Mostrando postagens com marcador Ideologia Política. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ideologia Política. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Henry Kissinger – Americanismo & Estratégias de Relações Exteriores.

                                          A falta de alternativas clarifica maravilhosamente a mente”. Henry Kissinger

           Henry Alfred Kissinger nascido Heinz Alfred Kissinger, em Fürth, em 27 de maio de 1923, e falecido em Kent, em 29 de novembro de 2023 foi um político, diplomata e especialista em geopolítica norte-americano que serviu como Secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América nos governos dos presidentes Richard Nixon (1913-1994), de 1969 até 1974, quando se tornou o primeiro e único Presidente a renunciar do cargo e Gerald Rudolph Ford Jr. (1913-2006). Líder do Partido Republicano na Câmara dos Representantes, de 1965 a 1973, ele mais tarde foi o 40º vice-presidente dos Estados Unidos de 1973 a 1974. Kissinger foi refugiado de uma família judia da Alemanha nazista em 1938, se destacou academicamente, recebendo um diploma de bacharelado, summa cum laude, da Universidade Harvard em 1950, estudando sob William Yandell Elliott (1896-1979). Ele recebeu um Master of Arts e um PhD de Harvard em 1951 e 1954, respectivamente. Por suas ações diplomáticas negociando “um cessar-fogo em Vietnã, Kissinger recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1973 sob circunstâncias controversas”. Um praticante de Realpolitik, desempenhou um papel proeminente na política externa dos Estados Unidos entre 1969 e 1977, sendo pioneiro na política de détente com a União Soviética, orquestrando uma Abertura de relações com a República Popular da China, engajando no que ficou reconhecido como “shuttle Diplomacy” (“Diplomacia de transporte”) no Oriente Médio após a Guerra do Yom Kippur, para os judeus, Guerra do Ramadan para os árabes ou mesmo, Guerra de Outubro. Mas aquele confronto ficou na história como “a guerra que mudou tudo”. Quer dizer, o conflito armado envolvendo israelenses e árabes ocorrido em 1973.

Representava a disputa pelas terras próximo ao Canal de Suez, entre Israel e Egito. Oriente Médio é uma região localizada no continente asiático, fazendo fronteira com a Europa e África. É uma das regiões consideradas como “berço das civilizações”, pois foi território de civilizações antigas, como a Mesopotâmia, o Egípcio e o Árabe. O Oriente Médio é delimitado pelos mares Negro, Mediterrâneo, Vermelho, Arábico, Cáspio e pelo Golfo Pérsico, além do Oceano Índico. No final do século XX e começo do século XXI, o Oriente Médio ficou marcado por intensos conflitos envolvendo disputas territoriais, principalmente entre os árabes e os israelitas. A maioria das pessoas que habitam esta região é árabe, sendo este, portanto, o idioma mais falado no Oriente Médio. Porém, ainda existem outros povos com seus respectivos idiomas, como os turcos (que falam o turco), os judeus (que falam o hebraico) e os persas (que falam farsi), um idioma do subgrupo das línguas iranianas, que por sua vez pertencente ao ramo indo-iraniano da grande família indo-europeia. O Oriente Médio tem como representação no debate historiográfico, uma das regiões importantes, considerada como “berço das civilizações”, pois foi território de civilizações antigas, a Mesopotâmia, o Egípcio e o Mundo Árabe, constituído por 22 países e territórios com uma população de 360 milhões de pessoas abrangendo simultaneamente o Norte de África e a Ásia Ocidental. Outro destaque no plano social, importante desta região está no âmbito do sistema religioso, pois o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, ou seja, na esfera religiosa, as doutrinas mais expressivas do mundo teriam surgido no Oriente Médio.

Aliás, no âmbito religioso, a maioria das pessoas que habitam o Oriente Médio, é muçulmana, que podem estar subdivididas em seitas, como os sunitas, xiitas, drusos, alauitas, etc. No contexto econômico, social e político, o Oriente Médio é reconhecido por ser o maior detentor de petróleo, o “ouro negro”. Aproximadamente 65% de todo petróleo existente no planeta está localizado sob os solos desta famosa região. No sentido pontual é um termo disciplinar que designa um determinado campo do conhecimento.  Como campos específicos de saber, as disciplinas se referem aos mais diversos âmbitos de produção social de conhecimento técnico e científico. Tem como representação a produção social através de instâncias ou níveis de análises sobre a realidade social, a constituição de uma linguagem aparentemente comum entre os seus praticantes, a definição e constante redefinição de seus objetos de pensamento, uma singularidade que as diferencia de outros saberes, uma complexidade interna que termina por gerar novas modalidades no interior da disciplina. Enfim, a rede de conexão humana de conhecimentos que constitui determinado campo de saber, com a formação progressiva da chamada “comunidade científica” compartilhada pelos diversos praticantes do campo disciplinar. Há formalmente um método e processo de trabalho, com a fundação e manutenção de revistas científicas especializadas, a ocorrência constante de congressos frequentados pelos usuários praticantes do campo disciplinar, a criação de instituições que representam os profissionais do campo de saber vinculando seu nome, seu cargo, processo de trabalho e pesquisa nas instituições e assim por diante. 

 Yom Kippur é uma expressão em hebraico que se traduz como “Dia do Perdão”. É o dia mais sagrado do calendário judaico, ocorrendo no décimo dia do mês de Tishrei. Nesse dia, os judeus praticam o jejum, a oração e a reflexão, buscando a expiação de seus pecados e a reconciliação com Deus. Yom Kippur é “um dia de introspecção e perdão, marcado por um período de 25 horas de abstinência completa de comida, bebida, trabalho e outros prazeres terrenos”. A Guerra do Yom Kippur teve suas raízes históricas e políticas em tensões profundamente enraizadas na região do Oriente Médio, resultantes do conflito árabe-israelense, que teve início com a criação do Estado de Israel, em 1948. Várias questões desempenharam papéis significativos nas causas do conflito. Após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel havia conquistado territórios que anteriormente estavam sob controle árabe, incluindo a Península do Sinai, que pertencia ao Egito, e as Colinas de Golan, que eram pertencentes da Síria. Essa ocupação sociologicamente criou tensões contínuas relevantes entre Israel, Egito e Síria, países desejavam recuperar essas áreas. Falta de resolução dos conflitos anteriores preconizou que a Guerra dos Seis Dias resultou em uma vitória de Israel, mas não houve resolução para o conflito.

As Nações Unidas emitiram a Resolução 242, que pediu a retirada de Israel dos territórios ocupados, mas ela não foi completamente implementada. Isso levou a uma sensação de injustiça entre os países árabes e alimentou o desejo de recuperar as terras perdidas. A questão dos refugiados palestinos era uma fonte constante de tensão. Os países árabes alegavam que Israel era responsável por criar o problema político dos refugiados palestinos, enquanto Israel via isso como uma “responsabilidade compartilhada” e não estava disposto a permitir o retorno dos refugiados para dentro de suas fronteiras. Tanto o Egito quanto a Síria estavam enfrentando pressões políticas e econômicas internas e externas para recuperar territórios perdidos. A União Soviética, que tinha interesses estratégicos no Oriente Médio, estava fornecendo apoio militar e político substancial a esses países, encorajando condições e possibilidades pela solução militar. Estrategicamente a escolha da guerra em Yom Kippur no dia mais sagrado do calendário judaico, foi simbólica. Os líderes árabes acreditavam que pegar Israel de surpresa nesse dia poderia trazer sucesso militar e ter um impacto psicológico sobre os israelenses. A Guerra do Yom Kippur teve suas tensões no Oriente Médio, resultantes do conflito árabe-israelense, que teve início com a criação do Estado de Israel, em 1948.

Várias questões desempenharam papéis significativos evidenciado nas causas do conflito bélico, por exemplo: territórios ocupados: após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel havia conquistado territórios que anteriormente estavam sob controle árabe, incluindo a Península do Sinai, que pertencia ao Egito, e as Colinas de Golan, que eram da Síria. Essa ocupação criou tensões contínuas entre Israel, Egito e Síria, pois esses países desejavam recuperar essas áreas. Falta de resolução dos conflitos anteriores: a Guerra dos Seis Dias resultou em uma vitória esmagadora de Israel, mas não houve resolução para o conflito geopolítico. As Nações Unidas emitiram a Resolução 242, que pediu a retirada de Israel dos territórios ocupados, mas ela não foi completamente implementada. Isso levou a uma sensação de injustiça entre os países árabes e alimentou o desejo de recuperar as terras perdidas. A questão dos refugiados palestinos era uma fonte constante de tensão. Os países árabes alegavam que Israel era responsável por criar o problema dos refugiados palestinos, enquanto Israel via isso como uma responsabilidade compartilhada e não estava disposto a permitir o retorno dos refugiados para dentro de suas fronteiras. Tanto o Egito quanto a Síria estavam enfrentando pressões políticas e econômicas internas e externas para recuperar territórios perdidos.

No contexto da chamada Guerra Fria a União Soviética, que tinha interesses estratégicos no Oriente Médio, estava fornecendo apoio militar e político substancial a esses países, encorajando sua busca por uma solução militar. A Guerra do Yom Kippur representou uma tentativa concertada por parte do Egito e da Síria de recuperar territórios perdidos para Israel durante a Guerra dos Seis Dias em 1967. Os principais objetivos dos dois países árabes eram os seguintes. Recuperação dos territórios ocupados. Tanto o Egito quanto a Síria almejavam recuperar os territórios que haviam perdido para Israel em 1967. O Egito buscava a Península do Sinai, enquanto a Síria estava determinada a retomar as Colinas de Golan. Esses territórios eram de importância estratégica e simbólica para ambos os países. Pressionar Israel a negociar: os líderes árabes esperavam que uma vitória militar inicial na Guerra do Yom Kippur pressionasse Israel a negociar e finalmente chegar a um acordo que levasse à retirada dos territórios ocupados. A Guerra do Yom Kippur começou no dia 6 de outubro de 1973, quando as forças egípcias e sírias lançaram ataques surpresa contra Israel. O conflito foi marcado por combates intensos e pesadas baixas de ambos os lados. O elemento surpresa, a determinação árabe e o apoio da União Soviética aos países árabes tornaram o início da guerra favorável aos atacantes.

