quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Mussum – Ator Cômico, Sambista, Hábito & Comunicação Social.

                                 Em pé sem cair, deitado sem dormir, sentado sem cochilar e fazendo pose”. Mussum

       O humor é o estado de espírito de um indivíduo. É um determinado estado de ânimo cuja intensidade representa o grau de disposição e de bem-estar psicológico e emocional de um indivíduo. O humor é uma das chaves para a compreensão de culturas, religiões e costumes das sociedades, sendo elemento vital da condição humana. Através dos tempos, a maneira humana de sorrir modifica-se, acompanhando os costumes e correntes de pensamento. Em cada época da história humana, a forma de pensar cria e derruba paradigmas, e o humor acompanha essa tendência sociocultural. Expressões culturais do humor podem representar retratos fiéis de uma época, como é o caso, por exemplo, das comédias gregas de Plauto e das comédias de costumes do brasileiro Luís Carlos Martins Pena (1815-1848).  Para a psicologia e a neurociência afetiva, o humor tem como representação um estado afetivo, assim como as emoções. Diferentemente das emoções que são reações intensas, breves e direcionadas a um estímulo, os humores são considerados mais difusos, menos intensos e independem de um objeto, pessoa ou evento desencadeador. As emoções são reações agudas, como a raiva, a tristeza, o medo e a alegria, enquanto a ansiedade, a depressão, a irritação (ou “mau humor”) e a felicidade poderiam ser classificados como humores. O filósofo Émile-Auguste Chartier, mais conhecido pelo pseudônimo Alain, foi uma figura influente no pensamento francês do século XX. Em sua obra Propos sur le bonheur (1928), ele reflete sobre diversos aspectos da felicidade e da vida cotidiana. Em uma de suas passagens, Alain afirma: “O bom humor tem algo de generoso: dá mais do que recebe”.  

        Essa frase destaca a natureza altruísta do bom humor, sugerindo que, ao praticá-lo, proporcionamos mais alegria e leveza aos outros do que a que recebemos em retorno. O bom humor, assim, torna-se uma virtude que beneficia tanto quem o pratica quanto quem dele se aproxima em sociedade.  Para o que nos interessa, segundo Hegel (1995: 168 e ss.), o hábito consiste em que a alma se faça assim um ser abstrato universal, e reduza nela o [que há de] particular nos sentimentos (e também na consciência) a uma determinação apenas essente. Dessa maneira, a alma tem em [sua] posse o conteúdo, e nela o contém de sorte que em tais determinações não é como [alma] que-sente, não está em relação com elas diferenciando-se delas, nem nelas imersa; senão que as tem nela mesma, e se move nelas sem sensação nem consciência. A alma é livre delas, não se interessa nem se ocupa; ao existir nessas formas, como em sua posse, está ao mesmo tempo aberta a ulterior atividade e ocupação, [tanto] da sensação como da consciência do espírito em geral. Esse introjetar-se (Sich einbilden] do particular ou do corporal das determinações-de-sentimento no ser da alma, aparece como sua repetição; e o engendramento do hábito, como um exercício. Porque esse ser, enquanto universalidade abstrata em relação com o natural-particular, que é posto nessa forma, é a universalidade-de-reflexão, um só e o mesmo enquanto exterior-múltiplo do sentir, reduzido à sua unidade; é essa unidade abstrata enquanto posta. 

