enterprises na matança de golfinhos e pretende expor o papel de seu pai na poluição ambiental. Joey, a esposa de Kwang que foi forçada a se casar com ele há 15 anos para proteção, implora pela vida de seu filho. No entanto, Raymond revela que já confiou o livro-razão a um amigo, que o está entregando ao agente da DEA John no Marriott Taipei. Kwang envia seus homens para recuperar o livro-razão, mas ao tentar desmembrar Raymond como punição, ele é nocauteado por Joey e Raymond. A mãe e o filho então vão para o hotel, com a intenção de avisar os agentes da DEA. Como Raymond dá a Kwang o número do quarto errado, eles alcançam John primeiro e dizem que Joey e John se conhecem. Antes que Joey possa explicar a situação, os homens de Kwang chegam, levando ao tiroteio entre as duas facções. Os companheiros de John são todos mortos a tiros, e o livro-razão é apreendido, mas John consegue escapar com Joey e Raymond. Depois de escapar dos homens de Kwang e da polícia, Joey leva John e Raymond para a vila de pescadores onde cresceu, buscando refúgio na casa de sua avó. Ela revela que John é, na verdade, o pai de Raymond, chocando ambos.

John confronta Joey, que conheceu enquanto estava disfarçado como traficante de drogas há 15 anos, revelando sua verdadeira identidade a ela depois de se apaixonar e ajudá-la a escapar. Joey revela que estava grávida na época, mas não teve a chance de contar a John antes de partir, e ficou com o coração partido ao perceber que John estava mentindo para ela o tempo todo. Ele se desculpa e promete nunca mais deixá-la e Raymond, levando à reconciliação. Enquanto isso, Raymond percebe que uma miniatura de rinoceronte na mesa de Kwang é, na verdade, um pen drive contendo uma versão digital de seu livro-razão. Apesar das objeções de seus pais, ele foge da vila para voltar para casa e roubar o pen drive de Kwang, mas é pego por Kwang. Kwang mantém Raymond como refém e convoca Joey e John para negociar. John se oferece para trocar suas vidas, e as duas facções concordam em se encontrar em Ximending, um bairro e distrito comercial no distrito de Wanhua, em Taipei. A área de pedestres de Ximending foi a primeira zona de pedestres construída em Taipei e continua sendo a maior de Taiwan. No entanto, Kwang quebra sua promessa durante a reunião, recusando-se a libertar Raymond e sequestrando Joey. Pouco antes de seus homens executarem John, ele os supera e derrota todos os capangas de Kwang. Ele então percorre os becos complexos e alcança o veículo de Kwang em fuga, expulsando-o e forçando-o a fugir a pé. A perseguição continua, culminando em uma briga em um teatro, onde John subjuga Kwang e o manda prender pela polícia que chega. Ao se reunir com Joey e Raymond, a família se reconcilia e viaja para Paris, onde Joey revela que está grávida.

Bibliografia Geral Consultada.

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