Carl Friedrich Gauss - Noção de Gênio & Teoria Aplicada da Matemática.
“Matemática é a
rainha das ciências e a teoria dos números é a rainha da matemática”. Carl Friedrich Gauss
Na
Roma antiga, o gênio representava o
espírito ou guia de uma pessoa, ou mesmo de uma gens inteira. Um termo relacionado é geniusloci, o espírito
de um local específico. Por contraste a força interior que move todas as
criaturas viventes é o animus. Um
espírito específico ou daimon pode
habitar uma imagem ou ícone, dando-lhe poderes sobrenaturais. Gênios são
dotados de excepcional brilhantismo, mas frequentemente também são insensíveis
às limitações da mediocridade bem como são emocionalmente muito sensíveis,
algumas vezes ambas as coisas. O termo prodígio indica simplesmente a presença
de talento ou gênio excepcional na primeira infância. Os termos prodígio e
criança prodígio são sinônimos, sendo o último um pleonasmo. Deve-se ter em consideração que é perigoso tomar como referência as pontuações em testes de QI quando se deseja fazer um diagnóstico razoavelmente correto de genialidade. Há que se levar em consideração que em todos as pontuações, e em todas as medidas, existe uma incerteza inerente, bem como os resultados obtidos nos testes representam a performance alcançada por uma pessoa em determinadas condições, não refletindo necessariamente toda a capacidade da pessoa em condições ideais. É de crer que, para que o gênio se manifeste num indivíduo, este indivíduo deve ter recebido como herança a soma de poder cognitivo que excede em muito o que é necessário para o serviço de uma vontade individual, segundo Schopenhauer (2001), é este excedente que, tornado livre, serve para constituir um objeto liberto de vontade, um claro espelho do ser do mundo. A través disto se explica a vivacidade que os homens de gênio desenvolvem por vezes até a turbulência: o presente raramente lhes chega, visto que ele não enche, de modo nenhum, a sua consciência; daí a sua inquietude sem tréguas; daí a sua tendência para perseguir sem cessar objetos novos e dignos de estudo, para desejar enfim, quase sempre sem sucesso, seres que se lhes assemelham, que estejam à sua medida e que os possam compreender. O homem comum, plenamente farto e satisfeito com a rotina atual, aí se absorve; em todo lado encontra seus iguais; daí essa satisfação particular que experimenta no curso da vida e que o gênio não conhece. - Quis-se ver na imaginação um elemento essencial do gênio, o que é bastante legítimo; quis-se mesmo identificar os dois, mas isso é um erro. O fato é que, seja em que medida for, o certo é o incerto e o incerto é uma estrada reta. O objeto do gênio, considerado como tal, são as ideias eternas, as formas persistentes e essenciais do mundo e de todos os seus fenômenos. Onde reina só a imaginação, ela empenha-se em construir castelos no ar a lisonjear o egoísmo e o capricho pessoal, a enganá-los momentaneamente e a diverti-los; mas neste caso, conhecemos sempre, para falar com propriedade, apenas as relações das quimeras assim combinadas. Talvez ponha por escrito os sonhos da sua imaginação: é daí que nos vêm esses romances ordinários, de todos os gêneros, que fazem a alegria do grande público e das pessoas semelhantes aos seus atores, visto que o leitor sonha que está no lugar do herói, e acha tal representação bastante agradável. A
história da matemática é uma área de estudo dedicada à investigação sobre a
origem das descobertas da matemática e, em uma menor extensão, à investigação
dos métodos matemáticos e aos registros etnográficos ou notações matemáticas do
passado. A matemática islâmica, por sua vez, desenvolveu e expandiu a
matemática conhecida destas civilizações. Muitos textos gregos e árabes sobre
matemática foram então traduzidos ao Latim, o que contribuiu com o
desenvolvimento da matemática na Europa medieval. Dos tempos remotos, antigos à Idade
Média, a eclosão da criatividade matemática foi frequentemente seguida por
séculos de estagnação. Com o Renascimento, novos
progressos técnicos da matemática, interagindo no progresso da disciplina com as novas descobertas científicas,
foram realizados de forma crescente, continuando assim decerto sem paixão.
