segunda-feira, 16 de junho de 2025

Parque do Povo - Maior São João, Quadrilhão & Maior Bolo do Mundo.

                        O Nordeste é menos uma geografia e mais uma invenção”. Durval Muniz de Albuquerque Júnior                                          

         O dinheiro e o trabalho podem existir e existiram historicamente antes de explicar a formação do capital, dos bancos, do trabalho assalariado, etc. Neste sentido objetivo do desenvolvimento humano, podemos dizer que a categoria mais simples pode exprimir relações dominantes de um todo menos desenvolvido ou, pelo contrário, relações subordinadas de um todo mais desenvolvido. Relações que existiam antes que o todo se desenvolvesse no sentido que encontra a sua expressão numa categoria mais concreta. Nesta medida, lembra Marx, que a evolução do pensamento abstrato, que se eleva do mais simples ao mais complexo, corresponderia ao processo histórico real. Por outro lado, podemos dizer que há formas de sociedade muito desenvolvidas, mas a quem falta maturidade, e nas quais descobrimos as formas mais elevadas de economia, como, por exemplo, a cooperação, uma divisão do trabalho desenvolvida e assim por diante, sem que exista nenhuma forma de moeda: o Peru, pré-capitalista, por exemplo. Também entre os eslavos, o dinheiro e a troca que o conduziu não aparecem (ou aparecem pouco) no interior de cada comunidade, mas aparecem nas suas fronteiras, no comércio com comunidades. A troca surge nas relações comunitárias entre si, muito antes de aparecer nas relações dos membros no interior de uma só e mesma comunidade. Embora o dinheiro apareça muito cedo e desempenhe um papel múltiplo, é na Antiguidade, enquanto elemento dominante, apanágio das nações unilateralmente, de nações comerciais continentais no âmbito do mercantilismo.

E mesmo na Antiguidade de menor duração, claramente entre os gregos e os romanos, ele só atinge o seu completo desenvolvimento, postulado na aurora da sociedade burguesa moderna, no período de sua dissolução. Esta categoria social, no entanto, tão simples, só aparece com todo o seu vigor nos Estados mais desenvolvidos. O sistema monetário, por exemplo, situa ainda de forma perfeitamente objetiva, como coisa exterior a si, a riqueza do dinheiro. Um enorme progresso é devido ao talento do escocês Adam Smith (1723-1790), que rejeitou toda a determinação particular da atividade criadora de riqueza, considerando apenas o trabalho puro e simples, isto é, nem o trabalho industrial, nem o trabalho comercial, nem o trabalho agrícola, mas todas estas formas de trabalho no seu caráter comum. Com a generalidade abstrata da atividade criadora de riqueza igualmente se manifesta, então, a generosidade do objeto na determinação da riqueza, o produto considerado em absoluto, ou ainda o trabalho em geral, mas enquanto trabalho passado, objetivado num objeto. A ideia de dominar a sociedade por meio de algum tipo de consenso não é nova. O perturbador problema por meio do confronto decorrente da apropriação capitalista da mais-valia perseguia a economia política clássica praticamente desde o início, e sua última grande figura, Ricardo, não tentou ocultar as inconciliáveis contradições envolvidas.  Em 1799 David Ricardo (1792-1823) teve o primeiro contato com A Riqueza das Nações, de Adam Smith, tendo se impressionado profundamente com o livro.

Sua primeira participação no debate público deu-se dez anos depois, em 1809, tratando de questões de economia monetária.  O debate era sobre a livre conversibilidade da moeda inglesa, a possibilidade de converter-se qualquer libra emitida pelo governo britânico em ouro, no momento em que se desejasse. Esta conversibilidade, o pilar do que conhecemos como padrão-ouro, estava suspensa desde 1797 em função da desvalorização das notas em relação à cotação do ouro. Um processo de inflação, de aumento dos preços das mercadorias em relação à unidade monetária, fizera com que o governo suspendesse a garantia no pagamento com ouro de suas notas. Ricardo colocou-se desde o primeiro momento como defensor da conversibilidade, argumentando que o deslizamento do valor da moeda provocava quebra de confiança nos contratos e favorecia os “devedores ociosos e pródigos em detrimento do credor industrioso e frugal”. Mas foi sob as circunstâncias de sua interpretação das causas da inflação que Ricardo trouxe uma contribuição que permaneceu desde então presente no debate econômico global. Para Thomas Malthus (1776-1834), importante economista que desenvolveria debate com Ricardo em outras questões, divergindo quase sempre, embora ambos desfrutassem de uma grande amizade, a causa da inflação estava na elevação dos preços dos cereais, devida à ocorrência de guerras que prejudicavam o abastecimento. Ricardo mudou o rumo da discussão do aumento dos preços no excesso de emissões de notas pelo Tesouro inglês, que deveria, para restabelecer a paridade, recolher o excesso de papel-moeda na mesma proporção da elevação de preços havida.       