       O hábito é, como a memória, um ponto de-peso na organização do espírito: o hábito é o mecanismo do sentimento-de-si, como a memória é o mecanismo da inteligência. As qualidades e mudanças naturais da idade, do sono e da vigília são imediatamente naturais: o hábito é a determinidade feita um natural essente, algo mecânico do sentimento, [e] também da inteligência, da vontade etc., enquanto pertencem ao sentimento-de-si. O hábito foi chamado com razão, uma segunda natureza: natureza, porque é um ser imediato da alma; uma segunda [natureza] porque é uma imediatez posta pela alma, uma introjeção e penetração [Ein-und Durchbildung] da corporeidade, que pertence às determinações-de-sentimento como tais, e às determinidades da representação e da vontade enquanto corporificadas. No hábito, o homem está no modo de uma existência natural, e por isso não é livre nele; mas é livre na medida em que o homem rebaixa a determinidade natural da separação, pelo hábito, a seu simples ser: não está mais na diferença, e, portanto, não está mais no interesse, ocupação e na dependência para com tal determinidade. A não-liberdade no hábito é em parte apenas formal, enquanto pertencente ao ser da alma, em parte, é só relativa enquanto propriamente só tem lugar nos maus hábitos, ou enquanto a um hábito em geral é oposto um outro fim. O hábito do direito em geral, o ético, tem o conteúdo de liberdade. A determinação é a libertação, que o homem por meio do hábito adquire, das sensações e é afetado por elas. Não por acaso, as diferentes formas de hábito podem ser determinadas assim.

                                            


       1. A sensação imediata enquanto negada, enquanto posta [como] indiferente. O endurecimento contra sensações exteriores (frio intenso, calor, fadiga dos membros etc., sabor agradável etc.) assim como o endurecimento da alma diante da desgraça são uma força, [fazendo] que, enquanto o frio intenso, a desgraça, são decerto sentidos pelo homem, tal impressão é rebaixada a uma exterioridade e imediatez: o ser universal da alma alise conserva enquanto abstrato para si mesmo, e o sentimento-de-si como tal, consciência, reflexão, [qualquer] outro fim e atividade, não estão mais mesclados com isso. 2. Indiferença para com a satisfação; os desejos, os impulsos, são embotados pelo hábito de sua satisfação; é esta a libertação racional em relação a esses hábitos; a renúncia e a violência monásticas não libertam deles, nem são racionais quanto ao conteúdo, entende-se no caso, que os impulsos são tidos como determinidades finitas segundo sua natureza; e que eles, como sua satisfação, estão subordinados como momentos na racionalidade da vontade. 3. No hábito como na habilidade, o ser abstrato da alma não deve apenas ser sustentado por si mesmo, mas também fazer-se valer como um fim subjetivo na corporeidade, que se lhe torne submissa e totalmente permeável.  

Em relação a tal determinação interna da vida subjetiva, a corporeidade é determinada como ser imediato exterior e [como] limite: [é] a ruptura mais determinada alma, como ser-para-si simples, em si mesma, em contraste com sua primeira naturalidade e imediatez; assim a alma não está mais em imediata idealidade; mas, enquanto exterior, tem de ser primeiro rebaixada a ela. A corporificação das sensações determinadas é além disso, ela mesma, uma corporificação determinada, e a corporeidade imediata é uma possibilidade particular, (um lado particular de sua diferenciação nela, um órgão particular de seu sistema orgânico) para um fim determinado. A introjeção de tal fim nela, consiste nisto: em qua a idealidade, essente-em-si, do que é material em geral, e da corporeidade determinada, forma postas como idealidade, afim de que a alma exista como substância em sua corporeidade segundo a determinidade de seu representar e querer. Então, de tal modo, na habilidade a corporeidade se torna permeável e o instrumento [a ponto de] que, como a representação (por exemplo, uma série de notas [musicais]) está em mim, também o corpo a exteriorizou corretamente, sem obstáculo e com fluidez.      