A
palavra matemática vem do grego antigo máthēma e significa “aquilo que
se aprende”, “aquilo que se conhece”, assim como “estudo” e “ciência”. A
palavra passou a ter o significado mais restrito e técnico de “estudo
matemático” mesmo no período clássico. Seu adjetivo é mathēmatikós (μαθηματικός),
que significa “relacionado à aprendizagem” ou “estudioso”, que também passou a
significar “matemático”. Em particular, mathēmatikḗ tékhnē(μαθηματικὴ
τέχνη; em latim: ars mathematica) significava “a arte matemática”. Da
mesma maneira, uma das duas principais escolas de pensamento do pitagorismo era
reconhecida em grego antigo como mathēmatikoi (μαθηματικοί) — que
na época significava “alunos” ao invés do significado moderno dado ao termo “matemáticos”.
Os pitagóricos foram provavelmente os primeiros a restringir o uso da
palavra apenas ao estudo da aritmética e da geometria. Na época de Aristóteles
(384-322 a.C.) este significado foi totalmente estabelecido. Em latim até
cerca de 1700, o termo matemática tinha como significado mais comum “astrologia”
(ou às vezes “astronomia”); isto mudou gradualmente para o significado atual
entre 1500 e 1800. Esta mudança resultou em vários erros de tradução: a advertência de Santo Agostinho de que os cristãos deveriam tomar
cuidado com os mathematici, que significa “astrólogos”, às vezes é mal
traduzida como “uma condenação dos matemáticos”.
Jacques
Derrida, nascido em El Biar, Argélia, foi um filósofo francês, que iniciou
durante a década de 1960 a categoria desconstrução em filosofia. Esta
“desconstrução”, termo que cunhou, deverá aqui ser compreendida,
metodologicamente, por um lado, à luz do que é conhecido como intuicionismo e
construcionismo no campo da meta-matemática, na esteira da obra de Brouwer e
depois Heyting, ao qual Derrida irá adicionar as devidas consequências dos
teoremas da “indecidibilidade” de Kurt Gödel (1906-1978) e, por outro, a um aprofundamento
do ponto de vista crítico da obra de Husserl, Heidegger e Levinas na
ultrapassagem da metafisica tradicional, embora
importante, mas que ele vai apresentar de maneira clara como sendo uma
“metafisica da presença”, objeto dessas notas de leitura. Formalmente, um
problema de decisão representa um subconjunto dos números naturais. O problema
correspondente de maneira informal é o de se decidir se um dado número está no
conjunto. Um problema de decisão A é chamado decidível ou efetivamente solúvel
se A é um conjunto recursivo. Um problema é chamado parcialmente decidível,
semidecidível, solúvel, ou provável se A é um conjunto recursivamente
enumerável. Problemas parcialmente decidíveis e outros problemas que não são
decidíveis são chamados singularmente de indecidíveis.
Consequentemente
influenciado por Freud e Heidegger, Jacques Derrida foi um dos mais importantes
filósofos da geração da debacle do pós-estruturalismo e pós-modernismo. Fã de
esportes chegou a cogitar seguir a carreira como jogador de futebol. Foi um dos
pensadores franceses reconhecidos internacionalmente, em particular nos Estados
Unidos. Ali, a partir de 1956, lecionou nas universidades de Harvard, Yale e
John Hopkins. Na França, ensinou na Sorbonne e na Escola Normal Superior.
Derrida foi precursor de uma reflexão crítica sobre a filosofia e seu ensino.