Formulava uma das primeiras versões da Teoria Quantitativa da Moeda - segundo a qual o nível geral de preços guarda estrita proporcionalidade com a quantidade de bens e serviços transacionada na economia e com a quantidade de moeda em circulação, dados os hábitos de pagamentos da comunidade. Esta teoria tem-se mantido para vertentes da teoria econômica até os dias de hoje e, embora polêmica por seus efeitos, serve de base para as doutrinas ortodoxas de combate à inflação. As conclusões de Ricardo, melhor expressas em uma nova intervenção sob o título de Propostas para um Numerário Seguro, de 1910, serviram de base para a formação do Bullion Comittee, que endossaria propostas e recomendaria a volta da conversibilidade da moeda o que ocorreu em 1821. O regime de padrão-ouro serviria de base para os sistemas monetários europeus até a eclosão da 1ª grande guerra (1914-1918). Ricardo afirmava que, sob o padrão-ouro, a estabilidade monetária e os fluxos de capitais entre os países poderiam ser regulados automaticamente, sem a intervenção dos governos nacionais, apenas se fossem deixadas operando as forças de livre mercado. Imagine-se um país em que por qualquer razão os preços internos estivessem em elevação em relação ao ouro poderia ser, por exemplo, pela ocorrência sistemática de superávit na balança comercialmente, com acúmulo do valioso metal e sua desvalorização comparativamente ante os demais bens. Nesta situação, específica do mercado, a livre concorrência propiciaria um fluxo de oferta de bens estrangeiros, fazendo escoar-se o excesso de ouro das importações e reequilibrando os preços internos. A situação oposta de diminuição de preços internos, pela escassez de ouro, seria resolvida pelo aumento das exportações e recuperação do lastro metálico.

Outro importante debate foi marcado pela participação de Ricardo e nasceu daí a redação dos Princípios de Economia Política e Tributação. A discussão era sobre as “Corn Laws”, leis inglesas que sobretaxavam os cereais importados abaixo de determinado nível de preços. O objetivo destas leis era proteger os produtores domésticos de cereais da concorrência externa, fazendo, no entanto, com que os preços de importantes produtos da subsistência dos trabalhadores ingleses ficassem mais caros. A polêmica antepunha os industriais e populações urbanas, de um lado, aos produtores agrícolas e proprietários de terras, de outro, e Ricardo, ferrenho defensor dos interesses industriais, passou a atacar as “Corn Laws”. Em seu texto de 1815 intitulado: Um Ensaio Sobre a Influência do Baixo Preço do Trigo Sobre os Lucros do Capital, Mostrando a Inconveniência das Restrições à Importação, Ricardo demonstrava que a proteção aos produtores nacionais de cerais menos eficientes fazia aumentar a proporção da renda da terra e dos salários que deveriam ser maiores em relação aos preços dos demais bens para acomodar os preços maiores dos bens da cesta básica em relação aos lucros. Esta transferência de renda dos setores dinâmicos para os menos eficientes fazia diminuir a intensidade da acumulação e do crescimento da economia. A superioridade da argumentação lógica econômica de Ricardo, ainda que não tenha convencido seus opositores, pois os grandes debates de economia dificilmente produzem consensos, reforçou a notoriedade do autor e o colocou em contato estreito com importantes economistas da época, tais como James Mill e Malthus, que o incentivaram decisivamente a escrever uma obra que reunisse todo o seu pensamento econômico.

Esta obra, uma reelaboração do Ensaio sobre as “Corn Laws”, transformou-se nos Princípios, a primeira grande sistematização teórica em economia após A Riqueza das Nações, de Adam Smith. Já no prefácio de Princípios, Ricardo descreve qual era o problema central da economia política: “determinar as leis que regem a distribuição do produto total da terra entre as três classes, o proprietário da terra, o dono do capital necessário para seu cultivo e os trabalhadores, que entram com o trabalho para o cultivo da terra”. Notamos já neste ponto que o problema central de Ricardo divergia do de Adam Smith na Riqueza das Nações (1776). Para este pensador, a questão central estava em investigar as causas do crescimento das nações, que era a fonte de onde provinham os estímulos à acumulação de capital. Para Ricardo, a acumulação era um problema relativamente simples, já que era determinada pela manutenção das taxas de lucros em determinados patamares, garantindo a própria reinversão. O problema central era da distribuição do produto total entre as três categorias. E os lucros eram vistos como resíduos, formados após a dedução dos custos de produção (aí incluídos os salários) e da renda da terra. Como se dava a distribuição? O esquema economicamente de Ricardo utilizava-se da produção agrícola porque existiam, segundo ele, características especiais que levavam a determinar um circuito através da distribuição nos outros setores.

Os salários eram fixados pelo cálculo nível mínimo necessário para garantir a subsistência dos trabalhadores. Ricardo adotava a teoria de Malthus segundo a qual o salário apontava para a subsistência, porque se se elevasse, induziria ao aparecimento de um número maior de trabalhadores (pelo aumento do número de filhos dos operários), que faria, através da concorrência, o nível dos salários baixar novamente até a subsistência. Do contrário, um nível abaixo da subsistência faria os salários retornarem ao patamar natural, pela escassez de trabalhadores que seria causada. E quanto à formação da renda da terra? Para Ricardo, a renda da terra devia-se à escassez de terras e à diferenciação das produtividades entre elas. Em uma situação ideal, em que todas as terras cultivadas obtivessem a mesma produtividade, não haveria, de acordo com o autor, a formação de uma renda diferenciada na terra. Os lucros seriam simplesmente o resíduo do produto após a dedução dos custos (para simplificar, consideremos como custos somente a parcela dos salários). Em uma situação real, a pressão populacional exige a ocupação de terras menos férteis para a produção de alimentos. Suponhamos que as terras ocupadas tivessem a mesma fertilidade e que a pressão exigisse o cultivo de uma nova porção de terras com qualidade inferior.