Antônio Carlos Bernardes Gomes nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de abril de 1941 e faleceu em São Paulo, em 29 de julho de 1994. Mais reconhecido como Mussum, foi um humorista, ator, músico e compositor brasileiro, que se consagrou em diferentes áreas de conhecimento do entretenimento, iniciando a carreira na música com o grupo de sambista: Os Originais do Samba, formado na década de 1960, posteriormente integrando o grupo humorístico: Os Trapalhões, no qual permaneceu até sua morte. No início da década de 1960, até então reconhecido como “Carlinhos”, abandonou a posição de cabo da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir viver da música, sua grande paixão, fundando o grupo musical Os Originais do Samba, onde destacou-se como percussionista e tocador de reco-reco, ganhando os apelidos de “Carlinhos da Mangueira” e “Carlinhos do Reco-Reco”, e tornando-se reconhecido mundialmente. Seu carisma e bom humor logo o levaram para a televisão, onde atuou em uma série de programas e passou por diferentes emissoras até ser convidado por Dedé Santana para integrar o quarteto humorístico Os Trapalhões ao lado dele, Renato Aragão e Zacarias (1934-1990), tendo sido o 3º integrante da trupe, e o segundo a falecer quatro anos depois de Zacarias. Junto com artista Grande Otelo, que lhe deu o apelido, que posteriormente se tornou nome artístico, de “Mussum”, destacou-se como “um dos únicos comediantes negros da televisão brasileira na década de 1980”.

            Em sua vida pessoal, Mussum era reconhecido pela sua paixão pelo Morro da Mangueira, sendo um frequentador assíduo do local, assim como integrante da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, onde costumava desfilar todos anos, tendo sido também diretor da ala das baianas. Em carreira solo, Mussum também gravara dois discos de sucesso, ambos com músicas de sua autoria. Ao lado de Almir Guineto (1946-2017), introduziu no país o chamado “banjo brasileiro”, que viria a se popularizar anos depois, nos pagodes da década de 1990. Foi um dos maiores representantes do samba de raiz, inovando no gênero ao introduzir o banjo adaptado com um braço de cavaquinho: o banjo-cavaquinho). Destacou-se também pelo modo extremamente original de executar o instrumento, afinando-o à moda das últimas cordas do violão e palhetando-as velozmente, fazendo-as tremular conforme o suingue do repique de mão e do tantã. Entre seus principais sucessos, destacam-se “Caxambu”, “Conselho”, “Jiboia”, “Lama nas Ruas”, “Mel na Boca”, “Insensato Destino” e “Coisinha do Pai”. O Guineto de seu nome artístico é uma “derivação da palavra magnata, que evoluiu para magneto e, então, Guineto”. Mesmo após sua morte em 1994, a imagem de Mussum permanece viva ao longo de formação das novas gerações, principalmente por conta dos mais variados memes que circulam com a imagem ou frases do trapalhão na rede mundial de computadores, internet.

            Apesar de nascido na Cachoeirinha, a relação de Mussum com a Mangueira sempre foi muito forte. Ele começou a ir ao morro acompanhando amigos, e apesar do receio de se envolver em confusões e entrar em conflito com a mãe, logo se encantou pelo lugar. Uma de suas grandes paixões era a escola de samba Estação Primeira de Mangueira, sendo todos os anos uma figura presente durante os desfiles da escola, tendo sido diretor de harmonia da Ala de baianas. Desta paixão pelo morro, surgiu um outro apelido, o de “Mumu da Mangueira”. Também era um fanático torcedor do Clube de Regatas do Flamengo. Enquanto servia a Força Aérea Brasileira, Mussum aproveitava para participar da Caravana Cultural de Música Brasileira de Carlos Machado, sem que a mãe ou outro conhecido soubesse. Ele iniciou sua carreira artística tocando reco-reco no grupo Os Modernos do Samba com os nomes como artísticos, como vimos, de “Carlinhos da Mangueira” e “Carlinhos do Reco-Reco”. Posteriormente, fundou com os amigos o grupo Os Sete Modernos, que posteriormente passou a ser chamar Os Originais do Samba, grupo que integrou por 14 anos. Com os Originais, gravou no total 13 álbuns, e obteve vários sucessos, como “Falador Passa Mal”, “Tragédia no Fundo do Mar (O Assassinato do Camarão)” e “Aniversário do Tarzan”. O grupo chegou a participar de um show histórico ao lado de Baden Powell e realizado no Teatro Bela Vista, em São Paulo, tendo o registro do show lançado em LP pelo selo Philips em 1968. As coreografias e roupas coloridas os fizeram muito populares na televisão, nos anos 1960, tendo o grupo se apresentado em turnês por diversos países, entre eles no México, onde foram chamados de Los Siete Diablos de la Batucada. Numa dessas turnês internacionais, Mussum assistiu a um show da banda de rock britânica Mungo Jerry e ficou fascinado pelo chamado banjo americano, instrumento que, tempos depois, ele e o cantor Almir Guineto, adaptaram, fazendo uma engenhoca e criando assim o chamado “banjo brasileiro”, que iria se popularizar, anos mais tarde, no pagode dos anos 1980 e 1990.