No entanto, apesar de ser pego como elemento de surpresa, Israel conseguiu se reorganizar rapidamente e lançar contra-ataques. As forças israelenses foram capazes de recuperar terreno e até mesmo cruzar o Canal de Suez, no Egito, e avançar pelas Colinas de Golan, na Síria. A resposta israelense foi rápida em termos de estratégia militar. O embate durou cerca de três semanas, e, durante esse tempo, houve uma escalada de combates em várias frentes. A União Soviética ameaçou intervir diretamente no conflito, o que elevou ainda mais a tensão global. Os Estados Unidos da América, liderados pelo secretário de Estado Henry Kissinger, desempenharam um papel crucial na mediação de um cessar-fogo. Finalmente, um cessar-fogo foi acordado. A Resolução 338 das Nações Unidas, que pedia um cessar-fogo imediato e negociações de paz, foi aceita por ambas as partes. A guerra terminou oficialmente em 25 de outubro de 1973. A Guerra do Yom Kippur teve várias consequências importantes para a região do Oriente Médio e no cenário global. Algumas das principais delas incluíram. Mudança nas percepções de força: a guerra alterou a percepção do poderio militar de Israel. Enquanto a Guerra dos Seis Dias havia estabelecido Israel como uma força militar dominante, a Guerra do Yom Kippur demonstrou que Israel não era invulnerável e podia sofrer derrotas.

A guerra causou devastação em termos de vidas perdidas e danos materiais. Houve um alto número de vítimas em ambos os lados, bem como um custo econômico significativo. Retomada das negociações de paz: a guerra pressionou Israel a considerar a necessidade de negociações de paz com seus vizinhos árabes. Isso levou a uma série de conferências de paz, culminando nos Acordos de Camp David em 1978, que resultaram na devolução da Península do Sinai ao Egito em troca do reconhecimento oficial de Israel. Reforço da política externa dos Estados Unidos desempenharam um papel crucial na mediação do conflito e fortaleceram sua influência na região como resultado. Henry Kissinger, então secretário de Estado dos EUA, desempenhou um papel de destaque na negociação do cessar-fogo e subsequente negociação de paz. A Guerra do Yom Kippur teve implicações significativas na Guerra Fria, uma vez que os Estados Unidos e a União Soviética apoiavam lados opostos no conflito. A ameaça de intervenção direta soviética na guerra preocupou os Estados Unidos e influenciou suas ações na região. O presidente egípcio Anwar Sadat emergiu da guerra como um líder carismático e corajoso no mundo árabe. Seu papel na guerra e sua subsequente busca da paz com Israel foram marcantes e lhe renderam respeito e admiração em círculos internacionais.  Embora tenha havido avanços nas negociações de paz após a Guerra do Yom Kippur, o conflito árabe-israelense não foi completamente resolvido. Questões como os refugiados palestinos, a soberania sobre Jerusalém e as fronteiras continuaram a tensão e conflito. 

Autores notaram a extrema confusão que reina na demasiado rica terminologia do imaginário: signos, imagens, símbolos, alegorias, emblemas, arquétipos, esquemas (schémas), esquemas (schèmes), ilustrações, representações, diagramas e sinepsias são termos empregados pelos analistas do imaginário social. O esquema é uma generalização dinâmica e afetiva da imagem, constitui a factividade e a não-substantividade geral do parcours imaginário. O esquema aparenta-se ao que Jean Piaget, na esteira de Herbert Silberer, chama “símbolo funcional” e ao que Gaston Bachelard na filosofia chama de “símbolo motor”. Faz a junção ente dos gestos inconscientes da sensório-motricidade, entre as dominantes reflexas e as representações. São esses esquemas que na antropologia do imaginário formam o “esqueleto dinâmico”, o esboço funcional da imaginação. A diferença entre os gestos reflexológicos que Gilbert Durand descreve analogamente e os esquemas é que estes últimos já não são apenas abstratos engramas teóricos, mas trajetos encarnados em representações concretas bem mais precisas. Os gestos diferenciados em esquemas vão determinar, em contato com o ambiente natural e social, os grandes arquétipos que Jung os definiu. Os arquétipos constituem as substantificações dos esquemas. Carl Jung vai buscar esta noção em Jakob Burckhardt e faz dela sinônimo de origem primordial, de enagrama, de margem original, de protótipo social.

O pensador evidencia claramente o caráter de trajeto antropológico dos arquétipos quando escreve que a imagem primordial deve incontestavelmente estar em relação com certos processos perceptíveis da natureza que se reproduzem sem cessar e são sempre ativos, mas por outro lado é igualmente indubitável que ela diz respeito também a certas condições inferiores da vida do espírito e da dinâmica da vida em geral. Bem longe de ter a primazia sobre a imagem, a ideia seria tão-somente o comprometimento pragmático do arquétipo imaginário num contexto histórico e epistemológico dado. Neste sentido, o mito representa um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e esquemas, sistema dinâmico que, sob o impulso de um esquema tende a compor uma narrativa. O mito é já um esboço de racionalização, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os símbolos se resolvem em palavras e os arquétipos em ideias culturais. O mito explicita um esquema ou um grupo de esquemas. Do modo que o arquétipo promovia a ideia, o símbolo o nome, concordamos com Gilbert Durand que o mito promove a doutrina religiosa, o sistema filosófico ou, como bem anteviu Émile Bréhier, a “narrativa histórica e lendária”.  Foi este princípio, que o psicólogo Carl Jung sentiu abrangido por seus conceitos de “Arquétipo” e “Inconsciente coletivo”, justamente o que uniu o médico psiquiatra Jung ao físico Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares em física e psicologia. Ocorre que a sincronicidade se manifesta às vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos os casos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente.

As leis naturais são verdades estatísticas, absolutamente válidas ante magnitudes macrofísicas, mas não microfísicas. Isto implica um princípio de explicação diferente do causal. Cabe a indagação se em termos muito gerais existem não somente uma possibilidade senão uma realidade de acontecimentos acausais. A acausalidade é esperável quando parece impensável a causalidade. Ante a casualidade só resulta viável a avaliação numérica ou o método estatístico. As agrupações ou séries de casualidades hão de ser consideradas casuais enquanto não se ultrapasse os limites de “observação da probabilidade”. A probabilidade representa sempre um número decimal entre 0 e 1, ou uma porcentagem entre 0% e 100%. Se ultrapassado, implica-se um princípio acausal ou “conexão transversal de sentido” na compreensão do evento. Depois de servir o exército na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), fez o seu doutoramento pela Universidade Harvard em 1954, tornando-se imediatamente instrutor na mesma instituição; depois de alguns anos, obteve o título de professor. Kissinger foi conselheiro de relações exteriores de todos os presidentes dos EUA, de Eisenhower a Gerald Ford, sendo Secretário de Estado dos Estados Unidos, isto é, o cargo equivalente ao de Ministro das Relações Exteriores, no Brasil, e de Ministro dos Negócios Estrangeiros, em Portugal, conselheiro político e confidente de Richard Nixon. 

            Em 1973, ganhou, com Le Duc Tho, o Prêmio Nobel da Paz, pelo seu papel na obtenção do acordo de cessar-fogo na Guerra do Vietnam. Le Duc Tho recusou o prêmio. Henry Kissinger esteve envolvido em uma intensa atividade diplomática com a República Popular da China, o Vietnã, a União Soviética e a África. É considerado uma figura polêmica e controversa, tendo alguns de seus críticos acusando-o de ter cometido crimes de guerra durante sua longa estadia no governo, como dar luz verde à invasão indonésia de Timor (1975) e aos golpes de Estado no Chile, no Camboja e no Uruguai (1973), sendo que, por diversas vezes, Kissinger usava uma política tortuosa, em que parecia jogar com um “pau de dois bicos”. Entre tais analistas críticos, incluem-se o jornalista Christopher Hitchens autor do livro The Trial of Henry Kissinger e o analista social Daniel Ellsberg no livro Secrets. Apesar de essas alegações dos bastidores da política não terem sido comprovadas perante uma Corte de justiça, considera-se um ato perigoso, para Henry Kissinger, entrar em alguns países da Europa e da América do Sul. 

          Henry Kissinger foi um dos mentores, ou mesmo o mentor, da chamada Operação Condor, para a América do Sul, além de ter dado apoio ao regime da ditadura militar argentina, tendo o mesmo dito, certa vez ao ministro das relações exteriores argentino que: - “Se há coisas que precisam ser feitas, vocês devem fazê-las rapidamente”, referindo-se à eliminação e à repressão a quem era contra a ditadura, incluindo-se aí, obviamente, métodos como torturas e mortes. O começo do confronto ocorreu em 6 de outubro de 1973, dia em que os judeus celebram o Yom Kippur, o Dia do Perdão e a negociação dos Acordos de Paz de Paris, que encerrou o envolvimento norte-americano na Guerra do Vietnã. Kissinger também se viu associado a políticas controversas como o envolvimento dos Estados Unidos no Golpe de Estado no Chile em 1973, deu sinal verde para a Junta Militar Argentina em sua Guerra Suja e garantiu apoio norte-americano ao Paquistão durante a Guerra de Independência de Bangladesh apesar do genocídio perpetrado pelos paquistaneses. Depois de deixar o governo, ele formou a Kissinger Associates, uma firma de consultaria geopolítica. Continuou uma figuração controversa e polarizadora na política norte-americana, venerado por alguns como um Secretário de Estado altamente eficaz e condenado por outros por supostamente tolerar ou apoiar crimes de guerra cometidos por nações aliadas durante seu mandato. Uma pesquisa realizada em 2015 por estudiosos de relações internacionais, conduzida pelo College of William & Mary, classificou Kissinger como o secretário de Estado dos Estados Unidos mais eficaz nos cinquenta anos anteriores até 2015. Com a morte do centenário George Pratt Shultz em fevereiro de 2021, foi, até sua morte, o ex-membro do gabinete dos Estados Unidos mais velho vivo e o último membro sobrevivente do Gabinete de Richard Nixon (1913-1994).

