“As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas”. Sigmund Freud
O conceito de figuração distingue-se de muitos outros conceitos teóricos da sociologia de Norbert Elias (1989), como autocontrole, psicogênerse, sociogênese, consequências Não-intencionais, por incluir expressamente os seres humanos em sua formação da sociedade. Contrasta, portanto, decididamente com um tipo amplamente dominante de formação de conceitos que se desenvolve sobretudo na investigação de objetos sem vida, portanto no campo da física e da filosofia para ela orientada. Há figurações de estrelas, assim como de plantas e de animais. Mas apenas os seres humanos formam figurações uns com os outros. O modo de sua vida conjunta em grupos grandes e pequenos é, de certa maneira, singular e sempre co-determinado pela transmissão de conhecimento de uma geração a outra, portanto por meio do ingresso do singular no mundo simbólico específico de uma figuração já existente dos seres humanos. Às quatro dimensões espaço-temporais indissoluvelmente ligadas se soma, no caso dos seres humanos, uma quinta, a dos símbolos socialmente aprendidos. Sem sua apropriação, sem, por exemplo, o aprendizado de uma determinada língua especificamente social, os seres humanos não seriam capazes de se orientar no seu mundo nem de se comunicar uns com os outros. Um ser humano adulto, que não teve acesso aos símbolos da língua e do conhecimento de determinado grupo permanece fora de todas as figurações humanas e, portanto, não é propriamente um ser humano.
O crescimento de um jovem em figurações humanas,
como processo e experiência, assim como o aprendizado de um determinado esquema
de autorregularão na relação com os seres humanos, é condição indispensável do
desenvolvimento rumo à humanidade. Socialização e individualização de um ser
humano são, portanto, nomes diferentes para o mesmo processo. Cada ser humano
assemelha-se aos outros e é, ao mesmo tempo, diferente de toso os outros. O
mais das vezes, as teorias sociológicas deixam sem resolver o problema da
relação entre indivíduo e sociedade. Em seu ersatz o convívio dos seres humanos
em sociedades tem sempre, mesmo no caos, na desintegração, na maior desordem
social, uma forma absolutamente determinada. Não por acaso, é percisamente isso o que o conceito de
figuração exprime. Uma geração os transmite a outra sem estar consciente do
processo como um todo, e os conceitos sobrevivem enquanto esta cristalização de
experiências passadas e situações retiver um valor existencial, uma função na
existência concreta da sociedade, enquanto gerações sucessivas puderem
identificar suas próprias experiências no significado das palavras. Em outras
ocasiões, eles apenas adormecem, ou o fazem em certos aspectos, e adquirem um
novo valor existencial com uma nova situação. São relembrados porque alguma
coisa encontra expressão na cristalização do passado corporificada nas
palavras.
As novas relações econômicas e a necessidade de desenvolvimento motivaram entes subnacionais a se relacionar e cooperar com o mundo civilizado exterior. As novas tecnologias da informação, os avanços nas telecomunicações, a diminuição nos custos de transporte de cargas e pessoas também contribuíram para essa mudança, afinal tornaram o plano internacional mais acessível. Ipso facto, a dimensão metodológica do conceito de processo social refere-se às transformações amplas, contínuas, de longa duração – ou seja, em geral não aquém de três gerações - de figurações formadas por seres humanos, ou de seus aspectos, em uma de duas direções opostas. Uma delas tem, geralmente, o caráter de uma ascensão, a outra o caráter decorrente de um declínio. Em ambos os casos, em princípio os critérios são puramente objetivos. Eles independem do fato de o respectivo observador os considerar qualitativamente bons ou ruins. Exemplos disso são a diferenciação crescente e decrescente de funções sociais, o aumento ou a diminuição do “capital social”, ou melhor, do patrimônio social do saber, do nível de controle político e social humano sobre a natureza não-humana ou da compaixão por outros homens, pertençam eles ao grupo estabelecido que for. Um deles pode tornar-se dominante, ou caber ao outro manter o equilíbrio.
Assim um processo
dominante, direcionado a uma maior integração, pode, sucessivamente, andar de
par com uma desintegração parcial. Mas, inversamente, um processo dominante de
desintegração social, como por exemplo, o processo de feudalização, na falta de melhor expressão, pode
conduzir sob certas condições a uma reintegração sob novas bases, a princípio
parcial e a seguir dominante; portanto, a um novo processo de formação do
Estado. Como um apanhado algo sumário do que se apurou até aqui na investigação
empírico-teórica das transformações civilizatória acerca de seu próprio
direcionamento, pode-se dizer que dentre os principais critérios para um
processo de civilização estão as transformações do habitus social dos
seres humanos na direção de um modelo de autocontrole mais bem proporcionado,
universal, estável. Mas o que é decisivo é que estes conceitos portam o selo
não de seitas ou famílias, mas de povos inteiros, ou talvez apenas de certas
classes. Mas, em muitos aspectos, o que se aplica a palavras específicas de
grupos menores estende-se também a eles: são usados basicamente por e para
povos que compartilham uma tradição e situação particulares, polindo-os na fala
e na escrita. É neste sentido que o conceito de civilização minimiza as
diferenças nacionais entre os povos.
Manifesta a
autoconfiança de povos cujas fronteiras nacionais e identidade nacional forma
plenamente estabelecidas, desde séculos, que deixaram de ser tema de qualquer
discussão, povos que há mito se expandiram fora de suas fronteiras e
colonizaram terras além delas. Em contraste, o conceito alemão Kultur dá
ênfase especial a diferenças nacionais e à identidade particular de grupos. Em
virtude disto, o conceito adquiriu em campos como a pesquisa etnológica e
antropológica uma significação mito além da área linguística alemã e da
situação em que se originou o conceito. Enquanto o conceito de civilização
inclui a função de dar expressão a uma tendência continuamente expansionista de
grupos colonizadores, o conceito de Kultur reflete a consciência de si
mesma de uma nação que teve de buscar e constituir incessante e novamente suas
fronteiras, tanto no sentido político como no espiritual. A orientação do
conceito alemão de cultura, para Norbert Elias (1997), com sua tendência à demarcação
e ênfase em diferenças, e no seu detalhamento, entre grupos, corresponde a este
processo histórico. A história coletiva
neles se cristalizou e ressoa. O indivíduo encontra essa cristalização em suas
possibilidades de uso. Não sabe bem por que este significado e esta delimitação
estão implicadas nas palavras, por que esta nuance e aquela possibilidade delas
podem ser derivadas. Usa-as porque lhe parece uma coisa natural, porque desde a
infância aprende a ver o mundo através dos conceitos. A sobrevivência
do sistema de crenças no Novo Mundo é notável, embora as tradições tenham se
modificado com o tempo.