A produção nesta terra exibirá um produto líquido menor (produto total menos os salários pagos) e, portanto, determinará uma taxa de lucro inferior. Como o sistema opera sob condições de livre concorrência, esta nova taxa de juros impor-se-á ao resto do sistema. Nas terras de qualidade superior, aparecerá agora um resíduo que será a renda da terra. Com a diminuição do produto líquido, a renda diferenciada da terra nada mais será do que um pagamento efetuado aos proprietários do recurso escasso, impondo uma redução da mesma magnitude sobre os lucros e diminuindo a taxa de acumulação do sistema e, portanto, a taxa de investimento, já que, segundo o esquema de Ricardo, são os capitalistas que investem. Ficava então determinado para Ricardo o esquema de distribuição e de determinação da taxa de lucros e do potencial de acumulação. Num esquema de livre concorrência, a distribuição entre retorno do capital e pagamentos aos proprietários de terras se dava de acordo com a ocupação das terras. Prosseguindo-se ao limite a ocupação das terras menos férteis, chegar-se-ia à situação em que o produto líquido extraído da terra de menor fertilidade seria suficiente para cobrir a parcela de custos, o pagamento da subsistência dos trabalhadores, no esquema simplificado; em todas as terras de maior fertilidade, seriam geradas rendas diferenciadas de magnitudes crescentes apropriadas pelos proprietários de terras, como dedução do produto líquido.

Quadrilhão refere-se a uma dança de quadrilha em larga escala, geralmente associada às festas juninas no Brasil, especialmente em Campina Grande, Paraíba, onde se realiza o maior evento do tipo ideal. A quadrilha, em sua forma tradicional, é uma dança folclórica com origem europeia, mas que se desenvolveu no Brasil com influências regionais. O termo “quadrilhão” se popularizou para designar a versão ampliada da dança, com um grande número de participantes. A quadrilha é uma dança de pares, com passos e movimentos inspirados no universo caipira (cf. Léry, 1972), e é um elemento central das festas juninas no Brasil. As quadrilhas juninas têm suas raízes etnográficas em danças de salão europeias, como a quadrille, que chegou com a corte portuguesa no século XIX. O termo quadrilhão é usado para descrever um número muito grande de participantes, muitas vezes com centenas ou milhares de casais, como no caso do evento religioso em Campina Grande, Paraíba, reconhecida por realizar o maior quadrilhão do Brasil, atraindo um grande número de pessoas para dançar e celebrar as festas juninas. A disciplina é uma anatomia política do detalhe. Dessa “arte de talhar pedras”, lembra Michel Foucault, haveria uma longa história a ser escrita, história da racionalização utilitária do detalhe na contabilidade moral e no controle político. A Era Clássica não a inaugurou; ela a acelerou, mudou sua escala, deu-lhe instrumentos precisos, e talvez tenha encontrado ecos para ela no cálculo do infinitamente pequeno ou na descrição das características mais tênues dos seres naturais.

O “detalhe” era uma categoria da teologia e do ascetismo: todo detalhe é importante, pois aos olhos de Deus nenhuma imensidão é maior que um detalhe, e nada é tão pequeno que não seja querido por uma dessas vontades singulares. Nessa grande tradição da eminência do detalhe viriam se localizar, sem dificuldade, todas as meticulosidades da educação cristã, da pedagogia escolar ou militar, de todas as formas, finalmente de treinamento. Para o homem disciplinado, como para o verdadeiro crente, nenhum detalhe é indiferente, mas menos pelo sentido que nele se esconde que pela entrada que aí encontra o poder que quer apanhá-lo. Característico, esse hino às “pequenas coisas” e à sua eterna importância, cantado por Jean-Baptiste de La Salle, em seu Tratado sobre as obrigações dos Irmãos das Escolas Cristãs. A mística do cotidiano aí se associa à disciplina do minúsculo.  A minúcia dos regulamentos, o olhar esmiuçante das inspeções, o controle das mínimas parcelas da vida e do corpo darão em breve, no quadro da escola, do quartel, do hospital ou da oficina, um conteúdo laicizado, uma racionalidade econômica ou técnica a esse cálculo místico do ínfimo e do infinito. É uma História do Detalhe no século XVIII, colocada sob o signo de Jean-Baptiste La Salle, esbarando com Gottfried Wilhelm Leibniz e Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon, passando por Frederico II, atravessando a pedagogia, a medicina, a tática militar e a economia, deveria chegar ao homem que sonhara no fim do século ser um novo Newton, não mais aquele das imensidões do céu ou das massas planetárias, mas dos “pequenos corpos”, dos pequenos movimentos, das pequenas ações ao homem que respondeu a Monge (“Só havia um mundo a ser descoberto”).     

