quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Resgate – Mercenário & Certeza Sensível de Operações Secretas.

                          O que realmente desejo desenvolver é uma ciência da singularidade”. Michel de Certeau

           Resgate tem como representação social um filme de ação e suspense norte-americano de 2020, dirigido por Sam Hargrave, um coordenador de dublês, dublê, ator e diretor americano. No filme, um mercenário australiano de operações secretas assume a missão de salvar o filho “sequestrado de um traficante indiano em Dhâka, Bangladesh, mas a missão dá errado quando ele é traído”. O desenvolvimento do filme começou em 2018. Os irmãos Russo, que fizeram parte da equipe de roteiristas de Ciudad, sempre tiveram a intenção de adaptar o romance para o cinema. A Netflix lançou Resgate em 24 de abril de 2020. Recebeu críticas mistas e se tornou extraordinariamente “o filme original mais assistido da história da Netflix, com um [handicap] de 99 milhões de espectadores nas primeiras quatro semanas”. Reconhecido por suas colaborações com os irmãos Russo, Anthony e Joe Russo, cineastas famosos por dirigirem quatro filmes do Universo Cinematográfico da Marvel: Capitão América: O Soldado Invernal (2014), Capitão América: Guerra Civil (2016), Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Vingadores: Ultimato (2019). Eles também atuam pari passu como produtores, roteiristas e, ocasionalmente, como atores, sendo reconhecidos por seu trabalho em filmes e séries de televisão com grandes produções e narrativas complexas, incluindo ser o coordenador de dublês de vários filmes do Universo Cinematográfico Marvel. A dupla também escreveu e produziu a estreia de Hargrave na direção de Extraction (2020). Hargrave também atuou como Diretor de Segunda Unidade na segunda temporada de The Mandalorian (2019), escrito por Joe Russo, baseado na graphic novel Ciudad, de 2014.  

O filme Resgate é estrelado por Chris Hemsworth, ganhou destaque internacional por interpretar Thor Odinson no Universo Cinematográfico Marvel, na sequência que desempenha desde Thor (2011) até Thor: Love and Thunder (2022). Sua atuação na franquia o consolidou como um dos atores mais populares e bem pagos do mundo, além de lhe render diversas indicações e prêmios; Rudhraksh Jaiswal, iniciou sua carreira em 2013, quando desempenhou o papel de Sahadeva na série de TV Mahabharat. Aluno da Billabong International School, em Mumbai, classificada entre as dez melhores escolas internacionais diurnas em 2016. A instituição faz parte da rede educacional adquirida pela Lighthouse Learning em 2007, ganhado vários prêmios, Rudhraksh fez parte de vários shows conduzidos na Academia de Dança Shiamak Davar. Em filmes, iniciou-se no longa-metragem Noor (2017) e seu recente trabalho foi em Resgate (2020) com Chris Hemsworth e David Harbour, Randeep Hooda, é reconhecido por sua versatilidade e transformações físicas para seus papéis. Ele fez sua estreia no cinema hindi com Monsoon Wedding (2001). Ele teve uma virada em sua carreira com o filme de gangster Once Upon a Time in Mumbaai (2010), e continuou a ganhar atenção com papéis coadjuvantes em filmes como Saheb, Biwi Aur Gangster (2011), Jannat 2 (2012), Jism 2 (2012), Cocktail (2012), Heroine (2012) e outros, David Harbour, é um ator norte-americano.

Ovi Mahajan Jr., filho do traficante indiano Ovi Mahajan Sr., que está preso, foge de casa para visitar uma boate com um amigo. Na festa, eles vão à garagem para fumar um cigarro, onde encontram policiais corruptos que trabalham para o traficante rival de Bangladesh, Amir Asif. Eles atiram e matam o amigo de Ovi Jr. e o sequestram. Após descobrir isso, Saju Rav, ex-tenente-coronel das Forças Especiais do Exército Indiano e protetor de Ovi Jr. visita Ovi Sr. na prisão. Recusando-se a pagar o resgate ou entregar seus territórios a Amir, pois isso prejudicaria seu prestígio, Ovi Sr. ordena que Saju resgate seu filho, ameaçando matá-lo caso ele não queira. Tyler Rake, um ex- operador SASR do Exército Australiano que se tornou mercenário, é recrutado por seu parceiro e colega mercenário, Nik Khan, para salvar Ovi Jr. de Dhaka , Bangladesh. A equipe de Tyler e Nik se prepara para resgatar Ovi Jr., com os homens de Ovi Sr. dispostos a pagar-lhes assim que Ovi Jr. for recuperado. Tyler salva Ovi Jr., mata seus captores e o leva ao ponto de extração. Ao saber da fuga de Ovi Jr., Asif ordena ao chefe da polícia, Coronel Rashid, que inicie um bloqueio imediato em Dhaka, protegendo todas as pontes e pontos de passagem fora da cidade. Os homens de Ovi Sr. não transferem os fundos, pois é revelado que as autoridades congelaram sua conta de Ovi Sr., então como pagar os mercenários? Saju mata os companheiros de equipe de Tyler e tenta matar Tyler para salvar Ovi Jr. e roubar o pagamento dos mercenários.  Nik manda um helicóptero resgatar Tyler para fora da cidade e diz a ele para abandonar Ovi Jr., já que o contrato foi anulado. Tyler se recusa a deixar Ovi Jr. para trás, assombrado pelas lembranças do próprio filho, a quem abandonou depois de não aguentar mais vê-lo sofrer de linfoma.

                                        


Após escapar de Saju e das unidades táticas corruptas da Polícia Metropolitana de Dhaka a serviço de Asif, Tyler luta contra uma gangue de garotos liderada por Farhad, um jovem criminoso ansioso para impressionar Asif. Tyler liga para seu amigo Gaspar, um companheiro de esquadrão americano aposentado que mora em Dhaka, e ele e Ovi Jr. se escondem na casa de Gaspar durante a noite. Gaspar revela que Asif ofereceu uma recompensa de US$ 10 milhões por Ovi Jr., que ele se oferece para dividir se Tyler permitir que ele mate o garoto. Ele se recusa e luta contra Gaspar, que leva a melhor, mas é baleado e morto por Ovi com a arma do próprio Gaspar. Decidindo que só se importa em salvar o garoto, Tyler liga para Saju e pede sua ajuda, e eles se unem para escapar de Dhaka. Tyler desvia a atenção de Saju e Ovi Jr. disfarçados enquanto os dois atravessam um posto de controle da ponte antes de segui-los para encobrir a fuga. Nik e seus mercenários restantes se aproximam do lado oposto da ponte, enquanto Asif observa de longe com binóculos. No tiroteio que se segue, Saju é baleada e morta por Rashid, que por sua vez é baleado e morto por Nik. Ferido, Tyler instrui Ovi Jr. a correr para o helicóptero de Nik. Enquanto Tyler, gravemente ferido, segue, ele é baleado no pescoço por Farhad e, vendo que Ovi Jr. está seguro, cai no rio. Ovi Jr., Nik e a equipe de resgate escapam para Mumbai em busca de segurança. Oito meses depois, Nik embosca Asif em um banheiro e logo mata a tiros. 

Enquanto isso, Ovi Jr., que retornou a Mumbai, pula na piscina da escola para praticar prender a respiração, imitando a cena em que Tyler é apresentado cronologicamente no filme. Ele emerge provavelmente com a visão turva de um homem parecido com Tyler o observando. Ganhou reconhecimento por seu papel como Jim Hopper na série de drama e ficção científica Stranger Things (2016–presente), pelo qual ele recebeu um Prêmio Critics` Choice em 2018. Por este papel ele também recebeu indicações ao Emmy do Primetime e Globo de Ouro. Harbour teve papéis de coadjuvante em Brokeback Mountain (2005), Quantum of Solace (2008), The Green Hornet (2011), End of Watch (2012), The Equalizer (2014), Black Mass (2015), Suicide Squad (2016) e o personagem Guardião Vermelho em Thunderbolts (2025). Ele interpretou o personagem-título no filme Hellboy (2019), Golshifteh Farahani, nome artístico de Rahavard Farahani, é uma atriz, cantora e ativista iraniana reconhecida curiosamente por atuar em filmes americanos, franceses e árabes.  Em 2008 foi banida de seu país por haver posado nua para a Madame Figaro. Seu pai era ator e diretor de teatro, e a mãe pintora. Farahani começou seus estudos de música clássica (voz e piano) aos cinco anos de idade e aos doze foi reconhecida no Conservatório de Viena. Logo foi descoberta pelo executivo cinematográfico iraniano Dariush Mehrjui, e tornou-se protagonista de um de seus filmes, iniciando sua carreira que logo a levou a novos papéis. 

A atriz veio a obter o reconhecimento no país natal, vencendo o prêmio Crystal-Simorgh do Fajr International Film Festival.  Isto lhe valeu a participação no filme Rede de Mentiras, ao lado de Leonardo di Caprio (2008), Pankaj Tripathi, é um ator indiano que trabalha predominantemente em filmes e séries hindi. Ele recebeu dois National Film Awards e um Filmfare Award. Depois de estudar atuação na National School of Drama, Tripathi teve papéis menores em filmes como Omkara (2006) e Agneepath (2012), e um papel coadjuvante na série de televisão Powder (2010). Tripathi ganhou reconhecimento por seu papel no drama policial Gangs of Wasseypur (2012), de Anurag Kashyap, após o qual teve vários papéis coadjuvantes notáveis. Estes incluem Fukrey (2013), Masaan (2015), Nil Battey Sannata (2016), Bareilly Ki Barfi, Fukrey Returns (ambos de 2017), Stree (2018), Ludo, Gunjan Saxena: The Kargil Girl (ambos de 2020) e 83 (2021). Tripathi teve papéis principais em várias séries de streaming, incluindo Mirzapur (2018-presente) e Criminal Justice (2019-2022), e no filme de streaming Kaagaz (2021). Ele também apareceu no filme tâmil Kaala (2018) e no filme inglês Extraction (2020) e David Harbour.