Isso o levou a criar, em 1983, o Colégio Internacional de Filosofia, presidido
por ele até 1985. A psicanálise teve uma importância central em sua obra. Para
Derrida, a ideia freudiana do inconsciente revolucionaria a filosofia e
costumava citar o conceito freudiano de posterioridade, em alemão: Nachträglichkeit
ou Aprés-coup em francês. Segundo Freud, há a possibilidade de
transformação do passado ao se dar um novo significado às recordações. Ao
questionar os conceitos de verdade e de memória, Jacques Derrida entendia que
Freud propunha um problema filosófico de magnitude inédita. Foi o criador do
método chamado de desconstrução. Nesse sistema, não se trata de destruir e sim
de “decompor os elementos da escrita para descobrir partes do texto que estão
dissimuladas”.
Essa
técnica metodológica de análise centra-se apenas nos textos. Em seguida,
Derrida criou outros dois conceitos: a “indecidibilidade”, que demonstra a
impossibilidade de determinar aquilo que é forma no texto ou fundo ideológico;
e o conceito de “diferença”, que parte da análise semântica dos dois sentidos
do infinito latino differre (diferir): o primeiro remete para o
futuro (tempo), o segundo para a distinção de algo criado pelo confronto. Filho
de família judia, mas não religioso, Derrida ingressou na Escola Normal
Superior de Paris, em 1950. Durante a infância, na Argélia, sofreu com a
repressão antissemita. Foi expulso do colégio por causa da redução das cotas
para judeus de 14 para 7%. Essa discriminação o marcou e sua
lembrança é recorrente em suas obras. A família mudou-se para a França em 1949.
Fundou a associação Jan Hus (1981), para auxiliar “intelectuais dissidentes da
Tchecoslováquia”. Ele iniciou um movimento baseado nas ideias de John
Wycliffe. Os seus seguidores ficam reconhecidos na história social e política
como os Hussitas.
Etnograficamente
é uma área de estudo dedicada à investigação científica sobre a origem das
descobertas da matemática e, em uma menor extensão, à investigação dos métodos de
interpretação matemáticos e aos registros ou notações matemáticas do passado. Anteriormente
à modernidade contemporânea e à expansão mundial do conhecimento, os exemplos escritos de
novos progressos matemáticos tornaram-se conhecidos em apenas poucas
localidades. Egípcios, babilônicos e chineses, muito antes do século VI, eram
já capazes de efetuar cálculos e medidas de ordem prática com grande precisão.
Foram os gregos, no entanto, que introduziram as rigorosas provas dedutivas e o
encadeamento sistemático de teoremas demonstrativos que tornaram a Matemática
uma ciência. A palavra Matemática é de origem grega (μαθηματική) e engloba a
aritmética, que estuda as operações numéricas, a geometria, que estuda os espeço e as figuras, a astronomia, que trata dos do universo e
os corpos celestes e a mecânica., que estuda o movimento e repouso dos corpos. A aritmética e a geometria, as duas ciências teóricas
que atraíram os gregos, eram consideradas matemáticas puras.
A
contribuição histórica e cultura dos filósofos pré-socráticos à matemática,
enquanto ciência, não são discutíveis e em grande parte fruto de tradição bem
documentada. As mais antigas evidências concretas sobre as atividades de um
matemático propriamente dito referem-se a Hipócrates de Quios. Nossos
conhecimentos sobre Hipócrates de Quios e outros matemáticos baseiam-se em
fragmentos de suas obras e em tradições conservadas nos séculos posteriores. O
mais antigo tratado matemático que chegou até nós é o Da Esfera Móvel,
um estudo a respeito do valor piramidal da esfera. Dos matemáticos posteriores
restam-nos diversas obras de valor desigual, dentre as quais se destaca Os
Elementos, de Euclides, cuja influência persiste analiticamente. O interesse
pela história da Matemática iniciou, também, na Grécia Antiga. Eudemo de Rodes
um dos discípulos de Aristóteles escreveu consecutivas histórias da aritmética, da geometria
e da astronomia, mas que infelizmente não foram conservadas.
Durante
o período greco-romano o matemático Papo de Alexandria representa um relato etnográfico
sistemático da obra de seus predecessores, desde Euclides até Esporo de Niceia.
