quinta-feira, 19 de junho de 2025

As Safiras – Disciplina, Guerra Civil & Harmonia de Quarteto Musical.

               Aborígine Australiana transmite uma mensagem familiar”. Hank Wesselman  (2012)

       

           A racionalidade de opiniões e ações comunicativas representa um tema cuja elaboração se deve originalmente à filosofia. Pode-se dizer, até mesmo, que o pensamento filosófico tem sua origem no fato da razão corporificada no conhecer, no falar e no agir torna-se reflexiva. O tema fundamental da filosofia é a razão. A filosofia empenha-se desde o começo por explicar o mundo como um todo, mediante princípios encontráveis na razão, bem como a unidade na diversidade dos fenômenos. E não o faz em comunicação com uma divindade além do mundo, nem pela retrogradação ao fundamento de um cosmo que abranja a natureza e a sociedade. O pensamento grego não via a uma teologia, nem a uma cosmologia ética no sentido das grandes religiões mundiais. Ele visa sim à ontologia. Se há algo comum às doutrinas filosóficas, é a intenção de pensar o ser ou a uma idade do mundo pela via de uma explanação das experiências da razão em seu trato consigo mesma. Os substitutivos teóricos das imagens de mundo perderam valor não em virtude do suposto avanço das ciências empíricas, mas também, e principalmente pela consciência reflexiva que acompanhou esse avanço. Isto é, que se tenha formado núcleos temáticos mais rígidos na filosofia contemporânea. Uma argumentação mais coerente, seja em lógica ou epistemológica, em ética ou teoria da ação, até mesmo em estética, o interesse se volta às condições formais da racionalidade do conhecer. Entendimento verbal e do agir comunicativo, no cotidiano das experiências instituídas ou dos discursos instituídos.

A teoria da argumentação ganha significado especialmente, porque é dela a tarefa de reconstituir os pressupostos e condições formal-pragmáticos de um comportamento explicitamente racional. Como se pode antever seja pelo exemplo da epistemologia ou da fabulosa história das ciências, ocorre entre as explanações formais das condições de racionalidade e análise empírica da corporificação e desenvolvimento histórico das estruturas de racionalidade um imbricamento bastante peculiar. A pretensão dessas ciências só pode ser checada com base na evidência de exemplos contrários; e só é possível ampará-la, afinal caso a teoria reconstrutiva logre tomar aspectos internos da história das ciências e prepara-los de modo que seja possível explicar sistematicamente in status nascendi esta história, isto é, a história factual e narrativamente documentada, no contexto de desdobramentos sociais e com a devida vinculação a análises empíricas. O que vale para um arcabouço de racionalidade cognitiva, segundo Habermas (2012), tão complexo como a ciência moderna aplica-se a outras formas de espírito objetivo, ou seja, a mediação da racionalidade ora cognitiva e instrumental, ora até mesmo prático-estética. Quanto aos conceitos fundamentais, é preciso que investigações sociais desse tipo idealizado, empiricamente direcionadas, se apresentem de tal modo que seja possível associá-la a reconstruções racionais de nexos de sentido e soluções de problemas. 

Nas ciências sociais, é a sociologia que está mais intimamente ligada, em seus conceitos fundamentais, à problemática da racionalidade na vida cotidiana. Ela surgiu como disciplina cuja competência abrangeria exatamente os problemas deixados de lado pela política e economia, em seus respectivos parcours até se tornarem ciências especializadas. Seu tema, a vida cotidiana são as transformações da integração social ocasionadas na estrutura de sociedades europeias mais antigas mediante a autonomização e diferenciação de um sistema econômico regulado pelo mercado. A sociologia torna-se ciência da crise par excellence, que se ocupa sobretudo dos aspectos anômicos da dissolução de sistemas sociais tradicionais e da formação de sistemas sociais modernos. Os pensadores clássicos da sociologia, Marx, Durkheim, Weber, quase sem exceção, procuram apresentar sua teoria da ação de maneira que as categorias sociais que a integram, atinjam os aspectos mais importantes da transição de “comunidade” para “sociedade”. Esse nexo entre a) a questão metateórica de âmbito vinculado à teoria da ação e concebido mediante aspectos do agir possíveis de racionalização e b) a questão metodológica de uma teoria da compreensão de sentido que aclare aas relações internas entre significação e validade (entre a explanação do significado de uma externação simbólica e o posicionamento em face de suas pretensões de validade implícitas) será associado por fim c) à questão empírica sobre e a condição de possibilidade de descrever a modernização da sociedade sob o ponto de vista de uma racionalização cultural e social e, caso essa descrição seja possível, sobre o sentido em que ela ocorre.  

Esse nexo está particularmente marcado na obra de Max Weber. Sua hierarquia dos conceitos de ação social está voltada ao tipo do agir racional-finalista, de tal maneira que todas as demais ações podem ser niveladas como desvios específicos em relação a esse tipo de racionalidade. Ao analisar o método da compreensão de sentido, Weber procede de tal modo que se precisam referir os casos mais complexos ao caso-limite da compreensão do agir racional-finalista: a compreensão do agir subjetivamente orientado ao êxito requer ao mesmo tempo uma valoração objetiva desse mesmo agir. Evidencia-se o nexo entre essas decisões metodológicas vinculadas à conceitualidade e a questão central no pensamento para Max Weber, sobre como o racionalismo ocidental poder ser explicado. Da perspectiva da teoria da ação social, é só de maneira insatisfatória que as atividades do espírito humano podem ser restritas à confrontação cognitivo-instrumental, segundo Habermas (2012) com a natureza exterior; ações sociais orientam-se por valores culturais. Estes últimos, porém, não contam com um referencial de verdade. Assim, coloca-se a seguinte alternativa: ou negamos aos componentes “não cognitivos” da tradição cultural o status assumido pelas entidades do terceiro mundo graças à alojação delas em uma esfera de nexos de validade, e então nivelamos esses mesmos componentes de maneira empirista, como formas enunciativas do espírito subjetivo; ou procuramos equivalentes para o referencial de verdade que está ausente. Essa segunda via, como veremos, é escolhida por Max Weber. Ele distingue diversas esferas culturais de valor – ciência e técnica, direito e moral, bem como arte e crítica. 

E também as esferas de valor não cognitivas constituem esferas de validade. Noções jurídicas e morais podem ser criticadas e analisadas sob o ponto de vista da correção normativa; obras de arte, sob o ponto de vista da autenticidade (ou beleza). Pode-se trabalhá-las como campo autônomos de problemas. Entende que a tradição cultural no todo como uma provisão de saber, a partir da qual se podem formar “esferas especiais de valor” e “sistemas especiais de validade distintas”. Ele atribuiria ao terceiro mundo tanto os componentes culturais avaliativos e expressivos quanto os cognitivos-instrumentais. Quando se escolhe essa alternativa, é preciso esclarecer o que podem significar “validade” e “saber” em face dos componentes “não cognitivos” da cultura. Este aspecto é muito importante na análise. Estes últimos, diversamente de teorias e enunciados, não podem ser ordenados a entidades do primeiro mundo. Valores culturais não cumprem uma função representativa. Segundo Habermas, desde Aristóteles, o conceito de agir teleológico está no centro da teoria filosófica da ação. O ator realiza um propósito ou ocasiona o início de um estado almejado, à medida que escolhe em dada situação meios auspiciosos, para então empregá-los de modo adequado. O conceito central é o da decisão entre diversas alternativas, voltada à realização de um propósito, derivada de máximas e apoiada em uma interpretação da situação. O modelo teleológico do agir é ampliado a modelo estratégico quando pelo menos um ator que atua orientado a determinados fins revela-se capaz de integrar ao cálculo do êxito a expectativa de decisões. Esse modelo de ação é frequentemente interpretado de maneira utilitarista; aí se supõe que o ator escolhe e calcula os meios e fins, provavelmente no trabalho, segundo aspectos da maximização do proveito ou das expectativas de proveito. 

Esse modelo de ação, em economia, sociologia e psicologia social, está subjacente às abordagens vinculadas à questão singular da decisão ou à teoria lúdica.  O conceito de agir regulado por normas comparativamente não se refere ao comportamento de um ator, que encontra outros no entorno, mas a membros especificamente de um grupo social, que orientam seu agir segundo a constituição de valores em comum. O ator individual na interpretação sociológica habermasiana segue uma norma (ou colide com ela), tão logo as condições se apresentem em uma dada situação na qual se possa emprega-las. As normas expressam o comum acordo subsistente em um grupo social. Todos os membros de um grupo social em que vale determinada norma podem esperar uns dos outros que cada um execute ou omita as ações preceituadas de acordo com determinadas situações. O conceito central de cumprimento da norma significa a satisfação de uma expectativa de comportamento generalizada. A expectativa de comportamento não tem o sentido cognitivo da expectativa de um acontecimento prognosticado, mas o sentido normativo de que o partícipe goze do direito à expectativa de um comportamento. Esse modelo normativo de ação subjaz à teoria dos papéis. O conceito do “agir dramatúrgico” não se refere primeiramente ao ator solitário, nem ao membro de um grupo social, mas aos participantes de uma interação que constituem uns para os outros um público a cujos olhos eles se apresentam. O ator suscita em seu público uma determinada imagem, uma impressão de si mesmo, ao desvelar sua subjetividade em maior ou menor medida. Todo aquele que age pode controlar o acesso público à esfera de suas próprias intenções, pensamentos, posicionamentos, desejos, sentimentos, etc., à qual somente ele mesmo tem acesso. No “agir dramatúrgico”, os partícipes usam essa circunstância e monitoram sua interação socialmente por meio da regulação do acesso recíproco à questão subjacente da subjetividade própria.

As várias teorias do sonho se distinguirão por elevarem, como “num voo de avião”, uma ou outra característica onírica à categoria essencial, por tomarem-na como ponto de partida para explicações e relações. Uma teoria não precisará permitir a inferência de alguma função, isto é, de alguma utilidade ou algum resultado do sonho, mas nossa expectativa de “hábito teleológico”, dizia Freud (2017), acolherá melhor aquelas teorias que considerarem que ele tem uma função.  A crença dos antigos de que o sonho era enviado pelos deuses para guiar as ações humanas tinha como representação uma teoria do sonho completa, que dava informações sobre tudo o que é digno de se saber. Desde que o sonho se tornou um objeto abstrato da pesquisa biológica, conhecemos um número maior de teorias, embora haja entre elas também algumas teorias incompletas.  Se renunciarmos a uma enumeração exaustiva, como consta nos manuais positivistas de história e sociologia sobre qualquer coisa, poderemos tentar o seguinte modo de agrupamento de teorias conforme a hipótese básica sobre a proporção e o ideal típico de atividade psíquica no sonho. Teorias segundo as quais a totalidade da atividade psíquica da vigília prossegue no sonho, de Joseph Delbœuf (1831-1896), psicólogo experimental belga que estudou ilusões visuais, inclusive sobre a ilusão.