Uma observação minuciosa do detalhe, e ao mesmo tempo um enfoque político dessas pequenas coisas, para controle e utilização dos homens, sobem através da Era Clássica, levando consigo todo um conjunto de técnicas, todo um corpo de processos e de saber, de descrições, de receitas e dados. E desses esmiuçamentos, sem dúvida, nasceu o homem do humanismo moderno. Para sermos breves, sabemos que a disciplina procede em primeiro lugar à distribuição dos indivíduos no espaço. Pra isso utiliza diversas técnicas. A disciplina às vezes exige a cerca, a especificação de um local heterogêneo a todos os outros e fechado em si mesmo. Local protegido da monotonia disciplinar. Houve o grande “encarceramento” dos vagabundos e dos miseráveis; houve outros mais discretos, mas insidiosos e eficientes. Colégios: o modelo do convento se impõe pouco a pouco; o internato aparece como o regime de educação senão o mais frequente, pelo menos o mais perfeito; torna-se obrigatório em Louis-le-Grand quando, depois da partida dos jesuítas, fez-se um colégio-modelo. Quartéis: é preciso fixar o exército, essa massa vagabunda; impedir a pilhagem e as violências; acalmar os habitantes que suportam mal as tropas de passagem; evitar os conflitos com as autoridades civis; fazer cessar as deserções; controlar as despesas. A ordenação de 1719 prescreve a construção de várias centenas de quartéis, imitando os já extraordinariamente organizados no Sul do país; o encarceramento neles será estrito. Em 1745 havia quartéis em 320 cidades aproximadamente, e se estima quantitativamente mais ou menos em 200. 000 homens a capacidade total dos quartéis em 1775.  

São João de Campina Grande tem como representação social um evento anual realizado pela prefeitura de Campina Grande, no estado brasileiro da Paraíba, durante o mês de junho. Na cultura do Nordeste brasileiro, é típico comemorar o dia de São João através de espetáculos, danças e quadrilhas. A festa dura 31 dias e é realizada em vários polos espalhados pelo município, e principalmente no Parque do Povo, chamado de “o quartel-general do forró”, no centro da cidade. Ipso facto, reconhecido e praticado em todo o Brasil, o forró é especialmente popular nas cidades de Campina Grande e Caruaru, que sediam as maiores festas juninas do país. Nas capitais Aracaju, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Maceió, Recife, Teresina, São Luís e Salvador são tradicionais as festas e apresentações de bandas de forró em eventos privados que atraem especialmente os jovens. Em 2021 o forró foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil.  Esses elementos são transmitidos de geração em geração e constantemente recriados, refletindo a identidade e a história de um povo. Exemplos incluem saberes, ofícios, modos de fazer, celebrações, formas de expressão, lendas, músicas, costumes e lugares que abrigam práticas culturais coletivas. Ao contrário do patrimônio material, é algo que não pode ser tocado, como práticas culturais, conhecimentos e tradições etnográficas.

O São João de Campina Grande é reconhecido pelo Instituto Ranking Brasil como a maior festa de São João do país. Em 1983, o prefeito Ronaldo Cunha Lima (1936-2012) resolveu centralizar a festa de São João. Onde hoje fica o Parque do Povo, era um grande terreno baldio, que era conhecido como “coqueiros de José Rodrigues”. Pela Paraíba, foi governador, senador e deputado federal e estadual, ambos durante dois mandatos. Pela cidade de Campina Grande, foi prefeito por dois mandatos e vereador. Segundo os registros históricos, em 1983, a área já havia sido desapropriada pela prefeitura. No primeiro ano, não há uma confirmação de quantos dias o evento durou, mas a partir do ano seguinte, em 1984, o evento passou a ter duração de 30 dias. Naquele ano, a festa aconteceu do dia 2 de junho ao dia 1º de julho. Além da palhoça, a festa contava com apresentações em cima de um caminhão. Um dos artistas que se apresentou na época foi o cantor Capilé. Com o sucesso da festa nos três primeiros anos, em 1986 a prefeitura começou a construir o Parque do Povo. Inicialmente foi construída a “Pirâmide” e pavimentada a parte superior do local, onde hoje fica a área de shows do palco principal. A famosa “Pirâmide” foi construída para representar uma fogueira e que o local seria chamado de “Forródromo”, em referência ao Sambódromo, em São Paulo.

Ronaldo José da Cunha Lima, nascido em Guarabira, em 18 de março de 1936 e morto em João Pessoa, 7 de julho de 2012, foi um advogado, escritor e político brasileiro filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Pela Paraíba, foi governador, senador e deputado federal e estadual, ambos durante dois mandatos. Pela cidade de Campina Grande, foi prefeito por dois mandatos e vereador. Também foi conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil e membro da Academia Paraibana de Letras. Em novembro de 1993, cometeu um atentado contra a vida do ex-governador da Paraíba Tarcísio de Miranda Burity (1938-2003), em quem disparou três tiros. Tendo sido denunciado perante o Supremo Tribunal Federal por tentativa de homicídio, “renunciou ao mandato de deputado federal perto da data do julgamento em 2007, perdendo o foro especial e atrasando a ação penal, que jamais chegou a ser julgada”. Estudou no Colégio Pio X e no Colégio Estadual do Prata em Campina Grande. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba. Foi casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima com quem tem 4 filhos: Ronaldo Cunha Lima Filho, Cássio Cunha Lima, Glauce (Gal) Cunha Lima e Savigny Cunha Lima.