O beijo na boca é o
maior gesto de consagração de carinho, amor e paixão entre um casal, desde o
simples tocar de lábios até o beijo mais intenso e apaixonado. O dia 13 de abril
é o Dia do Beijo, uma data instituída para celebrar o amor através do beijo.
Estudos e pesquisas comprovaram que o ato de beijar na boca estimula o cérebro
a liberar endorfina, substância responsável pela sensação de prazer e
bem-estar. Quanto mais prolongado e apaixonado, ocorrem maiores os benefícios.
Mantém o rosto mais jovem porque o trabalho muscular dá firmeza à pele. O livro
de recordes do Guinness (1955), é uma edição publicada anualmente, que contém
uma coleção da representação de recordes e superlativos reconhecidos
internacionalmente, tanto em termos de performances humanas como de extremos da
natureza. Em 2003, o livro alcançou o binômio produção-consumo em torno de 100
milhões de cópias vendidas, desde a sua primeira edição em 1955, e lá existem
vários temas de espaço e lugar relacionando aos beijos. Entre eles está o beijo
“mais caro de sempre”. Em 2003, Joni Rimm pagou 50 mil dólares num leilão de
beneficência para poder beijar a atriz Sharon Stone que leiloou o beijo para
ajudar uma instituição de caridade. Um beijo tem como representação social “o
toque dos lábios em outra pessoa” ou objeto. Na cultura ocidental é um poderoso
“gesto de afeição”. O beijo “mais longo gravado em vídeo” foi registrado
durante um episódio do The Bachelor programa norte-americano da American
Broadcasting Company (ABC).
Os gregos, é sabido, “adoravam
beijar”. Mas foram os romanos que difundiram a prática e permitiram que os
nobres mais influentes beijassem seus lábios. Os menos importantes às mãos. Os
súditos podiam beijar os pés. O “basium”, entre reconhecidos; o “osculum”,
entre amigos; e o “suavium”, o fabuloso beijo dos amantes. Na Escócia, era
costume o padre beijar os lábios da noiva ao final da cerimônia. Acreditava-se
que a felicidade conjugal dependia dessa benção. A noiva “deveria beijar todos
os homens na boca, em troca de dinheiro”. Na Rússia, uma das mais altas formas
de “reconhecimento oficial era o beijo do czar”. No século XV, os nobres
franceses “podiam beijar qualquer mulher”. Na Itália, se um homem beijasse uma
donzela em público, “era obrigado a casar imediatamente”. No latim, beijo
significa toque dos lábios. Na cultura ocidental, ele é considerado gesto de
afeição. Entre amigos é realizado como forma de cumprimento, ou despedida; entre
amantes e apaixonados, como prova da paixão. Mas é também um sinal de
reverência, ao se beijar, por exemplo, o anel do Papa ou dentre membros da alta
hierarquia da Igreja. Beijar os lábios de outra pessoa tornou-se uma expressão
comum de afeto em muitas culturas ao redor do mundo. No entanto, em certas
sociedades, o beijo só foi introduzido através dos meios de violência
simbólica, isto é, através da colonização europeia, sendo que antes não era uma
ocorrência prazerosa rotineira.
O ato de beijar, em segundo lugar,
pode se dar de várias formas, em diferentes lugares e com diferentes
propósitos, dependendo do país e de sua própria cultura, da situação, das
partes interessadas e de outros aspectos sociais. Entre amigos, é utilizado
“como cumprimento ou despedida”. Nos lábios de outra pessoa é um símbolo de
afeição romântica ou de desejo sexual, sendo que o beijo pode ocorrer também
noutras partes do corpo. Ainda há o “beijo de língua”, em que as pessoas que se
beijam mantêm a boca aberta, enquanto trocam carícias em formas prazerosas das
línguas. Os mais antigos relatos etnográficos remontam aos templos de
Khajuraho, na Índia. As mais antigas referências vieram do Oriente,
precisamente dos hindus. Há um registro em torno de 1200 a. C., no livro Satapatha,
com textos sagrados em que se baseia o bramanismo, abundante de sensualidade: -
“Amo beber o vapor de seus lábios”. Os Vedas formam a base do extenso sistema
milenar de escrituras sagradas do hinduísmo, que tout court representam
a mais antiga literatura de qualquer língua indo-europeia. Mais explícito e
malicioso, o Mahabarata, originou-se como um poema épico em sua extensão
com mais de 200 mil versos, compilados em torno do ano 1000 a. C., descrito da
seguinte forma: - “Pôs a sua boca em minha boca, fez um barulho e isso produziu
em mim um prazer”.
A consagrada tela de Gustav Klimt (1862-1918) é enorme e respeita a forma de um quadrado perfeito - o quadro tem exatamente 180 centímetros por 180 centímetros. O Beijo, é considerada a mais famosa pintura austríaca e faz parte da coleção permanente do Belvedere Palace Museum, situado em Viena. O quadro foi exibido pela primeira vez numa exposição em 1908 na Austrian Gallery, ocorrendo nessa ocasião ele foi adquirido pelo Belvedere Palace Museum, de onde felizmente não saiu mais. Para se ter noção da reputação do pintor austríaco: O Beijo foi vendido (e exposto) antes mesmo de ser terminado. O quadro foi comprado pelo valor de 25 mil coroas, e analisado como “um recorde de mercado da arte para a sociedade austríaca de seu tempo”. A tela foi pintada provavelmente entre 1907 e 1908, é considerada uma das maiores criações da pintura Ocidental e pertence à chamada interpretação técnica da “fase dourada”, pois do ponto de vista técnico-metodológico o período ganhou esse nome porque nos trabalhos de pintura foram utilizadas folhas de ouro. São finas folhas do referente metal, tradicionalmente empregues na decoração de objetos de diversos tipos de arte, como são exemplo retábulos, esculturas, ourivesarias, mobiliário, entre outras. Para além das folhas de ouro, enquanto metal, existem folhas de prata, cobre, alumínio ou paládio que são utilizados conforme o acabamento final pretendido. Um dos métodos de douramento consiste em “bater folhas de ouro sobre o suporte” que posteriormente são polidos, obtendo assim o brilho desejado. Este procedimento de batimento permanece o mesmo desde a Antiguidade.