Ele estudou na universidade e ensinou filosofia, matemática e psicofísica. Ele também publicou inúmeros trabalhos diversificados de assuntos, incluindo os efeitos do hipnotismo. Para essas teorias, a psique não dorme, seu aparelho permanece intacto, mas ao ser submetida às condições do estado de sono, distintas da vigília, e sob funcionamento normal, ela deve produzir resultados diferentes daqueles da vigília. A ilusão de Delboeuf é uma ilusão de ótica de percepção de tamanho relativo: na versão mais conhecida da ilusão, dois discos de tamanho idêntico foram colocados próximos um do outro e um deles é rodeado por um anel; o disco circundado então parece maior do que o disco não circundado se o anel estiver próximo, enquanto parece menor do que o disco não circundado se o anel estiver distante. Um estudo de 2005 sugere que é causada pelos mesmos processos visuais que correm a ilusão de Ebbinghaus. A pergunta que se faz quanto a essas teorias é se são capazes de derivar as diferenças entre o sonho e o pensamento de vigília integralmente das condições do estado de sono. Além disso, ao que parece elas não oferecem um acesso possível a uma função extraordinária do sonho.

Quer dizer, não compreendemos para que sonhamos ou porque o complexo mecanismo do aparelho psíquico continua funcionando mesmo quando deslocado em circunstâncias para as quais não parece ter sido planejado. Dormir sem sonhos ou acordar quando ocorrem estímulos perturbadores seriam as únicas reações adequadas em vez da terceira, a de sonhar. Para o inventor da psicanálise, se for lícito recorrer a uma comparação com o material psiquiátrico, ele diria que as primeiras teorias constroem o sonho como paranoia e as segundas o transformam em modelo de debilidade mental ou de uma amência. Fora de dúvida, a teoria de que na vida onírica ganha expressão apenas uma parcela da atividade psíquica, paralisada pelo sono, é de longe a preferida pelos autores médicos e pelo mundo científico em geral. Tanto quanto se pode pressupor um interesse mais geral pela expressão dos sonhos, podemos designá-la como a teoria dominante. Cabe destacar a desenvoltura com que precisamente essa teoria evita o mais terrível escolho a qualquer explicação dos sonhos, a saber, o “perigo de naufrágio” ao se chocar contra uma das exposições corporificadas pelo sonho. Visto que para ela o sonho é o resultado de uma vigília parcial, ou “uma vigília gradativa, parcial e ao mesmo tempo muito anômala”, como nos diz sobre o sonho a Psicologia de Herbart, essa teoria é capaz, por meio de uma série de estados que vão de um despertar crescente ao estado de vigília plena, de dar conta do que vai do desempenho reduzido do sonho, que se revela pelo absurdo, até o desempenho intelectual plenamente concentrado.

Nas obras de todos os fisiólogos e filósofos modernos encontraremos a concepção do sonhar como “uma vigília incompleta, parcial, ou traços da influência certamente desta concepção”.  Não se consegue manter o sono a salvo dos estímulos; de toda parte, tal como no caso dos germes vitais de que Mefisto (Mephisto no original) é um demônio e é ele quem regula a terra extradimensional dos mortos, às vezes chamada de “Inferno” ou “Hades”, se queixa, provém estímulos que se acercam da pessoa que dorme: de fora, de dentro e mesmo daquelas regiões corporais com que nunca nos preocupamos quando acordados. Assim, o sono é perturbado, a psique é sacudida ora de um lado, ora de outro, e funciona por um momento com a parte desperta, contente de poder adormecer outra vez. O sonho seria a reação à perturbação do sono causada pelos estímulos; uma reação, aliás, inteiramente supérflua. No entanto, chamar o sonho de processo físico ainda em outro sentido, que em todo caso é um produto do órgão da psique, é negar ao sonho a particularidade de ser um processo psíquico. A imagem já em sua aplicação ao sonho, dos “dez dedos de uma pessoa completamente ignorante em música que correm sobre as teclas de um instrumento”, talvez ilustrem da melhor maneira possível a apreciação que a atividade onírica recebeu em geral dos representantes das ditas ciências exatas. Nela o sonho se torna impossível de interpretar; afinal, como os dez dedos do ignorante deveriam produzir uma peça musical? Cedo não faltaram objeções à teoria da vigília parcial.   

Num terceiro grupo podemos reunir aquelas teorias do sonho que atribuem à psique sonhante a capacidade e a inclinação para produções psíquicas especiais que ela de modo algum ou apenas de maneira imperfeita pode executar durante a vigília. Da atuação dessas capacidades resulta a maioria dos casos de uma função útil do sonho. As avaliações que o sonho recebeu dos psicólogos antigos entram quase todas nessa categoria. Em vez delas Freud se contenta em citar a afirmação de Friedrich Burdach (1776-1847) de que o sonho é a atividade natural da psique, atividade que não “é limitada pelo poder da individualidade, não é perturbada pela autoconsciência, não é orientada pela autodeterminação, mas é a vitalidade dos pontos sensíveis em livre jogo”. Esse deleite no livre uso das próprias forças é manifestamente imaginado por ele e outros autores como um estado em que a psique se revigora e acumula novas forças para o trabalho diurno, ou seja, como uma espécie de período de férias. Por isso, Burdach também cita e aceita as amáveis palavras com que o poeta reconhecido como Novalis enaltece do domínio dos sonhos: - o sonho é um baluarte contra a uniformidade e a trivialidade da vida, um livre recreio da fantasia agrilhoada em que mistura todas as imagens da vida e interrompe a constante sociedade do adulto uma alegre brincadeira infantil. Sem os sonhos envelheceríamos mais cedo, e, assim, ainda que não possamos considerar que o sonho “nos seja dado diretamente do alto”, podemos encará-lo como tarefa preciosa, um acompanhante amistoso na peregrinação ao túmulo.  

Desnecessário dizer que Jan Evangelista Purkyně (1787-1869), também grafado Johannes Evangelista Purkinje foi médico e professor universitário Tcheco que se notabilizou como anatomista e fisiologista e descobridor das células de Purkinje e do efeito de Purkinje. Segundo Freud ele descreve a atividade revigorante do sonho de maneira ainda mais impressionante: - Em especial, para ele, porque os sonhos produtivos cumpririam essas funções. Eles são brincadeiras leves da imaginação que não têm qualquer relação com os acontecimentos diurnos. A pisque não quer prolongar as tensões da vida da vigília, e sim dissipá-las, refazer-se delas. Ela produz, antes de mais nada, aqueles estados que se opõem aos da vigília. Ela cura a tristeza com alegria, as preocupações com esperanças e imagens joviais e divertidas, o ódio com o amor e a simpatia, o medo com a coragem e a confiança; ela apazigua a dúvida com a convicção e com a crença firme, a expectativa frustrada com a realização. Muitas feridas do espírito que o dia manteria constantemente abertas são curadas pelo sono enquanto as cobre e protege de novas irritações. É nisso que repousa em parte o efeito terapêutico do tempo. Percebemos que o sono é benéfico para a vida psíquica, e essa obscura noção da consciência não se deixa privar do preconceito que o sonho é “um dos caminhos pelos quais o sono concebe seus próprios benefícios”.  A tentativa original de explicar o sonho a partir da atividade especial da psique, capaz de se desenvolver apenas no estado de sono, foi empreendida por Karl Albert Scherner em 1861.  

Quer dizer, que foi escrito num estilo carregado e grandiloquente, com um entusiasmo quase embriagado pelo seu objeto e que deverá ter um efeito repulsivo sobre os leitores que não for capaz de arrastar consigo, o livro de Scherner oferece tais dificuldades a uma análise que para o psicanalista, recorremos de boa vontade à exposição mais clara e mais breve em que o filósofo Johannes Volkelt (1848-1930) nos apresenta as teorias schernerianas. Mas, em compensação, a atividade psíquica que cabe chamar de fantasia, liberta de todo o domínio do entendimento, e, assim, livre de uma moderação austera, ascende no sonho ao domínio irrestrito. É verdade que ela usa os tijolos mais recentes da memória da vigília, mas com ele constrói prédios que diferem imensamente das construções da vigília; no sonho ela não se mostra apenas reprodutiva, mas também produtiva. Suas peculiaridades conferem à vida onírica as características especiais que esta apresenta. Ela mostra predileção pelo desmedido, exagerado, monstruoso. Ao mesmo tempo, porém, liberta das categorias refreadoras do pensamento, ela ganha maior flexibilidade, agilidade e versatilidade; da maneira mais sutil, ela é sensível aos estímulos delicados do humor e aos afetos revoltosos; ela coloca a vida interior de imediato em imagens plásticas exteriores. À fantasia onírica, segundo o pensador par excellence da psicologia cognitiva, Freud, falta a linguagem conceitual; ela precisa “pintar plasticamente” aquilo que quer dizer; e, como os conceitos não exercem qualquer influência debilitante, ela os pinta com abundância, a força e a grandeza da forma plástica. Sua linguagem, por mais clara, se torna difusa, desajeitada, canhestra.

 Isto é, a clareza de sua linguagem é dificultada em especial pelo fato de ela ter a aversão a expressar um objeto, com a própria imagem deste, dando preferência a uma imagem estranha, desde que esta apenas seja capaz de exprimir aquele elemento do objeto cuja figuração lhe interessa. Essa é a atividade simbolizadora da fantasia. Além disso, é muto importante o fato de a fantasia onírica não reproduzir os objetos de maneira exaustiva, mas apenas seus contornos, e estes da maneira mais livre. Por isso, suas pinturas parecem inspiradas pelo gênio. A fantasia onírica não se detém na mera apresentação do objeto, mas é intrinsecamente obrigada a enredar o eu onírico com ele em maior ou menor grau, criando assim uma ação. O sonho gerado pelo estímulo visual, por exemplo, pinta moedas de ouro na rua; o sonhador as recolhe e as leva consigo.  No entender de Scherner, a formação dos sonhos começa apenas no ponto em que para os ouros autores ela se esgota.  O material com que a fantasia onírica executa sua atividade artística é predominantemente o dos estímulos corporais orgânicos, tão obscuros durante o dia, de modo que sua teoria, demasiado fantasiosa, e a teoria de Wilhelm Wundt e de fisiologistas, talvez sóbrias demais, são antípodas nos aspectos e coincidem inteiramente quanto à hipótese sobre as fontes oníricas e os excitadores dos sonhos.