Em 1951 iniciou a vida como vendedor de jornais, depois como garçom, no restaurante do seu irmão Aluísio, e trabalhou na Associação Comercial de Campina Grande, na Rede Ferroviária do Nordeste e no Cartório de Dona Nevinha Tavares. Tudo isso para custear os seus estudos e ajudar nas despesas domésticas, porque o seu pai, Demóstenes Cunha Lima, ex-prefeito de Araruna, faleceu muito cedo, deixando sua mãe Dona “Nenzinha” com a responsabilidade de criar e educar uma família numerosa. Ronaldo também desde jovem já demonstrava vocação para a política. Ainda estudante, Ronaldo foi representante estudantil e vice-presidente do Centro Estudantil Campinense. Começou a sua carreira política sendo vereador de Campina Grande pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), deputado estadual por dois mandatos, e prefeito eleito em 1968, desta feita pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 14 de março de 1969 teve os seus direitos políticos cassados, passando dez anos no ostracismo, indo para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro recomeçando a sua carreira de advogado. Anistiado, em 1982, foi reconduzido à prefeitura de Campina Grande pelo voto no seu mandato à frente da Prefeitura Municipal de Campina Grande (1983/1989) teve como vice-prefeito Antônio de Carvalho Souza, um vice muito atuante na Administração, o qual assumiu a titularidade da gestão por 33 vezes no curso do mandato.

Reconstruiu o Parque do Povo que por sua vez foi idealizado e primeiramente construído pelo ex-deputado federal Enivaldo Ribeiro, filho de Pedro Vaz Ribeiro, conhecido como Sindô Ribeiro, e de Áurea Moura Ribeiro. Ribeiro também tem quatro filhos, sendo dois deles políticos: o deputado federal e ex-ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro e a senadora Daniella Ribeiro, primeira mulher a representar o estado da Paraíba no Senado Federal. Bacharelou-se em direito na Universidade Regional do Nordeste, hoje Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), ainda como prefeito de Campina Grande. Foi deputado estadual de 1975 a 1977 pela Aliança Renovadora Nacional, prefeito de Campina Grande de 1º de fevereiro de 1977 a 1º de fevereiro de 1983. Realizou a terceira adutora, a Casa do Poeta, dentre outras obras. Foi governador do estado da Paraíba (1991/1994), Senador da República (1995/2002) e foi deputado federal, eleito em pela 1ª vez em 2002 com mais de 95 mil votos e reeleito em 2006 com 124.192 votos. Em 1993, como governador, Lima foi admitido pelo presidente Itamar Franco à Ordem do Mérito Militar no grau de Grande-Oficial especial. Em 5 de novembro de 1993, Tarcisio Burity encontrava-se no restaurante Gulliver em João Pessoa, quando foi abordado por Cunha Lima, seu sucessor no governo, que disparou três tiros contra ele, porque não aceitava na esfera da política, as duras acusações de corrupção que Burity fizera a Cássio Cunha Lima, na época superintendente da extinta Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Burity ficou dias em coma, mas sobreviveu ao ataque, vindo a falecer dez anos após o ocorrido.

Passos e comandos mais utilizados na dança da quadrilha. Balancê. Balançar o corpo no ritmo da música, marcando o passo, sem sair do lugar. É usado como um grito de incentivo e é repetido quase todas as vezes que termina um passo. Quando um comando é dado só para os cavalheiros, as damas permanecem no balancê e vice-versa. Anavan (en avant) – Avante, caminhar balançando os braços. Returnê (returner) – Voltar aos seus lugares. Tur (tour) – Dar uma volta: Com a mão direita, o cavalheiro abraça a cintura da dama. Ela coloca o braço esquerdo no ombro dele e dão um giro completo para a direita. A dança tem os seguintes Passos: 1. Forma-se uma fileira de damas e outra de cavalheiros. Uma diante da outra e separadas por uma distância de 2,5 metros. Cada cavalheiro fica exatamente em frente à sua dama. Começa a música. Balancê é o primeiro comando. 2. Cumprimento às Damas ou “Cavalheiros cumprimentar damas”. Os cavalheiros, balançando o corpo, caminham até as damas e cada um cumprimenta a sua parceira, com mesura, quase se ajoelhando em frente a ela. 3. Cumprimento aos Cavalheiros ou “Damas Cumprimentar Cavalheiros”. As damas, balançando o corpo, caminham até os cavalheiros e cada uma cumprimenta o seu parceiro, com mesura, levantando levemente a barra da saia. 4. Damas e Cavalheiros Trocar de lado. Os cavalheiros para o centro. 