Um estado unitário é um estado soberano governado como uma entidade única na qual o governo central é a autoridade suprema de um país. O governo central pode criar (ou abolir) divisões administrativas (unidades subnacionais). Essas unidades exercem apenas os poderes que o governo central autorizar delegar. Embora o poder político possa ser delegado aos governos regionais ou locais por lei, o governo central pode revogar os atos dos governos devolvidos ou reduzir (ou expandir) seus poderes. No sistema federativo, ao contrário, as assembleias desses estados, que compõem a Federação, têm uma existência constitucional e suas atribuições são determinadas por ela e não podem ser unilateralmente modificadas pelo governo central. Em alguns casos, tais como nos Estados Unidos, é somente o governo federal que tem poderes exclusivos para delegá-lo. A maioria dos Estados federativos também possui níveis inferiores de governo. Assim, enquanto os Estados Unidos são uma federação, a maioria (se não todos) os seus estados são entes unitários, com condados e outros municípios tendo a sua autoridade devolvida pelas constituições e leis estaduais. A maioria dos países do mundo é formada por Estados unitários, principalmente porque muitos deles não possuem uma vasta extensão territorial que justifique uma separação de poderes nas suas divisões internas. O Reino Unido é um Estado unitário onde o poder central foi parcialmente devolvido às assembleias e parlamentos criados através as medições complexas da Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, todos criados entre 1998 e 1999. A República da Irlanda é um Estado unitário sem governos subnacionais.

Diferentemente do País de Gales, da Escócia e da Irlanda do Norte, a Inglaterra não tem ministro de governo ou ministério exclusivamente responsável por sua administração central. Mas, há vários ministérios do governo, cujas responsabilidades, em alguns casos, também cobrem aspectos de assuntos no País de Gales e na Escócia. Uma rede de dez Departamentos do Government Offices for the Regions é responsável pela implementação de programas governamentais nas regiões inglesas. A China é principalmente um Estado unitário formado com o governo central tendo autoridade direta sobre as províncias e delegando autoridade aos governos provinciais. Contudo, a situação de Hong Kong Região Administrativa Especial (RAE) está aberta ao debate, dependendo da interpretação dada à Lei Fundamental de Hong Kong. A maioria dos estudiosos em leis chinesas argumenta que a Lei Fundamental é puramente uma lei doméstica derivando sua autoridade da Constituição da República Popular da China, neste caso a RAE é um governo devolvido consistente com a visão da China como um Estado unitário. Outros argumentam que a Lei Fundamental deriva sua autoridade da Declaração conjunta sino-britânica, e neste caso é possível considerá-la como uma constituição, implicando em um relacionamento federativo entre a China e Hong Kong e colocando a China na categoria política de sistema híbrido. Considerações similares dizem respeito à RAE de Macau. A Índia é essencialmente um Estado federativo, mas o controvertido Artigo 356 de sua Constituição admite que um governador possa dissolver um governo estadual.

Um “Estado devolvido” representa uma forma bastante comum de Estado unitário que delega às regiões amplos poderes, mas o governo central reserva-se o direito de retirar esses poderes quando este quiser. Os poderes das regiões são, portanto, mantidos inteiramente a prazer do governo central. No modelo de Estado devolvido, as entidades regionais têm seus governos próprios e podem ter suas próprias leis, e tipicamente praticam um alto grau de decisões autônomas. Desta maneira, eles aproximam-se muito do modelo federativo. Contudo, o Estado ainda é unitário e as entidades subnacionais (diferentemente de uma federação) não possuem qualquer direito constitucional para desafiar a legislação nacional ou preservar seus poderes. Dependendo da exata condição legal dos poderes devolvidos, as leis das entidades subnacionais podem ser anuladas, ou terem restringido seus poderes de legislar, por uma lei ordinária do governo nacional, ou por uma simples decisão do líder do governo. O Reino Unido é um bom exemplo disso: a Escócia tem um alto grau de autonomia na criação de leis, porém, a Escócia não tem nenhum direito para desafiar a constitucionalidade da legislação nacional do Reino Unido e as leis escocesas podem ser anuladas, e os poderes do parlamento escocês revogado ou reduzido, por um ato do parlamento nacional ou uma decisão do Primeiro-ministro. No caso da Irlanda do Norte, os poderes devolvidos da região foram suspensos por uma simples decisão do governo em diversas ocasiões. Apesar disso, o Reino Unido ainda é um Estado unitário, mesmo tendo na prática uma superficial aparência de Estado federativo. A devolução, assim como ocorre na Federação, pode ser simétrica, pois, todas as regiões têm os mesmos poderes e importância, ou assimétrica, pois, as regiões têm variações em seus poderes e importância. A devolução no Reino Unido é assimétrica.

Soldados contratados em outros povos para lutar na defesa dos interesses alheios são instituto antigo. Na China a existência de mercenários esteve ligada ao processo de formação do Estado unitário, durante os séculos IV e III a.C.; tropas mercenárias foram oriundas das disputas entre os grandes feudos, formando o núcleo e a história da mentalidade dos exércitos que se formaram em seguida, na dinastia Han. No Egito Antigo eram contratados “mercenários líbios para a guarda das fronteiras”. A Grécia os possuía, nas tropas das cidades e “mesmo sendo soldados gregos eram contratados pelos persas". Em Cartago, as revoltas das tropas mercenárias levaram à derrota da importante colônia fenícia, durante o governo Amílcar Barca (241). A história foi romanceada por Gustave Flaubert, na obra Salammbô (1862). As forças mercenárias ganham força na Alta Idade Média, formando tropas que, a serviço dos príncipes, únicos com direito de guerrear, participam dos muitos conflitos europeus. Nos tempos de paz, entretanto, estes guerreiros tornavam-se bandidos, à margem da lei por não terem outra ocupação e constituindo-se em problema social que os governantes enfrentavam enviando-os para combates em frentes distantes, como Constantinopla. Entre 1300 e 1375 ondas desses bandos invadem a Itália, sendo a formada pelos húngaros comparada tão numerosa e bem-estruturada que se assemelhava a uma cidade-estado móvel. As depredações e os saques eram uma praga.

       

Carlos V pagou milhares de Escudos para proteger o pretendente ao trono de Castela, Henrique de Trastâmara, contra Pedro, o Cruel, aliado dos ingleses. Em 1444, o Rei Luís XI de França contratou mercenários sem ocupação para combater mercenários suíços, lorenos e alsacianos. O papa Urbano V, sentindo-se ameaçado pelos mercenários, se propôs a reuni-los para uma nova Cruzada à Terra Santa. Foi do rei Carlos VII de França que veio a primeira sugestão prática para resolver o problema dos mercenários: reuniu os estados gerais em Orléans (1439) e sugeriu a criação de um exército permanente. A partir daí, o rei detinha poder sobre as tropas, seria o único a nomear oficiais e decretar impostos para mantê-los. Os capitães seriam responsáveis pela conduta de seus homens. O problema das forças militares de aluguel preocupou Maquiavel, dedicando em sua obra O Príncipe, à análise dessas tropas a serviço do governante. Para ele, o príncipe deve procurar constituir tropas próprias, sendo um risco mesmo em caso de vitória. Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) viveu a juventude sob o esplendor político da República Florentina durante o governo de Lourenço de Médici entre 1469 e 1492. A têmpera é a mistura usada em pintura, constituída de gema e clara de ovo, água e pigmentos em pó. Também é obtida misturando-se ingredientes oleosos com uma solução de água e cola. O artista pinta sobre um painel revestido de cola e gesso.

Quando a têmpera é “corretamente aplicada” (fortuna), distribuída em finas camadas, “não fica transparente, nem completamente opaca” (virtù). A têmpera foi aperfeiçoada na Idade Média e utilizada na maioria dos quadros de cavalete, do século XIII até o século XV. Como sinônimo de têmpera tem-se: austeridade, o caráter, a consistência, o feitio, a índole, a rijeza e o temperamento, o que reitera “a Itália nos tempos de Maquiavel” (cf. Larivaille, 1979).  Após uma adequada educação humanista, ingressou na burocracia do governo republicano de 1498, sendo principalmente empregada como secretário dos Dez de Guerra, uma comissão responsável pela condução dos negócios militares e diplomáticos. Instalado em 1310 para investigar a conspiração de Baiamonte Tiepolo, falecido após 1329, foi um nobre veneziano, bisneto do Doge Jacopo Tiepolo, neto do Doge Lorenzo Tiepolo, filho de Giacomo Tiepolo. A esposa de Bajamonte era a Princesa de Rascia. Marco Querini, um conspirador, era seu sogro. Ipso facto, tornou-se talvez o mais famoso de todos os órgãos de Estado do Renascimento. Nunca foi literalmente um “Conselho de dez”. Era-lhe obrigatoriamente adicionada uma Zonta de 20 membros não-votantes. Os conselheiros eram nomeados por um ano, com desqualificação de um ano antes de ser permitida a sua recondução. A responsabilidade do Conselho consistia em proteger o Estado de traição, interna ou externa; além de receberem relatórios regulares sobre os indivíduos, remetidos por reitores e outros funcionários nos territórios venezianos, empregava espiões e, ocasionalmente assassinos etc. Finalmente, até 1582, quando suas funções foram transferidas para o Senado, fiscalizava a produção e uso de artilharia, balas e pólvora. Neste cargo, etnograficamente, Maquiavel “observou o comportamento de grandes nomes da época e a partir dessa experiência retirou alguns postulados para sua obra”. O defeito básico, por assim dizer, dos governantes e estadistas que Maquiavel reconheceu na prática política, consistia na fatídica inflexibilidade diante da mudança das circunstâncias políticas.

César Borgia demonstrava-se em todos os momentos da vida cotidiana arrogante em sua autoconfiança. Maximiliano, sempre cauteloso e excessivamente hesitante. Julio II, impetuoso e por demais agitado. Não souberam acomodar sua personalidade às exigências dos tempos. Ao invés disso, tentaram remodelar os tempos segundo sua personalidade. Este julgamento de Maquiavel constitui o cerne da análise da liderança política em Il Principe (1513). Depois de servir em Florença durante catorze anos foi afastado do cargo e escreveu suas principais obras. Como renascentista Maquiavel se utilizou de autores e conceitos da Antiguidade clássica de maneira nova. Um dos principais autores foi Tito Lívio (50 a. C.-17 d. C.), além de outros lidos através de traduções latinas, e entre os conceitos apropriados por ele, encontram-se o de virtù, entendido como um traço de caráter que distinguia o homem enérgico, probo, corajoso, até arrojado (mas não imprudente), da sua contraparte convencionalmente virtuosa, tornando-o menos vulnerável às cavilações da “fortuna”. A fortuna é o imprevisível, o acaso, a sorte. A virtù é o saber como a necessidade do momento, é a “vontade-força”, qualidade fundamental do Príncipe. Tal como Maquiavel encerrava O Príncipe, com a “vontade-força” de que surgisse na Itália dilacerada do seu tempo uma figura magnífica, despida de preconceitos, que lançasse mão de quaisquer recursos, mesmo que inescrupulosos, para unificar o país ameaçado pelos bárbaros, Nietzsche-Zaratustra esperava o mesmo na emergência de um “super-homem” (Übermensch). Em Maquiavel quando virtù e “fortuna” caminham juntas, o resultado é a vitória - como podemos observar nos exemplos históricos - em caso contrário, a derrota na política. 