Segundo o jornalista Juliano Barreto (2014; 2023), autor de sua biografia, Mussum foi “um dos primeiros cantores a utilizar reco-reco de metal, que até então era um instrumento feito com bambu; por ser mecânico, Mussa teria criado um reco-reco com peças de carro e chapas de metal. Devido a seu carisma, (Max Weber, 1973), gingado (cf. Sodré, 2002) e bom humor, Mussum sempre se destacava entre os membros do grupo. Após algumas participações na televisão, muitas pessoas, entre elas a cantora Elza Soares (cf. Pereira, 2015), acreditavam que ele poderia fazer sucesso como humorista, mas Mussum sempre recusava os convites, justificando-se com a “afirmação de que pintar a cara, como é costume dos atores, não era coisa de homem”. Finalmente, em 1965, aceitou fazer uma participação no programa humorístico Bairro Feliz, exibido pela TV Globo, e atuando ao lado do comediante Grande Otelo (cf. Cabral, 2007). Foi nos bastidores deste programa que Otelo teria dado ao Carlinhos o apelido de “Mussum”, uma referência “ao peixe homônimo de coloração preta e origem sul-americana”. O apelido teria inicialmente o irritado, mas Otelo o convenceu de que Carlinhos não seria um bom nome para um artista; e como o mesmo já havia caído na boca do povo, passou a se apresentar oficialmente como Mussum a partir daí. O sucesso foi tanto que Chico Anysio (1931-2012) o convidou para ser um dos alunos da Escolinha em seu programa Chico Anysio Show, exibido pela TV Rio na época. Consta-se que foi o próprio Chico quem sugeriu a Mussum o uso da sua linguagem característica, terminando as palavras em is, como “tranquilis” e “como de fatis”, algo que se tornaria marca registrada de seu personagem.

Através do amigo Jair Rodrigues (1939-2014), Mussum foi apresentado a Dedé Santana, que na época formava a dupla cômica Didi e Dedé ao lado de Renato Aragão. Dedé convidou Mussum para se juntar a eles, e o mesmo, após muita insistência, acabou aceitando. Ao lado dos dois, Mussum atuou nos humorísticos Os Insociáveis (1971-1973) e Praça da Alegria (1977-1978), ambos exibidos pela Record. Em 1973, Mussum voltou para a Tupi ao lado de Renato, Dedé, Mussum e Mauro Gonçalves (o Zacarias), dando início ao programa humorístico Os Trapalhões, que se tornou um dos maiores sucessos da emissora, batendo a audiência do Fantástico. O sucesso do programa teria incomodado José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ou simplesmente Boni, que convidou os Trapalhões para levar seu programa para a Globo, troca que só seria realizada no ano de 1977 após uma lista de três folhas de exigências feitas por Aragão. Em 1976, já como integrante d`os Trapalhões, Mussum fez sua estreia nos cinemas no filme O Trapalhão no Planalto dos Macacos no papel do Guarda Azevedo. Em 1980 e 1983 lançou, pelo selo RCA Victor dois LPs, ambos intitulados “Mussum”. Também pelo selo RCA Victor lançou em 1981 um single e um compacto, e em 1982 um single com as músicas “O Amigo da Criança (Melô do Piniquinho)” (composição dele e Silvio da Parada) e “Camisa 10” (Hélio Matheus e Luis Vagner). Em 1983 lançou, pelo selo EMI-Odeon, um compacto simples com Dedé Santana e Zacarias, que inclui as faixas “Todo mundo deve ser mais criança” (Renato Corrêa e Cláudio Rabello) e “Vamos à luta” (Mussum, Neoci, Adilson Victor e Jorge Aragão). Em 1987 lançou, pelo selo Continental, mais um LP intitulado “Mussum”. Em 1983, durante a separação d`os Trapalhões que durou apenas seis meses, Mussum participou ao lado de Dedé e Zacarias do humorístico A Festa é Nossa (1983) e do filme Atrapalhando a Suate (1983), produzido pela DeMuZa Produções, empresa fundada pelos três humoristas e que cuidava da parte lucrativa de ambos.