As damas fazem o mesmo. Com os braços levantados, giram pela direita e dirigem-se ao lado oposto. Os cavalheiros vão para o lugar antes ocupado pelas damas. E vice-versa. 5. Primeiras Marcas ao Centro. Antes do início da quadrilha, os pares são marcados pelo no. 1 ou 2. Ao comando “Primeiras marcas ao centro”, apenas os pares vão ao centro, cumprimentam-se, voltam, e os outros fazem o passo no lugar. Estando no centro, ao ouvir o marcador pedir balanceio ou giro, executar com o par da fileira oposta. Ouvindo “aos seus lugares”, os pares de n° 1 voltam à posição anterior. Ao comando de “Segundas marcas ao centro”, os pares de n° 2 fazem o mesmo. 6. Grande Passeio. As filas giram pela direita, se emendam em um grande círculo. Cada cavalheiro dá a mão direita à sua parceira. Os casais passeiam em um grande círculo, balançando os braços soltos para baixo, no ritmo da música. 7. Trocar de Dama.  Cavalheiros à frente, ao lado da dama seguinte. O comando é repetido até que cada cavalheiro tenha passado por todas as damas e retornado para a sua parceira. 8. Trocar de Cavalheiro. O mesmo procedimento. Cada dama vai passar por todos os cavalheiros até ficar ao lado do seu parceiro. 9. O Túnel. Os casais, de mãos dados, vão andando em fila. Para o casal da frente, levanta os braços, voltados para dentro, formando um arco.

O segundo casal passa por baixo e levanta os braços em arco. O terceiro casal passa pelos dois e faz o mesmo. O procedimento se repete até que todos tenham passado pela ponte. 10. Anavan Tur. A dama e o cavalheiro dançam como no Tur. Após uma volta, a dama passa a dançar com o cavalheiro da frente. O comando é repetido até que cada dama tenha dançado com todos os cavalheiros e alcançado o seu parceiro. 11. Caminho da Roça. Damas e cavalheiros formam uma só fila. Cada dama à frente do seu parceiro. Seguem na caminhada, braços livres, balançando. Fazem o balancê. 12. Olha a Cobra. Damas e cavalheiros, que estavam andando para a direita, voltam-se e caminham em sentido contrário, evitando o perigo. A fileira deve ir deslizando como uma cobra pelo chão. 13. É mentira. Damas e cavalheiros voltam a seguir para a direita. Já passou o perigo. Era alarme falso. 14. Caracol. Damas e cavalheiros estão em uma única fileira.

Ao ouvir o comando, o primeiro da fila começa a enrolar a fileira, como um caracol. 15. Desviar. É a palavra-chave para que o guia procure executar o caracol, ao contrário, até todos estarem em linha reta. 16. A Grande Roda.  A fila é única agora, saindo do caracol. Forma-se uma roda que se movimenta, sempre de mãos dadas, à direita e à esquerdo como for pedido. Neste passo, temos evoluções. Ouvindo “Duas rodas, damas para o centro; as mulheres vão ao centro, dão as mãos. Na marcação “Duas rodas, cavalheiros para dentro, acontece o inverso. As rodas obedecem ao comando, movimentando para a direita ou para esquerda. Se o pedido for “Damas à esquerda e “Cavalheiros à direita” ou vice-versa, uma roda se desloca em sentido contrário à outra, seguindo o comando.17. Coroar Damas. Volta-se à formação inicial das duas rodas, ficando as damos ao centro. Os cavalheiros, de mãos dadas, erguem os braços sobre as cabeças das damas. Abaixam os braços, então, de mãos dados, enlaçando as damas pela cintura. Nesta posição técnica, se deslocam para o lado que o marcador pedir.

18. Coroar Cavalheiros. Eles erguem os braços e, ao abaixar, soltam as mãos. Passam a manter os braços balançando, junto ao corpo. São as damas agora que erguem os braços, de mãos dadas, sobre a cabeça dos cavalheiros. Abaixam os braços, com as mãos dadas, enlaçando os cavalheiros pela cintura. Se deslocam para o lado que o marcador pedir. 19. Duas Rodas. As damas levantam os braços, abaixando em seguida. Continuam de mãos dadas, sem enlaçar os cavalheiros, mantendo a roda. A roda dos cavalheiros é também mantida. São novamente duas rodas, movimentando no mesmo sentido ou não, segundo o comando. Até a contraordem! 20. Reformar a Grande Roda. Os cavalheiros caminham de costas, se colocando entre as damas. Todos se dão as mãos. A roda gira para a direita ou para a esquerda, segundo o comando. 21. Despedida. De um ponto escolhido da roda os pares se formam novamente. Em fila, saem no Galope, acenando para o público. A festa da quadrilha está terminada. Nas Festas Juninas Mineiras, Paranaenses e Paulistas, após o encerramento, os músicos continuam tocando e o espaço enquanto lugar praticado, para lembramos de Michel de Certeau, é liberado para os casais que queiram dançar.