Exumada pelo interesse humanista na mitologia clássica, essa personificação das forças que desafiam e frustram os esforços humanos foi utilizada, muitas vezes, como um subterfúgio convencional para evitar “a invocação da vontade de Deus” na explicação dos fenômenos que pareciam racionalmente inexplicáveis, quer se tratasse de “um revés no amor ou no campo de batalha”. A ideia de “fortuna” no pragmatismo de Maquiavel vem da “deusa romana da sorte” e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá. Ela, pois tanto o substantivo “fortuna” quanto a personificação, “Fortuna”, eram femininos, refletindo a opinião dos homens e da lei de que as mulheres deviam ser identificadas com a irracionalidade, era invocada mais comumente num contexto político durante a incapacidade da Itália para fazer frente às sucessivas ondas de invasão estrangeira depois de 1494. Em Florença ocorreu um fato estranho. O frade, de nome Savonarola, que comandava a cidade, previu-lhe “uma invasão estrangeira em punição pelo seu gosto pelo luxo e lassidão”. 

Carlos VIII não avançou sobre o lugar e tomou o caminho de Roma, aonde chegou a 31 de dezembro de 1494. Ali ele conseguiu prender o Príncipe Djem, filho do sultão turco Bajazet. Em seguida, a 22 de fevereiro de 1495, tomou posse de Nápoles, e passou a viver em um ambiente festivo em função de seus sucessos. O I Protocolo adicional de 8 de junho de 1977 da 4ª Convenção de Genebra de 12 de agosto de 1949, no Artigo 47, não reconhece ao mercenário os direitos dos prisioneiros de guerra. Mercenários: 1. Um mercenário não possui direito ao estatuto de combatente ou de prisioneiro de guerra; 2. Pelo termo “mercenário” se entende qualquer pessoa: a) que seja propositalmente recrutada, localmente ou no estrangeiro, para combater em conflito armado; b) que de fato tome parte direta nas hostilidades; c) que tome parte nas hostilidades civis motivado pelo desejo de adquirir lucro pessoal, e para o qual recebeu promessa, por uma das partes em conflito ou em seu nome, de remuneração material claramente superior àquela prometida ou correspondente em grau e funções econômicas similares nas forças armadas desta mesma parte; d) que não seja cidadão de uma parte em conflito, nem residente de um território controlado por uma parte em conflito; e) que não seja membro das forças armadas de uma parte em conflito; e f) que não tenha sido enviado por um Estado não-parte em conflito, em missão oficial como membro das forças armadas deste mesmo Estado. 

Ao contrário dos soldados regulares, que ficam ao abrigo do estatuto de prisioneiro de guerra, inversamente, os mercenários são considerados presos de delito comum. Outrora tradicionalmente reconhecidos como mercenários, e identificados como tais então, até pela vestimenta, como tropa à parte, em geral a serviço de algum Estado; atualmente a maioria presta serviço às empresas militares privadas sem que seja possível na maioria dos casos distingui-los, pelos trajes, documentação ou armamento, dos combatentes junto aos quais são alocados por seus empregadores contratantes. Sejam estes combatentes, junto aos quais trabalharão, membros de um exército regular, de uma força rebelde/guerrilheira, de um grupo político (milicianos ou não) de situação, oposição, ou de uma organização terrorista.  Fazem parte das modernas equipes dessas empresas de mercenários, incluindo sua dimensão de “terceirizadas”, não apenas especialistas nos ofícios militar e policial, mas também gerentes dos mais diversos setores particulares, traficantes de armas e lavadores de dinheiro experientes, engenheiros especializados em armamentos, diversos especialistas nas áreas em torno de marketing, mídia, relações públicas e computação, além de tradutores, pilotos, motoristas, técnicos que reconheçam profundamente logística ou transmissão via satélite, entre vários outros tipos de profissionais. Tal modelo de negócios, teve impulso em especialmente a partir da década de 1990, após o fim da chamada Guerra Fria. Atualmente em conflitos como a Guerra Civil Síria, somente no ano de 2013 entraram no país cerca de 11 mil mercenários, o maior fluxo desde a Guerra Civil do Afeganistão nos anos 1980.

Com as frequentes transferências das atividades-meio a terceiros, ficou aparentemente difícil à Administração controlar a execução dos serviços pelos trabalhadores particulares contratados, de modo que, “sem disciplina e fiscalização, perdeu-se muito em termos de eficiência na execução dos serviços terceirizados”. Somente uma sociedade organizada criteriosamente e constituída com bases nas leis sociais desfruta de supremacia moral e material que é indispensável para impor a lei aos indivíduos, pois a única personalidade moral que está acima das personalidades particulares é a formada pela coletividade. Além disso, apenas ela tem a continuidade e, mesmo, a perenidade necessária para manter a regra além das relações efêmeras que a encarnam cotidianamente. E mais: seu papel não se limita simplesmente a erigir em preceitos imperativo os resultados mais gerais dos contratos particulares, ela intervém de maneira ativa e positiva na formação de todas as regras. Ela é o árbitro designado para resolver os interesses em conflito e atribuir os limites que convêm. 

Em seguida, ela é a primeira interessada em que a ordem e a paz reinem; se a “anomia” sociologicamente é um mal, segundo Durkheim (2010), é antes de mais nada porque a sociedade sofre desse mal, não podendo dispensar, para viver, a coesão e a regularidade social. Uma regulamentação moral e jurídica exprime, pois, essencialmente, necessidades sociais que só a sociedade pode conhecer cotidianamente. Isto quer dizer que ela repousa num estado de opinião, e toda opinião é coisa coletiva, produto de uma elaboração coletiva. Nem a sociedade política em seu conjunto, nem o Estado, podem, evidentemente, incumbir-se dessa função; a vida econômica, por ser muito especial e por se especializar cada dia mais, escapa à sua competência e à sua ação. A atividade de uma profissão só pode ser regulamentada eficazmente por um grupo próximo o bastante dessa mesma profissão para conhecer bem seu funcionamento, para sentir todas as suas necessidades e poder seguir todas as variações destas. O único grupo que corresponde a essas condições é o que seria formado por todos os agentes de uma mesma indústria reunidos e organizados num mesmo corpo. É o que se chama durkheimianamente de corporação ou grupo profissional. Na ordem econômica, o grupo profissional existe tanto quanto a moral profissional. Desde que, não sem razão, vem se suprimindo as antigas corporações, não se fizeram mais que tentativas fragmentárias e incompletas para reconstituí-las em novas bases políticas. Os indivíduos que se consagram a um mesmo ofício estão em relações mútuas por causa de suas ocupações similares. A própria concorrência entre eles os põe em relação.

Mas essas relações nada têm de regular; elas dependem do acaso dos encontros e, na maioria das vezes, têm um caráter totalmente individual. É este industrial que se acha em contato com aquele, não é o corpo industrial de determinada especialidade que se reúne para agir em comum. Excepcionalmente, vemos todos os membros de uma mesma profissão reunirem-se em congresso para tratar de alguma questão de interesse geral; mas esses congressos têm sempre duração limitada, não sobrevivem às circunstâncias particulares que os suscitam e, depois, a vida coletiva de que foram ocasião se extingue mais ou menos completamente com eles. Os únicos agrupamentos dotados de certa permanência são os que se chama sindicatos, seja de patrões, seja de operários. Por certo, temos aí um começo de organização profissional, mas ainda bastante informe e rudimentar. Isso porque, em primeiro lugar, um sindicato é uma associação privada, sem autoridade legal, desprovida, por conseguinte, de qualquer poder regulamentador. O número deles é teoricamente limitado, é “um artista anacrônico”, mesmo no interesse social de uma categoria industrial; e, como cada um é independente dos outros, se não se constituem em federação e se unificam, não há nada que exprima a unidade profissional em seu conjunto diante das atividades laborais. Enfim, não só os sindicatos de patrões e os sindicatos de empregados são distintos uns dos outros, o que é legítimo e necessário, como não há entre les contratos regulares. Não existe organização comum que os aproxime sem fazê-los perder sua individualidade e na qual possam elaborar em comum uma regulamentação que, estabelecendo suas relações mútuas, imponha-se a ambas as partes com a mesma autoridade; por conseguinte, é sempre a lei do mais forte que resolve os conflitos, e o estado de guerra subsiste por inteiro.

  

Salvo no caso de seus atos pertencentes à esfera moral comum, patrões e operários estão, uns em relação aos outros, na mesma situação de dois Estados autônomos, mas de força desigual. Eles podem, como fazem os povos por intermédio de seus governos, firmar entre si contratos, mas esses contratos exprimem apenas o respectivo estado de forças econômicas em presença, do mesmo modo que os tratados que dois beligerantes firmam exprimem tão-somente o respectivo estado de suas forças militares. Eles consagram um estado de fato e não poderiam fazer deste um estado de direito. Para que uma moral e um direito profissionais possam se estabelecer nas diferentes profissões econômicas, é necessário, pois, que a corporação, em vez de permanecer um agregado confuso e sem unidade, se torne, ou antes, volte a ser, um grupo definido, organizado, numa palavra, uma instituição pública. Mas todo projeto desse gênero vem se chocar contra certo número de preconceitos que se cumpre prevenir ou dissipar. Em primeiro lugar, a corporação tem contra si seu passado histórico. De fato, ela é tida como intimamente solidária de nosso antigo regime político e, por conseguinte, como incapaz de sobreviver a ele. Reclamar para a indústria e para o comércio uma organização corporativa é querer seguir ao revés o curso da história; ora, tais regressões são justamente tidas ou como impossíveis, ou como anormais. O argumento caberia se propusesse ressuscitar a velha corporação. O que permite considerar as corporações uma organização temporária, para uma época e civilização determinada, é, ao mesmo tempo, suas relíquias e como se desenvolveram na história. 