O Virgem de 40 Anos é um filme de comédia romântica norte-americana
de 2005, dirigido por Judd Apatow, em sua estreia na direção de
longas-metragens, que produziu o filme com Clayton Townsend e Shauna Robertson.
O filme apresenta Steve Carell no papel do virgem de 40 anos Andy, funcionário
de uma loja de eletrônicos. Paul Rudd, Romany Malco e Seth Rogen interpretam
colegas de trabalho que “decidem ajudá-lo a perder a virgindade”, e Catherine
Keener estrela como o interesse amoroso de Andy, Trish. Assistir à atuação cinematográfica
de Carell em O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy (2004) inspirou Apatow a
escalá-lo e promove-lo ao papel principal do filme, e juntos escreveram O
Virgem de 40 Anos. O filme foi baseado em um esquete criado por Carell com
a The Second City, no qual um homem de 40 anos esconde um segredo.
As filmagens ocorreram em Los Angeles e no Vale de San Fernando, Califórnia, de
janeiro a abril de 2005. O filme foi lançado nos cinemas dos Estados Unidos da
América em 19 de agosto de 2005, pela Universal Pictures, e arrecadou mais de
US$ 177 milhões em todo o mundo globalizado com um orçamento de US$ 26 milhões.
As críticas foram positivas, com elogios à atuação de Carell e ao humor “bem-intencionado”,
porém obsceno, que também foi um ponto de discórdia entre alguns comentaristas de
orientação conservadora.
The
40-Year-Old Virgin representou a estreia cinematográfica de Judd Apatow na
direção. Enquanto trabalhava como produtor do filme Anchorman: The Legend of
Ron Burgundy, de 2004, ele teve a ideia de fazer um filme com Steve Carell
no papel principal depois de assistir sua atuação, pensando “Seria ótimo ver um
filme de Steve Carell”. Apatow mais tarde perguntou se ele tinha alguma ideia
para o filme, e ambos escreveram The 40-Year-Old Virgin juntos depois
que este último expressou o desejo de fazer algo sobre uma virgem de 40 anos,
baseando-se em um esquete que Carell criou enquanto se apresentava com a trupe
de comédia de improvisação The Second City. Carell fez muitas versões do
esquete, experimentando diferentes cenários onde o homem de 40 anos está
escondendo um “grande segredo”. Apatow teve dificuldade em inventar o
final do filme. Garry Shandling sugeriu que era importante mostrar que Andy
estava fazendo sexo melhor porque estava apaixonado e, em vez de mostrar o sexo
diretamente, eles decidiram fazer Andy cantar e fazer um número musical. Apatow escalou o elenco no início do desenvolvimento e adaptou
o roteiro aos pontos fortes dos atores.
Ele também o produziu
para a Apatow Productions e a Universal Pictures, juntamente com Clayton
Townsend e Shauna Robertson. Catherine Keener foi a primeira escolha para a
protagonista feminina. Apatow escalou Stormy Daniels especificamente porque
queria “alguém que se sentisse realmente confortável” fazendo cenas de nudez
que eram necessárias para o enredo do filme. Uma grande parte do diálogo em The
40-Year-Old Virgin foi improvisada. Keener afirmou em 2010 que Apatow “nunca
diria realmente corta” e, em vez disso, diria “recarrega” ao gravar o filme
devido à improvisação, chamando a experiência de “histericamente engraçada”.
Ela também mencionou que “você teve que perder o senso de autoconsciência
naquele filme porque era uma espécie de tudo em termos de fazer uma piada ou
até mesmo o escritor ficaria sentado atrás dos monitores atrás da cortina”. A
produção usou mais de um milhão de pés de filme, um marco alcançado no último
dia de filmagem e comemorado com champanhe grátis da Technicolor SA. As
filmagens começaram em 17 de janeiro de 2005 e terminaram em 1º de abril de
2005. O filme foi rodado em partes da Califórnia, incluindo Studio City, Los
Angeles e Ventura Boulevard, em San Fernando Valley.
Lyle Workman compôs a
trilha sonora do filme, enquanto Jack N. Green e Brent White, respectivamente,
atuaram como diretor de fotografia e editor. A produção foi interrompida pela
Universal Pictures após a primeira semana, devido a preocupações de que a
aparência física do personagem de Carell se assemelhasse à de um serial
killer e que as primeiras filmagens não fossem engraçadas. Paul Rudd foi
criticado por estar acima do peso e o estúdio ficou descontente com a forma
como Apatow tratou o projeto como um filme independente. Apatow inicialmente
tinha um papel coadjuvante em mente para Jason Segel, que a Universal se
recusou a permitir. Devido às mortes acidentais de peixes usados em The
40-Year-Old Virgin, a American Humane Association retirou a sua declaração
de isenção de responsabilidade de que “nenhum animal foi ferido...”.