Em 1968, na Austrália, Gail e Cynthia vão à cidade para cantar em um concurso de talentos. Sua irmã mais nova, Julie, é proibida de ir, em parte por ser jovem e em parte porque já tem um filho, mas ela suborna uma vizinha para levá-la ao concurso. Um olheiro irlandês alcoólatra, Dave Lovelace, é repreendido por seu chefe por chegar atrasado, apesar de dormir em seu carro, que fica perto do trabalho. Apesar de serem a melhor atração do concurso, as meninas não só não vencem, como são mandadas embora. Dave reconhece o talento delas e é informado de que as tropas precisam de cantoras para o Vietnã. Depois de apresentar esses fatos às cantoras céticas, Dave liga e diz que elas conseguiram uma vaga para um teste em Melbourne. De volta à casa, a mãe está relutante, mas as meninas argumentam que esta pode ser a oportunidade única na vida delas. Dave diz ao pai que as protegerá com a própria vida. Aconselhadas pela avó, elas se encontram com a prima Kay, que morava em Melbourne há 10 anos depois que o governo a tirou da família por ser mestiça, como parte da política agora reconhecida como Gerações Roubadas. Ela inicialmente rejeita a oferta para se juntar a elas, mas logo muda de ideia e as encontra na casa do tio. Depois de dias praticando seus passos, elas estão prestes a fazer um teste quando Julie entrega a Cynthia uma carta do noivo: ele está cancelando o noivado. Apesar disso, o teste é um sucesso e Kay num lapso de olhar descobre o nome reluzente do grupo, The Sapphires, olhando para o anel de noivado de Cynthia. As palavras da mulher aborígine australiana transmitem uma mensagem familiar, a convicção na formação de sua personalidade, bem como uma extraordinária afirmação de que os aborígines que ainda vivem em seus tradicionais modos de vida, não se preocupando com o amanhã… que nunca se preocupam.

Segundo Wesselman (2012), pois eles sabem que, na prática do dadirri – ao sentirem a profunda e tranquila quietude da alma -, que todos os caminhos vão ficar claros para eles no tempo certo. Os aborígines australianos não “visam atingir um objetivo” da mesma forma que nós, ocidentais, e nem tentam “apressar o rio” pois sabem com certeza absoluta que isso é uma ação de absoluta futilidade. Nas palavras de Miriam Rose: “Nós somos como uma árvore no meio de um incêndio na floresta. As folhas são queimadas e a casca dura fica marcada e queimada, mas dentro da árvore, a seiva ainda está fluindo e debaixo da terra as raízes ainda são seguramente vistas como fortes. Como a árvore, temos resistido às chamas, e ainda assim temos o poder de renascer”. Depois de mais de 200 anos de práticas “assimilacionistas” infligida pela igreja e da mesma forma pelo estado, os aborígines australianos ainda estão aqui. Eles tiveram muitas gerações de aprendizagem sobre as formas ocidentais. Eles aprenderam a falar a nossa língua e escutaram o que tínhamos a dizer. No entanto, eles continuam a esperar que nós nos aproximemos deles. Nas palavras de Miriam Rose Ungunmerr-Baumann: “Sabemos que os nossos irmãos e irmãs brancos carregam seus próprios fardos. Nós também carregamos os nossos. Contudo, acredito que se vamos chegar a eles, se eles abrirem as mentes e os corações para nós, e ouvir o que temos a dizer, poderíamos aliviar o seu fardo. Não é uma luta de todos nós, mas, diferentemente deles, não perdemos o nosso espírito de dadirri”.

Ela conclui sua mensagem através da observação: “Eu acredito que o espírito de dadirri que temos a oferecer para o mundo irá ajudar os ocidentais a florescerem e crescerem, não só dentro de si mesmos, mas dentro de sua nação, bem (…). - “Existem molas no fundo de cada um de nós e dentro deles, há um som, o som do chamado profundo. O tempo de renascer é agora. Se nossa cultura e sua cultura estão bem vivas, bem como fortes e respeitadas, elas vão crescer. Nesse caso, a nossa cultura não morrerá, nem a sua, e os nossos espíritos não serão perdidos. Continuaremos, em conjunto, pois foi para isso que sempre estivemos destinados a ser”. Esta declaração maravilhosa me lembra de um artigo que li há anos em uma antologia chamada Xamanismo: Exibições de Realidade Expandida editado por Shirley Nicholson (1987). O documento é intitulado “O Sonho, Misticismo e Libertação: O xamanismo na Austrália”, de autoria do Venerável Nandisvara Nayake Thero, o chefe Sanghanayaka da Ordem Theravada de monges budistas na Índia. Um ex-professor de religião comparada da Universidade de Madras, bem como diretor da Sociedade Maha Bodhi do Sri Lanka e secretário-geral do Conselho Mundial da Sangha, Dr. Nandisvara tinha retornado recentemente de uma expedição de investigação antropológica na Austrália, onde ele viveu o tempo com um nativo aborígene da comunidade em suas palavras, uma raça muito antiga, cujo modo de vida (caça e coleta), não tinham substancialmente alterado por talvez 35 mil anos.

Em seu relatório, o Dr. Nandisvara faz uma declaração extraordinária. - “Para aqueles que julgam o grau de cultura, o grau de sofisticação tecnológica, o fato de que os nativos australianos vivem da mesma forma agora como fizeram milhares de anos atrás pode significar que eles são incivilizados ou inculto. - “No entanto, eu sugeriria que se a civilização fosse definida pelo grau de polimento da mente de um indivíduo e a construção de seu caráter, e se essa cultura reflete a medida de nossa autodisciplina, bem como o nosso nível de consciência. Os aborígines australianos são realmente um dos mais civilizados e altamente cultos povos no mundo de hoje. Em suas conversas com os xamãs e anciãos espirituais aborígenes, Dr. Nandisvara concluiu que a sua tradição espiritual é muito avançada. Segundo Nandisvara, os anciãos aborígines disseram que o espírito de um ser humano está sempre em contato com os reinos espirituais mais elevados do ser, mesmo que não haja consciência desse contato em seu estado normal de consciência. Informaram-lhe que isto dá a cada um de nós um dom extraordinário em que pode haver comunicação direta entre o humano e o divino, sem a necessidade de qualquer tipo de intermediário. Em outras palavras, para a formação do Aborígine, não há simplesmente nenhum grande abismo intransponível entre o humano e o divino, uma percepção que está em oposição direta à maioria das escolas esotéricas e teológicas. 

É por isso que os autóctones não tinham necessidade de desenvolver qualquer religião organizada dirigida por uma classe sacerdotal estratificada. O que eles têm é um igualitarismo espiritual autêntico em que, como indivíduos, podem acessar o Dreamtime através das técnicas xamânicas do êxtase, dando-lhes acesso direto e imediato para as dimensões espiritual. Essa capacidade dá-lhes uma autoridade inabalável para fazer observações filosóficas altamente evoluídas. Por exemplo, parecido como os thanatologistas de outras tradições espirituais, os Aborígenes descrevem a evolução da consciência humana depois da morte como “a sobrevivência no infinito. “Eles sabem, por experiência direta que o ponto de contato individual com a infinitude da consciência cósmica continua a se expandir depois da morte até que ele é coextensivo com ela… até que literalmente ‘se torne’ ela. Esta não é uma teoria para os Aborígenes, nem é um conceito. É uma percepção baseada em sua própria experiência direta, uma revelação que se manifesta no Livro Tibetano dos Mortos. Os hindus e os budistas usam Samadhi para descrever esse estado. Os aborígenes de Dreamtime, ainda é evidente a partir de suas descrições que empírica e fenomenologicamente, que esses estados são os mesmos.

Não se sabe ao certo há quantos milênios surgiu o conteúdo do Bardo Thodöl. Trata-se de uma tradição oral, transmitida ao longo do tempo, não existindo registros de sua origem. Oriunda da antiga religião Bön, a análise e compilação a partir de várias versões do livro somente ocorreu no século VIII d. C., com supervisão de Padmasambhava, o grande santo Guru Rinpoche, o primeiro lama, tido pela sociedade tibetana como a segunda encarnação de Sidarta Gautama, o Buda. O Livro Tibetano dos Mortos afirma não apenas que a consciência persista após a morte, mas também que é possível morrer de modo que seja atingido a clareza da consciência e a compreensão do real. Na tradição tibetana, o livro é lido por um monge a um moribundo, geralmente em voz alta, e continua a ser recitado por 49 dias (7 semanas) mesmo após seu falecimento. Os tibetanos acreditam que ainda após a morte o princípio de consciência permanece em contato com o local de falecimento e ainda pode assimilar as mensagens transmitidas pelo monge. Dessa forma, acredita-se que uma pessoa que passe pela “grande cirurgia da morte” com conhecimento sobre “o outro lado da vida” pode, como indica o livro, saber como se conduzir nos diferentes estados de consciência nos planos pós-morte.

Nesse sentido, o Livro dos Mortos do Antigo Egito possui intenção semelhante: auxiliar o moribundo na passagem pelo limiar da morte e servir como guia para a vida da alma. O livro foi revelado ao ocidente pelo doutor T. W. Evans-Wentz (1878-1965), pesquisador da Universidade de Oxford, que traduziu e examinou seu conteúdo, lançando-o em 1927, e alcunhando-o significativamente de “Livro Tibetano dos Mortos”. Carl Gustav Jung nascido em Kesswil, Turgóvia, Suíça, 26 de julho de 1875 e morto em Küsnacht, Zurique, Suíça, em 6 de junho de 1961, foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço, fundador da psicologia analítica. Com um legado influente nos campos da psiquiatria, psicologia, filosofia, ciência da religião e literatura, criou alguns dos mais reconhecidos conceitos psicológicos, incluindo a distinção classificatória entre personalidade extrovertida e introvertida, as ideias de arquétipo e de inconsciente coletivo, bem como a noção de sincronicidade. A classificação de personalidade do inglês Myers–Briggs Type Indicator – MBTI, foi postumamente desenvolvida a partir das suas teorias. Juntamente com Freud, foi um dos mais respeitados pensadores do seu tempo, sendo amplamente conotado como um dos mais influentes psicólogos de sempre.