Vale lembrar que o conceito de figuração se distingue de muitos outros conceitos teóricos da sociologia por incluir expressamente os seres humanos em sua formação. Contrasta, portanto, decididamente com um tipo amplamente dominante de formação de conceitos que se desenvolve sobretudo na investigação de objetos sem vida, portanto no campo da física e da filosofia para ela orientada. Há figurações de estrelas, assim como de plantas e de animais. Mas apenas os seres humanos formam figurações uns com os outros. O modo de sua vida conjunta em grupos grandes e pequenos é, de certa maneira, singular e sempre co-determinado pela transmissão de conhecimento de uma geração a outra, portanto por meio do ingresso do singular no mundo simbólico específico de uma figuração já existente na formação de seres humanos. Às quatro dimensões espaço-temporais indissoluvelmente ligadas se soma, no caso dos seres humanos, uma quinta, a dos símbolos socialmente aprendidos. Sem sua proposição, sem, por exemplo, o aprendizado de uma determinada língua especificamente social, os seres humanos não seriam capazes de se orientar no seu mundo nem de se comunicar uns com os outros. Ipso facto, um ser humano adulto, que não teve acesso aos símbolos da língua e do conhecimento de determinado grupo humano permanece fora de todas as figurações humanas e, portanto, não é propriamente um ser humano. Quer dizer, o crescimento de um jovem em figurações humanas, como processo e experiência, assim como o aprendizado de um determinado esquema de autoregulação na relação com os seres humanos, é conditio sine qua non do desenvolvimento rumo à humanidade. Socialização e individualização de um ser humano, são, portanto, nomes diferentes para um mesmo processo. Cada ser humano assemelha-se aos outros e é, ao mesmo tempo diferente de todos os outros. O convívio dos seres humanos em sociedades tem sempre, mesmo no caos, na desintegração, na maior desordem social, uma forma absolutamente determinada. É isso que o conceito de figuração, exprime cabalmente. Seres humanos singulares convivem uns com os outros em figurações determinadas. 

Os seres humanos singulares se transformam. As figurações que eles formam uns com os outros também se transformam. Mas as transformações dos seres humanos singulares, e as transformações das figurações que eles formam uns com os outros, apesar de inseparáveis e entrelaçadas entre si, são transformações em planos diferentes e de tipo diferente. Entretanto, um ser humano singular pode ter relativa autonomia em relação a determinadas figurações, mas em relação às figurações em geral, quando muito, apenas em casos extremos, por exemplo, o da loucura.  Neste aspecto, Foucault, recorda-nos que seria preciso também renunciar a toda uma tradição que deixa imaginar que só pode haver saber onde as relações de poder estão suspensas e que o saber só pode se desenvolver fora de suas injunções, suas exigências e seus interesses. Seria talvez preciso renunciar a crer que o poder enlouquece e que em compensação a renúncia ao poder é uma das condições para que se possa se tornar sábio. Temos que admitir que o poder produz saber e não simplesmente favorecendo-o porque serve aplicando-o porque é útil; que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder.       

Do ponto de vista teórico e metodológico no âmbito histórico e sociológico duas questões essenciais nos fazem inferir sobre a importância de Norbert Elias (1994; 2006) no mundo contemporâneo. Em primeiro lugar a relação da pluralidade de pessoas com a pessoa singular a que chamamos “indivíduo”, bem como da pessoa singular com a pluralidade, não é nada clara em nossos dias. Mas é frequente não nos darmos conta disso, e menos ainda do porquê. Quer dizer, dispomos dos conhecidos conceitos de “indivíduos” e “sociedade”, o primeiro dos quais se refere ao ser humano singular como se fora uma entidade existindo em completo isolamento, enquanto o segundo costuma oscilar entre duas ideias opostas, mas igualmente enganosas. A sociedade é entendida, do ponto de vista histórico, teórico e conceitual quer como mera acumulação, coletânea somatória e desestruturada de muitas pessoas individuais, que como objeto que existe para além dos indivíduos e não é passível de alguma maior explicação. Neste último caso, hic et nunc, as palavras de que dispomos na nomenclatura científica, os conceitos que influenciam decisivamente o pensamento e os atos das pessoas que crescem na esfera delas, fazem com que o ser humano singular, rotulado costumeiramente de indivíduo, e a pluralidade das pessoas, concebida como sociedade, pareçam ser duas entidades ontologicamente diferentes.  Mas não o são! Libertar o pensamento da compulsão de compreender os dois termos formativos para a interpretação sociológica dessa maneira é um dos objetivos de Norbert Elias, particularmente debatido no ensaio: A Sociedade dos Indivíduos.

Para o autor, como de resto na crítica analítica sobre os conceitos e categorias sociais, só é possível alcançá-lo quando se ultrapassa a mera crítica negativa à utilização de ambos como opostos e se estabelece um novo modelo da maneira como, para o bem ou para o mal, os seres humanos individuais ligam-se uns aos outros numa pluralidade, isto é, numa sociedade. E este aspecto histórico e social se tornou claro quando o sociólogo trabalhava em seu estudo intitulado O Processo Civilizador.  É que o processo civilizador se estendia por inúmeras gerações; podia ser rastreado ao longo do movimento observável, numa determinada direção, do limiar de vergonha e constrangimento. Isso significava que as pessoas de uma geração posterior ingressavam no processo civilizador numa fase posterior. Ao crescerem como indivíduos, tinham de se adaptar a um padrão de vergonha e constrangimento, em todo o processo social de formação da consciência, posterior ao das pessoas das gerações precedentes. O repertório completo em termos de padrões sociais de autorregulação que o indivíduo tem que desenvolver dentro de si, ao crescer e se transformar num indivíduo único, é específico de cada geração e num sentido mais amplo, específico de cada sociedade. Para tanto, qualquer que fosse a direção, a evidência da mudança social deixava claro a que ponto individualmente cada pessoa era influenciada, sobretudo em seu processo de desenvolvimento, pela posição que ingressava no fluxo do processo social.

Nesta obra citada, a saber, A Sociedade dos Indivíduos, as três partes que a integram foram redigidas em épocas diferentes. A primeira mostra a etapa mais inicial das reflexões sobre o problema da pessoa singular dentro da pluralidade de pessoas, conforme anunciado pelo título do livro. A segunda parte é um exemplo do trabalho posterior sobre essa mesma questão; a terceira é a etapa mais recente e final desse trabalho contínuo. Reflete, portanto, mudanças na maneira como a sociedade é compreendida, e até na maneira como as diferentes pessoas que formam essas sociedades entendem a si mesmas: em suma, a autoimagem e a composição social – aquilo que Norbert Elias chama habitus dos indivíduos. Mas, por outro lado, o modo global da abordagem social do problema também se alterou consideravelmente. O problema tornou-se mais concreto. Os conceitos utilizados conformam-se mais estreitamente à situação observável especificamente de cada pessoa dentro da sociedade. Paradoxalmente, isso é acompanhado por uma elevação do nível de discussão que leva a uma síntese num plano mais elevado. Isso se expressa no conceito fundamental da balança nós-eu, o qual indica que a relação da identidade-eu com a identidade-nós, melhor dizendo, do indivíduo não se estabelece de uma vez por todas, como ocorre aparentemente na vida cotidiana, mas está sujeita a transformações muito específicas. Em tribos pequenas e, portanto, relativamente simples, essa relação social é vista de forma diferente se em analogia observada, nos Estados industrializados contemporâneos, e diferente, na paz, da que se observa nas guerras contemporâneas. 

          Este conceito faz com que se abram à discussão e à investigação algumas questões da relação social entre indivíduo e sociedade que permaneceriam inacessíveis se continuássemos a conceber a pessoa, e, portanto, a nós mesmos, como um eu destituído de um nós.  A questão a saber é, que tipo social de formação é esse, esta “sociedade” que compomos em conjunto, que não foi pretendida ou planejada por nenhum de nós, nem tampouco por todo nós juntos? A resposta adequada é: ela só existe porque existe um grande número de pessoas, só continua a funcionar porque muitas pessoas, isoladamente, querem e fazem certas coisas, e, no entanto, sua estrutura e suas grandes transformações históricas independem, claramente, das intenções de qualquer pessoa em particular. Quer dizer, parte das pessoas aborda as formações sócio-históricas como se tivessem sido concebidas, planejadamente e criadas, tal como agora se apresentam ao observador retrospectivo, por diversos indivíduos ou organismos. Alguns indivíduos dentro desse campo geral, talvez tenham certo nível de consciência de que esse tipo social de resposta realmente não é satisfatório. É por mais que distorçam suas ideias de modo a fazê-las corresponderem aos fatos, o modelo conceitual a que estão presos continua a ser da criação racional e deliberada por indivíduos. Quando têm à sua frente instituições sociais específicas, como os parlamentos, a polícia, os bancos, os impostos, seja lá o que for para explicá-las, as pessoas que criaram essas instituições.