Sete exibições de teste
foram realizadas para o filme antes de estrear nos cinemas, com cada uma
custando aproximadamente US$ 10.000. Inicialmente, foi considerado “desconfortavelmente
sujo e nada engraçado” antes de Apatow reduzir a quantidade de pornografia
exibida. Malco certa vez implorou para que ele cortasse suas cenas, temendo o
que aconteceria após seu lançamento e insistindo: “Minha mãe é uma ministra
ordenada, cara, me tire do filme, por favor. Estou falando sério”. Este pedido
foi recusado porque Apatow achou Malco engraçado. Ele ficou surpreso ao
descobrir que sua mãe acabou levando “todos os seus amigos da igreja para
assistir, várias vezes”, e afirmou que The 40-Year-Old Virgin “mudou
minha carreira”, levando a mais ofertas de emprego subsequentes sem audições
anteriores. Jay foi inicialmente concebido como “um garoto preppy de
fraternidade” antes que a audição de Malco o levasse a ser retrabalhado em um “mulherengo
malandro e falador de rua”. Ele gostou de como o personagem “na verdade aprende
suas próprias lições de vida junto com Andy” e o chamou de “antítese sexual” do
personagem principal. O peito de Carell foi genuinamente depilado para o filme,
com cinco câmeras configuradas para capturar a cena, o que foi feito em uma
tomada.
Ele insistiu em ter uma
depilação real, dizendo a Apatow: “Não será tão engraçado se for simulado ou se
for um efeito especial. Você tem que ver que isso está realmente acontecendo”.
Malco começou a se sentir mal enquanto assistia à depilação e fugiu do set. De
acordo com Miki Mia, levou três ou quatro horas para filmar a cena, e ela pediu
que alguns pelos do peito fossem aparados com antecedência para reduzir a dor
de Carell. Mia observou que apenas “um pouquinho” foi removido “para que
ficasse ótimo na câmera”. Seu peito nunca foi totalmente depilado durante as
filmagens, e ele raspou todos os pelos depois de três semanas. Depois que
Carell deixou escapar o nome de Kelly Clarkson durante a depilação, Clarkson
disse a Rogen em 2021 que seria "literalmente a única coisa pela qual as
pessoas me reconheceriam", independentemente de qualquer outra coisa que
ela fizesse. Rogen explicou que teve essa ideia ao vê-la na televisão, enquanto
compilava uma lista de “piadas limpas” e “piadas sujas” para usar na cena.
Em 19 de agosto de 2005, The 40-Year-Old Virgin estreou nos cinemas dos Estados Unidos da América. O filme estreou no topo das bilheterias norte-americanas, arrecadando US$ 21.422.815 durante o fim de semana de estreia e permaneceu em primeiro lugar no fim de semana seguinte. Arrecadou um total de US$ 109.449.237 neste mercado e US$ 67.929.408 internacionalmente, totalizando US$ 177.378.645 contra um orçamento de US$ 26 milhões. O filme ficou em 25º lugar na bilheteria global e em 19º nos Estados Unidos naquele ano. Foi lançado mormente no Reino Unido em 2 de setembro de 2005, e liderou as bilheterias do país naquele fim de semana. Mais tarde naquele mês, o filme também estreou na Alemanha, Grécia, Nova Zelândia e Rússia com respectivas aberturas de $ 2.195.972, $ 202.400, $ 144.666 e $ 443.428. Em outros lugares e espaços, estreou com $ 66.277 na Argentina, $ 1.608.724 na Austrália, $ 5.451 na Bulgária, $ 25.200 na República Tcheca, $ 29.884 no Líbano, $ 310.280 na Holanda, $ 119.930 na Noruega, $ 133.509 na Polônia, $ 9.091 na Eslováquia, $ 87.535 na África do Sul e $ 157.386 na Turquia. Ao ser distribuído na Espanha, Coreia do Sul, Taiwan e Tailândia, The 40-Year-Old Virgin também teve arrecadações no primeiro fim de semana de $ 874.373, $ 240.882, $ 78.099 e $ 72.800, respectivamente, nesses mercados.
Ele ganhou elogios do
Golden Schmoes Awards e do MTV Movie & TV Awards por seu papel
politicamente correto, enquanto Keener recebeu prêmios da Boston Society of
Film Critics e da Los Angeles Film Critics Association. O Virgem de 40 Anos
foi nomeado pelo American Film Institute um dos 10 Melhores Filmes de 2005. Ipso
facto, também reconhecido pela antonomásia de Porn Valley, o Vale de São
Fernando recebeu este apelido devido ao fato social de que grande parte dos
filmes adultos norte-americanos são produzidos ou editados na localidade, que está
situada do outro lado de Hollywood, em Los Angeles. Outras denominações
populares também são utilizadas para se denominar a localidade, tais como “San
Pornando Valley”, em contraste com o Vale do Silício (Silicon Valley, em
inglês), apelido para o vale de Santa Clara. Historicamente para impulsionar a
carreira, atrizes de todo o mundo acabam se instalando nas redondezas. Essa
concentração geográfica contribuiu muito para o crescimento da indústria de
entretenimento pornográfico. Na década de 1970, quem filmava filme pornô estava
sujeito a riscos sociais de ser processado por distribuição de material
obsceno.
Anteriormente tudo era muito underground,
atualmente a atividade local desta indústria da pornografia é mais organizada e
comercial. A jornalista e roteirista Laureen Ortiz, que foi correspondente do
jornal francês Libération em Los Angeles de 2008 a 2011, autora do livro
“Porn Valley: Uma Temporada na Indústria mais Difamada da Califórnia”, afirma
que “na Califórnia de rebeldes e inimigos da moral, onde alguns marginalizados
se entregam a atividades desagradáveis que têm o dom de se espalhar por todo
o planeta. É o paradoxo de consequências não-intencionais, dos motoqueiros e
dos atores sociais pornôs: estar na chamada “marginalidade de massa”,
para utilizarmos a expressão de Michel de Certeau (2014: 43) e gerar “o convencional.
Ser uma espécie considerada rara e participar do sonho californiano”. Em San
Fernando Valley fica a sede da Adult Video News, famosa por liderar o
comércio gráfico da pornografia por meio da revista AVN Magazine que cobre a
indústria de vídeo adulto. O grupo de mídia adulto AVN Media Network migrou
seus negócios em 2002 para San Fernando Valley, subúrbio de Los Angeles, por “baixos aluguéis e acesso ao mercado de filmes”.