Via a psique humana como “de natureza simbólica” e fez desse simbolismo o escopo de suas explorações. Ele é um dos maiores estudiosos contemporâneos de análise de sonhos e simbolização. Embora exercesse sua profissão como médico e se considerasse um cientista pautado no método empírico naturalista, muito do trabalho de sua vida foi dedicado a explorar e aplicar também noções típicas das ciências humanas, tais como a antropologia, sociologia, mitologia e as religiões comparadas, além de áreas tangenciais à ciência, incluindo a filosofia oriental e ocidental, alquimia e astrologia, bem como a literatura e as artes. Seu interesse pela filosofia e ocultismo levaram muitos a vê-lo como um místico. Em uma de suas edições, C. G. Jung escreve um prefácio analisando o texto a partir de um ponto de vista psicológico. Jung declara ter sido um leitor assíduo do livro, devendo a ele muitas de suas ideias fundamentais. Ao afirmar que este livro “revela os profundos segredos da alma”, ele declara: “Todo leitor sério forçosamente irá perguntar-se se estes antigos sábios lamas, afinal de contas, não poderiam ter vislumbrado mesmo outras dimensões, arrancando com isso o véu de um dos maiores mistérios da vida”. As Safiras fazem sucesso com o público, mas brigas internas entre as mulheres ameaçam separar o grupo: Gail age como a matriarca autoritária do grupo; Cynthia inicia um relacionamento amoroso ardente com um membro da escolta militar após o término do relacionamento; Kay luta com sua identidade multiétnica enquanto é cortejada por um médico do Exército; e Julie tem dificuldade em processar a realidade da guerra. Dave e Gail começam a demonstrar sentimentos um pelo outro, mas o comportamento imprudente e um segredo pessoal levam a paciência de Gail ao limite.

O grupo viaja sem escolta militar para um local onde um renomado olheiro norte-americano estará presente, principalmente para ver Julie, a única grande voz do grupo. Irritada com esses eventos, Cynthia se torna vampira durante o primeiro show, bebendo com alguns dos homens, e Gail lhe diz que ela não poderá mais subir ao palco. Antes do próximo show começar, Dave entrega uma carta a Gail e diz para ela abri-la mais tarde; eles estão prestes a se beijar quando a base é atacada. Depois de levar Gail e Cynthia para um helicóptero, Dave volta para encontrar os outros, e Gail o vê levar um tiro surpreendentemente. Kay e Julie conseguem sair no helicóptero de evacuação médica do namorado de Kay, onde miseravelmente, “um soldado branco moribundo faz um comentário racista ao namorado de Kay enquanto ele tenta cuidar dos ferimentos mortais do soldado branco”. Em segurança em Saigon, Gail lê a carta de Dave e percebe que ele queria pedi-la em casamento. As mulheres são convidadas a se apresentar profissionalmente naquela noite após o assassinato de Martin Luther King Jr. (1929-1968), com Gail como vocalista principal após a perda. Martin Luther King Jr. nascido Michael King Jr na cidade de Atlanta, em 15 de janeiro de 1929 e assassinado em Memphis, 4 de abril de 1968, foi um pastor batista e ativista político norte-americano que se tornou a figura mais proeminente e líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos da América (EUA) de 1955 até seu assassinato em 1968.

Ele é amplamente reconhecido pela luta dos direitos políticos através da não-violência e desobediência civil, inspirado por suas crenças cristãs e o ativismo não-violento de Mahatma Gandhi. Martin Luther King liderou em 1955 o boicote aos ônibus de Montgomery e posteriormente se tornou o primeiro presidente da Conferência da Liderança Cristã do Sul (abreviado em inglês como SCLC). Como presidente da SCLC, ele liderou sem sucesso em 1962 a luta contra a segregação em Albany, e foi um dos participantes que organizaram os protestos não-violentos de 1963 em Birmingham. Martin Luther King ajudou na organização da famosa Marcha sobre Washington onde ele ditou seu famoso discurso: “I Have a Dream” aos pés do Memorial de Lincoln. Em 14 de outubro de 1964, King ganhou o Prêmio Nobel da Paz por “combater o racismo nos Estados Unidos através da resistência não-violenta”. Em 1965, ele ajudou a organizar as Marchas de Selma a Montgomery. Nos seus últimos anos, ele ampliou seu ativismo contra a pobreza e a Guerra do Vietnã. O diretor J. Edgar Hoover do Federal Bureau of Investigation (FBI) ou Departamento Federal de Investigação é uma unidade de polícia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos achava Luther King um liberal radical e fez dele “alvo do programa de contrainteligência a partir de 1963”.

Na religião foi criada com orientação batista por influência transplantada do pietismo da Europa continental e o metodismo dos povos anglo-saxões, ainda que estes sejam considerados movimentos secundários, tanto em seu conteúdo de ideias, como em sua importância histórica. No entanto, encontramos ao lado do calvinismo uma segunda fonte independente do ascetismo protestante no movimento batista e nas seitas que, no decorrer dos séculos XVI e XVII dele se derivaram, que diretamente, quer por adoção de suas formas de pensamento religioso estão representados pelos batistas, menonitas, e, principalmente quakers. Com elas, lembra o sociólogo Max Weber (2003: 78), chegamos a religiosos “cuja ética está em base que difere, em princípio, da doutrina calvinista”.  As mais importantes ideias de todas essas comunidades religiosas, que são importantes e cuja influência no desenvolvimento da cultura somente pode ser esclarecida em uma conexão de sentido diferente, são algo com que estamos familiarizados: o desenvolvimento dos crentes da igreja. Isso significa que a comunidade religiosa – ou seja, a chamada “Igreja visível” na linguagem das igrejas da Reforma, já não era considerada como um tipo de fundação de confiança, sociologicamente, mas “apenas uma comunidade de pessoas que creem na renovação, e somente estas”. Em outras palavras, não uma igreja, mas uma “seita”. Só isto é que deveria simbolizar o princípio, em si externo, que os adultos que tivessem adquirido sua fé deveriam ser batizados. A justificação desta fé para os batistas – como eles repetiam nas discussões religiosas – diferente da ideia de “trabalho no mundo” reconhecido a serviço de Cristo, tal como estabelecia o dogma ortodoxo do velho protestantismo.

Ela consistia mais na tomada de posse espiritual de Seu dom da Salvação. Mas esta ocorria através da revelação individual: pela ação do Divino Espírito no indivíduo, e apenas deste modo. Ela era oferecida a todos, e bastava esperar pelo Espírito e não resistir à sua vinda por um pecaminoso apelo ao mundo real. A importância da fé, no sentido do conhecimento das doutrinas da Igreja, mas também naquele de uma contrita busca da graça divina, foi consequentemente bem diminuída, originando-se – com grandes modificações – um renascimento de arcaicas doutrinas cristãs pneumáticas. Por exemplo, a seita à qual Menno Simons (1496-1561), teólogo originário da Frísia, ordenado padre católico em março de 1524, em seu Fondamentboek (1539), deu a primeira doutrina razoavelmente coerente, desejava, como as demais seitas batistas, ser a verdadeira Igreja irrepreensível de Cristo, da mesma forma que a comunidade apostólica fora composta exclusivamente daqueles que foram despertados e chamados por Deus. Simons era um padre católico holandês que se converteu ao Anabatismo em 1536. Os redimidos, apenas eles, são os irmãos de Cristo porque como Ele foram sidos criados em espírito diretamente por Deus. A estrita “alienação do mundo”, ou seja, de toda relação desnecessária com pessoas leigas, juntamente com a mais estrita bibliocracia, no sentido de se tornar a vida fluir das primeiras gerações de cristãos como modelos, foram os resultados para as primeiras comunidades originárias batistas, e incrustada a este princípio de alienação precípua do mundo nunca desapareceu, segundo István Mészáros foi um filósofo húngaro e está entre os mais importantes intelectuais marxistas da atualidade, enquanto permaneceu vivo em sua dimensão temporal o velho espírito. 

As seitas batistas juntamente como os predestinacionistas, especialmente os calvinistas estritos, desenvolveram a mais radical desvalorização de todos os sacramentos como meio de salvação e realizaram, assim, até as suas últimas consequências sociais, a “desmistificação” religiosa do mundo. Apenas a “luz interior” da contínua revelação podia habilitar alguém a entender verdadeiramente até mesmo as revelações bíblicas de Deus. Pelo menos de acordo com a doutrina quakers, na qual chegaram às últimas consequências, seus efeitos podiam ser estendidos e pessoas que nunca conhecerem a revelação em sua forma bíblica. Segundo Max Weber, a proposição “extra ecclesiam nulla salus” foi mantida apenas para a Igreja invisível dos iluminados pelo Espírito. Se a luz interior, isto é, para o homem natural, mesmo aquele guiado pela razão natural, permaneceria puramente uma criatura de carne, cuja impiedade era condenada pelos batistas – inclusive pelos quakers – quase mais rigidamente ainda do que comparativamente quando pelos calvinistas.  A redenção causada pelo Espírito, se por Ele esperarmos e a Ele abrirmos nosso coração, no sentido religioso, pode levar, uma vez que é divinamente causada, a um estado de tão completo domínio sobre o poder do pecado que a recaída – para não falar da perda do estado de graça – torna-se quase impossível. Como mais tarde no metodismo, uma tradição dentro do cristianismo protestante que surgiu na Inglaterra no século XVIII, como um movimento de avivamento espiritual liderado por John Wesley, igualmente a obtenção deste estado não foi ensinada como a regra, mas perfeição que o indivíduo era obrigado a desenvolver.