            A personagem que vivia no programa Os Trapalhões tinha, como característica principal, o consumo constante de bebidas alcoólicas, em especial a cachaça. Mussum se celebrizou por expressões onde por vezes satirizava-se por ser negro, tais como “negão é o teu passádis” e “quero morrer prêtis se eu estiver mentindo”, além de recorrentes piadas sobre bebidas alcoólicas. Também criou outras frases hilariantes, que se popularizaram rapidamente, como “eu vou me pirulitazis (pirulitar)”, quando fugia de uma situação perigosa, ou “traz mais uma ampola”, pedindo cerveja, ou “casa, comida, três milhão por mês, fora o bafo!”, passando uma cantada em uma mulher bonita, ou ainda “faz uma pindureta”, pedindo fiado. Era alvo de piadas de cunho racista por parte dos demais membros do grupo, principalmente por Didi, recebendo apelidos como “cromado”, “azulão”, “grande pássaro”, “Maisena”, “Fumaça” ou “Cabo Fumaça”, dentre outros, e retrucando exaltado aos outros com apelidos como “cardeal” ou “jabá” para (Didi Mocó, “mineirinho de Sete Lagoas”) para Zacarias e “rapaz alegre” para Dedé. No entanto, segundo seu biógrafo Juliano Barreto (2014; 2023), Antônio Carlos sempre se incomodou com o teor das piadas e apelidos e diz que o humorista fez frente ao conteúdo racista em diversas ocasiões e, nos cacos (intervenções fora do roteiro), retrucava os ataques raciais. Juliano afirma que "ele não aceitava mesmo o racismo. Ele ensinava para os filhos que era preciso reagir, bater em quem fosse racista com eles. Não era algo para se admitir”.

Durante o casamento de um amigo em Riachuelo, no Grande Méier (RJ), Mussum conheceu sua primeira esposa Leny Castro dos Santos, moça da Mangueira, com quem foi casado entre 1965 e 1969 e com quem teve seu filho primogênito, Augusto Cezar. Seu segundo casamento foi com Neila da Costa Bernardes Gomes, que conheceu em 1972 e com quem permaneceu junto até o fim da vida, tendo com ela um filho, Sandro. Fora do casamento, Mussum teve mais quatro filhos: Paula Aparecida, fruto de um namoro com Maria Glória Fachini; Antonio Carlos Filho, fruto de um rápido romance com a modelo Therezinha de Oliveira; e o ator Antônio Carlos Santana (também conhecido como “Mussunzinho”), fruto de um caso extraconjugal com Maíra Santana de Moura. Em outubro de 2019, foi comprovado que o dentista Igor Palhano é filho biológico de Mussum, fruto de um envolvimento do trapalhão com uma mulher chamada Denildes Palhano. Mussum se dedicou às campanhas sociais a favor dos portadores de deficiência visual, promovendo a doação de córneas em 1981, durante o especial Os Trapalhões - 15 Anos, a favor dos desabrigados da seca do Nordeste, de 1983 até 1985 nos especiais SOS Nordeste e também, a “favor das crianças e dos adolescentes em todo o Brasil, promovendo o lançamento do show Criança Esperança em 28 de dezembro de 1986, durante o especial 20 Anos de Trapalhões - Criança Esperança”. Mussum ainda criou um projeto social na Mangueira para ajudar as crianças da região. 