Mas se nem toda organização corporativa é necessariamente um anacronismo histórico, termos base para crer que ela seria chamada a desempenhar, em nossas sociedades contemporâneas, o papel considerável que lhes atribuímos, guardadas as proporções de tempo e espaço. Porque, se a julgamos indispensável, é por causa não de seus serviços econômicos que ele poderia prestar, mas da influência moral que poderia ter. O que vemos antes de mais nada no grupo profissional é um poder moral capaz de conter os egoísmos individuais, de manter no coração dos trabalhadores um sentimento mais vivo de sua solidariedade comum, de impedir que a lei do mais forte se aplique de maneira tão brutal nas relações industriais e comerciais. É preciso evitar estender a todo o regime corporativo o que pode ter sido válido para certas corporações e durante um curto lapso de tempo de seu processo de desenvolvimento. Longe de ser atingido por uma sorte de enfermidade moral devida à sua própria constituição, foi sobretudo um papel moral que ele representou na maior parte da sua história do ponto de vista social e econômico. Metodologicamente os aspectos sociológicos do segredo foram estudados pela primeira vez por Georg Simmel (1858-1918) no início do século XX. Simmel descreve o segredo como a capacidade ou hábito de guardar segredos. Ele define o segredo como a forma para a regulação do fluxo e da distribuição de informações. Simmel (2001) expressou-o melhor ao dizer: “se a interação humana é condicionada pela capacidade de falar, ela é moldada pela capacidade de ficar em silêncio”. Também pode controlar a própria essência das relações  por meio de manipulações da proporção entre “conhecimento”, por um lado, e “ignorância”, por outro lado. 

Simmel define a “sociedade secreta” como uma unidade interacional caracterizada em sua totalidade pelo fato de que as relações recíprocas entre seus membros são regidas pela função protetora do segredo. Essa característica central se estabelece em uma dupla contingência: Os membros da unidade interacional estão preocupados com a proteção de ideias, objetos, atividades e/ou sentimentos aos quais atribuem valor positivo, melhor dizendo, que os recompensam. Os membros buscam essa proteção controlando a distribuição de informações sobre os elementos valiosos, isto é, criando e mantendo condições relevantes de ignorância no ambiente. Dependendo da extensão do sigilo, a organização assume uma de duas formas: aquelas em que o segredo incorpora informações sobre todos os aspectos da unidade interacional, incluindo sua própria existência; e aquelas em que apenas alguns aspectos, como associação, regulamentos ou objetivos, permanecem em segredo. Último dos sete filhos de Eduard Maria Simmel (1810-1874) e Flora Bodstein (1818-1897), Georg tinha ascendência judia tanto pelo lado do paterno como da materno. Apesar disso, a mãe tinha sido batizada luterana, assim como Georg. Em 1874 Edward Simmel, dono de uma fábrica de chocolate, morre, deixando uma grande fortuna como herança. Julius Friedländer, amigo da família e também dono de respeitável fortuna adquirida no ramo da música, torna-se tutor de Georg, tendo-lhe, mais tarde, deixado uma herança expressiva a qual lhe permitiu seguir a vida acadêmica. Diplomou-se na Universidade de Berlim passando pelos cursos de filosofia. Sua tese de doutorado, também em filosofia, levou o título de A Natureza da Matéria segundo a Monadologia Física de Kant e rendeu-lhe o título no ano de 1881. Em 1885 foi designado como Privatdozent na mesma Universidade de Berlim e ganhava “apenas o que vinha das taxas pagas pelos estudantes que se inscreviam em seus cursos”. 

Em 1901, tornou-se “professor extraordinário”, mas jamais foi incorporado de modo formal e definitivo na academia berlinense. Em 1890 casou-se com Gertrud Kinel (1864-1938), diplomada também em Berlim, de família católica. Os dois tiveram um filho, Hans Simmel (1891-1943). Em 1914, ele foi nomeado professor em Estrasburgo, uma cidade que pertencia ao Império Germânico. No entanto, o autor morreu em 1918, aos 60 anos de idade. Do ponto de vista da análise cinematográfico essa diferença da essência e o exemplo, entre a imediatez e a mediação, quem faz não somos nós apenas, mas a encontramos na própria certeza sensível; e deve ser tomada na forma em que nela se encontra, e não como nós acabamos de determina-la. Na certeza sensível, um momento é oposto como o essente simples e imediato, ou como a essência: o objeto na sua humanidade. O outro momento, porém, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, mas por meio do Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto faz que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido - enquanto o saber não é, se o objeto não souber que pode ser, assim da singularidade de apreensão do objeto. 

O outro momento, é posto como o inessencial e o mediatizado, momento que nisso não é “em-si”, na démarche da consciência (cf. Hegel, 2007), mas por meio de Outro: o Eu, um saber, que sabe o objeto só porque ele é; saber que pode ser ou não. Mas o objeto é o verdadeiro e a essência: ele é, tanto que seja conhecido ou não. Permanece mesmo não sendo conhecido - enquanto o saber não é, se o objeto não é. O objeto, portanto, deve ser examinado, para vermos se é de fato, na certeza sensível mesma, aquela essência que ela lhe atribui; e se esse seu conceito - de ser uma essência - corresponde ao modo imediato como se encontra na certeza sensível. Quer dizer, não temos de refletir sobre o objeto, nem indagar o que possa ser em verdade; mas apenas através da ideia de formação em “considerá-lo como a certeza sensível o tem nela”. O tempo, como a unidade negativa do ser-fora-de-si, é igualmente um, sem mais nem menos, abstrato, ideal. O tempo é como o espaço uma pura forma de sensibilidade ou do intuir, é o sensível, mas, assim como a este espaço, também ao tempo não diz respeito a diferença de objetividade e de uma consciência subjetiva contra ela. Quando se aplicam estas determinações de espaço e tempo, então seria aquele a objetividade abstrata, do tempo, porém a subjetividade abstrata. O tempo é o mesmo princípio que o Eu=Eu da autoconsciência pura; mas é o mesmo princípio ou o simples conceito ainda em sua total exterioridade e abstração – como o mero vir-a-ser intuído, o puro ser-em-si como simplesmente um vir-fora-de-si. O tempo é contínuo como o espaço, pois ele é a negatividade abstrata e nela ainda não há nenhuma diferença real.

No tempo, diz-se, tudo surge e tudo passa e perece, se se abstrai de tudo, do recheio do tempo e do recheio do espaço, fica de resto o tempo vazio comparativamente como o espaço vazio – isto é, são então postas e representadas estas abstrações de exterioridade, como se elas fossem existentes por si. Mas não é o que no tempo surja e pereça tudo, porém o próprio tempo é este vir-a-ser, surgir e perecer, o abstrair essente.  É bem diverso do tempo, mas também essencialmente idêntico a ele. O real é limitado, e o outro para esta negação está fora dele, a determinidade é assim nele exterior a si, e daí a contradição de seu ser; a abstração opera nessa exterioridade de sua contradição e a inquietação da mesma é o próprio tempo. O finito é transitório e temporário, porque ele não é, como ocorre no conceito nele mesmo, a negatividade total, mas em si, como essência universal, entretanto, diferentemente da mesma essência, é unilateral, e se relaciona à mesma essência como à sua potência. Mas tais conceitos na sua identidade conseguem livremente existente para si, Eu=Eu, é “em si” e “para si” a absoluta negatividade e liberdade. Por isso o tempo não é potência dele, nem ele está no tempo nem é algo temporal. Mas ele é muito mais a potência do tempo, como sendo este apenas esta negatividade como exterioridade. Só o natural, é, enquanto é finito, sujeito ao tempo; na constituição da ideia, o espírito que é eterno. A eternidade não será, nem foi, mas ela é hegeliana.

A duração é também diferente da eternidade nisto, que ela é apenas um relativo suprassumir do tempo; mas a eternidade é duração infinita, isto é, não relativa, porém em si refletida. O que não está no tempo é o sem-processo; o péssimo e o mais perfeito não estão no tempo, mas duram. O péssimo, o da pior qualidade, porque ele é uma universalidade abstrata, assim espaço, assim tempo mesmo, o Sol, os elementos concretos, rochas, montanhas, a natureza inorgânica em geral, também obras dos homens, pirâmides; sua duração não é vantagem. O duradouro é mais altamente cotado do que o breve transitório; mas toda florescência, toda bela vitalidade tem morte cedo. Mas também o mais perfeito dura, não só o universal sem-vida, inorgânico, mas também o outro universal, o concreto em si, o gênero, a lei, a ideia, o espírito. Pois devemos decidir se algo tem como representação o processo total ou apenas um momento de apropriação do processo. O universal como lei é processo em sim mesmo e como processo; mas não é parte do processo, nem está no processo, mas contêm seus dois lados e é ele próprio sem-processo. Pelo fenômeno a lei entra no tempo enquanto os momentos do conceito têm a aparência da independência; mas as diferenças portam-se como reconciliadas e retomadas à paz. A noção de desenvolvimento passa a ser central dessa concepção e, para o bem ou para o mal contemporaneamente.

Mesmo a ideia de progresso, que implicava que o depois pudesse ser explicado em função do antes, encalhou, de certo modo nos recifes do século XX, ao sair das esperanças ou das ilusões que acompanharam a travessia do mar aberto pelo fabuloso séc. XIX. Esse questionamento refere-se a várias ocorrências distintas entre si que não atestam um progresso moral da humanidade, e sim, uma dúvida sobre a história como portadora de sentido, dúvida renovada, essencialmente no que se refere ao seu método, objeto e fundamentalmente nas grandes dificuldades não só em fazer do tempo um princípio de inteligibilidade, como ainda em inserir aí um princípio de identidade. A história, essencialmente, isto é, compreensão da série de relações sobre acontecimentos reconhecidos como acontecimentos por muitos. Acontecimentos que podemos pensar que importarão sempre aos olhos dos “historiadores de amanhã”. E por mais consciente tal problematização, de nada pode nesse caso vincular a algumas circunstâncias. Algumas imagens, como se fosse menos verdadeiro, dizem que os homens fazem a história, mas não sabem, talvez sob condições sociais determinadas.