A maioria dos filmes de
sexo norte-americanos é filmada em armazéns e casas particulares, ajudando a
arrecadação do Vale de San Fernando economicamente em US$ 4 bilhões em vendas comerciais
anuais no auge dos anos 1990. A proximidade de San Fernando Valley para Los
Angeles ajudou a criar mercadologicamente “um canal de talentos de Hollywood,
que incluía diretores, equipe e atores quando eles precisavam de uma pequena
renda secundária”. Alguns dos fotógrafos mais emblemáticos da Playboy
Enterprises, Christie Hefner, por exemplo, fundadora e Chief Executive
Officer (CEO) da revista Playboy, fala abertamente dos desafios que
encontrou ao assumir o comando da organização da família, especialmente sobre o
processo de sucessão do pai, localizada em Los Angeles, incluindo Stephen Wayda
e Suze Randall que se tornou a primeira fotógrafa do sexo feminino para a
revista na década de 1970, se basearam em San Fernando Valley. Historicamente Suze
Randall é uma modelo e fotógrafa erótica. Ela tem sido uma das mais influentes
figuras humanas da indústria pornô por mais de 22 anos. Trabalhou como
enfermeira e posteriormente como modelo de moda nos anos 1970 quando começou a
ganhar notoriedade. De acordo com a série Pornucopia americana, uma
série de documentários da HBO derivada de Real Sex que se concentra na
indústria pornográfica californiana, produzida pela Home Box Office,
aproximadamente 90% dos filmes adultos norte-americanos produzidos e
distribuídos legalmente nos Estados Unidos da América foram filmados ou produzidos
por estúdios baseados em San Fernando Valley.
Andy Stitzer é um
tímido introvertido de 40 anos que trabalha como supervisor de estoque na loja
de eletrônicos Smart Tech. Ele desistiu de tentar fazer sexo após várias
tentativas frustradas e mora sozinho em um apartamento com uma coleção de
bonecos de ação e videogames. Quando uma conversa durante um jogo de pôquer com
seus colegas de trabalho David, Jay e Cal se volta para façanhas sexuais do
passado, eles descobrem que ele secretamente ainda é virgem. Andy fica mortificado
ao descobrir no dia seguinte que todos no trabalho descobriram o segredo,
incluindo sua chefe Paula, que se sente atraída por ele e, mais tarde, em
segredo, se oferece para tirar sua virgindade. Ele quase pede demissão,
humilhado, antes que David o console e recomende que tente fazer sexo
novamente. David, Jay e Cal se determinam a ajudar Andy a conseguir isso. Todos
dão conselhos diferentes sobre como interagir com mulheres. David o convida
para um evento de encontros rápidos e tenta, sem sucesso, reatar o contato com
sua ex-namorada, Amy. Jay arrasta Andy para vários eventos sociais, marca uma
dolorosa depilação com cera nos seios e o apresenta a uma prostituta, tudo com
resultados constrangedores. Cal aconselha Andy a ser confiante e a fazer
perguntas às mulheres em vez de falar sobre si mesmo. Ele pratica isso com uma
balconista de livraria chamada Beth, que rapidamente se interessa por ele.
David dá a Andy sua coleção de pornografia, incentivando-o a se masturbar.
Andy finalmente consegue um encontro amoroso com uma cliente chamada Trish Piedmont. No final do primeiro encontro, eles quase fazem sexo, mas são interrompidos pela filha adolescente dela, Marla. Trish sugere que eles adiem o sexo, e Andy concorda entusiasticamente; eles decidem se abster até o 20º encontro. O relacionamento deles floresce nas semanas seguintes. Ela incentiva o sonho de Andy de abrir um negócio e ajuda a financiá-lo vendendo seus itens colecionáveis. Depois que Marla discute com Trish sobre querer controle de natalidade, Andy a leva para uma sessão de informação em grupo em uma clínica de saúde sexual, onde ela é ridicularizada por ser virgem. Andy admite sua virgindade para defendê-la, ganhando o respeito de Marla. Enquanto isso, David sofre um colapso emocional no trabalho por causa de sua obsessão por Amy. Ele faz um voto de celibato, o que leva Paula a delegar suas tarefas de vendas a Andy por um dia e, posteriormente, promovê-lo a gerente de chão devido à sua alta cota de vendas. Quando Cal assume o cargo anterior de Andy, ele contrata uma mulher chamada Bernadette para trabalhar na loja, na esperança de colocá-la junto com David para que ele possa seguir em frente com Amy. Depois que a namorada de Jay, Jill, termina com ele devido à sua infidelidade, ele admite a Andy que o sexo pode arruinar um relacionamento.
Após uma reconciliação
com Jill, Jay convida Andy e os outros para uma boate para comemorar sua
gravidez. Trish tenta iniciar uma relação sexual com Andy no 20º encontro deles
e fica chateada quando ele resiste. Eles discutem, e Andy sai para encontrar
seus amigos em uma boate. Ele fica bêbado e sai com Beth para transar no
apartamento dela. Cal convence David e Bernadette a ficarem juntos, enquanto
Marla convence Trish a se reconciliar com Andy. Na casa de Beth, Andy fica
sóbrio e decide ir embora sem fazer sexo, no momento em que seus amigos chegam
e o incentivam a voltar para Trish. Andy retorna ao seu apartamento e encontra
Trish esperando por ele. Ela viu a coleção de pornografia de David; ele tenta
explicar, mas ela foge alarmada e enojada, temendo que Andy possa ser um
desviante sexual. Enquanto a persegue em sua moto, Andy colide com seu carro,
voando através da lateral de um caminhão de outdoor. Ela corre para o
lado dele, e Andy finalmente confessa que é virgem. Trish fica aliviada e
aceita, e eles professam seu amor um pelo outro. Eles se casam em uma cerimônia
suntuosa com todos os presentes, tendo arrecadado cerca de US$ 500.000 com as
vendas de seus bonecos de ação para pagar por isso, antes de fazerem sexo pela
primeira vez. O filme termina com um musical onde todos os personagens cantam e
dançam “Aquarius/Let the Sunshine In”.