Todas as comunidades batistas desejavam no mundo religioso ser “puras” Igrejas, no sentido da inocente conduta de seus membros. Ao mesmo tempo a significação atribuída pela doutrina batista da salvação ao controle pela consciência, como a revelação de Deus ao indivíduos, imprimiu na conduta deste, e na vida profissional, um caráter cuja grande importância para o desenvolvimento de aspectos básicos do espírito do capitalismo, per se, o princípio mais importante da ética capitalista: a honestidade é a melhor política, e que já encontrara o seu documento clássico no tratado de Benjamin Franklin (1706-1790) estudado por Max Weber. E que, mesmo no julgamento do século XVII, a forma específica do ascetismo laico dos batistas, em especial dos quakers, está na adoção prática desta máxima. Por outro lado, a influência do calvinismo se exerceu mais na direção da libertação da energia para a aquisição privada, pois apesar de todo o legalismo formal dos representantes “eleitos”, de fato se aplica ao calvinismo a observação de fática Goethe, segundo a qual: “O homem de ação é sempre impiedoso; nenhum deles tem consciência, mas sim poder de observação”. Um sistema doutrinário é pensado à distância se considerarmos que os sinais da religião existem draamticamente inscritos no homem. Para bom entendedor, não há motivo para duvidar de que só no homem a semente da religião, consiste numa qualidade que lhe é peculiar, num grau que não existe em outro ser vivente.

Em 1896, o National Bureau of Criminal Identification foi fundado, fornecendo às agências em todo o país informações para identificar criminosos conhecidos. O assassinato do Presidente William McKinley em 1901 criou a percepção de que os Estados Unidos da América estavam sob ameaça de anarquistas. Os Departamentos de Justiça e Trabalho mantinham registros sobre anarquistas há anos, mas o presidente Theodore Roosevelt queria mais poder para monitorá-los. O Departamento de Justiça havia sido encarregado da regulamentação do comércio interestadual desde 1887, embora não tivesse pessoal para fazê-lo. Ele havia feito pouco esforço para aliviar a falta de pessoal até o escândalo de fraude de terras no Oregon na virada do século XX. O presidente Roosevelt instruiu o Procurador-Geral Charles Bonaparte a organizar um serviço investigativo autônomo que se reportaria apenas ao procurador-geral. Bonaparte procurou outras agências, incluindo o Serviço Secreto dos Estados Unidos da América, para obter pessoal, investigadores em particular. Em 27 de maio de 1908, o Congresso proibiu o uso de funcionários do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos pelo Departamento de Justiça, alegando temores de que a nova agência serviria como um departamento de polícia secreta. Novamente por insistência de Roosevelt, Bonaparte passou a organizar um Bureau of Investigation formal, que então teria sua própria equipe de agentes especiais. O Bureau of Investigation (BOI) foi criado em 26 de julho de 1908.

Procurador-Geral Bonaparte, usando fundos de despesas do Departamento de Justiça, contratou trinta e quatro pessoas, incluindo alguns veteranos do Serviço Secreto, para trabalhar para uma nova agência de investigação. Seu primeiro “chefe” (o título agora é “diretor”) foi Stanley Finch. Bonaparte notificou o Congresso dessas ações em dezembro de 1908. A primeira tarefa oficial da agência foi visitar e fazer pesquisas nas casas de prostituição em preparação para a aplicação da “Lei do Tráfico de Escravos Brancos” ou Lei Mann, aprovada em 25 de junho de 1910. Em 1932, a agência foi renomeada como United States Bureau of Investigation. No ano seguinte, 1933, o BOI foi vinculado ao Bureau of Prohibition e rebatizado de Divisão de Investigações (DOI); tornou-se um serviço independente dentro do Departamento de Justiça em 1935. No mesmo ano, seu nome foi oficialmente mudado de Division of Investigation para Federal Bureau of Investigation (FBI). J. Edgar Hoover serviu como diretor do FBI de 1924 a 1972, um total de 48 anos com o BOI, DOI e FBI. Ele foi o principal responsável pela criação do Laboratório Científico de Detecção de Crimes, ou Laboratório do FBI, inaugurado oficialmente em 1932, como parte de seu trabalho para profissionalizar as investigações do governo. Hoover esteve substancialmente envolvido na maioria dos casos e projetos importantes que o FBI tratou durante sua gestão. Mas, conforme detalhado abaixo, sua gestão provou ser altamente controversa como diretor do FBI, especialmente em seus últimos anos. Após a morte de Hoover, o Congresso aprovou uma legislação que limitava o mandato dos futuros diretores do FBI a dez anos.

As primeiras investigações de homicídio da nova agência incluíram os assassinatos dos índios Osage. Durante a “Guerra ao Crime” da década de 1930, agentes do FBI prenderam ou mataram vários criminosos notórios que cometeram sequestros, assaltos a bancos e assassinatos em todo o país, incluindo John Dillinger, Baby Face Nelson, Ma Barker, Alvin Karpis e George Machine Gun Kelly. Outras atividades de suas primeiras décadas focaram no alcance e influência do grupo supremacista branco Ku Klux Klan, um grupo com o qual o FBI estava trabalhando no caso do linchamento de Viola Gregg Liuzzo (1925-1965) foi uma ativista unitária-universalista de direitos civis de Michigan, nos Estados Unidos. Viola nasceu numa família pobre na cidade de California, Pensilvânia, filha de uma professora e de um minerador, ex militar. Ela passou boa parte da sua infância e adolescência “no Tennessee e testemunhou os males da segregação racial nos Estados Unidos”. Ela começou então a participar de grupos que lutavam pela igualdade, o que irritava seus pais. Alguns anos depois, se casou e começou a trabalhar mais tempo no seu ativismo. Em março de 1965, Liuzzo, então uma dona de casa e mãe de cinco filhos, que já tinha um histórico de ativismo local, ouviu o chamado de Martin Luther King, Jr. e viajou de Detroit, Michigan, até Selma, Alabama para os grandes protestos em prol dos direitos civis dos afro-americanos. Liuzzo participou das chamadas Marchas de Selma a Montgomery e ajudou na coordenação e na logística. Logo depois, enquanto estava num carro com outros ativistas, ela foi baleada e morta por membros da Ku Klux Klan (KKK). Ela tinha 39 anos de idade.

Um dos quatro homens que estavam no carro efetuando os disparos contra Viola era Gary Thomas Rowe, que era informante do FBI. Rowe testemunhou contra os atiradores. O diretor do FBI, J. Edgar Hoover, iniciou uma campanha de difamação contra Liuzzo pela imprensa. Hoover insinuou para o presidente Lyndon Johnson que Liuzzo era viciada em drogas, que tinha relações sexuais com Leroy Moton, um ativista negro que também estava no carro durante o atentado, e depois chegou a falar que o marido de Viola estaria envolvido com crime organizado. Poucas pessoas acreditaram na campanha de Hoover já que ele não apresentava provas para muitas de suas insinuações. Viola Liuzzo é hoje reconhecida e agraciada por lideranças e estudiosos dos movimentos de direitos civis nos Estados Unidos da América. Além de várias outras honras, o nome dela está hoje inscrito no Memorial de Direitos Civis em Montgomery, Alabama. Anteriormente, por meio do trabalho de Edwin Atherton, o BOI afirmou ter apreendido com sucesso todo um exército de neoevolucionários mexicanos sob a liderança do general Enrique Estrada em meados da década de 1920, a leste de San Diego, Califórnia. Hoover começou a usar escutas telefônicas na década de 1920 durante a Lei Seca nos Estados Unidos para prender contrabandistas. No caso de 1927 Olmstead v. Estados Unidos, em que um contrabandista foi pego por meio de escutas telefônicas, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que as escutas telefônicas do FBI não violavam a Quarta Emenda como busca e apreensão ilegais, desde que o FBI não invadisse casa de uma pessoa para completar a escuta. Após a revogação da Lei Seca, o Congresso aprovou a Lei das Comunicações de 1934, que proibia escutas telefônicas não consensuais, mas permitia a escuta. No caso de 1939 Nardone v. Estados Unidos, o tribunal decidiu que, devido à lei de 1934, as evidências que o FBI obteve por escuta telefônica eram inadmissíveis no tribunal. Depois que Katz v. Estados Unidos (1967) derrubou Olmstead, o Congresso aprovou a Lei de Controle do Crime Omnibus, permitindo que as autoridades públicas grampeassem telefones durante as investigações, desde que obtivessem mandados de antemão.

Os agentes do FBI o investigaram por possíveis laços comunistas, ameaçaram tornar público suas supostas relações extraconjugais e o denunciaram para agentes governamentais e, em 1964, mandaram a Luther King uma carta ameaçadora anônima, o qual ele interpretou como uma tentativa de alguém a incentivá-lo a cometer suicídio. Antes de sua morte, o reverendo Luther King estava planejando uma ocupação em Washington, D.C., que seria denominada Campanha dos Pobres, quando ele foi assassinado em 4 de abril de 1968, em Memphis. Sua morte causou forte reação popular e foi seguida por manifestações em várias cidades dos Estados Unidos da América. Alegações que o assassino convicto de Luther King, James Earl Ray (1928-1998), ter sido coagido ou agido em conjunto com agentes do governo persistiram por décadas após o tiroteio. King foi premiado postumamente com a Medalha Presidencial da Liberdade e a Medalha de Ouro do Congresso. O Dia de Martin Luther King foi estabelecido como feriado em cidades e estados dos Estados Unidos da América a partir de 1971; o feriado foi promulgado a nível federal por uma legislação assinada pelo presidente Ronald Reagan em 1986. Centenas de estradas foram renomeadas em sua honra, e condado em Washington foi dedicado a ele. O Martin Luther King Jr. Memorial no National Mall em Washington D.C. foi inaugurado em sua homenagem em 2011.