Desde Hegel sabemos que a diferença dos sexos passou a fundamentar a diferença de gêneros masculino e feminino que, de fato, historicamente a antecedera. O sexo autonomizou-se e ganhou o estatuto de fato social originário. Revolucionários, burgueses, filósofos, moralistas, socialistas, sufragistas e feministas, todos estavam de acordo em especificar as qualidades morais, intelectuais e sociais dos humanos, partindo-se da diferença de gênero entre homens e mulheres. A ideia, ou o espírito está “acima do tempo”, tal é o próprio conceito do tempo; é eterno, em e para si, não é rompível no tempo porque ele não perde o lado reconhecendo um lado do processo. No indivíduo, como tal, é de outro modo, neste sentido que está de um lado o gênero; a vida mais bela é a que une perfeitamente o universal e sua individualidade em uma figura: Gestalt. Mas também então o indivíduo está separado do universal, e assim é um lado do processo, a alterabilidade; após este momento mortal ele cai no tempo. É neste sentido que a interpretação hegeliana compreende que “o [que é] medíocre dura e, afinal, governa o mundo; mas também pensamentos tem esta mediocridade, com eles a doutrina o mundo existente, apaga a vitalidade espiritual, transforma-o em hábito, e assim dura. A duração consiste em que ela permanece na falsidade, não consegue seu direito, não dá a sua honra ao conceito, não se representa como processo a verdade”.

Bibliografia Geral Consultada.  

LEFORT, Claude, Le Travail de l’Oeuvre Machiavel. Paris: Editeur Gallimard, 1986; LARIVAILLE, Paul, Itália no Tempo de Maquiavel. Rio de Janeiro: Editora Companhia das Letras, 1988; BATH, Sérgio, Maquiavelismo: A Prática Política Segundo Nicolau Maquiavel. São Paulo: Editora Ática, 1992; DE GRAZIA, Sebastian, Maquiavel no Inferno. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1993; NEDEL, José, Maquiavel: Concepção Antropológica e Ética. Porto Alegre: Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1996; PORTANTIERO, Juan Carlos, Fortuna y Virtud en la República Democrática. Estudios sobre Maquiavelo. Buenos Aires: Consejo Latino-americano de Ciências Sociales, 2000; SIMMEL, Georg, El Individuo y la Libertad: Ensayos de Crítica de la Cultura. Barcelona: Ediciones Península, 2001; NIVALDO, José, Maquiavel, o Poder. São Paulo: Editor Martin Claret, 2004; WHITE, Michael, Maquiavel: Um Homem Incompreendido. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007; HEGEL, Friedrich, Fenomenologia do Espírito. 4ª edição. Petrópolis (RJ); Editoras Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2007; ABRAHÃO, Miguel Martins, O Strip do Diabo. São Paulo: Editor Agbook, 2009; KING, Ross, Maquiavel: Filósofo do Poder. São Paulo: Objetiva, 2010; DUKHEIM, Émile, Da Divisão do Trabalho Social. 4ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010; BAGNO, Sandra, “O Brasil na hora de ler Maquiavel: Notas sobre a primeira edição brasileira d`O Príncipe, traduzida por Elias Davidovich”. In: Revista Tempo. Rio de Janeiro, vol. 20, pp. 1-21; 2014; LEONARDI, Evandro Marcos, Conflito Civil e Liberdade no Pensamento Republicano de Maquiavel. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2015; MAGALHÃES, Leonardo Vello de, Conflito e Liberdade em Maquiavel. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Direito. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2015; BIONDO, Valéria, Franklin e seus Aforismos Educativos: Um Modo de Existência e de Conduta Moral e da Racionalização da Sexualidade. Tese de Doutorado em Educação Escolar.  Faculdade de Ciências e Letras. Araraquara: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, 2023; RAMOS, Paula Pope, O coração que não sabe encolher: a figuração da mulher vingativa na poética gótica do século XIX. Tese de Doutorado. Instituto de Letras. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2025; entre outros.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Monemvasia – Gibraltar do Oriente, Preservação & Fortaleza Medieval.

                                      A natureza quando agredida não se defende, ela apenas se vinga. Albert Einstein                           


         Albert Einstein nasceu em Ulm, na Alemanha, no dia 14 de março de 1879. É considerado o físico mais influente do século XX. Filho de um pequeno industrial judeu, em 1880 mudou-se com a família para a cidade de Munique. Seus pais Hermann Einstein e Pauline Koch eram judeus. O caráter e a biblioteca do pai foram importantes na formação de Albert Einstein. Nos primeiros anos de vida, Einstein teve dificuldades para se expressar através da fala e era lento para aprender, fato que, durante algum tempo, deixou seus pais preocupados. Nos primeiros anos escolares, Einstein não se destacava nem pelas notas nem pela regularidade com que ia à escola. Com seis anos de idade, incentivado pela mãe, começou a estudar violino. Cedo se destacou no estudo da física, matemática e filosofia. Aos nove anos ingressa no Luitpold Gymnasium, uma escola secundária em Munique, Alemanha. Foi fundada pelo príncipe Luitpold da Baviera em 1891 como Luitpold-Kreisrealschule para servir a parte oriental da cidade e seus subúrbios. Ficava na Alexandrastrasse em frente ao Museu Nacional, onde se interessa por geometria e álgebra, matérias nas quais progride. Aos doze anos é um considerado um gênio das matemáticas, mas lê avidamente G. W. Leibniz, figura central na história da matemática e filosofia, Immanuel Kant na epistemologia e o racionalismo continental, onde impera a forma de raciocínio dedutivo, e a tradição empírica inglesa de Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução e David Hume que se opôs a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito desde um ponto de vista teológico-metafísico.

Foi paradoxal para seus mestres, que nem sempre sabiam responder as suas perguntas nem refutar seus questionamentos tanto políticos quanto existenciais. A física, com as ciências da natureza, faz parte de um complexo de instituições de importância na sociedade contemporânea, não só em função do vulto dos investimentos, como também do contingente humano, do número e da diversidade de organizações comprometidas com sua expansão. Os físicos constituem um grupo de profissionais prestigiados, formados em organizações próprias. Dispõem de enormes facilidades de trabalho, como laboratórios, bibliotecas, serviços de intercâmbio e divulgação de informações etc., os quais, em muitos aspectos sociais, têm superado as vantagens conquistadas por grupos profissionais mais tradicionais na cultura ocidental, como advogados e médicos. Como possuía caráter individualista e alheio à disciplina prussiana, acaba sendo expulso do Gymnasium. Aos 16 anos abandona a religião judaica que está na obediência espiritual aos mandamentos divinos estabelecidos nos livros sagrados, uma vez que para eles, isso é fazer a vontade de Deus e demonstrar respeito e amor pelo criador. O judaísmo é a religião monoteísta que possui o menor número de adeptos no mundo, tornando-se livre de qualquer tipo de imposição em sua formação.

 Ainda que fosse de família judia, Albert Einstein (1879-1955) tinha um pensamento sobre religião moldado durante sua estada em Zurique, na Suíça, quando os livros do filósofo Spinoza, “caíram em suas mãos”. O Deus de Spinoza era amorfo e impessoal, responsável pela ordem no universo e pela beleza da natureza. Monemvasia (Μονεμβασία) tem como representação social uma vila, município e unidade municipal da costa Sul da Grécia continental, a periferia da Grécia localizada a Norte e Noroeste da Ática. Tem fronteiras com a Tessália, a Norte e com a Grécia Ocidental, a Oeste e está limitada a Sul pelo Golfo de Corinto. Divide-se nas prefeituras de Eubeia, Euritânia, Fócida, Ftiótida e Beócia. A sua capital é Lâmia, na prefeitura da Ftiótida. Faz parte da unidade regional da Lacônia e da região do Peloponeso. A unidade municipal, cuja sede é a cidade de Molaoi, situada noutro município, tem 947 km² e em 2001 tinha 23 853 habitantes com densidade de 25,2 hab./km²). No mesmo ano, o município de Monemvasia tinha 4 660 habitantes, dos quais 1 405 residiam na vila. A localidade e fortaleza foram fundadas em 583 por gentes da Lacônia que procuravam fugiram da invasão da Grécia por Eslavos e Ávaros. A história dessa invasão e ocupação do Peloponeso foi narrada na Crônica de Monemvasia, escrita na Idade Média. No século VIII foi construído um hospital, um centro de luta contra a propagação da peste, que promovia os princípios hipocráticos de higiene. A partir do século X, a cidade tornou-se um centro marítimo e mercantil importante. A fortaleza resistiu a tentativas de invasão de Árabes e Normandos em 1147.

                        


Nessa época, os campos de trigo cultivados dentro da fortaleza davam para alimentar 30 homens. Em 1204, durante invasão do Império Bizantino pelos Cruzados, Monemvasia foi assediada sem sucesso pelos Venezianos. Apesar da maior parte do Peloponeso ter caído nas mãos dos Latinos, a cidade permanece bizantina. Guilherme II de Villehardouin, príncipe de Acaia, conquistou-a em 1248, após três anos de cerco. Em 1259, Guilherme foi capturado pelos Bizantinos depois da Batalha de Pelagônia e em 1262 Monemvasia foi devolvida a Miguel VIII Paleólogo como parte do resgate de Guilherme. A vila situa-se à beira do mar Egeu, numa pequena ilha ao largo do Sudeste do Peloponeso. A ilha está ligada ao continente por um dique com 200 m de extensão, que a transforma “numa península artificial”. A maior parte da ilha consiste num planalto com altitude média de cerca de 100 m, cerca de 1km de comprimento no sentido Leste-Oeste e uma largura máxima de 300 m. A encosta costeira norte é muito abruta, descendo quase a pique para o mar, enquanto que a encosta sul, onde se encontra a vila tem um declive menos acentuado. A ilha é dominada por uma imponente fortaleza medieval. Outros vestígios medievais são numerosas igrejas bizantinas e as muralhas da vila.