Friedrich Hegel que parte da análise da consciência comum, não podia situar como princípio primeiro uma dúvida universal que só é própria da reflexão filosófica. Por isso mesmo ele segue o caminho aberto pela consciência e a história detalhada de sua formação. Ou seja, a Fenomenologia vem a ser uma história concreta da consciência, sua saída da caverna e sua ascensão à Ciência. Daí a analogia que em Hegel existe de forma coincidente entre a história da filosofia e a história do desenvolvimento do pensamento, mas este desenvolvimento é necessário, como força irresistível que se manifesta lentamente através dos filósofos, que são instrumentos de sua manifestação. Assim, preocupa-se apenas em definir os sistemas, sem discutir as peculiaridades e opiniões dos diferentes filósofos. Na determinação do sistema, o que o preocupa é a categoria fundamental que determina o todo complexo do sistema, e o assinalamento das diferentes etapas, bem como as vinculasses destas etapas que conduzem à síntese do espírito absoluto. Para compreender o sistema é necessário começar pela representação, que ainda não sendo totalmente exata permite, no entender de sua obra a seleção de afirmações e preenchimento do sistema abstrato de interpretação do método dialético, para poder alcançar a transformação da representação numa noção clara e exata.
Assim, temos a passagem
da representação abstrata, para o conceito claro e concreto através do acúmulo
de determinações. Aquilo que por movimento dialético separa e distingue
perenemente a identidade e a diferença, sujeito e objeto, finito e infinito, é a
alma vivente de todas as coisas, a Ideia Absoluta que é a força geradora, a
vida e o espírito eterno. Mas a Ideia Absoluta seria uma existência abstrata se
a noção de que procede não fosse mais que uma unidade abstrata, e não o que é
em realidade, isto é, a noção que, por um giro negativo sobre si mesma,
revestiu-se novamente de forma subjetiva. Metodologicamente a determinação mais
simples e primeira que o espírito pode estabelecer é o Eu, a faculdade de poder
abstrair todas as coisas, até sua própria vida. Chama-se idealidade
precisamente esta supressão da exterioridade. Entretanto, o espírito não se
detém na apropriação, transformação e dissolução da matéria em sua
universalidade, mas, enquanto consciência religiosa, por sua faculdade
representativa, penetra e se eleva através da aparência dos seres até esse
poder divino, uno, infinito, que conjunta e anima interiormente todas as
coisas, enquanto pensamento filosófico, como princípio universal, a ideia
eterna que as engendra e nelas se manifesta. Isto quer dizer que o espírito
finito se encontra inicialmente numa união imediata com a natureza, a seguir em
oposição com esta e em identidade com esta, porque suprimiu a
oposição e voltou a si mesmo e, consequentemente, o espírito finito é a ideia,
mas ideia que girou sobre si mesma e que existe por si em sua própria
realidade.
A Ideia absoluta que
para realizar-se colocou como oposta a si, à natureza, produz-se através dela
como espírito, que através da supressão de sua exterioridade entre inicialmente
em relação simples com a natureza, e, depois, ao encontrar a si mesma nela,
torna-se consciência de si, espírito que conhece a si mesmo, suprimindo assim a
distinção entre sujeito e objeto, chegando assim a Ideia a ser por si e em si,
tornando-se unidade perfeita de suas diferenças, sua absoluta verdade. Com o
surgimento do espírito através da natureza abre-se a história da humanidade e a
história humana é o processo que medeia entre isto e a realização do espírito
consciente de si. A filosofia hegeliana centra sua atenção sobre esse processo
e as contribuições mais expressivas de Hegel ocorrem precisamente nesta esfera,
do espírito. Melhor dizendo, para Hegel, à existência na consciência, no
espírito chama-se saber, conceito pensante. O espírito é também isto: trazer à
existência, isto é, à consciência. Como consciência em geral tenho eu um
objeto; uma vez que eu existo e ele está na minha frente. Mas enquanto o Eu é o
objeto de pensar, é o espírito precisamente isto: produzir-se, sair fora de si,
saber o que ele é. Nisto consiste a grande diferença: o homem sabe o que ele é.
Logo, em primeiro lugar, ele é real. Sem isto, a razão, a liberdade não são
nada. O homem é essencialmente razão. O homem, a criança, o culto e o inculto,
é razão. Ou melhor, a possibilidade para isto, para ser razão, existe em cada
um, é dada a cada um. A razão não ajuda em nada a criança, o inculto.
É somente uma
possibilidade, embora não seja uma possibilidade vazia, mas possibilidade real
e que se move em si. Assim, por exemplo, dizemos que o homem é racional, e
distinguimos muito bem o homem que nasceu somente e aquele cuja razão educada
está diante de nós. Isto pode ser expresso também assim: o que é em si, tem que
se converter em objeto para o homem, chegar à consciência; assim chega para ele
e para si mesmo. A história para Hegel, é o desenvolvimento do Espírito no
tempo, assim como a Natureza é o desenvolvimento da ideia no espaço. Deste modo
o homem se duplica. Uma vez, ele é razão, é pensar, mas em si: outra, ele
pensa, converte este ser, seu em si, em objeto do pensar. Assim o próprio
pensar é objeto, logo objeto de si mesmo, então o homem é por si. A
racionalidade produz o racional, o pensar produz os pensamentos. O que o ser em
si é se manifesta no ser por si. Todo conhecer, todo aprender, toda visão, toda
ciência, inclusive toda atividade humana, não possui nenhum outro interesse
além do aquilo que filosoficamente é em si, no interior, podendo manifestar-se
desde si mesmo, produzir-se, transformar-se objetivamente. Nesta diferença se
descobre toda a diferença na história do mundo. Os homens são todos racionais.
O formal desta racionalidade é que o homem seja livre. Esta é a sua natureza.
Isto pertence à essência do homem: a liberdade.
O europeu sabe de si,
afirma Hegel, é objeto de si mesmo. A determinação que ele conhece é a
liberdade. Ele se conhece a si mesmo como livre. O homem considera a liberdade
como sua substância. Se os homens falam mal de conhecer é porque não sabem o
que fazem. Conhecer-se, converter-se a si mesmo no objeto (do conhecer próprio)
e o fazem relativamente poucos. Mas o homem é livre somente se sabe que o é.