Ele chegou a montar um consultório dentário na comunidade e doava muitos instrumentos para a região. Criou um projeto social na Mangueira para ajudar as crianças da região. Ele chegou a montar um consultório dentário na comunidade e doava muitos instrumentos para a região.  Em 2014 foi lançada a biografia Mussum Forévis – Samba, Mé e Trapalhões, escrita pelo jornalista Juliano Barreto, e publicada pela editora Leya. Em 2019, foi lançado o documentário Mussum, um Filme do Cacildis, dirigido por Susanna Lira e roteirizado por Michel Carvalho e Bruno Passeri. A produção, que retrata a história de Mussum em diferentes pontos de vista, foi narrada por Lázaro Ramos e conta com o depoimento de diversos artistas e amigos dele como Alcione, Milton Gonçalves, Joel Zito Araújo e Renato Aragão. Em 2023, foi lançado o filme biográfico Mussum, o Filmis, uma produção da Globo Filmes com a Camisa Listrada e a Downtown Filmes, que narra a trajetória de Antônio Carlos desde a sua infância até a consagração com a música e Os Trapalhões. O longa-metragem, que marcou a estreia de Silvio Guindane como diretor, fez sua estreia no 51º Festival de Cinema de Gramado, tendo recebido diversos prêmios e elogios da crítica e público após seu lançamento nos cinemas. Os atores Aílton Graça, Yuri Marçal e Thawan Lucas interpretaram Mussum em diferentes fases de sua vida, enquanto Cacau Protásio e Neuza Borges viveram a mãe do protagonista na fase jovem e idosa, respectivamente. Em 2013, o filho de Mussum, Sandro Gomes, sócio e fundador da microcervejaria Brassaria Ampolis, lançou a pilsen Biritis (Vienna Lager), como uma homenagem a seu pai. No ano seguinte, devido ao sucesso dos produtos, foi lançada uma cerveja com um segundo rótulo da marca, a Cacildis (Premium Lager). Posteriormente, surgiram novos rótulos, como Ditriguis (Witbier) e Forévis (Session IPA).

O sucesso das cervejas foi tanto que a Ampolis foi incorporada ao Grupo Petrópolis a partir de 2018, o que facilitou a distribuição e a popularidade da cerveja em todo o Brasil. Em 2013, a marca completou 10 anos, com direito a um samba composto pelo cantor Mumuzinho, “Um Brinde à Vida”. O meme “Mussum Forevis” se tornou popular na internet e nas redes sociais, como Facebook e Twitter. De acordo com o site Know Your Meme, a brincadeira teve início no ano de 2009, quando diversas montagens e paródias com o rosto do trapalhão foram sobrepostas a imagens de outras personalidades famosas, como Anderson Silva (Anderson Silvis), Steve Jobs (Steve Jobis) e Barack Obama (Barack Obamis), sempre com o nome ou uma frase de efeito com a terminação "is", marca registrada de Mussum. Após o Rio de Janeiro ter sido escolhido sede dos Jogos Olímpicos de 2016, vários internautas satirizaram o pôster de campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com a foto do humorista e, sob ela, a frase “Yes, We Créu”. Uma sátira a “Yes, We Can” (sim, nós podemos), frase de campanha do presidente estadunidense. Também foram produzidas camisetas com a palavra “Obamis”. Uma rua de Campo Limpo, São Paulo, ganhou o nome “Comediante Mussum” em sua homenagem. O Largo do Anil, em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro, teve o seu nome mudado pelo prefeito Eduardo Paes para “Largo do Mussum”. Uma famosa frase do humorista, “Só no Forévis”, inspirou a banda brasileira de hardcore punk Raimundos, formada em Brasília em 1987, reconhecida por misturar o peso do punk e hardcore com elementos do forró, criando o subgênero “forrocore”. O nome é uma referência irônica ao nome próprio Raimundo e uma homenagem à banda Ramones. Com sua energia agressiva e irreverente, a banda se tornou uma das mais influentes do rock brasileiro nos anos 1990, utilizou a frase como título de seu álbum homônimo de 1999, bem como título da canção que abre o disco, uma vinheta na qual a música “Selim” era tocada em ritmo de samba.         