Etimologicamente o nome deriva das palavras gregas Mόνη (mone) e Eμβασία (emvasia), que significam “entrada” ou “embarcadouro único”. O seu nome em italiano, Malvasia, deu nome à casta de uvas Malvasia, disseminada por todo o Mediterrâneo e comum em Portugal, onde é usada, por exemplo, na elaboração de vinho do Porto e da Madeira. Monemvasia é também chamada de Gibraltar do Oriente e “O Rochedo”, pela semelhança de um grande penedo situado na vila com o Rochedo de Gibraltar. A vila encontra-se numa encosta junto à extremidade Sudeste da ilha, a Sudeste do rochedo, ocupando uma parte deste, em frente à baía de Palaia Monemvasia. Além da pequena vila situada no local da antiga cidade medieval, existe uma aglomeração urbana, mais moderna, situada no continente, em frente à ilha: o bairro de Géfira, onde se situa o porto e a maior parte das infraestruturas turísticas. A parte antiga é chamada Castro (“castelo”), e ela própria também está dividida em duas partes: a “vila alta”, no cimo do rochedo, atualmente abandonada, e a “vila baixa”, situada abaixo. Muitas das suas ruas são muito estreitas e só acessíveis a pé. A Noroeste do centro há um pequeno conjunto de dez casas.

Monemvasia foi fundada em 583 d.C. por refugiados bizantinos e rapidamente se tornou um importante centro comercial e fortaleza natural devido à sua localização estratégica. Ao longo da Idade Média, passou por domínio franco, foi devolvida aos bizantinos, vendida aos venezianos e frequentemente disputada por venezianos e otomanos. Em 1821, foi uma das primeiras cidades a ser libertada pelos rebeldes gregos, proclamando sua Independência. Fundada pelo imperador bizantino Maurício, em (583 d.C.) a cidade serviu de refúgio para populações que fugiam das invasões eslavas e avar. No século X, era um centro comercial vital, controlando o comércio entre Constantinopla e o Mediterrâneo Ocidental. As muralhas da fortaleza protegiam a cidade de ataques marítimos, como os de normandos, árabes e persas. Em 1249, os francos capturaram a cidade após um longo cerco, mas a devolveram aos bizantinos dez anos depois como resgate pela prisão de Guilherme II. Após a venda aos venezianos em 1471, a cidade foi palco de conflitos alternados entre venezianos e otomanos até 1821. Liderança de Tzannetakis Grigorakis: Monemvasia foi uma das primeiras cidades a ser sitiada pelos rebeldes gregos. Em agosto de 1821, o herói grego Tzannetakis Grigorakis entrou na cidade e proclamou a Independência do domínio turco.

A localidade e fortaleza foram fundadas em 583 por “gentes da Lacônia que procuravam fugiram da invasão da Grécia por Eslavos e Ávaros”. A história social dessa invasão e ocupação do Peloponeso foi narrada na Crônica de Monemvasia, escrita na Idade Média. No século VIII foi construído um hospital, um centro de luta contra a propagação da peste, que promovia os princípios hipocráticos de higiene. A Crônica de Monemvasia, raramente reconhecida como Crônica do Peloponeso, cunhada pelo bizantinista francês Paul Lemerle (1903-1989), é um texto medieval do qual quatro versões, todas escritas em grego medieval ainda existem. O autor (ou autores) do relato etnográfico é atualmente desconhecido. A Crônica, especificamente a versão do mosteiro Iberikon, narra os eventos que retratam a conquista e colonização avaro - eslava da Grécia continental, abrangendo o período de 587 a 805 d.C. Apesar de sua narrativa convincente, a Crônica do ponto de vista histórico-social não é uma crônica real. O texto representa uma compilação de fontes envolvendo ávaros e eslavos e se concentra na fundação da sede metropolitana de Patras. É possível que a Crônica tenha sido realmente usada em negociações com o metropolita de Corinto sobre o status do metropolita de Patras.

O primeiro manuscrito da Crônica foi publicado em 1749 por Joseph Pasinus (ou Giuseppe Passini) e seus colegas, Rivautella e Berta, na Biblioteca Real de Turim. O texto foi reeditado em 1884 por Spyridon P. Lambros junto com duas outras versões, uma pertencente ao mosteiro Iberikon e a outra pertencente ao mosteiro Koutloumousiou no Monte Athos. Pequenas correções foram realizadas em todas as três versões da Crônica por NA Bees, que republicou os textos em 1909. Três anos depois (1912), uma quarta versão foi publicada por Lambros, que descobriu outro texto no Collegio Greco em Roma. Atualmente não há consenso entre os estudiosos modernos sobre a ordem cronológica dos quatro manuscritos da Crônica. Lambros, por exemplo, argumenta que o texto descoberto no mosteiro de Iberikon é a versão mais antiga. NA Bees, no entanto, discorda de Lambros e considera o manuscrito Iberikon uma variante posterior das versões de Turim e Koutloumousion. Mas, apesar da falta de consenso, estudos recentes demonstram que o texto Iberikon é uma versão posterior da Crônica por meio da utilidade de uso do sistema de datação bizantino, enquanto os textos de Koutloumousion e Turim usam o sistema de datação alexandrino mais antigo. O autor (ou autores) da Crônica de Monemvasia é desconhecido. Uma hipótese de J. Koder afirma que Arethas de Cesareia foi responsável pela compilação do texto. O argumento de Koder foi rejeitado por I. Dujčev com base na alusão da Crônica ao Imperador Nicéforo II (r. 963–969), que viveu depois de Arethas.

O que se sabe em última análise sobre o(s) autor(es) é sua ignorância simbólica da geografia dos Bálcãs fora do Peloponeso, apesar de basear sua descrição dos ataques ávaros na descrição de Procópio dos ataques dos hunos. Os estudiosos também divergem em suas opiniões sobre as datas exatas de composição dos quatro manuscritos da Crônica. Paul Lemerle argumenta que o texto original foi escrito pela primeira vez em 932 d.C., quando foi usado no Scholion de Arethas. No entanto, Spyridon Lambros acredita que o texto Iberikon foi composto entre 806 e 1083, enquanto os textos de Turim e Koutloumousion foram escritos em algum momento durante o final do século XIII. NA Bees contesta a avaliação de Lambros e acredita que toda a Crônica foi desenvolvida entre 1340 e o século XVI. S. Kougeas data a composição do texto para depois do reinado do Imperador Nicéforo II Focas (r. 963–969) enquanto Michael Whitby afirma que a Crônica foi composta pela primeira vez no Peloponeso por volta de 1000 d.C. I. Dujčev data a Crônica em 963–1018 d.C., e Florin Curta data a escrita do texto no final do século X ou no início do século XI. De acordo com o manuscrito Iberikon da Crônica, os ávaros/eslavos conquistaram a Tessália, o Épiro, a Ática e a ilha de Eubeia. Como resultado, muitos gregos recuaram para outras áreas geográficas: os habitantes de Patras fugiram para o Régio na Calábria, os argivos fugiram para a ilha de Orobe, os coríntios fugiram para Egina e os laconianos fugiram para a Sicília.

A cidade de Monemvasia, especificamente, foi construída na época na costa em uma região inacessível do Peloponeso por grupos que mais tarde seriam reconhecidos coletivamente como tzakones. Devido ao terreno mais acidentado do Peloponeso oriental, as áreas de Corinto ao Cabo Malea permaneceram sob controle romano (grego bizantino). Um dos governadores do Peloponeso, “um nativo da Armênia Menor, entrou em conflito com várias tribos eslavas e as aniquilou com sucesso”. Este membro anônimo da família Skleroi ajudou a abrir caminho para os gregos nativos recuperarem suas terras. Ao ouvir esses eventos, o imperador Nicéforo I (r. 802–811) contribuiu para revitalizar as cidades, reconstruir as igrejas e cristianizar os bárbaros. A maior parte da narrativa na Crônica é derivada de obras de Evágrio Escolástico, Teófanes, o Confessor, Menandro Protetor e Teófilo Simocata. O(s) autor(es) da Crônica, no entanto, usaram outra fonte para escrever sobre os ávaros e eslavos estabelecendo seu governo no Peloponeso por 218 anos. Este texto desconhecido pode ter sido uma falsificação de origem eclesiástica usada por ou em nome do Bispo de Patras. Apesar da fonte ser desconhecida, ela foi usada tanto no Escolium de Arethas quanto em uma carta do Patriarca Nicolau III ao Imperador Aleixo I Comneno (r. 1081–1118). A validade histórica da Crônica de Monemvasia ainda é um assunto de disputa acadêmica. Peter Charanis (1908-1985), por exemplo, descreve a Crônica como “absolutamente confiável”. Kenneth Setton (1914-1995), no entanto, discorda de Charanis e argumenta que a Crônica é uma “mistura de alguns fatos e alguma ficção”. Stilpon P. Kyriakides (1955-1987) descobre que a Crônica contém um viés eclesiástico e que a conquista da Grécia pelos ávaros/eslavos é um mito. Ilias Anagnostakis e Anthony Kaldellis analisaram o texto e encontraram várias deturpações e erros; Kaldellis também chamou a Crônica de altamente e notoriamente não confiável.

Há uma série de erros e exageros na Crônica de Monemvasia. Por exemplo, a cidade de Monemvasia não foi construída depois que os bárbaros invadiram a Grécia. Na verdade, a cidade foi construída quatro a cinco anos (cerca de 582–583) antes do advento dos ávaros e eslavos. Outro exemplo envolve a migração dos coríntios para a ilha de Egina no Golfo Sarônico, que é contradita por uma correspondência (fevereiro de 591 d.C.) entre o Papa Gregório Magno e o Arcebispo Anastácio de Corinto. A ilha tem a forma aproximada de um triângulo, e uma área de cerca de 87 km², sendo dois terços da ilha formados por um vulcão extinto. Na ilha encontra-se o mais bem conservado templo das ilhas gregas, o Templo de Afaia. Segundo a mitologia grega, Egina é filha do deus do rio Asopo e da ninfa Metope. O nome da ilha era Oenone, e passou a se chamar Egina porque Zeus raptou a filha de Asopo e levou-a para a ilha, onde nasceu Éaco, que se tornou seu rei. Éaco foi o avô de Aquiles. Éaco estava sozinho na ilha, e Zeus transformou as formigas em homens para ele. 