James Earl Ray foi um criminoso estadunidense condenado pelo assassinato do ativista religioso Martin Luther King Jr. James acreditava que Martin era um traidor e que movia as pessoas em suas marchas para parar e enfraquecer o país politicamente e economicamente. James havia cometido atos racistas antes do assassinato. Natural de Alton, Illinois, James nasceu no dia 10 de março de 1928, em uma família pobre. Filho de Lucille Maher e George Ellis Ray, tinha ascendência irlandesa e recebeu uma educação católica. Em fevereiro de 1935, ainda em Alton, o pai de Ray, conhecido pelo apelido Speedy, passou um cheque sem fundos, fazendo com que se mudassem para Ewing, Missouri, onde a família teve que mudar seu nome para Raynes a fim de evitar problemas com a lei. Ray largou a escola aos quinze anos. Ele entrou para o Exército dos Estados Unidos no final da Segunda Guerra Mundial e serviu na Alemanha, embora tivesse dificuldade em se adaptar à vida militar. Em 4 de abril de 1968, Ray matou King com um único tiro disparado de seu rifle Remington, enquanto King estava de pé na varanda do segundo andar do Lorraine Motel, em Memphis, Tennessee. Pouco depois de o tiro ter sido disparado, testemunhas viram Ray fugindo de uma pensão do outro lado da rua do motel. Ele estava alugando um quarto na casa nesta época. Um pacote foi abandonado perto do local, que continha um rifle e um binóculo, ambos encontrados com as impressões digitais de Ray. Em 10 de junho de 1977, Ray e outros presidiários escaparam da Penitenciária Estadual de Brushy Mountain, em Petros, Tennessee.

Eles foram recapturados em 13 de junho. Um ano foi adicionado à sentença anterior de Ray, aumentando para 100 anos. A questão da escravidão continuaria a polarizar politicamente os Estados Unidos durante toda a primeira metade do século XIX, efetivamente dividindo o país entre os estados escravos e livres, na altura da linha Mason–Dixon. Durante o governo de Thomas Jefferson, o Congresso dos Estados Unidos passou uma lei proibindo a importação de escravos, em 1808, embora o tráfico ilegal, via Flórida espanhola, continuasse comum. O comércio interno de escravos, contudo, permaneceu legal e cresceu consideravelmente já que a demanda das plantações, contradictio in adjecto movida principalmente pelo algodão no Sul, aumentava ano a ano. Na primeira metade do século XIX, mais de um milhão de escravos foram vendidos no Sul, especialmente próximos a fronteira, e levados para as plantações no extremo Sul do país em migrações forçadas. Nesse contexto, embora crianças não pudessem ser separadas de suas mães antes de completarem 12 anos, a prática era comum, assim como estupros a mulheres. Embora passassem por um processo de desumanização e maus tratos, as comunidades afro-americanas no Sul foram se desenvolvendo e tentavam preservar sua cultura. Em 1865, havia mais de 4 milhões de afro-americanos em condição de escravidão. No sul dos Estados Unidos, em 1860, eles eram 3,5 milhões (31% da população), com 25% da população branca no Sul tendo ao menos um escravo trabalhando para ele de forma permanente aluguel de escravos, também era uma opção comum para aqueles que não podiam pagar para manter um. No país como um todo, historicamente o período conjuntural supremacista antes da guerra civil começar, cerca de 8% das famílias de norte-americanos brancos tinha escravos.

O namorado de Kay chega para levar Gail a um hospital local, onde Dave está se recuperando. Os Sapphires retornam à Austrália e Gail e Dave anunciam à família dela que planejam se casar. Os Sapphires fazem uma apresentação alegre para seus amigos e familiares no quintal de sua casa. A História do Vietname começou há cerca de 2700 anos. Os chineses dominaram o Vietname diretamente durante grande parte do período entre 207 a.C. até 938, quando os vietnamitas recuperaram a sua Independência. Apesar disso, Vietname permaneceu um Estado tributário da China, mas conseguiu repelir desde então as invasões chinesas, bem como três invasões dos mongóis, entre 1255 e 1285. O imperador Trần Nhân Tông (1258 – 1308) foi o terceiro imperador da dinastia Trần en Vietnam. Decidiu pacificamente tornar o Vietname um Estado tributário da dinastia Yuan, para evitar novos conflitos sociais com os mongóis. A sua Independência terminou na segunda metade do século XIX, quando o país foi colonizado pela França. Durante a 2ª guerra mundial (1939-1945), o Japão ocupou o Vietname, embora mantendo a “máquina administrativa colonial” francesa durante a ocupação. Após a guerra, a França tentou restabelecer o seu domínio colonial, mas falhou na Primeira Guerra da Indochina (1946-1954). Os Acordos de Genebra dividiram o país em Vietname do Norte e Vietname do Sul. Os tratados foram elaborados durante quatro Convenções de Genebra que aconteceram de 1864 a 1949. Ao invés da reunificação pacífica, a divisão levou à Guerra do Vietnã (1955-1975). A República Popular da China e a União das Repúblicas Socialistas Soviética, extraordinárias, apoiaram o Vietname do Norte, enquanto que os Estados Unidos da América apoiaram o Vietname do Sul. Após a morte de milhões de vietnamitas, a guerra finda com a queda de Saigon para o Norte em abril de 1975.

O exército norte-vietnamita era apoiado pelas repúblicas da União Soviética, China e aliados comunistas, enquanto os sul-vietnamitas eram apoiados pelos Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Tailândia, e outras nações anticomunistas. O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que serviu como o 42º presidente do país por dois mandatos, entre 1993 e 2001, também ordenou que outros navios fossem implantados na região em março de 1996. O Japão atuou não só como estímulo econômico, mas também como exemplo. A imensa e ininterrupta expansão da economia japonesa foi decisiva para criar um dinâmico mercado em toda a área circundante do Pacífico. O crescimento mais marcante foi o apresentado pela Coreia do Sul, que a partir dali começou a ser conhecido como o “Milagre do rio Han”. Na década de 1960, o país era um dos mais pobres países da região, com menor desenvolvimento. Da década de 1980 até o presente, a Coreia do Sul se transformou em um país desenvolvido, com renda alta e elevados valores de IDH, uma medida média das conquistas de desenvolvimento humano básico em um país e do PIB per capita. O progresso de Taiwan seguiu o mesmo rumo. No final da década de 1990, as exportações chegavam a 202% do Produto Nacional Bruto em Singapura e a 132% em Hong Kong. O índice de crescimento era alto nos chamados tigres aiáticos, e, a despeito da crise asiática, a população tinha alto nível de alfabetização e a economia girava em torno da sólida base da construção naval, produtos têxteis, petroquímicos e equipamentos elétricos. Entretanto, nessa esfera circunscrita de crescimento mais notável ocorreu principalmente na formação da zona de economia usurária de entrepostos.

O termo discurso pode também ser definido do ponto de vista lógico da análise política. Quando pretendemos significar algo a outro é porque temos a intenção de lhe transmitir um conjunto de informações coerentes - essa coerência é uma condição essencial para que o discurso seja entendido. São as mesmas regras gramaticais utilizadas para dar uma estrutura compreensível ao discurso que simultaneamente funcionam com regras lógicas para estruturar o pensamento. Um discurso político, comparativamente, tem uma estrutura social e finalidade muito diferente do discurso econômico, mas politicamente pode operar a dimensão econômica produzindo efeitos sociais específicos em termos de persuasão. Os economistas assumiram que o estudo das ações econômicas do homem poderia ser feito abstraindo-se as outras dimensões culturais do comportamento humano: dimensões morais, éticas, religiosas, políticas, etc., e concentraram seu interesse naquilo que eles identificaram como as duas funções elementares exercidas por todo e qualquer indivíduo: o consumo e a produção. O homo economicus nada mais é do que um fragmento qualquer de ser humano, a sua parcela que apenas produz e consome no mundo das mercadorias, cujo único critério de verdade apoiava-se na evidência do ponto de vista reprodutivo. O conceito de “homo economicus” é um postulado da racionalidade global vigente. É caracterizada pelo triunfo dos economistas que encontraram nele, a semelhança dos biólogos no darwinismo, e na psicologia uma teoria do comportamento coerente. Um estudo de ideologias da administração, por outro lado, não está preocupado com as origens do espírito capitalista, mas sim com as armas ideológicas empregadas na luta pela ou contra a industrialização.

E quando ideologias são formuladas para defender um conjunto de interesses econômicos, é mais esclarecedor examinar a estratégia de argumentação do que insistir em que o argumento é autointeressado. Os argumentos em serviço próprio dos grupos dominantes podem não parecer um campo de estudos promissor, no entanto, sociologicamente Reinhard Bendix acredita que essas ideias desenvolvidas podem ser consideradas um sintoma das relações sociais de classe em mudança, ou seja, indícios para a compreensão das sociedades industriais. Portanto, em que se propõe analisar detalhadamente, se já não é um truísmo, as evidências observáveis dos fenômenos do mundo social em seus próprios termos. Segundo o autor, é nesse nível das ações sociais que ocorre a experiência humana, e o estudo das ideologias da gestão empresarial ilustra que ele também pode constituir uma abordagem para o entendimento da estrutura social. As interpretações gerenciais dadas para a relação de autoridade nos empreendimentos econômicos, juntamente com a concepção em oposição assimétrica, mas em nível de complementariedade na relação capital “versus” trabalho acerca de sua posição enquanto classes na sociedade industrial emergente constituem uma imagem conjunta das relações de classe. Imagem esta que, mudando em tempo e espaço e que diferem de um país para outro. Esse aspecto da estrutura social em transformação é analisado pelo exame da posição ideológica em termos de seus corolários lógicos. Enquanto um conjunto de práticas e saberes sociais estão relacionados à autoridade dos empregadores e, em sentido mais amplo, à posição de classe de empregadores e empregados na sociedade.

Três correntes filosóficas contemporâneas são responsáveis pela criação deste conceito: o hedonismo, o utilitarismo e o sensualismo. O hedonismo, que afirma que o homem está sujeito, tal como os animais, à lei natural dos instintos e que, portanto, se encontra implícita à procura do prazer, do bem-estar e distanciamento da dor. O utilitarismo, para quem o útil é valioso e contrapõe o prazer calculado ao irracional, classificando os prazeres nobres e pobres. O sensualismo quando afirma serem os sentidos a fonte do conhecimento. Os economistas construíram um método teórico unanimemente aceite, elaboraram-se práticas econômicas que se encontra em todas as obras fundamentais: a lei da maximização da utilidade e leis sobre a utilidade marginal, aplicadas ao consumo e à produção. A razão biopsicológica essencial a toda a atividade humana é o interesse pessoal. Este primeiro princípio é então afetivo, pois define a única razão da atividade econômica; o homem não obedece sem interesse apelativo à razão consumista.  No nível de análise econômico, oligopólio tem como representação uma forma de monopólio, no qual um grupo de empresas ou governos promove o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Corresponde a uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita, no qual o mercado é controlado por um número reduzido de empresas. De tal forma que cada uma tem que considerar os comportamentos e as reações das outras quando toma decisões de mercado. No oligopólio, os bens produzidos podem ser homogêneos ou apresentar alguma diferenciação sendo que, geralmente, a concorrência se efetua mais ao nível de fatores como a qualidade, o serviço pós-venda, a fidelização ou a imagem, e não tanto ao nível do preço. As causas típicas do aparecimento de mercados oligopolistas são a escala mínima de eficiência e características da procura. Em tais mercados existe concorrência, mas as quantidades produzidas são menores, para que preços sejam maiores do que nos mercados concorrenciais, ainda que relativamente ao monopólio as quantidades sejam superiores e os preços per se sejam menores.