Ao lidarem com um gênero literário, buscam o escritor que constituiu o que os outros seguiram como modelo. Ao depararem com formações em que esse tipo de explicação é difícil – a linguagem ou o Estado, por exemplo -, ao menos procedem como se essas formações sociais pudessem ser explicadas da mesma forma que as outras, aquelas que seriam deliberadamente produzidas por pessoas isoladas para fins específicos. Podem perguntar, por exemplo, que a finalidade da linguagem é a comunicação entre as pessoas, ou que a finalidade do estado é a manutenção da ordem – como se, no curso da história da humanidade, a linguagem ou a organização de associações específicas de pessoas sob a forma de Estados tivesse sido deliberadamente criada para esse fim específico de indivíduos isolados, como resultado de um pensamento racional.  E, com bastante frequência, ao serem confrontados pari passu com fenômenos sociais que obviamente não podem ser explicados por esse modelo, convencional, como é o caso na história social da evolução dos estilos artísticos ou do processo civilizador, seu pensamento estanca. Param de formular perguntas. Entretanto, no campo oposto de produção de saber se despreza essa maneira de abordar as formações históricas e sociais. Para seus integrantes, o indivíduo não desempenha papel algum.  Seus modelos conceitos são primordialmente extraídos das ciências naturais; em particular a presença ausente da biologia ou Ciências Biológicas.

Mas nesse caso, como tantas vezes acontece, os modos científicos de pensamento misturam-se, fácil e imperceptivelmente, com os modos religiosos e metafísicos, formando uma perfeita unidade.  A sociedade é concebida, segundo a interpretação de Elias (1994), como uma entidade orgânica supraindividual que avança inelutavelmente para a morte, historicamente atravessando etapas de juventude, maturidade e velhice. As ideias de Spengler constituem bom exemplo dessa maneira de pensar, mas no mundo contemporâneo se encontram noções análogas, independentemente dele, nos mais diversos matizes e cores. E, ainda quando não se veem levados, por força das experiências de nossa época, ao equívoco de conceber uma teoria geral da ascensão e declínio das sociedades como algo inevitável, ainda quando anteveem um futuro melhor para nossa sociedade, até os adversários dessa perspectiva spengleriana compartilham – por estarem dentro desse mesmo campo – limitando uma abordagem que tenta explicar as formações e processos sócio-históricos pela influência de forças supraindividuais anônimas.

Vez por outra, muito particularmente em Friedrich Hegel, isso dá margem   a uma espécie de panteísmo histórico: um Espírito do Mundo, ou até o próprio Deus, ao que aprece, encarna-se num mundo histórico em movimento, diferente do mundo estático de Spinoza, e serve de explicação para sua ordem, periodicidade e intencionalidade. Ou então esse tipo de pensador ao menos imagina formações sociais específicas, habitadas por um espírito supraindividual comum, como o “espírito” da Grécia antiga ou da França. Enquanto, para os adeptos da convicção oposta, as ações individuais se encontram no centro do interesse e qualquer fenômeno que não seja explicável como algo planejado e criado por indivíduos mais ou menos se perde de vista, aqui, neste segundo campo, são os próprios aspectos que o primeiro julga inabordáveis – os estilos e as formas culturais, ou as formas e instituições econômicas – que recebem maior atenção. E, no primeiro com a formação de um campo de análise, continua obscuro o estabelecimento de uma ligação factível entre os atos e objetivos individuais e essas formações sociais, no segundo não se sabe com maior clareza como vincular as relações sociais entre as forças produtoras dessas formações as metas de indivíduos e atos dos indivíduos, quer possam sejam vistas como anonimamente mecânicas, quer como forças supraindividuais baseadas em modelos panteístas.

Americanismo representa um conjunto de valores patrióticos dos Estados Unidos que visam criar uma identidade estadunidense coletiva e pode ser definido como “uma articulação do legítimo lugar da nação no mundo, um conjunto de tradições, uma linguagem política, e um estilo cultural imbuído de significado político”. De acordo com a American Légion, uma organização de veteranos dos Estados Unidos, o americanismo é uma ideologia ou crença na devoção, lealdade ou fidelidade aos Estados Unidos da América, ou à sua bandeira, tradições, costumes, cultura, símbolos, instituições ou forma do governo. Nas palavras de Theodore Roosevelt, “o americanismo é uma questão de espírito, convicção e propósito, não de credo ou local de nascimento”.  Americanismo tem dois significados diferentes. Pode referir-se às características que definem os Estados Unidos e pode também significar lealdade aos Estados Unidos e uma defesa dos ideais políticos estadunidenses. Esses ideais incluem, mas não estão limitados a autogoverno, igualdade de condições no tribunal, liberdade de expressão e crença no progresso.  Esta coleção de ideais que forma a ideologia moderna do americanismo tem um apelo duradouro para pessoas de todo o mundo. Em um ensaio dedicado ao americanismo, Agnes Repplier enfatizou que, “de todos os países do mundo, nós e apenas nós temos a necessidade de criar artificialmente o patriotismo que é o direito de nascimento de outras nações”.   

Desde as alterações demográficas raciais e étnicas da população norte-americana causadas pela Lei Hart-Celler (1965), o americanismo enquanto “efeitos de poder” tem se enraizado menos em experiências culturais compartilhadas e mais em ideais políticos compartilhados. O conceito de americanismo existe desde que os primeiros colonos europeus se mudaram para a América do Norte, aspirados por uma visão de um “farol de esperança” para o mundo. John Adams (1735-1826) escreveu que os novos assentamentos na América foram “a abertura de uma grande cena e projeto em Providence para a iluminação dos ignorantes, e a emancipação da parte servil da humanidade em toda a terra”. Essa compreensão do americanismo era um pensamento comum em todo o Novo Mundo após a Guerra de Independência dos Estados Unidos com expectativas de que a nação recém-independente se tornaria mais do que o que Thomas Paine chamou de “um asilo para a humanidade”. Durante o período pré-guerra de 1830, 1840 e 1850, o americanismo adquiriu um significado restritivo devido ao “pânico moral nativista” depois que o aumento da imigração irlandesa e alemã levou ao crescimento do catolicismo americano.

Entretanto, os anos desde o fim da Guerra de Secessão até o fim da 2ª guerra mundial trouxeram um novo significado ao termo “americanismo” para milhões de imigrantes da Europa e da Ásia. Aqueles foram tempos de grande crescimento econômico e de industrialização, e assim surgiu a cena americana que consiste na “democracia industrial” e no pensamento populista de que o povo é o governo na América. Desde então, o sucesso da nação americana trouxe um tremendo poder à noção de americanismo. De acordo com Wendy Lynn Wall em Inventing the American Way, o americanismo difundiu uma campanha nacionalista para contrastar com o comunismo e o fascismo, durante a Guerra Fria. Os benefícios do americanismo foram promovidos por meio dos ideais em torno de liberdade e democracia. Algumas organizações abraçaram o americanismo, mas levaram seus ideais bem mais longe, ou seja, a organização racista Ku Klux Klan acredita que o americanismo inclui aspectos em torno de raça de pureza do norte-americano branco e do protestantismo norte-americano.

A história social da escravidão (ou escravatura) nos Estados Unidos da América inicia-se no século XVII, quando práticas escravistas similares aos utilizados pelos espanhóis e portugueses em colônias na América Latina, e termina em 1863, com a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, realizada durante a Guerra Civil Americana. Na origem da guerra tem-se, grosso modo, a escravidão e a origem de dois modelos econômicos opostos, mas não-antagônicos. O norte em expansão econômica graças à industrialização, à proteção ao mercado interno e à mão-de-obra livre e assalariada, e o Sul numa economia baseada na plantação e no escravismo. Durante a maioria do século XVII e parte do século XVIII, escravos do sexo masculino eram em maior número que escravas do sexo feminino, fazendo com que os dois grupos tivessem experiências distintas nas colônias. Vivendo e trabalhando em uma ampla variedade de circunstâncias e regiões, homens e mulheres afro-americanos tiveram experiências singulares no processo de escravidão. A grande hostilidade norte-americana em relação ao ex-escravo e sua condição de trabalhador livre já pode ser percebida nas leis das colônias e estados do norte e do sul dos Estados Unidos desde o século XVIII.

Nenhum estado do Sul, e apenas alguns do Norte, permitia o voto de homens livres no século XIX. A maioria dos estados do Norte e do Sul proibia liberto(a)s de se casarem com branco(a)s e dissolvia qualquer tipo de organização negra que porventura surgisse. Além disso, todos os estados adotaram a regra de um quarto de sangue se um dos avós fosse negro ou mulato, a pessoa seria mulata, e todos os mulatos eram tratados da mesma forma que os negros. Homens livres não podiam testemunhar em processos judiciais envolvendo brancos. Eram punidos por atacar brancos, e em diversos tipos de crimes eram tratados como escravos e podiam ser chicoteados. Como os escravos a pena capital pelo estupro de mulher branca e não o contrário. A partir de 1700 e 1740, um número estimado de 43.000 escravos foi levado para a Virgínia e, à exceção de 4.000, que foram sequestrados diretamente da África. Pesquisas sugerem que o número de mulheres e homens transportados neste período foi semelhante, incluindo um elevado número de filhos. Como a maioria dos escravos provinham da África Ocidental, suas culturas eram centrais historicamente desde meados ao fim do século XVIII da escravidão na Virgínia.

Valores africanos foram predominantes e as culturas das mulheres da África Ocidental tinham fortes representações. Algumas representações culturais predominantes formavam os poderosos laços entre mãe e filho e as mulheres na comunidade feminina. Entre o grupo étnico Ibo da atual Nigéria, em particular, que incluía entre um terço e metade dos escravos no início do século XVIII, a autoridade feminina (a omu) “administrava sobre uma ampla variedade de questões importantes para as mulheres, em particular, e para a comunidade como um todo”. O descobrimento da primitiva gens do direito materno, como etapa anterior à gens de direito paterno dos povos ditos civilizados, tem, para a história primitiva, comparativamente, a mesma importância que a teoria da evolução de Charles Darwin para a biologia e a teoria da mais-valia, enunciada por Karl Marx, para a concepção de economia política. O grupo étnico lbo representava pessoas trazidas para a Chesapeake, que pode se referir a várias localidades nos Estados Unidos, porém, em geral, os africanos vieram traficados de uma variada gama de culturas.