Há também extensas notas explicativas sobre vários temas matemáticos e valiosas
introduções aos diversos livros, nas quais Papo de Alexandria resume o tema geral e os
assuntos técnico-metodológicos a serem tratados. Notabilizou-se por ser pai da filosofa Hipátia e por
produzir em 390 uma versão mais elaborada da obra Os Elementos de Euclides
que sobreviveu aos dias atuais. Dentre suas obras está uma que faz
considerações sobre um eclipse solar em Alexandria. A mobilidade trouxe a
Atenas Hipócrates de Quios, no séc. V a. C., o primeiro autor de uma compilação
de Elementos, em que parecem já figurar investigações ligadas à resolução do problema
de Delos (a duplicação do cubo) e à quadratura do círculo. Com a morte
de Platão, seu discípulo, Têudio de Magnésia, escreveu nova compilação dos
manuscritos Elementos.
Em análise comparada um matemático de origem (des)conhecida, Leonte, que frequentou a Academia
entre 365-360 a. C., foi autor de uns Elementos. É à luz desta tradição que há
que entender o trabalho de Euclides, considerado o grande pioneiro dos estudos
de Matemática em Alexandria, cuja obra tem se mantido na memória individual e coletiva até a
modernidade contemporânea e de quem se sabe que esteve ativo, como pensador durante o reinado
de Ptolomeu I, que subiu ao trono do Egito em 330 a. C., dois anos após a morte
de Alexandre. Segundo a tradição, foi convidado por Demétrio de Faléron, após a
fundação do Museu, para aí criar uma escola de Matemática e formar vários discípulos.
Escreveu várias obras, dentre elas Dados,
Fenômenos, Porismos, Óptica, Calóptica e considerações sobre planos e
secções do cone, matéria que o seu discípulo mais notável, Apolônio de Perga,
retomará. Mas a principal obra de Euclides, que o tornará um dos matemáticos
mais famosos da Antiguidade, com repercussão até à modernidade são os Elementos,
expostos em seus treze volumes, mas descreve-se que os volumes XIV e XV são apócrifos.
Gênios
artísticos podem se manifestar na primeira infância (prodígio) ou mais tarde na
vida; de qualquer forma, os gênios eventualmente se diferenciam do restante
através de grande originalidade. Gênios intelectuais geralmente têm visões
nítidas e concisas de uma dada situação, na qual a interpretação é
desnecessária - os fatos simplesmente os impactam e eles constroem ou agem de
acordo com estes fatos sociais, geralmente com tremenda energia. Aqui também, gênios
consumados em campos cognitivos intelectuais começam em muitos casos como prodígios,
privilegiados com memória superior, reconhecimento de padrões ou apenas
percepção. Na linha divisória entre a Matemática dos séculos XVIII e XIX domina
a figura majestosa de Carl Friedrich Gauss. Filho de um trabalhador à jorna foi
criado no âmbito de uma família pobre, austera e sem educação. A vida pessoal
de Friedrich Gauss foi trágica e
complicada, na falta de melhor expressão.
Um
pai insensível, a morte prematura da sua primeira mulher, a pouca saúde da sua
segunda mulher e uma terrível relação com os seus filhos negou-lhe, até tarde,
a possibilidade de vida estável no seio de uma família equilibrada.Dadas as precárias condições econômicas familiares,
recebeu o precioso apoio do Duque de Brunswich que reconheceu nele uma
criança-prodígio. Este apoio institucional começou desde 14 anos e permitiu-lhe
dedicar-se exclusivamente aos estudos, durante 16 anos. Gauss não encontrou
nenhum colaborador entre os seus colegas matemáticos tendo trabalhado sempre
sozinho. Mas, se é verdade que o seu isolamento relativo, a sua compreensão das
matemáticas puras e aplicadas, a sua preocupação com a astronomia e o uso
frequente que faz do Latim têm a marca do século XVIII, é inegável que, nos
seus trabalhos, se amplifica o espíritocientífico de um novo período. Comparativamente
se tal como os seus contemporâneos Kant, Goethe, Beethoven e Hegel, hic et nunc se manteve
à margem das grandes lutas sociais e políticas, a verdade é que, no seu próprio
campo científico, Gauss expressou as novas ideias da sua época de uma forma
poderosíssima.