Nos mercados oligopolistas onde não exista cooperação entre as empresas a curva da procura do produto da empresa depende da reação das outras empresas. A concorrência neste tipo de mercado para evitar guerras de preços poderá ser feita a outros níveis como nas características dos produtos distintas do preço, qualidade, imagem, fidelização, etc. O oligopólio pode permitir que as empresas obtivessem lucros elevados a custo dos consumidores e do progresso econômico, caso a sua atuação no mercado seja baseada em cartéis, pois assim terão os mesmos lucros como um monopólio. Em um oligopólio, as alterações nas condições sociais de atuação de uma empresa irão influenciar o desempenho de outras empresas no mercado. Isto provoca reações que são mais relevantes quando o número de empresas do oligopólio é reduzido. Em contrapartida, um truste é uma coligação econômica ou financeira, um agrupamento de empresas que tem como objetivo diminuir e eliminar a concorrência, parcelarizando o mercado. Quando se verifica a formação de trustes, a concorrência é transferida para a área da qualidade e apoio ao cliente, porque não existe concorrência no que diz respeito aos preços. No oligopólio, muitas vezes ocorre à criação de um cartel, onde as poucas empresas dominantes fazem um acordo para manter o preço do produto comercializado. Tanto os cartéis como o truste exercem poder de pressão sobre o mercado. Ao contrário do truste, no cartel as empresas envolvidas continuam independentes no âmbito legal.

Tanto o monopólio quanto o oligopólio contribuem para uma concorrência imperfeita. A diferença entre monopólio e oligopólio é que no monopólio existe apenas um fornecedor ou vendedor, que domina o mercado, enquanto que no oligopólio existem poucos fornecedores do mesmo produto. Quando um produto é considerado essencial para a economia de um país, muitas vezes esse país estabelece leis que impedem a criação de monopólios e oligopólios. Talvez o maior exemplo de oligopólio no Brasil seja o mercado de telecomunicações, no qual poucas empresas controlam o mercado. No caso da telefonia móvel, a fusão das empresas TIM e Vivo consistiu no primeiro oligopólio nesta área do mercado. Também são conhecidos oligopólios no caso da montagem de veículos, na produção de ônibus, por exemplo, o que pode contribuir decisivamente para o aumento do preço das passagens do transporte público. Capital financeiro pode ser entendido como o capital representado por títulos, obrigações, certificados e outros papéis negociáveis e rapidamente conversíveis em dinheiro. Uma vez que as necessidades de liquidez variam significativamente entre os agentes econômicos, há uma grande variedade de instrumentos, sob a forma de contratos, que combinam diferentes ativos e são comercializados nos mercados financeiros. Em termos simplificados, a lógica financeira consiste em “fazer dinheiro a partir de dinheiro”, sem necessariamente passar pela esfera da produção de mercadorias. O predomínio dessa lógica, de caráter rentista - isto é, que não tem finalidade da produção, mas a remuneração do detentor de um ativo - na economia mundial globalizada ocorre desde pelo menos o início da década de 1980.

No Apêndice: Introdução à Edição de 1968, Norbert Elias (2011: 207) com o objetivo de esclarecer observações colhidas nas sociedades modernas sobre o controle das emoções, agimos na suposição tácita de que é possível elaborar teorias sobre as estruturas emocionais do homem em geral, com base no estudo de pessoas em uma sociedade específica que poderia ser observada. Não obstante, há numerosas observações relativamente acessíveis indicando que podem diferir o padrão e o modelo de controle das emoções em sociedades que se encontrem em diferentes estágios de desenvolvimento, e mesmo em diferentes estratos da mesma sociedade. Se estamos ou não interessados no desenvolvimento de países europeus, que prossegue há séculos, ou naquele dos chamados “países em desenvolvimento”, o fato é que deparamos com frequência com observações que dão origem à seguinte pergunta: como e porque, no curso das transformações da sociedade, que ocorrem em longos períodos de tempo e em determinada direção e significativa para as quais foi adotado, desde  a formulação dialética de Friedrich Hegel, o termo “desenvolvimento”, produzem pari passu a afetividade e de experiências humanas, o controle das emoções individuais por limitações externas e internas, e, assim as estruturas de todas as formas de expressão, são alterados em uma direção particular?

As várias teorias do sonho se distinguirão por elevarem, como num voo de avião, uma ou outra característica onírica à categoria essencial, por tomarem-na como ponto de partida para explicações e relações. Uma teoria não precisará permitir a inferência de alguma função, isto é, de alguma utilidade ou algum resultado do sonho, mas nossa expectativa de “hábito teleológico”, dizia Freud (2017), acolherá melhor aquelas teorias que considerarem que ele tem uma função.  A crença dos antigos de que o sonho era enviado pelos deuses para guiar as ações humanas tinha como representação uma teoria do sonho completa, que dava informações sobre tudo o que é digno de se saber. Desde que o sonho se tornou um objeto abstrato da pesquisa biológica, conhecemos um número maior de teorias, embora haja entre elas também algumas teorias incompletas.  Se renunciarmos a uma enumeração exaustiva, como consta nos manuais positivistas de história e sociologia sobre qualquer coisa, poderemos tentar o seguinte modo de agrupamento de teorias conforme a hipótese básica sobre a proporção e o ideal típico de atividade psíquica no sonho. Teorias segundo as quais a totalidade da atividade psíquica da vigília prossegue no sonho, como a de Joseph Delbœuf (1831-1896), psicólogo experimental belga que estudou ilusões visuais, inclusive sobre a ilusão de Delboeuf.

Ele estudou na universidade e ensinou filosofia, matemática e psicofísica. Ele também publicou inúmeros trabalhos diversificados de assuntos, incluindo os efeitos do hipnotismo. Para essas teorias, a psique não dorme, seu aparelho permanece intacto, mas ao ser submetida às condições do estado de sono, distintas da vigília, e sob funcionamento normal, ela deve produzir resultados diferentes daqueles da vigília. A ilusão de Delboeuf é uma ilusão de ótica de percepção de tamanho relativo: na versão mais conhecida da ilusão, dois discos de tamanho idêntico foram colocados próximos um do outro e um deles é rodeado por um anel; o disco circundado então parece maior do que o disco não circundado se o anel estiver próximo, enquanto parece menor do que o disco não circundado se o anel estiver distante aparentemente. Um estudo de 2005 sugere que é causada pelos mesmos processos visuais que correm a ilusão de Ebbinghaus, (ou círculos de Titchener) é uma ilusão de ótica de percepção de tamanho relativo. A pergunta que se faz quanto a essas teorias é se são capazes de derivar as diferenças comparativamente que complexifiam para a mente humana o fato usual entre o sonho e o pensamento de vigília integralmente das condições do estado de sono. Além disso, ao que parece elas não oferecem um acesso possível a uma função do sonho.

Temos o que fica reservado como lugar de representação do conhecimento, posto que bem entendido o nível ao qual se aplica a pesquisa antropológica, ela tem por objeto interpretar a interpretação que os outros fazem da categoria do outro, nos diferentes níveis que situam o lugar dele e impõem sua necessidade. Melhor dizendo, tendo como representação social etnia, tribo, aldeia, linhagem ou outro modo de agrupamento até o átomo elementar de parentesco, do qual se sabe que submete a identidade da filiação à necessidade da aliança, o individualismo, enfim; que todos os sistemas rituais definem como compósito e pleno de alteridade, figura literalmente impensável, como o são, em modalidades opostas, a do rei e a do feiticeiro. O fato social é que deste ângulo de análise há um princípio abrangente e primordial, porque norteador, pois “toda antropologia é antropologia da antropologia dos outros, além disso, que neste âmbito, o lugar antropológico, é simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de inteligibilidade para quem o observa”. Essa inteligibilidade, ao que nos parece, fornece e propõe no âmbito de apropriação dos saberes que as condições de uma antropologia da contemporaneidade devem ser deslocadas do método para o objeto.

E além disso, que se deve estar atento às mudanças que afetaram as grandes categorias por meio das quais os homens pensam sua identidade e suas relações recíprocas em termos espaciais. Estas características comuns podem ser aplicadas a dispositivos institucionais diferentes e que constituem, de certo modo, as formas elementares de compreensão do espaço social. Trata-se de aspectos gerais e que se identificam enquanto itinerários ou eixos ou caminhos que, do ponto de vista etnológico conduzem de um lugar a outro. Mas também em cruzamentos e praças, que satisfazem por assim dizer esferas de ação social, que nos mercados definem necessidades do intercâmbio econômico e, nesta progressão, centros mais ou menos monumentais. Sejam eles religiosos ou políticos construídos por certos homens e mulheres e que definem como outros, em relação a outros centros e outros espaços sociais.  Quer dizer, não compreendemos para que sonhamos ou porque o complexo mecanismo do aparelho psíquico continua funcionando mesmo quando deslocado em circunstâncias para as quais não parece ter sido planejado. Dormir sem sonhos ou acordar quando ocorrem estímulos perturbadores seriam as únicas reações adequadas em vez da terceira, a de uma mera constastação do ato de sonhar. Se for lícito recorrer à comparação com o material psiquiátrico, ele diria que as primeiras teorias constroem o sonho como paranoia e as segundas o transformam em modelo de debilidade mental ou de uma amência.