Todos vieram de comunidades onde as mulheres eram fortes, e foram introduzidas sociedade patriarcal, violentamente racista e exploradora; homens brancos normalmente caracterizavam todas as mulheres negras como uma erotização sexual, visando justificar seu abuso sexual e miscigenação. O caráter capitalista da plantation escravista do Sul, análogo aos estados do Norte, era em certa medida uma contradição, mas em última instância, de oposição assimétrica no sentido formal marxista interno ao sistema econômico. Em sua complementaridade uma economia escravista tende a inibir o desenvolvimento econômico de uma sociedade capitalista, tal como apontado, neste caso por Max Weber. Além disso, o retorno dos lucros de volta à produção, no caso de Marx, presente no norte industrializado, não ocorria da mesma forma nos estados do sul, que tinha uma acentuada tendência a um consumo intenso, daí o binômio: produção-consumo. Norte e Sul diferem-se na medida em que o primeiro possui um progresso econômico qualitativo com o retorno dos lucros à produção, e o Sul, ao dirigir seus lucros em escravos e terras, possui um progresso econômico quantitativo, levando em conta a questão no âmbito da economia sobre a produtividade da mão-de-obra escrava.

 Enfim, em meados da década de 1950, estava em voga a crítica conservadora que via na academia a “ausência de Deus”, e, na imprensa, a “falta de cabeça”, ideias que se uniam à defesa da família e do papel das mulheres como donas de casa, por mais politizado que fosse o seu papel social. Tece início uma cruzada moral contra a homossexualidade e a favor de uma imagem recém-concebida da família tradicional. Enquanto isso, o Macarthismo persistia: mesquinho, vulgar e desequilibrado. A ascensão de McCarthy, a loucura das suas teorias da conspiração e a quantidade de seus seguidores impressionavam muitos observadores, que ali viam sintomas de uma doença que atingia o coração da política americana. O cenário deixava George Kennan com uma dúvida: “Me parecia que um sistema político e uma opinião pública que eram tão facilmente desorientados por esse tipo de postura em uma época, não seriam menos vulneráveis a ideias parecidas em outro momento”. O que tornou tantos tão vulneráveis a uma visão de mundo tão absurda assim? A tecnologia que tornou possível dividir os cidadãos por “sexo, estado civil, educação, residência, faixa etária, local de nascimento, emprego, renda e uma dúzia de outras classificações” tornaria possível classificar consumidores.

Mas em 1951, quando Mauchly e Eckert anunciaram o computador tudo isso ainda estava no futuro, e a imprensa não se animou. Em uma matéria de um parágrafo no final da página 25, o New York Times apenas registrou o “gênio matemático de dois metros e meio de altura”, como se não fosse nada além de um golpe, como Elektro, o robô gigante que estreou no momento em que os americanos estavam cada vez mais incomodados com a automação, no mesmo ano em que os leitores tiveram contato com A Nova Classe Média (White Collar), livro do sociólogo Charles Wright Mills que vaticinava o destino dos trabalhadores, cercados por telefones e ditafones , interfones e mimeógrafos, em escritórios com iluminação fluorescente e ar-condicionado em arranha-céus de aço e vidro ou em escritórios suburbanos. Mills dizia que o trabalho de escritório dependente das máquinas havia criado uma classe de trabalhadores alienados, e que o novo escritório, mesmo com todos os seus acessórios, não era melhor do que as antigas fábricas de tijolo e vapor. “Vendo os grandes ambientes dos escritórios, com fileiras de mesa idênticas”, escreveu Mills, “lembramos a descrição que Herman Melville fez de uma fábrica do século XIX: ´Em fileiras de balcões vazios se alinhavam garotas inexpressivas, com pastas vazais em suas mãos vazias, todas dobrando papéis em branco`. Ele descrevia uma fábrica de papel da Nova Inglaterra em 1855; Mills um escritório um século depois. 

Nixon conseguiu a nomeação à vice-presidência pelo Partido Republicano, mas, semanas depois, teve que ir à televisão para garanti-la. Após a convenção, a imprensa revelou que Nixon tinha 18 mil dólares, em um caixa dois, como vimos noutro lugar. Os conselheiros de Eisenhower pediram que ele dispensasse Nixon, e pediram a Nixon que deixasse a candidatura. Nixon enfrentando o possível fim de sua carreira política, decidiu apresentar seus argumentos ao público. Ele trabalhou nisso, escrevendo o discurso de sua vida. Em 23 de setembro de 1952, sentado em uma mesa de pinho, com sua esposa observando em uma poltrona de chita, que parecia ser seu próprio refúgio, mas que, na verdade, era um palco construído em um estúdio da NBC em Los Angeles, ele fez uma interpretação notável, emanando dor e vitimização. A cena alcançou a maior audiência de televisão já registrada. Nixon disse que pretendia fazer algo sem precedentes na política americana. Ele forneceria um relatório financeiro completo, uma contabilidade de “tudo o que ganhei, tudo o que gastei e tudo o que devo”. Quase chegando à casa mínima dos centavos, ele listou sua renda modesta, seus empréstimos, e sua riqueza. Ele não tinha ações nem títulos, mas tinha um Oldsmobile de dois anos, hipotecas, dívidas com bancos, e até mesmo uma dívida com seus pais, que ele pagava todos os meses com juros. Sim ele aceitou presentes para um fundo de campanha. Entretanto, Nixon havia conseguido outra coisa, mais importante e duradoura. Desde os tempos de Harding e Hoover, o Partido Republicano era o partido dos empresários, membros de country clubs e acionistas de empresas. O Partido Democrata era o partido do homem simples, desde o self-made man de Andrew Jackson, passando pelo fazendeiro de William Jennings Bryan, até o “homem esquecido” de Roosevelt. Nixon com esse discurso, reverteu esse balanço. Isso foi o que deixou os liberais tão irritados: eles não eram mais o partido do povo. O discurso populista havia se voltado para a direita.                         

Bibliografia geral consultada.

AVRITZER, Leonardo, A Moralidade da Democracia. São Paulo: Editora Perspectiva, 2004; BIALER, Uri, Cross on the Star of David: the Christian world in Israel’s foreign policy, 1948- 1967. Bloomington: Indiana University Press, 2005; YERKES, Andrew, Americanismo do Século XX: Identidade e Ideologia na Ficção de Esquerda da Era da Depressão. New York: Routledge, 2005; ISAACSON, Walter, Kissinger: A Biograph. New York: Editor Simon & Schuster, 2005; ELIAS, Norbert, A Sociedade dos Indivíduos. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1994; Idem, Escritos & Ensaios; 1: Estado, Processo, Opinião Pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006; ELTEREN, Mel van, Americanism and Americanization: A Critical History of Domestic and Global Influence. Carolina do Norte: Editor McFarland, 2006; GELERNTER, David, Americanismo: A Quarta Religião do Grande Oeste. Nova York: Editor Doubleday, 2007: DORSEY, Leroy G., Somos Todos Americanos, Puros e Simples: Theodore Roosevelt e o Mito do Americanismo. Tuscaloosa, AL: University of Alabama Press, 2007; SAND, Shlomo, A Invenção da Terra de Israel – da Terra Santa à Terra Pátria. São Paulo: Editora Benvirá, 2014; LOWANDE, Walter Francisco Figueiredo, Uma História Transnacional da Modernidade: Produção de Sujeitos e Objetos da Modernidade por Meio dos Conceitos de Civilização e Cultura e do Patrimônio Etnográfico e Artístico. Tese de Doutorado em História. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2018; CATERINA, Gianfranco, Um Grande Oceano: Brasil e União Soviética atravessando a Guerra Fria (1947-1985). Tese de Doutorado em História, Política e Bens Culturais. Escola de Ciências Sociais. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2019; LEPORE, Jill, Estas Verdades: A História da Formação dos Estados Unidos. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Intrinseca, 2020;  KISSINGER, Henry, O Mundo Restaurado. Rio de Janeiro: José Olympio Editor, 1973; Idem, Diplomacia. São Paulo: Editora Saraiva Universitária, 2012; Idem, Liderança: Seis Estudos sobre Estratégia. São Paulo: Objetiva Editora, 2023; Artigo: Guerra de Yom Kippur: confronto teve consequências profundas na política israelense. In: https://g1.globo.com/noticias/2023/10/07/SPEKTOR, Matias. Kissinger e o Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 2009;  EIRAS, André Luis Silva, Dinâmica Intelectual da Política Externa Brasileira: Uma Análise do Conceito de Autonomia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Ciência Política. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2023; entre outros. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Pioneirismo Fático - Morar, Estudar & Trilhar a Vida na Universidade.


                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga
                     O memorável é o que pode ser sonhado de um lugar”. Michel de Certeau


            Desde a queda da ditadura do Estado Novo, em 1945, e a ascensão do populismo que permeou os governos que se sucederam hic et nunc até o golpe de Estado de 1° de abril de 1964, a sociedade brasileira havia mudado substancialmente, tornando-se complexa e diversificada econômica e politicamente. A industrialização e o crescimento da população urbana, somados à legislação trabalhista varguista e ao fortalecimento de sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais rurais e urbanos, favoreceram a mobilização e a radicalização em torno de propostas nacionalistas (cf. Cardoso, 1977), anti-imperialistas, e de reformas de base, tais como a urgentíssima Reforma Agrária no Brasil. Os processos de transição política e consolidação democrática no Brasil podem ser considerados um excelente “laboratório”, tanto pela longue durée, como pela variedade dos eventos que marcam com violência tal período da história política. As estratégias de luta do movimento estudantil contra o projeto populista da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) não só favoreceu o movimento estudantil em defesa da reforma universitária inclusiva (cf. Fernandes, 1975; Santana, 2014) como a política estudantil de âmbito nacional.
            A comunicação oral é um dos meios mais eficientes de interação social. Desde a primeira infância, mesmo que ainda em processo de aquisição da linguagem, somos impelidos a elaborar estratégias verbais para chamar a atenção de nossos interlocutores. Somos seres sociais, e a fala, embora não seja o único elemento possível, é um dos mais importantes elementos dos processos de trabalho e meios de comunicação social. Todas as funções sociais desempenham um papel específico na comunicação, mas nem toda comunicação representa um processo de trabalho. A função fática da linguagem é responsável por conferir o funcionamento do canal de comunicação. Em quase todos os casos, a principal preocupação do emissor é manter contato com o receptor. Além da preocupação em verificar a eficácia simbólica da comunicação, a função fática também cria um vínculo solidário entre os falantes. Isso acontece quando você estabelece um diálogo com alguém ainda que você não conheça necessariamente como interlocutor. Ao utilizar a função fática, você está mantendo contato social com um interlocutor em potencial, além de estar participando dos costumes verbais que integram as pessoas numa relação complexa e contraditória de fatos sociais.