Outras fontes que contradizem a Crônica incluem cânones do Sexto Sínodo Ecumênico (691–692) realizado no Salão Trulliano do Grande Palácio de Constantinopla, bem como a Taktika composta pelo Imperador Leão III, o Isauriano (r. 717–741) entre 733–746; ambas as fontes historiográficas mencionam uma presença contínua de gregos e instituições administrativas da igreja na Grécia continental, sem nenhuma indicação de soberania política eslava de longo prazo. Quanto à reconstrução de igrejas no Peloponeso, não há nenhum registro arquitetônico substancial que corrobore este evento específico mencionado na Crônica. Do ponto de vista arqueológico, a Crônica de Monemvasia exagera o impacto das invasões avaro-eslavas da Grécia. Em Metana, não há evidências de qualquer interrupção generalizada dos padrões de assentamento que também é o caso em outras partes do Peloponeso. A ilha de Citera, por outro lado, foi abandonada junto com outros sítios costeiros devido a ataques conduzidos por uma ou mais frotas eslavas.  A partir do século X, a cidade tornou-se um centro marítimo e mercantil importante. A fortaleza resistiu a tentativas de invasão de Árabes e Normandos em 1147. Nessa época, os campos de trigo cultivados dentro da fortaleza davam para alimentar 30 homens. Em 1204, durante invasão do Império Bizantino pelos Cruzados, Monemvasia foi assediada sem sucesso pelos Venezianos. Apesar da maior parte do Peloponeso ter caído nas mãos dos Latinos, a cidade permanece bizantina. Guilherme II de Villehardouin (1211-1278), príncipe de Acaia, conquistou-a em 1248, após três anos de cerco. Em 1259, Guilherme foi capturado pelos Bizantinos depois da Batalha de Pelagônia e em 1262 Monemvasia foi devolvida a Miguel VIII Paleólogo como parte do resgate de Guilherme. O governador imperial e comandante militar bizantino Miguel Cantacuzeno reagrupa de novo os habitantes de Monemvasia, a qual passa a sua capital e uma base de apoio para a reconquista do Peloponeso aos barões francos e para a constituição do despotado grego da Moreia.

Além de ser o principal porto de exportação do vinho Malvasia, a cidade é então um porto de abrigo para a marinha genovesa aliada dos Bizantinos, ao passo que os Venezianos eram aliados dos Francos e para os corsários de Creta, que atacam os navios latinos. Monemvasia, a quem os imperadores concederam valiosos privilégios, torna-se reduto dos corsários mais perigosos do Levante. Isso leva o almirante catalão Rogério de Lauria a saqueá-la em 1292. Em contrapartida, em 1302, a cidade deu as boas-vindas aos mercenários da Companhia Catalã que se dirigiam para Oriente. A Companhia Catalã representou  um grupo de cerca de 6 mil almogávares comandados por Rogério de Flor. Foram chamados pelo imperador bizantino Andrônico II Paleólogo em 1303, para lutar contra os Turcos que ameaçavam o Império Bizantino. Os Catalães, antes de chegarem a Constantinopla, estavam ao serviço de Frederico II da Sicília. Depois da paz de Caltabellota (1302) entre Frederico e Carlos II de Anjou, a Companhia Catalã ficou sem trabalho. Então, os Catalães tomaram como chefe a Rogério de Flor, um aventureiro, antigo templário expulso da ordem por roubo. Este último, ao fato dos problemas que sacudiam o Império Bizantino, ofereceu os seus serviços a Andrônico II Paleólogo em troca do título de Megaduque, bem como a mão de uma princesa e, para as suas tropas, um salário do duplo do habitual para mercenários. Andrônico aceitou as condições, após buscar desesperadamente durante vários anos ajuda estrangeira para lutar contra os turcos.

Desde a sua invasão em setembro de 1303 os Catalães conquistaram Constantinopla. Uns dias mais tarde, massacraram uma Companhia de Genoveses que reclamavam o pagamento das suas dívidas. Andrônico, então, enviou-os à Ásia Menor para combater os Turcos que chegaram até o Bósforo e reduziram as populações locais à escravidão. Desde o seu desembarque em Cízico em janeiro de 1304, os Catalães rechaçaram os Turcos que assediavam a cidade. Os homens de Rogério de Flor tomaram a cidade, não sem alguns problemas com os habitantes. A campanha começou em abril de 1304, conseguindo em alguns meses a expulsar os Turcos da Ásia Menor. Os Catalães avançavam com tal velocidade sobre os Turcos que estes não podiam utilizar a sua arma chave, o arco. Rogério de Flor chegou até as Portas de Ferro nos Montes Tauro, e ali, ele e os seus homens derrotaram os Turcos em agosto de 1305, capturando um enorme botim. A relação entre os Catalães e os locais não foi boa, pois os homens de Rogério de Flor cometeram excessos. Enquanto Rogério de Flor estava em campanha, os habitantes da cidade capturaram o seu botim e, ao regresso dos Catalães, fecharam as portas da cidade. Os Catalães aprestaram-se a assediar a cidade quando foram chamados à Europa por Andrônico para lutar contra os Búlgaros. O tsar búlgaro Teodoro Esfendóstlabo da Bulgária invadiu em 1305 o território do Império e aprestava-se a atacar os portos do mar Negro. Miguel IX tentou rejeitá-lo, mas foi derrotado perto de Adrianópolis. 

O imperador preparava a sua revanche e teve de fazer fundir a sua louça para levantar um novo exército - fato anedótico que amostra a crescente pobreza do Império Bizantino. Apesar disso, a situação era ruim e Andrônico mandou chamar Rogério de Flor. Mas o exército bizantino opôs-se. Enquanto isso, os Catalães já cruzaram o Bósforo e encontravam-se em Galípoli. Andrônico pediu-lhes que voltassem para a Ásia, mas Rogério de Flor recusou este câmbio de postura e pediu a Constantinopla que os seus soldados fossem pagos. O imperador enviou-lhe uma pequena quantidade de dinheiro. Ao mesmo tempo, desembarcaram reforços para Rogério em Madyta, dirigidos por Berengário de Entença, um nobre aragonês. Berengário tinha sido, de fato, enviado por Jaime II de Aragão e Frederico II da Sicília. Para aceder ao título de césar [necessário esclarecer], Rogério de Flor cedeu a Berengário de Entença o seu título de megaduque. Quando as relações entre eles e os Bizantinos pareciam pacificar-se, Andrônico queixou-se dos imensos sacrifícios que levava feito pelos Catalães. Esta reação desgostou a Berengário. Em janeiro de 1307, os Turcos atacaram Filadélfia e o rei da Sicília preparou uma expedição para tomar Constantinopla. Andrônico, como último recurso, reconciliou-se com Rogério de Flor, nomeando-o césar e dando-lhe como feudo as províncias da Ásia Menor. Rogério preparou-se para atacar os Turcos com 3000 homens. Os Catalães desembarcaram na Ásia, mas Rogério cometeu então o erro de ir saudar Miguel IX, ignorando a hostilidade deste para com ele. O novo imperador recebeu-o suntuosamente, mas, durante o festim (ocorrido em 7 de abril 1307), Rogério e o seu séquito foram assassinados. Ao mesmo tempo, os Turcos, chamados por Miguel IX, desembarcavam em Galípoli e matavam um grande número de almogávares.

Sob comando de Berengário de Entença, os Catalães massacraram a totalidade dos habitantes de Galípoli e criaram uma espécie de Estado. Berengário, com uma pequena frota, dedicou-se à pilhagem na Propôntida, assassinando os seus habitantes. Contudo, ao seu regresso, os Genoveses capturaram o chefe catalão. Miguel IX tentou destruir o Estado catalão, mas foi derrotado em Apros, ao sul-oeste de Rodesto. Privado de tropas, o império não pôde impedir que os almogávares saqueassem a Trácia e matassem ou reduzissem à escravidão a população. Os Catalães queimaram os estaleiros imperiais. Pouco a pouco, a tropa catalã tornou-se numa força multinacional: em efeito, os Gregos desertores dos Italianos e dos Turcos reforçaram os efetivos de Berengário. Para além disso, Fernando Gimenes de Arenos desembarcou em Madyte com novos reforços almogávares. Bernardo de Rocaforte instalou-se em Rodosto e Ramon Muntaner, um historiador aragonês, foi designado governador de Galípoli. Durante dois anos e meio, os almogávares saquearam e massacraram as populações do território bizantino. O genovês Spinola tentou atacar Galípoli em julho de 1308, mas a sua expedição fracassou. Pelo seu lado, Berengário de Entença, pago pelo rei aragonês, fez uma demonstração de força ante Constantinopla.

Pouco a pouco, os recursos da península de Galípoli acabaram-se e os Catalães decidiram ir-se. Em 1308, o Infante Fernando de Maiorca, sobrinho de Frederico II, tomou sob o seu comando a Companhia Catalã. Berengário de Entença, Gimenes e Muntaner reconheceram o seu mandato, mas Bernardo de Rocaforte recusou. A saída dos almogávares para terras mais frutíferas não se desenvolveu como era previsto; após cruzarem o rio Maritsa, as tropas de Bernardo de Rocaforte enfrentaram-se com as de Entença. Este último faleceu durante a batalha. Conhecendo o sucedido, Gimenes fugou-se para Constantinopla, onde Andrônico o esposou com uma das suas sobrinhas e nomeou-o Megaduque. Constantinopla viu os Catalães dividirem-se e abandonar o território do império. Rocaforte ameaçou inutilmente Tessalônica e partiu para a península de Cassandreia onde saqueou tudo, até mesmo os mosteiros do monte Atos. Fernando e Muntaner marcharam de Tasos com uma frota e dirigiram-se para o Negroponte, onde encontraram uma esquadra veneziana com Teobaldo de Chepoy a bordo, quem reclamava o trono de Constantinopla.