Curiosamente
nem na descendência de Gauss, nem no seu ambiente infantil, existe qualquer indício, no sentido de Ginzburg (1986)
do que resulta o trabalho da sua vida. Do lado paterno, temos, sobretudo, os donos
de pequenas quintas, trabalhadores rurais e operários em Braunschweig que é uma
parte da ex-Alemanha de Leste, isto é, trabalhadores que lutavam arduamente
pela sua subsistência. Contudo, há também notícia de agricultores abastados,
pedreiros e titulares de postos eclesiásticos. O avô paterno, Jürgen Goos,
estabeleceu-se na cidade de Braunschweig, mais tarde, capital do Ducado de
Braunschweig em 1744. Seu pai, Gebhard Dietrich Gauss, nasceu em 1744. Finalmente,
e após trabalhar como pedreiro, construtor de canais e jardineiro, Gebhard
tornou-se proprietário de uma casa, em Wilhelmstrasse, que havia sido comprada
por seu pai, Jürgen Goos, em 1753, com uma elevada hipoteca. Como Gebhard calculava
e escrevia bem, foi-lhe confiado a função de tesoureiro de um fundo de enterro.
A
primeira mulher de Gebhard morreu em 1775. No ano seguinte, Gebhard casou com
Dorothea Benze. O único filho desta união foi Carl Friedrich Gauss, que nasceu
a 30 de abril de 1777, na casa de Wilhelmstrasse que mais tarde se tornou um
museu e foi destruída num bombardeamento durante a 2ª Guerra Mundial. O avô
materno de Gauss, Kristoffer Benze, era pedreiro na aldeia de Velpke, nos
arredores de Braunschweig. Como trabalhava no arenito, seus pulmões foram afetados,
acabando por morrer quando tinha apenas trinta anos. O irmão mais novo de
Dorothea Benze, Johann Friedrich, era dotado, original e autodidata, tendo aprendido
por si próprio a ser um bom tecelão de damasco. Quando morreu, em 1809, Gauss
declarou que o mundo havia perdido um génio, declaração esta que só tem a
evidência do olhar de Gauss como sustentação. Quanto à sua mãe, Dorothea, nunca
aprendeu a escrever e quase não conseguia ler. No entanto tinha uma óptima
inteligência, bom humor e um forte caráter. O seu filho Carl Friedrich foi o
seu interesse dominante da sua vida cujos últimos vinte e dois anos dedicou a
acompanhar o filho no conhecido observatório, em Göttingen.
Durante muito tempo, se acreditou que a economia de etapas e a rapidez na resolução de problemas fossem os objetivos máximos a serem alcançados na disciplina de Matemática. Nesse sentido, ensinar algoritmos para fazer contas parecia ser o mais indicado. Se por um lado o uso de fórmulas permite organizar o raciocínio, registrá-lo, lê-lo e chegar à resposta exata, por outro, fixa o aprendizado somente nessa estratégia e leva o estudante apenas a conhecer uma prática cada vez menos usada e, pior, a realizá-la de modo automático, sem entender exatamente o que está fazendo. Começaram
cedo os indícios que faziam antever o
talento apaixonante que Friedrich Gauss demonstraria em sua vida. Isso é patente em alguns
dos excertos que relatam períodos da sua infância. É o caso do seguinte episódio: durante
os verões, Gebhard Gauss, que era contramestre numa firma de alvenaria, pagava
o salário semanal aos seus trabalhadores. Uma vez, quando Gebhard estava
prestes a pagar o salário a um dos trabalhadores, Carl Friedrich, na altura com
apenas três anos, levantou-se e disse: - “Papa, cometeste um erro!”, indicando
em seguida a quantia certa. Gauss tinha seguido os cálculos sem sequer poder
ver os registos escritos, dado que a sua altura ainda não era suficiente para alcançar
a mesa, e para surpresa dos presentes, uma confirmação provou que o pequeno Carl
Friedrich estava certo. É, portanto, natural que Gauss tivesse o costume de
dizer que tinha aprendido precocemente a contar e a calcular antes de ter
aprendido a falar.