            Não habitamos simplesmente, mas construir significa originariamente habitar. E a antiga palavra construir (“bauen”) diz que o homem é à medida que habita. Mais do que isso, significa ao mesmo tempo: proteger e cultivar, a saber, cultivar o campo, cultivar a vinha. Construir significa cuidar do crescimento que, por si mesmo, dá tempo aos seus frutos. No sentido de proteger e cultivar, construir não é o mesmo que produzir. NB: em oposição ao cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de construir – construir como cultivar, em latim, “colere”, cultura, e construir como edificar construções, “aedificare” – estão contidos no sentido próprio de “bauen”. No sentido de habitar, ou construir, permanece, para a experiência cotidiana do homem. Aquilo que desde sempre é, como a linguagem diz de forma tão exclusiva e bela, “habitual”. Isto esclarece porque acontece um construir por detrás dos múltiplos modos de habitar, por detrás das atividades de cultivo e edificação. O sentido próprio de construir, a saber, habitar, cai no esquecimento. Em que medida construir pertence ao habitar? Quando construir e pensar são indispensáveis para habitá-lo. Ambos são, no entanto, insuficientes para habitá-lo se cada um se mantiver isolado, distantes, cuidando do que é seu ao invés de escutar um ao outro. Ipso facto entendemos que construir e pensar pertence ao habitar. Permanecem em seus limites. Sabem, quando aprendemos a pensar, que tanto um como outro provém da obra de uma longa experiência e de um exercício incessante de pensar.
        Uma associação entre moradores representa sociologicamente um grupo de pessoas que moram em um mesmo local e se reúne para criar regras e estratégias de como manter o convívio coletivo, a segurança e o bem estar na comunidade. Existem associações de bairros, bem como associações dos moradores de condomínios abertos e fechados. Cada uma dessas organizações apresenta características específicas. Uma associação de bairro busca solucionar problemas e gerenciar o cotidiano. Em geral, esse tipo de grupo trabalha em conjunto com as autoridades para melhorar as condições sociais de existência na região. Auxiliam resolvendo questões sociais e de convivência sobre práticas do cotidiano, como falta de ordem/desordem, iluminação precária, etc. Uma associação de moradores de um condomínio fechado legisla e aprimora a vida dos moradores, trabalhando em conjunto com o síndico. Cada associado pode contribuir para contratar os úteis serviços de manutenção como de portaria, segurança, limpeza, jardinagem e também para realizar reparos na residência entre grupos de moradores.
A Universidade de São Paulo foi a primeira universidade pública a criar uma associação de moradores (cf. Barreto; Filgueiras, 2007; Machado, 2009; Santana, 2014). A ausência do Estado, como ocorre nas universidades públicas cearenses, comparativamente, encaminhou a politização dos estudantes nesta direção. Tradicionalmente a associação de moradores representa um tipo de associação criada por moradores de qualquer bairro ou Cidade Universitária e em qualquer região do território nacional. Tem sempre o objetivo de centralizar os problemas estruturais, de segurança, educacionais, de liderança, de saúde e  de convívio, que ocorrem no conjunto residencial e através de um representante eleito pelos moradores (membros da associação), estes problemas são levados ao conhecimento do órgão responsável da instituição e são cobradas as providências. Organizam grupos de moradores (cf. Costa, 2014) para terem acesso a serviços básicos e a própria sobrevivência. Servem principalmente para uns ajudar os outros cooperativamente dentro de suas necessidades básicas na comunidade, a fim de melhorar, por exemplo, a limpeza, iluminação pública, segurança, campanhas de reciclagem, informações como grupos online, jornais-murais, de acordo com as necessidades estruturais de moradia e circulação cotidiana de pessoal. Superintendência de Assistência Social (SAS) oferece uma diversidade de bolsas e auxílios à comunidade uspiana para se manter na Universidade.



Por meio de processo seletivo, segundo critérios socioeconômicos, a Coordenadoria de Assistência Social (COSEAS), provê bolsa alimentação, trabalho e moradia no Conjunto Residencial da USP (CRUSP), ou Auxílio Moradia externa ao campus. Além disso, oferece creche aos filhos de funcionários, estudantes. Existem 772 vagas para alunos de Graduação e 372 vagas para alunos de Pós-Graduação. A ocupação das vagas é feita através de seleção socioeconômica realizada pelo Serviço Social. /Alunos de Pós-Graduação podem utilizar, ainda, 12 vagas masculinas e 12 vagas femininas em apartamentos destinados a hospedagens eventuais, ou seja, alunos procedentes de fora da Grande São Paulo, que necessitam permanecer no máximo 3 vezes por semana em  São Paulo  podem   se  utilizar  dessas vagas. A concessão de Apoio Alimentação é regulamentada pela Portaria GS-2 DE 07/02/2014, a qual especifica que: Artigo 2º – O Apoio Alimentação será indicado somente a alunos que estejam cursando a sua primeira graduação. Artigo 6º – Para efeitos do artigo 2º será considerado candidato à obtenção do Apoio Alimentação o aluno que: I – Estiver matriculada (a) no semestre em curso regular de graduação, em pelo menos uma disciplina; II – No caso de já ter sido beneficiado com o Apoio Alimentação no último semestre letivo, tiver obtido aprovação em pelo menos 80% das disciplinas em que esteve matriculado; III – Comprovar renda individual (quando for responsável pelo próprio sustento e residir sozinho) ou renda máxima por indivíduo da família até dois salários mínimos vigentes à concessão do Apoio.
Todas as decisões tomadas por uma associação de moradores devem ser feitas em conjunto, e naturalmente em reuniões de assembleia. Esses encontros devem ocorrer periodicamente e podem ser frequentados por todos moradores do local. Apesar de serem muito parecidas com assembleia de condomínio, reuniões de associações de moradores seguem regras próprias, de acordo com as definições do estatuto. Os edifícios residenciais estudantis surgiram através da necessidade de abrigar estudantes próximos ao seu local de estudo. Há referências técnicas e sociais de alojamentos desde a Antiguidade clássica, mas foi na Idade Média, na Europa ocidental, em que surgiram os primeiros edifícios voltados exclusivamente para habitação e residência estudantil. Mas podem-se denominar República, quando são administradas diretamente por um grupo de alunos. O Alojamento é de propriedade da instituição de ensino ou do Estado, geralmente próximo ou dentro do campus, e muitas vezes possui valor de aluguel reduzido devido a auxílios estudantis. A Casa do Estudante é de administração autônoma, sem ter relação com nenhuma instituição de ensino, possui regulamentação conforme estatutos de associação civil e possui Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica.
A moradia estudantil tem como objetivo principal oferecer condições sociais favoráveis à formação do usuário na “casa do aluno” durante a sua vida acadêmica. Para que o estudante tenha uma experiência satisfatória, a habitação precisa se preocupar com questões como convivência coletiva, territorialidade e privacidade dos moradores. A primeira república surgiu no Brasil, em Ouro Preto, Minas Gerais. As chamadas repúblicas de Ouro Preto e Mariana englobam as repúblicas estudantis, públicas ou particulares, localizadas nas cidades mineiras de Ouro Preto e Mariana, onde vivem, mormente os alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). As repúblicas formaram uma associação em 2006, chamada Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto, para defenderem seus interesses comuns. Surgem devido ao princípio do chamado Ciclo da Mineração, quando cresceu a demanda por mão-de-obra qualificada para realização de serviços de extração. Foi implantada a Escola de Minas de Ouro Preto que se consolidou rapidamente com a necessidade de abrigar professores e alunos, estes ocuparam casarões e sobrados coloniais. Entre os anos de 1920 e 1930 surgiram outras habitações estudantis, criadas, principalmente pela igreja católica, para acolher estudantes e suprir a falta do de contato social com o ambiente familiar. Na década de 1930, foi criado a União Nacional dos Estudantes (UNE), e com o primeiro mandato do governo populista de Getúlio Vargas foi criada a Assistência Estudantil.  
No dia 1º de abril de 1964 a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) foi invadida e incendiada por militares comandados pelo presidente cearense marechal Humberto Castelo Branco. A Lei Suplicy de Lacerda, decretada em novembro de 1964, colocou a UNE na clandestinidade. O novo regime político organizado em abril de 1964 tinha no movimento estudantil um forte elemento de antagonismo, razão por que o governo procurou substituir as entidades estudantis existentes, regidas pelo Decreto Café Filho, de 1955, por outras, controladas direta ou indiretamente pelo Ministério da Educação. O instrumento criado pelo Estado de Exceção dessa tentativa de controle foi baseado na Lei nº 4.464, de 9 de novembro de 1964, reconhecida como Lei Suplicy, devido ao nome do ministro da Educação que a patrocinou, Flávio Suplicy de Lacerda. Os acontecimentos posteriores a 1968, quando o regime assumiu sua feição ditatorial por meio do AI-5, fizeram com que se desse pouca importância à natureza da violência surgida a partir de 1964 e ao modo como ela foi enfrentada pelo governo Castello Branco que se estendeu de 1964 a 1967, e ficou caracterizado por implantar as bases da política de repressão da ditadura militar, frequentemente coberta por uma falsa definição, além de imprecisa do conceito nas legislações de organizações militares, sobretudo, de uma política que arruinaria as instituições políticas e militares do país.
- “Grande era a onda de agitação e desordem no CRUSP”, concluiu o Inquérito Policial Militar (IPM) que apurou as atividades “subversivas” praticadas no Conjunto Residencial da USP até a invasão militar de 17 de dezembro de 1968 - quando centenas de estudantes foram presos e os prédios, interditados. Morria, desse modo, um dos principais espaços de articulação do movimento estudantil no primeiro período do regime militar. - “Foi como um despedaçar das nossas entranhas, porque nós éramos muito unidos ali. Às vezes havia divergência nas ideologias, mas a gente formava um grupo coeso, contra um momento terrível, a Ditadura”, afirma Margarida Cecília Corrêa Nogueira Rocha. No dia 29 de novembro de 2008, Margarida - ou “Formiga”, como era conhecida quando estudante de Pedagogia e moradora do apartamento 501-A - saltava eufórica de um abraço a outro. Nesta data, mais de 600 ex-cruspianos se reuniram no Colégio Notre Dame, em São Paulo, no que foi para muitos, o primeiro reencontro desde a noite suspensa pelo avanço dos tanques de guerra sobre o campus universitário.
Art. 1º: - Os órgãos de representação dos estudantes de ensino superior, que se regerão por esta Lei, têm por finalidade: a) defender os interesses dos estudantes; b) promover a aproximação e a solidariedade entre os corpos discente, docente e administrativo de ensino superior; c) preservar as tradições estudantis, a probidade da vida escolar, o patrimônio moral e material das instituições de ensino superior e a harmonia entre os diversos organismos da estrutura escolar; d) organizar reuniões e certames de caráter cívico, social, cultural, científico, técnico, artístico, e desportivo, visando o aprimoramento da formação universitária. Art. 2º - São órgãos de representação dos estudantes de ensino superior: a) o Diretório Acadêmico (D.A.), em cada estabelecimento de ensino superior; b) Diretório Central de Estudantes (D.C.E.), em cada Universidade; c) Diretório Estadual de Estudantes (D.E.E.), em cada capital de Estado, Território ou Distrito Federal, onde houver mais de um estabelecimento de ensino superior; d) Diretório Nacional de Estudantes (D.N.E.), com sede na Capital Federal. E, principalmente: Art. 14. – “É vedada aos órgãos de representação estudantil qualquer ação, manifestação ou propaganda de carácter político-partidário, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares”.
Flávio Suplicy de Lacerda foi ministro da Educação no governo autoritário do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (cf. Figueiredo, 1980), de 15 de abril de 1964 a 8 de março de 1965, e de 22 de abril de 1965 a 10 de janeiro de 1966. Durante sua gestão no Ministério de Educação e Cultura, estabeleceu um acordo de cooperação com a United States Agency for International Development (USAID), que visava transformar o ensino brasileiro num projeto tecnocrático. Essa estratégia político-ideológica foi reconhecida como um Acordo institucionalizado. Com ele as universidades públicas seriam as maiores afetadas. Redutos de manifestações estudantis nas mais diversos matizes da esquerda brasileira, as universidades eram vistas ridicularmente “pelo comando da ditadura militar como focos de subversão ao regime”. O acordo serviria para transformar o jovem ensino superior brasileiro não mais numa formação crítica do cidadão na sociedade, mas tão somente em cursos de formação meramente profissional e técnica. Nessa mesma conjuntura golpista, surgiram os primeiros rumores de privatização das universidades federais e estaduais, que tal qual todo o projeto previsto no acordo norte-americano, revoltou os estudantes.
           Com a crise de hegemonia civil-militar, o movimento entrou na sua fase mais aguerrida, com uma série de revoltas realizadas entre 1966 e 1968, ano de seu auge nas organizações. Vários desses conflitos tiveram vítimas fatais entre os estudantes. A lei determinava que os Diretórios Acadêmicos (DA) continuariam tendo existência obrigatória nos estabelecimentos de ensino público superior. Os estudantes das universidades teriam seu Diretório Central de Estudantes (DCE) composto de representantes dos diretórios. Estes se reuniriam, também, para organizar os Diretórios Estaduais de Estudantes (DEE), os quais, por sua vez, comporiam, por meio de representantes, o Diretório Nacional de Estudantes (DNE). A lei “assegurava” a participação de representantes discentes junto aos órgãos de deliberação coletiva e aos departamentos das instituições de ensino superior, designados pelos estudantes. Atendia, também, antiga reivindicação do movimento estudantil, tornando obrigatório o voto para a eleição das diretorias. Mas vedava aos órgãos de representação estudantil “qualquer ação, manifestação ou propaganda de caráter político-partidário, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares”, cujo objetivo, seja a promoção de uma pessoa, um partido político ou uma ideologia político-partidária.