Campina Grande é um município brasileiro no estado da Paraíba. Considerada um dos principais polos industriais da Região Nordeste e um dos maiores centros tecnológicos da América Latina, foi fundada em 1° de dezembro de 1697, tendo sido elevada à categoria de cidade em 11 de outubro de 1864. Pertence à Região Geográfica Imediata de Campina Grande e à Região Geográfica Intermediária de Campina Grande. De acordo com o Censo de 2024 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, sua população é de 440 939 habitantes, sendo a segunda cidade mais populosa da Paraíba, e sua região metropolitana, formada por dezenove municípios, possui uma população estimada em 651 619 habitantes. Distante 128 km da capital estadual, João Pessoa, Campina Grande é um importante centro universitário, contando com vinte e uma universidades e faculdades, sendo três delas públicas. E também é a cidade com proporcionalmente o maior número de doutores do Brasil, 1 para cada 590 habitantes, seis vezes a média nacional. Além de Ensino Superior, o município é destaque também em centros de capacitação para o nível médio e técnico. Também possui o segundo maior Produto Interno Bruto entre os municípios paraibanos, representando 15,63% do total das riquezas produzidas na Paraíba. Uma evidência do desenvolvimento da cidade nos últimos tempos é o ranking da revista Você S/A, no qual “Campina Grande aparece como uma das 100 melhores cidades para se trabalhar e fazer carreira do Brasil, única cidade do interior entre as capitais escolhidas no país”. O município é ainda considerado a cidade mais dinâmica do Nordeste e a 6ª mais dinâmica do Brasil segundo A Gazeta Mercantil e foi prognosticada como uma das 20 metrópoles brasileiras do futuro.

O município sedia ainda variados eventos culturais, destacando-se os festejos de São João, que acontecem durante todo o mês de junho (chamado de “O Maior São João do Mundo”), Festival Internacional de Música (FIMUS), Festival Internacional de Jazz (FIMUS Jazz), encontros religiosos como o Encontro da Nova Consciência (ecumênico), o Encontro para a Consciência Cristã (cristão) e o CRESCER (Encontro da Família Católica) realizados durante o carnaval, além do Festival de Inverno e vários outros eventos. Pouca gente relacionava a obra a uma fogueira e o local ficou reconhecido mesmo como a “Pirâmide do Parque do Povo”. Ainda em 1986, a festa ganhou uma grande proporção, com um palco para shows e centenas de barracas com bebidas e comidas típicas pelo Parque do Povo. Em cinco anos, o São João de Campina Grande representava uma festa de grande proporção pelo nome e pelo tempo de duração. Por isso, em 1987 o “Maior São João do Mundo” foi incluído no calendário oficial do Instituto Brasileiro de Turismo. Na época, o presidente da Embratur era João Dória Júnior. Com a divulgação nacional, o número de turistas na festa aumentou e o espaço começou a ficar pequeno para tanta gente. Em 1989, a prefeitura resolveu fazer uma obra de expansão do Parque do Povo, construindo o que hoje é a parte de baixo do local, onde ficam as barracas, palhoças e a cidade cenográfica. Um dos elementos que mais encantam quem passa pelo Parque do Povo, durante o São João é a cidade cenográfica. Ela surgiu em 1999 com réplicas de prédios históricos e templos de Campina Grande. Do ponto tecnológico a cidade cenográfica conta com réplica do Telegrapho, Cassino El Dourado, Cine Capitólio, a Catedral de Nossa Senhora da Conceição e a representação da Vila Nova da Rainha, onde surgiu a população que deu origem a Campina Grande. 

A Festa de São João por Jules Breton (1875). Festas juninas, festas dos santos  populares ou celebração do meio do verão são uma celebração da estação do verão do hemisfério Norte, geralmente realizada em uma data próxima ao solstício de verão. Tem raízes pagãs pré-cristãs na Europa. O cristianismo designou 24 de junho como o dia da festa de São João Batista e a observância do Dia de São João começa na noite anterior, reconhecida como Véspera de São João, como a Igreja Católica Romana, as Igrejas Luteranas e a Comunhão Anglicana, bem como pela Maçonaria. Na Suécia, o solstício de verão é uma festividade tão importante que houve propostas para tornar a véspera do solstício de verão o dia nacional da Suécia, em vez de 6 de junho. Na Finlândia, Estônia, Letônia e Lituânia, o festival de verão é feriado. Na Dinamarca e na Noruega, também pode ser chamado de Dia de São Hans. Historicamente o Dia de São João, dia da festa de São João Batista, foi instituído pela Igreja Cristã no século IV d.C., em homenagem ao nascimento de São João Batista. Por volta do século VI, várias igrejas foram dedicadas em homenagem a São João Batista e uma vigília, Véspera de São João, foi acrescentada à festa de São João Batista e os padres cristãos celebraram três missas para a celebração; é simbolizado pelo fato de que o Sol, nosso astro Rei, metaforicamente falando, começa a diminuir no solstício de verão e assim aumenta no solstício de inverno.