Gauss tinha cerca de dez anos e frequentava a
classe de aritmética quando Büttner propôs o seguinte difícil problema: - “Escrevam
todos os números de 1 a 100 e depois vejam quanto dá a sua soma”. Era hábito,
quando a classe tinha uma tarefa deste tipo, que se fizesse o seguinte: o
primeiro aluno a acabar iria até à secretária do professor com a sua ardósia e
colocá-la-ia em cima da mesa. O seguinte a acabar colocaria a sua ardósia em
cima da ardósia do colega e assim sucessivamente, até a pilha de ardósias estar
completa. O problema em questão não era difícil para alguém que tivesse alguma
familiaridade com as progressões aritméticas. Como os rapazes ainda eram
principiantes, Büttner certamente pensou que lhe seria possível fazer um
intervalo por um bom bocado. Mas estava enganado... Em alguns segundos, Gauss
colocou a sua ardósia na mesa, e ao mesmo tempo disse no seu dialeto
Braunschweig: “Ligget se” (“Aqui jaz”). Enquanto outros alunos continuavam a
somar, Gauss sentou-se sereno, impassível aos olhares desdenhosos de Büttner.
No final da aula os resultados foram
examinados. A grande maioria dos alunos tinha apresentado resultados errados “pelo
que foram severamente corrigidos com uma cana-da-índia”. Na ardósia de Gauss,
que se encontrava no fim, estava apenas um número: 5050. Como seria de esperar,
Gauss teve que explicar ao espantado professor Büttner como é que tinha obtido
aquele resultado: - “Então, 1+100=101, 2+99=101, 3+98=101, e por ai em diante,
até finalmente 49+52=101 e 50+51=101. Isto dá um total de 50 pares de números
cuja soma dá 101. Portanto, a soma total é 50101=5050”. Desta maneira
aparentemente simples, Gauss tinha encontrado a propriedade da simetria das
progressões aritméticas, derivando a fórmula da soma para uma progressão
aritmética arbitrária, fórmula que provavelmente Gauss descobriu por si
próprio. Este acontecimento marcou o ponto de viragem, como dizem os italianos,
na sua própria vida. Büttner percebeu que pouco tinha para ensinar a Gauss e
deu-lhe o melhor livro de aritmética, especialmente encomendado de Hamburg.
Assim, Gauss teve estreito contato com Martin Bartels, com apenas 18 anos,
assistente de Büttner nas aulas o que constituiu uma virtù e fortuna, não tanto para Gauss que pouco tinha a aprender
com ele, mas para Bartels que, mais tarde, se tornou professor de Matemática.
Friedrich
Gauss (1777-1855) é considerado no meio acadêmico e científico um dos maiores
matemáticos de todos os tempos. Alguns o referendam como Princeps Mathematicorum ou “o mais notável dos matemáticos” e um “grande
matemático desde a antiguidade”, uma marca influente em muitas áreas da matemática
e da ciência e é um dos mais influentes na história teórica da matemática. Mas
até a idade de 20 anos teve um grande interesse por idiomas e quase se tornou
um filologista, como Friedrich Nietzsche um século depois. Posteriormente, literatura estrangeira e leituras sobre
política eram seus passatempos prediletos. Por serem incomuns, ambos com
tendências conservadoras. A matemática
gaussiana serviu às principais áreas de pesquisa da matemática moderna. A
etnografia de Gauss demonstrou que ele antecipou a geometria não-Euclidiana, 30
anos antes de Bolyai e Lobachevsky. Descobriu o teorema fundamental de Cauchy
da análise complexa 14 anos antes. Descobriu os quaternios antes de Sir Willian Rowan Hamilton e antecipou os
importantes trabalhos de Legendre, Abel e Jacobi. Se Gauss tivesse publicado
todos os seus resultados, teria feito avançar o progresso da Matemática em mais
de 50 anos.