Mas em contrapartida a lei procurava limitar e desacelerar a participação social das diretorias das entidades estudantis, tornando inelegíveis “os estudantes repetentes, dependentes ou matriculados em regime parcelado, proibindo o abono de faltas pela participação nos diretórios”. Ao contrário do que acontecia com as entidades estudantis gerindo seu processo eleitoral, a lei determinava que as eleições para os diretórios devessem “ser acompanhadas por um professor designado pela direção da escola ou da universidade”. A fiscalização do cumprimento da lei deveria ser feita pelas Congregações ou Conselhos Departamentais, para os diretórios; pelos Conselhos Universitários (CU), no caso do Diretório Central dos Estudantes (DCE), e pelo Conselho Federal de Educação (CFE), instituído pela lei nº 4024/61 reconhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de/1961, no caso respectivo do DEE e DNE. As universidades e as entidades estudantis deveriam adaptar seus Estatutos à lei em 60 dias. Para não deixar dúvidas sobre a determinação militar, a lei estipulava que os diretores de faculdade ou reitores de universidades incorreriam em “falta grave” se permitissem (tolerassem) “o não cumprimento das normas por ação ou por omissão”.
  Diante da Lei Suplicy, os estudantes precarizaram as atividades políticas e se dividiram politicamente. Uma corrente era favorável à participação nos “Diretórios oficiais” mantendo-se ou não entidades “livres” paralelas. Outros defendiam o boicote aos “Diretórios oficiais”, anulando seus votos nas eleições obrigatórias. Esta última posição prevaleceu, fazendo com que após a contenção política iniciada pela promulgação do Ato Institucional nº 5, o Decreto Aragão, sucessor da Lei Suplicy, fosse aplicado com mais intensidade. Edson Luís de Lima Souto nascido em Belém, em 24 de fevereiro de 1950 e assassinado por policiais militares no Rio de Janeiro, em 28 de março de 1968.  Foi um estudante secundarista morto, durante confronto no restaurante Calabouço, centro do Rio de Janeiro. Seu assassinato marcou o início de um ano turbulento de intensas mobilizações contra o regime militar que endureceu até decretar o chamado AI-5. Nascido em uma família pobre, iniciou os estudos na Escola Estadual Augusto Meira em Belém, no Pará. Mudou-se para o Rio para fazer o segundo grau no Instituto Cooperativo de Ensino, no qual funcionava o restaurante Calabouço.
Em 28 de março de 1968, os estudantes do Rio de Janeiro estavam organizando uma passeata-relâmpago para “protestar contra a alta do preço da comida no restaurante Calabouço, que deveria acontecer no final da tarde do mesmo dia”.  Por volta das 18 horas, a Polícia Militar chegou ao local e dispersou os estudantes que estavam na frente do complexo. Os estudantes se abrigaram dentro do restaurante e responderam à violência policial utilizando paus e pedras. Isso fez com que os policiais recuassem e a rua ficasse deserta. Quando os policiais voltaram, tiros começaram a ser disparado do edifício da Legião Brasileira de Assistência (LBA), o que provocou pânico entre os estudantes, que fugiram. Os policiais acreditavam – não se sabe por qual razão, que os estudantes iriam atacar a Embaixada dos Estados Unidos e invadiram o restaurante. Durante a invasão, o comandante da tropa da PM, aspirante Aloísio Raposo, atirou e matou o secundarista Edson Luís “com um tiro a queima roupa no peito”. Outro estudante, Benedito Frazão Dutra, também baleado, chegou a ser levado ao hospital, mas morreu. Temendo que a PM sumisse com o corpo, os estudantes não permitiram que ele fosse levado para o Instituto Médico Legal (IML), mas o carregaram em passeata diretamente para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde foi velado. A necropsia foi feita no próprio local pelos médicos Nilo Ramos de Assis e Ivan Nogueira Bastos na presença do Secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Óbito n° 16.982 teve como declarante o estudante Mário Peixoto de Souza.
  O Boletim de Ocorrência - BO n° 917 da 3ª Delegacia de Polícia informou que, no tiroteio ocorrido no restaurante Calabouço, outras seis pessoas ficaram feridas: Telmo Matos Henriques, Benedito Frazão Dutra (que morreu logo depois), Antônio Inácio de Paulo, Walmir Gilberto Bittencourt, Olavo de Souza Nascimento e Francisco Dias Pinto. Todos foram atendidos no Hospital Souza Aguiar. No período que se estendeu do velório até a missa da Igreja da Candelária, realizada em 2 de abril foram mobilizados protestos em todo o país. Em São Paulo, quatro mil estudantes fizeram uma manifestação na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Também foram realizadas manifestações no Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade São Francisco, na Escola Politécnica da Universidade de Sao Paulo e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O Rio de Janeiro parou no dia do enterro e para expressar a manifestação de seu protesto, os cinemas da Cinelândia amanheceram anunciando três filmes temáticos sobre a repressão: A Noite dos Generais é um filme de guerra britano-francês de 1967, dirigido por Anatole Litvak.
 Durante a 2ª guerra mundial (1939-1945), uma prostituta é brutalmente assassinada em Varsóvia. Três generais são interrogados, mas o caso é abandonado devido a uma indicação de um desses suspeitos. No entanto, ele faz sua própria investigação, até que o destino os reúne em Paris. Desta vez, Grau recebe ajuda de um simpatizante da Resistência com quem faz um acordo. À Queima Roupa, é um filme norte-americano de 1967 dirigido por John Boorman e escrito por Donald E. Westlake. Foi o primeiro filme com locações em Alcatraz, o presídio desativado em 1963. O filme é cultuado pelo uso combinado de elementos do filme noir e nouvelle vague, complexos flashbacks, influências do psicodelismo, violência súbita, uso inovador da luz e mudanças rápidas na ação e, ainda Coração de Luto, um filme do gênero drama, dirigido por Eduardo Llorente em 1967, baseado na música: “Coração de Luto” e na história social de Teixeirinha, a música tornou um sucesso internacional, ocasionando em 1965 a atenção do produtor de cinejornais Derly Martinez, da empresa Leopoldis Som, que resolveu convidar Teixeirinha para coproduzir e roteirizar um filme baseado na história do cantor, e com isso dar início ao seu novo empreendimento. Centenas de cartazes foram  colados nas paredes e postes das casas comerciais da Cinelândia no centro do Rio de Janeiro com as seguintes frases: “Bala mata fome?”, “Os velhos no poder, os jovens no caixão” e “Mataram um estudante. E se fosse seu filho?”. O estudante Edson Luis foi enterrado ao som do Hino Nacional, cantado pela multidão em vigília.
Diante do quadro político de terror/horror no início de 1970, poucos eram as Instituições de Ensino Superior (IES) onde existiam Diretórios Acadêmicos “oficiais” ou “livres”. Foi só a partir de 1973, que os estudantes começaram a organizar entidades livres que vingaram, instituindo o voto direto para o DCE, e fazendo as entidades “oficiais” saírem dos limites autoritários da Lei Suplicy. A lei determinava que “os diretórios acadêmicos continuassem tendo existência obrigatória nos estabelecimentos de ensino superior”. Os estudantes das universidades teriam seu Diretório Central de Estudantes (DCE) composto de representantes dos diretórios acadêmicos. Estes se reuniriam, também, para organizar os diretórios estaduais de estudantes que comporiam, por representantes, o Diretório Nacional de Estudantes (DNE). Durante a ditadura militar, o movimento estudantil ocupou um espaço destacado na estratégia política ao regime. Manifestações coordenadas pela UNE denunciaram os problemas da educação e expuseram o lado destes tempos sombrios do regime. Todos os eventos políticos da entidade eram organizados e realizados em clandestinidade.
  O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo é instituído em 8 de abril de 1963. Além das obras transferidas do Museu de Arte Moderna de São Paulo, somam-se ao seu acervo as obras advindas das coleções particulares de Ciccillo Matarazzo e de sua esposa, Yolanda Penteado, bem como a doação de obras internacionais realizada pela Fundação Nelson Rockefeller e os Prêmios das Bienais Internacionais de São Paulo. Concomitantemente, parte do antigo museu e de sua história migra para a universidade, o que confere a ele feições particulares associadas ao caráter da instituição que o acolhe. Entre outras coisas, observa-se o destaque, a partir de então, ao caráter educacional e formador do MAC, dirigido por professores universitários. Investido das atribuições recorrentes ao fato de se posicionar como um museu da arte do nosso tempo, o MAC serviu de laboratório à primeira experiência museológica brasileira voltada à produção contemporânea. Ela se afirmou em meados dos anos de 1960, no exato momento em que se projetava internacionalmente a discussão sobre mudanças que estavam ocorrendo na arte, ocasião em que se discutia do ponto de vista teórico a re-conceituação dos seus paradigmas. Desde a fundação da USP havia projeto de criação de uma residência para estudantes. Mas ele só foi realizado na Cidade Universitária, em 1963, porque se tornou necessário abrigar os atletas dos Jogos Pan-Americanos em São Paulo  na quarta edição do evento multiesportivo, realizado na cidade de São Paulo, entre os dias 20 de abril e 5 de maio. A delegação brasileira foi composta por 385 atletas, entre os 1 665 membros participantes. O judô foi a modalidade estreante da competição.
           Após o fim da competição esportiva, “os edifícios foram invadidos por alunos de fora que não tinham condições de pagar os altos aluguéis da capital paulista”. Um lugar, lembra Certeau (2000), é a ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência. Um lugar é uma configuração instantânea de posições. Implica uma indicação de estabilidade. O espaço é um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente  de programas conflituais ou de proximidades contratuais. Em suma, o espaço é um lugar praticado. Durante cinco anos, o CRUSP transformou-se em um centro ativo do movimento estudantil e, após o golpe de Estado em 1° de abril de 1964 que derrubou João Goulart, de contestação do regime militar. Na madrugada de 17 de dezembro de 1968, quatro dias após a promulgação do Ato Institucional nº 5, a residência foi invadida por tanques do Exército brasileiro.
         Centenas de estudantes foram presos dentre os 1400 residentes. Muitos haviam escapado porque já haviam viajado para as festas de Natal e Ano Novo com as famílias. O CRUSP foi fechado, um Inquérito Policial Militar (IPM) foi emitido pelo Exército “para apurar as agitações”. As vagas no alojamento são geridas pela Coordenadoria de Assistência Social da Universidade de São Paulo (COSEAS-USP) que conta com cerca de 1200 vagas para alunos de graduação e pós-graduação. Deste modo, os alunos ingressantes na universidade que pleiteiam uma vaga no alojamento se inscrevem junto ao Departamento de Serviço Social do órgão, responsável pela seleção dos candidatos através de critérios socioeconômicos. O CRUSP possui atualmente 8 prédios identificados como Bloco A1, Bloco A, Bloco B, Bloco C, Bloco D, Bloco F, Bloco G. Os Bloco C e Bloco G são destinados aos alunos de pós-graduação e professores visitantes, os demais são destinados aos alunos da graduação. No terreno onde se localiza o CRUSP, tem um bandejão central  onde são oferecidas refeições, um cinema chamado Cinusp, um anfiteatro e o COSEAS-USP. Cada prédio possui 6 andares, cada andar 11 apartamentos com 3 quartos. A estrutura do bloco A1 é privilegiada porque foi planejada ao longo dos últimos 15 anos: cada  apartamento têm 6 quartos.
         Representa um concurso público voltado à seleção anual de projetos em audiovisual, cujo produto final sejam filmes com até 25 minutos de duração. A seleção é realizada por uma comissão julgadora com cinco integrantes, sendo composta por especialistas renomados em cinema (diretores, curadores, produtores e professores universitários) e gestores da Secretaria de Estado e Cultura. Ao longo dos anos, tornou-se o principal instrumento de incentivo na formação de novos realizadores do cinema paulista, sendo mecanismo essencial da política pública de apoio ao audiovisual no Estado. Revelou ao cinema nacional talentos como Carlos Reichenbach, Ugo Giorgertti, Beto Brandt, Tata Amaral, Cao Hamburguer, Laís Bodanzky e Anna Muylaert. Enfim, muito mais do que apartamentos para estudantes, o Conjunto Residencial da USP (CRUSP) representou um símbolo da luta dos jovens pela liberdade de pensamento e expressão. Palco de reuniões, assembleias e congressos a níveis estaduais e nacionais, o conjunto residencial faz parte integrante da história social e política da Universidade pública e desenvolvimento político-ideológico do Brasil. Em sua historicidade existem centenas de universidades financiadas pelos governos federal, estadual ou municipal, e elas incluem as universidades mais renomadas do país.
Bibliografia geral consultada.