O Sistema Solar, de acordo com a teoria “mais aceita”, teve origem a partir de uma nuvem molecular que, por alguma “perturbação gravitacional”, entrou em colapso e formou a estrela central, enquanto seus remanescentes geraram os demais corpos. Em sua configuração atual, todos os componentes descrevem órbitas praticamente elípticas ao redor do Sol, constituindo um sistema dinâmico no qual os corpos estão em mútua interação mediada sobretudo pela força gravitacional. A sua estrutura tem sido objeto de estudos desde a antiguidade, mas somente há cinco séculos a humanidade reconheceu o fato de que o Sol, e não a Terra, constitui o centro do movimento planetário. Desde então, a evolução dos equipamentos de pesquisa, como telescópios, possibilitou uma maior compreensão do sistema. Entretanto, detalhes sem precedentes foram obtidos somente após o envio de sondas espaciais a todos os planetas, circunscrito ao nosso sistema, que retornam imagens e dados com uma precisão nunca antes alcançada. O Sistema Solar compreende o conjunto constituído pelo Sol e todos aqueles corpos celestes que estão sob seu domínio gravitacional. A estrela central, maior do sistema, respondendo por mais de 99,85% da massa total, gera sua energia “através da fusão de hidrogênio em hélio, dois de seus principais constituintes”.

A realidade social nos ensina que o real é processual. O que existe deixa de existir; o que não existe passa a existir.  Se falta a consciência dessa processualidade, o sujeito isola o que está percebendo, desliga a parte do todo, perde de vista a conexão que integra o “micro” ao “macro”, a interdependência entre o imediato e a mediação complexa, ente o singular e o universal. Enquanto não enxergarmos a dimensão histórica de um ser, de um objeto, de um fenômeno, de um acontecimento, não podemos aprofundar de fato, a compreensão social que que dele temos. É o movimento histórico que passa por todas as coisas e permanentemente as modifica que as torna concretas. Nesse sentido, tinha razão Friedrich Hegel em sua última jornada, quando escreveu nos volumes Ciência da Lógica que o conceito fundamental da ontologia dialética, aquele que nos permite apreender a dinâmica do ser e do não-ser, é o conceito do devir, do vir-a-ser, do tornar-se. O real é dinâmico e nesta esteira da vida, se o sujeito se abstrai do fluxo em que existe o objeto, e neste sentido a arte, em que se verifica o fenômeno, em que se dá o acontecimento, ele afinal se incapacita para conhecer aquilo com que se defronta. Falta-lhe a possibilidade de pensar a ligação entre o ser particular que está percebendo e o seu não-ser, isto é, aquilo que ele já foi (e não é mais) ou aquilo que ele dialeticamente ainda não é (mas vai se tornar). Sua percepção, entretanto, não se aprofunda, sua representação se cristaliza, fica engessada, coagulada.

  

Sabemos que o mito não é uma realidade independente, mas evolui com as condições históricas, étnicas e sociais relacionadas a determinada cultura. Destarte, procura sobreviver e demonstrar por meio do modo de ser, a ação das personagens e as origens das coisas. A realidade é “tudo o que existe”. Em sentido mais livre, o termo inclui tudo o que é, seja ou não perceptível, acessível ou entendido pela filosofia, ciência, arte ou qualquer outro sistema de análise. O real é tido como aquilo que existe fora ou dentro da mente. A ilusão quando existente é real e verdadeira em si mesma. Ela não nega sua natureza. Ela diz sim a si mesma. A realidade interna ao ser, seu mundo das ideias, imaginário, idealizado no sentido de tornar-se ideia, e ser ideia, pode - ou não - ser existente e real também no mundo externo. O que não nega a realidade da sua existência enquanto ente imaginário, idealizado. Quanto ao externo - o fato de poder ser percebido só pela mente - torna-se sinônimo de interpretação da realidade, de uma aproximação com a verdade. A relação íntima entre realidade e verdade, o modo em como a mente apreende a realidade, está no cerne da questão da imagem como representação sensível do objeto e da ideia do objeto como interpretação ideal, mental. Ter uma mente aparentemente tranquila em meio à agitação meramente social e aos estímulos que estamos expostos na modernidade não é atividade pública que pode parecer um luxo.

Sociologicamente, a interpretação é o produto de uma atividade social que consiste em estabelecer, simultânea ou consecutivamente, comunicação verbal ou não verbal entre duas entidades que podem estar em contradição, mas sobretudo em oposição assimétrica ou em nível de complementaridade. Conhecer a verdade é vê-la com os “olhos da alma”, ou, com os “olhos da inteligência”. Assim como o Sol dá sua luz aos olhos e às coisas para que haja “mundo visível”, assim também a ideia suprema, a ideia de todas as ideias, o Bem, isto é, a perfeição em si mesma dá à alma e às ideias sua bondade, a sua perfeição, para que haja um “mundo inteligível”. Assim como os olhos e as coisas participam da luz, assim também a alma e as ideias participam da bondade, ou mesmo da perfeição, e é por isso que a alma pode conhecer as ideias. E assim como a visão é passividade e atividade do olho, assim também o conhecimento é passividade e atividade da alma: passividade, porque a alma precisa receber a ação das ideias para poder contemplá-las; atividade, porque essa recepção e contemplação constituem a própria natureza da alma. Como na treva não há visibilidade, também na ignorância não há verdade, pois são para a alma o que a cegueira é para os olhos e a escuridão é para as privações da visão e privação de conhecimento e liberdade. A realidade significa o ajuste entre a imagem e a ideia da coisa, entre verdade e sentido da verossimilhança.

Bibliografia Geral Consultada.

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