Pode-se também em geral falar mal do saber, como se quiser. Mas somente este
saber libera o homem. O conhecer-se é no espírito a existência. Portanto isto é
o segundo, esta é a única diferença da existência (Existenz) a diferença
do separável. O Eu é livre em si, mas também por si mesmo é livre e eu sou
livre somente enquanto existo como livre. A terceira determinação é que o que
existe em si, e o que existe por si são somente uma e mesma coisa. Isto quer
dizer precisamente evolução. O em si que já não fosse em si seria outra coisa. Por
conseguinte, haveria ali uma variação, mudança. Na mudança existe algo que
chega a ser outra coisa. Na evolução, em essência, podemos também sem dúvida
falar da mudança, mas esta mudança deve ser tal que o outro, o que resulta, é
ainda idêntico ao primeiro, de maneira que o simples, o ser em si não seja
negado. Para Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário,
exterioriza o concreto contido já no em si, e este concreto chega a ser por si
através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser por si.
O espírito abstrato
assim adquire o poder concreto da realização. O concreto é em si diferente, mas
logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente
está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo,
simples. É em si mesmo contraditório. Posto que é através desta contradição
impulsionado da aptidão, deste este interior à qualidade, à diversidade; logo
cancela a unidade e com isto faz justiça às diferenças. Também a unidade das
diferenças ainda não postas como diferentes é impulsionada para a dissolução de
si mesma. O distinto (ou diferente) vem assim a ser atualmente, na existência.
Porém do mesmo modo que se faz justiça à unidade, pois o diferente que é posto
como tal é anulado novamente. Tem que regressar à unidade; porque a unidade do
diferente consiste em que o diferente seja um. E somente por este movimento é a
unidade verdadeiramente concreta. É algo concreto, algo distinto. Entretanto
contido na unidade, no em si primitivo. O gérmen se desenvolve assim, não muda.
Se o gérmen fosse mudado desgastado, triturado, não poderia evoluir. Na alma,
enquanto determinada como indivíduo, as diferenças estão enquanto mudanças que
se dão no indivíduo, que é o sujeito uno que nelas persiste e, segundo Hegel,
enquanto momentos do seu desenvolvimento. Por serem elas diferenças, físicas e
espirituais, seria preciso, para determinação ou descrição concreta, antecipar
a noção do espírito cultivado.
As diferenças são: 1)
curso natural das idades da vida, desde a criança, desde a criança, o espírito
envolvido em si mesmo – passando pela oposição desenvolvida, a tensão de uma
universalidade ela mesma ainda subjetiva em contraste com a singularidade imediata,
isto é, como o mundo presente, não conforme a tais ideais, e a situação que se
encontra, em seu ser-aí para esse mundo, o indivíduo que, de outro lado, está
ainda não-autônomo e em si mesmo não está pronto (o jovem) – para chegar à
relação verdadeira, ao reconhecimento da necessidade e racionalidade objetivas
do mundo já presente, acabado; em sua obra, que leva a cabo por si e para si, o
indivíduo retira, por sua atividade, uma confirmação e uma parte, mediante a
qual ele é algo, tem uma presença efetiva e um valor objetivo (homem); até a
plena realização da unidade com essa objetividade do conhecer: unidade que,
enquanto real, vem dar na inatividade da rotina que tira o interesse, enquanto
ideal se liberta dos interesses mesquinhos é das complicações do presente
exterior (o ancião). O espírito manifesta aqui sua independência da própria
corporalidade, em poder desenvolver-se antes que nela torne.
As crianças têm
demonstrado um desenvolvimento espiritual que vai mais rápido que sua formação
corporal. Esse foi o caso histórico, sobretudo em talentos artísticos
indiscutíveis, em particular nos gênios da música. Também em relação ao fácil
apreender de variados conhecimentos, especialmente na disciplina matemática; e
tal precocidade tem-se mostrado não raramente também em relação a um raciocínio
de entendimento, e mesmo sobre objetos éticos e religiosos. O processo de
desenvolvimento do indivíduo humano natural decompõe-se então em uma série de
processos, cuja diversidade se baseia sobre a relação do indivíduo para o
gênero, e funda a diferença da criança, do homem e do ancião. Essas diferenças
são as apresentações das diferenças do conceito. A idade da infância é o tempo
da harmonia natural, da paz do sujeito consigo mesmo e com o mundo. Um começo
tão sem-oposição quanto a velhice é um fim sem-oposição. As oposições que
surgem ficam sem interesse mais profundo. A criança vive na inocência, sem
sofrimento durável; no amor aos seus pais, e no sentimento de ser amado por
eles.
A cultura que
caracteriza as sociedades humanas é organizada e/ou organizadora via o veículo
cognitivo da linguagem, a partir do “capital cognitivo coletivo” dos
conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências
vividas, da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. E,
dispondo de seu capital cognitivo, a cultura institui as regras/normas que
organizam a sociedade e governam os comportamentos individuais. Estas regras in
statu nascendi geram processos sociais que regeneram a complexidade social
adquirida por essa mesma cultura. Assim, a cultura não deve ser compreendida
pelas metáforas estruturais, que são termos impróprios em uma organização
recursiva onde o que é produzido e gerado torna-se produtor e gerador daquilo
que o produz ou gera. Entendemos que cultura & sociedade estão em relação
geradora mútua; nessa relação, não podemos esquecer as interações entre
indivíduos, eles próprios portadores ou transmissores de cultura, que regeneram
a sociedade, a qual regenera a cultura. Daí a tese sociológica segundo a qual,
é possível explicar que “se a cultura contém um saber coletivo acumulado em uma
memória social, se é portadora de princípios, modelos, esquemas de
conhecimento, se gera uma visão de mundo, se a linguagem e o mito são partes
constitutivas da cultura, então a cultura não comporta somente uma dimensão
cognitiva: é máquina cognitiva cuja práxis é cognitiva”.