ZULETA PUCEIRO, Enrique, Paradigma Dogmático y Ciencia del Derecho. Madrid: Editoria Revista de Derecho Privado, 1981; MOURÃO, Fernando Augusto de Albuquerque, “A Cooperação Internacional e a Relação entre os Países”. In: Contexto Internacional, vol. 6, ano 3. Rio de Janeiro: Instituto de Relações Internacionais. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1987; CERTEAU, Michel de, L`Invenzione del Quotidiano. Roma: Edizione Lavoro, 2000; MACHADO, Otávio Luiz, Repúblicas de Ouro Preto e Mariana: Percursos e Perspectivas. Olinda: Editor Livro Rápido, 2009; SILVA, Cláudia Sampaio Corrêa da, De Estudante a Profissional: A Transição de Papéis na Passagem da Universidade ao Mercado de Trabalho. Dissertação de Mestrado. Instituto de Psicologia.  Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010; SANTANA, Flávia de Angelis, Movimento Estudantil e Ensino Superior no Brasil: A Reforma Universitária no Centro da Luta Política Estudantil nos Anos 60. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social. Departamento de História. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, 2014; COSTA, André Galindo da, Conselhos de Políticas Públicas e de Associações de Moradores: Estudo de Caso Participativo no Município de São Carlos. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política. Escola de Artes, Ciências e Humanidades. São Carlos: Universidade de São Paulo, 2014; Artigo: “Alunas Ocupam Serviço de Assistência Social da USP e Exigem Soluções para Violência Contra as Mulheres no CRUSP”. In: https://medium.com/07/04/2016; AMPETTI, Isadora Pianezzola, Moradia Estudantil no Centro de Passo Fundo. Faculdade Meridional (IMED). Passo Fundo: Escola de Arquitetura e Urbanismo, 2017; ADACHI, Ana Amélia Chaves Teixeira, Evasão de Estudantes de Cursos de Graduação da USP - Ingressantes de 2002, 2003 e 2004. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Faculdade de Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; MARTINS, Luciana Bobato, Gênero e Acesso ao Ensino Superior: Mulheres e Estudantes das Camadas Populares na USP. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo, 2019; DUIM, Etienne, Envelhecimento e Funcionalidade: Uma Análise de Trajetórias. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. Faculdade de Saúde Pública. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2020;  entre outros.