Fora de dúvida, a teoria de que na vida onírica ganha expressão apenas uma parcela da atividade psíquica, paralisada pelo sono, é de longe a preferida pelos autores médicos e pelo mundo científico em geral. Tanto quanto se pode pressupor um interesse mais geral pela expressão dos sonhos, podemos designá-la como a teoria dominante. Cabe destacar a desenvoltura com que precisamente essa teoria evita o mais terrível escolho a qualquer explicação dos sonhos, a saber, o “perigo de naufrágio” ao se chocar contra uma das exposições corporificadas pelo sonho. Visto que para ela o sonho é o resultado de uma vigília parcial, ou “uma vigília gradativa, parcial e ao mesmo tempo muito anômala”, como nos diz sobre o sonho a Psicologia de Herbart, essa teoria é capaz, por meio de uma série de estados que vão de um despertar crescente ao estado de vigília plena, de dar conta do que vai do desempenho reduzido do sonho, que se revela pelo absurdo, até o desempenho intelectual plenamente concentrado. Nas obras de todos os fisiólogos e filósofos modernos encontraremos a concepção do sonhar como “uma vigília incompleta, parcial, ou traços da influência certamente desta concepção”.  Não se consegue manter o sono a salvo dos estímulos; de toda parte, tal como no caso dos germes vitais de que Mefisto se queixa, provém estímulos que se acercam da pessoa que dorme: de fora, de dentro e das regiões que nunca nos preocupamos quando acordados.

Assim, o sono é perturbado, a psique é sacudida ora de um lado, ora de outro, e funciona por um momento com a parte desperta, contente de poder adormecer outra vez. O sonho seria a reação à perturbação do sono causada pelos estímulos; uma reação, aliás, inteiramente supérflua. No entanto, chamar o sonho de processo físico ainda em outro sentido, que em todo caso é um produto do órgão da psique, é negar ao sonho a particularidade de ser um processo psíquico. A imagem já antiga em sua aplicação ao sonho, dos “dez dedos de uma pessoa completamente ignorante em música que correm sobre as teclas de um instrumento”, talvez ilustrem da melhor maneira possível a apreciação que a atividade onírica recebeu em geral dos representantes das ditas ciências exatas. Nela o sonho se torna impossível de interpretar; afinal, como os dez dedos do ignorante deveriam produzir uma peça musical? Cedo não faltaram objeções à teoria da vigília parcial.  Num terceiro grupo podemos reunir aquelas teorias do sonho que atribuem à psique sonhante a capacidade e a inclinação para produções psíquicas especiais que ela de modo algum ou apenas de maneira imperfeita pode executar durante a vigília. Da atuação dessas capacidades resulta a maioria dos casos de uma função útil do sonho. As avaliações que o sonho recebeu dos psicólogos antigos entram quase todas nessa categoria. Em vez delas Freud se contenta em citar a afirmação de Friedrich Burdach (1776-1847) de que o sonho é a atividade natural da psique, atividade que não “é limitada pelo poder da individualidade, não é perturbada pela autoconsciência, não é orientada pela autodeterminação, mas é a vitalidade dos pontos sensíveis em livre jogo”.

Esse deleite no livre uso das próprias forças é manifestamente imaginado por ele e outros autores como um estado em que a psique se revigora e acumula novas forças para o trabalho diurno, ou seja, como uma espécie de período de férias. Por isso, Burdach também cita e aceita as amáveis palavras com que o poeta reconhecido como Novalis enaltece do domínio dos sonhos: - o sonho é um baluarte contra a uniformidade e a trivialidade da vida, um livre recreio da fantasia agrilhoada em que mistura todas as imagens da vida e interrompe a constante sociedade do adulto uma alegre brincadeira infantil. Sem os sonhos envelheceríamos mais cedo, e, assim, ainda que não possamos considerar que o sonho “nos seja dado diretamente do alto”, podemos encará-lo como tarefa preciosa, um acompanhante amistoso na peregrinação ao túmulo.  Jan Evangelista Purkyně (1787-1869), também grafado Johannes Evangelista Purkinje foi médico e professor universitário Tcheco que se notabilizou como anatomista e fisiologista e descobridor das células de Purkinje e do efeito de Purkinje. Segundo Freud ele descreve a atividade revigorante do sonho de maneira ainda mais impressionante: - Em especial, para ele, porque os sonhos produtivos cumpririam essas funções. Eles são brincadeiras leves da imaginação que não têm qualquer relação com os acontecimentos diurnos. A pisque não quer prolongar as tensões da vida da vigília, e sim dissipá-las, refazer-se delas. Ela produz, antes de mais nada, aqueles estados que se opõem aos da vigília.

Ela cura a tristeza com alegria, as preocupações com esperanças e imagens joviais e divertidas, o ódio com o amor e a simpatia, o medo com a coragem e a confiança; ela apazigua a dúvida com a convicção e com a crença firme, a expectativa frustrada com a realização. Muitas feridas do espírito que o dia manteria constantemente abertas são curadas pelo sono enquanto as cobre e protege de novas irritações. É nisso que repousa em parte o efeito terapêutico do tempo. O autor sabe que percebemos que o sono é um benefício para a vida psíquica, e essa obscura noção da consciência popular obviamente não se deixa privar do preconceito de que o sonho é “um dos caminhos pelos quais o sono concebe seus próprios benefícios”.  A tentativa original e ampla de explicar o sonho a partir da atividade especial da psique, capaz de se desenvolver apenas no estado de sono, foi empreendida por Karl Albert Scherner em 1861. Quer dizer, que foi escrito num estilo carregado e grandiloquente, com um entusiasmo quase embriagado pelo seu objeto e que deverá ter um efeito repulsivo sobre os leitores que não for capaz de arrastar consigo, o livro de Scherner oferece tais dificuldades a uma análise que para o psicanalista, recorremos de boa vontade à exposição mais clara e mais breve em que o filósofo Johannes Volkelt (1848-1930) nos apresenta as teorias schernerianas. 

Mas, em compensação, é possível compreender durante a atividade psíquica que cabe chamar de fantasia, liberta de todo o domínio do entendimento, e, assim, livre de uma moderação austera, ascende no sonho ao domínio irrestrito. É verdade que ela usa os tijolos mais recentes da memória da vigília, mas com ele constrói prédios que diferem imensamente das construções da vigília; no sonho ela não se mostra apenas reprodutiva, mas também produtiva. Suas peculiaridades conferem à vida onírica as características especiais que esta apresenta. Ela mostra predileção pelo desmedido, exagerado, monstruoso. Ao mesmo tempo, porém, liberta das categorias refreadoras do pensamento, ela ganha maior flexibilidade, agilidade e versatilidade; da maneira mais sutil, ela é sensível aos estímulos delicados do humor e aos afetos revoltosos; ela coloca a vida interior de imediato em imagens plásticas exteriores. À fantasia onírica, segundo Freud, falta a linguagem conceitual; ela precisa pintar plasticamente aquilo que quer dizer; e, como os conceitos não exercem qualquer influência debilitante, ela os pinta com abundância, a força e a grandeza da forma plástica.

Por isso, sua linguagem, por mais clara que seja, se torna difusa, desajeitada, canhestra. Quer dizer, a clareza de sua linguagem é dificultada em especial pelo fato de ela ter a aversão a expressar um objeto, com a própria imagem deste, dando preferência a uma imagem estranha, desde que esta apenas seja capaz de exprimir aquele elemento do objeto cuja figuração lhe interessa. Essa é a atividade simbolizadora da fantasia. Além disso, é muto importante o fato de a fantasia onírica não reproduzir os objetos de maneira exaustiva, mas apenas seus contornos, e estes da maneira mais livre. Por isso, suas pinturas parecem inspiradas pelo gênio. A fantasia onírica não se detém na mera apresentação do objeto, mas é intrinsecamente obrigada a enredar o eu onírico com ele em maior ou menor grau, criando assim uma ação. O sonho gerado pelo estímulo visual, por exemplo, pinta moedas de ouro na rua; o sonhador as recolhe e as leva consigo.  No entender de Scherner, a formação dos sonhos começa apenas no ponto em que para os ouros autores ela se esgota.  O material com que a fantasia onírica executa sua atividade artística é predominantemente o dos estímulos corporais orgânicos, tão obscuros durante o dia, de modo que sua teoria, demasiado fantasiosa, e a teoria de Wilhelm Wundt e de outros fisiologistas, talvez sóbrias demais, são antípodas nos aspectos e coincidem inteiramente quanto à hipótese sobre as fontes oníricas e os excitadores dos sonhos. 

Bibliografia Geral Consultada.

MINH, Ho Chi, A Resistência do Vietnã. Rio de Janeiro: Editora Laernmert, 1968; MURRAY, Martin John, The Development of Capitalism in Colonial Indochina (1870-1940). Berkeley: University of Califórnia Press, 1980; MINTZ, Sidney; PRICE, Richard, O   Nascimento da   Cultura   Afro-Americana:   Uma Perspectiva Antropológica. Rio de Janeiro: Editora Pallas; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 2003; WEBER, Max, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 2ª edição. São Paulo: Editora Pioneira, 2003; BERNARDINI, Riccardo, Jung a Eranos: Il Progetto della Psicologia Complessa. Milano: Franco Angeli Editore, 2011; WESSELMAN, Hank, “Sabedoria dos Aborígines Australianos”. In: https://xamanismo.com/2012/02/15/; HABERMAS, Jürgen, Teoria do Agir Comunicativo. 1. Racionalidade da ação e Racionalização Social. São Paulo: WMF/Editora Martins Fontes, 2012; FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 42ª edição. Petrópolis (RJ): Editoras Vozes, 2014; FREUD, Sigmund, A Interpretação dos Sonhos. Porto Alegre: L&PM Editor, 2017; MELLO, Natália Nóbrega, Os Intelectuais Saem da Guerra: A Intervenção do Vietnã, a “Foreign Police Magazine” e a Construção Político-intelectual de Novos Paradigmas e Estratégias. Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Ciência Política. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017; FRIEDMAN, Marcela Fischer, O Perfil de Força dos Estados Unidos: O Estudo de Conjunturas Críticas e o Período entre a Guerra do Vietnã e a Guerra do Iraque. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais. Faculdade de Ciências Econômicas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019; SETH, Sanjay, Humanidades, Universalismo e Diferença Histórica. Vitória: Editor Milfontes, 2021; SILVA, Pedro de Moraes; GALLO, Carlos Artur, “Povos originários e o projeto de reconciliação na Austrália: uma análise das medidas implementadas entre 1991 e 2024”. In: Encontro de Pós-Graduação, 26, 2024. Anais... Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2024; MORAES, Felipe Moralles e, Neoconservadorismo: A Teoria da Injustiça de Jürgen Habermas. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2024; entre outros. 

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