Foi homenageado pela Escola de Samba Lins Imperial no Carnaval de 2022. A carreira de Mussum no cinema foi ligada aos Trapalhões, desde o primeiro filme, O Trapalhão no Planalto dos Macacos (1976), de J.B. Tanko. Daí em diante, foram mais 26 filmes com o grupo, até Os Trapalhões e a Árvore da Juventude (1991), de José Alvarenga Júnior. Entretanto, a primeira aparição de Mussum no cinema foi ao lado dos Originais do Samba no filme Buenas noches, año nuevo! (1964), película mexicana na qual o grupo fez uma participação em um número musical ao lado da cantora Monna Bell interpretando “Desafinado”, de autoria do maestro Antônio Carlos Tom Jobim. Trabalhou também como compositor no filme Atrapalhando a Suate (1983) e em Os Trapalhões no Rabo do Cometa (1986), dirigido pelo amigo Dedé Santana. Juntos, Os Trapalhões lançaram 16 álbuns. Nos dois primeiros de 1974 e 1975, só aparecem Renato Aragão e Dedé Santana nas capas, mas nessa época o quarteto já estava formado, e todos participaram. No LP O Forró dos Trapalhões (1981), Mussum não aparece na capa e nem mesmo nas trilhas sonoras. O motivo era porque ele, nessa época, ainda tinha contrato exclusivo com a gravadora com a empresa fonográfica norte-americana RCA Victor.

Bibliografia Geral Consultada.

HEGEL, Friedrich, Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio: (1830). Volume III. A Filosofia do Espírito. São Paulo: Editora Loyola, 1995; SCHWARCZ, Lilia Moritz, “Complexo de Zé Carioca: Notas Sobre uma Identidade Mestiça e Malandra”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 10, n° 29, out. de 1995; GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo, “A Marca da Cor”. In: Rev. Bras. Cien. Soc. vol.14, n°41. São Paulo, outubro de 1999; CERTEAU, Michel, L`Invenzione del Quotidiano. Roma: Edizionne Lavoro, 2000; SODRÉ, Muniz, Corpo de Mandinga. Salvador: Editora Manati, 2002; FENERICK, José Adriano, Nem do Morro, nem da Cidade: As Transformações do Samba e a Indústria Cultural (1920-1940). Tese de Doutorado em História Econômica. São Paulo: Universidade Estadual de São Paulo, 2002; MONTEIRO, Ricardo Nogueira de Castro, A Verdade Seduzida: Por um Conceito de Cultura no Brasil. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2005; SOUZA, Eduardo Conegundes, Roda de Samba: Espaço da Memória, Educação Não-Formal e Sociabilidade. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2007; PINTO, Danilo Correa, Corpo, Discurso e Carnaval: Imagens do Corpo Feminino no Desfile de Escolas de Samba do Carnaval Carioca. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2013; OLIVEIRA, Bernardo, “Almir Guineto foi sambista completo e inovador”. In: Folha de S. Paulo, 8 de maio de 2017; SOUZA, Eduardo Canegundes, Roda de Samba: Espaço de Memória, Educação Não-Formal e Sociabilidade. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2018; BARRETO, Juliano, Uma História de Humor e Samba. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora HarperCollins, 2023; VALOURA, Thales Gonçalves, Da Avenida para as Galerias: Carnaval de Escolas de Samba e suas Exposições no Circuito Artístico Contemporâneo Carioca. Dissertação de Mestrado em Artes.  Programa de Pós-Graduação em Artes. Instituto de Artes. Centro de Educação e Humanidades. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2023; entre outros.

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