O infante foi capturado e foi liberto o duque de Atenas, que o encarcerou como retaliação da pilhagem do porto de Amiros. As galeiras catalãs foram capturadas e a pilhagem saqueada. Teobaldo De Chepoy enviou Rocaforte, com o que acabava de aliar-se. Mas ambos os chefes não se terminaram de entender e os capitães, exasperados pela atitude do seu chefe, entregaram Rocaforte a Teobaldo de Chepoy, que o enviou para Nápoles, onde Roberto de Anjou o encarcerou. O final era próximo para os Catalães. Sob comando de Teobaldo de Chepoy, esgotaram os recursos da península de Cassandreia. Os almogávares, ao não conseguirem tomar Tessalônica, dirigiram-se para Tessália onde se encontraram com João, o Anjo, aliado de Andrônico, que desejava servir-se deles contra os príncipes francos de Grécia. Finalmente, abandonaram João, o Anjo, e aceitaram as propostas de Gualtério V de Brienne, duque de Atenas. Em seis meses mais, os Catalães capturaram trinta lugares para o duque de Atenas. Porém, Gualtério de Brienne cometeu o erro de não pagar mais que uma parte aos Catalães. Estes conseguiram uma última grande vitória contra os cavaleiros francos do Principado de Acaia e das ilhas. Perseguindo os fugidos, os almogávares ocuparam Atenas e Tebas, onde fundaram um Estado que duraria 80 anos. Em 1333, é a vez dos piratas turcos de Umur Begue, emir de Aidim, pilharem a cidade; é a primeira vez que os Turcos aparecem na região. Em 1384, o arconte local Paulo Mamonas opõe-se ao déspota da Moreia, Teodoro I Paleólogo, que pretende entregar a região aos Venezianos. Dez anos mais tarde, em 1394, Mamonas paga tributo ao sultão otomano Bajazeto I e em 1397 é deposto por Teodoro. Mamonas apela então a Bajazeto, que envia tropas para lhe devolver o poder. Em 1419, o rochedo parece ter caído nas mãos dos Venezianos, mas regressou rapidamente à posse do déspota. Cerca de 1401, o historiador Jorge Frantzes nasceu na cidade.

Depois da Queda de Constantinopla em 1453, Monemvasia resistiu aos ataques das tropas de Maomé II, o Conquistador em 1458 e 1460, tornando-se o último domínio do déspota da Moreia Tomás Paleólogo ao trono imperial bizantino. Como não tinha forças para defender Monemvasia, ofereceu-a ao sultão, mas acabou por vendê-la ao papa. Em 1464, os habitantes acharam que o representante do papa era fraco e que o papa era incapaz de os proteger, pelo que admitiram uma guarnição veneziana. A cidade foi relativamente próspera sob o domínio veneziano até à paz de 1502-1503, quando perdeu as terras agrícolas que eram a fonte de alimentos e do vinho Malvasia. Os mantimentos tinham que vir por mar ou de terras em mãos dos Turcos, e o cultivo da vinha definhou sob o domínio turco. O rochedo foi mantido pelos Venezianos até ao tratado de 1540, que custou à Sereníssima República Monemvasia e Náuplia, as suas duas últimas possessões no continente grego. Os habitantes que se recusaram a viver sob o domínio otomano receberam terras noutros lugares próximos para morar. Os Otomanos governaram a cidade até que esta foi novamente ocupado pelos Venezianos entre 1690 e 1715. O segundo período de domínio otomano prolongou-se entre 1715 e 1821. Sob os Otomanos, a cidade era reconhecida como Menekşe (violeta em turco) e era o centro dum sanjaco (distrito) da província de Mora (nome turco do Peloponeso). A importância comercial de Monemvasia manteve-se até à Revolta de Orlov (1770), durante a guerra russo-turca, durante a qual se assistiu a um severo declínio econômico e social. A cidade foi libertada do jugo otomano a 23 de julho de 1821 por Tzannetakis Grigorakis (1742-1813) e o seu exército privado, que a cercaram durante a Guerra de Independência da Grécia.

A fortaleza não é habitada desde 1920. Durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), foi bombardeada por navios alemães, austro-húngaros e turcos. Pela sua importância social e política estratégica, ainda que modesta, Monemvasia foi ocupada por tropas italianas entre junho de 1941 e outubro de 1943. Aos italianos seguiram-se os alemães até outubro de 1944, quando a ilha foi ocupada pelos britânicos, que só a abandonariam em outubro de 1949. Depois de ter estado algo esquecida e isolada durante a década de 1950, nos últimos anos assistiu-se ao crescimento do turismo. Os edifícios medievais foram restaurados e alguns deles convertidos em hotéis. Devido à maior parte das ruas não estarem adaptadas “ao trânsito automóvel, a vila preserva a sua tranquilidade e um carácter muito original”. Na década de 1970, a cidade estava praticamente abandonada e em ruínas. Um processo de restauração bem-sucedido, com uso de materiais tradicionais, permitiu a preservação de sua arquitetura única, tornando-a um destino turístico popular. Em 1971 foi construída a estrada que liga a ilha com o continente, quebrando um isolamento de séculos. 

Ao longo do século XX, milhões de gregos migraram para Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá e Alemanha, criando uma grande diáspora grega. A migração líquida começou a mostrar números positivos a partir da década de 1970, mas até o início da década de 1990, o principal influxo foi o retorno de migrantes gregos ou de gregos pônticos e outros de países como Rússia, Geórgia, Turquia, República Tcheca e outros lugares do antigo bloco soviético. Um estudo do Observatório das Migrações do Mediterrâneo sustenta que o censo de 2001 registrou 762 191 pessoas residentes na Grécia sem cidadania grega, o que constitui cerca de 7% da população total. Dos não cidadãos residentes, 48 560 eram cidadãos da União Europeia ou da Associação Europeia de Comércio Livre e 17 426 eram cipriotas com status privilegiado. A maioria vem dos países da Europa de Leste: Albânia (56%), Bulgária (5%) e Romênia (3%), enquanto os migrantes da antiga União Soviética (Geórgia, Rússia, Ucrânia, Moldávia etc.) representam 10% da população. total. Alguns dos imigrantes da Albânia são da minoria grega albanesa, centrada na região do Epiro Setentrional. O censo demográfico de 2011 registrou 9 903 268 cidadãos gregos (91,56%), 480 824 cidadãos albaneses (4,44%), 75 915 cidadãos búlgaros (0,7%), 46 523 cidadãos romenos (0,43%), 34 177 cidadãos paquistaneses (0, 32%), 27 400 cidadãos georgianos (0,25%) e 247 090 pessoas tinham outra cidadania ou não identificada (2,3%). Cerca de 189 mil pessoas da população total de cidadãos albaneses foram relatadas em 2008 como gregos étnicos do sul da Albânia, na região histórica do Epiro do Norte.

O maior agrupamento de população imigrante não pertencente à União Europeia são os grandes centros urbanos, especialmente o município de Atenas, com 132 mil imigrantes que representam 17% da população local e, em seguida, Tessalônica, com 27 mil imigrantes atingindo 7% da população local. Há também um número considerável de co-etnias provenientes das comunidades gregas da Albânia e da antiga União Soviética. A Grécia, juntamente com Itália e Espanha, é um importante ponto de entrada para imigrantes ilegais que tentam entrar na União Europeia. Os imigrantes ilegais que entram na Grécia geralmente o fazem da fronteira com a Turquia, no rio Evros e das ilhas do leste do mar Egeu, em frente à Turquia principalmente Lesbos, Quio, Cós e Samos. Em 2012, a maioria dos imigrantes ilegais que entraram na Grécia vinham do Afeganistão, seguidos por paquistaneses e bengaleses. Em 2015, a chegada de refugiados por via marítima aumentou dramaticamente principalmente devido à Guerra Civil Síria. Houve 856.723 chegadas por via marítima na Grécia, um aumento de quase cinco vezes em relação ao mesmo período de 2014, dos quais os sírios representam quase 45%. A maioria dos refugiados e migrantes usa a Grécia como país de trânsito, enquanto seus destinos pretendidos são as nações do norte da Europa, como Áustria, Alemanha e Suécia.

A partir de 2013, aproveitando-se do caos da guerra civil na Síria e no Iraque, um grupo autoproclamado Estado Islâmico (EI), ou ad-Dawlah al-Islāmīyah começou a reivindicar territórios na região. Lutando inicialmente ao lado da oposição síria, as forças desta organização passaram a atacar qualquer uma das facções, sejam apoiadoras ou contrárias a Assad envolvidas no conflito, buscando hegemonia total. Em junho de 2014, militantes deste grupo proclamaram um Califado na região, com seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, como o califa. Eles rapidamente iniciaram uma grande expansão militar, sobrepujando rivais e impondo a sharia (lei islâmica) nos territórios que controlavam. Então, diversas nações ocidentais, como os Estados Unidos, as nações da OTAN na Europa, e países do mundo árabe, temendo que o fortalecimento do EI representasse uma ameaça a sua própria segurança e a estabilidade da região, iniciaram uma intervenção armada contra os extremistas. Outras nações, como Rússia e Irã, também intervém militarmente no conflito, mas ao lado do regime de Bashar al-Assad. Analistas políticos internacionais descrevem a participação das potências estrangeiras na Síria e o apoio dispensado as facções lutando no conflito como uma espécie de “guerra por procuração”.

Em novembro de 2024, após quatro anos de calmaria, a guerra recomeçou a todo vapor, com as forças rebeldes atacando do norte, sul e leste. Em 8 de dezembro, Assad fugiu de Damasco, colapsando seu governo, com os rebeldes tomando o controle de quase todas as principais cidades da Síria. Segundo informações de ativistas de direitos humanos dentro e fora da Síria, o número de mortos no conflito passa das 500 mil pessoas, sendo mais da metade de civis. Outras 130 mil pessoas teriam sido detidas pelas forças de segurança do governo. Mais de cinco milhões de sírios já teriam buscado refúgio no exterior para fugir dos combates, com a maioria destes tomando abrigo no vizinho Líbano. O conflito também gerou uma enorme onda migratória de sírios e árabes em direção a Europa, sem paralelos na história do continente desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) e outras organizações internacionais, crimes de guerra e contra a humanidade vêm sendo perpetrados pelo país por todos os lados de forma desenfreada. Na fase inicial da guerra, as forças leais ao governo foram os principais alvos das denúncias, sendo condenadas internacionalmente por incontáveis massacres de civis. Milícias leais ao presidente Assad e integrantes do exército sírio foram acusadas de perpetrarem vários assassinatos e cometerem inúmeros abusos contra a população. Contudo, durante o decorrer das hostilidades, as forças opositoras também passaram a ser acusadas, por organizações de direitos humanos, de crimes de guerra O Estado Islâmico, desde 2013, passou então a chamar a atenção pelos requintes de violência e crueldade nas inúmeras atrocidades que cometiam pelo país.

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