É neste sentido próprio
de saber cognitivo que uma cultura abre e fecha as potencialidades
bioantropológicas do conhecimento. Ela as abre e atualiza fornecendo aos
indivíduos o seu saber acumulado, a sua linguagem, os seus paradigmas, a sua
lógica, os seus esquemas, os seus métodos de aprendizagem, métodos de
investigação, de verificação, etc., mas, ao mesmo tempo, ela as fecha e inibe
com as suas normas, regras, proibições, os seus tabus, seu etnocentrismo, a sua
autossacralização, a sua “ignorância de ignorância”. Ainda aqui, o que abre o
conhecimento é o que fecha o conhecimento. Desde o seu nascimento, o ser humano
conhece não só por si, para si, em função de si, mas, também pela sua família,
pela sua tribo, pela sua cultura, pela sua sociedade, para elas, em função
delas. Assim, o conhecimento de um indivíduo alimenta-se de memória biológica e
de memória cultural, associadas na própria memória, que obedece a várias
entidades de referência, diversamente presentes nela. Tudo o que é linguagem,
lógica, consciência, tudo o que é espírito e pensamento, constitui-se na
encruzilhada dialógica entre dois princípios de tradução, um contínuo, o outro
descontínuo (binário).
As aptidões individuais organizadoras do nosso cérebro humano necessitam de condições socioculturais para se atualizarem, as quais necessitam das aptidões do espírito humano para se organizarem individual e socialmente. A cultura está nos espíritos, vive nos espíritos, os quais estão na cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, vivem na cultura. Meu espírito conhece através da minha cultura, mas, em certo sentido, a minha cultura conhece através do meu espírito. Assim, portanto, as instâncias produtoras do conhecimento se coproduzem umas às outras; há uma unidade recursiva complexa estabelecida entre produtores e produtos do conhecimento, ao mesmo tempo/espaço em que há relação hologramática entre cada uma das instâncias, cada uma contendo as outras e, nesse sentido, cada uma contendo “o todo enquanto todo”. Falar em complexidade é sociologicamente falar em relação social de interação simultaneamente complementar, concorrente, antagônica, recursiva e hologramática entre essas instâncias cogeradoras do reconhecimento humano. Mas não é apenas essa complexidade sob condições determinada que permitem compreender a possível autonomia relativa do espírito – as faculdades intelectuais - e no sentido técnico do cérebro individual.
Mas é somente assim
mesmo que o espírito individual pode autonomizar-se em relação à sua
determinação biológica. Recorrendo às suas fontes e recursos socioculturais. E
em relação à sua determinação cultural utilizando a sua aptidão
bioantropológicas para organizar o conhecimento. O espírito individual pode
alcançar a sua autonomia jogando com a dupla dependência que, ao mesmo tempo, o
constrange, limita e alimenta. Pode jogar, pois há margem, entre hiatos,
aberturas, defasagens. Entre o bioantropológico e o sociocultural, o ser
individual e a sociedade. Assim, a possibilidade de autonomia do espírito
individual está inscrita no princípio de seu conhecimento. E isso em nível de
seu conhecimento cotidiano, quanto em nível de pensamento filosófico ou
científico. A cultura fornece ao pensamento as suas condições sociais e
materiais de formação, de concepção, de conceptualização. Portanto, ela
impregna, modela e eventualmente governa os conhecimentos individuais. A
cultura e, somente pela via da cultura, a sociedade está no interior do
conhecimento. Edgar Morin sustenta a tese segundo a qual o conhecimento está na
cultura e a cultura está na representação do conhecimento. Um ato cognitivo per
se é um elemento social do complexo cultural coletivo que se atualiza em um
ato cognitivo individual. As nossas percepções sociológicas de análise ou mesmo estão sob um determinado controle, não apenas de constantes
fisiológicas e também psicológicas, mas níveis de variáveis culturais e
históricas.
A percepção da esfera social da vida pelos gregos originalmente é submetida a
novas categorizações, nas sociedades tanto quanto as formas de conceptualizações, taxinomias,
que influenciarão o reconhecimento e a identificação das cores, das formas, dos
objetos. O conhecimento intelectual organiza-se em função técnica de paradigmas
que selecionam, hierarquizam, rejeitam as ideias sociais e as informações
técnicas, bem como em função de significações mitológicas e de projeções
imaginárias. Assim se opera a “construção social da realidade”, ou antes, a
“co-construção social da realidade”, visto que a realidade se constrói também a
partir de dispositivos cerebrais, em que o real (imagem) se consubstancializa e
se dissocia do irreal (fantasia), a weltanschauung, que se concretiza em
verdade, em erro, per se na mentira. Para conceber a sociologia do conhecimento, é
necessário, conceber não só o enraizamento do conhecimento na sociedade e a
interação social do Ser e do conhecimento na sociedade. Mas no anel recursivo, lembra Morn, qual o conhecimento
é produto/produtor sociocultural que comporta uma dimensão própria cognitiva. Os
homens de uma cultura, pelo seu modo de conhecimento, produzem a cultura que
produz seu reconhecimento social.
A cultura gera os
conhecimentos que regeneram a cultura. Ao considerar-se a que ponto o
conhecimento é produzido por uma cultura, dependente de uma cultura, integrado
a uma cultura, pode-se ter a impressão de que nada seria capaz de poder
libertá-lo. Mas isso seria, sobretudo, ignorar as potencialidades humanas de
autonomia relativa, no interior de todas aquelas culturas, dos espíritos
individuais. Os indivíduos não são todos, e nem sempre, mesmo nas condições
culturais prementes mais fechadas, máquinas triviais obedecendo impecavelmente
à ordem social e às injunções culturais. Isso seria ignorar que toda cultura
está vitalmente aberta ao mundo exterior, de onde retira conhecimentos
objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre as culturas. Seria ignorar
que aquisição de uma informação, a descoberta de um saber, a invenção de uma
ideia, podem modificar e transformar uma sociedade inteira, e, portanto, mudar
o curso da história. O conhecimento está ligado, por todos os lados, à
estrutura da cultura, à organização social, à práxis histórica. Sempre por toda
parte, o conhecimento científico transita pelos espíritos individuais, que
dispõem de autonomia potencial, a qual pode em certas condições sociais e
políticas atualizarem-se e tornar-se um pensamento pessoal crítico.
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