O
principal matemático da Antiguidade uniu o mundo abstrato dos números com o
mundo real. Newton também era um matemático notável. Propôs medir o volume de
objetos curvos ou calcular a velocidade de objetos em aceleração. Leibniz não
era popular como Newton, mas aprofundou o conceito de grandezas infinitesimais,
muito relevantes do ponto de vista teórico na matemática. Évariste Galois criou
as estruturas algébricas e Henri Poincaré inventou sua topologia ambos no
século dezenove. Aquele rebelde é o único matemático cuja obra não tem erros.
Seu principal trabalho levou-o a solucionar problemas matemáticos em aberto
desde a Antiguidade. Com a topologia algébrica, é possível demonstrar como uma
caneca representa a deformação da metade do aro. A conjectura que ele propôs em
1904 só foi resolvida em 2006. Al-Khwarizmi criou as bases teóricas para a
álgebra moderna no distante século oito. Ele fundamentou a matemática descrevendo métodos e técnicas de pesquisa para resolver equações lineares e quadráticas. O italiano
Fibonacci difundiu seus ensinamentos com numerais arábicos e algarismos de 0 a 9, para representá-los em procedimentos matemáticos.
A
Matemática está presente na nossa vida desde o nosso nascimento. Nosso
cotidiano gira em torno de números, medidas, figuras geométricas e outros
conceitos inerentes a essa disciplina. Antes mesmo de iniciar o período
escolar, as crianças já têm contato no processo de formação com noções
matemáticas no seu dia a dia, aprendendo sem sequer perceber. No processo de
socialização escolar, a Matemática aparece com a divisão técnica e social do
trabalho educativo e disciplinar, embora muitos alunos já alfabetizados não possuírem
necessariamente habilidades fundamentais na Matemática. Quando isso ocorre e a
criança não consegue atribuir um sentido prático aos conceitos matemáticos, surge
a contradição sociológica de aversão à Matemática para a refutá-la. Contudo, Gauss
foi perseguido pelo governo de seu tempo e foi salvo pela proteção de um
seguidor de seus conhecimentos, o qual mais tarde veio descobrir que se tratava
de uma mulher. Aos 10 anos de idade, Gauss respondeu rapidamente qual era a
soma dos algarismos de 1 a 100 em poucos minutos, 5.050 disse ele ao seu
professor cálculo esse que demonstra a fórmula da soma de uma progressão
geométrica. Gauss desenvolveu uma concepção sobre as teorias das congruências, um método de
interpretação para determinar datas do calendário, e determinar
quando iria cair a Pascoa, uma vez que esta deveria ser coincidir no dia de domingo
após a primeira lua cheia da Primavera na Europa.
Vale
lembrar é com o conceito de Lei, que Montesquieu traz à sociedade fora do campo
da teologia e da crônica inserindo-a no âmbito propriamente teórico. Estabelece uma regra de
imanência que incorpora a teoria ao campo das ciências: as instituições
políticas são regidas por leis que derivam das relações políticas. As leis que
regem as instituições políticas são relações próprias entre as diversas classes
em que se divide a população, as formas de organização econômica, as formas de
distribuição do poder etc. Mas o objeto de Montesquieu não são as leis que
regem as relações entre os homens em geral, mas as leis positivas, isto é, as
leis e instituições criadas pelos homens para reger as relações determinadas
entre os homens. Ele observa que, ao contrário dos outros seres, os homens têm
a capacidade de se furtar às leis da razão que deveriam reger suas relações, e,
além disso, adotam leis escritas e costumes destinados a reger os
comportamentos humanos. E têm também a capacidade de furtar-se igualmente às
leis e instituições. O objetivo de Montesquieu é imiscuir o espírito das leis,
isto é, esclarecer as relações intrínsecas entre as leis (positivas) e “diversas
coisas”, tais como o clima, as dimensões do Estado, a organização do comércio,
as relações entre as classes etc.
Neste
contexto de socialização os procedimentos didáticos costumam se pautar não apenas nos conteúdos a serem estudados,
mas também em atividades práticas, que evoquem situações cotidianas de
aprendizados importantes. É a partir daí que a escola deve desenvolver o ensino
da Matemática nos primeiros anos da vida escolar. Não há discordância em
relação à idade ideal para a introdução do ensino da Matemática na educação. A
partir dos seis meses de vida os bebês já identificam a diferença entre conjuntos
de elementos que contenham quantidades diferentes. A partir dos três anos de
idade, eles já entendem as operações básicas de adição e subtração. Na vida
cotidiana a Matemática deve proporcionar, na prática, a exploração dos diversos
preceitos gnosiológicos, abordando medidas, proporções e formas geométricas, de
forma que os alunos desenvolvam e nutram prazer e curiosidade por esses procedimentos.
Essa proposta deve trazer elementos do mundo real, utilizando-se de experiências
da linguagem no desenvolvimento de didáticas que ampliem suas noções
matemáticas. Além disso, a Matemática é uma ciência fundamental para diferentes
aspectos da vida contemporânea, desde os avanços tecnológicos a situações e
necessidades da vida cotidiana nas esferas de ação social que vão desde a
economia à esfera da ação política.
Bibliografia geral consultada.
BELHOSTE, Bruno, Cauchy
1789-1857: Un Mathématicien Légitimiste au XIXe Siècle. Paris: Editeur Belin,
1988; IFRAH, Georges, Os Números: História de uma Grande Invenção. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1989; MAIA, Cristiane
Corina Couto, O Jogo enquanto Estratégia Cognitiva para a Formação de um
Conceito Matemático de um Aluno com Atraso no Desenvolvimento. Dissertação
de Mestrado em Psicologia da Educação. São Paulo: Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 1994; WILSON, Thomas, “Sociologia e Método Matemático”. In: Teoria Social Hoje. Anthony Giddens; Jonathan Turner. Organizadores. São Paulo: Editora UNESP, 1999; GRATTAN-GUINNESS, Ivor, A Busca das Raízes Matemáticas 1870-1940. Princeton: Princeton University Press, 2000; GRAÇA NETO, Almir
Cunha da, O Campo de Tensão da Aplicação
de Gauss. Dissertação de Mestrado em Matemática. Programa de Pós-Graduação
em Matemática. Manaus: Universidade Federal do Amazonas, 2007; GOMES, Maria Laura
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D’Alembert, Condillac e Condorcet. Campinas: Editora da Universidade de Campinas, 2008; SUSSEKIND, Pedro, Shakespeare, o Gênio Original. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2008; SILVA FILHO, Eduvânio Machado, Uma Abordagem Didática Diferenciada para o Teorema de Pitágoras. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Matemática em Rede Nacional. Departamento de Matemática. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2013; FARIAS, Kátia
Sebastiana Carvalho dos Santos, Práticas Mobilizadoras de Cultura Aritmética
na Formação de Professores da Escola Normal da Província do Rio de Janeiro
(1868-1889): Ouvindo Espectros Imperiais. Tese de Doutorado. Faculdade de
Educação. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2014; MOURA, Elmha Coelho Martins, O Ensino de Matemática em duas Escolas Profissionalizantes: Brasil e Portugal no Período 1942 a 1978. Tese de Doutorado em Educação Matemática. Rio Claro: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2016; BRISOLA, Danielle Frozi, Teorema de Dandelin. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Matemática. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2016; MUSSATO, Gabriel Abreu, Ontologia e Epistemologia na Educação Científica. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2018; entre outros.
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